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A “leveza”dos verbos leves Inês Duarte FLUL, CLUL

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A “leveza” dos verbos leves

Inês Duarte

FLUL, CLUL

Roteiro

� Tipologia de predicados complexos encabeçados por verbos leves em português europeu

� Argumentos a favor da classe verbos leves

� Algumas propriedades dos predicados complexos resultativosencabeçados por verbos leves

� Predicados complexos <Vleve + Ndeverbal/psicológico>

� Propriedades da sequência

� Os verbos leves são predicados

� Uma feature description dos verbos com base na tipologia aspectual de Moens (1987)

� A sub-especificação da feature description dos verbos leves

� A formação do predicado complexo faz-se na sintaxe

Inês Duarte 2009

Projecto PREPLEXOS

� (PTDC/LIN/68241/2006), Fundação para a Ciência e a Tecnologia

� FLUL-CLUL

Inês Duarte

Madalena Colaço

Anabela Gonçalves

Amália Mendes

Matilde Miguel

� FLUP-CLUP

Fátima Oliveira

Luís Cunha

Fátima Silva

Purificação Silvano

Inês Duarte 2009

Tipologia de predicados complexos em português europeu

Inês Duarte 2009

� Predicados complexos resultativos, constituídos por sequências <verbo leve + predicado secundário>, em que:

a. predicado secundário = A

b. predicado secundário = P

(1) a. tornar x credível/disponível/rentável/uniforme/viável

b. fazer x em pedaços/em fanicos/em cacos

pôr x em transe/em ebulição/no ar

� Predicados complexos, constituídos por sequências <verbo leve + nome deverbal/nome psicológico>:

(2) a. O João deu um empurrão ao carro que estava estacionado.

b. O João meteu medo aos rufiões.

c. O João fez um sorriso triste.

d. O João tem medo dos rufiões.

Tipologia de predicados complexos em português europeu

Inês Duarte 2009

� Predicados complexos causativos, constituídos por sequências <verbo causativo + complemento infinitivo>

(3) a. O João mandou comer a sopa ao filho.

b. O João mandou sair os alunos.

� Sequências <verbo leve + (X) + e + verbo>:

(4) a. E vai ele e disse:

b. A questão, como de costume, remete-nos para o ponto de vista com que o realizador pega e narra a sua história (CETEMPúblico)

c. Acontece que o senhor Presidente Fernando Gomes, como de costume, está sempre atento aos problemas das pessoas, vai e manda vedar os passeios com aquelas bolinhas que aplicou e bem na zona da Foz, (CETEMPúblico)

Argumentos a favor da classe dos verbos leves

Inês Duarte 2009

O que se disse na literatura

� O pai: Jespersen (1909/1949): have a rest, take a walk, give a sigh

� Elementos funcionais/verbos suporte que tornam possível a predicação (Gross 1981, Cattell 1984, Grimshaw & Mester 1988, e.o.)

� Auxiliares (Hook 1974, 1991, Abeillé, Godard & Sag 1998)

� Verbos de controlo (Huang 1992)

� Os verbos leves entram na formação de predicados complexos, contribuindo para a sua estrutura argumental (Rosen 1989: light, partial, complete merger; Alsina 1996, Mohanan 1994, Butt 1995: predicate composition, argument merger, argument fusion)

� vezinho (little v): introduzido em Chomsky 1957 para os auxiliares e os modais, evoluiu para um núcleo misto, que tanto pode ser funcional como lexical

Os verbos leves não são elementos funcionais

Inês Duarte 2009

� Os verbos leves exibem uma estrutura argumental parcialmente idêntica àdos verbos plenos homónimos:

(5) a. [O João] pôs [o filho] [na escola].

b. [O João] pôs [a casa] em polvorosa.

(6) a. [O João] deu [um livro] [à Maria].

b. [O João] dá [prestígio] [à fundação].

� Em contextos em que o verbo leve é ditransitivo, a preposição que introduz o segundo argumento interno corresponde à que se encontra especificada na grelha temática do verbo pleno homónimo, podendo não coincidir com a preposição que introduz o argumento interno do nome deverbal (Duarte, Gonçalves, Miguel 2005):

(7) a. O João dá prestígio à/*da fundação.

b. O prestígio *à/da fundação não depende do João.

Os verbos leves não são verbos auxiliares

Inês Duarte 2009

� Contrariamente aos verbos auxiliares, os verbos leves impõem restrições de selecção semântica ao elemento com que se combinam para formar o predicado complexo.

Por exemplo, o verbo recear pode combinar-se com qualquer auxiliar ou semi-auxiliar, mas o nome deverbal receio não pode combinar-se com qualquer verbo leve:

(8) a. O João tem receado as consequências dessa proposta.

b. As consequências dessa proposta são receadas pelo João.

c. O João continua a recear as consequências dessa proposta.

(9) a. O João tem receio das consequências dessa proposta.

b. *O João dá/faz/mete receio das consequências dessa proposta.

Os verbos leves não são verbos auxiliares

Inês Duarte 2009

� Contrariamente aos auxiliares, os verbos leves impõem restrições de selecção semântica ao sujeito ( (10) vs. (11)):

(Duarte, Gonçalves, Colaço, Mendes & Miguel 2009)

(10)a. O João tinha empurrado o carro que estava estacionado.

b. A chuva tinha empurrado o carro que estava estacionado.

(11)a. O João deu um empurrão ao carro que estava estacionado.

b. *A chuva deu um empurrão ao carro que estava estacionado.

� Contrariamente aos auxiliares, os verbos leves mantêm-se estáveis diacronicamente, não entrando no processo de gramaticalização defendido em Hopper & Traugott (1993: 108) ― cf. (12):

(12) verbo pleno > verbo vector (= leve) > auxiliar > clítico > afixo

Os verbos leves não são verbos auxiliares

� Dados da família indo-iraniana relativamente aos predicados complexos V--V em Urdu e Bengali (Butt & Lahiri 2002, Butt 2003) mostram que estas construções jáexistiam em Sâncrito e em Bengali Antigo:

(13) tato maksikodd¯ıya gat¯a. (Sânscrito)

then fly-fly.Gd go.PastParticiple

‘then the fly flew away’

(Pa˜ncatantra 122 (ed. Kielhorn 1902:91, 1.14), apud Tikkanen (1987:176))

(14) kabutre υr. ga-ye. (Urdu)

pigeon M.Pl.Nom fly go-Perf.M.Pl

‘The pigeons flew away.’

����

� Butt (2003: 10)

full verb > auxiliary > clitic > affix(es)

light verb

Inês Duarte 2009

Os verbos leves não são verbos de controlo

� Contrariamente ao que acontece com as construções de controlo, os predicados complexos encabeçados por verbos leves definem domínios mono-oracionais - (15a) vs. (15b):

(15)a. Ontem, o João prometeu ir ao teatro amanhã.

b. *Ontem, o João fez a promessa amanhã.

� Em síntese:

� Os verbos leves são uma classe autónoma de verbos, formados a partir dos verbos plenos homónimos

� Mantêm propriedades de selecção semântica

� Definem domínios mono-oracionais

� Questão:

� O que distingue os verbos leves dos verbos plenos homónimos?

Inês Duarte 2009

Predicados complexos resultativos:uma primeira descrição

� Tipologia de particípios de Embick (2004): eventivos, resultativos, estativos:

(16)a. O exemplo foi corrigido por um falante nativo.

b. O exemplo ficou/está corrigido.

c. O exemplo está correcto.

� NB: passivas eventivas = passivas verbais da tipologia dicotómica clássica; resultativas incluem-se nas passivas adjectivais (cf. Borer 1984, Levin & Rappaport, 1986).

Inês Duarte 2009

Predicados complexos resultativos:uma primeira descrição

� Passivas eventivas distinguem-se das resultativas pela presença da componente agentiva � sintagmas-por e advérbios orientados para o agente são aceites nas eventivas e ocorrem dificilmente nas resultativas:

(17)a. O exemplo foi corrigido por um falante nativo.

b. O exemplo foi corrigido voluntariamente.

(18)a. ?/*O exemplo ficou corrigido por um falante nativo.

b. ?/*O exemplo ficou corrigido voluntariamente.

Inês Duarte 2009

Predicados complexos resultativos:uma primeira descrição

� Particípios resultativos distinguem-se dos estativos pelo seu comportamento em três tipos de contextos.

i. Particípios resultativos admitem advérbios orientados para o sujeito, particípios estativos não (cf. Kratzer 1994):

(19) a. O exemplo ficou cuidadosamente corrigido.

b.* O exemplo está cuidadosamente correcto.

(Interpretação relevante: foi cuidadoso p)

(20) a. O comentário polémico ficou estupidamente ocultado na gravação.

b.* O comentário polémico está estupidamente oculto na gravação.

(Interpretação relevante: foi estúpido p)

Inês Duarte 2009

Predicados complexos resultativos:uma primeira descrição

ii. Particípios resultativos não podem ocorrer como predicados secundários de verbos factitivos, enquanto os estativos podem:

(21)a. Construiu-se o bunker oculto.

b.* Construiu-se o bunker ocultado.

(22)a. Criaram roto o fato do herói.

b.* Criaram rompido o fato do herói.

iii. Particípios resultativos não podem ocorrer em construções de predicados complexos resultativos, enquanto os estativos podem (cf. Green 1972, Carrier & Randall 1992):

(23)a. O pai pôs-se descalço na relva.

b.* O pai pôs-se descalçado na relva.

(24)a. A região tornou-se seca.

b.* A região tornou-se secada.

Inês Duarte 2009

Predicados complexos resultativos:uma primeira descrição

iv. Particípios resultativos não admitem a prefixação com in-, enquanto os estativos admitem[1]:

(25)

inato/ * inascido indissoluto/ *indissolvido

incompleto/ * incompletado indistinto/ *indistinguido

incorrecto/ * incorrigido ingrato/ *inagradecido

inculto/ * incultivado

____

[1] O português apresenta neste aspecto um comportamento inverso ao do inglês: em inglês a prefixação com un- é produtiva com particípios resultativos e esporádica com adjectivos (cf. Embick, 2004).

Inês Duarte 2009

Predicados complexos resultativos:uma primeira descrição

� Os predicados complexos formados por sequências <verbo leve + x +A/P> são resultativos:

(26)a. O Banco central tornou a operação credível.

=> a operação ficou credibilizada

b. O Hubble tornou possível essa observação.

=> essa observação ficou possibilitada

c. O cantor pôs ô público em ebulição.

=> o público ficou em ebulição

� Nos predicados complexos resultativos encabeçados por verbos leves, o predicado secundário não pode ser resultativo (cf. (23)-(24)).

Inês Duarte 2009

Propriedades da sequência <verbo leve + Ndeverbal/psicológico>

Langer (2004):

� Paráfrase com um verbo pleno, morfologicamente relacionado com o N:

(27)a. O presidente deu alguns conselhos ao governo.

b. O presidente aconselhou o governo.

(28)a. O primeiro-ministro fez uma apresentação da nova lei no Parlamento.

b. O primeiro-ministro apresentou a nova lei no Parlamento.

(29)a. O presidente teve uma conversa com o primeiro--ministro.

b. O presidente conversou com o primeiro-ministro.

Inês Duarte 2009

Propriedades da sequência <verbo leve + N(deverbal/psicológico)

� Ao contrário das multi-word units, o N pode variar em número, determinação, quantificação e modificação:

(30)a. O presidente fez um discurso (notável) no Parlamento.

b. O presidente fez dois/vários/alguns discursos (notáveis) no Parlamento.

(31)a. Ela agarrou o (*enorme) touro pelos cornos.

b.* Ela agarrou dois/vários/alguns touros pelos cornos.

Inês Duarte 2009

Propriedades da sequência <verbo leve + N(deverbal/psicológico)

� O argumento externo do verbo leve controla o evento denotado pelo N:

(32)a. Os deputados da oposição contribuíram decisivamente para o debate.

b. Os deputados da oposição deram uma contribuição decisiva para o debate.

(33)a. *Os deputados da oposição deram uma contribuição decisiva dos sindicatospara o debate.

b. *Os deputados da oposiçãoi deram uma contribuição decisiva delesi / suai

para o debate.

Inês Duarte 2009

Propriedades da sequência <verbo leve + N(deverbal/psicológico)

� Duas possibilidades de clivagem dos complementos do verbo leve:

(34)a. O orientador deu sugestões importantes ao estudante de doutoramento.

b. Foram sugestões importantes que o orientador deu ao estudante de doutoramento.

c. Foram sugestões importantes ao estudante de doutoramento que o orientador deu.

(35)a. O orientador deu um livro ao estudante de doutoramento.

b. Foi um livro que o supervisor deu ao estudante de doutoramento.

c. * Foi um livro ao estudante de doutoramento que o orientador deu.

Inês Duarte 2009

Nesta construção, os verbos leves são predicados

� Os verbos leves podem preservar a estrutura argumental dos verbos plenos homónimos (cf. (5)-(6)) e s-seleccionam o argumento externo (cf. (10) vs. (11)). Além disso:

� Conservam parte do significado e da grelha temática do verbo plenohomónimo:

(36) (O João)x deu (uma gravata)y (ao pai)z.

(37)a. (O João)x deu (um abraço)y (ao pai)z.

b. (O João)x deu (muitas preocupações)y (ao pai)z.

(38)a. O Pedro fez uma casa na árvore (às / para as crianças).

b. O filme fez muita aflição às crianças.

(39)a. O Pedro tem uma casa no campo.

b. O Pedro tem algum receio de aranhas.

(40) a. receio de aranhas, conversa com os pais, orgulho na família

b. O Pedro teve uma conversa importante com os pais.

c. O Pedro tem muito orgulho na família.Inês Duarte 2009

Nesta construção, os verbos leves são predicados

� Os verbos leves seleccionam um Tema que denota uma eventualidade e nãouma entidade:

(41)a. O Pedro tem dado uma ajuda permanente/ocasional à UNICEF.

b. O Pedro fez uma intervenção interminável/rápida no debate.

c. Kissinger teve uma influência duradoura/pontual na política externa americana.

(42) a. *O Pedro deu um livro permanente/ocasional ao pai.

b. *O Pedro fez um bolo interminável/rápido para o filho.

c. * O Pedro teve um carro duradouro/pontual.

(43)a. O presidente deu alguns conselhos ao governo. (cf. Grimssaw 1990)

b. O presidente fez uma apresentação da nova lei no Parlamento.

c. O presidente teve uma conversa com o primeiro-ministro.

(44)a. ??O presidente deu alguns conselhos.

b. ??O presidente fez uma apresentação.

c. ??O presidente teve uma conversa.

Inês Duarte 2009

Nesta construção, os verbos leves são predicados

� Tal como os verbos plenos, os verbos leves admitem alternâncias:

� Alternância causativa/incoativa com fazer:

(45)a. Esse cirurgião fez uma operação difícil.

b. A Maria fez uma operação difícil (com esse cirurgião).

� Esta alternância não é permitia nem pelo verbo pleno homónimo, nem peloverbo derivante do N:

(46)a. O Pedro fez um veleiro.

b.* O veleiro fez-se com o Pedro.

(47)a. Esse cirurgião operou a doente.

b.* A doente operou-se com esse cirurgião.

Inês Duarte 2009

Nesta construção, os verbos leves são predicados

� Alternância simétrica, com dar e fazer:

(48)a. O Pedro deu um beijo à Maria.

b. O Pedro e a Maria deram um beijo.

� Alternância do tipo spray/load, com dar e fazer :

(49)a. O lavrador fez um carregamento de trigo no camião. b. O lavrador fez um carregamento do camião com trigo.

� Estas duas alternâncias são “herdadas” do verbo derivante do N:

(50)a. O Pedro beijou a Maria.b. O Pedro e a Maria beijaram-se.

(51)a. O lavrador carregou trigo no camião.

b. O lavrador carregou o camião com trigo.

Inês Duarte 2009

Nesta construção, os verbos leves são predicados

� Alternâncias processo-estado com dar/ter e fazer/ter:

(52)a. O Pedro deu muitas preocupações aos pais. (processo)

b. Os pais tiveram muitas preocupações com o Pedro. (estado)

(53)a. O Pedro fez uma corrida espantosa. (processo)

b. O Pedro teve uma corrida espantosa. (estado)

� Estas alternâncias não são herdadas nem do verbo pleno homónimo nem do verbo derivante: e.g., correr não permite este tipo de alternância; a alternância do verbo pleno preocupar não altera o tipo de eventualidade.

(54)a. O Pedro preocupou os pais. (processo)

b. Os pais preocuparam-se com o Pedro. (processo)

Inês Duarte 2009

Nesta construção, os verbos leves são predicados

� Os verbos leves são sensíveis à aktionsart do N com que se combinam(Oliveira et al. 2009)

� NB: Por questões de simplicidade, assumo a Aspectual PreservingHypothesis (Marín & McNally, 2009). Contudo, os factos são mais complicados: e.g., em PB, o nominalizador produtivo -ada transforma predicados atélicos em predicados télicos minimizados (Scher, 2005). Assim, quando este sufixo se aplica a radicais de processo, a classe aspectual do output muda:

(55)a. Vou andar de bicicleta (durante duas horas).

b. Vou dar uma andada de bicicleta (*durante duas horas). (PB)

� Em PE acontece o mesmo com o nominalizador produtivo –dela.

(56)a. Olhei para o quadro (durante meia-hora).

b. Dei uma olhadela ao quadro (*durante meia-hora). (PE)

Inês Duarte 2009

Nesta construção, os verbos leves são predicados

� Os verbos leves são sensíveis à aktionsart do N com que se combinam(Oliveira et al. 2009)

� Dar

(57)a. O Pedro deu uma corrida fantástica. (processo)

b. O Pedro deu uma pintura à parede. (processo culminado)

c. O Pedro deu um soluço. (ponto)

d. * O Pedro deu um assalto. (culminação)

e. * O Pedro deu uma estada no Brasil. (estado)

� Fazer

(58)a. O Pedro fez uma corrida. (proc.)

b. O Pedro fez uma declaração surpreendente. (proc. culm.)

c. O ladrão fez um assalto (muito) proveitoso. (culm.)

d. * O Pedro fez um soluço fatal. (ponto)

e. *O Pedro fez uma estada prolongada no Brasil. (estado)

Inês Duarte 2009

Nesta construção, os verbos leves são predicados

� Ter

(59)a. O Pedro teve uma corrida fantástica. (proc.)

b. O Pedro teve uma declaração polémica. (proc. culm.)

c. O ladrão teve um assalto proveitoso. (culm.)

d. O Pedro teve um soluço fatal. (ponto)

e. O Pedro teve uma estada prolongada no Brasil. (estado)

Inês Duarte 2009

Possibilidades combinatórias dos verbos leves dar, fazer, ter

Inês Duarte 2009

Light Verb Noun aspectual class

process culm. proc. culmination point state

dar + + - + -

fazer + + + - -

ter + + + + +

(60)

Uma feature description dos verbos com base na tipologia aspectual de Moens (1987)

� As classes de verbos de Vendler (1967) têm sido descritas através de featureclusters (Dowty 1979, Smith 1991, Scher 2005, eo.)

� Harley (2009: 333) propõe a seguinte especificação de traços para os verbalizadores que formam verbos principais:

(61)a. VCAUSE: [+dynamic], [+ change of state], [+cause]

b. VBECOME: [+dynamic], [+ change of state], [-cause] c. VDO: [+dynamic], [- change of state], [-cause]

d. VBE: [-dynamic], [- change of state], [-cause]

� Duarte, Miguel & Gonçalves(2009):

� Manter os traços [± dynamic], [± cause];

� Alargar [± change] a mudança de lugar e de posse;� Introduzir [± durative], para distinguir processos culminados,

processos e estados de culminações e pontos;

� Introduzir [± instant(aneous)], para distinguir pontos de todas as outras classes (cf. Smith, 1991).

Inês Duarte 2009

Aplicação da proposta de Duarte, Miguel & Gonçalves (2009)

(62)a. VCAUSE: [+dynamic], [+ change], [+cause], [+durative], [-instant]

b. VBECOME: [+dynamic], [+ change], [+cause], [-durative], [-instant]

c. VDO: [+dynamic], [- change], [-cause], [+durative], [-instant]

d. VBE: [-dynamic], [- change], [-cause], [+durative], [-instant]

e. VDO_INSTANT: [+dynamic], [- change], [-cause], [-durative], [+instant]

� Verbo pleno dar : (62b)

� Verbo pleno fazer: (62a)

� Verbo pleno ter: (62d)

� HIP: Os verbos leves distinguem-se dos verbos plenos homónimos porterem alguns dos traços aspectuais subespecificados.

(63)a. darleve: [+dynamic], [± change], [± cause], [± durative], [± instant]

b. fazerleve: [+dynamic], [± change], [± cause], [± durative], [-instant]

c. terleve: [+/-dynamic], [± change], [± cause], [± durative], [± instant]

Inês Duarte 2009

Eliminação das combinatórias agramaticais Vleve + N

� Verbos leves dar e fazer:

� Traço [+dynamic].⇒ não podem combinar-se com Ns que denotem estados, que são [- dynamic] (cf. agramaticalidade de (57e) e (58e)).

� Como são subespecificados para o traço [change], podem combinar-se com Ns que denotem processos ou processos culminados, os quais permitirão a atribuição, do valor [-] e [+], respectivamente.

� Como são subespecificados para [cause], podem combinar-se com processos culminados ([+ cause]) e com processos ([-cause]).

� Enquanto dar é subespecificado para o traço [instant], admitindo Nsque denotem pontos, fazer mantém o valor [-] do verbo pleno homónimo, pelo que exclui Ns denotando pontos ([+instant]) ((57c) vs. (58d)).

� Verbo leve dar: a exclusão da combinação de Ns denotando culminações (cf. *(57d)) faz-se pós-sintacticamente, na interface C-I (Oliveira et al. 2009).

� O verbo leve ter, como é subespecificado para todos os traços aspectuais, admite a combinação com Ns de qualquer das cinco classes.

Inês Duarte 2009

Exemplificação

� A combinação de dar com um N denotando um processo:

(64)a. dar um passeiodarlight: [+dynamic], [± change], [± cause], [± durative], [± instant]passeio: [+dynamic], [- change], [- cause], [+ durative], [- instant]dar um passeio: [+dynamic], [- change], [- cause], [+ durative],

[- instant]

� Vleve e N partilham o valor [+] para o traço [dynamic]; os restantes traços do Vleve são subespecificados ⇒ toda a sequência herda os valores especificados nos traços do N.

� A combinação de dar com um N denotando um estado:

(64)b. *dar uma estada no Brasildarlight: [+ dynamic], [± change], [± cause], [± durative], [± instant]estada: [- dynamic ], [- change], [- cause], [+ durative], [- instant]

� Os valores para o traço [dynamic] são conflituais, o que eliminaa combinação.

Inês Duarte 2009

O predicado complexo é formado na sintaxe

� O Vleve e o N entram na numeração com os seus traços formais inerentes.

� Aos traços interpretáveis não especificados do Vleve é atribuído um valor através da operação checking/agree contra os traço valorados do N.

� O Vleve é um predicado de controlo: o seu argumento externo controla a eventualidade denotada pelo N (cf. (4) vs. (5)).

Inês Duarte 2009

Referências

Abeillé, A., D. Godard & I. Sag (1998). Two Kinds of Composition in French Complex predicates. In Hinrichs, E., A. Kathol & T. Nakazawa (eds.), Complex Predicates in Nonderivational Syntax. Syntax and Semantics 30. San Diego: Academic Press.

Alsina, A. (1996). The Role of Argument Structure in Grammar. Stanford: CSLI Publications.

Butt, M. & W. Geuder (2001). On the (Semi)Lexical Status of Light Verbs. In Corver, N. & H. van Riemsdijk (eds.), Semi-lexical Categories: On the Content of function words and the function of content words: 323-370. Berlim, Mouton de Gruyter.

Butt, M. (2003). The Light Verb Jungle. Harvard Working Papers in Linguistics, Vol 9: 1-49.

Cattell, R. (1984). Composite Predicates in English. Syntax and Semantics 17. Sydney: Academic Press.

Diesing, M. (1998). Light Verbs and the Syntax of Aspect in Yiddish. The Journal of Comparative Germanic Linguistics, 1(2): 119-115.

Dowty, D. (1979). Word Meaning and Montague Grammar. Dordrecht, Reidel.

Duarte, I., A. Gonçalves & M. Miguel (2005). Verbos Leves com Nomes Deverbais emPortuguês Europeu. In Actas do XXI Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística. Lisboa: APL.

Inês Duarte 2009

Referências

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Grimshaw, J. (1990). Argument Structure. Cambridge, MA, MIT Press.

Grimshaw, J. & A. Mester (1988). Light Verbs and θ-Marking. Linguistic Inquiry, 19-2: 205-232.

Gross, M. (1981). Les Bases Empiriques de la Notion de Prédicat Sémantique. Langages, 63: 7-52.

Harley, H. (2009). The morphology of nominalizations and the syntax of vP*. In Giannakidou, A. & M. Rathert (eds), Quantification, Definiteness, and Nominalization. Oxford: Oxford University Press.

Hook, P. E. (1974). The Compound Verb in Hindi. Center for South and Southeast Asian Studies, Universidade de Michigan.

Kratzer, A. (1996). Severing the External Argument from the verb. In Rooryck, J. & L. Zaring (eds.), Phrase Structure and the Lexicon: 109-137. Dordrecht: Kluwer.

Langer, S. (2004). A Linguistic Test Battery for Support Verb Constructions. LingvisticaeInvestigationes, 27( 2): 171-184.

Inês Duarte 2009

Referências

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Moens, M. (1987). Tense, Aspect and Temporal Reference. University of Edinburgh, PhD. Dissertation. Oliveira, F., l. F. Cunha, F. Silva & P. Silvano (2009). Some Remarks on the Aspectual Properties of Complex Predicates with Light Verbs and Deverbal Nouns. Comunicação apresentada ao TABU DAG, Groningen.

Rosen, S. (1990). Argument Structure and Complex Predicates. Nova Iorque, Garland.

Samek-Lodovici, V. (2003). The Internal Structure of Arguments and its Role in Complex Predicate Formation. Natural Language & Linguistic Theory, 21: 835-881.

Scher, A.P. (2005). As Categorias Aspectuais e a Formação de Construções com o Verbo Leve Dar. Revista GEL, v. 2: 9-38.

Smith, C.S. (1991). The Parameter of Aspect. Dordrecht: Kluwer Academic Publishers.

Vendler, Z. (1967). Linguistics in Philosophy. Ithaca / Londres: Cornell University Press.

Inês Duarte 2009