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UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES CÂMPUS DE FREDERICO WESTPHALEN PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS MESTRADO EM LETRAS ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM LITERATURA COMPARADA JULIANE DELLA MÉA A leitura na escola é prática humanizadora? Uma análise do contexto escolar de Frederico Westphalen /RS pela perspectiva Multinível Frederico Westphalen 2016

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UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES –

CÂMPUS DE FREDERICO WESTPHALEN

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS

MESTRADO EM LETRAS

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM LITERATURA COMPARADA

JULIANE DELLA MÉA

A leitura na escola é prática humanizadora?

Uma análise do contexto escolar de Frederico Westphalen /RS

pela perspectiva Multinível

Frederico Westphalen

2016

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JULIANE DELLA MÉA

A leitura na escola é prática humanizadora?

Uma análise do contexto escolar de Frederico Westphalen /RS

pela perspectiva Multinível

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Letras, área

de concentração em Literatura Comparada, da Universidade Regional Integrada do

Alto Uruguai e das Missões – URI, sob a orientação da Profª. Drª. Ilse Maria da

Rosa Vivian, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre.

Frederico Westphalen, agosto de 2016.

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Nome: MÉA, Juliane Della.

Título: A leitura na escola é prática humanizadora? Uma análise do contexto escolar de

Frederico Westphalen /RS pela perspectiva Multinível

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-

graduação em Letras, área de concentração em Literatura

Comparada, da Universidade Regional Integrada do Alto

Uruguai e das Missões-URI, sob a orientação da Profª.

Drª. Ilse Maria da Rosa Vivian, como requisito parcial

para a obtenção do grau de Mestre.

Aprovado em:

Banca Examinadora

Profa. Dr

a. Eunice Terezinha Piazza Gai Instituição: UNISC

Assinatura: __________________________________________________

Profa. Dr

a Edite Maria Sudbrack Instituição: URI

Assinatura: __________________________________________________

Profa. Dr

a. Ilse Maria da Rosa Vivian (Presidente)

Assinatura: __________________________________________________

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que direta e indiretamente me incentivaram a perseverar diariamente

nesta longa caminhada em busca de respostas para meus impasses de âmbito profissional e

inquietações pessoais, alimentando a esperança de um mundo igualitário, com uma educação

de qualidade regida pela leitura.

Agradeço a minha filha Joana Carla que desde muito pequena se deleita com o mundo

fantástico da literatura e nesse período de ausência compreendeu minha falta, ao meu esposo

Carlos Ramiro pela incansável paciência nos momentos mais tensos e pelo incondicional

companheirismo, amor e apoio.

Fundamentalmente, agradeço a minha orientadora Profª. Drª. Ilse Maria da Rosa

Vivian, que, com seu conhecimento, atenção, apoio, calma e delicadeza, acompanhou de

forma intensa todo o desenvolvimento deste trabalho, acreditando no seu propósito e

importância.

Aos meus colegas, que se tornaram grandes amigos... Agradeço por sempre estarem

disponíveis para esclarecer as dúvidas que surgiam durante os períodos de estudo e

principalmente pelos momentos felizes que passamos juntos.

Aos amigos e colegas de trabalho, pelo incentivo constante e malabarismo em horários

e substituições, para que essa pesquisa se concretizasse. Em especial a 20ª CRE, por acreditar

na contribuição deste estudo à Educação, consentindo a realização da pesquisa nas escolas

estaduais de Frederico Westphalen R/S.

A todas as escolas estaduais que participaram da pesquisa, equipes diretivas,

professores e educandos, pelo acolhimento caloroso, disposição e disponibilidade.

Em especial, agradeço a todos os meus alunos atuais ou não, aqueles que me deram o

privilégio de ambicionar essa conquista e aos quais eu dediquei incondicionalmente o meu

gosto pela leitura, certa de que a motivação literária lhes serviu de grandes triunfos.

Enfim, obrigado DEUS por tudo!

Com VOCÊ tudo fica mais fácil!

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Compare o ato da leitura com o ato de se fazer café. O pó de café fica

no filtro, fora do bule.

As palavras escritas pelo autor ficam no livro…

Fora do leitor

Mas a água que passou pelo filtro deixa de ser água e passa a

ter gosto, o cheiro e a cor

do que não está ali e aparentemente ficou de fora.”

Um leitor nunca mais será a mesma pessoa depois de ler um texto.

Ele pode gostar ou não, entender ou não, porém passará a ter

o gosto, o cheiro e a cor do que

não está ali e aparentemente ficou de fora.

Marco Antonio Hailer

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RESUMO

A presente dissertação tem por objetivo investigar a prática de leitura no contexto escolar da cidade de Frederico

Westphalen-RS, tendo por base as propostas previstas nas Leis de Diretrizes e Bases e Parâmetros Curriculares

Nacionais referentes à área, e considerando que os processos de leitura na escola preveem a integração dos

protagonistas, professor e aluno, com vistas à formação humanizadora dos sujeitos. Parte-se do pressuposto que,

no trânsito do Ensino Fundamental I para níveis posteriores da vida escolar, a leitura, para os alunos, assume

diferentes valores. Na infância, a leitura promove o prazer e o encantamento, enquanto, em anos posteriores da

prática escolar, torna-se fonte de tormento e abnegação. Com intuito de encontrar possíveis respostas para o

desinteresse pela leitura, o desenvolvimento desse trabalho pauta-se nos seguintes procedimentos metodológicos:

a primeira etapa, de natureza teórica, consiste no embasamento bibliográfico, cuja parte explana a respeito do

amplo conceito de leitura e sua contribuição para a formação humana íntegra, de cunho social, incluso na esfera

da legislação vigente; a segunda consiste na investigação de campo, cujo método de coleta de dados é o survey,

que inclui professores graduados em Letras que atuam em sala de aula, bem como alunos devidamente

matriculados nos Anos Finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio das Escolas Estaduais de Frederico

Westphalen /RS – Brasil. Os sujeitos envolvidos foram submetidos a um questionário específico para avaliar a

auto percepção de sua conduta referente à leitura e sua projeção social. Posteriormente, os dados foram

contemplados e analisados dentro da perspectiva Multinível, sendo os sujeitos, alunos e professores a unidade de

análise de primeiro nível (nível micro) e as escolas e bairros a unidade de segundo nível (nível macro).

Palavras-chave: Leitura; Educação; Análise Multinível

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ABSTRACT

This Master’s dissertatin aims to investigate the reading practice in the school context of the city of Frederico

Westphalen-RS, based on the proposals having been provided in the National Law of Directives and Bases and

Curricular Parameters relating to the area, and considering that the reading processes at school provide for the

integration of the protagonists, teacher and student, for the humanizing training of the subjects. It is assumed

that, in the change of Elementary School to the subsequent levels of school life, reading, for students, assume

different values. In childhood, reading promotes pleasure and enchantment, while in subsequent years of school

practice, it becomes a source of torment and self-denial. In order to find possible answers to the disinterest in

reading, the development of this work proposes on following methodological procedures: the first stage of a

theoretical nature, consists of bibliographic foundation, whose part explains about the broad concept of reading

and its contribution for the human formation , social characteristics, included in the sphere of actual law; the

second consists in the field of research, which the data collection method is the survey, that includes graduate

teachers in Literature who work in the classroom, as students enrolled in the final years of Elementary School

and High School from the State Schools of Frederico Westphalen / RS - Brazil. The subjects involved had been

submitted to a specific questionnaire to assess the self-perception of their conduct related to reading and their

social projection. Subsequently, the data had been analyzed and contemplated in the Multilevel perspective,

being the subject students and teachers to the first level analysis unit (level micron) and schools and

neighborhoods to the second level unit (level macro).

Keywords: Reading; Education; Multilevel analysis

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LISTA DE ABREVIATURAS

LDB – Lei de Diretrizes e Bases

PNE – Plano Nacional de Educação

PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais

PCNEN – Parâmetros Curriculares Nacionais de Ensino Médio

PCNEN+ – Parâmetros Curriculares Nacionais de Ensino Médio Mais

OCNEM – Orientações Curriculares Nacionais de Ensino Médio

MEC – Ministério da Educação

EJA – Educação de Jovens e Adultos

PPP – Projeto Político Pedagógico

PPI – Projeto Pedagógico Institucional

CNE – Conselho Nacional de Educação

PPCL – Projeto Pedagógico do Curso de Letras

TCL – Termo de Consentimento Livre

CEP – Comitê de Ética em Pesquisa

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1- MAPA DA ÁREA TERRITORIAL DO MUNICÍPIO DE FREDERICO WESTPHALEN, R/S E A

LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DAS ESCOLAS ESTADUAIS EM SEU PERÍMETRO. ...................... 57

FIGURA 2 – DISTRIBUIÇÃO DOS REGISTROS DE NÚMEROS DE PARTICIPANTES, PELA LOCALIZAÇÃO

GEOGRÁFICA NO MUNICÍPIO DE FREDERICO WESTPHALEN, R/S. .......................................... 60

FIGURA 3 – DISTRIBUIÇÃO DOS REGISTROS DAS ESCOLAS ESTADUAIS QUE COMPÕEM O

MUNICÍPIO DE FREDERICO WESTPHALEN, R/S, 2016. ........................................................... 63

FIGURA 4 - DISTRIBUIÇÃO DOS GÊNEROS QUE CONTRIBUÍRAM COM A PESQUISA, DENTRE AS

ESCOLAS DO MUNICÍPIO DE FREDERICO WESTPALEN, R/S. .................................................. 67

FIGURA 5 – PERCENTUAL DA SOMA TOTAL DOS GÊNEROS (MASCULINO/FEMININO) QUE

CONTRIBUÍRAM COM A PESQUISA. ...................................................................................... 68

FIGURA 6 – DISTRIBUIÇÃO DOS REGISTROS DOS ÍNDICES DE VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS ESTADUAIS

DO MUNICÍPIO DE FREDERICO WESTPHALEN, R/S. ............................................................... 69

FIGURA 7 – DISTRIBUIÇÃO DO REGISTRO REFERENTE AO GOSTO PELA LEITURA E QUANTIDADE DE

LIVROS LIDOS NO PERÍODO DO ANO ESCOLAR DE 2016. ...................................................... 75

FIGURA 8 – DISTRIBUIÇÃO DO REGISTRO REFERENTE AO SENTIMENTO DESPERTADO PELAS

DISCIPLINAS DE LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA. ......................................................... 77

FIGURA 9 – DISTRIBUIÇÃO DOS REGISTROS DAS AÇÕES DE LEITURA CONTIDAS NO BANCO DE

DADOS DAS VARIÁVEIS PREDITORAS DO NÍVEL 01. ............................................................ 80

FIGURA 10 – DISTRIBUIÇÃO DOS ÍNDICES DE INCENTIVO À LEITURA POR PARTE DO CORPO

DOCENTE DAS ESCOLAS. .................................................................................................... 86

FIGURA 11– DISTRIBUIÇÃO DOS ÍNDICES SOBRE O PROPÓSITO DA LEITURA EM SALA DE AULA. . 87

FIGURA 12 - DISTRIBUIÇÃO DOS PERCENTUAIS REFERENTES À QUESTÃO – ‘A LEITURA

HUMANIZA?’ ...................................................................................................................... 88

FIGURA 13 – DISTRIBUIÇÃO DOS CONCEITOS SOBRE A FORMAÇÃO DO CURSO DE LETRAS DENTRE

OS DOCENTES QUE COLABORARAM COM A PESQUISA. ........................................................ 92

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – NÚMERO DE ADESÃO DE SUJEITOS E ESCOLAS AO TRABALHO DE PESQUISA,

SEGUNDO A LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA NO MUNICÍPIO DE FREDERICO WESTPHALEN, R/S,

2016. ................................................................................................................................. 63

QUADRO 2 - PRINCIPAIS BASES DE DADOS COLETADOS DE INTERESSE PARA A ÁREA DA ANÁLISE

MULTINÍVEL, SEGUNDO AS VARIÁVEIS PREDITORAS DE NÍVEL 1 (MICRO)

ALUNOS/PROFESSORES E NÍVEL 2 (MACRO) ESCOLAS/BAIRROS. ......................................... 65

QUADRO 3 – DADOS COLETADOS SOBRE A AÇÃO DO ATO DE LER E SUA PRÁTICA PEDAGÓGICA E

METODOLÓGICA DENTRE AS PREDITORAS DE NÍVEL 1 (PROFESSOR/ALUNO). ...................... 74

QUADRO 4 – ABORDAGEM DA FORMAÇÃO DOCENTE EM LETRAS E SEU CONHECIMENTO SOBRE OS

OBJETIVOS QUE COMPÕE OS PCNS NA SUA PRÁTICA PEDAGÓGICA. ..................................... 85

QUADRO 5 – DISTRIBUIÇÃO DOS ÍNDICES DE INCENTIVO À LEITURA POR PARTE DO CORPO

DOCENTE DAS ESCOLAS. .................................................................................................... 85

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 11

1 LER... PARA QUÊ? ............................................................................................................ 13

1.1 Leitura: ação que liberta da alienação e conduz para a formação humana íntegra ......... 16

1.2 A função social da leitura, da literatura e da escola ........................................................ 21

1.3 Percorrendo a história para compreender a formação de leitores ................................... 26

1.4 Uma prévia para a metodologia da pesquisa .................................................................. 32

1.4.1 Amostra ........................................................................................................................... 34

1.4.2 Procedimentos para a coleta ............................................................................................ 35

1.4.3 Critérios de Inclusão e Exclusão ..................................................................................... 36

1.4.4 Análise dos Dados ........................................................................................................... 36

1.4.5 Preceitos Éticos ............................................................................................................... 37

2 BIFURCAÇÕES ENTRE TEORIA E PRÁTICA ............................................................ 38

2.1 Revendo as LDBs Nacionais .......................................................................................... 41

2.2 Leitura que se aprende é o que se ensina? ...................................................................... 49

2.3 A leitura no espaço escolar ............................................................................................. 57

3 A FRUIÇÃO DA LEITURA ............................................................................................... 73

3.1 A leitura que forma e transforma .................................................................................... 83

CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 94

ANEXOS ............................................................................................................................... 109

I – CARTA DE APROVAÇÃO DO CEP - URI ................................................................ 109

II – CARTA DE ANUÊNCIA – 20ª CRE .......................................................................... 110

III – CARTA DE APRESENTAÇÃO E CONSENTIMENTO - ESCOLAS .................... 111

APÊNDICES ......................................................................................................................... 112

I – QUESTIONÁRIO PARA OS ALUNOS ...................................................................... 112

II – QUESTIONÁRIO PARA OS PROFESSORES .......................................................... 115

III – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – PAIS E OU

RESPONSÁVEIS ............................................................................................................... 119

IV – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – PROFESSORES . 121

V – TERMO DE CONFIDENCIALIDADE ...................................................................... 123

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INTRODUÇÃO

O importante da educação não é apenas formar um mercado de trabalho, mas

formar uma nação, com gente capaz de pensar.

(José Arthur Giannotti)

A educação escolar é uma tessitura de conhecimentos, de relações e de sentidos. Em

suas estruturas não estão firmados apenas os pilares de concreto, as paredes de tijolos, o

telhado, os vidros e os muros, necessários para abrigar os educandos, educadores e demais

agentes da Educação. A escola possui nas suas vivências, como base primordial, não apenas a

formação para um mercado de trabalho, ela é construída por e para pessoas, capazes de

pensar, socializar, sentir e transformar.

A escola constitui-se como agente das relações humanas, que se mesclam com a

determinação e a sensibilidade de educar. Também media a relação com o outro, tão

importante em eras quando o individualismo é cultuado em detrimento do coletivo. O telhado

fornece proteção para as intempéries do tempo, no sentido de ajudar o outro nas suas

adversidades. Os vidros são reflexos de ações individuais para com os demais, e do grupal

para o uno, do que se ensina e do que se aprende nessas interações, bem como da reflexão

sobre a caminhada, sobre os percursos e os percalços que edifica cada sujeito e sua história.

Ainda, os muros são as incertezas diárias, que ora protegem, ora desafiam para o crescimento

pessoal e, assim, a escola abre seus portões provocando e vibrando para trilhar novas

conquistas, com o desígnio de que, homens e mulheres tornem-se protagonistas de suas artes,

seus saberes, criando o enredo de suas histórias de vida.

Uma das incertezas e também dos desafios existentes e sólidos como os muros

escolares é o (des)encantamento literário por parte dos alunos, a apatia e o desconhecimento

do que tange à leitura, situações que permitem refletir e pesquisar a respeito da formação dos

professores de na Área de Letras e sua contribuição para o processo de aquisição e ou

distanciamento literário. Essa questão torna-se subsídio para a investigação a ser desenvolvida

na terceira linha de estudo, Leitura, Linguagem e Ensino, do Mestrado em Letras – (URI)

Campus de Frederico Westphalen, por se perfazer um trabalho de cunho social e educativo.

Outra situação problema é o desafio de superar o baixo desempenho escolar, no que se

refere à interpretação textual e à escrita, especialmente nas disciplinas de Língua Portuguesa e

de Literatura, as quais além da leitura exigem entendimento, compreensão e reflexão. Franco

Moretti (2009), para ressaltar a importância da literatura na formação do sujeito e como essa

pode influenciar no meio social em que o próprio se encontra inserido, afirma que:

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estou convencido de que uma sociedade sem romances, ou na qual a literatura foi

relegada, como certos vícios inconfessáveis, às margens da vida social e convertida

mais ou menos num culto sectário – essa sociedade está condenada a se barbarizar

no plano espiritual e a pôr em risco a própria liberdade.(MORETTI, 2009, p. 20)

Considerando que o gosto pela leitura é concebido no núcleo familiar, perpassado para

a escola e sendo de interesse social, pelo fato de fazer com que o indivíduo busque além de

reflexão, posicionamento frente à realidade, Joana Cavalcante (2002) destaca:

Formar leitores é compromisso da família e da escola. Também deve fazer parte dos

interesses de toda a comunidade, pois uma sociedade não letrada, ou mesmo

formada por leitores funcionais, está fadada à condição de miséria e indignidade.

Nunca a questão da formação de leitores foi tão discutida como nos dias atuais, até

porque se entende que o desenvolvimento de uma nação depende do nível de

letramento dos seus habitantes. Não existe país livre e desenvolvido sem

investimentos na educação e na leitura. (CAVALCANTE, 2002, p.2)

Por entender que a abordagem da leitura deve ser feita de modo a estabelecer uma

ligação entre as competências escolares, os professores e o mundo cotidiano em que os

estudantes estão inseridos, é de suma necessidade reverter o distanciamento literário dos

mesmos, pois assim como alega Cavalcante (2002), quando a literatura passa a ser vista como

algo supérfluo e tedioso, não contempla as várias possibilidades de aprendizado, a nação

torna-se periférica e distancia-se dos sistemas igualitários, eficazes e justos.

O presente trabalho tem por finalidade contribuir para a compreensão de como ocorre

a relação da leitura entre os protagonistas professor/aluno no âmbito escolar e, se o ato de ler

colabora para a formação humanizadora do indivíduo. Para tanto o estudo teórico e a pesquisa

de campo são ferramentas necessárias à compreensão da importância delegada à leitura,

comprovando ou não as hipóteses levantadas, através da análise e cruzamento de dados

coletados. Assim, a relevância social vinculada nesta pesquisa é de suma importância

acadêmica e educacional.

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1 LER... PARA QUÊ?

As palavras são as portas e janelas. Se nos debruçarmos e repararmos, nos

inscrevemos na paisagem. Se destrancarmos as portas, o enredo do universo

nos visita. Ler é somar-se ao mundo, é iluminar-se com a claridade do já

decifrado.

(Bartolomeu Campos de Queirós)

A interrogativa que intitula esse capítulo representa, entre tantas questões que assolam

a leitura, a de maior propagação dentre o corpo discente. Afinal, Ler... Para quê?... Ler para

fazer resumos? Ler para ser avaliado? Ler para aprender gramática? Ler para suprir as

necessidades de seleções classificatórias? Infelizmente a leitura é compreendida por este viés.

Para o crítico Harold Bloom, a leitura proporciona a tarefa de constituir sujeitos

capazes de pensar e agir com criticidade no meio em que se encontram inseridos. Em

perspectiva semelhante a de Bloom (2001), Bartolomeu Campos de Queirós (1999) acredita

que ler é inserir-se no mundo; é ler o mundo em sua abrangência; é protagonizar reflexões que

lhe permitirão compreender a complexidade das informações que causam inquietações

interiores e em seu meio social.

Ler para não ser indivíduo alheio, alienado na própria crença, como os atos isolados de

abrir portas e janelas, mas para sentir-se parte de um todo, uma peça que se encaixa e faz a

diferença; ler para viajar dentro de si; alimentar a alma, como afirma Eduardo Galeano

(2012), ao referir que:

cada fragmento é um desses ricos mosaicos, onde cada parte minúscula existe como

parte de um conjunto, e existe por si próprio. Ao mesmo tempo é uma cor que se

integra a outras cores, mas ao mesmo tempo é um relato em si, algo que tem vida

própria. E cada um desses micro-relatos é o resultado de um trabalho muito árduo de

escrita. Começam como relatos longos, que vão se contraindo em versões sucessivas

(GALEANO, 2012).

Neste aspecto é que são elaborados os livros, com relatos de fatos ou experimentos

individuais/coletivos, reais ou ficcionais, que podem servir de motivação, reflexão e até

mesmo incentivo para que o indivíduo se torne atuante como cidadão; para que se considere

membro desse mosaico inacabado que sofre metamorfoses a todo instante, chamado

sociedade.

Ler para questionar, interpretar, compreender-se a partir do compreendido. Lê-se para

interpretar o ocorrido e traçar metas futuras. Assim, a leitura torna-se uma ferramenta

pedagógica que educa, no instante em que permite ao sujeito transitar por diversos universos,

derrubar as muralhas do preconceito, buscar desvendar os mistérios que o instigam e

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desenvolver a curiosidade do e para o conhecimento. Ler é consentir que o indivíduo se

convença que pode ir além de suas limitações, que consegue presenciar a mutação do que

sabe para o que acredita.

A leitura antecede a escrita, ao contrário do que prega a história da evolução humana;

os primatas antes de transcreverem em cavernas buscavam interpretar as condições e suas

vivências carregadas com heranças culturais de seus ancestrais. A literatura de ordem

conotativa, “tem seu lado expressivo; ela comunica a expressão e a atitude do falante ou

escritor. E ela não apenas formula e expressa o que diz, mas também quer influenciar a

postura do leitor, persuadi-lo e, por fim, modificá-lo” (WELLEK, 2003, p. 15).

Assim, ninguém lê por ler; a leitura é a ferramenta que age contra o aprisionamento

libertando a sensibilidade, que ensina e analisa contextos vividos, que formula ou reformula

conjunturas. Nas palavras de Tzevetan Todorov (2010), “ela permite que cada um responda

melhor à sua vocação de ser humano” (TODOROV, 2010, p. 24); o que comprova que a

leitura desenvolve a memória; faz pensar, recria a sabedoria do uno para o coletivo, mantendo

a essência ao comungar com o todo.

Todorov (2010) em sua obra A literatura em perigo, evidencia o vasto leque de

horizontes acessíveis para quem se propõe a ler, quando afirma que “o mundo real se torna

mais pleno de sentido e mais belo” (TODOROV, 2010, p.24), no momento em que o

indivíduo consegue extrair da leitura conhecimentos para a vida, porque a leitura é o elo entre

a informação sistematizada e o mundo fidedigno.

Através dos escritos, o indivíduo exibe os problemas sociais que assolam a

coletividade, como reconhece Wellek (2003), em seu ensaio intitulado Teoria da literatura e

metodologia dos estudos literários,“a função da literatura, dizem alguns, é aliviar-nos –

escritores e leitores – da pressão das emoções”(WELLEK, 2003, p.34).

No instante em que a leitura institui relações argumentadas e conscientes entre o

ficcional e o real há uma interação direta entre o leitor e seu meio, o que pode obstruir ou

alargar ideias, existindo ou não uma ambiguidade no ato de ler, como mensura Ezequiel

Theodoro da Silva, em seu livro Leitura na escola e na biblioteca, “a leitura enriquece ou

empobrece, dinamiza ou paralisa, dirige ou desvia, conscientiza ou serve para alienar as ações

relacionadas com a formação de leitores” (SILVA, 1995, p. 47), tudo depende do propósito e

da maneira em que o ato de ler é exercido.

Ao exercer a atividade de ler, cabe ao leitor utilizar-se de estratégias para elaborar

sentidos congruentes a sua formação fatual, cultural e valorativa. No entender de Isabel Solé

(1998), a leitura exige além da habilidade de decodificar, a própria habilidade de compreender

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e interpretar, de interagir. Realizando ou não conexões de previsões exploradas e ou

vivenciadas, a autora caracteriza a leitura como:

um processo de previsão e inferência contínua, que se apoia na informação

proporcionada pelo texto e na nossa própria bagagem, e em um processo que

permita encontrar evidência ou rejeitar as previsões e inferências antes mencionadas

(SOLÉ, 1998, p. 23).

Para que a leitura evoque múltiplos sentidos, é indispensável que tenha repertórios

diferentes, onde experiência e vida não fiquem restritas ao ângulo singular da literatura, mas

possam se expandir dentre as várias áreas do conhecimento, como: arte, filosofia, política,

ciência – desvelando novos horizontes. Interpretações variadas produzirão distintos efeitos de

reprodução, análise e significação. A leitura não deve ser meramente imposta com a

finalidade de absolvição de ideais impostas e ou julgamentos de aprendizado derivados de

uma conjuntura hierárquica fixada, mas convidativa para aperfeiçoar e ampliar a vasta

existência do SER.

Antonio Candido, em seu clássico Literatura e sociedade (2000), resume a

importância da literatura, uma vez que esta se liga diretamente à leitura, o que permite o

envolvimento individual para a reflexão sobre o futuro coletivo da sociedade humana; assim

ressalta:

só a podemos entender fundindo texto e contexto numa interpretação dialeticamente

íntegra, em que tanto o velho ponto de vista que explicava pelos fatos externos,

quanto o outro, norteado pela convicção de que a estrutura é independente, se

combinam como momentos necessários do processo interpretativo. Sabemos ainda

que o externo, no caso o social, importa, não como causa, nem como significado,

mas como elemento que desempenha um papel na constituição da estrutura,

tornando-se, portanto, interno (CANDIDO, 2000, p.4).

Sob essa perspectiva, o teórico citado já salientava a função humanizadora da

literatura em seu texto A literatura e a formação do homem (2002), ao manifestar três funções

básicas da literatura: a psicológica ao manifestar criatividade, imaginação, deslocar-se do real

para viver a ficção e suas premissas; a formadora, unificada à formação do leitor, difundindo

o valor da leitura e do ensino de literatura e a social ao mesclar o refletir com o transformar, o

que resulta em uma atuação social consistente e ciente do posicionamento do indivíduo frente

à realidade.

Portanto, responder a interrogação que intitula esse capítulo demonstra audácia, uma

vez que a pergunta remete ao entendimento do poder da leitura como fator de ordem e

compromisso social, onde o escritor/leitor configura-se como mero instrumento para a

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modificação qualitativa de seu entorno, tendo ele a responsabilidade sobre seus direitos e

deveres, dentro de um conjunto de mecanismos que mutuamente sofrem alterações e se

integram nos campos de ordem econômica, política, ideológica, psicológica e social, ou seja,

ler para se auto (re)conhecer e possuir uma identidade autônoma, para que possa atuar

ativamente como cidadão, condicionando respostas para possíveis conflitos de peso seletivo,

formativo e intemporal.

1.1 Leitura: ação que liberta da alienação e conduz para a formação humana íntegra

Antonio Candido (1995) afirma que a humanização é o procedimento que confirma no

homem traços essenciais para a vida em sociedade, como o exercício da reflexão e da

cidadania, a aquisição do saber, a comunhão de vivências com o próximo, a sensibilização

com o outro, o cuidado da beleza da alma, a percepção da ligação entre mundos e seres, o

cultivo do humor e do amor. Nesse sentido, “a literatura desenvolve em nós a quota de

humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a

sociedade, o semelhante” (CANDIDO, 1995, p. 249).

Para o exercício eficaz da cidadania, a leitura em sua íntegra é essencial no que se

refere ao conhecimento, à formação crítica, à expressão, ao enriquecimento cultural, à

autonomia e ao autoconhecimento diante da complexidade do mundo em que se insere o

sujeito. É verídico destacar que a leitura e sua prática é precária na sociedade atual, uma vez

que o indivíduo não é motivado e tão pouco tem contato com livros; o frenesi delirante da

contemporaneidade toma todo o tempo da reflexão. Todavia a importância que rege a leitura

no que se refere à transformação do indivíduo tem caráter social.

Harold Bloom defende a tese de que “uma das funções da leitura é nos preparar para

uma transformação, e a transformação final tem caráter universal” (BLOOM, 2001, p.17). Ao

dar destaque ao caráter universal de transformação, é possível projetar essas mudanças tanto

no aspecto profissional (leituras técnicas, objetivas), como pessoal (leituras prazerosas,

instigantes) que venham a contribuir para a formação integral do ser.

Porém, essa transformação só é possível segundo “uma fórmula de leitura: encontrar

algo que nos diga respeito, que possa ser utilizado como base para avaliar, refletir, que pareça

ser fruto de uma natureza semelhante à nossa, e que seja livre da tirania do tempo” (BLOOM,

2001, p.18). Assim, a identificação com a leitura como algo pessoal e útil, que aproxima

aquele que lê daquele que escreve, propicia a transformação através da reflexão.

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17

Na mesma obra de Bloom, Como e por que ler, o autor concede à leitura a função de

“livrar a mente da presunção” (BLOOM, 2001, p. 20), ou seja, quem lê não é detentor de todo

o saber, nem pode ser considerado mais sábio e ou importante do que quem não exerce essa

prática, pois o verdadeiro leitor está em constante transformação, reflexão e (re)avaliação de

seus próprios saberes. O real papel da leitura é ampliar conceitos e convicções, formar

homens de mente aberta, capazes de aceitar a diversidade de opiniões e enxergar nelas pontes

que unem e humanizam a sociedade.

Comungando do pensamento de Bloom, que a leitura além de transformar, humaniza,

Antonio Cândido, em seu texto A literatura e a formação do homem (2002), define a

literatura “como algo que exprime o homem e depois atua na própria formação do homem”

(CANDIDO, 2002, p. 80), ou seja, a obra literária pode despertar emoções, sentimentos,

reflexões e até mesmo revolta, apresentando fatos ou resquícios da realidade atual em que o

mundo e sua população se encontra, oportunizando cogitações de ações e atitudes individuais

e sociais.

Ainda, colocando em diálogo esses dois autores, é possível acrescentar que, “para ler

bem é preciso ser inventor” (BLOOM, 2001, p. 21), interagir com a literatura, vivenciá-la,

senti-la; Cândido acrescenta: “Ela [a literatura] não corrompe nem edifica, portanto; mas,

trazendo livremente em si o que chamamos o bem e o que chamamos o mal, humaniza em

sentido profundo, porque faz viver” (CANDIDO, 2002, p. 85).

Outro autor que ressalta o valor da literatura como humanizadora é Edgar Morin. Em

A cabeça bem feita (2005), o pesquisador afirma que quando o indivíduo pratica a leitura,

experimenta, através do ficcional, vivências com realidades; um jogo de lucidez com

devaneio, que aproxima memórias e histórias.

É no romance, no filme, no poema, que a existência revela sua miséria e sua

grandeza trágica, com o risco de fracasso, de erro, de loucura. É na morte de nossos

heróis que temos nossas primeiras experiências da morte. É, pois, na literatura que o

ensino sobre a condição humana pode adquirir forma vívida e ativa, para esclarecer

cada um sobre sua própria vida. (MORIN, 2005, p. 49)

Notório compreender que ao praticar a leitura de textos literários o indivíduo se depara

com a imagem de si perante suas vivência e ações, o que permite a compreensão e

(re)formulação de conceitos e práticas sociais. No instante que se pensa sobre, a questão é

internalizada, sentida e consequentemente compreendida.

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18

Partindo do pressuposto de que a literatura é detentora do poder de compreender e

transformar a vida do ser humano, Tzvetan Todorov em seu livro A literatura em perigo

(2010), afirma:

Mais densa e mais eloquente que a vida cotidiana, mas não radicalmente diferente, a

literatura amplia o nosso universo, incita-nos a imaginar outras maneiras de

concebê-lo e organizá-lo. Somos todos feitos do que os outros seres humanos nos

dão: primeiro nossos pais, depois aqueles que nos cercam; a literatura abre ao

infinito essa possibilidade de interação com os outros e, por isso, nos enriquece

infinitamente. Ela nos proporciona sensações insubstituíveis que fazem o mundo

real se tornar mais pleno de sentido e mais belo. Longe de ser um simples

entretenimento, uma distração reservada às pessoas educadas, ela permite que cada

um responda melhor à sua vocação de ser humano (TODOROV, 2010, p. 24).

O autor reafirma, assim, que através da literatura o conhecimento implícito e explícito

é estimulado e ampliado, a leitura é um agente que faz “descobrir mundos que se colocam em

continuidade com essas experiências e me permite reconhecê-las” (TODOROV, 2010, p.23).

Desta forma, permite concluir que a formação do homem inicia com suas primeiras vivências

e contato com demais de sua espécie, porém se desenvolve por completo com a leitura, que

conduz à reflexão da condição humana, o que lhe traz contribuições que ultrapassam o

conhecimento de conteúdos programáticos e metodologias estanques, despertando sua

verdadeira aptidão dentre o meio ao qual se inserido.

Sistemas educacionais que obtinham o poder através da memorização de determinados

conteúdos, escolhidos e reproduzidos homogeneamente, no momento precisam de mudanças.

Para tanto enfatizar a leitura como início da teia de conexões entre os fenômenos políticos,

sociais e culturais, pertinentes ao desenvolvimento de consciência crítica e das práticas de

transformações imbricadas nos interesses humanos é o que emerge o desafio da educação

atual; formar para a intervenção racional e sensível na realidade.

Segundo Fernando Savater, em sua obra El valor de educar, o principal objetivo da

educação intermediado pela leitura, é contribuir para a formação humana através da

conscientização, onde o outro é parte integrante do meio em que o “eu” se insere,

contribuindo para o enriquecimento cultural, econômico e social. Sendo assim:

el primer objetivo de la educación consiste en hacernos conscientes de la realidad de

nuestros semejantes. Es decir: tenemos que aprender a leer sus mentes, lo cual no

equivale simplemente a la destreza estratégica de prevenir sus reacciones y

adelantarnos a ellas para condicionarlas en nuestro beneficio, sino que implica ante

todo atribuirles estados mentales como los nuestros y de los que depende la propia

calidad de los nuestros. Lo cual implica considerarles sujetos y no meros objetos;

protagonistas de su vida y no meros comparsas vacíos de la nuestra (SAVATER,

1997, p. 16).

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Para que haja esse país livre e desenvolvido, almejado e por muitos considerado

utópico, é aconselhável que a leitura seja instigada desde a educação infantil; que nasça no

núcleo familiar e se desenvolva na escola, que seja ressaltada como uma ação prazerosa,

divertida e envolvente, capaz de libertar da alienação, modificando comportamentos

individuais para resolver problemas sociais.

O indivíduo que ‘abraça’ a leitura torna-se questionador, exprimindo suas dúvidas,

conceitos, formas de atuar e pensar, frente à realidade da vida. Inclui-se como protagonista da

própria libertação de um sistema que governa, da mídia que propaga a intenção de poucos,

dos meios de comunicações virtuais que lançam hipóteses. Estes já não são suficientes nem

eficientes para interagir impondo suas persuasões, pois a leitura o transforma em sujeito

inteligível que age em prol da vida.

Quando o leitor traz para seu objeto de leitura experiências pessoal, conceitos

próprios, convicções, torna-se coautor do texto, deixando nele parte de sua identidade, está

procedendo a leitura. Nesse sentido, Maria Helena Martins (1988) destaca que:

Quando começamos a organizar os conhecimentos adquiridos, a partir da situação

que a realidade impõe e da nossa atuação nela, quando começamos a estabelecer

relações entre as experiências e a tentar resolver os problemas que se nos apresentam

– ai então estamos procedendo a leituras, as quais nos habilitam basicamente a ler

tudo e qualquer coisa (MARTINS, 1988, p. 17).

É verdadeiro afirmar que a leitura liberta e emancipa. Séculos atrás, quando a intenção

era escravizar, bitolar, punir o indivíduo ou a sociedade em geral, a primeira atitude era coibir

o acesso aos livros e um exemplo, dentre tantos, o período da ditadura, quando milhares de

livros foram incinerados porque iam ao desencontro das propostas instituídas pelo governo,

sendo a leitura privilégio de uma minoria; povo alienado sempre foi mais bem explorado e

direcionado. Corroborando com essa noção, Rubem Alves afirma que, “quem não lê é cego,

só vê o que os olhos veem. Quem lê, ao contrário, tem muitos milhares de olhos: todos os

olhos daqueles que escreveram” (ALVES, 1999, p. 62).

Ler não é apenas ver, mas enxergar; ser capaz de manter um diálogo entre o que se

sabe com o que o texto exibe, atribuindo significado ao contexto externo, compreendendo as

inúmeras vozes que compõem a obra para pronunciar-se como cidadão através de argumentos

conscientes que primam por seus direitos, que reconhecem seus deveres e diferencia o certo

do errado, o favorável do importuno, a contribuição da exploração.

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O poder da literatura se encontra em libertar a consciência humana da censura

imposta, refletir sobre um futuro alternativo, que possa ser construído onde o sujeito

acrescente com suas habilidades, refaça estratégias para transformações, desconstrua e

construa seu próprio saber em um processo contínuo de emancipação. Steven Fischer aponta

que “a leitura é para a mente o que a música é para o espírito. A leitura desafia,capacita,

encanta e enriquece” (FISCHER, 2006, p. 7), uma vez que propicia combustível para libertar

medos e fraquezas; constrói pontes com sentidos entre as ciências, as práticas elaboradas e

evidenciadas nos diferentes contextos de realidade; desperta coragem para transformar

certezas em ações abrangentes, condição indispensável para o exercício da cidadania.

Convém salientar que o conceito de leitura abordado aqui, é amplo e envolve a

construção do sujeito e sua formação integral, ou seja, enquanto agente que pode transformar

a própria vida e a realidade que o cerca. Não se limita apenas à decodificação do código

escrito. Para Santaella (2004), o século XXI exibe um cenário em que se destacam tipos de

leitores com perfis diferentes; leitores que decifram códigos e imagens instantaneamente,

combinando fatores e alterando apreciações.

A pesquisadora, na obra Navegar no ciberespaço: o perfil do leitor imersivo, ao tratar

do leitor da atualidade, destaca, como uma de suas principais características, a identificação

desse com as mais variadas fontes de leitura, ao afirmar:

o leitor do livro é o mesmo da imagem e este pode ser o leitor das formas híbridas de

signos e processos de linguagem, incluindo nessas formas até mesmo o leitor da

cidade e o espectador de cinema, TV e vídeo (SANTAELLA, 2004, p. 16).

Dessa forma, Lúcia Santaella (2004) classifica dentre os leitores três diferentes tipos: o

leitor contemplativo/meditativo, que realiza “leitura de numerosos textos, lidos em uma

relação de intimidade, silenciosa e individualmente” (SANTAELLA, 2004, p. 23). Sua ação é

realizada através do livro impresso, onde estabelece conexões entre vivências e leituras. O

segundo tipo de leitor movente/fragmentário, que se caracteriza pela hibridização da

sociedade e do perímetro urbano, é o

leitor de formas, volumes, massas, interações de forças, movimentos; leitor de

direções, traços, cores; leitor de luzes que se acendem e se apagam; cujo organismo

mudou de marcha; sincroniza-se à aceleração do mundo (SANTAELLA, 2004, p.

30).

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O terceiro tipo de leitor descrito pela autora é o leitor imersivo/virtual, que adquire

habilidades cognitivas, sensoriais e perceptivas de forma rápida e ampla, por estar sempre

alerta aos múltiplos sinais. Conforme afirma Santaella, esse leitor está sempre em:

estado de prontidão, conectando-se entre nós e nexos, num roteiro multilinear,

multidisciplinar e labiríntico que ele próprio ajudou a construir ao interagir com os

nós entre palavras, imagens, documentação, músicas, vídeo, etc” (SANTAELLA,

2004, p. 33).

Com a modernidade, o avanço e acessibilidade tecnológica tornaram-se extensão do

sujeito na sociedade, onde estar conectado com o mundo é essencial à sobrevivência. Fato que

levou Santaella a detectar um quarto tipo de leitor, o leitor ubíquo. Onipresente com

habilidade de comunicação a qualquer tempo a qualquer hora de forma rápida e objetiva que

caracteriza “uma prontidão cognitiva ímpar para orientar-se entre nós e nexos multimídia, sem

perder o controle da sua presença e do seu entorno no espaço físico em que está situado”

(SANTAELLA, 2014, p. 35).

Com atributos distintos todos os tipos de leitores contribuem e acompanham a

evolução dos tempos, fazendo com que haja uma formação híbrida e rica no que tange à

leitura, ou seja, nem um tipo de leitor exclui o outro.

Apesar de todo esse progresso de investigação na forma de classificação do sujeito

leitor, quando se fala em leitura dificilmente se reconhece a existência de outros tipos de

leitores que não sejam os leitores contemplativo/meditativo. Tendo em vista esse fato e

considerando a complexidade do assunto, tomamos por base a pesquisa do Instituto Pró-livro,

Retratos da Leitura no Brasil1, cuja concepção de leitura alinha-se às ideias de Santaella,

entendendo o leitor como sujeito de habilidades e competências, enquanto agente que pensa,

(re)pensa o mundo e intervém socialmente.

1.2 A função social da leitura, da literatura e da escola

A leitura, bem como a escrita, surge há mais de cinco mil anos, primeiramente

pastores da Suméria anotaram dados das vendas, pois essas eram tantas que se tornava

impossível guardá-las na memória; em seguida, os egípcios desenvolveram o sistema de

1Pesquisa feita em 2011 pelo Ibope Inteligência para o Instituto Pró-Livro, revela os hábitos de leitura dos

brasileiros e fornece informações para o planejamento do mercado e para o fomento de políticas públicas. Dá

continuidade aos levantamentos realizados pelo IPL com apoio de suas entidades fundadoras: Sindicato Nacional

dos Editores de Livros (SNEL), Câmara Brasileira do Livro (CBL) e Associação Brasileira de Editores de Livros

Escolares (ABRELIVROS). Foi divulgada em março de 2012.

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escrita hieróglifo, que Champollion

2 ao decifrar descobriu que estes imitavam sons. Desde

então, escrita (e leitura) tem se tornado uma ferramenta potente na construção da civilização

humana, a ponto de Paulo Freire, em seu discurso de novembro de 1981, intitulado A

importância do ato de ler, alertar para o fato de que “o ato de ler não se esgota na

decodificação pura da palavra escrita, mas se antecipa e se alonga na inteligência do mundo”

(FREIRE, 2008, p. 11), e prossegue afirmando que o ato da leitura tem um viés individual e

um social, ou seja, antes da alfabetização, o sujeito já possui habilidades de leitura de mundo,

através da visão, da audição e da própria fala; ele lê seu entorno para comunicar-se com e

través dele.

Individual, porque na prática a sociedade brasileira se constitui de classes com

interesses opostos, o que torna a própria leitura um privilégio de alguns; e social porque se

constitui como um direito de todos, regido por lei. Freire reverencia a leitura como ferramenta

humanizadora ao sugerir que:

Compreender a realidade e reconhecer suas dificuldades propiciará a maturidade

para entender outras situações mais abstratas, como muitas vezes é a leitura da

palavra na escola, que, infelizmente, nem sempre conta com a leitura do mundo

(FREIRE, 2008, p. 12).

Em acordo com a afirmação de Freire, a leitura é uma ponte entre o conhecimento

sistematizado (escolar) e o mundo real. É uma alternativa para pugnar a alienação e a

ignorância, pois através do ato de ler o indivíduo reflete sobre os seus problemas e as

dificuldades que atingem a sociedade no geral. A leitura transforma o ser humano, no

momento em que ele absorve o conhecimento e modifica seus conceitos. Nesse mesmo

sentido, segundo Fischer (2006, p. 7), “a leitura é para a mente o que a música é para o

espírito. A leitura desafia, capacita, encanta e enriquece”.

O poder de transformar a vida do indivíduo se centraliza no ato de ler, por meio da

leitura esse tem a possibilidade de aprimorar seu nível de compreensão e entendimento, saber

e posicionamento. Para que isso se consolide, é imprescindível que a leitura seja ensinada na

escola e reconhecida pelos educadores, como sendo uma habilidade primordial para a

formação do educando. Quanto maior o contato com a leitura, maior a participação efetiva nas

atividades culturais, econômicas, políticas e sociais.

Quanto maior o contato com o mundo da leitura, através da diversidade textual,

concebida pela escola, mais complexo o posicionamento perante as situações vivenciadas.

2Jean-François Champollion foi um linguista e egiptólogo francês. Considerado o pai da egiptologia, a ele se

deve a decifração dos hieróglifos egípcios.

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Deste confronto, o mundo que se cria pela leitura e a realidade surgirão o leitor crítico, capaz

de questionar-se como indivíduo e como parte de um todo, ao mesmo tempo em que permite a

fruição da dimensão lúdica da linguagem, a interação homem/homem, homem/coisa,

homem/conhecimento.

É através desse jogo interdisciplinar de reflexão, discussão e descobrimento que o

professor demonstrará que a leitura do texto não se esgota em si mesma, ela segue além das

fronteiras do imaginário se tronando híbrida da realidade, o que impulsiona dentro do sujeito

o desejo de mudança para uma vida completa e realizada, deixando de ser insignificante.

Referente à literatura, Egon Rangel (2003) ressalta que:

se nos envolvermos diretamente com o jogo do livro, ou seja, com as práticas de

letramento em que se constroem tanto a leitura literária quanto o leitor voraz e a

felicidade na leitura, poderemos colaborar mais adequadamente para a formação do

aluno (RANGEL, 2003, p. 144).

O professor é o protagonista dessa formação e à escola compete proporcionar toda a

infraestrutura para sustentar esse desenvolvimento, ou seja, promover uma leitura para fruição

tem a ver com o ensino da literatura, pois o texto literário propicia a realização da integração

entre informação, reflexão e desenvolvimento de hipóteses, ações que estabelecem vínculos

com outras pessoas, outras culturas e com o mundo.

Regina Zilberman, em sua obra Sim, a literatura educa (1990), realiza uma revisão

histórica ao recordar das tragédias gregas e sua real finalidade - educar moral e socialmente o

povo. Na contemporaneidade, é através da literatura que a comunidade encontra seu próprio

senso e o da sociedade a qual pertence, desempenhando seu principal papel – humanizar.

A literatura nos diz o que somos e nos incentiva a desejar e a expressar o mundo por

nós mesmos. E isso se dá porque a literatura é uma experiência a ser realizada. É

mais que um conhecimento a ser reelaborado, ela é a incorporação do outro em mim

sem renúncia da minha própria identidade. No exercício da literatura, podemos ser

outros, podemos viver como os outros, podemos romper os limites do tempo e do

espaço de nossa experiência e, ainda assim, sermos nós mesmos. É por isso que

interiorizamos com mais intensidade as verdades dadas pela poesia e pela ficção

(COSSON, 2007, p. 17).

O pesquisador Rildo Cosson comprova que o ensino da literatura como prática social

permite a mudança de visão, de postura, de verdades e de valores, transpondo à leitura a

vivência de experiências, de sentidos e de partilha entre o autor, o leitor e o outro. Pacheco

(2004, p. 213) também afirma que “trabalhar a literatura na escola, mais do que transmitir

conteúdos, usar um texto como pretexto ou para descansar das atividades sérias, é explorar

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inúmeras possibilidades de compreender a realidade e de produzir conhecimento através da

arte da linguagem, dialógica por natureza”.

Os pressupostos da atual situação escolar, a qual se enquadra a leitura, são resquícios

de uma educação concebida e formulada em época cuja finalidade principal era instruir para o

trabalho, obedecendo às normas impostas pelo sistema governamental. O texto de Lilian L.

M. da Silva (1986), A escolarização do leitor - a didática da destruição da leitura relata

algumas conjunturas que foram fatores contribuintes para um princípio do fracasso da leitura

na escola, iniciado durante a Ditadura Militar no Brasil. Importante salientar que o governo

militar, através da proposta renovadora da Lei 5692/713, estimulou as escolas a adotarem o

livro didático escolhido pelo governo, que foi distribuído gratuitamente, como principal

instrumento de trabalho do professor, articulando uma falsa ilusão de democracia.

Com a intervenção de conteúdos estipulados e específicos, representados nos livros

didáticos, o governo passou a deter-se do controle substancial do que era trabalhado em sala

de aula, camuflando a realidade de falta de vaga para os alunos, infraestrutura precária das

escolas e ausência de formação pedagógica aos professores. A autora reforça que se restringiu

o contato do aluno com o texto, pois as possibilidades de trabalho com leitura em sala de aula

ficaram fixadas aos textos presentes no livro didático, sem qualquer propósito social e ou de

reflexão, uma vez que os professores se obrigavam a utilizá-lo em suas salas de aula,

determinando a partir dele todas as atividades desenvolvidas durante o ano letivo (SILVA,

1986, p. 11-50).

3

Lei de Diretrizes e Bases (1971) foi publicada em 11 de agosto de 1971, durante o regime militar pelo

presidente Emílio Garrastazu Médici. Sua estrutura possui 88 artigos, organizados da seguinte maneira: Capítulo

I - Do Ensino de 1º e 2º Graus; Capítulo II - Do Ensino de 1º Grau; Capítulo III - Do Ensino de 2º Grau; Capítulo

IV - Do Ensino Supletivo; Capítulo V - Dos Professores e Especialistas; Capítulo VI - Do Financiamento;

Capítulo VII - Das Disposições Gerais; Capítulo VIII - Das Disposições Transitórias. Principais características

da Lei 5692/71, prevê um núcleo comum para o currículo de 1º e 2º graus e uma parte diversificada em função

das peculiaridades locais (art. 4); A inclusão da educação moral e cívica, educação física, educação artística e

programas de saúde como matérias obrigatórias do currículo, além do ensino religioso facultativo (art. 7); Ano

letivo de 180 dias (art. 11); Ensino de 1º grau obrigatório dos 7 aos 14 anos (art. 20); Educação a distância como

possível modalidade do ensino supletivo (art. 25); Formação preferencial do professor para o ensino de 1º grau,

da 1ª a 4ª séries, em habilitação específica no 2º grau (art. 30 e 77); Formação preferencial do professor para o

ensino de 1º e 2º graus em curso de nível superior ao nível de graduação (art. 30 e 77); Formação preferencial

dos especialistas da educação em curso superior de graduação ou pós-graduação (art. 33); Dinheiro público não

exclusivo às instituições de ensino públicas (art. 43 e 79); Os municípios devem gastar 20% de seu orçamento

com educação, não prevê dotação orçamentária para a União ou os estados (art. 59); Progressiva substituição do

ensino de 2º grau gratuito por sistema de bolsas com restituição (art. 63); Permite o ensino experimental (art. 64);

Pagamento por habilitação (art. 39). Observações gerais sobre a lei 5692/71 – Esta Lei exalta a tecnologia

enaltecendo a escola, da qual o ser humano necessita para “aprender”; o professor se torna mero orientador da

tecnologia, se limitando na criatividade; do aluno é esperado apenas o que a própria instituição cobra em termos

de conteúdo, sendo tido como sujeito que deve alcançar os objetivos propostos e não como indivíduo (uno), mas

como um agente social participativo. Acesso em http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/leis/L5692.htm.

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No texto A leitura na escola (1986), Zilberman acredita que a delimitação do

significado do texto também acontece quando se faz uma interpretação limitada, por meio de

respostas de escolhas simples, ou de ingênua reflexão. Destaca que não há uma única

interpretação comum a todos os leitores, cada um interpreta determinado texto, dá sentido a

ele, relacionando-o com as outras leituras já feitas e com as suas experiências particulares de

vida. Dizer que todos concluam ou comunguem do mesmo pensamento é artificial.

Além disso, é preciso ficar claro que a formação de leitores não se atinge somente

levando o texto literário para a sala de aula ou o aluno para a biblioteca. Trata-se de um

processo longo, não limitado ao espaço escolar e que possibilitará acrescentar novas

perspectivas a cada leitura que seja significativa para o leitor. Vale observar que as leituras

literárias não são análogas e que a cada indivíduo permitirá um aprendizado diferente:

“Talvez possam me dizer que nem tudo o que se lê é bom e proveitoso, e é verdade; mas eu

responderei que quem mais lê mais bem diferencia” (GIARDINELLI, 2010, p. 112). Sendo

assim, quanto maior o contato com a leitura, melhor a seleção de anseio individual.

Ao buscar construir leitores, na sala de aula, que leiam não somente para decifrar o

código linguístico, é indispensável levar em apreço diversos aspectos que subjazem no texto,

tais como a “dimensão ideológica, afetiva, histórica, linguística e discursiva de um texto”.

(LAJOLO, 2009, p. 107). Com isso, por se considerar a leitura um elemento social imbricado

nas interferências histórias, defende-se hoje, “que as experiências de leitura que a escola deve

patrocinar precisam ter como objetivo capacitar os alunos para que, fora da escola, lidem

competentemente com a imprevisibilidade das situações de leitura (...) exigidas pela vida

social” (LAJOLO, 2009, p. 105).

Roland Barthes (1978), ao defender o ensino da disciplina literária, encerra sua função

precípua ao afirmar que:

A literatura encena a linguagem, em vez de, simplesmente, utilizá-la, a literatura

engrena o saber no rolamento da reflexividade infinita: através da escritura, o saber

reflete incessantemente sobre o saber, segundo um discurso que não é mais

epistemológico, mas dramático (BARTHES, 1978, p. 19).

Não há dúvida de que a sociedade é composta pela contribuição mútua e constante de

todos os sujeitos que dela fazem parte. Formar cidadãos críticos, que atendam ao perfil

traçado por essa sociedade letrada (cada vez mais exigente), requer dos envolvidos no ensino

e aprendizagem da leitura uma tomada de decisão, um planejamento concreto e eficaz, para

que o desenvolvimento da ação seja pleno e satisfatório.

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É fundamental que o professor medie e contribua para a construção de práticas

significativas, que ele compreenda que a leitura literária é diferente da de outros gêneros

textuais, mas que a leitura por si só pode vir acoplada a várias outras perspectivas de ver o

mundo que o cerca. Marcuschi (2008, p. 150-151) defende que cada gênero é distinto, “pois

todos os gêneros têm uma forma e uma função, bem como um estilo e um conteúdo, mas sua

determinação se dá basicamente pela função e não pela forma”. Isso torna primordial

reconhecer que a literatura é diferente de outros gêneros, devido ao uso social ser distinto.

1.3 Percorrendo a história para compreender a formação de leitores

O tema leitura tem sido objeto de reflexão e estudos constantes dentre livros, revistas,

seminários e congressos, desde a década de 70, período onde inicia a ‘crise da leitura’ no

Brasil, segundo pesquisadores. Protagonistas no assunto, Zilberman e Rösing dedicaram

décadas de sua vida pesquisando a presença da suposta ‘crise’. Em um de seus recentes

escritos titulado Escola e leitura: velha crise, novas alternativas (2009), as autoras cogitam

um anacronismo em suas averiguações conexas às décadas de 70/80, concluindo que no Brasil

o progresso foi crescente em áreas como economia, tecnologia, comunicação, dentre outras;

por fim “tudo mudou para melhor, só não a escola, com suas consequências: a aprendizagem

dos alunos” (ZILBERMAN; RÖSING, 2009, p. 13). Outro apontamento realizado neste texto

é que o fracasso escolar pode ser vencido pela leitura literária, que amplia horizontes e

desmitifica conceitos, revigorando saberes.

A expressão ‘crise da leitura’ se dá pelo fato de vários autores tornarem o termo ‘crise’

objeto de análise e estudo, acerca do processo ensino-aprendizado da língua portuguesa, o que

aponta para “uma situação linguística-pedagógica que inspira cuidados” (SUASSUNA, 1995,

apud MAIA, 2007, p.15), uma vez que a leitura é capaz de transportar o indivíduo a

dimensões de interdisciplinaridade, reflexão e reelaboração de conceitos diante de seu

contexto social, não se limitando apenas a análises gramaticais à apreciação fragmentada de

textos literários.

Os próprios Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) mencionam essa

particularidade com relação aos textos literários, por exemplo:

Como representação, um modo particular de dar forma às experiências humanas, o

texto literário não está limitado a critérios de observação fatual (ao que ocorre e ao

que se testemunha), nem às categorias e relações que constituem os padrões dos

modos de ver a realidade e, menos ainda, às famílias de noções/conceitos com que

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27

se pretende descrever e explicar diferentes planos da realidade (o discurso

científico). Ele os ultrapassa e transgride para constituir outra mediação de sentidos

entre o sujeito e o mundo, entre a imagem e o objeto, mediação que autoriza a ficção

e a reinterpretação do mundo atual e dos mundos possíveis (BRASIL, 1997, p. 26).

Pode-se observar que os documentos norteadores objetivam a construção de um leitor

que esteja disposto a ler algo que ofereça novos modos de pensar e sua relação com o mundo.

No entanto, destaca-se que é pequeno o espaço concedido à literatura pelos PCNs. Apesar de

eles abordarem a literatura como algo que propõe um diálogo entre o mundo ficcional e o real,

isso não oferece diretrizes aos professores para o ensino, deixando-os a mercê de suas

próprias convicções metodológicas. De fato, a própria extensão destinada à “especificidade do

texto literário” (BRASIL, 1997, p. 27) – uma página – denota a insuficiência do tratamento

para a literatura.

Sem ignorar que o hábito de ler do aluno brasileiro é um grande ponto de interrogação,

pois embora alfabetizados, possuem grandes dificuldades de compreensão e interpretação, o

que acarreta a decadência do ato de ler e a discussão entre entidades governamentais sobre a

crise da leitura que assola o país, muito embora se deixe de examinar se há existência de crise

literária crítica ou de leitura em si. Durante décadas, entende-se por crise da leitura discursos

atrelados diretamente a algumas falas de segmentos da sociedade (elite intelectual), que

ressoam ao longo do tempo e que tem como consequência um ensino de leitura e escrita

preconceituoso, segregado e excludente. Nesse sentido, Márcia Abreu (2003) entende que:

Pensa-se que o bom leitor é um devorador ávido de alta literatura, é alguém que

transita com facilidade pela produção intelectual de ponta, que tem os livros como

elemento fundamental de uma concepção de mundo. Quem partilha dessa imagem

de leitor não se animará com casas cheias de cartilhas e livros didáticos, com

multidões de leitores de Bíblia na mão (ABREU, 2003, p.42).

Refletir sobre o pensamento de Abreu, é pertinente para compreender que a leitura no

cotidiano escolar dos brasileiros é composta por textos privilegiados pela escola e pela

sociedade, textos estes que por vezes afastam o sujeito da prática da leitura, pois ao ser

inibido de realizar leituras que lhe agradem, fazem por repelir a leitura de demais literaturas, o

que gera não a crise de leitura, mas a crise da reflexão.

Na verdade, as escolas estão formando leitores incapazes de compreender o que leem.

Os textos que circulam no ambiente escolar não dinamizam a interação entre a obra e os

interlocutores, consentindo um convite para a alienação. O conhecimento sobre literatura e os

textos literários são um tanto inacessíveis (cânones) e, além disso, a mediação do professor

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está marcada por equívocos metodológicos, devido a sua formação acadêmica e escolar,

transmitindo a novas gerações o que lhe fora transmitido no passado.

É relevante destacar que a leitura pode estar sujeita às regras e convivências sociais,

que visam ao domínio da classe dita fidalga sobre outra, usando o analfabetismo funcional

como forma de opressão. Formam-se sujeitos alfabetizados que sabem ler e escrever, porém

esse conhecimento é superficial, restrito a leituras breves de teor informativo, onde não há

necessidade de reflexão e questionamento. Jean Foucambert, em seu livro A leitura em

questão (1994), conceitua o analfabetismo e o iletrismo da seguinte forma:

O analfabetismo caracteriza-se pela impossibilidade de compreender ou de produzir

uma mensagem escrita simples (...) O analfabetismo funcional refere-se à mesma

impossibilidade, porém envolve pessoas com vários anos de escolaridade que

dominaram essas técnicas de correspondências grafo fonética num certo período de

sua vida, mas que perderam esse domínio por falta de uso e de exercícios com elas.

(...) O iletrismo se caracteriza pelo afastamento em relação às redes de

comunicação escrita, pela falta de familiaridade com livros e jornais, pela exclusão

do indivíduo das preocupações e respostas contidas na elaboração da coisa escrita

(FOUCAMBERT, 1994, p.118).

Como o próprio autor conclui, o analfabetismo funcional é resultado do iletrismo, uma

vez que o leitor se afasta da leitura de aprofundamento e abre lacuna para a superficialidade e

o desinteresse. Foucambert é preciso ao afirmar que “a defasagem entre leitores e não leitores

reproduz a divisão social entre o poder e a exclusão, entre as classes dominantes e os que são

apenas executores” (1994, p.121), ou seja, a leitura escolta o poder, pois modifica a visão que

o indivíduo possui sobre si e sobre o mundo, altera sua postura e instiga sua curiosidade.

De tamanha significância social, por que a leitura segue sendo trabalhada de forma tão

contingente? Silva e Zilberman (1998) têm o entendimento que

a escola não está vencendo o desafio de alfabetizar funcionalmente a parcela da

população que consegue chegar a ela. (...) embora se tenha conseguido nos últimos

anos um aumento substancial na taxa de escolarização, a escolarização por si só não

está dando uma contribuição decisiva à solução do problema (Silva; Zilberman,

1998, p.79).

Segundo os autores, a melhor maneira de exercitar a prática funcional da leitura é

lendo, e o contato não somente em sala de aula contribui para o processo de crescimento e

aperfeiçoamento literário. A relação com os livros deve ser constante, sem que haja ambiente

dito propício ou momento tido oportuno. Quem mais lê melhor entende, interpreta e recria.

Outro ponto de concordância entre os autores é o de que a leitura envolve o atrito com

o texto, ou seja, a leitura acontece quando se coteja a própria realidade. O aluno deve ser

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desafiado para interagir com os fatos apresentados, organizar as informações, criar novos

conceitos e ou modificar antigos, contribuindo criticamente para a evolução da sociedade

contemporânea atual. Ao professor cabe orientar esse processo de descobertas, mostrando o

novo, o plausível e o que deve ser desvendado. Para Fernando Savater (1997), “el hecho de

enseñar a nuestros semejantes y de aprender de nuestros semejantes es más importante para el

establecimiento de nuestra humanidad que cualquiera de los conocimientos concretos que así

se perpetúan o transmiten” (SAVATER, 1997, p.15).

É inquestionável a responsabilidade da leitura para uma educação de qualidade. Mudar

a situação atual do ambiente escolar é importante, considerando que a literatura conduz ao

conhecimento do mundo exterior e possibilita a melhor compreensão do homem. Logo, o que

se quer mostrar é que a leitura muda a percepção e ensina a se comunicar com os seres e o

mundo. A escola, decisivamente, precisa trabalhar com essa experiência humana e não apenas

vislumbrar o saber científico, pois tudo o que a literatura oferece é indispensável,“ela permite

que cada um responda melhor à sua vocação de ser humano” (TODOROV, 2010, p.24),na

perspectiva de incitar e contribuir com a criticidade, criatividade, construção de conhecimento

e autonomia dos educandos.

Perante a importância da literatura como humanizadora, a legislação se firma de forma

singular. A Lei nº 5.692 de 11 de agosto de 1971 comporta em seu primeiro artigo: “Art. 1º O

ensino de 1º e 2º graus tem por objetivo geral proporcionar ao educando a formação

necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades como elemento de autorrealização,

qualificação para o trabalho e preparo para o exercício consciente da cidadania.” A

autorrealização refere-se ao espírito humanizador, em que a liberdade e a integridade

completariam o sujeito como um todo; outro objetivo detalhado nesse artigo compete à

qualificação ao trabalho. No entanto, por que objetivos ‘tão nobres’ não vigoram na realidade

de ensino atual?

É conhecida a proposta da Lei 5.692/71 e os objetivos que pleiteavam alcançar na data

de sua criação: uma cidadania que seguia rigorosamente o regime militar, repressor e

autoritário da época, esclarecido por William Robert Cereja (2005) como algo camuflado

entre a ‘escolha’ dos livros didáticos. Esse material acaba por ‘engessar’ a função docente no

processo de ensino aprendizagem, ora que determinando o que ser lido e apreciado na

literatura, coibindo o livre-arbítrio, por consequência resulta na diminuição do prazer literário,

o que vem de encontro à noção de humanização e do teor da Lei.

No âmbito do ensino escolar, em momento algum o MEC posiciona-se de forma clara

e específica para realçar a literatura e sua significância no Ensino Superior, em especial na

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Licenciatura de Letras, o que amplia a nebulosidade sobre a formação desse profissional; uma

vez que a função do Ensino Médio, e por sequência do Ensino Superior, é a formação leitores

críticos e conscientes sobre si e o que os cerca.

Nesse contexto, a responsabilidade da formação docente dos cursos de licenciaturas é

de suma importância, uma vez que as exigências metodológicas, cognitivas, físicas e

sentimentais têm se tornado uma gama de frustração, desencadeando o retrocesso desses

cursos.

Ao ingressar no curso de Letras, muitos estudantes são classificados como Analfabetos

Funcionais, o que abre um leque de conceitos sobre essa definição. Daniel Augusto Moreira

(2006) define aqueles que sabem ler e escrever, mas não entendem ou compreendem o que

leram e escreveram, ou seja:

São pessoas com limitada capacidade de compressão de um texto escrito num

mundo em que o texto escrito é a forma de apresentação das normais legais, das

instruções de uso de equipamentos, medicamentos e procedimentos de segurança. E

também um importante meio difusor de cultura (MOREIRA, 2006, p. 08).

Esse grupo de Analfabetos Funcionais chegam às Instituições de Ensino Superiores

com o propósito de aprender a ensinar, porque em pouco tempo se tornarão profissionais da

educação. Ao professor universitário cabe a árdua tarefa de repassar seu conteúdo

previamente estabelecido pela instituição e recuperar as lacunas de anos, de um sistema de

educação precário. Diante disso, são questões fundamentais: o corpo docente dará conta de

suprir tantas necessidades em um curto prazo cronológico? Que nível de formação atingirão

esses alunos?

Não é novidade que o corpo docente com atuação ativa nas das licenciaturas são frutos

de uma educação referente à Lei citada anteriormente, em que “o ensino era tomado como

propiciador de mão de obra, e não como formador de indivíduos e motivador de descobertas

tecnológicas” (ZILBERMAN, 1991, p. 62). Por suposto, a criatividade, a leitura reflexiva e

humanizadora, o saber metodológico e o pedagógico integram o segundo campo de

prioridades, pois muitos desses educadores são conhecidos pela “execução das metas da

educação brasileira e, como estas assumiam um cunho reprodutor, eles tornaram-se

concretizadores dessa reprodução, ou seja, responsáveis pela efetivação do modus operandi

4que recebem pronto e repassam aos alunos” (1991, p. 62). A partir desse contexto, somente

4 Modo pelo qual um indivíduo desenvolve suas atividades ou opera.

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acontecerá o desenvolvimento literário se o currículo estabelecido pela universidade for

reformulado e o discente desenvolver a pesquisa e a curiosidade.

Instigar o pensar deve ser o principal objetivo da educação para a formação humana

íntegra e social de seus aprendizes. Fernando Savater (1997), sobre esse propósito afirma:

La verdadera educación no sólo consiste en enseñar a pensar sino también en

aprender a pensar sobre lo que se piensa y este momento reflexivo —el que con

mayor nitidez marca nuestro salto evolutivo respecto a otras especies— exige

constatar nuestra pertenencia a una comunidad de criaturas pensantes. Todo puede

ser privado e inefable —sensaciones, pulsiones, deseos...— menos aquello que nos

hace partícipes de un universo simbólico y a lo que llamamos «humanidad»

(SAVATER, 1997, p. 16).

Desta maneira, o compromisso dos educadores consiste em muito mais do que

transmitir conteúdos, esse profissional tem um compromisso social, moral e humano: formar

novos professores que irão contribuir para a autonomia, reflexão, posicionamento e

crescimento pessoal de seus alunos. No momento que se escolhe ministrar uma aula, a pessoa

tem obrigação de estar preparada não apenas em partilhar do conteúdo mas sensibilizada em

aprender, em ouvir, em notar-se no outro e em si, para que haja a construção do saber.

Maria do Rosário M. Magnani (2001), em sua obra Leitura, literatura e escola: sobre

a formação do gosto, se refere ao professor como protagonista da leitura, embora muitas

vezes este se torne um entrave para essa atividade, pois no contexto atual a educação tem

passado por reformas e não transformações. No momento em que o professor “imobiliza” a

leitura, utilizando em seu discurso a democracia de escolha (que ocorre dentro de suas

próprias), uma vez que opta pela quantidade e não a qualidade de um texto que, mobilize para

a reflexão repete a conduta do sistema vigente, afugentando o prazer literário.

Considerar que a formação docente advém de um sistema autoritário de conduta

repetitiva e impositiva, certamente, seria uma explicação de o porquê que a leitura na escola

se faz maçante e ineficaz no que se refere a seu principal papel: questionar.

A criticidade é o aprimoramento da qualidade de vida, da cidadania e da democracia.

O professor do Curso de Letras tem essa tarefa pedagógica transcrita no Parecer

CNE/CP009/2001, de 08 de maio de 2001, transformado na Resolução CNE/CP nº 1, de 18 de

fevereiro de 2002, que é contundente ao esclarecer:

Não basta um profissional ter conhecimentos sobre o seu trabalho. É fundamental

que saiba mobilizar esses conhecimentos, transformando-os em ação.

Atuar com profissionalismo exige, do professor, não só o domínio dos

conhecimentos específicos em torno dos quais deverá agir, mas, também,

compreensão das questões envolvidas em seu trabalho, sua identificação e resolução,

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autonomia para tomar decisões, responsabilidade pelas opções feitas. Requer, ainda,

que o professor saiba avaliar criticamente a própria atuação e os contextos em que

atua e que saiba, também, interagir cooperativamente com a comunidade

profissional a que pertence e com a sociedade.

Nessa perspectiva, a construção de competências, para se efetivar, deve se refletir

nos objetos da formação, na eleição de seus conteúdos, na organização institucional,

na abordagem metodológica, em especial na própria sala de aula e no processo de

avaliação.

A aquisição de competências requeridas do professor deverá ocorrer mediante uma

ação teórico-prática, ou seja, toda a sistematização teórica articulada com o fazer e

todo o fazer articulado com a reflexão (BRASIL, 2002, p. 28 e 29).

Para o indivíduo ser capaz de se expressar e contribuir com a sociedade, é fundamental

que esse tenha ideias, pense em hipóteses reais e possíveis soluções para os problemas. Isso

acontece quando o professor desafia para a leitura questionadora, quando o leitor se torna

parte do texto interligando-se a ele pela reflexão, que fará compreensível sua existência e a de

outrem no ambiente em que se encontra inserido.

Nesta mesma relação de interação com o texto, encontra-se o ensino universitário dos

Cursos de Letras. Este inda exige que os acadêmicos aprendam regras e macetes

fragmentados, quando deveriam apropriar-se dos atributos a eles destinados para “abraçar” a

leitura e sua funcionalidade social. Torna-se mais uma vez, oportuno recorrer ao Parecer

CNE/CP009/2001, que assim registra:

Decorre daí, a necessidade de repensar a perspectiva metodológica, propiciando

situações de aprendizagem focadas em situações – problema ou no desenvolvimento

de projetos que possibilitem a interação dos diferentes conhecimentos, que podem

estar organizados em áreas ou disciplinas, conforme o desenho curricular da escola.

Situações escolares de ensino e aprendizagem são situações comunicativas, nas

quais alunos e professores coparticipam, concorrendo com influência igualmente

decisiva para o êxito do processo (BRASIL, 2001, p. 31).

De modo geral, os discursos oficiais que regulam a educação escolar brasileira, as

diretrizes e os parâmetros curriculares para o ensino nos diversos níveis têm proposto e

justificado a necessidade da formação de leitores críticos, agentes atuantes em seu meio.

1.4 Uma prévia para a metodologia da pesquisa

Recentemente, estudos, como os que compõem a pesquisa Retratos da Leitura no

Brasil (2012), têm utilizado abordagens estatísticas que integram características individuais e

variáveis geográficas em um único modelo explicativo utilizando a análise multinível. Nesse

contexto, o modelo multinível tem se demonstrado apropriado na análise de dados

hierárquicos, pois ajusta as associações individuais (primeiro nível) pelo contexto (segundo

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nível) e, deste modo, permite estimar separadamente a proporção da variância decorrente de

cada nível (DIEZ-ROUX, 2000; SNIJDER; BOSKER, 2003)5.

Entender o efeito hierárquico de diferentes níveis organizacionais nestes desfechos

configura-se uma ferramenta metodológica adequada para traçar o perfil de necessidades de

uma população. Além disso, torna-se um fator importante para o planejamento de

intervenções que promovam políticas públicas com vista à prática da leitura escolar e seus

benefícios sociais.

A utilização do método de análise multinível tem por objetivo contribuir para a

compreensão de como ocorre a relação da leitura entre os protagonistas professor/aluno no

âmbito escolar esse o ato de ler colabora para a formação cognitiva e humanizadora do

indivíduo, uma vez que características pessoais são consideradas na análise comportamental

do indivíduo no contexto em que se insere, levando em consideração aspectos sociais,

culturais e econômicos. Correlacionar a investigação empírica as variáveis dos diferentes

níveis favorece, conforme esperado, a redução do resíduo da variância do nível

correspondente na variável critério, permitindo contrastar dados entre si, se são sistemáticos e

ou se diferem dentre grupos. Os modelos hierárquicos incorporam

naturalmente, e de forma parcimoniosa, a estrutura hierárquica ou de agrupamento

da população em estudo, tratando o intercepto e os coeficientes de inclinação como

variáveis aleatórias. Desta forma, o modelo permite a variabilidade das estimativas

entre os grupos (FERRÃO, 2003, p. 31).

Para a execução desse estudo a escolha do município de Frederico Westphalen/ RS –

ocorre pelo fato da pesquisadora ser natural dessa cidade, residir e trabalhar na mesma;

aspecto que interviu também na seleção das variáveis, que fazem parte sua conjuntura

profissional, sendo a pesquisadora professora estadual e elaboradora das perguntas que

compões o questionário.

Foi definido como variável padrão (critério) a ‘Relação cognitiva/social da leitura no

ambiente escolar’, sendo representado no nível 1 – alunos e professores e no nível 2 – escolas

e bairros do município de Frederico Westphalen. É oportuno ressaltar que as variáveis

preditoras do nível 1 (micro) estão representadas da seguinte forma:

Alunos: idade; escolaridade; contato com a leitura como prática; incentivo à leitura na

escola; leitura como ferramenta que influencia na formação cognitiva e social.

5 Tradução feita por Juliane Della Méa.

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Professores: idade; escolaridade; disciplina que ministra; nível de ensino; metodologia

de trabalho; influência da leitura na formação acadêmica.

Seguindo de variáveis preditoras do nível 2 (macro) escolas/bairros: localização

geográfica (no município); clima disciplinar; vinculação da legislação vigente para com a

prática.

Ambos os níveis (micro e macro) são reconhecidos no questionário de autoria da

própria pesquisadora, com amparo na pesquisa Retratos da Leitura no Brasil de 2012,

encomendada pela Fundação Pró-Livro e pelo Ibope Inteligência, no intuito de investigar os

hábitos de leitura dentre os brasileiros.

Convém destacar que este estudo é totalmente de ordem voluntária, não havendo

quaisquer dados de ordem física, psíquica e ou outros aos colaboradores, que poderão optar em

não cooperar e ou recusar o preenchimento do questionário a qualquer momento.

Por se tratar de um estudo cuja finalidade advém do desenvolvimento da dissertação de

conclusão do Mestrado em Letras da pesquisadora, esse trabalho terá orçamento próprio estimado

em mil e quinhentos reais e benefício comum social, uma vez que o estudo, após sua conclusão,

poderá servir de suporte a outros estudos dentro da área de Letras, bem como, uma compreensão

maior sobre a situação atual da Leitura no âmbito escolar e projeção de metas e atividades para

sanar as hipotéticas lacunas encontradas nesse contexto.

O término do estudo acontecerá com a defesa da dissertação do Mestrado em Letras.

Posteriormente, as escolas e ou colaboradores que tiverem interesse poderão usufruir dos

resultados obtidos com a pesquisa através da exposição que poderá fazer a pesquisadora.

1.4.1 Amostra

Os danos utilizados neste estudo transversal serão provenientes de informações

coletadas em um levantamento realizado através de questionário (método de coleta de dados

por survey6), que coopere para a compreensão de como ocorre a relação da leitura entre os

protagonistas professor/aluno no âmbito escolar e, se o ato de ler colabora para a formação

cognitiva e humanizadora do indivíduo.

A amostra será obtida através de um processo sistemático por conglomerado em

duplo estágio, cujo primeiro estágio é representado pelos alunos (unidade amostral primária),

devidamente matriculados nas Escolas Estaduais, perfazendo um total de 3.415 alunos

6 Método de pesquisa quantitativo. Sua aplicação é realizada quando o pesquisador pretende investigar o que,

porque, como ou quanto se dá determinada situação; determinar variáveis dependentes e independentes.

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referentes aos anos finais do Ensino Fundamental e Ensino médio, segundo dados da 20ª CRE

(Coordenadoria Regional de Educação), atinente ao ISI (Informatização da Secretaria de

Educação) de 2015 e o segundo estágio pelos professores (unidade amostral secundária) com

formação em Letras que atuam nessas escolas, totalizando cerca de 30 profissionais. A

pesquisa distribui-se em 12 pontos de coletas distintos, dentro do município Frederico

Westphalen R/S, totalizando 3.445 participantes.

O cálculo do tamanho da amostra para estimar a influência da leitura no contexto

individual e social do indivíduo à sondagem foi realizado de acordo com os seguintes

parâmetros: frequência do ato de ler entre os brasileiros 24% (Retratos da Leitura no Brasil,

2012), erro amostral de 5%, nível de confiança de 95%; obtendo uma amostra mínima de 260

indivíduos alunos e 28 professores, que serão sorteados aleatoriamente. Para obter esse

resultado foi utilizada a fórmula:

7

Onde:

n = Corresponde ao tamanho da amostra que será abordada. Nesse estudo 260 alunos e 28

professores.

N = Tamanho do universo (p. e. professores/alunos) 3.415 alunos e cerca de 30 professores.

Z = Desvio do valor médio que aceito para alcançar o nível de confiança desejado. Em função

do nível de confiança que se busca, é usado um valor determinado que é dado pela forma da

distribuição de Gauss. Os valores mais frequentes são:

Nível de confiança 90% -> Z=1,645

Nível de confiança 95% -> Z=1,96

Nível de confiança 99% -> Z=2,575

e= Margem de erro máximo (p.e. 5%)

p= Proporção desejada. Equivale ao que tenho por base de alguma pesquisa, no caso, 24% da

população brasileira é considerada leitora (RLB, 2012).

1.4.2 Procedimentos para a coleta

7 Fórmula disponível no site WWW.netquest.com. Acesso 21/02/2016.

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Num primeiro contato com os integrantes da escola, a pesquisadora realizará uma

palestra explicando as intenções do estudo e sua relevância social, devidamente esclarecida e

agendada anteriormente com a direção escolar. Posterior à realização do sorteio, a

pesquisadora contatará novamente a escola para agendar a data em que ocorrerá a coleta de

dados.

Os dados do estudo são de natureza quantitativa, utilizando o método de coleta survey.

Os participantes efetuarão o preenchimento do questionário em uma sala privativa da escola,

consentida pela direção do estabelecimento, em momento oportuno selecionado pelos

indivíduos e acatado pela direção; em aglomerados respeitando o sorteio aleatório e tendo

tempo estimado de 30 minutos para responder o questionário (APÊNDICE I), (APÊNDICE

II).

1.4.3 Critérios de Inclusão e Exclusão

Serão incluídas na amostra crianças dos Anos Finais do Ensino Fundamental e

adolescentes do Ensino Médio, bem como professores graduados em Letras que atuam com

esses sujeitos das Escolas Estaduais de Frederico Westphalen – RS, cujos responsáveis

consentirem a sua participação na pesquisa. Crianças/adolescentes que apresentarem laudos

médicos correspondentes a síndromes e ou outros pareceres psíquicos/neurológicos serão

excluídas da amostra, para prevenir a introdução de viés amostral por duvidoso efeito destas

variáveis na autopercepção. A justificativa para a utilização desse determinado público é

devido ao mesmo ser considerado em levantamentos estatísticos da terceira edição do livro

“Relatos da Leitura no Brasil” (2012), o grupo onde a ação da leitura é menos praticada, o que

configura o não hábito de ler.

1.4.4 Análise dos Dados

Os dados serão avaliados empregando o programa HLM (Hierarchical Linear e Não-

Linear Modeling). Será utilizada a análise de regressão multinível para verificar o efeito dos

fatores individuais e contextuais nas variáveis. A análise multinível utilizará modelo de

Regressão de Poisson considerando os pesos amostrais relativos ao processo de amostragem

complexa. A estratégia de análise resulta na razão de prevalência (desfecho dicotômico) ou

razão de médias (desfecho numérico) e intervalo de confiança de 95% como medidas de

associação.

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Neste estudo, alunos/professores (unidade de análise do 1º nível) serão agrupados em

escolas (unidade de análise do 2º nível). A análise multinível empregará o esquema de efeito

fixo/intercepto randômico. Assim, será possível demonstrar o efeito fixo das estimativas de

associação entre o desfecho e variáveis de primeiro e segundo nível, considerando o ajuste

pelo intercepto aleatório entre os bairros (SNIJDERS; BOSKER, 2003)8.

1.4.5 Preceitos Éticos

O protocolo do projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da

Universidade Regional Integrada – URI – Campus de Frederico Westphalen (ANEXO I) e

pela 20ª Coordenadoria de Educação do estado do Rio Grande do Sul, que representa as

escolas estaduais de Frederico Westphalen (ANEXO II), permitindo a realização da pesquisa.

Os escolares serão convidados a participar da pesquisa após receberem todas as

explicações dos objetivos e dos métodos que serão utilizados no projeto. Estas explicações

serão dadas dentro da sala de aula através de uma conversa realizada pela pesquisadora.

Os dados só serão coletados após consentimento formal dos envolvidos na pesquisa;

no caso dos alunos menores de idade, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCE)

será levado para casa com antecedência para análise, preenchimento e assinatura dos pais e ou

responsáveis para futura participação.

O TCLE será feito em duas vias (uma para o pesquisador e outra para o responsável).

Todos os dados a respeito dos sujeitos da pesquisa serão mantidos em absoluto sigilo por

parte da pesquisadora no intuito de preservar a identidade dos indivíduos (APÊNDICE IV).

Os sujeitos poderão não concordar em participar do estudo ou encerrar sua participação em

qualquer momento, sem que haja qualquer inferência.

Os dados serão tabulados e analisados, sendo mantidos sob a guarda da pesquisadora

até o término previsto da pesquisa e posterior publicação dos resultados. Após os dados serão

então descartados e as fichas referentes serão incineradas.

8 Tradução feita por Juliane Della Méa.

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2 BIFURCAÇÕES ENTRE TEORIA E PRÁTICA

“Se tens planos para um ano, plante arroz; se tens planos para dez anos,

plante árvores; se tens planos para cem anos, instrua o povo”.

(Provérbio Chinês)

Em sala de aula, estimular a leitura não é empreitada simples, a escola geralmente

tende a bifurcações. É verídico afirmar que o sistema de educação subjuga-se ao que era

aplicado no século XVII, quando o principal objetivo era assimilar esquemas estabelecidos

pelo poder social, não pensar. Com a passagem dos séculos, poucas foram as mudanças na

área que tange à educação e, consequentemente, nos cursos de formação docente.

Alguns entraves para o desgosto da leitura é a oposição de valores - alunos que não

leem por preferir o universo eletrônico, versus professores que pregam a leitura, mas não a

exercitam demonstrando a formação deficiente presa a esquemas. O corpo docente que

reclama da desenvoltura dos alunos, o que faz com que se desmotivem. Os discentes de

ensino fundamental e médio demonstram repúdio à leitura, pois, no seu entender, entrelaçado

ao ato de ler se depara a obrigação de realizar resumos e ou avaliações bimestrais, o que

associa a tarefas repetitivas, sem agregação pessoal e de mundo.

No contexto democrático, o poder de escolha dos livros didáticos ganha espaço. O

professor vive a alienação de pensamentos e reflexões no instante que utiliza tais instrumentos

pedagógicos, empurrados pelas editoras, praticando não a construção para pensar, mas a

cópia, a memorização de informações, que uma vez é praticada em sala de aula e,

posteriormente, se aplica na prova.

Outro agravante que conduz para o distanciamento da teoria e da prática é o difícil

acesso às bibliotecas escolares, além da falta de profissionais habilitados para o atendimento

nesse setor e a decadência de referenciais teóricos e literários. Muitas das escolas estaduais

brasileiras não dispõem de uma área destinada e atuante à leitura: a biblioteca, o que resulta

na dificuldade da atualização dos professores de Letras, critério fundamental para o estímulo

dos alunos em sala de aula, e para o cumprimento da legislação (PCNs) quanto à prática como

unidade de ensino, enfocando a compreensão da tríade: leitura, análise linguística e produção

textual; o que em geral é considerada tarefa do professor com formação em Letras que

ministra aulas de Língua Portuguesa e ou Literatura.

Incluso a tríade referida acima, a literatura passa a ser não uma leitura de textos e

contextos diversos, mas um pretexto, como diz Marisa Lajolo (1988), para a repetição de

regras gramaticais em atividades e interpretações sem acréscimo ao conhecimento, reforçado

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pelos livros didáticos ao trazer textos fragmentados, desarticulados e sem continuidade, o que

faz com que os alunos desconsiderem a leitura como fonte de expansão de criatividade,

curiosidade e meditação.

Perante essa conjuntura, muitos professores discutem e executam estratégias

experimentais com o enfoque de aperfeiçoar a prática da leitura, o que muitas vezes deixam a

desejar. Aguiar e Bordini (1988) questionam a metodologia utilizada pelos professores,

classificando-a como prática arcaica, pobre de desenvoltura e resultados.

Uma leitura descompromissada, livre e estimulante da imaginação e da criatividade

ou do senso crítico não é enfatizada. A cada leitura correspondem atividades de

responder exercícios gramaticais e de redação, sem qualquer relação com o caráter

artístico de um texto literário, ou de interpretação com itens programados e

direcionados para uma compreensão literal e primária. (...) O debate, a livre

discussão e atividades que extrapolam o âmbito da sala de aula são esquecidos. As

fórmulas mais carentes de criatividade e mais tradicionalmente empregadas, como

aulas expositivas e exercícios escritos e orais de interpretação, são praticadas pela

maioria, o que também promove a falta de incentivo e de motivação para a leitura

dos alunos (AGUIAR; BORDINI, 1988, p. 33).

Embora as inúmeras tentativas por parte dos professores para a valorização da leitura,

a didática utilizada permanece sendo ineficaz ao utilizarem de atividades meramente

repetitivas. Diante desse quadro, se observa que o problema tem início anteriormente ao

acesso à escola. Famílias que não incentivam a leitura e não têm o hábito de ler, acreditam

que a alfabetização é de responsabilidade escolar, assim, a relevância da significação, da

interação de leitura com o mundo, como defende Freire (2008), acaba por se restringir à

decodificação de letras e sua reprodução.

Analisando essa alfabetização superficial de mero backup9, Ezequiel Theodoro da

Silva, no livro intitulado Elementos de pedagogia da leitura, indaga sobre a formação desses

sujeitos, pois “os signos impressos são tomados como autônomos, sem que o leitor elabore e

faça mediação com o social, com o concretamente vivido” (SILVA, 1998, p. 4), ou seja,

aquele que lê não consegue atribuir ao texto significância pessoal, social e tão pouco consegue

se perceber como coadjuvante literário em tempo e espaço real.

No entanto, manobras de cobrança do ato de ler permanecem perpassando décadas

como evidenciam as famosas ‘fichas de leitura’ onde aspectos textuais, como tempo, espaço,

clímax, enredo e personagens seguem compondo a base de avaliação da leitura, repetindo

técnicas que conduzem para a fácil manipulação de massa, situação em que os

9 Cópia de dados.

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questionamentos se restringem aos interesses governamentais e políticos e o pensar bitolado e

desnecessário à sociedade em geral.

O que causa maior estranhamento é que a formação atual dos profissionais de Letras

pouco ou nada mudou. Mesmo com a constatação da ineficácia de tarefas periódicas e o

aumento da depreciação da leitura, aulas de graduação, cujo objetivo é a formação teórica do

profissional, mantém a mesma fragmentação, momento em que a literatura/leitura é abordada

através da periodização e da historiografia literária, muito embora o século XX tenha sido

decisivo para a reformulação do currículo literário brasileiro, como escreve Tânia Franco

Carvalhal em sua obra Literatura comparada (2006), ao se referir à institucionalização da

literatura comparada como disciplina acadêmica.

A dificuldade do estímulo para a leitura não provém apenas da teoria (ausência de

disciplinas curriculares), mas uma constante na prática, professores que não desenvolveram o

interesse pela leitura na graduação, efetuam trabalho ineficiente para desmistificar que esta

deve ser feita pela coação disciplinar. Quem pouco lê conceitua a leitura como ‘aquisição de

hábito’ e não a própria literatura que analisa, critica, reflete sobre o todo que o cerca, que

sequência a formação cidadã.

A leitura é uma descoberta de mundo, provinda da imaginação e da experiência

individual, quando o texto interage com o sujeito. Ao discorrer sobre o sentido do texto para a

leitura, Koch e Elias apontam a complexidade de levar em conta os conhecimentos do leitor,

para desenvolver interação-texto-sujeito.

É por essa razão que falamos de um sentido para o texto, não do sentido, e

justificamos essa posição, visto que, na atividade de leitura, ativamos: lugares

sociais, vivências, relações com o outro, valores da comunidade, conhecimentos

textuais (KOCH; ELIAS, 2007. p. 19).

Esse contato pessoal, livre e descomprometido com a leitura propicia o prazer de ler;

quando há interação com a obra se desenvolve o potencial criativo, crítico, reflexivo e

participativo, ideia-base do pensamento bakhtiniano (tudo que eu falo têm a fala de outro/um

texto dialoga com outro). O que Bakhtin propõe não é alcançado em salas de aula que aderem

a fragmentações literárias, livros didáticos que restringem o pensar e leituras com o propósito

do melhor empenho acadêmico em vestibulares e processos seletivos educacionais, mas sim

em ambientes que proporcionam o dialogismo, a integração e interação entre todos.

Em referência à legislação brasileira, William Roberto Cereja (2005) escreve na obra

intitulada Ensino de literatura: uma proposta dialógica para o trabalho com literatura, que a

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teoria (legislação), além de se contradizer no que se refere às disciplinas de Língua

Portuguesa e Literatura de níveis Fundamental e Médio, encontra-se enraizada aos moldes

europeus, com metodologias pedagógicas que rememoram o período ditatorial, quando a

historicidade marca a época e importância do texto, trilhando caminhos estanques ao que

realmente se conceitua como leitura; a ferramenta que liberta e contribui para a formação

individual/coletiva do indivíduo em seu meio social.

“Ao povo permite-se que aprenda a ler, não se lhe permite que se torne leitor”

(SOARES, 2005, p.25). A afirmação de Magda Soares permite concluir que a leitura e sua

formação cidadã não é prioridade governamental e tão pouco das instituições de educação

brasileiras, segue a incoerência da teoria para com a prática alargando o distanciamento do

livro e seu leitor.

Se o texto não fomentar novas ideias, não der sentido a algo ou à vida, torna-se

retórico, inútil. O professor que em sua formação não observa as demandas para que possa

trabalhar com elas, automaticamente não formará alunos com preparo para atuação na

sociedade, alunos preparados para a vida. Enquanto a prática consistir em memorizações

vazias a serem aplicadas em provas, a formação humanística será mera proposta descrita nos

planejamentos governamentais e dos professores.

2.1 Revendo as LDBs Nacionais

“Galho secundário da literatura portuguesa”, como define Antonio Candido (1975, p.

9), ao se referir à literatura brasileira. Na obra Letras e ideias no período colonial, Candido

expõe a questão da formação de uma tradição literária no Brasil. Sob esta perspectiva ao

longo da vida colonial há existência de duas vertentes literárias. A primeira expressa vínculos

frágeis entre as manifestações literárias do século XVII ao XVIII, estando ligada à literatura

portuguesa e à justificação ideológica da colonização, incorporando elementos religiosos e de

transfiguração das letras da Metrópole para colônia; e a outra com visão transfiguradora

caracteriza-se pela influência do Iluminismo em virtude da qual penetram em nossa literatura

elementos como a confiança na razão e no progresso, associados à captura de um real

particular, de onde se extrai o nativismo, o nacionalismo e a defesa da independência política.

É este o momento em que se inicia (e do qual resulta) a composição de um sistema literário

orgânico e articulado no Brasil.

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Embora a educação seja um direito assegurado pela Constituição Imperial de 1824 e

os jesuítas incluam a literatura como objeto de estudo, anterior à definição dos direitos

sociais, e posterior menção à Promulgação da Constituição de 1930, lei que fixou as diretrizes

e bases da educação (formal) nacional, nas ideias implícitas de formação de um sistema

nacional de educação, a designação imposta de leitura enquanto formação humana originou

três textos normativos: a Lei de Diretrizes de Bases da Educação Nacional, Lei nº. 4.024 de

20 de dezembro de 1961, a de nº. 5.692 de 11 de agosto de 1971 e a de nº. 9.394 de 20 de

dezembro de 1996.

O ensino ministrado pelos jesuítas era de cunho pedagógico humanista, o que visava à

formação integral do ser humano, características da formação grega cujo intuito além da

formação integral do indivíduo era a aquisição de uma cultura universal e comum a todos.

Nessa época, o ensino brasileiro optou pelos moldes europeus de educação ignorando as

particularidades da nacionalidade de um povo, ou seja, o objeto de estudo era totalmente

intelectual, com disciplinas específicas da cultura global europeia, ignorando a preparação

profissional para o exercício de tarefas especializadas, doravante necessárias.

No ano de 1759, com expulsão dos jesuítas do Brasil e com a reforma educacional

inspirada no Iluminismo, a qual tinha por finalidade “formar indivíduos para Estado e não

mais para Igreja, tornando mais nítido o caráter autoritário do paternalismo estatal”

(MAGNANI, 2001, p.14), surge a necessidade de implantar um novo modelo Educacional no

Brasil para ocupar a lacuna deixada pelo sistema jesuítico.

Ao que se refere à leitura, o novo modelo de educação não obteve grandes mudanças.

O ensino permaneceu seguindo os mesmos moldes anteriores aderindo ao padrão francês que

“requisitava do indivíduo a compreensão de seus direitos e deveres em uma sociedade que

passava exigir das pessoas uma gradual independência de pensamento e discurso”

(GHIRALDELLI JR., 2009, p. 27).

Nesse período, segundo Paulo Ghiraldelli Júnior, os concursos públicos iniciaram

como forma de adesão intelectual ao sistema governamental, extinguindo das escolas o curso

de humanidade e voltando-se para os conceitos Iluministas; à população cabia o esquecimento

de qualquer outra língua que não fora a portuguesa. O Brasil permanecia colônia de Portugal e

o povo sofria com os altos impostos cobrados derivados de abuso político, o que tardou a

motivar os brasileiros para a total independência.

Segundo a pesquisadora Marisa Lajolo (2003, p. 67), esse período “foi decisivo, no

Brasil, para o desenvolvimento da leitura e escrita como práticas sociais”, uma vez que mais

de 70% da população brasileira era analfabeta.

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Com o propósito de reverter o analfabetismo, em 1930, é criado o Ministério da

Educação, Getúlio Vargas inicia o sistema educacional do país. Após 34 anos, com a vigência

da Constituição Federal, a primeira meta fora “traçar as diretrizes da educação nacional”

(Art.5º) e “fixar o plano nacional de educação, compreensivo do ensino em todos os graus de

ramos, comuns e especializados” para “coordenar e fiscalizar a sua execução em todo o

território do país” (Art. 150). A União ficaria responsável por tais metas a curto prazo. O que

remetia também, a homogeneização e o controle dos conteúdos e assuntos repassados em sala

de aula, instituindo a autoridade de poder dentro do sistema educacional.

O Ministério da Educação que era atrelado com a Saúde Pública, ganha autonomia em

1953 e passa a se embasar na cultura, o que origina o Ministério da Educação e Cultura

(MEC) com a finalidade de “fixar o plano nacional”. Cria-se a Lei de Diretrizes e Bases

(LDB), em 1961, lei nº 4.024 sancionada em 20 de dezembro de 1961, seguida por uma

versão dez anos depois, lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971, a qual dividiu Ensino

Fundamental de Ensino Médio. Passados vinte e cinco anos essa versão foi substituída pela lei

9.394, de 20 de dezembro de 1996, que prevê os fundamentos, as estruturas e as normas para

o sistema educacional brasileiro, em vigência atualmente no Brasil.

Os Projetos Pedagógicos começam a ser debatidos na década de 90, com a finalidade

de coordenar os trabalhos pedagógicos conforme objetivos e metas que agregavam o

desempenho educacional da comunidade escolar em particular. Outra manobra governamental

para a difusão internacional de um Brasil que primava pela educação de qualidade, a

estabilidade econômica e o crescimento dependente e competente do país como um todo.

Esta década também é coadjuvante da criação dos Parâmetros Curriculares Nacionais

(PCNs), volumes de livros norteadores, direcionados aos professores com sugestões didáticas

e pedagógicas a serem seguidas em sala de aula do Ensino Fundamental, onde o objetivo

educacional para com o educando é “prepará-lo para a cidadania e qualificá-lo

profissionalmente” (LDB, 2000, Art. 2º, p.24), o que gerou rejeição por muitos profissionais

da educação que consideravam as propostas meramente mercadológicas.

O currículo ganha espaço na reforma educacional por ser desenvolvido em um período

em que o país negociava com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial

(BM), com a finalidade de aumentar os índices de desenvolvimento social, uma vez que “é

por meio do currículo, concebido como elemento discursivo da política educacional, que os

diferentes grupos sociais, especialmente os dominantes, expressam sua visão de mundo, seu

projeto social, sua ‘verdade’” (SILVA, 2010, p. 10), o que não garante sua execução ou

desenvolvimento na prática.

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Os políticos brasileiros tinham pressa em apresentar ao mundo um Brasil independente

e comprometido com as causas sociais de seu povo, em especial a educação. Desta forma,

valeram-se dos diagnósticos que atestavam a crise da educação para fazer emergir a

concepção do currículo escolar embasado em heranças europeias, onde a ruptura e

substituição da dicotomia por mudanças na formação social eram essenciais à educação básica

de qualidade.

Voltado ao Ensino Médio, são criados os Parâmetros Curriculares Nacionais de Ensino

Médio (PCNEM), que visa “conciliar humanismo e tecnologia, conhecimento dos princípios

científicos que presidem a produção moderna e exercício da cidadania plena, formação ética e

autonomia intelectual” (PCNEM, 2000, p. 60). No Ensino Médio, as disciplinas são

subdivididas em áreas do conhecimento que tendem à preparação educacional para a vida e

para o trabalho, porém, na esfera do que é obrigatório e necessário aprender as divergências

são muitas, a única certeza é que a educação plena não é estanque, ela se constrói e reconstrói

diariamente, sendo impossível prever ou julgar o que os alunos devem ou não obter de

conhecimento nos bancos escolares.

Porém as articulações governamentais e políticas permanecem em foco, no Ensino

Médio com provas de avaliação de desempenho, condecorações aos professores pelo

desenvolvimento de projetos e ou desempenho dos alunos, o que gera poucas mudanças nas

práticas escolares e no desenvolvimento educacional de qualidade brasileiro. Como aponta

Alice Casimiro Lopes, em seu texto Quem defende os PCN para o ensino médio?,

a) não houve mudanças nas diretrizes curriculares nacionais; b) os parâmetros para o

ensino fundamental e para o ensino médio permanecem sendo as referências

curriculares para muitas das ações do Ministério da Educação; c) está em processo a

avaliação dos livros didáticos de nível médio, visando sua distribuição aos alunos,

ainda em uma perspectiva que tenta dirigir professores em suas aulas, via livros

didáticos; d) a afirmação da Secretaria de Educação Média e Tecnológica

(SEMTEC) de que visa introduzir o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM)

como exame obrigatório ao final da educação básica, apontando ainda a

possibilidade de outro exame a que o aluno se submeta antes de entrar no ensino

médio; e) a instituição do sistema de avaliação de conhecimentos e competências

dos professores a cada cinco anos de trabalho, mais uma vez utilizando a avaliação

de competências como mecanismo regulador da atividade profissional e como

pretensa garantia de qualidade, inclusive associada a possíveis ganhos salariais

(LOPES, 2006, p 115).

As medidas adotadas pelo MEC, como o Plano Nacional do Livro Didático (PNLD),

que repassa a incumbência às escolas ao escolher o livro didático que irão adotar durante três

anos, as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCEM), suporte para esclarecimento

de dúvidas sobre o ‘novo ensino médio’, propõem uma independência e autonomia, acerca de

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sua realidade local, aos estabelecimentos educandários, no entanto seguem as gratificações e a

educação com base na preparação para posteriores avaliações de desempenho.

Na realidade, a democrática escolha institucional pelo livro didático, nada mais é que

uma falsa ‘roupagem’ para a manipulação política social; uma vez que, as opções de escolha

se atrelam à editoras definidas pelo próprio governo, onde os conteúdos que compõe esses

materiais fogem à realidade discente, homogeneizando os sujeitos sem respeitar suas

particularidades individuais e culturais. Com o objetivo de suprir as deficiências dos

professores, o uso de livros didáticos é bastante comum nas escolas servindo de suporte diário

para professores despreparados e/ou com sobrecarga de trabalho e assumindo o papel de

sujeito no processo de ensino-aprendizagem (FREGONEZI, 2003).

Entretanto, conforme informações contidas no Guia do Livro Didático (BRASIL,

2007, p.19), o trabalho com o material “não pode prescindir do professor”, que deve “pensar

nos usos diferenciados que um livro didático pode permitir, como alterações de sequências,

atividades complementares, aspectos diversos da realidade local”, fato ilusório na conjuntura

real da educação; aonde livros didáticos não chegam à quantidade satisfatória para atender

todos os alunos, ou se chegam a quantidade é exorbitante, de editoras não selecionadas,

dificultando o armazenamento no espaço físico escolar e o trabalho do professor em sala de

aula.

O artigo 21 da LDB, sobre as modalidades de educação e ensino, raciona: “I -

educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio; II -

educação superior” (PCNEM, 2000, p. 29). A Educação Básica deve “desenvolver o

educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e

fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores” (PCNEM, 2000, p.

29), sendo de sua competência o currículo escolar que atende ao nacional, o calendário, a

classificação, reclassificação e progressão de alunos, controle de frequência, expedição de

históricos escolares e diplomas, dentre outros.

A Educação Infantil – I Etapa (crianças até seis anos), tem por intuito desenvolvê-las

“em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família

e da comunidade” (PCNEM, 2000, p. 32).

O Ensino fundamental de base obrigatória é de nove anos, sendo sua obrigatoriedade

aos seis e tem por objetivo iniciar o indivíduo sua formação social, que agrega:

I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno

domínio da leitura, da escrita e do cálculo;

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II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia,

das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade;

III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição

de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores;

IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e

de tolerância recíproca em que se assenta a vida social (LDB, 2000, p. 32).

Ao mencionar o Ensino Médio, a Lei 9394/91apresenta sendo de competência

dessa modalidade, a nítida noção de cidadania, a revisão de conteúdos trabalhados no Ensino

fundamental, o aprimoramentos da criticidade e do saber científico-tecnológico com o

propósito de que o indivíduo se insira na sociedade de forma influente. Seguindo a referida

grade curricular do Artigo 36:

I - destacará a educação tecnológica básica, a compreensão do significado da

ciência, das letras e das artes; o processo histórico de transformação da sociedade e

da cultura; a língua portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao

conhecimento e exercício da cidadania;

II - adotará metodologias de ensino e de avaliação que estimulem a iniciativa dos

estudantes;

III - será incluída uma língua estrangeira moderna, como disciplina obrigatória,

escolhida pela comunidade escolar, e uma segunda, em caráter optativo, dentro das

disponibilidades da instituição.

IV – serão incluídas a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias em

todas as séries do ensino médio (Incluído pela Lei nº 11.684, de 2008)

(BRASIL, Lei 9394/96).

Ainda referente ao Ensino Médio, referente à Educação Profissional Técnica, a LDB

pronuncia a inclusão da Lei 11.741 de 2008, regendo: esta atenderá a formação geral do

educando, podendo prepará-lo para o trabalho técnico na própria escola ou em outras

entidades especializadas em educação profissional, segundo o Art. 36-A. Referente às formas

de desenvolvimento, o Art. 36-B salienta que a educação profissional técnica de nível médio

será articulada com o ensino médio, respeitando as definições contidas na LDB e as

exigências de cada instituição de ensino decorrente de seu PPP.

Art. 36-C. A educação profissional técnica de nível médio articulada, prevista no

inciso I do caput do art. 36-B desta Lei, será desenvolvida de forma: (Incluído pela

Lei nº 11.741, de 2008)

I - integrada, oferecida somente a quem já tenha concluído o ensino fundamental,

sendo o curso planejado de modo a conduzir o aluno à habilitação profissional

técnica de nível médio, na mesma instituição de ensino, efetuando-se matrícula

única para cada aluno; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)

II - concomitante, oferecida a quem ingresse no ensino médio ou já o esteja

cursando, efetuando-se matrículas distintas para cada curso, e podendo ocorrer:

(Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)

a) na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as oportunidades educacionais

disponíveis; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)

b) em instituições de ensino distintas, aproveitando-se as oportunidades

educacionais disponíveis; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)

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c) em instituições de ensino distintas, mediante convênios de

intercomplementaridade, visando ao planejamento e ao desenvolvimento de projeto

pedagógico unificado. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008). (BRASIL, Lei

9394/96).

O Artigo 36-D assegura a certificação hábil para o ingresso no ensino superior, assim

como a obtenção de certificados de qualificação para o trabalho, constando o aproveitamento

de cada etapa.

No que abrange o Ensino Médio, também é assegurado o Ensino para Jovens e

Adultos (EJA), com o propósito de garantir educação para uma parte significativa da

população que não concluiu seus estudos em tempo hábil, dispondo de um ensino

diferenciado, com base na experiência de vida do aluno, na formação cidadã e na inserção do

indivíduo em seu meio social; oferecendo avaliações para classificação ou conclusão dessa

etapa, caso o educando considere coerente.

A Educação Profissional e Técnica também sofreram alterações para melhor atender e

qualificar a sociedade contemporânea. Em 2002, mais mudanças acerca dos PCNs, com a

finalidade de suprir as lacunas anteriores os PCN+ englobam as metas para o “Novo Ensino

Médio”, formação docente em destaque e elaboração do currículo escolar como prioridade,

pautado nos valores morais, éticos e sociais, para melhor atender as exigências dos alunos e o

cumprimento da Lei.

Possível concluir que em nível de educação básica é a “fluidez dos tempos”

(BAUMAN, 2001), que rege a trajetória do que é necessário e moderno, prático e transitório,

onde as transformações sociais, econômicas e culturais são decorrentes da modernidade e dos

avanços tecnológicos, sendo indispensável a formação do educando para a realidade que o

cerca de forma a competir ativamente e de maneira ética com o entorno social, sendo agente

da própria cidadania.

Revogada praticamente na íntegra, a Educação Superior na LDB/96, recebeu um novo

capítulo intitulado VI dos profissionais da educação, refere-se às licenciaturas no contexto de

formação profissional, o que valoriza professor. Essa medida advém da percepção de que as

licenciaturas têm total responsabilidade em formar professores para o Ensino básico, segundo

o PNE aos profissionais de educação não basta apenas executar o planejamento da aula e

cumprir suas cargas horárias, mas resolver eventuais problemas em sala, compreender e

aplicar a interdisciplinaridade, utilizando das tecnologias e da mídia.

Ao dispor de tantas resoluções, alterações e de certa forma autonomia, relatada em

Lei, se observa poucas mudanças nos currículos e nas práticas escolares. Muitos dos

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profissionais de educação ignoram os PCNs. Embora já tenham citado ou manuseado os

documentos do MEC (referentes a 1999), as versões recentes são desconhecidas por grande

parte dos docentes.

Esse currículo obrigatório chega aos professores imposto, outro agravante para a falta

de interesse em estudá-lo, uma vez que a carga horária destinada à formação dos professores é

utilizada para planejar projetos de cunho comercial (Festas Junina, Aniversário da Escola, Dia

das Mães/Pais,...) que visem arrecadação monetária, pois as estruturas escolares necessitam de

reparos e o repasse realizado pelos órgão governamentais competentes nem sempre é feito ou

se faz insignificante; considerando que a equidade social e educacional está longe de ser

alcançada, a maioria dos professores não busca atualização profissional por ser investimento

próprio que não será recompensado.

As propostas contidas nos PCNs10

sugerem renovações constantes na metodologia e na

didática, porém o educador está familiarizado ao repasse de conteúdos, procedimento adotado

por diversas universidades na formação de suas licenciaturas, o que ecoa em uma prática

tradicional, sem análise e comprometimento com a formação cidadã, que segue o livro

didático sem questioná-lo ou aprofundá-lo.

Ao partir do princípio de que toda a criança e jovem deve ter acesso e usufruir do

conhecimento “necessário” para o exercício da cidadania, os PCNs entram em contradição,

uma vez que organizam o currículo para seleções de vestibulares e afins, sem considerar a

diversidade cultural local e regional, como sugerem os documentos, exigindo que o educando

memorize regras, datas, nomes, mantendo o dialogismo distante das salas de aula.

Ordenar a prática curricular dentro do sistema educativo supõe o domínio do currículo

dentro da escola. No entender de José Gimeno Sacristán (2000, p. 107), “currículo é um

objeto social, e histórico e sua peculiaridade dentro de um sistema educativo é um importante

traço substancial”, nesse sentido se o currículo for rígido, tanto a escola quanto o professor

ficam sem autonomia para planejar e gerir o conteúdo respeitando o que é previsto por Lei

para a formação humanística.

10

Na Base Nacional Comum Curricular (BNC), a área de Linguagens reúne quatro componentes curriculares:

Língua Portuguesa, Língua Estrangeira Moderna, Arte e Educação Física. Esses componentes articulam-se na

medida em que envolvem experiências de criação, de produção e de fruição de linguagens.(...)Por isso, cabe à

área de Linguagens assegurar o direito à formação de sujeitos leitores e produtores de textos que transitem com

confiança pelas formas de registro dos diversos componentes curriculares, salvaguardando suas singularidades, e

pelas práticas de linguagem que se dão no espaço escolar, tais como: participar de um debate sobre transgênicos,

opinar criticamente sobre um documentário ou uma pintura, interagir com hipertextos da Web, buscar soluções

para um problema ambiental no seu entorno, dentre outras e inúmeras possibilidades. Disponível em

http://basenacionalcomum.mec.gov.br/#/site/conhecaDisciplina?disciplina=AC_LIN&tipoEnsino=TE_EF

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Segundo concepção mercadológica, o currículo não contribui para a formação cidadã

desenvolvendo competências e habilidades que colaborem para a transformação da sociedade.

O que deveria ser o principal objetivo, ‘aprender a aprender’ dá lugar à preparação para o

mercado de trabalho, seguindo os passos anteriores de um sistema governamental que visa

não à liberdade, mas a dependência do governo.

O que demonstra os PCNs, para Sacristán (2000), é uma manipulação por parte do

sistema governamental, da vida social do educando dentro da escola, pois

o currículo comum contido nas prescrições da política curricular supõe a definição

das aprendizagens exigidas a todos os estudantes e, portanto, é homogêneo para

todas as escolas (SACRISTÁN, 2000, p. 111).

A homogeneidade prevalece, fazendo com que a lógica econômica se sobressaia à

social e à heterogeneidade, que ‘seria’ a base de construção dos PCNs, encerrando-se um

modelo educacional utópico que modifica, compreende, é de direito, mas que na prática não

se concretiza nem evolui.

2.2 Leitura que se aprende é o que se ensina?

Nesse processo de qualificação para suprir as falhas do sistema educacional brasileiro,

recusado pela submissão a uma ideologia implantada pelo sistema governamental, muitas

foram as normas e resoluções criadas, destacadas e reformuladas. No entanto, para o êxito, é

necessário que se pense na escola como um contexto que permite o vislumbre de diversos

horizontes. É visível que “a estrutura e o funcionamento das escolas brasileiras está longe de

ser homogêneo” (VIEIRA, 1989, p. 150), mesmo que os PCNs tenham sidos criados para

qualificar, atribuindo competências como: representação e comunicação, investigação e

compreensão e contextualização social; todas com propósito da interdisciplinaridade sem a

perda da identidade de cada componente curricular.

O processo humanista, referência curricular dos PCNs, é embasado no individualismo

do aprendizado. O compromisso do corpo docente é estabelecer um ensino/aprendizado que

respeite as individualidades sociais e culturais, administrando e repassando o conteúdo

contido no currículo de forma presente no relacionamento humano, considerando a dimensão

político-social. Na visão de Vera Maria Candau (2012),

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a ação pedagógica não poderá ser, em hipótese alguma, entendida e praticada como

se fosse uma ação neutra. “Ela é uma atividade que se faz ideologizada; está

marcada em sua própria raiz pela” colocação” do projeto histórico que se delineia no

decorrer da própria ação. A ação do educador não poderá ser então, um “que fazer

neutral”, mas um “que fazer” ideologicamente definido (CANDAU, 2012, p. 28).

A interatividade formativa e significativa da ação teoria/prática no processo de

desenvolvimento do currículo deve estar alicerçada a uma prática educativa que vise

conhecimentos teóricos e práticos a partir de estratégias de reflexão/ação, que vinculem a

mediação de conhecimentos históricos vivenciados e a gênese do caráter.

Com o propósito de colaborar com a escola e auxiliar os professores, o MEC elaborou

os PCNs com conteúdos mínimos para a formação obrigatória do aluno e que ganha o

conceito de ‘ativismo pedagógico’:

O “ativismo pedagógico” com fim em si mesmo é taxativamente duvidoso e

perigoso, uma vez que faz da prática pedagógica uma prática altamente mecânica,

tornando-a insignificante tanto para o educador como para o educando. O “ativismo

pedagógico” mostra a ineficiência da “ação pela ação”, tornando o fazer didático um

mero instrumento desligado de seu verdadeiro fim (CANDAU, 2012, p. 49).

Com atividades e metodologias determinadas, o professor tende a se tornar mero

executor de tarefas educativas, as quais são apoiadas nos livros didáticos, tornando o

aprendizado reflexivo distante da atuação real, o que evidencia o desencontro do que se

aprende para o que se ensina.

Nos PCNs, mais precisamente no terceiro tópico, o enfoque é para a Língua

Portuguesa, suas competências e suas habilidades, seus critérios de escolha de conteúdos e

avaliações, assim como a formação do professor. O mesmo documento exibe o texto O

sentido do aprendizado na área, cujo conteúdo apresenta a concepção de linguagem adotada,

bem como um conjunto de disposições e atitudes “de forma que o aluno possa participar do

mundo social, incluindo-se aí a cidadania, o trabalho e a continuidade dos estudos” (PCN,

1999, p. 13), sendo principal meta a comunicação e seu entendimento, o dialogismo e sua

criticidade, desfazendo-se dos conteúdos tradicionais.

Ao ler este texto, muitos educadores poderão perguntar onde está a literatura, a

gramática, a produção do texto escrito, as normas. Os conteúdos tradicionais foram

incorporados por uma perspectiva maior, que é a linguagem, entendida como um

espaço dialógico, em que os locutores se comunicam. Nesse sentido, todo conteúdo

tem seu espaço de estudo, desde que possa colaborar com a objetivação das

competências em questão (PCN, 1999, p. 46).

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Estratégia do governo, esse parágrafo procura justificar a pouca menção presente nos

documentos, referentes à literatura e à leitura, uma vez que essas permanecem ‘ocultas nas

entrelinhas’, ou são consideradas pouco necessárias? Esse desmembrar de disciplinas que

instigam à reflexão é herança burguesa, e segundo a pesquisadora Ana Aparecida Arguelho de

Souza, em seu texto Porque ler os clássicos,

Tal postura indica a vinculação de Comenius11

com as forças sociais burguesas

porque é compatível com a nova sociedade, voltada para a economia política, para o

trabalho e o mercado, onde não há espaço para a reflexão filosófica contida nas

literaturas e nem necessidade dela. Por essa via, somando o fato de a escola ser

instrumento de vinculação do ideário burguês, torna-se mais compreensível o

descaso para com a literatura, na escola moderna (SOUZA, 2012, p. 12).

Ao rejeitar o ensino da gramática descontextualizada, os PCNs entram em contradição

com a prática exercida em sala de aula, uma vez que as aulas são ministradas com fragmentos

textuais e exercícios repetitivos. O plano de aula desenvolvido pelo professor rege em torno

pelo livro didático, uma vez que o material disponibilizado pelo governo é apenas este e não

há recursos para subsidiarem a formulação ou duplicação de outros materiais coniventes as

propostas desenvolvidas pelo professor, desvalorizando o conhecimento prévio do sujeito,

fato que Lígia Chiappini (2005), em seu livro A reinvenção da catedral, esmiúça ao propor o

uso de textos informativos relevantes ao contexto social do educando.

As aulas têm objetivo de preparar para os processos seletivos e o mercado de trabalho,

culminando em educandos que não sabem as regras gramaticais, as nomenclaturas e tão pouco

sua aplicabilidade, sendo censurados por desconhecerem a ‘língua materna’, fato que

desestimula o apreço pela disciplina de Língua Portuguesa e consequentemente pela leitura.

“E se, em vez de exigir a leitura, o professor decidisse de repente partilhar sua própria

felicidade de ler?” (PENNAC, 2011, p.73), essa interrogação instiga ponderações acerca da

prática educativa docente que vincula os mecanismos de processos homogêneos e não

socioculturais.

A contrariedade teoria/prática e a ausência do valor da leitura ficam evidentes em

poucos trechos que compõe os PCNs, especificamente na área de Linguagens, códigos e suas

tecnologias12

. Num deles se observa que “o estudo da gramática passa a ser uma estratégia

para compreensão, interpretação e produção de textos, a literatura integra-se à área de leitura”

11

Jean Amos Comenius pedagogo do séc. XVII, predecessor do filósofo Jean Jacques Rousseau, foi oriundo do

movimento da reforma educacional que visava o humanismo e a preparação para a vida eterna, definiu as bases

da pedagogia burguesa, em sua obra Didática Magna: Tratado da Arte Universal de Ensinar Tudo a Todos

(1957). 12

As disciplinas de Literatura, Línguas Estrangeiras Modernas e Língua Portuguesa se inserem na área de -

LCT; que a partir do decorrente ano mudou a nomenclatura para Linguagens e Códigos (LC).

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(PCN, 1999, p. 38). O texto se resume a apenas uma citação, sem observações e ou sugestões

de como desenvolver tais competências; orientações obscuras, sem enfoque para a devida

importância da prática da leitura no que se remete ao desenvolvimento cidadão pleno do

indivíduo, manifestado na Constituição Brasileira.

Os manuais didáticos, ferramenta de apoio pedagógico, segundo os parâmetros

seguem o percurso oposto do propósito a que foram concebidos. Visando um ensino

globalizado e de comum qualificação, esse material pedagógico elaborou e selecionou textos e

afins por intermédio de um conceito homogêneo, o que inibe a criatividade e curiosidade ao

apresentar apenas o que se considera importante para a formação do aluno.

No seu esforço de aproximar-se das camadas mais humildes da população escolar,

ao invés de trazer até elas o conhecimento universal, por meio de grandes obras, o

manual didático percorreu o caminho inverso. Garimpou textos produzidos por essas

mesmas camadas e ofereceu-lhes de volta, sustentado no discurso de que é preciso

partir da realidade do aluno. Essa postura, diga-se, é profundamente desrespeitosa e

até cruel para com os jovens das periferias. A realidade dos alunos de classe

econômica baixa é, na verdade, o capitalismo excludente. É esse que lhe sonega

bens materiais e culturais, portanto, é o capitalismo que eles devem compreender

para fazer o enfrentamento necessário. E o manual didático, ao sonegar os elementos

da cultura ocidental, construída ao longo da história, torna-se, igualmente, um fator

poderoso de exclusão social porque não faculta ao jovem ir além do que lhe foi

permitido pelo capitalismo (SOUZA, 2012, p. 137).

Souza (2010) define justamente o que é abordado nos PCNs, a não relevância aos

temas transversais. As temáticas que deveriam abordar o cotidiano da comunidade escolar

com o propósito de contribuir para a formação cidadã são substituídas por ‘grandes obras’

presentes nos livros didáticos que se tornam de certa forma excludentes à população social de

baixa renda, pois

de um lado predominava a concepção de uma leitura enquanto exemplaridade: leem-

se nomes consagrados pela crítica e história da literatura porque são modelos a

serem seguidos (...) De outro lado, contudo, o livro que é portador deste modelo de

leitura permanece fora do alcance de seu virtual destinatário (ZILBERMAN, 1991,

p. 50).

A afirmação de Regina Zilberman é uma das causas que gera desconforto a grande

parte de pesquisadores, mesmo atribuindo ao livro didático à função de material pedagógico, a

leitura não é obtida no contexto escolar. Um dos motivos é a fragmentação de textos contida

nos materiais impressos destinados às escolas, que não envolvem o aluno, tão pouco desperta

o fascínio pela leitura e a compreensão de que ela pode transforma-lo em agente de sua

própria história.

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A independência do aprendizado ligado à leitura e à literatura é mencionado nos PCNs

dos primeiro e segundo ciclos do Ensino Fundamental, ao constituir a disciplina de Língua

Portuguesa, sendo imprescindível o trabalho da leitura de “contos, novela, romance,

poema,textos dramáticos” (BRASIL, 1998, p. 54). Essa preocupação de enfocar a linguagem

(leitura/literatura) é expandida no PCNEM, onde agrega a ação de valorizar os conhecimentos

do aluno.

O diagnóstico sensato daquilo que o aluno sabe e do que não sabe deverá ser o

principio das ações, entretanto as finalidades devem visar a um saber linguístico

amplo, tendo a comunicação como base da ação (PCN Ensino Médio, Parte II, 2000,

p. 17).

No entanto, em momento algum faz parte do PCNEM como alcançar esse

desenvolvimento literário. Não há contribuições que orientem e garantam um trabalho de

qualidade que atenda às propostas descritas, sendo superficiais as colocações do referido

documento. O MEC, com o intuito de suprir as lacunas, publica em (2002) o PCN+, que

evidencia a história da literatura sem grande preocupação com a formação do leitor.

Em sequencia da divulgação dos PCN+, por considerar breves e superficiais as

observações quanto à área de Linguagens e Comunicação e, atendendo à manifestação dos

professores referente a dúvidas existentes nos PNN+, no ano de 2006, o governo publica as

Orientações Curriculares Nacionais de Ensino Médio (OCNEM), que buscam orientar os

professores quanto à forma de ministrar as aulas para a formação de leitores críticos. Como

metodologia de trabalho, essas orientações sugerem a utilização da biblioteca, do laboratório

de informática, da sala multimídia e outros espaços que permitam a leitura silenciosa,

partilhada e de mundo. Proposta utópica, levando em conta que a maioria das escolas

brasileiras não dispõe de livros literários, infraestrutura básica, profissionais qualificados,

dentre outras demandas, para seu funcionamento e excelência de qualidade educacional.

As políticas educacionais procuram ensinar, criando documentos que direcionam o

professor para a elaboração e execução do currículo em sala de aula, vale ponderar se esses

ensinamentos são coerentes à realidade apresentada pelas escolas e seus profissionais de

educação. O professor consegue desenvolver essas atribuições impostas pelo governo, se sua

formação ainda é frágil e incompleta?

Ao retomar a LDB/96, referente à formação dos profissionais correspondentes aos

cursos de licenciaturas, em especial aos profissionais de Letras, se obteve poucas alterações.

Mesmo constando a autonomia dos Cursos nos PCNs, esses continuam a formar professores

aptos a ministrar as disciplinas de Língua Portuguesa e Literatura que não se identificam com

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a leitura o que vai ao desencontro da proposta do curso, de disseminar a leitura como prática

ativa e reflexiva. O professor “precisa gostar de ler muito, precisa envolver-se com o que lê”

(LAJOLO, 2010, p.108), para construir em seus educandos o gosto pela leitura, evidenciando

práticas pedagógicas dialógicas, reflexivas, culturais e sociais.

O livro de João Wanderley Geraldi, O texto na sala de aula (2003), tece reflexões e

críticas acerca do ensino arcaico, com didáticas tradicionais de trechos para análise, exercícios

periódicos, regras padrão de linguística e reverência exclusivamente aos cânones; aspectos

que afastam os graduandos do real objetivo de aprender a ensinar a língua portuguesa materna

de forma dialógica, crítica e com intuito social. Por vezes, muitos alunos do Curso de Letras

jamais leram uma obra na íntegra de maneira reflexiva e prazerosa, sem a cobrança da

periodização e da gramática.

Professores selecionados para lecionarem nos cursos de licenciatura, muitas vezes são

acrescidos de ‘belos’ currículos de formação, no entanto, lhes falta o discernimento e a

experiência docente, fator que agrega na fragilidade de suas aulas, bem como, o pouco

conhecimento da realidade cultural, social e econômica em que está inserido, variáveis que

fazem a diferença na formação de bons profissionais. Ao entrar pela primeira vez em sala de

aula, a visão habitual teórica dá lugar à ótica humanista social e, está se encontra distante do

que lhes fora concebido através dos livros. Fato que, teoria vincule prática para que haja a

formação profissional íntegra; fato que, em muitas universidades a seleção não envolva a

prática.

Diante da realidade defasada dos cursos de Letras, é imprescindível a substituição

curricular que visa à historicidade, à memorização de autores e obras, bem como às regras e

nomenclaturas pela leitura ou a lição, lectio, segundo Larrosa (2003, p. 140), que “implica a

relação de cada um consigo mesmo e com os outros”, ou seja, o professor é o responsável por

remeter o texto, nas palavras do teórico “dar a ler o que se deve: ler”, dessa forma a leitura

obrigatória e maçante, abre espaço para a leitura prazerosa.

Utópico pensar que todos os professores graduados tenham ou adquiram essa

percepção na sua graduação, pois a maioria das universidades que oferecem cursos de

licenciaturas, em especial curso de Letras, segue com um currículo defasado, ineficaz e sem

incentivo algum a ferramenta primordial que é a leitura.

Como os PCNs buscam uma formação contínua e globalizada do indivíduo, os

mesmos exigiram das universidades a reformulação de novos PPIs que fossem ao encontro da

legislação vigente, estabelecendo o prazo de dois anos para a formulação dos novos projetos

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políticos-pedagógicos, segundo a Resolução 02/CNE

13, de 1ª de julho de 2015, artigo 6º, o

qual profere sobre a elaboração do Projeto de formação e desenvolvimento por meio da

articulação entre a instituição de educação superior e o sistema de educação básica,que

contemple:

I - sólida formação teórica e interdisciplinar dos profissionais;

II - a inserção dos estudantes de licenciatura nas instituições de educação básica da

rede pública de ensino, espaço privilegiado da práxis docente;

III - o contexto educacional da região onde será desenvolvido;

IV - as atividades de socialização e a avaliação de seus impactos nesses contextos;

V - a ampliação e o aperfeiçoamento do uso da Língua Portuguesa e da capacidade

comunicativa, oral e escrita, como elementos fundamentais da formação dos

professores, e da aprendizagem da Língua Brasileira de Sinais (Libras);

VI - as questões socioambientais, éticas, estéticas e relativas à diversidade étnico-

racial, de gênero, sexual, religiosa, de faixa geracional e sociocultural como

princípios de equidade (Brasil, 2015, p. 05).

Essa direção apontada pelos Parâmetros Curriculares põe em ascensão a linguagem

como um fenômeno social, cujas manifestações discursivas acontecem através de diversas

formas e contextos interacionais. Sendo o Projeto Pedagógico do Curso de Letras (PPCL), de

responsabilidade da instituição para a redução e ou acréscimo de carga horária e disciplinas a

serem ofertadas. Essa atribuição, por vezes se torna contraditória, no momento em que o

Projeto Pedagógico destaca certos conhecimentos e práticas como essenciais e a carga horária

não as confirmam como centrais. Outro fato comum que merece destaque são as disciplinas

de metodologia e de prática docente e seu processo de avaliação, tão enfatizado nos PCNs,

que não condizem com a atuação realizada. Disciplinas essenciais para a formação docente de

profissionais Letrados como Literatura Infantil e Juvenil, nem sempre fazem parte do

currículo das instituições enquanto aparecem disciplinas como ‘Projetos Integradores’ ou

‘Seminários’, repetidas em vários semestres, mas cujos conteúdos não são definidos deixando

vago o que se propõe. Conhecimentos sobre o desenvolvimento cognitivo e sócio emocional

de crianças e jovens é tema quase totalmente ausente em muitos currículos de Letras. No

entanto, são conhecimentos necessários ao professor para o planejamento de seu trabalho e o

desenvolvimento de suas práticas e na relação com os alunos.

13

Esta Resolução entrou em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário, em especial

a Resolução CNE/CP nº 2, de 26 de junho de 1997, a Resolução CNE/CP nº 1, de 30 de setembro de 1999, a

Resolução CNE/CP nº 1, de 18 de fevereiro de 2002 e suas alterações, a Resolução CNE/CP nº 2, de 19 de

fevereiro de 2002 e suas alterações, a Resolução nº 1, de 11 de fevereiro de 2009, e a Resolução nº 3, de 7 de

dezembro de 2012.

Disponível em http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=21028.

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Dentre outros, os fatores mencionados contribuem para a ‘crise literária’ que afeta

todo o Brasil, em especial a educação básica, da qual alunos se deparam com alta dificuldade

no ensino/aprendizado da língua materna e suas competências. Nesse sentido, aos Cursos de

Letras, cabe uma reflexão sobre a relação coerente entre conhecimento de área e os aspectos

da relação pedagógica, que é o eixo do trabalho do professor na escola, na direção de

propiciar aos alunos aprendizagens relevantes, significativas e permanentes.

Ataliba Teixeira de Castilho em seu livro, A língua falada no ensino de português

(1998), aponta três supostos colapsos para a ‘crise’ vivenciada na Educação Básica e Nível

Médio, que enfrentam os professores em sua prática: a crise social, a científica e a do

magistério.

De acordo com o autor a sociedade se encontra em grandes mudanças de cunho sócio

linguístico cultural, por conta do processo de urbanização, grande parcela da população que

migra do campo com destino aos grandes centros em busca de melhores condições de vida e

maiores oportunidades, modifica o quadro discente escolar, causa do desconforto dos

professores que não foram preparados para essa clientela. Os professores de língua portuguesa

necessitam de maior aprofundamento linguístico para oscilar entre a Linguística homogênea

(produto a ser examinado independentemente) e a heterogênea (onde existem variações na

semântica, no enunciado que variam seu sentido). Quanto à crise do magistério, essa é

resultante das demais, por que

as mudanças sociais do país e o atual momento de transição de um paradigma

científico para outro colocaram os professores de Língua Portuguesa numa situação

muito desconfortável com respeito a “o que ensinar”, “como ensinar”, “para quem

ensinar” e, até mesmo, “para quê ensinar” (CASTILHO, 1998, p. 13).

Ao procurar preencher as lacunas de décadas que se referem à língua materna

(gramática tradicional, estruturalismo, gerativismo), a intenção dos PPCL é adornar às novas

tendências linguísticas, hibridando as mudanças iniciadas pelos PCNs para a ampliação do

segmento de aspecto social de abordagens da linguagem predominante na Educação Básica de

Língua Portuguesa; um ensino interacional, dialógico.

Posterior a uma vasta reformulação de resoluções e normas, ainda faz-se necessário

que o curso de Letras contemple a metodologia que visa à linguagem como eixo. Luiz Carlos

Travaglia, em sua obra A leitura em perigo, entende que não se deve apreciar apenas teorias, e

sim o “conjunto de conhecimentos linguísticos que o usuário tem internalizado para uso

efetivo em situações concretas de interação comunicativa” (TRAVAGLIA, 2003, p. 17), nessa

perspectiva o que “importa é ensinar a língua e não a gramática, pois esta deve constituir um

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dos meios para alcançar o objetivo que se tem em mira” (GERALDI, 2003, p. 121); por esse

viés é provável que se reverta a tão receosa ‘crise da leitura’ compreendendo que ler não é

absorver o texto, mas dissolvê-lo segundo suas próprias vivências.

2.3 A leitura no espaço escolar

O município de Frederico Westphalen localiza-se na região do Médio Alto Uruguai,

Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, com área territorial de 264,976 Km2 e uma

estimativa populacional de 30.251 habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística – IBGE de 2013. Além de se destacar pela economia voltada à

agricultura, também é referência regional no que tange à Educação, pois abriga 12 instituições

estaduais, duas privadas (Ensinos Fundamental e Médio), além de universidade privada,

federal, estadual e virtual.

Para focalizar o espaço que abrange o estudo proposto neste trabalho, apresenta-se,

abaixo, a distribuição das escolas estaduais do referido município:

Figura 1- Mapa da área territorial do município de Frederico Westphalen, R/S e a localização

geográfica das escolas estaduais em seu perímetro.

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Continua

Figura 01 - Mapa da área territorial do município de Frederico Westphalen, R/S e a

localização geográfica das escolas estaduais em seu perímetro.

Continuação

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Todas as escolas apresentadas na Figura 01 são estaduais, integram a pela 20ª CRE,

oferecendo os níveis de ensino fundamental e médio. Destas, oito ocupam a zona urbana em

diferentes bairros e quatro localizam-se na zona rural.

Quanto à demarcação geográfica dos bairros em que se encontram as escolas estaduais

no município de Frederico Westphalen, ressalta-se que três são centrais; três localizam-se na

periferia (alto índice de violência); outras quatro estão na área rural e duas em bairros

afastados do centro, no entanto sem índice elevado de violência e/ou carência. A pesquisa não

foi desenvolvida em uma das escolas por ausência de ‘tempo’, como salientou a equipe

diretiva após ser entregue a documentação necessária, esclarecidas a proposta e a finalidade

do estudo.

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Figura 2 – Distribuição dos registros de números de participantes, pela localização geográfica

no município de Frederico Westphalen, R/S.

Destaca-se na Figura 02 que das escolas subdivididas na área do município de

Frederico Westphalen as que compõem a periferia foram a de maior número de apoio à

pesquisa, seguida das situadas na zona rural.

Uma das hipóteses para esse número é que na área periférica encontram-se o maior

número populacional em virtude da questão de moradia: aluguéis mais acessíveis, residências

com menor burocracia para ser adquirida, imóveis de menor valor habitacional. A isso se

soma o pouco investimento do setor público, onde saneamento básico, atendimento médico,

lazer e infraestrutura precária são alusivos para a desvalorização territorial; a construção de

casas nas chamadas áreas de risco, distantes do centro e sem quaisquer fiscalizações, dando

origem a segregações urbanas ilegais, despertam nesses habitantes anseio por melhorias de

0

5

10

15

20

25

30

A B C D E F G H I J K

Localização geográfica

Periferia Centro Bairro Rural

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todas as esferas, acreditando que pesquisas inerentes à formação social podem vir a ser de

grande auxílio, para que aos seus sucessores lhe seja permitida a dignidade do

desenvolvimento e envolvimento cidadão.

O segundo grupo de maior adesão, encontra-se na zona rural, onde o clima de

tranquilidade e fartura segue com a preocupação na formação escolar dos membros da

localidade, uma vez que a família anseia que seus filhos obtenham desenvolvimento integral

para deixar o campo e/ou administrar a propriedade com novas propostas para geração de

lucro maior.

Como o perímetro central depara-se atrelado ao maior desenvolvimento municipal, os

indivíduos que o integram não almejam dispor de mais uma tarefa em seu assoberbado dia de

labuta, onde o tempo gasto entre estudo, deslocamento e trabalho, gera certo desconforto na

alteração da rotina habitual, ou seja, responder um questionário é mais uma tarefa, por ser

opcional, pode ser recusada.

É conveniente destacar que muitos dos questionários não foram inclusos na

abordagem analítica por não disporem do TCL assinado pelos pais e/ou responsáveis,

conforme destaca resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS):

o respeito devido à dignidade humana exige que toda pesquisa se processe após

consentimento livre e esclarecido dos participantes, indivíduos ou grupos que por si

e/ou por seus representantes legais manifestem a sua anuência à participação na

pesquisa (BRASIL, 2012)

No que tange à adesão, essa não foi total uma vez que o TCL assegura ao voluntário o

direito de não participar ou de se retirar do estudo, a qualquer momento, sem que isso

represente qualquer tipo de penalidade ou prejuízo ao seu cuidado.

Por razões sociais, geográficas, econômicas e outras, a distribuição dos alunos pelas

escolas não é aleatória. Os indivíduos de uma mesma escola possuem maior possibilidade de

apresentarem semelhanças entre si do que alunos de escolas diferentes. O grau de

agrupamento existente em uma população é capturado pela estatística denominada de

coeficiente de intracorrelação, podendo tomar valores entre 0 a 1, suas variáveis explicativas

podem ser medidas tanto no nível micro (alunos/professores), como no nível macro

(escolas/bairros).

Como demonstra o Quadro 01, o método de amostragem utilizada para o

desenvolvimento da pesquisa foi por conglomerado em duplo estágio (alunos e professores

licenciados em Letras), que constituem as 12 escolas localizadas no município de Frederico

Westphalen, sendo enquadradas na análise apenas 11 escolas porque a Escola Técnica José

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Canellas não viabilizou o desenvolvimento da pesquisa. Cada escola recebeu 24 questionários

para alunos e 02 para professores, perfazendo a distribuição conforme cálculo estatístico de

amostragem mínima, evidenciado anteriormente no Capítulo 2.4, onde o cálculo para coleta

de amostra foi de 264 alunos do nível Fundamental II e 28 professores com formação em

Letras. Contemplado (Quadro 01) os dados de adesão dos conglomerados das variáveis

preditoras de nível micro (alunos/professores) e nível macro (escolas/bairros) sobre a variável

padrão (critério) “Relação cognitiva/social da leitura no ambiente escolar”.

Analisando o Quadro 01, é possível afirmar que dos adeptos à pesquisa no parâmetro

do nível 01 (micro) do total de 292 convidados a colaborar, apenas 181 indivíduos aderiram à

participação da pesquisa, um percentual de 61,9% de adesão dentre alunos e professores.

Destes, 42,5% compõe bairros periféricos e/ou afastado do centro, 29,2% estudam em escolas

localizadas na zona rural e 28,1% fazem parte das escolas localizadas no centro do município,

tidas como elitizadas. Fator que confirma a hipótese das escolas estaduais localizadas no

centro e frequentadas por alunos de classe social econômica alta, não viabilizarem a formação

humana, ou seja, seu comprometimento atribui-se ao repasse de conteúdos e preparação para

supostas seleções a nível cognitivo, distinta da realidade periférica e rural onde ou a violência

ou a tranquilidade fazem com que a preocupação formativa plena e eficaz do indivíduo para

inseri-lo no meio social, se constitua de ações que remetem a reflexão e afronto com a

realidade vivenciada, contribuindo assim, para a solução de impasses relacionados à

educação, como neste caso, a leitura.

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63

Quadro 1 – Número de adesão de sujeitos e escolas ao trabalho de pesquisa, segundo a

localização geográfica no município de Frederico Westphalen, R/S, 2016.

Com o propósito de elencar uma melhor visualização das áreas em que cada escola

estadual ocupa no município de Frederico Westphalen, foi expresso na Figura 03 a

fragmentação das partes estabelecidas na pesquisa a nível 02 (macro) contendo numeração

cardinal e cor específica para cada membro/escola, compondo o todo, nesta pesquisa o

município citado anteriormente. Resume-se, não há uma correlação linear significativa pois

tanto as variáveis (x) quanto (y) seguem a mesma postura com relação à variável padrão.

Figura 3 – Distribuição dos registros das escolas estaduais que compõem o município de

Frederico Westphalen, R/S, 2016.

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64

Continua

Figura 03 – Distribuição dos registros das escolas estaduais que compõem o município de

Frederico Westphalen, R/S, 2016.

Continuação

RESUMO DOS RESULTADOS

Estatística de regressão

R múltiplo 0,553807122

R-Quadrado 0,306702329 R-quadrado ajustado 0,229669254

Erro padrão 4,717579417

Observações 11

Em síntese, a escola Edgar Marques de Mattos, localizada na periferia, teve a maior

adesão, 92,3% das variáveis preditoras responderam os questionários, seguida da escola CIEP

(bairro) com 88,4%; contestando a disponibilidade da escola central Cardeal Roncalli, com

46,1% de adesão; acompanhada pela escola rural Waldemar Sampaio Barros, a qual obteve

apenas 19,2% de participação. Provando que, independente da localização geográfica, a

motivação e o interesse para suprir as dificuldades pertinentes ao ato de ler é de domínio

escolar, sendo o professor a maior referência incentivadora.

As instituições escolares onde não houve mobilização por parte docente a participar da

pesquisa, lendo e respondendo o questionário, demonstraram baixa adesão ao trabalho

proposto. Exemplificado pela escola localizada no Distrito de Castelinho (zona rural), onde a

adesão foi de 69,2%, diferença significativa comparada com a também escola rural do Distrito

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de Osvaldo Cruz que confirmou adesão de 19,2%, sancionando as peculiaridades de cada

escola e os membros que a integram.

Cada sujeito que se dispõe a participar de uma pesquisa possui características

peculiares de suma importância para a análise e desenvolvimento satisfatório do que envolve

o estudo. Na visão do sociólogo Alain Touraine (1991), os sujeitos são os propulsores da

história, o que possibilita compreender melhor suas motivações e horizontes da ação que

desencadeiam no contexto coletivo.

Reconhecer que lugares físicos/geográficos próximos ou distantes das regiões de

maior possibilidade de acesso a bens e serviços, proporcionados pelo sistema (centro), são

espaços de inclusão, integração, exclusão, segregação que se entrecruzam e interpenetram

geográfica, cultural, política e socialmente, guardando, para si, suas condições e

especificidades é compartilhar da visão de Bourdieu, na tentativa de compreender que

[...] o que se passa em lugares como os ‘conjuntos habitacionais’ ou os ‘grandes

conjuntos’, e também numerosos estabelecimentos escolares, aproximam pessoas

que tudo separa, obrigando-as a coabitarem, seja na ignorância ou na incompreensão

mútua, seja no conflito, [...]. É necessário confrontá-los como eles o são na

realidade, não para relativizar, [...] mas, ao contrário para fazer aparecer, pelo

simples efeito da justaposição, o que resulta no conflito de visões de mundo

diferentes ou antagônicas (BOURDIEU, 1997, p. 11).

Pensar em espaços sociais é considerar a cultura histórica coletiva, suas características

e diversidades, a fim de refletir sobre o recorte individual e suas relações igualitárias, num

espaço social específico que irá dispor ou não particularidades antagônicas.

O Quadro 02 aborda características individuais de variantes preditoras do nível 01

(professores/alunos), por meio de aspectos como: faixa etária, sexo, nível de graduação e

tempo de atuação na função docente. Bem como, variantes preditoras do nível 02

(escolas/bairros), as quais dizem respeito ao clima escolar, localização geográfica e

necessidade de carga horária na escola na área de Linguagens e Comunicação.

Quadro 2 - Principais bases de dados coletados de interesse para a área da análise Multinível,

segundo as variáveis preditoras de nível 1 (micro) alunos/professores e nível 2 (macro)

escolas/bairros.

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66

Continua

Quadro 02 - Principais bases de dados coletados de interesse para a área da análise

Multinível, segundo as variáveis preditoras de nível 1 (micro) alunos/professores e nível 2

(macro) escolas/bairros.

Continuação

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67

Ao analisar o nível micro em relação à faixa etária dos participantes da pesquisa,

documenta-se que estes possuem dentre 10 a 18 anos, público alvo referente ao Ensino

Fundamental II e Ensino Médio; conveniente destacar que dos 181 participantes computados

no Quadro 02, 63% são de gênero feminino e 37% masculino, ou seja, as mulheres são a

maioria nas escolas. Dessas, 47,3% estudam em escolas centrais onde o clima escolar é

considerado moderado e apenas 26,3% delas estudam em escolas cujo clima é considerado

violento. O que entra em divergência com os dados do gênero masculino, onde 31% estudam

em escolas com maior índice de violência e 33,3% frequentam escolas com clima moderado

de violência.

Figura 4 - Distribuição dos gêneros que contribuíram com a pesquisa, dentre as escolas do

município de Frederico Westpalen, R/S.

Ao somar todos os participantes, obtêm-se um total de 64 indivíduos de gênero

masculino e 114 indivíduos pertencentes ao gênero feminino, contabilizando 181 integrantes

no nível micro. Ou seja, pode-se afirmar que 63% dos colaboradores são mulheres e 37%

homens. Percentual que confirma que as mulheres frequentam mais anos a escola que os

homens, possuindo dentre eles, número menor de analfabetismo e evasão escolar.

0

5

10

15

20

25

A B C D E F G H I J K

ne

ros

Escolas

Feminino

Masculino

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Figura 5 – Percentual da soma total dos gêneros (masculino/feminino) que contribuíram com

a pesquisa.

Cruzando os dados obtidos através da pesquisa, ressalta-se que o professor tem

dificuldades em relação a sua própria atualização e preparo das aulas que serão ministradas,

pois 90,9% atuam em mais de uma escola, perfazendo o total de 40 a 60 horas/aulas semanais

que adicionadas ao tempo de locomoção, afazeres doméstico e familiar (colaboradores

docentes computados no quadro, 100% são do sexo feminino e possuem filhos), podem

interferir no preparo prévio, qualidade e metodologia da aula. Essa exclusa de tempo pode

causar alterações no clima escolar, porque o sujeito é inerente de sua vida privada, uma vez

que, essa vem a sofrer danos, o exercício da profissão também é corrompido.

Outra observação, alusiva ao corpo docente de cada escola é que o grau de

escolaridade para exercer o ofício de professor é baixo. A pós-graduação é o mais elevado

nível dente os professores. Os que possuem apenas a graduação totalizam 27,2% dos

docentes, outra possível justificativa para metodologias de ensino pouco atraentes e conteúdos

desatualizados. Apenas 18% do corpo docente pesquisado possui menos de cinco anos de

atividade em sala de aula, o que abre procedentes para questionar a leitura como ação

envolvente e eficaz na aquisição cognitiva e no desenvolvimento humano e social. Uma vez

que, 82% dos professores têm mais de 10 anos de tempo de atuação no magistério, sem ou

com pouca atualização em sua formação específica.

A baixa valorização do professor pode ser agregada as hipóteses do seu baixo

empenho em sala de aula e a desmotivação para o ato de ler. Influenciando também, na não

aquisição de novos materiais, na não participação de seminários formativos e/ou de estudos e

37%

63%

Pencentual

Soma de Masculino Soma de Feminino

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automaticamente no não desempenho dinâmico em relação a sua prática de trabalho, vindo

por acomodar-se através de aulas retóricas com livros didáticos que pouco agregam para o

desenvolvimento das habilidades cognitivas e para o ‘gosto’ pela leitura e seu entendimento.

Dificultando a inserção discente na esfera social e justificando o pouco interesse na escola em

si, fator que explica o alto índice no estado de evasão escolar, transferências e/ou reprovação,

reafirmando dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica- IDB14

.

Ao analisar o coeficiente de correlação, percebe-se nível menor de correlação entre as

variáveis, o que representa que a relação entre as variáveis é inversa, sendo sua correlação

negativa.

Figura 6 – Distribuição dos registros dos índices de violência nas escolas estaduais do

município de Frederico Westphalen, R/S.

Conclui-se que, a partir dos dados, as escolas situadas na área periférica do município

de Frederico Westphalen exibem alto nível de violência entre alunos, evidenciado com

registros legais penais de Boletins de Ocorrência (BOs). Nesse contexto, a família responde

pelos atos dos menores de idade e estes são penalizados com medidas cautelares de prestação

de serviços comunitários; em sua grande maioria é do sexo masculino, o que explica o maior

14

Órgão governamental que calcula o rendimento escolar (taxas de aprovação, reprovação e abandono) e o

desempenho dos alunos na Prova Brasil, aplicada pelo governo federal a cada dois anos.

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número de indivíduos do sexo feminino frequentando a escola e justifica a evasão escolar ser

maior dentre membros do sexo masculino. Somando-se a esse fato, a escola com seu

programa metodológico deveras ineficiente, não é atrativa, ou melhor, não abrange as

expectativas para o desenvolvimento pessoal dos indivíduos no ambiente social ao qual estão

inseridos, gerando incredulidade de sua precisão.

Considerando a análise das variáveis preditoras de nível micro e macro, é essencial

salientar que, as escolas localizadas na zona rural conservam-se o clima de passividade dentre

os que a compõe, demonstrando a tranquilidade da vida no campo e instalando a preocupação

dentre as escolas da periferia onde 100% afirmam clima escolar violento com intervenção de

instituições cabíveis (Conselho Tutelar e Brigada Militar), considerando que 36,3% das

escolas estaduais do município de Frederico Westphalen, alegam clima moderado de

violência, onde a própria escola e seus segmentos conseguem contornar as situações

imprevistas.

Pela baixa autoestima e sem perspectiva de melhoria na vida, certos momentos da

construção da subjetividade do sujeito, a sombra do opressor pode aderir à figura do

oprimido, e este, sem ter plena consciência da opressão sofrida, representar a consciência

opressora, temendo a oportunidade de liberdade e introjetando concepções distantes de sua

realidade – a própria escola.

Ao fazermos esta afirmação, não queremos dizer que os oprimidos, neste caso, não

se saibam oprimidos. O conhecimento de si mesmos, como oprimidos, se encontra,

contudo, prejudicado pela ‘imersão’ em que se acham na realidade opressora.

‘Reconhecerem-se’, a este nível, contrários ao outro não significa ainda lutar pela

superação da contradição. Daí esta quase aberração: um dos polos da contradição

pretendendo não a libertação, mas a identificação com seu contrário. O ‘homem

novo’, em tal caso, para os oprimidos, não é o homem a nascer da superação da

contradição, com a transformação da velha situação concreta opressora, que cede seu

lugar a uma nova, de libertação. Para eles, o novo homem são eles mesmos,

tornando-se opressores dos outros. A sua visão do homem novo é uma visão

individualista. A sua aderência ao opressor não lhes possibilita a consciência de si

como pessoa, nem a consciência da classe oprimida (FREIRE, 2001, p. 44-45).

O que não descarta os atos violentos femininos, no entanto estes remetem a outros

fatores como a própria prostituição e uso de entorpecentes, o que resulta em disputas por

locais geográficos de atuação e até mesmo clientela. Isso acontece em índice menor,

comparado ao sexo masculino, porém de igual inquietação. Como tornar a leitura motivadora

e humanizadora, se o espaço escolar não é o ambiente em que esses jovens desejam estar?

Nas escolas centrais e de bairros que ocupam 36,3% do perímetro escolar estadual, o

clima moderado de conflitos internos aponta o melhor desenvolvimento e entrosamento entre

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os alunos. Estes, na sua maioria, querem ou são forçados pelos pais e/ou responsáveis estar na

escola, mesmo que, por conta da estrutura física das escolas, as vagas sejam limitadas e

altamente disputadas, o que não significa que subversões sejam inexistentes. As que incidem

no decorrer do ano são de fácil conciliação, pois a família é comprometida com a esfera

escolar, o que torna a exultação em se encontrar na escola.

As escolas localizadas na zona rural apresentam clima de tranquilidade. A comunidade

escolar e o currículo desenvolvido dão ênfase ao meio em que vivem os educandos, fazendo

com que a escola seja reduto de encontros, troca de conhecimentos e experiências, o que torna

a instituição escolar prioridade na comunidade. Essa realidade nos remete ao pensamento de

Vygotsky (1982), que afirma que quando o sujeito é ativo ele age sobre o meio. Para ele, não

há a "natureza humana", a "essência humana". Somos primeiro sociais e depois nos

individualizamos.

Os professores, assim como as escolas, têm sua parcela de responsabilidade e

compromisso ao que se refere à leitura humanizadora e a própria educação alargada dentro da

escola.

No decorrer do desenvolvimento da pesquisa foi possível observar que, 81,8% das

escolas embutem em seus documentos uma proposta de trabalho voltada para o crescimento

pessoal e pleno do aluno, preconizando que o sujeito seja capaz de lapidar sua criticidade,

pensar, fazer suas escolhas e decidir pelo seu melhor; porém o que se comprova é uma prática

contraditória.

Os professores ao elaborar suas aulas descartam o conhecimento prévio dos alunos,

fazendo uso apenas dos conceitos instituídos na base curricular e no PPP da própria escola.

Durante o planejamento o professor visa cumprir com todos os conteúdos não proporcionando

espaços para os alunos questionem ou emitam suas colocações, no sentido de interagir. Um

dos motivos (apontado no Quadro 02) é que esses professores, além de possuírem alta carga

horária, têm em sua grande maioria mais de uma escola em que exercem o trabalho de

docência, causando sobrecarga de trabalho. Dentre esses fatores, é comum observar outros

complicadores como: ausência de material e recursos didáticos (condições de trabalho),

clientela assistida (superlotação), não reconhecimento da parte do aluno e da sociedade e

desvalorização do magistério, também verificados nos estudos de Esteve (1999).

O professor não é visto como mediador, nem aquela pessoa que impulsiona

estimulando e valorizando o potencial do aluno, avaliando suas capacidades individuais; mas

sim como uma pessoa autoritária, de metodologia arcaica e formação básica, que ano após

ano ‘passa’ o mesmo conteúdo para os alunos, avaliando aquilo que já internalizaram.

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Utilizando-se assim, de um ensino tradicional visando regras disciplinas, onde o melhor aluno

é aquele que fica em silêncio, no seu lugar, responde conforme solicitado e demonstra ter

aprendido através de provas. Aspectos esses que, vem ao desencontro das palavras de Paulo

Freire:

como prática estritamente humana jamais pude entender a educação como

experiência fria, sem alma, em que os sentimentos e as emoções, os desejos, os

sonhos devessem ser reprimidos por uma espécie de ditadura racionalista. Nem

tampouco jamais compreendi a prática educativa como uma experiência a que

faltasse rigor em que se gera a necessária disciplina intelectual (FREIRE, 1996, p.

146).

O ambiente escolar necessita conceber-se como espaço de comunhão de

conhecimentos entre professores e alunos, onde haja interatividade, afetividade, transmissão

de saberes e técnicas educativas, fomentados através do diálogo e do convívio harmônico das

relações interpessoais.

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3 A FRUIÇÃO DA LEITURA

Saber ler e executar esse ato, crítica e frequentemente é, em última instância,

possuir mais elementos para pensar sobre a realidade e sobre as nossas

condições de vida.

(Ezequiel Theodoro da Silva)

A descoberta do prazer da leitura se fundamenta em dois aspectos que não podem ser

analisados in separato, o acesso ao livro e o interesse pela leitura.

No âmbito de uma sociedade, de uma cultura, a peça fundamental de todo o processo

de desenvolvimento social, político e econômico é primeiramente o indivíduo que atua nesse

espaço. Por meio da leitura, resgatam-se as lembranças mais especiais, que fazem parte da

cultura de um determinado espaço. Cultura essa que, tem como finalidade a formação de

cidadãos influentes, críticos e conscientes de seus atos.

O entrelace entre o livro e a importância do ato de ler agenciado pela literatura,

carrega elementos e vivências oriundas do social, da experiência prévia e individual do

mundo e da vida. Ao ler um texto ou um livro, se interage não propriamente com o texto, mas

com as personagens virtuais, que são constituídas no próprio ato da escrita. O autor as cria em

seus textos e o leitor real lê o texto e dele se apropria. O texto passa assim a exercer uma

mediação entre sujeitos, tendo a influência de estabelecer relações entre os leitores reais e

personagens fictícias.

Embora muito se tenha discutido nos últimos anos sobre currículo escolar, a

Literatura, ou a leitura, não obteve os avanços esperados. Os maiores debates sobre esse

assunto são sobre a permanência ou não desta no currículo, pois o que a sociedade almeja é a

finalidade prática sobre a imposição do mercado de trabalho (formação de mão de obra

qualificada e afins).

Em uma sociedade cada vez mais voltada para a rapidez da informação e avanços

tecnológicos, a leitura como instrumento fundamental na aquisição do conhecimento fica

relegada a segundo plano, mesmo ela sendo elemento essencial ao ser humano que vive no

mundo letrado, com acesso irrestrito a uma série de elementos textuais em sua vida diária.

Na concepção pós-moderna de leitura, temos que considerar a subjetividade do leitor

como chave para a compreensão do texto e do mundo. Mais precisamente que a leitura do

impresso veiculada em livros, relaciona-se com as experiências e vivências dos leitores. Sobre

esse aspecto Paulo Freire reintera,

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refiro-me a que a leitura de mundo se trata de leitura da palavra e a leitura desta

implica a continuidade da leitura daquele. De alguma maneira, porém, podemos ir

mais longe e dizer que a leitura da palavra não é apenas precedida pela leitura de

mundo, mas que por certa forma de ‘descrevê-lo’ ou de ‘reescrevê-lo’, quer dizer, de

transformá-lo através de nossa prática consciente (FREIRE, 1984 a, p.22).

Entende-se que a subjetividade sugere a compreensão de si mesmo e que envolve

nossos sentimentos e pensamentos pessoais. Além disso, vivemos nossas subjetividades em

um contexto social no qual a linguagem e a cultura dão significado à experiência que temos

de nós mesmos e no qual adotamos uma identidade (WOODWARD, 2012).

Tendo em vista, a individualidade de cada ser, suas experiências e expectativas, sua

história única de vida, o Quadro 03 exibe dados que fundamentam o gosto e/o desprezo pelas

aulas de Literatura/Língua Portuguesa, como atuam alunos e professores nos momentos de

leitura e qual a sua finalidade.

Quadro 3 – Dados coletados sobre a ação do ato de ler e sua prática pedagógica e

metodológica dentre as preditoras de nível 1 (professor/aluno).

*Livros com poucas páginas, disponíveis em horário de Biblioteca, incluindo revistas e gibis.

Continua

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Diante dos dados é possível afirmar que, 54,5% dos alunos não gostam de realizar

ações que envolvam a leitura, e 45,4% gostam muito de ler. No entanto, como demonstra a

Figura 07, não há índice de relação destacada no R (quadrado), pois este assume valores de 0

a 1, quanto mais próximo de 1 os pontos estão da reta destacada melhor o ajuste da proporção,

ou seja, o R (quadrado) é a variabilidade de Y explicada por X.

Figura 7 – Distribuição do registro referente ao gosto pela leitura e quantidade de livros lidos

no período do ano escolar de 2016.

Ante o fator negativo apresentado na equação, acorda destacar que as ações de leitura

que são desenvolvidas pelos alunos na escola remetem-se aos períodos na biblioteca, cujo

tempo estimado é de 50 minutos, sem o acompanhamento de profissional específico (quando

há bibliotecária na escola, esta cumpre os anos que lhe falta para a aposentadoria e/ou sua

formação corresponde a outras áreas, raramente sendo da área de LC), os livros lidos são de

poucas páginas, incluindo revistas e gibis e essa gama de empecilhos ainda divide espaço com

conversas paralelas e/ou o uso do celular, simplificando, os minutos destinados para a leitura

na escola são momentos ociosos.

Mesmo a leitura ter sido propagada no século XIX, permitindo seu acesso a crianças,

mulheres e jovens, a mesma segue de forma elitizada. Ao contemplar esse aspecto dentro do

ambiente escolar, podem-se observar acervos desatualizados e/ou imbuídos com finalidade

específica que não a leitura prazerosa. Mesmo havendo programas de governo para o

incentivo à leitura, a escola se afastou da literatura, porque seu interesse maior é oferecer ao

maior número possível de discentes as habilidades básicas de leitura e escrita. Aos professores

e, em especial aos licenciados na área de LC, cabe a tarefa de ensinar aos seus alunos que, a

y = 0 R² = #N/A

y = 0,1545x + 4,0727 R² = 0,0691

0

2

4

6

8

10

0 5 10 15 Nú

me

ro d

e li

vro

s lid

os

Gosto pela leitura

Gosto dos alunos pela leitura

Gosto pela leitura

Nº de livros lidos

Linear (Gosto pela leitura)

Linear (Nº de livros lidos)

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leitura deve ser realizada lentamente, de forma reflexiva. Diferente do que acontece

constantemente no ambiente escolar, em específico, nos momentos de biblioteca, pois mesmo

com toda a tecnologia acessível ao imediato, o livro impresso possui significação

humanizadora incomparável.

Títulos de obras que têm a leitura cobrada pelos professores trazem finalidade

avaliativa, ou seja, para o desenvolvimento de resumos e/ou fichas literárias que além de ir ao

desencontro do que os alunos desejam ler, acabam por camuflar resumos colhidos na internet,

tornando o aluno resistente quando a proposta é leitura.

Os textos encontrados nos livros didáticos, bem como os fragmentos literários

expostos nas aulas, não são explorados devidamente pelos professores, deixando a desejar

quanto à reflexão e o desenvolvimento da criticidade, pois a prioridade do literário na sala de

aula é a execução de exercícios repetitivos de interpretação e compreensão textual, o

aprendizado da gramática e a memorização da periodização literária, comprovado em 81,8%

do total das escolas pesquisadas. Um aspecto que viabiliza essa prática e também

problemática ao que se refere à leitura reflexiva é o uso das fotocópias, como ressalta Jaime

Guinzburg:

Uma evidência concreta do problema [leitura fragmentada dos livros], encontrada

em muitas faculdades, é a presença das assim chamadas pastas de xerox. Os motivos

alegados para sua existência são vários. O preço supostamente caro dos livros; o

acervo supostamente insuficiente das bibliotecas; o tempo supostamente curto dos

estudantes para construir seu material de estudo. Há uma óbvia situação de conflito

entre a legislação de direito autoral e a existência das pastas de xerox.

(GUINZBURG, 2012. p. 214)

Um dos motivos para que a maioria dos alunos demonstrem certo prazer nas aulas de

Língua Portuguesa/Literatura é porque a leitura que lhes é exigida não visa a criticidade e

reflexão. Por se tratar de meros fragmentos de fácil interpretação, sem que outros fatores

cognitivos de sua aptidão sejam ativados, essas disciplinas requerem mera memorização de

regras e normas gramaticais, e/ou de características, autores e obras de determinadas

periodizações literárias. O que preocupa é que, mesmo se tratando de habilidades de mínimo

de esforço, ainda há 29,2% dos alunos participantes da pesquisa que alegam dificuldades,

sendo seu maior número no nível de Ensino Médio, confirmando que, quanto mais idade,

menos é a fruição com a leitura.

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Figura 8 – Distribuição do registro referente ao sentimento despertado pelas disciplinas de

Língua Portuguesa/Literatura.

Assim como exposto na Figura 08, apenas 18,1% dos colaboradores concentra em si o

gosto pela leitura realizada em sala na escola concomitante as disciplinas de Língua

Portuguesa/Literatura e, consecutivamente, este ato é pouco explorado pelo professor que

deveria estar instigando a reflexão e análise das mais diversas tipologias textuais. Uma

margem de 54,5% não se sente a vontade quando o assunto é leitura, pois jamais efetuou a

leitura de uma obra literária na íntegra, por aspiração própria que constitua um ato prazeroso

porque a mesma só é solicitada em sala de aula para a realização de exercícios repetitivos de

interpretação textual, deixando evidente em 18,1% dos discentes o sentimento de desespero,

por não entender o que leu, havendo 9% que apresentam tédio pela leitura solicitada por parte

da escola.

Analisando os por menores, 45,4% dos alunos se classificam como bons leitores,

mesmo esse ato ser considerado entediante para 9% deles; o que afronta os 54,5% que não

manifestam gosto pela leitura, mas destes, 36,3% apreciam as aulas de Língua

Portuguesa/Literatura; cabendo o sentimento de desespero para com as aulas e desgosto pelo

ato de ler a 18,1% dos alunos participantes da pesquisa.

Para os participantes da pesquisa há propensão de 63,6% do corpo discente realizar

leituras simplificadas, rápidas e de preferência singulares. Uma vez, que a tecnologia e o

y = -0,6727x + 18,945 R² = 0,1723

y = 0,2727x + 8,7273 R² = 0,0222

y = -0,8621x + 7,0172 R² = 0,5672

y = -0,0902x + 2,8872 R² = 0,1353

y = -0,1573x + 3,621 R² = 0,1614

-10

-5

0

5

10

15

20

25

30

00/01/1900 05/01/1900 10/01/1900 15/01/1900

Alu

no

s p

arti

cip

ante

s

Escolas

Aulas de L.P./Literatura

Aulas de L.P./Literatura

Prazer

Tédio

Desespero

Repúdio

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78

imediatismo das fontes de procura e respostas não se empregam aos livros. Apenas 36,3%

realizam a leitura reflexiva, fazendo conexões com suas vivências e atribuindo a ela o

desenvolvimento cognitivo e humanista; objetivos ressaltados nos PCNs, que potencializam a

leitura na Área de Linguagens e Comunicação como instrumento apto a expandir o potencial

humano em sua consciência ética, moral e social.

Ajuizar sobre o papel da leitura no espaço escolar e a sua importância para a formação

integral do aluno é tema cabível de considerações, visto que a pesquisa Retratos da Leitura do

Brasil – (2012) aponta que o professor é o maior motivador pelo gosto da leitura, seguido da

família, em específico a figura materna ou feminina responsável (RLB, 2012, p. 26).

Abordar a leitura como prática escolar envolve perceber a mescla de antíteses como

amor e ódio, prazer e tédio, alegria e desespero; distante das definições de outrora, cujos

pensamentos consideravam que a literatura encantava e acolhia sonhos ambiciosos. Para os

adolescentes contemporâneos, a leitura passa a ser uma prática pouco prazerosa, nos moldes

em que é aplicada em sala de aula.

A pressão de ‘decorar’ a gramática e saber aplicá-la faz com que a essência da reflexão

e análise do texto se perca, tornando as aulas de Língua Portuguesa e/ou Literatura por vezes

temerosas e entediantes. Assim como demonstrado na Figura 04, o prazer em apreciar textos

de várias fontes e formas segue como ápice das aulas ministradas pelos docentes com

formação em Letras, 52,9% dos professores afirma trabalhar com a leitura para essa

finalidade, destes 29,4% consideram-se bons leitores.

Quadro 03 – Dados coletados sobre a ação do ato de ler e sua prática pedagógica e

metodológica dentre as preditoras de nível 1 (professor/aluno).

Continuação

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79

Intrigante supor que um professor que se considera bom leitor, atue de forma inaudível

em sua prática profissional. A ele deveria caber à inovação, o diferente, o entusiasmo em

repassar aos seus alunos esse ‘gosto’ pelo ato de ler, em desvendar novos horizontes, em

explorar novos caminhos e aguçar a sensibilidade, no entanto, deixa passar despercebido e

monótono, em aulas meramente expositivas; o tocante mundo letrado.

Sob este prisma, são elucidativas as palavras de Maria do Rosário Magnani ao

destacar:

seu gosto [do leitor] traz marcas do aprendizado de leitura, a partir da exposição,

desde muito cedo, aos produtos da indústria cultural e ao contexto social em que

vive. Num movimento de mão dupla, suas expectativas, já trabalhadas "fora da

escola", são sondadas por e realimentadas na escola, sob a máscara de uma suposta

adequação ao gosto para que alunos gostem de ler. E, sob a aparência de divulgação

e democratização da cultura e das oportunidades educacionais, justificam- se a

oficialização e sistematização da trivialidade e do conformismo (MAGNANI, 1991,

p. 102).

Mesmo os professores não dando ênfase ao cânone ou aos romances, quanto às

preferências temáticas, a pesquisa evidencia que 72,7% dos docentes estão em sintonia com o

gosto de seus alunos, totalizando a maioria de discentes que sentem prazer em participar das

aulas de Língua Portuguesa/Literatura.

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Figura 9 – Distribuição dos registros das ações de leitura contidas no banco de dados das

variáveis preditoras do nível 01.

A causa do maior desconforto expressa na pesquisa realizada é admitir que o

professor, sujeito que deveria propagar a leitura e motivar os alunos para essa ação é

coadjuvante nesse processo, pois apenas 29,4% dos que participaram da pesquisa admitem

gostar de ler; mesmo assim, suas aulas seguem a metodologia de atividades mecânicas e

repetitivas, onde a reflexão, a comparação, a transformação, a reprodução são atividades

desnessárias ou são consideradas práticas que emitem ‘perca tempo’ ou irrelevância, seguidos

de 17,6% que se classificam como leitores específicos, 11,7% alegam não ter tempo para

realizar leituras e 5,8% não destacam a leitura/literatura como prioridade. Aspectos que

correlacionam os 1,2% dos alunos que desenvolveram o sentimento de desesperos pelas aulas

de Língua Portuguesa/Literatura, atrelados ao sentimento de tédio de 0,6% dos colaboradores.

Que forma inserir o ‘gosto pelo ato de ler’, se o próprio mediador dessa ação não tem encanto

pela leitura?

A leitura é um ato individual na produção de sentimentos em um contexto que

viabiliza a transforma do coletivo através de interações que buscam congregar o íntimo e

ficcional, com sonhos e realidade. Assim, na sala de aula, o maior incentivador e mediador do

ato de ler é o professor, pois à medida que interage com diversas formas tipológicas textuais,

y = -5x + 12 R² = 1

y = -3x + 7 R² = 1

y = 1 R² = #N/A

0

1

2

3

4

5

6

7

8

0 0,5 1 1,5 2 2,5

de

do

cen

tes

Nível de ensino (E.F.II/E.M.)

Docente leitor

Bom leitor

Leitor específico

Pouco tempo

Não é prioridade

Linear (Bom leitor)

Linear (Leitor específico)

Linear (Pouco tempo)

Linear (Não é prioridade)

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vai aguçando seus alunos a propagar a meditação, exercendo a imaginação para compor ou

(re)formular conceitos definidos.

Verídico afirmar que o professor que lê é considerado motivador, influencia no hábito

de leitura. Os dados da Figura 09 são complexos, calcula-se que 17,6% do corpo docente

exerce a leitura específica, o que indicia que o mesmo número apenas lê com a finalidade de

planejamento de aula. Diante do percentual de 11,7% que afirma a falta de tempo para a

realização de leituras, somando 5,8% que não considera a leitura prioridade; o percentual de

52,9% dos professores infelizmente não instiga a leitura na escola, engessando sua

metodologia na interpretação de pequenos fragmentos textuais para a inserção gramatical. Das

escolas pesquisadas, apenas 45,4% dos docentes utilizam a leitura como reflexão e cotejo para

com a realidade, ou seja, como contribuição para o desenvolvimento de alunos críticos.

Essa leitura crítica faz-se necessária de ser ensinada na escola pelo professor. Ela é

inerente ao ser humano, e deve ser incentivada e estimulada. Silva diz que,

ensinar a ler criticamente significa, antes de mais nada, dinamizar situações em que

o aluno perceba, com objetividade, os dois lados de uma mesma moeda ou, se

quiser, os múltiplos lugares ideológico-discursivos que orientam as vozes dos

escritores nos seus textos (SILVA, 1998, p. 30).

Os textos apresentados no cotidiano das aulas de Língua Portuguesa/Literatura devem

fazer parte do contexto do aluno e o professor deve propor reflexões profundas sobre o texto.

Para a formação de um leitor crítico, não basta trabalhar um texto do livro didático, com as

tradicionais perguntas, onde as respostas são encontradas especificamente no seguimento das

orações. O grande erro do professor é subestimar a capacidade dos alunos e a sua própria,uma

vez que a leitura tem por finalidade estimular a capacidade do sujeito de interagir com o

conhecimento de forma autônoma e informal, pois “ler é uma maneira nova de pensar, um

pensar novo” (BARBOSA; ANNIBAL; BOLDARINE, 2010, p. 51).

A situação de maior impacto apresentada no Quadro 03, intitulado “Dados coletados

sobre a ação do ato de ler e sua prática pedagógica e método lógica dentre as preditoras de

nível 1 (professor/aluno)” é percentual de 5,8% considerar que a literatura não é prioridade,

seguir esse preceito é anular o sujeito e suas lembranças. Segundo Bloom,

[...], lemos, intensamente, por várias razões, a maioria das quais conhecidas: porque,

na vida real, não temos condições de “conhecer” tantas pessoas, com tanta

intimidade; porque precisamos nos conhecer melhor; porque necessitamos de

conhecimento, não apenas de terceiros e de nós mesmos, mas das coisas da vida.

Contudo, o motivo mais marcante, mais autêntico, que nos leva a ler, com seriedade,

é a busca de um prazer. [..] Exortar o leitor a procurar algo que lhe diga respeito e

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que possa servir de base à avaliação, à reflexão. Leia plenamente, não para acreditar,

nem para concordar, tampouco para refutar, mas para buscar empatia com a natureza

que escreve e lê (BLOOM, 2001, p. 24-25).

Desta forma, despertando o pensar, o saber, o intuir e o ousar é a fórmula para

desenvolver sujeitos atuantes que irão integrar a sociedade, contribuindo para o seu

desenvolvimento. Uma vez que, o sujeito usa simultaneamente o seu conhecimento de

mundo, do texto no seu processo de construção e interpretação daquilo que lê. Portanto, a

leitura é um dos meios mais eficazes para a efetivação de novas e significativas aprendizagens

informacionais e humanas da sociedade atual.

Apesar dos PCNs da área de Linguagem e Comunicação referentes ao Ensino

Fundamental II e Ensino Médio mencionar superficialmente a leitura, o crítico Antonio

Candido reserva em seu texto Direitos humanos e literatura, lugar de privilégio a essa prática,

sendo a literatura um direito de toda humanidade, por atuar no caráter e na formação do

sujeito e salienta

a literatura tem sido um instrumento poderoso de instrução e educação, entrando nos

currículos, sendo proposta a cada um como equipamento intelectual e afetivo. Os

valores que a sociedade preconiza, ou os que considera prejudicais, estão presentes

nas diversas manifestações da ficção, da poesia e da ação dramática. A literatura

confirma e nega, propõe e denuncia, apoia e combate, fornecendo a possibilidade de

vivermos dialeticamente os problemas. (CANDIDO, 1989, p. 113).

Comungando das palavras de Candido, a literatura mesmo não tendo um papel de

destaque na conjuntura dos currículos escolares, deve ser vista como uma ferramenta de

grande poder de aperfeiçoamento e transformação. Quem lê (re)afirma seus conceitos, amplia

suas hipóteses e consegue com maior destreza olhar para o outro com sentimentos plausíveis

da espécie humana.

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3.1 A leitura que forma e transforma

A leitura tem a capacidade de influenciar nossa maneira de agir, de pensar e até

mesmo de falar. Com a prática da leitura tudo isso é expresso de forma clara e objetiva,

pessoas com ativa participação no mundo das palavras possuem um bom acervo léxico e, por

isso mesmo, entram mais fácil no mercado de trabalho, ocupando cargos gerenciais e de

diretoria.

Expandindo o exercício da leitura para escola, verifica-se que o trabalho de inserção

ao mundo da leitura prazerosa se esvai do 5º ano em diante (ensino Fundamental I), quando os

professores começam a adotar como atividades fechamentos de leitura, tornando o ato de ler

meramente obrigatório, com histórias muitas vezes desinteressantes para os alunos e, outras

vezes, como forma de castigo por atitudes inconvenientes, manda-se o aluno para a biblioteca

com o propósito de ler enquanto a aula prossegue normalmente sema mais interrupções.

Acontece que o aluno ‘convidado a ler’ na biblioteca, torna-se arredio, quando em outra

situação for convocado a trabalhos onde o objetivo maior seja executar o ato de ler.

Novamente o professor torna-se o protagonista da (des)motivação escolar literária.

A crítica Leyla Perrone Moisés, transcreve ponderações que colocam em questão a

desvalorização progressiva da literatura na escola, principalmente a pertencente ao Ensino

Médio, no momento em que afirma:

Vivemos numa época de informação coletiva e rápida, e a leitura literária é uma

atividade solitária, lenta e que, para ser bem feita, precisa ser apreendida. Respostas

simples às grandes questões filosóficas e existenciais passaram a ser buscadas, por

aqueles que ainda leem, em manuais de autoajuda, mais reconfortantes do que os

textos literários. (PERRONE-MOISÉS, 2005, p.346)

Permitindo considerar que o exercício de ‘pensar’ é fatigante, arcaico e emana de

muito tempo. Sendo cada vez mais comum, a busca por respostas breves e superficiais do que

propriamente emiti-las segundo suas convicções, experiências e conhecimentos.

O processo de formação de leitores inicia na família, segue na fase escolar e posterior

na maturidade; o ato da leitura torna-se essencial gradativamente no meio social e profissional

à medida que o sujeito vai evoluindo, pois proporciona conhecimento, enriquece o

vocabulário, dinamiza o raciocínio fazendo com que, o sujeito interaja, reflita, dinamizando

suas ações no meio em que atua, ou seja, na leitura concentram-se vários sentidos relevantes

para a humanização do ser.

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Seria interessante, já de início, distinguir os vários sentidos com que se toma a

leitura. Leitura vista em sua acepção mais ampla, pode ser entendida como

atribuição de sentidos, daí ser utilizada indiferentemente tanto para a escrita como

para a oralidade. Diante de um exemplar de linguagem, de qualquer natureza, tem-se

a possibilidade da leitura. Pode-se falar, então, em leitura tanto da fala cotidiana da

balconista como de Aristóteles. “Por “outro lado, pode significar “concepção” e é

nesse sentido que é usada quando se diz” leitura de mundo” esta maneira de se usar

a palavra leitura reflete a relação com a noção de ideologia, de forma mais ou menos

geral diferenciada. No sentido mais restrito, acadêmico, leitura pode significar a

construção de um aparato teórico e metodológico de aproximação de um texto

(ORLANDI, 2008, p.8).

Assim, de caráter polissêmico a leitura de significação ampla, contempla além das

várias faces descritas pelo autor, a ‘leitura de mundo’, realizada pelos sujeitos a todo instante,

sem que percebam, propiciando aprendizagens diversas.

Em sala de aula essa leitura cognitiva vasta é considerada ainda mais complexa,

ponderando que, em muitos casos, o livro didático é o único instrumento usado para a leitura

e, a escola o único espaço de contato com a mesma. Por isso a importância jaz em viabilizar o

trabalho pedagógico apresentando a diversidade de gêneros discursivos existentes, bem como

seus objetivos. Deveras também, oferecer condições para que os alunos despertem para o

gosto e o compromisso para com a leitura, mostrando a eles o caráter desafiador do ato de ler.

Assim, despertando-os para uma leitura crítica do escrito, reflexiva para com o cotejo do real

e o fictício e atuante para a inspiração de novos conceitos.

Esse papel de mediador deve ser desempenhado pelos professores em geral, sem ser

tarefa exclusiva do professor de Língua Portuguesa/Literatura, em todas as disciplinas a

leitura deve ser desenvolvida e influente. Aos professores, independente da área curricular,

cabe à tarefa de promover a leitura de textos que devam ser aprofundados para que todos

vivenciem o encantamento da descoberta de sentidos originada nos livros, dialogando com a

realidade e formando para a cidadania.

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Quadro 4 – Abordagem da formação docente em Letras e seu conhecimento sobre os

objetivos que compõe os PCNs na sua prática pedagógica.

Continua

Demonstra-se no Quadro 04 o apoio total dos professores à motivação para a leitura,

independente de sua área de atuação, o que ratifica a preocupação para com o afastamento

literário e a baixa compreensão e interpretação textual evidenciada pelos alunos em geral.

Quadro 5 – Distribuição dos índices de incentivo à leitura por parte do corpo docente das

escolas.

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Figura 10 – Distribuição dos índices de incentivo à leitura por parte do corpo docente das

escolas.

O Quadro 04 revela que 100% dos alunos admitem ocorrer motivação para a leitura

por parte de todos os professores, independente sua área de atuação, os mesmos 100%

responderam que a leitura humaniza, no entanto ao descrever o porquê, notificou-se que

68,6% não justificaram suas respostas com significação, ou seja, o ‘humanizar’ foi

compreendido como a escrita ortográfica correta, a leitura dinâmica e a oratória formal, fato

preocupante, uma vez que humanizar exige um amplo e pleno desenvolvimento, não apenas

com relação à esfera cognitiva, mas, e, principalmente, no que tange a construção do próprio

ser no seu meio social. Apenas 31,4% dos alunos participantes explicaram que o ato de ler é

aprendizagem contínua, que eleva a associação de ideias, projetos, agiliza a inteligência, abre

caminhos para a curiosidade da pesquisa e desperta a sensibilidade.

A leitura é um instrumento mediador, que auxilia o trabalho pedagógico do educador,

proporcionando aos seus educandos condições indispensáveis para o bom desenvolvimento,

carecendo ser compreendida como processo de compreensão abrangente, envolvendo

componentes sensoriais, emocionais, intelectuais, fisiológicos, neurológicos, bem como

culturais, econômicos e políticos.

No entanto, não é desta forma que os alunos compreendem a leitura. Como exposto na

Figura 10, a maior parte do corpo discente percebe a leitura como mero instrumento avaliativo

chegando a 37,8% o número com essa percepção. Observando a faixa etária, esse percentual

tende a diminuir afastando espaço para a funcionabilidade de a leitura resumir-se a ortografia,

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22,5% dos participantes com idade de 11 anos; a memorização de regras gramaticais atinge o

percentual de 18,2%; seguido de 10,9% que acreditam que a leitura tenha finalidade de

ensinar a escrever e 10,3% que sua principal função seja a comunicação.

Complicado condicionar o ato de ler como a melhor maneira para humanização do ser,

quando a escola aplica o mesmo com finalidade avaliativa, sem que haja a exploração dos

textos como intermédio a novos conhecimentos cognitivos e sociais.

Figura 11– Distribuição dos índices sobre o propósito da leitura em sala de aula.

O professor é o agente fundamental para a desmistificação de falsos conceitos sobre o

propósito da leitura e a aquisição do prazer e do gosto pelo ato de ler de seus alunos,

propondo objetivos claros e utilizando uma metodologia que permita atingi-los. E isso se dá a

partir de uma concepção de leitura que lhe forneça subsídios para criar, inovar e valorizar

dando ênfase ao trabalho desenvolvido sobre o dialogismo.

A palavra ‘humanizar’ vinculada à leitura teve seu conceito desapropriado, quando foi

incluída como uma habilidade que pode ser adquirida em sala de aula. Humanizar por

intermédio da leitura é,

o processo que confirma no homem aqueles traços que reputamos essenciais, como

o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo,

o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso

da beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor.

0% 20% 40% 60% 80% 100%

11 anos

12 anos

13 anos

14 anos

15 anos

16 anos

17 anos

18 anos

Percentual

Idad

e d

os

alu

no

s

Funcionabilidade da leitura

Ortografia

Comunicação

Produção textual

Memorização de regras

Avaliação

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A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna

mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante

(CANDIFO, 2004. p.180).

A literatura além de propiciar novas experiências através de códigos impressos de

ordem ficcional permite contato com realidades que, muitas vezes, se separam das práticas

sociais. Essa experimentação de vivências singulares permite ao leitor estados ora de lucidez,

ora de devaneio produzindo sentidos, que evadem à lógica habitual, no mesmo instante que

revela, em meio a camuflagem, verdades automatizadas.

Nessa definição, a prática da leitura é fundamental para o processo de formação

humana, permitindo a discussão, dentre os membros integrantes da escola, de assuntos

polêmicos e atitudes vigentes, numa dinâmica onde o sentimento de liberdade que a

acompanha o leitor, lhe permite emitir seus próprios juízos sobre os fatos do cotidiano que os

precede.

Figura 12 - Distribuição dos percentuais referentes à questão – ‘A leitura humaniza?’

Apropriado observar que 93,7% dos alunos representantes das escolas localizadas na

zona rural do município de Frederico Westphalen creem que a leitura humaniza, seguido de

76,5% dos que incorporam as escolas periféricas. Apenas 59,1% dos alunos que agrupam as

Humaniza Não humaniza Em partes Não justificou

Rural 45 2 1

Bairro 1 1 1 18

Central 9 1 13

Periférica 36 2 7 2

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90%

100%

Po

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Humanização através da leitura

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89

escolas centrais acreditam na humanização através da leitura, cabendo à escola de bairro o

maior índice sem justificativa 85,7%.

Como possíveis hipóteses para esses números é que a escola localizada no bairro não

se deteve de tempo e/ou houve pouca motivação para justificar a questão, uma vez que o

horário do recreio se aproximava. As escolas localizadas na zona rural conservam valores

perpassados por gerações como a solidariedade, o respeito e a humildade, o que permitiu uma

maior adesão a pesquisa, pois a família é comprometida com a escola; nas escolas periféricas

há um amplo anseio por melhorias no ambiente escolar e social, fazendo com que todos os

membros vinculem forças para toda e qualquer atividade que possa reverter a realidade

violenta com a qual convivem. Cabendo as escolas centrais a preocupação em administrar os

conteúdos estabelecidos para preparar os discentes às imediatas seleções classificatórias que

irão concorrer.

Retrocedendo ao Quadro 02, o qual indica que 47,0% dos professores possuem

experiência de mais de dez anos em atividades de sala de aula, é possível confrontar seu

conhecimento da legislação (PCNs), com sua prática metodológica observando o Quadro 04.

Quadro 04 – Abordagem do incentivo à leitura na escola, sua importância social e

formação/atualização do corpo docente.

Continuação

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Como mostram os dados estatísticos, 5,8% dos professores conhecem totalmente os

PCNs da área de Comunicação e Linguagem, 17,6% menciona sempre buscar encontrar-se

atualizado, 29,4% relata fazer uso dos mesmos em seu planejamento didático e apenas 5,8%

têm conhecimento dos mesmos, mas ignora sua aplicabilidade. Impossível não indagar como

70,8% conhece, utiliza e ampara seus planejamentos nos registros dos PCNs e mesmo assim,

temos relatos de 1,8% dos alunos que desencadearam sentimentos negativos as aulas de

Língua Portuguesa/Literatura, sendo que 52,9% dos professores desenvolvem suas aulas com

o sustentáculo do livro didático, onde a interpretação busca solucionar atividades gramaticais.

Fato que gera indagações há contradição entre teoria e prática, ou nas respostas dos

professores?

Ao confrontar as respostas dos participantes expostas no Quadro 04, todos os

professores de alguma forma incentivam o ato de ler, ocorrência que não abstém a prática de

muitos professores de Língua Portuguesa/Literatura, em que a leitura é tida como obrigação,

avaliação a até castigo para atividades não realizadas, transformando a leitura em um ato

monótono, ou seja, um sistema de trocas, se o aluno desenvolve a atividade conforme

orientação do professor alcança boas notas na avaliação, caso contrário, é seriamente

prejudicado. Desta forma a reflexão, a opinião e o debate acerca do texto são deixados de

lado, impedindo a humanização embasada na criticidade e culminando com 45,1% das

respostas do Quadro 03, que aponta que o gosto pela leitura por parte dos alunos é ‘pouco’.

Procurar reverter essa angústia literária agora passa a ser de competência da escola,

uma vez que a família não tenha transmitido o gosto literário, mais precisamente dos

educadores. Cabe ao corpo docente entender que a tarefa de preparação do ato de ler passa

não apenas pela ação visual-motora, mas que requer um reconhecimento das vivências

culturais do público a quem se destina. Nesse sentido, para Bordini e Aguiar,

a formação escolar do leitor passa pelo crivo da cultura em que este se enquadra. Se

a escola não efetua o vínculo entre a cultura grupal ou de classe e o texto a ser lido,

o aluno não se reconhece na obra, porque a realidade representada não lhe diz

respeito. Mesmo diante de qualquer texto que a escola lhe proponha como meio de

acesso a conhecimentos que ele não possui no seu ambiente cultural, há a

necessidade de que as informações textuais possam ser referidas a um background

cujas raízes estejam nesse ambiente (BORDINI; AGUIAR, 1993, p. 17).

Essas ideias corroboram a tese de Bourdieu (1997), cujo pensamento expõe que há

peculiaridades entre espaços geográfico/sociais de um mesmo município e essas representam

grande importância para o desenvolvimento coletivo. As autoras citadas afirmam que é

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necessário relacionar a obra trabalhada pelos educadores com a cultura da sociedade da qual

os educandos fazem parte, para que o aluno consiga se identificar com as informações

contidas nos textos literários e compreenda a literatura, pois, na medida em que o aluno lê

uma obra literária e explora as informações, logo relaciona com o conhecimento cultural que

possui, assim realça questões significativas para ele.

No que diz respeito ao compromisso com a leitura, o papel de influenciador não é só

do professor de língua portuguesa, e sim de todos os educadores que trabalham em favor do

conhecimento crítico, com a finalidade de aprimorar o desenvolvimento da capacidade

cognitiva do ser humano, colaborando para a reflexão e expressão do pensamento,

promovendo a habilidade para argumentação tanto escrita quanto oral, aspectos importantes

para todas as disciplinas curriculares.

Nesse sentido, Antonio Candido defende sua ideia da relação da literatura com a

humanização, pois a leitura do texto literário corresponde a

uma necessidade universal que deve ser satisfeita sob pena de mutilar a

personalidade, porque pelo fato de dar forma aos sentimentos e à visão do mundo

ela nos organiza, nos liberta do caos e portanto nos humaniza. Negar a fruição da

literatura é mutilar nossa humanidade (CANDIDO, 2004, p.186).

O estímulo à leitura de textos literários resulta em uma educação que desperta não

necessariamente conhecimentos específicos, mas uma sensibilidade que permite o

questionamento do mundo e o desejo de mudança da condição de mediocridade a que o ser

humano é muitas vezes submetido.

Para aventurar uma justificativa do porquê da disparidade entre teoria e prática no

contexto escolar, Bordini e Aguiar (1993) apontam que o ponto de vista econômico promove

expansões para o educacional, de forma que tudo o que for trabalhado em sala de aula precisa

trazer alguma espécie de produtividade para o mercado de trabalho. Sendo a leitura uma

atividade de nível intelectual, que não proporciona um acúmulo direto e imediato ao capital

econômico, não tem sido uma atividade valorizada na sociedade competitiva e comprometida

com o materialismo, marco da era contemporânea.

As etapas de leitura, na maior parte das vezes, restringem-se aos níveis de

decodificação e de compreensão. A interpretação, momento em que é vivenciado o diálogo

autor/leitor/texto/contexto, não é enfatizada e, algumas vezes, excluída.

Um dos fatores atribuídos a essa realidade é a má formação tida pelos docentes

licenciados em Letras, transparente no Quadro 04, para 29% dos professores sua graduação

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forneceu conteúdo oportuno ao curso, mas deixou a desejar na metodologia, 53% expressou

que o curso de Letras deixou a desejar quanto ao conteúdo e apenas 18% afirmaram ter

recebido, durante a graduação, todos os subsídios necessários para a prática docente. Entender

a formação reflexiva pressupõe um investimento no sujeito da aprendizagem, na percepção e

análise de suas experiências, de seu saber, do contexto de onde vem e das condições de seu

processo de formação.

Figura 13 – Distribuição dos conceitos sobre a formação do curso de Letras dentre os

docentes que colaboraram com a pesquisa.

Repensar a formação dos profissionais dos cursos de licenciaturas em Letras,

desmembrando conceitos curriculares de concepções tradicionais de linguagem, pode vir a ser

o primeiro passo para a formação de professores reflexivos sobre seu papel enquanto leitores

e produtores de textos diante de uma sociedade em que a leitura e a escrita, muitas vezes, não

se concretiza como práticas rotineiras.

Oliveira (2004, p.03), discutindo a formação inicial de professores de língua materna,

ressalta que a maioria do corpo discente “reconhece como disciplinas fundamentais à sua

formação aquelas relacionadas à área da Linguística e da Língua Portuguesa”. Muitos

universitários que, se encontram cursando a licenciatura em Letras, reconhecem desconhecer

os textos integrais dos PCNs, relacionados ao ensino de Língua Portuguesa nos níveis de

Ensino Fundamental e Médio e, “o que é mais grave, não conseguem estabelecer relações

29%

53%

18%

Curso de Letras

Forneceu conteúdo mas deixou a desejar na metodologia

Deixou a desejar quanto ao conteúdo repassado

Forneceu todos os subídios necessários para a prática docente

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entre os conteúdos neles apresentados e aqueles de sua formação” (OLIVEIRA, 2004, p. 03),

fato constrangedor para os cursos de Letras, cuja tarefa é a formação de novos profissionais.

Dessa forma, as análises apresentadas evocam a capacidade de explicitar qualquer

início de experiência, pois todo o relato contém uma carga emocional que comungou ou não

de uma atitude e/ou conceito, provocando a compreensão/leitura dos posicionamentos que

desembocam nas atitudes assumidas pelos educadores e educandos em um mesmo espaço, o

ambiente escolar.

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CONCLUSÃO

A proposta desse trabalho consistiu em refletir sobre a leitura na escola como prática

humanizadora, averiguando as condições sob as quais se processa o ensino das disciplinas de

Língua Portuguesa/Literatura nas escolas estaduais pertencentes ao município de Frederico

Westphalen R/S, pelo viés da análise Multinível. Assim, é possível concluir que a postura do

‘ato de ler’, largamente disseminado através de programas de incentivo à leitura literária em

meados dos anos 80, acabou por gerar um processo e uma mentalidade de facilitação, onde

códigos linguísticos são decifrados para a execução de tarefas escolares exigidas pelos

professores da área de Linguagens e Comunicação, classificadas como repetitivas e/ou

avaliativas sendo, abominada pelos alunos.

Por deixar de compreender o real sentido da palavra ‘leitura’, sua finalidade e

compromisso para com o desenvolvimento pleno do sujeito, a literatura na escola não tem

contribuído de maneira eficaz para a formação de leitores. Isso se deve à fluidez

contemporânea cujo propósito educacional não contempla a reflexão e, se agrava perante às

más práticas pedagógicas, o currículo extenso para ser estudado, o tempo restrito do docente

para dedicar-se a planejamentos de aulas instigantes, o baixo poder aquisitivo do repasse

(governamental) escolar para a aquisição de acervo literário atualizado, a não compreensão

adequada da legislação, a desatualização formativa docente, a pressão da sociedade para

preparar seus filhos à disputar uma vaga para a universidade, dentre outros.

Dos resultados apurados, observa-se a existência de correlações significativas nos

itens de aspeto comportamental e estatuto intelectual em praticamente todas as questões. Este

fato sugere que existe interdependência entre as atitudes face ao interesse pela leitura e o

autoconceito dos alunos, uma vez que, os índices de porcentagem apurados assemelham-se

entre si.

De acordo com o depoimento de um aluno – escola localizada na zona rural: “A

leitura/literatura pode influenciar na nossa vida sim, eu não leio muito, mas consigo ver o

quanto a leitura é importante”.

Como demonstra o depoimento, os alunos sabem da importância que têm a leitura,

embora não a pratiquem. Essa facilitação escolar, discorrida acima, aliada ao currículo

defasado, e certo descompromisso por parte do professor, faz do processo educativo nada

mais que um reforço de continuidade ao retrocesso educacional formativo já conhecido. Em

decorrência disso, ações docentes que atendem apenas seus próprios gostos literários,

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subestimando o potencial do aluno e a sua compreensão perante o novo, confirmam os

padrões culturais sustentados pelo governo, diante de uma sociedade consumista e alienada.

Sem propiciar novas e diferentes leituras, por considerá-las difíceis, com linguajar

rebuscado e/ou esdrúxulo, desconexo do que sugere o currículo e diferente do gosto do

docente, a escola deixa de interferir no processo de maturação e reflexão do leitor. Perde,

com isso, a oportunidade de levá-lo a pensar e questionar suas leituras e sua própria vivência,

a ampliar sua compreensão e seu vocabulário, além de privá-los da apreciação de novos

gêneros textuais e conhecimento de diferentes autores.

Mesmo apresentado como um dos objetivos para o ensino da literatura, o

desenvolvimento da criticidade no aluno, as atividades que norteiam as aulas de Língua

Portuguesa/Literatura, no que tange à leitura, evidenciam a presença de objetos de estudo

sequencial e sistemático, onde a memorização, as atividades que dispensam a reflexão e a

marcação da periodização, não prima por desafiar os alunos a uma análise mais detalhada e

cognitiva perante o texto. Ao adotar uma atitude cômoda frente à leitura, a escola desestimula

os indivíduos a percorrer caminhos desconhecidos sendo que, posteriormente ressalta a

impotência dos mesmos, em assumir uma atitude crítica e/ou desafiadora, atitude que cabe

ponderações quanto o papel da instituição educandária, para a formação humana plena.

Para outro aluno de uma escola central/elitizada: “A leitura influencia na minha

imaginação para fazer textos, na minha dicção, em provas como o ENEN, o vestibular, as

redações,... Enfim, o Português influencia em toda minha vida”.

De fato, na mente de muitos alunos, que se veem às voltas com leituras que objetivam

o preenchimento de fichas na escola ou o cumprimento de uma imensa lista de leitura prévia

imposta pelos grandes vestibulares, à literatura é mesmo inútil frente a sua ímpia condição de

humanizar. No entanto, a leitura que aceita, que reflete, que reage, que disponibiliza, reafirma

sua amplitude e renova a crença de criação e autonomia de identidade, esta é a idealizada por

todos. O depoimento de um discente pertencente a uma escola central tida como elitizada,

demonstra com fidelidade o propósito da leitura para as escolas com localização geográfica

central - seleção e avaliação.

Por meio da análise realizada, através do instrumento Multinível, acentua-se a

necessidade da escola resgatar o real propósito da leitura, a reflexão e interação entre

autor/leitor/texto/contexto, como elemento agenciador das transações sociais, dentre o

indivíduo e o ambiente em que está inserido.

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A leitura não pode ser pautada apenas pelo que determina o currículo, o gosto do

professor ou o prazer do aluno, mas exercitar e provocar a capacidade do sujeito em perceber

os ingredientes textuais e os sentidos deles emergentes, de acordo com Elder e Paul,

o questionamento interior enquanto se processa a leitura, deve incidir nas razões, nas

finalidades, nos objetivos de tal leitura, nos propósitos, ideias principais e

inferências do autor do livro e deve estar acompanhado de uma reflexão sobre o

próprio entendimento do que está expresso, do seu significado, da sua importância

na vida ( ELDER; PAUL, 2002, p. 33).

De maneira que o entendimento textual requer primeiramente a crítica individual,

buscando novas interferências e novas implicações, realizando conexões entre o real e o

fictício, proceder a essa análise crítica requer operações mentais mais complexas do que

simples recepção de informações. Ler e refletir sobre o que se lê à medida que se lê é

essencial para o alargamento de conhecimentos cognitivos e automaticamente, o

desenvolvimento de sentimentos capazes de humanizar, de tornar o indivíduo ativo nas

decisões sociais, culturais e econômicas de seu meio.

O depoimento de um aluno de uma escola periférica revela: “Cada vez que leio algum

livro de temática que eu goste, eu subo alto, sonho com o que está acontecendo e isso é um

prazer ou até mesmo por descobrir coisas novas, é maravilhoso dividir com o autor meus

sentimentos”.

A subjetividade concomitante com a literatura se faz principalmente por meio de

textos que permitam a sensibilização, que façam desse leitor em potencial um leitor crítico,

capaz de transformar o mundo em que vive em um mundo melhor, menos automático,

instantâneo, veloz, concorrido e seletivo, acostumado a apertar teclas e emitir ordens, sem

refletir sobre o lugar do indivíduo como ser social. O sujeito, por natureza, é inconformado

diante da fragmentação vivida no contexto social, buscando constantemente atribuir sentido à

existência, a sua presença no mundo, por esse viés a leitura com o papel de humanizar deveria

ser exercida na escola.

Muitas vezes a realidade não nos basta nesse processo de interpretar, é preciso

(re)inventá-lo; ir além da realidade. E essa possibilidade é aberta pela chamada arte da

palavra, a palavra literária. Segundo Gabriel Perissé, “a palavra literária será, neste caso, a

palavra viva, vivificadora, provocadora, cheia de sentido, humanizadora, criadora de

vínculos.” (PERISSÉ, 2006).

É adequado destacar que as opiniões do corpo discente quanto docente expõem

aspectos considerados importantes para a efetivação da leitura no ambiente escolar e como

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esse ato pode intervir na humanização individual e posterior inserção social. No entanto, para

que isso se concretize o exemplo de bom leitor deve encontrar-se em sala de aula, mas

precisamente impregnado no cotidiano do professor.

O professor leitor transforma a literatura em matéria de identidade, onde através do ato

da leitura é possível pensar sem interferir na obra, mas aprimorar o próprio ser, a própria

existência, reformulando a própria identidade e, através da sua compreensão criar possíveis

soluções para problemas existenciais, fazendo com que repercutam de forma positiva na

sociedade.

“Eu gosto muito de ler, pois com a leitura a gente aprende a viver, a gente aprende

coisas novas, a gente viaja dentro do livro, a gente conhece o mundo do livro e com isso a

gente aprende mais”, depoimento de um aluno de uma escola de bairro distante do perímetro

central.

A presença da literatura no ambiente escolar desde os anos iniciais e a sua

obrigatoriedade como disciplina do currículo, a partir do ensino médio, permite a reflexão

sobre a forma como vem sendo conduzido o ato da leitura na escola. Primeiramente, consiste

em questionar o papel da literatura na sociedade que temos e que queremos ter e a sua

importância na construção de subjetividades pessoais e sociais tanto no ambiente escolar

como na sociedade em geral. Faz-se pertinente questionar porque a existência da aula de

literatura no currículo escolar e se é possível ‘ensinar’ a ler.

Observou-se no momento de responder o questionário apresentado da pesquisa, que a

grande maioria dos alunos decodificava rapidamente as questões, sem que houvesse um

respaldo dentre o seu conhecimento de mundo que corresponde às suas experiências e

vivências, os quais são essenciais para a compreensão e a identificação com a questão

expositiva e sua prática, como se fora um ‘hábito adquirido’, de afobação para concluir a

presente tarefa, sem valer-se dos processos perceptivos e cognitivos, habilidades

indispensáveis para uma leitura crítica e consciente.

Sob este aspecto, a pesquisa retrata o cenário displicente da escola, pois em momento

algum os discentes foram alertados, por parte de seus professores, da importância da leitura

para responder e colaborar eficientemente com o trabalho apresentado e posterior criação de

hipóteses para amenizar os eventuais problemas detectados. Transmitindo a impressão de que,

a situação da leitura nas escolas não tem solução e/ou agravantes.

De certa forma, a situação descrita pode justificar parte do envolvimento e

afastamento literário alusivo os alunos. “A leitura influencia apenas para fazer resumos e

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ganhar nota. Quando a professora pede para ler é para fazer resumo. Detesto ler!”, este é o

depoimento de um aluno de uma escola central/elitizada.

Para despertar nos discentes a voracidade pela leitura é importante que a literatura não

tenha a mesma conjuntura de avaliação; que os livros apresentem assuntos de interesse dos

alunos; que os instiguem a almejar o derradeiro da narração; assim como, os textos adequados

realidade em que se insere o aluno. Uma vez que, o propósito da leitura seja acrescentar

inovações e descobertas para romper as correntes dos velhos padrões estéticos e conceituais

proporcionando a formação do espírito crítico.

Cabe à escola não esquecer que o leitor se constrói e lapida a partir de novas leituras,

de novos dados que, acrescidos aos de seu domínio prévio, interferem na sua forma de ver e

entender o mundo. Fator apontado pela maioria dos professores, ao destacar a importância da

leitura no crescimento intelectual dos alunos, embora em sua prática docente, nem sempre se

execute, lembrando que a maioria das aulas referente às disciplinas de Língua

Portuguesa/Literatura são articuladas por meio de atividades de fixação com o intuito

gramatical. Felizmente, apenas um dos professores estima que a literatura não seja prioridade

em sala de aula, ao oposto dos demais este, nem cogita a possibilidade de afoitar-se no

universo da leitura.

Para um aluno de uma escola localizada na zona rural, o tripé (autor/obra/público), tão

mensurado pelo teórico Antonio Candido é sustentado: “A leitura/literatura me influencia de

maneira muito positiva, pois me dá o conhecimento e a aprendizagem. Quando leio consigo

entender o que o autor quer expressar”.

No caso da dimensão do prazer em ler, obtiveram-se correlações significativas e

positiva sendo a grande maioria favorável ao ‘gosto’ pela leitura, pode-se entender que, esse

gosto contribui para um autoconceito e autoconhecimento do indivíduo, no que diz respeito ao

cognitivo e social. As correlações significativas negativas obtidas fazem depreender que uma

postura contrária face à leitura induz o indivíduo a uma noção de inerme de aquisição

cognitiva, uma vez que, através do ato da leitura o sujeito é capaz de compreender-se e

relativamente entender aspectos e situações que fazem parte do mundo e da realidade

contemporânea em que vivem, sem que sejam corrompidas suas concepções de valores

inerentes a sua cultura e sentimentos de ordem humana.

Uma possível explicação pode ser o fato de que ler não seja uma das atividades

favoritas da maioria dos alunos na era tecnológica existente ou ainda sujeitos que revelam

atitudes positivas face à leitura nem sempre são os mais populares ou os que têm uma

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autoimagem mais positiva, isto é, quem lê é considerado, pelos demais, ultrapassado e nerd

15,

não interatuando com o grupo dos chamados ‘populares’ e muitas vezes sendo motivo de

chacotas.

Deprimente saber que culturas impresumíveis como esta, se alastra pelas escolas

estaduais do município de Frederico Westphalen, sendo considerado mais um empecilho

dentre os jovens quando o assunto é leitura, pois a estética e popularidade dos indivíduos

dessa idade é considerada algo de suma importância. Infelizmente quem exerce a prática da

leitura sofre bullying16

e não é considerado atraente para ser membro do ‘grupo dos

populares’.

Culturas deste padrão carecem de intervenção não apenas escolar, mas familiar,

estrutural e governamental para que haja conscientização em massa que a prática da leitura

não é pejorativa, mas humanizadora. Por isso, enquanto a gramática absoluta e repetitiva,

assim como a periodização literária, continuar sendo praticada com afinco, a escola corre o

risco de afastar ainda mais os alunos da leitura, condenando-os a preparações ociosas para

exames de qualificação e seleção, sem preocupar-se com a função social de prepará-los para a

convivência com o próximo.

Markland (2011), afirma que a leitura é a competência mais importante para uma vida

feliz, produtiva e de sucesso e que as crianças que mantêm bons hábitos de leitura são mais

confiantes, revelam maior autoestima e mostram-se mais abertas para a aprendizagem. A

autora afirma, ainda, que cerca de metade dos adolescentes e adultos com antecedentes

criminais ou ligados ao consume de substâncias apresenta dificuldades nas competências da

leitura – exterioridade observada na ocupação geográfica das escolas dentro do perímetro

municipal, assim como, o clima disciplinar correspondente a elas em suas localizações e

clientela.

“Ler é perder tempo, minha vida não depende da leitura, apenas de mim”, depoimento

de um aluno – escola periférica, onde o alto índice de violência, consumo de entorpecentes e

baixo rendimento escolar alcançam os maiores índices dentre os sujeitos.

Em síntese, podemos afirmar que comportamentos positivos frente à leitura,

contribuem para várias dimensões do autoconceito e da autoestima dos sujeitos como, o

relacionamento brando, sem discriminação com os outros e consigo mesmo.

15 Indivíduo que se dedica ao estudo e atividades intelectuais. 16 Termo utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por

um indivíduo ou grupo de indivíduos.

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Verifica-se, ainda, que o saber pode ser convertido em fruição e as obras da cultura

literária sensibilizar para a vivência com o outro, despertando a compaixão, o amor e a paz,

tão almejada; podem constituir uma via cognitiva para o conhecimento e, assim, atingir a

eficácia. As emoções podem se unir a uma crítica das emoções, a um julgamento das

emoções, sem que ambos percam a acuidade.

Ponderando que na escola há um espaço determinado para a leitura e estudos literários

(biblioteca), mesmo ciente da precariedade desses ambientes, da falta de profissionais

adequados e acervos literários desatualizados, deve-se por outro lado, investir a renovação

metodológica como forma de possibilitar a emancipação do aluno. Sob este aspecto, Regina

ZILBERMAN acentua que:

se ao professor compete modificar sua atuação como condição de transformar o

ensino, igualmente é imprescindível associar esse fato, de um lado, à recuperação da

base metodológica, de outro, à pesquisa de metodologias renovadoras. (...) De modo

que, se o professor deseja dar direção transformadora à sua prática, não pode

desvinculá-la do recurso a metodologias emancipadoras, recurso a metodologias

emancipadoras (ZILBERMAN, 1991, p. 67).

Mais uma vez se evidencia a importância do professor como agente impulsionador de

mudanças, mudanças que afetam não apenas o sujeito que frequenta a escola, mas toda a

comunidade escolar e a própria sociedade.

Mudar estratégias de ensino, norteando-se por moldes terceirizados não é suficiente

para que as aulas de leitura atinjam a eficácia esperada, transformando o hábito de 1er numa

necessidade que perdure mesmo quando os estudantes já estiverem distantes dos bancos

escolares, é preciso reformular, transformar, agir em prol a formação individual, aspirando

uma sociedade digna, justa, honesta, onde a humanidade valha mais que o materialismo e os

sentimentos possam ser manifestados através de um texto escrito.

Mais do que ensinar a decifrar os códigos da escrita, a escola deve, numa perspectiva

emancipatória, preocupar-se em transformar o leitor num usuário dos “escritos sociais

sabendo encontrá-los onde eles estão”. Para tanto, há que se ter clareza de que “o leitor não é

aquele que lê o livro que lhe é proposto, mas aquele que cria seus próprios meios de escolher

os livros que irá 1er, que pratica uma atividade 'metaléxica' nas colunas dos jornais, na

livraria, na biblioteca” (FOCAMBERT, 1994, p. 135).

Partindo do princípio de que o leitor lê para si e não para a escola, esta deve rever suas

posturas e encaminhamentos visando a implementação de habilidades e práticas de leitura

adequadas ao exercício pleno da cidadania. Dentro das limitações apresentadas na presente

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pesquisa, se espera contribuir para que os dados aqui expostos e discutidos possam servir de

parâmetros para que professores, alunos e escola, incluindo a universidade, assumam suas

deficiências e busquem soluções para o ensino em sua plenitude, acondicionados pela certeza

de que a leitura é o caminho para a formação individual humanizadora do cidadão e sua

participação ativa e critica na sociedade.

Abrir os olhos, o coração e a mente, é uma possível hipótese para reverter o quadro em

que se condiz à leitura nas escolas estaduais do município pesquisado; expressão utilizada por

um aluno de uma escola periférica ao ser questionado se a leitura humaniza: “No meu ponto

de vista a leitura de uma forma ou de outra nos abre os olhos, pois quando se lê se abre a

mente e o coração para coisas novas. Tendo opinião própria e me entendo melhor”. Assim,

entendo-se melhor o sujeito é capaz de perceber o mundo a sua volta, sensibilizar-se com

situações correntes em que a sociedade como um todo está envolvida e, mesmo carregando

por deveras a dor de alguns, possuir a capacidade de intervir criticamente com sugestões para

melhorias e/ou ações para transformações no hemisfério do qual faz parte.

Acreditando que a leitura em nível literário tem a capacidade de humanizar, mesmo

tantas circunstâncias querendo comprovar o contrário, e mantendo a utopia de uma escola que

tenha como princípio e propósito a formação plena do sujeito, concluo ser possível,

imprescindível e de imediato a alteração da cultura criada onde a leitura pode vir em segundo

plano, quando o comprometimento é educar.

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ANEXOS

I – CARTA DE APROVAÇÃO DO CEP - URI

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II – CARTA DE ANUÊNCIA – 20ª CRE

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III – CARTA DE APRESENTAÇÃO E CONSENTIMENTO - ESCOLAS

Frederico Westphalen, março de 2016.

Prezados(as) Senhores(as)

Diretores(as) de Escola e Coordenadores(as) Pedagógicos(as)

Venho, pela presente, apresentar-lhes Juliane Della Méa, minha orientanda do

Programa de Pós-graduação em Letras – Mestrado em Letras, área de concentração em

Literatura Comparada, da Universidade Regional Integrada – URI – Campus de Frederico

Westphalen, que pretende desenvolver seu trabalho de dissertação junto a professores da área

de Letras e corpo discente da instituição de ensino dirigida/coordenada pelos (a) senhores

(as).

Seu trabalho tem como tema a Leitura e Educação. O interesse principal da pesquisa

é investigar em que medida as concepções de leitura, contidas nos PCNs de Língua

Portuguesa (Ensino Fundamental) e Literatura (Ensino Médio), se encontram em consonância

com as práticas docentes dos professores com formação em Letras no que se refere às práticas

de leitura.

Dessa forma, gostaria de solicitar que Juliane Della Méa desenvolva sua pesquisa na

instituição educandária dirigida pelos senhores (as), aplicando um questionário que servirá

para identificar o perfil dos professores graduados na área de Letras em atuação, e,

posteriormente, refletir sobre suas práticas; assim como, com relação ao corpo discente e sua

atuação enquanto protagonistas da educação. Ressalto ainda que a participação é voluntária, e

que os dados coletados são sigilosos, não sendo, portanto, divulgados sem referidas

autorizações, garantindo o anonimato.

A pesquisadora firma compromisso em retornar a esta instituição, em tempo oportuno,

os resultados obtidos com a pesquisa; também se coloca disponível para esclarecimentos

necessários.

Juliane Della Méa e eu esperamos contar com vossa colaboração. Assim,

aproveitamos para antecipar nossos agradecimentos pela oportunidade concedida em prol de

uma educação de qualidade.

Profª. Drª. Ilse Maria da Rosa Vivian Juliane Della Méa

Orientadora Mestranda/Pesquisadora

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APÊNDICES

I – QUESTIONÁRIO PARA OS ALUNOS

Estimado (a) aluno (a),

Você está sendo convidado (a) a participar, respondendo o questionário, de uma

pesquisa de mestrado, cujo tema é a Leitura e o objetivo é coletar dados que possam

contribuir para o aprimoramento dessa prática de relevância pessoal e social. Sua contribuição

é de extrema importância para esclarecer algumas questões sobre essa ação no contexto

escolar. Muito obrigada por sua participação.

Juliane Della Méa

Pesquisadora

Importante: O item a seguir que contém (*) é de resposta opcional, os demais admitem uma

opção de escolha.

1. Nome*______________________________________________________________

2. Idade____________anos.

3. Ano de escolaridade:______________________

4. Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino

5. Você gosta de ler?

( ) Muito.

( ) Pouco.

( ) Leio quando sou solicitado pelo professor.

( ) Detesto ler, considero perda de tempo.

6. Quantos livros você leu no decorrer deste ano?

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( ) Nenhum livro.

( ) 1 livro.

( ) 2 a 5 livros.

( ) 5 a 10 livros.

( ) Mais de 10 livros.

7. Qual seu tipo de leitura preferida?

( ) Obras literárias (livros).

( ) Jornais e revistas.

( ) Gibis.

( ) leituras realizadas na internet.

( ) Detesto ler.

8. As aulas de Língua Portuguesa e/ou Literatura, provocam sentimento de:

( ) Prazer, em poder apreciar textos de várias fontes e formas.

( ) Repúdio, pois terei que ler para fazer resumos e afins.

( ) Desespero, pois não entendo nada do que leio ou o que o professor me cobra.

( ) Tédio, pois terei que decorar regras gramaticais.

( ) Não gosto dessas disciplinas, me identifico com as exatas. Por quê?_____________

___________________________________________________________________________

_________________________________________________________________

9. Você já participou de algum projeto literário proposto pela escola?

( ) Sim, foi muito formidável a troca de conhecimentos.

( ) Não, isso jamais ocorreu na minha escola.

( ) Sim, mas não gostei porque exigiu muito esforço de minha parte.

( ) Fui convidado, mas não aceitei me envolver com o projeto.

( ) Esse tipo de proposta possui um único objetivo, avaliar. Não participo.

10. Seus professores instigam e motivam a leitura?

( ) Sim, todos de alguma forma.

( ) Apenas os professores de Língua Portuguesa/Literatura.

( ) Não, os professores que exigem a leitura é para realizar resumos.

( ) Eles cobram, mas não deixam escolher o que gosto de ler.

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( ) A leitura é apenas para desenvolver as atividades de gramática.

11. Você considera que as aulas de Língua Portuguesa e/ou Literatura, contribuam de certa

forma, para maior reflexão, conhecimento de mundo e sensibilização humana?

( ) Sim. Porque_________________________________________________________

( ) Não. Porque_________________________________________________________

( ) Em partes. Porque___________________________________________________

( ) Poderia, se_________________________________________________________

12. Escreva seu ponto de vista sobre o que a leitura/literatura podem ou influenciam em sua

vida.

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

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II – QUESTIONÁRIO PARA OS PROFESSORES

Prezado (a) Professor(a),

É com estima e consideração por seu trabalho desenvolvido na área de Letras, como

mediador atuante da Literatura, que gostaria de contar com sua colaboração no preenchimento

deste questionário. O mesmo foi elaborado com cuidado, se tratando de um instrumento de

coleta de dados de pesquisa de campo que tem por objetivo a investigação do tema - Leitura

e Educação.

Nosso objetivo consiste em investigar em que medida as concepções de leitura

contidas nos PCNs de Língua Portuguesa (Ensino Fundamental) e Literatura (Ensino

Médio)se encontram em consonância com as práticas docentes dos professores com formação

em Letras no que se refere à leitura.

Ressalto que os dados são sigilosos e a identificação opcional, bem como me

comprometo em retornar os resultados obtidos pela pesquisa àqueles que tiverem interesse;

colocando-me a disposição para todo e qualquer esclarecimento que se fizerem necessários.

Pesquisadora: Juliane Della Méa

Contato: [email protected]

Curso: Mestrado em Letras, área de concentração em Literatura Comparada.

Importante: Os itens a seguir que contém (*) são de resposta opcional, os demais admitem

uma opção de escolha.

I. Identificação do Professor

1. Nome*______________________________________________________________

2. Idade*____________anos

3. E-mail*_____________________________________________________________

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4. Instituição na qual se graduou em Letras*_________________________________

5. Grau de escolaridade: ( ) Graduação ( )Pós-graduação Lato sensu/Stritosensu ( ) Mestrado

( ) Doutorado

6. Tempo de Magistério (como professor):

( )Menos de 5 anos ( )Mais de 5 anos ( )10 anos ( ) mais de 10 anos

7. Carga horária semanal: ( )10h ( )20h ( )40h ( )60h

8. Disciplinas ministradas:

( ) Língua Portuguesa ( ) Língua Estrangeira Inglês/Espanhol ( ) Literatura ( ) Outras

9. Número de escolas em que atua:

( ) 1 escola ( ) 2 escolas ( ) 3 escolas ( ) 4 escolas ou mais

10. Níveis de ensino: ( ) Ensino Fundamental/anos iniciais ( ) Ensino Fundamental/anos

finais ( ) Ensino Médio ( ) Ensino Médio Técnico/Magistério

II. Perfil e prática pedagógica

1. Por que a escolha pelo Curso de Letras?

( ) Gosto pela leitura.

( ) Vocação.

( ) Gostar de crianças/jovens.

( ) Gostar da disciplina/área de conhecimento.

( ) Ascensão profissional.

( ) Falta de opção.

( ) Poder trabalhar enquanto fazia o curso.

( ) Já lecionava nas séries iniciais.

2. A escolha das disciplinas que ministra na escola, se deve:

( ) Ao gosto pela leitura.

( ) À facilidade de ministrar a aula.

( ) À graduação em Letras.

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( ) À disponibilidade da escola/falta de opção.

3. Referindo-se à Leitura e/ou Literatura, como procede sua metodologia de trabalho?

( ) Refletir e analisar textos de diferentes tipologias textuais, indicados por vocêe/ou

sugeridos pelos alunos.

( ) Fazer exercícios de interpretação e compreensão textual, inserindo a gramática no decorrer

da análise.

( ) Fazer exercícios de gramática estanques, com a finalidade de gravar as normas e utilizá-las

no cotidianos.

( ) Redigir textos com base em aspectos atuais em que vive a sociedade.

( ) Fazer leituras, cópias e exercícios do livro didático.

4. Quanto à legislação vigente referente à área de conhecimento Linguagens, Códigos e suas

Tecnologias, como Lei de Diretrizes de Base (LDB), Parâmetros Curriculares (PCNs) e

outros,você:

( ) Possui total conhecimento.

( ) Leu mas desconhece sua aplicabilidade.

( ) Utilizou e utiliza em seu planejamento para desenvolver as aulas.

( ) Desconhece totalmente.

( ) Buscou sempre estar atualizada quanto às mudanças.

5. Como leitor, você se considera:

( ) Um bom leitor, pois está sempre buscando novidades no universo literário.

( ) Com pouco tempo para exercitar a leitura, pois seu trabalho consome suas horas vagas.

( ) Um leitor específico, lê o que irá lhe servir de subsídio para efetuar sua função como

professor.

( ) A Literatura não é uma de suas prioridades.

6. Refletindo sobre a sua formação acadêmica, esta:

( ) Lhe forneceu todos os subsídios necessários para sua prática como docente.

( ) Deixou a desejar quanto ao conteúdo repassado.

( ) Foi plenamente satisfatória em conteúdos e metodologia.

( ) Forneceu conteúdo, mas, por se tratar de professores sem experiência em sala de aula,

deixou a desejar quanto à metodologia.

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7. A metodologia de ensino aprendizado, a você repassada na graduação é utilizada em sua

prática?

( ) Sim, sempre!

( ) Sim, quando conveniente.

( ) Não, pois prefiro minha própria metodologia.

( ) Não, porque minha graduação não supriu essa necessidade.

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III – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – PAIS E OU

RESPONSÁVEIS

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Senhor(s) pai(s) e ou responsável(s)

É com satisfação que venho por meio deste, convidá-lo(s) a consentir que seu filho(a)

participe de um estudo de mestrado, cujo tema é a Leitura e o objetivo é coletar dados que

possam contribuir para o aprimoramento dessa prática de relevância pessoal e social.

Este termo tem como objetivo informar, esclarecer e pedir a sua autorização para a

participação de seu/sua filho(a) na pesquisa intitulada “LEITURA: aquisição de

conhecimento ou entrave na educação?”a ser desenvolvida pela professora/pesquisadora

Juliane Della Méa e pela professora/orientadora Dr. Ilse Maria da Rosa Vivian. Esta pesquisa

tem como objetivo coletar dados que possam contribuir para a compreensão de como ocorre à

relação da leitura entre os protagonistas professor/aluno no âmbito escolar e, se o ato de ler

colabora para a formação humanizadora do indivíduo.

A pesquisa será realizada na própria escola do seu filho (a), com horário específico

definido pelos participantes em comum acordo com a direção. Seu filho(a) será convidado(a)

a responder um questionário elaborado pela pesquisadora, onde ele(a) responderá questões

objetivas e descritivas referentes ao tema pesquisado.Convém destacar que este estudo é

totalmente de ordem voluntária, não havendo quaisquer dados ou custos aos colaboradores, que

poderão optar em não cooperar e ou recusar o preenchimento do questionário a qualquer

momento.

A criança e ou adolescente ou o Sr./Sra. não receberão nenhum benefício direto com a

pesquisa. Entretanto, indiretamente, a sua participação contribuirá para melhor entendimento

científico a respeito do tema pesquisado.

Todos os dados de identificação de seu/sua filho (a) serão mantidos em sigilo. O

seu/sua filho (a) poderá se recusar participar da pesquisa a qualquer momento sem que haja

qualquer problema.

Os dados coletados serão tabulados e analisados, sendo mantidos sob a guarda da

pesquisadora até o término previsto da pesquisa e posterior publicação dos resultados. Após

os dados serão então descartados e as fichas referentes serão incineradas.

Para esclarecer qualquer dúvida, o (a) senhor (a) poderá falar com a pesquisadora pelo

telefone escrito no final deste documento.

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Eu, _______________________________, acredito ter sido suficientemente

informado a respeito das informações que li ou que foram lidas para mim. Ficaram claros

para mim qual é o propósito do estudo, o procedimento a ser realizado, a garantia de

confidencialidade e de esclarecimentos permanentes. Ficou esclarecido também que, minha

participação é isenta de despesas. Concordo voluntariamente em participar deste estudo e

poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem

penalidades ou prejuízo.

Eu, _________________________________, RG____________________, declaro

que fui devidamente esclarecido (a), e estou de acordo com os termos acima expostos,

autorizando a participação de meu/minha filho (a) _____________________

______________________ nesta pesquisa.

Frederico Westphalen,RS, ____ de _______________ de 201__.

___________________________ _____________________________

Assinatura do responsável Assentimento da criança/ adolescente

____________________________

Pesquisador

Qualquer esclarecimento entre em contato com:

Comitê de Ética da URI:

Comitê de Ética da URI – Responsável: Marinês Aires

Rua Assis Brasil, 709, Itapagé, Frederico Westphalen

Telefone: (55) 3744- 9206

E-mail: [email protected]

Profª Dr. Ilse Maria da Rosa Vivian (Orientadora responsável)

Rua Décio Martins Costa, n° 430, Centro, Caçapava do Sul, CEP: 96570-000

Telefone: (55) 8441-3167

E-mail: [email protected]

Juliane Della Méa (Pesquisadora)

Rua: Aparício Borges 757, AP. 401, Frederico Westphalen/RS.

Telefone: (55) 9972-8950

E-mail: [email protected]

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IV – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – PROFESSORES

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Senhor(a) professor(a)

É com satisfação que venho por meio deste, convidá-lo(a) a colaborar com o

preenchimento de um questionário com questões objetivas referente a pesquisa intitulada

“LEITURA: aquisição de conhecimento ou entrave na educação?”a ser desenvolvida pela

professora/pesquisadora Juliane Della Méa e pela professora/orientadora Dr. Ilse Maria da

Rosa Vivian. Esta pesquisa tem como objetivo coletar dados que possam contribuir para a

compreensão de como ocorre à relação da leitura entre os protagonistas professor/aluno no

âmbito escolar e, se o ato de ler colabora para a formação humanizadora do indivíduo.

Convém salientar que este estudo é totalmente de ordem voluntária, não havendo

quaisquer dados ou custos aos colaboradores, que poderão optar em não cooperar e ou recusar o

preenchimento do questionário a qualquer momento. O participante não receberá nenhum

benefício direto com a pesquisa. Entretanto, indiretamente, a sua participação contribuirá para

melhor entendimento científico a respeito do tema pesquisado.

Os dados coletados serão tabulados e analisados, sendo mantidos sob a guarda da

pesquisadora até o término previsto da pesquisa e posterior publicação dos resultados. Após

os dados serão então descartados e as fichas referentes serão incineradas.

Todos os dados de identificação serão mantidos em sigilo e o colaborador poderá se

recusar participar da pesquisa a qualquer momento sem que haja qualquer problema. Para

esclarecer qualquer dúvida, o(a) senhor(a) poderá falar com a pesquisadora pelo telefone

escrito no final deste documento.

Eu, _______________________________, acredito ter sido suficientemente

informado a respeito das informações que li ou que foram lidas para mim. Ficaram claros

para mim qual é o propósito do estudo, o procedimento a ser realizado, a garantia de

confidencialidade e de esclarecimentos permanentes. Ficou esclarecido também que, minha

participação é isenta de despesas. Concordo voluntariamente em participar deste estudo e

poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem

penalidades ou prejuízo.

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122

Frederico Westphalen,RS, ____ de _______________ de 201__.

Qualquer esclarecimento entre em contato com:

Comitê de Ética da URI:

Comitê de Ética da URI – Responsável: Marinês Aires

Rua Assis Brasil, 709, Itapagé, Frederico Westphalen

Telefone: (55) 3744- 9206

E-mail: [email protected]

Profª Dr. Ilse Maria da Rosa Vivian (Orientadora responsável)

Rua Décio Martins Costa, n° 430, Centro, Caçapava do Sul, CEP: 96570-000

Telefone: (55) 8441-3167

E-mail: [email protected]

Juliane Della Méa (Pesquisadora)

Rua: Aparício Borges 757, AP. 401, Frederico Westphalen/RS.

Telefone: (55) 9972-8950

E-mail: [email protected]

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V – TERMO DE CONFIDENCIALIDADE

Título do projeto: LEITURA: ato de aquisição de conhecimento ou entrave na

educação?

Pesquisador responsável: Prof. Dr. Ilse Maria da Rosa Vivian

Instituição/Departamento:Universidade Regional Integrada – URI – Campus de

Frederico Westphalen R/S – Mestrado em Letras

Telefone para contato: (55) 9972-8950

Local da coleta de dados: Escolas Estaduais de Frederico Westphalen – R/S

A pesquisadora do presente projeto se compromete a preservar a privacidade dos

colaboradores cujos dados serão coletados através de questionários respondidos por alunos e

professoresvbdas Escolas Estaduais de Frederico Westphalen – RS. Concorda, igualmente,

que estas informações serão utilizadas única e exclusivamente para execução do presente

projeto. As informações somente poderão ser divulgadas de forma anônima e serão mantidas

na sala número 201 do segundo andar do prédio do Programa de Pós-graduação em Letras –

Mestrado em Letras, área de concentração em Literatura Comparada, por um período de 2

anos, sob a responsabilidade da Profª Pesquisador Drª Ilse Maria da Rosa Vivian. Após este

período, os dados serão destruídos. Este projeto de pesquisa foi revisado e aprovado pelo

Comitê de Ética em Pesquisa da URI em ...../....../......., com o número do CAAE

.........................

Frederico Westphalen,..........de ............................de 20......

.........................................................................

[Nome (ou carimbo), CI, Registro Profissional (se houver) e assinatura do pesquisador

responsável]