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Web-Revista SOCIODIALETO www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 Volume 4 Número 11 Novembro 2013 27 A LEITURA COMO PRÁTICA PEDAGÓGICA PARA OTIMIZAR A APRENDIZAGEM DAS CRIANÇAS DO 1°. E 2°. ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL Aldecina Costa Sousa (SEMEDSJR/UFMA) 1 [email protected] Jovina Maria Moura de Sousa (SMEAA) 2 [email protected] RESUMO: A leitura como prática pedagógica para estimular a aprendizagem das crianças do 1º e 2º ano do Ensino Fundamental é uma pesquisa desenvolvida com o propósito de averiguar a leitura como recurso do professor na promoção da aprendizagem em sala de aula. Para fundamentá-la as concepções de leitura de Paulo Freire e Ezequiel Teodoro são basilares, ambos defendem que ler não se resume ao simples ato de decodificar a palavra escrita, a leitura se alonga na interpretação e compreensão do mundo. Norteia-se também essa investigação nas teorias da aprendizagem de L. S. Vygotsky e Piaget, os quais afirmam que o desenvolvimento cognitivo da criança acontece a partir de sua adaptação e interação com o ambiente social em que convive. Para delinear o objeto pesquisado, fez-se uso da observação não participativa e entrevista com os professores das escolas pesquisadas, através destas obteve-se dados consistentes que revelam a leitura como prática pedagógica que otimiza a aprendizagem do aluno. Além dessa confirmação, constata-se que o ato de ler é uma prática que ainda não está, adequadamente, presente no cotidiano do fazer docente, precisa ser vista como uma atividade capaz de promover a aquisição de habilidades e competências que permitem à criança: analisar, refletir, interpretar e compreender as ações que acontecem no seu dia a dia envolvendo sua vida familiar, escolar, ou seja, as suas rel(ações) sociais. PALAVRAS-CHAVE: Leitura. Criança. Professor. Aprendizagem. ABSTRACT: This research is titled: Reading as a teacher's pedagogic practice to stimulate children's learning of the 1st and 2nd year of elementary school aims to ascertain the daily practice of reading as a teacher in promoting learning. For such reasons, the present work on the conceptions of reading Paulo Freire and Ezequiel Teodoro , both argue that the act of reading is not just the simple act of decoding the written word, but extends to the interpretation and understanding of the world. Also guided the research on learning theories of L. S. Vygotsky and Piaget, as the claim that cognitive development happens from their adaptation and interaction with the social environment in which lives. To delineate the researched object, perform non- participatory observation and interviewed the teachers of the schools surveyed, where we obtained consistent data that reveal the reading as a pedagogical practice that optimizes student learning, beyond this confirmation we found that the act of reading is a practice that is not adequately do this in daily teaching, needing to be seen as an activity that can promote the acquisition of skills and competence to the child, allowing you to analyze, reflect, interpret and understand the actions that happen in your day to day life involving family, school, or their social relations. KEYWORDS: Reading. Child. Teacher. Learning. 1 Mestra em Letras, Professora da Rede Pública Municipal de São José de Ribamar-MA.; Professora UFMA/São Bernardo. 2 Pedagoga, Coordenadora na Secretaria Municipal de Educação do Município de Aldeias Altas-MA.; Orientadora do PNAIC.

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A LEITURA COMO PRÁTICA PEDAGÓGICA PARA

OTIMIZAR A APRENDIZAGEM DAS CRIANÇAS DO 1°. E 2°.

ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL

Aldecina Costa Sousa (SEMEDSJR/UFMA)1

[email protected]

Jovina Maria Moura de Sousa (SMEAA)2

[email protected]

RESUMO: A leitura como prática pedagógica para estimular a aprendizagem das crianças do 1º e 2º ano

do Ensino Fundamental é uma pesquisa desenvolvida com o propósito de averiguar a leitura como recurso

do professor na promoção da aprendizagem em sala de aula. Para fundamentá-la as concepções de leitura

de Paulo Freire e Ezequiel Teodoro são basilares, ambos defendem que ler não se resume ao simples ato

de decodificar a palavra escrita, a leitura se alonga na interpretação e compreensão do mundo. Norteia-se

também essa investigação nas teorias da aprendizagem de L. S. Vygotsky e Piaget, os quais afirmam que

o desenvolvimento cognitivo da criança acontece a partir de sua adaptação e interação com o ambiente

social em que convive. Para delinear o objeto pesquisado, fez-se uso da observação não participativa e

entrevista com os professores das escolas pesquisadas, através destas obteve-se dados consistentes que

revelam a leitura como prática pedagógica que otimiza a aprendizagem do aluno. Além dessa

confirmação, constata-se que o ato de ler é uma prática que ainda não está, adequadamente, presente no

cotidiano do fazer docente, precisa ser vista como uma atividade capaz de promover a aquisição de

habilidades e competências que permitem à criança: analisar, refletir, interpretar e compreender as ações

que acontecem no seu dia a dia envolvendo sua vida familiar, escolar, ou seja, as suas rel(ações) sociais.

PALAVRAS-CHAVE: Leitura. Criança. Professor. Aprendizagem.

ABSTRACT: This research is titled: Reading as a teacher's pedagogic practice to stimulate children's

learning of the 1st and 2nd year of elementary school aims to ascertain the daily practice of reading as a

teacher in promoting learning. For such reasons, the present work on the conceptions of reading Paulo

Freire and Ezequiel Teodoro , both argue that the act of reading is not just the simple act of decoding the

written word, but extends to the interpretation and understanding of the world. Also guided the research

on learning theories of L. S. Vygotsky and Piaget, as the claim that cognitive development happens from

their adaptation and interaction with the social environment in which lives. To delineate the researched

object, perform non- participatory observation and interviewed the teachers of the

schools surveyed, where we obtained consistent data that reveal the reading as a pedagogical practice that

optimizes student learning, beyond this confirmation we found that the act of reading is a practice that is

not adequately do this in daily teaching, needing to be seen as an activity that can promote the acquisition

of skills and competence to the child, allowing you to analyze, reflect, interpret and understand the

actions that happen in your day to day life involving family, school, or their social relations.

KEYWORDS: Reading. Child. Teacher. Learning.

1 Mestra em Letras, Professora da Rede Pública Municipal de São José de Ribamar-MA.; Professora

UFMA/São Bernardo. 2Pedagoga, Coordenadora na Secretaria Municipal de Educação do Município de Aldeias Altas-MA.;

Orientadora do PNAIC.

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1 Introdução

Nas últimas décadas, vários pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento

têm se interessado pela problemática da leitura, principalmente a que vivenciamos na

escola. O hábito de ler atrelado à dificuldade de aprendizagem, o papel do professor na

aprendizagem, as teorias de aprendizagem e a linguagem no desenvolvimento da

criança, têm desencadeado debates e discussões nas academias e congressos por todo o

país. Os diversos trabalhos já realizados sobre o tema apresentam pontos de

concordância quando se trata da aprendizagem da criança mediada pelo exercício da

leitura.

Diante dessas afirmações, o presente trabalho visa investigar a contribuição da

leitura na aprendizagem, em particular das crianças dos anos iniciais, por isso a temática

que contempla a pesquisa é: A leitura como prática pedagógica para otimizar a

aprendizagem das crianças no 1º e 2º ano do Ensino Fundamental. Nessa perspectiva, a

pesquisa pretende obter respostas fundamentadas nas várias concepções de leitura e nas

teorias existentes que explicam a relação entre a aprendizagem e a linguagem e suas

implicações no processo de construção do conhecimento. Mediante este delineamento,

surgiu o seguinte questionamento: Como a leitura pode otimizar a aprendizagem dos

alunos nos anos iniciais do Ensino Fundamental?

Partindo do tema e do problema delineados, formulou-se a seguinte hipótese: O

professor ao utilizar a leitura em sua prática pedagógica tornará a aprendizagem dos

alunos mais eficiente, pois estabelecerá interação entre o conhecimento que eles já

trazem do seu contexto cultural e o conhecimento formal a ser construído na e pela

escola. Além de instaurar, com esse procedimento, um vínculo efetivo/afetivo entre

escola-professor-aluno-conhecimento. Nessa perspectiva, quanto mais cedo o professor

envolver as crianças em práticas de leitura, maiores as chances delas obterem sucesso

no processo ensino-aprendizagem e de transformá-las em leitoras quando adultas.

Essa proposição torna-se verossímil quando se parte do princípio de que a

leitura é um meio fácil que o sujeito dispõe para adquirir informações e conhecimentos

que lhe permitem desenvolver capacidades e habilidades para compreender o mundo

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como um todo. Sendo assim, apresenta-se como recurso pedagógico acessível ao

professor, na promoção e otimização da aprendizagem no contexto escolar.

Dando prosseguimento à investigação, traçamos como Objetivo Geral: Analisar

a leitura como prática pedagógica na promoção e otimização da aprendizagem dos

alunos de 1°e 2° ano do Ensino Fundamental; E, como Objetivos Específicos:

Identificar as práticas de leitura trabalhadas pelo professor na sala de aula; Investigar a

formação do professor, enquanto mediador da leitura; Relacionar a aprendizagem dos

alunos com a prática de leitura utilizada pelo professor; Relacionar a prática efetiva da

leitura com a aprendizagem dos alunos.

Em decorrência da natureza do objeto pesquisado, esta investigação científica

apresenta um enfoque descritivo e analítico, por isso optou-se pela modalidade de

pesquisa qualitativa. Com o propósito de obter dados para subsidiar o problema

levantado, utilizou-se como técnica para esse fim a observação não participativa, tendo

em vista que esta possibilita maior aproximação com os sujeitos envolvidos na pesquisa,

assim como a entrevista semiestruturada, também empregada. Dessa forma, tornou-se

possível angariar subsídios para uma análise mais acurada do objeto em foco que

oportunizou, além de reflexões pertinentes, a apresentação de considerações relevantes e

abalizadas.

A leitura é uma das atividades mais complexas e, ao mesmo tempo prazerosa que

o ser humano pode realizar. Uma das características do homem é ser capaz, desde o

nascimento, de aprender continuamente. Nesse contexto, o ato de ler concebe-se como

modalidade de aprendizagem disponível ao sujeito. Esta, no contexto moderno, tornou-

se indispensável à sua sobrevivência. Mamar, falar, ler, são os primeiros e importantes

aprendizados do ser humano no início da vida. Alguns estudiosos defendem que

nascemos prontos para aprender, ao contrário do que ocorre com as outras espécies de

mamíferos. Essa teoria permite afirmar que a criança, quando vem para a escola, já traz

consigo uma bagagem cultural, adquirida em seu contexto familiar, que muito contribui

para a aquisição da leitura e, consequentemente, para seu aprendizado.

Diante da importância da leitura para o desenvolvimento da aprendizagem da

criança, faz-se necessário compreendermos que o ato de ler precisa efetivamente

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legitimar-se nas práticas docentes, pois é através da legitimação da leitura que o homem

torna-se capaz de realizar e transformar suas atividades, direcionar suas ações, apto a

refletir e construir seus passos em um universo que exige continuamente que o

indivíduo seja construtor de saberes necessários à sua sobrevivência na sociedade regida

pela palavra.

Considerando as discussões pertinentes sobre a prática da leitura na escola, visto

que é o lugar onde ela deve ser sistematizada, mediadas por práticas pedagógicas

emergidas da ação docente, o presente trabalho torna-se relevante na medida em que

desvenda como o ato de ler é mais complexo do que consideramos, tendo em vista que

envolve um conjunto de ações que englobam tanto a escola quanto o ambiente social em

que o aluno encontra-se inserido.

A investigação da presente produção científica fundamentou-se nas concepções

de leitura dos seguintes autores: Martins (1994); Freire (2001); Silva (2003); Maia

(2007) e dos PCNs de Língua Portuguesa (2001). Por serem estas oriundas da

concepção de leitura defendida por Freire (2001), para quem o ato de ler vai muito além

da decodificação pura da palavra escrita.

Para compreendermos como a leitura acontece na escola utilizamos, ainda, os

estudos de Geraldi (2002) que comunga da mesma concepção sobre o ato de ler.

Lançou-se mão dos estudos de: Rego (1995); Vygotsky (2001); Rangel (2005); Luria

(2001); Leontievt (2001); Bakhtin (2002) e Piaget (1993), para se compreender como

ocorre a aprendizagem e o desenvolvimento cognitivo da criança a partir da linguagem

adquirida no seu meio social, bem como o papel do docente na construção de novos

conhecimentos sem desconsiderar o que os pequenos trazem para a escola.

O caminho metodológico percorrido, no decorrer da realização da pesquisa

permitiu a análise e descrição dos dados coletados, bem como a discussão dos

resultados obtidos após confrontá-los com o referencial teórico que fundamentou a

pesquisa. Esse procedimento demonstrou que a prática pedagógica do professor

norteada pela leitura pode ser uma poderosa aliada para favorecer a aprendizagem das

crianças. Por outro lado, evidenciou-se que apesar disso, nem todos os docentes são

sujeitos leitores, fato que inviabiliza um trabalho efetivo e afetivo com grande parte dos

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alunos que se sentam todos os dias nos bancos escolares e revela o quanto a escola, no

contexto da cidade de Caxias, ainda precisa tomar a palavra do aluno (conhecimento de

mundo) e intermediá-la com a palavra contida nos livros (conhecimento formal) de

modo a permitir que haja um processo de interação em que o aprendiz sempre

redireciona seu conhecimento e, consequentemente, a realidade à sua volta.

2 Questões pertinentes ao ato de ler

A leitura deve ser um exercício diário, acontecendo dessa forma, possibilita ao

leitor inúmeras possibilidades de reflexão sobre a realidade vivenciada. O ato de ler é

intrínseco ao ser humano, é uma atividade característica do homem, que ao nascer traz

consigo a capacidade de aprender, e através desta, realiza sua adaptação ao meio em que

vive. Tal assertiva comprova-se em decorrência da leitura estar presente em todas as

suas atividades humanas, desde a mais corriqueira, como por exemplo, tomar um

ônibus, até a mais complexa como pilotar um avião.

Segundo Martins (1994, p.40) “a visão, o olfato e o gosto podem ser apontados

como os referencias mais elementares do ato de ler”. Essa leitura a que a autora refere-

se são as ferramentas de sobrevivência que recebemos ao nascermos das quais nos

apropriamos para desenvolver habilidades de leituras que nos garantam a permanência

em um mundo de transformações constantes, que exige a adaptação ao meio, ou seja,

adapta-se às mudanças.

O ato de ler é um processo de compreensão e interpretação da realidade, que

implica em estratégias para o reconhecimento das habilidades inerentes à condição

humana. Também permite tanto o exercício da criticidade sobre a ação do próprio

sujeito, quanto lhe proporciona refletir sobre a ação humana coletiva. Nesse aspecto, a

leitura se torna importante em nossas relações sociais por ser o meio pelo qual

realizamos um diálogo direto ou indireto com a nossa própria história e com os sujeitos

que nos cercam. A partir da compreensão do nosso existir, efetuamos significados das

nossas práticas diárias. Como concorda Martins (1994, p. 17) ao afirmar que:

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Quando começamos a organizar os conhecimentos adquiridos, a partir da

situação que a realidade impõe, e de nossa atuação nela; quando começamos a

estabelecer relações entre as experiências e a tentar resolver os problemas que

nos apresentam – aí então estamos procedendo leituras, as quais nos habilitam

basicamente a ler tudo e qualquer coisa.

O ato de ler como acesso à cidadania, tem na leitura um papel indiscutível, pois

ela possibilita a ampliação da visão crítica em relação aos nossos atos e sobre as atitudes

das outras pessoas. Ler permite também ao leitor compreender. A leitura estimula a

criatividade, ao ler estimulamos o pensamento e a produção de novos conhecimentos. O

contato constante com gêneros literários diferentes permite ao leitor adquirir a

competência de produzir ou analisar criticamente qualquer assunto em questão ou até

mesmo formular uma hipótese para determinado problema. A construção da capacidade

de produzir e compreender as mais diversas linguagens está diretamente ligada às

condições propícias para ler, para dar sentidos ou atribuir significados a expressões

formais e simbólicas, representacionais ou não, quer sejam configuradas pela palavra,

quer pelo gesto, pelo som, pela imagem.

No que se refere ao papel social da leitura no sucesso profissional do cidadão, o

ato de ler é considerado uma ação propulsora do seu desenvolvimento em sentido

integral e humanístico, que habilita o ser humano a enfrentar uma situação ou

desempenhar qualquer atividade no mercado de trabalho. Ler desperta no sujeito um

sentimento de curiosidade que o motiva a pesquisar, a buscar os conhecimentos

necessários para compreender as transformações constantes que ocorrem em nossa

realidade, como a tecnologia que cotidianamente inova-se e, caso não seja

acompanhada, contribui mais ainda para exclusão social que afeta o país e que é,

também, reproduzida por meio da escola que não oferece às camadas populares uma

educação de boa qualidade (CARNEIRO, 1998).

É inegável que, nesse processo, a leitura assume a responsabilidade de preparar o

cidadão para o empreendedorismo, familiarizando-o com os sistemas modernos de

apropriação do conhecimento, a chave da legitimação de fato da qualificação do

profissional. Ratificando essas colocações Alliende & Condemarín (2005, p. 17)

defendem que:

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Ler amplia as capacidades mentais diversas, a relação que se estabelece entre

a leitura e a ampliação da memória humana permitem o crescimento

intelectual do ser humano. O ato de ler se apresenta não como um fenômeno

separado, mas interligado com outros contextos humanos e simbólicos, que

nos ajudam a compreender a interação complexa das dimensões cognitiva,

emocional e cultural característico (cic) da espécie humana. Os

conhecimentos que absorvemos durante as leituras que realizamos no nosso

cotidiano têm o poder de transfigurar as nossas ações, tornando-as mais

coerentes, criativas, autônomas e significativas. A leitura, também interfere

no nosso comportamento, uma vez que mexe com a nossa imaginação, com o

nosso afeto, pois permite nos refletir, avaliar as relações que se desenvolve

com as outras pessoas do nosso convívio social.

A leitura amplia o vocabulário e melhora a oralidade; o discurso da pessoa que

tem o hábito de ler é diferente de outra que não tem o mesmo hábito. Ao discursarmos

produzimos automaticamente uma sequência de ideias coerentes relacionadas ao

assunto discutido, isto é, se tivermos conhecimentos de causa do tema abordado, caso

contrário a nossa abordagem será quase impossível, uma vez que não podemos abordar

algo que não conhecemos. A leitura possibilita, também ao leitor, o uso de vários

sinônimos da mesma palavra, o que lhe permite empregá-la em situações diversas,

enriquecendo, dessa forma, a sua expressividade.

2.2 Concepções de leitura: visões divergentes sobre um mesmo tema

Sendo o ato de ler um tema bastante discutido, vários conceitos importantes

foram formulados por pesquisadores neste campo. Tanto a leitura que se dá na interação

com o mundo, quanto a que acontece a partir da decodificação das palavras vem, ao

longo do tempo, desencadeando divergências que resultaram em concepções diversas

entre os estudiosos. Apresentaremos algumas dessas concepções com o intuito de

delinear aquela que norteará esta pesquisa científica. Começaremos com o que afirma

Martins (1994, p. 15) sobre a leitura. Para a autora, “aprendemos a ler a partir do nosso

contexto pessoal. E temos que valorizá-lo para ir além dele. É preciso superar algumas

definições sobre o ato de ler”. A principal delas é que a leitura legitima-se através da

decodificação de letras e sons, sendo a compreensão consequência natural dessa ação.

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Nessa perspectiva, deixa-se bem explícito que o ato de ler vai além da pura e

simples decodificação das palavras, é um ato mais complexo e exige que o leitor seja

arguto e autônomo, e utilize os recursos disponíveis em seu meio social para a produção

de novos conhecimentos. Para Kleiman (1995, p. 10): “ao lermos um texto, qualquer

texto, colocamos em ação todo o nosso sistema de valores, crenças e atitudes que

refletem o grupo social em que se deu nossa sociabilização primária, isto é, o grupo

social em que fomos criados”.

“A leitura se realiza a partir do diálogo do leitor com o objeto lido – seja escrito,

sonoro, seja uma imagem, um acontecimento” (MARTINS, 1994, p. 33). Nessa

perspectiva, realizamos leitura a todo instante, ler é uma necessidade vital; Ao

desenvolvermos as nossas atividades do cotidiano, precisamos da leitura, ela é

indispensável ao planejamento de nossos afazeres, que vai do levantar pela manhã ao

deitar à noite, pois analisamos, avaliamos, decidimos e atribuímos significados às

nossas práticas diárias de compreensão do nosso ser e estar no mundo, ampliando, dessa

forma, o entendimento de nossas ações e o desempenho para torná-las mais coerentes

possíveis com o papel social que exercemos.

O ato de ler é a consequência da interação do sujeito com o ambiente cultural a

que pertence. Dominar a leitura e a escrita não é uma tarefa fácil, requer treinamento

sequencial do leitor, exigindo dele competências e habilidades para usar o conhecimento

adquirido no seu meio social para que faça a decodificação, a interpretação e a

compreensão da escrita. Sendo assim, é importante que o professor considere a ideia de

leitura que a criança tem para iniciar o processo de ensino-aprendizagem, ou seja, é

preciso que o professor faça uma avaliação diagnóstica no início do ano letivo, bem

como periodicamente, para avaliar o estágio em que a criança iniciou o ano, e sua

evolução durante o processo de construção do conhecimento.

A leitura é um dos meios mais apropriados que o ser humano dispõe para

ampliar sua visão planetária, considerando as constantes transformações que surgem a

cada minuto com as novas tecnologias, a mão invisível que move a vida social,

econômica e política da sociedade global. Precisamos, antes de tudo, compreender o ato

ler como parte do nosso ser, do nosso fazer, do nosso estar no mundo, situando os

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acontecimentos e interagindo com eles. Através dessa ação, frequentemente somos

capazes de interpretar e entender os fenômenos que ocorrem em nossa sociedade. Ao ler

adquirimos fundamentos e argumentos para interferir nas problemáticas existentes em

nosso contexto social, podendo, dessa forma, agir sensatamente para a solução desses

problemas sociais e contribuir, assim, para uma sociedade mais igualitária.

Freire (2001, p. 11) defende que o contexto em que vive a criança deve ser

considerado no processo de aquisição do ato de ler. Para ele “a leitura de mundo

precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da

continuidade da leitura daquele”. Não podemos compreender uma ação ou um texto sem

nos valer das experiências vivenciadas anteriormente, a compreensão se dá, de fato, a

partir do conhecimento prévio que adquirimos durante o contato com outras situações,

pois a nossa mente não é um quadro de giz que o professor apaga os enunciados escritos

ao término de cada aula. Registramos todas as nossas experiências em nossa memória

que ficam ali guardadas, prontas para serem selecionadas e utilizadas quando

necessário, inclusive, diante da palavra escrita.

A leitura nessa perspectiva propicia uma visão crítica do meio em que o leitor se

encontra inserido, contribuindo dessa forma, para que ele possa agir em prol de sua

modificação. Partidária da mesma posição, Martins (1994, p.30) afirma que:

É preciso considerar a leitura como um processo de compreensão de

expressões formais e simbólicas, não importando por meio de que linguagem.

Assim o ato de ler se refere tanto a algo escrito quanto a outros tipos de

expressões do fazer humano, caracterizando-se também como acontecimento

histórico e estabelecendo uma relação igualmente histórica entre o leitor e o

que é lido.

A leitura, ainda, permite ao leitor uma organização de ideias, um aguçamento do

raciocínio lógico, uma visão crítica da realidade vivenciada, permitindo a percepção e

atribuição de significados consistentes aos fatos reais (GERALDI, 2002). A necessidade

que temos de compreender que a leitura vai além do ler e escrever sistematizado na e

pela escola é a ponte que precisamos para alfabetizar de maneira responsável os nossos

alunos sem que, de primeira mão, sejam aprisionados a uma concepção de leitura ligada

somente ao decodificar das letras.

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Desconsiderar as aprendizagens que a criança recebe das relações desenvolvidas

dentro das instituições a que pertence como a família e a igreja, sem dúvida é um erro

do professor, e talvez seja esse o maior obstáculo encontrado pelo educando quando se

depara dentro de uma sala de aula em contato com um mundo diferente. O novo causa

insegurança, principalmente na criança; ao nos depararmos com situações incomuns, ou

seja, desconhecidas do nosso contexto, de imediato a sensação que temos é de medo. No

entanto, acreditamos que, quando a criança vai à escola pela primeira vez ou muda de

um ambiente escolar para outro, sente-se insegura. Nesse processo de transição, cabe ao

professor como mediador da aprendizagem e o responsável por um ambiente acolhedor

na sala de aula, criar situações de afetividade para conquistar a sua confiança,

contribuindo assim com a sua adaptação e sua integração ao meio, já que este

procedimento favorece o processo ensino aprendizagem do aluno.

Silva (2003, p. 46) “enfatiza que a íntima relação entre o conhecimento e o

mundo da escrita, ainda que várias outras linguagens sirvam para realizar e animar a

comunicação entre os homens é a escrita que serve como fonte principal e primeira para

transmissão do saber”. Nesse fato, reside a explicação para o homem necessitar da

escola, pois é através dela que nos apropriamos do conhecimento sistematizado,

necessário à nossa afirmação como seres detentores de capacidades e habilidades de

intervir socialmente na defesa dos nossos direitos, exercendo, dessa forma, uma

cidadania plena.

Em pesquisa realizada no contexto de Caxias, Maia (2007) apresenta em seu

trabalho que decodificar as letras é sinônimo de identificar, ou seja, descobrir o código

escrito que forma uma palavra. Nessa concepção “leitura significa o exercício da

decodificação e codificação mecânica, da repetição [...] metodologia essa que implica

uma consequência: a escola até consegue ensinar o povo a ler, porém não forma

leitores” (2007, p. 32).

É bastante pertinente a colocação da autora, uma vez que retrata de fato o

tratamento dado ao ato de ler em nossas escolas, e cristaliza a concepção de leitura que

seguem grande parte dos professores que nelas atuam, e são os responsáveis pelo seu

ensino às nossas crianças ao longo do processo escolar. É preciso dessa forma que o

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docente perceba que alfabetizar lentrando é a melhor maneira do aluno perceber que a

leitura faz parte das práticas sociais desenvolvida por ele. Por considerarem que ler não

é apenas decodificar, mas também envolve compreensão e reflexão, Sousa & Pereira

(2005, p. 76 - 77) afirmam que:

Quando o aluno ingressa na escola, todos (escola, pais, sociedade) esperam

que ele aprenda a ler. Muitas vezes, no entanto, aprender a ler, nas séries

iniciais é sinônimo de decodificar a palavra escrita. É preciso refletir sobre

essa noção de leitura como decodificação. Naturalmente, para que se leia a

palavra, é necessário que se tenha acesso a um conhecimento sobre a língua

escrita, o qual supõe a aprendizagem do sistema de escrita. [...] a leitura nem

começa e nem acaba com essa aprendizagem. Decodificar (reconhecer) as

letras, as sílabas que compõem a palavra é apenas um meio (necessário,

imprescindível) para se efetivar a leitura da palavra, que não se esgota nesse

gesto de identificação/ reconhecimento.

Segundo os PCN’s de Língua Portuguesa (2001, p. 53): “leitura é um processo

no qual o leitor realiza um trabalho ativo de construção do significado do texto, a partir

dos seus objetivos, do seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que

sabe sobre a língua: características do gênero, do portador, do sistema de escrita”. Sendo

assim, ao realizarmos a leitura de um determinado texto, construímos uma relação de

integração com os elementos que estão armazenados em nossa memória, elementos

esses que foram adquiridos através do contato permanente com a leitura. Esses

elementos básicos que usamos para a interpretação e compreensão do texto são

associados às aprendizagens do cotidiano que aplicamos ao escrito para, a partir dessa

interação, produzir sentidos.

Por acreditarmos que é a leitura que realmente promove a ascensão do cidadão,

preservando a sua identidade e o estimulando a uma atuação consciente dos seus

direitos e deveres, é que optamos guiar nossa pesquisa a partir da concepção de leitura

defendida por Freire (1984, p. 11) na qual: “O ato de ler não se esgota na decodificação

pura da palavra escrita, mas se antecipa e se alonga na inteligência do mundo”. Se

somos seres capazes de nos adaptar ao novo, devemos isso à capacidade que adquirimos

de ler tudo e qualquer coisa; em nenhum momento, após percebermos que temos vida,

ficamos sem realizar leituras, pois todas as nossas ações estão ligadas ao ato ler, lemos

para tudo.

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Partindo dessa perspectiva, é que nos propomos a averiguar se a leitura é

realmente um obstáculo à aprendizagem das crianças, pois sabemos que já nascemos

com instinto de leitores e durante toda a nossa vivência, ou seja, as nossas experiências

com o meio cultural realizamos leituras para desempenhar as atividades diárias.

Corroborando com a concepção de leitura defendida por Silva (1998, p. 43) pois

acrescenta que: “ler é antes de tudo compreender. Ao ler, o leitor executa um ato de

compreender o mundo”. Será, pois, as concepções de leitura, nessa perspectiva, que

nortearão o trabalho ora apresentado.

2.3 A leitura na escola: um desafio do Sistema Educacional

Segundo a LDB (Lei de Diretrizes de Bases 9394/96) o ensino “possui caráter

intencional, sistemático, planejado e continuado para crianças, adolescentes e jovens, a

escola deve propiciar a construção da cidadania”. Na prática, a escola pública vem

vivenciando muitos conflitos, tanto no que se refere à sua função social como em

relação aos recursos didáticos pedagógicos, a estrutura física e as condições de trabalho

e aprendizagem oferecidos aos professores e alunos. Mesmo considerando as mudanças

ocorridas nesse setor, percebe-se que ainda há carência de políticas públicas que

contemplem, de fato, todas as exigências e necessidades imprescindíveis ao bom

atendimento de sua clientela e ao cumprimento de sua função social que é de promover

o conhecimento sistematizado, preparar o aluno para o exercício da cidadania e para o

mercado de trabalho.

O surgimento da escola em nosso país veio acompanhado de grandes atropelos, e

quando se faz uma retrospectiva da leitura, constatamos que até dois séculos atrás não

existiam livros destinados à leitura. E quando o livro surgiu era em número escasso.

Talvez aí esteja a raiz do problema, pois podemos observar que as histórias do livro e da

leitura não surgiram de maneira que possibilitasse um enraizamento cultural de apreço

pelo objeto livro e, consequentemente, pelo hábito de ler. E, após o surgimento dos

livros, se vivenciou outra problemática em relação à impressão de alguns exemplares

que só era possível em outro Continente. Sobre essas questões os cadernos da TV

Escola (1990, p. 5-6) relatam que:

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Até meados do século 19, não existiam praticamente livros de leituras nas

escolas. Para prática da leitura eram usadas as mais distintas fontes. Relatos de

viajantes, autobiografias e romances indicam que a base para a leitura eram

textos manuscritos, tais como documentos de cartório e cartas. Em alguns

casos, a Constituição do Império (e a lei de 1827, a primeira lei brasileira que

trata especificamente de instrução pública), o Código Criminal e a Bíblia

serviam como manual de leituras nas escolas. Com a implantação da imprensa

Régia, 1808, começaram a impressão regular de livros no Brasil, mas tanto na

escola quanto nas demais instâncias sociais, eram raros os objetos disponíveis

para a leitura e, consequentemente, poucos os leitores. [...] a partir da segunda

metade do século 19, começaram a surgir livros de leituras destinados

especificamente às séries iniciais de escolarização, mas alguns ainda eram

impressos na Europa.

Em 1868, Abílio César Borges publicou uma série de livros produzidos

especialmente para o ensino de leitura e da escrita, substituindo as cartilhas grosseiras

ou os materiais manuscritos usados até então. [...] Ainda no século 19, apareceram

outras séries de livros de leitura, destacando-se a obra de Fesliberto de Carvalho,

utilizada em todo o país. [...] Incluindo às vezes ilustrações coloridas, os livros

apresentavam conteúdos das diversas áreas do conhecimento, seguidos em geral por

exercícios, além de ensinamentos morais. [grifo do autor].

Além da distorção em torno do surgimento do livro de leituras nos séculos

anteriores, o ensino vem sofrendo várias intervenções por conta de inúmeras práticas

pedagógicas, a explicação para esse fenômeno é uma busca incessante por um

paradigma que resolva as problemáticas em torno da aprendizagem dos alunos. O

método tradicional foi uma das práticas que criou raízes na educação brasileira, que

concebia o professor como detentor do conhecimento e o aluno como tabula rasa, ou

seja, ele era uma mente vazia de qualquer experiência, portanto, não podiam contribuir

para a produção de novos conhecimentos (BRANDÃO, 2004).

Essa metodologia permeou a prática pedagógica por longas décadas, porém

não podemos, de fato, afirmar que esse modelo tradicional de ensino já se extinguiu,

pois ainda existem várias instituições, tanto públicas quanto particulares, que utilizam o

método tradicional para educar e disciplinar as crianças. Fato que justifica os debates até

agora constantes sobre essa corrente metodológica entre os estudiosos da área. Dentre

esses, apresentamos o posicionamento de Brandão (2004, s.p.), que acredita que:

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Essa linha de ensino difundiu-se no século 18, a partir do iluminismo, e tinha

por objetivo universalizar o acesso do indivíduo ao conhecimento. Foi

considerada não-crítica e ultrapassada nas décadas de 60 e 70, mas ainda tem

prestígio. E seus defensores enfatizam que não há como formar um aluno

crítico e questionador sem uma sólida base de informação. Escolas que seguem

esse modelo tendem a ser rígidas em relação à disciplina.

Entretanto, podemos perceber que, mesmo com as visíveis mudanças ocorridas

nos paradigmas adotados pelo Sistema Educacional Brasileiro, o ensino necessita, ainda

e urgentemente, de práticas inovadoras e eficientes, capazes de diminuir o alto índice de

repetência e evasão escolar divulgados periodicamente pelos órgãos governamentais e

pela mídia. Carecemos de práticas que alfabetizem e promovam o letramento de mais

pessoas, reduzindo, dessa forma, o número considerável de analfabetos funcionais

existentes no país. É o que comprova o INAF de 2007(Indicador de Alfabetismo

Funcional), ao demonstrar que apenas 28% da população brasileira está na condição de

alfabetizados plenos. O indicador demonstra o quadro em que se encontra a educação

brasileira, o que nos leva a concluir que ainda estamos longe de construir uma sociedade

mais justa, pois, somente através da escolaridade, podemos nos tornar aptos a

questionar, a argumentar e, ao mesmo tempo, exigir os nossos direitos e exercer nossos

deveres para com a sociedade.

Atualmente, uma das linhas seguidas em algumas de nossas instituições

escolares é o Construtivismo, que nasceu a partir das ideias de Jean Piaget (2002) e

propõe a valorização das experiências vivenciadas pelo aluno e pelo professor. Essa

concepção defende que o educando deve ser estimulado a agir, criar e construir a partir

do contexto social em que se encontra. As escolas que adotam o modelo construtivista

trabalham na perspectiva do letramento, ou seja, da valorização dos saberes que a

criança traz consigo ao ingressar na escola. Cabe a ela sistematizá-los através de

práticas que respeitam o amadurecimento dos pequenos e os considerem ativos no

processo de construção do próprio conhecimento.

O papel do professor, nesse processo, não se resume apenas a repassar/transmitir

informações, e sim coordenar as situações de aprendizagens, ou seja, ele atua como

mediador, criando estratégias didáticas que possam motivar e promover a produção de

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novos conhecimentos. O docente, conforme o construtivismo, deve ter o cuidado de

respeitar o ritmo de aprendizagem dos alunos os quais participam ativamente na

construção do conhecimento em sala de aula. É por essa razão que optamos por utilizar

essa teoria educacional como referência na realização desta pesquisa, pois a leitura

quando trabalhada nessa perspectiva torna-se o caminho mais viável para que as

crianças além de serem alfabetizadas, sejam letradas. Condição sine qua non para que

tenham um bom desempenho na escola e na vida, visto que, em ambas, o ato de ler é a

competência básica para alcançar o sucesso (VIVAZ, 2009).

A escola deve ser um dos lugares mais favoráveis para a efetivação da leitura,

para isso deve haver espaços reservados para que ela aconteça de fato. No Censo

Escolar de 2005, cerca de 20% das escolas públicas do Ensino Fundamental declararam

ter biblioteca. Porém, na realidade elas têm outros espaços, como sala de leitura,

cantinho de leitura ou acervos itinerantes de livros. Em muitas, são espaços mal

pintados e com pouca iluminação, nada atrativos, que servem mais como depósito de

livros. Isso acaba reforçando a impossibilidade de escolha dos livros por parte do aluno,

devido à visualização do acervo e o acesso serem difíceis, outro problema é a primazia

dos livros didáticos e outras obras que não despertam o interesse dos pequenos.

Entretanto, é preciso que a escola disponibilize as crianças acervos

diversificados que despertem a curiosidade e a vontade do aluno para descobrir o

conteúdo de um determinado livro. Se ele tem o direito à livre escolha, se

desmistificará, dessa forma, a ideia de que a leitura só acontece para o cumprimento de

uma obrigação, e demonstrará à criança que ler pode se tornar um momento de prazer,

de lazer e de crescimento pessoal. Essa deve ser uma das principais preocupações da

escola, uma vez que se configura como o ambiente mais favorável ao estímulo da leitura

e a principal responsável por criar laços afetivos com os livros, portanto, com o

conhecimento. A leitura não deve ser apenas um exercício escolar, mas uma forma de

interação com o mundo pela construção de significados.

2.4 Como a criança aprende: algumas considerações necessárias

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A aprendizagem da criança tem início a partir dos primeiros contatos com seu

meio social. Ela aprende com as relações que naturalmente se desenvolvem com os

membros de sua família, com as pessoas dos lugares que frequenta e com seus vizinhos.

Na escola, aprende com seus colegas e, especialmente, com seu professor. A figura do

docente no processo ensino aprendizagem do aluno é de suma importância, uma vez que

exerce certo poder e deve ter um saber sobre as relações sociais que existem dentro da

sala de aula. Alguns autores afirmam que a criança tem um tempo marcado para a

aquisição do prazer pela leitura, ou seja, forma-se como leitor até os doze anos de idade.

Compreendemos que quando o indivíduo é estimulado a ler, não importa a idade, pois a

leitura tem a capacidade de ativar as habilidades mentais do ser humano, isso quando é

realizada diariamente. Essa afirmativa baseia-se na análise de que uma criança pode

descobrir o gosto pela leitura na fase adequada, mas se não estimulada até adquirir o

hábito de ler, tornar-se-á apenas um decodificador. Segundo Oliveira (apud REGO,

1995, p. 42):

O cérebro é entendido como um sistema aberto, de grande plasticidade, cuja

estrutura e modos de funcionamento são moldados ao longo da história da

espécie e do desenvolvimento individual [...] o cérebro pode servir a novas

funções, criadas na história do homem, sem que sejam necessárias

transformações no órgão físico.

Para Vygotksy (apud REGO, 1995, p. 57) “a mente da criança contém todos os

estágios do desenvolvimento intelectual, eles existem já na sua forma completa,

esperando o momento adequado para emergir”. Na concepção de Piaget (apud

REMOZZI-CHIAROTTINO, 2005, p. 19) distinguem-se quatro estágios de

desenvolvimento, que podem variar no que diz respeita à idade, ao contexto

socioeconômico ou de um grupo para outro, mas sua ordem de sucessão é fixa. O

processo de interação entre a criança e seu meio se dá, em cada um dos níveis de forma

diferente. Temos os seguintes estágios:

O primeiro se concretiza através da ação, é o período sensorial motor (do

nascimento até 2 de idade, em média). Para o autor nesse período, “o dispositivo

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de que a criança possui para ordenar o mundo são os esquemas motores de

assimilação”;

O segundo se efetiva através da representação que o meio oferece, ou seja, é o

período do pensamento intuitivo (o período pré-operatório que compreende dos

2 a 7 anos, em média). Segundo autora: “no final as ações sensório-motoras

começam a implicar representação, imagem mental, notando-se aqui a presença

de regulações semireversíveis”;

O terceiro se manifesta através das operações formais, é o período das operações

concretas (de 7 a 12 anos). Afirma a autora que: “no curso do qual se alcança

uma determinada reversibilidade na formação das primeiras estruturas

operatórias e que comporta um aspecto implicativo”.

Ainda, segundo a autora, também existe o quarto estágio, que é “o período das

operações proposicionais (de 12 a 16 anos), alcança-se finalmente uma reversibilidade

completa e a distinção entre fenômenos atemporais e temporais, entre fenômenos

mecânicos e históricos, ou seja, fenômenos reversíveis e irreversíveis”. Dessa forma, a

criança se desenvolve de maneira integrada nos aspectos cognitivos, afetivos, físicos-

motores, morais, linguísticos e sociais. E este processo acontece a partir da relação que

ela constrói com o meio físico e social a que pertence.

Vygotksy (apud REGO, 1995, p. 41) dedicou-se a estudar o desenvolvimento

infantil. Segundo suas conclusões: “as funções psicológicas especialmente humanas se

originam nas relações do indivíduo e seu contexto cultural e social”. Para o autor, a

interação da criança com o mundo possibilita o desenvolvimento das capacidades

mentais, e defende que essa ação acontece do exterior para o interior do indivíduo, ou

seja, a criança desenvolve-se de forma integrada nos aspectos cognitivos, afetivos,

morais, linguísticos e sociais. Apesar de haver afinidades entre as concepções de Piaget

e Vygotsky, nesse ponto eles divergem, pois o primeiro defende que essa interação do

homem com o meio se dá de dentro para fora, por e considera que a inteligência é algo

inato.

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Aprender a ler imagens, sons, objetos, situações do cotidiano amplia as

possibilidades de sentir, refletir, interpretar e agir diante de situações novas. A leitura

está totalmente ligada ao processo cognitivo da criança, é lendo que ela desenvolve

melhor a percepção, reflexão, memória, raciocínio, juízo crítico, imaginação e

representação do mundo, promovendo, assim, os recursos necessários para que possa

intervir, quando adulta, na modificação de sua realidade e, consequentemente, na

realidade daqueles que o cercam. Em relação à aprendizagem da criança, Vygotksy

(apud REGO, 1995, p.72), “identifica dois níveis de desenvolvimento: um se refere às

conquistas já efetivadas, chamado de nível de desenvolvimento real ou efetivo, o outro,

o nível de desenvolvimento potencial, que se relaciona às capacidades a serem

construídas”.

Segundo Rego (1995, p. 73), Vygotksy caracteriza as aprendizagens da criança

com o seu meio cultural em: “zona de desenvolvimento proximal”, ou seja, “a distância

entre aquilo que ela é capaz de fazer de forma autônoma (nível de desenvolvimento

real) e aquilo que ela realiza em colaboração com os outros elementos de seu grupo

social (nível de desenvolvimento potencial)”. Nessa perspectiva, a leitura torna-se um

recurso pedagógico muito importante no processo ensino-aprendizagem, uma vez que

possui elementos que permitem ao aluno realizar atividades utilizando o conhecimento

adquirido no seu meio cultural, e, ao mesmo, tempo o ato de ler, estimulado pelo

professor, possibilita à criança a capacidade de produzir novos conhecimentos.

2.5 O professor como mediador no ensino da leitura e na aprendizagem da criança

O papel do docente na escola contemporânea, frente às constantes

transformações da sociedade, não mais se resume a ensinar a ler e escrever nos moldes

tradicionais, pautados na decodificação e na cópia. A função do professor, na

atualidade, de articulador do processo ensino aprendizagem e mediador do

conhecimento exigem dele competências e habilidades para dirigir as situações de

aprendizagem. É papel também do educador planejar estratégias que trabalhem as

dificuldades do aluno. Para Perrenoud (2000, p. 20): “organizar e dirigir situações de

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aprendizagem” é a primeira competência do professor, pois desenvolver situações

didáticas que promovam a aprendizagem da criança, portanto, deve ser uma prioridade

no fazer docente, uma vez que é de inteira responsabilidade do professor criar meios

para que o aluno aprenda.

O professor, sendo o legítimo responsável, na sala de aula, pelas estratégias de

ensino que motivem a criança ao aprendizado, deve primar por um trabalho de

qualidade, mesmo diante das dificuldades encontradas, que sabemos serem muitas,

algumas já bem conhecidas. Nessa perspectiva, planejar as atividades diárias a partir dos

objetivos a serem alcançadas pelos alunos é uma atitude de responsabilidade e

compromisso com a criança e com a sociedade. Além disso, trabalhar a leitura como

recurso pedagógico em busca de um melhor aprendizado, requer do docente preparação

para que possa selecionar e levar para a escola textos presentes no cotidiano, como

revistas, livros, jornais, história em quadrinhos, de modo que, ao realizarem as

atividades de leitura, elas atendam aos objetivos propostos no processo de planejamento

(PERRENOUD, 2000).

Nas observações realizadas na pesquisa de campo, observou-se outro fator que

também interfere na aprendizagem: o ritmo e estágio de aprendizado de cada criança.

Fenômeno natural dentro e fora da sala de aula, que não é compreendido e respeitado

pelo professor, nem pela estrutura do ensino oferecido nas escolas brasileiras. Os alunos

que convivem em um ambiente rico em informações culturais estão em vantagem, pois

podem valer-se das experiências anteriores para resolver os problemas apresentados em

sala de aula. Tal fato é compreendido pelo professor como um comportamento inato, ao

fazer uma interpretação errônea dessas habilidades; Persistem na idéia de que as

crianças que têm menos sucesso nas atividades escolares apresentam dificuldades de

aprendizagem.

2.6 A linguagem na organização do pensamento infantil

Segundo Rangel (2005, p. 40), “o estudo da linguagem apoiado na análise do

discurso trata dos processos de constituição do fenômeno linguístico e da língua, como

um sistema abstrato, visto que considera o homem dimensionado no tempo e espaço”. O

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ser humano, como já comentado anteriormente, é constituído de várias dimensões que

intervém no seu desenvolvimento cognitivo, e a criança por ser o oco no processo de

ensino-aprendizagem exige do professor competências para lidar com a diversidade, no

que se refere ao contexto social e ao aprendizado que ela traz consigo para a escola.

A linguagem, nesse processo, tem a função de promover a interação entre o

indivíduo e as práticas sociais presentes em sua cultura. Através da linguagem, somos

capazes de compreender as manifestações existentes no comportamento humano em

relação a todos os aspectos que o dimensionam e o tornam único. Os PCN’s de Língua

Portuguesa (2001, p. 24) defendem que:

A linguagem verbal possibilita ao homem representar a realidade física e social

e, desde o momento que é aprendida, conserva um vínculo muito estreito com

o pensamento. Possibilita não só a representação e a regulamentação do

pensamento e da ação, próprios e alheios, mas, também, comunicar idéias,

pensamentos e intenções de diversas naturezas e, desse modo, influenciar o

outro e estabelecer relações interpessoais anteriormente inexistentes.

Nesse contexto, a escola assume um papel básico no ensino da linguagem. A

organização das ideias possibilita ao ser humano estabelecer uma comunicação

satisfatória com os outros seres da mesma espécie. Nesse processo, a linguagem tem um

papel fundamental. Para Bakthin (apud RANGEL, 2005, p. 49), “o indivíduo recebe da

comunidade linguística um sistema já constituído e qualquer mudança no interior deste

sistema ultrapassa os limites da sua consciência individual”. A criança quando começa a

falar utiliza-se dos signos linguísticos da comunidade em que está inserida, e, a partir

deles constitui os elementos de comunicação que lhe permite relacionar-se com os

demais membros de seu meio social.

A linguagem verbal, além de ser a ponte de comunicação entre os sujeitos, é

também responsável pela organização do pensamento, e é constituída individualmente,

ou seja, faz parte do processo de identidade pessoal e social de cada sujeito. Dessa

forma, o estudo da linguagem na escola é de suma importância tanto para a

aprendizagem dos conteúdos escolares, quanto para ampliar a participação cidadã do

indivíduo nas questões sociais. A leitura, nesse processo, contribui na sistematização do

conhecimento, ao proporcionar ao estudante um vocabulário amplo, mais segurança

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para expor e defender seu posicionamento em público e na construção de ideias

coerentes ao abordar um determinado tema.

Portanto, defendemos que cabe ao professor dos anos iniciais a tarefa de criar

um ambiente escolar voltado para a valorização da leitura no processo de ensino

aprendizagem das crianças, pois a passagem pela pré escola faz com que elas cheguem

ao Ensino Fundamental trazendo em sua bagagem experiências e informações

compatíveis com seu nível escolar. Nessa nova realidade, o docente precisa preparar um

espaço que possibilite trocas e aprendizagens significativas com e entre os alunos.

2.7 A linguagem no desenvolvimento da criança

Dominar a fala é uma característica exclusiva do ser humano, pois através dela o

indivíduo transmite as suas ideias e consegue compreender as das outras pessoas.

Vygotksy (apud REGO, 1995, p. 63-64), afirma que a conquista da linguagem

representa um marco no desenvolvimento do homem, pois considera que:

A capacitação especificamente humana para a linguagem habilita as crianças a

providenciarem instrumentos auxiliares na solução de tarefas difíceis, a

superarem a ação impulsiva, a planejarem a solução para um problema antes

de sua execução e a controlarem o seu próprio comportamento. Signos e

palavras constituem para as crianças, primeiro e acima de tudo, um meio de

contato social com outras pessoas. As funções cognitivas e comunicativas da

linguagem tornam-se, então, a base de uma forma nova superior de atividade

nas crianças, distinguindo-as dos animais.

A interação social ocupa um espaço de destaque no desenvolvimento humano,

pois é a partir dela que a criança tem acesso à cultura, aos valores e conhecimentos

acumulados ao longo da história. Através do contato social, o infante tem a

oportunidade de construir habilidades que lhe permitirá adaptar-se ao mundo e, nesse

processo, a linguagem atua como um canal de comunicação e expressão. Através da

fala, é possível desenvolver a memória, a imaginação e a criatividade, que possibilita a

passagem do pensamento concreto para o pensamento mais abstrato.

Leontiev (2001, p. 59) afirma que: “para esclarecer o problema teórico das

forças motivadoras do desenvolvimento da psique infantil, precisamos, primeiro,

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compreender o que determina o caráter psicológico da personalidade, em qualquer

estágio de seu desenvolvimento”. A criança vai conhecendo o mundo, a partir de sua

ação sobre ele. E a leitura é um veículo nessa interação, permitindo a assimilação das

informações recebidas, e, a partir dessa ação, ocorre o seu amadurecimento psicológico

atrelado às influências do contexto escolar mediado pelo professor.

Então as relações que a criança constrói com os adultos, principalmente com sua

família, é, determinante na formação de sua personalidade, pois o desenvolvimento de

sua personalidade não depende somente das condições biológicas e psicológicas, mas

também dos recursos oferecidos pelo seu meio, ou seja, a interação que realiza com as

pessoas com quem convive e o ambiente em que acontece essa interação é bastante

relevante para seu desenvolvimento completo.

[...] a língua é um sistema de signos histórico e social que possibilita ao

homem significar o mundo e a realidade. Assim, aprendê-la é aprender não só

as palavras, mas também os seus significados culturais e, com eles os modos

pelos quais as pessoas do seu meio social entendem e interpretam a realidade e

a si mesmas. [...] Produzir linguagem significa produzir discursos. (PCN’s,

2001, p. 24).

A partir da linguagem, os homens se relacionam uns com os outros, mas, para

que isso aconteça é preciso que utilizem os mesmos signos linguísticos. A interação

verbal permite a comunicação entre as pessoas, possibilita a compreensão da realidade e

as representações que compõem essa realidade. Isso significa dizer que a linguagem é

um recurso indispensável para a aprendizagem do ser humano.

Conclui-se que a leitura é uma prática pedagógica eficiente no processo ensino

aprendizagem da criança. O ato de ler estimulado pelo docente contribui na construção

de habilidades e competências necessárias para a produção de novos conhecimentos.

Nessa perspectiva, acreditamos que o trabalho do professor mediado pela leitura,

permite ao aluno analisar, refletir, interpretar e compreender as suas as ações diante da

sociedade.

3 A leitura como prática pedagógica para otimizar a aprendizagem das crianças do

1° e 2° ano do ensino fundamental

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3.1 O caminho metodológico percorrido: contextualizando o objeto da pesquisa

O presente trabalho apresenta um foco descritivo e analítico. Optou-se pela

pesquisa qualitativa com a utilização, primeiramente, da técnica de observação não

participativa que proporcionou maior proximidade com os sujeitos foco da pesquisa,

bem como analisar com maior acuidade os dados obtidos, posteriormente, com as

entrevistas semiestruturadas que efetuou-se com as professoras de duas escolas da Rede

Municipal de Ensino dos anos iniciais, e que se constituem como corpus desta

investigação científica.

A observação realizada na escola x, nas turmas do 1º ano A e B e 2º ano. Nela,

observamos o projeto didático com o tema: Lendo e aprendendo. Na escola z,

observamos as turmas do 1° ano A e B e 2º. A coleta de dados procedeu em torno dos

objetivos da pesquisa, por isso foi elaborado um roteiro de passos a serem seguidos e

que resultaram em um relatório para análise. A escolha das escolas-campo surgiu por

apresentarem as características ideais para a realização do presente trabalho, uma

trabalha com leitura diariamente, a outra ainda não tem o ato de ler como uma prática

pedagógica diária. As entrevistas, realizadas com o auxílio de um gravador, foram

norteadas por questões que objetivaram contemplar informações que subsidiassem a

temática em análise, uma vez que possibilitaram a análise e a interpretação de dados que

delinearam os resultados obtidos.

O universo dessa investigação é composto por 10 professores e seus respectivos

alunos. Como amostra para a efetivação da análise da pesquisa, extraiu-se cinco

docentes das escolas-campo x e z acima citados. A escolha da figura do professor se deu

por ser o mediador na construção do conhecimento em da sala de aula e o responsável

por utilizar práticas pedagógicas que promovam a aprendizagem das crianças sob sua

responsabilidade.

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3.2 Descrição e análise das observações e entrevistas

3.2.1 Professora Rosa

Professora Rosa está graduando-se em Pedagogia e trabalha há dez anos como

educadora no município de Caxias. Atualmente, leciona na escola x numa turma de 1º

ano com 16 alunos, um número considerado bom em se tratando da fase de

alfabetização. Com relação à leitura, considera uma prática que auxilia,

significativamente, no trabalho pedagógico que desenvolve para promover a

aprendizagem das crianças. Segundo ela: “durante todo ano letivo desenvolvemos o

projeto: Lendo e a aprendendo, pois acreditamos que através do ato de ler, o aluno

desenvolve habilidades e competências para entender as ações que ocorrem no seu

cotidiano”.

Para a professora Rosa, “é importante que se conheça o que a criança já sabe e

trazer para a sala de aula; de início, assuntos relacionados à sua realidade”. Essa é uma

competência que o professor deve desenvolver durante as suas experiências como

educador, pois traçar estratégias de ensino para favorecer a aprendizagem é uma tarefa

exclusiva do docente. Cabe a ele, selecionar e organizar textos de gêneros diversificados

para estimular a aprendizagem de seus alunos (SOLÉ, 1998). Nessa perspectiva, é

importante que o professor por ser o mediador do processo ensino-aprendizagem,

promova atividades que envolvam essa diversidade textual e estimulem os educando a

produzir conhecimentos sobre as características dos gêneros textuais e sua utilidade de

acordo com objetivo e as situações exigidas na sociedade.

3.2.2 Professora Violeta

Professora Violeta é graduada em Letras pela Universidade do Estado do

Maranhão - UEMA, atualmente trabalha na escola x, na turma de 2º ano com 20 alunos.

Para ela, a leitura “é o principal, pois é lendo que se descobre o mundo”. Segundo a

entrevistada, não participa de cursos de formação continuada, no que demonstrou certa

dúvida ao declarar que participa de cursos voltados para práticas pedagógicas de leitura

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afirmando que “esses cursos deu novos rumos e me mostrou novas estratégias de

trabalho”.

Segundo Violeta, para recuperar os alunos que apresentam dificuldades de

aprendizagem, a escola x trabalha “reforço, atividades diferenciadas contemplando as

necessidades do aluno, acompanhamento individual com ajuda da coordenação e leitura

diária”. Acrescentou também que: “temos de explorar a inteligência particular de cada

criança, uns aprendem ler visualmente, outros com gestos, letras, palavras, enfim, cada

aluno tem seu universo e todas as concepções de leitura são válidas”.

3.2.3 Professora Margarida

Margarida é professora licenciada em Letras pela Universidade do Estado do

Maranhão – UEMA, atualmente leciona na escola x, na turma de 1º ano, há 18 alunos.

Segundo a professora, trabalhar com leitura para estimular aprendizagem das crianças é

uma ação criativa do professor, pois se percebe que, através do ato de ler, o aluno

desenvolve as suas habilidades cognitivas com mais rapidez. Para Margarida, a leitura é:

“o ponto de partida para o aluno evoluir o seu conhecimento”.

Para a professora, é de suma importância que os professores, principalmente, dos

anos iniciais participem de cursos de formação continuada voltados para práticas de

leitura. Segundo ela: “Esses cursos qualificam o nosso trabalho”. Qualificar cada vez

mais a sua prática docente é uma necessidade do educador e para Margarida: “Através

desses cursos, aprendemos novas estratégias para trabalhar a leitura dentro da sala de

aula”. E acrescenta afirmando: “A leitura é meio pelo qual adquiramos o conhecimento,

entretanto, é um recuso que favorece a aprendizagem do aluno, sendo necessária no

cotidiano escolar”.

Trabalhar a leitura na perspectiva de estimular a aprendizagem das crianças é

uma prática pedagógica que valoriza o trabalho do professor. E a concepção de leitura

da entrevistada segue a mesma linha de pensamento de Kleiman (1995, p. 70): “A

capacidade para perceber a função do contexto é de fundamental importância na

leitura”. Para Margarida, desenvolver atividades com textos pequenos e ilustrados

estimula a criança a interpretar o conteúdo a partir da leitura da imagem, e esse tipo de

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estratégias fornecem elementos essenciais para a aquisição da leitura, pois o aluno é um

ser curioso que estimulado responde ao processo ensino-aprendizagem.

3.2.4 Professora Jasmim

Professora Jasmim é graduada em Informática pelo NEAD (Núcleo de Educação

a Distância da Universidade do Estado do Maranhão – UEMA), e há 20 anos trabalha

no município de Caxias. Atualmente, leciona na escola z, na turma de 1º ano com 24

alunos.

Na concepção da professora, em relação ao papel da leitura no processo ensino-

aprendizagem das crianças é: “a concepção globalizada hoje facilita o papel da leitura

despertando o raciocínio lógico das crianças no processo de aprendizagem”. Percebe-se

que Jasmim ou não compreendeu o questionamento ou não possui um conceito formado

de fato, sobre o ato de ler como prática pedagógica.

A leitura como prática pedagógica no processo ensino aprendizagem estimula a

criança a buscar mecanismos inseridos no seu contexto social que contribui com a

aquisição de habilidades e competências necessárias para a produção do conhecimento.

E relação a essa questão, a professora entrevistada declarou: “O professor deve

estimular aprendizagem dos alunos, com leituras infantis, pequenos textos orais e

escritos, interpretando junto com ele, a leitura facilita todo processo de ensino-

aprendizagem do aluno e facilita na prática do professor”.

Observou-se que, apesar da professora mostrar compreender a leitura como

prática pedagógica que estimula no processo de alfabetização dos alunos, se percebe

que ela encontra certos obstáculos em entender os questionamentos. Evidenciando uma

problemática preocupante em relação à formação de nossos professores, a de que muitos

não têm o hábito da leitura e apresentam dificuldades de se expressar, analisar,

questionar, e interpretar um texto, uma ação ou uma determinada situação do seu

cotidiano.

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3.2.5 Professora Bromélia

Bromélia não possui formação acadêmica, ela tem apenas o magistério. Há 20

anos trabalha no município de Caxias, exercendo a função de professora, atualmente

leciona na escola z na turma de 2º ano composta por 25 alunos.

No que diz respeito à leitura como prática pedagógica para estimular a

aprendizagem das crianças, a professora afirma: “melhora os seus conhecimentos,

através da leitura com pequenos textos”. A professora entrevistada, também, mostrou

em alguns momentos não compreender as questões propostas da entrevista,

apresentando incoerências em suas respostas. E ao ser questionado sobre sua

participação em cursos de formação continuada, a professora limitou-se a responder:

“Gosto de participar desses cursos”. Percebemos que algumas professoras ficaram em

dúvida ao responder o questionamento, pois mostravam insegurança. Esse

comportamento das professoras entrevistadas pode ser provido de não saber de certo o

que significavam cursos de formação continuada.

Quando questionada em relação às práticas pedagógicas desenvolvidas pela

escola z para recuperar as crianças que apresentam dificuldades de aprendizagens, a

professora Bromélia respondeu: “trabalhamos com jornais, revistas e fichas”, e ao

estimularmos a detalhar as estratégias de ensino que utilizava com esses recursos

didáticos, a entrevistada declarou que considera de suma importância que os alunos

realizem leitura, manuseando recursos diferentes do livro didático, e não esclareceu os

objetivos de sua prática. É importante ressaltar o que afirma Perrenoud (2000, p. 30),

sobre a competência do professor em organizar e dirigir situações de aprendizagem:

[...] aprender não é primeiramente memorizar, estocar informações, mas

reestruturar seu sistema de compreensão de mundo. Tal reestruturação não

acontece sem um importante trabalho cognitivo. Engajando-se nela,

restabelece-se um equilíbrio rompido, dominando melhor a realidade de

maneira simbólica e prática.

As considerações da professora Bromélia sobre a temática leitura como prática

pedagógica para estimular a aprendizagem das crianças apresentam-se contraditórias, e

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esse fato se dá baseado na carência de conhecimentos relacionados ao ato de ler,

objetivando ao aluno a aquisição de habilidades e competências para compreender a

realidade em que envolve o seu meio sociocultural.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho proporcionou evidenciar que as práticas pedagógicas de

leitura desenvolvidas pelo professor na sala de aula estimulam o processo de ensino-

aprendizagem, e que, sem dúvidas, a falta deste recurso torna difícil o trabalho dos

docentes na tarefa de alfabetizar as crianças dos anos iniciais. Nesse sentido, cabe ao

professor a reflexão de sua prática docente, avaliando o seu trabalho pedagógico

regularmente como forma de acompanhar o processo ensino-aprendizagem das crianças,

dando ênfase para aqueles que apresentam dificuldades de aprendizagens, planejando

estratégias de ensino diversificadas que ajudem a superá-las. E nesse processo a leitura é

uma prática pedagógica que possibilita que o docente trabalhe esses obstáculos

encontrados pelos alunos na aquisição do conhecimento.

O papel da leitura na aprendizagem da criança proporciona ao professor realizar

um trabalho de qualidade, uma vez que o ato de ler desenvolve no aluno habilidades e

competências que o possibilita a questionar, analisar, interpretar e compreender as

situações presentes no seu cotidiano ampliando, dessa forma, a sua visão de mundo,

possibilitando-o a uma participação ativa no contexto social em que se encontra

inserido, podendo interferir em sua realidade e na realidade das pessoas de sua

comunidade.

Desenvolver este trabalho nos fez acreditar mais ainda que a leitura mediada pela

ação do professor estimula o processo de construção do conhecimento do aluno. Tal

confirmação foi possibilitada pela observação não participativa que realizamos na

escola x, onde crianças do 1º ano e 2º ano foram envolvidas num projeto de leitura, e na

ocasião podemos constatar alunos lendo contos, poesias, poemas, parlendas e trava-

línguas, atividades simples, mas que podem enriquecer o processo ensino

aprendizagem.

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Ressalta-se ainda que, através dos estudos feitos e dos dados coletados por meio

da observação não participativa e das entrevistas com as professoras, algumas declaram

não gostarem de atuarem nos anos iniciais. E confessam não se identificar com a

alfabetização por considerarem uma tarefa árdua, e quando questionadas por que as

permanências relatam que, às vezes, é por imposição do diretor, atitude esta que

atrapalha no processo de construção do conhecimento da criança.

Conclui-se que a leitura é uma prática pedagógica do professor para estimular a

aprendizagem das crianças dos anos iniciais, mas que não está presente no cotidiano do

trabalho pedagógico de alguns docentes, precisando ainda, fazer parte das estratégias

didáticas do docente no processo ensino aprendizagem dos alunos do Ensino

Fundamental, principalmente aqueles que ingressam nos anos iniciais.

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Aprovado Para Publicação em 23 de novembro de 2013.