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    Sociedade Brasileira de Economia, Administrao e Sociologia Rural

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    A LEGISLAO TRABALHISTA BRASILEIRA E SEUS EFEITOS ADVERSOS SOBRE OS CUSTOS DE TRANSAO NA

    AGRICULTURA

    GERVSIO CASTRO DE REZENDE; ANA CECLIA KRETER;

    UFF / IPEA

    RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL

    [email protected]

    APRESENTAO ORAL

    Evoluo e estrutura da agropecuria no Brasil

    Ttulo A LEGISLAO TRABALHISTA BRASILEIRA E SEUS EFEITOS ADVERSOS

    SOBRE OS CUSTOS DE TRANSAO NA AGRICULTURA

    Grupo de Pesquisa 5: Evoluo e Estrutura da Agropecuria no Brasil

    Resumo

    Este trabalho pretende contribuir para a anlise do padro inadequado de nosso crescimento agrcola em termos de absoro de mo de obra, focalizando, especialmente, o papel da poltica trabalhista agrcola. Embora admitindo a importncia dos encargos trabalhistas, a anlise d mais nfase aos custos de transao decorrentes dessa poltica; o artigo prope, na realidade, que esses custos de transao sejam mais importantes do que os encargos

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    trabalhistas para a anlise do papel dessa poltica. O trabalho termina propondo uma mudana na atual poltica trabalhista agrcola, tendo em vista permitir que contratos sejam estabelecidos entre as partes envolvidas, de forma muito mais livre do que atualmente. Isso no significa, contudo, que o setor pblico fique ausente nesse novo mercado de trabalho, inclusive em face de seu papel de garantir o cumprimento desses contratos.

    Palavras-chaves: Legislao Trabalhista Agrcola, Custos de Transao, Trabalho Sazonal Agrcola.

    Abstract

    This paper seeks to contribute to the analysis of the inadequate pattern of labor absorption in agriculture, focusing, specially, on the role of the agricultural labor policy. While pointing out the negative role played by the so-called labor surcharges, the paper gives more emphasis on the transaction costs associated to these policies; the paper proposes, actually, that these transaction costs are more important than the labor surcharges for the analysis of the role played by this agricultural labor policy. The paper ends up proposing a change in the current agricultural labor policy, in order to allow for much freer contracting among the several parties involved in these markets. This does not mean, however, that the public sector should leave this labor market altogether; after all, public regulation is necessary for the enforcement of the contracts.

    Key Words: Agricultural labor legislation, Transaction costs, Agricultural seasonal labor.

    1. INTRODUO O setor agrcola tem cumprido um papel estratgico na atual fase da economia brasileira, devido sua capacidade de contribuir para uma oferta interna adequada de alimentos e matrias-primas agrcolas e para o aumento das exportaes. Ao mesmo tempo, a agricultura tem adotado, crescentemente, uma tecnologia intensiva em capital e mo-de-obra qualificada, assim como crescentes escalas de produo nas vrias atividades.

    Em face da gravidade do problema atual de pobreza e desigualdade no Brasil, deve-se avaliar se possvel mudar esse padro, em favor de um outro mais consistente com a reduo da pobreza e da desigualdade. Isso requereria uma mudana tecnolgica que visasse absorver em maior quantidade um tipo de mo-de-obra hoje considerado pouco qualificada na economia como um todo, embora passvel de adquirir, a um custo relativamente baixo, a qualificao requerida para esse novo padro de tecnologia agrcola.

    Note-se que, como mostrado em Alves, Mantovani & Oliveira (2005), o padro atual de tecnologia agrcola tem levado absoro de um volume significativo de mo-de-obra, tanto no meio rural como no urbano, mas essa mo-de-obra predominantemente qualificada, que escassa no Brasil. Ferreira Filho (2005) tambm mostrou tal absoro de mo-de-obra qualificada pelo setor agrcola, especialmente nas regies mais dinmicas. A mudana tecnolgica considerada neste trabalho, contudo, teria por objetivo aumentar a absoro por parte da agricultura de mo-de-obra no-qualificada, que existe em abundncia na nossa economia.

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    Este trabalho, que uma verso revista de Rezende e Kreter (2007a), pretende mostrar que a poltica trabalhista agrcola tem contribudo, de maneira muito importante, para a adoo, pela agricultura, desse padro inadequado de absoro de mo-de-obra. Na realidade, tm contribudo para isso, tambm, as polticas fundiria e de crdito agrcola como argumentado em outros trabalhos de um dos autores , mas isso no ser tratado neste trabalho.

    Alm desta Introduo, este trabalho inclui outras seis sees. A prxima seo chama a ateno para os problemas que surgem no mercado de trabalho agrcola no Brasil, devido sazonalidade da agricultura e legislao trabalhista. Prope-se que esses problemas de mercado de trabalho afetam em grau maior os pequenos agricultores.

    A Seo 3 aprofunda a discusso das caractersticas do mercado de trabalho agrcola sazonal, tomando por base uma pesquisa de campo conduzida no setor de cana de acar em So Paulo. Graas a essa pesquisa, que incluiu vrias entrevistas com os principais agentes envolvidos, tornou-se possvel entender melhor o papel do empreiteiro na agricultura brasileira, como ele surge e que tipo de funes ele realmente desempenha. Mostra-se que esse empreiteiro desempenha o mesmo papel do labor contractor nos Estados Unidos. Ao mesmo tempo em que aponta essas similitudes, a Seo 3 enfatiza tambm as diferenas entre esses agentes econmicos nesses dois pases, devido ao fato de que a legislao trabalhista agrcola no Brasil muito mais intervencionista, implicando no s muito maiores encargos trabalhistas, mas tambm custos muito maiores de contratao e de demisso da mo-de-obra, especialmente quando a contratao se d por perodos curtos.

    A Seo 4 expande essa anlise do empreiteiro, apresentando a legislao que tem servido de base para se proibir que o empreiteiro possa ser o contratante direto da mo de obra no Brasil, esse papel tendo de ser um atributo exclusivo do agricultor. Essa seo mostra que essa proibio resulta de uma extenso, agricultura, da mesma viso crtica que se tem da terceirizao de atividades urbanas, deixando-se de lado, assim, as especificidades da agricultura. Essa especificidade se revela, alis, na importncia histrica que esse fenmeno tem exercido na agricultura no Brasil, ao contrrio dos demais setores da economia, onde a terceirizao um fenmeno muito mais recente e tem causas completamente diferentes.

    A Seo 5 estende essa discusso do mercado de trabalho agrcola temporrio para as vrias tentativas que se adotaram para, parte a soluo do problema acima do empreiteiro, tornar mais vivel esse mercado de trabalho, admitindo-se explicitamente as diferenas fundamentais entre um mercado de trabalho (o temporrio agrcola) em que o trabalhador trabalha apenas alguns meses do ano e um mercado de trabalho (o permanente, agrcola e no agrcola) em que o trabalhador trabalha o ano todo, s vezes estendendo-se por vrios anos.

    A Seo 6, por sua vez, mostra como essa legislao trabalhista tem gerado custos de transao no mercado de trabalho agrcola brasileiro, custos esses que podem estar afetando esse mercado de forma mais negativa ainda do que os conhecidos encargos trabalhistas, que so os aspectos mais comumente objeto de anlise nos mercados de trabalho no Brasil.

    A Seo 7 apresenta, ento, uma abordagem terica que permite uma anlise mais profunda dessas questes, e que consiste do emprego da anlise da cunha fiscal, utilizada nas teorias da tributao e de mercado de trabalho. Essa cunha consiste da diferena entre o custo efetivo da mo-de-obra do ponto de vista do empregador e o salrio-base efetivamente

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    recebido pelo trabalhador. Informalidade no mercado de trabalho, segundo essa abordagem, corresponde a um caso particular em que, graas ao no-cumprimento da legislao trabalhista, no s essa cunha se reduz, mas fica menor o custo da mo de obra para o empregador, ao mesmo tempo em que aumenta o salrio-base do empregado.1

    Ao mesmo tempo em que adota essa anlise da cunha fiscal, essa Seo 7 faz, contudo, uma crtica a essa anlise padro de mercado de trabalho, j que essa anlise da informalidade deveria admitir que um novo tipo de custo surge com essa informalidade ou seja, o custo de transao, que decorre da ilegalidade e de um provvel comportamento oportunista do trabalhador, denunciando o empregador na Justia do Trabalho aps beneficiar-se, por algum tempo, do maior salrio conseguido graas informalidade. Finalmente, essa Seo 7 chama a ateno como a legislao trabalhista afeta de maneira diferente os mercados de trabalho agrcola e no-agrcola.

    Finalmente, a Seo 8 apresenta um sumrio e as principais concluses do trabalho.

    2. A Legislao Trabalhista Agrcola e seus Impactos Negativos sobre a Agricultura Familiar no Brasil Como conseqncia da sazonalidade que tipifica a produo agrcola, o mercado de trabalho assalariado agrcola , em grande parte, temporrio, o que d lugar aos seguintes problemas: a) baixa qualificao da mo-de-obra, uma vez que, tanto do ponto de vista do trabalhador, quanto do ponto de vista do empregador, no h incentivos no investimento na qualificao da mo-de-obra, devido grande rotatividade; e b) incerteza com respeito oferta de mo-de-obra, em parte devido a um problema de informao, uma vez que os trabalhadores, muitas vezes, moram em regies muito distantes das regies onde h necessidade de mo-de-obra. Este problema especialmente severo em pases continentais, como o Brasil e os Estados Unidos.

    Deve-se notar que esse mercado de trabalho sazonal tambm muito inadequado do ponto de vista dos trabalhadores principais, uma vez que oferece emprego apenas em partes do ano, e mesmo assim de forma incerta. Entretanto, o que uma desvantagem para um tipo de trabalhador se torna uma vantagem para outro. Este o caso dos membros de famlias de agricultores que vivem em regies pobres do Brasil como, por exemplo, o Norte de Minas Gerais e o Nordeste --, uma vez que esse mercado de trabalho sazonal oferece uma alternativa de emprego complementar sua produo agrcola prpria. Essa complementaridade se deve no s a perodos diferentes de safra/entressafra nas duas regies, como tambm devido ao fato de que o ganho derivado do trabalho assalariado no embute o risco que a produo agrcola prpria envolve.

    Note-se que esse mercado de trabalho sazonal pode ser muito importante para membros secundrios da famlia, tambm. Assim, uma vez que esse mercado de trabalho assalariado uma fonte de renda relevante para grupos sociais situados prximos da linha de da pobreza absoluta, muito importante evitar que ele desaparea.

    Esse mercado de trabalho agrcola sazonal apresenta os mesmos problemas em todo o mundo. Como conseqncia, uma literatura internacional se desenvolveu visando atribuir a vantagem

    1 Note-se que a legislao trabalhista d lugar, tambm, a um outro tipo de informalidade, o conta-prpria ou trabalhador autnomo, que no ser objeto de anlise aqui.

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    competitiva da agricultura familiar,2

    Ao contrrio do que aconteceu no resto do mundo, entretanto, a agricultura familiar no Brasil acabou sendo afetada mais adversamente pelas peculiaridades do mercado de trabalho assalariado. Isso se deveu, em parte, no apenas devido ao alto custo, no Brasil, da mo-de-obra contratada fora do estabelecimento uma conseqncia da legislao trabalhista, como se ver depois , mas tambm devido ao fato de que a agricultura familiar no tem tido, como regra, acesso ao crdito e, assim, mecanizao.

    nos pases desenvolvidos, ao fato de a agricultura familiar ser menos dependente desse mercado de trabalho agrcola, uma vez que dotada de mo-de-obra prpria. Por outro lado, a dotao limitada de mo-de-obra no impede essa forma de produo de atingir a escala tima de produo, devido ao acesso facilitado ao crdito, que permite a mecanizao, especialmente nas atividades de plantio e colheita. Alm disso, essa forma de agricultura mais capaz de diversificar suas atividades reduzindo, assim, os picos sazonais de demanda de mo-de-obra , sem mencionar o menor custo de superviso da mo de obra, um problema geralmente considerado muito mais importante na agricultura do que nos demais setores.

    Para se entender porque a agricultura familiar tem sido afetada de forma particularmente adversa por nossa poltica trabalhista agrcola, basta considerar que o cumprimento dessa legislao impe custos fixos relevantes para o empregador, como os seguintes, apenas para dar alguns exemplos: a) manter-se informado sobre a legislao, ou contratar um contador para esse fim; b) ter de ir ao banco e abrir contas individuais para regularizar a situao dos empregados junto ao INSS e retornar outras vezes para fazer os pagamentos do INSS; c) manter em dia o registro de cada trabalhador, mesmo se cada um deles trabalhou apenas alguns dias; d) levar os trabalhadores cidade a fim de encontrar um mdico habilitado para fazer o exame admissional e depois voltar para fazer o exame demissional. Alm de gastar tempo e dinheiro a fim de cumprir todas essas exigncias da legislao trabalhista com um custo evidente para a atividade agrcola prpria , o agricultor familiar tem tambm que cumprir uma srie de exigncias relativas segurana do trabalhador, como descrito em Teixeira, Barletta & Lemes (1997).

    So esses custos administrativos, em grande medida invariantes com o tamanho da fora de trabalho sendo, assim, fixos que acabam fazendo com que o custo unitrio da mo-de-obra seja no apenas elevado, mas muito mais alto para o trabalhador temporrio do que para o trabalhador permanente e, dentro do grupo dos agricultores, muito maior para os pequenos do que para os grandes agricultores.

    Os pequenos agricultores, tambm, no caso de serem multados por no cumprirem a legislao trabalhista, podem chegar ao ponto de perderem suas propriedades. Esse risco trabalhista, naturalmente, tambm deve ser considerado um custo fixo, cujo montante e cuja probabilidade de ocorrncia variam de agricultor para agricultor, sendo certo, contudo, que eles devem afetar mais o pequeno do que o grande agricultor.

    Ao mesmo tempo em que enfrentam um custo maior de mo-de-obra assalariada, a agricultura familiar no Brasil, ao contrrio do que aconteceu na maioria dos pases capitalistas, no foi capaz de adotar a mecanizao, devido s restries de acesso ao crdito. Note-se que essa 2 Agricultura familiar entendida, aqui, como a agricultura que se baseia na mo de obra familiar, enquanto a agricultura capitalista se baseia na mo de obra assalariada.

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    restrio maior exatamente quanto ao crdito de investimento, que , precisamente, o crdito requerido para a compra de maquinaria agrcola e seus implementos. A agricultura familiar no Brasil perde, assim, competitividade vis--vis a agricultura capitalista, por duas razes: primeiro, por ter de arcar com um custo unitrio maior para a mo-de-obra contratada fora; e segundo, por no poder superar, via mecanizao, as restries e a incerteza que o mercado de trabalho sazonal lhe impe nas fases de plantio e colheita.

    As razes que explicam essa falta de acesso ao crdito por parte da agricultura familiar no Brasil so discutidas de forma mais completa em Rezende (2006). Elas tm que ver no somente com os problemas conhecidos relativos precariedade do acesso terra por parte desses produtores, mas tambm devido s restries que a Constituio Federal impe cesso da terra dos pequenos produtores como colateral em emprstimos bancrios. Essa restrio atinge at mesmo aqueles agricultores que supostamente j resolveram seus problemas de acesso terra, ou seja, os beneficirios da reforma agrria. Com efeito, a Constituio Federal estabelece que esses beneficirios da reforma agrria no adquiram o ttulo de propriedade, mas apenas um ttulo de domnio ou concesso de uso, no-negocivel por dez anos.

    De qualquer modo, em vista da limitao imposta cesso de sua terra como colateral em operaes financeiras, esses beneficirios da reforma agrria acabam perdendo o interesse em adquirir esse ttulo de propriedade, ainda mais porque, aps serem emancipados e obterem o ttulo de propriedade de suas terras, eles no s tm de pagar uma srie de gastos realizados pelo governo, mas tambm perdem uma srie de benefcios que o governo se mantm concedendo ad eternum a esses beneficirios da reforma agrria. Esses agricultores, portanto, nunca se tornam realmente agricultores independentes, os homesteaders to sonhados pelos criadores do Estatuto da Terra.

    3. A Sazonalidade da Atividade Agrcola e o Papel do Empreiteiro Devido dificuldade de comunicao e obteno de informao entre os dois lados desse mercado de trabalho temporrio, surgiu o intermedirio, mais conhecido, histricamente, como empreiteiro, que normalmente detm a informao requerida nos dois lados desse mercado e age facilitando que a contratao de mo-de-obra se materialize. Na realidade, esse empreiteiro desempenha o mesmo papel do labor contractor, objeto de estudo de Vandeman, Sadoulet & De Janvry (1991), em sua anlise do mercado de trabalho agrcola californiano.

    De fato, a contratao direta da mo-de-obra sazonal por agricultores individuais, atualmente, uma tarefa particularmente difcil no Brasil, especialmente devido ao fato de que a maioria desses trabalhadores formada de migrantes sazonais, moradores de regies distantes. Uma vez que esses trabalhadores no podem arcar com os custos da viagem (inclusive as despesas iniciais no local de destino) mais os adiantamentos deixados com suas famlias, os custos de contratao so muito altos, especialmente se eles so arcados inteiramente por um agricultor individual. Alm disso, esse mercado de trabalho agrcola sazonal tambm apresenta problemas srios de seleo, que se tornam muito mais srios no Brasil devido aos nossos custos elevados de contratao e demisso, especialmente considerando perodos curtos de tempo (trs a quatro meses, por exemplo). Isso torna erros de seleo um problema muito mais srio no Brasil do que nos Estados Unidos.

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    Esse problema de mercado de trabalho agrcola vem sendo resolvido, no Brasil e no exterior, atravs da contratao de empreiteiros pelos agricultores, para exercer a tarefa necessria (o corte de cana, por exemplo) com uma fora de trabalho contratada diretamente por esses intermedirios e usando sua prpria maquinaria e tudo o mais que for necessrio para esse intermedirio executar a tarefa contratada. Nesse contexto, esse intermedirio acaba tambm desempenhando a funo de supervisor da mo-de-obra, outro problema de importncia crucial na agricultura; a este respeito, deve-se apontar que a adoo do sistema de pagamento por tarefa (pagamento de acordo com a quantidade de cana cortada, por exemplo) um sistema desenhado exatamente para reduzir custos de superviso, uma vez que esse sistema estimula o trabalhador a trabalhar duro por sua prpria conta e sem superviso. Na medida em que esse sistema acaba elevando a produtividade da mo-de-obra, isso reduz o custo da mo-de-obra e pode levar a um aumento da renda do trabalhador, dependendo das elasticidades-preo das curvas de oferta e demanda de mo de obra.

    Dessa maneira, todos os problemas relacionados seleo e superviso da mo-de-obra so assumidos pelo empreiteiro, evidentemente a um preo acertado previamente com o agricultor. Formam-se, ento, dois mercados, muito inter-relacionados entre si: o mercado de trabalho, envolvendo trabalhadores e empreiteiros, e o mercado de empreitada, envolvendo os agricultores e os empreiteiros. Considerando os problemas conhecidos relacionados seleo e superviso de mo-de-obra na agricultura, pode-se apreciar quo importante o papel desse intermedirio, aliviando o agricultor da tarefa de lidar sozinho com todas essas difceis tarefas.

    interessante notar que o labor contractor americano desempenha o mesmo papel que o empreiteiro no Brasil; de fato, de acordo com Glover (1984, p. 259), o labor contractor nos Estados Unidos relieves the grower from many burdens. [He] recruits and transports and supervises workers in the field. He also instructs workers. He keeps records and pays workers and payroll taxes. Often, he provides workers with food and lodging. He supplies drinking water and field toilets and may supply some implements of harvesting such as gloves, ladders, or clippers. He also is obligated to carry insurance. He may extend credit to workers or help them with personal problems.

    Naturalmente, esse labor contractor americano capaz de fazer tudo isso devido a um contrato paralelo com o agricultor, fixando, antecipadamente, seu pagamento por cada tarefa desempenhada. A propsito, isso mostra que associar esse intermedirio figura de um mero corretor (broker), como proposto por Okun (1981, p. 63) e adotado por Williamson (1985, p. 245), totalmente inadequado.

    De acordo com Vandeman et alii (1991), na sua anlise da agricultura californiana, seria a capacidade desse intermedirio de distribuir os custos fixos de contratao de mo-de-obra por vrios agricultores e de aliviar esses agricultores das tarefas difceis de seleo e de superviso de mo-de-obra, que explicariam sua prevalncia na agricultura californiana; esses fatores podem tambm ser a causa principal da prevalncia desses intermedirios na maioria dos pases que contam com um mercado de trabalho agrcola desse tipo.

    No caso do Brasil, entretanto, existe uma razo adicional para a prevalncia dessa atividade do empreiteiro: trata-se dos custos elevados de contratao e de demisso do trabalhador, especialmente quando se trata de perodos curtos. De fato, nossa legislao trabalhista aumenta dramaticamente esses custos de mo-de-obra para o empregador, especialmente em

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    situaes como as consideradas aqui, em que o trabalhador tem de ser admitido e depois demitido por perodos curtos, por vrios agricultores, em sucesso.3

    A reduo dos custos de mo-de-obra decorrente de uma contratao nica de mo-de-obra pelo empreiteiro, que ento passa a atender aos vrios agricultores (que, de outra maneira, teriam, cada um, de contratar e depois demitir a mesma mo-de-obra), certamente explica o papel, possivelmente mais importante no Brasil do que nos EUA, desempenhado por esse agente na agricultura brasileira, no obstante a represso que o empreiteiro sofre por parte da Justia do Trabalho, como ser visto na prxima seo.

    A propsito, so precisamente esses elevados custos de admisso e depois de demisso de um nico trabalhador, em curtos perodos, por parte de vrios agricultores, que, como apontado por Lemes (2005, captulo 4), levaram criao no Brasil dos condomnios dos empregadores, os quais tiveram muito sucesso em algumas reas do estado do Paran. Em tal condomnio os agricultores formam uma associao que se torna a nica contratante do trabalhador, que ento alocado para trabalhar para cada agricultor, em seqncia. Na medida em que o processo se renova cada ano, o trabalhador poderia passar a ter uma espcie de emprego permanente, caso mostre um desempenho satisfatrio. Esse sistema teria, portanto, a vantagem de prover uma forma de estabilidade de emprego para a mo-de-obra, com todas as conseqncias positivas disso.

    Esse tipo de soluo do problema da mo-de-obra sazonal requer, evidentemente, que as atividades agrcolas regionais sejam diversificadas ao longo do ano, de tal maneira que o trabalhador seja demandado ao longo de todo o ano. Alm disso, o trabalhador deveria ser alocado de tal maneira que as vrias necessidades dos agricultores sejam adequadamente atendidas, especialmente no que tange s pocas necessrias de colheita, por exemplo. De forma no surpreendente, esses condomnios dos empregadores prosperaram apenas em comunidades com laos sociais estreitos, como mostrado por Lemes (2005).

    Alm do mais, no basta que, atravs de um arranjo como o condomnio dos empregadores, se consiga a reduo dos custos de contratao e demisso da mo de obra, j que, em geral, necessrio tambm financiar a viagem e as primeiras despesas do trabalhador no local de destino, j que, em geral, trata-se de mo de obra migrante sazonal.

    As dificuldades acima de coordenao das atividades do trabalhador no contexto desses condomnios so especialmente graves nas reas de cana de acar, devido ao fato de que a cana tem de ser cortada em pocas muito precisas, enquanto a integrao social entre os plantadores de cana muito mais fraca. No surpreendente, ento, que tais condomnios de empregadores no se desenvolveram em qualquer dessas regies de cana de acar. Em vez disso, a soluo foi o fortalecimento do sistema de empreitada, com uma estreita coordenao entre os empreiteiros e cada usina de acar, de tal maneira que cada fornecedor tivesse sua cana cortada e transportada para a usina na poca prpria.

    4. Uma Crtica da Legislao que Torna Ilegal a Atividade Econmica do Empreiteiro Agrcola no Brasil Em clara contradio com o papel positivo desempenhado pelo empreiteiro na viabilizao do mercado de trabalho agrcola no Brasil, a empreitada agrcola considerada ilegal no

    3 Essa foi a situao discutida em Rezende e Tafner (2006).

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    Brasil. Tal ilegalidade decorre da Smula n 331, de dezembro de 1993, criada pelo Tribunal Superior do Trabalho:

    I. A contratao de trabalhadores por empresa interposta ilegal, formando-se o vnculo diretamente com o tomador de servios, exceto no caso de trabalho temporrio (Lei n 6.019, de 2/1/1974).

    II. A contratao irregular de trabalhadores, atravs de empresa interposta, no gera vnculo de emprego com os rgos da Administrao Pblica Direta, Indireta ou Funcional (art. 37, II, da Constituio da Repblica).

    III. No forma vnculo de emprego com o tomador a contratao de servios de vigilncia (Lei 7.102, de 20/6/83), de conservao e limpeza, bem como a de servios especializados, ligados atividade-meio do tomador, desde que inexistente a pessoalidade e subordinao direta.

    IV. O inadimplemento das obrigaes trabalhistas por parte do empregador implica na responsabilidade subsidiria do tomador dos servios quanto quelas obrigaes, desde que tenha participado da relao processual e conste tambm do ttulo executivo judicial.

    Essa legislao teve por base restringir a terceirizao de atividades na economia brasileira, sobretudo na indstria, como apontado em Chahad e Zockun (2003). Como, normalmente, o empreiteiro considerado uma empresa interposta, o resultado que essa Smula estabelece como ilegal a contratao do trabalhador pelo empreiteiro agrcola para realizar uma tarefa (o corte da cana) em uma fazenda, j que essa contratao teria de ser feita apenas pelo dono da plantao de cana.

    Note-se que essa Smula abre uma exceo para o trabalho temporrio, criado pela Lei citada (ou seja, Lei n 6.019, de 2/1/1974). Isso poderia ser interpretado como beneficiando o trabalho sazonal agrcola, j que, ento, esse trabalhador sazonal poderia, de fato, ser contratado pelo empreiteiro, contanto que fosse na forma de trabalho temporrio. Entretanto, nem mesmo na forma de trabalho temporrio o empreiteiro pode contratar diretamente a mo de obra agrcola no Brasil, aparentemente por duas razes: a) a legislao citada restringe a contratao de trabalho temporrio para o meio urbano; e b) mesmo no caso de trabalho temporrio, as atividades da firma interposta no poderiam se estender s atividades-fim, como considerado, por parte dessa legislao, o corte de cana, por exemplo. Alm do mais, o prazo admitido para a contratao de trabalho temporrio de apenas 3 meses, e isso pode ser insuficiente em algumas situaes, como o corte da cana.

    Assim, essa legislao passou a considerar em tudo semelhantes as terceirizaes de mo de obra nos setores agrcola e no-agrcola, sem levar em conta as especificidades que distinguem esses setores. Em outras palavras, em nenhum momento se abriu espao para um tratamento especial da agricultura, em funo do carter sazonal de suas atividades e o imperativo da atividade do empreiteiro, sobretudo em face da prpria legislao trabalhista no Brasil.

    interessante notar que a utilizao da Smula n 331 implica, em particular, que o aluguel de tratores e mquinas agrcolas uma atividade muito importante e muito relevante, sobretudo para pequenos agricultores, j que os exime da necessidade de imobilizao de capital em mquinas e implementos agrcolas tambm considerada ilegal, uma vez que os trabalhadores envolvidos (como o tratorista) so normalmente contratados pelo proprietrio das mquinas, no trabalhando, assim, para o agricultor, nem sendo supervisionado por ele, mas sim pelo dono das mquinas. Essa legislao certamente deve estar inibindo o

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    crescimento do mercado de aluguel de mquinas no Brasil, ao contrrio do que ocorre em pases como os Estados Unidos e a Argentina.

    A extenso agricultura do raio de ao dessa Smula n 331 desestimula a atividade econmica desse empreiteiro. Contudo, na realidade, como essa atividade econmica tem grande importncia econmica tanto para os agricultores como para os trabalhadores envolvidos, o resultado que ela acaba tendo lugar, mas de forma precria, j que no pode se legalizar. Isso d lugar ao surgimento de pesados custos de transao nos mercados agrcolas e outras conseqncias adversas, como ser visto depois. Essa legislao d lugar, tambm, a uma busca intensa de mecanizao agrcola, como ser apontado depois.

    Em outras palavras, o efeito dessa legislao sobre o setor agrcola no consiste num mero desestmulo contratao de mo de obra por um agente (a empresa interposta) em favor de outro (o agricultor, que seria o tomador de servios). A sua conseqncia inviabilizar esse mercado de trabalho sazonal tout court. interessante observar que essa extenso agricultura do combate terceirizao reflete, na verdade, um preconceito muito antigo e ainda muito arraigado entre ns quanto figura do empreiteiro agrcola, o que fica revelado pela prpria maneira como ele comumente denominado de gato (ou, pior ainda, de aliciador de mo de obra). Segundo essa crena antiga, esse gato seria, na verdade, um mero artifcio de que o fazendeiro lanaria mo para no cumprir as obrigaes trabalhistas.

    Entretanto, acreditar que o empreiteiro apenas um gato, a servio (velado) do agricultor, o mesmo que admitir que os agricultores (inclusive os pequenos agricultores) podem, de fato, contratar diretamente a fora de trabalho de que eles necessitam e assim executar todas as tarefas agrcolas do plantio colheita que hoje so assumidas pelo empreiteiro. Isso simplesmente uma inverdade, especialmente para um pas continental como o Brasil.

    Note-se, ainda, que a restrio imposta atividade do empreiteiro afeta muito menos os grandes agricultores (tais como as usinas de acar) do que os pequenos e mdios agricultores, por razes bvias. Mesmo os grandes agricultores, contudo, tambm usam os empreiteiros, como mostrado nas pesquisas de campo em que se baseou este artigo.

    5. A Extenso Indevida da CLT ao Mercado de Trabalho Sazonal Agrcola interessante notar que, como mostrado em Rezende (2006), j houve vrias tentativas de mudar essa situao inadequada do mercado de trabalho sazonal agrcola no Brasil. Entre elas, cabe referncia a duas propostas polares de legalizao dessa contratao do trabalhador pelo empreiteiro, e que chegaram a tomar a forma de projetos de lei no Congresso. A primeira proposta consiste em exigir desses intermedirios a criao de empresas de mo de obra, com capital mnimo de nada menos do que 500 vezes o salrio mnimo, e arcando com todas as exigncias trabalhistas. A outra proposta, muito mais realista, procura especificar a figura do trabalhador rural contratado para execuo de atividade de curta durao, o prazo dessa contratao no sendo superior a 30 dias, prorrogvel at atingir 90 dias. A novidade seria a retirada de toda a carga que hoje pesa, de forma desproporcional, sobre a contratao desse tipo de mo de obra. Essa proposta conta com o apoio do ex-ministro Almir Pazzianoto, que, em entrevista revista Dinheiro Rural (n 3, janeiro de 2005, p. 32), afirmou que a principal caracterstica da atividade rural a sazonalidade, razo porque o registro em carteira torna-se invivel.

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    Na realidade, mais do que ser invivel esse registro na carteira, o problema principal que no cabe estender a uma atividade de trabalho exercida em apenas alguns meses (ou mesmo alguns dias) a funo de criar condies de obteno, pelo empregado, do direito aposentadoria, por exemplo, sem falar nas demais vantagens que esses encargos visam a garantir para o trabalhador. No faz tampouco sentido estender para esse mercado o poder de gerar direito a frias por parte do trabalhador, e muito menos o direito de aviso prvio, pois ambos os agentes o empregador e o empregado sabem que essa atividade de trabalho temporria mesmo.

    No faz sentido, em suma, estender a esse tipo de mercado os mesmos encargos que foram criados para o mercado de trabalho urbano, e que tiveram por funo garantir para o empregado todos esses direitos acima de tudo, adquirir direito aposentadoria. Estender esses encargos a uma atividade que o prprio trabalhador sabe, de antemo, que vai durar alguns dias, semanas ou mesmo alguns poucos meses, no faz sentido algum.

    Na realidade, o que necessrio contemplar o conjunto das atividades exercidas pelo trabalhador, distinguindo-se os vrios casos de trabalho sazonal, como o de uma dona de casa ou o de um pequeno produtor que se assalaria sazonalmente, em ambos os casos sendo agentes que simplesmente no podem se assalariar o ano todo. Nesse contexto mais abrangente, seria ento o caso de se rediscutir esses encargos trabalhistas e a exigncia ou no de se assinar a carteira de trabalho, por exemplo.

    A este respeito, ser dado destaque, na prxima seo, a uma situao que vem se tornando cada vez mais generalizada, e que se trata da negativa, por parte do prprio trabalhador, de ter sua carteira assinada, pois isso o faria perder acesso, no presente, s vrias formas de bolsas que o governo vem concedendo e, no futuro, generosa aposentadoria rural que passou a ser concedida a partir da Constituio de 1998, que se estende ao casal e ainda admite idades muito inferiores quelas exigidas para a aposentadoria no meio urbano.

    interessante notar, a propsito, que o Governo editou, em janeiro de 2008, a Medida Provisria n 410, que permite que o produtor rural (mas apenas o produtor pessoa fsica) possa contratar trabalhador rural por pequeno prazo (inferior a 2 meses), dispensando-se a assinatura da carteira, mas exigindo-se um contrato escrito com o fim especfico de comprovao para a fiscalizao trabalhista. Ao contrrio do que se poderia concluir, entretanto, essa no exigncia da assinatura na carteira parece um item de menor importncia na nova regulao, pois todos os demais itens que existem hoje, e que criam os encargos trabalhistas, foram mantidos. Na realidade, essa MP parece apenas e to somente interessada em fazer com que se torne mais vivel, do que atualmente, a inscrio do trabalhador no INSS, assim como um aumento da receita advinda da contribuio previdncia social rural. Essa previdncia social rural deve estar apresentando um dficit muito grande, devido ao forte crescimento que se vem verificando na aposentadoria rural (como, alis, ser mostrado na prxima seo), sem qualquer receita que cubra esse enorme gasto.

    Alis, conforme muito bem mostrado por FAERJ, SEBRAERJ e SENAR-Rio (sem data), embora admitindo contratos de tempo determinado (como o contrato de safra), a atual legislao trabalhista agrcola no reduz em nada os encargos trabalhistas. A esse respeito, interessante notar que nem mesmo o contrato de trabalho temporrio, to utilizado no meio urbano (e que alivia bastante esses encargos), no aplicvel ao meio rural; de fato, segundo afirmado em FAERJ, SEBRAERJ e SENAR-Rio (sem data, p. 12), H controvrsia sobre a

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    aplicao desta modalidade de contrato no meio rural, razo pela qual nos limitamos apenas a conceitu-lo.

    Note-se que, segundo ainda FAERJ, SEBRAERJ e SENAR (sem dada, pp. 48-49):

    A jurisprudncia majoritria tem se inclinado no sentido de que h vnculo empregatcio do gato ou turmeiro com o fazendeiro ou proprietrio do stio. ) (...) Ressalta-se que as figuras do turmeiro, empreiteiro e do gato no so bem-vistas pelo Ministrio do Trabalho, atribuindo-se a tal prtica uma fraude lei, assim como ilcito penal, nos termos do Manual do Contrato de Safra, publicado em 2002.

    interessante notar, a propsito, que esse prprio documento de FAERJ, SEBRAERJ e SENAR (sem data, p. 48), enquadra todas essas vrias categorias de intermedirios na condio de aliciador de mo de obra.4

    Foi nesse contexto de total rigidez dessa legislao trabalhista rural quanto cobrana dos mesmos encargos trabalhistas vigentes no meio urbano, assim como virtual proibio da atividade do empreiteiro, que surgiram, inicialmente, as cooperativas de trabalhadores rurais eventuais, como discutido em Veiga, Vicente e Baptistella (1996), e, de uma forma mais extensa, por Carneiro (2001). Conforme mostra essa literatura, contudo, essa soluo fracassou totalmente.

    Uma outra soluo proposta, mas a indo alm do arcabouo jurdico, foi a de Rangel (2000, p. 97 e 103-106), e que consistia da concesso de um lote de terra ao trabalhador, lote esse que fosse capaz de permitir a ocupao da mo de obra familiar durante os perodos mortos da atividade agrcola demandante de mo de obra assalariada. Conforme Rezende (2006, p. 17), isso reconstituiria, de certa maneira, o sistema que existia antes da extenso da CLT ao campo, com a diferena de que, agora, o lote de terra se localizaria fora da fazenda e seria propriedade do assalariado.

    Rangel justificava essa proposta tambm pela necessidade de aproveitar as economias de escala que, em sua opinio, existiam na produo agrcola. Alis, foi com o objetivo de reduzir o xodo rural que o governo do Paran, inspirado na proposta de Rangel, criou as vilas rurais, objeto de discusso em Fundao Getlio Vargas (1998), Souza e Del Grossi (2000) e Tecnologia Agropecuria (1999). Segundo a Fundao Getlio Vargas, de 1995 a 1998 foram criadas nada menos do que 156 vilas em 138 municpios, mas essa iniciativa no teve prosseguimento com os governos posteriores.

    6. Encargos Trabalhistas Versus Custos de Transao na Anlise da Agricultura Brasileira Uma maneira de sintetizar a anlise apresentada at aqui dizer que a legislao trabalhista agrcola, instituda na dcada de 1960, introduziu uma mudana drstica no mercado de trabalho agrcola, com o preo da mo-de-obra, do ponto de vista do empregador, tendo-se tornado muito elevado, enquanto, do ponto de vista do trabalhador, o salrio lquido, ou seja, o salrio efetivamente recebido pelo trabalhador, mantm-se baixo. Isso cria uma divergncia (uma cunha) entre o custo social da mo-de-obra (o salrio recebido pelo trabalhador) e o seu custo privado (o custo da mo-de-obra do ponto de vista do empregador). 4 Segundo o Aurlio, aliciar significa, entre outras coisas, seduzir, subornar, atrair, instigar, incitar, ou seja, tudo de ruim que uma pessoa possa fazer na vida de um pobre trabalhador ou qualquer outra pessoa necessitada de ganhar a vida...

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    necessrio notar que, na anlise corrente de mercado de trabalho no Brasil, muito comum a utilizao desse conceito de cunha, indo-se ao ponto de se estimar a magnitude percentual dessa diferena entre o custo da mo-de-obra do ponto de vista do empregador e a renda efetivamente recebida pelo empregado. Camargo (1996), por exemplo, estima em 99% essa cunha, enquanto Pastore (1995, cap. 5) a estimou em 102%. Uma vez que essa diferena normalmente devida taxao sobre a mo-de-obra, essa cunha chamada de cunha fiscal, como se pode ver em Ulyssea & Reis (2006), por exemplo. Reis & Ulyssea (2005), por outro lado, apresentam uma sntese da literatura sobre esse e outros temas relacionados anlise do mercado de trabalho no Brasil. Note-se, contudo, que essa denominao de cunha fiscal no totalmente adequada, pois esses encargos trabalhistas no so exatamente impostos. Como apontado por Haddad (2005), esses encargos trabalhistas, embora fazendo com que o custo efetivo da mo de obra seja muito maior do que o salrio bsico, representam vantagens para o trabalhador, mesmo que somente no futuro, ao contrrio do imposto de renda, por exemplo. De qualquer maneira, como Amadeo (2006) mostra de maneira muito simples e clara, o cumprimento desses encargos trabalhistas faz com que esse salrio bsico se ajuste para baixo, formando-se ento essa cunha e tornando os direitos trabalhistas em grande parte uma iluso para o trabalhador.

    Uma questo estreitamente relacionada gerao dessa cunha fiscal pelas leis trabalhistas a questo do mercado de trabalho informal. Segundo a literatura sobre o assunto, a informalidade no mercado de trabalho decorreria de uma espcie de pacto entre o empregador e o empregado, j que, a um s tempo, reduziria o custo da mo de obra para o empregador e aumentaria o salrio lquido recebido pelo empregado. Assim, segundo Camargo (1996, pp. 18-19):

    Como 35% do custo da mo-de-obra no revertem diretamente para o trabalhador ou o empregador que firmaram o contrato, h a um incentivo para que ambos deixem de cumprir a legislao e dividam essa diferena entre si. Se o contrato no for assinado, o empregador no s pode pagar um salrio mais alto ao trabalhador, como ainda ter um custo mais baixo de mo de obra. Isso se o custo de burlar a lei for menor do que o custo de no firmar um contrato legal.

    Pinheiro e Saddi (2006, pp. 528-529), por sua vez, argumentam no mesmo sentido, apontando que:

    Quando uma regulao for considerada excessiva, trabalhadores e empresas podem decidir que no so capazes ou no esto dispostos a pagar por ela, e optar por ingressar no setor informal da economia. Nesse caso, haver uma negociao explcita ou implcita para repartir entre eles a economia realizada com o no-cumprimento de algumas das regulaes (...).

    Essa literatura aponta que a informalidade no mercado de trabalho costuma se associar a uma informalidade mais ampla por parte da firma, o que incluiria falta de registro nos rgos competentes, no-pagamento de impostos etc. Por outro lado, algumas anlises do mercado de trabalho costumam definir informalidade no mercado de trabalho agrcola de forma diferente da que adotada neste trabalho, j que incluem os produtores agrcolas autnomos, que no so empregadores nem empregados. Existem, na realidade, vrios conceitos de informalidade no mercado de trabalho, como apontado por Pinheiro e Saddi (2006, pp. 532-533), mas, neste trabalho, adota-se a definio mais restrita de empregado sem carteira.

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    Por outro lado, a garantia, pelo governo, de aposentadoria por idade ou seja, mesmo na ausncia de contribuies por parte do trabalhador tambm favoreceria o crescimento dessa informalidade no mercado de trabalho. O trabalhador rural, em especial, deve tender a preferir muito mais o emprego informal, j que a assinatura em carteira o levaria a perder benefcios sociais (bolsa famlia, por exemplo) e dificilmente o levaria a ter direito, via contribuies, aposentadoria. Alm do mais, no contribuir para o INSS passou a no impedi-lo de ter acesso aposentadoria rural a partir da Constituio de 1988, j que essa Constituio criou a figura do segurado especial, que, mesmo sem qualquer contribuio, pode passar a receber o valor de um salrio mnimo a partir de 60 anos (para os homens) e de 55 anos (para as mulheres), um casal podendo acumular as duas aposentadorias, bastando para isso que o indivduo comprove o exerccio da atividade rural, o que algo trivial. Em contraste, no meio urbano, a Lei Orgnica de Assistncia Social (LOAS), de 1993, fixou a idade mnima para essa aposentadoria em 70 anos ou mais, essa idade reduzindo-se para 67 anos e depois para 65 anos.

    Essa generosidade na concesso de aposentadorias rurais a partir da Constituio de 1988, acompanhada como foi, ainda, de outros gastos com funcionrios pblicos, levou, nas palavras de Gomes (2001), criao de uma economia sem produo no Nordeste rural. E note-se que essa economia sem produo, que sofreu um forte acrscimo com a enxurrada de bolsas famlia a partir de 2003, parece que vai sofrer um novo reforo a partir do ano de 2008, com o novo programa de Territrios da Cidadania lanado pelo governo.

    Cabe notar, por outro lado, que essa literatura sobre a informalidade no mercado de trabalho no tem levado em conta que tal mercado de trabalho informal implica um risco para a firma, em face da opo que o trabalhador tem de receber, por algum tempo, a renda acrescida e depois denunciar o empregador Justia do Trabalho, visando receber tudo o de que ele abriu mo antes. Esse comportamento oportunista por parte do empregado deve ser muito freqente nas ocasies de demisso, que devem, por isso mesmo, tornar-se muito preocupantes para o empregador.

    Pode-se fazer uma analogia desse risco de uma reclamao trabalhista por parte de um empregado sem carteira (e mesmo os com carteira), e que pode desequilibrar, de forma inesperada, a sade econmico-financeira de uma firma, com a situao descrita em Pastore (2007), da capacidade que os sindicatos passaram a ter, desde julho de 2006, de acionar as empresas em nome de seus representados mas sem autorizao destes e at mesmo contra a sua vontade, o que, de certa forma, tornou os empresrios refns dos sindicalistas. (...) Com isso, os sindicatos esto se preparando para usar esse poderoso direito para acionar as empresas por motivos presentes e passados, em aes trabalhistas de grande monta. (...) Numa palavra, os empresrios no sabem mais o passivo trabalhista que de fato possuem porque, a qualquer momento, um sindicato pode process-los por motivos remotos referentes a todos os seus empregados e at mesmo a toda uma categoria profissional. (...) a formao de passivos ocultos. (...). (nossos os grifos). A ausncia completa da considerao desse risco de passivos ocultos nas anlises de informalidade se manifesta de forma muito clara em Ulyssea e Reis (2006, p. 8), por exemplo, que limitam sua anlise a um modelo com dois setores (formal e informal), em que o nico aspecto institucional que diferencia ambos o imposto que incide sobre o trabalho. Pinheiro e Saddi (2005, cap. 10), assim como IPEA (2006, cap. 4), tambm apresentam uma anlise

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    didtica e bem completa de como a legislao trabalhista brasileira fomenta a informalidade no mercado de trabalho, mas tampouco atentam, ento, para os custos de transao adicionais que surgem nesse mercado de trabalho, como decorrncia da ilegalidade, comportamento oportunista e tudo o mais que d lugar a custo de transao. Na realidade, a informalidade no mercado de trabalho, sendo sinnimo de ilegalidade, um contexto institucional completamente diferente do contexto institucional, de legalidade, que prevalece no mercado de trabalho formal, e isso no pode ser deixado de fora da anlise.

    Quadro 1: O que so custos de transao? interessante fazer um parntesis para esclarecer, mesmo de forma sinttica, o que se entende aqui por custos de transao. Segundo Pinheiro e Saddi (2005, p. 62),

    Os custos de transao compreendem (...) os custos com a realizao de cinco atividades que tendem a ser necessrias para viabilizar a concretizao de uma transao. Primeiro, a atividade da busca pela informao sobre regras de distribuio de preo e qualidade das mercadorias; sobre insumos de trabalho e a busca por potenciais compradores e vendedores, assim como de informao relevante sobre o comportamento desses agentes e a circunstncia em que operam. Segundo, a atividade da negociao, que ser necessria para determinar as verdadeiras intenes e os limites de compradores e vendedores na hiptese de a determinao dos preos ser endgena. Terceiro, a realizao e a formalizao dos contratos, inclusive o registro nos rgos competentes, de acordo com as normas legais, atividade fundamental do ponto de vista do direito privado, j que o que reveste o ato das garantias legais. Quarto, o monitoramento dos parceiros contratuais com o intuito de verificar se aquelas formas contratuais esto sendo devidamente cumpridas, a proteo dos direitos de propriedade contra a expropriao por particulares ou o prprio setor pblico. Finalmente, a correta aplicao do contrato, bem como a cobrana de indenizao por prejuzos s partes faltantes ou que no estiverem seguindo corretamente suas obrigaes contratuais, e os esforos para recuperar o controle de direitos de propriedade que tenham sido parcial ou totalmente expropriados.

    Ainda segundo Pinheiro e Saddi (2005, p. 65),

    Um modo de entender o papel dos sistemas legal e judicial na economia como instituies que reduzem os custos de transao, facilitando transaes entre desconhecidos, balizando o que pode ser negociado e identificando as responsabilidades de cada um, permitindo a elaborao de contratos mais simples e fornecendo mecanismos que garantam o seu cumprimento.

    Pinheiro e Saddi (2005, p. 65) destacam, ainda, que a teoria dos custos de transao implica uma mudana de suposies usuais da Teoria Neoclssica, entre elas a hiptese de que:

    (...) o comportamento das pessoas baseado na busca do interesse prprio, mas respeitando as regras do jogo. Na TCT, o comportamento humano marcado pelo oportunismo, definido como uma maneira mais forte de buscar o interesse prprio, que pode passar por prticas desonestas, incluindo mentir, trapacear e roubar. Em especial, o oportunismo pode levar as pessoas a esconder ou distorcer informaes, para enganar os outros em benefcio prprio. Um agente econmico oportunista s respeita as regras do jogo se isso lhe convier.

    Nessa mesma linha, Azevedo (2000, p. 36) aponta que:

    A Economia dos Custos de Transao parte de dois pressupostos comportamentais que a distinguem da abordagem tradicional. Assume-se que os indivduos so oportunistas (...). Por oportunismo entende-se que os indivduos so considerados fortemente auto-interessados; podendo, se for de seu interesse, mentir, trapacear ou quebrar promessas. (...).

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    Toda essa discusso sobre o mercado de trabalho permite-nos explicar melhor as componentes da cunha que a legislao trabalhista criou, no mercado de trabalho agrcola brasileiro, entre o salrio recebido pelo empregado e o custo da mo-de-obra do ponto de vista do agricultor.

    Em primeiro lugar, devem-se apontar os prprios encargos trabalhistas. Em segundo lugar, devem-se apontar os custos administrativos arcados pelo agricultor a fim de satisfazer todos os requisitos da CLT; como se notou, o valor desses custos, por unidade de mo-de-obra, maior para os pequenos agricultores e incluem, tambm, a perda de renda decorrente dos deslocamentos do agricultor s cidades mais prximas.

    Em terceiro lugar, como visto antes, a legislao trabalhista tem criado dificuldades para o mero funcionamento desse mercado, ao considerar ilegal a contratao de mo de obra pelo empreiteiro e gerar, assim, grandes custos, decorrentes de riscos criados para o agricultor, o trabalhador e o prprio empreiteiro. Esses custos se devem impossibilidade de os vrios agentes assinarem contratos entre si e terem esses contratos enforced pelo prprio Estado. Um exemplo disso a impossibilidade de os agricultores e os empregados assinarem contratos com os empreiteiros, j que esses ltimos so impedidos, pela lei, de contratarem os trabalhadores e, assim, estabelecerem contratos tambm com os agricultores. Os prprios empreiteiros, ao no poderem contratar os trabalhadores, tambm correm riscos, pois no caso de uma fiscalizao trabalhista, perdem a totalidade dos investimentos realizados no transporte e na manuteno dos trabalhadores, sem falar em outros itens, como instrumentos de trabalho (enxada, foice, e outros instrumentos de trabalho como at mesmo mquinas e equipamentos que porventura sejam necessrios e tenham de ser supridos pelos empreiteiros).

    Em quarto lugar, o agricultor brasileiro tem estado muito sujeito, como a imprensa tem mostrado freqentemente, de ser acusado da prtica de trabalho escravo, cuja probabilidade de ocorrncia se tornou maior a partir de 2003, quando se intensificaram as fiscalizaes trabalhistas na agricultura, especialmente nas regies Norte e Centro-Oeste. Essa acusao de prtica de trabalho escravo tem envolvido as seguintes conseqncias, em termos de custos para o agricultor: (1) dano moral, envolvido na acusao mesma de explorao de trabalho escravo, com ampla divulgao pela imprensa, nacional e internacional; (2) incluso na lista suja do Ministrio do Trabalho;5

    Todos esses custos de transao, com destaque para os custos acima associados acusao de trabalho escravo, fazem aumentar o custo da mo-de-obra para o empregador, muito acima dos meros encargos trabalhistas, e esto longe de serem apropriados pelo empregado.

    (3) multas absurdas como a multa de R$ 1 milho imposta recentemente a um fazendeiro por um juiz de So Flix do Araguaia, estado de Mato Grosso; (4) perspectiva de decretao de penas de priso para o fazendeiro; e, finalmente, se passar uma PEC em tramitao no Congresso (j tendo sido aprovada na Cmara dos Deputados), essa acusao de prtica de trabalho escravo poderia levar expropriao da terra do agricultor e sua destinao reforma agrria.

    7. Sumrio e Concluses Este trabalho, embora apontando o papel negativo desempenhado pelos encargos

    trabalhistas tambm na agricultura, deu mais nfase, contudo, aos custos de transao

    5 Sobre o significado dessa lista suja, veja Rezende e Kreter (2007a).

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    que a legislao trabalhista criou. Na realidade, props-se a hiptese, a ser objeto de verificao emprica, de que esses custos de transao podem estar causando mais dano ao mercado de trabalho agrcola do que esses encargos trabalhistas, que tm sido os nicos aspectos focalizados at agora no mercado de trabalho no Brasil, urbano ou rural. A importncia desses custos de transao se deve s vrias formas de risco que essa legislao trabalhista vem criando para os diferentes agentes envolvidos nesse mercado de trabalho agrcola, em ltima anlise derivados da ilegalidade da contratao de mo-de-obra pelo empreiteiro, que impede que contratos sejam firmados entre os vrios agentes, dando lugar, ento, s vrias formas de custos de transao discutidos neste trabalho.

    esse inadequado contexto institucional que cria as diferentes formas de custos de transao no mercado de trabalho agrcola, antes de tudo devido ao estmulo a comportamentos oportunistas da parte de todos os agentes envolvidos. Esses custos de transao recaem, em ltima anlise, parte no agricultor, e parte no trabalhador. O agricultor tem a opo, contudo, de adotar a tcnica mecanizada, mas no h alternativa para o trabalhador, seno buscar emprego em outro lugar que no a agricultura. 6

    Apontaram-se, tambm, neste trabalho, as razes, tanto do ponto de vista do empregador, quanto do ponto de vista do trabalhador, que fazem com que a informalidade tenda a prevalecer no mercado de trabalho sazonal agrcola, mas no no mercado de trabalho permanente. Na realidade, como se argumentou neste trabalho, de uma maneira geral, o no-cumprimento da legislao trabalhista, ou seja, a situao de informalidade no mercado de trabalho, nem sempre ruim para o trabalhador, j que ela acompanhada de um aumento no salrio-base. Essa informalidade, por outro lado, nem sempre impede a aposentadoria, j que o trabalhador sazonal, ao exercer tambm a atividade de agricultor familiar (inclusive de subsistncia), tem a possibilidade de se aposentar sem contribuio compulsria. A concesso dessa aposentadoria por idade pode, entretanto, no ser concedida caso haja vnculo empregatcio formal do requerente com outros produtores agrcolas leia-se carteira assinada e recolhimento de impostos --, mesmo que esse vnculo seja temporrio. Assim, surge um duplo interesse por parte do trabalhador em preferir a informalidade no mercado de trabalho sazonal agrcola: pela certeza da concesso da aposentadoria por idade muito generosa, por sinal, e extensiva ao casal e pela maior renda lquida que ele aufere nessa condio de informalidade.

    Tambm se apontou, contudo, que a situao de ilegalidade no mercado de trabalho pode estimular um comportamento oportunista por parte do trabalhador, j que nada impede que, aps algum tempo transcorrido na informalidade, ele denuncie o empregador na Justia do Trabalho. Isso cria custos de transao nesse mercado de trabalho informal que no vm sendo devidamente objeto de anlise na literatura especializada de mercado de trabalho no Brasil. Em particular, esses custos de transao limitam o aumento do salrio-base da mo de obra devido informalidade, j que, ao gerarem incerteza quanto ao custo efetivo ex-post da mo de obra, repem, em alguma medida, a cunha que a informalidade busca reduzir.

    6 Esse incentivo mecanizao agrcola, decorrente de nossa legislao trabalhista e tambm da poltica de crdito rural, objeto de anlise mais aprofundada em Rezende e Kreter (2007).

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    Mostrou-se aqui, contudo, que, no caso do mercado de trabalho agrcola sazonal, esse atrativo da informalidade ainda mais forte, devido ao fato de que, para o trabalhador agrcola sazonal, a dimenso de longo prazo associada, por exemplo, s contribuies ao INSS e ao FGTS pouco relevante, exceto em casos muito raros. Entre esses casos, cabe mencionar o acesso do trabalhador ao seguro-desemprego, em seguida ao perodo de trabalho sazonal. Esse acesso ao seguro-desemprego merece pesquisa adicional, j que torna excepcionalmente atraente esse emprego sazonal agrcola, de uma forma que tem sido completamente ignorada at agora.

    Essa maior incidncia da informalidade no mercado de trabalho agrcola, sem que isso possa ser considerado uma qualidade inferior desse mercado, faz com que seja muito fcil para a fiscalizao do Trabalho encontrar situaes de descumprimento da legislao trabalhista, inclusive e principalmente pela ilegalidade da contratao de mo de obra por parte do empreiteiro.

    Infelizmente, contudo, no longo prazo, o trabalhador acabar sendo o mais prejudicado por esse maior rigor do governo na fiscalizao desse mercado, por duas razes: primeiro, porque as atividades econmicas que dependem desse tipo de mo de obra tendero a ser afetadas negativamente, podendo at mesmo ser substitudas por outras atividades que empregam menos mo de obra; e segundo, porque, quando possvel tecnicamente, essa ao do governo levar substituio da mo de obra pela mquina, sempre que for vivel tecnicamente.

    interessante notar que, como mostrado em Rezende e Kreter (2007b), essa mecanizao, por sua vez, vem sendo viabilizada por uma ao paralela do mesmo governo, mantendo generosos programas de crdito para a mecanizao agrcola, como o Moderfrota. No final das contas, a ao fiscalizatrio-punitiva do governo, que parece sobretudo para a imprensa beneficiar as camadas mais pobres da populao, est, na verdade, trazendo o mal para esses mesmos grupos, sobretudo ao atuar em conjunto com a poltica de fomento mecanizao agrcola.

    A concluso principal deste trabalho, portanto, que a mudana no padro atual de desenvolvimento agrcola, visando a contribuir para a reduo da pobreza no Brasil, requer uma mudana radical na atual poltica trabalhista agrcola. Note-se, ainda, que essa mudana na poltica trabalhista deve ser acompanhada de uma mudana tambm radical nas polticas fundiria e de crdito agrcola, como explicado em Rezende (2006a).

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