a judicializaÇÃo de polÍticas pÚblicas relativas À seguranÇa pÚblica É o melhor caminho.pdf

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1 FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO DEPARTAMENTO DE DIREITO PROCESSUAL PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU A JUDICIALIZAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS RELATIVAS À SEGURANÇA PÚBLICA É O MELHOR CAMINHO? TRABALHO FINAL DO CRÉDITO: POLÍTICAS PÚBLICAS I: PREMISSAS ESTRUTURAIS (DPC5857-2/1) Aluno: ANDRÉ PETZHOLD DIAS N.º USP 3124122 Professores responsáveis Professora Doutora SUSANA HENRIQUES DA COSTA Professor Doutor PAULO HENRIQUE DOS SANTOS LUCON

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1 FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE SO PAULO DEPARTAMENTO DE DIREITO PROCESSUALPS-GRADUAO STRI CTO SENSU AJUDICIALIZAODEPOLTICASPBLICAS RELATIVASSEGURANAPBLICAOMELHOR CAMINHO? TRABALHOFINALDOCRDITO:POLTICASPBLICASI:PREMISSAS ESTRUTURAIS (DPC5857-2/1) Aluno: ANDR PETZHOLD DIASN. USP 3124122 Professores responsveis Professora Doutora SUSANA HENRIQUES DA COSTA Professor Doutor PAULO HENRIQUE DOS SANTOS LUCON 2 Sumrio 1-Introduo ..................................................................................................................... 3 2-Do estado de natureza reunio em sociedade (estado poltico) ............................. 5 3-Viso atual do Estado Liberal e sua atuao ............................................................. 7 4-Segurana pblica na CF 88: prembulo, artigo 5, 6, e 144 ................................ 10 4.1- Caractersticas do direito segurana pblica .................................................... 13 5-PolticasPblicas:conceito,caractersticaseconsequnciasdesuaformulaoe implementao coercitiva pelo Poder Judicirio ............................................................ 17 5.1- Necessidade de constante atualizao de polticas de segurana pblica .......... 18 5.2- Rigidez das fases procedimentais como incompatibilidade ................................ 20 6-I nstitutional choice: o judicirio a melhor instituio para decidir sobre polticas de segurana pblica? ....................................................................................................... 22 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................... 23 3 Ajudicializaodepolticaspblicasrelativasseguranapblicao melhor caminho? 1-Introduo lugarcomumtratar-sedoutrinariamentedajudicializaodaspolticaspblicas fazendo-se referncia aos modelos de Estado e sua evoluo: do EstadoLiberal, bero do constitucionalismo moderno, ao Estado Social, com a previso normativa de direitos sociais demonstrandomaiorpreocupaocomaigualdadematerial,e,porfim,oEstado Democrtico de Direito, que seria o estgio atual. Opresenteestudotercomopontodepartidaademonstraodequeabuscapor seguranaantecede(emuito)oconstitucionalismomoderno,identificadonosmarcosda Constituio Americana de 1787, na Declarao dos Direitos do Homem e do Cidado de 1789, e na Constituio Francesa de 1791. Os pensadores polticos clssicos a serem citados adiante(Locke,HobbeseMontesquieu)demonstramqueabuscaporseguranaestna origemdaprpriasociedade.Apropsito,veja-sequetaldigressojfoifeitaporJos Eduardo Faria tratando do tema: se a segurana dos cidados o sentido da existncia do Estado,conformediziaHobbes,dequemodoencar-loluzdaatualrealidadescio-econmica marcada por ndices crescentes de violncia?1 Entretanto, para os objetivos do presente texto, confere-se maior ateno aos Estados Constitucionaismodernos,vistoqueotemadajudicializaodaspolticaspblicastem como ponto central as competncias constitucionais dos trs poderes, a efetivao de direitos fundamentais(temasdedireitoconstitucional)eaindaotratamentodessasquestespelo judicirio, que, necessariamente, atua por meio de processo (tema de direito processual). Cumpre observar, porm, que essa comparao histrica da evoluo do modelo de Estadocomaevoluodosdireitosfundamentaisemsuastrsgeraes(liberdades individuais, prestaes sociais, direitos de solidariedade) se revela um pouco limitada, como se pretende demonstrar nos primeiros captulos desse trabalho. Issoporquerestardemonstradaaexistnciadedeveresestataispositivos (prestacionais) j no Estado Liberal, dentre os quais est a segurana pblica.

1 In Dias Neto, 2005, p. 7. 4 Uma vez demonstrada a origem da segurana pblica como um dos fundamentos do prprio Estado, pretende-se estudar a natureza jurdica da segurana pblica (sua evoluo do Estado Liberal adotado arbitrariamente como marco inicial da pesquisa em razo de sua relevnciaparaodireitoconstitucionalatosdiasatuais),combrevemenoaalguns aspectoshistricos,para,emseguida,apartirdotextoconstitucionalvigenteedaanlise doutrinria sobre o tema, verificar o status atualmente atribudo a esse dever estatal. Atocontnuo,usando-secomobaseaspremissasconceituaisestabelecidas,bem como o tratamento constitucional do tema, pretende-se analisar a possibilidade e a utilidade de se judicializar polticas pblicas envolvendo o tema segurana pblica, buscando-se as desvantagens que podem decorrer dessa judicializao. Diantedasconstataesfeitasnodecorrerdotrabalho,luzdaessaanlise,so apresentadas algumas concluses que no se prope a encerrar o debate do tema, mas sim a foment-lo, pois, se nenhuma das instituies agir com perfeio2, importante que se saiba de antemo dos efeitos negativos da judicializao do tema.

2 KOMESAR, 1996, p. 5. 5 2-Do estado de natureza reunio em sociedade (estado poltico) O tema da segurana sempre esteve intimamente ligado ao conceito de Estado. No por outro motivo, a segurana objeto de ateno dos pensadores polticos clssicos. Sendo assim, vlida a meno a algumas de suas ideias para mostrar seus pontos comuns e, com isso, estabelecer algumas premissas.IniciandoessaanlisenasideiasdeJohnLocke,verifica-sequeoserhumanose reuniu em sociedade (antes mesmo de existir Estado) como forma de proteger sua vida, sua liberdadeeseusbens.Ouseja,aopoporviveremsociedadedecorredabuscapor segurana: Se o homem to livre no estado de natureza como se tem dito, se ele o senhor absolutodesuaprpriapessoaedeseusbens,igualaosmaioresesditode ningum,porquerenunciariaasualiberdade,aesteimprio,parasujeitar-se dominaoeaocontroledequalqueroutropoder?Arespostaevidente:ainda que no estado de natureza ele tenha tantos direitos, o gozo deles muito precrio econstantementeexpostosinvasesdeoutros.Todossotoreisquantoele, todos so iguais, mas a maior parte no respeita estritamente, nem a igualdade nem ajustia,oquetornaogozodapropriedadequeelepossuinesteestadomuito perigoso e muito inseguro. Isso faz com que ele deseje abandonar esta condio, que, embora livre, est repleta de medos e perigos contnuos; e no sem razo que ele solicita e deseja se unir em sociedade com outros, que j esto reunidos ou queplanejamseunir,visandoasalvaguardamtuadesuasvidas,liberdadese bens, o que designo pelo nome geral de propriedade.3 A falta de segurana aproxima as pessoas do estado de natureza. Em um Estado sem segurana pblica, no esto os homens sujeitos a atos de violncia uns dos outros? Podendo perder, a qualquer momento, sua vida e seus bens? O cenrio de insegurana certamente nos remete aos problemas que Locke identificou no estado de natureza. Hobbes,naobraclssicaLeviat,apontaanecessidadedeumEstadoPoltico como forma de organizao dos homens para gerar a paz interna em oposio ao indesejado estado de natureza, atribuindo-se ao Estado o poder de usar a fora e os recursos de todos, da maneira que considerar conveniente, para assegurar a paz e a defesa comuns4. Afinal, sem o Estado para regular e fazer valer tais regras, o homem agir livremente, e homo homini lupus. Tambm pode se ver naobra de Montesquieu a preocupaocom segurana e sua relaocomliberdade,assimcomoaexpetativadequesejafornecidapeloEstado:A

3 LOCKE, 2001, p. 157. 4 HOBBES, 2003, p. 148.6 liberdade poltica, em um cidado, esta tranquilidade de esprito que provem da opinio quecadaumtemsobresuasegurana;eparaquesetenhaestaliberdadeprecisoqueo governo seja tal que um cidado no possa temer outro cidado5. Percebe-se,pois,serantigaapreocupaocomaseguranapblica,quepodeser inicialmente referido como dever estatal de proteo dos homens contra os outros homens, bem como antigo o papel do Estado de garanti-la.Com a evoluo do Estado e da sociedade, essa prestao estatal foi se tornando cada vezmaiscomplexa,abrangendo:elaboraodeleispenaiseprocessuaispenais,sistema judicirio de aplicao de leis penais com respeito garantias individuais (devido processo legal,ampladefesa,contraditrio,juiznaturalimparcial,entreoutras),criaodergo pblico responsvel pela preveno ostensiva e pela investigao de crimes pretritos para fins de efetiva aplicao da lei penal, e diversas outras formas de atuao do Estado. A busca por segurana pode ser vista, portanto, em diversas sociedades anteriores ao Estado Constitucional, ainda que no tivesse a amplitude e complexidade que o sistema de seguranapblicatemhoje.Sendoassim,bviaaconclusodequeaprestaode segurana(prestaopositiva,nosentidodeconsistiremobrigaodefazer,enodese omitir)jeradevidapeloEstadoLiberal,eseucontedoseranalisadocommaior profundidade no captulo seguinte.

5 MONTESQUIEU, 2000, p. 168. 7 3-Viso atual do Estado Liberal e sua atuao A anlise do Estado Liberal pela doutrina constitucional costuma fazer referncia a um Estado absentesta, pois o grande objetivo da sociedade era a liberdade. Nesse sentido, apenas exemplificativamente: Podemosdestacarento,nesseprimeiromomento,naconcepodo constitucionalismoliberal,marcadopeloliberalismoclssico,osseguintes valores: individualismo, absentesmo estatal, valorizao da propriedade privada eproteodoindivduo.Essaperspectiva,paraseterumexemplo,influenciou profundamente as Constituies brasileiras de 1824 e 1891.6 No entanto, a conduta do Estado no se esgota em uma absteno total, pois o Estado Liberal, ao garantir as liberdades individuais tem essa conduta absentesta apenas no sentido de no perturb-la ele mesmo. Isso porque as liberdades pblicas, direitos fundamentais de primeira gerao (vida, propriedade, direito de ir e vir, por exemplo), geram para o Estado atarefade,preventivamente,evitarqueelessejamdesrespeitados,e,tambm,ade, repressivamente,restaur-losseviolados,inclusivepunindoosresponsveisporessa violao7. falsa, portanto, a noo de que o Estado Liberal, por ser preocupado com omisses eliberdades(consideradosdireitosnegativosemoposioaosdireitosprestacionais),era ausente.Narealidade,desdesuaformao,percebe-senoEstadoumacondutapresentee atuante. Nas palavras de Cass Sustein: Mostoftheso-callednegativerightsrequiregovernmentalassistance,not governmentalabstention.Thoserightscannotexistwithoutpublicassistance. Consider, for example, the right to private property. As Bentham wrote, "Property and law are born together, and die together. Before laws were made there was no property;takeawaylaws,andpropertyceases."'Inthestateofnature,private property cannot exist, at least not in the way that it exists in a free society. In the state of nature, any property "rights" must be protected either through self-help-usefultothestrong,nottotheweak-orthroughsocialnorms.Thisformof protectionisfartoofragiletosupportamarketeconomyorindeedthebasic independenceofcitizens.Asweknowit,privatepropertyisbothcreatedand protected by law; it requires extensive governmental assistance.8 Na verdade o que existe, segundo o autor estadunidense, verdadeira onipresena da ao estatal9, ainda que se trate de um Estado Liberal, pois, segundo o autor, para se garantir tais liberdades se fazem necessrias inmeras prestaes estatais.

6LENZA,2007,p.40/41.NomesmosentidoGALDINO(2005,p.226)constataessaanlisesuperficial comum na doutrina, citando exemplificativamente a obra de Lus Roberto Barroso. 7 FERREIRA FILHO, p. 30.8 SUSTEIN, 2002, p. 466. 9 SUSTEIN, 2002, p. 469. 8 EssaanlisedeatuaopositivadoEstadoLiberal,emverdade,notorecente como se pensa. Nos artigos 12, 13 e 16 da Declarao de Direitos do Homem e do Cidado, fica evidente o reconhecimento da existncia de prestaes positivas devidas pelo Estado.O artigo 12 dispe: A garantia dos direitos do homem e do cidado necessita de uma forapblica;estafora,pois,institudaparafruioportodos,enoparautilidade particular daqueles a quem confiada. A meno a uma fora pblica, portanto, deixa claro que o Estado assume o dever de proteger os direitos.O artigo 13, por sua vez, deixa claro que se tratade uma prestao positiva e que, com seu adimplemento, o Estado incorre em custos: Para manuteno da fora pblica e para as despesas de administrao, indispensvel uma contribuio comum que deve ser dividida entre os cidados de acordo com suas possibilidades. Finalmente, o artigo 16: A sociedade em que no esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabelecida a separao de poderes no tem constituio. Nesse dispositivo evidencia-sequenobastaapenaspreverdireitos,ouapenasusaraforapararesolver conflitos por meio do processo. Segurana, como se ver, est diretamente relacionada com a real possibilidade de os indivduos usufrurem seus direitos, pois cabe ao Estado garantir que isso acontea, por isso tomou para si o monoplio da fora. Sem segurana os demais direitosseesvaziameabuscadobemcomumalmejadacomaleisetornaumobjetivo distante.Semaforaestatal,osdireitosdeixamdeexistir,masaforadeveserusada exatamente para que os direitos de cada um sejam respeitados. Como explica Botelho de Mesquita, o Estado precisa ir alm, pois no basta o uso da fora se essa fora no for usada para efetiva aplicao da lei, que tem como objetivo ltimo, o bem comum: AneutralidadeeindependnciadoEstado,assimentendida,seafinamcoma concepo de que o fim do processo se identifica com a pacificao dos interesses em conflito e de que essa pacificao se atinge com a simples imposio s partes do resultado do processo, qualquer que ele seja, sem qualquer compromisso com o direito objetivo, esquecendo-se que a mera substituio da violncia privada pela fora estatal, antes de constituir um fator de paz social, constitui fonte de novas e talvez mais refinadas modalidades de violncia. VernoEstadotosomenteafiguradeumpacificadorequivaleaesqueceros compromissos que ele assumiu, quando chamou a si a funo de legislar. Nemnospareceexatodizerqueasubstituiodaviolnciaprivadapelafora estatal conduza soluo pacfica dos conflitos de interesses, pois a execuo de uma sentena nem sempre pacfica e, quando o , no o mais que na aparncia. Com efeito, quando o autor reclama a interveno do Estado, ele est, na verdade, solicitandoaajudadeumaforamuitssimosuperiorquepoderiaeleprprio desenvolver,selhefossedadofazerjustiapelasprpriasmos.Asoluodos conflitos, portanto, nem por realizar-se processualmente, deixa de ser violenta. 9 O que importa saber, portanto, no se, ao fim do processo, o Estado imps sua pax, mas sim se a ordem imposta processualmente corresponde ordem prevista nalei.ComosalientoumuitobemCarnelutti,nonsidettotuttodellalegge quandoallanalisicisitrovanoidueelementidellafattispicieedellasanzione; resta afferrare il nesso che li unisce. A ci serve, se non mi inganno, il concetto della promessa. E acrescenta: intanto bene fissare che il processo, di fronte alla violazione del precetto, costituisce ladempimento della promessa che garantisce la legge.10 Conclui-se, portanto, que o Estado, desde o modelo liberal, assumiu obrigaes com contedodeprestaespositivas,e,dentreelas,estaseguranapblica,quedefinida assim na Constituio Francesa de 1793: a segurana consiste na proteo concedida pela sociedade a cada um dos seus membros para a conservao da sua pessoa, dos seus direitos e das suas propriedades. Mesmo esse conceito tendo sido elaborado h mais de dois sculos, permanece atual, vistoquecontinuavlido,emborapossaserconsideradoincompletoparaarealidade hodierna. Todavia, sendo esse um conceito histrico, mostra-se necessria uma investigao sobre o atual conceito de segurana, a ser feito nas linhas que seguem.

10 MESQUITA, 2005, p. 78/79. 10 4-Segurana pblica na CF 88: prembulo, artigo 5, 6, e 144 Esse relevante valor11 no foi deixado de lado pelo constituinte brasileiro de 1988. A segurana,primeiramente,colocadacomoobjetivodoEstadoecomovalorsupremono prembulo do texto constitucional: Estado Democrtico, destinado a assegurar o exerccio dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurana, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justia como valores supremos Alm do prembulo, o artigo 5, no caput, tambm menciona a segurana ao lado de outrosdireitos:Todossoiguaisperantealei,semdistinodequalquernatureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade Sendo assim, alm de ser um valor, a segurana foi prevista tambm como direito, ao lado das liberdades individuais, ou seja, como direito fundamental de primeira gerao. NoporqueissoimplicaemumaomissodoEstado,masporquesemoaparatoda seguranapblicaosdemaisdireitosficamcompletamenteesvaziados,conforme demonstrado acima. A segurana pblica,constitui, ento, um pressuposto imprescindvel para o pleno exerccio do direito vida, liberdade e propriedade12.No artigo 6 a Constituio prev, novamente, o direito segurana, mas agora no rol dos direitos sociais: So direitos sociais a educao, a sade, a alimentao, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurana, a previdncia social, a proteo maternidade e infncia, a assistncia aos desamparados, na forma desta Constituio. O contedo desse direito ser aprofundadoaseguir,vistodeportadordecontedodiversodeseuhomnimodoartigo anterior. Por derradeiro, surge a expresso segurana pblica (pela primeira vez a segurana recebe esse adjetivo), inicialmente como nome de captulo, e, em seguida, como atividade estatal. Importante mencionar sua localizao no corpo da Constituio: nome Captulo III doTtuloV(DaDefesadoEstadoedasInstituiesDemocrticas)econtedodesse captulo.Jos Afonso da Silva explica essa utilizao polissmica do termo:

11 Conforme se ver no decorrer desse estudo, a segurana um valor, mas no apenas um valor. 12 Nesse sentido, SUSTEIN,2002, p. 469. 11 Nateoriajurdica,apalavraseguranaassumeosentidogeraldegarantia, proteo,estabilidadedesituaooupessoaemvrioscampos,dependentedo adjetivo que a qualifica. Segurana jurdica consiste na garantia de estabilidade edecertezadosnegciosjurdicos,desortequeaspessoassaibamdeantemo que, uma vez envolvidos em determinada relao jurdica, essa se mantem estvel, mesmo se se modificar a base legal sob a qual se estabeleceu. Segurana social significaprevisodevriosmeiosquegarantamaosindivduosesuasfamlias condiessociaisdignas;taismeiosserevelambasicamentecomoconjuntode direitossociais.Aconstituio,nessesentido,preferiuoespanholismo seguridadesocial,comovimosantes.Segurananacionalrefere-ses condiesbsicasdedefesadoEstado.Seguranapblicaamanutenoda ordem pblica interna.13 Como sabido, o foco do presente trabalho a segurana pblica, conceituada acima como manuteno da ordem pblica interna, e tida como necessria para a defesa do Estado e das instituies democrticas, conforme se extrai da anlise topolgicado termo. Sendo assim, apesar de reconhecer a importncia da segurana jurdica e da segurana social14, o presente trabalho deixa de abordar tais temas. Ainda com base na lio de Jos Afonso da Silva possvel aprofundar a anlise do instituto jurdico: A segurana pblica consiste numa situao de preservao ou restabelecimento dessa convivncia social que permite que todos gozem de seus direitos e exeram suasatividadessemperturbaodeoutrem,salvonoslimitesdegozoe reivindicao de seus prprios direitos e defesa de seus legtimos interesses.15 Essa,portanto,asituaoaseralcanada,enquantoobjetivomencionadonotexto constitucional (vide prembulo). E isso se dar, principalmente, com o exerccio da atividade policial1617.Dignodemeno,tambm,oconceitodeseguranapblicaaquechegou Rodrigo Vilardi, elaborado em estudo especfico sobre o tema:

13 SILVA, 2005, p. 777. 14 Discordando do contedo de segurana social previsto no artigo 6: Outro ponto fundamental fora a dupla referncia segurana tanto no rol de direitos individuais (art. 5., CF) quanto no rol de direitos sociais (art. 6.,CF).Noprimeirocaso,daseguranapessoalouindividual,aprevisoremontanossaprimeira Constituio,otextooutorgadode1824(art.179),aindasobagidedoImprio.Aprevisodasegurana como direito social eis a constitucionalizao concreta de um direito fundamental segurana pblica , no entanto, uma novidade jamais vista at ento no constitucionalismo brasileiro. in LINS, 2011, p. 181. 15 SILVA, 2005, p. 778. 16 Por mais bvio que parea, segurana pblica tem relao com a preveno e represso de delitos penais e atosinfracionais.E,porforadoinafastvelprincpiodalegalidade,apenasopoderlegislativotem competncia constitucional para definir as condutas tpicas (que constituam delitos penais ou atos infracionais) eabrandaroutornarmaisseverasaspenas.Nemoexecutivo,porforadavedaodeediodemedidas provisrias sobre direito penal, nem o judicirio no tem competncia constitucional. E. sem dvida nenhuma, alegislaopenalparteintegrantedosistemadeseguranapblica.Maspornopoderserobjetode adjudicao da forma como aqui tratada, esse aspecto no ser objeto de maiores investigaes. 17 No consiste em objetivo do presente texto a analisar outras formas deatuao estatal que, indiretamente, impliquem no aumento da segurana pblica, como polticas que confiram ao cidado melhores condies de vida,desincentivandoaprticadecrimes,vistoqueestasnotemcomoobjetivodiretooincrementoda segurana pblica. 12 Seguranapblica,emtermosconceituais,apsumabreveabordagemda evoluo de seu significado no processo histrico e a comparao com a as atuais vises acerca da questo, foi conceituada como um estado de ausncia ou risco iminentedeocorrnciadeinfraespenaisouatosinfracionaisedepercepo dessacircunstnciaporpartedosintegrantesdasociedade,sendoresultado, ainda, que ela, em conjunto com a tranquilidade e a salubridade pblica, forma a tradedosaspectosdaordempblica,queasituaodeconvivnciasocial pacfica entre os cidados.18 A atividade policial acima referida tambm foi analisada por Jos Afonso da Silva, interpretando o artigo 144 da Constituio: Na sua dinmica, uma atividade de vigilncia, preveno e represso de condutas delituosas.SegundoaConstituio,aseguranapblicaexercidaparaa preservaodaordempblicadaincolumidadedaspessoasedopatrimnio atravsdapolciafederal,dapolciarodoviriafederal,dapolciaferroviria federal, das polcias civis, das polcias militares e corpos de bombeiros militares (art. 144).19

Tratando do tema, Pedro Lenza explica: Aatividadepolicialdivide-se,ento,emduasgrandesreas:administrativae judiciria.Apolciaadministrativa(polciapreventiva,ouostensiva)atua preventivamente, evitando que o crime acontea, na rea do ilcito administrativo. Japolciajudiciria(polciadeinvestigao)atuarepressivamente,depoisde ocorrido o ilcito penal.20 O texto constitucional, no mbito estadual, atribui s policias militares a atividade de policiamento ostensivo, enquanto s polcias civis, incumbiu as funes de polcia judiciria eaapuraodeinfraespenais.Nombitofederal,asatividadessoexercidaspelas Polcias Federal, Rodoviria Federal e Ferroviria Federal. corretoafirmar,ento,queaseguranapblicanoapenasumvalorouum objetivo a ser perseguido. A segurana pblica tambm pode ser considerada como direito (apartirdaleituradoartigo5daCartaPoltica),e,ainda,comoumserviopblico (enquanto atividade estatal prevista no artigo 144). Em obra anterior Constituio de 88, Cretella Junior cita o conceito de servio pblico com apoio na doutrina de Rui Cirne Lima: Serviopblicotodooservioexistencial,relativamentesociedadeou,pelomenos, assim havido num momento dado, que, por isso mesmo, tem se prestado aos componentes daquela, direta ou indiretamente, pelo Estado ou outra pessoa administrativa21. Odete Medauar, por sua vez, em obra contempornea ao texto constitucional vigente, elaborou conceito mais restrito, que no chega a ser divergente:

18 VILARDI, 2010, p. 24. 19 SILVA, 2005, p. 778. 20 LENZA, 2007, p. 644. 21 CRETELLA JR., 1967, p. 255. 13 ServioPblico,comoumcaptulododireitoadministrativo,dizrespeito atividaderealizadanombitodasatribuiesdaAdministrao,inseridano Executivo. E refere-seatividadeprestacionalem queo poder pblico propicia algo necessrio vida coletiva (...)22 Tendoemvistaaausnciadecarganormativadovalorexpostonoprembulo23, podemos dizer que a segurana pblica temdupla caracterizao, o que confirmado por Rodrigo Vilardi:No mesmo sentido, foi identificada a dupla natureza jurdica da segurana pblica. A primeira, como direito fundamental que integraem seu contedo, em regra, o total respeito aos demais direitos em razo de seu carter instrumental, e a segunda, como servio pblico, que permite um melhor relacionamento com os princpios democrticosdedireitoecontrolepelopoderjudicirio,almderessaltarseu carter de prestao positiva, no sentido de concretizao de atos com o objetivo de garantir o direito segurana pblica dos integrantes da sociedade e no apenas atuar para posterior responsabilizao penal.24 Podemos,afirmar,porenquantoque,deacordocomodireitopositivovigente, seguranapblica,almdevalorsupremoeobjetivo,direitofundamentalbemcomo, tambm, um servio pblico concretizado por meio das atividades policiais. Emsetratandodeestudovoltadojusticiabilidade,ofocodevesevoltarparaa seguranajurdicaenquantodireito.Derigor,pois,umaanlisedodireitosegurana pblica, para, a partir de suas caractersticas, verificar qual o tratamento que deve receber do judicirio quando da sua tutela. 4.1- Caractersticas do direito segurana pblica Uma primeira caracterstica da segurana pblica reside em sua fundamentalidade. Essa caracterstica no decorre apenas de sua incluso no caput do artigo 5 da Carta Poltica. A partir do conceito de fundamentalidade de um direito elaborado por Paulo Gustavo Gonet Branco, constata-se que a segurana pblica rene todas as caractersticas, de modo que corretotrata-lacomotal:umdireitouniversal,evoluicomahistria,inalienvele indisponvel,temprevisoemnormaconstitucional,vinculaostrspoderesetem aplicabilidade imediata25. Analisando conceitos de fundamentalidade elaborados por outros autores, Jos Hugo deAlencarLinardFilhotambmconcluipelafundamentalidadedodireitosegurana pblica,mencionandoaindaoutrosfatoresalmdaqueleselencadosporPauloGonet: corolrio da frmula de Estado Democrtico de Direito, advm do elo entre ela e o regime

22 MEDAUAR, 2001, p. 368. 23 ADI 2.076, Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em 15-8-2002, Plenrio, DJ de 8-8-2003. 24 VILARDI, 2010, p. 24/5. 25 MENDES, 2009, p. 269/286. 14 republicano,esemostraindispensvelparaanormalidadedoEstado,dasinstituies democrticas e das relaes interpessoais e comunitrias na sociedade26. Firmada sua primeira caracterstica, ser um direito fundamental, necessrio tambm analis-laapartirdeseutitular:todaasociedade.Issosepercebenosnasegurana enquanto direito, mas tambm na qualidade de servio pblico a partir de seus destinatrios e do modo de prestao, que uti universi.Apesar dessa titularidade coletiva, Ada Pelegrini afirma que a segurana pblica no pode ser tratada como interesse difuso: Mas,comofoiagudamenteobservadoporVillone,nemtodososinteresses metaindividuaisconfiguraminteressesdifusos.Ointeresseordempblica, defesacomumouseguranapblica,porexemplo,conquantoseja indiscutivelmente um interesse suprasubjetivo, no considerado interesse difuso, como o , ao contrrio, o interesse defesa do ambiente e das cidades, defesa do consumidor,informaocorretaecompleta,lisurafinanceiraoubancria, integrao pacfica das diversas componentes raciais e sociais, etc. A diferena reside no fato de que a ordem pblica (ou a segurana pblica, ou a defesa comum) constitui interesse de que todos compartilham. O nico problema queessesinteressespodemsuscitarsitua-senaperspectivaclssicadoconflito autoridade x indivduo. Mas sempre no pressuposto de que a ordem pblica deva, em princpio, ser salvaguardada, de modo que, ao menos teoricamente, no Estado deDireitonohaveriapropriamentecontrasteentreosvaloresseguranae liberdade, por ser pacfica a aceitao do princpio de que as liberdades devem ser exercidas respeitando-se a segurana social. (...) Enfim, como se observou, o interesse difuso caracteriza-se por sua ampla rea de "conflittualit".Conflituosidade,essa,quenosecolocanecessariamenteou apenas no clssico contraste indivduo x autoridade, mas que tpica das escolhas polticas. Entretanto,paraCarreiraAlvim,odireitoseguranapblicapodesimser considerado como direito difuso: Se o direito segurana um dos direitos fundamentais inscritos no art. 5., caput, da CF/1988, e um direito inviolvel, tanto quanto os direitos vida e liberdade, no cabe discusso se os indivduos globalmente considerados tm um verdadeiro direito em face do Estado -, direito segurana -, a no ser que se leia pelo avesso o preceito constitucional; e no se tratando de um direito potestativo, fica evidente que,aodireitodosindivduossegurana,correspondeodeverdoEstadode prestar-lhes essa segurana. Assim, se o Estado (Poder Pblico) no tem o dever de garantir a segurana pessoal aos brasileiros, considerados uti singuli -, pois seria impossveldestinarumguardaparaprotegercadabrasileiro-,tm-no, considerados uti universi, tratando-se de um direito difuso segurana, mas, nem por isso, menos concreto do que o direito subjetivo individualizado. Como os direitos difusosgozam deproteo legal(arts. 129, III, daCF/1988e art. 81, I, do CDC), fica evidente que essa garantia se estende ao prprio direito segurana -, gerando o dever do Estado de prest-la -, e que, uma vez violado pela omisso do Poder Pblico, faz incidir o disposto no art. 5., XXXV, da CF/1988, garantidor do acesso Justia e instrumento de cidadania. Seria um absurdo, por exemplo,queapoluioatmosfricanumafavelaautorizasseoajuizamentode

26 LINARD FILHO, 2009, p. 86/87. 15 umaaocivilpblicaparafazercessarosdanossadedosfavelistas,ea atividade marginal do trfico de drogas, que pe em risco permanente o seu direito vida, no o autorizasse. Fosse assim, o direito sade que, apesar de ser direito de todos e dever do Estado (art. 196 da CF/88) estar-se-ia sobrepondo ao direito vida, ou preservao da vida, que o mais importante direito fundamental do ser humano, cuja garantia se assenta na segurana.27 Tendo como ponto de partida a lio de Carreira Alvim, que acolhida por Linard Filho com base nessa opinio e na de outros autors, possvel a judicializao da segurana pblica (ou melhor, das polticas pblicas envolvendo segurana pblica) considerando seu carter difuso. Cite-se a lio de Linard: Santin (2004, p.80), no desconhecendo a relao do direito segurana pblica comcadageraooudimensodosdireitoshumanos,considera-oumdireito predominantementedecarterdifuso,comcaractersticasdedireitohumano (Grifou-se).Talposioparecesustentar-senascaractersticasde transindividualidade,indivisibilidadeedesolidariedadepresentesnodireito segurana pblica.28 Tal posio foi confirmada pela jurisprudncia ao conferir tratamento processual de direito difuso, permitindo sua judicializao via ao civil pblica. Sim, pois, a possibilidade de judicializao j foi reconhecida pelo Supremo Tribunal Federa que, reformando acrdo do Tribunal de Justia do Paran, concluiu pela possibilidade de, judicialmente, condenar o Estado a contratar servidores e lhes fornecer condies de trabalho, sem que isso violasse a harmoniaentreospoderes,sendopoisumpedidopossveleumdireitoexigvel judicialmente pela via processual coletiva: Trata-sederecursoextraordinriointerpostocontraacrdoque,emaocivil pblica,extinguiuoprocessosemresoluodemrito,cujaaseguinte: "APELAO CVEL E REEXAME NECESSRIO. AO CIVILPBLICA. SEGURANAPBLICA.INCUMBNCIAAOPODEREXECUTIVODE NOMEAODEDELEGADOS,INVESTIGADORESEESCRIVES. FORNECIMENTODERECURSOSPARAASATIVIDADES-FIM. IMPOSSIBILIDADEJURDICADOPEDIDO.VIOLAOAOPRINCPIO DAINDEPENDNCIAEHARMONIAENTREOSTRSPODERES."(fl. 186).2.Nasrazesdorecursoextraordinrio,sustenta-seofensaaoartigo2da ConstituioFederal.3.Inadmitidoorecursonaorigem,subiramosautosem virtudedoprovimentodoAI611.381/PR(fls.275).4.OMinistrioPblico Federal opinou pelo provimento do recurso (fls. 286-289).5. Assiste razo parte recorrente.Oacrdorecorrido,aoconcluirpelaimpossibilidadejurdicado pedido,pois"desconformecomasnormasjurdicasvigentesouesteja expressamentevedadopelodireitopositivo,mormentequandosetratarde princpioconstitucional,comoretrataocasoemexame-princpioda independncia dos poderes -, previsto no art. 2 da Constituio Federal, divergiu da jurisprudncia dominante do Supremo Tribunal Federal.6. Assim, no prospera o argumento de que a imposio de obrigao de fazer ao Poder Executivo violaria oprincpioconstitucionaldaseparaodepoderes.(...)6.Dessaforma,dou provimentoaorecursoextraordinrio,comfundamentonoart.557,1-A,do CdigodeProcessoCivil,paradeterminaroretornodosautosaoTribunalde JustiadoEstado do Paranparaapreciao do recursodeapelao,afastadoo

27 ALVIM, 2005, p. 50. 28 LINARD FILHO, 2009, p. 91.16 bice que ensejou a extino do processo sem resoluo de mrito. (...) (559646 PR , Relator: Min. ELLENGRACIE, Data deJulgamento: 31/03/2011, Data de Publicao: DJe-067 DIVULG 07/04/2011 PUBLIC 08/04/2011) Aindaqueexistadivergnciadoutrinria,osfatos(consubstanciadosna jurisprudnciadorgodecpuladoPoderJudicirio)nodevemserignorados.Sefoi reconhecidaapossibilidadedejudicializaodotema,inafastvelaconclusodeque possvel ao judicirio tratar de polticas pblicas envolvendo o direito segurana pblica. Superadaaquestodapossibilidade,passa-seaquestodautilidade.Pergunta-se: essa interveno judicial em polticas pblicas de segurana pblica produz bons resultados? Seria o judicirio o melhor locus de deciso parra esse caso? Seria o judicirio a instituio queproduziriaamelhordeciso?Afinal,comoexplicaBadin,existemoutrasinstituies quepodemtomaressadeciso,epormeiodeumprocessodecisriodiversodo adjudicatrio29.Como o tema do trabalho se restringe anlise da interveno judicial nas polticas de segurana pblica, as demais possibilidades so apenas objeto de meno, visto que no constituem objeto de estudo no presente texto.Passandoparaasoluoadjudica,propriamentedita,imperiosoconsiderarquea atuaodajurisdiosedemumprocessojudicialcercadodeformalidadesquantoa diversosaspectos(nmerodeparticipanteseformadeparticipao,regimepreclusivo, estabilizao da demanda, limitao da atuao do juiz pelo pedido da parte, formao de decisofinalacobertadapelacoisajulgadamaterial),pergunta-se:ojudicirioamelhor instituio para a formulao e concretizao (coercitiva) de polticas pblicas? Paraanalisartaisaspectos,indispensvelumestudoprviosobreoconceitode polticaspblicas.Feitoissoserpossvelumaprofundamentodaobservaosobreos efeitosdesetransferirasdecisesreferentesspolticaspblicasparaopoderjudicirio (considerando principalmente os limites processuais de atuao do magistrado).

29 [A]s trs grandes instituies que primeiro se apresentam nossa escolha no estado democrtico de direito, laico e capitalista so o processo poltico (executivo e legislativo), o processo de trocas (mercado), e o processo adjudicatrio (judicirio). BADIN, 2011, p. 91. 17 5-PolticasPblicas:conceito,caractersticaseconsequnciasdesua formulao e implementao coercitiva pelo Poder Judicirio Apolticapblica,antesrestritaaocampodacinciapoltica,foiimportada recentementeparaoplanojurdico,onderecebeudefinio(emborainterdisciplinar) cunhada com maestria por Maria Paula Dallari Bucci: Poltica pblica o programa de ao governamental que resulta de um processo ou conjunto de processos juridicamente regulados processo eleitoral, processo deplanejamento,processodegoverno,processooramentrio,processo legislativo,processoadministrativo,processojudicialvisandocoordenaros meiosdisposiodoEstadoeasatividadesprivadas,paraarealizaode objetivos socialmente relevantes e politicamente determinados. Como tipo ideal, apolticapblicadevevisararealizaodeobjetivosdefinidos,expressandoa seleodeprioridades,areservademeiosnecessriossuaconsecuoeo intervalo de tempo em que se espera o atingimento dos resultados. (...) As polticas pblicas no so, portanto, categoria definida e instituda pelo direito, mas arranjos complexos,tpicosdaatividadepoltico-administrativa,queacinciadodireito deve estar apta a descrever, compreender e analisar, de modo a integrar atividade poltica os valores e mtodos prprios do universo jurdico.30 Trata-se de ao governamental claramente dinmica, como se verifica por suas fases (ou ciclos): H, no entanto, proposies de perspectivas mais elaboradas do ciclo de polticas pblicas,queespecificammomentosepermitemumolharanalticomais detalhadosobreoprocesso.Dye(2009,p.104)identificaosseguintesestgios convencionais do processo poltico-administrativo: identificar problemas; montar agendaparadeliberao;formularpropostasdepolticas;legitimarpolticas; implementar polticas; avaliar polticas. Nessa perspectiva, o foco est no como, no sendo privilegiado o contedo das polticas pblicas, mas o processo por meio do qual so desenvolvidas, implementadas e mudadas (DYE, 2009).31 Ouseja,apolticapblicatemcomoumadesuaspremissasapossibilidadede mudana de rumos. Sim, pois, se na fase de avaliao se perceber que o resultado almejado nofoiatingido,possvelmodific-laparaadapt-lasnovasnecessidadesou circunstnciasnoimaginadas,ouat,eventualmente,intercorrnciassurgidasdesua implantao. Apartirdessaspremissas(conceitodepolticaspblicasefasesdaspolticas pblicas),torna-senecessrioumcontrastedetaisnecessidadesdeadaptaocomas caractersticas da soluo dada pela via da judicializao.

30 BUCCI, Notas, 2009, p. 20. 31 HOMERCHER; BERGUE, 2011, p. 12. 18 Usualmentesocitadospeladoutrinacomolimitadoresdaatuaodojudicirio nesse campo das polticas pblicas em geral (ou como desvantagens da judicializao): I) Argumentos de ordem poltico-institucional: Separao de poderes, com base no art. 2 da Constituio Federal; Dficit democrtico do Poder Judicirio; Limitaes tcnicas do Poder Judicirio para apreciao das polticas pblicas em toda sua complexidade; Discricionariedade administrativa; II) Argumentos de ordem econmicofinanceira: "reserva do possvel": Questo da iniciativa das polticas pblicas: Poder Executivo (CF, art. 61, 1, II, a e b) e Poder Legislativo.32 Esses argumentos apresentados como limitadores para o controle de qualquer tipo de poltica pblica obviamente se aplicam questes de segurana pblica. Por bvio, aplicam-se tambm as vantagens da soluo adjudica e as respostas essas crticas33. No presente trabalho, porm, o objetivo trazer novos aspectos para ampliar o debate sobreotema.Easpectosqueimpactem,principalmente,emeventualjudicializaode polticas pblicas de segurana. Parta-se, ento, dacaracterstica do dinamismo das polticas pblicas (presente em todas as polticas pblicas, mas de importncia ainda maior no objeto dopresenteestudo, conforme restar demonstrado). 5.1- Necessidade de constante atualizao de polticas de segurana pblica Conformerestardemonstrado,essepontodesumarelevnciaparaaspolticas pblicas de segurana pblica. Aborde-se a questo da rpida evoluo do crime.H alguns anos o uso de cheques falsificados exigia, por exemplo, preparo da polcia ematerialespecficoparaocombatedessaatividade.Comaevoluodatecnologia,os hbitos da sociedade mudaram e essa mudana, evidentemente fez com que os criminosos acompanhassem suas vtimas no processo evolutivo. Hoje o problema maior envolve fraudes com cartes magnticos ou de chip.Apropsito,transcreve-sealgumasbreveslinhasdeManoelCamassa,quepodem serconsideradasprofticasaoprever,porexemplo,oaumentodaprticadecrimespor telefones celulares h algum tempo (1999): Toda esta questo torna preocupante o desenvolvimento da criminalidade nos dias que se seguiro, em face de sua prtica com a utilizao de recursos tecnolgicos, queevoluemmundialmente,ecomvelozmodernizaodainformtica,de

32 BUCCI. Controle..., 2009, p. 3/4. 33 BUCCI. Controle..., 2009, p. 4/6. 19 maneira que a criminalidade ser praticada ao espectro da invisibilidade, ou seja, oagenteouagentes,osmeliantesdocrimenomaisestarofrentedeum microcomputadorinstaladosobreumamesa,ouesteacomodadonumamaleta executiva, a exemplo do "notebook", como atualmente j ocorre. Mas estaro com tal equipamento camuflado num dos bolsos do palet, operacionalizado a qualquer distnciadetoeficientemaneira,queinvadiroosdadosbancriosdaconta correntedasvtimasescolhidas,desviandoseusativosfinanceiros,oudemodo mais eficaz operacionalizando os comrcios ilcitos, seja envolvendo drogas, seja os contrabandos mercantis, seja os da invaso da privacidade alheia, seja os delitos deconcorrnciadesleal,aquelesenvolvendosabotagenseaviolncia propriedade industrial, e os praticados contra os costumes e os abusos sexuais. No menos torna-se preocupante o desenvolvimento tecnolgico da telefonia celular e do telefone acoplado TV a cabo, que sero canais, como j o vm sendo, porm mais modernizados, mais sofisticados, para a prtica de crimes das mais diversas naturezas e modalidades. (...) No h dvidas, pelo relato at aqui desenvolvido, quetecnologiaecriminalidadecaminhamatualmentedemosdadas,altima evoluindoagalopedaevoluodaprimeira,influenciadaefortalecidapela utilizao da informtica, explorada negativamente pela inteligncia humana.34 Evidente,pois,quearpidaevoluodacriminalidadejustificaaconstante necessidadedeadaptaodepolticaspblicasdeseguranapblica.Explique-se,porm, queaevoluotecnolgicanoanicacausadenecessidadedeadaptao.Ignorando qualquer evoluo tecnolgica, basta pensar no seguinte exemplo. Determinada localidade (um cruzamento, por exemplo) torna-se alvo de criminosos por fora da ausncia de policiais no local. Caso o comando da polcia desloque homens de seu efetivo para esse cruzamento, os criminosos buscaro outra localidade para praticar o crime, onde o policiamento ostensivo seja menor.Alm disso, desnecessrio dizer que determinadas tcnicas atingem bons resultados emalgumaslocalidadesmasnohgarantiadequetaisresultadosserorepetidos,como mencionaRodrigoVilardisobreaatuaodapolciacomvigilnciapormeiode videomonitorizao35. H, portanto, necessidade de constante anlise de resultados e, a partir destes, so feitas eventuais reformulaes na atividade. Nesse particular, vale lembrar que o mundo do crime demasiadamente dinmico, seadaptandocomrapidezaosobstculosqueencontra.Essaconstantemutaodocrime (seja em razo da tecnologia, seja em razo de outros fatores) absolutamente incompatvel com o instituto da coisa julgada, que tem como caracterstica a imutabilidade. ValedizerqueatecnologiatambmatuaemfavordoEstado,podendoserusada comoferramentaparainvestigaoerepressodedelitos.Nessecenrio,eventualmente, uma deciso de contratar mais policiais para fazerem a vigilncia de determinado local pode

34 CAMASSA, 1999, p. 226. 35 VILARDI, 2010, p. 27/8. 20 setornarobsoleta,vistoqueotrabalhodesseshomenspoderserrealizadopormquinas com a mesma eficincia ou at com eficincia maior. Nessecenriohipotticodeevoluo,pergunta-se:Quandosesaberseadeciso deve continuar a ser cumprida? Ou ser que a deciso deve ser cumprida independentemente de resultados apenas em razo da imutabilidade da coisa julgada e do dever da administrao de cumprir decises judiciais?Acontrataodeperitoscomdeterminadosconhecimentosespecficos(em falsidades documentais, por exemplo) pode se tornar menos necessria que a contratao de peritosemcrimescibernticosouparadesarmarexplosivos(videaondadecrimescom explosivos em caixa eletrnicos). Enfim,entendemosqueajudicializaodessapoltica,tendoemvistaasrpidas mudanas do cenrio social, so incompatveis com o instituto da coisa julgada. Damesmaforma,essarpidaevoluodocrimesemostraincompatvelcoma durao razovel do processo, pois o problema que deu causa a uma determinada demanda judicialenvolvendopolticaspblicasdeseguranapodetersetransformado,mudadode lugar,ouatmesmodeixadodeexistir(porexemploemrazodaprisodosautoresdos delitos),oquetornapoucorecomendvelajudicializaodaquesto,considerando, principalmenteolongotemponecessrioparaojulgamentodequestodetamanha complexidade. 5.2- Rigidez das fases procedimentais como incompatibilidade Alm da durao do processo e da definitividade, acima citadas, a rigidez do sistema preclusivo no processo civil brasileiro, que tambm vigora nas aes coletivas, impede que eventuais alteraes no cenrio ftico sejam admitidas no processo, sob pena de violao ao princpio do contraditrio, da ampla defesa e da estabilizao da demanda. Admitidaaflexibilizaodasregrasdeestabilizaodademanda,eventuais alteraes dos elementos da ao (causa se pedir e pedido, principalmente), implicariam em dilao excessiva do processo. Sim, pois, para fins de obedincia ao devido processo legal constitucional, que protege os princpios do contraditrio e da ampla defesa, isso implicaria em tornar necessria a concesso de sucessivas oportunidades de manifestao das partes a cada modificao da causa de pedir ou do pedido, o que colidiria frontalmente com outro princpioprocessual:odarazovelduraodoprocesso,quetambmfoiprevistocomo direito fundamental no artigo 5, LXXVIII, da Lei Maior.21 Eduardo Jos da Fonseca Costa, magistrado que percebeu as dificuldades da funo judicanteemtaiscasos(tratandogenericamentedepolticaspblicas),sugeriua calendarizao, como forma de flexibilizao procedimental, inspirando-se no processo civil americano,mencionandoquetalinstitutotemcomofunofixarparaaspartesuma expectativatemporalparaaprolaodasentena(eprticadedeterminadosatos processuais)36. Diante de todas essas consideraes, irresistvel associar esse tipo de acordo ao instituto da calendarizao processual (timing of the procedural steps).(...) Grossomodo,acalendarizaosignificaumadelineaoimediatadeuma expectativa temporal para a prolao da sentena (dead-line), a fim de que todas asetapasdoprocedimentosejamorientadasemfunodessaexpectativa.Com isso,elabora-seumcalendriooutabelatemporal(timetable)detodaafasede conhecimento e se ganha tempo no remetendo os autos concluso para despacho e publicao na imprensa. Como se v, trata-se de uma tcnica de gesto do tempo processual,emqueumatutelajurisdicionalmaisracionaleclereprestada mediante flexibilizao procedimental negociada entre as partes. A necessidade de flexibilizao, na realidade, demonstra que o instrumento utilizado pelo judicirio para o exerccio de seu mister inadequado para trata do tema, por isso se sugere a flexibilizao. Da se extrai a concluso que o arcabouo normativo vigente no apto a produzir resultados satisfatrios no julgamento desse tipo de causa (que tenha como objeto a formulao e implementao de polticas pblicas).Eis,portanto,outroaspectoquetornapoucorecomendvelajudicializaode polticas pblicas de segurana. As normas processuais impedem a adaptao do processo alteraes fticas.

36 COSTA, 2012, p. 39. 22 6-I nstitutional choice: o judicirio a melhor instituio para decidir sobre polticas de segurana pblica? Comomencionadosupra,cedioquenenhumainstituiocapazdeproduzir solues perfeitas no campo das escolhas que envolvem polticas pblicas. Sendo assim, em vezdeseanalisarapossibilidadedecadainstituioformulareimplementarapoltica pblica(tendoemvistaaatualjurisprudnciadoexcelsopretrioqueadmitea judicializao), parece ser melhor olhar os problemas de cada instituio no exerccio desse mister. Somente assim se ter conscincia da viabilidade da judicializao, da sua utilidade, ouatmesmodesuaaptidodeproduzirumresultadomelhordoqueaquelequeseria produzido caso outra instituio atuasse em seu lugar (ou sem ser sujeito de coero). Eis o objetivo do presente estudo: alertar a doutrina sobre desvantagens que talvez notenhamsidorelacionadascomajudicializaodepolticaspblicas.Emnenhum momento se pensou em trazer soluo definitiva para tema de tamanha complexidade. O que sebuscouapenas,comoditodesdeoincio,foiampliaroconjuntodeinformaes disponveis para permitir uma melhor comparao entre as instituies que podematuar no campo da formulao e implementao de polticas pblicas.E, diante dos problemas aqui verificados na judicializao de polticas pblicas que tenhamcomoobjetooincrementodaseguranapblica,talvezdevaserreanalisadaa soluodelevaraojudicirioaquesto.Poissetodososproblemasforamlevadosao judicirio, alm dos aqui mencionados, talvez surjam novos problemas emenos solues, como explica Mancuso: A reavaliao antes referida passa, necessariamente, pela renovada compreenso do que hoje se deva entender por acesso Justia, expresso geralmente ubicada outrance noart.5, XXXV daCF,eque, custadeser largamentedifundida, acabousuperdimensionada,perdendoseugenunosignificado,vezoque,como tempo, foi gerando mais de uma externalidade negativa, sendo a principal delas o fomentoculturademandistaoujudiciaristaquegrassaentrens, sobrecarregando a Justia estatal e, ao fim e ao cabo, desservindo a cidadania, na medida em que desestimula a busca por outros meios, auto e heterocompositivos.37

37 MANCUSO, 2010, p. 11. 23 BIBLIOGRAFIA: ALVIM, J. E. Carreira. Ao civil pblica e direito difuso segurana pblica. Revista de Processo, vol. 124, p. 40, Jun/2005. BADIN, Arthur Sanchez. Controle judicial das polticas pblicas : contribuio ao estudo do tema da judicializao da poltica pela abordagem da anlise institucional comparada de NeilK.Komesar.2011.164pginas.DissertaodeMestradoFaculdadededireitoda Universidade de So Paulo, So Paulo. 2011.BUCCI, Maria Paula Dallari. Notas para uma metodologia jurdica de anlise de polticas pblicas.FrumAdministrativoDireitoPblicoFA,BeloHorizonte,ano9,n.104,out. 2009.Disponvelem:. Acesso em: 17 jun. 2013. ________________________.Controlejudicialdepolticaspblicas:possibilidadese limites. Frum Administrativo Direito Pblico FA, Belo Horizonte, ano 9, n. 103, set. 2009. Disponvel em: . Acesso em: 17 jun. 2013. CAMASSA, Manoel.A tecnologia mudando o perfil da criminalidade. Revista Brasileira de Cincias Criminais, vol. 25, p. 226, Jan/1999 COSTA, Eduardo Jos da Fonseca. A "execuo negociada" de polticas pblicas em juzo. Revista de Processo, vol. 212, p. 25, Set/2012 CRETELLA JR., Jos. Curso de Direito Administrativo. 1 ed. So Paulo: Forense, 1967. DIASNETO,Theodomiro.Seguranaurbana:omodelodanovapreveno.SoPaulo: Revista dos Tribunais, 2005. FERREIRAFILHO,ManoelGonalves.DireitosHumanosFundamentais.4ed.So Paulo: Saraiva, 2000. GALDINO,Flavio.Introduoteoriadoscustosdosdireitos:direitosnonascemem rvores. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005. GRINOVER,AdaPellegrini.Atutelajurisdicionaldosinteressesdifusos.Revista BrasileiradeDireitoProcessual,BeloHorizonte,ano15,n.59,p.23-47,jul./set.2007. 24 Disponvel em: . Acesso em: 15 jun. 2013. HOMERCHER,EvandroT.;BERGUE,SandroTrescastro.Polticaspblicase transparncia: reflexes multidisciplinares. Interesse Pblico IP, So Paulo, ano 13, n. 68, p. 405-422, jul./ago. 2011. KOMESAR, Neil K. Imperfect alternatives: Choosing institutions in Law, Economics and Public Policy. Chicago: The University of Chicago Press, 1996. LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 11 ed. So Paulo: Mtodo, 2007. LINARDFILHO,JosHugodeAlencar.Seguranapblicaesuanotade fundamentalidade no ordenamento jurdico brasileiro. 2009. 116 pginas. Universidade de FortalezaUNIFOR.Fortaleza.2009.Disponvelem: .Acessoem:14 de junho de 2013. LINS, Bruno Jorge Rijo Lamenha. Breves reflexes sobre segurana pblica e permanncias autoritriasnaConstituioFederalde1988.RevistadeDireitoBrasileira,vol.1,p.173, Jul/ 2011. LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo civil: ensaio sobre a origem, os limites e osfinsverdadeirosdogovernocivil;traduo:MagdaLopeseMarisaLobodaCosta. Petrpolis: Vozes, 1994. MANCUSO,RodolfodeCamargo.Aresoluodosconflitoseafunojudicialno contemporneoEstadodeDireito.InteressePblicoIP,BeloHorizonte,ano12,n.60, mar./abr.2010.Disponvelem:. Acesso em: 15 jun. 2013. MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 5 ed. So Paulo: RT, 2001. MENDES,GilmarFerreira.;COELHO,InocncioMrtires.;BRANCO,PauloGustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 4 ed. So Paulo, Saraiva, 2009. MESQUITA, JosIgncioBotelhode.DaAoCivil.In:Teses,EstudosePareceresde Processo Civil, v. 1. So Paulo: RT, 2005. MONTESQUIEU, Charles de Secondant, Baron de. O esprito das leis; traduo: Cristina Muracachco. 2 ed. 2 tiragem. So Paulo: Martins Fontes, 2000. 25 SILVA,JosAfonsoda.Cursodedireitoconstitucionalpositive.25ed.SoPaulo: Malheiros, 2005. SUSTEIN, Cass R. State Action is Always Present. Chicago Journal of International Law, n. 3, p. 465-470, 2002. VILARDI, Rodrigo Garcia. Reduo da insegurana pblica : poltica pblica de segurana oupolticadeseguranapblica:estudodecaso.2010.323pginas.Dissertaode Mestrado Faculdade de direito da Universidade de So Paulo, So Paulo. 2010. Disponvel em:. Acesso em: 15 jun. 2013.