a introducao do iva em cabo verde

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  • 5/17/2018 A Introducao Do IVA Em Cabo Verde

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    A INTRODU

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    SERGIO VASQUES

    imposto de consumo sobreviveu relativamente intocado aos anos da independenciae do regime de orientacao socialista que se the seguiu. 0 planeamento centrale a estagnacao econ6mica contribufram para a marginalizacao do imposto comofonte de receita e como instrumento de polftica economica, factores que a expli-cam que a maior parte dos paises africanos de expressao portuguesa nao tenhalevado a cabo reformas fiscais de fundo ate aos anos noventa.o imposto de consumo cabo-verdiano reflectia a economia e a geografia par-ticular do pais. Constituindo urn pequeno arquipelago com urn c1ima predomi-nantemente arido, Cabo Verde sempre possuiu uma producao agricola e industriallimitada, assentando 0 consumo largamente em importacoes. A sua posicao isoladano oceano Atlantico, longe de Portugal, 0 seu principal mercado fornecedor, e dis-tante mais de quatrocentos quil6metros da costa ocidental africana, tornava razoa-velmente facil 0 controlo da entrada de mercadorias no territ6rio. A tributacaodas importacoes constitufa assim uma opcao 6bvia em materia de tributacao indi-recta no arquipelago e e natural por isso que 0 imposto de consumo criado em 1962tenha retido muitas das caracteristicas dos direitos aduaneiros (3).o imposto de consumo cabo-verdiano constitufa urn imposto monofasico e debase estreita incidente sobre mercadorias. 0 imposto era aplicado apenas nas fasesdo fabrico e da importacao, sendo integralmente administrado pelos services alfan-degarios, nunca se tendo criado urn service especifico para a sua gestae. 0 impostoincidia apenas sobre urn mimero limitado de bens identificados pela sua posicao napauta de importacao cabo-verdiana, bens manufacturados, na maior parte, ao passoque os services escapavam inteiramente a incidencia do imposto (4).

    Urn imposto de base estreita cobrado num ponto tao recuado do circuito

    Braz Teixeira, "Esquema dos Sistemas Fiscais Ultramarinos", Ciencia e Tecnica Fiscal, 1965,n." 77,139-169; "0 Sistema Fiscal de Angola", Ciencia e Tecnica Fiscal, 1965, n." 78,211-276;"0 Sistema Fiscal de Mocambique", Ciencia e Tecnica Fiscal, 1965, n." 80/81, 299-317. Quantoas reformas rnais recentes, Jose Carlos Gomes Santos, "Sistema Fiscal de Cabo Verde: Realidadee Tendencias", Ciencia e Tecnica Fiscal, 1988, n." 350, 133-198; Anildo Martins, "FinancasMunicipais: Algumas Notas", Direito e Cidadania (Cidade da Praia), 1998, n." 2, 163-190; Fran-cisco Campanico, "A Reforma Fiscal em Cabo Verde", in Sergio Vasques, ed. (Lisboa, 1998),As Reformas Fiscais Africanas, 35-51; e Jose Carlos Gomes Santos/Carla Rodrigues, "IncidenciaEcon6mica do Sistema Fiscal de Cabo Verde", Ciencia e Tecnica Fiscal, 2005, n. " 414, 63-132.

    (3 ) Na verdade, apenas cerca de urn decimo do territ6rio do pais e cultivavel, ao pas soque a pluviosidade diminuta e irregular toma a producao agricola diffcil e insuficiente para satis-fazer as necessidades do pais, razao pela qual as importacoes respondem por mais de 80% de todosos produtos alimentares consumidos no pais. Como urn todo, as importacoes montam a 40% doPIB. Fonte: Cape Verde: Poverty Reduction Strategy Paper, Country Report no. 05/135, April 22,2005, disponivel em www.imf.org.

    (4 ) As dificuldades associadas a tributacao das prestacoes de services fazendo uso de impas-tos cobrados apenas em estagios anteriores ao retalho sao analisadas par Ronald McMorran, "A Com-parison Between the Sales Tax and a VAT", in (Washington, 1995) IMF Tax Policy Handbook, 85.

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    A INTRODU!;f i .O DO IVA EM CABO VERDE +4'

    economico significava que os importadores e fabric antes procediam a liquidacaodo imposto no momento em que introduziam os bens no consumo, sendo que,mais a jusante, grossistas e retalhistas nao liquidavam imposto algum, limi-tando-se a repercutir sobre os consumidores 0 imposto ja incorporado no precodos bens (5) . Os prestadores de services, esses, ficavam inteiramente fora do sis-tema: nao ficavam sujeitos ao imposto de consumo e, na verdade, nao ficavamobrigados ao pagamento de qualquer imposto sobre os services prestados ate aintroducao do IVA. Em resultado, boa parte da comunidade profissional eempresarial cabo-verdiana nao tinha entrado nunca em contacto com os proce-dimentos caracteristicos de urn imposto indirecto interno. Urn imposto de baseestreita cobrado num ponto tao recuado do circuito economico mostrava-se tam-bern facil de administrar dada a concentracao do imposto sobre urn mimerolirnitado de operadores economic os e sobre 0 momento do fabrico e da impor-tacao, Em resultado, a administracao cabo-verdiana nao foi nunca obrigada a lidarcom 0 mimero largo de contribuintes e com os problemas operacionais quecaracterizam os impostos internos de natureza plurifasica (6).

    Estes seriam factores de grande importancia para contribuintes e para aadministracao aquando da introducao do IVA.

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    timento extemo. Como sucedeu com tantos outros paises africanos que atravessarnmregimes de partido unico e orientacao socialista, 0 advento da democracia repre-sentativa e da econornia de mercado suscitou de imediato a necessidade de proce-der a uma reforma profunda do sistema fiscal e a necessidade de reconstituir urnEstado Fiscal operante que se pudesse alimentar da iniciativa economica privada semno entanto a estrangular. 0 Govemo saido das prirneiras eleicoes democraticas rea-lizadas em Cabo Verde em 1991 estabeleceu a refonna do sistema fiscal comouma das suas principais prioridades econ6micas e adoptou urn prograrna de reformaem tres passos no ambito do qual a refonna dos impostos sobre 0 rendimento SUf-gia em primeiro lugar, a reforrna dos impostos em segundo lugar, constituindo areforrna dos impostos sobre 0 consumo 0 ultimo passo.

    Logo em 1992-93 forarn aprovados 0 C6digo Nacional Tributario e 0 C6digode Processo Tributario, estabelecendo regras gerais para a liquidacao e cobrancados impostos, disciplinando recursos e reclamacoes, tipificando infraccoes.A reforrna dos impostos sobre 0 rendimento foi levada a cabo em 1995-96quando urn novo imposto unico sobre os rendimentos entrou em vigor, aplica-vel quer a pessoas singulares quer a pessoas colectivas, e revogando dois impos-tos cedulares bern como urn imposto complementar. Em 1998 foi introduzidourn imposto iinico sobre 0 patrim6nio incidente sobre a titularidade da proprie-dade imobiliaria, sobre a utilizacao de veiculos autom6veis, sobre a transmissaode im6veis e de outros bens sujeitos a registo, sobre as mais-valias resultantesda venda de imoveis, bern como sobre algumas operacoes societarias, tais comoos aumentos de capital. Em 2003-2004 foi enfim introduzido 0 imposto sobreo valor acrescentado juntamente com urn novo imposto sobre consumos especiais,que veio substituir-se as aeeises sobre bebidas alco6licas, tabaco e produtospetroliferos, e com uma nova pauta de importacao (7).

    A Reforma Fiscal em Cabo Verde

    1995-96 Imposto unico sobre 0 rendimento

    1992-93 C6digo Tributario Nacional, C6digo de Pro-eesso Tributario

    1998-99 Imposto unico sobre 0 patrim6nio2004 IVA , imposto sobre eonsumos especfficos, pauta

    de importacao2006 Reforma da tributa(;uo do rendimento? Reforma

    do imposto do selo? Reforma das regras deprocedimento?

    (1 ) 0 Regulamento do IVA eabo-verdiano foi aprovado por meio da Lei n." 21NI12003, de 14de Julho. Os impostos sobre bebidas alco6lieas e sobre 0 tabaeo tinham sido reformados

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    A INTRODUC;iiO DO IVA EM CABO VERDE

    A reforma do sistema fiscal cabo-verdiano tern posto a prova quer a admi-nistracao quer os contribuintes cabo-verdianos, que se viram forcados a adaptar-sea novas regras e procedimentos durante os iiltimos dez anos. E, no entanto,preparam-se mais transformacoes ainda no sistema fiscal cabo-verdiano, nomea-damente nos campos dos impostos sobre 0 rendirnento, na tributacao do patrim6nioimobiliario, no imposto do selo e nas regras de procedimento administrativo,onde os trabalhos ja em curso com a assistencia tecnica do Fundo Monetario Inter-nacional podem levar a edicao de neva legislacao ja no pr6ximo ano. Semduvida que 0 imposto unico sobre os rendimentos e que 0 imposto iinico sobreo patrim6nio se confrontaram com dificuldades praticas graves e que as regrasdo procedimento administrativo precis am de ser re-sistematizadas. Para alemdisso, 0 Governo cabo-verdiano chamou recentemente a atencao para a necessidadede reforcar a eficacia redistributiva dos impostos sobre 0 rendimento, bern comoa participacao dos municipios na tributacao imobiliaria de forma a reduzir a suadependencia de transferencias da administracao central. Entretanto, foi insti-tuida em Abril de 2005 uma comissao para a reforma do imposto do selo. Umanova vaga de reforma fiscal pode, portanto, estar a caminho (8).

    Cabo Verde adoptou 0 IVA pelas mesmas raz6es pelas quais 0 fizeram mui-tos outros paises em vias de desenvolvimento: 0 IVA e encarado como umafonte de receita produtiva, como urn instrumento de tributacao neutro no planointerne e no plano internacional e como urn imposto que se policia a ele pr6priogracas ao mecanismo da liquidacao-deducao (9). Decisivo na introducao doIVA foi com certeza 0 papel do FMI, recomendando a sua adopcao primeiro comoparte do programa de ajustamento de Cabo Verde para 1998-2000, depois comoparte do programa poverty reduction and grow th facility arrangem ent para os anosde 2002-2004 eO) . Qualquer que tenha side 0 papel do FMI, e certo que no ini-

    em 1993-1994, sendo que 0 impasto sobre os produtos petroliferos foram reformados em 1992-1993.Em 1995 foi criada uma taxa ecologica sobre todas as embalagens e contentores nao-reciclaveisimportados para 0 pais, correspondente a 1% do valor CIF desses produtos e cujo produto seencontrava consignado ao saneamento basico assegurado pelas autarquias locais. A taxa eco16gicaseria abolida aquando da introducao do IVA mas reintroduzida pouco depois. '

    (8) 0 Relat6rio sobre a Estrategia de Reducao da Pobreza (Poverty Reduction StrategyPaper) aprovado em Abril de 2005 calendariza para 0 final de 2005 a apresentacao ao pari a-mento de legislacao relativa as financas locais. A comissao govemamental para 0 estudo dareforma do imposto do selo foi estabelecida pela Resolucao n." 8/2005, de 4 de Abril de 2005.

    (9) Quando a s vantagens gerais dos impostos sobre 0 valor acrescentado, Liam EbrilllMichaelKeen/Jean-Paul BodinIVictoria Summers (Washington, 2001), The Modem VAT;Peggy Musgrave, "Inter-national Aspects of Value Added Taxes: Lessons for Developing Countries", VAT Monitor, May/June2001, 105-119; Alan Tait (Washington, 1988), Value Added Tax: International Practice and Problems.

    (10) Veja-se Cape Verde - Letter of Intent, Memorandum of Economic and Financial Poli-cies, and Technical Memorandum of Understanding, March 11, 2002; e Cape Verde - InterimPoverty Reduction Strategy Paper, January 31, 2002, ambos disponiveis em www.imf.org.

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    cio dos anos noventa a administracao fiscal cabo-verdiana tinha ja entrado emcontacto com 0 IVA, reconhecendo-o como uma altemativa modem a e eficienteao velho imposto de con sumo.De facto, desde a introducao do imposto de con sumo nos anos sessenta 0mimero das isencoes fiscais tinha-se multiplicado para alern do razoavel e do quepodia ser eficazmente controlado. Regimes especiais de isencao tinham sido cria-dos para a importacao de instrumentos e acess6rios musicais, para 0 equipa-mento desportivo, material para associacoes culturais, maquinaria para a cons-trucao civil, produtos farmaceuticos, alfaias agricolas e instrumentos de pesca,todo 0 tipo de material para empreendimentos turisticos, veiculos para aluguerou transporte publico, equip amen to para a policia e forcas armadas, vefculospara 0 uso de magistrados e membros da Assembleia Nacional, equipamentomedico e de luta contra incendios, rnaquinas impressoras, equipamento foto-grafico para a comunicacao social, entre tantos outros bens. Se a lei que ori-ginariamente criou 0 imposto de consumo nao possuia mais do que treze artigos,a producao de sucessivos regimes de isencao levou a criacao de uma legislacaocomplexa e assistida por um conjunto muito heterogeneo de regras de procedi-mento. Lidar com 0 imposto de consumo tinha-se tornado, por isso, uma tarefapenosa, quer para a administracao quer para 0 comum dos contribuintes.

    A medida que estas isencoes se multiplicavam a base do imposto tornava-semais estreita corroendo a respectiva receita. A querer-se que as financas piibli-cas cabo-verdianas dependessem menos da ajuda internacional e mais do encaixetributario, era imprescindivel rever todo este conjunto de isencoes e reformularas regras de procedimento que as acompanhavam (11). Na verdade, podemos dizerque a economia cabo-verdiana tinha ultrapassado 0 imposto de con sumo, amedida que a industria e 0 comercio se tinham desenvolvido ao longo dos anosnoventa e a medida que 0 sector dos services largamente isento de impostos indi-rectos, crescia ate cerca de setenta e cinco por cento do PIB, 0 mais importantesector da econornia cabo-verdiana modema. Em suma, a introducao do impostosobre 0 valor acrescentado era vista como a forma mais 6bvia de alargar a basedo sistema fiscal e de 0 adaptar ao desenvolvimento econ6mico do pais.

    Ainda assim, nao foi inteiramente simples a introducao do IVA em CaboVerde. Apesar de se ter previsto a introducao do IVA logo desde 1991, a suaadopcao sofreu atrasos sucessivos em virtude de dificuldades praticas sentidas querpela administracao quer pela comunidade empresarial cabo-verdiana. Tendo-se

    (11) A receita fiscal atinge cerca de 11,1% do PIB no periodo de 1988-1992; 16,6%em 1996-1999, sendo de 19,8% em 2000-2002. Estes sao mirneros que se comparam favoravel-mente com os de outros pafses em vias de desenvolvimento mas 0 crescimento da receita fiscal

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    par relacao ao PIB parece ter estagnado nos iiltimos anos.

    A fNTRODUr;AO DO IVA EM CABO VERDE

    estabelecido uma comissao para a introducao do IVA e para a reforma da tri-butacao indirect a em Novembro de 1999 com a assistencia do PMI, a introdu-~ao do NA esteve primeiro planeada para 0 inicio de 2001, depois para 0 ini-cio de 2002, mais tarde foi calendarizada para 0 fmal de 2002, depois para 0 iniciode 2003 e so em Janeiro de 2004 acabaria 0 IVA por entrar em vigor. Estaderrapagem nao deve, no entanto, surpreender-nos: dada a estrutura do sistemacabo-verdiano de tributacao indirecta, a introducao do IVA tinha de ser combi-nada com a reforma global da sua pauta de importacao e dos seus impostosespeciais de consumo (12) .

    Esta era uma reforma que exigi a urn planeamento orcamental cuidadoso ea criacao de services administrativos especificos para a gestae do NA, sendo queate agora faltava a experiencia na administracao de urn imposto geral sobre 0 con-sumo. Esta era tambem uma reforma que exigi a a preparacao e a formacao dacomunidade empresarial, agora confrontada com urn modelo de imposto radi-calmente novo e que trazia para dentro do sistema de tributacao indirecta mui-tos operadores que ate agora estavam fora dele. Se e verdade que os atrasossucessivos na introducao do IVA reflectem quao serias foram estas dificuldades,tambem e verdade que com eles se ganhou algum tempo mais na formacao dosquadros administrativos e da comunidade empresarial (13) .

    Do ponto de vista tecnico, 0 imposto sobre 0 valor acrescentado cabo-ver-diano segue em linhas gerais 0 modelo europeu e 0 modelo portugues muito emparticular, uma escolha que se explica facilmente pelos lacos econ6micos e cul-turais que 0pais tern. Por urn lado, a pratica e cultura legal de Cabo Verdeencontra-se fortemente enraizada no direito portugues. Por outro lado, as liga-~6es comerciais com a Europa sempre foram muito mais estreitas do que comas nacoes africanas vizinhas pese embora a integracao de Cabo Verde na Cornu-nidade Economica dos Estados da Africa Ocidenta1. Hoje em dia, Portugal

    (12) Quando ao uso dos impostos especiais de con sumo no contaxto african, Sata Kahko-nen/Patrick Meagher, "Tax Policy in Sub-Saharan Africa: Re-Examining the Role of Excise Taxa-tion", in Journal of African Finance and Economic Development, 2001, vol. 4, n." 1, 31-64;Bruce Bolnick/Jonathan Haughton, "Tax Policy in Sub-Saharan Africa: Re-Examining the Role ofExcise Taxation", Journal of African Finance and Economic Development, 2001, vol. 4, n." 1, 31-64;Nehemia Osoro/Philip Mpango/Hamisi Mwinyimvua, "An Analysis of Excise Taxation in Tanza-nia", African Economic Policy Discussion Paper n." 72; Andrew Okello, "An Analysis of ExciseTaxation in Kenya", African Economic Policy Discussion Paper n." 73; e Seth Terkper, "The Roleof Excise Taxes in Revenue Generation in Ghana", African Economic Policy Discussion Paper n." 74,todos os tres public ados ern Junho de 2001 no ambito do Equity and Growth through EconomicResearch (EAGER) Program of the United States Agency for International Development, dispo-nivel ern www.us.aid.gov.

    (1 3 ) A Direccao de Services do IVA foi instituida pelo Decreto-Lei n." 62/2003, de 30de Dezembro de 2003.

    http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.imf.org./http://www.us.aid.gov./http://www.us.aid.gov./
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    constitui 0 destino de setenta por cento das exportacoes cabo-verdianas e a fontede cerca de cinquenta por cento das suas importacoes, sendo que empresas euro-peias respondem pela maior parte do investimento extemo no pais. E natural porisso que 0 novo imposto sobre 0 valor acrescentado tenha sido estruturado combase no modelo europeu e que a sua tecnica se aproxime do IVA portugues (14).

    3. 0 ALARGAMENTO DA BASE DE INCIDENCIAA necessidade de alargar a base de incidencia dos impostos indirectos cons-

    tituiu umas das raz6es principais para a introducao do IVA em Cabo Verde.Como urn imposto geral de consumo, incidente sobre a generalidade dos bense dos services, 0 IVA seguramente que constitui urn passo em frente face a urnsistema fical onde os services nao sao via de regra sujeitos a tributacao indirectae onde apenas urn mimero limitado de produtos esta sujeito a imposto, mimerocada vez mais limitado gracas a multiplicacao das isencoes fiscais.

    A sujeicao da generalidade das prestacoes de services a tributacao indi-recta representa s6 por si urn argumento de peso a favor da introducao doimposto sobre 0 valor acrescentado. Para alem disto, a introducao do IVAtrouxe consigo uma revisao global dos esquemas de isencao acumulados aolongo dos iiltimos quarenta anos, tendo-se eliminado os longos e variados cata-logos de isencoes que acompanhavam desde ha muito 0 imposto de consumo. Noque respeita ao alrgamento da base de incidencia, no entanto, nao se pode espe-rar demasiado da introducao do IVA: uma capitacao do produto inyterno brutode cerca de USD 1.500 nao permite verdadeiramente a instituicao de urn impostogeral sobre 0 consumo e, por razoes de politica social, urn conjunto significativode bens e services foi dispensado do IVA em Cabo Verde, como sucede porregra nos paises em vias de desenvolvimento.

    No que toea as isenciies em operaciies intemas, elas inc1uem as prestacoesde services medicos e sanitarios; 0 service publico de radio e televisao semnatureza comercial; a transmissao de orgaos, leite e sangue humanos; 0 transportede doentes ou feridos em ambulancia ou veiculos semelhantes; a transmissao debens ou a prestacao de services ligadas a previdencia e assistencia social; as pres-tacoes de services efectuadas por entidades piiblicas ou organismos sem finali-

    (14) 0 primeiro pais africano de expressao portuguesa a introduzir 0 IVA foi Mocambique,em 1999, e a experiencia mocambicana com 0 IVA facultou urn modelo tecnico e ensinamentospraticos importantes para a introducao do IVA em Cabo Verde. E por isso possfvel descobrir mui-tas semelhancas entre 0 Regulamento do IVA cabo-verdiano de 2003 e 0 C6digo do IVA mocam-bicano de 1999, bern como entre estes dois textos e 0 C6digo do IVA portugues aprovado em 1986.

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    A INTRO DU AO DO IVA EM CABO VERDE

    dade lucrativa que explorem estabelecimentos ou instalacoes destinados a pra-tica de actividades artfsticas, desportivas, recreativas e de educacao fisica; ser-vices de educacao e de formacao profissional e todas as transmissoes de bens eprestacoes de services com eles conexas; licoes particulares tendo por objectomaterias do ensino basico, medic ou superior; services de museus, galerias dearte e parques publicos; services relacionados com conferencias; transmissao dedireitos de autor e de obras de arte pelos proprios autores; prestacoes de servi-cos realizadas por organismos sem finalidades lucrativas em beneficio dos seusassociados; actividades de recolha de fund os realizadas por entidades sem fina-lidade lucrativa; venda de selos postais; recolha de lixo; services funerarios;operacoes bancarias e financeiras; seguros e resseguros; locacao de imoveis,com exclusao dos services de alojamento pretados pelo sector hoteleiro; trans-missoes de imoveis sujeitas ao imposto iinico sobre 0 patrimonio, ainda quedele isentas; lotarias, sorteios e outros jogos sujeitos ao imposto do jogo; trans-missoe de bens efectuadas no ambito de actividades agricolas, silvicolas, pecua-rias e da pesca efectuadas pelo proprio produtor; services prestados por agri-cultores e cooperativas agricolas; services prestados por artistas aos respectivosagentes (15) .

    No que toea as isen co es n a impo rta ciio , elas incluem a importacao defini-tiva de bens cuja transmissao no territorio nacional seja isenta de imposto; asimportacoes de bens, sempre que gozem de isencao do pagamento de direitosaduaneiros nos termos de diplomas deterrninados; a reimportacao de bens porquem os exportou, no mesmo estado em que foram exportados, quando benefi-ciem da isencao de direitos aduaneiros; as importacoes efectuadas por armado-res de navios do produto da pesca resultante das capturas por eles efectuadas quenao tenha sido objecto de operacoes de transformacao; ou as importacoes efec-tuadas no ambito de tratados e acordos intemacionais ou no ambito de relacoesdiplomaticas e consulares que beneficiem de franquia aduaneira.

    o catalogo de isencoes previsto pela lei cabo-verdiana e grande ainda maslargamente semelhante ao catalogo de isencoes previsto pela Sexta Directiva (16).Mesmo quando ternos em consideracao que alguns outros bens e services seecontram sujeitos a lima taxa zero de IVA, temos que adrnitir que se foi taolonge no alargamento da base de incidencia quanto era possivel no actual estado

    (15) A lei cabo-verdiana apenas faculta a reniincia a isencao no caso dos produtos agnco-las, pecuarios e da pesca transmitidos pelos produtores originarios.(16) Deve ainda notar-se que as entidades piiblicas nao sao consideradas sujeito passivoquando prestem bens ou services a populacao sem que por eles seja exigida qualquer contrapar-tida. A distribuicao gratuira de agua em periodos de seca, por exemplo, assim como a distribui-

    'tao gratuita de vestuario, quando levadas a cabo por entidades publicas, permanecem assim forado ambito de sujeicao do IVAcabo-verdiano.61-Vo1.111

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    de desenvolvimento de Cabo Verde. De facto, apesar da sujeicao a taxa zero dosprodutos alimentares basicos, as isencoes do IVA cabo-verdiano nao sao muitodiferentes das isencoes de muitos paises europeus no momento do seu aces so aComunidade Europeia (17) . 0 verdadeiro desafio reside em manter a base de inci-dencia tao larga quanto e agora e em prevenir que os grupos de pres sao e 0 inte-resse politico ocasional levem a introducao de novas isencoes e a reproducao doprocesso que corroeu tao fundo 0 imposto de con sumo. Assim e que ja na Leido Orcamento para 2005 se introduziram novas isencoes para os fomecimentosde areia, para a importacao de maquinas usadas na extraccao de areia e para 0fomecimento de bens e prestacao de services a serem empregues em projectosde cooperacao internacional.

    4. A ESTRUTURA DE TAXASAo momenta da sua introducao, 0 IVA cabo-verdiano nao apresentava mais

    do que uma taxa (mica de 15%, opcao largamente correspondente a pratica dospafses da Africa sub-saari ana, onde as taxas do IVA tendem a ser relativamenteelevadas e limitado 0 uso de taxas de rmiltiplas (18) .

    A adopcao de uma taxa de 15%, conjugada com uma reducao generalizadados direitos de importacao, levou ao abrandamento da carga fiscal sobre a maiorparte dos produtos, de acordocom estudos encomendados pela administracaocabo-verdiana, Ainda assim, a eliminacao de algumas isencoes fiscais e a maiorvisibilidade que 0 IVA possui comparado com 0 antigo imposto de consumolevaram boa parte da opiniao publica a temer urn aumento dos precos, razao pela

    (17) Ao momento da introducao do IVA e da adesao it CEE, em 1986, a lei portuguesaestabelecia sensivelmente as mesmas isencces que a lei cabo-verdiana, sendo 0 PIB per capita naaltura bastante superior ao que Cabo Verde hoje possui, Para alem disso, importa notar que 0C6digo do IVA portugues, na sua redaccao originaria, sujeitava a taxa zero boa parte dos bens ali-mentares essenciais - cereais, carne, peixe, ovos, leite - os jomais e as alfaias agncolas: pre-via uma taxa reduzida de 8% para urn conjunto largo de outros bens alimentares - tais como 0fiambre, os iogurtes ou os sumos de fruta - os materiais de educacao, 0 sabao ou a energiaelectrica; e impunha uma taxa agravada de 30% a bens de luxo como 0 whisky, as pecas de joa-Iharia ou as aeronaves.

    (18) A Marco/Abril de 2005, os iinicos paises da Africa sub-sahariana que empregavamtaxas positivas reduzidas eram 0Congo-Brazzaville, a Guine Equatorial, 0 Gabao e 0 Quenia, sendoo uso de taxas positivas miiltiplas muito mais frequente nos paises com maior nivel de desen-volvimento. As taxas normais de IVA mais elevadas na Africa sub-sahariana sao actualmente asde Madagascar e da Tanzania, de 20%, as mais baixas sao as da Nigeria, urn grande produtor petro-lffero, de 5%, e do Botsuana, de 10%. Na materia, vejam-se Sijbren Cnossen, "VAT in South Africa:What Kind of Rate Structure?", VAT Monitor, Janeiro/Fevereiro 2004, 19-24; e Marlene Botes,"Regressivity of VAT - The First Decade's Experience in South Africa", VAT Monitor, Setem-bro/Outobro 2001, 237-244.

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    A INTRODUr;AO DO IVA EM CABO VERDE M U S

    qual a administracao levou a cabo accoes varias de informacao publica. Nao se veri-ficou, no entanto, qualquer resistencia ou protesto generalizado contra a introducaodo NA, ainda que alguns sectores empresariais se tivessem revelados criticos da eli-minacao de certas isencoes e da fixacao da taxa em 15%.

    Na verdade, so na aparencia e que 0NA cabo-verdiano possui uma taxa unica,ja que os produtos alimentares basicos e outros produtos essenciais beneficiam de umataxa zero. Estes produtos sao identificados numa tabela autonoma, atraves da suaposicao na pauta de importacao cabo-verdiana, a semelhanca do que acontecia noambito do antigo imposto de consumo. Os bens que gozam da taxa zero sao acame, 0 peixe, 0 leite, a manteiga, 0 queijo, os ovos, os vegetais e a fruta, 0 trigo,o milho, 0 arroz, 0 pao, os oleos vegetais e animais, os livros, jonais e outras publi-cacoes, os produtos farmaceuticos, bern como as alfaias e sementes agricolas.

    Olhando um pouco mais fundo constatamos que 0 NA cabe-verdiano com-preende, alias, algo mais do que as taxas de 15% e de 0%. De facto, 0Decreto-Lein." 6212003,de 30 de Dezembro, aprovado pouco depois do Regulamento do NA,estabelece regras especiais para a fixacao do valor tributavel dos bens sujeitos a pre-cos administrativos. Por modo a preservar a estabilidade dos precos, este diplomapreve que aquando da transmissao destes bens 0 valor tributavel para efeitos deNAseja composto por uma parcela apenas do respectivo preco. Esta percentagem eactualmente de 15% para os services de transporte rodoviario de passageiros;de 20% para 0 fomecimento de agua e de gas butano; de 30% para 0 petroleo, fue-loleo, electricidade e farinha de trigo; de 60% para os services de telecomunicacoes;de 100% para 0 gasoleo; e de 320% para a gasolina (19) . Ainda que estas regrasse dirijam formalmente a fixacao do valor tributavel, na substancia, do que se tratae de estabelecer taxas positivas diferenciadas, indo de 2,25% ate 48%.

    Taxas Efectivas de IVA em Cabo VerdeA1imentos basicos, etc 0%Transporte rodoviario 2,25%Distribuicao de agua, gas butano 3%Electricidade, petr61eo, fuel-61eo, farinha de trigo 4,5%Turismo 6%Services de telecomunicacoes 9%Taxa normal 15%Gasolina 48%

    (19) As percentagens re1ativas ao gas61eo, gasolina e gas butano forarn alteradas em 2005devido a flutuacao do preyo destes bens nos mercados intemacionais. As percentagens em vigor

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    W iN SE RG IO V ASQU ES

    Para alem disto, a Lei do Orcamento do Estado para 2005 veio recentementeintroduzir uma nova taxa reduzida de apenas 6% para os services do turismo eda restauracao eO) . A taxa de 6% foi introduzida a reivindicacoes do sector turis-tico cabo-verdiano, em forte crescimento, e e razoavel supor que a sua fonte deinspiracao resida na taxa intermedia de 12% que se aplica a este sector em Por-tugal desde 1996.

    A estrutura de taxas do IVA cabo-verdiano e , portanto, consideravelmentemais complexa do que a leitura do Regulamento do IVA nos pode levar a supor.Desnecessario e dizer que, existindo boas razoes para manipular 0 valor tribu-tavel do IVf\, as regras criadas para 0 efeito produzem uma multiplicidade einconstancia das taxas que tomam 0 IVA mais diffcil de gerir pela adminsitra-'fao e pelos contribuintes. Mais preocupante ainda, a introducao da taxa redu-zida de 6% apenas urn ana passado desde a entrada em vigor do imposto mos-tra-nos quao exposto 0 sistema fiscal continua as reivindicacoes corporativasque no passado levaram a erosao e declinio do imposto de cnsumo e dos direi-tos de importacao. Para alem disso, na medida em que muitos dos inputs do sec-tor do turismo e da restauracao estao sujeitos a taxas superiores a 6%, a novataxa reduzida pode levar a situacoes de credito permanente em favor dos con-tribuintes, constituindo assim urn incentivo a fraude fiscal e ao registo nestesector. Em suma, a introducao de uma taxa reduzida para 0 sector do turismoe da restauracao nao apenas representa a remincia ao imposto gerado por urn sec-tor da economia cabo-verdiana em forte crescimento, como agrava os custos degestae e de cumprimento sobre 0 valor acrescentado.

    5. REGIME SIMPLIFICADO E REGIME DE ISEN

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    A INTRODUr;.i.O DO IVA EM CABO VERDE

    existem em Cabo Verde mais do 17.500 contribuintes resgitados e cerca de 5 milempresas sujeitas a IVA, querendo isto dizer que a parte maior da populacao vivea margem do sistema fiscal, para nada dizer do imposto sobre 0 valor acrescentado.Dada a pequena dimensao da generalidade dos operadores econ6micos, foidepositado 0 maior cuidado na disciplina do regime simplificado e do regime deisencao do IVA (Z1) .o regime de isencao siginifica que os pequenos operadores com rendi-mento anual ate 180.000 escudos, cerca de 1.800, se encontram dispensadosda cobranca e entrega do IVA, nao podendo em contrapartida exigir 0 reembolsodo IVA que tenham suportado nas suas aquisicoes (22) . Os sujeitos passivosintegrados no regime de isencao podem optar pelo regime simplificado ou peloregime normal do IVA a qualquer momenta e dar inicio a cobranca do imposto.Caso exercam esta opcao, no entanto sao obrigados a permanecer no regimeescolhido pelos cinco anos subsequentes. Se, de modo diverso, estes pequenosoperadores ultrapassarem 0 limite da isencao, e ja obrigat6ria a apresentacaode declaracao mediante a qual serao feitos transitar para 0 regime simplificadoou para 0 regime normal.o regime simplificado quer dizer que os pequenos operadores com rendi-mento anual ate 5.000.000 de escudos, cerca de 50.000, nao estao sujeitos aomecanismo normal da liquidacao-deducao mas a urn imposto mais simples de 5%aplicavel a todas as transaccoes, exceptuada a venda de bens de investimentoempregues na sua pr6pria actividade. Os sujeitos passivos integrados no regimesimplificado nao podem deduzir 0 imposto suportado nas suas aquisicoes e 0imposto de 5% que liquidem aos seus clientes nao pode tao pouco ser por estesdeduzido. As suas obrigacoes acess6rias sao bastante mais ligeiras do que aque-las que acompanham 0 regime normal. Os operadores integrados no regimesimplificado podem optar pelo regime normal a qualquer momento sem estaremobrigados a urn qualquer periodo minimo de permanencia.

    (21) Forarn ainda instituidos outros esquemas especiais, que hoje acompanham inevitaveI-mente 0 IVA de modelo europeu. Os bens sem segunda mao. objectos de arte e antiguidades estaosujeitos a tributacao pela margem nos termos da Lei n," 32/VII2003, de IS de Setembro; as agen-cias de viagens encontram-se sujeitas ao esquema especial fixado pela Lei n." 38NII2003, de 3de Fevereiro; as empreitadas de obras publicas encomendadas pelo Estado ao regime do Decreto-Lein." 16/2004, de 20 de Maio.

    (22) Constitui uma nota particular do IVA cabo-verdiano 0 facto de 0 limite para a isencaonao ser fixado ern funcao do volume de neg6cios do sujeito passivo mas ern fun

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    Urn olhar mais pr6ximo ao universo dos sujeitos passivos registados nas diver-sas circunscricoes fiscais de Cabo Verde, deixa-nos ver que 0mimero de operado-res no regime normal e deveras pequeno, em pouco ultrapassando os dois milha-res. A maior parte destes contribuintes esta concentrada nos distritos da Praia, acapital do pais, no Sal, onde se situa boa parte da industria hoteleira e 0 principalaeroporto internacional, e em Sao Vicente, a segunda ilha mais populosa e onde ficao importante porto do Mindelo. Algumas das ilhas mais pequenas e menos popu-losas, como 0Maio, a Brava ou a Boa Vista, apresentam urn mimero de contribuin-tes no regime normal muito limitado, sendo que a Praia s6zinha responde por maiscontribuintes no regime normal do que 0 resto do pafs como urn todo.

    Ao passo que existem 2.169 operadores intregrados no regime normaldo IVA, existem 2.872 operadores integrados no regime simplificado. Na maiorparte dos distritos fiscais de Cabo Verde 0mimero de operadores integrados noregime simplificado ultrapassa 0 mimero de operadores integrados no regimenormal, sendo 0 distrito da Praia a iinica excepcao de relevo. A distribuicao doscontribuinte integrados no regime simplificado ao longo do territ6rio e maisuniforme do que ados contribuinte sintegrados no regime normal, querendoisso dizer que boa parte das empresas de maior dimensao se encontram agrupadasna capital do pais e que as empresas de dimensao mais pequena se encontramespalhadas de modo mais igual pelo arquipelago: de facto, 0 distrito da Praia res-ponde por 52,1% dos sujeitos passivos no regime normal e por apenas 26,6% dossujeitos passivos no regime simplificado.o mimero de sujeitos passivos abaixo do limite de isencao e significativona maior parte dos distritos fiscais e no pais como urn todo. Santa Catarina e 0Tarrafal, cidades situadas na ilha de Santiago onde tambem fica situada a capital,distinguem-se por ter cerca de 1.500 empresas integradas no regime de isencao, urnmimero desproporcionalmente elevado quando comparado a outros dustritos impor-tantes, tais como Praia, Sal ou Sao Vicente. A medida que 0 processo de registoainda em curso va avancando e a medida que se de a transicao dos operadores deuns regimes para outros, e de esperar que estas discrepancias locais se vao ate-nuando, pelo que estas cifras nao devem ainda ser dadas como definitivas.

    6. CONCLUSOESTendo decorrido apenas dois anos desde a introducao do IVA em Cabo

    Verde, seria prematuro fazer dele neste momenta urn balance final.A importancia desta reforma seguramente que ~ao se pode por em causa. Osimpostos indirectos formam a parcela maior da receita fiscal cabo- verdiana e, entreos impostos indirectos, 0 IVA tornou-se 0mais importante, ocupando 0 lugar queate agora cabia ao inposto de consumo: respondendo por cerca de 32% de toda

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    A INTRODUC;AO DO IVA EM CABO VERDE Wi

    da receita fiscal, 0 IVAja e e continuara a ser a ancora do sistema fiscal cabo-ver-diano. A urgencia desta reforma tambem nao pode contestar-se. 0 antigo impostode consumo mostrava-se demasiado estreito e complexo, atravessado por imimerosesquemas de isencao que sobrecarregavam empresas e administracao.

    A par da reforma dos direitos de importacao e do imposto sobre consumos espe-cfficos, a introducao do IVA permitiu as autoridades cabo-verdianas eliminar mui-tos dos benficios fiscais criados nos ultimos 40 anos e dotou 0 pais de urn impostomais simples e abrangente, em correspondencia com as tendencias actuais dosseus parceiros econ6micos europeus e africanos. Os investidores estrangeirosserao agora capazes de operar num ambiente fiscal que lhes e largamente familiar,sendo que esta e uma vantagem que cresce de dia para dia a medida que urn con-junto cada vez mais largo de pafses se converte a tributacao do valor acrescentado.

    No contexto da globalizacao em que vivemos, a adopcao generalizada do IVAna Africa sub-sahariana, em larga medida devida aos esforcos do FMI, consti-tuira seguramente uma solucao melhor do que a manutencao de urn sortido dediferentes impostos indirectos, cada qual servindo as tradicoes e particularis-mos proprios de urn pais (23) . Sendo certo que 0 IVA nos oferece por isso umalfngua franca que ajuda a integracao da Africa sub-sahariana com a economiainternacional, tambem e verdade que as condicoes sociais e administrativasdominantes nestes paises exigem alguma adaptacao do modelo do IVA euro-peu, mesmo em paises de rendimento ja algo elevado como Cabo Verde.

    De facto, 0 IVA cabo-verdiano mostra-se mais urn imposto sobre as impor-tacoes do que urn imposto sobre operacoes intern as e mostra-se mais urnimposto sobre as vendas do que urn imposto sobre 0 valor acrescentado. A partemaior da receita do IVA continuara com toda a certeza a ser gerada pela tribu-tacao das importacoes e para a parte maior das empresas a introducao do IVAtraduziu-se na introducao de urn imposto de 5% sobre as respectivas vendas. Emambos os aspectos, 0 IVA constitui urn imposto para dentro do qual vira pro-gressivamente a crescer a economia cabo-verdiana.Tudo isto e talvez inevitavel e e com as falhas evitaveis do IVA que nosdevemos sobretudo preocupar. A experiencia de quarenta anos com 0 impostode consumo mostrou-nos quao longe pode ir a degradacao dos impostos indirectospela engenharia politica e pelo interesse particular. Resistir a tais press6es cons-tituira sem duvida uma das tarefas mais diffceis que 0 legislador cabo-verdianotern pela frente nos proximos anos.

    (23 ) Em sentido contrario, Scott Riswold, "VAT in Sub-Saharan Africa - A Critique ofIMF VATPolicy", VATMonitor, Marco/Abril 2004, 97-110.

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