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1 A INTERDEPENDÊNCIA E O CRIME ORGANIZADO Gabriela Araujo Sandroni 1 RESUMO: A diminuição do tempo e do espaço proporcionado pela Globalização em conjunto com o advento do avanço da tecnologia facilitaram o mercado paralelo controlado pelo crime organizado transnacional. Não obstante, observa-se que a economia legal e a economia paralela mundial acabaram por se tornarem extremamente dependentes. Assim, devido a enorme corrupção do sistema, criou-se uma interdependência de diversos atores, facilitada, portanto, pelo atual estágio da Globalização. Destarte, este artigo pretende abordar alguns aspectos desta interdependência e do crime organizado transnacional no Sistema Internacional. A nossa pesquisa baseia-se em análise bibliográfica. PALAVRAS-CHAVE: Globalização, crime organizado, interdependência. 1 Universidade do Minho, [email protected], Mestre em Estudos Internacionais pela Universidad del País Vasco.

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Page 1: A INTERDEPENDÊNCIA E O CRIME ORGANIZADOªncia-e-o-crime-organiza… · do crime organizado. Ademais, a Globalização também facilitou o contato entre os diferentes grupos organizados

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A INTERDEPENDÊNCIA E O CRIME ORGANIZADO

Gabriela Araujo Sandroni1

RESUMO: A diminuição do tempo e do espaço proporcionado pela Globalização em conjunto com o advento do avanço da tecnologia facilitaram o mercado paralelo controlado pelo crime organizado transnacional. Não obstante, observa-se que a economia legal e a economia paralela mundial acabaram por se tornarem extremamente dependentes. Assim, devido a enorme corrupção do sistema, criou-se uma interdependência de diversos atores, facilitada, portanto, pelo atual estágio da Globalização. Destarte, este artigo pretende abordar alguns aspectos desta interdependência e do crime organizado transnacional no Sistema Internacional. A nossa pesquisa baseia-se em análise bibliográfica.

PALAVRAS-CHAVE: Globalização, crime organizado, interdependência.

1 Universidade do Minho, [email protected], Mestre em Estudos Internacionais pela

Universidad del País Vasco.

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A Globalização facilitou não somente o comércio legal, mas também o

comércio ilícito. A facilidade do deslocamento de pessoas e mercadorias devido ao

afrouxamento das fronteiras contribuiu de maneira relevante para o crescimento das

atividades ilícitas efetuada pelo crime organizado. Além disso, o avanço da tecnologia

foi outro fator importante para a Globalização do crime. Assim, com o fim da URSS, já

era possível a máfia russa negociar submarinos com traficantes colombianos. Neste

cenário, surgiu uma determinada dependência do crime organizado com a atual

realidade mundial imposta pela Globalização; em outras palavras, nesta nova etapa,

criou-se uma interdependência de diversos atores no Sistema Internacional, inclusive

do crime organizado. Ademais, a Globalização também facilitou o contato entre os

diferentes grupos organizados criando uma network do crime. Destarte, efetuaremos

neste artigo uma breve análise desta interdependência e do crime organizado

transnacional no Sistema Internacional. No entanto, antes de nos adentrarmos ao

tópico principal do nosso artigo, tentaremos definir nesta primeira parte, o nosso objeto

principal de estudo: o crime organizado transnacional. Afinal, qual é a concepção de

crime organizado transnacional na doutrina? Seria uma nova ameaça ao Sistema

Internacional ou apenas uma modernização de um antigo ator que remonta a época

dos corsários?

Primeiramente, devemos nos perguntar os motivos para estudarmos o crime

organizado transnacional, ou seja, qual é a ratione do seu estudo, pois, poderíamos

concluir que não haveria importância alguma para a sociedade internacional se

existisse um determinado grupo ou uma gangue “organizada” transgredindo a lei

imposta pelo governo, sendo, portanto, um estudo desnecessário. Contudo, o crime

organizado transnacional tem uma complexidade indescritível e as suas

consequências são negativas para a sociedade, desfalecendo-a gradualmente; e o

Estado, principal mantenedor da harmonia de um país, é fragilizado, e a sua soberania

desintegra-se. A fragilidade do Estado reflete-se, por conseguinte, no enfraquecimento

de todo o sistema internacional, tornando-o inseguro.

O crime organizado busca manipular e monopolizar os mercados financeiros, instituições tradicionais tais como os sindicatos dos trabalhadores, e indústrias legítimas, principalmente no setor de construção e lixo. Eles levam as drogas para as cidades e aumentam o nível de violência nas comunidades, comprando policiais corruptos e utilizando instrumentos como suborno, intimidação, extorção e assassinato para manter suas operações. Seus negócios ilícitos, incluindo a prostituição e o tráfico humano, proporciona uma miséria nacional e global. Eles também lucram fraudando ações e esquemas

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financeiros.2

Assim, podemos concluir que o crime transnacional é atualmente uma das

mais sérias ameaças a segurança das democracias institucionais, das Leis, da

sociedade e dos valores e normas básicas. (Emilio C. Viano: 11). Com um lucro

líquido maior que 3 trilhões de dólares por ano, o crime organizado transnacional

ameaça a soberania e o Estado de Democrático, por isso, foi securitizado pelos

governos, estando presente em diversas agendas internacionais e planos de

segurança.

For an item to rise to the top of the national security agenda it must embody a most extreme form of threat, calling for “urgent and unprecedented responses,” by the state. For organized crime to be characterized as a “security problem” it must be “something” that can threaten the sovereignty or independence of the state itself.

3

Não obstante, Mónica Serrano (2002) estudou as consequências das formas

de crime organizado transnacional para a segurança internacional e citou três pontos

essenciais para os Estados se preocuparem em combater todas as formas de crime

organizado transnacional. O primeiro baseia-se nos dados de agências de inteligência,

os quais evidenciam que as atividades ilícitas movimentam uma soma superior a 600

bilhões de dólares por ano, sendo a economia internacional totalmente prejudicada

pelo mercado negro. O segundo refere-se às conexões do crime organizado

transnacional com grupos terroristas e conflitos civis, principalmente no continente

africano. Por fim, a pesquisadora afirma que o Estado está fragilizado pelo poder

exercido pelos grupos organizados transnacionais no sistema internacional e enfatiza

que a melhor forma de combate a esses atores é através da cooperação jurídica, de

inteligência e de polícia. Destarte, o crime organizado não é mais um problema que

qualquer nação possa considerar isoladamente. Há uma necessidade de analisá-lo

sob uma perspectiva global. Sendo o seu estudo, portanto, essencial para sabermos a

melhor forma de minimizar as ações dos criminosos.

No tocante a sua terminologia, evidencia-se que, como qualquer outro ator ou

fenômeno, há um intenso debate a cerca da palavra mais apropriada para expressar

2FBI. Federal Bureau of Investigation. Organized crime. Disponível em:

<http://www.fbi.gov/about-us/investigate/organizedcrime/overview>. Acesso em: 15 de maio de 2014.

3 BUZAN 1991; WAEVER 1995 apud BERDAL, Mat; SERRANO, Monica. Transnational

organized crime and international security: business as usual? Reino Unido: Lynne Rienner Publishers, 2002. p. 28.

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tal assunto. Crime global, crime organizado internacional, crime organizado

transnacional, crime organizado multinacional são algumas das expressões

encontradas na literatura4. Vale recordar que o debate sobre o termo não se torna

frívolo a medida que há uma necessidade de nivelar o conceito para que os conflitos

jurídicos internacionais tenham soluções mais rápidas e eficazes.

A pesquisadora Monica Den Boer aponta em seu artigo “The Europen Union

and Organized Crime: Fighting a New Enemy with Many Tentacles” que a questão do

conceito tornou-se um nódulo na União Européia, pois, como essa comunidade não

tem uma lei específica sobre a matéria, a pluralidade de conceitos elencados pelos

países membros dificuldade os métodos de cooperação no combate a todas as formas

de crime organizado transnacional; o conflito internacional de leis é evidente.5 Com

esse intuito, para evitarmos conflitos semelhantes, acreditamos que a melhor

expressão para se referir à esse ator é o de crime organizado transnacional,

estabelecida pela primeira vez em 1974 para guiar uma discussão na United Nations

Crime and Criminal Justice Branch. Vale lembrar que posteriormente o termo “crime

organizado transnacional” foi imortalizado na Convenção das Nações Unidas Contra o

Crime Organizado Transnacional: “L'objet de la présente convention est de promouvoir

la coopération afin de prévenir et de combattre plus efficacement la criminalité

transnationale organisée”. (55-25 Conventions de Nations Unies Contre la Criminalité

Transnationale Organisée).

No que preze a sua semântica, observamos que há um consenso na

Criminologia que a característica mais marcante dessa organização é o seu objeto, ou

seja, realizar atividades ilícitas. Essas atividades ilícitas, antijurídicas e tipificadas pelo

Direito realizadas por certos grupos, a priori são apenas algumas das características

intrínsecas que compõem o crime organizado simples. Nota-se que a conduta de

comercializar produtos ou serviços ilícitos necessita ainda do ânimo de lucro e da

violência, esta como meio de proteção da atividade ilegal.

Ademais, esta atividade deve ser exercida por um grupo composto por dois ou

mais indivíduos, e não deve ser necessariamente organizada de maneira hierárquica.

É evidente que a corrupção também é um instrumento utilizado do crime organizado

simples. Destarte, podemos definir o crime organizado simples como um grupo que

pode estar hierarquicamente organizado, composto por dois ou mais pessoas, que

produz atividades ilícitas, podendo ou não utilizar-se da corrupção e da violência como

4 BERDAL; SERRRANO, op. cit., p. 13-14.

5 VIANO, Emilio C. Global organized crime and international security. Reino Unido: Ashgate,

1999. p. 13-21.

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meios de alcançar tais fins, sempre objetivando o lucro.

Outro fator importante é a questão do tempo de produção das atividades ilícitas

e da existência do grupo, pois, o elemento temporal não é definidor na existência do

crime organizado, pois, seria interessante acabar com estes tipos de organizações

desde seu início. Assim, podemos aferir que a definição proposta pela Convenção de

Palermo está desatualizada.

Continuando com a análise do crime organizado transnacional, podemos aferir

que além de conter as mesmas características do crime organizado simples, ele

possui o nexo de internacionalidade. Portanto, as atividades do grupo devem

ultrapassar as fronteiras do país de origem. Nesta seara de atividades internacionais,

podemos destacar o tráfico internacional de armas, de entorpecentes e de seres

humanos. Devemos ainda nos atentar que tal conceito sobre crime organizado

transnacional não imprimi uma concepção una sobre o ator porque existem diversos

tipos de crime organizados transnacionais. Assim sendo, devemos compreender que

tais características elencadas foram julgadas presentes na maioria dessas

organizações.

L'expression "groupe criminel organisé" désigne un groupe structuré de trois personnes ou plus existant depuis un certain temps et agissant de concert dans le but de comettre une ou plusieurs infractions graves ou infractions établies conformément à la présente convention, pour en tirer, directement ou indirectement, un avantage financier ou autre avantage matériel. (Artigo 2 da Convenção das Nações Unidas Contra o Crime Transnacional).

6

Também é interessante destacar a definição de crime organizado transnacional

das Nações Unidas que havíamos criticado nos parágrafos anteriores. Para a ONU, o

crime organizado transnacional é um grupo de três ou mais pessoas que existem

depois de um determinado tempo e agem com a intenção de cometer um ou mais

infrações graves ou infrações estabelecidas conforme a convenção, para obter,

diretamente ou indiretamente uma vantagem financeira ou material. Ainda em seu

artigo 2, a convenção contempla o significado de crime sério como uma conduta

contendo uma ofensa criminal punível com pena mínima de 4 anos de detenção

(perda de liberdade) ou com uma penas mais severa. As ofensas seriam elencadas

em: a) participação de um grupo organizado; b) lavagem de dinheiro; c) corrupção; d)

obstrução à justiça. Por fim, o nexo de transnacionalidade entender-se-ia por: uma

6 SHELLEY, Louise; PICARELLI, John; CORPORA, Chris. Beyond sovereignty: issues for a global agenda. Wadsworth: Thomson, 2003. p. 143-166.

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ação cometida em mais de um Estado; cometida em apenas um Estado, mas

planejada em Estados diferentes; cometida em apenas um Estado, mas envolvendo

grupo que pratica atividade ilícita em mais de um país; ou se a ação é praticada em

um país, mas tem efeito substancial em outro.

Segundo a socióloga americana Shelley, a definição adotada pelas Nações

Unidas é a mais compreensiva, pois, agrega o tamanho, a duração e a natureza

transnacional dos grupos criminosos. Ademais, proporciona uma flexibilidade na

análise dos mais diversos grupos, independente de sua etnia.

The United Nations' definition is one of the most comprehensive, addressing the issue of size, duration, and the transnational nature of criminal groups. Furthermore, it provides the flexibility to examine transnational organized crime outside of such traditional ethnic groups as the Russian Mafiya, Chinese Triads, Japanese Yakuza, and Italian Mafia families.

7

Sem embargo, não poderíamos nos olvidar que o FBI foi uma das primeiras

instituições a definirem o crime organizado; entendia-se que seria uma conspiração

criminosa perpétua, tendo uma estrutura alimentada pelo medo e pela corrupção, e

motivada pelo dinheiro. O fator internacional se caracterizaria pela atividade criminosa

ser operada em mais de um país.

The FBI defines organized crime as any group having some manner of a formalized structure and whose pri mary objective is to obtain money through illegal activities. Such groups maintain their position through the use of actual or threatened violence, corrupt public officials, graft, or extortion, and generally have a significant impact on the people in their locales, region, or the country as a whole.

8

De acordo com Louise Shelley, John Picarelli e Chris Corpora, a definição do

FBI retém a noção do crime organizado operar internacionalmente e ainda mais, não

identifica a atividade criminosa internacional como um fenômeno. Não obstante, o FBI

também utiliza a expressão “empresa criminosa” para definir um grupo de indivíduos

estruturado com hierarquia e engajados em algum tipo de atividade ilegal. De acordo

com a organização, o termo crime organizado e empresa criminosa são utilizados

como sinônimo.9

Outro aspecto interessante sobre a definição sobre o crime organizado é

7 SHELLEY; PICARELLI; CORPORA, op. cit., p. 143-166.

8 FBI, op. cit., Disponível em: <http://www.fbi.gov/about-

us/investigate/organizedcrime/glossary>. Acesso em: 15 de maio de 2014. 9 Ibid.

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observada na tabela elaborada pela pesquisadora australiana Shona Morrison10. Nela

é evidenciada algumas formas e interações do crime organizado transnacional com o

ambiente, além da sua influência e impactos na sociedade. Em suma, a pesquisadora

preocupa-se em resumir, ou melhor, generalizar alguns elementos que acredita ser

essenciais para a existência de um crime organizado. Assim, relaciona o crime

organizado no ambiente em que atua, analisa sua estrutura como grupo e o

procedimento de trabalho, ou seja, os métodos utilizados em suas condutas e por fim,

cita alguns impactos gerais causados pela sua atuação.

Um fator controverso da sua pesquisa é verificado na tabela abaixo. Sua

classificação de crime organizado em cinco modalidades é uma junção de diversas

teorias. A primeira remete-se a escola italiana, o modelo ideal de máfia divulgado pela

mídia e pesquisadores desse ator, ou seja, a de uma família ou um grupo ligado por

laços e mantendo um vínculo ilícito secreto. Essa fase caracterizada como nacional

tem natureza histórica e cultural e influencia somente o governo local. A segunda

etapa seria a fase transnacional, seguida por uma terceira que seria a junção da

transnacional e a nacional. A quarta é classificada como inter-empresarial, pois, é

aquela em que o crime organizado estaria legitimado e utilizando empresas legais. Na

última, a autora classifica como “outras formas de crime organizado”, abarcando

10

MORRISON, Shona. Approaching organised crime: where are we nowand where are we going?. Canberra: Australian Institute of Criminology, 2002. Disponível em: <http://www.aic.gov.au/documents/6/B/2/%7B6B21C915-591C-4478-AEB6-ED58E6241D86%7Dti231.pdf>. Acesso em: 15 de maio de 2014.

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aquelas que não se encaixariam nas quatro primeiras opções. 11 De qualquer maneira,

é fato que tal divisão é simplória e equivocada, pois, não condiz com a realidade e a

história do crime organizado.

A UNODC realizou um estudo acerca das mais diversas formas de crime

organizado e através dele verifica-se que o crime organizado transnacional não pode ser

simplificado por fórmulas ou classificações como a de Morrison. Há mais de 60 formas de

crime organizado transnacional, cada qual com suas características.12 Sabe-se que nem

mesmo os grupos de crime organizado de uma mesma nacionalidade têm características

idênticas, por exemplo, a Sacra Corona Unita difere-se da Máfia Siciliana e assim por diante.

Cada qual terá sua estrutura, sua hierarquia, suas especializações em determinadas

atividades ilícitas. Enfim, a única maneira de conceitualizarmos o crime organizado

transnacional é determinando seus principais elementos, precipuamente as suas ações

criminosas, pois, o crime organizado transnacional per se é um ator dinâmico. Desta

maneira, Albini sugere que a definição de crime organizado transnacional permita uma visão

vasta sobre o ator, pois, uma classificação rígida não condiz com a natureza mutante do

crime organizado.

11

MORRISON, op. cit., on-line. 12

UNITED NATIONS. Global programme against transnational organized crime: results of a pilot survey of forty selected organized criminal groups insixteen countries.. 2002. Disponível em: <https://www.unodc.org/pdf/crime/publications/Pilot_survey.pdf>. Acesso em: 15 de maio de 2014.

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In a very broad sense, then, we can define organized crime as any criminal activity involving two or more individuals specialized or nonspecialized, encompassing some form of social structure, with some form of leadership, utilizing certain modes of operation, in which the ultimate purpose of the organization is found in the enterprises of the particular group. This definition permits us to view organized crime on a vast continuum allowing for freedom of analyzing and defining a (38) given particular criminal group as an entity in itself possessing a variety of characteristics, as opposed to a rigid classification based upon certain specific attributes. Viewed from this wide perspective there are many forms which organized crime can take, with variations, of course, to be found within each form. (Albini, 1971: 37-38)

Rather than developing more complex systems of categorization, we suggest that the description of a criminal group be based upon the nature of a specific criminal act which it has committed at any given time, not on the basis of its possession of certain traits. Criminal groups are dynamic entities, not static ones. As such, they change with the nature of the criminal acts they commit. Only when this is recognized can we begin to appreciate the basic similarities as well as differences between criminal groups.

13

Agora segue duas definições encontradas na literatura sobre crime organizado

transnacional organizada por Klaus Von Lampe. Iniciaremos com a definição da Interpol, a

qual afirma que o crime organizado transnacional é qualquer grupo que tenha uma

estrutura corporativa, cujo objetivo principal é a obtenção de lucro através de atividades

ilícitas, geralmente usando o medo e a corrupção. (Paul Nesbitt, Head of Organized Crime

Group - Interpol, cit. in Bresler 1993, 319). A seguir podemos verificar que a definição de

Abadinsky explicita a existência de estatutos internos do crime organizado transnacional

para regular seus membros:

Organized crime is a nonideological enterprise involving a number of persons in close social interaction, organized on a hierarchical basis, with at least three levels/ranks, for the purpose of securing profit and power by engaging in illegal and legal activities. Positions in the hierarchy and positions involving functional specialization may be assigned on the basis of kinship or friendship, or rationally assigned according to skill. The positions are not dependent on the individuals occupying them at any particular time. Permanency is assumed by the members who strive to keep the enterprise integral and active in pursuit of its goals. It eschews competition and strives for monopoly on an industry or territorial basis. There is a willingness to use violence and/or bribery to achieve ends or to maintain discipline. Membership is restricted, although nonmembers may be involved on a contingency basis. There are explicit rules, oral or written, which are enforced by sanctions that include murder.

14

Historicamente, é difícil estabelecer o início desse tipo de organização

13

ALBINI, 1971apud LAMPE, Klaus von. Definitions of organized crime. Disponível em: <http://www.organized-crime.de/OCDEF1.htm#albini>. Acesso em : 15 de maio de 2014.

14 ABADINSKY, 1990, p. 6 apud LAMPE, op. cit., on-line.

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criminosa. Porém, como o crime organizado é um ator que nasce com a imposição de

normas, ou melhor, a partir do momento em que o Estado estabelece regras à

sociedade e a proíbe de certas condutas, subentende-se que o crime organizado

nasceu juntamente com a sociedade15. Já o crime organizado transnacional surgiu

quando tais organizações buscaram produzir essas atividades ilícitas fora do seu país

de origem.

O crime organizado em geral, seja ele nacional ou transnacional é pautado

pelo Estado de Direito, pois, é ele quem direciona se determinada atividade será ilícita

ou não será o governo. Mais ainda, podemos, então, concluir que o crime organizado

transnacional não é um ator novo, ou nem mesmo um fenômeno novo, como alguns

pesquisadores afirmam.

Partindo do pressuposto que o crime organizado transnacional é um grupo

composto por mais de duas pessoas, praticando atividades ilícitas independentemente

do fator tempo, acredita-se que as organizações de agentes que traficavam negros

após a proibição da escravatura no Brasil eram um grupo de crime organizado

transnacional, pois, eram organizados, compostos por mais de duas pessoas e

praticavam uma atividade ilícita em mais de um país. Assim sendo, esse ator

maquiavélico, seguidor fiel da premissa de que os fins justificam os meios, embora

seja um ente antigo no sistema internacional, somente foi securitizado, ou melhor,

reconhecido internacionalmente como uma ameaça a segurança internacional após a

Guerra Fria.

Agora é chegado o momento de analisar a interdependência do crime

organizado no Sistema Internacional. A dissolução da União Soviética significou um

câmbio nas relações internacionais de poder que influenciaram o mundo durante 40

anos. De acordo com John Baylis e Steve Smith, esta modificação teve uma grande

evolução no âmbito estrutural e ideológico16.

A emergência de novas potências e novos atores não-estatais, tais como as

multinacionais e as organizações internacionais; contribuíram para o surgimento de

um sistema internacional de poder multilateral. Embora os EUA tenham sido a única

potência sobrevivente da Guerra Fria e consolidado o sistema capitalista como o

principal modo de produção econômico mundial, eles não alcançaram um poder

15

CERNICCHIARO, Vicente. Crime organizado. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/direitos/direitosglobais/paradigmas_textos/crime_organizado.html >. Acesso em: 15 de maio de 2014.

16 BAYLIS, John; SMITH, Steve. (Ed.). The globalization of world politics: an introduction to international relations. 2

nd. ed. Nova Iorque: Oxford University Press, 2001. p. 92.

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11

hegemônico capaz de controlar os conflitos mundiais, dependendo muitas vezes da

cooperação de outros países para a realização dos seus objetivos.

A atuação multilateral dos EUA evidencia que o sistema mundial estava

mergulhado novamente numa ordem caracterizada pela ausência de uma autoridade

efetiva capaz de manter a paz mundial. Contudo, não se tratava do desaparecimento

do ambiente estado cêntrico e anárquico, mas da emergência de um novo mundo

com múltiplos, independentes e em competição com aquele focado no Estado e

formado por atores vinculados a soberania.17

Este ambiente de ausência de um poder global deve-se ao fato do sistema

internacional assemelhar-se a uma teia de aranha, ou seja, os atores estatais e

não estatais possuem uma interconecção econômico-político-cultural, a qual os

impede de tomar medidas extremas de maneira unilateral porque o custo do

rompimento seria muito alto.

Desta maneira, o próprio sistema minimizaria os conflitos, pois, os diversos

grupos estariam de alguma maneira interconectados. Esta visão é avaliada na obra

Sociedade Mundial de John Burton, o autor propõe um “modelo de teia de aranha”

das relações internacionais, com o intuito de demonstrar a interação de diversos

grupos e atores através de uma cooperação benéfica mútua18.

Nesta teia de relacionamentos, a tecnologia tem um papel essencial no

intercâmbio financeiro e no fluxo de informação: diminui o espaço mundial,

possibilitando um contato mais complexo entre os seres humanos. Este fenômeno

acelerado causado pelo fluxo de bens materiais e não materiais entre dois ou mais

países, a globalização, é um processo intenso e irreversível, e segundo Henry

Kissinger, marcará o cenário mundial do século XXI: “The international system of the

twenty-first century will be marked by a seeming contradiction: on the one hand,

fragmentation; on the other growing globalization.”19

17

ROSENAU, James N.; CZEMPIEL, Ernst-Otto. Governance without government : order

and change in world politics. Cambridge: Cambridge University Press, 1992. p. 282. 18

BURTON, 1972 apud JACKSON, Robert, SORENSEN, Georg. Introdução às relações

internacionais: teorias e abordagens. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. p. 156-157. 19

Sobre assunto ver KISSINGER, Henry. Diplomacy. Nova Iorque: Simon & Schuster, 1994. p. 23.

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12

Figura 1 – Modelo da Teia da Aranha.

Assim sendo, podemos afirmar que a teia de interdependência é um modelo do

sistema internacional globalizado e é irreversível, pois, a dependência mútua atingiu

um nível máximo de ganho e seu retrocesso traria perdas significantes para os

Estados.20

Interdependência, definida em poucas palavras, significa mútua dependência. Na política mundial, interdependência diz respeito a situações caracterizadas pelos efeitos recíprocos entre nações ou entre atores em diferentes nações. Estes efeitos com frequência resultam de transações internacionais: fluxo de dinheiro, mercadorias, pessoas e mensagens através das fronteiras. Essas transações intensificaram-se dramaticamente desde a Segunda Guerra Mundial. [...]. As relações de interdependência sempre envolvem custos, já que a interdependência restringe a autonomia; mas é impossível especificar de antemão se os benefícios de uma relação irão exceder os custos. Isto dependerá da categoria dos atores, tanto quanto da natureza das relações. Nada garante que a relação que designamos de interdependência será caracterizada como de mútuo benefício.

21

Ainda mais, observamos que a modernidade foi fruto da ciência, do progresso

tecnológico; a era Pós-Industrial proporcionou esse fenômeno global e todos os

indivíduos vivem e percebem a existência desta teia. Em outras palavras, a

globalização é o processo por meio do qual as economias, os Estados e as culturas

previamente distintos estão se juntando e as pessoas estão se tornando cada vez

mais conscientes de sua crescente interdependência (GIDDENS, 1990, p. 64;

GUILLEN, 2001)

20

JACKSON; SORENSEN, op.cit., p. 157. 21

IANNI, Octávio. Teorias da globalização. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. p. 157.

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13

É evidente que sem o aprimoramento da tecnologia não haveria tal fenômeno.

Mais ainda, o espírito capitalista pode ser considerado a força motriz da globalização

porque somente através do valor atribuído ao capital e ao conhecimento individual foi

possível investir nas pesquisas tecnológicas que propiciaram o intercâmbio comercial,

político e cultural entre os Estados.

O sistema capitalista per si exige uma reciclagem diária, buscando sempre a

melhoria da tecnologia com o escopo de facilitar a vida humana, seja em tempos de

guerra ou de paz; e concomitantemente o aumento da riqueza. Logo, o capitalismo

aperfeiçoa e cria mecanismos para dependência mútua agir com maior eficaz, pois,

essa dependência é necessária para manter o ciclo de riqueza da Aldeia Global.

O período burguês da história está chamado a assentar as bases materiais de um novo mundo: a desenvolver, de um lado, o intercâmbio universal, baseado na dependência mútua do gênero humano, e os meios para realizar esse intercâmbio; e, de outro, desenvolver as forças produtivas do homem e transformar a produção material num domínio científico sobre as forças da natureza. A indústria e o comércio burgueses vão criando essas condições de um novo mundo do mesmo modo que as revoluções geológicas criavam a superfície da Terra.

22

Outro elemento essencial nesta estrutura seria o fator interesse. Destarte, o

interesse, ou melhor, o desejo pela modernidade é uma das principais características

desse processo de interdependência em que vivemos. De acordo com a socióloga

Louise Shelley:

A globalização caminha junto com a ideologia de livres mercados e livre comércio e com a diminuição da intervenção estatal. Conforme os defensores da globalização, a redução das regulamentações e barreiras internacionais às transações comerciais e aos investimentos aumentará o comércio e o desenvolvimento.

23

Essa afirmação evidencia que a diminuição das regulamentações e barreiras

internacionais é motivada por interesses de diversos atores políticos.

Todavia, a globalização não se restringiu somente ao aspecto econômico e

cultural. As diversas interações entre os atores resultaram na fragilidade da fronteira

estatal, tornando um desafio para um país monitorar todos seus fluxos internacionais.

Essa consequência foi pior nos Estados mais fragilizados, pois, eram incapazes de

22

MARX, 1977, p. 297 apud IANNI, op.cit., p. 200. 23

SHELLEY, Louise. The Globalization of Crime and Terrorism. EJournal USA. Fevereiro de 2006. Disponível em <http://cuwhist.files.wordpress.com/2009/12/the-globalization-of-crime-and terrorism.pdf> Acesso em 23 de março de 2014.

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controlar também o monopólio da força efetiva, instrumento essencial de um Estado

soberano, tendo assim sua principal característica limitada ou transferida às atores

privados tais como os crimes organizados e as guerrilhas.

De acordo com Weber, a crise de governabilidade é uma realidade comum nos

conflitos intra-estatais, e se caracteriza, principalmente, na perda do monopólio da

força coercitiva pelo Estado.24 Porém, esta perda do monopólio da força coercitiva pelo

Estado não deve ser interpretada como o fim da soberania estatal. O século XXI

perdeu como referência o Estado Moderno e aceitou a pós-modernidade. Os limites

impostos à soberania estatal são características do Estado Pós-Moderno, pois, em um

sistema cada vez mais conectado, espera-se que o Estado guarde um espaço

necessário da sua soberania para usufruir dos mecanismos de cooperação e lidar com

a invasão do seu espaço promovido pela interdependência.

Neste contexto da modernidade, a liberdade de movimentação trouxe

mudanças significativas na natureza do Estado, e o cenário marcado pela corrupção

governamental contribuiu ainda mais para o aumento da violência. Sabe-se que onde

a autoridade estatal é corrompida, o terrorismo e o crime organizado são intrínsecos.

Uma declaração que sustenta esta tese foi dada pela norte-americana Louise

Shelley: “Grupos criminosos e terroristas têm explorado o grande declínio nas

regulamentações, o afrouxamento dos controles de fronteiras e a maior liberdade

resultante para ampliar suas atividades nas fronteiras e em novas regiões do mundo.

Estes contatos têm se tornado mais frequentes e a velocidade na qual ocorrem mais

aceleradas.” 25

O crime organizado cada vez mais usufrui dos benefícios proporcionados pelo

Sistema Internacional pós Guerra Fria. É nessa configuração que o crime organizado

vive a modernidade, participando ativamente do processo de globalização econômica,

tornando-se, portanto, um ator negativo da aldeia global, pois é contra os princípios do

Estado de Direito e da democracia representativa.

Jean Monnet pensava que a globalização econômica traria paz, segurança e

prosperidade ao sistema internacional, porém, obviamente ele não percebeu os

impactos desta no crime organizado26. Por isso é plausível afirmar que o

desenvolvimento tecnológico e o crescimento do comércio internacional foram fatores

precípuos que contribuíram para a ascensão do crime organizado transnacional. O

24

WEBER, Max. Os três tipos de dominação legítima. São Paulo: Àtica, 2003. p. 128-141. 25

SHELLEY, op. cit. 26 VIANO, Emilio C. Global organized crime and international security. Reino Unido: Ashgate, 1999. p. 25.

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cenário da interdependência complexa dos Estados foi perfeito para a proliferação das

atividades criminosas altamente sofisticadas.

O crime organizado transnacional participa da teia de aranha de John Borton,

englobando a maioria dos participantes do sistema de maneira lícita e ilícita. Na

primeira o crime organizado transnacional utiliza-se de empresas lícitas ou do apoio

estatal para legalizar de maneira fictícia as atividades ilícitas realizadas. Já a segunda

teia, ilícita, é uma interdependência de diversos crimes organizados.

A fragmentação das atividades dos criminosos, por conseguinte, favoreceu a

interdependência entre as mais diversas formas de crime organizado. Assim sendo, os

cartéis da Colômbia possuem ligações com as máfias italianas e assim por diante.

Essa hipótese é levantada por Phil Williams, o qual afirma que as organizações

criminosas estão aumentando a cooperação entre si com o escopo de atingir seus

objetivos em comum.27 Ainda mais, em seu artigo Cooperation Among Criminal

Organizations, o pesquisador argumenta que o crime organizado é uma continuação

dos negócios internacionais por meios ilícitos.

Assim, da mesma maneira que as empresas transnacionais utilizam-se da

cooperação como meio de obter sucesso, a cooperação é também utilizada pelos

criminosos para obter benefícios mútuos. Sem embargo, observa-se que o resultado

da network entre diferentes formas de crime organizado é a interdependência ilícita.

Agregando-se a esse pensamento que reconhece a dependência entre os diversos

crimes organizados, podemos ainda citar a jornalista Claire Sterling, na qual o próprio

título do seu livro Thieves’s world The Threat of the New Global Network or Organized

Crime resume a ideia do network entre os criminosos; e o pesquisador Jeffrey

Robinson que em seu livro The Merger: The Conglomeration of International

Organized Crime cita várias conexões entre diferentes tipos de crime organizado, dos

quais podemos relatar o conglomerado criado por Charlie Lucky Luciano:

Interesting enough, by then, Luciano had moved his heroin production out of Italy and into France. On the advice of his Corsican-smuggler partners, he’d be shifted manufacturing to Marseilles, where, the Corsicans assured him, they could exert their influence on his behalf. The move created what would come to be remembered as “The French Connection”.

28

27

SERRANO, Mónica; BERDAL, Mats. Transnational Organized Crime and International Security: Business As Usual?. Londres: Lyenne Rienner Publishers, Inc, 2002., p. 64. 28

ROBINSON, Jeffrey. The Merger: The Conglomeration of Internacional Organized Crime. Colorado: Ed. Overlook, 2000. p. 36.

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Segundo Jeffrey Robinson, os criminosos buscam veemente a aliança

estratégica. Desta maneira, pode-se concluir que a dependência dos grupos

criminosos foi provocada para que eles próprios se inserissem na dinâmica de

interdependência do Sistema Internacional.

And, like any sound multinational corporation, they also seek out strategic alliances. Such as the Asian organized criminals who import heroin into Canada, then hand off their drugs to an Italian group that ships them in bakery trucks to New York, where they are distributed by Puerto Rican street gang.

29

O sistema internacional pós Guerra Fria desenvolveu características que

propiciaram tanto o desenvolvimento do Estado quanto do crime organizado

transnacional. A modernidade, ou melhor, a globalização e a revolução Pós-Industrial

ajudaram no desenvolvimento de novas técnicas de se fazer crime, entre elas o crime

cibernético. Não podemos nos olvidar que os criminosos também vivem nas diversas

temporalidades, pois, fazem parte e interagem assiduamente com a Sociedade

Internacional sempre na busca do capital, ou melhor, na maximização dos lucros.

Parafraseando Moisés Naim, editor da Foreign Policy, o lucro é uma motivação tão

poderosa quanto Deus.30

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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29

Ibid. p. 20. 30

NAIM, Moisés. Ilicit: how smugglers, traffickers, and copycats are hijacking the global economy. Nova Iorque: Random House, 2005. p. 11.

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