a instruÇÃo pÚblica primÁria nas falas e … · 2018-04-02 · provinciais sobre a instrução...

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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa Universidade Federal da Paraíba 15 a 18 de agosto de 2017 ISSN 2236-1855 4725 A INSTRUÇÃO PÚBLICA PRIMÁRIA NAS FALAS E RELATÓRIOS PRESIDENCIAIS EM SERGIPE (1850-1858) 1 Gleidson Santos da Silva 2 Simone Silveira Amorim 3 Gilvânia Andrade do Nascimento 4 Introdução A Instrução primária, durante o Império, serviu como instrumento na difusão dos conhecimentos elementares para a civilidade, dentro de um projeto de sociedade pensado para uma nação independente. Para tanto, o Estado buscou tomar para si a responsabilidade de prover a Instrução Pública e determinar os conhecimentos necessários para a vida em sociedade, especialmente após o Ato Adicional de 1834 que transferiu para as províncias a responsabilidade de organizar a instrução pública. Em meio às disputas no campo político entre liberais radicais contra moderados e conservadores, no período regencial (1831-1840), a reforma da constituição do império pela carta de lei de 12 de agosto de 1834 representou temporariamente uma trégua entre os interesses partidários (COSTA, 2010), pois determinou a criação das Assembleias Legislativas nas províncias, em substituição aos Conselhos Gerais, e a nomeação de Presidente e vice-presidente para as províncias pelo Governo-Geral. Naquele período, cabia aos Presidentes nas Províncias organizar e gerir a Instrução segundo as determinações do Governo-Geral. Este último cobrava informações sobre rendimentos da Fazenda Pública, gastos oficiais, arrecadação de impostos, desenvolvimento e despesas com educação, estatística da economia etc. A atribuição legal de transmitir ao Governo-Geral informações sobre aspectos da atividade pública nas províncias cabia ao Presidente da Província, por meio dos Relatórios e Falas diante das Assembleias Provinciais. Por força do Ato Adicional de 1834 e da Lei nº. 40 1 As discussões apresentadas neste artigo configuram-se como resultado parcial de pesquisa realizada através de projeto apresentado ao CNPQ e aprovado sob o título: Os professores primários em Sergipe: em busca da profissionalização (1826-1889). Chamada: MCTI/CNPQ/Universal/2014. 2 Mestrando em Educação pela Universidade Tiradentes/UNIT. Bolsista CAPES/FAPITEC. E-Mail: <[email protected]> 3 Doutora em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (2012). Docente da Universidade Tiradentes/UNIT no Programa de Pós-graduação em Educação. E-Mail: <[email protected]> 4 Mestranda em Educação pela Universidade Tiradentes/UNIT. E-Mail: <[email protected]>

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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017

ISSN 2236-1855 4725

A INSTRUÇÃO PÚBLICA PRIMÁRIA NAS FALAS E RELATÓRIOS PRESIDENCIAIS EM SERGIPE (1850-1858)1

Gleidson Santos da Silva2 Simone Silveira Amorim3

Gilvânia Andrade do Nascimento4

Introdução

A Instrução primária, durante o Império, serviu como instrumento na difusão dos

conhecimentos elementares para a civilidade, dentro de um projeto de sociedade pensado

para uma nação independente. Para tanto, o Estado buscou tomar para si a responsabilidade

de prover a Instrução Pública e determinar os conhecimentos necessários para a vida em

sociedade, especialmente após o Ato Adicional de 1834 que transferiu para as províncias a

responsabilidade de organizar a instrução pública.

Em meio às disputas no campo político entre liberais radicais contra moderados e

conservadores, no período regencial (1831-1840), a reforma da constituição do império pela

carta de lei de 12 de agosto de 1834 representou temporariamente uma trégua entre os

interesses partidários (COSTA, 2010), pois determinou a criação das Assembleias

Legislativas nas províncias, em substituição aos Conselhos Gerais, e a nomeação de

Presidente e vice-presidente para as províncias pelo Governo-Geral.

Naquele período, cabia aos Presidentes nas Províncias organizar e gerir a Instrução

segundo as determinações do Governo-Geral. Este último cobrava informações sobre

rendimentos da Fazenda Pública, gastos oficiais, arrecadação de impostos, desenvolvimento e

despesas com educação, estatística da economia etc.

A atribuição legal de transmitir ao Governo-Geral informações sobre aspectos da

atividade pública nas províncias cabia ao Presidente da Província, por meio dos Relatórios e

Falas diante das Assembleias Provinciais. Por força do Ato Adicional de 1834 e da Lei nº. 40

1 As discussões apresentadas neste artigo configuram-se como resultado parcial de pesquisa realizada através de projeto apresentado ao CNPQ e aprovado sob o título: Os professores primários em Sergipe: em busca da profissionalização (1826-1889). Chamada: MCTI/CNPQ/Universal/2014.

2 Mestrando em Educação pela Universidade Tiradentes/UNIT. Bolsista CAPES/FAPITEC. E-Mail: <[email protected]>

3 Doutora em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (2012). Docente da Universidade Tiradentes/UNIT no Programa de Pós-graduação em Educação. E-Mail: <[email protected]>

4 Mestranda em Educação pela Universidade Tiradentes/UNIT. E-Mail: <[email protected]>

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de 3 de outubro de 1834, o Presidente da Província tinha a prerrogativa de presidir, ao lado

do Presidente da Assembleia Legislativa Provincial, a primeira seção de cada ano, momento

em que fazia exposição de sua Fala com informações sobre os acontecimentos notáveis.

Ciente do importante papel da instrução pública no processo de educar a sociedade e da

riqueza de informações sobre a Província de Sergipe contidas nos Relatórios e Falas de

Presidente de Província, a presente pesquisa busca compreender como a instrução pública

primária esteve representada nos Relatórios e Falas presidenciais entre os anos de 1850 a

1858, evidenciando as informações nos documentos oficiais produzidos pelo Poder Público,

mais especificamente no relatórios e Falas, os registros relativos à instrução pública primária

em Sergipe.

O recorte temporal estabelecido relaciona-se com mudanças na estrutura de

fiscalização e legislação na década de 1850, tendo como base a criação do cargo de Inspetor

Geral das Aulas em 1850 e aprovação da reforma da instrução pública por regulamento

especial das escolas em 1858.

A partir da criação do cargo de Inspetor Geral das Aulas a fiscalização e avaliação dos

professores na província deixou de ser responsabilidade dos Juízes de Paz e das Câmaras

Municipais. Esse fato suscitou mudanças na organização/fiscalização da instrução

especialmente com a criação de regulamento para o ensino primário na província. Porém,

isso só foi efetivamente possível se concretizar anos mais tarde.

Para tanto, será utilizado como fontes documentais os Relatórios e Falas de Presidente

de Província (1850-1858) que trazem informações sobre atividades do Executivo, legislações

imperiais, que descreveram as atribuições do cargo de Presidente de Província, e leis

provinciais sobre a instrução pública, bem como produções bibliográficas. Desse modo

entende-se que:

A intervenção do historiador que escolhe o documento, extraindo-o do conjunto dos dados do passado, preferindo-o a outros, atribuindo-lhe um valor de testemunho que, pelo menos em parte, depende da sua própria posição na sociedade da sua época e da sua organização mental, insere-se numa situação inicial que é ainda menos ‘neutra’ do que a sua intervenção. (LE GOFF, 1990, p. 472)

O aporte teórico-metodológico aqui aplicado está amparado na Nova História Cultural

que permite abandonar sistemas teóricos generalizantes e fazer uso de evidências que

possibilitam construir representações sobre o passado a partir da ótica do historiador, sem

perder o rigor científico (BURKE, 2005). A metodologia aplicada no presente trabalho se

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configura enquanto pesquisa histórica e documental, de abordagem qualitativa (SILVA;

MENEZES, 2005).

Em parceria firmada entre a Biblioteca Nacional, o Center for Research Libraries

(CRL) e o Latin American Microform Project (LAMP) foi realizada a digitalização de mais de

670.000 páginas de documentos5 entre 1994 a 2000 (JACOB, 2001). Teve como órgão

financiador a Fundação Andrew W. Mellon na digitalização dos documentos referentes ao

Poder Executivo, criados pela administração nacional do Brasil entre os anos de 1821 e 1993.

Vale ressaltar que os todos os documentos digitalizados pelo projeto encontram-se

disponíveis para consulta e download no site da CRL6 gratuitamente.

As possibilidades digitais multiplicam as conexões hipertextuais com muitos arquivos, acima de tudo, podem mostrar com maior rapidez que a versão impressa que é impossível reduzir cada obra a um texto, seja ele o texto de uma edição velha ou de uma moderna. (CHARTIER, 2014, p. 293).

O acesso aos documentos e legislações no hiperespaço foi de fundamental importância

na composição desse trabalho. Tendo em vista que muitos desses documentos seriam difíceis

de ser encontrados em bom estado e disponíveis para o manuseio.

Assim, pretende-se, primeiro, apresentar informações sobre a prerrogativa legal de

criação e atuação do cargo de Presidente de Província, assim como o local onde os Relatórios

e Falas presidenciais estão disponíveis para consulta e, em um segundo momento, serão

elencadas informações sobre a instrução pública primária encontradas em Relatórios e Falas,

as condições das escolas e da materialidade escolar.

Da Presidência nas Províncias aos Relatórios e Falas

A atmosfera política, com a vinda da Família Real para o Brasil, foi marcada por

desentendimentos e conflitos: a cobrança de altos impostos para sustentar a Corte esteve

entre os motivos que insuflaram o descontentamento; as ideias iluministas irradiadas pela

Revolução Francesa de 1789 influenciaram movimentos como a Revolução Pernambucana,

de 1817, e a Confederação do Equador, ambos ocorridos na Província de Pernambuco.

A administração das Províncias durante as duas primeiras décadas do século XIX era

“independente”, em relação às demais, e do controle do Rei, o que possibilitou levantes e

conjurações contra as determinações de D. João VI. Com a supressão da Revolução

5 Os Relatórios e Falas dos Presidentes da Província (1830-1930), as mensagens presidenciais (1889-1893), os Almanaques Larmmert (1844-1889) e Relatórios Ministeriais (1821-1960) já tinham sido microfilmados pela Biblioteca Nacional antes do projeto de digitalização.

6 <http://www.crl.edu/> acesso em: 30 de jun. 2016.

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Pernambucana de 1817, o Governo Real buscou intervir no modelo da administração das

Províncias e na defesa do território. Para tanto, D. João VI, por decreto de 1º de outubro de

1821, organizou o sistema de Governo e a Administração Pública da Província de

Pernambuco que serviria de modelo para as demais províncias do Brasil.

Esse decreto determinou a criação provisória de Juntas Provinciais de Governo em

substituição aos “Governos Independentes”. O art. 1º determinou que as Juntas Provinciais

teriam sete membros nas províncias com a presença de Capitães-Gerais: Pará, Maranhão,

Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Mato

Grosso e Goiás. Nas demais províncias do Império onde não havia a presença de Capitães-

Gerais o número seria de cinco membros (BRASIL, 1821).

A eleição dos membros da Junta Provincial do Governo nas Províncias era realizada

pelos eleitores das paróquias da própria Província. Já a nomeação, conforme o art. 3º,

deveria ocorrer entre os cidadãos que possuíssem claramente os requisitos necessários com

probidade e conhecimentos do sistema Constitucional. Também deveriam ser maior de

idade, estar em pleno exercício dos seus direitos e comprovar posses7 ou empregos. O art. 4º

prescrevia que por eleição deveriam ser eleitos um Presidente, o Secretário e os outros

membros da Junta, que poderiam ser entre três e cinco (BRASIL, 1821).

Contudo, em decreto da Assembleia Geral Constituinte e Legislativa do Império de 20

de outubro de 1823, já sob o Governo do Imperador D. Pedro I, determinou-se uma nova

forma de Governo para as Províncias. Assim, o art. 1º informou a abolição das Juntas

Provinciais do Governo nas Províncias do Império. O art. 3º determinava a atuação do

Presidente e sua nomeação, devendo este ser o representante do Poder Executivo e o

administrador da Província, sendo que a sua nomeação e afastamento ficaria a cargo do

Imperador (BRASIL, 1823).

O art. 9º determinou a criação do cargo de vice-presidente. Este seria o conselheiro, o

mais bem votado entre os eleitos para compor o Conselho. Já o art. 10º, definiu que a eleição

para o Conselho ocorreria da mesma forma que a eleição dos Deputados da Assembleia. As

atribuições do cargo de Presidente de Província, em Conselho, foram determinadas pelo Art.

24. O que chama a atenção neste artigo são os §2º e §7º, os quais definem que o Presidente

tem a prerrogativa legal de promover a educação da mocidade, realizar o senso e o

levantamento estatístico da Província (BRASIL, 1823).

7 Bens de raiz, comércios ou indústrias.

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No ano seguinte à dissolução da Assembleia Geral Legislativa, por imposição do

Imperador D. Pedro I, foi criada a Carta de Lei de 25 de marco de 1824. No art. 80 dessa

Carta Magna ficou determinado que o Presidente da Província deveria estar presente quando

da instalação do Conselho Geral. Nesse momento ele ocuparia assento ao lado (direito) do

Presidente do Conselho e faria a exposição da sua Fala ao Conselho fazendo apontamentos

para o melhoramento da província. A lei de 25 de março de 1824, no Título 7º, trata sobre a

administração e economia das províncias. No capítulo 1º, sob o título “da administração”, os

art. 165 e 166 determinam a existência de um Presidente em cada Província nomeado pelo

Imperador e sinaliza que a lei designará atribuições, competências e autoridades referentes

ao cargo (BRASIL, 1824).

Entretanto, a dissolução da Assembleia Geral Legislativa em 1823 e a constituição

outorgada por D. Pedro I em 1824 representaram ações do Governo imperial que foram

consideradas como arbitrárias, o que contribuiu para o acirramento no campo político entre

conservadores e liberais. Em 1826, na reunião da Câmara dos Deputados, entre os assuntos

mais discordantes estiveram a organização educacional, questões referentes à legislação

agrária, abolição da escravatura e liberdade de imprensa.

A trégua entre liberais e conservadores veio em 1834, pois, em meio às disputas no

campo político, no período regencial (1831-1840), a reforma da constituição do Império pela

Carta de lei de 12 de agosto de 18348 representou uma conciliação, mesmo que temporária,

entre os interesses partidários.

Da luta entre liberais radicais, de um lado, moderados e conservadores, de outro, resultaria o Ato Adicional de 1834, forma conciliatória encontrada temporariamente pelos vários grupos em jogo. [...] Os Conselhos Provinciais foram transformados em Assembleias Legislativas, aprovaram-se a discriminação em rendas e a divisão dos poderes tributários, mas rejeitou-se a autonomia municipal, mantendo-se os municípios subordinados ao governo provincial. Por sua vez, o presidente da província seria nomeado pelo Governo Central. (COSTA, 2010, p. 156)

A determinação de criação das Assembleias Legislativas nas províncias, em substituição

aos Conselhos Gerais e a nomeação de Presidente e vice-presidente da província pelo

Governo-Geral foram medidas que agradaram as partes em conflito.

O art. 8º do Ato Adicional de 1834 previa a apresentação da Fala do Presidente da

Província perante a Assembleia Legislativa com as informações sobre o estado dos negócios

públicos e da administração evidenciando o que mais precisava ser melhorado na Província.

8 Comumente chamado de Ato adicional de 1834.

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Com o intuito de melhor definir a ação dos Presidentes nas Províncias, foi estabelecido pela

Lei nº 40 de 3 de outubro de 1834, o regimento aos Presidentes de Província e a extinção dos

Conselhos de presidência. O art. 1º indicava que o Presidente de Província era a maior

autoridade e que todos que nela se encontravam deveriam estar subordinados à sua

autoridade (BRASIL, 1834).

Já as prerrogativas garantidas para o cargo de Presidente da Província estão no art. 5º.

Neste, chamou atenção os §2º, §10, §12 e §14, pois exigiam dos subordinados a comunicação

das ações conveniente para a execução das leis; recebia juramento e dava posse aos

empregados da Província ou Comarcas; comunicava o Governo-Geral das dificuldades em se

fazer cumprir as leis, bem como os fatos notáveis na província9; concedia licenças aos

empregados públicos com prazo máximo de três meses.

Assim, os relatórios de Presidente de Província eram compostos a partir das

informações fornecidas pelos chefes de cada repartição ou setor da máquina pública. Ou seja,

setores como da segurança pública, instrução pública, saúde pública, obras públicas, Fazenda

provincial, forças militares e alfândega estiariam, inequivocamente, entre os principais

assuntos. Essas informações geralmente iam acompanhadas por quadros ou mapas

demonstrativos, organizados ao final do documento, e tinham a função de ressaltar os dados

quantitativos.

A diferença entre a Fala e o Relatório do Presidente da Província está apenas na

nomenclatura. De fato, ambos tinham a função de expor o trabalho desenvolvido e indicar o

melhoramento da Província na sessão de abertura dos trabalhos, ou sessão ordinária, da

Assembleia Provincial. Nela, o representante do Executivo na Província transmitia os

assuntos mais relevantes do exercício público e que precisavam ser apreciados pelo Poder

Legislativo. Uma cópia do Relatório ou Fala era também enviada posteriormente ao Ministro

do Império, no Município da Corte, para que esse também tivesse ciência dos acontecimentos

e necessidades das Províncias.

A Instrução Pública Primária nos Relatórios

As informações sobre a Instrução pública primária encontrada nos Relatórios e Falas

presidenciais, entre 1850 e 1858, elencadas aqui foram encontradas no repositório da CRL na

seção coleções digitais. No campo intitulado “documentos do governo brasileiro” podem ser

9 Os rendimentos da Fazenda pública, Instrução pública, estatística da população e economia, epidemias, gastos e investimentos da administração pública e os demais assuntos que competiam ao exercício do Executivo na província eram compilados em forma de relatório de Governo e Fala apresentados Na Assembleia Provincial.

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encontrados os agrupamentos de documentos oficiais expedidos pelo Poder Executivo no

Império. Nesse fundo podem ser acessados os relatórios presidenciais de todas as províncias

do Império, dentro do recorte que vai de 1830 a 1930.

O hipertexto e a hiperleitura que ele permite e produz transformam as relações possíveis entre as imagens, ou sonhos e os textos associados de maneira não-linear, mediante conexões eletrônicas, assim como as ligações realizadas entre os textos fluidos em seus contornos e em número virtualmente ilimitado. (CHARTIER, 2002, p. 108-109).

Dessa forma a hiperleitura, ou seja, a leitura de textos disponíveis no hiperespaço

permite acessar assuntos que se relacionam com os documentos. Isso enriqueceu a

construção do presente artigo, a partir do momento que uma informação suscitava a

presença de outra. A partir do entrelaçado de informações sobre a Instrução pública buscou-

se aqui eleger as mais importantes, segundo o grau de ocorrência e relevância. Nesse sentido,

algo que chamou a atenção foi a recorrente presença de dados estatísticos como o número de

alunos que frequentavam aulas de instrução pública, bem como o número geral dos alunos do

ensino primário e secundário que frequentavam escolas públicas ou aulas particulares. Na

Fala do Presidente Amâncio João Pereira de Andrade, por exemplo, dirigida à Assembleia

Legislativa em 1º de março de 1850, ele afirmou que:

Frequentão as aulas publicas do ensino elementar 2:077 meninos de ambos os sexos; havendo 39 cadeiras de primeiras letras para o sexo masculino, e 13 para o sexo feminino; sendo esta frequentada por 369 meninas, e aquellas por 1:708 meninos. Comparado o mappa que vos offereço sob numero 10 com o relatorio do anno passado, ve-se que ha huma differença, para mais, de 399 meninos, e de 89 meninas. (SERGIPE. 1850, p. 10-11).

Observa-se que havia a predominância de alunos em comparação ao número de alunas

matriculadas. O que não torna desprezível o quantitativo de alunas que frequentavam o

ensino primário, muito pelo contrário, é um montante significativo para a década em

questão, tendo em vista que o numero de cadeiras era 3 vezes menor do que as dos meninos.

No entanto, ainda se configurava como um sinal da preocupação no que diz respeito à

educação das mulheres na província.

O referido quadro demonstrativo das escolas na província, sob o número 10, tem base

nos dados fornecidos pelos professores de cada escola. Vale ressaltar que, até 1849, os juízes

de paz e as Câmeras Municipais tinham a atribuição legal de fiscalizar a instrução, cobrar os

mapas de aulas dos professores e enviar as informações pertinentes sobre as escolas das

comarcas ao Presidente da Província.

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Ainda na Fala do Presidente Amâncio Andrade, de 1850, foram encontradas indicações

para o melhoramento da instrução pública primária como, por exemplo, a inserção do

método de ensino mútuo nas escolas e a criação de uma Inspetoria Geral das Aulas.

Segundo o Presidente da Província, a falta de coesão no método aplicado nas escolas e a

ausência de uma inspeção vigilante sobre os professores, que delimitasse as obrigações

desses funcionários se configuravam como atrasos para o desenvolvimento da instrução na

província.

Em 15 de março de 1850 a Assembleia Legislativa de Sergipe decretou a criação do

cargo público de Inspetor Geral das Aulas, sob a resolução de nº 259. Sancionada pelo então

Presidente da Província que autorizou a criação do cargo de Inspetor Geral das Aulas para

toda Província10. É significativo observar a importância da criação desse cargo pelo fato de

que era responsabilidade das Câmaras (nas vilas) e Juízes de paz (nos distritos) fiscalizar os

professores e informar ao presidente da província as dificuldades ocorridas nas aulas

públicas de acordo com o previsto nos art. 26 e 27 da lei de 15 de março de 1835. Com a

criação do cargo de Inspetor Geral das Aulas surgiu um funcionário hierarquicamente abaixo

apenas do presidente da província e da assembleia provincial, que eram as duas instâncias

que atuavam quanto aos assuntos sobre a instrução pública. Ele deveria fiscalizar, avaliar e

decretar punições aos professores que descumprissem o regimento da instrução pública. Mas

para isso foi preciso também criar cargos como as comissões de instrução pública nas

cidades, vilas e distritos, além de subinspetores locais.

No ano seguinte, em Fala dirigida a Assembleia Legislativa da Província de Sergipe na

sessão do dia 11 de janeiro de 1851, Amâncio Andrade parabeniza o relatório da instrução

pública construído pelo Inspetor Geral das Aulas Guilherme Pereira Rebello. Segundo o

presidente Amâncio Andrade, nesse relatório pode ser consultado o local onde estavam

situadas as escolas, o nome do professor que ocupavam a Cadeira e o seu comportamento, o

número dos alunos, a idade, e o desenvolvimento de cada aluno.

Ciente da dificuldade de estabelecer a unidade do método de ensino na província, o

Inspetor propôs a criação de uma escola suplementar para ensinar o método mútuo aos

professores. Sendo também o local de formação do professorado sergipano.

10 Até 1850 a responsabilidade de avaliar, fiscalizar e administrar punições aos professores (quando necessário) era competente as Câmaras municipais e aos Juízes de Paz de acordo com a lei de 05 de março de 1835. Que previa em seus art. 26 e 27 a transmissão de informações sobre a frequência dos alunos ao Juiz de Paz e a realização de avaliação dos discentes, ao final de cada ano letivo, diante da Câmara Municipal (FRANCO, 1880, p. 137-141). Com a criação do cargo de Inspetor Geral das Aulas, pela resolução nº 259 de 15 de março de 1850, essas prerrogativas passaram a ser inteiramente direcionada a esse funcionário da máquina pública.

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Achareis n’esse relatorio huma illustrada exposição do estado actual das escolas, das necessidades e inconvenientes do ensino, e dos meios de molhoral-o; e vereis se não convirá dotar a Provincia com huma escola complementar, onde se aperfeicoem os actuaes professores e se habilitem outros que os houverem de succeder. (SERGIPE, 1851, p. 11-12).

Mesmo demonstrando o estado das escolas e das necessidades e inconvenientes do

ensino em Sergipe, a criação de uma escola para o ensino do método mútuo proposto pelo

Inspetor Geral das Aulas não saiu do papel pela descontinuidade governamental com a troca

de Presidentes na província.

A troca de Presidente de Província no ano de 1853 fez com que dois relatórios fossem

apresentados. O primeiro foi apresentado à Assembleia Provincial em 10 de junho pelo Dr.

José Antônio de Oliveira Silva e o segundo foi apresentado em 22 de novembro pelo Dr. Luiz

Antônio de Pereira Franco.

No Relatório do Presidente José Antônio de Oliveira Silva, além das ponderações e

estatística sobre a instrução na Província, foi encontrado também o relatório da Instrução

pública criado pelo Inspetor Geral das Aulas. Neste relatório estão detalhadas as condições

das escolas primárias em Sergipe, suas localizações na província, indicações para o

melhoramento das condições da Instrução e opiniões do inspetor geral das Aulas.

É minha opinião particular que a instrucção elementar seja dessiminada com a maior liberdade por todos os ângulos da Província, porém que a instrucção secundaria seja limitada aquelles pontos em que dela se possão aproveitar grande numero de alumnos, que se destinem a carreira das letras. (SERGIPE, 1853, p. 2)

O Inspetor Guilherme Pereira Rebello acreditava que os gastos com a instrução

secundária nas aulas isoladas (cadeiras de Latim situadas em cidades e vilas com poucos

alunos) eram altos e traziam pouco retorno à Província. Acreditava também que a melhor

distribuição das cadeiras do ensino primário na província surtiria mais efeito do que as aulas

isoladas do ensino secundário. Algo que chamou a atenção, ao final do relatório do

supracitado do Inspetor Geral, é a solicitação feita ao Presidente da Província em relação às

condições das cadeiras da Instrução pública primária na Província:

No estado actual, no meio das innumeras necessidades creadas pela civilisação crescente, obrigados pelo caracter mesmo de sua missão á representarem um papel decente e honesto na sociedade, pois devem servir de modello e exemplo aos seus discípulos, parece-me que seria de reconhecida justiça e de necessidade, que a Provincia lhe desse os meios precisos para poderem viver mais aliviados das necessidades afflictivas, á que os reproduz constantemente a mesquinhez de seos ordenados; porque assim fazendo, os professores serião mais dedicados, e gozando de mais

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consideração e importância, não seria o magisterio publico tido em conta de baixo officio, como infelizmente é tido entre nós, e assim convidaria á seguir esta carreira á pessoas recommendaveis por suas habilitações e por sua dedicação. V. Ex. porém dará á este pensamento o valor, que intender que ele merece, restando-me sómente pedir venia a V. Ex. pelo desalinho deste relatorio, que intendi dever limitar a estas poucas linhas, que acabo de traçar. (SERGIPE, 1853, p. 6).

As condições materiais das escolas, a falta de prestígio perante a sociedade, a falta de

estímulo do governo provincial e a baixa remuneração eram fatores marcantes no exercício

do professorado do ensino primário naquele período. Assim, o inspetor buscou jogar luzes

sobre a realidade educacional propondo o melhoramento das condições estruturais da

instrução pública primária. Contudo, a sua defesa acalorada pelo melhoramento da instrução

pública passou como “letra morta” no relatório e na Assembleia, pois não houve mudanças

significativas na Instrução pública (SERGIPE, 1853).

O governo do Presidente Inácio Joaquim Barbosa (11/11/1853 a 10/9/1855) foi

marcado por modificações no campo educacional e político da Província: instituiu o

regimento interno para as escolas, criado pelo Inspetor Geral das Aulas em 1854, segundo a

prerrogativa legal do regulamento de 6 de junho de 1850. Também determinou o fechamento

do Liceu e a transferência da Capital em 1855.

A mudança da Capital, da vestuda [sic.] cidade de São Cristóvão para o povoado de Santo Antônio do Aracaju em 17 de março de 1855, deu ao Presidente Inácio Joaquim Barbosa a oportunidade de, pela Resolução nº 422 de 22 de abril desse ano, extinguir o Liceu decadente. Transferiu para a nova capital a Cadeira de Filosofia, permanecendo em São Cristóvão apenas a de Gramática Latina, pois o professor de Geografia e História se encontrava licenciado, e as demais haviam sido deslocadas anteriormente, para Laranjeiras e Estância. (NUNES, 2008, p. 85).

Além disso, a mudança da Capital da Província alterou também aspectos da Instrução

pública primária na nova sede do Governo. A criação de uma escola de ensino feminino e a

transferência de uma professora para lecionar nessa escola, assim como o melhoramento da

escola para meninos que já existia no arraial do Santo Antônio do Aracaju são evidências das

implicações causadas pela mudança da Capital.

Infelizmente, naquele mesmo ano, a Província de Sergipe sofria com a epidemia de

Cólera morbos que levou à morte milhares de pessoas11. Entre esses tantos estava o

Presidente da Província Inácio Joaquim Barbosa, que morreu em 6 de outubro de 1855. O

vice-presidente João Gomes de Melo, Barão de Maruim, em virtude do falecimento do

11 Segundo quadro de nº 7 (mapa de falecidos), do relatório de 27 de fevereiro de 1856, registrou-se o total de 15.122 mortes causadas pela cólera morbos entre setembro de 1855 a janeiro de 1856.

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Presidente da Província, foi responsável por enviar o relatório da administração provincial ao

novo Presidente da Província, o Dr. Salvador Correia de Sá Benevides, em 27 de fevereiro de

1856. Nesse documento, as considerações sobre a instrução primária se limitaram aos dados

estatísticos e à crítica ao desenvolvimento da instrução, em particular ao provimento de

escolas por professores que não possuíam os conhecimentos necessários, sendo esses

professores considerados, segundo ele, inábeis.

Haja mais escrúpulo no provimento das Cadeiras; sejão com mais cuidado inspecionados os Professores que por ahi andão entregues a si mesmos, sendo pontuaes os que o querem ser; responsabilizem-se os omissos e desleixados; proporcione-se também melhores vantagens, que convidem ao Professorato[sic] pessoas hábeis, e a instrucção primaria da Provincia sairá por certo d’esse estado de torpor, e decadente, em que ora se acha. (SERGIPE, 1956, p. 10).

No entendimento do Barão de Maruim, a condição lamentável apresentada pela

instrução pública primária esteve ligada à falta de capacidade dos professores, por serem

indolentes e relaxados, salve algumas exceções. Ele tinha na promoção do melhoramento dos

salários a solução possível para reverter a situação, já que essa medida poderia seduzir

professores mais qualificados.

Contudo, essa medida não mudaria a situação da instrução pública que carecia de

espaços escolares adequados e materiais necessários na aplicação dos métodos de ensino

mútuo e simultâneo. Por outro lado, o pensamento educacional daquela época esteve ligado

ao projeto discutido por Legisladores tanto nas províncias quanto na Assembleia Geral.

Nesses campos deliberativos a instrução era imbuída de valores e crenças que

fundamentavam e tinham como objetivo final civilizar o povo.

Nesse sentido, ao estabelecer o que se deseja para a instrução, parte-se de um projeto

específico. Assim, o projeto de civilizar a nação a partir da instrução pública esteve embutido

no discurso que buscava a moralidade dos professores e o bom cumprimento dos deveres

educacionais o que, por consequência, afetaria positivamente a educação da mocidade

sergipana.

No relatório apresentado à Assembleia Legislativa na 12ª sessão, em 15 de abril de

1858, João Dabney D’Avelar Brotero sinalizou as medidas que podiam surtir o efeito desejado

para proporcionar a formação dos professores, segundo as ideias propostas pelo Inspetor

Geral das Aulas.

Lembro ainda a necessidade de se adoptar a idea dos professores adjuntos: os alunos que mostrarem maiores habilitações, e forem aprovados em exame especial, poderão tomar o grau de professores adjuntos com a gratificação e

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as atribuições que lhe for marcadas. Esta medida tem duas immensas vantagens, a primeira é crear uma classe de pessoas que desde a mais tenra mocidade grangeam os hábitos do magistério; a segunda é crear nas escholas publicas entre os alumnos pobres uma legitima emulação para se adiantarem, e terem direito á esta distincção, e a respectiva gratificação. (SERGIPE, 1858, p 34).

Para que essas ideias se concretizassem era preciso reformular a ordem geral da

instrução pública, substituindo a lei da instrução vigente de 05 de março de 183512 que não

previa os professores adjuntos13 na conformidade da reforma Couto Ferras de 1854. Assim foi

feito, naquele mesmo ano, sob a lei nº 508 de 16 de junho de 1858. Dessa maneira, as

medidas propostas tornaram-se presentes na realidade educacional da Província.

Diante das informações veiculadas através dos relatórios e Falas dos Presidentes da

Província é possível comprovar que eles se configuram como ricas fontes sobre o pensamento

educacional daquele período. Nesses documentos ficam expressas as medidas e deliberações

que permeavam a organização da instrução pública, indicativos das condições materiais das

escolas, indivíduos que estavam atrelados à profissão docente e o número de alunos que

recebiam a instrução primária ou secundária. Assim, compreende-se aqui a importância do

relato oficial quanto às condições da instrução na Província dentro de um discurso que

buscava o desenvolvimento da instrução pela fiscalização e formação dos professores, tido

como propulsores do melhoramento da instrução pública.

Contudo, a falta dos materiais básicos para a aplicação do método nas escolas, o baixo

prestígio social gerado pela baixa remuneração e a ausência de escolas com estruturas dignas

para o exercício do magistério público eram problemas para os quais o Governo Provincial

não tinha uma solução definitiva, pois, segundo os relatórios e falas presidenciais ficava

nítida a necessidade de investimentos na instrução pública. Segundo os discursos dos

presidentes de província o que faltava para melhorar a instrução era verba e um meio de

melhor formar os professores. Embora existissem investimentos na parte estrutural da

instrução (como compra de utensis e mobiliários), ainda assim nos relatórios da instrução

12 Segundo os artigos 11, 13, 14, 15, 16, e 17 a referida lei diz que se o professor titular estivesse impedido de realizar as suas atividades o processo de substituição era feito por indicação (pelo próprio professor e se esse não tivesse condições de fazer a câmara municipal o faria em seu lugar) de pessoa habilitada. Essa, após ser arguida pela câmara municipal e atestando as capacidades necessárias seria admitida como substituta a cadeira de instrução pública. O professor substituto seria pago com metade dos vencimentos (segundo o art. 10 da supracitada lei o valor pago ao professor titular era de 200 mil reis) do titular da cadeira.

13 Não havia a previsão na legislação da figura do Professor Adjunto. A ideia de criar um grupo de alunos que fossem substitutos dos professores titulares efetiva-se a partir da reforma de Couto Ferraz na corte em 1854. Este fato não significa dizer que alunos mais adiantados ou ex-alunos não atuassem como substitutos antes das disposições legais de Couto Ferraz.

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pública é possível encontrar evidências que demostram como algumas aulas necessitavam

dos materiais fundamentais para o funcionamento da aula.

Considerações Finais

O presidente da província tinha como responsabilidade, segundo o regulamento nº. 40

de 3 de outubro de 1834, de organizar setores públicos e aplicar os recursos no

melhoramento da organização administrativa da província. Entre as suas atribuições estava a

comunicação das ações do governo provincial e a indicação de medidas para aperfeiçoar as

condições da província diante da Assembleia Legislativa.

Conclui-se que a presença da instrução pública nas Falas ou Relatórios do Presidente

da Província tinha a função de tornarem públicas as condições e dificuldades encontradas

para o seu desenvolvimento, buscando a contribuição da Assembleia Legislativa por meio da

criação de leis que melhorassem a instrução pública em Sergipe. Deve-se também

compreender aqui a instrução pública enquanto setor importante para a consolidação do

projeto de educar o povo, e por essa razão, era um assunto de grande importância para ser

deliberado.

Segundo os Relatórios e Falas presidenciais, a instrução pública primária encontrava-se

em uma situação que merecia poucos elogios, haja vista que as escolas não possuíam a

estrutura necessária para o funcionamento das aulas e, não raras vezes, essas aulas eram

realizadas em pequenas salas nas casas dos professores, em casas alugadas ou em espaços

cedidos em prédios públicos. A baixa remuneração dos professores primários e a ausência de

formação específica para o exercício do magistério público eram problemas recorrentes nos

Relatórios e Falas dos Presidentes de Província.

Assim, as dificuldades representadas nos documentos diziam respeito à falta de

materiais para o desenvolvimento do método aplicado nas escolas e à precariedade dos

estabelecimentos de ensino, salve alguns poucos mantidos por recursos particulares. A

ausência de conhecimentos necessários e a depreciada postura moral apresentada por alguns

professores primários pioravam ainda mais essa representação, tidos como desleixados e

inábeis para ensinar a mocidade sergipana, sendo essa a representação da instrução pública

primária, em Sergipe, registrada nos relatos oficiais, entre os anos de 1850 a 1858.

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