a instituiÇÃo cristà espÍrita “lar de maria”: um templo …
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
LUCIANA DIAS DA COSTA
A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM
TEMPLO DE AMOR, CARIDADE E EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS
POBRES EM BELÉM – PA (1947-1960)
Belém/PA
2016
1
LUCIANA DIAS DA COSTA
A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”:
UM TEMPLO DE AMOR, CARIDADE E EDUCAÇÃO DE
CRIANÇAS POBRES EM BELÉM – PA (1947-1960)
Dissertação apresentada como requisito
obrigatório para a obtenção do título de Mestre em
Educação, no Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade do Estado do Pará.
Área de concentração: Educação.
Linha de Pesquisa: Saberes Culturais e Educação
na Amazônia.
Orientadora: Profa. Dr. Maria do Perpétuo
Socorro Gomes de Souza Avelino de França.
Belém/PA
2016
2
Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)
Biblioteca do CCSE/UEPA, Belém - PA
Costa, Luciana Dias da
A instituição cristã espirita “Lar de Maria” : um templo de amor, caridade
e educação de crianças pobres em Belém-PA (1974-1960) / Luciana Dias da Costa
; orientação de Maria do Perpétuo Socorro Gomes de Souza Avelino de França,
2016.
Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade do Estado do Pará,
Belém, 2016.
1. Educação-História-Belém-PA. 2. Espiritismo. 3. Instituições religiosas.
I.França, Maria do Perpétuo Socorro Gomes de Souza Avelino de (orient.). II.
Título.
21º ed. 370.9
3
LUCIANA DIAS DA COSTA
A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM
TEMPLO DE AMOR, CARIDADE E EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS
POBRES EM BELÉM – PA (1947-1960)
Dissertação apresentada como requisito obrigatório para
a obtenção do título de Mestre em Educação, no
Programa de Pós-Graduação em Educação da
Universidade do Estado do Pará.
Orientadora: Profa. Dr. Maria do Perpétuo Socorro
Gomes de Souza Avelino de França.
Data da defesa:___/___/2016.
Banca Examinadora:
_______________________________________ (Presidente/ Orientadora)
Profª. Dr. Maria do Perpétuo Socorro de Souza Avelino de França
Doutora em Educação – Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP/SP)
______________________________________ (Membro Interno)
Profª. Dr. Tânia Regina Lobato dos Santos
Doutora em Educação – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP)
_______________________________________(Membro Externo)
Profª. Dr. Laura Maria Silva Araújo Alves
Doutora em Psicologia da Educação – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUC/SP)
Belém/PA
2016
4
“Aos meus queridos pais, Carmen da Conceição
Dias e José Emídio Gonçalves da Costa; aos
meus irmãos Fabricio Miguel Dias da Costa e
Fábio Roberto Dias da Costa; e ao meu primo
Welington Pinheiro”.
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço inicialmente a DEUS, que foi meu maior porto seguro, por me acompanhar
durante essa árdua e intensa caminhada de dois anos, dando-me coragem e força nos
momentos de fraqueza.
Aos meus amados pais Carmen da Conceição Dias e José Emídio Gonçalves da Costa,
grandes exemplos de força, de coragem e de perseverança, a eles dedico essa vitória.
Obrigada! Amo vocês, Pai e Mãe!
Aos meus irmãos Fábio Roberto Dias da Costa e Fabrício Miguel Dias da Costa, que
contribuíram cada qual a sua maneira. Manos, amo vocês!
Sou também imensamente grata ao meu primo/irmão Welington Pinheiro, que me
ajudou lá no início desta caminhada e que não deixou de torcer por mim, para que eu pudesse
cumprir essa missão.
À minha querida orientadora Professora Doutora Maria do Perpétuo Socorro Gomes de
Souza Avelino de França, por toda dedicação e esforço em me orientar. Obrigada por
contribuir com tantos ensinamentos, tanto conhecimentos, tantas palavras de incentivo e
ajuda. Carrego tudo isso comigo juntamente com seu excelente exemplo de profissionalismo.
Que Deus continue sempre lhe abençoando.
As professoras Laura Maria Silva Araújo Alves e Tânia Regina Lobato dos Santos pelas
valiosas contribuições dadas durante a realização do exame de qualificação.
Ao Programa de Pós-Graduação, Stricto sensu da Universidade do Estado do Pará
(UEPA), por dar oportunidade às pessoas que se interessam em pesquisar a educação na
Amazônia.
Aos Professores do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGED-UEPA), pela
oportunidade de trilhar caminhos investigativos e de muito estudo sobre a educação.
Aos colegas do Grupo de pesquisa História da Educação da Amazônia (GHEDA), pelos
conhecimentos compartilhados.
A CAPES pela importante contribuição financeira para que esta pesquisa se
concretizasse.
À Fátima Santos, funcionária da instituição Lar de Maria que, prontamente,
disponibilizou documentos, colaborando para realização desta pesquisa. A todos os
funcionários do Centro Cultural Tancredo Neves (CENTUR), em especial os do setor dos
jornais microfilmados, guardiões da memória.
6
RESUMO
COSTA, Luciana Dias da. A Instituição Cristã Espírita “Lar De Maria”: um templo de
Amor, Caridade e Educação de Crianças Pobres em Belém – Pa (1947-1960). 2016. 184 f.
Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade do Estado do Pará, Belém, 2016.
O presente estudo teve como objetivo geral analisar os princípios da doutrina espírita que
serviram de base para a educação de crianças pobres na Instituição Cristã Espirita “Lar de
Maria”, no período de 1947 a 1960, em Belém do Pará. Os objetivos específicos se
constituem em: identificar os tipos de educação que eram oferecidos às crianças no “Lar de
Maria”; caracterizar a estrutura administrativa e os espaços educativos da Instituição; verificar
quais os critérios para a admissão de crianças no “Lar de Maria”; e investigar que
ensinamentos faziam parte da educação das crianças na instituição “Lar de Maria”. Para isso,
utilizo a pesquisa documental, na perspectiva da história cultural, tendo como principais
fontes de informações: o estatuto do “Lar de Maria”, as fotografias do acervo da referida
instituição e as notícias extraídas do jornal Folha do Norte, um dos principais impressos
jornalísticos em circulação entre os anos de 1947 a 1960. A discussão teórica é norteada por
estudiosos da história das instituições educativas, como: Magalhães (2012), Buffa e Nosella
(2009), Gatti (2002), Saviani (2007), Castanho (2005), Goffman (1961), Foucault (1987).
Além de estudiosos que versam sobre o Espiritismo, tais como: Santana (2006), Vilhena
(2008), Kardec (2013), Kloppenburg (1960), Vasconcellos (2010), Bettencourt Osb (2012),
Del Priore (2014) e diversos que discutem a história da Amazônia: Rocque (1968), Sarges
(2010), Sampaio (2015), entre outros. O “Lar de Maria” foi uma das primeiras instituições
fundamentadas na doutrina espírita criada em 1947, em Belém no Pará, por Oliveiros de
Assunção Castro, oficial da aeronáutica e seguidor do espiritismo. A instituição teve grande
expressividade na assistência e educação de crianças, oriundas dos bairros mais carentes da
capital, oferecendo alimentação e cuidados médicos, tendo se constituído em um espaço para
a divulgação da doutrina espírita. No “Lar de Maria”, as crianças recebiam instrução e
educação, fundamentadas nessa doutrina. A educação para o espiritismo é entendida como
aperfeiçoamento das faculdades do espírito. Ela compreende a bondade, o senso de justiça e o
cultivo da verdade. O de “Lar de Maria” atendia meninas de diversas idades ofertando-lhe
educação moral, espiritual, instrução primária e profissional doméstica. As festas realizadas
no Lar de Maria cumpriam tanto uma função educativa como um momento de propagação dos
preceitos espíritas, dentre as principais festas, destacam-se: o Natal, o Aniversário da
Instituição, a Festa da Criança, a Festa 7 de Setembro e a Semana Espírita. Os princípios da
doutrina espírita que sustentam a instituição são: caridade, amor e liberdade.
Palavras-chave: Instituição Cristã Espírita “Lar de Maria”. Espiritismo. Educação de
Crianças. História da Educação. Belém-Pará.
7
ABSTRACT
COSTA, Luciana Dias da. The Spiritist Christian Institution "Lar De Maria": a temple
of Love, Charity and Education of Poor Children in Belém – Pa (1947-1960). 2016. 184 f.
Dissertation (Master in Education) – University of Pará State, Belém, 2016.
The purpose of this study is to analyze the principles of the Spiritist doctrine that served as a
basis for the education of poor children in the Christian Home Institution "Lar de Maria",
from 1947 to 1960, in Belém do Pará. The specific objectives are: to identify the types of
education that were Offered the children in the "Lar de Maria", characterize the administrative
structure and educational spaces of the Institution, check the criteria for admission of children
not "Lar de Maria" and investigate what lessons were part of the education of children in the
institution "Lar de Maria". In order to do this,I use documentary research in the perspective of
cultural history, having as main sources of information: the institution’s statute, such as
photographs of the collection of the institutional link and news extracted from the Folha do
Norte newspaper one of the main press Between the years of 1947 to 1960. The theoretical
discussion is guided by scholars of the history of educational institutions such as Magalhães
(2012), Buffa and Nosella (2009), Gatti (2002), Saviani (2007), Brown (2005), Goffman
(1961), Foucault , And Priest (2014), as well as authors such as Santana (2006), Vardena
(2008), Kardec (2013), Kloppenburg (1960), Vasconcellos (2010), and several that discuss the
history of the Amazon: Rocque (1968), Sarges (2010), Sampaio (2015), among others. The
"Lar de Maria" was created in 1947, in Belém, Pará, by Oliveiros de Assunção Castro, an
aeronautics official and follower of spiritism. The institution had great expressiveness in the
care and education of children from the poorest neighborhoods of the capital, offering food
and medical care, and has become a space for spiritist doctrine. In the “Lar de Maria”, the
children received education, based on this doctrine. Education for spiritualism is understood
as an improvement of the faculties of the spirit. This education is composed of goodness, a
sense of justice, and the cultivation of truth. Maria's Home ministered to girls of diverse ages
offering them moral, spiritual, primary education and domestic professional education. The
celebrations held in the Lar de Maria fulfilled both an educational function and a moment of
propagation of the spiritist precepts, among the main festivals, which stood out: Christmas,
Institution's aniversary, Children's Party, 7th of September Party and Spiritist Week. The
principles of the spiritist doctrine that sustains the institution are: charity, love and freedom.
Keywords: Spiritist Christian Institution "Lar de Maria". Spiritism. Education of children.
History of Education. Belém-Pará.
8
LISTA DE IMAGENS
Imagem 1 Irmãs Fox ................................................................................................. 32
Imagem 2 Margaret e Kate Fox ................................................................................ 33
Imagem 3 Mesas Girantes ou Volantes .................................................................... 35
Imagem 4 Mesas volantes: introdução ao Espiritismo entre a Burguesia da
Europa......................................................................................................
37
Imagem 5 Allan Kardec ............................................................................................ 39
Imagem 6 Luiz Olímpio Teles de Menezes .............................................................. 43
Imagem 7 Primeira página de Ècho d’Além-Tumulo, primeiro jornal dedicado ao
espiritismo no Brasil ................................................................................
46
Imagem 8 Francisco Solerno Moreira ...................................................................... 54
Imagem 9 Oliveiros de Assunção Castro ................................................................. 59
Imagem 10 Casa de Paulo de Tarso – Maranhão ....................................................... 60
Imagem 11 Parte do cartão comemorativo de fundação ............................................ 68
Imagem 12 Terreno doado pela prefeitura ao lado do Mercado de São Brás
(1947).......................................................................................................
69
Imagem 13 Planta da Instituição “Lar de Maria” (1947)............................................ 69
Imagem 14 Pedra Fundamental para a Construção do “Lar de Maria”....................... 71
Imagem 15 O engenheiro e arquiteto Judah Levi e trabalhadores da obra
(1947).......................................................................................................
72
Imagem 16 Edificação do “Lar de Maria”(1947)........................................................ 76
Imagem 17 Campanha do Quilo nas ruas (1947)........................................................ 77
Imagem 18 Campanha do Quilo e seus Legionários (1947)....................................... 78
Imagem 19 Distribuição da Sopa aos Pobres – sede provisória (1947)...................... 79
Imagem 20 Construção dos primeiros alicerces da Instituição Lar de Maria
(1949).......................................................................................................
80
Imagem 21 Parte Central da Instituição “Lar de Maria” em fase de acabamento
(1954).......................................................................................................
81
Imagem 22 Prédio do “Lar de Maria” totalmente construído (1957).......................... 81
Imagem 23 Instituição “Lar de Maria” (1957)............................................................ 83
Imagem 24 Distribuição do espaço físico da instituição “Lar de Maria”.................... 84
Imagem 25 Berçário.................................................................................................... 86
Imagem 26 Ambulatório ............................................................................................. 87
Imagem 27 Salão Central da Escola ........................................................................... 88
Imagem 28 Teatro........................................................................................................ 89
Imagem 29 Interna tocando Piano .............................................................................. 90
Imagem 30 Refeitório.................................................................................................. 90
Imagem 31 Dia da inauguração da Instituição Cristã Espirita “Lar de
Maria”(1957)............................................................................................
92
Imagem 32 Senhor Otávio Beltrão (1957).................................................................. 93
Imagem 33 Coquetel servido na inauguração da instituição (1957)........................... 95
9
Imagem 34 Dr. Salomão Levy delegado da Federal da Criança, Oswaldo Pacheco
Dillon (1957)............................................................................................
95
Imagem 35 Crianças no Berçário do “ Lar de Maria” (1957)..................................... 97
Imagem 36 Instituição Cristã Espírita “Lar de Maria”................................................ 98
Imagem 37 Três irmãs: Lúcia, Maria Augusta e Iolanda ........................................... 109
Imagem 38 As duas irmãs: Raimunda e Meriete......................................................... 110
Imagem 39 Órfão recém-chegado à instituição........................................................... 114
Imagem 40 Grupo de alunas e professoras do Departamento de Prendas .................. 126
Imagem 41 Alunas do Departamento de Prendas do “Lar de Maria” ........................ 127
Imagem 42 Alunas na confecção de Doces ................................................................ 128
Imagem 43 Alunas na confecção de Frios .................................................................. 128
Imagem 44 Aniversário da Instituição “Lar de Maria”, crianças brincando junto
com diretores (1958)................................................................................
132
Imagem 45 Aniversário da Instituição “Lar de Maria” crianças brincando
(1958).......................................................................................................
133
Imagem 46 Aniversário da Instituição “Lar de Maria” crianças à mesa (1958)....... 133
Imagem 47 Aniversário da Instituição “Lar de Maria” interna recebendo presente
(1958).......................................................................................................
135
Imagem 48 Banda Flor de Lys no aniversário da Instituição “Lar de Maria” ........... 136
Imagem 49 Festa da Criança no ano de 1959.............................................................. 139
Imagem 50 Festa da Criança no ano de 1959.............................................................. 139
Imagem 51 Festa da Criança no ano de 1959.............................................................. 140
Imagem 52 Festa da Criança no ano de 1959, interna recitando ou apresentando...... 141
Imagem 53 Crianças do Lar de Maria organizadas para o desfile militar 7 de
Setembro...................................................................................................
142
Imagem 54 Crianças do Lar de Maria organizadas para o desfile militar 7 de
Setembro-Bairro São Brás........................................................................
142
Imagem 55 Internas, Assistentes e Oliveiros de Castro cantando Canção da
Alegria Cristã...........................................................................................
143
Imagem 56 Reuniões públicas..................................................................................... 156
10
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Espiritismo e suas realizações no Brasil ............................................... 47
Quadro 2 O Espiritismo no Brasil – População Espírita 1950............................... 48
Quadro 3 Espiritismo e suas realizações no Pará .................................................. 55
Quadro 4 Canção da Alegria Cristão e Canção de Exortação do Mestre ........... 61
Quadro 5 Canção Quem Canta ............................................................................. 62
Quadro 6 Grupos espíritas de Belém..................................................................... 74
Quadro 7 Constituição da Primeira Diretoria – 1957............................................ 101
Quadro 8 Constituição da Diretoria – 1959 a 1961............................................... 102
Quadro 9 Programação da Festa da Criança – 1958.............................................. 137
Quadro 10 Atividades à comunidade....................................................................... 144
11
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................. 13
1 MOTIVAÇÃO DO ESTUDO.................................................................................... 13
2 PROBLEMA E OS OBJETIVOS DO ESTUDO..................................................... 15
3 INSTITUIÇÕES EDUCATIVAS............................................................................. 18
4 A PESQUISA DOCUMENTAL, CORPUS DA PESQUISA E O
PROCEDIMENTO DE ANÁLISE..............................................................................
21
SEÇÃO 1: AS ORIGENS DO ESPIRITISMO: de espetáculo de entretenimento
à doutrina de caridade ao próximo..............................................................................
31
1.1 O ESPIRITISMO NOS ESTADOS UNIDOS E NA FRANÇA...................... 31
1.2 A CHEGADA DO ESPIRITISMO NO BRASIL............................................. 42
1.3 ESPIRITISMO EM BELÉM DO PARÁ........................................................... 48
SEÇÃO 2: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: a
construção do prédio e dos seus espaços educativos...................................................
58
2.1 OLIVEIROS DE ASSUNÇÃO CASTRO: o criador do “Lar de Maria”.......... 58
2.2 A CONSTRUÇÃO DO “LAR DE MARIA”: Espaço Físico Educativo........... 66
2.3 AS INICIATIVAS PARA A EDIFICAÇÃO DO “LAR DE MARIA”............ 72
2.4 A INAUGURAÇÃO DO “LAR DE MARIA”.................................................. 91
SEÇÃO 3: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA LAR DE MARIA: assistência
e educação às crianças pobres......................................................................................
98
3.1 A ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DO “LAR DE MARIA”.............. 99
3.2 A INTERNAÇÃO E OS INTERNADOS NA INSTITUIÇÃO ESPÍRITA
“LAR DE MARIA”...........................................................................................
107
3.3 INSTRUÇÃO E EDUCAÇÃO NA INSTITUIÇÃO “LAR DE MARIA”....... 121
3.4 FESTAS NA INSTITUIÇÃO ESPÍRITA “LAR DE MARIA”....................... 130
3.5 A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA LAR DE MARIA: atendimento aos
mais necessitados...............................................................................................
144
CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................... 147
12
FONTES CONSULTADAS.........................................................................................
152
REFERÊNCIAS............................................................................................................ 156
ANEXOS........................................................................................................................ 163
ANEXO A – Estatuto do Lar de Maria...........................................................................
164
APÊNDICES................................................................................................................. 180
APÊNDICE A – Dissertações de Mestrado do Pará....................................................... 181
APÊNDICE B – Produções Nacionais........................................................................... 182
13
INTRODUÇÃO
1 MOTIVAÇÃO DO ESTUDO...
A pesquisa, intitulada Instituição Cristã Espírita “Lar de Maria”: um Templo de Amor,
Caridade e Educação de Crianças Pobres em Belém do Pará (1947 – 1960), está vinculada
ao Programa de Pós-Graduação em Educação Stricto sensu (PPGEd), da Universidade do
Estado do Pará (UEPA) e faz parte da linha de pesquisa Saberes Culturais e Educação na
Amazônia, que investiga temas educacionais relacionados ao contexto brasileiro e amazônico.
Além disso, tem como objetivo contribuir para a construção de práticas sócio-culturais, ética,
epistemológica e politicamente, comprometidas com os saberes de grupos socialmente
excluídos, bem com fortalecer a identidade cultural da Amazônia.
Acrescento que a presente pesquisa está vinculada também ao Grupo de Pesquisa
História da Educação na Amazônia (GHEDA) da UEPA, que integra a linha de História das
Instituições Educativas, Intelectuais e Impressos, e tem como objetivo investigar e debater
temas ligados a História da Educação, especificamente sobre as instituições educativas,
intelectuais e as suas ideias em diferentes tempos históricos.
O interesse em desenvolver pesquisa referente à educação de crianças se originou ao
longo da realização de meu curso de Pedagogia (2005), na Universidade Federal do Pará
(UFPA), a partir da realização das disciplinas: História Geral da Educação (2005) e História
da Educação Brasileira e da Amazônica (2006), Fundamentos Teórico Metodológico da
Educação Infantil (2007) e Prática de Ensino da Educação Infantil (2007). Tais disciplinas
foram muito significantes na minha vida acadêmica, visto que suscitou o interesse em estudar
aspectos inerentes a criança, no que concerne a educação da infância, ao processo de ensino e
aprendizagem, saberes e as práticas produzidas para educação delas, entre outras.
Já a motivação em investigar, particularmente, a história de instituição educativa,
voltada à assistência e educação de crianças, surgiu em 2012, durante a realização do I
Seminário de História da Infância na Amazônia, promovido pelo grupo de Pesquisa
Constituição do Sujeito (ECOS), do Instituto de Ciência da Educação (ICED), da
Universidade Federal do Pará, que tinha o intuito de ampliar o debate a respeito da Infância
do século XIX ao XX, promovendo discussões sobre práticas culturais, educação escolar, a
criança desvalida, instituições de asilamento, castigos e violência escolar etc.
Os objetivos desse seminário era reunir professores e pesquisadores da Educação para
discutir e problematizar sobre a história da infância na Amazônia, bem como: divulgar
estudos sobre infância, educação e cultura, realizados pelo grupo ECOS; promover também
14
intercâmbio entre os pesquisadores por intermédio de reflexão e diálogo a respeito da
Educação e Estudos sobre a Infância na região Amazônica.
Além desses objetivos, o Seminário objetivava: aprofundar conhecimentos sobre as
diversas abordagens teórico-metodológicas nas pesquisas sobre a Educação, Cultura e
História da Infância; refletir criticamente sobre a importância da história da infância, como
meio para resgatar a infância do século XIX e século XX, entre os Mestrandos e Doutorandos
do grupo ECOS; consolidar as pesquisas realizadas pelos pesquisadores e dos professores
pesquisador do PPGEd da UFPA; e por fim aproximar os alunos de Graduação com as
pesquisas realizadas pelo Grupo ECOS na Pós-Graduação em Educação.
Durante esse evento, tive a oportunidade de conhecer pesquisas sobre a educação da
infância na região amazônica e, dessa maneira, ampliar o interesse em estudar a temática das
instituições educativas. A partir disso, busquei aprofundar os meus estudos sobre a história da
educação da infância desvalida no Brasil e das instituições educativas destinadas às crianças,
por meio de leituras de autores renomados, como: Phillip Ariés (1981), Del Priore (1999),
Kramer (1992), Magalhães (2012), Buffa e Nosella (2009), Gatti Jr. (2002), Saviani (2007) e
de anais de eventos de História da Educação, que socializavam estudos sobre as instituições
para o cuidado e assistência à infância.
Na busca de informações sobre as instituições educativas, criadas em Belém no século
XIX e XX, deparei-me com o site chamado Nostalgia Belém1, que apresenta fragmentos da
história da cidade de Belém do Pará, vividos por quase 400 anos de fundação, seja a partir de
propagandas, personalidades, fatos marcantes, instituições, entre outros. Em um dia de visita
ao site, deparei-me com a divulgação de fotos e informação sobre a Instituição Cristã Espírita
“Lar de Maria”, ao fazer a leitura dessa postagem, percebi que essa instituição teve um papel
relevante na assistência e na educação de crianças pobres em Belém do Pará a partir do ano de
1947.
Após esse primeiro contato, alguns fatores fizeram com que o “Lar de Maria” fosse
escolhido como objeto de investigação: primeiro por se tratar de espaço para o atendimento e
a educação de crianças pobres de Belém; segundo por ser uma das primeiras instituições
fundamentadas na doutrina espírita, criadas no Pará, com a finalidade de atender e educar a
infância desvalida; e, por fim, por não ter ainda estudos que se ‘debruçaram’ em pesquisá-la
na perspectiva histórica.
1Disponível em: < http://www.nostalgiabelem.com/>. Acesso em: 14 fev. 2015.
15
O interesse em realizar um estudo sobre História das instituições educativas,
especificamente a instituição “Lar de Maria” se ampliou a partir da minha aprovação no
processo seletivo em 2014 do Programa de Pós-Graduação em Educação Stricto sensu
(PPGEd) da Universidade do Estado do Pará (UEPA) quando elaborei e apresentei uma
proposta de pesquisa voltada ao estudo da instituição Cristã Espírita “ Lar de Maria” que já
vinha estudando e investigando, antes mesmo do meu ingresso no Programa.
No decorrer do estudo, outro momento, fundamental para consolidação do meu
interesse em de estudar a Instituição “Lar de Maria”, foi quando descobri, ao manusear o
jornal Folha do Norte, no setor de impressos microfilmados da Biblioteca Arthur Viana,
localizada no Centro Cultural Tancredo Neves (CENTUR), a coluna espírita que trazia
semanalmente notícias detalhadas sobre o “Lar de Maria”. A partir disso pude constatar que o
referido jornal possibilitava a realização de minha pesquisa sobre a citada instituição.
2 PROBLEMA E OS OBJETIVOS DO ESTUDO
Ao eleger estudar o “Lar de Maria” tive a necessidade de fazer um estudo exploratório
no site da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) para
saber o que já havia sido produzido sobre as instituições educativas espíritas no Brasil. No
levantamento realizado no ano de 2014, constatei que há poucos estudos acadêmicos sobre o
atendimento e a educação da criança desvalida em instituições, pautadas nos princípios do
espiritismo, o que reforçou ainda mais o meu interesse para investir sobre a relação entre
doutrina espírita, educação, assistência e infância.
O levantamento no Banco de Teses e Dissertações da Capes2 teve como marco temporal
os anos de 2000 a 2015. Para rastrear as produções, selecionei expressões gerais, como:
Instituição e Infância e História da Infância no Pará; bem como expressões específicas à
temática: Instituição Espírita, Infância e Espiritismo e Educação e Assistência no
Espiritismo. Essa busca resultou em 16 trabalhos: onze dissertações de Mestrado e cinco
teses de Doutorado.
Nas produções desenvolvidas sobre a história da educação da infância, no Pará,
identifiquei quatro trabalhos, como demonstrado no APÊNDICE A, sendo: duas dissertações
de Mestrado na Universidade Federal do Pará (UFPA) e três dissertações de Mestrado na
Universidade do Estado do Pará (UEPA). Os trabalhos apresentados abordam instituições
2 Disponível em:< http:// http://www.capes.gov.br/component/content/article?id=2164>. Acesso em: 14 fev.
2015.
16
mantidas pelo poder público, municipal e congregações religiosas que abrangem o século XIX
e XX no atendimento à criança desvalida.
No cenário nacional, o rastreamento sinalizou doze produções, sistematizadas no
APÊNDICE B, sendo: cinco teses de Doutorado e sete dissertações de Mestrado. A
distribuição geográfica de produção dos estudos corresponde a três estudos no Sul, nas:
Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e
Universidade Estadual de Maringá (UEM); um estudo na Universidade Federal do Mato
Grosso do Sul (UFMS) e cinco estudos no Sudeste, sendo: dois na Universidade Federal de
Uberlândia (UFU), um na Universidade Severino Sombra (USS), um pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC), um pela Universidade de Sorocaba (UNISO). No
Nordeste figuram três estudos: um na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), um na
Universidade Federal do Sergipe (UFS) e um na Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRS).
A partir do demonstrativo representado pelo levantamento das produções desenvolvidas
tanto regionalmente quanto nacionalmente, foi possível perceber que são poucas as pesquisas
que se aproximam do meu objeto de estudo, pois somente identifiquei os estudos: Lar escola
Dr. Leocádio José Correia: história de uma proposta de formação na perspectiva
educacional espírita (1963-2003), de Fucker (2009); e Educandário Espírita Ituiutabano:
caminhos cruzados entre inovação e sua organização conservadora. Ituiutaba, Minas Gerais
(1954-1973), de Neto (2009). Na maioria dos trabalhos encontrados, ainda é bem evidente a
relação entre Igreja Católica e Educação da infância.
Fucker (2009), em sua dissertação de Mestrado defendida em 2009, no Programa de
Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná, pesquisou sobre a trajetória
histórica da Instituição “Lar Escola Dr. Leocádio José Correia”, no período entre 1963 e 2003.
A autora constata, por meio de fontes escritas e orais, que a fundação dessa instituição em
Curitiba foi realizada dia 15 de janeiro de 1963 pelo professor e médium, Maury Rodrigues da
Cruz, integrante da Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas (SBEE).
A autora, ainda, destaca que, era uma instituição filantrópica e educacional, destinada a
acolher, a educar e a amparar meninos órfãos. Além disso, tinha por objetivo estudar as
manifestações espíritas, divulgar os princípios da doutrina dos espíritos e proporcionar
assistência social às famílias carentes.
Sobre a criação dessa instituição que fazia referência aos princípios doutrinários
espíritas e uma proposta pedagógica que norteava um ensino que valorizava a razão, Fucker
(2009, p. 18) assinala que:
17
O Lar Escola Dr. Leocádio José Correia sendo uma Instituição espírita,
possui princípios norteadores de todas as ações, voltados para a
espiritualização do homem. O homem espiritualizado exercita o domínio
mental, a fé racional, a força do autoconhecimento, a reflexão crítico-
consciente, num processo diário e permanente, busca na força do
conhecimento, alegria, compreensão, amor e identidade com o próximo.
Os trabalhos educativos e assistenciais do Lar Escola Dr. Leocádio era mantido por
meio de voluntários, mas depois houve o convênio com prefeitura e com a secretaria de
educação, assim permitindo novos professores para o ensino na instituição.
Fucker (2009) aponta que a Instituição segue o referencial da doutrina espírita pautada
na relação de construção da pessoa humana, juntamente com a prática de amor e caridade na
educação.
Sobre a relevância da pesquisa realizada, Fucker (2009) aponta que contempla aspecto
de uma educação diferenciada por sustentar uma prática na doutrina espírita, na cultura
escolar espírita que educa por meio do amor, do espiritismo que forma o um sujeito com
ideal, força para agir no mundo e muda-lo.
Frattari Neto (2009), ao estudar sobre o Educandário Espírita Ituiutabano: caminhos
cruzados entre inovação e sua organização conservadora. Ituiutaba, Minas Gerais (1954-
1973), por meio de documentação escolar, analisou: atas, relatório anuais e processos de
abertura, atas de Câmara de dos vereadores, impressa local, fotos e entrevistas com ex-
funcionários, ex-professores e ex-alunos. Sua dissertação de Mestrado foi defendida em 2009,
pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Uberlândia, onde
ficou constatado que o Educandário Ituiutabano, em Minas Gerais, foi construído e mantido
pela União Espírita de Ituiutaba (UMEI) e também por meio de campanhas.
O autor ainda salienta que o Educandário se assemelha as outras experiências educativas
espíritas no Brasil. E que este se propôs sanar uma carência educacional na cidade de
Ituiutaba, apresentando uma proposta educativa pautada na filosofia espírita para formação de
um homem integral. Além disso, o Educandário era aberto para todas as pessoas, fornecendo
ensino do Espiritismo, formação moral do Ser, fundamentado na prática de caridade e
assistência.
O cenário delineado do que se tem produzido nos últimos anos por esse rastreamento,
revela que tal temática ainda é bastante fértil em termos de investigação e, no caso do
contexto paraense, isso se torna relevante para ser alvo de investimentos de pesquisadores da
História da Educação, tendo em vista que nenhum estudo foi encontrado sobre o objeto de
estudo “Instituição Lar de Maria”.
18
A partir do que ainda pouco se conhece sobre o “Lar de Maria”, delimitei o seguinte
problema de pesquisa: que princípios da doutrina espírita serviram de base para a
educação das crianças na instituição Cristã Espírita “Lar de Maria”, no período de 1947
a 1960?
Para responder tal questionamento, o objetivo geral da investigação é:
Analisar os princípios da doutrina espirita que serviram de base para a educação de
crianças no “Lar de Maria”, no período de 1947 a 1960, em Belém do Pará.
Os objetivos específicos são:
Identificar os tipos de educação que eram oferecido as crianças no “Lar de Maria”.
Caracterizar a estrutura administrativa e os espaços educativos da Instituição “Lar de
Maria”.
Verificar quais os critérios para a admissão de crianças no “Lar de Maria”.
Investigar que ensinamentos faziam parte da educação das crianças na instituição “Lar
de Maria”.
A delimitação temporal da investigação se justifica por 1947 ser o ano de criação do
“Lar de Maria”, e 1960 demarcar os três primeiros anos de funcionamento da instituição em
prédio próprio, uma vez que a inauguração do prédio que abrigava as crianças foi em 1957,
ano em que foi concluído. Isso pode ajudar a compreender como foi a implantação e a
dinâmica dessa instituição nos seus primeiros anos de seu funcionamento.
3 INSTITUIÇÕES EDUCATIVAS
Esta pesquisa se insere no campo temático da História das Instituições Educativas que,
por sua vez, está inserido no campo mais abrangente, o da História da Educação. Segundo
Magalhães (1999, p.67), a história da educação apresenta-se como área de conhecimento que
tem como objeto de estudo a educação, “[...] a partir de uma abordagem historiográfica, com
base em conceitos e conceptualizações de natureza pedagógica/educacional: antropológicos,
filosóficos, didáticos, sociológico, psicológico, axiológicos, organizacionais,
historiográficos”.
Para Saviani (2007, p. 5), as instituições são espaços criados pelo homem com intuito de
satisfazer as necessidades humanas, logo, às instituições são geradas como unidades de ação
que se constituem “[...] como um sistema de práticas com seus agentes e com os meios e
instrumentos por eles operados tendo em vista as finalidades por elas perseguidas”, portanto,
as instituições são impreterivelmente sociais.
19
Além disso, as instituições são também histórias e transitórias, logo, não pode ser
considerada estagnada. Saviani (2007, p.5) ainda afirma que a “[...] sua transitoriedade se
definem pelo tempo histórico e não, propriamente, pelo tempo cronológico e, muito menos,
pelo tempo psicológico”.
Saviani (2007, p.5) destaca que:
Para satisfazer necessidades humanas as instituições são criadas como
unidades de ação. Constituem-se, pois como um sistema de práticas com
seus agentes e com os meios e instrumentos por eles operados tendo em vista
as finalidades por eles perseguidas. As instituições são, portanto,
necessariamente sociais, tanto na origem, já que determinadas pelas
necessidades postas pelas relações entre os homens, como no próprio
funcionamento, uma vez que se constitui como conjunto de agentes que
travam relações entre si e com a sociedade a qual servem.
Sergio Castanho (2005, p. 40) apropria-se desse pensamento, quando ressalta que a “[...]
instituição educativa é um termo mais amplo e abrange não somente a escola, como a
conhecemos, no seu envolver histórico, mas também outras formas sociais duradoras, em que
se desenrola o processo de transmissão cultural”.
A discussão em torno do campo da História da Educação no Brasil, especificamente no
campo temático da história das instituições, de acordo com Buffa e Nosella (2009), surge a
partir dos anos 90, mas de forma esporádica. Com a expansão dos programas de Pós-
Graduação em educação nos anos de 1970 e 1980, houve o crescimento de estudos nessa
direção.
A História das Instituições Educativas, em termos cronológico, é uma recente tendência
da historiografia e vem obtendo grandes avanços de estudos na história da educação no Brasil.
Segundo Gatti Jr. (2000, p.135), as instituições educativas:
Correspondem a uma tendência nova da historiografia, a qual atribui
significância epistemologia e temática ao exame das singularidades sociais
em detrimento das precipitadas análise de conjunto, que, sobretudo, na área
educacional na área educacional faziam-se presente. Os textos de História da
Educação mais utilizados nos Cursos de Pedagogia brasileiros da atualidade
têm como característica um tipo de análise macro-sociológica, com pouco ou
nenhum trato com as fontes primárias que foram substituídas quase sempre
pela consulta às fontes secundárias.
Estudar a história das instituições educativas permite compreender discursos e práticas
vivenciadas por seus sujeitos tanto no interior da instituição quanto também ao seu entorno,
direcionando para o seu plano histórico, social e também cultural.
No entendimento de Magalhães (1998, p. 63-64),
20
[...] no plano histórico, uma instituição educativa é uma complexidade
espaço-temporal, pedagógica, organizacional, onde se relacionam elementos
matérias e humanos, mediante papéis e representações diferenciados,
entretecendo e projetando futuro (s), (pessoais), através de expectativas
institucionais. É um lugar de permanentes tensões. [...] são projetos
arquitetados e desenvolvidos a partir de quadros sócio-culturais.
Segundo Gatti Jr. (2002, p. 20), a História das Instituições Educativas vem propor e
investigar ações que passam no interior da escola, elementos esses que direcionam a
identidade da instituição. Essa investigação passa pela: “[...] apreensão daqueles elementos
que confere identidade à instituição educacional, ou seja, daquilo que lhe confere um sentido
único no cenário social do qual fez, ou ainda faz parte, mesmo que ela tenha se transformado
no decorrer dos tempos [...]”.
Nas palavras de Sanfelice (2007, p.77), “[...] uma instituição escolar ou educativa é a
síntese de múltiplas determinações de variadas instância como política, cultural, religiosa,
ideológica, dentre outras, que agem e interagem entre si”, logo, ao estudar uma instituição
educativa será necessário considerar essas instâncias que por ela perpassam.
Por isso, ao investigar uma instituição educativa deve-se buscar compreender o
desenvolvimento, ou seja, sua criação, suas crises, sua arquitetura, seus alunos e docentes,
seus projetos e suas propostas pedagógicas. Dessa maneira, ao estudar a história das
instituições escolares, o pesquisador deve ir além dos aspectos interiores que formam uma
instituição, pois uma instituição manifesta sua identidade não apenas no seu interior, mas
também no seu entorno, este que caminha junto à instituição, direcionando, desse modo, a
uma dimensão cada vez mais macro de seu contexto histórico.
Buffa e Nosella (2002) dizem que pesquisar as instituições educativas é uma forma de
direcionar uma análise da história e da filosofia da educação brasileira, sendo que, neste
sentido, as instituições estão impregnadas de valores de cada época. No que tange
especificamente às instituições de educação para crianças, é notável que o projeto educacional
nelas desenvolvidos, de modo geral, articulava-se ao próprio discurso social referente ao
papel que a criança deveria desenvolver na sociedade, o que vai estar bastante implícito,
inclusive, nas disciplinas, cursos e atividades realizadas pelas crianças nas instituições.
É importante salientar que as pesquisas sobre a história das instituições, nos últimos
anos, são voltadas aos estudos ligados às instituições regionais, direcionadas às
especificidades e as singularidades locais, mas sem perder de vista a realidade mais ampla,
isto é, o sistema educacional. Para Magalhães (1996, p.2):
21
Compreender e explicar a existência histórica de uma instituição é, sem
deixar de integrá-la na realidade mais ampla que é o sistema educativo,
contextualizá-la, implicando no quadro de evolução de uma comunidade e de
uma região, é por fim sistematizar e (re)escrever-lhe o itinerário de vida na
sua multi-mensionalidade, conferindo um sentido histórico.
Desse modo, pretendo, com base nessa discussão teórica da História das Instituições
Educativas, investigar, neste estudo, o “Lar de Maria” em suas várias possibilidades de
materialização, no que diz respeito ao espaço físico, as festas, aos objetos materiais e seus
usos, as ideias e os princípios, propagados no tempo e espaço da educação e assistência das
crianças, assim como compreender tal instituição em sua relação com o contexto social,
político e econômico, onde ela está historicamente situada.
4 A PESQUISA DOCUMENTAL, CORPUS DA PESQUISA E O PROCEDIMENTO
DE ANÁLISE
A presente pesquisa se caracteriza como do tipo documental, pois fez uso de
documentos para situar e analisar o contexto da cidade de Belém à época e a assistência e
educação de criança do “Lar de Maria”. Segundo Oliveira (2007), nesse tipo de pesquisa, os
dados são coletados em fontes disponibilizados em certos locais, como: bibliotecas, arquivos
públicos, secretarias etc. Estes devem possibilitar, ao pesquisador, descrever, comparar,
estabelecer associações, conexões e diferenças ao longo do tempo.
Na compreensão de Carvalho (1989, p. 154), a pesquisa documental:
[...] é aquela realizada a partir de documentos considerados autênticos (não-
fraudados); tem sido largamente utilizada na investigação histórica, a fim de
descrever/comparar fatos sociais, estabelecendo suas características ou
tendências; além das fontes primárias, os documentos propriamente ditos,
utilizam-se as fontes chamadas secundárias, como dados estatísticos,
elaborados por institutos especializados e considerados confiáveis para a
realização da pesquisa.
Já no entendimento de Rodrigues e França (2010, p. 55), a pesquisa documental “[...]
utiliza materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que podem passar por
novas análises de acordo com os objetivos da pesquisa”. Nessa mesma visão, Gil (2008),
ressalta que esses materiais, ainda, podem ser reelaborados, de acordo com os objetivos da
pesquisa, e podem ser: relatórios, cartas, filmes, mapas, jornais, gráficos, fotografias, entre
outros.
22
Ainda que a pesquisa documental seja pouco utilizada na área da educação, conforme
Cellard (2008), o uso de documentos, inserido nesse tipo de pesquisa, deve ser apreciado e
valorizado, pois eles possuem muitas informações sobre as atividades humanas em uma
determinada época, assim, justifica o seu uso em várias áreas das Ciências Humanas e Sociais,
pois possibilitará a ampliação do entendimento de seus objetos, cuja compreensão necessita
de contextualização histórica e sócio-cultural. Nesse sentido,
[...] o documento escrito constitui uma fonte extremamente preciosa para
todo pesquisador nas ciências sociais. Ele é, evidentemente, insubstituível
em qualquer reconstituição referente a um passado relativamente distante,
pois não é raro que ele represente a quase totalidade dos vestígios da
atividade humana em determinadas épocas. Além disso, muito
frequentemente, ele permanece como o único testemunho de atividade
particulares ocorridas nem passado recente. (CELLARD, 2008, p. 295).
Definir o que seria um documento não é tão simples assim, pois são inúmeros conceitos
direcionando ao que seria um documento, nas palavras de Cellard (2008, p. 296) “[...] definir
o documento representa em si um desafio”. A partir do resgate da definição da palavra
“documento”, no dicionário de Rios (1997, p. 211), este pode ser: “[...] 1. Aquilo que ensina
ou serve de exemplo ou prova de um acontecimento. 2. Título. 3. Qualquer objeto que
comprove, prove ou registre um fato”. Já para Phillips (1974, p. 187), documento é “[...]
quaisquer materiais escritos que possam ser usados como fonte de informação sobre o
comportamento humano”. Esses conceitos mostram claramente o documento como um
material escrito.
Appolinário (2009, p.67) amplia essa definição de documento aqui apresentada, quando
destaca que documentos são: “[...] qualquer suporte que contenha informação registrada,
formando uma unidade, que possa servir para consulta, estudo ou prova. Incluem-se nesse
universo os impressos, os manuscritos, os registros audiovisuais e sonoros, as imagens, entre
outros”.
Nessa mesma direção de ampliar a compreensão de documentos, Samara e Tupy (2007,
p.68 apud RODRIGUES; FRANÇA, 2010, p. 55-56, grifo das autoras) afirmam que:
[...] Os documentos assumem hoje as mais variadas formas e podem ser
encontrados nos mais diferentes lugares. As informações que se pretende
obter de um determinado objeto de estudo podem ser encontradas em livros,
revistas, correspondências, diários, noticiários de rádio, televisão, filmes,
internet, produções iconográficas, testemunhos orais, entre tantas outras.
“Logo diferentemente do passado, a democratização do conhecimento
incentiva uma rica discursão sobre a definição de documento, permitindo
23
afirmar que a pesquisa histórica não se restringe ao espaço especializado do
arquivo”.
Além disso, a pesquisa documental reúne os documentos em dois tipos de fontes: as
primárias e as secundárias. “[...] Comumente a diferença entre as fontes primárias –
testemunho direto – e as fontes secundárias – testemunho indireto –, demanda certo cuidado
do pesquisador, visto ser possível utilizar as segundas como fontes primárias. [...]”
(RODRIGUES; FRANÇA, 2010, p. 60)
Segundo Sá-Silva, Almeida e Guindani (2009), o pesquisador que vier trabalhar com
documentos deve explorar o máximo esse documento para obter informação. Ele irá assumir
uma postura de investigador, examinando, criticando e analisando esses documentos, que
serão usados técnicas adequadas para seu manuseio e análise. Esse investigador partirá de
etapas e procedimentos, direcionando a uma organização de informações que serão
posteriormente categorizadas e analisadas, e, ao final, será elaborada uma síntese. Por isso, a
ação do pesquisador, que utiliza documentos para compreender um determinado objeto, deve
ter clareza que as suas escolhas refletem exatamente nos resultados da pesquisa.
Rodrigues e França (2010, p. 60-61) direcionam para a atenção do pesquisador perante a
ação com as suas fontes, assim:
O pesquisador, ao se debruçar sobre a leitura de um documento histórico,
deve identificar a sua forma material, seu conteúdo, os objetivos de quem o
produziu, de quem o lê e interpreta. Quando se inicia uma pesquisa
documental, é preciso conhecer a história do documento que se tem em mão,
buscando apreender sob que condições ele foi produzido, quem o escreveu,
deve identificar-se a sua forma material e o conteúdo que aborda [...] Na
análise documental, é preciso considerar que nenhum documento é neutro.
As fontes de informação deste estudo são: jornais impressos, o estatuto do “Lar de
Maria” e o acervo fotográfico pertencente à instituição. Os jornais selecionados e pesquisados
são a Folha do Norte, assim como recorremos as matérias mais contemporâneas que tratam da
história da instituição estudada como as do jornal O Liberal. Aqueles disponibilizados no
setor de impresso microfilmados; e estes na hemeroteca, ambos da Biblioteca Pública “Arthur
Viana”, no CENTUR, localizada na av. Gentil Bittencourt, n. 650, Nazaré, Belém – PA.
No jornal Folha do Norte havia uma coluna denominada Religiões e Crenças que
permitiu a obtenção de inúmeras informações sobre o “Lar de Maria”, uma vez que esta
coluna abordava de modo recorrente os princípios da doutrina espírita, as ações e as
campanhas referentes a essa instituição.
24
Esse jornal foi fundado no ano de 1896 por Enéas Martins e Cypriano Santos, com o
objetivo de combater a política de Antônio Lemos, o proprietário do jornal A Província do
Pará. No ano 1922, a Folha do Norte passou a ser administrado pelo jornalista Paulo
Maranhão, tendo permanecido no cargo até sua morte em 1966. Em seguida, assume o jornal
o seu filho Clóvis Maranhão que, no ano de 1973, vende esse jornal de circulação em Belém
para o empresário Rômulo Maiorana, este que, em seguida, deu outra denominação para o
jornal que ficou conhecido como O Liberal. (JORNAIS PARAOARAS, 1985, p. 154).
É importante salientar que o jornal Folha do Norte era representado pelo Partido
Republicano Federal da época, capitaneado por Lauro Sodré.
Capelato (1988, p. 24-25) me direciona para a atenção ao jornal enquanto veículo que
uma sociedade produz, permeado de práticas sociais e reflexões de uma determinada época.
Nas palavras do autor:
Sua existência é fruto de determinadas práticas sociais de uma época. A
produção desse documento pressupõe um ato de poder no qual estão
implícitas relações a serem desvendadas. A imprensa age no presente e
também no futuro, pois seus produtores engendram imagens da sociedade
que serão reproduzidas em outras épocas.
Espig (1998, p. 274) defende que o jornal é um documento histórico importante para as
pesquisas, uma vez que ele se estabelece como um arquivo do cotidiano, visto que:
[...] possui toda uma série de qualidades peculiares, extremamente úteis para
a pesquisa histórica. Uma delas é a periodicidade, os jornais constituem-se
em verdadeiros arquivos do cotidiano, nos quais podemos acompanhar a
memória do dia a dia e estabelecer a cronologia dos fatos históricos. Outra
é a disposição espacial da informação, que nos permite a inserção do
acontecimento histórico dentro de um contexto mais amplo. E outro aspecto
singular do material jornalístico é o tipo de censura instantânea e imediata,
diferente de outras fontes que poderão ser submetidas a uma tiragem antes
de serem arquivadas [...].
O pesquisador ao escolher o jornal, como fonte de sua pesquisa, deve considerar
variados aspectos para análise e o manuseio. Primeiramente é necessário fazer a escolha de
uma temática ou assunto a ser investigado e em seguida fazer um recorte espacial do jornal
para que se inicie a procura do assunto de pesquisa. A partir disso, o pesquisador começa a
sua busca nos jornais, fazendo registros das notícias conforme a sua temática, mas essa ação
também dependerá do conhecimento prévio que o pesquisador deverá ter sobre o tema e o
período que está pesquisando.
25
A partir de uma primeira leitura atenta e cuidadosa das notícias encontradas, o
pesquisador organizará estas em uma cronologia de acontecimentos para que posteriormente
esclareça o tema investigado. Isso tem o objetivo de oferecer uma base dos fatos e
acontecimentos de determinado assunto da pesquisa, sendo que essa ação do pesquisador
sobre a interpretação das notícias ‘achadas’ no jornal deve ser fiel ao conteúdo encontrado.
O acesso ao álbum de fotografias do acervo da instituição “Lar de Maria” ocorreu
mediante a emissão de um ofício da Universidade do Estado do Pará, para a direção da
instituição, onde foi solicitada autorização para a realização da pesquisa.
O álbum apresentava desgaste natural do tempo. Esse quando o encontrei estava dentro
de um caixote grande de plástico. Ao manuseá-lo percebi, logo de início, que se tratava de
álbum de fotografia bem antigo, pois tinha uma capa em madeira, e nele havia algo esculpido
que não consegui identificar. Essa capa estava solta do miolo de folhas que tinham as
fotografias.
Cada folha do álbum era separada por papel de seda e em cada folha havia uma
quantidade de, no máximo, quatro fotos fixadas. Muitas imagens ainda eram bem nítidas e
que algumas traziam ao lado descrições de pessoas ou lugar. No aspecto geral, o álbum do
ano 1947 possuía aparentemente 6 cm de altura, 30 cm de comprimento e 25 cm de largura,
contendo aproximadamente 30 folhas
De acordo com Borges (2005, p. 79), utilizar as fotografias “[...] para além da sua
dimensão plástica, nos coloca em contato com um sistema de significação das sociedades,
com suas formas de representação, com seus imaginários”. As fotografias possuem vários
sentidos, devendo o pesquisador estar atento a quem as produziu e com que finalidades.
Na história da educação, a imagem pode ser um tipo de fonte possível de ser utilizada
em pesquisas. A fotografia pode ser uma fonte histórica, onde podemos ler com frequência as
relações pessoais, as políticas e as de poder, permitindo, também, mostrar elementos que pode
nos aproximar das pessoas retratadas, assim como à sua época, por intermédio dos trajes, das
posturas, da expressão, dos cenários e dos ambientes registrados.
Para Leite (1993, p.19), a fotografia é um fragmento do passado que propícia diferentes
leituras, ao fazer relação com outros documentos e bem como pode ser entendida como “a
imitação da realidade”. Esse mesmo autor enfatiza que nas imagens fotográficas é possível
também revelar:
[...] “comportamentos, representações e ideologias”. Características físicas
da imagem fotográfica, como “tamanho, formato, suporte, enquadramento,
nitidez, planos, horizontalidade e verticalidade”, devem ser consideradas na
análise, assim como elementos explícitos e acessíveis na própria imagem
26
retratada, como indumentária, objetos, área, expressões, poses. (LEITE,
1993, p.19, grifos do autor).
Leite (1993) destaca a importância de considerar todos essas aspectos da fotografia na
análise do pesquisador. Além disso, fotografia como fonte histórica pode ser entendida como
um documento e como preservação de uma memória do ponto de vista de quem o produziu.
Nesse entendimento Ciavatta (1998, p. 19) ressalta que:
A reflexão sobre a natureza documental da fotografia enfatizada em nosso
projeto implica também no seu tratamento enquanto monumento, ou seja, na
análise de sua condição inevitável de construção histórica destinada à
perpetuação de alguma memória, do ponto de vista do grupo social que
produziu e/ou apropriou-se das fotos. Se por um lado a fotografia possui um
caráter informativo, ela sempre é, simultaneamente, uma recriação da
realidade conforme a visão particular do grupo que a produz.
Nesta pesquisa, utilizei também o Estatuto do “Lar de Maria” de 1947. A busca desse
documento não foi nada fácil. O primeiro indício da sua existência surgiu ao manusear um
cartão de aniversário da instituição “Lar de Maria”. Lá encontrei informações de que foi
registrado no Cartório de Registro Especial do Sr. Manoel Lobato, hoje denominado Fórum
Cível, localizado na Praça Felipe Patroni, s/n – Bairro da Cidade velha.
A partir disso recorri ao atual cartório com as informações que extraídas do cartão de
aniversário, como: letras do livro, folhas, número do registro e data em que foi publicada. Ao
chegar ao cartório fui informada por uma funcionária que para ter acesso a uma cópia do
documento teria que pagar o valor de $162,40 reais ao cartório, paguei o valor e adquiri o
documento da instituição.
O Estatuto do “Lar de Maria” apresenta doze páginas e é organizado em onze capítulos
e trinta e cinco artigos. O primeiro capítulo fala da fundação da instituição e seu objetivo; o
segundo capítulo destaca a sua administração; o terceiro capítulo evidencia a diretoria; o
quarto capítulo ressalta as funções de cada diretor; o quinto capítulo aponta o que é o
Conselho Fraterno e suas funções; o sexto capítulo esclarece o que é Assembleia Geral; o
sétimo capítulo mostra a administração interna; o oitavo capítulo informa sobre a internação
de crianças; o nono capítulo salienta sobre os sócios da instituição; o décimo capítulo
apresenta disposições gerais; e o décimo primeiro destaca disposições transitórias.
A perspectiva de análise dessa investigação é a História Cultural. Para Burke (2005),
essa tendência historiográfica foi redescoberta nos anos de 1970, tendo em vista que já era
praticada na Alemanha há mais de 200 anos, mas vem sofrendo renovação, sobretudo no meio
acadêmico.
27
Para esse autor, a História Cultural está dividida em quatro fases: a História Clássica de
1800 a 1950; a História Social da Arte de 1930 e 1940; a redescoberta da História Cultural
popular em 1950 a 1960; e a Nova História Cultural a partir dos anos 70. Cada fase foi criada
e debatida por vários autores de diferentes vertentes teóricas.
A História Cultural é chamada de Nova História Cultural por proporcionar uma nova
forma de a história trabalhar com a cultura. Essa corrente da historiografia, presente na
terceira geração da escola dos Annales, passou a ser denominada Nova História. A história
cultural possibilitou que muitos temas, antes apontados como irrelevantes, passassem a ser
considerados como foco de investigação, possibilitando também o surgimento de varias fontes
para o trabalho do historiador.
Nesse contexto, Pesavento (2005, p.69) reforça dizendo que “[...] a renovação das
correntes da história e dos campos de pesquisa, multiplicando o universo temático e os
objetos, bem como a utilização de uma multiplicidade de novas fontes”.
Burke (2005, p.10), ao pensar sobre a história cultural, afirma que “[...] o terreno
comum dos historiadores culturais pode ser descrito como a preocupação com o simbólico e
suas interpretações. Símbolos conscientes ou não, podem ser encontrados em todos os
lugares, da arte à vida cotidiana”. Assim, entendo que tudo tem uma história, que tudo pode
ser compreendido como uma construção cultural.
Nesse sentido, Pesavento (2005, p. 42) destaca que tudo tem história, símbolos,
vinculados a códigos e chamados de “cultural”, podem ser investigados pela História Cultural.
A autora também aponta que “[...] a proposta da História Cultural seria, pois, decifrar a
realidade do passado por meio das suas representações, tentando chegar àquelas formas
discursivas e imagéticas pelas quais os homens expressaram a si próprios e ao mundo”.
Ressalta, ainda, a autora que a História Cultural dialoga com várias ciências, ou seja, a
história passa a se envolver com outros campos do saber, tais como: a psicologia, a
antropologia, a literatura e outras.
A partir disso surgem muitas maneiras de fazer História, uma delas é o método
indiciário de Moreli3. Ao escolher esse método, o pesquisador persegue pistas, detalhes,
3 O método indiciário foi criado pelo italiano Giovanni Morelli que escreveu, entre 1874 e 1876, uma série de
estudos sobre a pintura italiana. Ele, ao estudar, propunha a utilização de um novo método para a atribuição de
autoria dos quadros antigos. No texto: Sinais: raízes de um paradigma indiciário, de Carlo Ginzburg, o autor
ressalta que Morelli, ao entrar em um museu, passava analisar os quadros e acreditava que estes estavam
atribuídos de forma incorreta, pois muitos quadros não estavam assinados pelos seus próprios autores,
dificultando, assim, a devolução de obras para seus verdadeiros autores. E é nesse contexto que foi necessário o
surgimento de um método eficaz que distinguiria os originais e as cópias.
Era preciso, nesse método, não se basear na característica mais vistosa, imitável dos quadros; era necessário
verificar os pormenores mais negligenciáveis. A partir desse contexto, o método indiciário pode ser comparado a
28
sinais que possibilitam compreender o seu objeto de estudo. Para Ginzburg (1989, p.150), as
“[...] pistas talvez infinitesimais permitem captar uma realidade mais profunda, de outra forma
inatingível” e que “[...] se a realidade é opaca, existem zonas privilegiadas – sinais, indícios –
que permitem decifrá-la” (GINZBURG, 1989, p. 177).
Por ser tratar de um estudo de uma instituição educativa do tipo internato para
atendimento e educação de criança, tomei como referência para análise as pistas e os indícios
que as fontes indicaram ao manuseá-las, a partir disso busquei discutir com os autores da
história da educação e espiritismo.
No entendimento Ferreira (2013, p. 78), o trabalho do historiador “[...] se faz a partir de
fontes, que são vestígios deixados pelos homens ao longo do tempo de sua existência”, logo
se não tem fonte, não tem história. O pesquisador ao realizar a escolha de fontes, pode extrair
informações, fatos que serão utilizados em sua escrita sobre o objeto de estudo. Além disso, o
pesquisador deverá trabalhar com o cruzamento de outras fontes, dialogando com obras que
discutem sobre o assunto pesquisado.
Para Lene e Selidonha (2012), o pesquisador busca nos documentos indícios e marcas
que possam ajudá-lo a desvendar os acontecimentos históricos. Ele se depara durante a
investigação com inúmeras informações que, muitas vezes, são consideradas irrelevantes e
que podem ser descartadas, mas essa atitude de não dar o devido tratamento as pistas, aos
indícios podem levá-lo a perder preciosas informações sobre o objeto.
Para Duarte (1998), o método, baseado em indícios e sinais, exige conhecimento, poder
de observação, dedução, busca e descobrir elementos que levam a um fato ou um
acontecimento de uma determinada época. Além disso, o pesquisador tem a oportunidade de
aprofundar os indícios descobertos com informações que estabelece a relação com momentos
históricos por meio de referências bibliográficas.
Portanto, esse método agrega os sentidos à interpretação por meio de sinais, pistas e
observação nas variadas fontes de investigação. O historiador liga-se nas particularidades, nos
pormenores do seu objeto de pesquisa e, nesse processo de investigação de indícios, as
particularidades serão importantes no processo de investigação.
Nesse sentido, considerei as fontes de investigação, selecionadas para este estudo, a
partir de pistas, vestígios deixados ao logo do tempo em que a instituição “Lar de Maria”
desenvolveu seus trabalhos na cidade de Belém do Pará no período de 1947 a 1960.
investigação de um detetive “[...] que descobre o autor do crime (do quadro) baseado em indícios imperceptíveis
para a maioria” (GINZURB, 1980, p.145).
29
Por fim, realizei a análise dos documentos sobre a ótica de cruzamento das fontes,
dialogando com autores da história das instituições educativas, como: Buffa e Nosella (2009),
Saviani (2007), Magalhães (1999), Castanho (2007), Gatti Jr. (2002), Sanfelice (2007),
Goffman (1961) e Foucault (1987); autores da sociedade paraense, como: Sarges (2010),
Rocque (2001), Silva (2003); e autores que discutem a relação educação e espiritismo, como:
Alves (2007), Incontri (1997), Bueno (1997) entre outros.
Para uma melhor interpretação e análise dos dados deste trabalho, elegi algumas
categorias analíticas: Espiritismo, Instituições Educativas e Caridade.
O Espiritismo, como categoria de análise, é entendido como uma ciência que trata da
natureza, origem e destino dos Espíritos e a sua relação com o mundo. O espiritismo foi
“codificado” pelo pedagogo Hippolyte Léon Denizard Rivail, mais conhecido pelo nome de
Allan Kardec. Esse defende que o espiritismo é uma doutrina filosófica de efeitos religiosos e
apresenta três aspectos: religioso, científico e filosófico.
As instituições educativas, como categorias de análise, devem ser entendidas como
espaços culturais, criados por homens e mulheres para atenderem as suas necessidades. Elas
possuem caráter histórico e fazem parte da vida dos homens na sociedade. Na visão de
Castanho (2005 p. 40), uma “[...] instituição educativa é um termo mais amplo e abrange não
somente a escola, como a conhecemos, no seu envolver histórico, mas também outras formas
societais duradoras em que se desenrola o processo de transmissão cultural”.
E por fim a categoria Caridade. Ela se constitui, no espiritismo, como uma virtude ou
sentimento que se propõe fazer o bem ao próximo, ajudar alguém, sem qualquer recompensa.
É considerado também como um princípio religioso que direciona ao amor a Deus e ao
próximo.
Para facilitar a compreensão desta pesquisa, organizei-a didaticamente em uma
introdução e três seções. Na introdução abordo o interesse em desenvolver uma pesquisa
pautada na história das instituições educativas, como também a escolha da instituição Cristã
Espírita “Lar de Maria”, apresento o problema da pesquisa, o objetivo geral e os específicos e
o percurso metodológico.
Na primeira seção, “As origens do Espiritismo: de espetáculo de entretenimento à
doutrina de caridade ao próximo”, trato sobre as origens do Espiritismo e de sua disseminação
nos Estados Unidos e no mundo, posteriormente a manifestação do Espiritismo no Brasil, por
fim, as origens da referida doutrina em Belém do Pará.
Na segunda seção, “A Criação da Instituição Cristã Espírita “Lar de Maria””, apresento
sucintamente a vida do criador da instituição Cristã Espírita “Lar de Maria”, a sua infância, os
30
aspectos: profissional e religioso; a fundação dessa instituição; os espaços educativos
construídos; a contribuição das pessoas para a construção desse Lar e a inauguração da
instituição.
Na terceira seção, “A Instituição Cristã Espírita Lar de Maria: organização, internação,
assistência e educação aos mais necessitados”, faço uma explanação sobre como se
organizava administrativamente desse lar; as festas como forma educativa para as crianças,
suas finalidades: assistencial e educativa. Além disso, evidencio como se dava o processo de
internamento; a concepção de educação, infância, criança e idoso à luz da doutrina espírita.
Nas considerações finais retomo alguns dos principais pontos abordados neste trabalho
e faço alguns questionamentos que surgiram durante a sua realização. Esses questionamentos
apontam outros caminhos, que poderão ser seguidos em futuras pesquisas.
E por fim, as referências onde consta o aporte teórico que subsidiou esta pesquisa, além
do anexo – que serviu para fundamentar, comprovar e ilustrar esta pesquisa – e os apêndices,
elaborados com o intuito de completar a minha argumentação, sem prejuízo a unidade nuclear
do trabalho.
31
SEÇÃO 1: AS ORIGENS DO ESPIRITISMO: de espetáculo de entretenimento à
doutrina de caridade ao próximo
Nesta seção, explano sobre as origens do Espiritismo no mundo. Para isso,
primeiramente, abordo as origens do espiritismo nos Estados Unidos, por meio das
experiências das irmãs Fox; destaco o Espiritismo na França, onde ele começou a se
configurar enquanto doutrina, a partir dos princípios de Allan Kardec; focalizo também o
Espiritismo no contexto brasileiro, tendo o Rio de Janeiro e a Bahia como estados
representativos nesse processo; e, por fim, abordo as origens da referida doutrina no Pará,
especificamente em Belém, no que concerne aos principais responsáveis por tal inserção, bem
como às ações e obras de expressão do Espiritismo.
1.1 O ESPIRITISMO NOS ESTADOS UNIDOS E NA FRANÇA
As ideias do Espiritismo moderno foram disseminadas pela Europa em pleno século
XIX; têm a sua história primeiramente nos Estados Unidos no ano de 1848, na cidade de
Hydesville, Estado de Nova York. Segundo Vasconcellos (2010), Hydesville era um vilarejo
onde viviam pessoas de vida simples e que residiam em casas de madeiras, caracterizando-se
com uma população de agricultores.
Na cidade de Hydesville, foi registrado e investigado o primeiro episódio de
comunicação com espíritos, realizada na residência da família Fox. Os Fox eram uma família
de fazendeiros canadenses. O Pai, John D. Fox, era pastor de Igreja Metodista. Ele alugou
uma casa em Hydesville, nos EUA, em 1847, para morar com sua família. A casa já tinha
fama de mal-assombrada, informa Vasconcellos (2010). A família era formada por vários
filhos, mas o episódio da descoberta da comunicação com espíritos desenvolve-se entorno das
irmãs Kate, de 11 anos; Margaret, de 14 anos; e Léa, de 37 anos (Imagem 1), que não morava
com a família.
32
Imagem 1 – Irmãs Fox.
Fonte: (VASCONCELLOS, 2010, p. 74).
De acordo com Vilhena (2008), na casa onde moravam as irmãs Fox eram ouvidos
estranhos ruídos, barulhos, batidos nas paredes e até mesmo arrastamento de móveis. Esse
fato foi compreendido como oriundo de uma inteligência oculta, visando comunicar-se.
As mais jovens, Kate (esquerda) e Margaret (direita), retratadas na Imagem 2, no dia
31de março de 1848, elaboram, então, uma técnica com intuito de facilitar e tornar claro as
comunicações com essa inteligência invisível. Segundo esse mesmo autor, “[...] Tais técnicas
constituíam-se basicamente em um código na qual uma pancada na madeira significava “sim”,
duas significava “não” e outros sinais simbolizavam letras ou palavras” (VILHENA, 2008, p.
55, grifos do autor).
33
Imagem 2 – Margaret e Kate Fox.
Fonte: (BETTENCOURT OSB, 2012, p. 272).
Segundo Vasconcellos (2010), aquele “Fenômeno” de comunicação, realizado pelas
irmãs, se declarou ser de um espírito. No excerto a seguir é possível constatar que um espírito
“desencarnado4” estava em comunicação com a família Fox.
Em 1948, na cidade de Hydesville, Estado de Nova York, EUA, surgiu o
primeiro núcleo do espiritismo moderno. Certa noite, o pastor protestante
John Fox, sua esposa e as duas filhas, Margarida e Kate, estavam a conversar
sobre estranhos fenômenos de assombração. Kate, então, produziu estalos
com os dedos; notaram todos que alguém repetia. Por sua vez, Margarida
produziu estalos e encontrou eco. Apavorada, a senhora Foz perguntou: “É
homem ou mulher que está batendo?”, mas não obteve resposta. Insistiu
então: “É espírito? Se é espírito. Bata duas vezes”. Produziram-se duas
breves pancadas. Concluiu, assim, que um espírito “desencarnado” estava
em comunicação com a família. (BETTENCOURT OSB, 2012, p. 271).
É nesse contexto que as técnicas de comunicação, executada pelas irmãs Fox, em sua
casa, levaram a afirmar a presença de pessoas mortas com inteligência invisível nesse lar. A
partir disso, observadores e curiosos da cidade de Hydesville concluíram também que na
residência da família havia o espírito de um homem que há tempos a habitava e que havia sido
morto a facadas, tendo o seu corpo enterrado no porão. Na descrição de Vasconcellos (2010),
no dia 1 de abril de 1848, algumas pessoas da cidade tiveram a atitude de escavar o local e
para surpresa encontraram restos humanos que eram de um homem chamado Charles Rosma,
fato comprovado por pesquisas posteriormente.
4Ato ou efeito de deixar a carne; morrer (RIOS, 1997, p. 193)
34
Em Andrade (1983, p. 214), é possível observar, no trecho a seguir, que houve a
realização de pesquisas na tentativa de reafirmar a e ratificar a comunicação dos espíritos
feitos pelas irmãs Fox:
As pesquisas então realizadas para comprovar a autenticidade da
comunicação tiveram êxito apenas parcial (encontraram-se alguns ossos e
cabelos humanos), mas 56 anos depois foi encontrado na casa um esqueleto
humano quase completo, ao ruir uma parede falsa que fora construída na
adega. O “Bost Journal” noticiou o fato em 23 de novembro de 1904.
Sobre as técnicas de comunicações com os espíritos, realizadas pelas irmãs Fox, Del
Priore (2014, p. 37-38) diz:
E como começaram as comunicações? Tudo aconteceu na primavera de
1848, num pequeno condado do Wayne: Hydesville, a oeste do estado de
Nova York. Ninguém imagina que a história fosse tomar tal amplitude.
Maggie e Kate Fox, as duas filhas adolescentes de um casal metodista, se
comunicavam com um espírito por meio de batidas na parede. Era a velha
linguagem dos sons. Mas quem era ele? Um ambulante assassinado pelos
antigos moradores, cujo corpo fora enterrado no porão da casa. Fantasmas de
vítimas de morte violenta não eram raros nos Estados Unidos. Para cada
pergunta das meninas, uma resposta na forma de pancadas: pam, pam, pam...
Um alfabeto foi criado para traduzir as batidas em palavras. E a primeira
mensagem da telegrafia espiritual não deixava dúvidas: “Caros amigos,
deveis proclamar ao mundo estas verdades. É a aurora de uma nova era; e
não deveis tentar ocultá-la por mais tempo. Quando houverdes cumprido
vosso dever, Deus vos protegerá e os bons espíritos velarão por vós”.
Com o passar do tempo surgiram novas técnicas de comunicação com espíritos,
segundo Bettencourt Osb (2012), os próprios espíritos que indicaram às irmãs Fox, em 1850,
uma nova forma de comunicação, onde os interessados se colocariam em torno de uma mesa,
em cima da qual poriam as mãos; as interrogações que fizessem aos espíritos, a mesa
responderia com golpes e movimentos indicadores de letras do alfabeto e de palavras.
Para Andrade (1983), essas novas técnicas de comunicação eram chamadas de “mesas
girantes” (Imagem 3), por meio das quais as “inteligências invisíveis” respondem perguntas,
se movimentam, se elevam ou até rodopiavam as mesas no ar, com objetivo de se comunicar.
Esse mesmo autor ressalta que a “consulta” a essas mesas geralmente era frequentada pelas
classes abastadas, mas posteriormente se tornou uma moda.
35
Imagem 3 – Mesas Girantes ou Volantes.
Fonte: (DEL PRIORE, 2014, p.1).
De acordo com Del Priore (2014), as irmãs Fox, Marggie e Kate se juntaram com uma
terceira irmã de nome Léa, essa que possuía uma índole empreendedora viu – por meio das
realizações de comunicação com espíritos que suas irmãs realizavam – uma oportunidade de
reconhecimento e fama. E foi a partir disso que o trio de irmãs, movido por interesses
comuns, ficou cada vez mais conhecido e as suas reuniões, sessões de comunicação com os
espíritos, cada vez mais frequentadas.
As reuniões realizadas pelas irmãs saem de Hydesville e percorrem outras partes dos
Estados Unidos e, posteriormente, do mundo. Segundo Del Priore (2014), essa
profissionalização das sessões que eram pagas foi um importante fator de difusão da prática
das mesas volantes.
Foi por meio de supostos contato com espíritos que as irmãs Fox tiveram um aviso de
que teriam a expansão de suas comunicações com as “inteligências invisíveis” para todo o
mundo. Vasconcellos (2010, p. 77) relata que:
Anos depois, as irmãs Fox já trabalhavam constantemente com as
comunicações e materializações. Em um dos contatos, os espíritos disseram
que as comunicações não se limitariam a um local, mas se espalhariam pelo
mundo. Haverá grandes mudanças no século XIX, os mistérios serão
revelados e o mundo esclarecido.
Para Andrade (1983), os fatores ocorridos no mundo em 1848, como: a expansão do
livro e da imprensa, dos meios de comunicação, a eclosão da era industrial, o
36
desenvolvimento da educação foram alguns aspectos que contribuíram para a difusão do
conhecimento da família Fox para o mundo.
O fenômeno das irmãs Fox foi apenas o começo de uma “febre” que se disseminou por
várias partes dos Estados Unidos e, posteriormente, para a Ásia e Europa. Na França,
especificamente, a prática das “mesas volantes”, “girantes” chegaram a partir do ano de 1850
e depois foi se difundindo para os outros países europeus. Para Vilhena (2008, p.56):
Conforme tendência desejosa de experiência com fenômeno ocultista,
própria da época, em 1850, na França, disseminou-se, como brincadeira de
salão, uma prática que objetivava provocar manifestações de forças
desconhecidas, tidas como sobrenaturais. Trava-se das chamadas “mesas
falantes” ou “mesas girantes”. Por meio da utilização de um código
alfabético, semelhante ao usado pelas irmãs Fox, muitos franceses se
divertiam ao perguntarem amenidades aos espíritos contatados e
comunicantes, obtendo deles respostas advindas do Além.
Para Dionisi (2013), o fenômeno das “mesas girantes ou dançantes” não estava para ser
entendido ou compreendido por aqueles que estavam em contato com essas mesas e sim para
proporcionar divertimento, passatempo para os salões da alta aristocracia em Paris, como
ilustra a Imagem 4, constituindo-se em um verdadeiro espetáculo de entretenimento, como
bem descreve o autor:
Nos salões: “da alta aristocracia parisiense como a sua nota característica:
senhores respeitáveis, senhores e senhoritas elegantes, reuniam-se em torno
de mesas redondas, espalmando as mãos em pouco acima delas (formava-se
uma corrente pelo contacto (sic) de todos os dedos mínimos), com o intuito
de fazê-las movimentar; outro grupo obter o movimento de uma bola
suspensa por um fio; outro, um pouco distante, usava uma cesta munida de
lápis, sobre a qual uma dama coquete colocava a mão adornada de brilhante,
na esperança de conseguir algum rabisco numa ardósia; além, respeitável
senhor de cavanhaque procura movimentar uma cartola, sem tocá-la, é
lógico”. ( XAVIER, 2002 apud DIONISI, 2013, p. 54, grifos do autor).
37
Imagem 4 – Mesas volantes: introdução ao Espiritismo entre a Burguesia da Europa.
Fonte: (DEL PRIORE, 2014, p. 111).
O fenômeno das “mesas girantes” passou a chamar a atenção de estudiosos, intelectuais
e cientistas, na França. Segundo Vasconcellos (2010, p. 81), “[...] não demorou para que esses
fenômenos chegassem, em 1854, ao conhecimento de um estudioso de renome, o senhor
Heppolyte Léon Denizard Rivail, que teve conhecimento deste fenômeno a partir do convite
de um amigo”.
Heppolyte Léon Denizard Rivail (Imagem 5) nasceu em Lyon, na França, em 3 de
outubro de 1804, de uma família de jurista. Rivail estudou na Suíça, na escola do pedagogo
Johann Henri Pestalozzi, do qual se tornou discípulo; foi bacharel em Letras, Ciência e doutor
em Medicina, falava várias línguas, como: o alemão, o inglês, o italiano, holandês e o
espanhol.
Posteriormente, assumiu o pseudônimo de Allan Kardec, nome esse que adotou a partir
de vínculo ao Espiritismo, que tem como marco o término da escrita de seu primeiro livro: O
Livro dos Espíritos. Segundo Vasconcellos (2010), Hippolyte Rivail não quis usar seu nome
como autor dos livros para não confundir com as suas obras já publicadas, pois já era tido
como referência na comunidade científica. Além disso, ele entendia que as explicações que
38
recebeu nas reuniões realizadas não eram dele, e sim dos espíritos, que esclareciam e
respondiam diversas perguntas nessas sessões.
Nas próprias palavras de Kardec (2014), a intenção de recorrer a tal pseudônimo para
assinar suas obras veio mediante orientações de seu guia espiritual, que disse que Rivail tinha
vivido na época dos Druidas5, exatamente com o nome de Allan Kardec, o que o motivou para
utilizar essa denominação nos assuntos da doutrina.
Allan Kardec (2005, p. 323, grifos do autor) descreve seu contato inicial com o
fenômeno do Espiritismo em Paris, dizendo que:
Foi em 1854 que pela primeira vez ouvi falar das mesas girantes. Encontrei
um dia o magnetizador, Senhor Fortier, a quem eu conhecia desde muito
tempo e que me disse: já sabe da singular propriedade que se acaba de
descobrir no Magnetismo? Parece que já não são somente as pessoas que se
podem magnetizar, mas também as mesas, conseguindo-se que elas girem e
caminhem à vontade. — ‘É, com efeito, muito singular, respondi; mas, a
rigor, isso não me parece radicalmente impossível. O fluido magnético, que
é uma espécie de eletricidade, pode perfeitamente atuar sobre os corpos
inertes e fazer que eles se movam’. Os relatos, que os jornais publicaram, de
experiências feitas em Nantes, em Marselha e em algumas outras cidades,
não permitiam dúvidas acerca da realidade do fenômeno.
5 Druida surgiram a partir de 2.000 a.C e eram integrantes da classe sacerdotal e pertencentes da sociedade do
Celta, que residiam na antiga Europa. Os Druidas tinham por função todas as ciências humanas e divinas, como:
teologia, astronomia, fisiologia, justiça, ensino, poesia, sátira, magia, guerra, cultos e sacrifício, de acordo com
Lara (2010).
39
Imagem 5 – Allan Kardec.
Fonte: (VASCONCELLOS, 2010, p. 80).
Allan Kardec, partindo de seu senso crítico e investigativo, dedicou-se ao estudo desses
fenômenos. Ele os estudava usando o método de experimentação. Buscou dar um caráter mais
científico a sua pesquisa. Após alguns anos de estudo, concluiu que as “mesas girantes”
davam prova e transformavam em fatos autênticos da possibilidade de comunicação com os
espíritos e que tais mesas eram um instrumento, isto é, uma ferramenta de comunicação com
espíritos. Para chegar a essas respostas,
Ele passou a fazer reuniões sérias e com médiuns de confiança. O senhor
Rivail já levava perguntas prontas paras as reuniões metodicamente
organizadas. Concluiu ele que todo efeito tem uma causa inteligente. Não
podia ser a mesa quem respondia, mas um ser inteligente. Rivail perguntou e
descobriu que eram espíritos de pessoas que já viveram entre nós.
(VASCONCELOS, 2010, p.82).
Del Priore (2014) ressalta que as investigações de Allan Kardec conduziram a
publicação de estudos, contendo princípios sobre a natureza dos espíritos, a manifestação e a
relação com os homens, as leis morais, a vida presente, a vida futura e o futuro da
humanidade, escrita sob ditado e publicada por ordem dos espíritos superiores. Essa
experiência foi o ponto de partida para dar base à doutrina espírita que ele postulou.
40
E segundo Amorim (1980), Allan Kardec ressalta que o Espiritismo seria uma Doutrina
Filosófica de efeitos religiosos, que apresenta uma síntese doutrinária de tríplice aspecto, ou
seja, deve ser: religioso, científico e filosófico. Nesse contexto, Allan Kardec (2014, p. 40)
explica:
Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina
filosófica. Como ciência prática, ele consiste nas relações que se
estabelecem entre nós e os Espíritos; como filosofia, compreende todas as
consequências morais que dimanam dessas mesmas relações. [...] O
Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos
Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal.
Em 18 de abril de 1857, a partir dessas investigações do fenômeno da mesa, Allan
Kardec lançou em Paris a obra O Livro dos Espíritos, trazendo uma grande compilação de
perguntas feitas por ele aos espíritos. Essa obra alcançou grande êxito e rapidamente se
espalhou pelo mundo, divulgando a base da Doutrina Espírita desse estudioso.
Allan Kardec se tornou renomado no campo sobre o Espiritismo na Europa. O sucesso
do Espiritismo deve-se a rápida proliferação de seus escritos pelo mundo. No Brasil,
chegando em 1857, ainda persiste até os dias de hoje, em mais de 150 anos de existência.
Com o pseudônimo de Allan Kardec, diversos livros foram escritos, dentre os quais se
destacam sete obras que foram publicadas na França sobre o Espiritismo: O Livro dos
Espíritos, primeira obra Espírita lançada, em 18 de abril de 1857, foi considerada obra de
marco inicial da Doutrina e está dividida em quatro partes:
A primeira parte é sobre causas primárias: “o que” é Deus e como tudo
surgiu e como funciona. A segunda parte é sobre o mundo espiritual,
apresenta-nos a reencarnação e a comunicação com os espíritos. A terceira
parte é sobre as “leis divinas”, mostrando a Justiça de Deus. A quarta parte é
sobre as esperanças e consolações. O livro é composto de perguntas e
resposta diretas. (VASCONCELLOS, 2010, p.86, grifos do autor).
O que é Espiritismo? Editado no ano de 1859 na França, é um livro introdutório da
doutrina e especialmente indicado àqueles que possuem dificuldade de entender as
explanações sobre O Livro dos Espíritos. Segundo Vasconcellos (2010), é usado em algumas
casas espíritas como sendo o primeiro curso doutrinário para inserir aos recém-chegados aos
estudos.
Em 1861 chega às livrarias O Livro dos Médiuns. Nele, Kardec aborda o “espirito
prático”, teoriza sobre as manifestações mediúnicas. Sua intensão seria orientar sobre o
método de comunicações espíritas e o regulamento dessa prática, direcionando para “[...]
explicar a utilidade e os objetivos na comunicação e demostra como funciona o ‘laboratório
41
do mundo invisível’”, segundo Vasconcellos (2010, p. 86, grifos do autor). Para Dionisi
(2013), essa obra é de caráter prático da doutrina espírita, visto que Kardec visou criar um
manual completo para o seu usuário praticar a mediunidade, tal obra consta a teoria dos
fenômenos Espíritas e os aspectos científicos, experimental e prático da Doutrina.
Depois de três anos em 1864 é editada a obra O Evangelho Segundo o Espiritismo, que
aborda os principais ensinamentos de Jesus a partir do Evangelho da Bíblia, explicando com
uma visão expandida, racional e lógica da Doutrina Espírita.
No ano seguinte, 1865, Kardec lança O Céu e o Inferno: ou a justiça divina segundo o
Espiritismo, esse livro trata sobre os dogmas católicos de céu, infernos e purgatório, assim
como anjos e demônios, segundo a visão do Espiritismo. A obra “[...] compara a visão de
algumas doutrinas sobre a Justiça Divina, explica sobre as personalidades e recompensas
futuras, desmitifica as ideias sobre anjos e demônios e traz depoimento de espíritos em vários
graus entre felicidades e infelicidades” (VASCONCELLOS, 2010, p.87).
Finalmente, em 1868, Allan Kardec lança sua última obra completa, A Gênese: os
milagres e as predições do Espiritismo. Nessa obra, de uma forma mais clara, expõe a teoria
do “sobrenatural” e dos “milagres”, ligada a uma ampliação das “Leis da Natureza” até então
conhecidas, para que esses fenômenos, tanto espíritas quanto os milagres de Jesus (na reflexão
espírita), recebessem um novo tratamento, mais racional e adequado com o conhecimento do
século XIX. Nesse mesmo livro há uma tentativa de ampliar a “Gênese” planetária e, para
isso, a obra traz uma comunicação mediúnica sobre o tema. Em síntese, nesse livro, Kardec
busca ampliar os limites científicos, apropriando-se dos conhecimentos espíritas, tentando
encadear a ordem do nosso mundo com a ordem dos espíritos e, assim, direcionando
demostrar que ambas são uma só e a mesma coisa, estando em planos diferentes.
Kardec faleceu dia 31 de março de 1869, com 65 anos, em Paris devido a um aneurisma
e suas Obras Póstumas, de 1890, são alguns escritos guardados por ele e que foram
reorganizados por seu continuador e presidente da “Sociedade de Parisiense de Estudos
Espíritas”, o senhor Pierre-Gaetan Leymarie.
Os escritos de Allan Kardec foram de suma importância para a consolidação de uma
doutrina que se expandia para várias partes do mundo, possibilitando o interesse de pessoas
em apreender os princípios por ele partilhados, assim como materializar tais ensinamentos a
partir das realizações de ações e obras, pautadas no Espiritismo, como aconteceu no Brasil,
em meados do século XIX.
42
1.2 A CHEGADA DO ESPIRITISMO NO BRASIL
Entre os anos 1853 e 1854 surgiram no Brasil notícias sobre os fenômenos das "mesas
volantes", as quais foram publicadas nos seguintes jornais: “O Jornal do Comércio”, do Rio
de Janeiro em 14 de junho de 1853, e posteriormente nos jornais: “Diário de Pernambuco” em
2 de julho do ano de 1953 e o jornal de Recife, em “O Cearense” nos dias 3 e 26 de julho
também no mesmo ano.
Conforme Kloppenburg (1960), o Jornal do Comércio, do Rio de Janeiro, datado 14 de
junho de 1853, foi o primeiro impresso jornalístico brasileiro a noticiar sobre as mesas
girantes da Europa e dos Estados Unidos. Nessa notícia é evidenciada a realização das
rotações das mesas, chapéus e de outros objetos. Esse mesmo autor destaca que após duas
semanas, em 30 de junho, o referido jornal mostra em seu folhetim a execução das mesas
girantes em diferentes ambientes da sociedade brasileira, como é relatado por tal impresso:
Hoje não há uma sala, uma escritório, um corredor, onde se não encontrem
dois ou três experimentadores acocorados a chocarem com os olhos e com as
mãos o infeliz chapéu do mais curioso dos três. O cronista diz que viu “as
famílias e os convidados silenciosos, em grupos, uns em derredor de uma
mesa, outros de um chapéu, outro de um livro, eles com as mãos estendidas
sobre objetos e formando cadeias digitais”. E revela mais: “Tenho
presenciado e feito tantas experiências deste gênero, que hoje não é possível
duvidar daquele fato”. Duas pessoas simplesmente, com as mãos impostas
sobre as abas de um chapéu, tocando-se mutuamente os dedos mínimos,
formando uma cadeia elétrica (sic), obtêm de cinco a vinte minutos de
rotação daquele objeto. (KLOPPERNBURG, 1960, p. 12-13, grifos do
autor).
Outro jornal brasileiro que teve importância para as primeiras divulgações de notícias
sobre acontecimentos espíritas que circulavam na França foi o Diário de Pernambuco, que
divulgou, no dia 2 de junho de 1953, informações para seus leitores que em Paris: “[...] não se
pode pôr pé em um salão, sem ver toda a sociedade em torno de uma mesa-redonda, tendo
cada um o dedo mínimo apoiado no do vizinho e esperando todos em silêncio que a tábua
queira voltar”(KLOPPENBURG, 1960, p. 13).
Já em Fortaleza se destaca O Cearense, como jornal que divulgou de notícias referentes
as mesas dançantes. É na edição de 3 de julho que o jornal, de 1853, descreve para seus
leitores o modo de fazer girar a mesa. E já em 26 do mesmo mês, o jornal noticia: “[...] Não é
só na Alemanha, França, Pernambuco, etc., que se fazem experiências elétrico-magnéticas das
tais ‘mesas dançantes’, para descreve então uma experiência feita com êxito em Fortaleza”
(KLOPPENBURG, 1960, p. 13, grifos do autor).
43
Assim, esta novidade se difundia gradativamente, mas, foi a partir do ano de 1857, com
o lançamento do O Livro dos Espíritos, de Kardec, que obras espíritas, em francês adentraram
ao Brasil, especificamente pela Bahia. Essas obras foram trazidas por franceses que residiam
no Brasil ou por pessoas ricas, instruídas que tinham contato com a cultura de outros países.
De acordo com Kloppenburg (2014), com o lançamento desse livro é que se deve
considerar o dia da fundação do Espiritismo no Brasil, pois a obra contribuiu, por meio de
seus princípios, para que vários grupos de pessoas interessadas se formassem, objetivando o
estudo das obras kardequianas, porém, essa prática ficou, nesse primeiro momento, restrita
apenas as pessoas que podiam ler e entender a língua francesa.
E é nesse contexto que surge, na Bahia, a primeira figura que ficaria sendo considerada
o iniciador do movimento espírita em terras brasileiras, o jornalista Luiz Olímpio Teles de
Menezes6 (Imagem 6). Estudioso da obra O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, passou a ser
o divulgador da doutrina espírita no Brasil.
Imagem 6 – Luiz Olímpio Teles de Menezes.
Fonte: <http://feeb.org.br>.
6Luiz Olímpio Teles de Menezes nasceu no dia 26 de Julho de 1825, na cidade de Salvador, Bahia, filho do
oficial de exército Fernando Luís Teles de Menezes. Foi professor primário, hábil estenógrafo autodidata,
escritor e jornalista, embora tenha iniciado seus estudos na carreira militar, largou para dedicar-se ao magistério
e as letras.
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Luiz Olímpio Teles de Menezes tinha a intenção de tirar o espiritismo da alta roda que
este circulava e, assim, aproximar de todas as classes. A partir de seus esforços, Teles de
Menezes realizou em Salvador, Bahia em 17 de setembro de 1865, a primeira sessão espírita
do Brasil e, ainda, nesse mesmo ano, funda o primeiro centro espírita do Brasil, “O Grupo
Familiar do Espiritismo” (KLOPPENBURG, 1960).
O centro espírita “Grupo Familiar do Espiritismo” durou cerca de oito anos, sendo
posteriormente substituído pela “Associação Espírita Brasileira”, que manteve disposições
estatutárias desse centro.
Embora registrada com caráter científico, sua real finalidade estatutária,
como associação, era o de contribuir com o progresso moral e intelectual do
ser humano, por meio da Doutrina Espírita e da prática da Caridade. De fato,
uma de suas diversas proclamava: “Fora da Caridade não há salvação”.
(DIONISI, 2013, p.137, grifos do autor).
De acordo Del Priore (2014), as atitudes de Teles de Menezes conquistaram a nata da
sociedade baiana e um grupo de pessoas passou a fazer campanha para adquirir novos
adeptos, realizando discursos e reflexões de forma apaixonada pelas obras de Kardec,
recebendo certa receptividade favorável e também críticas negativas, mas “[...] Teles de
Menezes enfrentou sem temor as “iras e perseguições” que, desde o início, atingiram a nova
doutrina” (DEL PRIORE, 2014, p.74, grifos da autora).
A atitude de Teles de Menezes foi considerada com um ato de heroísmo por parte de
seus seguidores, pois o Brasil, à época, era um ambiente tradicionalmente católico e hostil a
prática da nova doutrina, mesmo porque o Estado tinha o Catolicismo como sua religião
oficial, segundo constava na Constituição Imperial de 1824 do Brasil. Nessa visão, Bastos
(2000, p. 191) afirma que, “[...] na época só se reconhecia como livre o culto católico. Outras
religiões deveriam contentar-se com celebrar um culto doméstico, vedada qualquer forma
exterior de templo”.
Contudo, a Igreja no Brasil encontrava-se fragilizada institucionalmente. Os brasileiros
seguiam um ecletismo religioso, misturando o catolicismo com diferentes crenças, entre elas:
as indígenas e as de origem africana. Os cultos de outras religiões já eram permitidos desde a
Constituição do Império de 1824, no entanto deveriam ser realizados no âmbito dos lares.
Foi a partir do Decreto 119-A7, de 7 Janeiro de 1890, que o Brasil tornou-se um Estado
Laico, houve a separação entre a Igreja e o Estado. Este passou defender a liberdade religiosa
aos cidadãos brasileiros. Como é possível perceber nos artigos do Decreto:
7 Ruy Barbosa, após a proclamação da República, redigiu o Decreto 119-A, de 7 de janeiro de 1890, que
separava o Estado e a Igreja Católica no Brasil.
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Art. 2º a todas as confissões religiosas pertence por igual a faculdade de
exercerem o seu culto, regerem-se segundo a sua fé e não serem contrariadas
nos actos (sic) particulares ou públicos (sic) , que interessem o exercício
(sic) deste decreto.
Art. 3º A liberdade aqui instituída (sic) abrange não só os individuos (sic)
nos actos (sic) individuaes (sic), sinão (sic) tabem (sic) as igrejas,
associações e institutos em que se acharem agremiados; cabendo a todos o
pleno direito de se constituirem (sic) e viverem collectivamente (sic),
segundo o seu credo e a sua disciplina, sem intervenção do poder publico
(sic)8.
De todo o modo, o Brasil presenciava o avanço do Espiritismo para vários segmentos da
população brasileira. A Igreja, por sua vez, sentiu-se ameaçada e começou a promover lutas
contra o Espiritismo, fomentando grandes polêmicas nos jornais, tendo grande destaque a
figura de Dom Manoel Joaquim da Silveira9, o arcebispo da Bahia que se coloca contra a
Doutrina Espírita.
No ano de 1867, com a expansão do Espiritismo no Brasil, Dom Manoel Joaquim da
Silveira escreveu uma carta contra os malefícios da nova doutrina para sua pastoral, intitulada
Os Erros Perniciosos do Espiritismo, divulgada no dia 25 de julho do mesmo ano, que foi lida
e comentada por vários brasileiros. Essa carta, redigida em forma de folheto, acusava o
Espiritismo de forma rígida, o que pode ser ilustrado no excerto:
Nesta Capital publicou-se um pequeno livro com o título – Filosofia
Espiritualista – o Espiritismo, cujas perniciosas doutrinas, contra toda
expectação, tem tomado incremento, pondo-se em prática certas superstições
perigosas e reprovadas, que estão no domínio do público; e no interesse de
vossa salvação, amados filhos, nós julgamos conveniente dirigir-vos esta
Carta Pastoral, para prevenir-vos contra os principais erros, que contém esse
pequeno livro, e contra as superstições que segundo as doutrinas nele
contidas se estão praticando, como se nos tem informado, e do que já não é
possível duvidar. (SILVEIRA, Dom Manuel Joaquim da Carta Pastoral de
1867 apud VILHENA, 2008, p. 81-82).
Dr. Luís Olímpio Teles de Menezes, defensor dos princípios espíritas, respondeu ao D.
Manoel Joaquim Silveira, em forma de carta aberta ao público, destacando os erros do de D.
Manoel ao analisar o espiritismo. Teles de Menezes, utilizando um tom conciliador,
respondeu em uma pequena passagem dizendo: “[...] o espiritismo e o catolicismo são a
mesma Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, somente estão mudando os tempos e as palavras”
(DEL PRIORE, 2014, p. 76).
8Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccvil_03/decreto/1851-1899/d119-ah. tma>.. Acesso em: 22 abr. 2015.
9Dom Manuel Joaquim da Silveira foi sacerdote católico brasileiro, primeiro e único arcebispo da
Arquidiocese da Bahia e Primaz do Brasil.
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É nesse contexto que, segundo Vilhena (2008), ampliam-se os debates com participação
de opositores e defensores do espiritismo. E quanto mais polêmicas, mais aumentava o
número de adeptos na Bahia e também em outras partes do Brasil.
As chacotas e críticas, destinadas ao Espiritismo, motivaram a criação, em julho de
1869 por Luís Olímpio Teles de Menezes, do primeiro veículo da impressa espírita no Brasil,
intitulado Ècho d’ Além-Tumulo (Imagem 7), que foi criado com o objetivo de expor ideias
em defesa da Doutrina Espírita.
Imagem 7 – Primeira página de Ècho d’ Além-Tumulo, primeiro jornal dedicado ao espiritismo
no Brasil.
Fonte: (DEL PRIORE, 2014).
Conforme Vasconcellos (2010), em 1873 foi fundado, no Rio de Janeiro, o segundo
grupo espírita do Brasil, chamado “Sociedade de Estudos Espíritos Grupo Confúcio” e que
posteriormente, no ano de 1876, o nome foi mudado para “Sociedade de Estudos Espíritas
Deus, Cristo e Caridade”, esse grupo “[...] desenvolveria práticas de atendimento à saúde
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física e mental, utilizando-se largamente de tratamento homeopáticos e passes fluído. Esse
grupo tinha como lema “Sem Caridade, não há salvação” [...]” (VILHENA, 2008, p.82, grifos
do autor)
No Rio de Janeiro também houve, em 1875, o surgimento da primeira revista espírita do
Brasil, que inicialmente ficou sendo chamada de Revista da Sociedade Acadêmica Deus,
Cristã e Caridade, depois o impresso recebeu o nome de Revista Espírita do Brasil.
Após esses importantes marcos que demarcaram a presença do Espiritismo na Bahia e
no Rio de Janeiro, a doutrina espírita passou a se fazer presente de maneira sistematizada, em
outros estados do Brasil, como ilustra o Quadro 1 a seguir:
Quadro 1 – Espiritismo e suas realizações no Brasil.
Ano Estado / Cidade Realizações
1881 São Paulo – Areias – Grupo Espírita Fraternidade Areense
– Jornal União e Crença
1883 Rio de Janeiro – Macaé – Sociedade Espírita Luz Macaense
1885 São Paulo – Marília – Grupo Espírita Luz e Verdade
1887 Rio Grande do Sul – Porto Alegre – Sociedade Espírita Rio-Grandense
– Grupo Espírita Allan Kardec
1890 Alagoas – Maceió – Centro Espírita das Alagoas
– Revista Espírita Maceió
1890 Paraná – Curitiba – Revista A Luz
1879 Pará – Belém Grupo Espírita Luz e Caridade
1890 Pará – Belém – Revista O Regenerador
1893 Paraná – Paranaguá – Periódico O Farol
1894 Mato Grosso – Cuiabá – Periódico A Verdade
1897 Minas Gerais – Uberaba – Periódico Arrebol
1899 Pernambuco – Recife – Periódico O Guia Fonte: Elaborado pela autora, com base em Kloppenburg (1960).
A criação de vários impressos e a proliferação de grupos e sedes espíritas, como lista o
Quadro 1, evidencia a maneira como ocorreu o processo de consolidação dos ensinamentos
da doutrina no Brasil, que foi impulsionada por iniciativas de diversas partes do país, de
fundamental importância para que, gradativamente, o Espiritismo ganhasse mais adeptos e se
tornasse mais conhecido em terras brasileiras, fazendo com que Kloppenburg (1960, p.23)
afirmasse que, entre todas as nações do mundo, o Brasil é internacionalmente conhecido como
o maior país espírita do Planeta, sendo para seus seguidores o “Coração do Mundo e a Pátria
do Evangelho”.
Tempos depois, já no século XX, um levantamento sobre a população de espíritas e sua
distribuição geográfica, realizado nos de 1940 e de 1950, retratado no Quadro 2, apontou que
48
o número de seguidores da doutrina aumentou de modo considerável, revelando todo o
alcance por ela assumido desde as suas primeiras manifestações, tendo em vista que, por meio
dessa amostragem, fica claro que a sua presença se estende por quase todas as principais
cidades brasileiras.
Quadro 2 – O Espiritismo no Brasil – População Espírita 1950.
Fonte: (KLOPPENBURG, 1960, p. 25).
A partir dessa breve explanação sobre as origens da Doutrina Espírita no Brasil, faz-se
necessário compreender a história do Espiritismo em Belém do Pará, cujo alcance, na
sociedade paraense, se estende ao contexto de criação da Instituição Cristã Espírita Lar de
Maria, foco deste estudo, esta que se fundamentou nos princípios dessa doutrina para o
acolhimento de crianças e idosos desvalidos, em de agosto de 1947.
1.3 ESPIRITISMO EM BELÉM DO PARÁ
A inserção do Espiritismo em Belém do Pará não foi diferente em relação as demais
regiões do Brasil. Todavia, fincar a bandeira do Espiritismo na capital paraense foi um
processo lento, permeado por dificuldades para muitos de seus adeptos, que tiveram receio do
desaparecimento dessa doutrina, logo em seus primeiros momentos de implantação.
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A chegada do Espiritismo no Pará ocorreu por volta dos anos de 1860 a 1870
(MAGALHÃES, 2012), mas não se tem informações detalhadas sobre a forma como ele
chegou ao Estado. É somente no contexto de 1879 que de fato se tem notícias consistentes
sobre essa doutrina. Esse ano demarca a criação do primeiro grupo espírita em terras
paraense, visto que Belém ainda vivenciava o período Imperial, tendo a denominação de
Província do Pará. Esta compreendia um vasto território de característica própria de um clima
tropical e já começava a apresentar o início do embelezamento do centro da cidade em
decorrência da primeira fase do ciclo da borracha que foi 1879 a 1912.
Conforme Rocque (1968), José Coelho da Gama e Abreu, em 7 de abril de 1879, foi
nomeado o presidente da Província, ficando neste cargo até 29 de março de 1881, devido os
seus bons serviços prestados a nação, recebendo de D. Pedro II, o título de Barão do Marajó.
Este teve, como uma das marcas de sua gestão, uma política de modernização e
embelezamento da cidade, diversas intervenções, com intuito de alinhar a cidade aos
costumes e hábitos dos grandes centros europeus, reconhecidamente modernos e civilizados.
Do ponto de vista econômico, em meados do século XIX e início do século XX, o Pará
apresentou um grande surto de produção e exportação do látex amazônico, determinado pelas
exigências do mercado internacional. A Europa vivia a febre da industrialização que
impulsionou profundas transformações no cenário urbano (MENEZES; ROSA, 2011).
A população da Província do Pará, na década de 1870, aumentava de maneira gradativa,
provocando, posteriormente, “[...] um impacto na cidade, na medida em que o aparelho
urbanístico mostrou-se insuficiente para atender às demandas da população” (SARGES, 2010,
p. 146). Esse crescimento populacional estava diretamente ligado ao ciclo da borracha.
Esse processo de urbanização, motivado por essa fase áurea, trouxe também para Belém
muitos imigrantes destinados a participar da exploração do látex, o que impactou em um
ordenamento do espaço público e se intensificou com o fluxo de nordestinos que vieram em
direção da Amazônia, contribuindo para uma alteração de natureza demográfica na capital da
Província (SARGES, 2002).
O ciclo da borracha repercutiu nas relações econômicas, políticas, culturais e sociais na
região (SARGES, 2010). A fase áurea trouxe um embelezamento a cidade que possibilitou
uma transformação na paisagem da capital com a construção de suntuosos prédios, praças,
colégios, teatros, alargamentos de avenida, iluminação pública, bondes elétricos, fábricas,
livrarias, entre outros. Projetos profundamente inspirados nas referências estéticas europeias.
Ao tratar de Belém e Manaus, que viveram esse processo, Sampaio (2015, p. 22) ressalta que:
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As mudanças nas duas cidades, capitais dos negócios da borracha, foram
rápidas. Aterros de igarapés, calçadas de ruas, abertura de grandes avenidas
e praças, construção de pontes e prédios públicos suntuosos, instalação de
bondes, luz elétricas, água tratada e vários outros serviços que faziam
diferença na qualidade de vida de qualquer cidade. O crescimento urbano era
um dos sinais mais importantes da prosperidade do Pará e do Amazonas.
Este período foi chamado de belle époque.
E nesse contexto podiam-se perceber também mudanças no padrão de vida das pessoas
de posses, o comportamento e o modo de vida burguês, inspirado, principalmente, no modelo
francês. Muitas ideias circularam nesse período, pois alguns filhos de ricos seringalistas foram
para a Europa estudar e trouxeram novos hábitos, costumes, literaturas, modo de vestir para a
vida da elite paraense. De acordo com Sampaio (2015), as pessoas que tinham condições
financeiras possuíam uma vida bem confortável e regrada de inovações, o cotidiano dessas
pessoas era permeado por roupas elegantes, móveis e artigos de luxos, peças de teatro, livros,
alimentos requintados etc.
A vida cultural no século XIX foi intensa para a elite paraense da época, muitos espaços
foram criados para entretenimento, como exemplo, o Teatro da Paz que foi inaugurado em
1879, assim como o “[...] Café Chic, Café da Paz (local preferido para reunião política),
Moulin Rouge, Chat Noir, Café Madri e Café Riche, este último considerado um dos
principais centros da sociedade paraense” (SARGES, 2010, p. 111).
Dentre os problemas sociais, produzidos pelo advento da Belle Époque, Sampaio (2015,
p. 24) destaca que a vida da maioria das pessoas era muito difícil, pois “[...] Viver custava
caro porque muitas coisas eram importadas e também eram caros os aluguéis das casas”. Mas
os problemas não terminam por aí, com a modernização do centro da cidade, muitas
trabalhadores que lá viviam em suas modestas casas de madeira tiveram que mudar do centro
da cidade, e “[...] Longe do centro significava ficar longe do Mercado e aí ficava difícil
comprar comida. Também longe dos serviços de transporte, água, luz elétrica. A vida não era
fácil mesmo” (SAMPAIO, 2015, p. 25).
O segundo momento da consolidação da doutrina espírita, conforme Santana (2006), é
datado de 12 de junho de 1879, tendo como marco a fundação do “Grupo Espírita Luz e
Caridade”, que funcionava, à época, na rua nova de Santana n. 7a, hoje, a atual Senador
Manoel Barata. Era composto por Abel Augusto Cézar de Araújo, José Sharr da Mota e Silva,
José Joaquim da Silva e Manoel Gonçalves de Silva, responsáveis pela presidência do grupo;
e os membros, João M. Castelo Branco, Feliciano Ferreira Bentes, Antônio da Mata e Pedro
Damasceno d’ Alcântara Bentes.
51
Para Santana (2006, p. 27),
Pode-se dizer, sem receio de errar, que os poucos e abnegados obreiros que
fundaram essa entidade foram os primeiros desbravadores do terreno da
divulgação do Espiritismo, neste Estado. Corajosos pioneiros, enfrentaram
de peito aberto, a pecha de ridículos; acusados de promover atos de
pajelança e feitiçaria; suportaram as dores e os sofrimento morais a que
comumente são submetido todos os que se aventuram a propagar um ideia
nova, principalmente quando essa ideia traz em seu bojo a revivescência dos
ensinamentos de Jesus, contrariando os preceitos dogmáticos de uma crença
enraizada na fé popular.
Os pioneiros do “Grupo Espírita Luz e Caridade” – 1879 enfrentaram variadas críticas,
mas persistiram nos seus serviços à causa espírita. Desse grupo se originou, no dia 16 de
março de 1890, a criação e lançamento do jornal O Regenerador, considerado o primeiro
impresso jornalístico da região Norte destinado à divulgação do espiritismo (MAGALHÃES,
2012).
De acordo com Santana (2006), o “Grupo Espírita Luz e Caridade” teve um importante
papel na divulgação do Espiritismo no Pará, pois realizou diversas ações em ‘prol’ da
comunidade no ano de 1891, entre elas:
ajudou as vítimas de um incêndio na Bahia, arrecadando recursos financeiros em favor
dos atingidos;
desenvolveu um pedido por escrito ao governador na época Justo Leite Chermont10
,
relatando a violência praticada de forma discriminada contra pessoas que viviam nas
ruas de Belém; e
executou reuniões com objetivo de arrecadar contribuições para a manutenção do
Liceu de Artes e Ofício “Benjamin Constante”11
.
Essas iniciativas do grupo, acima de tudo, foram realizadas em virtude da difusão dos
ensinamentos da Doutrina, os quais tiveram progressivo desenvolvimento, impulsionados
pelo franco apoio que chegava de diversos lugares, conforme Santana (2006).
Para Magalhães (2012), a partir dessas primeiras ações iniciais do primeiro grupo
espírita de Belém é que inúmeros núcleos foram surgindo em 1890 com o mesmo propósito
de fortalecer os princípios do espiritismo, dentre os quais se destaca: o Centro Espírita do
Estado do Pará; a Sociedade Espírita Paraense, esta fundada sob a presidência do senhor
10
Justo Leite Chermont foi figura de destaque na vida política e social do Pará. Foi o primeiro governador do
Pará no regime republicano, seu governo foi até 7 de fevereiro de 1891. 11
Liceu de Artes e ofícios Benjamin Constant, criado em 22 de janeiro de 1892, instituto que contribuiu para
crescimento social e educativo no período Pará República.
52
Pinheiro Guedes12
; o Grupo Espírita Amor e Perdão; o Grupo Espírita Regeneração; o Grupo
Espírita Fé e Constância; Grupo Espírita Abnegação; e o Centro Espírita Esperança.
A chegada do século XX traz o que se chama de Espiritismo, precisamente no ano de
1902, por meio de Arthúnio Vieira13
e a sua esposa, Emília Freitas Vieira. O casal teve um
importante papel na difusão de ideias espíritas em diversas cidades que passavam. Os dois
transferindo-se do município de Maranguape, Ceará, onde já trabalhavam intensivamente na
seara espírita, fundaram em Belém o Centro Espírita Paraense, que passou a editar, ainda no
mesmo ano, a revista Sophia e o jornal Luz e Fé, causando larga repercussão em toda a região.
“[...] O gesto idealista e arrojado do valoroso casal insuflou novo ânimo aos espíritas
belenenses, tonificando sobremaneira o movimento espírita local” (MAGALHÃES, 2012, p.
22).
A divulgação da Doutrina Espírita pelo casal em Belém não foi tão simples assim, uma
vez que provocou reações de pessoas contraria ao Espiritismo, originando em apedrejamento
e na tentativa de ocupação policial de uma das casas em que residia o casal, entre 1902 e
1904, onde funcionava o Centro Espírita Paraense com uma sessão pública. Sobre esse fato,
Santana (2006, p.38) diz que,
[...] Foi um verdadeiro escândalo. A casa foi apedrejada e a polícia tentou
invadi-la. Nada disso, porém, arrefeceu o entusiasmo e o ânimo de Arthúnio
e sua companheira, nem o do próprio povo que, levado pela curiosidade e
pela novidade do acontecimento de uma reunião espírita, ali passou a fluir,
em grande número, motivo por que, nas reuniões seguintes, chegou-se a uma
frequência de 400 pessoas, não obstante as incessantes ameaças que vinham
de toda a parte.
Até 1904, o Centro Espírita conseguiu desenvolver as atividades pretendidas, mas, de
acordo Magalhães (2012), o casal Arthúnio Vieira e Emília Freitas Vieira foram forçados a
mudar de residência, indo para a cidade de Abaetetuba, no Pará, onde continuaram com a
divulgação do Espiritismo, e deixaram o Centro Espírita Paraense nas mãos do Senhor
Antônio Lopes da Silva. Este, não teve forças para deixar o centro em funcionamento,
fazendo que gradativamente fosse terminando esta primeira grande iniciativa do maior núcleo
de divulgação espírita da capital à época.
12
Antônio Pinheiro Guedes (1842 – 1908), sócio fundador da Federação Espírita Brasileira. 13
Arthúnio Vieira – Intelectual, dramaturgo, comediógrafo, poeta, prosador e periodista. É procedente de
Maranguape-CE, chega a Belém com sua família, em 1902, trazendo na bagagem o espírito de lutador destemido
do propagandista espírita. Arthúnio Vieira chegou ao Espiritismo por intermédio da sua esposa, Emília Freitas
Viera, que o convidou a conhecer o “Centro Espirita Amazonense” (SANTANA, 2006, p.242).
53
No transcorrer do ano de 1904, o Espiritismo não teve tanta repercussão. Isso foi
ocorrer, somente, no ano de 1905, quando o senhor José Domingues da Silva Lopes começou
a fazer reuniões, em sua residência, com alguns frequentadores e sócios do extinto Centro
Espírita Paraense, entre eles, Francisco Solerno Moreira14
, que buscava por meio de palestra
doutrinária recordar aos companheiros as ideias que Arthúnio e sua esposa disseminavam no
Centro Espírita Paraense. Para Santana (2006, p. 40, grifos do autor),
Realizadas tais sessões sob a direção de Silva Lopes, logo deram ótimos
resultados, constatada pela grande afluência aos trabalhos de espíritas e
mesmo de estranhos, tornando-se necessário imprimir-se a essas reuniões
uma orientação mais adequada. Ficou, então, assentada a reorganização do
antigo “Centro Espírita Paraense”, o que realmente sucedeu. A reinstalação
ocorreu no dia 6 de maio de 1905, ainda sob a presidência de Silva Lopes,
acontecimento que voltou a despertar o entusiasmo dos adeptos do
Espiritismo, principalmente com o súbito ressurgimento das sessões
espíritas.
Francisco Solerno Moreira (Imagem 8), animado pelos grandes trabalhos que estava
realizando em favor dos espíritas no Pará, sugeriu à criação de um impresso que teria o
objetivo levar às residências e a todos os lugares da cidade de Belém reflexões do Espiritismo.
Tal impresso ficou denominado de Sophia, denominação de uma revista mensal, criada,
anteriormente, por Arthúnio Vieira que não teve tanto êxito à época, mas em 6 de maio de
1905 passa a ser reeditada por alguns de seus antigos membros (MAGALHÃES, 2012, p. 23).
14
Francisco Solerno Moreira nasceu no Estado da Paraíba e era militar. Chegou a Belém em 1901 e ainda não era
espírita, fundando o Jornal Boêmia. No Pará, comandou o Depósito de Pólvora do Aurá e serviu a seguir no
Corpo de Tropa que depois seria o 26º o Batalhão de Caçadores. Funda, em 1906, o “Grupo Espírita Atalaia”
(SANTANA, 2006).
54
Imagem 8 – Francisco Solerno Moreira.
Fonte: (SANTANA, 2006, p. 243).
Segundo Santana (2006), no ano de 1906, outra realização relevante para a consolidação
do Espiritismo foi feita por Francisco Solerno Moreira em terras paraenses. Este, juntamente
com o recém-chegado da cidade do Rio de Janeiro, o senhor Francisco de Paula Menezes15
,
fundou o “Grupo Espírita Atalaia” (1906), que em pouco tempo prosperou em Belém.
Conforme Magalhães (2012), as lutas, em favor do espiritismo no Pará, por parte de
Francisco Solerno Moreira e de Francisco de Paula Menezes, resultaram na fundação da
União Espírita Paraense, em 20 de maio de 1906, que funcionou por algum tempo na sede da
Associação dos Empregados, na travessa São Mateus, n. 153. Para esse autor, a União Espírita
Paraense, cujo presidente era o senhor Abel Augusto Cezar de Araújo, serviu de local para a
realização de importantes eventos espíritas. A criação da União Espírita foi um importante
marco na história dessa doutrina, pois a partir dela muitas outras iniciativas foram pensadas, o
que pode ser visualizado no Quadro 3, para o consolidação do espiritismo no Pará
15
Francisco de Paula Menezes oficial da Marinha de Guerra. Veio para Belém em 1905, proveniente da cidade
do Rio de Janeiro, onde havia participado, no ano anterior, no mês de outubro, das comemorações do centenário
de nascimento de Allan Kardec. “[...] Em 1907, juntamente com Solerno Moreira, funda a escola primária para
crianças carentes, denominada de “Allan Kardec” que funcionava na sede “Atalaia”. Idealizou a fundação da
casa federativa no Pará e foi sua a sugestão do nome União Espirita Paraense” (SANTANA, 2006, p. 245, grifos
do autor).
55
Quadro 3 – Espiritismo e suas realizações no Pará.
ANO REALIZAÇÕES FUNDADO POR
1906 A Revelação – Órgão de divulgação
Jornal da União Espírita Paraense
Francisco Solerno Moreira
1906 União Espírita Paraense Francisco Solerno Moreira e
Francisco de Paula Menezes
1906 Grêmio Espírita Beneficente ‘Romualdo
Coelho’ na cidade de Cametá
_____
1906 Revista Verdade e Fé --------
1960 Grupo Espírita Atalaia Francisco Solerno Moreira e
Francisco de Paula Menezes
1907 Escolas Alla Kardec e Amélia de
Menezes – Escolas Primária para
crianças carentes
Francisco Solerno Moreira
1908 Grupo Espírita Esperança e Caridade Ludovico Andrade
1910 Jornal Alma e Coração Francisco de Paula Menezes
1910 Grupo Espírita Deus, Cristo e Caridade. Archimimo Pereira Lima
1911 Centro Espírita Eduardo Siqueira Archimimo Pereira Lima
1912 Cogita criar órgão de assistência aos
necessitados: postos curadores e
assistência à infância desvalida Esses
órgãos passa a funcionar em 1912
Antônio Lucullo de Souza e Silva e
sua esposa Vicência Silva
Ludovico Andrade e sua esposa
Matilde e cunhadas Ida e Vitória
1912 – Revista Espírita
– Escola Mont’Alverne – Para criança
necessitadas
Raymundo Nogueira de Farias
Domingos Sylvio Nascimento
1912 Instituto de Assistência à Infância Elmira Ribeiro Lima
1913 – Dispensário homeopático
– Farmácia Homeopática
Arthúnio Vieira
Antônio Pinheiro Filho
1914 Criação de uma biblioteca de obras
espíritas para ao público
Arthúnio Vieira
1914 Conselho Fraterno da União Antônio Lucullo de Souza e Silva
1915 Escola de médiuns Arthúnio Vieira
1916 Curso primário gratuito – noturno Arthúnio Vieira
1916 Dispensário Homeopático Archimimo Pereira Lima
1917 Periódico A Verdade Carlos Barros de Souza
1923 Programa “Voz da Terceira Revelação”
Na Rádio Marajoara
Rafael Fernandes de Oliveira
1926 Centro Espírita Yvon Costa Yvon Costa
1926 Associação Espírita Caminheiros do
Bem
Archimimo Pereira Lima
1926 Escola Infantil gratuita para criança –
Na sede do grupo espírita Os
Caminheiros do Bem
Archimimo Pereira Lima
Elmira Ribeiro Lima
1930 – Grupo Espírita Filho Pródigo
– Colônia Reformatória de Menores na
Ilha de Cotijuba-Pa
Raymundo Nogueira de Farias
Domingos Sylvio Nascimento
1946 Juventudes espíritas: Léon Denis,
Francisco de Assis, Caminheiros do
Bem, João Evangelista.
Oliveiros de Assunção Castro
56
Fonte: Elaborado pela autora com base em Santana (2006).
As ações e obras, realizadas pelos adeptos do Espiritismo no Pará, especialmente em
Belém, onde se concentrou a maioria de suas manifestações, ilustradas no Quadro 3,
constituem-se na criação de impressos, como revistas e jornais para servir para fins de
divulgação dos seus princípios, e também programas de rádio, expressando uma nova maneira
de veicular informações para além dos suportes escritos, fazendo, inclusive, que muitos mais
pessoas tivessem acesso a esse conhecimento, em virtude do alcance desse meio de
comunicação.
É possível observar, ainda, a formação de grupos e centros, sinalizando ser uma maneira
de congregar seguidores, assim como de formar pessoas interessadas no tema; a criação de
eventos para reunir seguidores para se discutir a doutrina; e bibliotecas e livrarias, no sentido
de disponibilizar de modo sistemático e se fazer mais acessíveis os escritos espíritas.
Vale enfatizar, também, a preocupação em se criar cursos de formação espírita e
educacionais, a exemplo do Ensino Primário noturno, assim como órgãos de assistência aos
mais necessitados, que se constitui um dos lemas mais fortes no Espiritismo, tendo em vista
que, para este, sem caridade, não há salvação, e como se nota no Quadro 3, o alvo eram os
adultos, os jovens, os velhos e as crianças, isto é, havia a motivação de se olhar para várias
faixas etárias daqueles que necessitavam de ações caridosas.
Nesse sentido, a grande variedade de inciativas, implementadas no cenário paraense,
permite refletir que as múltiplas maneiras de divulgar, formar e trabalhar à luz do Espiritismo
1946 Centro Espírita Obediência e
Resignação
Aristóteles Fernandes de Abreu
Oswaldo Caminha
Lauro Monteiro
1947 – União da Mocidade Espírita Paraense
– Confraternização Espírita Paraense
– Instituição Lar de Maria – Abrigo
para crianças e idosos
Oliveiros de Assunção Castro
1950 – Mocidade Espírita Legião do Bem Lúcia Pinto Ribeiro
1954 – Grupo Espírita Boa Vontade Oswaldo Santos
1959 – Jornal Pará Espírita Luiz Carlos Leal – Jovem de 16 anos
1959 – 1º Programa Radiofônico Espírita: A
Voz da Terceira Revelação – Pela rádio
Clube do Pará
-------
1960 Inauguração da livraria André Luiz --------
1962 Inauguração do Grupo da Fraternidade
Infanto-Juvenil ‘Sheila’
Centro Espírita “Allan Kardec”–
Bairro Marambaia
1962 1º Semana Espírita de Belém
1º Curso Intensivo de Preparação de
Evangelizadores da Infância
Cecília Rocha
57
pode ser considerado um relevante motivo que fez com que tal doutrina fosse, sobretudo a
partir das primeiras décadas no século XX, tão presente no estado em decorrência de suas
ações e obras.
Portanto, podemos perceber, na presente seção, vários momentos que compõem a
trajetória do movimento espírita paraense e que vários foram os pioneiros do segmento
espírita que se ‘debruçaram’ para consolidá-lo no Pará. Esse processo foi sendo construído
permeado de dificuldades e se utilizando de iniciativas, como: a criação e a manutenção de
impressos, grupos e instituições que intencionavam fortalecer e disseminar os princípios do
espiritismo. Dentre essas ações se encontra a Instituição Cristã Espírita “Lar de Maria”, foco
deste estudo, cujo objetivo foi o de oferecer assistência e educação para as crianças pobres da
Cidade de Belém, regida pela doutrina espírita e criada por um seguidor desta que teve grande
destaque na capital paraense, Oliveiros de Assunção Castro.
58
SEÇÃO 2: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: a construção do
prédio e dos seus espaços educativos
As instituições são criadas e organizadas pelo homem com a finalidade de atender as
suas necessidades, sejam elas de caráter educativo, punitivo, assistencial, entre outras. No
caso da doutrina espírita, além de sua dimensão caritativa de auxílio aos mais carentes, foram
criadas instituições de atendimento a crianças para afirmar o espiritismo em determinados
contextos, no sentido de evidenciar os propósitos dessa doutrina em contraposição a diversos
estigmas por ela carregados, tais como: armação ou coisa do demônio que era capaz de criar
alucinações, gerar loucuras nas pessoas adeptas do espiritismo, que era visto como uma
verdadeira heresia a ser combatida (CARMURÇA, 2001). Durante o regime político do
Estado Novo 16
, entre os anos 1937 a 1945, pertencer a uma família espírita era estar sujeito a
perseguições religiosas, médicas e policiais.
O espiritismo foi responsável pela criação de muitas instituições por todo o Brasil,
tornando-se, muitas vezes, parceiro do poder público. No Brasil, a partir de 1919, o lema
“fora da caridade não há salvação” passou a se traduzir em um intenso movimento de criação
de instituições que visavam acolher, na modalidade de abrigo, a infância desvalida. Nesse
sentido, esta seção focaliza o processo de criação, construção do prédio do “Lar de Maria”, os
espaços, bem como as suas finalidades para o projeto assistencial e educativo proposto pelo
“Lar”. Por fim, abordo as doações para que o projeto se concretizasse e a inauguração do “Lar
de Maria”.
2.1 OLIVEIROS DE ASSUNÇÃO CASTRO: o criador do “Lar de Maria”
A Instituição Cristã Espírita “Lar de Maria” foi fundada no dia 15 de agosto de 1947,
em uma reunião solene, realizada por uma sociedade espírita denominada “Amor e Verdade”,
em Belém do Pará, na sede desse grupo, localizada, à época, na Travessa Castelo Branco, n.
70, Bairro de São Braz. Teve como criador o suboficial da aeronáutica e seguidor do
espiritismo Oliveiros de Assunção Castro (FOLHA DO NORTE, 1957).
16
Regime político, fundado por Getúlio Vargas em 1937 que durou até 1945, caracterizado pela centralização do
poder, nacionalismo, anticomunismo e por seu autoritarismo.
59
Imagem 9 – Oliveiros de Assunção Castro.
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
Oliveiros de Assunção Castro (Imagem 9), nasceu no dia 15 de agosto de 1912, na
cidade de Pinheiro, no Estado do Maranhão. A denominação Assunção de seu nome faz
referência ao dia 15 de agosto, dia da Ascensão de Nossa Senhora. Filho de Edésio Castro e
de Joanna Tavares de Castro. Oli, como era chamado pelas pessoas mais próximas, nem
sempre viveu em sua terra natal, quando tinha sete anos, seus pais mudaram para Alcântara,
depois para São Luís, Viana e finalmente Cururupu, onde passou boa parte de sua infância
(SANTANA, 2006).
Segundo Santana (2006), Oliveiros aos 15 anos foi morar em São Luís na cidade de
Anil, onde trabalhou numa casa de comércio a fim de ajudar no sustento de seus onze irmãos,
pois seus pais eram muito pobres. Com 16 anos de idade ingressou na carreira militar, tendo
realizado seus estudos na escola de aviação do Rio de Janeiro, à época, situada no Campo dos
Afonsos, em Marechal Hermes. Lá se tornou suboficial. Oliveiros de Castro casou-se com
Margarida Castro e, posteriormente, com Raimunda, com quem teve oito filhos, após a morte
desta, uniu-se, anos depois, com Rosa Maria, com quem teve mais três filhos.
Oliveiros de Assunção Castro, mesmo com a carreira militar, nunca deixou de trabalhar
pela difusão da Doutrina Espírita em que foi iniciado, ainda, na adolescência por influência de
sua mãe, a senhora Joanna Castro. Ele tinha o desejo de fundar em Pinheiros-Ma, sua terra
natal, uma obra assistencial que pudesse de alguma forma ajudar aquele povo sofrido do
interior maranhense. Para realizar tal feito, renunciou a sua carreira militar, pedindo para ser
60
transferido para a reserva, pois só assim poderia realizar o seu desejo de construir a obra
assistencial Paulo de Tarso (SANTANA, 2006).
Ao chegar a Pinheiros para fundar a Casa de Paulo de Tarso17
(Imagem 10), Oliveiros
deparou-se com muitas pessoas que não aceitavam a Doutrina Espírita. Ele, por não concordar
com essa oposição ao espiritismo, lutou contra calúnias, ofensas, tentativa de morte e prisão.
Oliveiros de Castro foi levado à presença de governantes e Chefe de Polícia do Estado do
Maranhão, chegando até mesmo a ser expulso de sua terra natal, com a tropa da polícia
ameaçando-o sob a mira de suas baionetas e metralhadoras. Nesse cenário, “[...] Teve que se
retirar de sua cidade natal em razão de conflitos com a igreja católica local, retornando, anos
depois, enfrenta o clero e termina de construir a “Casa Paulo de Tarso”, edificando o prédio
do “Centro Espírita Pinheirense” (SANTANA, 2006, p.260, grifos do autor).
Imagem 10 – Casa de Paulo de Tarso – Maranhão.
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
Defensor da Doutrina que professava, Oliveiros de Assunção Castro participou de
várias polêmicas e debates em jornais, rádios e televisão com diversos representantes de
outros credos religiosos. Além da palavra fácil, Oliveiros possuía o dom da música e da
poesia. Com seu acordeom compôs várias músicas para a Doutrina Espírita durante mais de
17
A Casa de Paulo de Tarso uma obra assistencial que tinha o intuito de prestar assistência material e espiritual
ao ser humano, principalmente as crianças e aos idosos carentes do Maranhão.
61
50 anos que a ela se dedicou, dentre as quais destaco: Canção da alegria Cristã, Alma Gêmea
(cantada em todo o Brasil); Trilogia da salvação; Hino a Francisco de Assis; Regressando
(homenagem à cidade de Pinheiro), Exortação do mestre e Nova Era e Quem Canta. Além de
músicas, Oliveiros de Castro também escreveu versos e poesias à sua terra natal, e sobre
passagens evangélicas, tais como: Maria Madalena, O Tanque de Betesda, Estrada de
Damasco e outras (SANTANA, 2006). A seguir, nos Quadros 4 e ,5,,algumas músicas de
autoria de Oliveiros de Castro.
Quadro 4 – Canção da Alegria Cristão e Canção de Exortação do Mestre.
Fonte: Disponível em: <www.acervoespirita.com.br>. Acesso em: 15 set. 2015.
A música a seguir foi escrita e dedicada para as crianças de todas as Instituições
Espíritas que Oliveiros de Assunção Castro construiu. É perceptível que a letra da música
expressa um ato de persuasão para que as pessoas se comovam e ajudem no trabalho que
estava sendo realizado nos abrigos de caridade espíritas em ‘prol’ das crianças.
CANÇÃO DA ALEGRIA CRISTÃ
(Leopoldo Machado e Oli de Castro)
Somos companheiros, amigos, irmãos
Que vivem alegres, pensando no bem
A nossa alegria é de bons cristãos
Não ofende a Jesus, nem fere a ninguém
A nossa alegria (a nossa alegria)
É bem do Evangelho (é bem do Evangelho)
Vibra e contagia (vibra e contagia)
Da criança ao velho (da criança ao velho)
Mesmo entre perigos (mesmo entre
perigos)
Daremos as mãos (daremos as mãos)
Como bons amigos (como bons amigos)
Como bons cristãos.
Sempre ombro a ombro, sempre lado a lado
Vamos trabalhar com muita alegria
Pelo espiritismo mais cristianizado
Pela implantação da paz e harmonia!
A nossa alegria...
EXORTAÇÃO DO MESTRE
Se alguém quiser vir após mim
Renuncie a si mesmo e me siga,
Sou o Caminho, a Verdade e a Vida
De um Reinado que não terá fim.
Se me amardes, como eu vos amei
Rogarei a meu Pai, com fervor,
Ele então mandará outro Consolador
Relembrar tudo o que eu vos legue,
Este, vos guiará, com maior esplendor
Na conquista do mais puro amor!
Vinde a mim vós que estais oprimidos
Suportando o rigor da aflição,
Encontrareis no meu coração
O conforto para os combalidos.
Se cumprirdes o meu mandamento
Todos hão de vos reconhecer,
E sereis bem ditosos, por assim receber
Os louvores do merecimento,
Só então amareis, com o mais sublime
ardor
Vosso Mestre e vosso CRIADOR!
62
Quadro 5 – Canção Quem Canta
Fonte: Disponível em: <www.acervoespirita.com.br>. Acesso em: 15 set. 2015.
Em 1945, Oliveiros chegou à Belém e de início se engajou no trabalho do Movimento
Espírita Paraense, que foi fundado no dia 20 de maio de 1906. Oliveiros de Assunção, nesse
mesmo ano, fundou grupos de jovens chamados “Juventudes18
Espíritas em Belém”: Leon
Denis, na “União Espírita Paraense”; Francisco de Assis, na “Confederação Espírita
Caminheiros do Bem”; e João Evangelista, no “Centro Espírita Francisco de Assis”,
promoveu a fusão dessas três mocidades, formando a “União de Juventude Espírita Paraense”.
De acordo com Santana (2006, p.89), na capital paraense,
18
Juventudes espíritas ou também chamadas de Mocidade Espírita é um setor interno de um Centro Espírita,
destinado a encontros de jovens com o intuito de estudar a Doutrina Espírita e desenvolverem atividades
culturais.
63
[...] Oliveiros de Assunção Castro, que ficou conhecido nos arraiais espíritas
locais como Oli de Castro. Sargento e posteriormente suboficial da
Aeronáutica, era pessoa talentosa, bem falante, dotada de espírito de
liderança e que dominava bem o vernáculo. Com tais predicados, aliados ao seu entusiasmo e magnetismo pessoal, veio, em realidade, sacudir o
Movimento Espírita Paraense por volta dos anos de 1946/1949.
Convém ressaltar que o interesse pela construção de obras de caridade, norteado pela
doutrina espírita, que tanto o motivou ao longo de sua trajetória de vida, surgiu, ainda, na
adolescência, quando, ao participar de uma reunião espírita19
, presenciou uma revelação20
direcionada para ele, expressando que este teria uma importante missão a desenvolver na terra
em ‘prol’ dos órfãos e dos desvalidos da sorte (SANTANA, 2006).
Ser Órfão é a condição social de uma criança, cujo pai ou mãe faleceram ou a
abandonaram. Já o termo desvalido é usado para aquelas crianças que pertenciam, a famílias
de baixo poder aquisitivo. Para Bastos (2005), as famílias consideradas desvalidas, pelo seu
estado de pobreza eram colocadas à margem da sociedade.
Segundo Veiga (2012, p.8), a partir do século XVIII era recorrente encontrar em
documentação e legislação a palavra “desvalida”, fazendo referência às crianças ditas
marginais, o prefixo de “desvalida”, especificamente a sílaba “des” tem o significado “não ser
válido”, isso “do ponto de vista físico, material, cultural”.
“Órfãos”, “expostos”, “enjeitados”, “deserdados de sorte” ou “de fortuna”, “infância
desditosa” ou “infeliz” (ARANTES, 2011, p. 176). Estas foram, dentre muitas palavras,
usadas para designar as crianças pobres que eram largadas a própria sorte.
A missão revelada a Oliveiros de Castro de trabalhar na terra em ‘prol’ dos órfãos e dos
desvalidos da sorte vai ao encontro de um dos maiores princípios da doutrina espírita, que é a
caridade aos necessitados, pois o espiritismo postula que não se pode amar a Deus sem
praticar a caridade para com o próximo, todos os deveres do homem se resumem nesta
máxima: “Fora da caridade não há salvação” (KARDEC, 2014, p. 210).
Os seguidores dessa doutrina, embasados nesse lema, se emprenharam na edificação de
instituições espíritas para a assistência e à educação de crianças, para assim colocarem em
prática aquilo que sempre estudavam sobre a caridade em ‘prol’ dos mais necessitados. Dessa
19
É uma reunião composta pelo presidente da mesa, os palestrantes e o público, com intuito de fazer
comunicação com mortos ou espíritos (MASTRAL, 2008, p. 121). 20
No sentido específico da fé religiosa, diz-se revelação, particularmente, das coisas espirituais que o homem
não pode saber por ele mesmo, que não pode descobrir por intermédio de seus sentidos, e cujo conhecimento é
dado por Deus ou pelos seus mensageiros, através da palavra direta, ou pela inspiração. Neste caso, a revelação é
sempre feita a homens privilegiados, designados sob o nome de profetas ou messias, isto é, missionários, tendo a
missão de transmiti-la aos homens. Considerada sob este ponto de vista, a revelação pressupõe a passividade
absoluta; aceita-se sem verificação, sem exame e sem discussão (KARDEC, 2010, p.27).
64
forma, muitas instituições que atendiam crianças com base nesse postulado da doutrina
espírita, referente à caridade, viam nisso a possibilidade de transformação social por meio da
educação e do trabalho.
Segundo Arriba (2010, p. 187), do ponto de vista organizacional, os espaços das
instituições apresentam uma dinâmica entrelaçada. Para o autor, “[...] o centro espírita,
enquanto unidade elementar consiste no lugar privilegiado para a prática dos estudos e para a
execução prática da doutrina; lá, as formas de caridade mais praticadas são a ‘assistência
espiritual’ e os trabalhos de ‘desobsessão’”. Quase sempre funcionam, atreladas aos centros,
instituições de auxilio social e material, frequentemente creches, escolas profissionalizantes,
albergues, orfanatos, hospital e asilos.
Oliveiros de Castro procurou estudar o Espiritismo e a sua essência por meio das obras
de Allan Kardec. Este aborda o espiritismo dentro de uma proposta da “filantropia21
” como
um instrumento da práxis social, postulando que a Caridade é o Evangelho posto em prática,
dando ênfase na relação caridade e amor ao próximo. Para Kardec (2008, p. 280, grifos do
autor), “[...] O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, porque amar ao
próximo é fazer-lhe todo o bem possível, que desejaríamos que nos fosse feito. Tal é o sentido
das palavras de Jesus: ‘Amai-vos uns aos outros, como irmãos’”.
A noção de caridade, presente nos estudos dos seguidores dessa vertente espírita, é
aquela destinada a construção de instituições para cuidar das pessoas desfavorecidas, como
orfanatos, abrigos e escolas. A caridade pode se manifestar de forma mais pontual por meio
de doação de alimentos, roupas, remédios etc., a fim de amenizar a dor moral e confortar as
dores cotidianas dos mais necessitados (SANTANA, 2006).
As reflexões de Allan Kardec objetivam mostrar um modelo de educar direcionando a
moral como o caminho adequado para a transformação do espírito, que deve evoluir
progressivamente por meio da ação da caridade. Segundo Kardec (2013), está na caridade
moral o exercício do verdadeiro cristão, pois a caridade material vai ser a obrigação do
homem e também do Estado, que tem o dever de suprir as necessidades básicas dos
indivíduos da sociedade com: alimentação, saúde e educação.
Além dos estudos de Allan Kardec, Oliveiros de Assunção Castro também foi
influenciado pelas ideias do professor e pioneiro do Espiritismo: o senhor Leopoldo Machado
Barbosa, que nasceu no dia 30 de setembro de 1891, no Estado da Bahia. Jornalista, escritor,
21
Sentimento que leva o homem a ajudar os demais. Amor ao próximo; caridade (RIOS, 1997, p. 267).
65
polemista, professor, poeta, compositor, orador, deixou vários escritos, nos gêneros: poesia,
teatro, conto e estudos doutrinários espíritas (RAMOS, 1965)
De acordo com Ramos (1965), Leopoldo foi um dos incansáveis defensor da causa
espírita no Brasil; ele passou a divulgar a Doutrina por todo o país, defendendo-a dos ataques
dos médicos e dos membros da igreja católica. Criou as mocidades espíritas, instituiu também
as escolas de evangelização Infanto-Juvenil. Nesse sentido, foi um grande líder espírita que
incentivava a participação dos jovens nas atividades espíritas, fundou algumas mocidades
espíritas no país, como exemplo, a segunda mais antiga do Brasil a de Iguaçu.
Leopoldo Machado realizou no país 1º Congresso de Mocidades Espíritas do Brasil, no
ano 1948, esse evento foi um marco na história do Espiritismo no Brasil, tendo contado com a
presença de seiscentos participantes espíritas, conforme Ramos (1965).
Além disso, Ramos (1965) destaca que a denominação da palavra “Lar” foi, inclusive,
criada por Leopoldo. “Lar” significava casas de amparo à infância e a velhice, em lugar do
termo orfanato e asilo. A criação de instituições assistencialista obedecia aos princípios do
espiritismo, Leopoldo Machado construiu, no ano de 1940, o albergue noturno o "Allan
Kardec" e o "Lar de Jesus", destinados às meninas órfãs e abandonados, além da escola de
alfabetização “João Batista”, inaugurou também o colégio Leopoldo, onde participou como
educador pedagógico.
Oliveiros de Assunção Castro empenhou-se, ao longo de sua trajetória, na fundação e na
construção de várias instituições e obras assistenciais espíritas, tendo sido uma pessoa
representativa para a construção de obras de caridade e nas ações do Movimento Espírita,
dentre as quais se destacam:
[...] “Lar de Jesus”, em Nova Iguaçu (RJ), “Lar de Maria”, em Macaé (RJ),
“Centro Espírita Arautos de Uma Nova Era”, em Madureira-Rio de Janeiro;
“Lar de Maria”, em Ceilândia (Brasília); “Casa de Paula de Tarso”, Centro
Espírita Pinheirense”, em Pinheiros (MA). Colaborou na construção do
“Educandário ‘Jesus de Nazaré’”, em Belém (PA), dos Centros Espíritas
“Estrada de Damasco” e “ Legião Espírita”, em Japeri (RJ). Funda ainda as
Mocidades Espíritas da Barra, Friburgo e Petrópolis (RJ) e em Campos
Grande (MG). Exerceu atividade no Sanatório Espírita em Campo Grande
(MG); [...]. (SAMANTA, 2006, p.260).
No ano de 1947, Oliveiros de Castro fundou a Instituição Cristã “Lar de Maria”,
destinada a abrigar crianças e idosos, tendo em vista que, ao chegar a Belém, no ano de 1945,
66
notou que havia poucas instituições22
de ensino voltado ao atendimento de meninas. Inspirado
pelos ensinamentos religiosos e norteados pelos princípios da doutrina espírita sobre a
caridade fundou o “Lar de Maria”, para amparar e assistir as meninas pobres. O jornal Folha
do Norte traz o seguinte objetivo desse lar:
Amparar e assistir os pobrezinhos no principio e no fim da existência
terrena, eis o grandioso objetivo do “LAR DE MARIA”, instituição amorosa
e simpática que se impõe aos corações bem formados, despertando-se numa
inspiração superior, para a praticada maior de todas as virtudes a
“CARIDADE”.
Auxiliar, portanto, o “LAR DE MARIA”, na sua construção e manutenção é
demonstrar de forma expressiva e exuberante, a nobreza dos sentimentos
elevados que caracterizam os verdadeiros cristãos.
Séde (sic) provisória: Avenida Osvaldo Cruz. Nº 319 – Belém-Pará.
(FOLHA DO NORTE, 1947, p.3).
2.2 A CONSTRUÇÃO DO “LAR DE MARIA”: Espaço Físico Educativo
De acordo com Magalhães (1999), uma instituição educativa compreende as estruturas
física, administrativa e social, essas têm a finalidade de produção e transmissão de cultura.
Nesse sentido torna-se necessário conhecer a estrutura física da instituição do “Lar de Maria”.
O início da construção do prédio dessa instituição, em Belém, teve como ponto de
partida a doação de parte de um terreno que servia como depósito de lixo e que media 100 m
de frente e 88,50 m de fundos, localizado na Avenida São Jerônimo (atual endereço da praça
Floriano Peixoto, no bairro de São Brás, n. 33). Essa doação foi feita pelo prefeito Estórgio
Meira de Lima, no governo de Luiz Geolás de Moura Carvalho, para uma Sociedade23
denominada “Confraternização Espírita Paraense”. O terreno, à época da doação, foi avaliado
em torno de CR$ 3 00000,00 cruzeiros. A coluna espírita veiculada pelo jornal Folha do
Norte noticiou esse importante acontecimento:
Foi assinado recentemente pelo Prefeito de Belém, um decreto doando à
“Confraternização Espírita Paraense”, o terreno situado à avenida São
Jerônimo, esquina da rua 9 de Janeiro, para a construção do LAR DE
MARIA, que conforme tem sido anunciado, será uma instituição destinada a
proteger, assistir e educar as criancinhas órfãs e abandonadas e abrigar aos
velhinhos desvalidos e desamparados, sem distinção de côr (sic), raça,
nacionalidade ou credo religioso.
A Família Espírita Paraense, vibrando de satisfação, manifesta o seu
reconhecimento sincero e profundo não somente ao Prefeito, como a todos
22
O Colégio das Educandas (1804), Colégio Santa Catarina (1903), Internas da Instituição Pia Nossa Senhora
das Graças (1943), Colégio Santa Rosa (1935), Instituto Nossa Senhora de Nazaré (1914), entre outros. 23
Grupo de pessoas adeptos do espiritismo com objetivo de estudos doutrinário, irradiação e divulgação do
espiritismo no Pará
67
os que direta ou indiretamente vêm cooperando cristãmente para a edificação
dessa obra. (FOLHA DO NORTE, 1947, p.2).
Neste sentido, compreendo que a instituição “Lar do Maria”, se enquadra no que
Magalhães (1999) denomina de construção de raiz, pois a sua criação e edificação surgiram a
partir de um terreno doado e não de um edifício adaptado para a realização de atividades
assistencialista e educativa.
A partir da aquisição do terreno ocorreu o lançamento da pedra fundamental, momento
simbólico que registra o primeiro bloco de pedra ou alvenaria acima da fundação de uma
construção. O lançamento aconteceu dia 01 de janeiro de 1948 e a pedra trazia a seguinte
inscrição: “Confraternização Espírita Paraense: Aqui constrói o “Lar de Maria”: O abrigo das
Criancinhas dos Velhinhos Desamparados. Cooperai com o vosso donativo generoso, para a
edificação deste templo. De Amor e Caridade: Terreno doado pela prefeitura municipal de
Belém. Engenheiro responsável Dr. Judah Levi” (Imagem 11). O jornal Folha do Norte, do
dia 27 de dezembro de 1947, noticiou esse representativo momento:
O LANÇAMENTO DA PEDRA FUNDAMENTAL, DIA PRIMEIRO DE
JANEIRO.
Graças ao movimento cristão, eminentemente social e patriótico, que a
família espírita paraense vem mantendo, o “Lar de Maria” será, dentro em
breve, uma realidade. No largo de São Bráz será ele erguido. Uma obra que
merece amparo de todos. Dia 1º de Janeiro, será solenemente lançada a pedra
fundamental, tendo ontem as FOLHAS sido convidadas por uma comissão,
da qual faziam parte os srs. Oli de Castro, João de Oliveira e Romeu Amora,
e senhoras encarnação Graça, Lili Silva, Mary Torrinhas, Rosinha Rios,
Lucia Pinto e Dinair Amoras. (FOLHA DO NORTE, 1947, p.8).
Durante o Lançamento da Pedra Fundamental, o criador e presidente da
Confraternização da Espírita Paraense, Oliveiros de Assunção Castro, proferiu algumas
palavras de agradecimento pela doação do terreno, enfatizando a necessidade de ajuda para a
construção do prédio da instituição:
Foram iniciados, desde o dia 15 do corrente mês os trabalhos preparativos da
construção do “LAR DE MARIA”, terreno gentilmente doado pelo sr.
Prefeito de Belém e que fica no Largo de São Braz.
Agora, mas do que nunca, necessitamos da solidariedade fraterna e cristã, do
apoio e ajuda moral e material de toda a família espírita do Pará, para
levarmos a efeito essa grandiosa iniciativa que tem por objetivo amparar e
assistir as criancinhas órfãs e os velhinhos desvalidos de nossa terra. OLI
DE CASTRO. (FOLHA DO NORTE, 1947, p.3).
68
O nome da instituição foi escolhido em homenagem a Maria Santíssima. No dia 15 de
agosto de 1947 foi fundada e iniciada a edificação do “Lar de Maria”. A sua construção ficou
a cargo do engenheiro e arquiteto Dr. Judah Levi. Este foi pioneiro na construção de edifícios
de mais de dez pavimentos na cidade de Belém. Seus edifícios refletiam aspirações de
modernidade (O LIBERAL, 2000). Na imagem 11, a representação de um cartão
comemorativo da fundação do “Lar de Maria”.
Imagem 11 – Parte do Cartão Comemorativo de Fundação (1947).
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
A Imagem 12 retrata área doada para a Confraternização Espírita Paraense pela
prefeitura para construir a instituição. Certifico que era um espaço bastante extenso em uma
cidade em processo de urbanização, tendo o Mercado de São Braz24
como construção em
destaque na imagem.
24
O Mercado de São Braz foi erguido durante a época áurea do ciclo da borracha amazônica, construído em
função da grande movimentação comercial gerada pela ferrovia Belém/Bragança, situado distante do centro
histórico da cidade de Belém.
O Lar de Maria
Foi fundado pelo 1º Sarg º. Oliveiros de Assunção Castro,
vulgarmente conhecido como Oli de Castro.
O terreno que está sendo construído foi doado pela Prefeitura
Municipal de Belém. Escritura no Cartório da Tabeliã Joana Diniz,
Lº 132, fls. 56. V. mede 100 mts de frente e 88,50 mts de fundos
avaliação a época foi de Cr$ 3 00000,00. Hoje o seu valor é superior
a Cr$1 000, 000.00. Já foram apreendido na construção, ele 30.66.52,
Cr$ 996. 113,70.
O resto da obra inclui instalação mobiliário, aparelhagens médicas,
cirúrgicas e dentárias está orçado em cerca de cr$ 3 000,000.00. A
sua diretoria atual está assim constituída:
OSWALDO PACHEDO DILLON-Presidente
RUI VIDAL ARAUJO-Secretário
MÁRIO SOLANO Tesoureiro
FRANCISCO NUNES MARTINS – Diretor Administrativo
JOSÉ FRANCISCO PEREIRA-Diretor da “Campanha do Quilo”
Dr. NESTOR PINTO BASTOS – Diretor do departamento de
finanças
------------------ X-----------------------
A Diretoria e o seu Engenheiro Dr. Judah Levy não recebem
qualquer remuneração pelos seus serviços.
69
Imagem 12 – Terreno doado pela prefeitura ao lado do Mercado de São Brás (1947).
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
O projeto arquitetônico do “Lar de Maria” apresentava traços arrojados para a época.
Judah Levi, engenheiro e arquiteto desse prédio, projetou uma obra com uma estrutura que
fazia alusão a um avião (Imagem 13), como forma de homenagear Oliveiros de Castro, que
era suboficial da aeronáutica (O LIBERAL1997). Não houve nenhuma remuneração aos
serviços prestados para a construção dessa instituição.
Imagem 13 – Planta da Instituição “Lar de Maria” (1947).
Fonte: Elaborado pelo autor, com base na fotografia do álbum do Lar de Maria (1947).
PROJETO PARA A CONSTRUÇÃO DO “LAR DE MARIA”
NA PRAÇA FLORIANO PEIXOTO
Projeto e Administração de J. S. Levy
Engº Civil – G.E. 5443-D.E. Reg.
Praça da República – 27-Belém
70
O conjunto das instalações, que compõe o prédio da Instituição “Lar de Maria”,
compreende um pavimento térreo central. Nele há duas varandas, uma sala de entrada, uma
secretaria, uma diretoria. Nesse mesmo espaço, localizam-se o teatro, constituído por um
palco e duas cabines, bem como a escola, tendo ao fundo um refeitório. No pavilhão
esquerdo, existem uma sala vigilante, uma enfermaria, um dormitório com 75 leitos, ao fundo
o sanitário e ao lado desse prédio uma grande varanda. No pavilhão da direita, há os seguintes
espaços: uma sala chamada vigilante, um berçário com um banheiro, um dormitório com 75
leitos, sanitários e ao seu redor também uma varanda. No primeiro andar da instituição há
uma sala de administração, uma sala para o arquivo, uma sala vestíbulo e uma sala chamada
isolamento. No sub-solo há uma copa e cozinha, dois banheiros e duas salas de depósitos. Ao
redor do prédio da instituição há vários jardins.
A edificação do “Lar de Maria” acompanhou um período em que Belém vivenciava a
construção de diferentes e suntuosos prédios espalhados pela cidade. Essa instituição, mesmo
distante do centro urbano, apresentava um prédio de elegância com linhas e curvas
arquitetônicas diferenciadas, considerada para Oliveiros de Castro como um “grandioso
templo” (FOLHA DO NORTE, 1957).
Segundo Lopes e Galvão (2011), a estrutura, a construção, os espaços planejados para
atividade escolar revelam a história da instituição e a educação da época. Para essas autoras, a
arquitetura é considerada como fonte para compreender o processo educativo deselvolvido em
uma instituição escolar.
De acordo com Frago e Escolano (1998), o arquiteto, os médicos, os políticos, as
pessoas interessados nas discursões em relação ao ensino, precisariam compreender os ideais
pedagógicos e a sua relação com os espaços escolares, pois o espaço educa e todo educador
deveria ser uma arquiteto.
Para Rocha (2001, p.15), “[...] a arquitetura deve responder nitidamente às situações
fundamentais que amparam a vida humana”. Nessa visão, é perceptível que o projeto
arquitetônico da instituição “Lar de Maria” teve a preocupação em construir compartimentos,
no interior do seu “lar”, que viessem dar amparo, auxílio e proteção para as pessoas que lá
vivam.
Os espaços físicos não apenas contribuem para a realização da educação, mas são em si
uma forma silenciosa de educar. Como afirmam Frago e Escolano (1998, p. 69), o espaço
físico não é apenas um “cenário” onde se desenvolve a educação, e sim “[...] uma forma
silenciosa de ensino”.
71
Sobre esse assunto, Rocha (2001) destaca que os espaços escolares não são neutros e
nem vazios da educação, para ele, os espaços atuam com um discurso que estabelece, em sua
concretude, valores e um conjunto de aprendizagem que abrange o estético, culturas e
ideologia.
A Imagem 14 retrata o início das obras com suas primeiras estruturas básicas para
possibilitar o andamento da edificação do prédio. Além disso, é perceptível a presença de
alguns trabalhadores e pessoas responsáveis pela gestão das atividades de construção do “Lar
de Maria”. Ao centro da imagem é possível visualizar a pedra fundamental que fornece as
principais informações sobre a instituição e seus responsáveis.
Imagem 14 – Pedra Fundamental para a Construção do “Lar de Maria”.
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
A Imagem 15 a seguir mostra a fase inicial da construção do “Lar de Maria”, onde a
fundação da edificação estava sendo realizada. Na imagem, em uma visão ampla do espaço, é
possível observar trabalhadores cavando o terreno, pousando com seus instrumentos de
Confraternização Espírita Paraense
Aqui constrói o “Lar de Maria”: O abrigo das Criancinhas e dos
Velhinhos Desamparados.
Cooperai com o vosso donativo generoso, para a edificação deste
templo.
De Amor e Caridade: Terreno doado pela prefeitura municipal de
Belém.
Engenheiro responsável Dr. Judah Levi
LAR DE
MARIA
72
trabalho ao lado do engenheiro e arquiteto Judah Levi (da direita para a esquerda, o senhor
Judah Levi, Oswaldo Pacheco e trabalhadores da obra).
Imagem 15 – O engenheiro e arquiteto Judah Levi e trabalhadores da obra (1947).
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
2.3 AS INICIATIVAS PARA A EDIFICAÇÃO DO “LAR DE MARIA”
Com o projeto arquitetônico definido e já iniciado o primeiro passo da obra, muito se
precisava fazer para que ela chegasse à sua fase de conclusão, mas como o “Lar”, se
caracterizava como uma instituição não governamental, ele precisou de inúmeras ações
caritativas da sociedade civil, criadas pelo Movimento Espírita paraense, para que ‘tal’ projeto
se concluísse e enfim pudesse servir ao seu objetivo principal: dar assistência aos mais
necessitados.
Durante o processo de edificação do “Lar de Maria”, a Coluna Espírita, veiculada
diariamente no jornal Folha do Norte, contribuiu significativamente para angariar fundos para
a construção dessa instituição. Tal coluna pertencia a uma sessão, denominada Religiões e
Crenças, subdivida em pequenas notas de informação para que cada religião fizesse
divulgações. Normalmente, estas iniciavam com palavras que tratavam de suas crenças
religiosas e posteriormente, informavam os pedidos de ajuda, divulgação de festas e as
campanhas no espaço chamado Noticiário.
73
Em face da importância da coluna, o senhor Oliveiros Assunção Castro agradeceu ao
jornal Folha do Norte por ter dado espaço para a divulgação de notícias sobre os trabalhos e
ações em ‘prol’ do “Lar”. Para ele, o jornal era um “[...] grande órgão de publicidade que é,
inegavelmente, o vanguardeiro e defensor dos sagrados direitos de justiça, liberdade e
igualdade, nas plagas amazônicas” (FOLHA DO NORTE, 1947, p.3).
O fragmento, a seguir da referida coluna, contém as palavras de Oliveiros de Castro,
requisitando as doações para a construção do prédio do “Lar de Maria”. Segundo ele, tudo é
proveitoso: pedra, tijolo, telhas, areia, cal, cimento, mão de obra, os que têm coração nobre e
generoso devem ajudar. A linguagem com tom apelativo e emocional foi a tônica de várias
campanhas:
Na construção do “LAR DE MARIA”, tudo será proveitoso e útil: pedra,
tijolo, telhas, cimento, areia, zinco, cal, ferramentas, mão de obra, e etc., etc.,
tudo isso e mais alguma coisa esperamos de todos que, possuindo um
coração nobre generoso, cumprem à face da Terra o maior mandamento
deixado pelo Mestre dos Mestres: “QUE VOS AMEIS UNS AOS OUTROS,
COMO EU VOS AMEI” – OLI DE CASTRO. (FOLHA DO NORTE,
1947, p.3).
No trecho da Coluna Espírita, a seguir, tomando como mote as festas natalinas, são
verificados alguns preceitos da doutrina espírita, como: o amor ao próximo, o auxílio aos mais
necessitados, bem como significativos ensinamentos defendidos pelo espiritismo como
motivações para que as pessoas pudessem ajudar nas ações do “Lar de Maria”, auxiliando
crianças e idosos necessitados de bens materiais e de afeto.
Demostremos ao mundo materialista e ateu, que não cultuamos a sagrada
memória de Cristo tão somente com os lábios, mas, sobretudo, com o
coração através dos atos generosos e altruísticos.
O “Lar de Maria” sintetiza no momento o maior e a mais viva esperança de
todas essas criancinhas órfãs e infelizes que, rolando de casa em casa, nunca
conheceram as caricias inefáveis de um beijo maternal e nem a ternura
confortadora de u’amão (sic) amiga afagando carinhosamente os seus
cabelinhos revoltos e macios.
O “LAR DE MARIA” resume ainda, os anseios incontidos dessa multidão
de velhinhos trôpegos e combalídios (sic) que sem lar, sem pão e sem
amigos, perambulando, diariamente, de porta em porta, suplicando a graça
de uma esmola ou o dôce (sic) aconchego de um abrigo.
Vós que tendes um lar confortável e farto, que tendes pão e lume e que
desfrutaís, pela graça de Deus de todos os privilégios e considerações,
lembrai-vos dos “Filhos do Calvário”, daqueles por quem Jesus tanto se
sacrificára (sic). Enviai ao “LAR DE MARIA”, que será um desdobramento
do vosso próprio lar, algo que possa concorre para o amparo e assistência
daqueles que talvez outrora, já desfrutassem da mesma facilidade e bem
estar que hoje vos felicita. Dessa forma tereis comemorando o Natal de Jesus
74
Cristo com sabedoria e bondade, únicas aos que nos conduzirão a Deus –
OLI DE CASTRO. (FOLHA DO NORTE, 1947, p. 3).
Já nos dois noticiários a seguir, é notável a divulgação de festivais teatrais,
promovidos por dois grupos espíritas, que possuíam a intenção de ajudar nas obras da
instituição, tendo em vista que o “Lar de Maria” era um projeto que envolvia todo o
Movimento Espírita do Pará.
LAR DE MARIA
Realizar-se-á no dia 1º de junho às 20 horas, na sede dos Caminheiros do
Bem, à avenida Conselheiro Furtado, mais um grandioso festival em
beneficio da construção do “ Lar de Maria”, o abrigo das crianças e dos
velhinhos abandonados.
Do programa, que está caprichosamente organizado, constará a apresentação
do prof. Leopoldo Machado, “O Terrível Segredo”, seguindo-se um ato
variado atraente e interessante. (FOLHA DO NORTE, LAR DE MARIA,
1947, p.2).
Por atenciosa deferência de seus diretores, realizar-se-á no dia 17 do
corrente, às 20 horas, no Teatro Eden, ao lado do Hoteal-Suiço (sic), um
grandioso festival teatral em beneficio da construção do LAR DE MARIA,
cuja fundação definitiva foi levada a efeito no dia 15 de agosto, às 15 horas,
na sede do Grupo Espírita Amor e Verdade, situado à trav. Castelo Branco,
n. 70.
Nessa data, será igualmente comemora o decimo (sic) aniversário de
fundação do referido Grupo, razão por que a sua diretoria convida a todos,
indistintamente, a compartilharem do banquete espiritual. (FOLHA DO
NORTE, 1947, p.2).
Para melhor compreensão, destaco, no Quadro 6, algumas sedes de grupos espíritas
‘espalhadas’ pela cidade de Belém, em 1947, que estavam empenhados em campanhas para a
realização da construção do prédio “Lar de Maria”.
Quadro 6 – Grupos espíritas de Belém.
SEDES ENDEREÇO NÚMERO
Grupos Espírita Amor e
Verdade
Castelo Branco 70
Grupo Espírita Caminheiros
do Bem
Conselheiro Furtado 381
Grupo Espírita de Ubirajara ---------- ---------
Grupo Espírita Francisco de
Assis
Av. Cipriano Santos 217
Grupo Espírita Sagrada
Família
Rua Castelo Branco 72
Sede Provisória do “Lar de Avenida Osvaldo Cruz 319
75
Maria”
Fonte: Elaborado pela autora, a partir de Santana (2006).
Os festivais eram desenvolvidos por grupos e/ou segmentos sociais que não estavam
diretamente associados aos grupos espíritas, mas que comungavam do interesse de contribuir
para a construção do prédio, buscando por em prática a ajuda aos mais carentes. O evento
retratado na Coluna Espírita traz uma iniciativa em homenagem a militares, que objetivava
arrecadar fundos com a realização de uma grade festa teatral.
Em homenagem aos oficiais sargentos e soldados, bem como às respectivas
famílias, realizar-se-á na próxima quinta-feira, dia 16, às 19:30 horas, na base
Aérea se Val de Cães, uma grande festa teatral, cujo produto reverterá em
beneficio da construção do “Lar de Maria” a instituição de assistência e
amparo à infância e à velhice abandonada de nossa terra.
As pessoas que desejarem assistir a esse festival poderão utilizar os ônibus da
empresa Camilo Pinto da Silva, que sirão (sic) do Largo da Pólvora, ponto
fronteiro ao cinema Olímpia, às (sic) 18,30 e 19 horas. (FOLHA DO NORTE,
1947, p.2).
Vale ressaltar que tais ações também eram realizadas a partir de iniciativas individuais,
muitas senhoras imbuídas pelo sentimento de caridade aos mais necessitados, por exemplo,
realizavam em suas residências cursos e oficinas de trabalhos manuais para angariar fundos
para a construção do “Lar de Maria”, como é possível perceber nas seguintes passagens:
Com muita vibração e entusiasmos, fundou-se há poucos dias, na residência da
irmã Encarnação Praça. À rua General Gurjão, n. 143, a primeira “Oficina da
Caridade” que, por honrosa deferência de suas componentes, passou a chamar-
se Iacir Vijohá. A feliz iniciativa dessas abnegadas irmãs contagiou a outras de
bôa (sic) vontade. Assim é que, hoje, dia 13, às 15 horas, fundar-se-à (sic) na
residência da irmã Vevé Carele, à rua Gentil Bitt., nº 290, outra “oficina”
idêntica que obedecerá ao nome de: “Trabalhadores da Última Hora”.
Estas duas iniciativas que têm por objetivo executar trabalhos em costuras,
bordados, pinturas, flores, etc., em beneficio do “LAR DE MARIA” e dos
irmãos sofredores, merecem por sua grandiosa finalidade, todo o apoio e
solidariedade dos corações generosos e altruístas.
A’s (sic) nossas dedicadas irmãs apresentaremos aos nossas calorosas
felicitações, formulando votos de êxito completo em todos os
empreendimentos. (FOLHA DO NORTE, 1947, p. 3).
Outra ação que contribuiu para a arrecadação de recursos financeiros para a obra foi a
abertura de uma campanha que tinha o objetivo de persuadir as pessoas para se tornarem
membros da instituição, especificamente, para serem os chamados sócios contribuintes, os
quais tinham o dever de pagar uma mensalidade para a edificação do prédio. O próprio
fundador da instituição “Lar de Maria”, o senhor Oliveiros de Assunção Castro, fazia muitos
76
pedidos para as pessoas da sociedade paraense para se tornarem sócios contribuintes, como é
possível verificar no texto a seguir:
Do mesmo modo, deveremos agirem ser tratando de assistir e socorrer ao
próximo nas suas necessidades e aflições.
O “LAR DE MARIA” poderá ser no amanhã que se aproxima o vosso próprio
lar ou abrigo amoroso e acolhedor dos vossos filhinhos. Concorrer, pois, de
alguma forma para a sua construção e manutenção, é estender a mão a muitos
infelizes que poderão sucumbir no oceano tempestuoso da vida, por causa da
vossa indiferença e incompreensão.
Inscrevei-vos como sócio contribuinte ou concorrei na sua “Campanha do
Quilo”, e estareis cooperando para uma causa tão justa quão humanitária.
Séde (sic) provisória: Av. Osvaldo Cruz n. 319 – Belém – Pará
OLI DE CASTRO. (FOLHA DO NORTE, 1947, p.2).
E assim foi sendo feito a edificação da Instituição Cristã “Lar de Maria” com ajuda de
campanhas realizadas por sedes espíritas, por pessoas da sociedade. Essas tiveram um papel
de extrema importância para a instituição como também para a sociedade paraense que teria
futuramente um local para abrigar as crianças e idosos pobres. A Imagem 16 ilustra o avanço
da edificação do “Lar” e os operários trabalhando para o levantamento do prédio.
Imagem 16 – Edificação do “Lar de Maria” (1947).
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
O “Lar de Maria”, mesmo em construção, já se configurava como uma instituição
assistencial, por meio de algumas iniciativas, como a “Campanha do Quilo”. Esta, de acordo
77
com Santana (2006), consistia na arrecadação de gêneros alimentícios para o atendimento das
pessoas carentes. Tal campanha serviu para a manutenção de muitas instituições
assistencialista em vários Estados do país. Aqui, em Belém do Pará, a princípio funcionou na
sede provisória do “Lar de Maria”, localizada na Avenida Osvaldo Cruz, n. 319 e,
posteriormente, no próprio prédio após a sua inauguração. A sede provisória funcionou nos
anos de 1947 até 1956, sendo que esse espaço contribuiu para ser um local de iniciativas de
divulgação, propagandas e campanhas que ajudariam na construção do prédio próprio do “Lar
de Maria”.
Oliveiros de Assunção Castro é considerado um dos pioneiros da “Campanha do Quilo”
em todo o Brasil e, por onde quer que passasse, incentivava e ajudava irmãos – pobres, órfãos
e desamparados.
A campanha funcionava com pessoas com sacolas no ombro que saiam percorrendo os
bairros da cidade de Belém aos domingos, pedindo de porta em porta alguns alimentos que
servisse para a preparação de uma sopa, que seria servida aos pobres. Na Imagem 17, é
possível observar os voluntários em ação, coletando os alimentos doados.
Imagem 17 – Campanha do Quilo nas ruas (1947).
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
Um grande número de pessoas que se prontificava a realizar tal tarefa, cada qual com
sua sacola para depositar as oferta alimentícia recebida. Vale salientar, a partir da imagem,
que o grupo de voluntários era bem diversificado, tendo a presença de pessoas de várias
idades e etnias, de ambos os sexos, inclusive de crianças, como é possível ser observar na
Imagem 18.
78
Imagem 18 – Campanha do Quilo e seus Legionários (1947).
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
O noticiário da Coluna Espírita ressalta de maneira detalhada como funcionava a
“Campanha do Quilo”, qual era a sua funcionalidade, intenção e o perfil dos voluntários que
participavam de tal ação beneficente. A “Campanha do Quilo” do “ Lar de Maria” é qualquer
coisa mais do que pedir: cristianizar e seduz. A ‘tal’ campanha já se fazia presente pelos
Legionários do Quilo há quase um ano e a sua funcionalidade era pedir para a construção e
manutenção do “Lar de Maria” (FOLHA DO NORTE, 1947).
Os Legionários saiam de suas casas pela manhã e andavam pelas ruas da cidade de
Belém com sacolas nas costas batendo de porta em porta. Mas, nem sempre o ato de pedir era
recebido de forma agradável, muitos legionários eram atendidos com palavras ofensivas, por
parte daquelas que os recebiam em frente de suas casas. Legionários da Campanha do Quilo e
a própria instituição eram ofendidos, como: desocupados, gente sem condição social definida,
desclassificados e mistificadores (FOLHA DO NORTE, 1947).
O perfil dos legionários era composto de senhoras dona de casa em idade que já não
comportaria tais sacrifícios, cavalheiros e jovens de posição social definida, tais como:
industriais, bancários, professores, comerciários e funcionários públicos. Na ação beneficente
tinha mais mulheres do que homens, mais jovens do que adultos, mais moças do que rapazes,
e, até, crianças (FOLHA DO NORTE, 1947).
A Imagem 19 traz uma fotografia da distribuição de sopa aos necessitados. É
perceptível que o público atendido era basicamente composto por idosos e crianças que eram,
na realidade, o foco de atendimento da instituição. Muitas pessoas se envolviam com o
79
preparo e distribuição da sopa, que consistia em um dos principais objetivos da “Campanha
do Quilo”.
Imagem 19 – Distribuição da Sopa aos Pobres – sede provisória (1947).
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
A “Campanha do Quilo” teve seu fim após alguns meses de inauguração do “Lar de
Maria”, mas o reconhecimento e o ensinamento dessa campanha ficaram para aqueles
envolvidos diretamente nesse ato de ajuda, como também para a sociedade. Oliveiros de
Castro, por ocasião do término dessa iniciativa, realiza algumas reflexões sobre a experiência,
ressaltando a importância que teve a campanha, a contribuição dos “romeiros da sacola”, bem
como a recepção por parte das pessoas:
Hoje, o Lar de Maria aí está imponente da sua simplicidade, graças à sacola
daqueles abnegados paladinos da Verdade, que a traziam aos ombros,
percorrendo os bairros da cidade, implorando um abolo – que não exigiam
fosse dinheiro-pois aceitavam um pouco de farinha ou café, um pouco de
feijão ou arroz. Qualquer coisa servia para o recheio de uma sopa com que
matavam a fome a muitos pobrezinhos. E’ bem verdade que muitos os
repeliam, esquecidos dos ensinamentos de Jesus, mas outros, mesmo pobres,
acorriam a depositar na sacola o seu precioso óbolo.
Até as criancinhas, brincando na rua, ao avistarem os piedosos romeiros da
sacola, corriam pressurosos a clamar para dentro de casa: - Mamãe, o Lar de
Maria vem aí. Brotava nessas ingênuas crianças o amor do Pai, a bondade de
Jesus. E ainda acrescentavam: - Mamãe dê umas batatinhas, um pouco de
macarrão...
Para os romeiros da sacola, isso era um consolo a amenizar o desgosto
causado por alguns que, já maduros, os recebiam ao, batendo-lhe com a
porta na cara, como se fosse animais felinos.
Mas tudo tem o seu dia, talvez já estejam arrependidos de tanta ingratidão.
80
Os romeiros da sacola cumpriam o seu dever de humanidade. Ninguém mais
os vê na rua, aos domingos, de sacola aos ombros. A sua missão teve um
nobre fim. Deus lhes dará a recompensa a que fizeram jús. Não fecharemos
estes ligeiros comentários sem declinar o nome do homem que orientava
aqueles obreiros da Verdade e que hoje se deve considerar vitorioso do seu
insano e escabroso trabalho. Ele foi como que a pedra angular, o criar, o
símbolo desse maravilhoso Lar de Maria: OLI DE CASTRO. (FOLHA DO
NORTE,1957, p.3).
As campanhas realizadas para a edificação do prédio do “Lar de Maria” foram
indispensáveis, apesar das dificuldades que muitas das ações enfrentavam para serem
executadas, estas contribuíram para o andamento das obras. As Imagens (20, 21 e 22) a seguir
mostram todo o desenvolvimento do processo de construção, que vai das primeiras estruturas,
colocadas em pé, até a instituição praticamente concluída, a espera de acabamentos finais para
cumprir com sua função assistencial e educativa.
Imagem 20 – Construção dos primeiros alicerces da Instituição Lar de Maria (1949).
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
81
Imagem 21 – Parte Central da Instituição “Lar de Maria” em fase de acabamento (1954).
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
Imagem 22 – Prédio do “Lar de Maria” totalmente construído (1957).
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
O “Lar de Maria”, como ressaltado no início dessa seção, surgiu com o objetivo de
assistir e amparar idosos; crianças órfãs e abandonadas de Belém, mas a missão de abrigar
ficou direcionada somente aos pequenos, que residiriam na instituição em sistema de
internato, ou seja, viveriam cotidianamente sob as regras e organização do estabelecimento,
82
que delimitava o que os internos poderiam ou não fazer, conforme os princípios educacionais
e de cuidados lá defendidos. Nesse sentido, pode ser definido como uma instituição total, que
se caracteriza como “[...] um local de residência e trabalho onde em grande número de
indivíduos em situações semelhantes, separados da sociedade mais ampla por considerável
período de tempo, levam uma vida fechada e formalmente administrada” (GOFFMAN, 1961,
p. 11).
As instituições totais podem ser divididas em cinco grupos: o primeiro compreende
sanatórios, hospitais e leprosário; o segundo: cadeias e penitenciárias; o terceiro: quartéis e
escolas internas; o quarto: mosteiros e conventos; e o quinto internatos e asilos, sendo este o
que abrange aqueles espaços criados “[...] para cuidar de pessoas que, segundo se pensa, são
incapazes e inofensivas; nesse caso estão as casas para cegos, velhos, órfãos e indigentes”
(GOFFMAN, 1961, p. 16). Logo, o tipo que caracteriza as finalidades propostas pelo “Lar de
Maria” que, a partir de 1957, funcionou como internato destinado às crianças, “[...] sem
distinção de cor, raça, nacionalidade ou credo religioso” (FOLHA DO NORTE, 1947, p. 2),
que se encontravam em situações de extrema pobreza, órfãs e abandonadas, isto é, indefesas e
sem condições de se sustentarem.
O internato, por sua dinâmica de funcionamento e finalidade, segundo os pressupostos
de Goffman (1961), busca controlar a vida dos sujeitos que dele fazem parte, bem como
levam os internos a assimilar inteiramente as regras internas da instituição. Além disso,
substitui a interação social por atividades internas, não permitindo qualquer ou pouco contato
entre o internado e o mundo exterior, promovendo a exclusão de muitos aspectos do mundo
social de origem do indivíduo internado.
A arquitetura de uma instituição é projetada para o bom funcionamento, conforme as
suas intenções para com os internos, logo, é pensada para “proteger” os sujeitos que estão em
sistema de internato de qualquer intervenção, seja interna ou externa, que prejudique as ações
realizadas pela instituição, por isso, é uma instituição fechada. Para Goffman (1961, p. 16,
grifos do autor),
[...] Seu "fechamento" ou seu caráter total é simbolizado pela barreira à
relação social com o mundo externo e por proibições à saída que muitas
vezes estão incluídas no esquema físico – por exemplo, portas fechadas,
paredes altas, arame farpado, fossos, água, florestas ou pântanos. A tais
estabelecimentos dou o nome de instituições totais, e desejo explorar suas
características gerais.
O “Lar de Maria” apresenta sinais de “fechamento” quando se observam os seus traços
arquitetônicos e estruturais, que sinalizam barreiras com o mundo exterior. Na Imagem 23, é
83
possível verificar a presença de um muro contornando a instituição, portão e janelas
gradeadas, que servem como mecanismos de isolamento entre a vida no estabelecimento e
fora dele.
Além disso, vale salientar que, a sua posição geográfica não ficava tão perto do centro
da cidade, o que também é uma característica desse tipo de instituição, pois estas afastam os
internos da “civilização”, o que no caso da infância foi um processo bastante recorrente na
história do Brasil no regime republicano (RIZZINI, 2011), visto que as crianças órfãs e
desvalidas eram consideradas problemas para ordem pública, futuros marginais sujeitos à
criminalidade, logo, precisavam ser afastadas para não atrapalharem a ordem pública.
Imagem 23 – Instituição “Lar de Maria” (1957).
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
O caráter de “fechamento” da instituição “Lar de Maria” é simbolizado também pelas
barreiras internas do espaço físico (Imagem 24), tendo em vista que existiam duas salas
chamadas “vigilantes”, que ficavam localizadas na entrada dos dois dormitórios. Tais espaços
servem para controlar as ações dos sujeitos, nesse caso, a entrada e saída dos dormitórios.
Segundo Foucault (1987), a vigilância e a disciplina requerem dos gestores das
instituições uma necessária organização e controle, no sentido de tentar evitar que os sujeitos
internos se desviassem das regras da instituição.
84
Imagem 24 – Distribuição do espaço físico da instituição “Lar de Maria”.
Fonte: Elaborado pela autora, com base na fotografia do álbum do Lar de Maria (1947).
A arquitetura do “Lar de Maria” foi projetada para fiscalizar a movimentação dos
espaços dos dormitórios e berçários, quando foi construído na instituição o espaço “vigilante”.
Todos os espaços físicos que estavam sendo construídos objetivavam orientar a
dinâmica de vida dos internos com características e funções, que estavam diretamente ligados
ao projeto de formação idealizado pelo “Lar de Maria” de controle e disciplina. Segundo Horn
(2004, p. 37),
O espaço é algo socialmente construído, refletindo normas sociais e
representações culturais que não o tornam neutro e, como consequência,
retrata hábitos e rituais que contam experiências vividas. Até então, na
história, os espaços foram se construindo como uma das formas de controlar
a disciplina, constituindo-se como uma das dimensões materiais do
currículo.
Dentre os espaços que compõem a instituição, o berçário é o local que recebeu bastante
destaque no “Lar”, pois é onde as crianças bem pequenas são destinadas. Foi o primeiro a ser
inaugurado em 1957, ganhando, em virtude de sua nobre finalidade, grande destaque pela
imprensa, como ilustra a seguinte nota: “[...] O berçário entrará a funcionar antes que o resto e
todos podem entender a razão. Porque a inauguração geral só pode fazer-se, se Deus quiser, a
21 de abril próximo, ao mesmo tempo festejando a Páscoa e festejando o idealismo e a
liberdade do povo brasileiro” (FOLHA DO NORTE, 1957, p. 6).
Por evidenciar a relevante finalidade desse espaço para instituição “Lar de Maria”, o
jornal Folha do Norte, de 28 de novembro de 1947, destaca:
85
Para as criancinhas desamparadas de Belém, sem teto e sem o cálido
aconchego materno, magrinhas e descalças, aleijadinhas, cegas e estropiadas
– desventurados pedacinhos de gente – verdejará, a partir de 24 de fevereiro
próximo vindouro, o novo ramo de amor cristão que o Lar de Maria, com a
inauguração do seu Berçário. [...]. (p. 3).
Segundo Rios (1997), o berçário é um compartimento, onde nas maternidades,
hospitais, igrejas e creches, ficam os berços destinados aos recém-nascidos. Isso reflete o
cuidado que se tinha com as crianças desde os seus primeiros dias de vidas. O berçário
geralmente é mobiliado por berços que é um tipo de cama destinada a bebês, equipada com
barras ou algum outro tipo de barreira para impedir que estes escapem delas e se machuquem.
Na visão de Vitta e Emmel (2004, p. 8), “[...] o berçário tem por objetivo principal
suprir, junto à criança as necessidades básicas que deveriam ser atendidas pelas famílias”.
Ainda, para os autores, a criança historicamente deveria está rodeada de cuidados para que
pudesse se desenvolver.
Tristão (2004) considera o berçário como um local de desenvolvimento pleno para
bebês com poucos meses de vidas, um ambiente de promoção de saúde e educação. Segundo
Ostetto (2008), em um berçário a grande parte do tempo é dedicada a atividade de
alimentação, trocas de roupas, higiene e descanso dos bebês.
O berçário pode ser visualizado na Imagem 25. O espaço se caracteriza como um
ambiente amplo, com os berços dispostos nas laterais, dividido por um largo corredor, bem
iluminado, tanto pela luz solar quanto artificial, apresentando janelas em ambos os lados. É
possível considerar um ambiente, pelo menos na fotografia, preocupado em oferecer aos
bebês cuidados específicos para seu desenvolvimento.
86
Imagem 25 – Berçário.
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
Diante disso, é possível compreender que o “Lar de Maria”, ao oferecer um tratamento à
criança pobre no Pará no século XX, tentava proporcionar a elas um ambiente arejado, limpo
e saudável, com melhores condições de higiene e cuidados no que se refere ao espaço físico
da instituição. Vale destacar que num período, onde se estabelecia projetos relacionados à
medicalização da sociedade na cidade por meio da higiene pública, produzia-se
conhecimentos para organizar a cidade, a família e as instituições educativas.
Nesse contexto, Rizzini (2011, p.21) afirma que os higienistas, responsáveis pelo
discurso de “higienizar” o espaço urbano, “[...] tinham como proposta intervir no meio
ambiente, nas condições higiênicas das instituições que abrigavam crianças e nas famílias”, e,
isso, se prolongou até o início do século XX. A criança, nessa época, era vista como
vulnerável, por ter organismo frágil, logo, mais suscetível a moléstias, caso vivesse em
péssimas condições de moradia e de higiene.
Para cuidar da saúde da criança, o ambulatório (Imagem 26) era um espaço também de
grande relevância para a instituição, uma vez que a sua função estava para além dos internos
no estabelecimento, pois realizava atendimento aos necessitados que procuravam o “Lar de
Maria”. Era equipado com instrumental que permitia a realização de consultas, orientação e
87
prescrição aos interessados. Estava a cargo do Dr. Agostinho Cruz Marques, que atendida aos
sábados no horário de 14 às 16 horas (FOLHA DO NORTE, 1958).
Imagem 26 – Ambulatório.
Fonte: Folha do Norte (1958, p.10).
O “Lar de Maria” possuía um salão central, onde eram realizadas as cerimônias solenes,
caracterizando-se, ainda, como um importante espaço de educação, haja vista que muitos
ensinamentos da doutrina espírita eram repassados nesses momentos às internas.
Na Imagem 27, é perceptível a distribuição das internas em filas e voltadas para uma
mesma direção, de uniformes, a posição corporal, sentadas em cadeiras, de corte de cabelo
semelhantes, posando junto com as professoras, em pé.
88
Imagem 27 – Salão Central da Escola.
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
O Ensino Primário para as crianças já se fazia presente no espaço da instituição no
primeiro ano de funcionamento em 1957, pois o “[...] Lar de Maria”, que já possui escola,
presta assistência à infância, [...]” (FOLHA DO NORTE, 1957, p. 2). Em 1963, a escola do
“Lar de Maria” passou a ter convênio com a Secretaria de Estado de Educação (SEDUC),
passando atender 950 crianças.
Para a recreação dos internos e por entender que era necessário um espaço para a
diversão e entretenimento foi adquirido um parque, comprado mediante a colaboração de
pessoas sensíveis a causa das meninas, como relatado na seguinte notícia:
O seu Conselho Fraterno e a sua Diretoria estão se cotizando e conseguindo
auxílios de pessoas caridosa e amigas das criancinhas, no sentido de
conseguirem a importância necessária à compra de um parque de diversão
para delito das suas internadas, a ser inaugurado a 1° de Janeiro de 1959.
(FOLHA DO NORTE,1958. p.11).
O teatro (Imagem 28) era o espaço de educação artística, onde se realizavam as
apresentações dos internos. É perceptível que era um ambiente refinado, bem iluminado,
ventilado, organizado. Mobiliado por um palco com cortinas, por uma grande mesa, armários,
quadro de avisos, um piano e cadeiras, possibilitando o público sentar em grupos para
assistirem as apresentações das crianças. Segundo Reverbel (1989), o espaço do teatro tem a
finalidade de divertir instruindo, logo, por ser um espaço educativo deve fazer parte da escola.
89
Imagem 28 – Teatro.
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
De acordo com Goffman (1961, p. 89), existe o “teatro o institucional” que compõe as
festas anuais de Natal de uma instituição total. Os que fazem parte desse ambiente como
atores geralmente são os internados e os dirigentes da peça que são da equipe da
administração da instituição, formando um grupo misto de atores que transforma uma peça
cheia de referências locais, “[...] o que dá, ao uso particular dessa forma pública, um sentido
específico de realidade aos acontecimentos internos à instituição”.
Na Imagem 29, é possível observar uma interna tocando o piano que faz parte do
cenário do teatro da instituição “Lar de Maria” e as demais meninas acompanhando a
execução. O que nos leva a compreender que as crianças tinham o ensinamento da música,
mas especificamente, a aprendizagem de instrumento musical piano.
90
Imagem 29 – Interna tocando Piano.
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
O espaço destinado às refeições dos internados do “Lar de Maria” era o refeitório
(Imagem 30). É possível verificar na imagem um ambiente com condições básicas de
funcionamento no que concerne às necessidades de um lugar que realizava a distribuição de
alimentos. Um ambiente com iluminação natural com janelas amplas e contando com
mobiliário móvel que viabiliza diferente organização do ambiente. É perceptível mesas,
armário, cadeiras e bancos longos de madeira, possibilitando que os internos sentassem em
grupos.
Imagem 30 – Refeitório.
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
91
Além desses espaços ainda estavam em construção: “[...] a lavanderia, com máquinas
apropriadas, do aviário, de parque de diversão, preparo de pomar e jardins. E ainda, faltam o
gabinete médico, dentário, a barbearia, etc..” (FOLHA DO NORTE, 1958, p.8).
E ainda “[...] dentro de alguns dias será iniciada a construção de um pavilhão de dois
andares, destinando-se o pavimento térreo às instalações da lavanderia, da cozinha da “Sopa
dos Pobres”, depósito de combustível e almoxarifado; e o pavimento superior à moradia de
empregados [...]” (FOLHA DO NORTE, 1958, p.6).
Como espaço a ser construído na área da instituição “Lar de Maria”, a diretoria tinha a
intensão de erguer uma “Casa de Saúde para tratamento de doenças mentais, ou seja,
propriamente dizendo, destinadas aos trabalhos de Desobsessão, também muito necessário,
porque em Belém só existe o “Juliano Moreira”, hospital impróprio e ineficaz para o
tratamento dessa natureza” (FOLHA DO NORTE, 1958, p. 18).
No que concerne ao espaço para assistência da velhice desamparada, as fontes
evidenciaram que havia um edifício destinado a abrigar os velhos, com a capacidade para
cinquenta velhos de ambos os sexos (FOLHA DO NORTE, 1958).
Muitos espaços físicos do “Lar de Maria” foram noticiados no jornal da cidade como já
destacado. É possível compreender isso como uma forma de divulgar os serviços, estruturas
oferecidas para interessados em internamento dos seus filhos. A maioria dos anúncios tinha
por objetivo convencer e sensibilizar a sociedade para a contribuição e ajuda a esse lar.
Após dez anos de trabalho, o prédio do “Lar de Maria” enfim é concluído, iniciando de
fato a intenção de cuidar e ajudar aqueles que mais precisavam. Todo esse processo foi
permeado de muita luta por parte das pessoas que acreditavam no ideal que fundamentava
esse projeto e se mobilizaram de maneira incessante para a sua concretização. Por tudo isso, a
inauguração do “Lar” foi um momento representativo na história da instituição.
2.4 A INAUGURAÇÃO DO “LAR DE MARIA”
O prédio do “Lar de Maria” foi inaugurado no dia 24 de fevereiro de 1957, quase dez
anos após a sua criação. Nesse contexto, a instituição já estava sob a gestão de sua terceira
presidência. Oliveiros de Castro, juntamente com Délio Cabral Marques, administrou a
instituição de 1947 até meados de 1949 (FOLHA DO NORTE,1957).
Em 5 de agosto de 1949, a senhora D. Guiomar Antunes da Silva, juntamente com seu
esposo o senhor Antunes da Silva Junior, o administrador da obra, assumiram a instituição.
92
No ano 1950 assume a presidência o senhor Oswaldo Pacheco Dillon25
, que já era colaborador
desse projeto desde seus anos iniciais. Este deu continuidade aos trabalhos da gestão anterior.
O diferencial de sua administração foi o apelo de ajuda para o Departamento Nacional da
Criança e para Câmaras Federais e Estaduais para terminar a construção e instalações do “Lar
de Maria” (FOLHA DO NORTE,1957).
A inauguração dessa instituição foi intensamente divulgada nos jornais da cidade de
Belém. Nos impressos, com muito entusiasmo, destacava-se que, para comemorar esse
momento, a diretoria do “Lar de Maria” tinha preparado uma caprichosa programação, que
contaria com a presença de autoridades civis e militares, imprensa e o povo em geral.
A cerimônia de inauguração teve início às dez horas da manhã no dia 24 de fevereiro de
1957. A convite do presidente da instituição “Lar de Maria”, o senhor Oswaldo Pacheco
Dillon, Salomão Levy, delegado da primeira região federal da criança foi chamado para cortar
a fita simbólica, inaugurando, assim, a programação solene (FOLHA DO NORTE, 1957). A
Imagem 31 retrata esse momento especial, assinalando a presença de Salomão Levy, delegado
da região federal da criança, o presidente da instituição Oswaldo Pacheco, bem como o
criador da instituição Oliveiros de Assunção Castro, sendo observados pelos demais
convidados dessa celebração.
Imagem 31 – Dia da inauguração da Instituição Cristã Espírita “Lar de Maria” (1957).
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
25
Oswaldo Pacheco Dillon nasceu em Belém, no dia 27 de outubro 1901, filho de Antônio José de Carvalho e
Bernardina Pacheco Dillon. Casou-se com Ildélia Lima Dillon e teve os 7 filhos (Lygia, Reynaldo, Neuza, Ercy,
Dirce, Alda Leida e José Ribeiro). Oswaldo Dillon era contador (Bancário) e foi também o presidente da UEP
nos anos de 1950 a 1955.
93
A celebração continuou com a realização de uma prece espírita proferida pelo doutor
Otávio Beltrão, membro contribuinte da obra, em destaque na Imagem 32, que agradeceu a
Deus pela concretização da dignificante obra (FOLHA DO NORTE, 1957). Vale observar o
uso das vestes brancas por pessoas no ato da prece. A cor branca usada por muitos seguidores
do espiritismo tem o sentido social e igualitário, ou seja, todos se tornam iguais no uniforme
branco. Nesse sentido, simbolizando a igualdade perante Deus. Em um ambiente espírita
todos são envolvidos em um mesmo trabalho, não importa se rico ou pobre, se doutor ou
analfabeto, se negro ou branco e etc., todos devem estar de branco trabalhando em nome do
Cristo e de Seus espíritos.
Imagem 32 – Senhor Otávio Beltrão (1957).
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
Após a prece proferida de agradecimento e com a chegada de todos os convidados, o
presidente da instituição, Oswaldo Pacheco Dillon, fez um discurso agradecendo a todos que
cooperam para que a construção do “Lar de Maria” se tornasse realidade.
No decorrer da programação de inauguração, também se pronunciaram o doutor
Salomão Levy que, em sua fala, ressaltou o trabalho da diretoria dessa instituição e em
seguida ao serviço de qualidade do engenheiro construtor Judah Levy. O Jornalista e redator
do impresso O Estado do Pará, De Campos Ribeiro, também, discursou na inauguração. Este
deu destaque aos trabalhados realizados pelos legionários do bem, que materializaram o “Lar
de Maria” (FOLHA DO NORTE, 1957).
Em seguida uma das associadas da instituição, a senhora Lucia Ramos Pinto, destacou
todas as campanhas realizadas pela diretoria, ressaltando o problema dos pequeninos
94
desvalidos no extremo norte do Brasil, cuja ajuda a estes, tomando como cenário Belém, foi
uma das principais motivações para a construção do “Lar de Maria”.
O Lar de Maria, porque é o Lar de Mãe de Jesus, o mesmo Lar de Jesus,
vem, pois, hoje, repetir nesta Belém, de Santa Maria de Belém, gesto do
meigo Nazareno, a repetir: “Deixem que venham a mim os pequeninos”. E
exortar-te a ti, irmão em Deus e Jesus Cristo, quem quer que sejas, onde quer
que estejas quanto ao credo que professas, para que ajudes a destino humano
deste lar aberto como abrigo às crianças que não têm lar, onde o amor e a
caridade devem cultivar a inocência em beneficio do mundo em beneficio do
mundo e do Brasil, para a gloria do Santo dos Santos (FOLHA DO NORTE,
1957, p.2).
Também estiveram presentes o tenente José Carlos Blaschek, representando o
brigadeiro Nelson Wanderley, o comandante da Primeira Zona Aérea, destacando que
“proteger as crianças do Brasil é preservar o futuro da nossa terra”; o deputado Stelio Maroja,
representante da Assembleia Legislativa; os senhores representantes da União Espírita
Paraense, doutor Alicio do Carmo e o senhor Álvaro Paz Nascimento, como também o
representante da Confederação Espírita “Caminheiros do Bem” (FOLHA DO NORTE,
1957,p.6).
A criança, nas falas dos representantes da instituição “Lar de Maria”, é vista como o
futuro da nação. Para Rizzini (2004), no século XX foram propagados ideias de proteção e
reforma de instituição para “salvar” a infância do Brasil. Isso originou um intenso discurso no
contexto da assistência à infância brasileira, esse fundamentado na finalidade da construção
da nação. Assim, a criança é compreendida como uma classe a ser investida, pois seria nessa
fase que os princípios civilizatórios, morais e higiênicos poderiam ser empregados nas
crianças, a fim de serem futuramente cidadãos úteis à Pátria.
Para encerrar os solenes discursos, Oliveiros de Castro destacou o trabalho realizado
durante os dez anos de construção do “Lar de Maria”, salientando a grande colaboração dos
legionários que contribuíram para que o “Lar de Maria” se tornasse uma realidade.
A programação de inauguração foi encerrada ao meio dia e trinta minutos, sendo
servido um coquetel aos convidados e autoridades presentes. A Imagem 33 retrata esse
momento, nela se observa Oliveiros de Assunção Castro, Oswaldo Pacheco, Salomão Levy,
realizando um brinde comemorativo por ocasião da inauguração do prédio da instituição.
95
Imagem 33 – Coquetel servido na inauguração da instituição (1957).
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
A Imagem 34 retrata o instante em que o Dr. Salomão Levy, delegado da Federal da
Criança (1ª região), Oswaldo Pacheco Dillon, presidente da instituição, senhora Lucia Ramos
Pinto e Oliveiros de Assunção Castro, respectivamente, percorrem o salão principal do prédio
a fim de conhecer as instalações do prédio recém-inaugurado.
Imagem 34 – Dr. Salomão Levy delegado da Federal da Criança, Oswaldo Pacheco Dillon
(1957).
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
96
A Instituição foi inagurada com uma capacidade para receber 150 crianças internadas, e
o critério para admissão era que fossem pobres e morassem nos bairros mais carentes da
cidade de Belém. Segundo o jornal Folha do Norte (1957, p.9), mesmo antes da inauguração
oficial, já havia internadas no “Lar de Maria” “[...] onze crianças, sendo dez no berçário.
Entre estas um casal de gêmeos, com cerca de três meses de idade, sem desenvolvimento e
adoentado, pesando a menina 2,050 quilos e o menino 2,550 quilos, que estão sob os cuidados
de um dos médicos cooperadores da Sociedade”.
A inauguração de um dos espaços mais importantes do “Lar de Maria”, o berçário,
aconteceu no mesmo dia da solenidade de inauguração do prédio, tendo inclusive recebido
grande destaque por parte da imprensa, bem como pela Coluna Espírita:
Para as criancinhas desamparadas de Belém, sem teto e sem o cálido
aconchego materno, magrinhas e descalças, aleijadinhas, cegas e estropiadas
– desventurados pedacinhos de gente – verdejará, a partir de 24 de fevereiro
próximo vindouro, o novo ramo de amor cristão que é o Lar de Maria, com
inauguração do seu Berçário.
Sim, meus amigos, no dia 20 de janeiro esteve reunido o Conselho Fraterno
dessa benemérita Sociedade, em sua sede social, a praça Floriano Peixoto,
ficando decidido acertada a data de 24 de fevereiro para a inauguração do
Berçário do Lar de Maria. [...] Convidamos a todos os componentes das
comissões para comparecem no próximo domingo, às 8 horas da manhã, à
sede social. (FOLHA DO NORTE, 1957, p.6).
As crianças no berçário vão constituindo experiências a respeito do ato de dormir,
atividades corporais que são reguladas e circunscritas pelo ritmo dos adultos que cuidam
delas. É perceptível que o berçário (Imagem 35) era uma ambiente organizado, amplo e
arejado, condições favoráveis para o acolhimento de crianças. Também é observado que há
crianças de diferentes faixas etárias, uma disposta de pé e as demais deitadas em seus berços.
97
Imagem 35 – Crianças no Berçário do “ Lar de Maria” (1957).
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
O percurso vivenciado pela Instituição “Lar de Maria”, apresentado nessa seção, para
além do grande esforço empreendido para a sua criação e construção, representa uma
preocupação em se fazer algo pelas pessoas mais necessitadas de Belém a partir do princípio
da caridade tão presente na doutrina espírita. Após essa contextualização histórica da
instituição, é interessante compreender como se materializou as intenções por ela defendidas,
no que diz respeito a dinâmica de funcionamento administrativo, o processo de internação, os
cuidados e a educação das crianças que dela fizeram parte.
98
SEÇÃO 3: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA LAR DE MARIA: assistência e
educação às crianças pobres
Imagem 36 – Instituição Cristã Espírita “Lar de Maria”.
Imagem 34: Instituição Cristã Espírita “Lar de Maria”
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
Nesta seção, objetivo apresentar aspectos do cotidiano do “Lar de Maria”. Essa
instituição – destinada a assistir as pessoas necessitadas do ponto de vista moral, espiritual e
material na cidade de Belém do Pará, na segunda metade do século XX – contribuiu
significativamente para propagar a doutrina espírita.
Para essa análise, descrevo como se organizava administrativamente o estabelecimento,
pontuando os cargos e as suas finalidades, evidenciando como ocorria o processo de
internamento, bem como o perfil dos internados. É importante salientar que o foco maior será
dado à internação de crianças, pois apesar de indícios de que havia a pretensão de se abrigar
idosos, as fontes documentais não permitiram um melhor detalhamento sobre isso.
Por fim, abordo a instrução e a educação oferecidas no “Lar de Maria”, a concepção de
educação, infância, criança e idoso à luz da doutrina espírita; pontuo as finalidades
educacionais da instituição; as aulas e os cursos profissionalizantes voltados para as meninas,
bem como as festas solenes para as crianças pobres no estabelecimento e os serviços
99
oferecidos para os vários segmentos da sociedade como forma também de proporcionar
educação e instrução.
3.1 A ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DO “LAR DE MARIA”
A instituição cristã-espírita “Lar de Maria” era constituída por um corpo administrativo,
que tinha o objetivo de direcionar as suas atividades, bem como encaminhar as decisões em
‘prol’ da instituição. Segundo Magalhães (1999), é necessário conhecer os papéis de cada
sujeito que faz parte de uma instituição para compreender as ações que dão sentido às
realizações institucionais que contribuem para a sua identidade.
Ainda, de acordo com Magalhães (1999), em uma instituição educativa é preciso
conhecer e caracterizar o órgão de gestão com a finalidade de explicar como acontece a
comunicação interna e externa, bem como conhecer a relação de poder, hierarquia, instâncias
de decisão, a fim de compreender as formas de participação dos diversos sujeitos que a
compõem.
Nesse sentido é importante compreender a estrutura organizacional administrativa, do
“Lar de Maria”. Esta compreendia uma diretoria, que conforme é descrito no Estatuto (1947),
era composta de onze diretores, com três suplentes e por um Conselho Fraterno, composto de
vinte conselheiros, com dez suplentes: aquele eleito bienalmente e este trienalmente.
A Diretoria era eleita pelo Conselho Fraterno em 5 de Agosto e empossado no dia 15 do
mesmo mês; e, o Conselho Fraterno era eleito pela Assembleia Geral, em 1º de Setembro e
empossado solenemente no dia 7 do mês corrente, em homenagem à data da independência do
Brasil.
O “Lar de Maria” possuía uma Diretoria que era a principal responsável pela gestão da
instituição, composta pelos seguintes cargos, conforme organograma a seguir:
100
ORGANOGRAMA
Fonte: Elaborado pela autora, com base no Estatuto do “Lar de Maria” (1947).
A posse da primeira Diretoria, após a inauguração do “Lar de Maria”, foi realizada no
dia 15 de agosto de 1957, data que se comemorava o aniversário de 10 anos do “Lar de
Maria”. Nesse dia, houve uma sessão presidida por um dos diretores, Dr. Salomão Levy, para
empossar os novos dirigentes da Instituição no ano de 1957 (FOLHA DO NORTE, 1957, p.2)
A Diretoria da instituição ficou constituída, no seu primeiro ano de funcionamento, da
seguinte forma:
PRESIDENTE
VICE-PRESIDENTE
SECRETÁRIO SECRETÁRIO
TESOUREIRO GERAL
1° TESOUREIRO
DIRETOR ADMINISTRATIVO
DIRETOR DE FINANÇAS
DIRETOR DA “CAMPANHA DO QUILO”
SUPERITENDENTE
E
SUPLENTE
2° TESOUREIRO
SUPLENTE SUPLENTE
101
Quadro 7 – Constituição da Primeira Diretoria (1957).
DIRETORES DA INSTITUIÇÃO ESPÍRITA “LAR DE MARIA”- 1957
PRESIDENTE Osvaldo Pacheco Dillon
VICE-PRESIDENTE Dr. Judah Eliezer Levy
SECRETÁRIO Dr. Moisés Greidinger
2º SECRETÁRIO Dr. Antônio Maria de Vasconcelos Chaves
TESOUREIRO GERAL Franti da Costa Barbosa
1º TESOUREIRO Fernando Augusto Leão Duarte
2º TESOUREIRO Deoclécio Gadelha Borges
DIRETOR-ADMINISTRATIVO Dr. Jonas da Costa Barbosa
DIRETOR DE FINANÇAS Dr. Octávio Vieira de Sousa Beltrão
DIRETOR DA CAMPANHA DO
QUILO
Alarico Rodrigues de Carvalho
SUPERINTENDENTE Dra. Sancha Bentes Cotta
SUPLENTES João Pina Filho, José Domingues da Cruz e
professor James Lionel Bournett
Fonte: Elaborado pela autora, com base no jornal Folha do Norte (1957, p.2).
Por meio desse quadro é possível perceber que a diretoria era formada quase
exclusivamente pelo sexo masculino. Havia apenas uma mulher, Doutora, assumindo o cargo
de superintendente. Predominava dirigentes com titulação de Doutor, não se sabe se eram
médicos, advogados e farmacêuticos. Figurava entre eles também um professor.
Nos anos de 1959 a 1961, o “Lar de Maria” foi administrado pelos seguintes diretores,
ilustrados no Quadro 8. É possível verificar, também, que surgem novas diretorias como os da
sopa dos pobres, do departamento de prendas e do ambulatório.
Ainda era marcante, nesse período, a presença de homens na diretoria. Mas o trabalho
feminino passava a integrar a estrutura administrativa da instituição do “Lar de Maria”, que já
contava com duas mulheres, porém uma delas ocupava o departamento de prendas, cargo que
tinha como responsabilidade proporcionar o ensino de atividades do lar, assim compreende-se
que mesmo uma mulher, ao assumir um cargo administrativo, deveria estar ligada a formação
de atividades doméstica.
102
Quadro 8 – Constituição da Diretoria – 1959 a 1961
Fonte: jornal Folha do Norte (1959, p.18).
Para que esse sistema funcionasse era necessário que todos cumprissem rigorosamente
suas funções, respeitando sempre as normas e as regras do estatuto, no sentindo de criar um
contexto harmônico e integrado em função dos propósitos da instituição. E cada qual tinha
uma:
[...] função definida que deve ser exercida cabalmente para a harmonia de
todo e para o completo êxito do programa a executar, e indispensável se
torna que entre todos reine o mais perfeito entendimento, que todos
trabalhem num ambiente de paz e harmonia, sempre unidos e decididos, e,
ainda que sejam todos por um, e, um por todos. (FOLHA DO NORTE, 1959,
p. 18).
É importante frisar que era vetado aos diretores à acumulação de cargos. Os diretores da
instituição não recebiam qualquer remuneração pelos seus serviços. Eles deviam cumprir suas
funções com atenção e cuidado com a finalidade de empregar esforços no sentido de garantir
o prestígio e o desenvolvimento do “Lar de Maria” (ESTATUTO DO LAR DO MARIA,
DIRITORES DA INSTITUIÇÃO ESPÍRITA “LAR DE MARIA”- 1959 a 1961
PRESIDENTE Osvaldo Pacheco Dillon
VICE-PRESIDENTE Dr. Jonas da Costa Barbosa
SECRETÁRIO GERAL Dr. Franti da Costa Barbosa
2º SECRETÁRIO Dr. Moisés Greidinger
TESOUREIRO GERAL Armindo Ernesto Almeida
1º TESOUREIRO Antônio Claudio Coelho da Cruz
2º TESOUREIRO Carlos Alberto Campos Ferreira
DIRETOR-ADMINISTRATIVO Juvenal Corrêa de Miranda
DIRETOR DE FINANÇAS Ilter Guimarães Pereira da Silva
DIRETOR DA CAMPANHA DO QUILO Aurélio Carvalho de Alcântara
SUPERINTENDENTE Ildélia Lima Dillon
DIRETOR DA SOPA DOS POBRES José Domingues da Cruz
DIRETOR DEP. PRENDAS Solange Cristo Muniz
DIRETOR DO AMBULÁTORIO Aniceto de Matos Lima
103
1947). Informações sobre o trabalho não remunerados dos diretores pode ser constatado na
notícia que segue:
Os diretores e cooperadores do “Lar de Maria” não recebem qualquer
remuneração, de acordo com o estabelecido nos Estatutos.
O seu engenheiro construtor, o seu corpo médico, as suas administradoras
internas não percebem qualquer remuneração. Apenas as colaboradoras nos
trabalhos domésticos, recebem pequenas ajudas de custo que lhe bastem à
sua manutenção. (FOLHA DO NORTE, 1957, p.9).
À Diretoria do “Lar de Maria” cabia reunir pelo menos uma vez por mês para tratar de
assuntos da instituição, tais como: a assistência e a educação de crianças. Além disso, teria o
dever de nomear Subdiretores-colaboradores para trabalharem nos departamentos da
instituição. A diretoria caberia também autorizar a admissão de empregados na instituição,
determinando a remuneração com base no orçamento apresentado e aprovado pelo Conselho
Fraterno. Ademais, elaborar regimentos internos para a orientação, administração e execução
dos serviços dos vários departamentos (ESTATUTO DO LAR DE MARIA, 1947).
Estava, ainda, entre as funções da Diretoria, definir sobre as internações das crianças e
dos velhos desamparados. Além de resolver casos não previstos no Estatuto quando não
houvesse tempo para convocar previamente o Conselho Fraterno, devendo informar sobre a
situação ao Conselho, a fim de solicitar a sua aprovação.
O Conselho Fraterno era composto por um presidente, um secretário geral e 2º
secretário. Esse Conselho poderia cassar mandato de diretor, realizar reuniões extraordinárias,
convocar a Assembleia Geral. Ao Presidente do Conselho Fraterno cabia presidir reuniões,
cumprir e fazer cumprir o que estava estabelecido no estatuto da instituição. O jornal Folha
do Norte destaca uma ação do Conselho Fraterno juntamente com a Diretoria:
Realizou-se no dia 4 deste mês, em sua sede, à Praça Floriano Peixoto, s/n.,
às 20 horas, uma reunião conjunta da Diretoria e do Conselho Fraterno do
“Lar de Maria”, tendo sido discutido e aprovado vários assuntos de real
relevo que se prendem à execução do seu programa de assistência social,
muito especialmente à criança e velhice desamparadas. (FOLHA DO
NORTE, 1958, p.6).
Vale lembrar, que a convocação da Assembleia Geral deveria ser feita pelo presidente
da instituição por meio de um comunicado na imprensa jornalística de Belém. Diante disso,
foi possível captar a prática da Assembleia Geral da instituição “Lar de Maria” no noticiário a
seguir que relata:
104
ASSEMBLEIA GERAL
A presidência do “Lar de Maria” está convocando os seus associados para
uma reunião de sua Assembleia Geral a realizar-se no dia 3 de Julho
próximo, em sua sede, às 19 horas da noite, para eleição do seu Conselho
Fraterno, d’acordo com Estatutos. (FOLHA DO NORTE, 1957, p.19).
A Diretoria teria que prestar contas de sua gestão ao Conselho Fraterno até 5 de agosto
de cada ano. Além disso, participar de reuniões do Conselho Fraterno, dar sugestões e discutir
assuntos relativos à dispensa de funcionários, arrecadação de doação e outros. Ademais se um
Diretor não exercesse as suas funções com competência e dedicação, a Diretoria o convocaria
para uma conversa particular. Caso a sua atuação continuasse a não corresponder à
expectativa da Diretoria, esta solicitaria ao Conselho fraterno a cassação do seu mandado.
No artigo 5º, das funções que se refere ao Presidente do “Lar de Maria”, está a de
conduzir todos os serviços da Instituição, reger as reuniões e cumprir as determinações do
Estatuto. O Presidente podia convocar “[...] o Conselho Fraterno e a Assembleia Geral, nas
datas estabelecidas e extraordinariamente, nos casos previstos no sempre que preciso
justificando os motivos” (ESTATUTO DO LAR DE MARIA, 1947, p.3).
O referido Estatuto destaca que o Presidente teria que anualmente apresentar ao
Conselho Fraterno um relatório de sua gestão e da Diretoria. Ao presidente caberia nomear
comissões para coordenar arrecadação de alimentos, roupas e remédios pela “Campanha do
quilo”. Ele teria também, como função, de redigir termos de abertura dos livros da instituição,
rubricar os documentos denominados de “caixa” e também assinar os certificados e diplomas
de alunas que completassem o ensino profissionalizante, cadernetas, cheques bancários e
todas as correspondências passíveis de sua assinatura. Além disso, teria que contratar um
contador de confiança, verificar as contas a pagar e receber auxílio, solucionar casos que
surgissem de urgência que dependeriam da aprovação Diretoria e do Conselho Fraterno.
E por fim, caberia ao Presidente do “Lar de Maria” participar das comemorações
festivas. Ele poderia “[...] delegar uma pessoa de sua confiança que não seja alheia à Diretoria
ou ao “Lar de Maria”, para representá-lo” (ESTATUTO DO LAR DE MARIA, 1947, p.3).
Em relação ao vice-presidente da instituição “Lar de Maria”, cabia entre as suas várias
funções, “[..] Cooperar conjuntamente com o Presidente na superintendência de todos os
serviços do “Lar de Maria” e desempenhar os trabalhos que forem combinados com o
mesmo” (ESTATUTO DO LAR DE MARIA, 1947, p.3). O vice-presidente também poderia
substituir o presidente por ausência ou renúncia do cargo se houvesse.
105
O Secretário Geral teria como função a “[...] organização e distribuição dos serviços de
secretaria, procurando sempre tê-lo em ordem e atualização” (ESTATUTO DO LAR DE
MARIA, 1947, p.3). Juntamente, com o segundo secretário, deveria responder as
correspondências e redigir as atas das sessões da Diretoria. O Secretário teria, ainda, o dever
de “[...] Substituir o Vice-Presidente nos seus impedimentos e ausência e sempre que este
assumisse a Presidência” (ESTATUTO DO MARIA, 1947, p.3).
O 2ª secretário do “Lar de Maria” competia elaborar ou responder a correspondência e
coordenar os serviços do arquivo e da biblioteca.
O Tesoureiro Geral, membro da instituição, deveria executar as seguintes atividades
“[...] Arrecadar a receita e suprir as despesas, trazendo tudo escriturado tecnicamente, com
clareza e em dia no livro “caixa””. Ele teria que pagar contas de ordem do Presidente e “[...]
Arrecadar, por meio de guias as importâncias entregues pelo 1° e 2° Tesoureiro, proveniente,
respectivamente, de cobranças de mensalidades, produto da “Campanha do Quilo” e de outras
que forem organizadas, devendo controlar os serviços a cargo desses Diretores” (ESTATUTO
DO LAR DE MARIA, 1947, p.4).
De acordo com Estatuto (1947, p.4), o Tesoureiro geral deveria depositar “[...] em
estabelecimento bancários indicados pela Diretoria os saldos disponíveis, procurando nunca
manter em “Caixa”, quantidades desnecessárias, saldos superiores a Cr$-2.000,00”. Cabia ele
assinar juntamente com o Presidente, cheques para saques de dinheiro no banco, nomear
cobradores de confiança para realizar a cobrança das mensalidades.
O Diretor administrativo da instituição “Lar de Maria”, desde o tempo da construção da
instituição teria a função de administrar a obra ou quaisquer consertos referente à construção
do prédio do estabelecimento. Além do mais, caberia a ele cuidar “[...] da conservação do
prédio, dependências, móveis, utensílios, aparelhos dos gabinetes médicos, dentário etc.;
veículos de transportes, enfim, por todos os bens da Sociedade, promovendo o que for
necessário para esse fim” (ESTATUTO DO LAR DE MARIA, 1947, p.4).
Ao Diretor administrativo incumbia, também, “[...] Digitar e fiscalizar o serviço de
compra de mantimentos para a dispensa, copo, cozinha, lavanderia, farmácia, laboratório
quaisquer outros departamentos” (ESTATUTO DO LAR DE MARIA, 1947, p.4). Além
disso, este teria a função de todo mês elaborar e apresentar um orçamento das despesas para o
mês imediato na reunião da Diretoria, isso cabendo ser discutido ou aprovado.
Em relação ao Diretor de Finanças, este executaria planos de festivais, quermesses que
seriam realizados durante o ano, com o objetivo de angariar auxílio para a instituição. Esses
planos posteriormente teriam que ser expostos à Diretoria que deveria analisar e aprovar ou
106
reprovar. Nesse mesmo sentido, caberia ao Diretor de Finanças coordenar e chefiar as
comissões para obterem auxílio para a instituição.
Caberia ao Diretor de Finanças organizar uma relação de pessoas físicas ou jurídicas
para realizar aquisição de donativos em favor da instituição, além de “[...] Tomar as
providências que se achem necessárias junto aos poderes constituídos, municipais, estaduais e
federais e representantes do povo nas Câmeras Municipais, Estaduais e Federais, bem como
no Senado Federal, no sentido de conseguir ajudas ou subvenções” (ESTATUTO DO LAR
DE MARIA, 1947, p.5).
O diretor da “Campanha do Quilo” deveria conduzir o trabalhado da campanha e de
outras que surgissem. Ele também fiscalizaria a arrecadação e recolheria a quantia dos
gêneros e objetos adquiridos pelos legionários da campanha. Esse diretor tinha a
responsabilidade de fiscalizar os seguintes serviços: escrituração e estatística, estes deveriam
ficar sempre atualizados, bem como:
[...] elaborar e apresentar à Diretoria, para estudo e aprovação, planos que
visem à estabilidade do quadro de legionário e o engrandecimento da
“Campanha do Quilo” e de outras campanhas, bem assim organizar passeios
e campanhas em localidades do interior e de festivais com o objetivo de
animar os legionários. (ESTATUTO DO LAR DE MARIA, 1947, p.5).
O Diretor teria também que propor à Presidência da instituição, comissões que fossem
compostas de associados que pudessem ajudar nos serviços de contagem do dinheiro
arrecadado nas campanhas.
Aos Suplentes caberiam assumir cargos vagos na Diretoria, conforme a convocação
feita por esta. No exercício de outras funções de direção, deveriam os suplentes participar das
reuniões da Diretoria (ESTATUTO DO LAR DE MARIA, 1947).
O “Lar de Maria” também tinha uma Superintendência que, de acordo com o Estatuto,
tinha a obrigação de dirigir todos os serviços internos da instituição e fazer cumprir o estatuto,
os regulamentos e a instrução, provenientes da Presidência e da Diretoria. Esse cargo só seria
preenchido por eleição. Parte das atribuições da Superintendência pode ser explicitada na
notícia a seguir:
Leitor amigo e caridoso: meditai nas necessidades do “Lar de Maria”
decorrentes desses novos encargos e vinde em seu auxílio com a vossa
valiosa ajuda, qualquer que seja __ material de construção, alimentos,
vestimentas, utensílios, numerário, etc., enviando-a à (sic) nossa Diretora
Superintendente, a irmã Sancha Bentes Cotta, em nossa Sede à Praça
Floriano Peixoto, s.n., ou, por intermédio. (FOLHA DO NORTE, 1958, p.6).
107
Dessa forma, é possível compreender a estrutura administrativa, prevista no Estatuto da
Instituição “Lar de Maria”, e se observa uma gestão que visava à racionalização do trabalho
com a finalidade de manter a eficiência dos serviços lá executados.
É importante destacar a hierarquia e o poder centralizado no presidente da instituição
do “Lar de Maria”. É perceptível uma estrutura administrativa burocrática que controlava as
atividades exercidas pelos demais cargos. A comunicação era linear (de cima para baixo),
demarcando uma relação que está mais preocupada com a execução e a fiscalização de
tarefas.
.
3.2 A INTERNAÇÃO E OS INTERNADOS NA INSTITUIÇÃO ESPÍRITA “LAR DE
MARIA”
O “Lar de Maria”, desde a sua criação já tinha o intuito de abrigar crianças pobres, que
recebiam a denominação de órfãs e desvalidas, e que “[...] seus parentes ou pais sejam
comprovadamente miseráveis [...]” (ESTATUTO DO LAR DE MARIA, 1947, p.9). Ser órfão
não era, desse modo, a condição para ingressar no “Lar”, e sim a pobreza. Isso fazia com que
os pais ou responsáveis pelas crianças as levassem para o Lar de Maria para serem cuidadas e
educadas. Para Rizzini (2004, p.16), “[...] grande parte da “clientela” das instituições de
assistência e assistência a infância era internada pelas próprias famílias, sendo as crianças
retidas nos internatos e transferidas de tempos em tempos para outros, de acordo com a sua
faixa etária, sexo, perfil e comportamento”.
Em 24 de setembro de 1947 foi registrado no cartório “Senhor Manoel” da cidade de
Belém do Pará o Estatuto da Instituição Espírita “Lar de Maria”, que rege as suas ações. Entre
elas, destaco a entrada e saída de crianças no internato, o tipo de educação oferecida, os
cargos e as funções dos diretores da instituição (ESTATUTO DO LAR DE MARIA, 1947).
Os interessados, em internar as crianças no “Lar de Maria”, deveriam comprovar que
eram pobres. Para tanto, era realizado uma sindicância26
, que cabia a uma comissão formada
por três membros da própria diretoria do “Lar de Maria”, com a função de visitar as famílias
para verificar se as crianças eram pobres. Os critérios de internamento podem ser visualizados
em uma notícia veiculada pelo jornal Folha do Norte do dia 02 de junho de 1957:
A finalidade do “Lar de Maria” é abrigar as criancinhas órfans (sic),
desamparadas, cujos pais já foram chamados à Espiritualidade, e, também as
criancinhas denominadas “Orfans” (sic), mas de pais vivos, porque
26
Conjunto de atos e diligências que objetivam apurar a verdade de fatos alegados; investigação.
108
paupérrimos em extrema miséria e completamente destituídos de meios para
prestar-lhes o sustento a assistência e a instrução indispensáveis.
A preferência para internamento recai sempre nas crianças mais necessitadas
retiradas dos bairros mais paupérrimos e dos subúrbios insalubres de Belém,
sem distinção de cor, de raça, de nacionalidade ou de religião.
Cerca de uma centena de crianças nessas condições já estão registradas para
internamento aguardando oportunidade. Os pais, em virtude de extrema
miséria em que se encontram e por se sentirem com os corações
despedaçados pela dor causada pelo grande sofrimento dos seus filhinhos
famintos desnutridos e doentes, estão ansiosos para que chegue o dia em que
possam ter a consolação de os confiar (sic) ao teto acolhedor e paternal do
“Lar de Maria”, onde possam ter os cuidados que necessitam e sentir os
carinhos e afagos de mães bondosas e amorosas. (p.2).
O Estatuto instituía que o limite máximo para internação de criança era de sete anos de
idade. No entanto, crianças menores de três a seis anos foram internadas na instituição. “[...]
A Comissão de investigação está terminando os seus trabalhos para o internamento de mais
algumas meninas de três a seis anos de idade, que vão ter o seu lar amoroso e cristão”
(FOLHA DO NORTE, 1958, p.6).
A instituição “Lar de Maria” abrigava também crianças maiores que a idade
determinada pelo Estatuto, pois a Comissão de Sindicância aprovou pareceres de crianças
maiores de sete anos para ingressarem no “Lar”. O noticiário do jornal Folha do Norte
ressalta que comissão do Lar de Maria:
[...] examina cuidadosamente as condições de cada criança registrada para o
internamento, visitando-as em suas residências, e há o cuidado todo especial
de somente serem emitidos pareceres favoráveis ao internamento, nos casos
de reconhecida miséria dos seus pais ou pessoas responsáveis. (FOLHA DO
NORTE, 1958, p.13).
109
Imagem 37 – Três irmãs: Lúcia, Maria Augusta e Iolanda.
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
As três irmãs: Lúcia, Maria Augusta e Iolanda da Costa Moreira, de seis, sete e oito
anos, respectivamente (Imagem 37), que já se encontravam sob o teto acolhedor e cristão do
“LAR DE MARIA”. Elas viviam das esmolas que sua avó doente conseguia adquirir
percorrendo a cidade de Belém, deixando-as abandonadas em um miserável barraco, como
bem relata o impresso:
As três irmãs LÚCIA, MARIA AUGUSTA e IOLANDA da Costa
Moreira, que se encontram agora sob o teto acolhedor e cristão do “LAR DE
MARIA”, que viviam das esmolas que sua avozinha doente conseguia
percorrer Belém, deixando-as abandonadas em sua miserável barraquinhas à
Passagem Emilio Martins, n° 14, Jabatiteua, Bairro de Canudos.
Das três irmãs: LUCIA, MARIA AUGUSTA e IOLANDA da Costa
Moreira, de seis, sete e oito anos e meio respectivamente de idade, filha da
infeliz Maria Agostinha da Costa, que reside em Soure, inutilizada pela
filaria. A avozinha paupérrima e doente, não mais podendo trabalhar,
deixava as netinhas abandonadas na sua barraquinha, enquanto percorria a
cidade, recorrendo à caridade pública para conseguir alguns minguados
recursos para poder matar a sua fome e dos entenzinhos queridos, e, para
comprar alguns paninhos para improvisar-lhe algumas roupinhas grosseiras
mal costuradas. (FOLHA DO NORTE, 1958, p.13).
110
O “Lar de Maria”, portanto, prestou caridade a essas três meninas, que viviam em
verdadeiro estado de miséria física e moral, estando seus parentes responsáveis em iguais
condições. Estes “[...] preferem passar pela dor dilacerante da separação dos seus entenzinhos
queridos, a vê-los sofrer as maiores privações em seu poder”. Desse modo, o ingresso na
instituição dava possibilidade às três meninas de receberem educação e instrução, caso
contrário, estariam “[...] sujeitas às adversidades mais perigosas, com sério risco de adquirem
maus hábitos e costumes, e até de se inutilizarem para uma vida honesta e digna no futuro”
(FOLHA DO NORTE, 1958, p.13).
Nesse sentido, segundo Marcilio (1998), os estabelecimentos de internamentos na
Primeira República eram ideais para tirar a crianças dos perigos da rua. As crianças retiradas
da sociedade e de uma família incapaz de bem criá-la, em instituições totais, elas teriam
educação, formação, disciplina e vigilância que as preparariam para uma vida em sociedade.
Outras meninas foram atendidas e acolhidas pelo “Lar de Maria”. Como o caso das
irmãs Raimunda e Mariete Alves Pereira, de sete anos e meio e oito anos e meio de idade
(imagem 38) (FOLHA DO NORTE, 1958).
Imagem 38 – As duas irmãs: Raimunda e Meriete.
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
111
As filhas de Maria Pereira Cavalcante, que morava em um barraco, cujas paredes eram
de papelão foram internadas no “Lar de Maria”. O companheiro dela faleceu, deixando-a na
completa miséria com mais quatro filhos, raquíticos, sendo o menor de três meses de idade,
não possuindo recursos para arcar com as necessidades básicas de sua prole. Segundo o
jornal,
[...] um indivíduo ignorante, ou mau e sem coração, aproximou-se de Maria
Pereira Cavalcante, ainda jovem, e com promessas enganadoras, a ela se
uniu para abandoná-la assim que ela ficou em estado interessante. E, em 27
de Março deste ano, nasceu, naquele lar tão infeliz – Maria das Graças, que a
desolada mãe amamenta e tem que prestar os cuidados necessários
impossilitando-a de trabalhar. (FOLHA DO NORTE, 1958, p.13).
Este caso doloroso e comovedor não poderia deixar de merecer a aprovação do “Lar de
Maria” para o internamento das duas irmãs. A instituição, ao acolher as pobres meninas,
evitaria que estas sofressem os perigos das ruas, como exemplo, a prostituição e mendigagem,
tendo em vista que a forma como estavam vivendo fazia delas pessoas sujeitas aos perigos de
toda ordem.
A partir da apresentação desses dois casos, é possível perceber que o “Lar de Maria”
tinha de fato uma preocupação em atender pessoas que não tinham condições de custear o
sustento dos filhos e fornecer educação e instrução, tendo na instituição uma possibilidade de
contribuir para que estes tivessem oportunidades melhores, uma vez que seus responsáveis
não poderiam ofertar.
Além disso, fica explicitada a intenção da instituição, por meio dos princípios espíritas,
em guiar as meninas na direção dos “bons caminhos”, o que revela a concepção de infância
como “dúctil e moldável”, isto é, que poderia tender tanto para o bem quanto para o mal
(RIZZINI, 2011), logo, cabia ao “Lar” auxiliar no desenvolvimento moral e intelectual de
seus internos, a fim de tornarem-se pessoas de bem. O que é corroborado, ainda, pelo seguinte
escrito:
Sendo o “Lar de Maria” uma instituição filantrópica, destinada a abrigar e
proteger velhinhos, instruir e educar meninas órfãs ou desamparadas sem
distinção de côr (sic), raça, nacionalidade e credo religioso e prepará-las para
uma vida honesta e útil à família, à pátria e, sobretudo, à (sic) Deus;
cooperar-se para a sua construção e manutenção, é o maior e o melhor
serviço que se pode prestar à Humanidade do presente e do futuro.
Observai quantas criaturas enveredam diariamente pela senda sombria do
erro, do crime e da perdição, exatamente porque nunca tiveram na infância
quem lhe ensinasse o A B C ou lhe desse uma educação e uma profissão útil
e proveitosa.
112
Uma criança tirada à lama da rua será por certo, um criminoso a menos nos
presídios ou uma infeliz a menos nos prostibulos (sic).
Enfrentamos uma situação gravíssima que não comporta atitudes duvidosas
ou ambíguas; de duas uma: ou cuidamos da criança de hoje ou perdemos o
Brasil de amanhã [...]. (FOLHA DO NORTE, 1947, p. 3).
Outro critério para o internamento de crianças pobres na instituição, eram que todos
“[...] Os pedidos de internamento recebem um número de ordem ao serem registrados” e
seriam atendidos pela ordem numérica de entrada dos pedidos de internação (ESTATUTO
DO LAR DE MARIA, 1947, p.9). É possível perceber que o próprio impresso Folha do Norte
fazia apelo para o registro de internação de crianças para que fossem posteriormente
acolhidas. Tal jornal, no dia 13 de janeiro de 1957, relata:
Você, pois, que conhece e tem deveres à criancinha que está à espera do
agasalho do Lar de Maria, vá sem demora à Secretaria dessa instituição,
tome as instruções necessárias, para o registro e internamento do pequenino.
De início, um pequeno número, apenas, terá lugar, e serão os mais
pequeninos. (FOLHA DO NORTE, 1957, p.6).
Todos os casos de internação haveria a necessidade de apresentar a ficha de registro da
criança, além dos “[...] documentos necessários, como certidão de idade, atestado de saúde e
de vacina, podendo, entretanto, o “LAR DE MARIA” se ocupar, junto ao seu médico
assistente, dos últimos atestado [...]” (ESTATUTO DO LAR DE MARIA, 1947, p.9).
Outro critério, que chama a atenção, são os cuidados no que concerne à higiene e à
saúde das crianças para o internamento, pois ter uma boa saúde era um dos aspectos a serem
consideradas na internação. Caso as crianças não tivessem sadias, a própria instituição
indicaria o médico da instituição “Lar de Maria” para tratar das suas enfermidades, como
pode ser evidenciado em informações divulgadas pela Folha do Norte, em 01 junho de 1958:
Vem, assim, o “Lar de Maria” cumprindo a sua missão benfazeja, retirando
do ambiente de sofrimento e de miséria em que se encontram criancinhas
raquíticas, desnutridas e até anêmicas e enfermas, que são entregues aos
cuidados profissionais do competente médico pediatra, Dr. Fernando Otero,
que presta por essa forma a sua caridosa e valiosíssima cooperação à
Instituição. (p. 13).
É interessante frisar que muitas crianças, antes de serem submetidas ao internamento no
“Lar de Maria”, eram desprovidas de conforto, higiene, alimentação e remédio que as
possibilitassem viver dignamente, também havia relatos de que estas eram carentes da falta de
113
afeto e carinho, cabendo à sociedade fornecer o que elas necessitavam, como é possível
verificar no noticiário a seguir:
Cooperar e ajudar o “Lar de Maria” e beneficiar a criancinha necessitada, à
qual falta o conforto, o carinho, a alimentação e o remédio para cura de suas
enfermidades contraídas no triste e desolado ambiente de miséria em que vive,
destituído completamente de conforto e dos requisitos de higiene.
Lembrai-vos de que “o beneficio” feito à criança, também é prestado à Pátria
e à humanidade de hoje e do futuro. (FOLHA DO NORTE, 1957, p.7).
Nesse sentido, é possível evidenciar, a partir dessa notícia, a representação de infância
veiculada pelo “Lar de Maria”, que se relaciona com o discurso recorrente sobre essa
categoria social, materializado a partir do século XIX, onde a criança pobre, ao ser vista como
o futuro da nação, precisaria receber investimento, tornando-se um sujeito útil e civilizado
para a vida em sociedade, visto que a criança pobre e abandonada representava, segundo
Rizzini (2011, p. 26, grifos do autor),
[...] ‘como um problema social gravíssimo’, objeto de uma ‘magna causa’, a
demandar urgente ação. Do referencial jurídico claramente ao problema,
constrói uma categoria específica – a do menor – que divide a infância em
duas e passa a simbolizar aquela que é pobre e potencialmente perigosa;
abandonada ou ‘em perigo de o ser’; pervertida ou em ‘perigo de o ser’.
Os pais ou responsáveis não eram vistos de maneira negativa por submeterem seus
filhos ao processo de internamento, muito pelo contrário, caracterizava-se como uma atitude
digna e justificável na doutrina espírita, pois “[...] tão cedo se viram privados dos cuidados
dos seus pais, chamados que foram à Espiritualidade, ou porque tão necessitados, preferiram a
dôr (sic) da separação a ver seus filhinhos queridos passarem pelas mais duras privações e
sofrimento, no ambiente triste, do desconforto e miséria em que vivem” (FOLHA DO
NORTE, 1960, p. 15).
Muitas crianças que chegavam ao “Lar de Maria” se encontravam comumente, mal
cuidadas, desnutridas e doentes, como é possível observar na Imagem 39, onde é retratado um
órfão recém-chegado à instituição. Na fotografia, identifiquei uma criança, do sexo
masculino, deitado, aparentemente doente e com semblante sofrido que foi acolhida no “ Lar
de Maria”.
114
Imagem 39 – Órfão recém-chegado à instituição.
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
No que diz respeito à perda da vaga ou saída de crianças da instituição do “Lar de
Maria”, o Estatuto mostra que crianças com saúde insanável teria como consequência o
desligamento deste lar, o próprio documento no inciso17 do artigo 20º indica que:
§ 18° - Também perderão o direito de internação no “LAR DE MARIA” os
internados forem acometidos de doenças graves e contagiosas, incuráveis ou
de difícil cura, como a tuberculose, a lepra, a varíola, a peste bubónica, o
câncer, etc...bem assim de doenças mentais e loucura devendo a Diretoria
providenciar com urgência, sempre que se apresente qualquer deste casos,
junto as autoridades competentes, para a transferências do internado doente
para o hospital adequado ao seu internamento e tratamento. Cessado a juízo da
Diretoria, poderá o internado voltar ao internamento no “LAR DE MARIA”.
(ESTATUTO DO LAR DE MARIA, 1947, p.10).
Nesse trecho do Estatuto, é possível compreender que o desligamento de uma criança
com doenças era por um tempo determinado. A criança era encaminhada para um hospital
com finalidade de receber cuidados, após restabelecer a sua saúde poderia voltar para o
internamento.
No século XX, doenças como tuberculose e malária assolavam o solo paraense e o
pouco conhecimento que se tinha sobre elas faziam com que muitas pessoas chegassem ao
óbito. Ferreira e Gondra (2007, p. 138) destacam que as instituições são “[...] um viveiro de
doenças eruptivas e, por conseguinte, uma vizinhança perigosa para outros alunos e um
115
terreno sempre pronto a receber e a desenvolver os germes”. Dessa forma, essa atitude de
desligar crianças doentes da instituição por parte de sua administração tinha por finalidade
evitar que outras crianças adoecessem.
A idade também era um fator para a saída da criança da instituição. O internato
determinava que “[...] Sairão da tutela do “LAR DE MARIA” os internados que se
emanciparem ou que atinjam a maioridade” (ESTATUTO DO LAR DE MARIA, 1947, p.9).
Nesse caso, a criança considerada de maior idade era a que possuía quinze anos. Acrescento
também que a maior idade era vista como uma oportunidade para acolher ou proporcionar
mais aberturas de vagas para o internamento de crianças necessitadas no “Lar de Maria”. No
estatuto há a seguinte informação:
O “LAR DE MARIA”, tendo em vista a necessidade de internar sempre
crianças novas e de manter o equilíbrio de seu orçamento financeiro,
providenciará o encaminhamento dos internados que atingirem a idade de
quinze anos a emprego ou serviços domésticos que proporcionem sua
manutenção. (ESTATUTO DO LAR DE MARIA, 1947, p.9).
Havia também a perda do internamento da instituição quando “[...] os internados
cometerem ou reincidirem em faltas graves contrárias à moral e ao decoro, devendo a
Diretoria, com aprovação do Conselho Fraterno, deliberar sobre a forma mais conveniente de
afastá-los” (ESTATUTO DO LAR DE MARIA, 1947, p.10).
Nesse sentido, é possível constatar que a disciplina fazia-se presente no cotidiano das
crianças da instituição “Lar de Maria” quando o Estatuto evidencia que os internos ao
cometerem infrações contrárias à moral e ao decoro da instituição seriam desligados do “lar”.
O disciplinamento de criança, em instituição do tipo internato, tinha como finalidade
evidenciar que os internados não deveriam ir contra as regras lá existentes. Educar também
era disciplinar as crianças para obedecerem às regras da instituição. A questão da disciplina
está presente em diversas instituições que controlam ou regulam comportamentos dos
indivíduos dentro de uma sociedade, tais como: militares, conventos, hospitais e escolas.
Nesse sentido, a disciplina:
[...] dissocia o poder do corpo; faz dele por um lado uma aptidão, uma
capacidade, que ela procura aumentar; e inverte por outro lado a energia, a
potência que poderia resultar disso, e faz dela uma relação de sujeição
estrita. Se a exploração econômica separa a força e o produto do trabalho,
digamos que a coerção disciplinar estabelece corpo o elo coercitivo entre
uma aptidão aumentada e uma dominação acentuada. (FOUCAULT, 1987,
p. 127).
Em qualquer sociedade, segundo Foucault (1987), o corpo está preso no interior de
poderes muito apertados, que impõem limitações, proibições e obrigações, deixando claro que
116
poderes perpassam por todo o corpo social, originando transformações e modificações nas
condutas e atitudes dos indivíduos. As atitudes disciplinares tornaram-se fórmulas diretas de
dominação e controle de operação do corpo, submetendo a sociedade a um processo de
disciplinarização dos indivíduos. Logo, a disciplina passa a ser percebida como uma força que
controla os corpos, fazendo com que os sujeitos também se tornem dóceis e úteis para
pretensões do sistema na qual estão inseridos.
Ainda sairiam da instituição, crianças que tivessem alguém fora desse lar, responsável e
de boa conduta, que tivesse possibilidade de mantê-la fora da instituição, como registrou o
estatuto:
§ 16°- Observadas as leis de proteção à família poderá ser facultada a saída
de crianças internadas no “LAR DE MARIA”, provisória ou
definitivamente, quando solicitada por pessoas idôneas e que gozem de bom
conceito moral, que possuam meios para mantê-las e educá-las
convenientemente, ou, que desejem tê-las como filhas, ou perfilha-las,
mediante compromisso lavrado em escritura pública, depois de feitas as
necessárias sindicâncias apresentando o laudo favorável pela comissão
investigadora nomeada pela Diretoria que deve constar de cinco membros,
componentes da Diretoria ou do Conselho Fraterno. (ESTATUTO DO LAR
DE MARIA, 1947, p.10).
É conveniente mencionar que as crianças pobres mesmo depois de internadas poderiam:
[...] estabelecer entre as crianças internas e crianças de família amigas e
cristãs os laços de solidariedade humana, de molde a gerar assistência social-
material da parte dos que têm mais, as internadas podem ter, lá fora,
“madrinhas sociais”, que as visitem, distribuindo com as “afilhadas” um
pouco de carinho, de conforto e de bem estar que, por ventura lhe sobrem.
(ESTATUTO DO LAR DE MARIA, 1947, p.9).
A ajuda, sinalizada no Estatuto do “Lar de Maria”, por pessoas seja como provedores,
doadores, padrinhos, madrinhas, ou seja, de senhoras de posses, as chamadas “damas da
sociedade”, que angariavam fundos por meio de quermesses ou bazares para auxiliar: idosos,
doentes e crianças, é uma prática bastante antiga, segundo Marcílio (1998), esses agentes da
sociedade civil desenvolvem ações caridosas, doando dinheiro, roupas ou alimentos,
incentivadas e motivadas pelos valores cristãos de amor ao próximo, pois auxiliando aos
pobres se faz também uma benfeitoria a Deus.
O internato do “Lar de Maria” foi uma das primeiras inciativas, pautada na doutrina
espírita, criado em Belém do Pará, que teve a preocupação com as crianças que se
encontravam em plena miséria. Era considerável, na cidade de Belém, o número de crianças
carentes, nesse contexto, como destacou uma notícia do jornal Folha do Norte, à época:
117
Aqui em Belém do Pará, o “Lar de Maria”, é a primeira instituição espírita
que está prestando assistência social, amparando criancinhas desamparadas e
desvalidas. Inaugurado recentemente, a 24 de Fevereiro de 1957, abriga
ainda apenas, uma dúzia de crianças, mas tem a capacidade para cerca de
150. Para enchê-lo de criancinhas e muitíssimas são as criancinhas
desamparadas e em verdadeiro estado miséria e penúria 15 inscrita que
aguardam oportunidade de internamento [...]. (FOLHA DO NORTE, 1957.
p.8).
O “Lar de Maria” era anunciado como uma importante instituição para a criança pobre,
abandonada e órfã, pois este espaço serviria como uma solução para que as crianças, não
sofressem da falta de assistência material e espiritual, por isso, a motivação e o apelo para a
causa dos pequenos necessitados, que tanto precisam de pessoas caridosas e sensíveis, como
bem salienta a seguinte notícia:
Ajudai, pois leitor amigo, o “Lar de Maria” no desempenho da sua tarefa de
abrigar as criancinhas desta cidade de Santa Maria de Belém, que se
encontram em aflitiva situação, necessitadas urgentemente de um lar cristão
onde possam ter os cuidados, o conforto, o carinho e amor que aquelas lhe
deram o sêr (sic) não lhe podem proporcionar, preferindo sofre a dura prova
da separação dos seus entesinhos (sic) queridos a vê-los passar os horrores
da fome, do definhamento físico e a crueldade das doenças que, muito
possivelmente, contribuirão para os seus desencarnes sem qualquer
assistência material ou espiritual, se não foram abrigadas a tempo. (FOLHA
DO NORTE, 1957, p.8).
O “Lar de Maria”, embora não se tenha encontrado durante o estudo registros que
apontem a presença de idosos, bem como evidências do cotidiano destes no estabelecimento,
previa-se no Estatuto e nas notícias sobre a criação da instituição, a internação de idosos, cujo
perfil, normalmente, eram “[...] velhinhos trôpegos e combalídios (sic) que sem lar, sem pão e
sem amigos, perambula, diariamente, de porta em porta, suplicando a graça de uma esmola ou
o dôce (sic) aconchêgo (sic) de um abrigo [...]” (FOLHA DO NORTE, 1947, p.3).
Para ilustrar a necessidade da criação da instituição para atender e abrigar idosos, a
colaboradora do “Lar de Maria”, Lucia Ramos Pinto, na Coluna Espírita, apresenta a história
de uma idosa que vivia em uma humilde habitação, esta que possuiu posses, mas que não
realizava boas ações aos necessitados e parentes que estavam ao seu redor, o que pode ter
contribuído para que essa senhora acabasse ficando só.
Ao dialogar com a senhora, a colunista destacou que a idosa deveria ter fé em Deus,
pois a construção do “Lar” forneceria aconchego e moradia para pessoas necessitadas como
ela. Vale refletir que, ao trazer para o impresso tal narrativa, infiro que a intenção desse
escrito poderia ser tanto para sensibilizar sobre a causa dos idosos pobres, bem como para
118
enfatizar a importância de se praticar a caridade, pois, como defende o espiritismo, quem
“planta o bem, colhe o bem”.
UMA VELHINHA E O LAR DE MARIA
Em meio da estrada que nos conduz a um pequeno logarejo (sic), erguia-se
uma humilde choupana. Em seu interior não haver ninguém, tal era o
silêncio que reinava. Porém, eis que surge uma velhinha, de cabelos muito
brancos, sua fisionomia ainda demonstrando a beleza de que fora portadora,
seu andar trôpego e incerto. Sentou-se e indicando-se um pequeno banco,
narrou-me a sua história.
Fôra portadora de uma grande fortuna e por não ter feito bom uso dela, agora
encontrava-se naquela extrema pobreza. Sim, pois apesar de ser mulher e de
ser muito religiosa, em seu coração não residiu dois grandes sentimentos o “
Amar o próximo” e a “Caridade”. No grande conforto material em que viveu
jamais lembrou-se de repartir aquilo que lhe sobrava, pelos pobrezinhos,
pelos infelizes, que lhe batiam à porta. Seu orgulho tão grande nunca deixou
passar-lhe pela mente o término de sua fortuna e sua velhice sem parentes,
sem uma pessoa amiga que mais tarde pudesse ampará-la. E assim foi, disse-
me ela entre soluços e lágrimas, por que contando agora uma idade
avançada, não tinha uma mão amiga, uma voz terna que lhe desse conforto
material e espiritual.
E eu cheia de compaixão por aquela que não tivera quem lhe indicasse o
verdadeiro caminho que nos conduz ao Pai Celestial e nem que lhe
explicasse que estamos na terra para ajudar-nos uns aos outros, lembrei-me
do “Lar de Maria” e disse-lhe: Não se desespere. Deus nunca esquece seus
filhos e principalmente aquele que nele confiam e esperam. Implore a êle
(sic) à sua proteção e espere que brevemente, a senhora e tantas outras
velhinhas serão amparadas pelo “Lar de Maria”.
Lar de Maria, perguntou-me ela? Sim, vovozinha, a família espirita
paraense, tendo como iniciadores dois jovens cheios de entusiasmo e fé,
como continuadores as Juventudes, irá muito breve, se Deus quiser, construir
o “Lar de Maria”, onde as velhinhas sem amparo e as criancinhas órfãs
encontrarão não um asilo, mas sim um verdadeiro lar, não hábitos pretos e
ministrarem-lhes ensinamentos, mas sim, um punhado de irmãos cheios de
Fé e Amôr (sic) que lhe proporcionarão o conforto material e o espiritual
por meio da palavra meiga e simples do Divino Mestre Jesus e dos
Evangelhos.
E assim, ao despedir-me a velhinha com um sorriso de satisfação disse-me:
Vai e que a Virgem Santíssima dê forças a ti e a todos os teus companheiros
para que trabalhem com a certeza de muito em breve ver realizar o grande
sonho de todos os espíritas: A construção do “Lar de Maria”. LUCIA
RAMOS PINTO. (FOLHA DO NORTE, 1947, p.4).
Os velhinhos depois de abrigados, conforme o Estatuto da instituição, “[...] Poderão
também ser aproveitados nos vários serviços internos do “LAR DE MARIA”, os velhos
internados cujos dotes morais e condições de saúde os recomendem para ou mesmo e que
desejem fazê-lo por amor ao próximo”. Sobre as saídas deste: “[...] Será facultada, entretanto,
119
a saída definitiva do “LAR DE MARIA” aos velhos desamparados que desejarem fazê-lo
provisória ou definitivamente” (ESTATUTO DO LAR DE MARIA, 1947, p.10).
A compreensão de órfãos e velhice, a partir da doutrina espírita, assume uma conotação
cristã-religiosa, fazendo com que estes conceitos assumam significado da imagem de Jesus,
por isso, a necessidade de ajudar estes sujeitos, o que é evidenciado na Coluna Espírita, do
jornal Folha do Norte:
Quando virmos o órfão abandonado, sem pão, sem família, sem lar, rôto e
faminto, amparêmo-lo (sic) sem perda de tempo: ê órfão é Jesus Cristo, que
assim, veladamente, nos procura.
Quando, ao nosso lado, se apresenta a velhice, trôpega e desalenta, sem
arrimo, nem esperanças, cumpre acolhê-la cercando-a dos devidos cuidados,
pois é o mesmo Jesus Cristo que assim, oculto, bate às nossas portas.
[...] seja este, ou seja, aquele, é, invariavelmente, a imagem viva de Jesus
Cristo; a única imagem real que dele existe na Terra, a única digna de culto e
da reverência dos verdadeiros cristãos pois é aquela que envolve, sob
aspectos variados, o ideal de amor que Jesus personifica. (FOLHA DO
NORTE, 1947, p.2).
Nesse sentido, devem-se amar os órfãos, pois “[...] é tão triste a condição de ser humano
só e abandonado, ainda mais no período da infância”. A existência dos órfãos foi
proporcionada por Deus para que alguns homens servissem de pais. Além disso, oferecer
ajuda a uma criança abandonada está agradando ao criador, compreendendo e praticando a
sua lei que é a da caridade, relata uma notícia fundamentada nos princípios de Allan Kardec,
intitulada “O Lar de Maria: Os órfãos”, destinada a comunidade espírita paraense no jornal
Folha do Norte (1957, p.2).
O próprio presidente da instituição “Lar de Maria”, o senhor Oswaldo Pacheco Dillon,
frisa em uma notícia veiculada no jornal Folha do Norte, a intenção de sensibilizar e estimular
a ajuda às crianças necessitadas,
[...] pois tudo que fizemos de bem feito aos necessitados estará fazendo a
Jesus e que ao deixamos de socorrê-los é a filho de Deus que estamos
negando a caridade. Tal personalidade diz, ainda, que “o único remédio
infantil é Jesus”, pois Jesus disse “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”,
devemos aprender suas lições e seguir seu sublime exemplo (FOLHA DO
NORTE, 1957, p.8).
Rizzini (2004) ressalta que, ao se internar um menor carente, se impedia o seu abandono
e fornecia uma possibilidade para que a criança tivesse chances de uma vida melhor no futuro,
o que devido à pobreza das famílias, carências de políticas públicas à população, o
120
internamento, acabava sendo uma das poucas alternativas de assistência aos mais desprovidos
economicamente.
Felipe Soares de Melo, na Coluna Espírita do jornal Folha do Norte, destacou que “[...]
Assistir e amparar a infância e a velhice é demostrar amor ao próximo como a si mesmo,
preparando o futuro da nacionalidade” (FOLHA DO NORTE, 1947, p.3). O colunista
estabelece a definição de infância e velhice, evidenciando que no espiritismo existem várias
infâncias e velhices, e que ambas as fases são dignas de respeito:
A INFÂNCIA E A VELHICE
A infância é o princípio da estrada da vida. A velhice é o fim.
A infância é a quadra dôce (sic) e suave da nossa existência planetária. A
velhice é a fase amarga, triste, carregada de dores e desenganos.
A infância é o Sol que nasce com seus raios luminosos, repletos de energia a
inundar a Terra de calor.
A velhice é o sol no ocaso, luz apagada e fria.
A infância é a primavera da vida, cheia se risos e flores. A velhice é o
outono da vida.
A infância é a flor que desabrocha para exalar o perfume da existência.
A velhice é a flôr (sic) despetalada depois de fornecer ás abelhas o polem
(sic) para o fabricante do mel. Morre para dar a vida a outras flores.
Na infância vemos as peraltices, os carinhos e os mimes dos nossos
filhinhos. Na velhice deparamos com o semblante tristonho, de um passado
de dôres (sic) e de tremendas provações dos nossos pais e avós. Ambas as
fases da vida são dignas de nosso mais elevado respeito, do nosso
acatamento e da nossa proteção. Devemos amar tanto a criancinha com as
suas passadas vacilantes e os cabelinhos louros como os trigais maduros com
a cútis enrugada e a cabeça, simbolizando os flocos de neve do inverno da
vida. Temos o dever de tributar respeito a esses dois ramos da trajetória
terrena: o ascendente que representa todas as nossas aspirações --- nossas
esperanças e o descendente que encerra o reflexo de um passado repleto de
desenganos. Num enxergamos os nossos substitutos e noutro os nossos
antecessores, isto é, nossos rebentos e nossos progenitores.
Não esqueçamos que ontem éramos crianças e que amanhã seremos velhos.
O adepto do Espiritismo deve lembrar que para a alma há muitas existências,
portanto; várias infâncias e inúmeras velhices, tantas quanto o espírito
estiver sujeitos. FELIPE SOARES DE MELO. (FOLHA DO NORTE,
1947, p.3).
Dessa forma, é possível entender a infância, especificamente, como a primeira e mais
importante fase da vida do ser humano, o indicador de nossa existência, o período sutil que
progride e que representa uma valiosa transformação interior, em que a infância consiste, à
luz do Espiritismo, no período no qual o espírito é mais acessível de intervenção pelo
processo educativo, uma vez que, segundo Alves (2007, p. 59),
[...] Sendo um período de revelação gradual das qualidades já desenvolvido
anteriores, é também um período em que mais facilmente a criança poderá
121
desenvolver novas qualidades e poderes interiores, aperfeiçoando-se,
melhorando-se, conquistando seu próprio futuro, evoluindo enfim. Este é o
próprio objetivo da vida: aperfeiçoar-se, evoluir.
Para Incontri (1997), existem duas visões a respeito da infância espírita: a primeira que
considera a infância como uma classe humilhada, pois é vista como desprotegida e
dependente, originando infelicidade, devido ao autoritarismo do adulto exercido sobre a
criança, que ao invés de proteger a fragilidade infantil, as oprime e abusam; já a segunda
visão de infância remete-se a um “sonho de beleza e felicidade”, um período de
“despreocupação e fantasia” devido à inexistência de atividades sérias.
3.3 INSTRUÇÃO E EDUCAÇÃO NA INSTITUIÇÃO “LAR DE MARIA”
No “Lar de Maria”, as crianças, além de abrigo, cuidados e alimentação adequada,
recebiam instrução e educação, fundamentadas na doutrina espírita, baseadas nos aspectos
morais e espirituais. Neste estabelecimento, as internas receberiam “[...] instrução primorosa
até se tornarem adultas e com educação de verdadeira moral cristã” (FOLHA DO NORTE,
1959, p.11).
No que concerne o entendimento de educação e instrução: a primeira propõe a formação
do caráter, das faculdades do sujeito, como valores, regras de conduta, atitudes e
comportamentos; a segunda associa-se com o cognitivo, mediante a apropriação de
conhecimentos, ensinar, transmitir saberes por meio da prática.
De acordo com, Libâneo (1994), a educação visa o desenvolvimento da personalidade e
tem por finalidade a formação de qualidades humanas, como: físicas, morais, intelectuais e
estéticas, visando à orientação das atividades humanas com relação ao meio social. Já a
instrução trabalha com a construção e desenvolvimento das capacidades cognitivas por meio
da aquisição de certos conhecimentos.
No que diz respeito a instrução por obras espíritas, os seguidores dessa doutrina
defendem:
Sobreleva [...] na ordem dos benefícios a realizar em nome da fraternidade
espírita, a instituição dar aulas gratuitas de instrução elementar, porque, se é
útil desenvolver a inteligência nas aquisições do conhecimento superior,
necessidade mais imperiosa é dissipar as primeiras trevas da ignorância,
emancipando da sua acabrunhadora tutela não somente os adultos que a
negligência própria deixou ao abandono, mas, sobretudo a infância, que é o
penhor e a esperança do futuro. (AZEVEDO, 2010, p.300).
122
A educação para o espiritismo é entendida como aperfeiçoamento das faculdades do
espírito. Ele compreende a bondade, senso de justiça e o cultivo da verdade. Educar não é
somente instruir, segundo o Manual da Escola Espírita:
A aprendizagem das letras, da matemática, das artes e ofícios e das
ciências em geral não é mais importante do que a formação do caráter,
do que a aquisição da bondade e do senso de justiça, do cultivo da
verdade. A escola não apenas ocupar‐se da primeira dimensão
instrucional, entendendo deixar para os lares e religiões a segunda
dimensão, a do desenvolvimento do espírito humano. (MANUAL DA
ESCOLA ESPÍRITA, 2007, p.160).
Alves (1994, p. 4) assinala que “Instrução é apenas informação. Educação é muito mais.
É crescimento interior, é expansão na horizontal e na vertical”. Ainda, para essa autora, a
educação espírita preza pela formação da personalidade do sujeito, situando-o na sociedade
em que vive para que cresça espiritualmente.
O “Lar de Maria” oferecia as crianças o curso primário. As que concluíssem esse curso
e que manifestassem “[...] o desejo de matricular-se em curso secundário, superiores ou
técnico, o “Lar de Maria” faria o possível para que os seus desejos fossem concretizados,
tendo em vista as possibilidades orçamentárias [...]”, mas caso isso não fosse viável pela
renda da instituição, esta tentaria buscar “[...] pessoas caridosas e possuidoras de recursos
que desejem patrocinar os referidos cursos aos internados que tenham aptidão e vontade de
fazê-los[...]” (ESTATUTO DO LAR DE MARIA, 1974, p.9). Além disso, segundo o Estatuto
do estabelecimento, os internos que terminassem os estudos primários poderiam ser
aproveitados nas atividades da instituição que deveria proporcionar sua manutenção.
A educação fornecida no “Lar de Maria” era fundamentada na Doutrina Espírita. Para
Kardec (2008), a educação tem por objetivo não apenas instruir o sujeito, mas transformá-lo.
Ele propunha uma educação fundamentada nos valores morais,
[...] Não a educação intelectual, mas a educação moral, e não a educação
moral através dos livros, mas a que consiste na arte de formar os caracteres, a
que forma hábitos: pois a educação é o conjunto de hábitos adquiridos (...) A
desordem e a imprevidência são chagas que só uma educação bem
compreendida pode curar” (KARDEC, 2008, p.289).
Para o colunista espírita, Felipe Soares de Melo, que se posicionou sobre a educação de
crianças no jornal Folha do Norte, em uma coluna, intitulada Deixai que venham a mim, os
pequeninos. Quem receber um destes em meu nome, a mim mesmo o recebe – A Educação de
Crianças, evidencia que é preciso proporcionar as crianças uma educação integral, isto é,
moral, intelectual e físico. Essa educação contribuiria para uma formação de uma mentalidade
123
moral, que cumpria com os sagrados deveres de Deus. Essa concepção de educação, de
acordo com esses escritos, é relevante, pois,
Moral, para enriquecer o coração, afim de que a criança possa “amar a Deus
sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”, intelectual,
enriquecendo o cérebro, para que possa mais tarde desempenhar as altas
funções em qualquer departamento de atividade humana onde muito poderá
fazer em beneficio da coletividade, e, finalmente, física, para o
desenvolvimento harmônico de seu corpo, cárcere do espirito, visto que um
espirito são, precisa habitar em um corpo são. O “men sana in corpore sano”
dos latinos. (FOLHA DO NORTE, 1947, p.3).
A men sana in corpore sano frase em latim que significa “uma mente sã em corpo são”,
máxima discutida na cultura Greco Romana pelo poeta Décimo Junior Juvenal que por meio
de sua sátira objetivava informar aos cidadãos romanos que deveria existir a união entre o
corpo (material e físico) e a mente (espiritual, intelectual), pois uma mente sem um corpo que
a sustente nada é, e da mesma forma que um corpo sem mente não tem qualquer utilidade.
Segundo Freire (1997), o corpo e a mente deveriam ser entendidos como componentes que
integram um único sujeito e que “[...] Ambos devem ter assento na escola, não um (a mente)
para aprender e o outro (o corpo) para transportar, mas ambos para emancipar [...]” (FREIRE,
1997, p.13).
Isso significa dizer que é preciso, ao menos ter a noção de um corpo sadio para os
serviços do equilíbrio espiritual e mental. Para Milstein (2010), o corpo é passível de doenças
e que deve proporcionar o cuidado da saúde, para assim garantir o rendimento intelectual.
De acordo com o colunista Felipe Soares de Melo, no colégio, a criança obtém a
educação para o desenvolvimento do cérebro e do físico, mas a do coração deve ser adquirida
nos lares, que é a verdadeira escola de moral. Além disso, a criança deve ter bons educadores,
orientadores, agentes que mostrem verdadeiros e bons exemplos aos filhos ou tutelados, tendo
em vista que:
Educar o homem é mostrar-lhe o caminho e no caminho assisti-lo de gozar
na inocência a mais larga abundancia do seu tesouro, para que a terna
saudade desse gozo seja um chamado constante às energias da vida e não
consintam estas maior afastamento dos abençoados termos da inocência...
Por isso é que o lar será sempre a fortaleza do homem, se é o sagrado recanto
onde o amor cultiva a inocência. E a escola não cumpre o seu destino se do
lar não conserva o ambiente de ternura que salva a inocência de morrer como
mariposa nas chamas da consciência, quando a razão se alerta, se o coração
mingua. (FOLHA DO NORTE, 1957, p.2).
Dessa maneira, é possível entender que a instituição “Lar de Maria”, ao se pautar nos
pressupostos da doutrina espírita, passa pensar a educação enquanto formação para a
124
liberdade, com intuito de fazer com que o sujeito amplie suas ideias acerca do sentido e do
significado da vida, uma vez que o “Lar” é a escola que ensina a alma pecadora a te conduzir
na tenda do aperfeiçoamento moral (FOLHA DO NORTE, 1955).
Alfredo Fernandes, em coluna publicada no jornal Folha do Norte, no escrito
denominado de Lar de Maria – Símbolo de Trabalho Cristão, diz que as crianças ao saírem
do “Lar de Maria” estariam aptas para os “embates da presente existência”, pois o referido
estabelecimento “coloca em todas as mentes ensinamentos nobres e sadios”, a “[...] infância
aprende coisas boas, preparando-se para trilhar no caminho do bem e da virtude por toda a
eternidade, formando, assim, um movimento infantil cristão” (FOLHA DO NORTE, 1959,
p.3).
Ou seja, o objetivo de se formar os pequenos nesses princípios também perpassa por
formar futuros seguidores do Espiritismo. E essa era a missão do “Lar” desde a sua origem,
educar “[...] suas filhinhas de hoje, nos preceitos amorosos, pacíficos e moralista, contidos no
Evangelho de Cristo, a fim de que, no amanhã que se aproxima, tenhamos um mundo
tranquilo, risonho e venturoso [...]” (FOLHA DO NORTE, 1947, p.3).
Nas palavras do Diretor Osvaldo Pacheco Dillon do “Lar de Maria”, as crianças
receberiam carinho, pão, lar, instrução e, sobretudo, orientação religiosa cristã. A partir dessa
formação, orientada pelo estudo e meditação sobre a vida e os ensinos de Jesus, as crianças
cresceriam na educação “[...] com a formação moral capazes de honrar e respeitar a Deus, a
Pátria e Família” (FOLHA DO NORTE, 1956, p. 8).
Nessa perspectiva, a instituição “Lar de Maria” dava bastante ênfase em educar para que
o sujeito pudesse se constituir uma alma preocupada com o próximo, pois isso seria “[...] uma
inspiração superior, para a prática da maior de todas as virtudes a ‘CARIDADE’” (FOLHA
DO NORTE, 1947, p.3). A Senhora Lucia Ramos Pintos, uma das associadas da instituição,
destacou que o “Lar” seria “[...] uma casa aonde se pratica a Caridade sem distinção de raça,
cor ou religião” e que neste lar as pessoas responsáveis são chamadas de “criaturas espíritas”
que proporcionariam confortos e ensinamento espiritual [...]” (FOLHA DO NORTE, 1947,
p.2).
A caridade é um dos princípios mais importantes e estudados pelos adeptos do
Espiritismo. De acordo com Kloppenburg (2014), sem a prática da caridade cristã, não terá
salvação e quem não tiver a caridade, não será um verdadeiro discípulo de Jesus Cristo, pois é
ela que estabelece contato direto com o Criador. Já a caridade, na compreensão de Bueno
(1997), praticada aos necessitados, é uma forma de retribuição do que se recebeu no passado.
125
Convém ressaltar, que a caridade também está presente na Igreja Católica, sendo um
dever para o cristão, e para praticar basta ter a vontade de ajudar os desfavorecidos. Segundo
Silva (2006, p. 2),
[...] em várias passagens da Bíblia, e a Igreja Católica, em virtude de sua
hegemonia em nossa sociedade, difundiu-a por meio de um discurso
repetitivo e moral, objetivando o equilíbrio e a harmonia entre os diferentes
segmentos sociais, evitando assim, o perigo de conflitos e revoltas daqueles
que se encontram na miséria.
Além da educação moral e espiritual, as crianças internas recebiam “[...] instrução
profissional – doméstica instrução elementar e primária” (ESTATUTO DO LAR DE MARIA,
1947, p.9). Com base nesse ponto do referido documento e de informações encontradas nas
demais fontes desta pesquisa, é possível perceber que a educação oferecida na instituição
espírita “Lar de Maria” era voltada ao ensino dos trabalhos manuais e prendas domésticas
para meninas, com aulas de corte, costura, bordado e arte culinária – preparação de frios e
doces.
Essa formação, sob a responsabilidade do Departamento de Prendas, na instituição era
muito enaltecida pelos diretores e demais pessoas ligadas ao “Lar”. Esse departamento
representava uma grande “[...] oportunidade de adquirir conhecimentos tão úteis
indispensáveis, os quais lhes permitirão dedicar-se a um trabalho humilde, mais honesto e
digno, que lhes facultará a manutenção própria, bem assim dos seus familiares futuramente”
(FOLHA DO NORTE, 1958, p.8). Para ilustrar o ambiente, a relevância e a finalidade desses
cursos, o mesmo impresso em outra publicação evidencia:
Mais de uma centena meninas, num ambiente alegre saindo, onde impera
ordem e respeito, adquirem conhecimentos tão uteis e dispensáveis, que lhes
permitem preparem suas próprias roupas e de pessoas de suas famílias no
futuro, evidenciando-se assim o interesse de que temos no ¨Lar de Maria¨ em
ajudar as mocinhas pobres proporcionando-lhe conhecimento que lhes
possibilitam enfrentar a vida com mais felicidade, nesta época em que tudo
está difícil, e o custo das utilidades, cada vez mais elevado (FOLHA DO
NORTE, 1958, p.22).
Segundo Câmara (2013, p.280), as escolas femininas que visavam dar uma formação
doméstica às meninas:
[...] foram organizadas a partir de uma finalidade única; as atividades que
nelas predominavam estavam centradas na missão social da mulher, o que
reforçou a representação da imagem feminina como sendo
fundamentalmente doméstica. A esse pressuposto associava-se a intenção de
que a formação e a qualificação, que antes eram espontânea e naturalmente
aprendidas, fossem cada vez mais, marcada pela racionalidade dos
conhecimentos da ciência e da experiência construída. A incorporação do
126
trabalho definiu a articulação crescente entre o corpo saudável e produtivo e
a atuação consciente da mulher.
O momento desse tipo de formação pode ser observado na imagem 40, na ocasião da
realização de uma aula prática do curso de corte e costura, em que são retratadas as alunas da
instituição de diferentes idades, utilizando máquinas de costuras, sendo acompanhadas e
orientadas pelas professoras da instituição. Já a Imagem 41, mostra as educandas do curso de
corte, costura e bordado, posando em frente ao departamento de prendas do “Lar de Maria”.
Imagem 40 – Grupo de alunas e professoras do Departamento de Prendas.
Fonte: Folha do Norte (1958, p.8).
127
Imagem 41 – Alunas do Departamento de Prendas do “Lar de Maria”.
Fonte: Folha do Norte (1958, p.8).
O Departamento de prendas da instituição “Lar de Maria” era considerado um dos mais
importantes setores de aprendizagem e comumente alvo de campanhas na impressa que
pretendiam captar recursos para a aquisição de equipamentos para a ampliação e manutenção
das aulas e cursos oferecidos, o que pode ser verificado na fala do presidente, Oswaldo
Pacheco Dillon, agradecendo os doadores que possibilitaram a aquisição de novas máquinas:
Prossegue animadora a campanha empreendida no sentido de serem
conseguidos donativos das máquinas de costura necessária para o ensino de
corte e costura e bordados a cerca de duzentas jovens pobres. A firma Lojas
Credilar de Belém Ltda., estabelecida a Rua 13 de Maio, n. 154, já fez
também espontaneamente o donativo de uma ótima máquina de sua
distribuição, marca “Princesa”. O “Lar de Maria” sensibilizado pela
generosa dadiva roga a sua Patrona Espiritual, a excelsa Mãe de Jesus, que
recompense a referida firma, proporcionando-lhe uma prosperidade, e
particularmente, aos seus digníssimos componentes, concedendo-lhes saúde,
paz e felicidades. (FOLHA DO NORTE, 1958, p.10).
O referido Departamento, ainda, proporcionava o ensino de arte culinária para as
meninas. Lá as alunas adquiriam “[...] conhecimentos que lhe são muito úteis e de inestimável
valor a vida prática [...]. Nas aulas aprenderiam a preparar frios e doces de diferentes espécies
128
e assim poderiam [...] conseguir seu “ ganha pão” futuramente à custa do trabalho humilde,
digno e honesto ( FOLHA DO NORTE, 1958, p.5). Nas Imagens, 41 e 42, é possível verificar
alunas de diferentes idades na aula de confecção de doces e frios, sentadas à mesa
manuseando a fabricação de doces, bem como meninas posando com os utensílios de cozinha
utilizados nas aulas.
Imagem 42 – Alunas na confecção de Doces.
Fonte: Folha do Norte (1958, p.5).
Imagem 43 – Alunas na confecção de Frios.
Fonte: Folha do Norte (1958, p.5).
129
Em 25 de dezembro de 1959 ocorreu à colação de grau das duas primeiras turmas dos
cursos de arte culinária, corte e costura. Colaram grau 44 alunas com a presença de paraninfos
e também de alguns familiares, que prestigiaram a entrega dos diplomas. Nessa solenidade, a
diretora do departamento de prendas, a senhora Solange Cristo Muniz, fez um discurso que
foi reproduzido no jornal Folha do Norte:
“Ilustre e abnegados Presidente do “Lar de Maria”.
Eminentes Membros do Colendo Conselho Fraterno.
Senhores Representantes das Sociedades Espíritas e Espiritualistas de Belém
aqui presentes. Dedicada Diretoria Superintendente.
Minha Senhora, meus senhores Distintas diplomadas:
A data de hoje é muito grata aos Diretores e Associados do “Lar de Maria”
pois se atinge um dos objetivos desta Associação com a conclusão dos
Cursos de Corte e Costura e Arte Culinária ao diplomarem a primeira turma
ambas que aqui colheram ensinamentos básicos desta parte tão importante
para a vida da família brasileira.
Prezadas diplomadas
Bem viste e vivestes as dificuldades que enfrentamos conjuntamente para
atingir o ideal com que aqui viestes: aprender alguma coisa que posse ser útil
ao próximo.
Não fora estou certa a abnegação e o esforço de vossas mestras e a firmeza
com que encarastes vossos deveres, não estamos aqui reunidos, nesta festa
singela, porém tão significativa para todos.
Acredito também que a par dos conhecimentos profissional aqui recebidos,
recebestes, ainda uma lição, mui valiosa de desprendimento e amor ao
próximo.
Estais aptas ao desempenho das profissões em que hoje colais grau e se eu
ao agradecer a distinção que me fizestes, de paraninfar as turmas de Arte
Culinária e Corte e Costura que integrais, ainda uma coisa vos puder pedir,
desejo que ao sairdes do “Lar de Maria”, não vos esqueçais dos que aqui
ficam e que procureis ministrar lá fora os ensinamentos aprendidos, e mui
especialmente difundir os princípios de Caridade e Amor sentimentos esses
que sustêm esta Instituição.
E agora, com o nosso adeus, pedimos ao Onipotente, que vos ilumine e guie
na estrada da vida. (FOLHA DO NORTE, 1960, p. 10).
O discurso enunciado nessa solenidade de formatura reflete um pouco do ideal de
formação para as meninas, evidenciando que o “Lar de Maria” objetivava propiciar
conhecimentos que as preparassem para serem mulheres de bem, esposas e boas mães. Além
disso, tudo o que foi aprendido deveria ser útil ao próximo, como uma atitude de amor e
caridade. Nesse sentido, Oliveira (2008, p. 4) afirma que, no século XIX e início do século
XX, “[...] na escola se reforçava o papel da vida doméstica e limitava a educação da mulher
ao papel de boa mãe e boa esposa, educadora de seus próprios filhos”.
Ainda, nessa festa de solenidade, os trabalhos das alunas diplomadas foram colocados
em exposição na grande área do refeitório e antes do encerramento dessa festa, os trabalhos
130
das alunas foram avaliados com base nos critérios de originalidade e arte. E assim ficou a
premiação: “[...] Arte Culinária: 1° prêmio – Srª. D. Juracy Costa, 2º Prêmio – Srta. Maria
Estela Sousa e 3° prêmio – Srta. Maria de Lourdes Eiró; Corte e Costura: 1° prêmio – Srª
Raimunda Caldeirão Brito” (FOLHA DO NORTE, 1960, p.10). Ao avaliar e premiar as
educandas concluintes, a instituição intencionava, além de exaltar as mais competentes nessas
habilidades, mostrar socialmente a qualidade da formação oferecida, bem como estimular as
meninas que ainda estavam em processo de término do curso.
Quanto às ações educativas para a infância pobre na instituição, estas são representadas
nos princípios de uma educação na perspectiva espírita, que evidencia uma educação pautada
na moral cristã, bem como na instrução elementar e primária e na educação profissional
doméstica para as meninas. Vale salientar que a instituição “Lar de Maria” teve a sua primeira
mudança em sua filosofia assistencial na década de 70, quando desativou o sistema de
internato, especificamente no ano de 1976. E no ano de 1977, o “Lar de Maria” foi
transformado em creche.
3.4 FESTAS NA INSTITUIÇÃO ESPÍRITA “LAR DE MARIA”
As festas têm uma finalidade educativa e influenciam na vida social e política da
instituição escolar. As festas comemorativas realizadas no “Lar de Maria” também podem ser
consideradas momentos educativos, tendo em vista que se constituíam em espaços para a
propagação dos preceitos espíritas tanto para o público do estabelecimento quanto para
pessoas externas. Estas comumente eram convidadas para prestigiarem o evento, bem como
para tomarem conhecimento do que se desenvolvia na instituição no intuito de socializarem o
emprego de recursos ofertados por elas e também sensibilizar e motivar possíveis benfeitores
para o “Lar”. Dentre as principais festas, destacam-se:
Natal
Aniversário da Instituição
Festa da Criança
Festa 7 de setembro
Semana Espírita
Souza (2000), ao analisar as festas das escolas primárias nos séculos XIX e XX,
destaca que existem dois tipos: as festas do sucesso escolar e as festas do imaginário sócio-
político. No primeiro encontram-se “[...] os rituais de avaliação – provas e exames, as festas
de encerramento do ano letivo e o cerimonial de formatura” (SOUZA, 2000, p. 174). No
segundo encontram-se as atividades voltadas à construção da identidade, da nação, de valores
131
morais e cívicos, essas que fazem parte do imaginário da sociedade, tais como: as datas
históricas, Dia da Bandeira e Proclamação de Republica, Independência, entre outros.
A autora ainda evidencia que “[...] estas festas tornaram-se momentos especiais na vida
das escolas e das cidades, momentos de integração e de consagração de valores – o culto à
pátria, à escola, à ordem social vigente, à moral e aos bons costumes” (SOUZA, 1998, p.
259).
Para Goffman (1961), esses eventos, realizados em instituições totais, são denominados
de “Cerimônias institucionais”. Essas cerimônias possibilitam aos internatos reaprende a viver
em sociedade. Para esse autor, as “Cerimônias institucionais” são anunciadas em um órgão de
divulgação, tais como: jornais ou revista semanais. Estas são mencionadas em dois tipos de
material: o primeiro são denominadas de “as notícias locais”, que evidenciam descrições de
cerimônias institucionais recentes, acontecimentos pessoais, como: aniversários, mortes de
pessoas da instituição, promoções, viagens e etc.; o segundo tipo de material de divulgação é
o editorial, que abrange “[...] notícias do mundo externo que têm relação com a posição social
e legal dos internos e ex-internos, acompanhadas por comentários adequados; poesia, contos
originais; editoriais [...] (GOFFMAN,1961, p. 86).
As festas da instituição “Lar de Maria”, na maioria das vezes, eram divulgadas nos
jornais da cidade, caracterizando-se como do tipo “notícias locais”. Na impressa local eram
divulgadas as festas de aniversários, quermesses, programação dos eventos, mudança de cargo
de diretores, visitas de pessoas ilustres, entre outras notícias. A partir disso, evidencio
algumas festividades realizadas no “Lar”.
Por ocasião da festa de Natal, o presidente do “Lar de Maria”, senhor Oswaldo Pacheco
Dillon, publicou na Coluna Espírita um apelo para que os leitores se comovessem a ajudar
nesta tão importante data cristã. Este, em tom emotivo e recorrendo a passagens do
Evangelho, sugere que ao ajudar as crianças da instituição se estará também prestando
serviços a Deus e, assim, receberá recompensas pela caridade prestada a quem precisa, como
é possível verificar nas próprias palavras do presidente:
NATAL DO LAR DE MARIA
Leitor amigo:
O “Lar de Maria” não pode ir teu lar abençoado a fim de pedir a tua
lembrança de Natal as criancinhas que lá tem agasalho amoroso e cristão.
Por isso bate, por esta forma às portas do teu grande coração, lembrando a
significativa frase de Jesús (sic): “aquilo que fizeres a uma destas
criancinhas a mim o fazeis”.
Auxiliai, pois, o “Lar de Maria” na sua obra em pról (sic) das criancinhas
desamparadas: e, alegrai o NATAL das suas filhinhas com a tua
generosidade.
Oswaldo Pacheco Dillon. (FOLHA DO NORTE, 1957, p.8).
132
A festa de natal do ano de 1959 foi realizada em dois dias. No dia 24 aconteceu a
distribuição de brinquedos às crianças internadas. Já no dia 25 pela manhã foi realizada uma
sessão solene de formatura das turmas do departamento de prendas (FOLHA DO
NORTE,1960).
Ao falar da festa de Natal, Goffman (1961) afirma que nas instituições totais, a festa
anual frequentemente está ligada à comemoração de Natal e que essa é realizada mais de
uma vez em instituições totais e que os administradores e internos nesse momento passam a
se “misturarem” por meio de “formas padronizadas de sociabilidade”, tais como: comer
juntos, participar de jogos de salão e bailes. Isso sem falar que o Natal modifica o ambiente de
uma instituição, quando os internos decoram o estabelecimento com enfeites.
As Imagens 44 e 45 retratam o que Goffman (1961) chama de “formas padronizadas de
sociabilidade”. É notável que na festa de aniversário da instituição “Lar de Maria” de 1958, a
presença de um dirigente de vestimenta branca brincando de roda com as crianças.
Imagem 44 – Aniversário da Instituição “Lar de Maria”, crianças brincando junto com diretores
(1958).
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
133
Imagem 45 – Aniversário da Instituição “Lar de Maria” crianças brincando (1958).
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
Outras “formas padronizadas de sociabilidade”, possível de perceber nas fotografias, foi
o ato dos dirigentes e internos participarem de confraternização juntos. A Imagem 46 retrata
os dirigentes e internos sentados em volta de uma mesa manuseando uma cuia para ingerir
certo alimento.
Imagem 46 – Aniversário da Instituição “Lar de Maria” crianças à mesa (1958).
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
134
Goffman (1961) diz que as cerimônias institucionais têm como prática abrir os portões
da instituição em tempo de festa, convidando para visitar o “lar”, os parentes dos internados e
o público em geral, fazendo transparecer elevados padrões humanitários, as relações cordiais
entre as pessoas da administração e os internados.
No trecho da Coluna Natal do Lar de Maria, a seguir, tomando como mote as festas
natalinas, encontrei o convite feito pelo diretor ao público em geral para que seja feita uma
visita à instituição:
No dia de Natal o “Lar de Maria” estará aberto para visitas.
Aumentai a alegria do vosso Natal, fazendo uma visita ao “Lar de Maria”,
partilhando com as suas filhinhas um pouco da vossa satisfação e felicidade.
Maria, Nossa Mãe Santíssima, Misericórdia e Bôa (sic) recompensará a
vossa caridade.
A sede do “Lar de Maria” fica à Praça Floriano Peixoto, s/n. Telefone: 9226.
Oswaldo Pacheco Dillon. (FOLHA DO NORTE, 1957, p.8).
Nesse sentido, ao permitir o contato de pessoas dentro da instituição, Goffman (1961)
frisa como sendo essa ação de “Exibição Institucional”, em que o local é preparado para
receber visitas e mostrar um ambiente acolhedor, apresentando uma imagem “adequada” de
uma instituição total, ou seja, permitindo que os visitantes vejam que tudo está bem, que tudo
está correto no interior do “lar”.
O autor ainda destaca que nas “Celebrações Institucionais” há um preparo do ambiente
que vai da organização da festa até a distribuição de presentes, e de pequenas indulgências aos
internados. E que “[...] De modo geral, durante um dia há urna educação nos rigores da vida
institucional para os internados” (GOFFMAN, 1961.p 88). Essas características podem ser
observadas na Imagem 47 a seguir. Na festa de aniversário da instituição “Lar de Maria”, é
perceptível a distribuição de presentes para as crianças. Cada uma delas esperava a sua vez
para se presenteada pelos dirigentes desse internato.
135
Imagem 47 – Aniversário da Instituição “Lar de Maria” interna recebendo presente (1958).
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
A colaboradora do “Lar”, Nancy Puhlmann, na Coluna Espírita, estabeleceu reflexões
sobre o significado do Natal para as crianças abrigadas, pontuando que era recorrente que
famílias recebessem internos em suas casas para celebrar o nascimento de Jesus, mas que tal
realidade vinha se modificando, o que era algo positivo, tendo em vista que a criança
internada precisava entender que ela tem um lugar e que este pode ser repleto de carinho e
amor e não ser levada para a residência de pessoas como se no próprio internato, ao vivenciar
o Natal, este não fosse uma festa de família, pois:
A criança abrigada precisa sentir que tem um lar e uma família reconhecida
por todos e que seus direitos e deveres diante da vida são os mesmo daqueles
comuns às demais crianças. E somos nós, os adultos – os que colaboramos
ou visitamos os lares coletivos – que devemos, através duma conduta
adequada e compreensiva – proporcionar à criança abrigada a
autoconsciência de que ocupa um lugar no mundo, diante do qual não há
portas fechadas ou muralhas instransponíveis.
Isso é o que nos parece realmente valioso e oportuno na obra de beneficiar a
criança. (FOLHA DO NORTE, 1957, p.2).
A data de aniversário da instituição Espírita “Lar de Maria”, comemorada no dia 15 de
agosto, também era considerada um relevante evento festivo. Geralmente, essa data
proporcionava um dia agradável aos internados e funcionários da instituição.
No 11° aniversário da instituição, a diretoria proporcionou as crianças e funcionário um
passeio para uma “[...] granja em João Coelho E. de Ferro de Bragança, onde se divertirão
durante o dia todo.” (FOLHA DO NORTE, 1958.p.3). Mas esse festejo ainda continuou na
136
própria instituição, onde foi realizada uma sessão comemorativa em que a diretoria convidou
autoridades, tais como: do comércio, da indústria e a diretoria sociedade espírita e
espiritualista e os “ [...] seus prezados associados e cooperadores, os simpatizantes da obra, os
espíritas e quantos desejem abrilhantar com as suas presenças e referidas solenidades,
antecipando agradecimentos” (FOLHA DO NORTE, 1958, p.3).
A comemoração do aniversário do “Lar de Maria”, de 1960, foi marcada pela
apresentação da Flor de Lys, retratada na Imagem 48, composta pelas meninas internas, o que
permite que se infira que estas tinham o ensinamento da música, especificamente, a
aprendizagem de instrumento musical.
Imagem 48 – Banda Flor de Lys no aniversário da Instituição “ Lar de Maria”.
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
A “Semana da Criança”, no mês de outubro, consistia em um evento, promovido pelo
Departamento Nacional da Criança, sendo realizada, anualmente, em todo o Brasil. A
Diretoria do “Lar de Maria”, salientava a importância dessa iniciativa, que visava
proporcionar as crianças um dia alegre e feliz, assim como contribuir para a formação dos
internos, ratificando, o caráter educativo e instrutivo desse tipo de acontecimento para o
estabelecimento. No caso especifico dessa comemoração objetivava:
137
[...] beneficiar as crianças, através de palestras instrutivas e educativas sobre
a sua formação intelectual e físico, moral e cívica, para que cresçam
fortalecendo os seus corpos e suas almas com o aprendizado da moral cristã,
e ainda, a sua fé em Deus, para que possam ser boas e úteis à Pátria e à
Humanidade. (FOLHA DO NORTE, 1958, p. 12).
A partir desse texto, é possível perceber que as crianças eram instruídas e educadas com
base em três aspectos da educação espirita: a formação intelectual, físico e moral, destacando
o viés de formação útil a Deus, a Pátria e a Humanidade.
A Festa da Criança, no “Lar de Maria”, foi realizada no dia 11 de outubro de1958, às 9
horas. O cerimonial, as personalidades e as doações podem ser visualizados no Quadro 9 a
seguir:
Quadro 9 – Programação da Festa da Criança (1958).
PROGRAMAÇÃO DA FESTA DA CRIANÇA – 1958
1- Visita da Comissão dos Festejos e das Autoridades as várias dependências da
sociedade.
2- Canção espiritualista.
3- Prece.
4- Saudação às Autoridades, Comissão de Festejos e às pessoas presentes, pelo Diretor-
Secretário – Dr. Moysés Greidinger.
5- Palavra concedida a quem desejar fazer uso.
6- Entrega ao Presidente da Sociedade, pelo representante do Conselho Fraterno, do
produto de uma subscrição promovida entre os seus membros e os da Diretoria e
ainda de outros cooperadores, destinado à compra de um parque de diversões para as
crianças, que deverá ser inaugurada a 1° de Janeiro.
7- Distribuição de brinquedos às suas crianças internadas, ofertados pela União Espírita
Paraense, Confederação Espírita “Caminheiros do Bem”, Mocidade Espírita
“Assembleia de Jesus” e outros.
8- Distribuições de livros as crianças, ofertados pela Editora Nacional e Livraria Loiola.
9- Entrega à Diretora-Superintendente da Sociedade, das ofertas feitas pelos seguintes:
Produtos NÉSTLE, Fábrica PALMEIRA, Fábrica S. VINCENTE, Produto Maisena
DURYEA, Fábrica MAURITY, Lojas “SALEVY”, Firma A. MOURÃO & Cia.,
COCA-COLA, PEPSI-COLA, Guaraná VIGOR etc.
10- Fim do festejo será tocado números de músicas alegres.
11- Será servida uma mesa de doces e gelados às Autoridades, Comissão de Festejos,
Visitantes e crianças internadas. Fonte: Elaborado pela autora, com base no jornal Folha do Norte (1958, p.12).
Sobre a Festa das Crianças, do ano de 1960, encontrei registros que mostram pedidos
para a sociedade paraense, no sentido de possibilitar a realização desse evento. Verifiquei que,
para isso, foi solicitada uma diversidade de materiais para o cuidado e a educação dos
internos:
138
[...] auxiliaremos as criancinhas do “Lar de Maria” contribuindo para o êxito
do seu festival de nossa cooperação em serviço, ou, com nossa ajuda
monetária, ou, ainda, em gênero alimentícios, tecidos para vestimentas e
roupas de cama e mesa, calçados, livros e material escolar, medicamentos e
material hospitalar e de toucador, brinquedos, enfim de tudo quanto lhe
possa ser útil. (FOLHA DO NORTE, 1960, p.15).
A partir desse fragmento são perceptíveis alguns elementos da cultura material escolar,
como: tecidos para vestimentas, roupas de cama e mesa, calçados, livros e material escolar,
toucador (uma espécie de cômoda com espelho) e brinquedos. Os objetos em sua
materialidade assumem lugar significativo na prática escolar e administrativa de uma escola.
Neste sentido, Castro (2011, l. 13) afirma que,
Cultura Material Escolar pode abranger uma série de elementos que
constituem o universo escolar, como os objetos de leitura e escrita (lápis,
caneta, livros, etc.), materiais de limpeza (panos, vassouras, tapetes, etc.),
mobiliários (cadeiras, carteiras, bancos, mesas, etc.), indumentárias
(fardamentos, chapéus, calçados, etc.) dentre outros, os quais podem ser
estudados sob perspectivas e ângulos teóricos e metodológicos diversos,
inclusive sob um enfoque mais regionalizado [...].
Para Souza (2007, p. 174), é estabelecida uma relação humana com o mundo material
escolar, logo, não é possível refletir sobre uma escola, “[...] seus saberes e práticas, deslocada
de sua dimensão material”.
A Festa da Criança era realizada, na maioria das vezes, no próprio prédio da instituição.
E as colaborações que o “Lar de Maria” ganhava eram sempre colocadas em exposição,
fazendo parte da ornamentação do grande salão nobre onde acontecia a festa, como é possível
notar nas Imagens 49, 50 e 51, a fim de apresentar os materiais angariados e ao mesmo tempo
servir de incentivo para futuras doações. É perceptível, pelas fotografias, que as
personalidades do corpo administrativo da instituição, os colaboradores e as internas posam
para serem fotografadas com os produtos arrecadados.
139
Imagem 49 – Festa da Criança no ano de 1959.
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
Imagem 50 – Festa da Criança no ano de 1959.
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
140
Imagem 51 – Festa da Criança no ano de 1959.
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
A Festa da Criança leva para o palco do teatro, apresentações artísticas feitas pelas
internas ou dirigentes da instituição, a seguir uma pequena programação realizada neste dia de
celebração a elas,
O esquete “LAR DE MARIA”, pelas meninas Yeda Uchôa e Eneida Nery
Números de acordeons pelas senhoritas Damária Couto e Irene Batista
Recitativo pelas meninas Alice S. de Vilhena e Cosma M. Lima
Numero (sic) de acordeons e canto pelas senhoritas Damária Couto e Eneida
Nery
Recitativos pelas meninas Maria B. Lima e Maria H. R. da Silva
Numero(sic) de acordean (sic) senhorita Irene N. Batista,
O esquete “Para que o homem nasceu”, pela senhorita Damária Couto,
Erelila Braga e Ercilia Ramos
Numero(sic) de declarações pela senhorita Nazaré Vasconcelos,
Numero (sic) de acordeons pelas senhoritas Irene N. Batista e Damária
Couto. (FOLHA DO NORTE, 1959, p. 3).
A Imagem 52 retrata a festa da criança. Nela há uma interna, falando aos convidados.
Há também uma criança do sexo masculino, provavelmente na faixa etária de 4 ou 5 anos,
observando a apresentação da interna ao falar.
141
Imagem 52 – Festa da Criança no ano de 1959, interna recitando ou apresentando.
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”
A festa da “Semana da Criança” era tão importante evento que a diretoria da instituição
espírita “Lar de Maria” recebeu um oficio, da Delegacia Federal da Criança da 1º região
agradecendo à contribuição da realização dessa festa destinada as crianças, o oficio nos relata
que:
N° 786 – 30-10-59.
Pelo presente queremos testemunhar a V.S. a gratidão desta Delegacia pela
inestimável colaboração do Lar de Maria durante o festejo da Semana da
Criança de 1959. Satisfeitos nos confessamos em ressaltar o êxito alcançado
pelo bem elaborado programa dessa instituição que reflete o interesse dos
seus dirigentes pelo bem estar das mães e crianças paraenses, através de um
trabalho meritório digno dos aplausos de todos. Ao ensejo reiteramos os
nossos cumprimentos extensivos a todos os dirigentes e componentes dessa
Instituição renovamos os nosso protestos elevada estima e consideração (a)
Dr. Salomão Moysés Levy – Delegacia Federal da Criança da 1° Região.
(FOLHA DO NORTE, 1959, p.15).
As datas cívicas também eram bastante comemoradas, as crianças saiam às ruas
(Imagens 53 e 54) para desfilar celebrando o país. Esses momentos serviam para incutir
valores nacionalistas de respeito, valorização e amor à Pátria, com a finalidade de contribuir
para a formação de sujeitos ordeiros e civilizados.
As instituições educativas assumem a função da formação do caráter e de
desenvolvimento da virtude do sentimento patriótico. O caráter cívico era manifestado em
importantes datas do calendário nacional. Nesse sentido, o movimento cívico “[...] se dirigia a
um público interno à escola, constituído basicamente por alunos e famílias, estendendo-se ainda
142
para fora dos muros escolares, de modo a atingir a sociedade como um todo” (SCHUELER;
MAGALDI, 2008, p.45).
Imagem 53 – Crianças do Lar de Maria organizadas para o desfile militar 7 de Setembro.
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
Imagem 54 – Crianças do Lar de Maria organizadas para o desfile militar 7 de Setembro-Bairro
São Brás.
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
143
O século XX foi marcado pela difusão de princípios de amor à Pátria e de progresso do
país. Nesse contexto, os desfiles patrióticos como uma construção social festiva são
carregados de civismo. O desfile escolar representava a união coletiva em torno de um
símbolo, de uma data que reforçava a memória social de tempo ou de um fato histórico.
Nas palavras de Souza (1998, p. 259), “[...] estas festas tornaram-se momentos especiais
na vida das escolas e das cidades, momentos de integração e de consagração de valores – o
culto à pátria, à escola, à ordem social vigente, à moral e aos bons costumes”. Ainda para
mesma autora, o espírito cívico-patriótico deveria estar presente em todas as disciplinas e em
todas as atividades de uma escola.
Outro evento representativo, no “Lar de Maria”, era a “Semana Espírita”, na qual se
propagavam princípios da doutrina espírita para os funcionários e as crianças internas. A
imagem 53 mostra o fundador da instituição, o senhor Oliveiros de Assunção Castro, na
abertura de um evento deste tipo, que aconteceu no mês de novembro de 1960. Na imagem,
Oliveiros de Castro aparece tocando acordeom, enquanto era entoada a Canção da Alegria
Cristã, pelas internas e assistentes do estabelecimento.
Imagem 55 – Internas, Assistentes e Oliveiros de Castro cantando Canção da Alegria Cristã.
Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.
Diante de todas as notícias jornalísticas e das fotografias, fiz a exposição das ações
educativas que eram transmitidas por intermédio das festas realizadas na Instituição Cristã
Espírita “Lar de Maria” para a infância pobre. Nessas imagens, são representados eventos que
144
contribuíram para formação das crianças, visto que geralmente as festas representam saberes
educativos que ali perpassaram e permitiram a propagação dos preceitos espíritas tanto para o
público interno quanto o externo.
3.5 A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA LAR DE MARIA: atendimento aos mais
necessitados
O “Lar de Maria” não era só um abrigo de crianças desvalidas – órfãs – ou órfãs de pais
vivos, uma vez que estendia as suas ações para outros grupos sociais, que não
necessariamente tinham ligação direta com a instituição, mas que poderiam ter acesso à
reuniões espíritas, alimentação, cursos e serviço médico, como é possível verificar no Quadro
10, onde é apresentado o tipo de atividade, dia da semana, horário e objetivo.
Quadro 10 – Atividades à comunidade.
ATIVIDADES OFERECIDAS À COMUNIDADE
Reuniões públicas
(semanais)
Quartas-feiras – 20
horas.
Estudo da Moral Cristã, tendo
em vista o Evangelho do
Divino Mestre.
Reuniões doutrinárias
(semanais)
Quartas-feiras – 20
horas.
Destinada a formar o ambiente
espiritual necessário da referida
casa de amor e caridade.
Assistência espiritual Quartas-feiras - 20 horas Estudos das sublimes lições do
Evangelho de Jesus, sessão de
passes e sessões mediúnicas.
Serve toda semana uma
sopa
Sábado Fornecida a Sopa dos Pobres.
Ambulatório Sábado 14 às 16 horas.
Atendimento aos necessitados.
Aulas de prendas
gratuitas também as
jovens paraenses
Quintas-feiras à tarde Aulas de corte, costura,
bordados e arte culinária frios e
doces.
Assistência a lactentes ------------- Fornecimento de leite em pó,
do FISI.
Departamento para
tratamento de obsessões
--------------
Fonte: Elaborado pela autora, com base na Folha do Norte de 1957 e 1958.
As informações sobre as atividades desenvolvidas no “Lar de Maria”, no sentido de
tornarem-se conhecidas na comunidade para além da instituição, eram, geralmente,
divulgadas pela impressa, a exemplo da notícia a seguir, que veicula detalhes referentes às
reuniões destinadas ao estudo dos princípios da doutrina espírita:
145
Reuniões – O Lar de Maria vai iniciar, a partir desta semana, reuniões
públicas semanais todas as quartas-feiras, às 20 horas, para o estudo da
Moral Cristã, tendo em vista o Evangelho do Divino Mestre, bem assim para
a realização de palestra e conferências, tendo em vista atrair à Sociedade um
maior número de cooperadores, a fim de poder ampliar o seu trabalho de
assistência aos necessitados, não somente à criancinhas como à velhice
desamparada. (FOLHA DO NORTE, 1957, p.9).
A educação espírita deveria proporcionar estudos em locais propícios como nas
reuniões espíritas. Para Damazio (1994), nessas reuniões ocorriam leituras das obras de
Kardec, estudo sistemático da física e da religião.
A Imagem 55 retrata uma dessas reuniões para o estudo da moral cristã, com base no
Evangelho segundo o Espiritismo. ´
E perceptível, nesta fotografia, que o público participante era variado, tendo homens,
mulheres, jovens e idosos que estavam recebendo informações pela ministrante do encontro,
posicionada à frente dos presentes e ao lado do quadro. Destaco, na imagem, o enunciado
transcrito na parede: “Fora da Caridade não há salvação”, premissa tão cara ao Espiritismo.
Imagem 56 – Reuniões públicas.
Fonte: Arquivo da Instituição “Lar de Maria”.
As reuniões eram, geralmente, realizadas no anfiteatro da instituição, todas as quartas-
feiras, às 20 horas. Nesse mesmo dia, ainda, tinha os trabalhos para a aplicação de “passes”,
sessões mediúnicas, nas quais se desenvolviam “[...] explanações sobre o Evangelho de Jesus,
tendo em vista que o principal objetivo da doutrina dos Espíritos é a reforma espiritual do
homem” (FOLHA DO NORTE, 1958, p.10).
146
Fazia parte, também, das atividades oferecidas à comunidade ao entorno da instituição,
a assistência aos lactantes, crianças ainda em fase de amamentação, em que se fornecia leite
em pó de marca FISI (FOLHA DO NORTE, 1958, p.10). Há relatos, ainda, que indicam que
existia um departamento que se ocupava de cuidar de um albergue noturno “[...] com
capacidade para vinte e cinco homens e ainda, com departamento para tratamento de
obsessões, com salões e quartos adequados” (FOLHA DO NORTE, 1958, p.8).
As iniciativas realizadas pelo “Lar de Maria” compreendiam atividades de formação e
assistência para muitos segmentos da sociedade paraense, tendo como principais beneficiários
as pessoas das camadas mais pobres, que recebiam atendimento de forma gratuita, por isso, as
ações da instituição eram muito ressaltadas pelos seus representantes. Nas palavras de seu
presidente, o estabelecimento, ao desenvolver sua assistência social, estava cooperando
modestamente com o Governo em ‘prol’ dos mais necessitados. Por isso, seu presidente
clamava, comumente, na Coluna Espírita: “Leitor amigo: ajudai o “Lar de Maria” a
desenvolver a sua assistência social” (FOLHA DO NORTE, 1957, p.7).
147
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No ano de 1848, o Espiritismo surgiu a partir do episódio de comunicação com
espíritos, nos Estados Unidos, realizada pelas Irmãs Fox: Margaret e Kate Fox. Elas
elaboraram uma nova técnica de comunicações com os espíritos, chamada de “mesas
volantes”. Por meio de impressos jornalísticos foram divulgadas notícias dessa comunicação
com espíritos, realizada por meio das “mesas volantes”, as notícias alcançaram toda a Europa
e o mundo no século XIX.
Em 1854, os relatos sobre as “mesas volantes” passou a chamar a atenção de estudiosos,
na França. Dentre esses estudiosos destaca-se Heppolyte Léon Denizard Rivail, conhecido
como Allan Kardec. Ele estudou o espiritismo e isto o que conduziu à publicação de vários
livros que apresentavam a síntese da doutrina espírita. Suas obras ficaram conhecidas pelo
mundo, constituindo-se a base da Doutrina Espírita, sendo que as suas publicações foram
fundamentais para a consolidação do espiritismo.
No Brasil, as notícias sobre a comunicação com espíritos começaram a ser divulgadas
entre os anos de 1853 e 1854, nos jornais do país, como: O Comércio, do Rio de Janeiro;
Diário de Pernambuco; e O Cearense. A circulação desses impressos despertou o interesse
das pessoas sobre o espiritismo.
Grandes defensores espíritas foram surgindo, como o Jornalista Luiz Olímpio Teles de
Menezes, considerado o iniciador espírita brasileiro; ele criou o primeiro jornal espírita
brasileiro, intitulado Ècho d’ Além-Tumulo, que tinha como objetivo expor ideias em defesa
da Doutrina Espírita. A criação de vários impressos e divulgação de noticias da doutrina
espírita contribuíram para a expansão do Espiritismo e implantação de diversos grupos e sedes
espíritas por todo o país.
O Espiritismo em Belém do Pará chegou por volta do ano de 1879. Em 12 de junho de
1879 foi criado o primeiro grupo espírita Luz e Caridade, tendo na direção Abel Augusto
Cézar de Araújo, José Sharr da Mota e Silva, José Joaquim da Silva e Manoel Gonçalves de
Silva, João M. Castelo Branco, Feliciano Ferreira Bentes, Antônio da Mata e Pedro
Damasceno d’ Alcântara Bentes.
Os pioneiros do grupo espírita Luz e Caridade tiveram um importante papel para a
divulgação do Espiritismo no Pará. Eles criaram, em 16 de março de 1890, o primeiro jornal
espírita da região Norte O Regenerador, sendo que essa realização e outras ações motivaram o
surgimento de inúmeros núcleos espíritas no Pará.
Diversas obras, realizadas por esses adeptos do Espiritismo, contribuíram para fincar os
princípios dessa doutrina em Belém. Dentre as ações e obras relevantes estão: órgão de
148
divulgação, como os jornais: A Revelação (1906), Alma e Coração (1910), Pará Espírita
(1959); as revistas Verdade e Fé (1906), Espírita (1912) e o periódico A Verdade (1917).
Além disso, foram criados Escolas, Instituto de assistência à Infância, tais como: Escolas
Allan Kardec e Amélia de Menezes (1907) que eram Escolas Primárias para crianças carentes.
A Escola Mont’Alverne (1912), destinada a crianças necessitadas; o Instituto de Assistência à
Infância, criada por Elmira Ribeiro Lima; Escola de Médiuns (1915) e a Escola Infantil
(1926) que era gratuita para criança e ficava na sede do grupo espírita Caminheiros do Bem.
Entre as outras ações estão: a biblioteca espírita, o dispensário homeopático e a farmácia.
A ênfase da “Caridade” como um dos princípios, estudado e praticado pelos espíritas,
motiva várias construções de instituições para cuidar de pessoas necessitadas, como:
orfanatos, abrigos e escolas. Em Belém do Pará foi fundada, no dia 15 de agosto de 1947, a
Instituição Cristã Espírita “Lar de Maria” por direção dos espíritas, pertencentes ao grupo
Amor e Verdade, tendo como líder Oliveiros de Assunção Castro. Essa instituição surgiu com
objetivo de assistir e amparar idosos e crianças órfãs e abandonadas, mas abrigou somente as
crianças em sistema de internato.
Para a construção da instituição foram realizadas inúmeras campanhas, por vários
grupos espíritas de Belém e pessoas de diferentes seguimentos sociais, para obter recursos
financeiros para a edificação do prédio, entre essas campanhas estão: “Campanha do Quilo”,
festivais teatrais, quermesse, oficinas de trabalhos manuais, ser sócios-contribuintes e outros.
As obras para a construção do prédio da instituição “Lar de Maria” iniciaram 15 de
novembro de 1947 e levou dez anos para ser edificado. Foi inaugurado no dia 24 de fevereiro
de 1957, sendo que, enfim, pode iniciar os seus trabalhos no cuidado e educação àqueles que
mais precisavam.
O órfão, para a Instituição “Lar de Maria”, é entendido como um ser que se assemelha a
imagem de Jesus. E que as pessoas deveriam sempre a ajudá-lo, pois ao praticar a bondade a
eles, estariam fazendo a Jesus e também praticando o princípio da caridade. Além disso, o
“Lar de Maria” evidencia a existência de várias infâncias e velhice e que essas duas fases da
vida necessitam de respeito. Na representação de infância para essa instituição, a criança
pobre era vista como o futuro da nação e que precisaria receber investimento, para tornando-
se um sujeito útil e civilizado para a vida em sociedade.
A infância na instituição “Lar de Maria” é também entendida, como a primeira e mais
importante fase da vida do ser humano, o indicador de sua existência, o período sutil que
progride e que representa uma transformação interior, pois é na infância que o espírito é mais
acessível de intervenção pelo processo educativo.
149
A instituição “Lar de Maria” era considerada por Oliveiros de Assunção Castro como
um “grandioso templo”, por apresentar uma arquitetura de elegância mesmo distante do
centro urbano. Os espaços físicos da instituição atuavam com um discurso que estabelece em
sua concretude valores e um conjunto de aprendizagem que abrange: o estético, as culturas e a
ideologia. Dentre os espaços educativos que fizeram parte da instituição estão: os dormitórios,
os berçários, a escola, o teatro, o refeitório, o ambulatório médico e dentário, o parque de
diversão, entre outros.
O “Lar de Maria” tinha uma estrutura administrativa que primava pelo controle e
fiscalização. O poder estava centrado na figura do presidente que controlava todas as
atividades desenvolvidas no Lar de Maria. Era uma gestão pautada na racionalização do
trabalho com a finalidade de manter a eficiência dos serviços. Além disso, estabeleceu-se na
instituição uma comunicação linear, ocasionando uma relação que estava mais preocupada
com a execução de tarefas.
No âmbito do critério para admissão de crianças, constatei que a condição para ingressar
neste “lar” era que as requerentes fossem comprovadamente miseráveis, poderiam também ser
órfãs ou não, desde que pobres. O limite máximo de idade para ingressar era sete anos, mas o
órgão responsável por internamento de crianças aprovou pareceres de crianças maiores que
sete. Além disso, os pais interessados no internamento de suas crianças deveriam registrá-las
na instituição que posteriormente a “Comissão de Sindicância”, responsável por esse processo
de internamento iria realizar visitas no lar dessas crianças com o intuito de verificar se estas
viviam em condição de pobreza, caso isso fosse comprovado, a comissão daria parecer
favorável para o internamento. Nesses casos de internação havia a necessidade de apresentar a
ficha de registro da criança, a certidão, o atestado de saúde e o de vacina.
Notícia, veiculadas no jornal Folha do Norte, retratavam o ambiente de pobreza em que
as crianças viviam. Esse ambiente se constituía como critério para o internamento das
crianças na instituição. Elas moravam em pequenas barracas, cujas paredes eram de papelão,
situadas em bairros carentes de Belém. Muitas crianças eram oriundas de famílias numerosas,
filhas de mães solteiras, órfãs ou abandonadas, sobrevivendo de esmolas que seus pais ou
responsáveis adquiriam nas ruas.
Destaco, ainda, outro critério para a internação no que se refere à saúde. As crianças
consideradas saudáveis eram aceitas para a internação, mas caso estivessem com a saúde
comprometida, elas receberiam cuidados do médico da instituição “Lar de Maria”.
Constatei que a instituição foi criada para atender meninas, mas ao verificar as fontes
para esta pesquisa, verifiquei a presença de meninos nas fotografias e nas notícias dos jornais.
150
Acredito que a “Comissão de Sindicância”, ao fazer atendimento nas residências das crianças,
esse grupo se sensibilizava pela situação de miséria em que viviam e abrigava também os
meninos e, assim, não havia a separação entre irmãos.
Além de abrigo, cuidados e alimentação, as crianças recebiam também instrução e
educação. A educação, oferecida no “Lar de Maria”, tinha por finalidade o aperfeiçoamento
moral e espiritual das crianças. Elas deveriam honrar e respeitar a Deus, a pátria e a família.
Além disso, uma educação que compreende a bondade, o senso de justiça e o cultivo da
verdade e também que visava à liberdade, com intuito de fazer o sujeito ampliar as suas ideias
acerca do sentido e do significado da vida.
Os ensinamentos, presente na instituição cristã Espírita “Lar de Maria”, visavam à
formação moral, intelectual, físico, espiritual e profissional, voltado à formação doméstica.
Com o estudo e a meditação sobre a vida e os ensinos de Jesus. Com a transmissão de uma
educação doméstica que habilitava para o exercício de uma profissão que preparava meninas
para o gosto pelo trabalho, essas aprendiam um ofício, pautado no ensino de corte e costura,
bordado, arte culinária de doces e frios.
As crianças que concluíssem o Curso Primário no “Lar de Maria” e tivessem o interesse
em ingressar no Curso Secundário, Superiores ou Técnico, a instituição fazia o possível para
que elas dessem continuidade a seus estudos.
No “Lar de Maria”, os princípios da doutrina espírita que serviram de base para a
educação das crianças eram: a caridade, o amor, o respeito, a liberdade, o amor a Pátria e o
progresso do País. Educar as crianças, nesses princípios, estaria contribuindo para formar um
sujeito preocupado com o próximo e praticando a maior virtude: a caridade. Além disso, ao
oferecer as crianças esses princípios, o “Lar de Maria” buscava formar futuros seguidores do
Espiritismo.
As festas como atividades educativas marcavam o cotidiano da Instituição “Lar de
Maria”. Elas contribuíram para a propagação dos preceitos espíritas tanto para o público do
estabelecimento quanto para as pessoas externas. As festas do natal, do aniversário da
instituição, da criança e do 7 de Setembro eram momentos de confraternização e de formação
intelectual, moral, física e religiosa. Por ocasião de um dos aniversários do “Lar de Maria”,
teve apresentação da banda Flor de Lys, composta por meninas internas da instituição, elas
tocavam instrumento musical de sopro, especificamente a flauta. Isso permite que se infira
que esse lar oferecia o ensinamento da música, cuja aprendizagem de instrumento musical era
a flauta.
151
Vale frisar que a Instituição Cristã Espírita “Lar de Maria” desempenhou um papel
social relevante aos mais necessitados, para além dos muros, proporcionando serviços, como:
a sopa aos pobres, o atendimento no ambulatório médico, as aulas de prendas gratuitas as
jovens, a assistência a lactentes, o albergue noturno para homens e serviços na área do
espiritismo, tais como: o tratamento de obsessões, as reuniões públicas, as reuniões
doutrinárias e a assistência espiritual.
Acrescento que a presente pesquisa aponta que muito se tem a pesquisar sobre a
instituição Cristã Espírita “Lar de Maria”. Portanto, faz-se necessário ouvir as pessoas que
trabalharam ou estudaram nesse lar? Saber qual era o destino das crianças, após o
desligamento da instituição? Quem eram os professores que ensinavam as internas? Como
ocorria a relação entre os órfãos e os diretores da instituição? Como os meninos eram
inseridos nesse contexto, visto que a instituição era pensada para meninas?
Acredito que essas perguntas possam servir de mote para novas pesquisas, por isso,
desejo que este trabalho estimule novos pesquisadores na busca de desvelar essa realidade da
criança pobre e desvalida espírita no Pará.
152
FONTES CONSULTADAS
Álbum de fotografia da Instituição “Lar de Maria”
Oliveiro de Assunção Castro.
Casa de Paulo de Tarso – Maranhão.
Parte do cartão comemorativo de fundação.
Terreno doado pela prefeitura ao lado do Mercado de São Brás.
Planta da Instituição “Lar de Maria”.
Pedra Fundamental para a Construção do “Lar de Maria”.
O engenheiro e arquiteto Judah Levi, trabalhadores da obra.
Edificação do “Lar de Maria”.
Campanha do Quilo nas ruas.
Campanha do Quilo e seus Legionários.
Distribuição da Sopa aos Pobres.
Construção dos primeiros alicerces da Instituição “Lar de Maria”.
Parte Central da Instituição “Lar de Maria”, em fase de acabamento.
Prédio do “Lar de Maria” totalmente construído.
Instituição “Lar de Maria” – 1957.
Distribuição do espaço físico da instituição “Lar de Maria”.
Berçário.
Salão Central da Escola.
Teatro.
Interna tocando Piano.
Refeitório.
Dia da inauguração da Instituição Cristã Espírita “Lar de Maria”.
Senhor Otávio Beltrão.
Coquetel servido na inauguração da instituição “Lar de Maria”.
Salomão Levy delegado da Federal da Criança, Oswaldo Pacheco Dillon.
Crianças no Berçário do “ Lar de Maria”.
Instituição Cristã Espírita “Lar de Maria” com crianças posando na frente.
Lateral da Instituição “Lar de Maria”.
Três irmãs: Lúcia, Maria Augusta e Iolanda.
As duas irmãs Raimunda e Meriete.
153
Órfã recém-chegada à instituição.
Aniversário da Instituição “Lar de Maria” – 1958.
Aniversário da Instituição “Lar de Maria” – 1958.
Aniversário da Instituição “Lar de Maria” – 1958.
Aniversário da Instituição “Lar de Maria” – 1958.
Banda Flor de Lys no aniversário da Instituição “Lar de Maria”.
Festa da Criança no de 1959 com representante.
Festa da Criança no de 1959 com representante 2.
Festa da Criança no de 1959 com representante e crianças.
Festa da Criança no de 1959, uma interna recitando ou apresentando.
Crianças do Lar de Maria, organizadas para o desfile militar 7 de setembro (foto 1).
Crianças do Lar de Maria, organizadas para o desfile militar 7 de setembro-Bairro São
Brás (foto 2).
Internas, Assistentes e Oliveiros de Castro cantando Canção da alegria Cristã.
Reuniões públicas.
Documento
Estatuto da Instituição “Lar de Maria” – 1947.
Jornais
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Folha do Norte: Lar de Maria – 28.05.1947, p.2.
Folha do Norte: Coluna Espírita – 15.08.1947, p.2.
Folha do Norte: Coluna Espirita – 20.08.1947, p.2.
Folha do Norte: Coluna Espírita – 16.09.1947, p.2.
Folha do Norte: Religiões e Crenças – 09.10.1947, p.2.
Folha do Norte: Religiões e Crenças – 15.10.1947, p.2.
Folha do Norte: Religiões e Crenças – 24.10.1947, p.2.
Folha do Norte: Religiões e Crenças: Coluna Espírita – 04.11.1947, p.3.
Folha do Norte: Religiões e Crenças – 13.11.1947, p.3.
Folha do Norte: Uma velinha e o Lar de Maria – 21.11.1947, p.4.
Folha do Norte: Religiões e Crenças: Alegria de Viver – 28.11.1947. p.3.
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Folha do Norte: Religiões e Crenças: Coluna Espírita – 29.11.1947, p.3.
Folha do Norte: Deixai que venham a mim, os pequeninos. Quem receber um deste em meu
nome, a mim mesmo o recebe: Educação de Crianças – 04.12.1947, p.3.
Folha do Norte: Religiões e Crenças: Coluna Espirita – 06.12.1947, p.3.
Folha do Norte: Religiões e Crenças – 23.12.1947, p.3.
Folha do Norte: Fundamental, Dia primeiro de Janeiro – 27.12.1947, p.8.
Folha do Norte: Religiões e Crenças – 23.12.47, p.3.
Folha do Norte: Religiões e Crenças – 08.04.1954, p.2.
Folha do Norte: Voz Espírita – 13.05.1955, p.3.
Folha do Norte: Espiritismo em Macha – 29.06.1956, p.8.
Folha do Norte: O Lar de Maria Um Sonho que se realidade – 13.01.1957, p.6.
Folha do Norte: Espiritismo em Macha – 24.01.1957, p 6.
Folha do Norte: Religiões e Crenças – 22.02.1957, p.2.
Folha do Norte: Inaugura-se, hoje, o Lar de Maria: A solenidade – Finalidade, e histórico da
benemérita instituição – 24.02.1957, p.9.
Folha do Norte: Inaugurado, domingo último, o “Lar de Maria” – 26.02.1957, p.6.
Folha do Norte: Espiritismo em Macha: Se você ajudar – 28.03.1957, p.8.
Folha do Norte: A caridade “A cada um, será dado sua obras” – 17.04.1957, p.5.
Folha do Norte: Do meu Cantinho – 05.05.1957, p.3.
Folha do Norte: Lar de Maria: Obra Social – A Fé sem obra não edifica – 18.05.1957, p.7.
Folha do Norte: Lar de Maria – Os Órfãos – 02.06.1957, p. 2.
Folha do Norte: Lar de Maria – O único remédio infantil: Servir a Jesus –15.06.1957, p.8.
Folha do Norte: Lar de Maria: A criança e o futuro – 07.07.1957, p.19.
Folha do Norte: 10° Aniversário do “Lar de Maria”: Comemorações da data – 15.08.1957,
p.2.
Folha do Norte: Lar de Maria: Convite: 15.08.1957, p.2.
Folha do Norte: Do meu Continho – 21.08.1957, p.2.
Folha do Norte: Lar de Maria – As Crianças e o Natal – 13.11.1957, p.2.
Folha do Norte: Lar de Maria – Influências dos espíritos nos acontecimentos da vida –
17.12.1957, p.8.
Folha do Norte: Agradece as “Folhas” o Lar de Maria – 29.12.1957, p.6.
Folha do Norte: Lar de Maria: Cuida o corpo e do espírito – 23.04.1958, p.6.
Folha do Norte: Lar de Maria – Maio! Mês de Maria! – 01.06.1958, p.13.
Folha do Norte: Lar de Maria – 09.06.1958, p.22.
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Folha do Norte: Lar de Maria: Deus Castiga? – 20.06.1958, p.5.
Folha do Norte: Lar de Maria – Aos cooperadores – Ajudemos irmãos – 26.06.1958, p.10.
Folha do Norte: Lar de Maria – Aos cooperadores – Ajudemos irmãos – 29.06.1958, p.10.
Folha do Norte: Lar de Maria – Relato de uma manifestação espírita – 30.07.1958, p.6.
Folha do Norte: Lar de Maria – Prossigamos – 15.08.1958, p.3.
Folha do Norte: Lar de Maria – Retrato de uma manifestação Espírita – 03.08.1958, p. 8.
Folha do Norte: Aos médiuns esclarecimentos e conselhos – 18.09.1958, p.6.
Folha do Norte: Lar de Maria – Aos médiuns esclarecimentos e conselhos – 30.09.1958, p.11.
Folha do Norte: Festa da Criança no Lar de Maria – 07.10.1958, p.12.
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Folha do Norte: Lar de Maria: Sejamos Caridosos –16.08.1959, p.18.
Folha do Norte: O Lar de Maria é sem dúvida, um oásis de esperança em pleno deserto
assistencial do Brasil – 18.08.1959, p.18.
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Folha do Norte: Do Lar de Maria: Festa da criança – 15.12.1959, p.15.
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163
ANEXOS
164
ANEXO A – Estatuto do Lar de Maria
ESTATUTOS
DO
“LAR DE MARIA”
CAPITOLO I
Da denominação, séde e fins da sociedade
Art. 1º - O “LAR DE MARIA”, fundado aos 15 de agosto de 1947, sob os auspícios
dos Espíritas do Pará, em homenagem á Maria de Nazaré, na cidade de Belém, Estado do
Pará, é uma sociedade civil e beneficente, com personalidade jurídica e séde provisória á Av.
Oswaldo cruz nº 319, e, séde própria no edifício que está construindo á Praça Floriano
Peixoto, s/n, e que tem por objetivos e fins:
a) por ser obra de aproximação, experimentação e ação, reunir sempre em torno do
deu programa de bem-fazer, todos quantos desejem se aproximar, por amor ao
cristo, para praticar do bem, e, ser experimentados na virtudes que distinguem os
cristãos modernos, e agir a benefício dos mais infelizes, sem distinção de credo,
nacionalidade e côr;
b) amparar a infância desvalida e a velhice desamparada;
c) manter escolas, oficinas e tudo o mais que fôr necessário á execução de seu
programa.
CAPITOLO II
DE sua Administração
Art. 2º - O “LAR DE MARIA” será administrado por uma Diretoria composta de
onze (11) diretores, com três (3) suplentes, e, por um conselho Fraterno composto por vinte
(20) conselheiros, com dez (10) suplentes aquela eleita bienalmente e êste trienalmente.
§ 1º - São considerados conselheiros honorários todos os ex-presidente do “Lar
de Maria”, com direito a tomarem parte em quaisquer trabalhos e decisões do
conselho, em paridade com os conselheiros regulares.
§ 2º - A Diretoria será eleita pelo conselho fraterno em data de 5 de agosto e
empossada a 15 do mesmo mês, por ocasião da festa de comemoração da data do
aniversário da sociedade; e, o conselho Fraterno, será eleito pela Assembléa Geral,
165
em data de 1 de setembro e empossado solenemente a 7 do mesmo mês, em
homenagem a data da independência do Brasil.
§ 3º - E verdade a acumulação de cargo.
CAPITULO III
Da Diretoria
Art. 3º - A Diretoria do “LAR DE MAIRA” será composta de Presidente, vice-
Presidente, Secretario, 2º Secretario, Tezoureiro geral, 1º Tezoureiro, 2° Tezoureiro, Diretor
Administrador, Diretor de Financias, Diretor da “Campanha do Quilo” e uma superintendente
e três (3) suplente.
§ Único – Os Diretores não perceberão qualquer, remuneração.
Art. 4º - A Diretoria complete:
§ 1º - Administrar zelosamente a instituição e envidar todos os esforços no sentido de
garantir o seu maior prestígio e desenvolvimento,
§ 2º - Reunir-se pelo menos, uma vez por mês, para tratar dos assuntos de
interesse da sociedade:
§ 3º - Nomear Sub- diretores - colaboradores necessários ao desempenhos dos
serviços nos vários departamentos e destitui-los dessas funções quando seja
conveniente aos serviços;
§ 4º - Autorizar a admissão de empregados, estabelecendo o quantum das suas
remunerações, tomando em consideração os orçamentos apresentados ao conselho
fraterno e aprovados;
§ 5º - Elaborar regimentos internos que forem necessários á orientação,
administração e execução dos serviços de vários departamentos;
§ 6º - Deliberar sobre as intenções das crianças e velhos desemparados, quando
enquadradas na proposta e orçamento aprovados previamente pelo concelho Fraterno;
§ 7º - Revolver casos urgentes não previstos neste Estatuto quando não haja
tempo para convocação previa do Conselho Fraterno, devendo entretanto, convocá-lo
em seguida para participar-lhe o ocorrido e solicitar a sua aprovação;
§ 8º - Presta contas de sua gestão ao Concelho Fraterno até 5 de agosto de cada
âno;
§ 9º - Tomar parte nas reuniões do Concelho Fraterno, apresentar sugestões e
discutir os assuntos, sendo-lhes vedado, entretanto, o direito de voto, Os Diretores não
deverão tomar parte, entretanto, na reunião para eleição de Diretoria, estabelecida no §
2ª do Art. 2º;
166
§ 10º - Todos os Diretores têm direito de intervir na resolução e de voto; e, os
suplentes, somente quando em exercício;
§ 11º - Sempre que qualquer diretor não esteja desempenhando as suas funções
com eficiência, zêlo e dedicação, cabe á Diretoria observa-lo em particular; e, se a sua
atuação continuar a não corresponde á expectativa compete-lhe solicitar ao Concelho
Fraterno a cassação do seu mandato, justificando o pedido.
CAPITOLO IV
Das funções de cada Diretor
Art. 5º - Ao presidente compete:
§ 1º - Superintender todos os serviços do “LAR DE MARIA”;
§ 2º - Cumprir e fazer cumprir os presentes estatutos;
§ 3º - Presidir ás reuniões da Diretoria;
§ 4º - convocar, ordinariamente, Concelho Fraterno e a Assembleia Geral, nas datas
estabelecidas neste Estatutos; e extraordinariamente, nos casos previstos nestes
Estatutos e sempre que preciso, justificardo-os motivos;
§ 5º - Apresentar anualmente do Conselho Fraterno, o relatório de sua gestão e da
Diretoria;
§ 6º - Nomear, se forem precisas, comissões ou representações para desempenho de
função ou atividades de interesse da sociedade;
§ 7º - Lavrar temos de abertura nos livros da sociedade, rubrica-los, bem assim todos
os documentos de “caixa”. Assinar os papeis, diplomas, cadernetas e todas a
correspondências passível de sua assinatura;
§ 8º - Solucionar casos urgentes que dependam da Diretoria e do Conselho Fraterno,
justificando porém, a uma e ao outro, o motivo de seus atos;
§ 9º - Representar o “LAR DE MARIA” em reuniões ou comemorações, podendo para
o fim, delegar poderes a pessôa de sua confiança que não seja alheia á Diretoria ou ao
“LAR DE MARIA”, para representa-lo;
§ 10º - Representar o “LAR DE MAIRIA” em juízo, podendo para isso, passar
procuração a Advogado de sua confiança;
§ 11º - Assinar os cheques bancários, juntamente com o tesoureiro geral, para as
retiradas;
§ 12º - visar as contas pagar e receber subvenções ou quaisquer importâncias
destinadas ao “LAR DE MARIA”;
167
§ 13º - Promover, finalmente, prestigiar o desenvolvimento da sociedade, por todos os
meios possíveis;
§ 14º - Contratar contador idôneo e acreditado para fazer a escrita da sociedade,
procurando fazê-lo sem encargo, sempre que possível.
Art. 6º - Ao Vice-presidente compete:
§ 1º - Cooperar conjuntamente com o presidente na superintendência de todos os
serviços do “LAR DE MARIA” e desempenho os trabalhos que forem combinados
com o mesmo;
§ 2º - Substituir o presidente nos seus impedimentos, ausências, ou renuncia do cargo.
Art. 7º - Ao Secretário compete:
§ 1º - A organização e distribuição dos serviços de Secretaria, procurando sempre tê-
los em ordem e atualizados;
§ 2º - Submeter a despacho do Presidente todo o expediente e redigir e responder a
correspondência, com o auxílio do 2ª Secretário;
§ 3º - Redigir com clareza e fidelidade as átas das sessões da Diretoria, assinando-as
com o Presidente e demais Diretoria que desejarem fazê-lo;
§ 4º - substituir o Vice-Presidente nos seus impedimentos e ausências e sempre que
êste assuma a Presidência.
Art. 8º - Ao Segundo Secretario compete:
§ 1º - Redigir ou responder a correspondência que lhe fôr indicado pelo Secretário;
§ 2º - Dirigir o serviço do Arquivo e da Biblioteca;
§ 3º - Substituir o Secretário nos seus impedimentos e ausências e sempre que êste
assuma a Vice-presidência.
Art. 9º - Ao Tesoureiro Geral compete:
§ 1º - Arrecadar a receita e suprir as despesas, trazendo tudo escriturado tecnicamente,
com clareza em dia no livro “Caixa”;
§ 2ª – Pagar as contas visadas pelo Presidente;
§ 3ª – Arrecadar, por meio de guias as importâncias entregues pelos 1º e 2º
Tesoureiros, Proveniente respectivamente, de cobranças de mensalidades, produto da
“campanha do quilo” e de outras que forem organizadas, devendo controlar os serviços a
cargo desses Diretores;
§ 4º - Depositar em estabelecimentos bancários indicados pela Diretoria os saldos
disponíveis, procurando nunca manter em “caixa”, quando desnecessários, saldo superiores a
Cr$- 2.000,00;
168
§ 5ª – Assinar com o Presidente os cheques para a retirada de numerário dos bancos;
§ 6º - Nomear cobrador ou cobradores de sua confiança para proceder á cobrança das
mensalidades, exigindo dos mesmos as garantias ou fianças que julgar conveniente.
Art. 10º - Ao 1º Tesoureiro compete:
§ 1ª – Controlar o Registro de sócios e de Recibos de mensalidades e fiscalizar o
serviço de anotações dos pagamentos;
§ 2º - Conferir e assinar os recibos de mensalidade e entrega-los, mediante guia, á
secretaria e ao cobrador para cobrança;
§ 3º - Arrecada semanalmente o valor das cobranças efetuadas na secretaria ou pelo
cobrador ou cobradores e conferir os recibos não cobradas pelo menos duas vezes por mês,
com espaço de 15 dias;
§ 4ª – Entregar os produtos das cobranças ao Tesoureiro Geral por meio de guias em
duas vias, uma das quais lhe será devolvida com o necessário recibo para o seu arquivo;
§ 5º - Substituir o tesoureiro Geral nos seus impedimentos ou ausências, ou, no caso de
sua renúncia.
Art. 11º - Ao 2º Tesoureiro compete:
§ 1º - Conferir com o respectivo Diretor os produtos da “campanha do Quilo” e de
outras campanhas, entregando-os por meio de guias em duplicata ao Tesoureiro Geral, uma
das quais lhe será devolvida para o seu arquivo;
§2º - Substituir o 1º Tesoureiro nos seus impedimentos ou ausências e sempre que êste
assuma o cargo de Tesoureiro Geral.
Art. 12º - Ao Diretor Administrador compete:
§ 1º - A administração das obras enquanto não estiver concluída a sede em construção;
§ 2º - A administração de quaisquer concertos ou obras suplementares que seja
autorizadas;
§ 3º - Zelar pela conservação do prédio e dependência, móveis, utensílios, aparelhos
dos gabinetes médicos, etc., veículos de transporte enfim, por todos os bens da sociedade,
promovendo o que fôr necessário para esse fim;
§ 4º - Dirigir e fiscalizar o serviço de compra de mantimentos para a dispensa, copa,
cosinha, lavandaria, farmácia, laboratórios e quaisquer outros departamentos da Sociedade.
§ 5º - Apresentar mensalmente um orçamento das despensas a efetuar no mês indicado
para discussão e aprovação em reunião da Diretoria.
Art. 13º - Ao Diretor de Finanças compete:
169
§ 1º - Elaborar os planos de festivais ou quermesses a realizar durante o ano, com o
intuito de conseguir auxílio para a instituição, apresentando-os á Diretoria para estudo e
aprovação;
§ 2º – Organizar e chefiar as comissões para angariar auxilio para a sociedade em
listas de subscrições;
§ 3º - Organizar, periodicamente relações de pessoas físicas ou jurídicas de
reconhecida idoneidade par feito de remessas de listas para aquisição e donativos em favor da
Sociedade;
§ 4º - Tomar as providências que se tornarem necessária junto aos poderes
constituídos, municipais, estaduais e federais e representantes do povo nas Câmaras
Municipais, Estaduais e Federais, bem como no Senado Federal, no sentido de conseguir
ajudas ou subvenções;
5º - Agir por todas as formas possíveis no sentido de conseguir auxílio para a
Sociedade.
Art. 14º - Ao Diretor da “Campanha do Quilo” compete:
§ 1º - Superintendente os trabalhos da “Companha do Quilo” e de outras que forem
organizadas e controlar a arrecadação e recolhimento do numerário, dos gêneros e objetivos
angariados pelos legionários dos vários setores;
§ 2º - Fiscalizar o respectivo serviço da escrituração e estatística, por forma a que o
mesmo esteja sempre em ordem e em dia;
§ 3º - Elabora e apresentar á Diretoria, para estudo e aprovação, planos que visem a
estabilidade do quadro de legionários e o engrandecimento da “Campanha do Quilo” e de
outras campanha, bem assim para passeios e campanhas em localidades do interior e de
festividades com o objetivo de animar os legionários;
§ 4º - Propor á Presidência comissões composta de associados capazes para ajudar o
serviço de contagem do dinheiro arrecadado nas campanhas e seu empacotamento.
Art. 15º - Aos suplentes compete:
§ 1º - Assumir os cargos vagas na Diretoria, de acôrdo com a convocação feita pela
Diretoria;
§ 2º - Poderão também entrar no exercício de outras funções de direção determinadas
pela Diretoria, devendo nesse caso, tomar parte nas reuniões da Diretoria, tendo então direito
de intervir nas resoluções e de voto.
Art. 16º - Á superintendente compete:
170
§ 1º - Superintendente todos os serviços interno, cumprir e fazer cumprir os presentes
Estatutos e os regulamentos e instruções emanados da presidência e da Diretoria;
§ 2º - Êste cargo, entretanto somente será preenchido, por eleições, quando o “LAR
DE MARIA” já estiver desempenhado sua finalidade.
CAPITULO V
Do Concelho Fraterno
Art. 17º - Ao Concelho Fraterno compete:
§ 1º - Reunir-se dentro de três (3) dias, a contar de sua posse, para eleger a sua Mesa,
que será assim constituída: Presidente, Secretario e 2º secretario; e, eleger também, dentre os
seus membros e na mesma ocasião, Comissão de contas, que será assim constituida:
Presidente, Secretario e 2º Secretario;
§ 2º - Eleger a Diretoria e aprovar as suas contas de acôrdo com o estabelecido no § 2º
do Art. 2º e § 8 do Art. 4º;
§ 3º - Tomar conhecimento do critério apresentado pelo presidente de acordo com o
estabelecido no § 5º do art. 5º e deliberar sobre as propostas que no mesmo forem
apresentados
§ 4º - Reunir-se, sempre que convocado pelo Presidente, de acôrdo com o estabelecido
no § 4º do Art. 5º, para tomar conhecimento dos assuntos e propostas presentadas pela
presidência ou pela Diretoria, podendo deliberar sobre os mesmo, ou, se julgar preferível,
considerando a importância do assunto, determinar a convocação da Assembléa Geral, para
resolvê-lo;
§ 5º - O Concelho Fraterno só pode deliberar legalmente com a presença de metade e
mais um de seus conselheiros;
§ 6º - No caso da Diretoria não se conforma com a desaprovação pelo Conselho
Fraterno de quaisquer proposta que lhe sejam apresentadas e que julgue de real interesse á
Sociedade, poderá recorrer para a Assembléa Geral, que será convocada de acôrdo com o
estabelecido no § 4º do Art. 5º;
§ 7º - Reunir-se, extraordinariamente, sempre que a maioria dos seus componentes,
desejando tratar de assuntos de real interesse para a sociedade, encaminhe pedido escrito ao
Presidente da Mesa, que deverá proceder a convocação para reunião dentro de dez dias,
mediante convite escrito aos Conselhos, extensivo a todos os membros da Diretoria. Se a
Diretoria discordar das resoluções tomadas nessa reunião pelo Conselho da Fraterno, poderá
recorrer para a Assembléa Geral, de acôrdo com o estabelecido no § 4º do Art. 5º, que
resolverá soberanamente o assunto;
171
§ 8º - Convocar a Assembléa Geral por intermédio do seu Presidente, sempre que
deliberado por quatro quintos (4/5) dos seus componentes para a resolução soberana de suas
instruções, que a Diretoria se nega a cumprir;
§ 9º - Compete ao Conselho Fraterno cassar o mandato de qualquer Diretor no caso no
caso de ser solicitado e julgador razoáveis e concludentes as razões expostas pela Diretor, de
acôrdo com o estabelecidos no § 11º do Art. 4º. E concedido ao Diretor visado, entretanto, o
direito de recurso para a Assembléa Geral, mediante requerimento endereçado á Presidência.
§ 10º - Perderão direito aos cargos que ocupam os conselheiros que faltarem cinco
reuniões consecutivas sem justificarem por escrito o motivo da faltas.
§ 11º - As vagas que se derem na Mesa do Conselho e na comissão de contas serão
preenchidas por eleição.
§ 12º - Ao Presidente do Conselho Fraterno compete:
a) – Presidir as suas reuniões;
b) – cumprir e fazer cumprir o estabelecido nos presentes estatutos, dentro das
atribuições que lhe forem conferidas;
c) – Determinar a convocação de Suplentes as vagas que se derem no Conselho.
§ 13º - Nas ausências do Presidente o Conselho aclamará um dos conselheiros
presentes para presidir as reuniões, desde que não faça parte da Mesa.
§ 14º - Ao secretário compete:
a) – Secretaria as reuniões;
b) – Lavrar as respectivas átas, que deverão ser lidas, discutidas, aprovadas e
assinadas antes de encerradas as reuniões;
c) – Convocar os Suplentes para as vagas que se derem no Conselho, de acôrdo com
as determinações do Presidentes
d) – Abrir os trabalhos nas ausências do Presidente e solicitar a aclamação de um
Conselheiro para presidir as reuniões;
e) Desempenhar as comissões de serviços que lhe sejam determinadas pelo
Presidente.
§15º - Ao 2º Secretário compete:
a) – Substituir o Secretário nas ausências;
b) – Desempenhar as comissões de serviço que lhe sejam determinadas pelo
Presidente.
§ 16º- A comissão de Contas compete:
172
a)- Examinar todo o movimento de fundo e a escrita da Sociedade para o que a
Diretora deve fornecer os Livros e documentos necessários;
b) – Quando sejam erros ou omissões reconhecidamente involuntários, a Comissão de
Contas solicitará as regularização indispensáveis, e , somente depois de se encontrar
tudo em ordem, encaminhará o seu parecer ao Conselho Fraterno;
c) – No caso, entretanto, de serem encontradas irregularidades que prejudiquem a
Sociedade ou que deem a convicção de terem sido praticadas desonestidades, deve a
Comissão de Contas comunicar imediatamente o ocorrido ao Presidente da Diretoria
que, se concluir pela procedência da comunicação, deverá convocar com urgência a
Diretoria, e, em seguida o Conselho Fraterno para deliberar o ocorrido;
d) - Apurada que seja qualquer falta grave ou desonestidade, o Conselho Fraterno
deliberará a suspensão dos direitos sociais dos responsáveis procederá a convocação
ou eleição, conforme o caso, para os cargos que vagarem;
e) - Compete ainda à Comissão de Contas emitir parecer, nos termos destes Estatutos,
sempre que solicitados.
CAPITULO VI
DA ASSEMBLÉA GERAL
Art. 18º - Á Assembléa Geral compete:
§ 1º - Resolve Soberanamente as consultas ou propostas que lhe sejam feitas,
observando estritamente o estabelecido neste Estatutos e deliberar sobre casos omissos
nos mesmo, sempre que consultada pela Diretoria ou pelo Conselho Fraterno. Quando
as suas resoluções, entretanto, forem de encontro ao estabelecido nos Estatutos, cabe á
Diretoria recorrer ao judiciário, de acôrdo com as leis civis, devendo ser cumprida a
decisão judicial;
§ 2º - A sua convocação far-se-á pela imprensa, em um dos jornais mais lindos de
Belém, com antecedência de oito dias no mínimo. A publicação do Edital deverá ser
feita três vezes, sendo a última do dia da reunião;
§ 3º - Eleger por escrutínio secreto ou por aclamação o Conselho Fraterno, de acôrdo
com o estabelecido no § 2º do Art. 2º. Essa reunião só poderá funcionar em primeira
convocação com quarenta sócios quites, no mínimo. E em segunda, com vinte sócios
quites; e, em terceira, com qualquer número;
173
§ 4º - Quando a convocação da Assembéa fôr extraordinária, só poderá funcionar em
primeira convocação com sócios quites, no mínimo. E em segunda, com trinta sócios
quites; em terceiro, com qualquer número;
§ 5º - Se a Assembléa não logra em primeira convocação, número suficiente, o
Presidente que a convocar fará, verbalmente, segunda convocação para uma horas
depois; se persistir a falta de número será convocada pela terceira vez para reunir
quatro dias depois com qualquer número;
§ 6º - Os trabalhos da Assembléa Geral serão abertos pelo Presidente que a convocou,
que dirá dos motivos da sessão e proferirá a prece inicial;
§ 7º - A Assembléa aclamara então, um sócio para dirigir os trabalhos;
§ 8º - O Presidente aclamado convidará dois consócios para secretariar, que serão os
escrutinadores, quando haja eleição;
§ 9 º - Verificar a legalidade da reunião e que todos os sócios estão no pleno gôzo dos
seus direitos, a sessar-se-á;
§ 10º - No caso de eleição do Conselho da Fraterno, terminada a eleição ou aclamação,
o Secretario oficiará aos novos Conselheiros participando sua eleição e convidando-se
a tomarem posse de acôrdo com o estabelecido no § 2º do Art. 2º;
§ 11º - Será então franqueada a palavra a quem dela quizer fazer uso.
CAPITOLO VII
Da Administração Interna
Art. 19º - Compete á Diretoria a administração interna do “LAR DE MARIA”, como a
colaboração de Sub-Diretores nomeados pela mesma, que prestarão seus serviços
independente de remuneração. Quando esses Sub-Diretores prestem relevantes
serviços, sejam reconhecidamente pobre e residam no “LAR DE MARIA”, poderá a
Diretoria propor para os mesmos, ao Concelho Fraterno, uma gratificação ou ajudas de
custo que lhes bastem para manter-se decentemente. Estas propostas devem ser
acompanhadas do parecer da “Comissão de contas”;
§ 1º - Haverá um quadro para a inscrição de Sub-Diretores que desejam presta
colaboração não remunerada, que serão convidados, quando necessário para o
desempenho dos vários serviços;
§ 2º - A distribuição dos vários serviços obedecerá ao estabelecido no § 5º do Art. 4º;
§ 3º - Haverá também um quadro para inscrição de Médicos e Enfermeiros que sejam
prestar a sua colaboração sem remuneração ao “LAR DE MARIA”. Os serviços de
assistência desses colaboradores será distribuído tendo em vista a especialização de
174
cada um, obedecendo a orientação do Médico chefe, que será escolhido entre os mais
dedicados e assíduos na assistência aos enfermos;
§ 4º - sómente em caso de absoluta necessidade poderá a Diretoria nomear Médicos ou
enfermeiros remunerados, com aprovação prévia do Conselho Fraterno.
CAPITULO VIII
Dá Internação
Art. 20º - Os candidatos á internação no “LAR DE MARIA” – Crianças e velhos –
devem ser de comprovada necessidade verificada por uma sindicância feita por uma
comissão de três membros, designada pela Diretoria.
§ 1º – Os internamentos obedecerão ao estabelecimentos no § 6º do... Art. 4º;
§ 2º - Os pedidos de internação recebem um número de ordem ao serem registrados e
serão atendidos pela ordem numérica de entrada;
§ 3º - Sómente em caso de emergência poderá a Diretoria proceder pelo internamento
sem observar préviamento o estabelecido nos parágrafos antendendo faze-lo em
seguida;
§ 4º - Em todos os casos de internação é imprescindível a respectiva ficha e os
documentos necessários, como certidão de idade, atestado de saúde e de vacina , dos
dois últimos atestados. Não será admitida em hipótese alguma a internação de
crianças ou velhos que sofram de moléstias contagiosas ou em estado repelente ou
desesperador, podendo, entretanto, o “LAR DE MARIA” se ocupar, junto ao seu
médico assistente.
§ 5º - O Limite máximo para internação de crianças é de sete anos;
§ 6º - As crianças abrigadas podem ser órfãs ou não, dede que seus parentes ou pais
sejam comprovadamente miseráveis. Êstes, todavia, as poderão retirar, desde que
provem que mudaram de situação, de molde a poderem mantê-las e educa-las;
§ 7º - No sentido de estabelecer entre as crianças internadas e crianças de famílias
amigas e cristãs os laços de solidariedade humana, de molde gerar assistência social-
material da parte dos que têm mais, as internadas podem ter, lá fóra, “madrinhas
sociais”, que as visitem distribuído com as “afilhadas” um pouco de carinho, de
conforto e de bem estar que por ventura lhes sobrem;
§ 8º - As crianças receberão, além da instrução profissional-doméstica a instrução
elementar e primária, bem assim de moral cristã, através do estudo e medição sobre a
vida e os ensinos de Jesus;
175
§ 9º - O “LAR DE MARIA”, tendo em vista a necessidade de internar sempre crianças
novas e de manter o equilíbrio de seu orçamento financeiro, providenciara o
encaminhamento dos internados que atingirem a idade de quinze anos a empregos ou
serviços domésticos que proporcionem sua manutenção;
§ 10º - Serão aproveitados, entretanto, nos misteres vários do “LAR DE MARIA”, os
jovens internados que desejarem dedicar-se aos mesmos, sempre que isso seja
conveniente, sendo-lhes proporcionado o necessário a sua manutenção;
§ 11º - Sairão da tutela do “LAR DE MARIA” os internados que se emanciparem ou
que atinjam a maioridade;
§ 12º - As crianças que completarem o curso primário, sejam inteligentes e
manifestem o desejo de matricular-se em cursos secundários, superiores ou técnicos, o
“LAR DE MARIA” fará o possível para que os seus desejos sejam concretizados,
tendo em vista as possibilidades orçamentas. Na impossibilidade de o fazer, interessar-
se-á o “LAR DE MARIA” para que sejam conseguidas pessoas caridosas e
possuidores de recursos que desejem patrocinar os referidos cursos aos internados que
tenham aptidão e vontade de fazê-los;
§ 13º - Poderão também ser aproveitado nos vários misteres do “LAR DE MARIA” os
velhos internados cujos dotes e condições de saúde os recomendem para os mesmos e
que desejem fazê-lo por amor ao próximo;
§ 14 º - O “ LAR DE MARIA” proporcionará ais seus internados além do tratamento
fraterno, a assistência possível e material, educacional e médica-dentária, de molde
que a todos sintam-se compesados do ambiente que deixaram lá fora
§ 15 º - Será facultada, entretanto, a saída definitiva do “ LAR DE MARIA” aos
velhos desamparados que desejem fazê-lo;
§ 16 º - Observadas as leis de proteção à família poderá ser facultada a as´da de
crianças internadas no “LAR DE MARIA”, provisória ou definitivamente, quando
solicitadas por pessôas idôneas e que gozem de bom conceito moral, que possuam
meios para mantê-la e educa-la convenientemente, ou, que desejem tê-las como filhas
ou perfilhas mediante compromisso lavrado em escritura pública, depois de feitas as
necessárias sindicância apresentando o laudo favorável pela comissão investigadora
nomeada pela Diretoria que deve constar de cinco membros competentes da Diretoria
ou do Conselho Fraterno;
176
§ 17 º - Perderão direito ao internamento os internos que cometerem ou reincidirem
em faltas graves contrárias á moral e ao decoro, devendo a Diretoria, com aprovação
do Conselho Fraterno deliberar sobre a forma mais conveniente de afastá-lo;
§ 18º - Também perderão o direito de internação no “ LAR DE MARIA” os
internados que forem acometidos de doenças graves e contagiosas, incuráveis ou de
difícil cura, como a tuberculose, a lepra, a varíola, q peste bubónica, o câncer, etc...
bem assim de doenças mentais e loucura, devendo Diretoria providenciar com
urgência, sempre que se apresente qualquer destes casos, junto as autoridades
competentes, para a transferência do internado doente para o hospital adequado ao seu
internamento e tratamento, Cessado, entretanto, o motivo do afastamento, mediante
documentação que o comprove a juízo da Diretoria, poderá o internado voltar ao
internato no “ LAR DE MARIA”
CAPITULO IX
Dos Sócios
Art. 21ª – O “LAR DE MARIA” terá ilimitado número de sócios de todas as idades, sem
distinção de sexo, côr, credo religioso e nacionalidade.
Art. 22 ª – Haverá quatro categoria de sócio, que são:
§ 1ª - FUNDADORES: os que eram associados desde data anterior á reunião realizada em 15
de Agosto no Grupo Espírita “ Amor e Verdade”, à Travessa Castelo Brando nº 70, na qual
foi considerado fundado o “LAR DE MARI”, conforme consta da respectiva áta, bem assim
as pessôas que estiveram presente à aludida reunião, assinaram o respectivo livro de presença
e se tornaram associados naquela época.
§ 2 º - CONTRIBUINTES - os que contribuírem mensalmente com importância a que se
comprometem em proposta assinada, que não poderá ser inferior ao mínimo estabelecido
anualmente pela Diretoria;
§ 3º - REMIDOS - os que, de uma só vez, contribuírem com a importância que fôr fixada
pela Diretoria, que nunca poderá ser inferior a cinco mil cruzeiro (cr$ - 5.000,00);
§ 4 º - BENFEITORES – os que fizerem doações importantes ao “ LAR DE MARIA” e os
que prestarem relevantes serviços, ou que contribuam com sua atuação e cristã para,
desenvolvimento de obra e execução de seu programa. Os diplomas de sócios Benfeitores só
serão expedidos depois de aprovados pelo Conselho Fraterno as propostas apresentadas pela
Diretoria.
177
Art. 23 º - São deveres dos sócios
§ 1 º - Pagar pontualmente sua mensalidade.
§ 2 º - Participar á Secretaria do “Lar de Maria” sua mudança de residência;
§ 3 º - Comparecer ás reuniões ordinárias e extraordinária da Assembléa Geral
§ 4 º - Aceitar e desempenhar os cargos e as comissões para que forem eleitos e que lhe forem
atribuídas;
§ 5 º - Pugnar pelo progresso moral-social-material da Instituição, comparecendo ás reuniões,
prestando sua cooperação em comissões para angariação de donativos e para a realização de
festivais e quermesses sempre houver
Art. 24 º - São direitos dos sócios;
1 § Discutir os assuntos tratados nas Assembléas Gerais, votar e ser votado
2 § Requer no minino, a convocação de um conjunto de cinquenta (50) sócios quites, na
convocação da Assembléa Geral para tratar de assuntos do “ LAR DE MARIA”. Esse
requerimento deve ser entregue ao Presidente da Diretoria assinatura reconhecidas por
tabelião dos os sócios que o assinaram estão em plano que depois de verificar se a
convocação, de acordo, com o estabelecido no Art. Seus direitos, fará
Art. 25 – Os sócios perderão os direitos do Estatuto pelas razões seguintes:
§ 1 º - Por atas e palavras cometidos e proferidas de ... rir a moral e os interesses do “ LAR
DE MARIA”, da Doutrina que o ins-fe ou, de qualquer outra, por forma e incompatibilizar-
nos com os nossos mãos de outras crenças, visto eu e devemos não somente respeitar os
sentimentos e as crenças religiosas de todas as nossos irmãos em Jesus, como também manter
com eles amizade fraternal, tendo unicamente em vista que: “fora da caridade não há
salvação”;
§ 2º - Por atraso no pagamento de suas mensalidades pelo espade um ano;
§ 3º - Cabe-lhe, entretanto, e direito de reabilitação em qualquer época: no caso do § 1º, desde
que o solicite por escrito e fiquem comprovados a sua regeneração e o desejo de pugnar pelo
progresso moral-social-material da Instituição; e no caso do § 2º, se resgatar as mensalidade
de um ano em atraso, e se comprometer a pagar em dia as novas mensalidades na base fixada
pela Diretoria. Se, todavia, o motivo da suspensão dos direitos tiver sido o de falta absoluta de
recursos, poderá a Diretoria permite a reabilitação, dispensando o débito atrasado,
comprometendo- se o associado a manter futuramente em dia o pagamento das suas
mensalidades.
CAPITULO X
178
Disposição Gerais
Art. 26º - Os ócios não respondem subsidiariamente por dívidas quaisquer transações
financeiras do “LAR DE ARIA”.
Art. 27º - o patrimônio do “LAR DE MARIA” é inalienável
Art. 28 º - A Assembléa Geral funcionando como poder soberano, tomar medidas de molde a
beneficiar o “ LAR DE MARIA”, observadas as diversas disposições destes Estatutos.
§ Único - Não poderá, em hipótese alguma ser modificada a característica essencialmente
espírita do “LAR DE MARIA”.
Art. 29º - Em caso de dissolução do “LAR DE MARIA” seu patrimônio somente poderá
passar a outra ou outras instituições espírita, civilmente constituídas e com personalidades
jurídica, com sede no território nacional, a juízo da Assembléa que o dissolver.
§ Único – Para que a Sociedade “LAR DE MARIA” possa ser dissolvida, desde que haja
motivos fortes para tanto, como, por exemplo, a impossibilidade de sua manutenção,
necessária é que a Assembléa Geral extraordinária, convocada especialmente para esse fim,
funcione com dois terços de sócios na primeira convocação, metade na segunda e, um terço,
na terceira, todos no pleno gôzo dos seus direitos.
Art. 30 º - A finalidade do “LAR DE MARIA” somente poderá ser modificada para evitar que
a Sociedade seja dissolvida, na impossibilidade de manutenção do seu abriga para as crianças
e velhos desamparados. Nessa hipótese, o “LAR DE MARIA” poderá ser transformado em
uma escola ou um hospital, com características essencialmente espírita. Para isso
indispensável se torna a aprovação da Assembléa Geral, que deverá funcionar com dois terços
dos sócios em primeira convocação, metade em segunda e um terço em terceira, todos em
pleno gôzo dos seus direitos.
Art. 31 º - Os casos omissos nos presentes Estatutos serão solucionados pela Diretoria, com
aprovação do Conselho fraterno, ad-referendum da Assembléa Geral.
Art. 32 º Os presentes Estatutos revogam, totalmente, os anteriores.
§ Único - Em caso de sua reforma, esta só poderá proceder-se três anos, no mínimo, depois
de sua aprovação e por proposta da Diretoria Conselho Fraterno, ad-referamdum da
Assembléa extraordinária, convocada para esse fim, ou, por proposta da Diretoria ou
Conselho, a Assembléa Geral.
CAPITULO XI
Disposições Transitórias
Art. 33º Aprovados os presentes Estatutos, entrarão imediatamente em vigor e deverão ser,
também, imediatamente registrados e impressos
179
Art. 34 – A Assembléa Geral que os aprovar, elegerá, na mesma reunião, o Conselho
Fraterno, que deverá vigorar até 1º de Setembro de 1956, que será imediatamente empossado
Art. 35 º - O Conselho Fraterno eleito e empossado deve reunir-se dentro de três(3) dias para
dar cumprimento ao estabelecido no § 1º do Art. 17 º; e , também, para eleger os cargos vagos
na Diretoria atual, eleita em 29 de Setembro de 1951 e eleger ainda os novos cargos criados
neste Estatutos.
§ 1º - Os mandatos desses novos Diretores terminarão em 15 de Agosto de 1955
§ 2º - Os mandatos dos atuais Diretores, eleitos em 29 de Setembro de 1951, ficaram dilatados
para 15 de Agosto de 1955.
Estes Estatutos foram aprovados em reunião de Assembléa Geral realizada em
A mesa que presidiu os trabalhos
180
APÊNDICES
181
APÊNDICE A – Dissertações de Mestrado do Pará
AUTOR TÍTULO OBJETIVO IES
ANO
Andresson Carlos
Elias Barbosa
O Instituto Paraense de
Educandos Artífices e a
morigerância dos meninos
desvalidos na Belém da Belle
Époque
Compreender o atendimento à criança desvalida
na capital da província do Grão Pará, entre os
anos 1870-1889.
UFPA
2011
Elianne Barreto
Sabino
Assistência e a Educação de
Meninas Desvalidas no Colégio
Nossa Senhora do Amparo na
Província do Grão-Pará (1860-
1889)
Compreender a história social e educacional do
Colégio Nossa Senhora do Amparo, instituição
pública que atendia crianças pobres na
Província do Grão Pará, no período de 1860 a
1889.
UFPA
2012
Adriene Suellen
Ferreira Pimenta
Educação de meninas no
Orphelinato Paraense (1893-
1910)
Analisar a educação de meninas no Orphelinato
Paraense, no período de 1893 a 1910, identificar
qual sua concepção de educação, bem como
verificar o que era ensinado às órfãs.
UEPA
2012
Benedito
Gonçalves Costa
A educação de meninas órfãs,
desvalidas e pensionistas no asilo
de Santo Antônio, no pastorado
do bispo, D. Antônio de Macedo
Costa em Belém – Pará (1878 -
1888)
Analisar a educação de meninas órfãs,
desvalidas e pensionistas no Asilo de Santo
Antônio no período de 1878 a 1888, verificar o
que levou a Igreja Católica a criar o Asilo de
Santo Antônio, mapear os saberes que eram
ensinados às meninas no Asilo e identificar os
princípios que orientavam a prática religiosa e
educativa nesta instituição de ensino.
UEPA
2014
Faneide Pinto
Bitencout
Escola Doméstica Nossa Senhora
da Anunciação: A Formação de
Meninas para servir a Deus, a
Família e ao Lar –
Ananindeua/Pa (1949-1971
__________
UEPA
2015
Fonte: Banco de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES) – 2015.
182
APÊNDICE B – Produções Nacionais
AUTOR TÍTULO OBJETIVO IES
ANO
Cleusa Maria
Fuckner
Lar escola Dr. Leocádio José
Correia: história de uma
proposta de formação na
perspectiva educacional espírita
(1963-2003)
Constituir aspectos da trajetória histórica do Lar
Escola Dr. Leocádio José Correia, no período
entre 1963 e 2003, bem como estudar as
manifestações espíritas, divulgar os princípios
da doutrina dos espíritos e proporcionar
assistência social às famílias carentes. E como
também destaca trajetória da escola, atendendo
meninos órfãos, Educação Especial e Ensino
Fundamental.
UFPR-PR
2009
Nicola José
Frattari Neto
Educandário Espírita
Ituiutabano: Caminhos cruzados
entre inovação e sua organização
conservadora. Ituiutaba, Minas
Gerais (1954-1973)
Encontrar vestígios das características religiosas
espíritas do educandário, bem como o objetivo
principal é sanar uma carência educacional na
cidade de Ituiutaba, apresentando proposta
educativa, filosofia espírita, formação do
homem integral e assistencial.
UFU – MG
2009
Celita Maria Paes
de Souza
Traços de compaixão e
misericórdia na História do Pará:
instituições para meninos e
meninas desvalidas no século XIX
até início do século XX
Investigar a história das instituições de meninos
e meninas desvalidas no Pará, tendo para isso
delimitado o período que vai do início do século
XIX até os primeiros anos do século XX, mais
precisamente até 1912.
PUC-SP
2010
Maria José
Lobato Rodrigues
Educação Feminina no
Recolhimento do Maranhão: o
redefinir de uma instituição
Analisar como o Recolhimento de Nossa
Senhora da Anunciação e Remédios, instituição
maranhense de reclusão feminina, dos Períodos
Colonial e Imperial, redefiniu sua função social
deixando de oferecer às recolhidas apenas uma
educação moral e religiosa, passando
progressivamente, a partir da segunda metade
do século XIX, a incorporar características de
um ensino escolarizado.
UFMA-MA
2010
Thais Palmeira
Moraes
O Atendimento à Criança Pobre,
Abandonada e Sem-Família em
Corumbá (MT): o caso do
Colégio Salesiano Imaculada
Conceição
Refletir sobre recuperação histórica das formas
de acolhimento e de atendimento que as
crianças pobres, abandonadas e sem-família na
região sul de Mato Grosso na Primeira
República (1904 a 1927), no colégio Salesiano
Imaculada Conceição, onde tais crianças eram
acolhidas e criadas pelas irmãs Salesianas e
receberam moradia, alimentação, vestuário e
educação formal.
UFMS-MS
2011
Josineide Siqueira
de Santana
Entre Bordados, Cadernos e
Orações: a Educação de Meninas
e as Práticas Educativas no
Orfanato de São Cristóvão e na
Escola da Imaculada Conceição
Discutir a educação feminina nas instituições
católicas Orfanato de São Cristóvão e Escola da
Imaculada Conceição. Bem como o acolhimento
de meninas desvalidas, em 1922. Tem como
objetivo principal investigar as práticas
UFS-SE
2011
183
(1922-1969) educativas desenvolvidas nestas instituições, no
período de 1922 a 1969.
Regina Coeli da
Silveira Barbosa
Leite
Educação para Meninas. Volta
Redonda, 1955-1971
Estudar a educação feminina em Volta Redonda
nos anos de 1955 a 1971. Focaliza para análise a
proposta e a prática educacional do Colégio
Nossa Senhora do Rosário. Analisa o contexto
social e histórico da cidade de Volta Redonda,
cidade industrial, planejada para implementação
da CSN. O trabalho enfatiza o tipo de formação,
de papel social e de representações possíveis
sobre as mulheres.
USS-RJ
2011
Kilza Fernanda
Moreira de
Viveiros
O Instituto de Assistência à
Infância: saúde e educação da
criança maranhense (1911-1922)
Estudar a institucionalização da infância em São
Luís por meio do Instituto de Assistência à
Infância do Maranhão, bem como identificar e
configurar a implantação e trajetória do Instituto
de Assistência à Infância do Maranhão de 1911
a 1922, focalizando as circunstâncias sócio-
históricas em que se dava a saúde e a educação
das crianças desvalidas de São Luís
evidenciando sua finalidade e suas repercussões.
UFRN- RN
2011
Rita de Cassia
Grecco dos
Santos
A Educação das Meninas em
Pelotas: a Cultura Escolar
produzida no internato
confessional católico do Colégio
São José (1910-1967)
Propõe caracterizar a cultura escolar produzida
no internato confessional feminino do Colégio
São José, na cidade de Pelotas/RS, analisando a
sua fundação e as repercussões do projeto
educativo desenvolvido naquele contexto.
Promovendo a formação de “meninas dóceis,
cultas e cristãs”, em consonância com o modelo
familiar, católico e higienista, próprio das
primeiras décadas do século XX.
UFPel – RS
2012
Erilane de Souza
Guimaraes
A casa da Criança da Cidade de
Manaus: história de uma
Instituição Educativa
Contribuir para o acervo histórico da cidade
pela identificação e registro das iniciativas e
práticas educativas presentes na cidade; divulgar
os saberes e fazeres difundidos por essa
instituição escolar e, tornar conhecidos os
benefícios associados à criação, implantação e
consolidação institucional.
UNISO – SP
2012
Antonio Valdir
Monteiro Duarte
Órfãs e desvalidas: a formação de
meninas no Orphanato Municipal
de Belém do Pará (1893-1931)
Analisar algumas práticas educativas aplicadas a
centenas de meninas que viveram em condição
asilar em um período marcado por grandes
transformações políticas, econômicas e sociais
na capital Paraense.
UFU-MG
2013
Viviane de
Oliveira Berloffa
Caraçato
Colégio Estadual Dr. Gastão
Vidigal (1953-1975): uma
História no Ensino Maringaense
Reconstruir a história do Colégio Estadual Dr.
Gastão Vidigal, primeira instituição ginasial da
rede pública de ensino do município de
Maringá, no estado do Paraná.
UEM-PR
2014
Fonte: Banco de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES) – 2014.
184
Universidade do Estado do Pará
Centro de Ciências Sociais e Educação
Programa de Pós-Graduação em Educação
Travessa Djalma Dutra, s/n – Telégrafo
66113-200 Belém-PA
www.uepa.br/mestradoeducaca