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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO LUCIANA DIAS DA COSTA A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO DE AMOR, CARIDADE E EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS POBRES EM BELÉM PA (1947-1960) Belém/PA 2016

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Page 1: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

LUCIANA DIAS DA COSTA

A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM

TEMPLO DE AMOR, CARIDADE E EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS

POBRES EM BELÉM – PA (1947-1960)

Belém/PA

2016

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LUCIANA DIAS DA COSTA

A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”:

UM TEMPLO DE AMOR, CARIDADE E EDUCAÇÃO DE

CRIANÇAS POBRES EM BELÉM – PA (1947-1960)

Dissertação apresentada como requisito

obrigatório para a obtenção do título de Mestre em

Educação, no Programa de Pós-Graduação em

Educação da Universidade do Estado do Pará.

Área de concentração: Educação.

Linha de Pesquisa: Saberes Culturais e Educação

na Amazônia.

Orientadora: Profa. Dr. Maria do Perpétuo

Socorro Gomes de Souza Avelino de França.

Belém/PA

2016

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Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)

Biblioteca do CCSE/UEPA, Belém - PA

Costa, Luciana Dias da

A instituição cristã espirita “Lar de Maria” : um templo de amor, caridade

e educação de crianças pobres em Belém-PA (1974-1960) / Luciana Dias da Costa

; orientação de Maria do Perpétuo Socorro Gomes de Souza Avelino de França,

2016.

Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade do Estado do Pará,

Belém, 2016.

1. Educação-História-Belém-PA. 2. Espiritismo. 3. Instituições religiosas.

I.França, Maria do Perpétuo Socorro Gomes de Souza Avelino de (orient.). II.

Título.

21º ed. 370.9

Page 4: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

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LUCIANA DIAS DA COSTA

A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM

TEMPLO DE AMOR, CARIDADE E EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS

POBRES EM BELÉM – PA (1947-1960)

Dissertação apresentada como requisito obrigatório para

a obtenção do título de Mestre em Educação, no

Programa de Pós-Graduação em Educação da

Universidade do Estado do Pará.

Orientadora: Profa. Dr. Maria do Perpétuo Socorro

Gomes de Souza Avelino de França.

Data da defesa:___/___/2016.

Banca Examinadora:

_______________________________________ (Presidente/ Orientadora)

Profª. Dr. Maria do Perpétuo Socorro de Souza Avelino de França

Doutora em Educação – Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP/SP)

______________________________________ (Membro Interno)

Profª. Dr. Tânia Regina Lobato dos Santos

Doutora em Educação – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP)

_______________________________________(Membro Externo)

Profª. Dr. Laura Maria Silva Araújo Alves

Doutora em Psicologia da Educação – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

(PUC/SP)

Belém/PA

2016

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4

“Aos meus queridos pais, Carmen da Conceição

Dias e José Emídio Gonçalves da Costa; aos

meus irmãos Fabricio Miguel Dias da Costa e

Fábio Roberto Dias da Costa; e ao meu primo

Welington Pinheiro”.

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5

AGRADECIMENTOS

Agradeço inicialmente a DEUS, que foi meu maior porto seguro, por me acompanhar

durante essa árdua e intensa caminhada de dois anos, dando-me coragem e força nos

momentos de fraqueza.

Aos meus amados pais Carmen da Conceição Dias e José Emídio Gonçalves da Costa,

grandes exemplos de força, de coragem e de perseverança, a eles dedico essa vitória.

Obrigada! Amo vocês, Pai e Mãe!

Aos meus irmãos Fábio Roberto Dias da Costa e Fabrício Miguel Dias da Costa, que

contribuíram cada qual a sua maneira. Manos, amo vocês!

Sou também imensamente grata ao meu primo/irmão Welington Pinheiro, que me

ajudou lá no início desta caminhada e que não deixou de torcer por mim, para que eu pudesse

cumprir essa missão.

À minha querida orientadora Professora Doutora Maria do Perpétuo Socorro Gomes de

Souza Avelino de França, por toda dedicação e esforço em me orientar. Obrigada por

contribuir com tantos ensinamentos, tanto conhecimentos, tantas palavras de incentivo e

ajuda. Carrego tudo isso comigo juntamente com seu excelente exemplo de profissionalismo.

Que Deus continue sempre lhe abençoando.

As professoras Laura Maria Silva Araújo Alves e Tânia Regina Lobato dos Santos pelas

valiosas contribuições dadas durante a realização do exame de qualificação.

Ao Programa de Pós-Graduação, Stricto sensu da Universidade do Estado do Pará

(UEPA), por dar oportunidade às pessoas que se interessam em pesquisar a educação na

Amazônia.

Aos Professores do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGED-UEPA), pela

oportunidade de trilhar caminhos investigativos e de muito estudo sobre a educação.

Aos colegas do Grupo de pesquisa História da Educação da Amazônia (GHEDA), pelos

conhecimentos compartilhados.

A CAPES pela importante contribuição financeira para que esta pesquisa se

concretizasse.

À Fátima Santos, funcionária da instituição Lar de Maria que, prontamente,

disponibilizou documentos, colaborando para realização desta pesquisa. A todos os

funcionários do Centro Cultural Tancredo Neves (CENTUR), em especial os do setor dos

jornais microfilmados, guardiões da memória.

Page 7: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

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RESUMO

COSTA, Luciana Dias da. A Instituição Cristã Espírita “Lar De Maria”: um templo de

Amor, Caridade e Educação de Crianças Pobres em Belém – Pa (1947-1960). 2016. 184 f.

Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade do Estado do Pará, Belém, 2016.

O presente estudo teve como objetivo geral analisar os princípios da doutrina espírita que

serviram de base para a educação de crianças pobres na Instituição Cristã Espirita “Lar de

Maria”, no período de 1947 a 1960, em Belém do Pará. Os objetivos específicos se

constituem em: identificar os tipos de educação que eram oferecidos às crianças no “Lar de

Maria”; caracterizar a estrutura administrativa e os espaços educativos da Instituição; verificar

quais os critérios para a admissão de crianças no “Lar de Maria”; e investigar que

ensinamentos faziam parte da educação das crianças na instituição “Lar de Maria”. Para isso,

utilizo a pesquisa documental, na perspectiva da história cultural, tendo como principais

fontes de informações: o estatuto do “Lar de Maria”, as fotografias do acervo da referida

instituição e as notícias extraídas do jornal Folha do Norte, um dos principais impressos

jornalísticos em circulação entre os anos de 1947 a 1960. A discussão teórica é norteada por

estudiosos da história das instituições educativas, como: Magalhães (2012), Buffa e Nosella

(2009), Gatti (2002), Saviani (2007), Castanho (2005), Goffman (1961), Foucault (1987).

Além de estudiosos que versam sobre o Espiritismo, tais como: Santana (2006), Vilhena

(2008), Kardec (2013), Kloppenburg (1960), Vasconcellos (2010), Bettencourt Osb (2012),

Del Priore (2014) e diversos que discutem a história da Amazônia: Rocque (1968), Sarges

(2010), Sampaio (2015), entre outros. O “Lar de Maria” foi uma das primeiras instituições

fundamentadas na doutrina espírita criada em 1947, em Belém no Pará, por Oliveiros de

Assunção Castro, oficial da aeronáutica e seguidor do espiritismo. A instituição teve grande

expressividade na assistência e educação de crianças, oriundas dos bairros mais carentes da

capital, oferecendo alimentação e cuidados médicos, tendo se constituído em um espaço para

a divulgação da doutrina espírita. No “Lar de Maria”, as crianças recebiam instrução e

educação, fundamentadas nessa doutrina. A educação para o espiritismo é entendida como

aperfeiçoamento das faculdades do espírito. Ela compreende a bondade, o senso de justiça e o

cultivo da verdade. O de “Lar de Maria” atendia meninas de diversas idades ofertando-lhe

educação moral, espiritual, instrução primária e profissional doméstica. As festas realizadas

no Lar de Maria cumpriam tanto uma função educativa como um momento de propagação dos

preceitos espíritas, dentre as principais festas, destacam-se: o Natal, o Aniversário da

Instituição, a Festa da Criança, a Festa 7 de Setembro e a Semana Espírita. Os princípios da

doutrina espírita que sustentam a instituição são: caridade, amor e liberdade.

Palavras-chave: Instituição Cristã Espírita “Lar de Maria”. Espiritismo. Educação de

Crianças. História da Educação. Belém-Pará.

Page 8: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

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ABSTRACT

COSTA, Luciana Dias da. The Spiritist Christian Institution "Lar De Maria": a temple

of Love, Charity and Education of Poor Children in Belém – Pa (1947-1960). 2016. 184 f.

Dissertation (Master in Education) – University of Pará State, Belém, 2016.

The purpose of this study is to analyze the principles of the Spiritist doctrine that served as a

basis for the education of poor children in the Christian Home Institution "Lar de Maria",

from 1947 to 1960, in Belém do Pará. The specific objectives are: to identify the types of

education that were Offered the children in the "Lar de Maria", characterize the administrative

structure and educational spaces of the Institution, check the criteria for admission of children

not "Lar de Maria" and investigate what lessons were part of the education of children in the

institution "Lar de Maria". In order to do this,I use documentary research in the perspective of

cultural history, having as main sources of information: the institution’s statute, such as

photographs of the collection of the institutional link and news extracted from the Folha do

Norte newspaper one of the main press Between the years of 1947 to 1960. The theoretical

discussion is guided by scholars of the history of educational institutions such as Magalhães

(2012), Buffa and Nosella (2009), Gatti (2002), Saviani (2007), Brown (2005), Goffman

(1961), Foucault , And Priest (2014), as well as authors such as Santana (2006), Vardena

(2008), Kardec (2013), Kloppenburg (1960), Vasconcellos (2010), and several that discuss the

history of the Amazon: Rocque (1968), Sarges (2010), Sampaio (2015), among others. The

"Lar de Maria" was created in 1947, in Belém, Pará, by Oliveiros de Assunção Castro, an

aeronautics official and follower of spiritism. The institution had great expressiveness in the

care and education of children from the poorest neighborhoods of the capital, offering food

and medical care, and has become a space for spiritist doctrine. In the “Lar de Maria”, the

children received education, based on this doctrine. Education for spiritualism is understood

as an improvement of the faculties of the spirit. This education is composed of goodness, a

sense of justice, and the cultivation of truth. Maria's Home ministered to girls of diverse ages

offering them moral, spiritual, primary education and domestic professional education. The

celebrations held in the Lar de Maria fulfilled both an educational function and a moment of

propagation of the spiritist precepts, among the main festivals, which stood out: Christmas,

Institution's aniversary, Children's Party, 7th of September Party and Spiritist Week. The

principles of the spiritist doctrine that sustains the institution are: charity, love and freedom.

Keywords: Spiritist Christian Institution "Lar de Maria". Spiritism. Education of children.

History of Education. Belém-Pará.

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LISTA DE IMAGENS

Imagem 1 Irmãs Fox ................................................................................................. 32

Imagem 2 Margaret e Kate Fox ................................................................................ 33

Imagem 3 Mesas Girantes ou Volantes .................................................................... 35

Imagem 4 Mesas volantes: introdução ao Espiritismo entre a Burguesia da

Europa......................................................................................................

37

Imagem 5 Allan Kardec ............................................................................................ 39

Imagem 6 Luiz Olímpio Teles de Menezes .............................................................. 43

Imagem 7 Primeira página de Ècho d’Além-Tumulo, primeiro jornal dedicado ao

espiritismo no Brasil ................................................................................

46

Imagem 8 Francisco Solerno Moreira ...................................................................... 54

Imagem 9 Oliveiros de Assunção Castro ................................................................. 59

Imagem 10 Casa de Paulo de Tarso – Maranhão ....................................................... 60

Imagem 11 Parte do cartão comemorativo de fundação ............................................ 68

Imagem 12 Terreno doado pela prefeitura ao lado do Mercado de São Brás

(1947).......................................................................................................

69

Imagem 13 Planta da Instituição “Lar de Maria” (1947)............................................ 69

Imagem 14 Pedra Fundamental para a Construção do “Lar de Maria”....................... 71

Imagem 15 O engenheiro e arquiteto Judah Levi e trabalhadores da obra

(1947).......................................................................................................

72

Imagem 16 Edificação do “Lar de Maria”(1947)........................................................ 76

Imagem 17 Campanha do Quilo nas ruas (1947)........................................................ 77

Imagem 18 Campanha do Quilo e seus Legionários (1947)....................................... 78

Imagem 19 Distribuição da Sopa aos Pobres – sede provisória (1947)...................... 79

Imagem 20 Construção dos primeiros alicerces da Instituição Lar de Maria

(1949).......................................................................................................

80

Imagem 21 Parte Central da Instituição “Lar de Maria” em fase de acabamento

(1954).......................................................................................................

81

Imagem 22 Prédio do “Lar de Maria” totalmente construído (1957).......................... 81

Imagem 23 Instituição “Lar de Maria” (1957)............................................................ 83

Imagem 24 Distribuição do espaço físico da instituição “Lar de Maria”.................... 84

Imagem 25 Berçário.................................................................................................... 86

Imagem 26 Ambulatório ............................................................................................. 87

Imagem 27 Salão Central da Escola ........................................................................... 88

Imagem 28 Teatro........................................................................................................ 89

Imagem 29 Interna tocando Piano .............................................................................. 90

Imagem 30 Refeitório.................................................................................................. 90

Imagem 31 Dia da inauguração da Instituição Cristã Espirita “Lar de

Maria”(1957)............................................................................................

92

Imagem 32 Senhor Otávio Beltrão (1957).................................................................. 93

Imagem 33 Coquetel servido na inauguração da instituição (1957)........................... 95

Page 10: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

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Imagem 34 Dr. Salomão Levy delegado da Federal da Criança, Oswaldo Pacheco

Dillon (1957)............................................................................................

95

Imagem 35 Crianças no Berçário do “ Lar de Maria” (1957)..................................... 97

Imagem 36 Instituição Cristã Espírita “Lar de Maria”................................................ 98

Imagem 37 Três irmãs: Lúcia, Maria Augusta e Iolanda ........................................... 109

Imagem 38 As duas irmãs: Raimunda e Meriete......................................................... 110

Imagem 39 Órfão recém-chegado à instituição........................................................... 114

Imagem 40 Grupo de alunas e professoras do Departamento de Prendas .................. 126

Imagem 41 Alunas do Departamento de Prendas do “Lar de Maria” ........................ 127

Imagem 42 Alunas na confecção de Doces ................................................................ 128

Imagem 43 Alunas na confecção de Frios .................................................................. 128

Imagem 44 Aniversário da Instituição “Lar de Maria”, crianças brincando junto

com diretores (1958)................................................................................

132

Imagem 45 Aniversário da Instituição “Lar de Maria” crianças brincando

(1958).......................................................................................................

133

Imagem 46 Aniversário da Instituição “Lar de Maria” crianças à mesa (1958)....... 133

Imagem 47 Aniversário da Instituição “Lar de Maria” interna recebendo presente

(1958).......................................................................................................

135

Imagem 48 Banda Flor de Lys no aniversário da Instituição “Lar de Maria” ........... 136

Imagem 49 Festa da Criança no ano de 1959.............................................................. 139

Imagem 50 Festa da Criança no ano de 1959.............................................................. 139

Imagem 51 Festa da Criança no ano de 1959.............................................................. 140

Imagem 52 Festa da Criança no ano de 1959, interna recitando ou apresentando...... 141

Imagem 53 Crianças do Lar de Maria organizadas para o desfile militar 7 de

Setembro...................................................................................................

142

Imagem 54 Crianças do Lar de Maria organizadas para o desfile militar 7 de

Setembro-Bairro São Brás........................................................................

142

Imagem 55 Internas, Assistentes e Oliveiros de Castro cantando Canção da

Alegria Cristã...........................................................................................

143

Imagem 56 Reuniões públicas..................................................................................... 156

Page 11: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

10

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Espiritismo e suas realizações no Brasil ............................................... 47

Quadro 2 O Espiritismo no Brasil – População Espírita 1950............................... 48

Quadro 3 Espiritismo e suas realizações no Pará .................................................. 55

Quadro 4 Canção da Alegria Cristão e Canção de Exortação do Mestre ........... 61

Quadro 5 Canção Quem Canta ............................................................................. 62

Quadro 6 Grupos espíritas de Belém..................................................................... 74

Quadro 7 Constituição da Primeira Diretoria – 1957............................................ 101

Quadro 8 Constituição da Diretoria – 1959 a 1961............................................... 102

Quadro 9 Programação da Festa da Criança – 1958.............................................. 137

Quadro 10 Atividades à comunidade....................................................................... 144

Page 12: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

11

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................................. 13

1 MOTIVAÇÃO DO ESTUDO.................................................................................... 13

2 PROBLEMA E OS OBJETIVOS DO ESTUDO..................................................... 15

3 INSTITUIÇÕES EDUCATIVAS............................................................................. 18

4 A PESQUISA DOCUMENTAL, CORPUS DA PESQUISA E O

PROCEDIMENTO DE ANÁLISE..............................................................................

21

SEÇÃO 1: AS ORIGENS DO ESPIRITISMO: de espetáculo de entretenimento

à doutrina de caridade ao próximo..............................................................................

31

1.1 O ESPIRITISMO NOS ESTADOS UNIDOS E NA FRANÇA...................... 31

1.2 A CHEGADA DO ESPIRITISMO NO BRASIL............................................. 42

1.3 ESPIRITISMO EM BELÉM DO PARÁ........................................................... 48

SEÇÃO 2: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: a

construção do prédio e dos seus espaços educativos...................................................

58

2.1 OLIVEIROS DE ASSUNÇÃO CASTRO: o criador do “Lar de Maria”.......... 58

2.2 A CONSTRUÇÃO DO “LAR DE MARIA”: Espaço Físico Educativo........... 66

2.3 AS INICIATIVAS PARA A EDIFICAÇÃO DO “LAR DE MARIA”............ 72

2.4 A INAUGURAÇÃO DO “LAR DE MARIA”.................................................. 91

SEÇÃO 3: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA LAR DE MARIA: assistência

e educação às crianças pobres......................................................................................

98

3.1 A ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DO “LAR DE MARIA”.............. 99

3.2 A INTERNAÇÃO E OS INTERNADOS NA INSTITUIÇÃO ESPÍRITA

“LAR DE MARIA”...........................................................................................

107

3.3 INSTRUÇÃO E EDUCAÇÃO NA INSTITUIÇÃO “LAR DE MARIA”....... 121

3.4 FESTAS NA INSTITUIÇÃO ESPÍRITA “LAR DE MARIA”....................... 130

3.5 A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA LAR DE MARIA: atendimento aos

mais necessitados...............................................................................................

144

CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................... 147

Page 13: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

12

FONTES CONSULTADAS.........................................................................................

152

REFERÊNCIAS............................................................................................................ 156

ANEXOS........................................................................................................................ 163

ANEXO A – Estatuto do Lar de Maria...........................................................................

164

APÊNDICES................................................................................................................. 180

APÊNDICE A – Dissertações de Mestrado do Pará....................................................... 181

APÊNDICE B – Produções Nacionais........................................................................... 182

Page 14: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

13

INTRODUÇÃO

1 MOTIVAÇÃO DO ESTUDO...

A pesquisa, intitulada Instituição Cristã Espírita “Lar de Maria”: um Templo de Amor,

Caridade e Educação de Crianças Pobres em Belém do Pará (1947 – 1960), está vinculada

ao Programa de Pós-Graduação em Educação Stricto sensu (PPGEd), da Universidade do

Estado do Pará (UEPA) e faz parte da linha de pesquisa Saberes Culturais e Educação na

Amazônia, que investiga temas educacionais relacionados ao contexto brasileiro e amazônico.

Além disso, tem como objetivo contribuir para a construção de práticas sócio-culturais, ética,

epistemológica e politicamente, comprometidas com os saberes de grupos socialmente

excluídos, bem com fortalecer a identidade cultural da Amazônia.

Acrescento que a presente pesquisa está vinculada também ao Grupo de Pesquisa

História da Educação na Amazônia (GHEDA) da UEPA, que integra a linha de História das

Instituições Educativas, Intelectuais e Impressos, e tem como objetivo investigar e debater

temas ligados a História da Educação, especificamente sobre as instituições educativas,

intelectuais e as suas ideias em diferentes tempos históricos.

O interesse em desenvolver pesquisa referente à educação de crianças se originou ao

longo da realização de meu curso de Pedagogia (2005), na Universidade Federal do Pará

(UFPA), a partir da realização das disciplinas: História Geral da Educação (2005) e História

da Educação Brasileira e da Amazônica (2006), Fundamentos Teórico Metodológico da

Educação Infantil (2007) e Prática de Ensino da Educação Infantil (2007). Tais disciplinas

foram muito significantes na minha vida acadêmica, visto que suscitou o interesse em estudar

aspectos inerentes a criança, no que concerne a educação da infância, ao processo de ensino e

aprendizagem, saberes e as práticas produzidas para educação delas, entre outras.

Já a motivação em investigar, particularmente, a história de instituição educativa,

voltada à assistência e educação de crianças, surgiu em 2012, durante a realização do I

Seminário de História da Infância na Amazônia, promovido pelo grupo de Pesquisa

Constituição do Sujeito (ECOS), do Instituto de Ciência da Educação (ICED), da

Universidade Federal do Pará, que tinha o intuito de ampliar o debate a respeito da Infância

do século XIX ao XX, promovendo discussões sobre práticas culturais, educação escolar, a

criança desvalida, instituições de asilamento, castigos e violência escolar etc.

Os objetivos desse seminário era reunir professores e pesquisadores da Educação para

discutir e problematizar sobre a história da infância na Amazônia, bem como: divulgar

estudos sobre infância, educação e cultura, realizados pelo grupo ECOS; promover também

Page 15: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

14

intercâmbio entre os pesquisadores por intermédio de reflexão e diálogo a respeito da

Educação e Estudos sobre a Infância na região Amazônica.

Além desses objetivos, o Seminário objetivava: aprofundar conhecimentos sobre as

diversas abordagens teórico-metodológicas nas pesquisas sobre a Educação, Cultura e

História da Infância; refletir criticamente sobre a importância da história da infância, como

meio para resgatar a infância do século XIX e século XX, entre os Mestrandos e Doutorandos

do grupo ECOS; consolidar as pesquisas realizadas pelos pesquisadores e dos professores

pesquisador do PPGEd da UFPA; e por fim aproximar os alunos de Graduação com as

pesquisas realizadas pelo Grupo ECOS na Pós-Graduação em Educação.

Durante esse evento, tive a oportunidade de conhecer pesquisas sobre a educação da

infância na região amazônica e, dessa maneira, ampliar o interesse em estudar a temática das

instituições educativas. A partir disso, busquei aprofundar os meus estudos sobre a história da

educação da infância desvalida no Brasil e das instituições educativas destinadas às crianças,

por meio de leituras de autores renomados, como: Phillip Ariés (1981), Del Priore (1999),

Kramer (1992), Magalhães (2012), Buffa e Nosella (2009), Gatti Jr. (2002), Saviani (2007) e

de anais de eventos de História da Educação, que socializavam estudos sobre as instituições

para o cuidado e assistência à infância.

Na busca de informações sobre as instituições educativas, criadas em Belém no século

XIX e XX, deparei-me com o site chamado Nostalgia Belém1, que apresenta fragmentos da

história da cidade de Belém do Pará, vividos por quase 400 anos de fundação, seja a partir de

propagandas, personalidades, fatos marcantes, instituições, entre outros. Em um dia de visita

ao site, deparei-me com a divulgação de fotos e informação sobre a Instituição Cristã Espírita

“Lar de Maria”, ao fazer a leitura dessa postagem, percebi que essa instituição teve um papel

relevante na assistência e na educação de crianças pobres em Belém do Pará a partir do ano de

1947.

Após esse primeiro contato, alguns fatores fizeram com que o “Lar de Maria” fosse

escolhido como objeto de investigação: primeiro por se tratar de espaço para o atendimento e

a educação de crianças pobres de Belém; segundo por ser uma das primeiras instituições

fundamentadas na doutrina espírita, criadas no Pará, com a finalidade de atender e educar a

infância desvalida; e, por fim, por não ter ainda estudos que se ‘debruçaram’ em pesquisá-la

na perspectiva histórica.

1Disponível em: < http://www.nostalgiabelem.com/>. Acesso em: 14 fev. 2015.

Page 16: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

15

O interesse em realizar um estudo sobre História das instituições educativas,

especificamente a instituição “Lar de Maria” se ampliou a partir da minha aprovação no

processo seletivo em 2014 do Programa de Pós-Graduação em Educação Stricto sensu

(PPGEd) da Universidade do Estado do Pará (UEPA) quando elaborei e apresentei uma

proposta de pesquisa voltada ao estudo da instituição Cristã Espírita “ Lar de Maria” que já

vinha estudando e investigando, antes mesmo do meu ingresso no Programa.

No decorrer do estudo, outro momento, fundamental para consolidação do meu

interesse em de estudar a Instituição “Lar de Maria”, foi quando descobri, ao manusear o

jornal Folha do Norte, no setor de impressos microfilmados da Biblioteca Arthur Viana,

localizada no Centro Cultural Tancredo Neves (CENTUR), a coluna espírita que trazia

semanalmente notícias detalhadas sobre o “Lar de Maria”. A partir disso pude constatar que o

referido jornal possibilitava a realização de minha pesquisa sobre a citada instituição.

2 PROBLEMA E OS OBJETIVOS DO ESTUDO

Ao eleger estudar o “Lar de Maria” tive a necessidade de fazer um estudo exploratório

no site da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) para

saber o que já havia sido produzido sobre as instituições educativas espíritas no Brasil. No

levantamento realizado no ano de 2014, constatei que há poucos estudos acadêmicos sobre o

atendimento e a educação da criança desvalida em instituições, pautadas nos princípios do

espiritismo, o que reforçou ainda mais o meu interesse para investir sobre a relação entre

doutrina espírita, educação, assistência e infância.

O levantamento no Banco de Teses e Dissertações da Capes2 teve como marco temporal

os anos de 2000 a 2015. Para rastrear as produções, selecionei expressões gerais, como:

Instituição e Infância e História da Infância no Pará; bem como expressões específicas à

temática: Instituição Espírita, Infância e Espiritismo e Educação e Assistência no

Espiritismo. Essa busca resultou em 16 trabalhos: onze dissertações de Mestrado e cinco

teses de Doutorado.

Nas produções desenvolvidas sobre a história da educação da infância, no Pará,

identifiquei quatro trabalhos, como demonstrado no APÊNDICE A, sendo: duas dissertações

de Mestrado na Universidade Federal do Pará (UFPA) e três dissertações de Mestrado na

Universidade do Estado do Pará (UEPA). Os trabalhos apresentados abordam instituições

2 Disponível em:< http:// http://www.capes.gov.br/component/content/article?id=2164>. Acesso em: 14 fev.

2015.

Page 17: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

16

mantidas pelo poder público, municipal e congregações religiosas que abrangem o século XIX

e XX no atendimento à criança desvalida.

No cenário nacional, o rastreamento sinalizou doze produções, sistematizadas no

APÊNDICE B, sendo: cinco teses de Doutorado e sete dissertações de Mestrado. A

distribuição geográfica de produção dos estudos corresponde a três estudos no Sul, nas:

Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e

Universidade Estadual de Maringá (UEM); um estudo na Universidade Federal do Mato

Grosso do Sul (UFMS) e cinco estudos no Sudeste, sendo: dois na Universidade Federal de

Uberlândia (UFU), um na Universidade Severino Sombra (USS), um pela Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo (PUC), um pela Universidade de Sorocaba (UNISO). No

Nordeste figuram três estudos: um na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), um na

Universidade Federal do Sergipe (UFS) e um na Universidade Federal do Rio Grande do Sul

(UFRS).

A partir do demonstrativo representado pelo levantamento das produções desenvolvidas

tanto regionalmente quanto nacionalmente, foi possível perceber que são poucas as pesquisas

que se aproximam do meu objeto de estudo, pois somente identifiquei os estudos: Lar escola

Dr. Leocádio José Correia: história de uma proposta de formação na perspectiva

educacional espírita (1963-2003), de Fucker (2009); e Educandário Espírita Ituiutabano:

caminhos cruzados entre inovação e sua organização conservadora. Ituiutaba, Minas Gerais

(1954-1973), de Neto (2009). Na maioria dos trabalhos encontrados, ainda é bem evidente a

relação entre Igreja Católica e Educação da infância.

Fucker (2009), em sua dissertação de Mestrado defendida em 2009, no Programa de

Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná, pesquisou sobre a trajetória

histórica da Instituição “Lar Escola Dr. Leocádio José Correia”, no período entre 1963 e 2003.

A autora constata, por meio de fontes escritas e orais, que a fundação dessa instituição em

Curitiba foi realizada dia 15 de janeiro de 1963 pelo professor e médium, Maury Rodrigues da

Cruz, integrante da Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas (SBEE).

A autora, ainda, destaca que, era uma instituição filantrópica e educacional, destinada a

acolher, a educar e a amparar meninos órfãos. Além disso, tinha por objetivo estudar as

manifestações espíritas, divulgar os princípios da doutrina dos espíritos e proporcionar

assistência social às famílias carentes.

Sobre a criação dessa instituição que fazia referência aos princípios doutrinários

espíritas e uma proposta pedagógica que norteava um ensino que valorizava a razão, Fucker

(2009, p. 18) assinala que:

Page 18: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

17

O Lar Escola Dr. Leocádio José Correia sendo uma Instituição espírita,

possui princípios norteadores de todas as ações, voltados para a

espiritualização do homem. O homem espiritualizado exercita o domínio

mental, a fé racional, a força do autoconhecimento, a reflexão crítico-

consciente, num processo diário e permanente, busca na força do

conhecimento, alegria, compreensão, amor e identidade com o próximo.

Os trabalhos educativos e assistenciais do Lar Escola Dr. Leocádio era mantido por

meio de voluntários, mas depois houve o convênio com prefeitura e com a secretaria de

educação, assim permitindo novos professores para o ensino na instituição.

Fucker (2009) aponta que a Instituição segue o referencial da doutrina espírita pautada

na relação de construção da pessoa humana, juntamente com a prática de amor e caridade na

educação.

Sobre a relevância da pesquisa realizada, Fucker (2009) aponta que contempla aspecto

de uma educação diferenciada por sustentar uma prática na doutrina espírita, na cultura

escolar espírita que educa por meio do amor, do espiritismo que forma o um sujeito com

ideal, força para agir no mundo e muda-lo.

Frattari Neto (2009), ao estudar sobre o Educandário Espírita Ituiutabano: caminhos

cruzados entre inovação e sua organização conservadora. Ituiutaba, Minas Gerais (1954-

1973), por meio de documentação escolar, analisou: atas, relatório anuais e processos de

abertura, atas de Câmara de dos vereadores, impressa local, fotos e entrevistas com ex-

funcionários, ex-professores e ex-alunos. Sua dissertação de Mestrado foi defendida em 2009,

pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Uberlândia, onde

ficou constatado que o Educandário Ituiutabano, em Minas Gerais, foi construído e mantido

pela União Espírita de Ituiutaba (UMEI) e também por meio de campanhas.

O autor ainda salienta que o Educandário se assemelha as outras experiências educativas

espíritas no Brasil. E que este se propôs sanar uma carência educacional na cidade de

Ituiutaba, apresentando uma proposta educativa pautada na filosofia espírita para formação de

um homem integral. Além disso, o Educandário era aberto para todas as pessoas, fornecendo

ensino do Espiritismo, formação moral do Ser, fundamentado na prática de caridade e

assistência.

O cenário delineado do que se tem produzido nos últimos anos por esse rastreamento,

revela que tal temática ainda é bastante fértil em termos de investigação e, no caso do

contexto paraense, isso se torna relevante para ser alvo de investimentos de pesquisadores da

História da Educação, tendo em vista que nenhum estudo foi encontrado sobre o objeto de

estudo “Instituição Lar de Maria”.

Page 19: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

18

A partir do que ainda pouco se conhece sobre o “Lar de Maria”, delimitei o seguinte

problema de pesquisa: que princípios da doutrina espírita serviram de base para a

educação das crianças na instituição Cristã Espírita “Lar de Maria”, no período de 1947

a 1960?

Para responder tal questionamento, o objetivo geral da investigação é:

Analisar os princípios da doutrina espirita que serviram de base para a educação de

crianças no “Lar de Maria”, no período de 1947 a 1960, em Belém do Pará.

Os objetivos específicos são:

Identificar os tipos de educação que eram oferecido as crianças no “Lar de Maria”.

Caracterizar a estrutura administrativa e os espaços educativos da Instituição “Lar de

Maria”.

Verificar quais os critérios para a admissão de crianças no “Lar de Maria”.

Investigar que ensinamentos faziam parte da educação das crianças na instituição “Lar

de Maria”.

A delimitação temporal da investigação se justifica por 1947 ser o ano de criação do

“Lar de Maria”, e 1960 demarcar os três primeiros anos de funcionamento da instituição em

prédio próprio, uma vez que a inauguração do prédio que abrigava as crianças foi em 1957,

ano em que foi concluído. Isso pode ajudar a compreender como foi a implantação e a

dinâmica dessa instituição nos seus primeiros anos de seu funcionamento.

3 INSTITUIÇÕES EDUCATIVAS

Esta pesquisa se insere no campo temático da História das Instituições Educativas que,

por sua vez, está inserido no campo mais abrangente, o da História da Educação. Segundo

Magalhães (1999, p.67), a história da educação apresenta-se como área de conhecimento que

tem como objeto de estudo a educação, “[...] a partir de uma abordagem historiográfica, com

base em conceitos e conceptualizações de natureza pedagógica/educacional: antropológicos,

filosóficos, didáticos, sociológico, psicológico, axiológicos, organizacionais,

historiográficos”.

Para Saviani (2007, p. 5), as instituições são espaços criados pelo homem com intuito de

satisfazer as necessidades humanas, logo, às instituições são geradas como unidades de ação

que se constituem “[...] como um sistema de práticas com seus agentes e com os meios e

instrumentos por eles operados tendo em vista as finalidades por elas perseguidas”, portanto,

as instituições são impreterivelmente sociais.

Page 20: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

19

Além disso, as instituições são também histórias e transitórias, logo, não pode ser

considerada estagnada. Saviani (2007, p.5) ainda afirma que a “[...] sua transitoriedade se

definem pelo tempo histórico e não, propriamente, pelo tempo cronológico e, muito menos,

pelo tempo psicológico”.

Saviani (2007, p.5) destaca que:

Para satisfazer necessidades humanas as instituições são criadas como

unidades de ação. Constituem-se, pois como um sistema de práticas com

seus agentes e com os meios e instrumentos por eles operados tendo em vista

as finalidades por eles perseguidas. As instituições são, portanto,

necessariamente sociais, tanto na origem, já que determinadas pelas

necessidades postas pelas relações entre os homens, como no próprio

funcionamento, uma vez que se constitui como conjunto de agentes que

travam relações entre si e com a sociedade a qual servem.

Sergio Castanho (2005, p. 40) apropria-se desse pensamento, quando ressalta que a “[...]

instituição educativa é um termo mais amplo e abrange não somente a escola, como a

conhecemos, no seu envolver histórico, mas também outras formas sociais duradoras, em que

se desenrola o processo de transmissão cultural”.

A discussão em torno do campo da História da Educação no Brasil, especificamente no

campo temático da história das instituições, de acordo com Buffa e Nosella (2009), surge a

partir dos anos 90, mas de forma esporádica. Com a expansão dos programas de Pós-

Graduação em educação nos anos de 1970 e 1980, houve o crescimento de estudos nessa

direção.

A História das Instituições Educativas, em termos cronológico, é uma recente tendência

da historiografia e vem obtendo grandes avanços de estudos na história da educação no Brasil.

Segundo Gatti Jr. (2000, p.135), as instituições educativas:

Correspondem a uma tendência nova da historiografia, a qual atribui

significância epistemologia e temática ao exame das singularidades sociais

em detrimento das precipitadas análise de conjunto, que, sobretudo, na área

educacional na área educacional faziam-se presente. Os textos de História da

Educação mais utilizados nos Cursos de Pedagogia brasileiros da atualidade

têm como característica um tipo de análise macro-sociológica, com pouco ou

nenhum trato com as fontes primárias que foram substituídas quase sempre

pela consulta às fontes secundárias.

Estudar a história das instituições educativas permite compreender discursos e práticas

vivenciadas por seus sujeitos tanto no interior da instituição quanto também ao seu entorno,

direcionando para o seu plano histórico, social e também cultural.

No entendimento de Magalhães (1998, p. 63-64),

Page 21: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

20

[...] no plano histórico, uma instituição educativa é uma complexidade

espaço-temporal, pedagógica, organizacional, onde se relacionam elementos

matérias e humanos, mediante papéis e representações diferenciados,

entretecendo e projetando futuro (s), (pessoais), através de expectativas

institucionais. É um lugar de permanentes tensões. [...] são projetos

arquitetados e desenvolvidos a partir de quadros sócio-culturais.

Segundo Gatti Jr. (2002, p. 20), a História das Instituições Educativas vem propor e

investigar ações que passam no interior da escola, elementos esses que direcionam a

identidade da instituição. Essa investigação passa pela: “[...] apreensão daqueles elementos

que confere identidade à instituição educacional, ou seja, daquilo que lhe confere um sentido

único no cenário social do qual fez, ou ainda faz parte, mesmo que ela tenha se transformado

no decorrer dos tempos [...]”.

Nas palavras de Sanfelice (2007, p.77), “[...] uma instituição escolar ou educativa é a

síntese de múltiplas determinações de variadas instância como política, cultural, religiosa,

ideológica, dentre outras, que agem e interagem entre si”, logo, ao estudar uma instituição

educativa será necessário considerar essas instâncias que por ela perpassam.

Por isso, ao investigar uma instituição educativa deve-se buscar compreender o

desenvolvimento, ou seja, sua criação, suas crises, sua arquitetura, seus alunos e docentes,

seus projetos e suas propostas pedagógicas. Dessa maneira, ao estudar a história das

instituições escolares, o pesquisador deve ir além dos aspectos interiores que formam uma

instituição, pois uma instituição manifesta sua identidade não apenas no seu interior, mas

também no seu entorno, este que caminha junto à instituição, direcionando, desse modo, a

uma dimensão cada vez mais macro de seu contexto histórico.

Buffa e Nosella (2002) dizem que pesquisar as instituições educativas é uma forma de

direcionar uma análise da história e da filosofia da educação brasileira, sendo que, neste

sentido, as instituições estão impregnadas de valores de cada época. No que tange

especificamente às instituições de educação para crianças, é notável que o projeto educacional

nelas desenvolvidos, de modo geral, articulava-se ao próprio discurso social referente ao

papel que a criança deveria desenvolver na sociedade, o que vai estar bastante implícito,

inclusive, nas disciplinas, cursos e atividades realizadas pelas crianças nas instituições.

É importante salientar que as pesquisas sobre a história das instituições, nos últimos

anos, são voltadas aos estudos ligados às instituições regionais, direcionadas às

especificidades e as singularidades locais, mas sem perder de vista a realidade mais ampla,

isto é, o sistema educacional. Para Magalhães (1996, p.2):

Page 22: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

21

Compreender e explicar a existência histórica de uma instituição é, sem

deixar de integrá-la na realidade mais ampla que é o sistema educativo,

contextualizá-la, implicando no quadro de evolução de uma comunidade e de

uma região, é por fim sistematizar e (re)escrever-lhe o itinerário de vida na

sua multi-mensionalidade, conferindo um sentido histórico.

Desse modo, pretendo, com base nessa discussão teórica da História das Instituições

Educativas, investigar, neste estudo, o “Lar de Maria” em suas várias possibilidades de

materialização, no que diz respeito ao espaço físico, as festas, aos objetos materiais e seus

usos, as ideias e os princípios, propagados no tempo e espaço da educação e assistência das

crianças, assim como compreender tal instituição em sua relação com o contexto social,

político e econômico, onde ela está historicamente situada.

4 A PESQUISA DOCUMENTAL, CORPUS DA PESQUISA E O PROCEDIMENTO

DE ANÁLISE

A presente pesquisa se caracteriza como do tipo documental, pois fez uso de

documentos para situar e analisar o contexto da cidade de Belém à época e a assistência e

educação de criança do “Lar de Maria”. Segundo Oliveira (2007), nesse tipo de pesquisa, os

dados são coletados em fontes disponibilizados em certos locais, como: bibliotecas, arquivos

públicos, secretarias etc. Estes devem possibilitar, ao pesquisador, descrever, comparar,

estabelecer associações, conexões e diferenças ao longo do tempo.

Na compreensão de Carvalho (1989, p. 154), a pesquisa documental:

[...] é aquela realizada a partir de documentos considerados autênticos (não-

fraudados); tem sido largamente utilizada na investigação histórica, a fim de

descrever/comparar fatos sociais, estabelecendo suas características ou

tendências; além das fontes primárias, os documentos propriamente ditos,

utilizam-se as fontes chamadas secundárias, como dados estatísticos,

elaborados por institutos especializados e considerados confiáveis para a

realização da pesquisa.

Já no entendimento de Rodrigues e França (2010, p. 55), a pesquisa documental “[...]

utiliza materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que podem passar por

novas análises de acordo com os objetivos da pesquisa”. Nessa mesma visão, Gil (2008),

ressalta que esses materiais, ainda, podem ser reelaborados, de acordo com os objetivos da

pesquisa, e podem ser: relatórios, cartas, filmes, mapas, jornais, gráficos, fotografias, entre

outros.

Page 23: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

22

Ainda que a pesquisa documental seja pouco utilizada na área da educação, conforme

Cellard (2008), o uso de documentos, inserido nesse tipo de pesquisa, deve ser apreciado e

valorizado, pois eles possuem muitas informações sobre as atividades humanas em uma

determinada época, assim, justifica o seu uso em várias áreas das Ciências Humanas e Sociais,

pois possibilitará a ampliação do entendimento de seus objetos, cuja compreensão necessita

de contextualização histórica e sócio-cultural. Nesse sentido,

[...] o documento escrito constitui uma fonte extremamente preciosa para

todo pesquisador nas ciências sociais. Ele é, evidentemente, insubstituível

em qualquer reconstituição referente a um passado relativamente distante,

pois não é raro que ele represente a quase totalidade dos vestígios da

atividade humana em determinadas épocas. Além disso, muito

frequentemente, ele permanece como o único testemunho de atividade

particulares ocorridas nem passado recente. (CELLARD, 2008, p. 295).

Definir o que seria um documento não é tão simples assim, pois são inúmeros conceitos

direcionando ao que seria um documento, nas palavras de Cellard (2008, p. 296) “[...] definir

o documento representa em si um desafio”. A partir do resgate da definição da palavra

“documento”, no dicionário de Rios (1997, p. 211), este pode ser: “[...] 1. Aquilo que ensina

ou serve de exemplo ou prova de um acontecimento. 2. Título. 3. Qualquer objeto que

comprove, prove ou registre um fato”. Já para Phillips (1974, p. 187), documento é “[...]

quaisquer materiais escritos que possam ser usados como fonte de informação sobre o

comportamento humano”. Esses conceitos mostram claramente o documento como um

material escrito.

Appolinário (2009, p.67) amplia essa definição de documento aqui apresentada, quando

destaca que documentos são: “[...] qualquer suporte que contenha informação registrada,

formando uma unidade, que possa servir para consulta, estudo ou prova. Incluem-se nesse

universo os impressos, os manuscritos, os registros audiovisuais e sonoros, as imagens, entre

outros”.

Nessa mesma direção de ampliar a compreensão de documentos, Samara e Tupy (2007,

p.68 apud RODRIGUES; FRANÇA, 2010, p. 55-56, grifo das autoras) afirmam que:

[...] Os documentos assumem hoje as mais variadas formas e podem ser

encontrados nos mais diferentes lugares. As informações que se pretende

obter de um determinado objeto de estudo podem ser encontradas em livros,

revistas, correspondências, diários, noticiários de rádio, televisão, filmes,

internet, produções iconográficas, testemunhos orais, entre tantas outras.

“Logo diferentemente do passado, a democratização do conhecimento

incentiva uma rica discursão sobre a definição de documento, permitindo

Page 24: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

23

afirmar que a pesquisa histórica não se restringe ao espaço especializado do

arquivo”.

Além disso, a pesquisa documental reúne os documentos em dois tipos de fontes: as

primárias e as secundárias. “[...] Comumente a diferença entre as fontes primárias –

testemunho direto – e as fontes secundárias – testemunho indireto –, demanda certo cuidado

do pesquisador, visto ser possível utilizar as segundas como fontes primárias. [...]”

(RODRIGUES; FRANÇA, 2010, p. 60)

Segundo Sá-Silva, Almeida e Guindani (2009), o pesquisador que vier trabalhar com

documentos deve explorar o máximo esse documento para obter informação. Ele irá assumir

uma postura de investigador, examinando, criticando e analisando esses documentos, que

serão usados técnicas adequadas para seu manuseio e análise. Esse investigador partirá de

etapas e procedimentos, direcionando a uma organização de informações que serão

posteriormente categorizadas e analisadas, e, ao final, será elaborada uma síntese. Por isso, a

ação do pesquisador, que utiliza documentos para compreender um determinado objeto, deve

ter clareza que as suas escolhas refletem exatamente nos resultados da pesquisa.

Rodrigues e França (2010, p. 60-61) direcionam para a atenção do pesquisador perante a

ação com as suas fontes, assim:

O pesquisador, ao se debruçar sobre a leitura de um documento histórico,

deve identificar a sua forma material, seu conteúdo, os objetivos de quem o

produziu, de quem o lê e interpreta. Quando se inicia uma pesquisa

documental, é preciso conhecer a história do documento que se tem em mão,

buscando apreender sob que condições ele foi produzido, quem o escreveu,

deve identificar-se a sua forma material e o conteúdo que aborda [...] Na

análise documental, é preciso considerar que nenhum documento é neutro.

As fontes de informação deste estudo são: jornais impressos, o estatuto do “Lar de

Maria” e o acervo fotográfico pertencente à instituição. Os jornais selecionados e pesquisados

são a Folha do Norte, assim como recorremos as matérias mais contemporâneas que tratam da

história da instituição estudada como as do jornal O Liberal. Aqueles disponibilizados no

setor de impresso microfilmados; e estes na hemeroteca, ambos da Biblioteca Pública “Arthur

Viana”, no CENTUR, localizada na av. Gentil Bittencourt, n. 650, Nazaré, Belém – PA.

No jornal Folha do Norte havia uma coluna denominada Religiões e Crenças que

permitiu a obtenção de inúmeras informações sobre o “Lar de Maria”, uma vez que esta

coluna abordava de modo recorrente os princípios da doutrina espírita, as ações e as

campanhas referentes a essa instituição.

Page 25: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

24

Esse jornal foi fundado no ano de 1896 por Enéas Martins e Cypriano Santos, com o

objetivo de combater a política de Antônio Lemos, o proprietário do jornal A Província do

Pará. No ano 1922, a Folha do Norte passou a ser administrado pelo jornalista Paulo

Maranhão, tendo permanecido no cargo até sua morte em 1966. Em seguida, assume o jornal

o seu filho Clóvis Maranhão que, no ano de 1973, vende esse jornal de circulação em Belém

para o empresário Rômulo Maiorana, este que, em seguida, deu outra denominação para o

jornal que ficou conhecido como O Liberal. (JORNAIS PARAOARAS, 1985, p. 154).

É importante salientar que o jornal Folha do Norte era representado pelo Partido

Republicano Federal da época, capitaneado por Lauro Sodré.

Capelato (1988, p. 24-25) me direciona para a atenção ao jornal enquanto veículo que

uma sociedade produz, permeado de práticas sociais e reflexões de uma determinada época.

Nas palavras do autor:

Sua existência é fruto de determinadas práticas sociais de uma época. A

produção desse documento pressupõe um ato de poder no qual estão

implícitas relações a serem desvendadas. A imprensa age no presente e

também no futuro, pois seus produtores engendram imagens da sociedade

que serão reproduzidas em outras épocas.

Espig (1998, p. 274) defende que o jornal é um documento histórico importante para as

pesquisas, uma vez que ele se estabelece como um arquivo do cotidiano, visto que:

[...] possui toda uma série de qualidades peculiares, extremamente úteis para

a pesquisa histórica. Uma delas é a periodicidade, os jornais constituem-se

em verdadeiros arquivos do cotidiano, nos quais podemos acompanhar a

memória do dia a dia e estabelecer a cronologia dos fatos históricos. Outra

é a disposição espacial da informação, que nos permite a inserção do

acontecimento histórico dentro de um contexto mais amplo. E outro aspecto

singular do material jornalístico é o tipo de censura instantânea e imediata,

diferente de outras fontes que poderão ser submetidas a uma tiragem antes

de serem arquivadas [...].

O pesquisador ao escolher o jornal, como fonte de sua pesquisa, deve considerar

variados aspectos para análise e o manuseio. Primeiramente é necessário fazer a escolha de

uma temática ou assunto a ser investigado e em seguida fazer um recorte espacial do jornal

para que se inicie a procura do assunto de pesquisa. A partir disso, o pesquisador começa a

sua busca nos jornais, fazendo registros das notícias conforme a sua temática, mas essa ação

também dependerá do conhecimento prévio que o pesquisador deverá ter sobre o tema e o

período que está pesquisando.

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25

A partir de uma primeira leitura atenta e cuidadosa das notícias encontradas, o

pesquisador organizará estas em uma cronologia de acontecimentos para que posteriormente

esclareça o tema investigado. Isso tem o objetivo de oferecer uma base dos fatos e

acontecimentos de determinado assunto da pesquisa, sendo que essa ação do pesquisador

sobre a interpretação das notícias ‘achadas’ no jornal deve ser fiel ao conteúdo encontrado.

O acesso ao álbum de fotografias do acervo da instituição “Lar de Maria” ocorreu

mediante a emissão de um ofício da Universidade do Estado do Pará, para a direção da

instituição, onde foi solicitada autorização para a realização da pesquisa.

O álbum apresentava desgaste natural do tempo. Esse quando o encontrei estava dentro

de um caixote grande de plástico. Ao manuseá-lo percebi, logo de início, que se tratava de

álbum de fotografia bem antigo, pois tinha uma capa em madeira, e nele havia algo esculpido

que não consegui identificar. Essa capa estava solta do miolo de folhas que tinham as

fotografias.

Cada folha do álbum era separada por papel de seda e em cada folha havia uma

quantidade de, no máximo, quatro fotos fixadas. Muitas imagens ainda eram bem nítidas e

que algumas traziam ao lado descrições de pessoas ou lugar. No aspecto geral, o álbum do

ano 1947 possuía aparentemente 6 cm de altura, 30 cm de comprimento e 25 cm de largura,

contendo aproximadamente 30 folhas

De acordo com Borges (2005, p. 79), utilizar as fotografias “[...] para além da sua

dimensão plástica, nos coloca em contato com um sistema de significação das sociedades,

com suas formas de representação, com seus imaginários”. As fotografias possuem vários

sentidos, devendo o pesquisador estar atento a quem as produziu e com que finalidades.

Na história da educação, a imagem pode ser um tipo de fonte possível de ser utilizada

em pesquisas. A fotografia pode ser uma fonte histórica, onde podemos ler com frequência as

relações pessoais, as políticas e as de poder, permitindo, também, mostrar elementos que pode

nos aproximar das pessoas retratadas, assim como à sua época, por intermédio dos trajes, das

posturas, da expressão, dos cenários e dos ambientes registrados.

Para Leite (1993, p.19), a fotografia é um fragmento do passado que propícia diferentes

leituras, ao fazer relação com outros documentos e bem como pode ser entendida como “a

imitação da realidade”. Esse mesmo autor enfatiza que nas imagens fotográficas é possível

também revelar:

[...] “comportamentos, representações e ideologias”. Características físicas

da imagem fotográfica, como “tamanho, formato, suporte, enquadramento,

nitidez, planos, horizontalidade e verticalidade”, devem ser consideradas na

análise, assim como elementos explícitos e acessíveis na própria imagem

Page 27: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

26

retratada, como indumentária, objetos, área, expressões, poses. (LEITE,

1993, p.19, grifos do autor).

Leite (1993) destaca a importância de considerar todos essas aspectos da fotografia na

análise do pesquisador. Além disso, fotografia como fonte histórica pode ser entendida como

um documento e como preservação de uma memória do ponto de vista de quem o produziu.

Nesse entendimento Ciavatta (1998, p. 19) ressalta que:

A reflexão sobre a natureza documental da fotografia enfatizada em nosso

projeto implica também no seu tratamento enquanto monumento, ou seja, na

análise de sua condição inevitável de construção histórica destinada à

perpetuação de alguma memória, do ponto de vista do grupo social que

produziu e/ou apropriou-se das fotos. Se por um lado a fotografia possui um

caráter informativo, ela sempre é, simultaneamente, uma recriação da

realidade conforme a visão particular do grupo que a produz.

Nesta pesquisa, utilizei também o Estatuto do “Lar de Maria” de 1947. A busca desse

documento não foi nada fácil. O primeiro indício da sua existência surgiu ao manusear um

cartão de aniversário da instituição “Lar de Maria”. Lá encontrei informações de que foi

registrado no Cartório de Registro Especial do Sr. Manoel Lobato, hoje denominado Fórum

Cível, localizado na Praça Felipe Patroni, s/n – Bairro da Cidade velha.

A partir disso recorri ao atual cartório com as informações que extraídas do cartão de

aniversário, como: letras do livro, folhas, número do registro e data em que foi publicada. Ao

chegar ao cartório fui informada por uma funcionária que para ter acesso a uma cópia do

documento teria que pagar o valor de $162,40 reais ao cartório, paguei o valor e adquiri o

documento da instituição.

O Estatuto do “Lar de Maria” apresenta doze páginas e é organizado em onze capítulos

e trinta e cinco artigos. O primeiro capítulo fala da fundação da instituição e seu objetivo; o

segundo capítulo destaca a sua administração; o terceiro capítulo evidencia a diretoria; o

quarto capítulo ressalta as funções de cada diretor; o quinto capítulo aponta o que é o

Conselho Fraterno e suas funções; o sexto capítulo esclarece o que é Assembleia Geral; o

sétimo capítulo mostra a administração interna; o oitavo capítulo informa sobre a internação

de crianças; o nono capítulo salienta sobre os sócios da instituição; o décimo capítulo

apresenta disposições gerais; e o décimo primeiro destaca disposições transitórias.

A perspectiva de análise dessa investigação é a História Cultural. Para Burke (2005),

essa tendência historiográfica foi redescoberta nos anos de 1970, tendo em vista que já era

praticada na Alemanha há mais de 200 anos, mas vem sofrendo renovação, sobretudo no meio

acadêmico.

Page 28: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

27

Para esse autor, a História Cultural está dividida em quatro fases: a História Clássica de

1800 a 1950; a História Social da Arte de 1930 e 1940; a redescoberta da História Cultural

popular em 1950 a 1960; e a Nova História Cultural a partir dos anos 70. Cada fase foi criada

e debatida por vários autores de diferentes vertentes teóricas.

A História Cultural é chamada de Nova História Cultural por proporcionar uma nova

forma de a história trabalhar com a cultura. Essa corrente da historiografia, presente na

terceira geração da escola dos Annales, passou a ser denominada Nova História. A história

cultural possibilitou que muitos temas, antes apontados como irrelevantes, passassem a ser

considerados como foco de investigação, possibilitando também o surgimento de varias fontes

para o trabalho do historiador.

Nesse contexto, Pesavento (2005, p.69) reforça dizendo que “[...] a renovação das

correntes da história e dos campos de pesquisa, multiplicando o universo temático e os

objetos, bem como a utilização de uma multiplicidade de novas fontes”.

Burke (2005, p.10), ao pensar sobre a história cultural, afirma que “[...] o terreno

comum dos historiadores culturais pode ser descrito como a preocupação com o simbólico e

suas interpretações. Símbolos conscientes ou não, podem ser encontrados em todos os

lugares, da arte à vida cotidiana”. Assim, entendo que tudo tem uma história, que tudo pode

ser compreendido como uma construção cultural.

Nesse sentido, Pesavento (2005, p. 42) destaca que tudo tem história, símbolos,

vinculados a códigos e chamados de “cultural”, podem ser investigados pela História Cultural.

A autora também aponta que “[...] a proposta da História Cultural seria, pois, decifrar a

realidade do passado por meio das suas representações, tentando chegar àquelas formas

discursivas e imagéticas pelas quais os homens expressaram a si próprios e ao mundo”.

Ressalta, ainda, a autora que a História Cultural dialoga com várias ciências, ou seja, a

história passa a se envolver com outros campos do saber, tais como: a psicologia, a

antropologia, a literatura e outras.

A partir disso surgem muitas maneiras de fazer História, uma delas é o método

indiciário de Moreli3. Ao escolher esse método, o pesquisador persegue pistas, detalhes,

3 O método indiciário foi criado pelo italiano Giovanni Morelli que escreveu, entre 1874 e 1876, uma série de

estudos sobre a pintura italiana. Ele, ao estudar, propunha a utilização de um novo método para a atribuição de

autoria dos quadros antigos. No texto: Sinais: raízes de um paradigma indiciário, de Carlo Ginzburg, o autor

ressalta que Morelli, ao entrar em um museu, passava analisar os quadros e acreditava que estes estavam

atribuídos de forma incorreta, pois muitos quadros não estavam assinados pelos seus próprios autores,

dificultando, assim, a devolução de obras para seus verdadeiros autores. E é nesse contexto que foi necessário o

surgimento de um método eficaz que distinguiria os originais e as cópias.

Era preciso, nesse método, não se basear na característica mais vistosa, imitável dos quadros; era necessário

verificar os pormenores mais negligenciáveis. A partir desse contexto, o método indiciário pode ser comparado a

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28

sinais que possibilitam compreender o seu objeto de estudo. Para Ginzburg (1989, p.150), as

“[...] pistas talvez infinitesimais permitem captar uma realidade mais profunda, de outra forma

inatingível” e que “[...] se a realidade é opaca, existem zonas privilegiadas – sinais, indícios –

que permitem decifrá-la” (GINZBURG, 1989, p. 177).

Por ser tratar de um estudo de uma instituição educativa do tipo internato para

atendimento e educação de criança, tomei como referência para análise as pistas e os indícios

que as fontes indicaram ao manuseá-las, a partir disso busquei discutir com os autores da

história da educação e espiritismo.

No entendimento Ferreira (2013, p. 78), o trabalho do historiador “[...] se faz a partir de

fontes, que são vestígios deixados pelos homens ao longo do tempo de sua existência”, logo

se não tem fonte, não tem história. O pesquisador ao realizar a escolha de fontes, pode extrair

informações, fatos que serão utilizados em sua escrita sobre o objeto de estudo. Além disso, o

pesquisador deverá trabalhar com o cruzamento de outras fontes, dialogando com obras que

discutem sobre o assunto pesquisado.

Para Lene e Selidonha (2012), o pesquisador busca nos documentos indícios e marcas

que possam ajudá-lo a desvendar os acontecimentos históricos. Ele se depara durante a

investigação com inúmeras informações que, muitas vezes, são consideradas irrelevantes e

que podem ser descartadas, mas essa atitude de não dar o devido tratamento as pistas, aos

indícios podem levá-lo a perder preciosas informações sobre o objeto.

Para Duarte (1998), o método, baseado em indícios e sinais, exige conhecimento, poder

de observação, dedução, busca e descobrir elementos que levam a um fato ou um

acontecimento de uma determinada época. Além disso, o pesquisador tem a oportunidade de

aprofundar os indícios descobertos com informações que estabelece a relação com momentos

históricos por meio de referências bibliográficas.

Portanto, esse método agrega os sentidos à interpretação por meio de sinais, pistas e

observação nas variadas fontes de investigação. O historiador liga-se nas particularidades, nos

pormenores do seu objeto de pesquisa e, nesse processo de investigação de indícios, as

particularidades serão importantes no processo de investigação.

Nesse sentido, considerei as fontes de investigação, selecionadas para este estudo, a

partir de pistas, vestígios deixados ao logo do tempo em que a instituição “Lar de Maria”

desenvolveu seus trabalhos na cidade de Belém do Pará no período de 1947 a 1960.

investigação de um detetive “[...] que descobre o autor do crime (do quadro) baseado em indícios imperceptíveis

para a maioria” (GINZURB, 1980, p.145).

Page 30: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

29

Por fim, realizei a análise dos documentos sobre a ótica de cruzamento das fontes,

dialogando com autores da história das instituições educativas, como: Buffa e Nosella (2009),

Saviani (2007), Magalhães (1999), Castanho (2007), Gatti Jr. (2002), Sanfelice (2007),

Goffman (1961) e Foucault (1987); autores da sociedade paraense, como: Sarges (2010),

Rocque (2001), Silva (2003); e autores que discutem a relação educação e espiritismo, como:

Alves (2007), Incontri (1997), Bueno (1997) entre outros.

Para uma melhor interpretação e análise dos dados deste trabalho, elegi algumas

categorias analíticas: Espiritismo, Instituições Educativas e Caridade.

O Espiritismo, como categoria de análise, é entendido como uma ciência que trata da

natureza, origem e destino dos Espíritos e a sua relação com o mundo. O espiritismo foi

“codificado” pelo pedagogo Hippolyte Léon Denizard Rivail, mais conhecido pelo nome de

Allan Kardec. Esse defende que o espiritismo é uma doutrina filosófica de efeitos religiosos e

apresenta três aspectos: religioso, científico e filosófico.

As instituições educativas, como categorias de análise, devem ser entendidas como

espaços culturais, criados por homens e mulheres para atenderem as suas necessidades. Elas

possuem caráter histórico e fazem parte da vida dos homens na sociedade. Na visão de

Castanho (2005 p. 40), uma “[...] instituição educativa é um termo mais amplo e abrange não

somente a escola, como a conhecemos, no seu envolver histórico, mas também outras formas

societais duradoras em que se desenrola o processo de transmissão cultural”.

E por fim a categoria Caridade. Ela se constitui, no espiritismo, como uma virtude ou

sentimento que se propõe fazer o bem ao próximo, ajudar alguém, sem qualquer recompensa.

É considerado também como um princípio religioso que direciona ao amor a Deus e ao

próximo.

Para facilitar a compreensão desta pesquisa, organizei-a didaticamente em uma

introdução e três seções. Na introdução abordo o interesse em desenvolver uma pesquisa

pautada na história das instituições educativas, como também a escolha da instituição Cristã

Espírita “Lar de Maria”, apresento o problema da pesquisa, o objetivo geral e os específicos e

o percurso metodológico.

Na primeira seção, “As origens do Espiritismo: de espetáculo de entretenimento à

doutrina de caridade ao próximo”, trato sobre as origens do Espiritismo e de sua disseminação

nos Estados Unidos e no mundo, posteriormente a manifestação do Espiritismo no Brasil, por

fim, as origens da referida doutrina em Belém do Pará.

Na segunda seção, “A Criação da Instituição Cristã Espírita “Lar de Maria””, apresento

sucintamente a vida do criador da instituição Cristã Espírita “Lar de Maria”, a sua infância, os

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aspectos: profissional e religioso; a fundação dessa instituição; os espaços educativos

construídos; a contribuição das pessoas para a construção desse Lar e a inauguração da

instituição.

Na terceira seção, “A Instituição Cristã Espírita Lar de Maria: organização, internação,

assistência e educação aos mais necessitados”, faço uma explanação sobre como se

organizava administrativamente desse lar; as festas como forma educativa para as crianças,

suas finalidades: assistencial e educativa. Além disso, evidencio como se dava o processo de

internamento; a concepção de educação, infância, criança e idoso à luz da doutrina espírita.

Nas considerações finais retomo alguns dos principais pontos abordados neste trabalho

e faço alguns questionamentos que surgiram durante a sua realização. Esses questionamentos

apontam outros caminhos, que poderão ser seguidos em futuras pesquisas.

E por fim, as referências onde consta o aporte teórico que subsidiou esta pesquisa, além

do anexo – que serviu para fundamentar, comprovar e ilustrar esta pesquisa – e os apêndices,

elaborados com o intuito de completar a minha argumentação, sem prejuízo a unidade nuclear

do trabalho.

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SEÇÃO 1: AS ORIGENS DO ESPIRITISMO: de espetáculo de entretenimento à

doutrina de caridade ao próximo

Nesta seção, explano sobre as origens do Espiritismo no mundo. Para isso,

primeiramente, abordo as origens do espiritismo nos Estados Unidos, por meio das

experiências das irmãs Fox; destaco o Espiritismo na França, onde ele começou a se

configurar enquanto doutrina, a partir dos princípios de Allan Kardec; focalizo também o

Espiritismo no contexto brasileiro, tendo o Rio de Janeiro e a Bahia como estados

representativos nesse processo; e, por fim, abordo as origens da referida doutrina no Pará,

especificamente em Belém, no que concerne aos principais responsáveis por tal inserção, bem

como às ações e obras de expressão do Espiritismo.

1.1 O ESPIRITISMO NOS ESTADOS UNIDOS E NA FRANÇA

As ideias do Espiritismo moderno foram disseminadas pela Europa em pleno século

XIX; têm a sua história primeiramente nos Estados Unidos no ano de 1848, na cidade de

Hydesville, Estado de Nova York. Segundo Vasconcellos (2010), Hydesville era um vilarejo

onde viviam pessoas de vida simples e que residiam em casas de madeiras, caracterizando-se

com uma população de agricultores.

Na cidade de Hydesville, foi registrado e investigado o primeiro episódio de

comunicação com espíritos, realizada na residência da família Fox. Os Fox eram uma família

de fazendeiros canadenses. O Pai, John D. Fox, era pastor de Igreja Metodista. Ele alugou

uma casa em Hydesville, nos EUA, em 1847, para morar com sua família. A casa já tinha

fama de mal-assombrada, informa Vasconcellos (2010). A família era formada por vários

filhos, mas o episódio da descoberta da comunicação com espíritos desenvolve-se entorno das

irmãs Kate, de 11 anos; Margaret, de 14 anos; e Léa, de 37 anos (Imagem 1), que não morava

com a família.

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32

Imagem 1 – Irmãs Fox.

Fonte: (VASCONCELLOS, 2010, p. 74).

De acordo com Vilhena (2008), na casa onde moravam as irmãs Fox eram ouvidos

estranhos ruídos, barulhos, batidos nas paredes e até mesmo arrastamento de móveis. Esse

fato foi compreendido como oriundo de uma inteligência oculta, visando comunicar-se.

As mais jovens, Kate (esquerda) e Margaret (direita), retratadas na Imagem 2, no dia

31de março de 1848, elaboram, então, uma técnica com intuito de facilitar e tornar claro as

comunicações com essa inteligência invisível. Segundo esse mesmo autor, “[...] Tais técnicas

constituíam-se basicamente em um código na qual uma pancada na madeira significava “sim”,

duas significava “não” e outros sinais simbolizavam letras ou palavras” (VILHENA, 2008, p.

55, grifos do autor).

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Imagem 2 – Margaret e Kate Fox.

Fonte: (BETTENCOURT OSB, 2012, p. 272).

Segundo Vasconcellos (2010), aquele “Fenômeno” de comunicação, realizado pelas

irmãs, se declarou ser de um espírito. No excerto a seguir é possível constatar que um espírito

“desencarnado4” estava em comunicação com a família Fox.

Em 1948, na cidade de Hydesville, Estado de Nova York, EUA, surgiu o

primeiro núcleo do espiritismo moderno. Certa noite, o pastor protestante

John Fox, sua esposa e as duas filhas, Margarida e Kate, estavam a conversar

sobre estranhos fenômenos de assombração. Kate, então, produziu estalos

com os dedos; notaram todos que alguém repetia. Por sua vez, Margarida

produziu estalos e encontrou eco. Apavorada, a senhora Foz perguntou: “É

homem ou mulher que está batendo?”, mas não obteve resposta. Insistiu

então: “É espírito? Se é espírito. Bata duas vezes”. Produziram-se duas

breves pancadas. Concluiu, assim, que um espírito “desencarnado” estava

em comunicação com a família. (BETTENCOURT OSB, 2012, p. 271).

É nesse contexto que as técnicas de comunicação, executada pelas irmãs Fox, em sua

casa, levaram a afirmar a presença de pessoas mortas com inteligência invisível nesse lar. A

partir disso, observadores e curiosos da cidade de Hydesville concluíram também que na

residência da família havia o espírito de um homem que há tempos a habitava e que havia sido

morto a facadas, tendo o seu corpo enterrado no porão. Na descrição de Vasconcellos (2010),

no dia 1 de abril de 1848, algumas pessoas da cidade tiveram a atitude de escavar o local e

para surpresa encontraram restos humanos que eram de um homem chamado Charles Rosma,

fato comprovado por pesquisas posteriormente.

4Ato ou efeito de deixar a carne; morrer (RIOS, 1997, p. 193)

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Em Andrade (1983, p. 214), é possível observar, no trecho a seguir, que houve a

realização de pesquisas na tentativa de reafirmar a e ratificar a comunicação dos espíritos

feitos pelas irmãs Fox:

As pesquisas então realizadas para comprovar a autenticidade da

comunicação tiveram êxito apenas parcial (encontraram-se alguns ossos e

cabelos humanos), mas 56 anos depois foi encontrado na casa um esqueleto

humano quase completo, ao ruir uma parede falsa que fora construída na

adega. O “Bost Journal” noticiou o fato em 23 de novembro de 1904.

Sobre as técnicas de comunicações com os espíritos, realizadas pelas irmãs Fox, Del

Priore (2014, p. 37-38) diz:

E como começaram as comunicações? Tudo aconteceu na primavera de

1848, num pequeno condado do Wayne: Hydesville, a oeste do estado de

Nova York. Ninguém imagina que a história fosse tomar tal amplitude.

Maggie e Kate Fox, as duas filhas adolescentes de um casal metodista, se

comunicavam com um espírito por meio de batidas na parede. Era a velha

linguagem dos sons. Mas quem era ele? Um ambulante assassinado pelos

antigos moradores, cujo corpo fora enterrado no porão da casa. Fantasmas de

vítimas de morte violenta não eram raros nos Estados Unidos. Para cada

pergunta das meninas, uma resposta na forma de pancadas: pam, pam, pam...

Um alfabeto foi criado para traduzir as batidas em palavras. E a primeira

mensagem da telegrafia espiritual não deixava dúvidas: “Caros amigos,

deveis proclamar ao mundo estas verdades. É a aurora de uma nova era; e

não deveis tentar ocultá-la por mais tempo. Quando houverdes cumprido

vosso dever, Deus vos protegerá e os bons espíritos velarão por vós”.

Com o passar do tempo surgiram novas técnicas de comunicação com espíritos,

segundo Bettencourt Osb (2012), os próprios espíritos que indicaram às irmãs Fox, em 1850,

uma nova forma de comunicação, onde os interessados se colocariam em torno de uma mesa,

em cima da qual poriam as mãos; as interrogações que fizessem aos espíritos, a mesa

responderia com golpes e movimentos indicadores de letras do alfabeto e de palavras.

Para Andrade (1983), essas novas técnicas de comunicação eram chamadas de “mesas

girantes” (Imagem 3), por meio das quais as “inteligências invisíveis” respondem perguntas,

se movimentam, se elevam ou até rodopiavam as mesas no ar, com objetivo de se comunicar.

Esse mesmo autor ressalta que a “consulta” a essas mesas geralmente era frequentada pelas

classes abastadas, mas posteriormente se tornou uma moda.

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Imagem 3 – Mesas Girantes ou Volantes.

Fonte: (DEL PRIORE, 2014, p.1).

De acordo com Del Priore (2014), as irmãs Fox, Marggie e Kate se juntaram com uma

terceira irmã de nome Léa, essa que possuía uma índole empreendedora viu – por meio das

realizações de comunicação com espíritos que suas irmãs realizavam – uma oportunidade de

reconhecimento e fama. E foi a partir disso que o trio de irmãs, movido por interesses

comuns, ficou cada vez mais conhecido e as suas reuniões, sessões de comunicação com os

espíritos, cada vez mais frequentadas.

As reuniões realizadas pelas irmãs saem de Hydesville e percorrem outras partes dos

Estados Unidos e, posteriormente, do mundo. Segundo Del Priore (2014), essa

profissionalização das sessões que eram pagas foi um importante fator de difusão da prática

das mesas volantes.

Foi por meio de supostos contato com espíritos que as irmãs Fox tiveram um aviso de

que teriam a expansão de suas comunicações com as “inteligências invisíveis” para todo o

mundo. Vasconcellos (2010, p. 77) relata que:

Anos depois, as irmãs Fox já trabalhavam constantemente com as

comunicações e materializações. Em um dos contatos, os espíritos disseram

que as comunicações não se limitariam a um local, mas se espalhariam pelo

mundo. Haverá grandes mudanças no século XIX, os mistérios serão

revelados e o mundo esclarecido.

Para Andrade (1983), os fatores ocorridos no mundo em 1848, como: a expansão do

livro e da imprensa, dos meios de comunicação, a eclosão da era industrial, o

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desenvolvimento da educação foram alguns aspectos que contribuíram para a difusão do

conhecimento da família Fox para o mundo.

O fenômeno das irmãs Fox foi apenas o começo de uma “febre” que se disseminou por

várias partes dos Estados Unidos e, posteriormente, para a Ásia e Europa. Na França,

especificamente, a prática das “mesas volantes”, “girantes” chegaram a partir do ano de 1850

e depois foi se difundindo para os outros países europeus. Para Vilhena (2008, p.56):

Conforme tendência desejosa de experiência com fenômeno ocultista,

própria da época, em 1850, na França, disseminou-se, como brincadeira de

salão, uma prática que objetivava provocar manifestações de forças

desconhecidas, tidas como sobrenaturais. Trava-se das chamadas “mesas

falantes” ou “mesas girantes”. Por meio da utilização de um código

alfabético, semelhante ao usado pelas irmãs Fox, muitos franceses se

divertiam ao perguntarem amenidades aos espíritos contatados e

comunicantes, obtendo deles respostas advindas do Além.

Para Dionisi (2013), o fenômeno das “mesas girantes ou dançantes” não estava para ser

entendido ou compreendido por aqueles que estavam em contato com essas mesas e sim para

proporcionar divertimento, passatempo para os salões da alta aristocracia em Paris, como

ilustra a Imagem 4, constituindo-se em um verdadeiro espetáculo de entretenimento, como

bem descreve o autor:

Nos salões: “da alta aristocracia parisiense como a sua nota característica:

senhores respeitáveis, senhores e senhoritas elegantes, reuniam-se em torno

de mesas redondas, espalmando as mãos em pouco acima delas (formava-se

uma corrente pelo contacto (sic) de todos os dedos mínimos), com o intuito

de fazê-las movimentar; outro grupo obter o movimento de uma bola

suspensa por um fio; outro, um pouco distante, usava uma cesta munida de

lápis, sobre a qual uma dama coquete colocava a mão adornada de brilhante,

na esperança de conseguir algum rabisco numa ardósia; além, respeitável

senhor de cavanhaque procura movimentar uma cartola, sem tocá-la, é

lógico”. ( XAVIER, 2002 apud DIONISI, 2013, p. 54, grifos do autor).

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Imagem 4 – Mesas volantes: introdução ao Espiritismo entre a Burguesia da Europa.

Fonte: (DEL PRIORE, 2014, p. 111).

O fenômeno das “mesas girantes” passou a chamar a atenção de estudiosos, intelectuais

e cientistas, na França. Segundo Vasconcellos (2010, p. 81), “[...] não demorou para que esses

fenômenos chegassem, em 1854, ao conhecimento de um estudioso de renome, o senhor

Heppolyte Léon Denizard Rivail, que teve conhecimento deste fenômeno a partir do convite

de um amigo”.

Heppolyte Léon Denizard Rivail (Imagem 5) nasceu em Lyon, na França, em 3 de

outubro de 1804, de uma família de jurista. Rivail estudou na Suíça, na escola do pedagogo

Johann Henri Pestalozzi, do qual se tornou discípulo; foi bacharel em Letras, Ciência e doutor

em Medicina, falava várias línguas, como: o alemão, o inglês, o italiano, holandês e o

espanhol.

Posteriormente, assumiu o pseudônimo de Allan Kardec, nome esse que adotou a partir

de vínculo ao Espiritismo, que tem como marco o término da escrita de seu primeiro livro: O

Livro dos Espíritos. Segundo Vasconcellos (2010), Hippolyte Rivail não quis usar seu nome

como autor dos livros para não confundir com as suas obras já publicadas, pois já era tido

como referência na comunidade científica. Além disso, ele entendia que as explicações que

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38

recebeu nas reuniões realizadas não eram dele, e sim dos espíritos, que esclareciam e

respondiam diversas perguntas nessas sessões.

Nas próprias palavras de Kardec (2014), a intenção de recorrer a tal pseudônimo para

assinar suas obras veio mediante orientações de seu guia espiritual, que disse que Rivail tinha

vivido na época dos Druidas5, exatamente com o nome de Allan Kardec, o que o motivou para

utilizar essa denominação nos assuntos da doutrina.

Allan Kardec (2005, p. 323, grifos do autor) descreve seu contato inicial com o

fenômeno do Espiritismo em Paris, dizendo que:

Foi em 1854 que pela primeira vez ouvi falar das mesas girantes. Encontrei

um dia o magnetizador, Senhor Fortier, a quem eu conhecia desde muito

tempo e que me disse: já sabe da singular propriedade que se acaba de

descobrir no Magnetismo? Parece que já não são somente as pessoas que se

podem magnetizar, mas também as mesas, conseguindo-se que elas girem e

caminhem à vontade. — ‘É, com efeito, muito singular, respondi; mas, a

rigor, isso não me parece radicalmente impossível. O fluido magnético, que

é uma espécie de eletricidade, pode perfeitamente atuar sobre os corpos

inertes e fazer que eles se movam’. Os relatos, que os jornais publicaram, de

experiências feitas em Nantes, em Marselha e em algumas outras cidades,

não permitiam dúvidas acerca da realidade do fenômeno.

5 Druida surgiram a partir de 2.000 a.C e eram integrantes da classe sacerdotal e pertencentes da sociedade do

Celta, que residiam na antiga Europa. Os Druidas tinham por função todas as ciências humanas e divinas, como:

teologia, astronomia, fisiologia, justiça, ensino, poesia, sátira, magia, guerra, cultos e sacrifício, de acordo com

Lara (2010).

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Imagem 5 – Allan Kardec.

Fonte: (VASCONCELLOS, 2010, p. 80).

Allan Kardec, partindo de seu senso crítico e investigativo, dedicou-se ao estudo desses

fenômenos. Ele os estudava usando o método de experimentação. Buscou dar um caráter mais

científico a sua pesquisa. Após alguns anos de estudo, concluiu que as “mesas girantes”

davam prova e transformavam em fatos autênticos da possibilidade de comunicação com os

espíritos e que tais mesas eram um instrumento, isto é, uma ferramenta de comunicação com

espíritos. Para chegar a essas respostas,

Ele passou a fazer reuniões sérias e com médiuns de confiança. O senhor

Rivail já levava perguntas prontas paras as reuniões metodicamente

organizadas. Concluiu ele que todo efeito tem uma causa inteligente. Não

podia ser a mesa quem respondia, mas um ser inteligente. Rivail perguntou e

descobriu que eram espíritos de pessoas que já viveram entre nós.

(VASCONCELOS, 2010, p.82).

Del Priore (2014) ressalta que as investigações de Allan Kardec conduziram a

publicação de estudos, contendo princípios sobre a natureza dos espíritos, a manifestação e a

relação com os homens, as leis morais, a vida presente, a vida futura e o futuro da

humanidade, escrita sob ditado e publicada por ordem dos espíritos superiores. Essa

experiência foi o ponto de partida para dar base à doutrina espírita que ele postulou.

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E segundo Amorim (1980), Allan Kardec ressalta que o Espiritismo seria uma Doutrina

Filosófica de efeitos religiosos, que apresenta uma síntese doutrinária de tríplice aspecto, ou

seja, deve ser: religioso, científico e filosófico. Nesse contexto, Allan Kardec (2014, p. 40)

explica:

Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina

filosófica. Como ciência prática, ele consiste nas relações que se

estabelecem entre nós e os Espíritos; como filosofia, compreende todas as

consequências morais que dimanam dessas mesmas relações. [...] O

Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos

Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal.

Em 18 de abril de 1857, a partir dessas investigações do fenômeno da mesa, Allan

Kardec lançou em Paris a obra O Livro dos Espíritos, trazendo uma grande compilação de

perguntas feitas por ele aos espíritos. Essa obra alcançou grande êxito e rapidamente se

espalhou pelo mundo, divulgando a base da Doutrina Espírita desse estudioso.

Allan Kardec se tornou renomado no campo sobre o Espiritismo na Europa. O sucesso

do Espiritismo deve-se a rápida proliferação de seus escritos pelo mundo. No Brasil,

chegando em 1857, ainda persiste até os dias de hoje, em mais de 150 anos de existência.

Com o pseudônimo de Allan Kardec, diversos livros foram escritos, dentre os quais se

destacam sete obras que foram publicadas na França sobre o Espiritismo: O Livro dos

Espíritos, primeira obra Espírita lançada, em 18 de abril de 1857, foi considerada obra de

marco inicial da Doutrina e está dividida em quatro partes:

A primeira parte é sobre causas primárias: “o que” é Deus e como tudo

surgiu e como funciona. A segunda parte é sobre o mundo espiritual,

apresenta-nos a reencarnação e a comunicação com os espíritos. A terceira

parte é sobre as “leis divinas”, mostrando a Justiça de Deus. A quarta parte é

sobre as esperanças e consolações. O livro é composto de perguntas e

resposta diretas. (VASCONCELLOS, 2010, p.86, grifos do autor).

O que é Espiritismo? Editado no ano de 1859 na França, é um livro introdutório da

doutrina e especialmente indicado àqueles que possuem dificuldade de entender as

explanações sobre O Livro dos Espíritos. Segundo Vasconcellos (2010), é usado em algumas

casas espíritas como sendo o primeiro curso doutrinário para inserir aos recém-chegados aos

estudos.

Em 1861 chega às livrarias O Livro dos Médiuns. Nele, Kardec aborda o “espirito

prático”, teoriza sobre as manifestações mediúnicas. Sua intensão seria orientar sobre o

método de comunicações espíritas e o regulamento dessa prática, direcionando para “[...]

explicar a utilidade e os objetivos na comunicação e demostra como funciona o ‘laboratório

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41

do mundo invisível’”, segundo Vasconcellos (2010, p. 86, grifos do autor). Para Dionisi

(2013), essa obra é de caráter prático da doutrina espírita, visto que Kardec visou criar um

manual completo para o seu usuário praticar a mediunidade, tal obra consta a teoria dos

fenômenos Espíritas e os aspectos científicos, experimental e prático da Doutrina.

Depois de três anos em 1864 é editada a obra O Evangelho Segundo o Espiritismo, que

aborda os principais ensinamentos de Jesus a partir do Evangelho da Bíblia, explicando com

uma visão expandida, racional e lógica da Doutrina Espírita.

No ano seguinte, 1865, Kardec lança O Céu e o Inferno: ou a justiça divina segundo o

Espiritismo, esse livro trata sobre os dogmas católicos de céu, infernos e purgatório, assim

como anjos e demônios, segundo a visão do Espiritismo. A obra “[...] compara a visão de

algumas doutrinas sobre a Justiça Divina, explica sobre as personalidades e recompensas

futuras, desmitifica as ideias sobre anjos e demônios e traz depoimento de espíritos em vários

graus entre felicidades e infelicidades” (VASCONCELLOS, 2010, p.87).

Finalmente, em 1868, Allan Kardec lança sua última obra completa, A Gênese: os

milagres e as predições do Espiritismo. Nessa obra, de uma forma mais clara, expõe a teoria

do “sobrenatural” e dos “milagres”, ligada a uma ampliação das “Leis da Natureza” até então

conhecidas, para que esses fenômenos, tanto espíritas quanto os milagres de Jesus (na reflexão

espírita), recebessem um novo tratamento, mais racional e adequado com o conhecimento do

século XIX. Nesse mesmo livro há uma tentativa de ampliar a “Gênese” planetária e, para

isso, a obra traz uma comunicação mediúnica sobre o tema. Em síntese, nesse livro, Kardec

busca ampliar os limites científicos, apropriando-se dos conhecimentos espíritas, tentando

encadear a ordem do nosso mundo com a ordem dos espíritos e, assim, direcionando

demostrar que ambas são uma só e a mesma coisa, estando em planos diferentes.

Kardec faleceu dia 31 de março de 1869, com 65 anos, em Paris devido a um aneurisma

e suas Obras Póstumas, de 1890, são alguns escritos guardados por ele e que foram

reorganizados por seu continuador e presidente da “Sociedade de Parisiense de Estudos

Espíritas”, o senhor Pierre-Gaetan Leymarie.

Os escritos de Allan Kardec foram de suma importância para a consolidação de uma

doutrina que se expandia para várias partes do mundo, possibilitando o interesse de pessoas

em apreender os princípios por ele partilhados, assim como materializar tais ensinamentos a

partir das realizações de ações e obras, pautadas no Espiritismo, como aconteceu no Brasil,

em meados do século XIX.

Page 43: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

42

1.2 A CHEGADA DO ESPIRITISMO NO BRASIL

Entre os anos 1853 e 1854 surgiram no Brasil notícias sobre os fenômenos das "mesas

volantes", as quais foram publicadas nos seguintes jornais: “O Jornal do Comércio”, do Rio

de Janeiro em 14 de junho de 1853, e posteriormente nos jornais: “Diário de Pernambuco” em

2 de julho do ano de 1953 e o jornal de Recife, em “O Cearense” nos dias 3 e 26 de julho

também no mesmo ano.

Conforme Kloppenburg (1960), o Jornal do Comércio, do Rio de Janeiro, datado 14 de

junho de 1853, foi o primeiro impresso jornalístico brasileiro a noticiar sobre as mesas

girantes da Europa e dos Estados Unidos. Nessa notícia é evidenciada a realização das

rotações das mesas, chapéus e de outros objetos. Esse mesmo autor destaca que após duas

semanas, em 30 de junho, o referido jornal mostra em seu folhetim a execução das mesas

girantes em diferentes ambientes da sociedade brasileira, como é relatado por tal impresso:

Hoje não há uma sala, uma escritório, um corredor, onde se não encontrem

dois ou três experimentadores acocorados a chocarem com os olhos e com as

mãos o infeliz chapéu do mais curioso dos três. O cronista diz que viu “as

famílias e os convidados silenciosos, em grupos, uns em derredor de uma

mesa, outros de um chapéu, outro de um livro, eles com as mãos estendidas

sobre objetos e formando cadeias digitais”. E revela mais: “Tenho

presenciado e feito tantas experiências deste gênero, que hoje não é possível

duvidar daquele fato”. Duas pessoas simplesmente, com as mãos impostas

sobre as abas de um chapéu, tocando-se mutuamente os dedos mínimos,

formando uma cadeia elétrica (sic), obtêm de cinco a vinte minutos de

rotação daquele objeto. (KLOPPERNBURG, 1960, p. 12-13, grifos do

autor).

Outro jornal brasileiro que teve importância para as primeiras divulgações de notícias

sobre acontecimentos espíritas que circulavam na França foi o Diário de Pernambuco, que

divulgou, no dia 2 de junho de 1953, informações para seus leitores que em Paris: “[...] não se

pode pôr pé em um salão, sem ver toda a sociedade em torno de uma mesa-redonda, tendo

cada um o dedo mínimo apoiado no do vizinho e esperando todos em silêncio que a tábua

queira voltar”(KLOPPENBURG, 1960, p. 13).

Já em Fortaleza se destaca O Cearense, como jornal que divulgou de notícias referentes

as mesas dançantes. É na edição de 3 de julho que o jornal, de 1853, descreve para seus

leitores o modo de fazer girar a mesa. E já em 26 do mesmo mês, o jornal noticia: “[...] Não é

só na Alemanha, França, Pernambuco, etc., que se fazem experiências elétrico-magnéticas das

tais ‘mesas dançantes’, para descreve então uma experiência feita com êxito em Fortaleza”

(KLOPPENBURG, 1960, p. 13, grifos do autor).

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43

Assim, esta novidade se difundia gradativamente, mas, foi a partir do ano de 1857, com

o lançamento do O Livro dos Espíritos, de Kardec, que obras espíritas, em francês adentraram

ao Brasil, especificamente pela Bahia. Essas obras foram trazidas por franceses que residiam

no Brasil ou por pessoas ricas, instruídas que tinham contato com a cultura de outros países.

De acordo com Kloppenburg (2014), com o lançamento desse livro é que se deve

considerar o dia da fundação do Espiritismo no Brasil, pois a obra contribuiu, por meio de

seus princípios, para que vários grupos de pessoas interessadas se formassem, objetivando o

estudo das obras kardequianas, porém, essa prática ficou, nesse primeiro momento, restrita

apenas as pessoas que podiam ler e entender a língua francesa.

E é nesse contexto que surge, na Bahia, a primeira figura que ficaria sendo considerada

o iniciador do movimento espírita em terras brasileiras, o jornalista Luiz Olímpio Teles de

Menezes6 (Imagem 6). Estudioso da obra O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, passou a ser

o divulgador da doutrina espírita no Brasil.

Imagem 6 – Luiz Olímpio Teles de Menezes.

Fonte: <http://feeb.org.br>.

6Luiz Olímpio Teles de Menezes nasceu no dia 26 de Julho de 1825, na cidade de Salvador, Bahia, filho do

oficial de exército Fernando Luís Teles de Menezes. Foi professor primário, hábil estenógrafo autodidata,

escritor e jornalista, embora tenha iniciado seus estudos na carreira militar, largou para dedicar-se ao magistério

e as letras.

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44

Luiz Olímpio Teles de Menezes tinha a intenção de tirar o espiritismo da alta roda que

este circulava e, assim, aproximar de todas as classes. A partir de seus esforços, Teles de

Menezes realizou em Salvador, Bahia em 17 de setembro de 1865, a primeira sessão espírita

do Brasil e, ainda, nesse mesmo ano, funda o primeiro centro espírita do Brasil, “O Grupo

Familiar do Espiritismo” (KLOPPENBURG, 1960).

O centro espírita “Grupo Familiar do Espiritismo” durou cerca de oito anos, sendo

posteriormente substituído pela “Associação Espírita Brasileira”, que manteve disposições

estatutárias desse centro.

Embora registrada com caráter científico, sua real finalidade estatutária,

como associação, era o de contribuir com o progresso moral e intelectual do

ser humano, por meio da Doutrina Espírita e da prática da Caridade. De fato,

uma de suas diversas proclamava: “Fora da Caridade não há salvação”.

(DIONISI, 2013, p.137, grifos do autor).

De acordo Del Priore (2014), as atitudes de Teles de Menezes conquistaram a nata da

sociedade baiana e um grupo de pessoas passou a fazer campanha para adquirir novos

adeptos, realizando discursos e reflexões de forma apaixonada pelas obras de Kardec,

recebendo certa receptividade favorável e também críticas negativas, mas “[...] Teles de

Menezes enfrentou sem temor as “iras e perseguições” que, desde o início, atingiram a nova

doutrina” (DEL PRIORE, 2014, p.74, grifos da autora).

A atitude de Teles de Menezes foi considerada com um ato de heroísmo por parte de

seus seguidores, pois o Brasil, à época, era um ambiente tradicionalmente católico e hostil a

prática da nova doutrina, mesmo porque o Estado tinha o Catolicismo como sua religião

oficial, segundo constava na Constituição Imperial de 1824 do Brasil. Nessa visão, Bastos

(2000, p. 191) afirma que, “[...] na época só se reconhecia como livre o culto católico. Outras

religiões deveriam contentar-se com celebrar um culto doméstico, vedada qualquer forma

exterior de templo”.

Contudo, a Igreja no Brasil encontrava-se fragilizada institucionalmente. Os brasileiros

seguiam um ecletismo religioso, misturando o catolicismo com diferentes crenças, entre elas:

as indígenas e as de origem africana. Os cultos de outras religiões já eram permitidos desde a

Constituição do Império de 1824, no entanto deveriam ser realizados no âmbito dos lares.

Foi a partir do Decreto 119-A7, de 7 Janeiro de 1890, que o Brasil tornou-se um Estado

Laico, houve a separação entre a Igreja e o Estado. Este passou defender a liberdade religiosa

aos cidadãos brasileiros. Como é possível perceber nos artigos do Decreto:

7 Ruy Barbosa, após a proclamação da República, redigiu o Decreto 119-A, de 7 de janeiro de 1890, que

separava o Estado e a Igreja Católica no Brasil.

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45

Art. 2º a todas as confissões religiosas pertence por igual a faculdade de

exercerem o seu culto, regerem-se segundo a sua fé e não serem contrariadas

nos actos (sic) particulares ou públicos (sic) , que interessem o exercício

(sic) deste decreto.

Art. 3º A liberdade aqui instituída (sic) abrange não só os individuos (sic)

nos actos (sic) individuaes (sic), sinão (sic) tabem (sic) as igrejas,

associações e institutos em que se acharem agremiados; cabendo a todos o

pleno direito de se constituirem (sic) e viverem collectivamente (sic),

segundo o seu credo e a sua disciplina, sem intervenção do poder publico

(sic)8.

De todo o modo, o Brasil presenciava o avanço do Espiritismo para vários segmentos da

população brasileira. A Igreja, por sua vez, sentiu-se ameaçada e começou a promover lutas

contra o Espiritismo, fomentando grandes polêmicas nos jornais, tendo grande destaque a

figura de Dom Manoel Joaquim da Silveira9, o arcebispo da Bahia que se coloca contra a

Doutrina Espírita.

No ano de 1867, com a expansão do Espiritismo no Brasil, Dom Manoel Joaquim da

Silveira escreveu uma carta contra os malefícios da nova doutrina para sua pastoral, intitulada

Os Erros Perniciosos do Espiritismo, divulgada no dia 25 de julho do mesmo ano, que foi lida

e comentada por vários brasileiros. Essa carta, redigida em forma de folheto, acusava o

Espiritismo de forma rígida, o que pode ser ilustrado no excerto:

Nesta Capital publicou-se um pequeno livro com o título – Filosofia

Espiritualista – o Espiritismo, cujas perniciosas doutrinas, contra toda

expectação, tem tomado incremento, pondo-se em prática certas superstições

perigosas e reprovadas, que estão no domínio do público; e no interesse de

vossa salvação, amados filhos, nós julgamos conveniente dirigir-vos esta

Carta Pastoral, para prevenir-vos contra os principais erros, que contém esse

pequeno livro, e contra as superstições que segundo as doutrinas nele

contidas se estão praticando, como se nos tem informado, e do que já não é

possível duvidar. (SILVEIRA, Dom Manuel Joaquim da Carta Pastoral de

1867 apud VILHENA, 2008, p. 81-82).

Dr. Luís Olímpio Teles de Menezes, defensor dos princípios espíritas, respondeu ao D.

Manoel Joaquim Silveira, em forma de carta aberta ao público, destacando os erros do de D.

Manoel ao analisar o espiritismo. Teles de Menezes, utilizando um tom conciliador,

respondeu em uma pequena passagem dizendo: “[...] o espiritismo e o catolicismo são a

mesma Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, somente estão mudando os tempos e as palavras”

(DEL PRIORE, 2014, p. 76).

8Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccvil_03/decreto/1851-1899/d119-ah. tma>.. Acesso em: 22 abr. 2015.

9Dom Manuel Joaquim da Silveira foi sacerdote católico brasileiro, primeiro e único arcebispo da

Arquidiocese da Bahia e Primaz do Brasil.

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É nesse contexto que, segundo Vilhena (2008), ampliam-se os debates com participação

de opositores e defensores do espiritismo. E quanto mais polêmicas, mais aumentava o

número de adeptos na Bahia e também em outras partes do Brasil.

As chacotas e críticas, destinadas ao Espiritismo, motivaram a criação, em julho de

1869 por Luís Olímpio Teles de Menezes, do primeiro veículo da impressa espírita no Brasil,

intitulado Ècho d’ Além-Tumulo (Imagem 7), que foi criado com o objetivo de expor ideias

em defesa da Doutrina Espírita.

Imagem 7 – Primeira página de Ècho d’ Além-Tumulo, primeiro jornal dedicado ao espiritismo

no Brasil.

Fonte: (DEL PRIORE, 2014).

Conforme Vasconcellos (2010), em 1873 foi fundado, no Rio de Janeiro, o segundo

grupo espírita do Brasil, chamado “Sociedade de Estudos Espíritos Grupo Confúcio” e que

posteriormente, no ano de 1876, o nome foi mudado para “Sociedade de Estudos Espíritas

Deus, Cristo e Caridade”, esse grupo “[...] desenvolveria práticas de atendimento à saúde

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física e mental, utilizando-se largamente de tratamento homeopáticos e passes fluído. Esse

grupo tinha como lema “Sem Caridade, não há salvação” [...]” (VILHENA, 2008, p.82, grifos

do autor)

No Rio de Janeiro também houve, em 1875, o surgimento da primeira revista espírita do

Brasil, que inicialmente ficou sendo chamada de Revista da Sociedade Acadêmica Deus,

Cristã e Caridade, depois o impresso recebeu o nome de Revista Espírita do Brasil.

Após esses importantes marcos que demarcaram a presença do Espiritismo na Bahia e

no Rio de Janeiro, a doutrina espírita passou a se fazer presente de maneira sistematizada, em

outros estados do Brasil, como ilustra o Quadro 1 a seguir:

Quadro 1 – Espiritismo e suas realizações no Brasil.

Ano Estado / Cidade Realizações

1881 São Paulo – Areias – Grupo Espírita Fraternidade Areense

– Jornal União e Crença

1883 Rio de Janeiro – Macaé – Sociedade Espírita Luz Macaense

1885 São Paulo – Marília – Grupo Espírita Luz e Verdade

1887 Rio Grande do Sul – Porto Alegre – Sociedade Espírita Rio-Grandense

– Grupo Espírita Allan Kardec

1890 Alagoas – Maceió – Centro Espírita das Alagoas

– Revista Espírita Maceió

1890 Paraná – Curitiba – Revista A Luz

1879 Pará – Belém Grupo Espírita Luz e Caridade

1890 Pará – Belém – Revista O Regenerador

1893 Paraná – Paranaguá – Periódico O Farol

1894 Mato Grosso – Cuiabá – Periódico A Verdade

1897 Minas Gerais – Uberaba – Periódico Arrebol

1899 Pernambuco – Recife – Periódico O Guia Fonte: Elaborado pela autora, com base em Kloppenburg (1960).

A criação de vários impressos e a proliferação de grupos e sedes espíritas, como lista o

Quadro 1, evidencia a maneira como ocorreu o processo de consolidação dos ensinamentos

da doutrina no Brasil, que foi impulsionada por iniciativas de diversas partes do país, de

fundamental importância para que, gradativamente, o Espiritismo ganhasse mais adeptos e se

tornasse mais conhecido em terras brasileiras, fazendo com que Kloppenburg (1960, p.23)

afirmasse que, entre todas as nações do mundo, o Brasil é internacionalmente conhecido como

o maior país espírita do Planeta, sendo para seus seguidores o “Coração do Mundo e a Pátria

do Evangelho”.

Tempos depois, já no século XX, um levantamento sobre a população de espíritas e sua

distribuição geográfica, realizado nos de 1940 e de 1950, retratado no Quadro 2, apontou que

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o número de seguidores da doutrina aumentou de modo considerável, revelando todo o

alcance por ela assumido desde as suas primeiras manifestações, tendo em vista que, por meio

dessa amostragem, fica claro que a sua presença se estende por quase todas as principais

cidades brasileiras.

Quadro 2 – O Espiritismo no Brasil – População Espírita 1950.

Fonte: (KLOPPENBURG, 1960, p. 25).

A partir dessa breve explanação sobre as origens da Doutrina Espírita no Brasil, faz-se

necessário compreender a história do Espiritismo em Belém do Pará, cujo alcance, na

sociedade paraense, se estende ao contexto de criação da Instituição Cristã Espírita Lar de

Maria, foco deste estudo, esta que se fundamentou nos princípios dessa doutrina para o

acolhimento de crianças e idosos desvalidos, em de agosto de 1947.

1.3 ESPIRITISMO EM BELÉM DO PARÁ

A inserção do Espiritismo em Belém do Pará não foi diferente em relação as demais

regiões do Brasil. Todavia, fincar a bandeira do Espiritismo na capital paraense foi um

processo lento, permeado por dificuldades para muitos de seus adeptos, que tiveram receio do

desaparecimento dessa doutrina, logo em seus primeiros momentos de implantação.

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A chegada do Espiritismo no Pará ocorreu por volta dos anos de 1860 a 1870

(MAGALHÃES, 2012), mas não se tem informações detalhadas sobre a forma como ele

chegou ao Estado. É somente no contexto de 1879 que de fato se tem notícias consistentes

sobre essa doutrina. Esse ano demarca a criação do primeiro grupo espírita em terras

paraense, visto que Belém ainda vivenciava o período Imperial, tendo a denominação de

Província do Pará. Esta compreendia um vasto território de característica própria de um clima

tropical e já começava a apresentar o início do embelezamento do centro da cidade em

decorrência da primeira fase do ciclo da borracha que foi 1879 a 1912.

Conforme Rocque (1968), José Coelho da Gama e Abreu, em 7 de abril de 1879, foi

nomeado o presidente da Província, ficando neste cargo até 29 de março de 1881, devido os

seus bons serviços prestados a nação, recebendo de D. Pedro II, o título de Barão do Marajó.

Este teve, como uma das marcas de sua gestão, uma política de modernização e

embelezamento da cidade, diversas intervenções, com intuito de alinhar a cidade aos

costumes e hábitos dos grandes centros europeus, reconhecidamente modernos e civilizados.

Do ponto de vista econômico, em meados do século XIX e início do século XX, o Pará

apresentou um grande surto de produção e exportação do látex amazônico, determinado pelas

exigências do mercado internacional. A Europa vivia a febre da industrialização que

impulsionou profundas transformações no cenário urbano (MENEZES; ROSA, 2011).

A população da Província do Pará, na década de 1870, aumentava de maneira gradativa,

provocando, posteriormente, “[...] um impacto na cidade, na medida em que o aparelho

urbanístico mostrou-se insuficiente para atender às demandas da população” (SARGES, 2010,

p. 146). Esse crescimento populacional estava diretamente ligado ao ciclo da borracha.

Esse processo de urbanização, motivado por essa fase áurea, trouxe também para Belém

muitos imigrantes destinados a participar da exploração do látex, o que impactou em um

ordenamento do espaço público e se intensificou com o fluxo de nordestinos que vieram em

direção da Amazônia, contribuindo para uma alteração de natureza demográfica na capital da

Província (SARGES, 2002).

O ciclo da borracha repercutiu nas relações econômicas, políticas, culturais e sociais na

região (SARGES, 2010). A fase áurea trouxe um embelezamento a cidade que possibilitou

uma transformação na paisagem da capital com a construção de suntuosos prédios, praças,

colégios, teatros, alargamentos de avenida, iluminação pública, bondes elétricos, fábricas,

livrarias, entre outros. Projetos profundamente inspirados nas referências estéticas europeias.

Ao tratar de Belém e Manaus, que viveram esse processo, Sampaio (2015, p. 22) ressalta que:

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As mudanças nas duas cidades, capitais dos negócios da borracha, foram

rápidas. Aterros de igarapés, calçadas de ruas, abertura de grandes avenidas

e praças, construção de pontes e prédios públicos suntuosos, instalação de

bondes, luz elétricas, água tratada e vários outros serviços que faziam

diferença na qualidade de vida de qualquer cidade. O crescimento urbano era

um dos sinais mais importantes da prosperidade do Pará e do Amazonas.

Este período foi chamado de belle époque.

E nesse contexto podiam-se perceber também mudanças no padrão de vida das pessoas

de posses, o comportamento e o modo de vida burguês, inspirado, principalmente, no modelo

francês. Muitas ideias circularam nesse período, pois alguns filhos de ricos seringalistas foram

para a Europa estudar e trouxeram novos hábitos, costumes, literaturas, modo de vestir para a

vida da elite paraense. De acordo com Sampaio (2015), as pessoas que tinham condições

financeiras possuíam uma vida bem confortável e regrada de inovações, o cotidiano dessas

pessoas era permeado por roupas elegantes, móveis e artigos de luxos, peças de teatro, livros,

alimentos requintados etc.

A vida cultural no século XIX foi intensa para a elite paraense da época, muitos espaços

foram criados para entretenimento, como exemplo, o Teatro da Paz que foi inaugurado em

1879, assim como o “[...] Café Chic, Café da Paz (local preferido para reunião política),

Moulin Rouge, Chat Noir, Café Madri e Café Riche, este último considerado um dos

principais centros da sociedade paraense” (SARGES, 2010, p. 111).

Dentre os problemas sociais, produzidos pelo advento da Belle Époque, Sampaio (2015,

p. 24) destaca que a vida da maioria das pessoas era muito difícil, pois “[...] Viver custava

caro porque muitas coisas eram importadas e também eram caros os aluguéis das casas”. Mas

os problemas não terminam por aí, com a modernização do centro da cidade, muitas

trabalhadores que lá viviam em suas modestas casas de madeira tiveram que mudar do centro

da cidade, e “[...] Longe do centro significava ficar longe do Mercado e aí ficava difícil

comprar comida. Também longe dos serviços de transporte, água, luz elétrica. A vida não era

fácil mesmo” (SAMPAIO, 2015, p. 25).

O segundo momento da consolidação da doutrina espírita, conforme Santana (2006), é

datado de 12 de junho de 1879, tendo como marco a fundação do “Grupo Espírita Luz e

Caridade”, que funcionava, à época, na rua nova de Santana n. 7a, hoje, a atual Senador

Manoel Barata. Era composto por Abel Augusto Cézar de Araújo, José Sharr da Mota e Silva,

José Joaquim da Silva e Manoel Gonçalves de Silva, responsáveis pela presidência do grupo;

e os membros, João M. Castelo Branco, Feliciano Ferreira Bentes, Antônio da Mata e Pedro

Damasceno d’ Alcântara Bentes.

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51

Para Santana (2006, p. 27),

Pode-se dizer, sem receio de errar, que os poucos e abnegados obreiros que

fundaram essa entidade foram os primeiros desbravadores do terreno da

divulgação do Espiritismo, neste Estado. Corajosos pioneiros, enfrentaram

de peito aberto, a pecha de ridículos; acusados de promover atos de

pajelança e feitiçaria; suportaram as dores e os sofrimento morais a que

comumente são submetido todos os que se aventuram a propagar um ideia

nova, principalmente quando essa ideia traz em seu bojo a revivescência dos

ensinamentos de Jesus, contrariando os preceitos dogmáticos de uma crença

enraizada na fé popular.

Os pioneiros do “Grupo Espírita Luz e Caridade” – 1879 enfrentaram variadas críticas,

mas persistiram nos seus serviços à causa espírita. Desse grupo se originou, no dia 16 de

março de 1890, a criação e lançamento do jornal O Regenerador, considerado o primeiro

impresso jornalístico da região Norte destinado à divulgação do espiritismo (MAGALHÃES,

2012).

De acordo com Santana (2006), o “Grupo Espírita Luz e Caridade” teve um importante

papel na divulgação do Espiritismo no Pará, pois realizou diversas ações em ‘prol’ da

comunidade no ano de 1891, entre elas:

ajudou as vítimas de um incêndio na Bahia, arrecadando recursos financeiros em favor

dos atingidos;

desenvolveu um pedido por escrito ao governador na época Justo Leite Chermont10

,

relatando a violência praticada de forma discriminada contra pessoas que viviam nas

ruas de Belém; e

executou reuniões com objetivo de arrecadar contribuições para a manutenção do

Liceu de Artes e Ofício “Benjamin Constante”11

.

Essas iniciativas do grupo, acima de tudo, foram realizadas em virtude da difusão dos

ensinamentos da Doutrina, os quais tiveram progressivo desenvolvimento, impulsionados

pelo franco apoio que chegava de diversos lugares, conforme Santana (2006).

Para Magalhães (2012), a partir dessas primeiras ações iniciais do primeiro grupo

espírita de Belém é que inúmeros núcleos foram surgindo em 1890 com o mesmo propósito

de fortalecer os princípios do espiritismo, dentre os quais se destaca: o Centro Espírita do

Estado do Pará; a Sociedade Espírita Paraense, esta fundada sob a presidência do senhor

10

Justo Leite Chermont foi figura de destaque na vida política e social do Pará. Foi o primeiro governador do

Pará no regime republicano, seu governo foi até 7 de fevereiro de 1891. 11

Liceu de Artes e ofícios Benjamin Constant, criado em 22 de janeiro de 1892, instituto que contribuiu para

crescimento social e educativo no período Pará República.

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Pinheiro Guedes12

; o Grupo Espírita Amor e Perdão; o Grupo Espírita Regeneração; o Grupo

Espírita Fé e Constância; Grupo Espírita Abnegação; e o Centro Espírita Esperança.

A chegada do século XX traz o que se chama de Espiritismo, precisamente no ano de

1902, por meio de Arthúnio Vieira13

e a sua esposa, Emília Freitas Vieira. O casal teve um

importante papel na difusão de ideias espíritas em diversas cidades que passavam. Os dois

transferindo-se do município de Maranguape, Ceará, onde já trabalhavam intensivamente na

seara espírita, fundaram em Belém o Centro Espírita Paraense, que passou a editar, ainda no

mesmo ano, a revista Sophia e o jornal Luz e Fé, causando larga repercussão em toda a região.

“[...] O gesto idealista e arrojado do valoroso casal insuflou novo ânimo aos espíritas

belenenses, tonificando sobremaneira o movimento espírita local” (MAGALHÃES, 2012, p.

22).

A divulgação da Doutrina Espírita pelo casal em Belém não foi tão simples assim, uma

vez que provocou reações de pessoas contraria ao Espiritismo, originando em apedrejamento

e na tentativa de ocupação policial de uma das casas em que residia o casal, entre 1902 e

1904, onde funcionava o Centro Espírita Paraense com uma sessão pública. Sobre esse fato,

Santana (2006, p.38) diz que,

[...] Foi um verdadeiro escândalo. A casa foi apedrejada e a polícia tentou

invadi-la. Nada disso, porém, arrefeceu o entusiasmo e o ânimo de Arthúnio

e sua companheira, nem o do próprio povo que, levado pela curiosidade e

pela novidade do acontecimento de uma reunião espírita, ali passou a fluir,

em grande número, motivo por que, nas reuniões seguintes, chegou-se a uma

frequência de 400 pessoas, não obstante as incessantes ameaças que vinham

de toda a parte.

Até 1904, o Centro Espírita conseguiu desenvolver as atividades pretendidas, mas, de

acordo Magalhães (2012), o casal Arthúnio Vieira e Emília Freitas Vieira foram forçados a

mudar de residência, indo para a cidade de Abaetetuba, no Pará, onde continuaram com a

divulgação do Espiritismo, e deixaram o Centro Espírita Paraense nas mãos do Senhor

Antônio Lopes da Silva. Este, não teve forças para deixar o centro em funcionamento,

fazendo que gradativamente fosse terminando esta primeira grande iniciativa do maior núcleo

de divulgação espírita da capital à época.

12

Antônio Pinheiro Guedes (1842 – 1908), sócio fundador da Federação Espírita Brasileira. 13

Arthúnio Vieira – Intelectual, dramaturgo, comediógrafo, poeta, prosador e periodista. É procedente de

Maranguape-CE, chega a Belém com sua família, em 1902, trazendo na bagagem o espírito de lutador destemido

do propagandista espírita. Arthúnio Vieira chegou ao Espiritismo por intermédio da sua esposa, Emília Freitas

Viera, que o convidou a conhecer o “Centro Espirita Amazonense” (SANTANA, 2006, p.242).

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53

No transcorrer do ano de 1904, o Espiritismo não teve tanta repercussão. Isso foi

ocorrer, somente, no ano de 1905, quando o senhor José Domingues da Silva Lopes começou

a fazer reuniões, em sua residência, com alguns frequentadores e sócios do extinto Centro

Espírita Paraense, entre eles, Francisco Solerno Moreira14

, que buscava por meio de palestra

doutrinária recordar aos companheiros as ideias que Arthúnio e sua esposa disseminavam no

Centro Espírita Paraense. Para Santana (2006, p. 40, grifos do autor),

Realizadas tais sessões sob a direção de Silva Lopes, logo deram ótimos

resultados, constatada pela grande afluência aos trabalhos de espíritas e

mesmo de estranhos, tornando-se necessário imprimir-se a essas reuniões

uma orientação mais adequada. Ficou, então, assentada a reorganização do

antigo “Centro Espírita Paraense”, o que realmente sucedeu. A reinstalação

ocorreu no dia 6 de maio de 1905, ainda sob a presidência de Silva Lopes,

acontecimento que voltou a despertar o entusiasmo dos adeptos do

Espiritismo, principalmente com o súbito ressurgimento das sessões

espíritas.

Francisco Solerno Moreira (Imagem 8), animado pelos grandes trabalhos que estava

realizando em favor dos espíritas no Pará, sugeriu à criação de um impresso que teria o

objetivo levar às residências e a todos os lugares da cidade de Belém reflexões do Espiritismo.

Tal impresso ficou denominado de Sophia, denominação de uma revista mensal, criada,

anteriormente, por Arthúnio Vieira que não teve tanto êxito à época, mas em 6 de maio de

1905 passa a ser reeditada por alguns de seus antigos membros (MAGALHÃES, 2012, p. 23).

14

Francisco Solerno Moreira nasceu no Estado da Paraíba e era militar. Chegou a Belém em 1901 e ainda não era

espírita, fundando o Jornal Boêmia. No Pará, comandou o Depósito de Pólvora do Aurá e serviu a seguir no

Corpo de Tropa que depois seria o 26º o Batalhão de Caçadores. Funda, em 1906, o “Grupo Espírita Atalaia”

(SANTANA, 2006).

Page 55: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

54

Imagem 8 – Francisco Solerno Moreira.

Fonte: (SANTANA, 2006, p. 243).

Segundo Santana (2006), no ano de 1906, outra realização relevante para a consolidação

do Espiritismo foi feita por Francisco Solerno Moreira em terras paraenses. Este, juntamente

com o recém-chegado da cidade do Rio de Janeiro, o senhor Francisco de Paula Menezes15

,

fundou o “Grupo Espírita Atalaia” (1906), que em pouco tempo prosperou em Belém.

Conforme Magalhães (2012), as lutas, em favor do espiritismo no Pará, por parte de

Francisco Solerno Moreira e de Francisco de Paula Menezes, resultaram na fundação da

União Espírita Paraense, em 20 de maio de 1906, que funcionou por algum tempo na sede da

Associação dos Empregados, na travessa São Mateus, n. 153. Para esse autor, a União Espírita

Paraense, cujo presidente era o senhor Abel Augusto Cezar de Araújo, serviu de local para a

realização de importantes eventos espíritas. A criação da União Espírita foi um importante

marco na história dessa doutrina, pois a partir dela muitas outras iniciativas foram pensadas, o

que pode ser visualizado no Quadro 3, para o consolidação do espiritismo no Pará

15

Francisco de Paula Menezes oficial da Marinha de Guerra. Veio para Belém em 1905, proveniente da cidade

do Rio de Janeiro, onde havia participado, no ano anterior, no mês de outubro, das comemorações do centenário

de nascimento de Allan Kardec. “[...] Em 1907, juntamente com Solerno Moreira, funda a escola primária para

crianças carentes, denominada de “Allan Kardec” que funcionava na sede “Atalaia”. Idealizou a fundação da

casa federativa no Pará e foi sua a sugestão do nome União Espirita Paraense” (SANTANA, 2006, p. 245, grifos

do autor).

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Quadro 3 – Espiritismo e suas realizações no Pará.

ANO REALIZAÇÕES FUNDADO POR

1906 A Revelação – Órgão de divulgação

Jornal da União Espírita Paraense

Francisco Solerno Moreira

1906 União Espírita Paraense Francisco Solerno Moreira e

Francisco de Paula Menezes

1906 Grêmio Espírita Beneficente ‘Romualdo

Coelho’ na cidade de Cametá

_____

1906 Revista Verdade e Fé --------

1960 Grupo Espírita Atalaia Francisco Solerno Moreira e

Francisco de Paula Menezes

1907 Escolas Alla Kardec e Amélia de

Menezes – Escolas Primária para

crianças carentes

Francisco Solerno Moreira

1908 Grupo Espírita Esperança e Caridade Ludovico Andrade

1910 Jornal Alma e Coração Francisco de Paula Menezes

1910 Grupo Espírita Deus, Cristo e Caridade. Archimimo Pereira Lima

1911 Centro Espírita Eduardo Siqueira Archimimo Pereira Lima

1912 Cogita criar órgão de assistência aos

necessitados: postos curadores e

assistência à infância desvalida Esses

órgãos passa a funcionar em 1912

Antônio Lucullo de Souza e Silva e

sua esposa Vicência Silva

Ludovico Andrade e sua esposa

Matilde e cunhadas Ida e Vitória

1912 – Revista Espírita

– Escola Mont’Alverne – Para criança

necessitadas

Raymundo Nogueira de Farias

Domingos Sylvio Nascimento

1912 Instituto de Assistência à Infância Elmira Ribeiro Lima

1913 – Dispensário homeopático

– Farmácia Homeopática

Arthúnio Vieira

Antônio Pinheiro Filho

1914 Criação de uma biblioteca de obras

espíritas para ao público

Arthúnio Vieira

1914 Conselho Fraterno da União Antônio Lucullo de Souza e Silva

1915 Escola de médiuns Arthúnio Vieira

1916 Curso primário gratuito – noturno Arthúnio Vieira

1916 Dispensário Homeopático Archimimo Pereira Lima

1917 Periódico A Verdade Carlos Barros de Souza

1923 Programa “Voz da Terceira Revelação”

Na Rádio Marajoara

Rafael Fernandes de Oliveira

1926 Centro Espírita Yvon Costa Yvon Costa

1926 Associação Espírita Caminheiros do

Bem

Archimimo Pereira Lima

1926 Escola Infantil gratuita para criança –

Na sede do grupo espírita Os

Caminheiros do Bem

Archimimo Pereira Lima

Elmira Ribeiro Lima

1930 – Grupo Espírita Filho Pródigo

– Colônia Reformatória de Menores na

Ilha de Cotijuba-Pa

Raymundo Nogueira de Farias

Domingos Sylvio Nascimento

1946 Juventudes espíritas: Léon Denis,

Francisco de Assis, Caminheiros do

Bem, João Evangelista.

Oliveiros de Assunção Castro

Page 57: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

56

Fonte: Elaborado pela autora com base em Santana (2006).

As ações e obras, realizadas pelos adeptos do Espiritismo no Pará, especialmente em

Belém, onde se concentrou a maioria de suas manifestações, ilustradas no Quadro 3,

constituem-se na criação de impressos, como revistas e jornais para servir para fins de

divulgação dos seus princípios, e também programas de rádio, expressando uma nova maneira

de veicular informações para além dos suportes escritos, fazendo, inclusive, que muitos mais

pessoas tivessem acesso a esse conhecimento, em virtude do alcance desse meio de

comunicação.

É possível observar, ainda, a formação de grupos e centros, sinalizando ser uma maneira

de congregar seguidores, assim como de formar pessoas interessadas no tema; a criação de

eventos para reunir seguidores para se discutir a doutrina; e bibliotecas e livrarias, no sentido

de disponibilizar de modo sistemático e se fazer mais acessíveis os escritos espíritas.

Vale enfatizar, também, a preocupação em se criar cursos de formação espírita e

educacionais, a exemplo do Ensino Primário noturno, assim como órgãos de assistência aos

mais necessitados, que se constitui um dos lemas mais fortes no Espiritismo, tendo em vista

que, para este, sem caridade, não há salvação, e como se nota no Quadro 3, o alvo eram os

adultos, os jovens, os velhos e as crianças, isto é, havia a motivação de se olhar para várias

faixas etárias daqueles que necessitavam de ações caridosas.

Nesse sentido, a grande variedade de inciativas, implementadas no cenário paraense,

permite refletir que as múltiplas maneiras de divulgar, formar e trabalhar à luz do Espiritismo

1946 Centro Espírita Obediência e

Resignação

Aristóteles Fernandes de Abreu

Oswaldo Caminha

Lauro Monteiro

1947 – União da Mocidade Espírita Paraense

– Confraternização Espírita Paraense

– Instituição Lar de Maria – Abrigo

para crianças e idosos

Oliveiros de Assunção Castro

1950 – Mocidade Espírita Legião do Bem Lúcia Pinto Ribeiro

1954 – Grupo Espírita Boa Vontade Oswaldo Santos

1959 – Jornal Pará Espírita Luiz Carlos Leal – Jovem de 16 anos

1959 – 1º Programa Radiofônico Espírita: A

Voz da Terceira Revelação – Pela rádio

Clube do Pará

-------

1960 Inauguração da livraria André Luiz --------

1962 Inauguração do Grupo da Fraternidade

Infanto-Juvenil ‘Sheila’

Centro Espírita “Allan Kardec”–

Bairro Marambaia

1962 1º Semana Espírita de Belém

1º Curso Intensivo de Preparação de

Evangelizadores da Infância

Cecília Rocha

Page 58: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

57

pode ser considerado um relevante motivo que fez com que tal doutrina fosse, sobretudo a

partir das primeiras décadas no século XX, tão presente no estado em decorrência de suas

ações e obras.

Portanto, podemos perceber, na presente seção, vários momentos que compõem a

trajetória do movimento espírita paraense e que vários foram os pioneiros do segmento

espírita que se ‘debruçaram’ para consolidá-lo no Pará. Esse processo foi sendo construído

permeado de dificuldades e se utilizando de iniciativas, como: a criação e a manutenção de

impressos, grupos e instituições que intencionavam fortalecer e disseminar os princípios do

espiritismo. Dentre essas ações se encontra a Instituição Cristã Espírita “Lar de Maria”, foco

deste estudo, cujo objetivo foi o de oferecer assistência e educação para as crianças pobres da

Cidade de Belém, regida pela doutrina espírita e criada por um seguidor desta que teve grande

destaque na capital paraense, Oliveiros de Assunção Castro.

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SEÇÃO 2: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: a construção do

prédio e dos seus espaços educativos

As instituições são criadas e organizadas pelo homem com a finalidade de atender as

suas necessidades, sejam elas de caráter educativo, punitivo, assistencial, entre outras. No

caso da doutrina espírita, além de sua dimensão caritativa de auxílio aos mais carentes, foram

criadas instituições de atendimento a crianças para afirmar o espiritismo em determinados

contextos, no sentido de evidenciar os propósitos dessa doutrina em contraposição a diversos

estigmas por ela carregados, tais como: armação ou coisa do demônio que era capaz de criar

alucinações, gerar loucuras nas pessoas adeptas do espiritismo, que era visto como uma

verdadeira heresia a ser combatida (CARMURÇA, 2001). Durante o regime político do

Estado Novo 16

, entre os anos 1937 a 1945, pertencer a uma família espírita era estar sujeito a

perseguições religiosas, médicas e policiais.

O espiritismo foi responsável pela criação de muitas instituições por todo o Brasil,

tornando-se, muitas vezes, parceiro do poder público. No Brasil, a partir de 1919, o lema

“fora da caridade não há salvação” passou a se traduzir em um intenso movimento de criação

de instituições que visavam acolher, na modalidade de abrigo, a infância desvalida. Nesse

sentido, esta seção focaliza o processo de criação, construção do prédio do “Lar de Maria”, os

espaços, bem como as suas finalidades para o projeto assistencial e educativo proposto pelo

“Lar”. Por fim, abordo as doações para que o projeto se concretizasse e a inauguração do “Lar

de Maria”.

2.1 OLIVEIROS DE ASSUNÇÃO CASTRO: o criador do “Lar de Maria”

A Instituição Cristã Espírita “Lar de Maria” foi fundada no dia 15 de agosto de 1947,

em uma reunião solene, realizada por uma sociedade espírita denominada “Amor e Verdade”,

em Belém do Pará, na sede desse grupo, localizada, à época, na Travessa Castelo Branco, n.

70, Bairro de São Braz. Teve como criador o suboficial da aeronáutica e seguidor do

espiritismo Oliveiros de Assunção Castro (FOLHA DO NORTE, 1957).

16

Regime político, fundado por Getúlio Vargas em 1937 que durou até 1945, caracterizado pela centralização do

poder, nacionalismo, anticomunismo e por seu autoritarismo.

Page 60: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

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Imagem 9 – Oliveiros de Assunção Castro.

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

Oliveiros de Assunção Castro (Imagem 9), nasceu no dia 15 de agosto de 1912, na

cidade de Pinheiro, no Estado do Maranhão. A denominação Assunção de seu nome faz

referência ao dia 15 de agosto, dia da Ascensão de Nossa Senhora. Filho de Edésio Castro e

de Joanna Tavares de Castro. Oli, como era chamado pelas pessoas mais próximas, nem

sempre viveu em sua terra natal, quando tinha sete anos, seus pais mudaram para Alcântara,

depois para São Luís, Viana e finalmente Cururupu, onde passou boa parte de sua infância

(SANTANA, 2006).

Segundo Santana (2006), Oliveiros aos 15 anos foi morar em São Luís na cidade de

Anil, onde trabalhou numa casa de comércio a fim de ajudar no sustento de seus onze irmãos,

pois seus pais eram muito pobres. Com 16 anos de idade ingressou na carreira militar, tendo

realizado seus estudos na escola de aviação do Rio de Janeiro, à época, situada no Campo dos

Afonsos, em Marechal Hermes. Lá se tornou suboficial. Oliveiros de Castro casou-se com

Margarida Castro e, posteriormente, com Raimunda, com quem teve oito filhos, após a morte

desta, uniu-se, anos depois, com Rosa Maria, com quem teve mais três filhos.

Oliveiros de Assunção Castro, mesmo com a carreira militar, nunca deixou de trabalhar

pela difusão da Doutrina Espírita em que foi iniciado, ainda, na adolescência por influência de

sua mãe, a senhora Joanna Castro. Ele tinha o desejo de fundar em Pinheiros-Ma, sua terra

natal, uma obra assistencial que pudesse de alguma forma ajudar aquele povo sofrido do

interior maranhense. Para realizar tal feito, renunciou a sua carreira militar, pedindo para ser

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60

transferido para a reserva, pois só assim poderia realizar o seu desejo de construir a obra

assistencial Paulo de Tarso (SANTANA, 2006).

Ao chegar a Pinheiros para fundar a Casa de Paulo de Tarso17

(Imagem 10), Oliveiros

deparou-se com muitas pessoas que não aceitavam a Doutrina Espírita. Ele, por não concordar

com essa oposição ao espiritismo, lutou contra calúnias, ofensas, tentativa de morte e prisão.

Oliveiros de Castro foi levado à presença de governantes e Chefe de Polícia do Estado do

Maranhão, chegando até mesmo a ser expulso de sua terra natal, com a tropa da polícia

ameaçando-o sob a mira de suas baionetas e metralhadoras. Nesse cenário, “[...] Teve que se

retirar de sua cidade natal em razão de conflitos com a igreja católica local, retornando, anos

depois, enfrenta o clero e termina de construir a “Casa Paulo de Tarso”, edificando o prédio

do “Centro Espírita Pinheirense” (SANTANA, 2006, p.260, grifos do autor).

Imagem 10 – Casa de Paulo de Tarso – Maranhão.

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

Defensor da Doutrina que professava, Oliveiros de Assunção Castro participou de

várias polêmicas e debates em jornais, rádios e televisão com diversos representantes de

outros credos religiosos. Além da palavra fácil, Oliveiros possuía o dom da música e da

poesia. Com seu acordeom compôs várias músicas para a Doutrina Espírita durante mais de

17

A Casa de Paulo de Tarso uma obra assistencial que tinha o intuito de prestar assistência material e espiritual

ao ser humano, principalmente as crianças e aos idosos carentes do Maranhão.

Page 62: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

61

50 anos que a ela se dedicou, dentre as quais destaco: Canção da alegria Cristã, Alma Gêmea

(cantada em todo o Brasil); Trilogia da salvação; Hino a Francisco de Assis; Regressando

(homenagem à cidade de Pinheiro), Exortação do mestre e Nova Era e Quem Canta. Além de

músicas, Oliveiros de Castro também escreveu versos e poesias à sua terra natal, e sobre

passagens evangélicas, tais como: Maria Madalena, O Tanque de Betesda, Estrada de

Damasco e outras (SANTANA, 2006). A seguir, nos Quadros 4 e ,5,,algumas músicas de

autoria de Oliveiros de Castro.

Quadro 4 – Canção da Alegria Cristão e Canção de Exortação do Mestre.

Fonte: Disponível em: <www.acervoespirita.com.br>. Acesso em: 15 set. 2015.

A música a seguir foi escrita e dedicada para as crianças de todas as Instituições

Espíritas que Oliveiros de Assunção Castro construiu. É perceptível que a letra da música

expressa um ato de persuasão para que as pessoas se comovam e ajudem no trabalho que

estava sendo realizado nos abrigos de caridade espíritas em ‘prol’ das crianças.

CANÇÃO DA ALEGRIA CRISTÃ

(Leopoldo Machado e Oli de Castro)

Somos companheiros, amigos, irmãos

Que vivem alegres, pensando no bem

A nossa alegria é de bons cristãos

Não ofende a Jesus, nem fere a ninguém

A nossa alegria (a nossa alegria)

É bem do Evangelho (é bem do Evangelho)

Vibra e contagia (vibra e contagia)

Da criança ao velho (da criança ao velho)

Mesmo entre perigos (mesmo entre

perigos)

Daremos as mãos (daremos as mãos)

Como bons amigos (como bons amigos)

Como bons cristãos.

Sempre ombro a ombro, sempre lado a lado

Vamos trabalhar com muita alegria

Pelo espiritismo mais cristianizado

Pela implantação da paz e harmonia!

A nossa alegria...

EXORTAÇÃO DO MESTRE

Se alguém quiser vir após mim

Renuncie a si mesmo e me siga,

Sou o Caminho, a Verdade e a Vida

De um Reinado que não terá fim.

Se me amardes, como eu vos amei

Rogarei a meu Pai, com fervor,

Ele então mandará outro Consolador

Relembrar tudo o que eu vos legue,

Este, vos guiará, com maior esplendor

Na conquista do mais puro amor!

Vinde a mim vós que estais oprimidos

Suportando o rigor da aflição,

Encontrareis no meu coração

O conforto para os combalidos.

Se cumprirdes o meu mandamento

Todos hão de vos reconhecer,

E sereis bem ditosos, por assim receber

Os louvores do merecimento,

Só então amareis, com o mais sublime

ardor

Vosso Mestre e vosso CRIADOR!

Page 63: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

62

Quadro 5 – Canção Quem Canta

Fonte: Disponível em: <www.acervoespirita.com.br>. Acesso em: 15 set. 2015.

Em 1945, Oliveiros chegou à Belém e de início se engajou no trabalho do Movimento

Espírita Paraense, que foi fundado no dia 20 de maio de 1906. Oliveiros de Assunção, nesse

mesmo ano, fundou grupos de jovens chamados “Juventudes18

Espíritas em Belém”: Leon

Denis, na “União Espírita Paraense”; Francisco de Assis, na “Confederação Espírita

Caminheiros do Bem”; e João Evangelista, no “Centro Espírita Francisco de Assis”,

promoveu a fusão dessas três mocidades, formando a “União de Juventude Espírita Paraense”.

De acordo com Santana (2006, p.89), na capital paraense,

18

Juventudes espíritas ou também chamadas de Mocidade Espírita é um setor interno de um Centro Espírita,

destinado a encontros de jovens com o intuito de estudar a Doutrina Espírita e desenvolverem atividades

culturais.

Page 64: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

63

[...] Oliveiros de Assunção Castro, que ficou conhecido nos arraiais espíritas

locais como Oli de Castro. Sargento e posteriormente suboficial da

Aeronáutica, era pessoa talentosa, bem falante, dotada de espírito de

liderança e que dominava bem o vernáculo. Com tais predicados, aliados ao seu entusiasmo e magnetismo pessoal, veio, em realidade, sacudir o

Movimento Espírita Paraense por volta dos anos de 1946/1949.

Convém ressaltar que o interesse pela construção de obras de caridade, norteado pela

doutrina espírita, que tanto o motivou ao longo de sua trajetória de vida, surgiu, ainda, na

adolescência, quando, ao participar de uma reunião espírita19

, presenciou uma revelação20

direcionada para ele, expressando que este teria uma importante missão a desenvolver na terra

em ‘prol’ dos órfãos e dos desvalidos da sorte (SANTANA, 2006).

Ser Órfão é a condição social de uma criança, cujo pai ou mãe faleceram ou a

abandonaram. Já o termo desvalido é usado para aquelas crianças que pertenciam, a famílias

de baixo poder aquisitivo. Para Bastos (2005), as famílias consideradas desvalidas, pelo seu

estado de pobreza eram colocadas à margem da sociedade.

Segundo Veiga (2012, p.8), a partir do século XVIII era recorrente encontrar em

documentação e legislação a palavra “desvalida”, fazendo referência às crianças ditas

marginais, o prefixo de “desvalida”, especificamente a sílaba “des” tem o significado “não ser

válido”, isso “do ponto de vista físico, material, cultural”.

“Órfãos”, “expostos”, “enjeitados”, “deserdados de sorte” ou “de fortuna”, “infância

desditosa” ou “infeliz” (ARANTES, 2011, p. 176). Estas foram, dentre muitas palavras,

usadas para designar as crianças pobres que eram largadas a própria sorte.

A missão revelada a Oliveiros de Castro de trabalhar na terra em ‘prol’ dos órfãos e dos

desvalidos da sorte vai ao encontro de um dos maiores princípios da doutrina espírita, que é a

caridade aos necessitados, pois o espiritismo postula que não se pode amar a Deus sem

praticar a caridade para com o próximo, todos os deveres do homem se resumem nesta

máxima: “Fora da caridade não há salvação” (KARDEC, 2014, p. 210).

Os seguidores dessa doutrina, embasados nesse lema, se emprenharam na edificação de

instituições espíritas para a assistência e à educação de crianças, para assim colocarem em

prática aquilo que sempre estudavam sobre a caridade em ‘prol’ dos mais necessitados. Dessa

19

É uma reunião composta pelo presidente da mesa, os palestrantes e o público, com intuito de fazer

comunicação com mortos ou espíritos (MASTRAL, 2008, p. 121). 20

No sentido específico da fé religiosa, diz-se revelação, particularmente, das coisas espirituais que o homem

não pode saber por ele mesmo, que não pode descobrir por intermédio de seus sentidos, e cujo conhecimento é

dado por Deus ou pelos seus mensageiros, através da palavra direta, ou pela inspiração. Neste caso, a revelação é

sempre feita a homens privilegiados, designados sob o nome de profetas ou messias, isto é, missionários, tendo a

missão de transmiti-la aos homens. Considerada sob este ponto de vista, a revelação pressupõe a passividade

absoluta; aceita-se sem verificação, sem exame e sem discussão (KARDEC, 2010, p.27).

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forma, muitas instituições que atendiam crianças com base nesse postulado da doutrina

espírita, referente à caridade, viam nisso a possibilidade de transformação social por meio da

educação e do trabalho.

Segundo Arriba (2010, p. 187), do ponto de vista organizacional, os espaços das

instituições apresentam uma dinâmica entrelaçada. Para o autor, “[...] o centro espírita,

enquanto unidade elementar consiste no lugar privilegiado para a prática dos estudos e para a

execução prática da doutrina; lá, as formas de caridade mais praticadas são a ‘assistência

espiritual’ e os trabalhos de ‘desobsessão’”. Quase sempre funcionam, atreladas aos centros,

instituições de auxilio social e material, frequentemente creches, escolas profissionalizantes,

albergues, orfanatos, hospital e asilos.

Oliveiros de Castro procurou estudar o Espiritismo e a sua essência por meio das obras

de Allan Kardec. Este aborda o espiritismo dentro de uma proposta da “filantropia21

” como

um instrumento da práxis social, postulando que a Caridade é o Evangelho posto em prática,

dando ênfase na relação caridade e amor ao próximo. Para Kardec (2008, p. 280, grifos do

autor), “[...] O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, porque amar ao

próximo é fazer-lhe todo o bem possível, que desejaríamos que nos fosse feito. Tal é o sentido

das palavras de Jesus: ‘Amai-vos uns aos outros, como irmãos’”.

A noção de caridade, presente nos estudos dos seguidores dessa vertente espírita, é

aquela destinada a construção de instituições para cuidar das pessoas desfavorecidas, como

orfanatos, abrigos e escolas. A caridade pode se manifestar de forma mais pontual por meio

de doação de alimentos, roupas, remédios etc., a fim de amenizar a dor moral e confortar as

dores cotidianas dos mais necessitados (SANTANA, 2006).

As reflexões de Allan Kardec objetivam mostrar um modelo de educar direcionando a

moral como o caminho adequado para a transformação do espírito, que deve evoluir

progressivamente por meio da ação da caridade. Segundo Kardec (2013), está na caridade

moral o exercício do verdadeiro cristão, pois a caridade material vai ser a obrigação do

homem e também do Estado, que tem o dever de suprir as necessidades básicas dos

indivíduos da sociedade com: alimentação, saúde e educação.

Além dos estudos de Allan Kardec, Oliveiros de Assunção Castro também foi

influenciado pelas ideias do professor e pioneiro do Espiritismo: o senhor Leopoldo Machado

Barbosa, que nasceu no dia 30 de setembro de 1891, no Estado da Bahia. Jornalista, escritor,

21

Sentimento que leva o homem a ajudar os demais. Amor ao próximo; caridade (RIOS, 1997, p. 267).

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polemista, professor, poeta, compositor, orador, deixou vários escritos, nos gêneros: poesia,

teatro, conto e estudos doutrinários espíritas (RAMOS, 1965)

De acordo com Ramos (1965), Leopoldo foi um dos incansáveis defensor da causa

espírita no Brasil; ele passou a divulgar a Doutrina por todo o país, defendendo-a dos ataques

dos médicos e dos membros da igreja católica. Criou as mocidades espíritas, instituiu também

as escolas de evangelização Infanto-Juvenil. Nesse sentido, foi um grande líder espírita que

incentivava a participação dos jovens nas atividades espíritas, fundou algumas mocidades

espíritas no país, como exemplo, a segunda mais antiga do Brasil a de Iguaçu.

Leopoldo Machado realizou no país 1º Congresso de Mocidades Espíritas do Brasil, no

ano 1948, esse evento foi um marco na história do Espiritismo no Brasil, tendo contado com a

presença de seiscentos participantes espíritas, conforme Ramos (1965).

Além disso, Ramos (1965) destaca que a denominação da palavra “Lar” foi, inclusive,

criada por Leopoldo. “Lar” significava casas de amparo à infância e a velhice, em lugar do

termo orfanato e asilo. A criação de instituições assistencialista obedecia aos princípios do

espiritismo, Leopoldo Machado construiu, no ano de 1940, o albergue noturno o "Allan

Kardec" e o "Lar de Jesus", destinados às meninas órfãs e abandonados, além da escola de

alfabetização “João Batista”, inaugurou também o colégio Leopoldo, onde participou como

educador pedagógico.

Oliveiros de Assunção Castro empenhou-se, ao longo de sua trajetória, na fundação e na

construção de várias instituições e obras assistenciais espíritas, tendo sido uma pessoa

representativa para a construção de obras de caridade e nas ações do Movimento Espírita,

dentre as quais se destacam:

[...] “Lar de Jesus”, em Nova Iguaçu (RJ), “Lar de Maria”, em Macaé (RJ),

“Centro Espírita Arautos de Uma Nova Era”, em Madureira-Rio de Janeiro;

“Lar de Maria”, em Ceilândia (Brasília); “Casa de Paula de Tarso”, Centro

Espírita Pinheirense”, em Pinheiros (MA). Colaborou na construção do

“Educandário ‘Jesus de Nazaré’”, em Belém (PA), dos Centros Espíritas

“Estrada de Damasco” e “ Legião Espírita”, em Japeri (RJ). Funda ainda as

Mocidades Espíritas da Barra, Friburgo e Petrópolis (RJ) e em Campos

Grande (MG). Exerceu atividade no Sanatório Espírita em Campo Grande

(MG); [...]. (SAMANTA, 2006, p.260).

No ano de 1947, Oliveiros de Castro fundou a Instituição Cristã “Lar de Maria”,

destinada a abrigar crianças e idosos, tendo em vista que, ao chegar a Belém, no ano de 1945,

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66

notou que havia poucas instituições22

de ensino voltado ao atendimento de meninas. Inspirado

pelos ensinamentos religiosos e norteados pelos princípios da doutrina espírita sobre a

caridade fundou o “Lar de Maria”, para amparar e assistir as meninas pobres. O jornal Folha

do Norte traz o seguinte objetivo desse lar:

Amparar e assistir os pobrezinhos no principio e no fim da existência

terrena, eis o grandioso objetivo do “LAR DE MARIA”, instituição amorosa

e simpática que se impõe aos corações bem formados, despertando-se numa

inspiração superior, para a praticada maior de todas as virtudes a

“CARIDADE”.

Auxiliar, portanto, o “LAR DE MARIA”, na sua construção e manutenção é

demonstrar de forma expressiva e exuberante, a nobreza dos sentimentos

elevados que caracterizam os verdadeiros cristãos.

Séde (sic) provisória: Avenida Osvaldo Cruz. Nº 319 – Belém-Pará.

(FOLHA DO NORTE, 1947, p.3).

2.2 A CONSTRUÇÃO DO “LAR DE MARIA”: Espaço Físico Educativo

De acordo com Magalhães (1999), uma instituição educativa compreende as estruturas

física, administrativa e social, essas têm a finalidade de produção e transmissão de cultura.

Nesse sentido torna-se necessário conhecer a estrutura física da instituição do “Lar de Maria”.

O início da construção do prédio dessa instituição, em Belém, teve como ponto de

partida a doação de parte de um terreno que servia como depósito de lixo e que media 100 m

de frente e 88,50 m de fundos, localizado na Avenida São Jerônimo (atual endereço da praça

Floriano Peixoto, no bairro de São Brás, n. 33). Essa doação foi feita pelo prefeito Estórgio

Meira de Lima, no governo de Luiz Geolás de Moura Carvalho, para uma Sociedade23

denominada “Confraternização Espírita Paraense”. O terreno, à época da doação, foi avaliado

em torno de CR$ 3 00000,00 cruzeiros. A coluna espírita veiculada pelo jornal Folha do

Norte noticiou esse importante acontecimento:

Foi assinado recentemente pelo Prefeito de Belém, um decreto doando à

“Confraternização Espírita Paraense”, o terreno situado à avenida São

Jerônimo, esquina da rua 9 de Janeiro, para a construção do LAR DE

MARIA, que conforme tem sido anunciado, será uma instituição destinada a

proteger, assistir e educar as criancinhas órfãs e abandonadas e abrigar aos

velhinhos desvalidos e desamparados, sem distinção de côr (sic), raça,

nacionalidade ou credo religioso.

A Família Espírita Paraense, vibrando de satisfação, manifesta o seu

reconhecimento sincero e profundo não somente ao Prefeito, como a todos

22

O Colégio das Educandas (1804), Colégio Santa Catarina (1903), Internas da Instituição Pia Nossa Senhora

das Graças (1943), Colégio Santa Rosa (1935), Instituto Nossa Senhora de Nazaré (1914), entre outros. 23

Grupo de pessoas adeptos do espiritismo com objetivo de estudos doutrinário, irradiação e divulgação do

espiritismo no Pará

Page 68: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

67

os que direta ou indiretamente vêm cooperando cristãmente para a edificação

dessa obra. (FOLHA DO NORTE, 1947, p.2).

Neste sentido, compreendo que a instituição “Lar do Maria”, se enquadra no que

Magalhães (1999) denomina de construção de raiz, pois a sua criação e edificação surgiram a

partir de um terreno doado e não de um edifício adaptado para a realização de atividades

assistencialista e educativa.

A partir da aquisição do terreno ocorreu o lançamento da pedra fundamental, momento

simbólico que registra o primeiro bloco de pedra ou alvenaria acima da fundação de uma

construção. O lançamento aconteceu dia 01 de janeiro de 1948 e a pedra trazia a seguinte

inscrição: “Confraternização Espírita Paraense: Aqui constrói o “Lar de Maria”: O abrigo das

Criancinhas dos Velhinhos Desamparados. Cooperai com o vosso donativo generoso, para a

edificação deste templo. De Amor e Caridade: Terreno doado pela prefeitura municipal de

Belém. Engenheiro responsável Dr. Judah Levi” (Imagem 11). O jornal Folha do Norte, do

dia 27 de dezembro de 1947, noticiou esse representativo momento:

O LANÇAMENTO DA PEDRA FUNDAMENTAL, DIA PRIMEIRO DE

JANEIRO.

Graças ao movimento cristão, eminentemente social e patriótico, que a

família espírita paraense vem mantendo, o “Lar de Maria” será, dentro em

breve, uma realidade. No largo de São Bráz será ele erguido. Uma obra que

merece amparo de todos. Dia 1º de Janeiro, será solenemente lançada a pedra

fundamental, tendo ontem as FOLHAS sido convidadas por uma comissão,

da qual faziam parte os srs. Oli de Castro, João de Oliveira e Romeu Amora,

e senhoras encarnação Graça, Lili Silva, Mary Torrinhas, Rosinha Rios,

Lucia Pinto e Dinair Amoras. (FOLHA DO NORTE, 1947, p.8).

Durante o Lançamento da Pedra Fundamental, o criador e presidente da

Confraternização da Espírita Paraense, Oliveiros de Assunção Castro, proferiu algumas

palavras de agradecimento pela doação do terreno, enfatizando a necessidade de ajuda para a

construção do prédio da instituição:

Foram iniciados, desde o dia 15 do corrente mês os trabalhos preparativos da

construção do “LAR DE MARIA”, terreno gentilmente doado pelo sr.

Prefeito de Belém e que fica no Largo de São Braz.

Agora, mas do que nunca, necessitamos da solidariedade fraterna e cristã, do

apoio e ajuda moral e material de toda a família espírita do Pará, para

levarmos a efeito essa grandiosa iniciativa que tem por objetivo amparar e

assistir as criancinhas órfãs e os velhinhos desvalidos de nossa terra. OLI

DE CASTRO. (FOLHA DO NORTE, 1947, p.3).

Page 69: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

68

O nome da instituição foi escolhido em homenagem a Maria Santíssima. No dia 15 de

agosto de 1947 foi fundada e iniciada a edificação do “Lar de Maria”. A sua construção ficou

a cargo do engenheiro e arquiteto Dr. Judah Levi. Este foi pioneiro na construção de edifícios

de mais de dez pavimentos na cidade de Belém. Seus edifícios refletiam aspirações de

modernidade (O LIBERAL, 2000). Na imagem 11, a representação de um cartão

comemorativo da fundação do “Lar de Maria”.

Imagem 11 – Parte do Cartão Comemorativo de Fundação (1947).

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

A Imagem 12 retrata área doada para a Confraternização Espírita Paraense pela

prefeitura para construir a instituição. Certifico que era um espaço bastante extenso em uma

cidade em processo de urbanização, tendo o Mercado de São Braz24

como construção em

destaque na imagem.

24

O Mercado de São Braz foi erguido durante a época áurea do ciclo da borracha amazônica, construído em

função da grande movimentação comercial gerada pela ferrovia Belém/Bragança, situado distante do centro

histórico da cidade de Belém.

O Lar de Maria

Foi fundado pelo 1º Sarg º. Oliveiros de Assunção Castro,

vulgarmente conhecido como Oli de Castro.

O terreno que está sendo construído foi doado pela Prefeitura

Municipal de Belém. Escritura no Cartório da Tabeliã Joana Diniz,

Lº 132, fls. 56. V. mede 100 mts de frente e 88,50 mts de fundos

avaliação a época foi de Cr$ 3 00000,00. Hoje o seu valor é superior

a Cr$1 000, 000.00. Já foram apreendido na construção, ele 30.66.52,

Cr$ 996. 113,70.

O resto da obra inclui instalação mobiliário, aparelhagens médicas,

cirúrgicas e dentárias está orçado em cerca de cr$ 3 000,000.00. A

sua diretoria atual está assim constituída:

OSWALDO PACHEDO DILLON-Presidente

RUI VIDAL ARAUJO-Secretário

MÁRIO SOLANO Tesoureiro

FRANCISCO NUNES MARTINS – Diretor Administrativo

JOSÉ FRANCISCO PEREIRA-Diretor da “Campanha do Quilo”

Dr. NESTOR PINTO BASTOS – Diretor do departamento de

finanças

------------------ X-----------------------

A Diretoria e o seu Engenheiro Dr. Judah Levy não recebem

qualquer remuneração pelos seus serviços.

Page 70: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

69

Imagem 12 – Terreno doado pela prefeitura ao lado do Mercado de São Brás (1947).

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

O projeto arquitetônico do “Lar de Maria” apresentava traços arrojados para a época.

Judah Levi, engenheiro e arquiteto desse prédio, projetou uma obra com uma estrutura que

fazia alusão a um avião (Imagem 13), como forma de homenagear Oliveiros de Castro, que

era suboficial da aeronáutica (O LIBERAL1997). Não houve nenhuma remuneração aos

serviços prestados para a construção dessa instituição.

Imagem 13 – Planta da Instituição “Lar de Maria” (1947).

Fonte: Elaborado pelo autor, com base na fotografia do álbum do Lar de Maria (1947).

PROJETO PARA A CONSTRUÇÃO DO “LAR DE MARIA”

NA PRAÇA FLORIANO PEIXOTO

Projeto e Administração de J. S. Levy

Engº Civil – G.E. 5443-D.E. Reg.

Praça da República – 27-Belém

Page 71: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

70

O conjunto das instalações, que compõe o prédio da Instituição “Lar de Maria”,

compreende um pavimento térreo central. Nele há duas varandas, uma sala de entrada, uma

secretaria, uma diretoria. Nesse mesmo espaço, localizam-se o teatro, constituído por um

palco e duas cabines, bem como a escola, tendo ao fundo um refeitório. No pavilhão

esquerdo, existem uma sala vigilante, uma enfermaria, um dormitório com 75 leitos, ao fundo

o sanitário e ao lado desse prédio uma grande varanda. No pavilhão da direita, há os seguintes

espaços: uma sala chamada vigilante, um berçário com um banheiro, um dormitório com 75

leitos, sanitários e ao seu redor também uma varanda. No primeiro andar da instituição há

uma sala de administração, uma sala para o arquivo, uma sala vestíbulo e uma sala chamada

isolamento. No sub-solo há uma copa e cozinha, dois banheiros e duas salas de depósitos. Ao

redor do prédio da instituição há vários jardins.

A edificação do “Lar de Maria” acompanhou um período em que Belém vivenciava a

construção de diferentes e suntuosos prédios espalhados pela cidade. Essa instituição, mesmo

distante do centro urbano, apresentava um prédio de elegância com linhas e curvas

arquitetônicas diferenciadas, considerada para Oliveiros de Castro como um “grandioso

templo” (FOLHA DO NORTE, 1957).

Segundo Lopes e Galvão (2011), a estrutura, a construção, os espaços planejados para

atividade escolar revelam a história da instituição e a educação da época. Para essas autoras, a

arquitetura é considerada como fonte para compreender o processo educativo deselvolvido em

uma instituição escolar.

De acordo com Frago e Escolano (1998), o arquiteto, os médicos, os políticos, as

pessoas interessados nas discursões em relação ao ensino, precisariam compreender os ideais

pedagógicos e a sua relação com os espaços escolares, pois o espaço educa e todo educador

deveria ser uma arquiteto.

Para Rocha (2001, p.15), “[...] a arquitetura deve responder nitidamente às situações

fundamentais que amparam a vida humana”. Nessa visão, é perceptível que o projeto

arquitetônico da instituição “Lar de Maria” teve a preocupação em construir compartimentos,

no interior do seu “lar”, que viessem dar amparo, auxílio e proteção para as pessoas que lá

vivam.

Os espaços físicos não apenas contribuem para a realização da educação, mas são em si

uma forma silenciosa de educar. Como afirmam Frago e Escolano (1998, p. 69), o espaço

físico não é apenas um “cenário” onde se desenvolve a educação, e sim “[...] uma forma

silenciosa de ensino”.

Page 72: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

71

Sobre esse assunto, Rocha (2001) destaca que os espaços escolares não são neutros e

nem vazios da educação, para ele, os espaços atuam com um discurso que estabelece, em sua

concretude, valores e um conjunto de aprendizagem que abrange o estético, culturas e

ideologia.

A Imagem 14 retrata o início das obras com suas primeiras estruturas básicas para

possibilitar o andamento da edificação do prédio. Além disso, é perceptível a presença de

alguns trabalhadores e pessoas responsáveis pela gestão das atividades de construção do “Lar

de Maria”. Ao centro da imagem é possível visualizar a pedra fundamental que fornece as

principais informações sobre a instituição e seus responsáveis.

Imagem 14 – Pedra Fundamental para a Construção do “Lar de Maria”.

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

A Imagem 15 a seguir mostra a fase inicial da construção do “Lar de Maria”, onde a

fundação da edificação estava sendo realizada. Na imagem, em uma visão ampla do espaço, é

possível observar trabalhadores cavando o terreno, pousando com seus instrumentos de

Confraternização Espírita Paraense

Aqui constrói o “Lar de Maria”: O abrigo das Criancinhas e dos

Velhinhos Desamparados.

Cooperai com o vosso donativo generoso, para a edificação deste

templo.

De Amor e Caridade: Terreno doado pela prefeitura municipal de

Belém.

Engenheiro responsável Dr. Judah Levi

LAR DE

MARIA

Page 73: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

72

trabalho ao lado do engenheiro e arquiteto Judah Levi (da direita para a esquerda, o senhor

Judah Levi, Oswaldo Pacheco e trabalhadores da obra).

Imagem 15 – O engenheiro e arquiteto Judah Levi e trabalhadores da obra (1947).

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

2.3 AS INICIATIVAS PARA A EDIFICAÇÃO DO “LAR DE MARIA”

Com o projeto arquitetônico definido e já iniciado o primeiro passo da obra, muito se

precisava fazer para que ela chegasse à sua fase de conclusão, mas como o “Lar”, se

caracterizava como uma instituição não governamental, ele precisou de inúmeras ações

caritativas da sociedade civil, criadas pelo Movimento Espírita paraense, para que ‘tal’ projeto

se concluísse e enfim pudesse servir ao seu objetivo principal: dar assistência aos mais

necessitados.

Durante o processo de edificação do “Lar de Maria”, a Coluna Espírita, veiculada

diariamente no jornal Folha do Norte, contribuiu significativamente para angariar fundos para

a construção dessa instituição. Tal coluna pertencia a uma sessão, denominada Religiões e

Crenças, subdivida em pequenas notas de informação para que cada religião fizesse

divulgações. Normalmente, estas iniciavam com palavras que tratavam de suas crenças

religiosas e posteriormente, informavam os pedidos de ajuda, divulgação de festas e as

campanhas no espaço chamado Noticiário.

Page 74: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

73

Em face da importância da coluna, o senhor Oliveiros Assunção Castro agradeceu ao

jornal Folha do Norte por ter dado espaço para a divulgação de notícias sobre os trabalhos e

ações em ‘prol’ do “Lar”. Para ele, o jornal era um “[...] grande órgão de publicidade que é,

inegavelmente, o vanguardeiro e defensor dos sagrados direitos de justiça, liberdade e

igualdade, nas plagas amazônicas” (FOLHA DO NORTE, 1947, p.3).

O fragmento, a seguir da referida coluna, contém as palavras de Oliveiros de Castro,

requisitando as doações para a construção do prédio do “Lar de Maria”. Segundo ele, tudo é

proveitoso: pedra, tijolo, telhas, areia, cal, cimento, mão de obra, os que têm coração nobre e

generoso devem ajudar. A linguagem com tom apelativo e emocional foi a tônica de várias

campanhas:

Na construção do “LAR DE MARIA”, tudo será proveitoso e útil: pedra,

tijolo, telhas, cimento, areia, zinco, cal, ferramentas, mão de obra, e etc., etc.,

tudo isso e mais alguma coisa esperamos de todos que, possuindo um

coração nobre generoso, cumprem à face da Terra o maior mandamento

deixado pelo Mestre dos Mestres: “QUE VOS AMEIS UNS AOS OUTROS,

COMO EU VOS AMEI” – OLI DE CASTRO. (FOLHA DO NORTE,

1947, p.3).

No trecho da Coluna Espírita, a seguir, tomando como mote as festas natalinas, são

verificados alguns preceitos da doutrina espírita, como: o amor ao próximo, o auxílio aos mais

necessitados, bem como significativos ensinamentos defendidos pelo espiritismo como

motivações para que as pessoas pudessem ajudar nas ações do “Lar de Maria”, auxiliando

crianças e idosos necessitados de bens materiais e de afeto.

Demostremos ao mundo materialista e ateu, que não cultuamos a sagrada

memória de Cristo tão somente com os lábios, mas, sobretudo, com o

coração através dos atos generosos e altruísticos.

O “Lar de Maria” sintetiza no momento o maior e a mais viva esperança de

todas essas criancinhas órfãs e infelizes que, rolando de casa em casa, nunca

conheceram as caricias inefáveis de um beijo maternal e nem a ternura

confortadora de u’amão (sic) amiga afagando carinhosamente os seus

cabelinhos revoltos e macios.

O “LAR DE MARIA” resume ainda, os anseios incontidos dessa multidão

de velhinhos trôpegos e combalídios (sic) que sem lar, sem pão e sem

amigos, perambulando, diariamente, de porta em porta, suplicando a graça

de uma esmola ou o dôce (sic) aconchego de um abrigo.

Vós que tendes um lar confortável e farto, que tendes pão e lume e que

desfrutaís, pela graça de Deus de todos os privilégios e considerações,

lembrai-vos dos “Filhos do Calvário”, daqueles por quem Jesus tanto se

sacrificára (sic). Enviai ao “LAR DE MARIA”, que será um desdobramento

do vosso próprio lar, algo que possa concorre para o amparo e assistência

daqueles que talvez outrora, já desfrutassem da mesma facilidade e bem

estar que hoje vos felicita. Dessa forma tereis comemorando o Natal de Jesus

Page 75: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

74

Cristo com sabedoria e bondade, únicas aos que nos conduzirão a Deus –

OLI DE CASTRO. (FOLHA DO NORTE, 1947, p. 3).

Já nos dois noticiários a seguir, é notável a divulgação de festivais teatrais,

promovidos por dois grupos espíritas, que possuíam a intenção de ajudar nas obras da

instituição, tendo em vista que o “Lar de Maria” era um projeto que envolvia todo o

Movimento Espírita do Pará.

LAR DE MARIA

Realizar-se-á no dia 1º de junho às 20 horas, na sede dos Caminheiros do

Bem, à avenida Conselheiro Furtado, mais um grandioso festival em

beneficio da construção do “ Lar de Maria”, o abrigo das crianças e dos

velhinhos abandonados.

Do programa, que está caprichosamente organizado, constará a apresentação

do prof. Leopoldo Machado, “O Terrível Segredo”, seguindo-se um ato

variado atraente e interessante. (FOLHA DO NORTE, LAR DE MARIA,

1947, p.2).

Por atenciosa deferência de seus diretores, realizar-se-á no dia 17 do

corrente, às 20 horas, no Teatro Eden, ao lado do Hoteal-Suiço (sic), um

grandioso festival teatral em beneficio da construção do LAR DE MARIA,

cuja fundação definitiva foi levada a efeito no dia 15 de agosto, às 15 horas,

na sede do Grupo Espírita Amor e Verdade, situado à trav. Castelo Branco,

n. 70.

Nessa data, será igualmente comemora o decimo (sic) aniversário de

fundação do referido Grupo, razão por que a sua diretoria convida a todos,

indistintamente, a compartilharem do banquete espiritual. (FOLHA DO

NORTE, 1947, p.2).

Para melhor compreensão, destaco, no Quadro 6, algumas sedes de grupos espíritas

‘espalhadas’ pela cidade de Belém, em 1947, que estavam empenhados em campanhas para a

realização da construção do prédio “Lar de Maria”.

Quadro 6 – Grupos espíritas de Belém.

SEDES ENDEREÇO NÚMERO

Grupos Espírita Amor e

Verdade

Castelo Branco 70

Grupo Espírita Caminheiros

do Bem

Conselheiro Furtado 381

Grupo Espírita de Ubirajara ---------- ---------

Grupo Espírita Francisco de

Assis

Av. Cipriano Santos 217

Grupo Espírita Sagrada

Família

Rua Castelo Branco 72

Sede Provisória do “Lar de Avenida Osvaldo Cruz 319

Page 76: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

75

Maria”

Fonte: Elaborado pela autora, a partir de Santana (2006).

Os festivais eram desenvolvidos por grupos e/ou segmentos sociais que não estavam

diretamente associados aos grupos espíritas, mas que comungavam do interesse de contribuir

para a construção do prédio, buscando por em prática a ajuda aos mais carentes. O evento

retratado na Coluna Espírita traz uma iniciativa em homenagem a militares, que objetivava

arrecadar fundos com a realização de uma grade festa teatral.

Em homenagem aos oficiais sargentos e soldados, bem como às respectivas

famílias, realizar-se-á na próxima quinta-feira, dia 16, às 19:30 horas, na base

Aérea se Val de Cães, uma grande festa teatral, cujo produto reverterá em

beneficio da construção do “Lar de Maria” a instituição de assistência e

amparo à infância e à velhice abandonada de nossa terra.

As pessoas que desejarem assistir a esse festival poderão utilizar os ônibus da

empresa Camilo Pinto da Silva, que sirão (sic) do Largo da Pólvora, ponto

fronteiro ao cinema Olímpia, às (sic) 18,30 e 19 horas. (FOLHA DO NORTE,

1947, p.2).

Vale ressaltar que tais ações também eram realizadas a partir de iniciativas individuais,

muitas senhoras imbuídas pelo sentimento de caridade aos mais necessitados, por exemplo,

realizavam em suas residências cursos e oficinas de trabalhos manuais para angariar fundos

para a construção do “Lar de Maria”, como é possível perceber nas seguintes passagens:

Com muita vibração e entusiasmos, fundou-se há poucos dias, na residência da

irmã Encarnação Praça. À rua General Gurjão, n. 143, a primeira “Oficina da

Caridade” que, por honrosa deferência de suas componentes, passou a chamar-

se Iacir Vijohá. A feliz iniciativa dessas abnegadas irmãs contagiou a outras de

bôa (sic) vontade. Assim é que, hoje, dia 13, às 15 horas, fundar-se-à (sic) na

residência da irmã Vevé Carele, à rua Gentil Bitt., nº 290, outra “oficina”

idêntica que obedecerá ao nome de: “Trabalhadores da Última Hora”.

Estas duas iniciativas que têm por objetivo executar trabalhos em costuras,

bordados, pinturas, flores, etc., em beneficio do “LAR DE MARIA” e dos

irmãos sofredores, merecem por sua grandiosa finalidade, todo o apoio e

solidariedade dos corações generosos e altruístas.

A’s (sic) nossas dedicadas irmãs apresentaremos aos nossas calorosas

felicitações, formulando votos de êxito completo em todos os

empreendimentos. (FOLHA DO NORTE, 1947, p. 3).

Outra ação que contribuiu para a arrecadação de recursos financeiros para a obra foi a

abertura de uma campanha que tinha o objetivo de persuadir as pessoas para se tornarem

membros da instituição, especificamente, para serem os chamados sócios contribuintes, os

quais tinham o dever de pagar uma mensalidade para a edificação do prédio. O próprio

fundador da instituição “Lar de Maria”, o senhor Oliveiros de Assunção Castro, fazia muitos

Page 77: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

76

pedidos para as pessoas da sociedade paraense para se tornarem sócios contribuintes, como é

possível verificar no texto a seguir:

Do mesmo modo, deveremos agirem ser tratando de assistir e socorrer ao

próximo nas suas necessidades e aflições.

O “LAR DE MARIA” poderá ser no amanhã que se aproxima o vosso próprio

lar ou abrigo amoroso e acolhedor dos vossos filhinhos. Concorrer, pois, de

alguma forma para a sua construção e manutenção, é estender a mão a muitos

infelizes que poderão sucumbir no oceano tempestuoso da vida, por causa da

vossa indiferença e incompreensão.

Inscrevei-vos como sócio contribuinte ou concorrei na sua “Campanha do

Quilo”, e estareis cooperando para uma causa tão justa quão humanitária.

Séde (sic) provisória: Av. Osvaldo Cruz n. 319 – Belém – Pará

OLI DE CASTRO. (FOLHA DO NORTE, 1947, p.2).

E assim foi sendo feito a edificação da Instituição Cristã “Lar de Maria” com ajuda de

campanhas realizadas por sedes espíritas, por pessoas da sociedade. Essas tiveram um papel

de extrema importância para a instituição como também para a sociedade paraense que teria

futuramente um local para abrigar as crianças e idosos pobres. A Imagem 16 ilustra o avanço

da edificação do “Lar” e os operários trabalhando para o levantamento do prédio.

Imagem 16 – Edificação do “Lar de Maria” (1947).

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

O “Lar de Maria”, mesmo em construção, já se configurava como uma instituição

assistencial, por meio de algumas iniciativas, como a “Campanha do Quilo”. Esta, de acordo

Page 78: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

77

com Santana (2006), consistia na arrecadação de gêneros alimentícios para o atendimento das

pessoas carentes. Tal campanha serviu para a manutenção de muitas instituições

assistencialista em vários Estados do país. Aqui, em Belém do Pará, a princípio funcionou na

sede provisória do “Lar de Maria”, localizada na Avenida Osvaldo Cruz, n. 319 e,

posteriormente, no próprio prédio após a sua inauguração. A sede provisória funcionou nos

anos de 1947 até 1956, sendo que esse espaço contribuiu para ser um local de iniciativas de

divulgação, propagandas e campanhas que ajudariam na construção do prédio próprio do “Lar

de Maria”.

Oliveiros de Assunção Castro é considerado um dos pioneiros da “Campanha do Quilo”

em todo o Brasil e, por onde quer que passasse, incentivava e ajudava irmãos – pobres, órfãos

e desamparados.

A campanha funcionava com pessoas com sacolas no ombro que saiam percorrendo os

bairros da cidade de Belém aos domingos, pedindo de porta em porta alguns alimentos que

servisse para a preparação de uma sopa, que seria servida aos pobres. Na Imagem 17, é

possível observar os voluntários em ação, coletando os alimentos doados.

Imagem 17 – Campanha do Quilo nas ruas (1947).

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

Um grande número de pessoas que se prontificava a realizar tal tarefa, cada qual com

sua sacola para depositar as oferta alimentícia recebida. Vale salientar, a partir da imagem,

que o grupo de voluntários era bem diversificado, tendo a presença de pessoas de várias

idades e etnias, de ambos os sexos, inclusive de crianças, como é possível ser observar na

Imagem 18.

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Imagem 18 – Campanha do Quilo e seus Legionários (1947).

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

O noticiário da Coluna Espírita ressalta de maneira detalhada como funcionava a

“Campanha do Quilo”, qual era a sua funcionalidade, intenção e o perfil dos voluntários que

participavam de tal ação beneficente. A “Campanha do Quilo” do “ Lar de Maria” é qualquer

coisa mais do que pedir: cristianizar e seduz. A ‘tal’ campanha já se fazia presente pelos

Legionários do Quilo há quase um ano e a sua funcionalidade era pedir para a construção e

manutenção do “Lar de Maria” (FOLHA DO NORTE, 1947).

Os Legionários saiam de suas casas pela manhã e andavam pelas ruas da cidade de

Belém com sacolas nas costas batendo de porta em porta. Mas, nem sempre o ato de pedir era

recebido de forma agradável, muitos legionários eram atendidos com palavras ofensivas, por

parte daquelas que os recebiam em frente de suas casas. Legionários da Campanha do Quilo e

a própria instituição eram ofendidos, como: desocupados, gente sem condição social definida,

desclassificados e mistificadores (FOLHA DO NORTE, 1947).

O perfil dos legionários era composto de senhoras dona de casa em idade que já não

comportaria tais sacrifícios, cavalheiros e jovens de posição social definida, tais como:

industriais, bancários, professores, comerciários e funcionários públicos. Na ação beneficente

tinha mais mulheres do que homens, mais jovens do que adultos, mais moças do que rapazes,

e, até, crianças (FOLHA DO NORTE, 1947).

A Imagem 19 traz uma fotografia da distribuição de sopa aos necessitados. É

perceptível que o público atendido era basicamente composto por idosos e crianças que eram,

na realidade, o foco de atendimento da instituição. Muitas pessoas se envolviam com o

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79

preparo e distribuição da sopa, que consistia em um dos principais objetivos da “Campanha

do Quilo”.

Imagem 19 – Distribuição da Sopa aos Pobres – sede provisória (1947).

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

A “Campanha do Quilo” teve seu fim após alguns meses de inauguração do “Lar de

Maria”, mas o reconhecimento e o ensinamento dessa campanha ficaram para aqueles

envolvidos diretamente nesse ato de ajuda, como também para a sociedade. Oliveiros de

Castro, por ocasião do término dessa iniciativa, realiza algumas reflexões sobre a experiência,

ressaltando a importância que teve a campanha, a contribuição dos “romeiros da sacola”, bem

como a recepção por parte das pessoas:

Hoje, o Lar de Maria aí está imponente da sua simplicidade, graças à sacola

daqueles abnegados paladinos da Verdade, que a traziam aos ombros,

percorrendo os bairros da cidade, implorando um abolo – que não exigiam

fosse dinheiro-pois aceitavam um pouco de farinha ou café, um pouco de

feijão ou arroz. Qualquer coisa servia para o recheio de uma sopa com que

matavam a fome a muitos pobrezinhos. E’ bem verdade que muitos os

repeliam, esquecidos dos ensinamentos de Jesus, mas outros, mesmo pobres,

acorriam a depositar na sacola o seu precioso óbolo.

Até as criancinhas, brincando na rua, ao avistarem os piedosos romeiros da

sacola, corriam pressurosos a clamar para dentro de casa: - Mamãe, o Lar de

Maria vem aí. Brotava nessas ingênuas crianças o amor do Pai, a bondade de

Jesus. E ainda acrescentavam: - Mamãe dê umas batatinhas, um pouco de

macarrão...

Para os romeiros da sacola, isso era um consolo a amenizar o desgosto

causado por alguns que, já maduros, os recebiam ao, batendo-lhe com a

porta na cara, como se fosse animais felinos.

Mas tudo tem o seu dia, talvez já estejam arrependidos de tanta ingratidão.

Page 81: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

80

Os romeiros da sacola cumpriam o seu dever de humanidade. Ninguém mais

os vê na rua, aos domingos, de sacola aos ombros. A sua missão teve um

nobre fim. Deus lhes dará a recompensa a que fizeram jús. Não fecharemos

estes ligeiros comentários sem declinar o nome do homem que orientava

aqueles obreiros da Verdade e que hoje se deve considerar vitorioso do seu

insano e escabroso trabalho. Ele foi como que a pedra angular, o criar, o

símbolo desse maravilhoso Lar de Maria: OLI DE CASTRO. (FOLHA DO

NORTE,1957, p.3).

As campanhas realizadas para a edificação do prédio do “Lar de Maria” foram

indispensáveis, apesar das dificuldades que muitas das ações enfrentavam para serem

executadas, estas contribuíram para o andamento das obras. As Imagens (20, 21 e 22) a seguir

mostram todo o desenvolvimento do processo de construção, que vai das primeiras estruturas,

colocadas em pé, até a instituição praticamente concluída, a espera de acabamentos finais para

cumprir com sua função assistencial e educativa.

Imagem 20 – Construção dos primeiros alicerces da Instituição Lar de Maria (1949).

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

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Imagem 21 – Parte Central da Instituição “Lar de Maria” em fase de acabamento (1954).

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

Imagem 22 – Prédio do “Lar de Maria” totalmente construído (1957).

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

O “Lar de Maria”, como ressaltado no início dessa seção, surgiu com o objetivo de

assistir e amparar idosos; crianças órfãs e abandonadas de Belém, mas a missão de abrigar

ficou direcionada somente aos pequenos, que residiriam na instituição em sistema de

internato, ou seja, viveriam cotidianamente sob as regras e organização do estabelecimento,

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82

que delimitava o que os internos poderiam ou não fazer, conforme os princípios educacionais

e de cuidados lá defendidos. Nesse sentido, pode ser definido como uma instituição total, que

se caracteriza como “[...] um local de residência e trabalho onde em grande número de

indivíduos em situações semelhantes, separados da sociedade mais ampla por considerável

período de tempo, levam uma vida fechada e formalmente administrada” (GOFFMAN, 1961,

p. 11).

As instituições totais podem ser divididas em cinco grupos: o primeiro compreende

sanatórios, hospitais e leprosário; o segundo: cadeias e penitenciárias; o terceiro: quartéis e

escolas internas; o quarto: mosteiros e conventos; e o quinto internatos e asilos, sendo este o

que abrange aqueles espaços criados “[...] para cuidar de pessoas que, segundo se pensa, são

incapazes e inofensivas; nesse caso estão as casas para cegos, velhos, órfãos e indigentes”

(GOFFMAN, 1961, p. 16). Logo, o tipo que caracteriza as finalidades propostas pelo “Lar de

Maria” que, a partir de 1957, funcionou como internato destinado às crianças, “[...] sem

distinção de cor, raça, nacionalidade ou credo religioso” (FOLHA DO NORTE, 1947, p. 2),

que se encontravam em situações de extrema pobreza, órfãs e abandonadas, isto é, indefesas e

sem condições de se sustentarem.

O internato, por sua dinâmica de funcionamento e finalidade, segundo os pressupostos

de Goffman (1961), busca controlar a vida dos sujeitos que dele fazem parte, bem como

levam os internos a assimilar inteiramente as regras internas da instituição. Além disso,

substitui a interação social por atividades internas, não permitindo qualquer ou pouco contato

entre o internado e o mundo exterior, promovendo a exclusão de muitos aspectos do mundo

social de origem do indivíduo internado.

A arquitetura de uma instituição é projetada para o bom funcionamento, conforme as

suas intenções para com os internos, logo, é pensada para “proteger” os sujeitos que estão em

sistema de internato de qualquer intervenção, seja interna ou externa, que prejudique as ações

realizadas pela instituição, por isso, é uma instituição fechada. Para Goffman (1961, p. 16,

grifos do autor),

[...] Seu "fechamento" ou seu caráter total é simbolizado pela barreira à

relação social com o mundo externo e por proibições à saída que muitas

vezes estão incluídas no esquema físico – por exemplo, portas fechadas,

paredes altas, arame farpado, fossos, água, florestas ou pântanos. A tais

estabelecimentos dou o nome de instituições totais, e desejo explorar suas

características gerais.

O “Lar de Maria” apresenta sinais de “fechamento” quando se observam os seus traços

arquitetônicos e estruturais, que sinalizam barreiras com o mundo exterior. Na Imagem 23, é

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possível verificar a presença de um muro contornando a instituição, portão e janelas

gradeadas, que servem como mecanismos de isolamento entre a vida no estabelecimento e

fora dele.

Além disso, vale salientar que, a sua posição geográfica não ficava tão perto do centro

da cidade, o que também é uma característica desse tipo de instituição, pois estas afastam os

internos da “civilização”, o que no caso da infância foi um processo bastante recorrente na

história do Brasil no regime republicano (RIZZINI, 2011), visto que as crianças órfãs e

desvalidas eram consideradas problemas para ordem pública, futuros marginais sujeitos à

criminalidade, logo, precisavam ser afastadas para não atrapalharem a ordem pública.

Imagem 23 – Instituição “Lar de Maria” (1957).

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

O caráter de “fechamento” da instituição “Lar de Maria” é simbolizado também pelas

barreiras internas do espaço físico (Imagem 24), tendo em vista que existiam duas salas

chamadas “vigilantes”, que ficavam localizadas na entrada dos dois dormitórios. Tais espaços

servem para controlar as ações dos sujeitos, nesse caso, a entrada e saída dos dormitórios.

Segundo Foucault (1987), a vigilância e a disciplina requerem dos gestores das

instituições uma necessária organização e controle, no sentido de tentar evitar que os sujeitos

internos se desviassem das regras da instituição.

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Imagem 24 – Distribuição do espaço físico da instituição “Lar de Maria”.

Fonte: Elaborado pela autora, com base na fotografia do álbum do Lar de Maria (1947).

A arquitetura do “Lar de Maria” foi projetada para fiscalizar a movimentação dos

espaços dos dormitórios e berçários, quando foi construído na instituição o espaço “vigilante”.

Todos os espaços físicos que estavam sendo construídos objetivavam orientar a

dinâmica de vida dos internos com características e funções, que estavam diretamente ligados

ao projeto de formação idealizado pelo “Lar de Maria” de controle e disciplina. Segundo Horn

(2004, p. 37),

O espaço é algo socialmente construído, refletindo normas sociais e

representações culturais que não o tornam neutro e, como consequência,

retrata hábitos e rituais que contam experiências vividas. Até então, na

história, os espaços foram se construindo como uma das formas de controlar

a disciplina, constituindo-se como uma das dimensões materiais do

currículo.

Dentre os espaços que compõem a instituição, o berçário é o local que recebeu bastante

destaque no “Lar”, pois é onde as crianças bem pequenas são destinadas. Foi o primeiro a ser

inaugurado em 1957, ganhando, em virtude de sua nobre finalidade, grande destaque pela

imprensa, como ilustra a seguinte nota: “[...] O berçário entrará a funcionar antes que o resto e

todos podem entender a razão. Porque a inauguração geral só pode fazer-se, se Deus quiser, a

21 de abril próximo, ao mesmo tempo festejando a Páscoa e festejando o idealismo e a

liberdade do povo brasileiro” (FOLHA DO NORTE, 1957, p. 6).

Por evidenciar a relevante finalidade desse espaço para instituição “Lar de Maria”, o

jornal Folha do Norte, de 28 de novembro de 1947, destaca:

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Para as criancinhas desamparadas de Belém, sem teto e sem o cálido

aconchego materno, magrinhas e descalças, aleijadinhas, cegas e estropiadas

– desventurados pedacinhos de gente – verdejará, a partir de 24 de fevereiro

próximo vindouro, o novo ramo de amor cristão que o Lar de Maria, com a

inauguração do seu Berçário. [...]. (p. 3).

Segundo Rios (1997), o berçário é um compartimento, onde nas maternidades,

hospitais, igrejas e creches, ficam os berços destinados aos recém-nascidos. Isso reflete o

cuidado que se tinha com as crianças desde os seus primeiros dias de vidas. O berçário

geralmente é mobiliado por berços que é um tipo de cama destinada a bebês, equipada com

barras ou algum outro tipo de barreira para impedir que estes escapem delas e se machuquem.

Na visão de Vitta e Emmel (2004, p. 8), “[...] o berçário tem por objetivo principal

suprir, junto à criança as necessidades básicas que deveriam ser atendidas pelas famílias”.

Ainda, para os autores, a criança historicamente deveria está rodeada de cuidados para que

pudesse se desenvolver.

Tristão (2004) considera o berçário como um local de desenvolvimento pleno para

bebês com poucos meses de vidas, um ambiente de promoção de saúde e educação. Segundo

Ostetto (2008), em um berçário a grande parte do tempo é dedicada a atividade de

alimentação, trocas de roupas, higiene e descanso dos bebês.

O berçário pode ser visualizado na Imagem 25. O espaço se caracteriza como um

ambiente amplo, com os berços dispostos nas laterais, dividido por um largo corredor, bem

iluminado, tanto pela luz solar quanto artificial, apresentando janelas em ambos os lados. É

possível considerar um ambiente, pelo menos na fotografia, preocupado em oferecer aos

bebês cuidados específicos para seu desenvolvimento.

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Imagem 25 – Berçário.

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

Diante disso, é possível compreender que o “Lar de Maria”, ao oferecer um tratamento à

criança pobre no Pará no século XX, tentava proporcionar a elas um ambiente arejado, limpo

e saudável, com melhores condições de higiene e cuidados no que se refere ao espaço físico

da instituição. Vale destacar que num período, onde se estabelecia projetos relacionados à

medicalização da sociedade na cidade por meio da higiene pública, produzia-se

conhecimentos para organizar a cidade, a família e as instituições educativas.

Nesse contexto, Rizzini (2011, p.21) afirma que os higienistas, responsáveis pelo

discurso de “higienizar” o espaço urbano, “[...] tinham como proposta intervir no meio

ambiente, nas condições higiênicas das instituições que abrigavam crianças e nas famílias”, e,

isso, se prolongou até o início do século XX. A criança, nessa época, era vista como

vulnerável, por ter organismo frágil, logo, mais suscetível a moléstias, caso vivesse em

péssimas condições de moradia e de higiene.

Para cuidar da saúde da criança, o ambulatório (Imagem 26) era um espaço também de

grande relevância para a instituição, uma vez que a sua função estava para além dos internos

no estabelecimento, pois realizava atendimento aos necessitados que procuravam o “Lar de

Maria”. Era equipado com instrumental que permitia a realização de consultas, orientação e

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prescrição aos interessados. Estava a cargo do Dr. Agostinho Cruz Marques, que atendida aos

sábados no horário de 14 às 16 horas (FOLHA DO NORTE, 1958).

Imagem 26 – Ambulatório.

Fonte: Folha do Norte (1958, p.10).

O “Lar de Maria” possuía um salão central, onde eram realizadas as cerimônias solenes,

caracterizando-se, ainda, como um importante espaço de educação, haja vista que muitos

ensinamentos da doutrina espírita eram repassados nesses momentos às internas.

Na Imagem 27, é perceptível a distribuição das internas em filas e voltadas para uma

mesma direção, de uniformes, a posição corporal, sentadas em cadeiras, de corte de cabelo

semelhantes, posando junto com as professoras, em pé.

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Imagem 27 – Salão Central da Escola.

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

O Ensino Primário para as crianças já se fazia presente no espaço da instituição no

primeiro ano de funcionamento em 1957, pois o “[...] Lar de Maria”, que já possui escola,

presta assistência à infância, [...]” (FOLHA DO NORTE, 1957, p. 2). Em 1963, a escola do

“Lar de Maria” passou a ter convênio com a Secretaria de Estado de Educação (SEDUC),

passando atender 950 crianças.

Para a recreação dos internos e por entender que era necessário um espaço para a

diversão e entretenimento foi adquirido um parque, comprado mediante a colaboração de

pessoas sensíveis a causa das meninas, como relatado na seguinte notícia:

O seu Conselho Fraterno e a sua Diretoria estão se cotizando e conseguindo

auxílios de pessoas caridosa e amigas das criancinhas, no sentido de

conseguirem a importância necessária à compra de um parque de diversão

para delito das suas internadas, a ser inaugurado a 1° de Janeiro de 1959.

(FOLHA DO NORTE,1958. p.11).

O teatro (Imagem 28) era o espaço de educação artística, onde se realizavam as

apresentações dos internos. É perceptível que era um ambiente refinado, bem iluminado,

ventilado, organizado. Mobiliado por um palco com cortinas, por uma grande mesa, armários,

quadro de avisos, um piano e cadeiras, possibilitando o público sentar em grupos para

assistirem as apresentações das crianças. Segundo Reverbel (1989), o espaço do teatro tem a

finalidade de divertir instruindo, logo, por ser um espaço educativo deve fazer parte da escola.

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Imagem 28 – Teatro.

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

De acordo com Goffman (1961, p. 89), existe o “teatro o institucional” que compõe as

festas anuais de Natal de uma instituição total. Os que fazem parte desse ambiente como

atores geralmente são os internados e os dirigentes da peça que são da equipe da

administração da instituição, formando um grupo misto de atores que transforma uma peça

cheia de referências locais, “[...] o que dá, ao uso particular dessa forma pública, um sentido

específico de realidade aos acontecimentos internos à instituição”.

Na Imagem 29, é possível observar uma interna tocando o piano que faz parte do

cenário do teatro da instituição “Lar de Maria” e as demais meninas acompanhando a

execução. O que nos leva a compreender que as crianças tinham o ensinamento da música,

mas especificamente, a aprendizagem de instrumento musical piano.

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Imagem 29 – Interna tocando Piano.

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

O espaço destinado às refeições dos internados do “Lar de Maria” era o refeitório

(Imagem 30). É possível verificar na imagem um ambiente com condições básicas de

funcionamento no que concerne às necessidades de um lugar que realizava a distribuição de

alimentos. Um ambiente com iluminação natural com janelas amplas e contando com

mobiliário móvel que viabiliza diferente organização do ambiente. É perceptível mesas,

armário, cadeiras e bancos longos de madeira, possibilitando que os internos sentassem em

grupos.

Imagem 30 – Refeitório.

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

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Além desses espaços ainda estavam em construção: “[...] a lavanderia, com máquinas

apropriadas, do aviário, de parque de diversão, preparo de pomar e jardins. E ainda, faltam o

gabinete médico, dentário, a barbearia, etc..” (FOLHA DO NORTE, 1958, p.8).

E ainda “[...] dentro de alguns dias será iniciada a construção de um pavilhão de dois

andares, destinando-se o pavimento térreo às instalações da lavanderia, da cozinha da “Sopa

dos Pobres”, depósito de combustível e almoxarifado; e o pavimento superior à moradia de

empregados [...]” (FOLHA DO NORTE, 1958, p.6).

Como espaço a ser construído na área da instituição “Lar de Maria”, a diretoria tinha a

intensão de erguer uma “Casa de Saúde para tratamento de doenças mentais, ou seja,

propriamente dizendo, destinadas aos trabalhos de Desobsessão, também muito necessário,

porque em Belém só existe o “Juliano Moreira”, hospital impróprio e ineficaz para o

tratamento dessa natureza” (FOLHA DO NORTE, 1958, p. 18).

No que concerne ao espaço para assistência da velhice desamparada, as fontes

evidenciaram que havia um edifício destinado a abrigar os velhos, com a capacidade para

cinquenta velhos de ambos os sexos (FOLHA DO NORTE, 1958).

Muitos espaços físicos do “Lar de Maria” foram noticiados no jornal da cidade como já

destacado. É possível compreender isso como uma forma de divulgar os serviços, estruturas

oferecidas para interessados em internamento dos seus filhos. A maioria dos anúncios tinha

por objetivo convencer e sensibilizar a sociedade para a contribuição e ajuda a esse lar.

Após dez anos de trabalho, o prédio do “Lar de Maria” enfim é concluído, iniciando de

fato a intenção de cuidar e ajudar aqueles que mais precisavam. Todo esse processo foi

permeado de muita luta por parte das pessoas que acreditavam no ideal que fundamentava

esse projeto e se mobilizaram de maneira incessante para a sua concretização. Por tudo isso, a

inauguração do “Lar” foi um momento representativo na história da instituição.

2.4 A INAUGURAÇÃO DO “LAR DE MARIA”

O prédio do “Lar de Maria” foi inaugurado no dia 24 de fevereiro de 1957, quase dez

anos após a sua criação. Nesse contexto, a instituição já estava sob a gestão de sua terceira

presidência. Oliveiros de Castro, juntamente com Délio Cabral Marques, administrou a

instituição de 1947 até meados de 1949 (FOLHA DO NORTE,1957).

Em 5 de agosto de 1949, a senhora D. Guiomar Antunes da Silva, juntamente com seu

esposo o senhor Antunes da Silva Junior, o administrador da obra, assumiram a instituição.

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92

No ano 1950 assume a presidência o senhor Oswaldo Pacheco Dillon25

, que já era colaborador

desse projeto desde seus anos iniciais. Este deu continuidade aos trabalhos da gestão anterior.

O diferencial de sua administração foi o apelo de ajuda para o Departamento Nacional da

Criança e para Câmaras Federais e Estaduais para terminar a construção e instalações do “Lar

de Maria” (FOLHA DO NORTE,1957).

A inauguração dessa instituição foi intensamente divulgada nos jornais da cidade de

Belém. Nos impressos, com muito entusiasmo, destacava-se que, para comemorar esse

momento, a diretoria do “Lar de Maria” tinha preparado uma caprichosa programação, que

contaria com a presença de autoridades civis e militares, imprensa e o povo em geral.

A cerimônia de inauguração teve início às dez horas da manhã no dia 24 de fevereiro de

1957. A convite do presidente da instituição “Lar de Maria”, o senhor Oswaldo Pacheco

Dillon, Salomão Levy, delegado da primeira região federal da criança foi chamado para cortar

a fita simbólica, inaugurando, assim, a programação solene (FOLHA DO NORTE, 1957). A

Imagem 31 retrata esse momento especial, assinalando a presença de Salomão Levy, delegado

da região federal da criança, o presidente da instituição Oswaldo Pacheco, bem como o

criador da instituição Oliveiros de Assunção Castro, sendo observados pelos demais

convidados dessa celebração.

Imagem 31 – Dia da inauguração da Instituição Cristã Espírita “Lar de Maria” (1957).

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

25

Oswaldo Pacheco Dillon nasceu em Belém, no dia 27 de outubro 1901, filho de Antônio José de Carvalho e

Bernardina Pacheco Dillon. Casou-se com Ildélia Lima Dillon e teve os 7 filhos (Lygia, Reynaldo, Neuza, Ercy,

Dirce, Alda Leida e José Ribeiro). Oswaldo Dillon era contador (Bancário) e foi também o presidente da UEP

nos anos de 1950 a 1955.

Page 94: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

93

A celebração continuou com a realização de uma prece espírita proferida pelo doutor

Otávio Beltrão, membro contribuinte da obra, em destaque na Imagem 32, que agradeceu a

Deus pela concretização da dignificante obra (FOLHA DO NORTE, 1957). Vale observar o

uso das vestes brancas por pessoas no ato da prece. A cor branca usada por muitos seguidores

do espiritismo tem o sentido social e igualitário, ou seja, todos se tornam iguais no uniforme

branco. Nesse sentido, simbolizando a igualdade perante Deus. Em um ambiente espírita

todos são envolvidos em um mesmo trabalho, não importa se rico ou pobre, se doutor ou

analfabeto, se negro ou branco e etc., todos devem estar de branco trabalhando em nome do

Cristo e de Seus espíritos.

Imagem 32 – Senhor Otávio Beltrão (1957).

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

Após a prece proferida de agradecimento e com a chegada de todos os convidados, o

presidente da instituição, Oswaldo Pacheco Dillon, fez um discurso agradecendo a todos que

cooperam para que a construção do “Lar de Maria” se tornasse realidade.

No decorrer da programação de inauguração, também se pronunciaram o doutor

Salomão Levy que, em sua fala, ressaltou o trabalho da diretoria dessa instituição e em

seguida ao serviço de qualidade do engenheiro construtor Judah Levy. O Jornalista e redator

do impresso O Estado do Pará, De Campos Ribeiro, também, discursou na inauguração. Este

deu destaque aos trabalhados realizados pelos legionários do bem, que materializaram o “Lar

de Maria” (FOLHA DO NORTE, 1957).

Em seguida uma das associadas da instituição, a senhora Lucia Ramos Pinto, destacou

todas as campanhas realizadas pela diretoria, ressaltando o problema dos pequeninos

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desvalidos no extremo norte do Brasil, cuja ajuda a estes, tomando como cenário Belém, foi

uma das principais motivações para a construção do “Lar de Maria”.

O Lar de Maria, porque é o Lar de Mãe de Jesus, o mesmo Lar de Jesus,

vem, pois, hoje, repetir nesta Belém, de Santa Maria de Belém, gesto do

meigo Nazareno, a repetir: “Deixem que venham a mim os pequeninos”. E

exortar-te a ti, irmão em Deus e Jesus Cristo, quem quer que sejas, onde quer

que estejas quanto ao credo que professas, para que ajudes a destino humano

deste lar aberto como abrigo às crianças que não têm lar, onde o amor e a

caridade devem cultivar a inocência em beneficio do mundo em beneficio do

mundo e do Brasil, para a gloria do Santo dos Santos (FOLHA DO NORTE,

1957, p.2).

Também estiveram presentes o tenente José Carlos Blaschek, representando o

brigadeiro Nelson Wanderley, o comandante da Primeira Zona Aérea, destacando que

“proteger as crianças do Brasil é preservar o futuro da nossa terra”; o deputado Stelio Maroja,

representante da Assembleia Legislativa; os senhores representantes da União Espírita

Paraense, doutor Alicio do Carmo e o senhor Álvaro Paz Nascimento, como também o

representante da Confederação Espírita “Caminheiros do Bem” (FOLHA DO NORTE,

1957,p.6).

A criança, nas falas dos representantes da instituição “Lar de Maria”, é vista como o

futuro da nação. Para Rizzini (2004), no século XX foram propagados ideias de proteção e

reforma de instituição para “salvar” a infância do Brasil. Isso originou um intenso discurso no

contexto da assistência à infância brasileira, esse fundamentado na finalidade da construção

da nação. Assim, a criança é compreendida como uma classe a ser investida, pois seria nessa

fase que os princípios civilizatórios, morais e higiênicos poderiam ser empregados nas

crianças, a fim de serem futuramente cidadãos úteis à Pátria.

Para encerrar os solenes discursos, Oliveiros de Castro destacou o trabalho realizado

durante os dez anos de construção do “Lar de Maria”, salientando a grande colaboração dos

legionários que contribuíram para que o “Lar de Maria” se tornasse uma realidade.

A programação de inauguração foi encerrada ao meio dia e trinta minutos, sendo

servido um coquetel aos convidados e autoridades presentes. A Imagem 33 retrata esse

momento, nela se observa Oliveiros de Assunção Castro, Oswaldo Pacheco, Salomão Levy,

realizando um brinde comemorativo por ocasião da inauguração do prédio da instituição.

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Imagem 33 – Coquetel servido na inauguração da instituição (1957).

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

A Imagem 34 retrata o instante em que o Dr. Salomão Levy, delegado da Federal da

Criança (1ª região), Oswaldo Pacheco Dillon, presidente da instituição, senhora Lucia Ramos

Pinto e Oliveiros de Assunção Castro, respectivamente, percorrem o salão principal do prédio

a fim de conhecer as instalações do prédio recém-inaugurado.

Imagem 34 – Dr. Salomão Levy delegado da Federal da Criança, Oswaldo Pacheco Dillon

(1957).

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

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96

A Instituição foi inagurada com uma capacidade para receber 150 crianças internadas, e

o critério para admissão era que fossem pobres e morassem nos bairros mais carentes da

cidade de Belém. Segundo o jornal Folha do Norte (1957, p.9), mesmo antes da inauguração

oficial, já havia internadas no “Lar de Maria” “[...] onze crianças, sendo dez no berçário.

Entre estas um casal de gêmeos, com cerca de três meses de idade, sem desenvolvimento e

adoentado, pesando a menina 2,050 quilos e o menino 2,550 quilos, que estão sob os cuidados

de um dos médicos cooperadores da Sociedade”.

A inauguração de um dos espaços mais importantes do “Lar de Maria”, o berçário,

aconteceu no mesmo dia da solenidade de inauguração do prédio, tendo inclusive recebido

grande destaque por parte da imprensa, bem como pela Coluna Espírita:

Para as criancinhas desamparadas de Belém, sem teto e sem o cálido

aconchego materno, magrinhas e descalças, aleijadinhas, cegas e estropiadas

– desventurados pedacinhos de gente – verdejará, a partir de 24 de fevereiro

próximo vindouro, o novo ramo de amor cristão que é o Lar de Maria, com

inauguração do seu Berçário.

Sim, meus amigos, no dia 20 de janeiro esteve reunido o Conselho Fraterno

dessa benemérita Sociedade, em sua sede social, a praça Floriano Peixoto,

ficando decidido acertada a data de 24 de fevereiro para a inauguração do

Berçário do Lar de Maria. [...] Convidamos a todos os componentes das

comissões para comparecem no próximo domingo, às 8 horas da manhã, à

sede social. (FOLHA DO NORTE, 1957, p.6).

As crianças no berçário vão constituindo experiências a respeito do ato de dormir,

atividades corporais que são reguladas e circunscritas pelo ritmo dos adultos que cuidam

delas. É perceptível que o berçário (Imagem 35) era uma ambiente organizado, amplo e

arejado, condições favoráveis para o acolhimento de crianças. Também é observado que há

crianças de diferentes faixas etárias, uma disposta de pé e as demais deitadas em seus berços.

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Imagem 35 – Crianças no Berçário do “ Lar de Maria” (1957).

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

O percurso vivenciado pela Instituição “Lar de Maria”, apresentado nessa seção, para

além do grande esforço empreendido para a sua criação e construção, representa uma

preocupação em se fazer algo pelas pessoas mais necessitadas de Belém a partir do princípio

da caridade tão presente na doutrina espírita. Após essa contextualização histórica da

instituição, é interessante compreender como se materializou as intenções por ela defendidas,

no que diz respeito a dinâmica de funcionamento administrativo, o processo de internação, os

cuidados e a educação das crianças que dela fizeram parte.

Page 99: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

98

SEÇÃO 3: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA LAR DE MARIA: assistência e

educação às crianças pobres

Imagem 36 – Instituição Cristã Espírita “Lar de Maria”.

Imagem 34: Instituição Cristã Espírita “Lar de Maria”

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

Nesta seção, objetivo apresentar aspectos do cotidiano do “Lar de Maria”. Essa

instituição – destinada a assistir as pessoas necessitadas do ponto de vista moral, espiritual e

material na cidade de Belém do Pará, na segunda metade do século XX – contribuiu

significativamente para propagar a doutrina espírita.

Para essa análise, descrevo como se organizava administrativamente o estabelecimento,

pontuando os cargos e as suas finalidades, evidenciando como ocorria o processo de

internamento, bem como o perfil dos internados. É importante salientar que o foco maior será

dado à internação de crianças, pois apesar de indícios de que havia a pretensão de se abrigar

idosos, as fontes documentais não permitiram um melhor detalhamento sobre isso.

Por fim, abordo a instrução e a educação oferecidas no “Lar de Maria”, a concepção de

educação, infância, criança e idoso à luz da doutrina espírita; pontuo as finalidades

educacionais da instituição; as aulas e os cursos profissionalizantes voltados para as meninas,

bem como as festas solenes para as crianças pobres no estabelecimento e os serviços

Page 100: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

99

oferecidos para os vários segmentos da sociedade como forma também de proporcionar

educação e instrução.

3.1 A ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DO “LAR DE MARIA”

A instituição cristã-espírita “Lar de Maria” era constituída por um corpo administrativo,

que tinha o objetivo de direcionar as suas atividades, bem como encaminhar as decisões em

‘prol’ da instituição. Segundo Magalhães (1999), é necessário conhecer os papéis de cada

sujeito que faz parte de uma instituição para compreender as ações que dão sentido às

realizações institucionais que contribuem para a sua identidade.

Ainda, de acordo com Magalhães (1999), em uma instituição educativa é preciso

conhecer e caracterizar o órgão de gestão com a finalidade de explicar como acontece a

comunicação interna e externa, bem como conhecer a relação de poder, hierarquia, instâncias

de decisão, a fim de compreender as formas de participação dos diversos sujeitos que a

compõem.

Nesse sentido é importante compreender a estrutura organizacional administrativa, do

“Lar de Maria”. Esta compreendia uma diretoria, que conforme é descrito no Estatuto (1947),

era composta de onze diretores, com três suplentes e por um Conselho Fraterno, composto de

vinte conselheiros, com dez suplentes: aquele eleito bienalmente e este trienalmente.

A Diretoria era eleita pelo Conselho Fraterno em 5 de Agosto e empossado no dia 15 do

mesmo mês; e, o Conselho Fraterno era eleito pela Assembleia Geral, em 1º de Setembro e

empossado solenemente no dia 7 do mês corrente, em homenagem à data da independência do

Brasil.

O “Lar de Maria” possuía uma Diretoria que era a principal responsável pela gestão da

instituição, composta pelos seguintes cargos, conforme organograma a seguir:

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100

ORGANOGRAMA

Fonte: Elaborado pela autora, com base no Estatuto do “Lar de Maria” (1947).

A posse da primeira Diretoria, após a inauguração do “Lar de Maria”, foi realizada no

dia 15 de agosto de 1957, data que se comemorava o aniversário de 10 anos do “Lar de

Maria”. Nesse dia, houve uma sessão presidida por um dos diretores, Dr. Salomão Levy, para

empossar os novos dirigentes da Instituição no ano de 1957 (FOLHA DO NORTE, 1957, p.2)

A Diretoria da instituição ficou constituída, no seu primeiro ano de funcionamento, da

seguinte forma:

PRESIDENTE

VICE-PRESIDENTE

SECRETÁRIO SECRETÁRIO

TESOUREIRO GERAL

1° TESOUREIRO

DIRETOR ADMINISTRATIVO

DIRETOR DE FINANÇAS

DIRETOR DA “CAMPANHA DO QUILO”

SUPERITENDENTE

E

SUPLENTE

2° TESOUREIRO

SUPLENTE SUPLENTE

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Quadro 7 – Constituição da Primeira Diretoria (1957).

DIRETORES DA INSTITUIÇÃO ESPÍRITA “LAR DE MARIA”- 1957

PRESIDENTE Osvaldo Pacheco Dillon

VICE-PRESIDENTE Dr. Judah Eliezer Levy

SECRETÁRIO Dr. Moisés Greidinger

2º SECRETÁRIO Dr. Antônio Maria de Vasconcelos Chaves

TESOUREIRO GERAL Franti da Costa Barbosa

1º TESOUREIRO Fernando Augusto Leão Duarte

2º TESOUREIRO Deoclécio Gadelha Borges

DIRETOR-ADMINISTRATIVO Dr. Jonas da Costa Barbosa

DIRETOR DE FINANÇAS Dr. Octávio Vieira de Sousa Beltrão

DIRETOR DA CAMPANHA DO

QUILO

Alarico Rodrigues de Carvalho

SUPERINTENDENTE Dra. Sancha Bentes Cotta

SUPLENTES João Pina Filho, José Domingues da Cruz e

professor James Lionel Bournett

Fonte: Elaborado pela autora, com base no jornal Folha do Norte (1957, p.2).

Por meio desse quadro é possível perceber que a diretoria era formada quase

exclusivamente pelo sexo masculino. Havia apenas uma mulher, Doutora, assumindo o cargo

de superintendente. Predominava dirigentes com titulação de Doutor, não se sabe se eram

médicos, advogados e farmacêuticos. Figurava entre eles também um professor.

Nos anos de 1959 a 1961, o “Lar de Maria” foi administrado pelos seguintes diretores,

ilustrados no Quadro 8. É possível verificar, também, que surgem novas diretorias como os da

sopa dos pobres, do departamento de prendas e do ambulatório.

Ainda era marcante, nesse período, a presença de homens na diretoria. Mas o trabalho

feminino passava a integrar a estrutura administrativa da instituição do “Lar de Maria”, que já

contava com duas mulheres, porém uma delas ocupava o departamento de prendas, cargo que

tinha como responsabilidade proporcionar o ensino de atividades do lar, assim compreende-se

que mesmo uma mulher, ao assumir um cargo administrativo, deveria estar ligada a formação

de atividades doméstica.

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102

Quadro 8 – Constituição da Diretoria – 1959 a 1961

Fonte: jornal Folha do Norte (1959, p.18).

Para que esse sistema funcionasse era necessário que todos cumprissem rigorosamente

suas funções, respeitando sempre as normas e as regras do estatuto, no sentindo de criar um

contexto harmônico e integrado em função dos propósitos da instituição. E cada qual tinha

uma:

[...] função definida que deve ser exercida cabalmente para a harmonia de

todo e para o completo êxito do programa a executar, e indispensável se

torna que entre todos reine o mais perfeito entendimento, que todos

trabalhem num ambiente de paz e harmonia, sempre unidos e decididos, e,

ainda que sejam todos por um, e, um por todos. (FOLHA DO NORTE, 1959,

p. 18).

É importante frisar que era vetado aos diretores à acumulação de cargos. Os diretores da

instituição não recebiam qualquer remuneração pelos seus serviços. Eles deviam cumprir suas

funções com atenção e cuidado com a finalidade de empregar esforços no sentido de garantir

o prestígio e o desenvolvimento do “Lar de Maria” (ESTATUTO DO LAR DO MARIA,

DIRITORES DA INSTITUIÇÃO ESPÍRITA “LAR DE MARIA”- 1959 a 1961

PRESIDENTE Osvaldo Pacheco Dillon

VICE-PRESIDENTE Dr. Jonas da Costa Barbosa

SECRETÁRIO GERAL Dr. Franti da Costa Barbosa

2º SECRETÁRIO Dr. Moisés Greidinger

TESOUREIRO GERAL Armindo Ernesto Almeida

1º TESOUREIRO Antônio Claudio Coelho da Cruz

2º TESOUREIRO Carlos Alberto Campos Ferreira

DIRETOR-ADMINISTRATIVO Juvenal Corrêa de Miranda

DIRETOR DE FINANÇAS Ilter Guimarães Pereira da Silva

DIRETOR DA CAMPANHA DO QUILO Aurélio Carvalho de Alcântara

SUPERINTENDENTE Ildélia Lima Dillon

DIRETOR DA SOPA DOS POBRES José Domingues da Cruz

DIRETOR DEP. PRENDAS Solange Cristo Muniz

DIRETOR DO AMBULÁTORIO Aniceto de Matos Lima

Page 104: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

103

1947). Informações sobre o trabalho não remunerados dos diretores pode ser constatado na

notícia que segue:

Os diretores e cooperadores do “Lar de Maria” não recebem qualquer

remuneração, de acordo com o estabelecido nos Estatutos.

O seu engenheiro construtor, o seu corpo médico, as suas administradoras

internas não percebem qualquer remuneração. Apenas as colaboradoras nos

trabalhos domésticos, recebem pequenas ajudas de custo que lhe bastem à

sua manutenção. (FOLHA DO NORTE, 1957, p.9).

À Diretoria do “Lar de Maria” cabia reunir pelo menos uma vez por mês para tratar de

assuntos da instituição, tais como: a assistência e a educação de crianças. Além disso, teria o

dever de nomear Subdiretores-colaboradores para trabalharem nos departamentos da

instituição. A diretoria caberia também autorizar a admissão de empregados na instituição,

determinando a remuneração com base no orçamento apresentado e aprovado pelo Conselho

Fraterno. Ademais, elaborar regimentos internos para a orientação, administração e execução

dos serviços dos vários departamentos (ESTATUTO DO LAR DE MARIA, 1947).

Estava, ainda, entre as funções da Diretoria, definir sobre as internações das crianças e

dos velhos desamparados. Além de resolver casos não previstos no Estatuto quando não

houvesse tempo para convocar previamente o Conselho Fraterno, devendo informar sobre a

situação ao Conselho, a fim de solicitar a sua aprovação.

O Conselho Fraterno era composto por um presidente, um secretário geral e 2º

secretário. Esse Conselho poderia cassar mandato de diretor, realizar reuniões extraordinárias,

convocar a Assembleia Geral. Ao Presidente do Conselho Fraterno cabia presidir reuniões,

cumprir e fazer cumprir o que estava estabelecido no estatuto da instituição. O jornal Folha

do Norte destaca uma ação do Conselho Fraterno juntamente com a Diretoria:

Realizou-se no dia 4 deste mês, em sua sede, à Praça Floriano Peixoto, s/n.,

às 20 horas, uma reunião conjunta da Diretoria e do Conselho Fraterno do

“Lar de Maria”, tendo sido discutido e aprovado vários assuntos de real

relevo que se prendem à execução do seu programa de assistência social,

muito especialmente à criança e velhice desamparadas. (FOLHA DO

NORTE, 1958, p.6).

Vale lembrar, que a convocação da Assembleia Geral deveria ser feita pelo presidente

da instituição por meio de um comunicado na imprensa jornalística de Belém. Diante disso,

foi possível captar a prática da Assembleia Geral da instituição “Lar de Maria” no noticiário a

seguir que relata:

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104

ASSEMBLEIA GERAL

A presidência do “Lar de Maria” está convocando os seus associados para

uma reunião de sua Assembleia Geral a realizar-se no dia 3 de Julho

próximo, em sua sede, às 19 horas da noite, para eleição do seu Conselho

Fraterno, d’acordo com Estatutos. (FOLHA DO NORTE, 1957, p.19).

A Diretoria teria que prestar contas de sua gestão ao Conselho Fraterno até 5 de agosto

de cada ano. Além disso, participar de reuniões do Conselho Fraterno, dar sugestões e discutir

assuntos relativos à dispensa de funcionários, arrecadação de doação e outros. Ademais se um

Diretor não exercesse as suas funções com competência e dedicação, a Diretoria o convocaria

para uma conversa particular. Caso a sua atuação continuasse a não corresponder à

expectativa da Diretoria, esta solicitaria ao Conselho fraterno a cassação do seu mandado.

No artigo 5º, das funções que se refere ao Presidente do “Lar de Maria”, está a de

conduzir todos os serviços da Instituição, reger as reuniões e cumprir as determinações do

Estatuto. O Presidente podia convocar “[...] o Conselho Fraterno e a Assembleia Geral, nas

datas estabelecidas e extraordinariamente, nos casos previstos no sempre que preciso

justificando os motivos” (ESTATUTO DO LAR DE MARIA, 1947, p.3).

O referido Estatuto destaca que o Presidente teria que anualmente apresentar ao

Conselho Fraterno um relatório de sua gestão e da Diretoria. Ao presidente caberia nomear

comissões para coordenar arrecadação de alimentos, roupas e remédios pela “Campanha do

quilo”. Ele teria também, como função, de redigir termos de abertura dos livros da instituição,

rubricar os documentos denominados de “caixa” e também assinar os certificados e diplomas

de alunas que completassem o ensino profissionalizante, cadernetas, cheques bancários e

todas as correspondências passíveis de sua assinatura. Além disso, teria que contratar um

contador de confiança, verificar as contas a pagar e receber auxílio, solucionar casos que

surgissem de urgência que dependeriam da aprovação Diretoria e do Conselho Fraterno.

E por fim, caberia ao Presidente do “Lar de Maria” participar das comemorações

festivas. Ele poderia “[...] delegar uma pessoa de sua confiança que não seja alheia à Diretoria

ou ao “Lar de Maria”, para representá-lo” (ESTATUTO DO LAR DE MARIA, 1947, p.3).

Em relação ao vice-presidente da instituição “Lar de Maria”, cabia entre as suas várias

funções, “[..] Cooperar conjuntamente com o Presidente na superintendência de todos os

serviços do “Lar de Maria” e desempenhar os trabalhos que forem combinados com o

mesmo” (ESTATUTO DO LAR DE MARIA, 1947, p.3). O vice-presidente também poderia

substituir o presidente por ausência ou renúncia do cargo se houvesse.

Page 106: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

105

O Secretário Geral teria como função a “[...] organização e distribuição dos serviços de

secretaria, procurando sempre tê-lo em ordem e atualização” (ESTATUTO DO LAR DE

MARIA, 1947, p.3). Juntamente, com o segundo secretário, deveria responder as

correspondências e redigir as atas das sessões da Diretoria. O Secretário teria, ainda, o dever

de “[...] Substituir o Vice-Presidente nos seus impedimentos e ausência e sempre que este

assumisse a Presidência” (ESTATUTO DO MARIA, 1947, p.3).

O 2ª secretário do “Lar de Maria” competia elaborar ou responder a correspondência e

coordenar os serviços do arquivo e da biblioteca.

O Tesoureiro Geral, membro da instituição, deveria executar as seguintes atividades

“[...] Arrecadar a receita e suprir as despesas, trazendo tudo escriturado tecnicamente, com

clareza e em dia no livro “caixa””. Ele teria que pagar contas de ordem do Presidente e “[...]

Arrecadar, por meio de guias as importâncias entregues pelo 1° e 2° Tesoureiro, proveniente,

respectivamente, de cobranças de mensalidades, produto da “Campanha do Quilo” e de outras

que forem organizadas, devendo controlar os serviços a cargo desses Diretores” (ESTATUTO

DO LAR DE MARIA, 1947, p.4).

De acordo com Estatuto (1947, p.4), o Tesoureiro geral deveria depositar “[...] em

estabelecimento bancários indicados pela Diretoria os saldos disponíveis, procurando nunca

manter em “Caixa”, quantidades desnecessárias, saldos superiores a Cr$-2.000,00”. Cabia ele

assinar juntamente com o Presidente, cheques para saques de dinheiro no banco, nomear

cobradores de confiança para realizar a cobrança das mensalidades.

O Diretor administrativo da instituição “Lar de Maria”, desde o tempo da construção da

instituição teria a função de administrar a obra ou quaisquer consertos referente à construção

do prédio do estabelecimento. Além do mais, caberia a ele cuidar “[...] da conservação do

prédio, dependências, móveis, utensílios, aparelhos dos gabinetes médicos, dentário etc.;

veículos de transportes, enfim, por todos os bens da Sociedade, promovendo o que for

necessário para esse fim” (ESTATUTO DO LAR DE MARIA, 1947, p.4).

Ao Diretor administrativo incumbia, também, “[...] Digitar e fiscalizar o serviço de

compra de mantimentos para a dispensa, copo, cozinha, lavanderia, farmácia, laboratório

quaisquer outros departamentos” (ESTATUTO DO LAR DE MARIA, 1947, p.4). Além

disso, este teria a função de todo mês elaborar e apresentar um orçamento das despesas para o

mês imediato na reunião da Diretoria, isso cabendo ser discutido ou aprovado.

Em relação ao Diretor de Finanças, este executaria planos de festivais, quermesses que

seriam realizados durante o ano, com o objetivo de angariar auxílio para a instituição. Esses

planos posteriormente teriam que ser expostos à Diretoria que deveria analisar e aprovar ou

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106

reprovar. Nesse mesmo sentido, caberia ao Diretor de Finanças coordenar e chefiar as

comissões para obterem auxílio para a instituição.

Caberia ao Diretor de Finanças organizar uma relação de pessoas físicas ou jurídicas

para realizar aquisição de donativos em favor da instituição, além de “[...] Tomar as

providências que se achem necessárias junto aos poderes constituídos, municipais, estaduais e

federais e representantes do povo nas Câmeras Municipais, Estaduais e Federais, bem como

no Senado Federal, no sentido de conseguir ajudas ou subvenções” (ESTATUTO DO LAR

DE MARIA, 1947, p.5).

O diretor da “Campanha do Quilo” deveria conduzir o trabalhado da campanha e de

outras que surgissem. Ele também fiscalizaria a arrecadação e recolheria a quantia dos

gêneros e objetos adquiridos pelos legionários da campanha. Esse diretor tinha a

responsabilidade de fiscalizar os seguintes serviços: escrituração e estatística, estes deveriam

ficar sempre atualizados, bem como:

[...] elaborar e apresentar à Diretoria, para estudo e aprovação, planos que

visem à estabilidade do quadro de legionário e o engrandecimento da

“Campanha do Quilo” e de outras campanhas, bem assim organizar passeios

e campanhas em localidades do interior e de festivais com o objetivo de

animar os legionários. (ESTATUTO DO LAR DE MARIA, 1947, p.5).

O Diretor teria também que propor à Presidência da instituição, comissões que fossem

compostas de associados que pudessem ajudar nos serviços de contagem do dinheiro

arrecadado nas campanhas.

Aos Suplentes caberiam assumir cargos vagos na Diretoria, conforme a convocação

feita por esta. No exercício de outras funções de direção, deveriam os suplentes participar das

reuniões da Diretoria (ESTATUTO DO LAR DE MARIA, 1947).

O “Lar de Maria” também tinha uma Superintendência que, de acordo com o Estatuto,

tinha a obrigação de dirigir todos os serviços internos da instituição e fazer cumprir o estatuto,

os regulamentos e a instrução, provenientes da Presidência e da Diretoria. Esse cargo só seria

preenchido por eleição. Parte das atribuições da Superintendência pode ser explicitada na

notícia a seguir:

Leitor amigo e caridoso: meditai nas necessidades do “Lar de Maria”

decorrentes desses novos encargos e vinde em seu auxílio com a vossa

valiosa ajuda, qualquer que seja __ material de construção, alimentos,

vestimentas, utensílios, numerário, etc., enviando-a à (sic) nossa Diretora

Superintendente, a irmã Sancha Bentes Cotta, em nossa Sede à Praça

Floriano Peixoto, s.n., ou, por intermédio. (FOLHA DO NORTE, 1958, p.6).

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107

Dessa forma, é possível compreender a estrutura administrativa, prevista no Estatuto da

Instituição “Lar de Maria”, e se observa uma gestão que visava à racionalização do trabalho

com a finalidade de manter a eficiência dos serviços lá executados.

É importante destacar a hierarquia e o poder centralizado no presidente da instituição

do “Lar de Maria”. É perceptível uma estrutura administrativa burocrática que controlava as

atividades exercidas pelos demais cargos. A comunicação era linear (de cima para baixo),

demarcando uma relação que está mais preocupada com a execução e a fiscalização de

tarefas.

.

3.2 A INTERNAÇÃO E OS INTERNADOS NA INSTITUIÇÃO ESPÍRITA “LAR DE

MARIA”

O “Lar de Maria”, desde a sua criação já tinha o intuito de abrigar crianças pobres, que

recebiam a denominação de órfãs e desvalidas, e que “[...] seus parentes ou pais sejam

comprovadamente miseráveis [...]” (ESTATUTO DO LAR DE MARIA, 1947, p.9). Ser órfão

não era, desse modo, a condição para ingressar no “Lar”, e sim a pobreza. Isso fazia com que

os pais ou responsáveis pelas crianças as levassem para o Lar de Maria para serem cuidadas e

educadas. Para Rizzini (2004, p.16), “[...] grande parte da “clientela” das instituições de

assistência e assistência a infância era internada pelas próprias famílias, sendo as crianças

retidas nos internatos e transferidas de tempos em tempos para outros, de acordo com a sua

faixa etária, sexo, perfil e comportamento”.

Em 24 de setembro de 1947 foi registrado no cartório “Senhor Manoel” da cidade de

Belém do Pará o Estatuto da Instituição Espírita “Lar de Maria”, que rege as suas ações. Entre

elas, destaco a entrada e saída de crianças no internato, o tipo de educação oferecida, os

cargos e as funções dos diretores da instituição (ESTATUTO DO LAR DE MARIA, 1947).

Os interessados, em internar as crianças no “Lar de Maria”, deveriam comprovar que

eram pobres. Para tanto, era realizado uma sindicância26

, que cabia a uma comissão formada

por três membros da própria diretoria do “Lar de Maria”, com a função de visitar as famílias

para verificar se as crianças eram pobres. Os critérios de internamento podem ser visualizados

em uma notícia veiculada pelo jornal Folha do Norte do dia 02 de junho de 1957:

A finalidade do “Lar de Maria” é abrigar as criancinhas órfans (sic),

desamparadas, cujos pais já foram chamados à Espiritualidade, e, também as

criancinhas denominadas “Orfans” (sic), mas de pais vivos, porque

26

Conjunto de atos e diligências que objetivam apurar a verdade de fatos alegados; investigação.

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108

paupérrimos em extrema miséria e completamente destituídos de meios para

prestar-lhes o sustento a assistência e a instrução indispensáveis.

A preferência para internamento recai sempre nas crianças mais necessitadas

retiradas dos bairros mais paupérrimos e dos subúrbios insalubres de Belém,

sem distinção de cor, de raça, de nacionalidade ou de religião.

Cerca de uma centena de crianças nessas condições já estão registradas para

internamento aguardando oportunidade. Os pais, em virtude de extrema

miséria em que se encontram e por se sentirem com os corações

despedaçados pela dor causada pelo grande sofrimento dos seus filhinhos

famintos desnutridos e doentes, estão ansiosos para que chegue o dia em que

possam ter a consolação de os confiar (sic) ao teto acolhedor e paternal do

“Lar de Maria”, onde possam ter os cuidados que necessitam e sentir os

carinhos e afagos de mães bondosas e amorosas. (p.2).

O Estatuto instituía que o limite máximo para internação de criança era de sete anos de

idade. No entanto, crianças menores de três a seis anos foram internadas na instituição. “[...]

A Comissão de investigação está terminando os seus trabalhos para o internamento de mais

algumas meninas de três a seis anos de idade, que vão ter o seu lar amoroso e cristão”

(FOLHA DO NORTE, 1958, p.6).

A instituição “Lar de Maria” abrigava também crianças maiores que a idade

determinada pelo Estatuto, pois a Comissão de Sindicância aprovou pareceres de crianças

maiores de sete anos para ingressarem no “Lar”. O noticiário do jornal Folha do Norte

ressalta que comissão do Lar de Maria:

[...] examina cuidadosamente as condições de cada criança registrada para o

internamento, visitando-as em suas residências, e há o cuidado todo especial

de somente serem emitidos pareceres favoráveis ao internamento, nos casos

de reconhecida miséria dos seus pais ou pessoas responsáveis. (FOLHA DO

NORTE, 1958, p.13).

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109

Imagem 37 – Três irmãs: Lúcia, Maria Augusta e Iolanda.

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

As três irmãs: Lúcia, Maria Augusta e Iolanda da Costa Moreira, de seis, sete e oito

anos, respectivamente (Imagem 37), que já se encontravam sob o teto acolhedor e cristão do

“LAR DE MARIA”. Elas viviam das esmolas que sua avó doente conseguia adquirir

percorrendo a cidade de Belém, deixando-as abandonadas em um miserável barraco, como

bem relata o impresso:

As três irmãs LÚCIA, MARIA AUGUSTA e IOLANDA da Costa

Moreira, que se encontram agora sob o teto acolhedor e cristão do “LAR DE

MARIA”, que viviam das esmolas que sua avozinha doente conseguia

percorrer Belém, deixando-as abandonadas em sua miserável barraquinhas à

Passagem Emilio Martins, n° 14, Jabatiteua, Bairro de Canudos.

Das três irmãs: LUCIA, MARIA AUGUSTA e IOLANDA da Costa

Moreira, de seis, sete e oito anos e meio respectivamente de idade, filha da

infeliz Maria Agostinha da Costa, que reside em Soure, inutilizada pela

filaria. A avozinha paupérrima e doente, não mais podendo trabalhar,

deixava as netinhas abandonadas na sua barraquinha, enquanto percorria a

cidade, recorrendo à caridade pública para conseguir alguns minguados

recursos para poder matar a sua fome e dos entenzinhos queridos, e, para

comprar alguns paninhos para improvisar-lhe algumas roupinhas grosseiras

mal costuradas. (FOLHA DO NORTE, 1958, p.13).

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O “Lar de Maria”, portanto, prestou caridade a essas três meninas, que viviam em

verdadeiro estado de miséria física e moral, estando seus parentes responsáveis em iguais

condições. Estes “[...] preferem passar pela dor dilacerante da separação dos seus entenzinhos

queridos, a vê-los sofrer as maiores privações em seu poder”. Desse modo, o ingresso na

instituição dava possibilidade às três meninas de receberem educação e instrução, caso

contrário, estariam “[...] sujeitas às adversidades mais perigosas, com sério risco de adquirem

maus hábitos e costumes, e até de se inutilizarem para uma vida honesta e digna no futuro”

(FOLHA DO NORTE, 1958, p.13).

Nesse sentido, segundo Marcilio (1998), os estabelecimentos de internamentos na

Primeira República eram ideais para tirar a crianças dos perigos da rua. As crianças retiradas

da sociedade e de uma família incapaz de bem criá-la, em instituições totais, elas teriam

educação, formação, disciplina e vigilância que as preparariam para uma vida em sociedade.

Outras meninas foram atendidas e acolhidas pelo “Lar de Maria”. Como o caso das

irmãs Raimunda e Mariete Alves Pereira, de sete anos e meio e oito anos e meio de idade

(imagem 38) (FOLHA DO NORTE, 1958).

Imagem 38 – As duas irmãs: Raimunda e Meriete.

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

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111

As filhas de Maria Pereira Cavalcante, que morava em um barraco, cujas paredes eram

de papelão foram internadas no “Lar de Maria”. O companheiro dela faleceu, deixando-a na

completa miséria com mais quatro filhos, raquíticos, sendo o menor de três meses de idade,

não possuindo recursos para arcar com as necessidades básicas de sua prole. Segundo o

jornal,

[...] um indivíduo ignorante, ou mau e sem coração, aproximou-se de Maria

Pereira Cavalcante, ainda jovem, e com promessas enganadoras, a ela se

uniu para abandoná-la assim que ela ficou em estado interessante. E, em 27

de Março deste ano, nasceu, naquele lar tão infeliz – Maria das Graças, que a

desolada mãe amamenta e tem que prestar os cuidados necessários

impossilitando-a de trabalhar. (FOLHA DO NORTE, 1958, p.13).

Este caso doloroso e comovedor não poderia deixar de merecer a aprovação do “Lar de

Maria” para o internamento das duas irmãs. A instituição, ao acolher as pobres meninas,

evitaria que estas sofressem os perigos das ruas, como exemplo, a prostituição e mendigagem,

tendo em vista que a forma como estavam vivendo fazia delas pessoas sujeitas aos perigos de

toda ordem.

A partir da apresentação desses dois casos, é possível perceber que o “Lar de Maria”

tinha de fato uma preocupação em atender pessoas que não tinham condições de custear o

sustento dos filhos e fornecer educação e instrução, tendo na instituição uma possibilidade de

contribuir para que estes tivessem oportunidades melhores, uma vez que seus responsáveis

não poderiam ofertar.

Além disso, fica explicitada a intenção da instituição, por meio dos princípios espíritas,

em guiar as meninas na direção dos “bons caminhos”, o que revela a concepção de infância

como “dúctil e moldável”, isto é, que poderia tender tanto para o bem quanto para o mal

(RIZZINI, 2011), logo, cabia ao “Lar” auxiliar no desenvolvimento moral e intelectual de

seus internos, a fim de tornarem-se pessoas de bem. O que é corroborado, ainda, pelo seguinte

escrito:

Sendo o “Lar de Maria” uma instituição filantrópica, destinada a abrigar e

proteger velhinhos, instruir e educar meninas órfãs ou desamparadas sem

distinção de côr (sic), raça, nacionalidade e credo religioso e prepará-las para

uma vida honesta e útil à família, à pátria e, sobretudo, à (sic) Deus;

cooperar-se para a sua construção e manutenção, é o maior e o melhor

serviço que se pode prestar à Humanidade do presente e do futuro.

Observai quantas criaturas enveredam diariamente pela senda sombria do

erro, do crime e da perdição, exatamente porque nunca tiveram na infância

quem lhe ensinasse o A B C ou lhe desse uma educação e uma profissão útil

e proveitosa.

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112

Uma criança tirada à lama da rua será por certo, um criminoso a menos nos

presídios ou uma infeliz a menos nos prostibulos (sic).

Enfrentamos uma situação gravíssima que não comporta atitudes duvidosas

ou ambíguas; de duas uma: ou cuidamos da criança de hoje ou perdemos o

Brasil de amanhã [...]. (FOLHA DO NORTE, 1947, p. 3).

Outro critério para o internamento de crianças pobres na instituição, eram que todos

“[...] Os pedidos de internamento recebem um número de ordem ao serem registrados” e

seriam atendidos pela ordem numérica de entrada dos pedidos de internação (ESTATUTO

DO LAR DE MARIA, 1947, p.9). É possível perceber que o próprio impresso Folha do Norte

fazia apelo para o registro de internação de crianças para que fossem posteriormente

acolhidas. Tal jornal, no dia 13 de janeiro de 1957, relata:

Você, pois, que conhece e tem deveres à criancinha que está à espera do

agasalho do Lar de Maria, vá sem demora à Secretaria dessa instituição,

tome as instruções necessárias, para o registro e internamento do pequenino.

De início, um pequeno número, apenas, terá lugar, e serão os mais

pequeninos. (FOLHA DO NORTE, 1957, p.6).

Todos os casos de internação haveria a necessidade de apresentar a ficha de registro da

criança, além dos “[...] documentos necessários, como certidão de idade, atestado de saúde e

de vacina, podendo, entretanto, o “LAR DE MARIA” se ocupar, junto ao seu médico

assistente, dos últimos atestado [...]” (ESTATUTO DO LAR DE MARIA, 1947, p.9).

Outro critério, que chama a atenção, são os cuidados no que concerne à higiene e à

saúde das crianças para o internamento, pois ter uma boa saúde era um dos aspectos a serem

consideradas na internação. Caso as crianças não tivessem sadias, a própria instituição

indicaria o médico da instituição “Lar de Maria” para tratar das suas enfermidades, como

pode ser evidenciado em informações divulgadas pela Folha do Norte, em 01 junho de 1958:

Vem, assim, o “Lar de Maria” cumprindo a sua missão benfazeja, retirando

do ambiente de sofrimento e de miséria em que se encontram criancinhas

raquíticas, desnutridas e até anêmicas e enfermas, que são entregues aos

cuidados profissionais do competente médico pediatra, Dr. Fernando Otero,

que presta por essa forma a sua caridosa e valiosíssima cooperação à

Instituição. (p. 13).

É interessante frisar que muitas crianças, antes de serem submetidas ao internamento no

“Lar de Maria”, eram desprovidas de conforto, higiene, alimentação e remédio que as

possibilitassem viver dignamente, também havia relatos de que estas eram carentes da falta de

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113

afeto e carinho, cabendo à sociedade fornecer o que elas necessitavam, como é possível

verificar no noticiário a seguir:

Cooperar e ajudar o “Lar de Maria” e beneficiar a criancinha necessitada, à

qual falta o conforto, o carinho, a alimentação e o remédio para cura de suas

enfermidades contraídas no triste e desolado ambiente de miséria em que vive,

destituído completamente de conforto e dos requisitos de higiene.

Lembrai-vos de que “o beneficio” feito à criança, também é prestado à Pátria

e à humanidade de hoje e do futuro. (FOLHA DO NORTE, 1957, p.7).

Nesse sentido, é possível evidenciar, a partir dessa notícia, a representação de infância

veiculada pelo “Lar de Maria”, que se relaciona com o discurso recorrente sobre essa

categoria social, materializado a partir do século XIX, onde a criança pobre, ao ser vista como

o futuro da nação, precisaria receber investimento, tornando-se um sujeito útil e civilizado

para a vida em sociedade, visto que a criança pobre e abandonada representava, segundo

Rizzini (2011, p. 26, grifos do autor),

[...] ‘como um problema social gravíssimo’, objeto de uma ‘magna causa’, a

demandar urgente ação. Do referencial jurídico claramente ao problema,

constrói uma categoria específica – a do menor – que divide a infância em

duas e passa a simbolizar aquela que é pobre e potencialmente perigosa;

abandonada ou ‘em perigo de o ser’; pervertida ou em ‘perigo de o ser’.

Os pais ou responsáveis não eram vistos de maneira negativa por submeterem seus

filhos ao processo de internamento, muito pelo contrário, caracterizava-se como uma atitude

digna e justificável na doutrina espírita, pois “[...] tão cedo se viram privados dos cuidados

dos seus pais, chamados que foram à Espiritualidade, ou porque tão necessitados, preferiram a

dôr (sic) da separação a ver seus filhinhos queridos passarem pelas mais duras privações e

sofrimento, no ambiente triste, do desconforto e miséria em que vivem” (FOLHA DO

NORTE, 1960, p. 15).

Muitas crianças que chegavam ao “Lar de Maria” se encontravam comumente, mal

cuidadas, desnutridas e doentes, como é possível observar na Imagem 39, onde é retratado um

órfão recém-chegado à instituição. Na fotografia, identifiquei uma criança, do sexo

masculino, deitado, aparentemente doente e com semblante sofrido que foi acolhida no “ Lar

de Maria”.

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Imagem 39 – Órfão recém-chegado à instituição.

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

No que diz respeito à perda da vaga ou saída de crianças da instituição do “Lar de

Maria”, o Estatuto mostra que crianças com saúde insanável teria como consequência o

desligamento deste lar, o próprio documento no inciso17 do artigo 20º indica que:

§ 18° - Também perderão o direito de internação no “LAR DE MARIA” os

internados forem acometidos de doenças graves e contagiosas, incuráveis ou

de difícil cura, como a tuberculose, a lepra, a varíola, a peste bubónica, o

câncer, etc...bem assim de doenças mentais e loucura devendo a Diretoria

providenciar com urgência, sempre que se apresente qualquer deste casos,

junto as autoridades competentes, para a transferências do internado doente

para o hospital adequado ao seu internamento e tratamento. Cessado a juízo da

Diretoria, poderá o internado voltar ao internamento no “LAR DE MARIA”.

(ESTATUTO DO LAR DE MARIA, 1947, p.10).

Nesse trecho do Estatuto, é possível compreender que o desligamento de uma criança

com doenças era por um tempo determinado. A criança era encaminhada para um hospital

com finalidade de receber cuidados, após restabelecer a sua saúde poderia voltar para o

internamento.

No século XX, doenças como tuberculose e malária assolavam o solo paraense e o

pouco conhecimento que se tinha sobre elas faziam com que muitas pessoas chegassem ao

óbito. Ferreira e Gondra (2007, p. 138) destacam que as instituições são “[...] um viveiro de

doenças eruptivas e, por conseguinte, uma vizinhança perigosa para outros alunos e um

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115

terreno sempre pronto a receber e a desenvolver os germes”. Dessa forma, essa atitude de

desligar crianças doentes da instituição por parte de sua administração tinha por finalidade

evitar que outras crianças adoecessem.

A idade também era um fator para a saída da criança da instituição. O internato

determinava que “[...] Sairão da tutela do “LAR DE MARIA” os internados que se

emanciparem ou que atinjam a maioridade” (ESTATUTO DO LAR DE MARIA, 1947, p.9).

Nesse caso, a criança considerada de maior idade era a que possuía quinze anos. Acrescento

também que a maior idade era vista como uma oportunidade para acolher ou proporcionar

mais aberturas de vagas para o internamento de crianças necessitadas no “Lar de Maria”. No

estatuto há a seguinte informação:

O “LAR DE MARIA”, tendo em vista a necessidade de internar sempre

crianças novas e de manter o equilíbrio de seu orçamento financeiro,

providenciará o encaminhamento dos internados que atingirem a idade de

quinze anos a emprego ou serviços domésticos que proporcionem sua

manutenção. (ESTATUTO DO LAR DE MARIA, 1947, p.9).

Havia também a perda do internamento da instituição quando “[...] os internados

cometerem ou reincidirem em faltas graves contrárias à moral e ao decoro, devendo a

Diretoria, com aprovação do Conselho Fraterno, deliberar sobre a forma mais conveniente de

afastá-los” (ESTATUTO DO LAR DE MARIA, 1947, p.10).

Nesse sentido, é possível constatar que a disciplina fazia-se presente no cotidiano das

crianças da instituição “Lar de Maria” quando o Estatuto evidencia que os internos ao

cometerem infrações contrárias à moral e ao decoro da instituição seriam desligados do “lar”.

O disciplinamento de criança, em instituição do tipo internato, tinha como finalidade

evidenciar que os internados não deveriam ir contra as regras lá existentes. Educar também

era disciplinar as crianças para obedecerem às regras da instituição. A questão da disciplina

está presente em diversas instituições que controlam ou regulam comportamentos dos

indivíduos dentro de uma sociedade, tais como: militares, conventos, hospitais e escolas.

Nesse sentido, a disciplina:

[...] dissocia o poder do corpo; faz dele por um lado uma aptidão, uma

capacidade, que ela procura aumentar; e inverte por outro lado a energia, a

potência que poderia resultar disso, e faz dela uma relação de sujeição

estrita. Se a exploração econômica separa a força e o produto do trabalho,

digamos que a coerção disciplinar estabelece corpo o elo coercitivo entre

uma aptidão aumentada e uma dominação acentuada. (FOUCAULT, 1987,

p. 127).

Em qualquer sociedade, segundo Foucault (1987), o corpo está preso no interior de

poderes muito apertados, que impõem limitações, proibições e obrigações, deixando claro que

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poderes perpassam por todo o corpo social, originando transformações e modificações nas

condutas e atitudes dos indivíduos. As atitudes disciplinares tornaram-se fórmulas diretas de

dominação e controle de operação do corpo, submetendo a sociedade a um processo de

disciplinarização dos indivíduos. Logo, a disciplina passa a ser percebida como uma força que

controla os corpos, fazendo com que os sujeitos também se tornem dóceis e úteis para

pretensões do sistema na qual estão inseridos.

Ainda sairiam da instituição, crianças que tivessem alguém fora desse lar, responsável e

de boa conduta, que tivesse possibilidade de mantê-la fora da instituição, como registrou o

estatuto:

§ 16°- Observadas as leis de proteção à família poderá ser facultada a saída

de crianças internadas no “LAR DE MARIA”, provisória ou

definitivamente, quando solicitada por pessoas idôneas e que gozem de bom

conceito moral, que possuam meios para mantê-las e educá-las

convenientemente, ou, que desejem tê-las como filhas, ou perfilha-las,

mediante compromisso lavrado em escritura pública, depois de feitas as

necessárias sindicâncias apresentando o laudo favorável pela comissão

investigadora nomeada pela Diretoria que deve constar de cinco membros,

componentes da Diretoria ou do Conselho Fraterno. (ESTATUTO DO LAR

DE MARIA, 1947, p.10).

É conveniente mencionar que as crianças pobres mesmo depois de internadas poderiam:

[...] estabelecer entre as crianças internas e crianças de família amigas e

cristãs os laços de solidariedade humana, de molde a gerar assistência social-

material da parte dos que têm mais, as internadas podem ter, lá fora,

“madrinhas sociais”, que as visitem, distribuindo com as “afilhadas” um

pouco de carinho, de conforto e de bem estar que, por ventura lhe sobrem.

(ESTATUTO DO LAR DE MARIA, 1947, p.9).

A ajuda, sinalizada no Estatuto do “Lar de Maria”, por pessoas seja como provedores,

doadores, padrinhos, madrinhas, ou seja, de senhoras de posses, as chamadas “damas da

sociedade”, que angariavam fundos por meio de quermesses ou bazares para auxiliar: idosos,

doentes e crianças, é uma prática bastante antiga, segundo Marcílio (1998), esses agentes da

sociedade civil desenvolvem ações caridosas, doando dinheiro, roupas ou alimentos,

incentivadas e motivadas pelos valores cristãos de amor ao próximo, pois auxiliando aos

pobres se faz também uma benfeitoria a Deus.

O internato do “Lar de Maria” foi uma das primeiras inciativas, pautada na doutrina

espírita, criado em Belém do Pará, que teve a preocupação com as crianças que se

encontravam em plena miséria. Era considerável, na cidade de Belém, o número de crianças

carentes, nesse contexto, como destacou uma notícia do jornal Folha do Norte, à época:

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Aqui em Belém do Pará, o “Lar de Maria”, é a primeira instituição espírita

que está prestando assistência social, amparando criancinhas desamparadas e

desvalidas. Inaugurado recentemente, a 24 de Fevereiro de 1957, abriga

ainda apenas, uma dúzia de crianças, mas tem a capacidade para cerca de

150. Para enchê-lo de criancinhas e muitíssimas são as criancinhas

desamparadas e em verdadeiro estado miséria e penúria 15 inscrita que

aguardam oportunidade de internamento [...]. (FOLHA DO NORTE, 1957.

p.8).

O “Lar de Maria” era anunciado como uma importante instituição para a criança pobre,

abandonada e órfã, pois este espaço serviria como uma solução para que as crianças, não

sofressem da falta de assistência material e espiritual, por isso, a motivação e o apelo para a

causa dos pequenos necessitados, que tanto precisam de pessoas caridosas e sensíveis, como

bem salienta a seguinte notícia:

Ajudai, pois leitor amigo, o “Lar de Maria” no desempenho da sua tarefa de

abrigar as criancinhas desta cidade de Santa Maria de Belém, que se

encontram em aflitiva situação, necessitadas urgentemente de um lar cristão

onde possam ter os cuidados, o conforto, o carinho e amor que aquelas lhe

deram o sêr (sic) não lhe podem proporcionar, preferindo sofre a dura prova

da separação dos seus entesinhos (sic) queridos a vê-los passar os horrores

da fome, do definhamento físico e a crueldade das doenças que, muito

possivelmente, contribuirão para os seus desencarnes sem qualquer

assistência material ou espiritual, se não foram abrigadas a tempo. (FOLHA

DO NORTE, 1957, p.8).

O “Lar de Maria”, embora não se tenha encontrado durante o estudo registros que

apontem a presença de idosos, bem como evidências do cotidiano destes no estabelecimento,

previa-se no Estatuto e nas notícias sobre a criação da instituição, a internação de idosos, cujo

perfil, normalmente, eram “[...] velhinhos trôpegos e combalídios (sic) que sem lar, sem pão e

sem amigos, perambula, diariamente, de porta em porta, suplicando a graça de uma esmola ou

o dôce (sic) aconchêgo (sic) de um abrigo [...]” (FOLHA DO NORTE, 1947, p.3).

Para ilustrar a necessidade da criação da instituição para atender e abrigar idosos, a

colaboradora do “Lar de Maria”, Lucia Ramos Pinto, na Coluna Espírita, apresenta a história

de uma idosa que vivia em uma humilde habitação, esta que possuiu posses, mas que não

realizava boas ações aos necessitados e parentes que estavam ao seu redor, o que pode ter

contribuído para que essa senhora acabasse ficando só.

Ao dialogar com a senhora, a colunista destacou que a idosa deveria ter fé em Deus,

pois a construção do “Lar” forneceria aconchego e moradia para pessoas necessitadas como

ela. Vale refletir que, ao trazer para o impresso tal narrativa, infiro que a intenção desse

escrito poderia ser tanto para sensibilizar sobre a causa dos idosos pobres, bem como para

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enfatizar a importância de se praticar a caridade, pois, como defende o espiritismo, quem

“planta o bem, colhe o bem”.

UMA VELHINHA E O LAR DE MARIA

Em meio da estrada que nos conduz a um pequeno logarejo (sic), erguia-se

uma humilde choupana. Em seu interior não haver ninguém, tal era o

silêncio que reinava. Porém, eis que surge uma velhinha, de cabelos muito

brancos, sua fisionomia ainda demonstrando a beleza de que fora portadora,

seu andar trôpego e incerto. Sentou-se e indicando-se um pequeno banco,

narrou-me a sua história.

Fôra portadora de uma grande fortuna e por não ter feito bom uso dela, agora

encontrava-se naquela extrema pobreza. Sim, pois apesar de ser mulher e de

ser muito religiosa, em seu coração não residiu dois grandes sentimentos o “

Amar o próximo” e a “Caridade”. No grande conforto material em que viveu

jamais lembrou-se de repartir aquilo que lhe sobrava, pelos pobrezinhos,

pelos infelizes, que lhe batiam à porta. Seu orgulho tão grande nunca deixou

passar-lhe pela mente o término de sua fortuna e sua velhice sem parentes,

sem uma pessoa amiga que mais tarde pudesse ampará-la. E assim foi, disse-

me ela entre soluços e lágrimas, por que contando agora uma idade

avançada, não tinha uma mão amiga, uma voz terna que lhe desse conforto

material e espiritual.

E eu cheia de compaixão por aquela que não tivera quem lhe indicasse o

verdadeiro caminho que nos conduz ao Pai Celestial e nem que lhe

explicasse que estamos na terra para ajudar-nos uns aos outros, lembrei-me

do “Lar de Maria” e disse-lhe: Não se desespere. Deus nunca esquece seus

filhos e principalmente aquele que nele confiam e esperam. Implore a êle

(sic) à sua proteção e espere que brevemente, a senhora e tantas outras

velhinhas serão amparadas pelo “Lar de Maria”.

Lar de Maria, perguntou-me ela? Sim, vovozinha, a família espirita

paraense, tendo como iniciadores dois jovens cheios de entusiasmo e fé,

como continuadores as Juventudes, irá muito breve, se Deus quiser, construir

o “Lar de Maria”, onde as velhinhas sem amparo e as criancinhas órfãs

encontrarão não um asilo, mas sim um verdadeiro lar, não hábitos pretos e

ministrarem-lhes ensinamentos, mas sim, um punhado de irmãos cheios de

Fé e Amôr (sic) que lhe proporcionarão o conforto material e o espiritual

por meio da palavra meiga e simples do Divino Mestre Jesus e dos

Evangelhos.

E assim, ao despedir-me a velhinha com um sorriso de satisfação disse-me:

Vai e que a Virgem Santíssima dê forças a ti e a todos os teus companheiros

para que trabalhem com a certeza de muito em breve ver realizar o grande

sonho de todos os espíritas: A construção do “Lar de Maria”. LUCIA

RAMOS PINTO. (FOLHA DO NORTE, 1947, p.4).

Os velhinhos depois de abrigados, conforme o Estatuto da instituição, “[...] Poderão

também ser aproveitados nos vários serviços internos do “LAR DE MARIA”, os velhos

internados cujos dotes morais e condições de saúde os recomendem para ou mesmo e que

desejem fazê-lo por amor ao próximo”. Sobre as saídas deste: “[...] Será facultada, entretanto,

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a saída definitiva do “LAR DE MARIA” aos velhos desamparados que desejarem fazê-lo

provisória ou definitivamente” (ESTATUTO DO LAR DE MARIA, 1947, p.10).

A compreensão de órfãos e velhice, a partir da doutrina espírita, assume uma conotação

cristã-religiosa, fazendo com que estes conceitos assumam significado da imagem de Jesus,

por isso, a necessidade de ajudar estes sujeitos, o que é evidenciado na Coluna Espírita, do

jornal Folha do Norte:

Quando virmos o órfão abandonado, sem pão, sem família, sem lar, rôto e

faminto, amparêmo-lo (sic) sem perda de tempo: ê órfão é Jesus Cristo, que

assim, veladamente, nos procura.

Quando, ao nosso lado, se apresenta a velhice, trôpega e desalenta, sem

arrimo, nem esperanças, cumpre acolhê-la cercando-a dos devidos cuidados,

pois é o mesmo Jesus Cristo que assim, oculto, bate às nossas portas.

[...] seja este, ou seja, aquele, é, invariavelmente, a imagem viva de Jesus

Cristo; a única imagem real que dele existe na Terra, a única digna de culto e

da reverência dos verdadeiros cristãos pois é aquela que envolve, sob

aspectos variados, o ideal de amor que Jesus personifica. (FOLHA DO

NORTE, 1947, p.2).

Nesse sentido, devem-se amar os órfãos, pois “[...] é tão triste a condição de ser humano

só e abandonado, ainda mais no período da infância”. A existência dos órfãos foi

proporcionada por Deus para que alguns homens servissem de pais. Além disso, oferecer

ajuda a uma criança abandonada está agradando ao criador, compreendendo e praticando a

sua lei que é a da caridade, relata uma notícia fundamentada nos princípios de Allan Kardec,

intitulada “O Lar de Maria: Os órfãos”, destinada a comunidade espírita paraense no jornal

Folha do Norte (1957, p.2).

O próprio presidente da instituição “Lar de Maria”, o senhor Oswaldo Pacheco Dillon,

frisa em uma notícia veiculada no jornal Folha do Norte, a intenção de sensibilizar e estimular

a ajuda às crianças necessitadas,

[...] pois tudo que fizemos de bem feito aos necessitados estará fazendo a

Jesus e que ao deixamos de socorrê-los é a filho de Deus que estamos

negando a caridade. Tal personalidade diz, ainda, que “o único remédio

infantil é Jesus”, pois Jesus disse “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”,

devemos aprender suas lições e seguir seu sublime exemplo (FOLHA DO

NORTE, 1957, p.8).

Rizzini (2004) ressalta que, ao se internar um menor carente, se impedia o seu abandono

e fornecia uma possibilidade para que a criança tivesse chances de uma vida melhor no futuro,

o que devido à pobreza das famílias, carências de políticas públicas à população, o

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internamento, acabava sendo uma das poucas alternativas de assistência aos mais desprovidos

economicamente.

Felipe Soares de Melo, na Coluna Espírita do jornal Folha do Norte, destacou que “[...]

Assistir e amparar a infância e a velhice é demostrar amor ao próximo como a si mesmo,

preparando o futuro da nacionalidade” (FOLHA DO NORTE, 1947, p.3). O colunista

estabelece a definição de infância e velhice, evidenciando que no espiritismo existem várias

infâncias e velhices, e que ambas as fases são dignas de respeito:

A INFÂNCIA E A VELHICE

A infância é o princípio da estrada da vida. A velhice é o fim.

A infância é a quadra dôce (sic) e suave da nossa existência planetária. A

velhice é a fase amarga, triste, carregada de dores e desenganos.

A infância é o Sol que nasce com seus raios luminosos, repletos de energia a

inundar a Terra de calor.

A velhice é o sol no ocaso, luz apagada e fria.

A infância é a primavera da vida, cheia se risos e flores. A velhice é o

outono da vida.

A infância é a flor que desabrocha para exalar o perfume da existência.

A velhice é a flôr (sic) despetalada depois de fornecer ás abelhas o polem

(sic) para o fabricante do mel. Morre para dar a vida a outras flores.

Na infância vemos as peraltices, os carinhos e os mimes dos nossos

filhinhos. Na velhice deparamos com o semblante tristonho, de um passado

de dôres (sic) e de tremendas provações dos nossos pais e avós. Ambas as

fases da vida são dignas de nosso mais elevado respeito, do nosso

acatamento e da nossa proteção. Devemos amar tanto a criancinha com as

suas passadas vacilantes e os cabelinhos louros como os trigais maduros com

a cútis enrugada e a cabeça, simbolizando os flocos de neve do inverno da

vida. Temos o dever de tributar respeito a esses dois ramos da trajetória

terrena: o ascendente que representa todas as nossas aspirações --- nossas

esperanças e o descendente que encerra o reflexo de um passado repleto de

desenganos. Num enxergamos os nossos substitutos e noutro os nossos

antecessores, isto é, nossos rebentos e nossos progenitores.

Não esqueçamos que ontem éramos crianças e que amanhã seremos velhos.

O adepto do Espiritismo deve lembrar que para a alma há muitas existências,

portanto; várias infâncias e inúmeras velhices, tantas quanto o espírito

estiver sujeitos. FELIPE SOARES DE MELO. (FOLHA DO NORTE,

1947, p.3).

Dessa forma, é possível entender a infância, especificamente, como a primeira e mais

importante fase da vida do ser humano, o indicador de nossa existência, o período sutil que

progride e que representa uma valiosa transformação interior, em que a infância consiste, à

luz do Espiritismo, no período no qual o espírito é mais acessível de intervenção pelo

processo educativo, uma vez que, segundo Alves (2007, p. 59),

[...] Sendo um período de revelação gradual das qualidades já desenvolvido

anteriores, é também um período em que mais facilmente a criança poderá

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desenvolver novas qualidades e poderes interiores, aperfeiçoando-se,

melhorando-se, conquistando seu próprio futuro, evoluindo enfim. Este é o

próprio objetivo da vida: aperfeiçoar-se, evoluir.

Para Incontri (1997), existem duas visões a respeito da infância espírita: a primeira que

considera a infância como uma classe humilhada, pois é vista como desprotegida e

dependente, originando infelicidade, devido ao autoritarismo do adulto exercido sobre a

criança, que ao invés de proteger a fragilidade infantil, as oprime e abusam; já a segunda

visão de infância remete-se a um “sonho de beleza e felicidade”, um período de

“despreocupação e fantasia” devido à inexistência de atividades sérias.

3.3 INSTRUÇÃO E EDUCAÇÃO NA INSTITUIÇÃO “LAR DE MARIA”

No “Lar de Maria”, as crianças, além de abrigo, cuidados e alimentação adequada,

recebiam instrução e educação, fundamentadas na doutrina espírita, baseadas nos aspectos

morais e espirituais. Neste estabelecimento, as internas receberiam “[...] instrução primorosa

até se tornarem adultas e com educação de verdadeira moral cristã” (FOLHA DO NORTE,

1959, p.11).

No que concerne o entendimento de educação e instrução: a primeira propõe a formação

do caráter, das faculdades do sujeito, como valores, regras de conduta, atitudes e

comportamentos; a segunda associa-se com o cognitivo, mediante a apropriação de

conhecimentos, ensinar, transmitir saberes por meio da prática.

De acordo com, Libâneo (1994), a educação visa o desenvolvimento da personalidade e

tem por finalidade a formação de qualidades humanas, como: físicas, morais, intelectuais e

estéticas, visando à orientação das atividades humanas com relação ao meio social. Já a

instrução trabalha com a construção e desenvolvimento das capacidades cognitivas por meio

da aquisição de certos conhecimentos.

No que diz respeito a instrução por obras espíritas, os seguidores dessa doutrina

defendem:

Sobreleva [...] na ordem dos benefícios a realizar em nome da fraternidade

espírita, a instituição dar aulas gratuitas de instrução elementar, porque, se é

útil desenvolver a inteligência nas aquisições do conhecimento superior,

necessidade mais imperiosa é dissipar as primeiras trevas da ignorância,

emancipando da sua acabrunhadora tutela não somente os adultos que a

negligência própria deixou ao abandono, mas, sobretudo a infância, que é o

penhor e a esperança do futuro. (AZEVEDO, 2010, p.300).

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A educação para o espiritismo é entendida como aperfeiçoamento das faculdades do

espírito. Ele compreende a bondade, senso de justiça e o cultivo da verdade. Educar não é

somente instruir, segundo o Manual da Escola Espírita:

A aprendizagem das letras, da matemática, das artes e ofícios e das

ciências em geral não é mais importante do que a formação do caráter,

do que a aquisição da bondade e do senso de justiça, do cultivo da

verdade. A escola não apenas ocupar‐se da primeira dimensão

instrucional, entendendo deixar para os lares e religiões a segunda

dimensão, a do desenvolvimento do espírito humano. (MANUAL DA

ESCOLA ESPÍRITA, 2007, p.160).

Alves (1994, p. 4) assinala que “Instrução é apenas informação. Educação é muito mais.

É crescimento interior, é expansão na horizontal e na vertical”. Ainda, para essa autora, a

educação espírita preza pela formação da personalidade do sujeito, situando-o na sociedade

em que vive para que cresça espiritualmente.

O “Lar de Maria” oferecia as crianças o curso primário. As que concluíssem esse curso

e que manifestassem “[...] o desejo de matricular-se em curso secundário, superiores ou

técnico, o “Lar de Maria” faria o possível para que os seus desejos fossem concretizados,

tendo em vista as possibilidades orçamentárias [...]”, mas caso isso não fosse viável pela

renda da instituição, esta tentaria buscar “[...] pessoas caridosas e possuidoras de recursos

que desejem patrocinar os referidos cursos aos internados que tenham aptidão e vontade de

fazê-los[...]” (ESTATUTO DO LAR DE MARIA, 1974, p.9). Além disso, segundo o Estatuto

do estabelecimento, os internos que terminassem os estudos primários poderiam ser

aproveitados nas atividades da instituição que deveria proporcionar sua manutenção.

A educação fornecida no “Lar de Maria” era fundamentada na Doutrina Espírita. Para

Kardec (2008), a educação tem por objetivo não apenas instruir o sujeito, mas transformá-lo.

Ele propunha uma educação fundamentada nos valores morais,

[...] Não a educação intelectual, mas a educação moral, e não a educação

moral através dos livros, mas a que consiste na arte de formar os caracteres, a

que forma hábitos: pois a educação é o conjunto de hábitos adquiridos (...) A

desordem e a imprevidência são chagas que só uma educação bem

compreendida pode curar” (KARDEC, 2008, p.289).

Para o colunista espírita, Felipe Soares de Melo, que se posicionou sobre a educação de

crianças no jornal Folha do Norte, em uma coluna, intitulada Deixai que venham a mim, os

pequeninos. Quem receber um destes em meu nome, a mim mesmo o recebe – A Educação de

Crianças, evidencia que é preciso proporcionar as crianças uma educação integral, isto é,

moral, intelectual e físico. Essa educação contribuiria para uma formação de uma mentalidade

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123

moral, que cumpria com os sagrados deveres de Deus. Essa concepção de educação, de

acordo com esses escritos, é relevante, pois,

Moral, para enriquecer o coração, afim de que a criança possa “amar a Deus

sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”, intelectual,

enriquecendo o cérebro, para que possa mais tarde desempenhar as altas

funções em qualquer departamento de atividade humana onde muito poderá

fazer em beneficio da coletividade, e, finalmente, física, para o

desenvolvimento harmônico de seu corpo, cárcere do espirito, visto que um

espirito são, precisa habitar em um corpo são. O “men sana in corpore sano”

dos latinos. (FOLHA DO NORTE, 1947, p.3).

A men sana in corpore sano frase em latim que significa “uma mente sã em corpo são”,

máxima discutida na cultura Greco Romana pelo poeta Décimo Junior Juvenal que por meio

de sua sátira objetivava informar aos cidadãos romanos que deveria existir a união entre o

corpo (material e físico) e a mente (espiritual, intelectual), pois uma mente sem um corpo que

a sustente nada é, e da mesma forma que um corpo sem mente não tem qualquer utilidade.

Segundo Freire (1997), o corpo e a mente deveriam ser entendidos como componentes que

integram um único sujeito e que “[...] Ambos devem ter assento na escola, não um (a mente)

para aprender e o outro (o corpo) para transportar, mas ambos para emancipar [...]” (FREIRE,

1997, p.13).

Isso significa dizer que é preciso, ao menos ter a noção de um corpo sadio para os

serviços do equilíbrio espiritual e mental. Para Milstein (2010), o corpo é passível de doenças

e que deve proporcionar o cuidado da saúde, para assim garantir o rendimento intelectual.

De acordo com o colunista Felipe Soares de Melo, no colégio, a criança obtém a

educação para o desenvolvimento do cérebro e do físico, mas a do coração deve ser adquirida

nos lares, que é a verdadeira escola de moral. Além disso, a criança deve ter bons educadores,

orientadores, agentes que mostrem verdadeiros e bons exemplos aos filhos ou tutelados, tendo

em vista que:

Educar o homem é mostrar-lhe o caminho e no caminho assisti-lo de gozar

na inocência a mais larga abundancia do seu tesouro, para que a terna

saudade desse gozo seja um chamado constante às energias da vida e não

consintam estas maior afastamento dos abençoados termos da inocência...

Por isso é que o lar será sempre a fortaleza do homem, se é o sagrado recanto

onde o amor cultiva a inocência. E a escola não cumpre o seu destino se do

lar não conserva o ambiente de ternura que salva a inocência de morrer como

mariposa nas chamas da consciência, quando a razão se alerta, se o coração

mingua. (FOLHA DO NORTE, 1957, p.2).

Dessa maneira, é possível entender que a instituição “Lar de Maria”, ao se pautar nos

pressupostos da doutrina espírita, passa pensar a educação enquanto formação para a

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124

liberdade, com intuito de fazer com que o sujeito amplie suas ideias acerca do sentido e do

significado da vida, uma vez que o “Lar” é a escola que ensina a alma pecadora a te conduzir

na tenda do aperfeiçoamento moral (FOLHA DO NORTE, 1955).

Alfredo Fernandes, em coluna publicada no jornal Folha do Norte, no escrito

denominado de Lar de Maria – Símbolo de Trabalho Cristão, diz que as crianças ao saírem

do “Lar de Maria” estariam aptas para os “embates da presente existência”, pois o referido

estabelecimento “coloca em todas as mentes ensinamentos nobres e sadios”, a “[...] infância

aprende coisas boas, preparando-se para trilhar no caminho do bem e da virtude por toda a

eternidade, formando, assim, um movimento infantil cristão” (FOLHA DO NORTE, 1959,

p.3).

Ou seja, o objetivo de se formar os pequenos nesses princípios também perpassa por

formar futuros seguidores do Espiritismo. E essa era a missão do “Lar” desde a sua origem,

educar “[...] suas filhinhas de hoje, nos preceitos amorosos, pacíficos e moralista, contidos no

Evangelho de Cristo, a fim de que, no amanhã que se aproxima, tenhamos um mundo

tranquilo, risonho e venturoso [...]” (FOLHA DO NORTE, 1947, p.3).

Nas palavras do Diretor Osvaldo Pacheco Dillon do “Lar de Maria”, as crianças

receberiam carinho, pão, lar, instrução e, sobretudo, orientação religiosa cristã. A partir dessa

formação, orientada pelo estudo e meditação sobre a vida e os ensinos de Jesus, as crianças

cresceriam na educação “[...] com a formação moral capazes de honrar e respeitar a Deus, a

Pátria e Família” (FOLHA DO NORTE, 1956, p. 8).

Nessa perspectiva, a instituição “Lar de Maria” dava bastante ênfase em educar para que

o sujeito pudesse se constituir uma alma preocupada com o próximo, pois isso seria “[...] uma

inspiração superior, para a prática da maior de todas as virtudes a ‘CARIDADE’” (FOLHA

DO NORTE, 1947, p.3). A Senhora Lucia Ramos Pintos, uma das associadas da instituição,

destacou que o “Lar” seria “[...] uma casa aonde se pratica a Caridade sem distinção de raça,

cor ou religião” e que neste lar as pessoas responsáveis são chamadas de “criaturas espíritas”

que proporcionariam confortos e ensinamento espiritual [...]” (FOLHA DO NORTE, 1947,

p.2).

A caridade é um dos princípios mais importantes e estudados pelos adeptos do

Espiritismo. De acordo com Kloppenburg (2014), sem a prática da caridade cristã, não terá

salvação e quem não tiver a caridade, não será um verdadeiro discípulo de Jesus Cristo, pois é

ela que estabelece contato direto com o Criador. Já a caridade, na compreensão de Bueno

(1997), praticada aos necessitados, é uma forma de retribuição do que se recebeu no passado.

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125

Convém ressaltar, que a caridade também está presente na Igreja Católica, sendo um

dever para o cristão, e para praticar basta ter a vontade de ajudar os desfavorecidos. Segundo

Silva (2006, p. 2),

[...] em várias passagens da Bíblia, e a Igreja Católica, em virtude de sua

hegemonia em nossa sociedade, difundiu-a por meio de um discurso

repetitivo e moral, objetivando o equilíbrio e a harmonia entre os diferentes

segmentos sociais, evitando assim, o perigo de conflitos e revoltas daqueles

que se encontram na miséria.

Além da educação moral e espiritual, as crianças internas recebiam “[...] instrução

profissional – doméstica instrução elementar e primária” (ESTATUTO DO LAR DE MARIA,

1947, p.9). Com base nesse ponto do referido documento e de informações encontradas nas

demais fontes desta pesquisa, é possível perceber que a educação oferecida na instituição

espírita “Lar de Maria” era voltada ao ensino dos trabalhos manuais e prendas domésticas

para meninas, com aulas de corte, costura, bordado e arte culinária – preparação de frios e

doces.

Essa formação, sob a responsabilidade do Departamento de Prendas, na instituição era

muito enaltecida pelos diretores e demais pessoas ligadas ao “Lar”. Esse departamento

representava uma grande “[...] oportunidade de adquirir conhecimentos tão úteis

indispensáveis, os quais lhes permitirão dedicar-se a um trabalho humilde, mais honesto e

digno, que lhes facultará a manutenção própria, bem assim dos seus familiares futuramente”

(FOLHA DO NORTE, 1958, p.8). Para ilustrar o ambiente, a relevância e a finalidade desses

cursos, o mesmo impresso em outra publicação evidencia:

Mais de uma centena meninas, num ambiente alegre saindo, onde impera

ordem e respeito, adquirem conhecimentos tão uteis e dispensáveis, que lhes

permitem preparem suas próprias roupas e de pessoas de suas famílias no

futuro, evidenciando-se assim o interesse de que temos no ¨Lar de Maria¨ em

ajudar as mocinhas pobres proporcionando-lhe conhecimento que lhes

possibilitam enfrentar a vida com mais felicidade, nesta época em que tudo

está difícil, e o custo das utilidades, cada vez mais elevado (FOLHA DO

NORTE, 1958, p.22).

Segundo Câmara (2013, p.280), as escolas femininas que visavam dar uma formação

doméstica às meninas:

[...] foram organizadas a partir de uma finalidade única; as atividades que

nelas predominavam estavam centradas na missão social da mulher, o que

reforçou a representação da imagem feminina como sendo

fundamentalmente doméstica. A esse pressuposto associava-se a intenção de

que a formação e a qualificação, que antes eram espontânea e naturalmente

aprendidas, fossem cada vez mais, marcada pela racionalidade dos

conhecimentos da ciência e da experiência construída. A incorporação do

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126

trabalho definiu a articulação crescente entre o corpo saudável e produtivo e

a atuação consciente da mulher.

O momento desse tipo de formação pode ser observado na imagem 40, na ocasião da

realização de uma aula prática do curso de corte e costura, em que são retratadas as alunas da

instituição de diferentes idades, utilizando máquinas de costuras, sendo acompanhadas e

orientadas pelas professoras da instituição. Já a Imagem 41, mostra as educandas do curso de

corte, costura e bordado, posando em frente ao departamento de prendas do “Lar de Maria”.

Imagem 40 – Grupo de alunas e professoras do Departamento de Prendas.

Fonte: Folha do Norte (1958, p.8).

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Imagem 41 – Alunas do Departamento de Prendas do “Lar de Maria”.

Fonte: Folha do Norte (1958, p.8).

O Departamento de prendas da instituição “Lar de Maria” era considerado um dos mais

importantes setores de aprendizagem e comumente alvo de campanhas na impressa que

pretendiam captar recursos para a aquisição de equipamentos para a ampliação e manutenção

das aulas e cursos oferecidos, o que pode ser verificado na fala do presidente, Oswaldo

Pacheco Dillon, agradecendo os doadores que possibilitaram a aquisição de novas máquinas:

Prossegue animadora a campanha empreendida no sentido de serem

conseguidos donativos das máquinas de costura necessária para o ensino de

corte e costura e bordados a cerca de duzentas jovens pobres. A firma Lojas

Credilar de Belém Ltda., estabelecida a Rua 13 de Maio, n. 154, já fez

também espontaneamente o donativo de uma ótima máquina de sua

distribuição, marca “Princesa”. O “Lar de Maria” sensibilizado pela

generosa dadiva roga a sua Patrona Espiritual, a excelsa Mãe de Jesus, que

recompense a referida firma, proporcionando-lhe uma prosperidade, e

particularmente, aos seus digníssimos componentes, concedendo-lhes saúde,

paz e felicidades. (FOLHA DO NORTE, 1958, p.10).

O referido Departamento, ainda, proporcionava o ensino de arte culinária para as

meninas. Lá as alunas adquiriam “[...] conhecimentos que lhe são muito úteis e de inestimável

valor a vida prática [...]. Nas aulas aprenderiam a preparar frios e doces de diferentes espécies

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128

e assim poderiam [...] conseguir seu “ ganha pão” futuramente à custa do trabalho humilde,

digno e honesto ( FOLHA DO NORTE, 1958, p.5). Nas Imagens, 41 e 42, é possível verificar

alunas de diferentes idades na aula de confecção de doces e frios, sentadas à mesa

manuseando a fabricação de doces, bem como meninas posando com os utensílios de cozinha

utilizados nas aulas.

Imagem 42 – Alunas na confecção de Doces.

Fonte: Folha do Norte (1958, p.5).

Imagem 43 – Alunas na confecção de Frios.

Fonte: Folha do Norte (1958, p.5).

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Em 25 de dezembro de 1959 ocorreu à colação de grau das duas primeiras turmas dos

cursos de arte culinária, corte e costura. Colaram grau 44 alunas com a presença de paraninfos

e também de alguns familiares, que prestigiaram a entrega dos diplomas. Nessa solenidade, a

diretora do departamento de prendas, a senhora Solange Cristo Muniz, fez um discurso que

foi reproduzido no jornal Folha do Norte:

“Ilustre e abnegados Presidente do “Lar de Maria”.

Eminentes Membros do Colendo Conselho Fraterno.

Senhores Representantes das Sociedades Espíritas e Espiritualistas de Belém

aqui presentes. Dedicada Diretoria Superintendente.

Minha Senhora, meus senhores Distintas diplomadas:

A data de hoje é muito grata aos Diretores e Associados do “Lar de Maria”

pois se atinge um dos objetivos desta Associação com a conclusão dos

Cursos de Corte e Costura e Arte Culinária ao diplomarem a primeira turma

ambas que aqui colheram ensinamentos básicos desta parte tão importante

para a vida da família brasileira.

Prezadas diplomadas

Bem viste e vivestes as dificuldades que enfrentamos conjuntamente para

atingir o ideal com que aqui viestes: aprender alguma coisa que posse ser útil

ao próximo.

Não fora estou certa a abnegação e o esforço de vossas mestras e a firmeza

com que encarastes vossos deveres, não estamos aqui reunidos, nesta festa

singela, porém tão significativa para todos.

Acredito também que a par dos conhecimentos profissional aqui recebidos,

recebestes, ainda uma lição, mui valiosa de desprendimento e amor ao

próximo.

Estais aptas ao desempenho das profissões em que hoje colais grau e se eu

ao agradecer a distinção que me fizestes, de paraninfar as turmas de Arte

Culinária e Corte e Costura que integrais, ainda uma coisa vos puder pedir,

desejo que ao sairdes do “Lar de Maria”, não vos esqueçais dos que aqui

ficam e que procureis ministrar lá fora os ensinamentos aprendidos, e mui

especialmente difundir os princípios de Caridade e Amor sentimentos esses

que sustêm esta Instituição.

E agora, com o nosso adeus, pedimos ao Onipotente, que vos ilumine e guie

na estrada da vida. (FOLHA DO NORTE, 1960, p. 10).

O discurso enunciado nessa solenidade de formatura reflete um pouco do ideal de

formação para as meninas, evidenciando que o “Lar de Maria” objetivava propiciar

conhecimentos que as preparassem para serem mulheres de bem, esposas e boas mães. Além

disso, tudo o que foi aprendido deveria ser útil ao próximo, como uma atitude de amor e

caridade. Nesse sentido, Oliveira (2008, p. 4) afirma que, no século XIX e início do século

XX, “[...] na escola se reforçava o papel da vida doméstica e limitava a educação da mulher

ao papel de boa mãe e boa esposa, educadora de seus próprios filhos”.

Ainda, nessa festa de solenidade, os trabalhos das alunas diplomadas foram colocados

em exposição na grande área do refeitório e antes do encerramento dessa festa, os trabalhos

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das alunas foram avaliados com base nos critérios de originalidade e arte. E assim ficou a

premiação: “[...] Arte Culinária: 1° prêmio – Srª. D. Juracy Costa, 2º Prêmio – Srta. Maria

Estela Sousa e 3° prêmio – Srta. Maria de Lourdes Eiró; Corte e Costura: 1° prêmio – Srª

Raimunda Caldeirão Brito” (FOLHA DO NORTE, 1960, p.10). Ao avaliar e premiar as

educandas concluintes, a instituição intencionava, além de exaltar as mais competentes nessas

habilidades, mostrar socialmente a qualidade da formação oferecida, bem como estimular as

meninas que ainda estavam em processo de término do curso.

Quanto às ações educativas para a infância pobre na instituição, estas são representadas

nos princípios de uma educação na perspectiva espírita, que evidencia uma educação pautada

na moral cristã, bem como na instrução elementar e primária e na educação profissional

doméstica para as meninas. Vale salientar que a instituição “Lar de Maria” teve a sua primeira

mudança em sua filosofia assistencial na década de 70, quando desativou o sistema de

internato, especificamente no ano de 1976. E no ano de 1977, o “Lar de Maria” foi

transformado em creche.

3.4 FESTAS NA INSTITUIÇÃO ESPÍRITA “LAR DE MARIA”

As festas têm uma finalidade educativa e influenciam na vida social e política da

instituição escolar. As festas comemorativas realizadas no “Lar de Maria” também podem ser

consideradas momentos educativos, tendo em vista que se constituíam em espaços para a

propagação dos preceitos espíritas tanto para o público do estabelecimento quanto para

pessoas externas. Estas comumente eram convidadas para prestigiarem o evento, bem como

para tomarem conhecimento do que se desenvolvia na instituição no intuito de socializarem o

emprego de recursos ofertados por elas e também sensibilizar e motivar possíveis benfeitores

para o “Lar”. Dentre as principais festas, destacam-se:

Natal

Aniversário da Instituição

Festa da Criança

Festa 7 de setembro

Semana Espírita

Souza (2000), ao analisar as festas das escolas primárias nos séculos XIX e XX,

destaca que existem dois tipos: as festas do sucesso escolar e as festas do imaginário sócio-

político. No primeiro encontram-se “[...] os rituais de avaliação – provas e exames, as festas

de encerramento do ano letivo e o cerimonial de formatura” (SOUZA, 2000, p. 174). No

segundo encontram-se as atividades voltadas à construção da identidade, da nação, de valores

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morais e cívicos, essas que fazem parte do imaginário da sociedade, tais como: as datas

históricas, Dia da Bandeira e Proclamação de Republica, Independência, entre outros.

A autora ainda evidencia que “[...] estas festas tornaram-se momentos especiais na vida

das escolas e das cidades, momentos de integração e de consagração de valores – o culto à

pátria, à escola, à ordem social vigente, à moral e aos bons costumes” (SOUZA, 1998, p.

259).

Para Goffman (1961), esses eventos, realizados em instituições totais, são denominados

de “Cerimônias institucionais”. Essas cerimônias possibilitam aos internatos reaprende a viver

em sociedade. Para esse autor, as “Cerimônias institucionais” são anunciadas em um órgão de

divulgação, tais como: jornais ou revista semanais. Estas são mencionadas em dois tipos de

material: o primeiro são denominadas de “as notícias locais”, que evidenciam descrições de

cerimônias institucionais recentes, acontecimentos pessoais, como: aniversários, mortes de

pessoas da instituição, promoções, viagens e etc.; o segundo tipo de material de divulgação é

o editorial, que abrange “[...] notícias do mundo externo que têm relação com a posição social

e legal dos internos e ex-internos, acompanhadas por comentários adequados; poesia, contos

originais; editoriais [...] (GOFFMAN,1961, p. 86).

As festas da instituição “Lar de Maria”, na maioria das vezes, eram divulgadas nos

jornais da cidade, caracterizando-se como do tipo “notícias locais”. Na impressa local eram

divulgadas as festas de aniversários, quermesses, programação dos eventos, mudança de cargo

de diretores, visitas de pessoas ilustres, entre outras notícias. A partir disso, evidencio

algumas festividades realizadas no “Lar”.

Por ocasião da festa de Natal, o presidente do “Lar de Maria”, senhor Oswaldo Pacheco

Dillon, publicou na Coluna Espírita um apelo para que os leitores se comovessem a ajudar

nesta tão importante data cristã. Este, em tom emotivo e recorrendo a passagens do

Evangelho, sugere que ao ajudar as crianças da instituição se estará também prestando

serviços a Deus e, assim, receberá recompensas pela caridade prestada a quem precisa, como

é possível verificar nas próprias palavras do presidente:

NATAL DO LAR DE MARIA

Leitor amigo:

O “Lar de Maria” não pode ir teu lar abençoado a fim de pedir a tua

lembrança de Natal as criancinhas que lá tem agasalho amoroso e cristão.

Por isso bate, por esta forma às portas do teu grande coração, lembrando a

significativa frase de Jesús (sic): “aquilo que fizeres a uma destas

criancinhas a mim o fazeis”.

Auxiliai, pois, o “Lar de Maria” na sua obra em pról (sic) das criancinhas

desamparadas: e, alegrai o NATAL das suas filhinhas com a tua

generosidade.

Oswaldo Pacheco Dillon. (FOLHA DO NORTE, 1957, p.8).

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132

A festa de natal do ano de 1959 foi realizada em dois dias. No dia 24 aconteceu a

distribuição de brinquedos às crianças internadas. Já no dia 25 pela manhã foi realizada uma

sessão solene de formatura das turmas do departamento de prendas (FOLHA DO

NORTE,1960).

Ao falar da festa de Natal, Goffman (1961) afirma que nas instituições totais, a festa

anual frequentemente está ligada à comemoração de Natal e que essa é realizada mais de

uma vez em instituições totais e que os administradores e internos nesse momento passam a

se “misturarem” por meio de “formas padronizadas de sociabilidade”, tais como: comer

juntos, participar de jogos de salão e bailes. Isso sem falar que o Natal modifica o ambiente de

uma instituição, quando os internos decoram o estabelecimento com enfeites.

As Imagens 44 e 45 retratam o que Goffman (1961) chama de “formas padronizadas de

sociabilidade”. É notável que na festa de aniversário da instituição “Lar de Maria” de 1958, a

presença de um dirigente de vestimenta branca brincando de roda com as crianças.

Imagem 44 – Aniversário da Instituição “Lar de Maria”, crianças brincando junto com diretores

(1958).

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

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Imagem 45 – Aniversário da Instituição “Lar de Maria” crianças brincando (1958).

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

Outras “formas padronizadas de sociabilidade”, possível de perceber nas fotografias, foi

o ato dos dirigentes e internos participarem de confraternização juntos. A Imagem 46 retrata

os dirigentes e internos sentados em volta de uma mesa manuseando uma cuia para ingerir

certo alimento.

Imagem 46 – Aniversário da Instituição “Lar de Maria” crianças à mesa (1958).

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

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134

Goffman (1961) diz que as cerimônias institucionais têm como prática abrir os portões

da instituição em tempo de festa, convidando para visitar o “lar”, os parentes dos internados e

o público em geral, fazendo transparecer elevados padrões humanitários, as relações cordiais

entre as pessoas da administração e os internados.

No trecho da Coluna Natal do Lar de Maria, a seguir, tomando como mote as festas

natalinas, encontrei o convite feito pelo diretor ao público em geral para que seja feita uma

visita à instituição:

No dia de Natal o “Lar de Maria” estará aberto para visitas.

Aumentai a alegria do vosso Natal, fazendo uma visita ao “Lar de Maria”,

partilhando com as suas filhinhas um pouco da vossa satisfação e felicidade.

Maria, Nossa Mãe Santíssima, Misericórdia e Bôa (sic) recompensará a

vossa caridade.

A sede do “Lar de Maria” fica à Praça Floriano Peixoto, s/n. Telefone: 9226.

Oswaldo Pacheco Dillon. (FOLHA DO NORTE, 1957, p.8).

Nesse sentido, ao permitir o contato de pessoas dentro da instituição, Goffman (1961)

frisa como sendo essa ação de “Exibição Institucional”, em que o local é preparado para

receber visitas e mostrar um ambiente acolhedor, apresentando uma imagem “adequada” de

uma instituição total, ou seja, permitindo que os visitantes vejam que tudo está bem, que tudo

está correto no interior do “lar”.

O autor ainda destaca que nas “Celebrações Institucionais” há um preparo do ambiente

que vai da organização da festa até a distribuição de presentes, e de pequenas indulgências aos

internados. E que “[...] De modo geral, durante um dia há urna educação nos rigores da vida

institucional para os internados” (GOFFMAN, 1961.p 88). Essas características podem ser

observadas na Imagem 47 a seguir. Na festa de aniversário da instituição “Lar de Maria”, é

perceptível a distribuição de presentes para as crianças. Cada uma delas esperava a sua vez

para se presenteada pelos dirigentes desse internato.

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Imagem 47 – Aniversário da Instituição “Lar de Maria” interna recebendo presente (1958).

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

A colaboradora do “Lar”, Nancy Puhlmann, na Coluna Espírita, estabeleceu reflexões

sobre o significado do Natal para as crianças abrigadas, pontuando que era recorrente que

famílias recebessem internos em suas casas para celebrar o nascimento de Jesus, mas que tal

realidade vinha se modificando, o que era algo positivo, tendo em vista que a criança

internada precisava entender que ela tem um lugar e que este pode ser repleto de carinho e

amor e não ser levada para a residência de pessoas como se no próprio internato, ao vivenciar

o Natal, este não fosse uma festa de família, pois:

A criança abrigada precisa sentir que tem um lar e uma família reconhecida

por todos e que seus direitos e deveres diante da vida são os mesmo daqueles

comuns às demais crianças. E somos nós, os adultos – os que colaboramos

ou visitamos os lares coletivos – que devemos, através duma conduta

adequada e compreensiva – proporcionar à criança abrigada a

autoconsciência de que ocupa um lugar no mundo, diante do qual não há

portas fechadas ou muralhas instransponíveis.

Isso é o que nos parece realmente valioso e oportuno na obra de beneficiar a

criança. (FOLHA DO NORTE, 1957, p.2).

A data de aniversário da instituição Espírita “Lar de Maria”, comemorada no dia 15 de

agosto, também era considerada um relevante evento festivo. Geralmente, essa data

proporcionava um dia agradável aos internados e funcionários da instituição.

No 11° aniversário da instituição, a diretoria proporcionou as crianças e funcionário um

passeio para uma “[...] granja em João Coelho E. de Ferro de Bragança, onde se divertirão

durante o dia todo.” (FOLHA DO NORTE, 1958.p.3). Mas esse festejo ainda continuou na

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própria instituição, onde foi realizada uma sessão comemorativa em que a diretoria convidou

autoridades, tais como: do comércio, da indústria e a diretoria sociedade espírita e

espiritualista e os “ [...] seus prezados associados e cooperadores, os simpatizantes da obra, os

espíritas e quantos desejem abrilhantar com as suas presenças e referidas solenidades,

antecipando agradecimentos” (FOLHA DO NORTE, 1958, p.3).

A comemoração do aniversário do “Lar de Maria”, de 1960, foi marcada pela

apresentação da Flor de Lys, retratada na Imagem 48, composta pelas meninas internas, o que

permite que se infira que estas tinham o ensinamento da música, especificamente, a

aprendizagem de instrumento musical.

Imagem 48 – Banda Flor de Lys no aniversário da Instituição “ Lar de Maria”.

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

A “Semana da Criança”, no mês de outubro, consistia em um evento, promovido pelo

Departamento Nacional da Criança, sendo realizada, anualmente, em todo o Brasil. A

Diretoria do “Lar de Maria”, salientava a importância dessa iniciativa, que visava

proporcionar as crianças um dia alegre e feliz, assim como contribuir para a formação dos

internos, ratificando, o caráter educativo e instrutivo desse tipo de acontecimento para o

estabelecimento. No caso especifico dessa comemoração objetivava:

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[...] beneficiar as crianças, através de palestras instrutivas e educativas sobre

a sua formação intelectual e físico, moral e cívica, para que cresçam

fortalecendo os seus corpos e suas almas com o aprendizado da moral cristã,

e ainda, a sua fé em Deus, para que possam ser boas e úteis à Pátria e à

Humanidade. (FOLHA DO NORTE, 1958, p. 12).

A partir desse texto, é possível perceber que as crianças eram instruídas e educadas com

base em três aspectos da educação espirita: a formação intelectual, físico e moral, destacando

o viés de formação útil a Deus, a Pátria e a Humanidade.

A Festa da Criança, no “Lar de Maria”, foi realizada no dia 11 de outubro de1958, às 9

horas. O cerimonial, as personalidades e as doações podem ser visualizados no Quadro 9 a

seguir:

Quadro 9 – Programação da Festa da Criança (1958).

PROGRAMAÇÃO DA FESTA DA CRIANÇA – 1958

1- Visita da Comissão dos Festejos e das Autoridades as várias dependências da

sociedade.

2- Canção espiritualista.

3- Prece.

4- Saudação às Autoridades, Comissão de Festejos e às pessoas presentes, pelo Diretor-

Secretário – Dr. Moysés Greidinger.

5- Palavra concedida a quem desejar fazer uso.

6- Entrega ao Presidente da Sociedade, pelo representante do Conselho Fraterno, do

produto de uma subscrição promovida entre os seus membros e os da Diretoria e

ainda de outros cooperadores, destinado à compra de um parque de diversões para as

crianças, que deverá ser inaugurada a 1° de Janeiro.

7- Distribuição de brinquedos às suas crianças internadas, ofertados pela União Espírita

Paraense, Confederação Espírita “Caminheiros do Bem”, Mocidade Espírita

“Assembleia de Jesus” e outros.

8- Distribuições de livros as crianças, ofertados pela Editora Nacional e Livraria Loiola.

9- Entrega à Diretora-Superintendente da Sociedade, das ofertas feitas pelos seguintes:

Produtos NÉSTLE, Fábrica PALMEIRA, Fábrica S. VINCENTE, Produto Maisena

DURYEA, Fábrica MAURITY, Lojas “SALEVY”, Firma A. MOURÃO & Cia.,

COCA-COLA, PEPSI-COLA, Guaraná VIGOR etc.

10- Fim do festejo será tocado números de músicas alegres.

11- Será servida uma mesa de doces e gelados às Autoridades, Comissão de Festejos,

Visitantes e crianças internadas. Fonte: Elaborado pela autora, com base no jornal Folha do Norte (1958, p.12).

Sobre a Festa das Crianças, do ano de 1960, encontrei registros que mostram pedidos

para a sociedade paraense, no sentido de possibilitar a realização desse evento. Verifiquei que,

para isso, foi solicitada uma diversidade de materiais para o cuidado e a educação dos

internos:

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[...] auxiliaremos as criancinhas do “Lar de Maria” contribuindo para o êxito

do seu festival de nossa cooperação em serviço, ou, com nossa ajuda

monetária, ou, ainda, em gênero alimentícios, tecidos para vestimentas e

roupas de cama e mesa, calçados, livros e material escolar, medicamentos e

material hospitalar e de toucador, brinquedos, enfim de tudo quanto lhe

possa ser útil. (FOLHA DO NORTE, 1960, p.15).

A partir desse fragmento são perceptíveis alguns elementos da cultura material escolar,

como: tecidos para vestimentas, roupas de cama e mesa, calçados, livros e material escolar,

toucador (uma espécie de cômoda com espelho) e brinquedos. Os objetos em sua

materialidade assumem lugar significativo na prática escolar e administrativa de uma escola.

Neste sentido, Castro (2011, l. 13) afirma que,

Cultura Material Escolar pode abranger uma série de elementos que

constituem o universo escolar, como os objetos de leitura e escrita (lápis,

caneta, livros, etc.), materiais de limpeza (panos, vassouras, tapetes, etc.),

mobiliários (cadeiras, carteiras, bancos, mesas, etc.), indumentárias

(fardamentos, chapéus, calçados, etc.) dentre outros, os quais podem ser

estudados sob perspectivas e ângulos teóricos e metodológicos diversos,

inclusive sob um enfoque mais regionalizado [...].

Para Souza (2007, p. 174), é estabelecida uma relação humana com o mundo material

escolar, logo, não é possível refletir sobre uma escola, “[...] seus saberes e práticas, deslocada

de sua dimensão material”.

A Festa da Criança era realizada, na maioria das vezes, no próprio prédio da instituição.

E as colaborações que o “Lar de Maria” ganhava eram sempre colocadas em exposição,

fazendo parte da ornamentação do grande salão nobre onde acontecia a festa, como é possível

notar nas Imagens 49, 50 e 51, a fim de apresentar os materiais angariados e ao mesmo tempo

servir de incentivo para futuras doações. É perceptível, pelas fotografias, que as

personalidades do corpo administrativo da instituição, os colaboradores e as internas posam

para serem fotografadas com os produtos arrecadados.

Page 140: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

139

Imagem 49 – Festa da Criança no ano de 1959.

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

Imagem 50 – Festa da Criança no ano de 1959.

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

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140

Imagem 51 – Festa da Criança no ano de 1959.

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

A Festa da Criança leva para o palco do teatro, apresentações artísticas feitas pelas

internas ou dirigentes da instituição, a seguir uma pequena programação realizada neste dia de

celebração a elas,

O esquete “LAR DE MARIA”, pelas meninas Yeda Uchôa e Eneida Nery

Números de acordeons pelas senhoritas Damária Couto e Irene Batista

Recitativo pelas meninas Alice S. de Vilhena e Cosma M. Lima

Numero (sic) de acordeons e canto pelas senhoritas Damária Couto e Eneida

Nery

Recitativos pelas meninas Maria B. Lima e Maria H. R. da Silva

Numero(sic) de acordean (sic) senhorita Irene N. Batista,

O esquete “Para que o homem nasceu”, pela senhorita Damária Couto,

Erelila Braga e Ercilia Ramos

Numero(sic) de declarações pela senhorita Nazaré Vasconcelos,

Numero (sic) de acordeons pelas senhoritas Irene N. Batista e Damária

Couto. (FOLHA DO NORTE, 1959, p. 3).

A Imagem 52 retrata a festa da criança. Nela há uma interna, falando aos convidados.

Há também uma criança do sexo masculino, provavelmente na faixa etária de 4 ou 5 anos,

observando a apresentação da interna ao falar.

Page 142: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

141

Imagem 52 – Festa da Criança no ano de 1959, interna recitando ou apresentando.

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”

A festa da “Semana da Criança” era tão importante evento que a diretoria da instituição

espírita “Lar de Maria” recebeu um oficio, da Delegacia Federal da Criança da 1º região

agradecendo à contribuição da realização dessa festa destinada as crianças, o oficio nos relata

que:

N° 786 – 30-10-59.

Pelo presente queremos testemunhar a V.S. a gratidão desta Delegacia pela

inestimável colaboração do Lar de Maria durante o festejo da Semana da

Criança de 1959. Satisfeitos nos confessamos em ressaltar o êxito alcançado

pelo bem elaborado programa dessa instituição que reflete o interesse dos

seus dirigentes pelo bem estar das mães e crianças paraenses, através de um

trabalho meritório digno dos aplausos de todos. Ao ensejo reiteramos os

nossos cumprimentos extensivos a todos os dirigentes e componentes dessa

Instituição renovamos os nosso protestos elevada estima e consideração (a)

Dr. Salomão Moysés Levy – Delegacia Federal da Criança da 1° Região.

(FOLHA DO NORTE, 1959, p.15).

As datas cívicas também eram bastante comemoradas, as crianças saiam às ruas

(Imagens 53 e 54) para desfilar celebrando o país. Esses momentos serviam para incutir

valores nacionalistas de respeito, valorização e amor à Pátria, com a finalidade de contribuir

para a formação de sujeitos ordeiros e civilizados.

As instituições educativas assumem a função da formação do caráter e de

desenvolvimento da virtude do sentimento patriótico. O caráter cívico era manifestado em

importantes datas do calendário nacional. Nesse sentido, o movimento cívico “[...] se dirigia a

um público interno à escola, constituído basicamente por alunos e famílias, estendendo-se ainda

Page 143: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

142

para fora dos muros escolares, de modo a atingir a sociedade como um todo” (SCHUELER;

MAGALDI, 2008, p.45).

Imagem 53 – Crianças do Lar de Maria organizadas para o desfile militar 7 de Setembro.

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

Imagem 54 – Crianças do Lar de Maria organizadas para o desfile militar 7 de Setembro-Bairro

São Brás.

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

Page 144: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

143

O século XX foi marcado pela difusão de princípios de amor à Pátria e de progresso do

país. Nesse contexto, os desfiles patrióticos como uma construção social festiva são

carregados de civismo. O desfile escolar representava a união coletiva em torno de um

símbolo, de uma data que reforçava a memória social de tempo ou de um fato histórico.

Nas palavras de Souza (1998, p. 259), “[...] estas festas tornaram-se momentos especiais

na vida das escolas e das cidades, momentos de integração e de consagração de valores – o

culto à pátria, à escola, à ordem social vigente, à moral e aos bons costumes”. Ainda para

mesma autora, o espírito cívico-patriótico deveria estar presente em todas as disciplinas e em

todas as atividades de uma escola.

Outro evento representativo, no “Lar de Maria”, era a “Semana Espírita”, na qual se

propagavam princípios da doutrina espírita para os funcionários e as crianças internas. A

imagem 53 mostra o fundador da instituição, o senhor Oliveiros de Assunção Castro, na

abertura de um evento deste tipo, que aconteceu no mês de novembro de 1960. Na imagem,

Oliveiros de Castro aparece tocando acordeom, enquanto era entoada a Canção da Alegria

Cristã, pelas internas e assistentes do estabelecimento.

Imagem 55 – Internas, Assistentes e Oliveiros de Castro cantando Canção da Alegria Cristã.

Fonte: Álbum de fotos da Instituição “Lar de Maria”.

Diante de todas as notícias jornalísticas e das fotografias, fiz a exposição das ações

educativas que eram transmitidas por intermédio das festas realizadas na Instituição Cristã

Espírita “Lar de Maria” para a infância pobre. Nessas imagens, são representados eventos que

Page 145: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

144

contribuíram para formação das crianças, visto que geralmente as festas representam saberes

educativos que ali perpassaram e permitiram a propagação dos preceitos espíritas tanto para o

público interno quanto o externo.

3.5 A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA LAR DE MARIA: atendimento aos mais

necessitados

O “Lar de Maria” não era só um abrigo de crianças desvalidas – órfãs – ou órfãs de pais

vivos, uma vez que estendia as suas ações para outros grupos sociais, que não

necessariamente tinham ligação direta com a instituição, mas que poderiam ter acesso à

reuniões espíritas, alimentação, cursos e serviço médico, como é possível verificar no Quadro

10, onde é apresentado o tipo de atividade, dia da semana, horário e objetivo.

Quadro 10 – Atividades à comunidade.

ATIVIDADES OFERECIDAS À COMUNIDADE

Reuniões públicas

(semanais)

Quartas-feiras – 20

horas.

Estudo da Moral Cristã, tendo

em vista o Evangelho do

Divino Mestre.

Reuniões doutrinárias

(semanais)

Quartas-feiras – 20

horas.

Destinada a formar o ambiente

espiritual necessário da referida

casa de amor e caridade.

Assistência espiritual Quartas-feiras - 20 horas Estudos das sublimes lições do

Evangelho de Jesus, sessão de

passes e sessões mediúnicas.

Serve toda semana uma

sopa

Sábado Fornecida a Sopa dos Pobres.

Ambulatório Sábado 14 às 16 horas.

Atendimento aos necessitados.

Aulas de prendas

gratuitas também as

jovens paraenses

Quintas-feiras à tarde Aulas de corte, costura,

bordados e arte culinária frios e

doces.

Assistência a lactentes ------------- Fornecimento de leite em pó,

do FISI.

Departamento para

tratamento de obsessões

--------------

Fonte: Elaborado pela autora, com base na Folha do Norte de 1957 e 1958.

As informações sobre as atividades desenvolvidas no “Lar de Maria”, no sentido de

tornarem-se conhecidas na comunidade para além da instituição, eram, geralmente,

divulgadas pela impressa, a exemplo da notícia a seguir, que veicula detalhes referentes às

reuniões destinadas ao estudo dos princípios da doutrina espírita:

Page 146: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

145

Reuniões – O Lar de Maria vai iniciar, a partir desta semana, reuniões

públicas semanais todas as quartas-feiras, às 20 horas, para o estudo da

Moral Cristã, tendo em vista o Evangelho do Divino Mestre, bem assim para

a realização de palestra e conferências, tendo em vista atrair à Sociedade um

maior número de cooperadores, a fim de poder ampliar o seu trabalho de

assistência aos necessitados, não somente à criancinhas como à velhice

desamparada. (FOLHA DO NORTE, 1957, p.9).

A educação espírita deveria proporcionar estudos em locais propícios como nas

reuniões espíritas. Para Damazio (1994), nessas reuniões ocorriam leituras das obras de

Kardec, estudo sistemático da física e da religião.

A Imagem 55 retrata uma dessas reuniões para o estudo da moral cristã, com base no

Evangelho segundo o Espiritismo. ´

E perceptível, nesta fotografia, que o público participante era variado, tendo homens,

mulheres, jovens e idosos que estavam recebendo informações pela ministrante do encontro,

posicionada à frente dos presentes e ao lado do quadro. Destaco, na imagem, o enunciado

transcrito na parede: “Fora da Caridade não há salvação”, premissa tão cara ao Espiritismo.

Imagem 56 – Reuniões públicas.

Fonte: Arquivo da Instituição “Lar de Maria”.

As reuniões eram, geralmente, realizadas no anfiteatro da instituição, todas as quartas-

feiras, às 20 horas. Nesse mesmo dia, ainda, tinha os trabalhos para a aplicação de “passes”,

sessões mediúnicas, nas quais se desenvolviam “[...] explanações sobre o Evangelho de Jesus,

tendo em vista que o principal objetivo da doutrina dos Espíritos é a reforma espiritual do

homem” (FOLHA DO NORTE, 1958, p.10).

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146

Fazia parte, também, das atividades oferecidas à comunidade ao entorno da instituição,

a assistência aos lactantes, crianças ainda em fase de amamentação, em que se fornecia leite

em pó de marca FISI (FOLHA DO NORTE, 1958, p.10). Há relatos, ainda, que indicam que

existia um departamento que se ocupava de cuidar de um albergue noturno “[...] com

capacidade para vinte e cinco homens e ainda, com departamento para tratamento de

obsessões, com salões e quartos adequados” (FOLHA DO NORTE, 1958, p.8).

As iniciativas realizadas pelo “Lar de Maria” compreendiam atividades de formação e

assistência para muitos segmentos da sociedade paraense, tendo como principais beneficiários

as pessoas das camadas mais pobres, que recebiam atendimento de forma gratuita, por isso, as

ações da instituição eram muito ressaltadas pelos seus representantes. Nas palavras de seu

presidente, o estabelecimento, ao desenvolver sua assistência social, estava cooperando

modestamente com o Governo em ‘prol’ dos mais necessitados. Por isso, seu presidente

clamava, comumente, na Coluna Espírita: “Leitor amigo: ajudai o “Lar de Maria” a

desenvolver a sua assistência social” (FOLHA DO NORTE, 1957, p.7).

Page 148: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

147

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No ano de 1848, o Espiritismo surgiu a partir do episódio de comunicação com

espíritos, nos Estados Unidos, realizada pelas Irmãs Fox: Margaret e Kate Fox. Elas

elaboraram uma nova técnica de comunicações com os espíritos, chamada de “mesas

volantes”. Por meio de impressos jornalísticos foram divulgadas notícias dessa comunicação

com espíritos, realizada por meio das “mesas volantes”, as notícias alcançaram toda a Europa

e o mundo no século XIX.

Em 1854, os relatos sobre as “mesas volantes” passou a chamar a atenção de estudiosos,

na França. Dentre esses estudiosos destaca-se Heppolyte Léon Denizard Rivail, conhecido

como Allan Kardec. Ele estudou o espiritismo e isto o que conduziu à publicação de vários

livros que apresentavam a síntese da doutrina espírita. Suas obras ficaram conhecidas pelo

mundo, constituindo-se a base da Doutrina Espírita, sendo que as suas publicações foram

fundamentais para a consolidação do espiritismo.

No Brasil, as notícias sobre a comunicação com espíritos começaram a ser divulgadas

entre os anos de 1853 e 1854, nos jornais do país, como: O Comércio, do Rio de Janeiro;

Diário de Pernambuco; e O Cearense. A circulação desses impressos despertou o interesse

das pessoas sobre o espiritismo.

Grandes defensores espíritas foram surgindo, como o Jornalista Luiz Olímpio Teles de

Menezes, considerado o iniciador espírita brasileiro; ele criou o primeiro jornal espírita

brasileiro, intitulado Ècho d’ Além-Tumulo, que tinha como objetivo expor ideias em defesa

da Doutrina Espírita. A criação de vários impressos e divulgação de noticias da doutrina

espírita contribuíram para a expansão do Espiritismo e implantação de diversos grupos e sedes

espíritas por todo o país.

O Espiritismo em Belém do Pará chegou por volta do ano de 1879. Em 12 de junho de

1879 foi criado o primeiro grupo espírita Luz e Caridade, tendo na direção Abel Augusto

Cézar de Araújo, José Sharr da Mota e Silva, José Joaquim da Silva e Manoel Gonçalves de

Silva, João M. Castelo Branco, Feliciano Ferreira Bentes, Antônio da Mata e Pedro

Damasceno d’ Alcântara Bentes.

Os pioneiros do grupo espírita Luz e Caridade tiveram um importante papel para a

divulgação do Espiritismo no Pará. Eles criaram, em 16 de março de 1890, o primeiro jornal

espírita da região Norte O Regenerador, sendo que essa realização e outras ações motivaram o

surgimento de inúmeros núcleos espíritas no Pará.

Diversas obras, realizadas por esses adeptos do Espiritismo, contribuíram para fincar os

princípios dessa doutrina em Belém. Dentre as ações e obras relevantes estão: órgão de

Page 149: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

148

divulgação, como os jornais: A Revelação (1906), Alma e Coração (1910), Pará Espírita

(1959); as revistas Verdade e Fé (1906), Espírita (1912) e o periódico A Verdade (1917).

Além disso, foram criados Escolas, Instituto de assistência à Infância, tais como: Escolas

Allan Kardec e Amélia de Menezes (1907) que eram Escolas Primárias para crianças carentes.

A Escola Mont’Alverne (1912), destinada a crianças necessitadas; o Instituto de Assistência à

Infância, criada por Elmira Ribeiro Lima; Escola de Médiuns (1915) e a Escola Infantil

(1926) que era gratuita para criança e ficava na sede do grupo espírita Caminheiros do Bem.

Entre as outras ações estão: a biblioteca espírita, o dispensário homeopático e a farmácia.

A ênfase da “Caridade” como um dos princípios, estudado e praticado pelos espíritas,

motiva várias construções de instituições para cuidar de pessoas necessitadas, como:

orfanatos, abrigos e escolas. Em Belém do Pará foi fundada, no dia 15 de agosto de 1947, a

Instituição Cristã Espírita “Lar de Maria” por direção dos espíritas, pertencentes ao grupo

Amor e Verdade, tendo como líder Oliveiros de Assunção Castro. Essa instituição surgiu com

objetivo de assistir e amparar idosos e crianças órfãs e abandonadas, mas abrigou somente as

crianças em sistema de internato.

Para a construção da instituição foram realizadas inúmeras campanhas, por vários

grupos espíritas de Belém e pessoas de diferentes seguimentos sociais, para obter recursos

financeiros para a edificação do prédio, entre essas campanhas estão: “Campanha do Quilo”,

festivais teatrais, quermesse, oficinas de trabalhos manuais, ser sócios-contribuintes e outros.

As obras para a construção do prédio da instituição “Lar de Maria” iniciaram 15 de

novembro de 1947 e levou dez anos para ser edificado. Foi inaugurado no dia 24 de fevereiro

de 1957, sendo que, enfim, pode iniciar os seus trabalhos no cuidado e educação àqueles que

mais precisavam.

O órfão, para a Instituição “Lar de Maria”, é entendido como um ser que se assemelha a

imagem de Jesus. E que as pessoas deveriam sempre a ajudá-lo, pois ao praticar a bondade a

eles, estariam fazendo a Jesus e também praticando o princípio da caridade. Além disso, o

“Lar de Maria” evidencia a existência de várias infâncias e velhice e que essas duas fases da

vida necessitam de respeito. Na representação de infância para essa instituição, a criança

pobre era vista como o futuro da nação e que precisaria receber investimento, para tornando-

se um sujeito útil e civilizado para a vida em sociedade.

A infância na instituição “Lar de Maria” é também entendida, como a primeira e mais

importante fase da vida do ser humano, o indicador de sua existência, o período sutil que

progride e que representa uma transformação interior, pois é na infância que o espírito é mais

acessível de intervenção pelo processo educativo.

Page 150: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

149

A instituição “Lar de Maria” era considerada por Oliveiros de Assunção Castro como

um “grandioso templo”, por apresentar uma arquitetura de elegância mesmo distante do

centro urbano. Os espaços físicos da instituição atuavam com um discurso que estabelece em

sua concretude valores e um conjunto de aprendizagem que abrange: o estético, as culturas e a

ideologia. Dentre os espaços educativos que fizeram parte da instituição estão: os dormitórios,

os berçários, a escola, o teatro, o refeitório, o ambulatório médico e dentário, o parque de

diversão, entre outros.

O “Lar de Maria” tinha uma estrutura administrativa que primava pelo controle e

fiscalização. O poder estava centrado na figura do presidente que controlava todas as

atividades desenvolvidas no Lar de Maria. Era uma gestão pautada na racionalização do

trabalho com a finalidade de manter a eficiência dos serviços. Além disso, estabeleceu-se na

instituição uma comunicação linear, ocasionando uma relação que estava mais preocupada

com a execução de tarefas.

No âmbito do critério para admissão de crianças, constatei que a condição para ingressar

neste “lar” era que as requerentes fossem comprovadamente miseráveis, poderiam também ser

órfãs ou não, desde que pobres. O limite máximo de idade para ingressar era sete anos, mas o

órgão responsável por internamento de crianças aprovou pareceres de crianças maiores que

sete. Além disso, os pais interessados no internamento de suas crianças deveriam registrá-las

na instituição que posteriormente a “Comissão de Sindicância”, responsável por esse processo

de internamento iria realizar visitas no lar dessas crianças com o intuito de verificar se estas

viviam em condição de pobreza, caso isso fosse comprovado, a comissão daria parecer

favorável para o internamento. Nesses casos de internação havia a necessidade de apresentar a

ficha de registro da criança, a certidão, o atestado de saúde e o de vacina.

Notícia, veiculadas no jornal Folha do Norte, retratavam o ambiente de pobreza em que

as crianças viviam. Esse ambiente se constituía como critério para o internamento das

crianças na instituição. Elas moravam em pequenas barracas, cujas paredes eram de papelão,

situadas em bairros carentes de Belém. Muitas crianças eram oriundas de famílias numerosas,

filhas de mães solteiras, órfãs ou abandonadas, sobrevivendo de esmolas que seus pais ou

responsáveis adquiriam nas ruas.

Destaco, ainda, outro critério para a internação no que se refere à saúde. As crianças

consideradas saudáveis eram aceitas para a internação, mas caso estivessem com a saúde

comprometida, elas receberiam cuidados do médico da instituição “Lar de Maria”.

Constatei que a instituição foi criada para atender meninas, mas ao verificar as fontes

para esta pesquisa, verifiquei a presença de meninos nas fotografias e nas notícias dos jornais.

Page 151: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

150

Acredito que a “Comissão de Sindicância”, ao fazer atendimento nas residências das crianças,

esse grupo se sensibilizava pela situação de miséria em que viviam e abrigava também os

meninos e, assim, não havia a separação entre irmãos.

Além de abrigo, cuidados e alimentação, as crianças recebiam também instrução e

educação. A educação, oferecida no “Lar de Maria”, tinha por finalidade o aperfeiçoamento

moral e espiritual das crianças. Elas deveriam honrar e respeitar a Deus, a pátria e a família.

Além disso, uma educação que compreende a bondade, o senso de justiça e o cultivo da

verdade e também que visava à liberdade, com intuito de fazer o sujeito ampliar as suas ideias

acerca do sentido e do significado da vida.

Os ensinamentos, presente na instituição cristã Espírita “Lar de Maria”, visavam à

formação moral, intelectual, físico, espiritual e profissional, voltado à formação doméstica.

Com o estudo e a meditação sobre a vida e os ensinos de Jesus. Com a transmissão de uma

educação doméstica que habilitava para o exercício de uma profissão que preparava meninas

para o gosto pelo trabalho, essas aprendiam um ofício, pautado no ensino de corte e costura,

bordado, arte culinária de doces e frios.

As crianças que concluíssem o Curso Primário no “Lar de Maria” e tivessem o interesse

em ingressar no Curso Secundário, Superiores ou Técnico, a instituição fazia o possível para

que elas dessem continuidade a seus estudos.

No “Lar de Maria”, os princípios da doutrina espírita que serviram de base para a

educação das crianças eram: a caridade, o amor, o respeito, a liberdade, o amor a Pátria e o

progresso do País. Educar as crianças, nesses princípios, estaria contribuindo para formar um

sujeito preocupado com o próximo e praticando a maior virtude: a caridade. Além disso, ao

oferecer as crianças esses princípios, o “Lar de Maria” buscava formar futuros seguidores do

Espiritismo.

As festas como atividades educativas marcavam o cotidiano da Instituição “Lar de

Maria”. Elas contribuíram para a propagação dos preceitos espíritas tanto para o público do

estabelecimento quanto para as pessoas externas. As festas do natal, do aniversário da

instituição, da criança e do 7 de Setembro eram momentos de confraternização e de formação

intelectual, moral, física e religiosa. Por ocasião de um dos aniversários do “Lar de Maria”,

teve apresentação da banda Flor de Lys, composta por meninas internas da instituição, elas

tocavam instrumento musical de sopro, especificamente a flauta. Isso permite que se infira

que esse lar oferecia o ensinamento da música, cuja aprendizagem de instrumento musical era

a flauta.

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151

Vale frisar que a Instituição Cristã Espírita “Lar de Maria” desempenhou um papel

social relevante aos mais necessitados, para além dos muros, proporcionando serviços, como:

a sopa aos pobres, o atendimento no ambulatório médico, as aulas de prendas gratuitas as

jovens, a assistência a lactentes, o albergue noturno para homens e serviços na área do

espiritismo, tais como: o tratamento de obsessões, as reuniões públicas, as reuniões

doutrinárias e a assistência espiritual.

Acrescento que a presente pesquisa aponta que muito se tem a pesquisar sobre a

instituição Cristã Espírita “Lar de Maria”. Portanto, faz-se necessário ouvir as pessoas que

trabalharam ou estudaram nesse lar? Saber qual era o destino das crianças, após o

desligamento da instituição? Quem eram os professores que ensinavam as internas? Como

ocorria a relação entre os órfãos e os diretores da instituição? Como os meninos eram

inseridos nesse contexto, visto que a instituição era pensada para meninas?

Acredito que essas perguntas possam servir de mote para novas pesquisas, por isso,

desejo que este trabalho estimule novos pesquisadores na busca de desvelar essa realidade da

criança pobre e desvalida espírita no Pará.

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FONTES CONSULTADAS

Álbum de fotografia da Instituição “Lar de Maria”

Oliveiro de Assunção Castro.

Casa de Paulo de Tarso – Maranhão.

Parte do cartão comemorativo de fundação.

Terreno doado pela prefeitura ao lado do Mercado de São Brás.

Planta da Instituição “Lar de Maria”.

Pedra Fundamental para a Construção do “Lar de Maria”.

O engenheiro e arquiteto Judah Levi, trabalhadores da obra.

Edificação do “Lar de Maria”.

Campanha do Quilo nas ruas.

Campanha do Quilo e seus Legionários.

Distribuição da Sopa aos Pobres.

Construção dos primeiros alicerces da Instituição “Lar de Maria”.

Parte Central da Instituição “Lar de Maria”, em fase de acabamento.

Prédio do “Lar de Maria” totalmente construído.

Instituição “Lar de Maria” – 1957.

Distribuição do espaço físico da instituição “Lar de Maria”.

Berçário.

Salão Central da Escola.

Teatro.

Interna tocando Piano.

Refeitório.

Dia da inauguração da Instituição Cristã Espírita “Lar de Maria”.

Senhor Otávio Beltrão.

Coquetel servido na inauguração da instituição “Lar de Maria”.

Salomão Levy delegado da Federal da Criança, Oswaldo Pacheco Dillon.

Crianças no Berçário do “ Lar de Maria”.

Instituição Cristã Espírita “Lar de Maria” com crianças posando na frente.

Lateral da Instituição “Lar de Maria”.

Três irmãs: Lúcia, Maria Augusta e Iolanda.

As duas irmãs Raimunda e Meriete.

Page 154: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

153

Órfã recém-chegada à instituição.

Aniversário da Instituição “Lar de Maria” – 1958.

Aniversário da Instituição “Lar de Maria” – 1958.

Aniversário da Instituição “Lar de Maria” – 1958.

Aniversário da Instituição “Lar de Maria” – 1958.

Banda Flor de Lys no aniversário da Instituição “Lar de Maria”.

Festa da Criança no de 1959 com representante.

Festa da Criança no de 1959 com representante 2.

Festa da Criança no de 1959 com representante e crianças.

Festa da Criança no de 1959, uma interna recitando ou apresentando.

Crianças do Lar de Maria, organizadas para o desfile militar 7 de setembro (foto 1).

Crianças do Lar de Maria, organizadas para o desfile militar 7 de setembro-Bairro São

Brás (foto 2).

Internas, Assistentes e Oliveiros de Castro cantando Canção da alegria Cristã.

Reuniões públicas.

Documento

Estatuto da Instituição “Lar de Maria” – 1947.

Jornais

Folha do Norte: A imagem viva de Jesus – 31.07.1947, p.2.

Folha do Norte: Lar de Maria – 28.05.1947, p.2.

Folha do Norte: Coluna Espírita – 15.08.1947, p.2.

Folha do Norte: Coluna Espirita – 20.08.1947, p.2.

Folha do Norte: Coluna Espírita – 16.09.1947, p.2.

Folha do Norte: Religiões e Crenças – 09.10.1947, p.2.

Folha do Norte: Religiões e Crenças – 15.10.1947, p.2.

Folha do Norte: Religiões e Crenças – 24.10.1947, p.2.

Folha do Norte: Religiões e Crenças: Coluna Espírita – 04.11.1947, p.3.

Folha do Norte: Religiões e Crenças – 13.11.1947, p.3.

Folha do Norte: Uma velinha e o Lar de Maria – 21.11.1947, p.4.

Folha do Norte: Religiões e Crenças: Alegria de Viver – 28.11.1947. p.3.

Page 155: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

154

Folha do Norte: Religiões e Crenças: Coluna Espírita – 29.11.1947, p.3.

Folha do Norte: Deixai que venham a mim, os pequeninos. Quem receber um deste em meu

nome, a mim mesmo o recebe: Educação de Crianças – 04.12.1947, p.3.

Folha do Norte: Religiões e Crenças: Coluna Espirita – 06.12.1947, p.3.

Folha do Norte: Religiões e Crenças – 23.12.1947, p.3.

Folha do Norte: Fundamental, Dia primeiro de Janeiro – 27.12.1947, p.8.

Folha do Norte: Religiões e Crenças – 23.12.47, p.3.

Folha do Norte: Religiões e Crenças – 08.04.1954, p.2.

Folha do Norte: Voz Espírita – 13.05.1955, p.3.

Folha do Norte: Espiritismo em Macha – 29.06.1956, p.8.

Folha do Norte: O Lar de Maria Um Sonho que se realidade – 13.01.1957, p.6.

Folha do Norte: Espiritismo em Macha – 24.01.1957, p 6.

Folha do Norte: Religiões e Crenças – 22.02.1957, p.2.

Folha do Norte: Inaugura-se, hoje, o Lar de Maria: A solenidade – Finalidade, e histórico da

benemérita instituição – 24.02.1957, p.9.

Folha do Norte: Inaugurado, domingo último, o “Lar de Maria” – 26.02.1957, p.6.

Folha do Norte: Espiritismo em Macha: Se você ajudar – 28.03.1957, p.8.

Folha do Norte: A caridade “A cada um, será dado sua obras” – 17.04.1957, p.5.

Folha do Norte: Do meu Cantinho – 05.05.1957, p.3.

Folha do Norte: Lar de Maria: Obra Social – A Fé sem obra não edifica – 18.05.1957, p.7.

Folha do Norte: Lar de Maria – Os Órfãos – 02.06.1957, p. 2.

Folha do Norte: Lar de Maria – O único remédio infantil: Servir a Jesus –15.06.1957, p.8.

Folha do Norte: Lar de Maria: A criança e o futuro – 07.07.1957, p.19.

Folha do Norte: 10° Aniversário do “Lar de Maria”: Comemorações da data – 15.08.1957,

p.2.

Folha do Norte: Lar de Maria: Convite: 15.08.1957, p.2.

Folha do Norte: Do meu Continho – 21.08.1957, p.2.

Folha do Norte: Lar de Maria – As Crianças e o Natal – 13.11.1957, p.2.

Folha do Norte: Lar de Maria – Influências dos espíritos nos acontecimentos da vida –

17.12.1957, p.8.

Folha do Norte: Agradece as “Folhas” o Lar de Maria – 29.12.1957, p.6.

Folha do Norte: Lar de Maria: Cuida o corpo e do espírito – 23.04.1958, p.6.

Folha do Norte: Lar de Maria – Maio! Mês de Maria! – 01.06.1958, p.13.

Folha do Norte: Lar de Maria – 09.06.1958, p.22.

Page 156: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

155

Folha do Norte: Lar de Maria: Deus Castiga? – 20.06.1958, p.5.

Folha do Norte: Lar de Maria – Aos cooperadores – Ajudemos irmãos – 26.06.1958, p.10.

Folha do Norte: Lar de Maria – Aos cooperadores – Ajudemos irmãos – 29.06.1958, p.10.

Folha do Norte: Lar de Maria – Relato de uma manifestação espírita – 30.07.1958, p.6.

Folha do Norte: Lar de Maria – Prossigamos – 15.08.1958, p.3.

Folha do Norte: Lar de Maria – Retrato de uma manifestação Espírita – 03.08.1958, p. 8.

Folha do Norte: Aos médiuns esclarecimentos e conselhos – 18.09.1958, p.6.

Folha do Norte: Lar de Maria – Aos médiuns esclarecimentos e conselhos – 30.09.1958, p.11.

Folha do Norte: Festa da Criança no Lar de Maria – 07.10.1958, p.12.

Folha do Norte: Do meu Cantinho – 26.06.1959, p.11.

Folha do Norte: Do Lar de Maria: Festa da criança – 15.08.1959, p.3.

Folha do Norte: Lar de Maria: Sejamos Caridosos –16.08.1959, p.18.

Folha do Norte: O Lar de Maria é sem dúvida, um oásis de esperança em pleno deserto

assistencial do Brasil – 18.08.1959, p.18.

Folha do Norte: Lar de Maria: Templo de Caridade – 30.08.1959, p.18.

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ANEXOS

Page 165: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

164

ANEXO A – Estatuto do Lar de Maria

ESTATUTOS

DO

“LAR DE MARIA”

CAPITOLO I

Da denominação, séde e fins da sociedade

Art. 1º - O “LAR DE MARIA”, fundado aos 15 de agosto de 1947, sob os auspícios

dos Espíritas do Pará, em homenagem á Maria de Nazaré, na cidade de Belém, Estado do

Pará, é uma sociedade civil e beneficente, com personalidade jurídica e séde provisória á Av.

Oswaldo cruz nº 319, e, séde própria no edifício que está construindo á Praça Floriano

Peixoto, s/n, e que tem por objetivos e fins:

a) por ser obra de aproximação, experimentação e ação, reunir sempre em torno do

deu programa de bem-fazer, todos quantos desejem se aproximar, por amor ao

cristo, para praticar do bem, e, ser experimentados na virtudes que distinguem os

cristãos modernos, e agir a benefício dos mais infelizes, sem distinção de credo,

nacionalidade e côr;

b) amparar a infância desvalida e a velhice desamparada;

c) manter escolas, oficinas e tudo o mais que fôr necessário á execução de seu

programa.

CAPITOLO II

DE sua Administração

Art. 2º - O “LAR DE MARIA” será administrado por uma Diretoria composta de

onze (11) diretores, com três (3) suplentes, e, por um conselho Fraterno composto por vinte

(20) conselheiros, com dez (10) suplentes aquela eleita bienalmente e êste trienalmente.

§ 1º - São considerados conselheiros honorários todos os ex-presidente do “Lar

de Maria”, com direito a tomarem parte em quaisquer trabalhos e decisões do

conselho, em paridade com os conselheiros regulares.

§ 2º - A Diretoria será eleita pelo conselho fraterno em data de 5 de agosto e

empossada a 15 do mesmo mês, por ocasião da festa de comemoração da data do

aniversário da sociedade; e, o conselho Fraterno, será eleito pela Assembléa Geral,

Page 166: A INSTITUIÇÃO CRISTÃ ESPÍRITA “LAR DE MARIA”: UM TEMPLO …

165

em data de 1 de setembro e empossado solenemente a 7 do mesmo mês, em

homenagem a data da independência do Brasil.

§ 3º - E verdade a acumulação de cargo.

CAPITULO III

Da Diretoria

Art. 3º - A Diretoria do “LAR DE MAIRA” será composta de Presidente, vice-

Presidente, Secretario, 2º Secretario, Tezoureiro geral, 1º Tezoureiro, 2° Tezoureiro, Diretor

Administrador, Diretor de Financias, Diretor da “Campanha do Quilo” e uma superintendente

e três (3) suplente.

§ Único – Os Diretores não perceberão qualquer, remuneração.

Art. 4º - A Diretoria complete:

§ 1º - Administrar zelosamente a instituição e envidar todos os esforços no sentido de

garantir o seu maior prestígio e desenvolvimento,

§ 2º - Reunir-se pelo menos, uma vez por mês, para tratar dos assuntos de

interesse da sociedade:

§ 3º - Nomear Sub- diretores - colaboradores necessários ao desempenhos dos

serviços nos vários departamentos e destitui-los dessas funções quando seja

conveniente aos serviços;

§ 4º - Autorizar a admissão de empregados, estabelecendo o quantum das suas

remunerações, tomando em consideração os orçamentos apresentados ao conselho

fraterno e aprovados;

§ 5º - Elaborar regimentos internos que forem necessários á orientação,

administração e execução dos serviços de vários departamentos;

§ 6º - Deliberar sobre as intenções das crianças e velhos desemparados, quando

enquadradas na proposta e orçamento aprovados previamente pelo concelho Fraterno;

§ 7º - Revolver casos urgentes não previstos neste Estatuto quando não haja

tempo para convocação previa do Conselho Fraterno, devendo entretanto, convocá-lo

em seguida para participar-lhe o ocorrido e solicitar a sua aprovação;

§ 8º - Presta contas de sua gestão ao Concelho Fraterno até 5 de agosto de cada

âno;

§ 9º - Tomar parte nas reuniões do Concelho Fraterno, apresentar sugestões e

discutir os assuntos, sendo-lhes vedado, entretanto, o direito de voto, Os Diretores não

deverão tomar parte, entretanto, na reunião para eleição de Diretoria, estabelecida no §

2ª do Art. 2º;

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166

§ 10º - Todos os Diretores têm direito de intervir na resolução e de voto; e, os

suplentes, somente quando em exercício;

§ 11º - Sempre que qualquer diretor não esteja desempenhando as suas funções

com eficiência, zêlo e dedicação, cabe á Diretoria observa-lo em particular; e, se a sua

atuação continuar a não corresponde á expectativa compete-lhe solicitar ao Concelho

Fraterno a cassação do seu mandato, justificando o pedido.

CAPITOLO IV

Das funções de cada Diretor

Art. 5º - Ao presidente compete:

§ 1º - Superintender todos os serviços do “LAR DE MARIA”;

§ 2º - Cumprir e fazer cumprir os presentes estatutos;

§ 3º - Presidir ás reuniões da Diretoria;

§ 4º - convocar, ordinariamente, Concelho Fraterno e a Assembleia Geral, nas datas

estabelecidas neste Estatutos; e extraordinariamente, nos casos previstos nestes

Estatutos e sempre que preciso, justificardo-os motivos;

§ 5º - Apresentar anualmente do Conselho Fraterno, o relatório de sua gestão e da

Diretoria;

§ 6º - Nomear, se forem precisas, comissões ou representações para desempenho de

função ou atividades de interesse da sociedade;

§ 7º - Lavrar temos de abertura nos livros da sociedade, rubrica-los, bem assim todos

os documentos de “caixa”. Assinar os papeis, diplomas, cadernetas e todas a

correspondências passível de sua assinatura;

§ 8º - Solucionar casos urgentes que dependam da Diretoria e do Conselho Fraterno,

justificando porém, a uma e ao outro, o motivo de seus atos;

§ 9º - Representar o “LAR DE MARIA” em reuniões ou comemorações, podendo para

o fim, delegar poderes a pessôa de sua confiança que não seja alheia á Diretoria ou ao

“LAR DE MARIA”, para representa-lo;

§ 10º - Representar o “LAR DE MAIRIA” em juízo, podendo para isso, passar

procuração a Advogado de sua confiança;

§ 11º - Assinar os cheques bancários, juntamente com o tesoureiro geral, para as

retiradas;

§ 12º - visar as contas pagar e receber subvenções ou quaisquer importâncias

destinadas ao “LAR DE MARIA”;

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167

§ 13º - Promover, finalmente, prestigiar o desenvolvimento da sociedade, por todos os

meios possíveis;

§ 14º - Contratar contador idôneo e acreditado para fazer a escrita da sociedade,

procurando fazê-lo sem encargo, sempre que possível.

Art. 6º - Ao Vice-presidente compete:

§ 1º - Cooperar conjuntamente com o presidente na superintendência de todos os

serviços do “LAR DE MARIA” e desempenho os trabalhos que forem combinados

com o mesmo;

§ 2º - Substituir o presidente nos seus impedimentos, ausências, ou renuncia do cargo.

Art. 7º - Ao Secretário compete:

§ 1º - A organização e distribuição dos serviços de Secretaria, procurando sempre tê-

los em ordem e atualizados;

§ 2º - Submeter a despacho do Presidente todo o expediente e redigir e responder a

correspondência, com o auxílio do 2ª Secretário;

§ 3º - Redigir com clareza e fidelidade as átas das sessões da Diretoria, assinando-as

com o Presidente e demais Diretoria que desejarem fazê-lo;

§ 4º - substituir o Vice-Presidente nos seus impedimentos e ausências e sempre que

êste assuma a Presidência.

Art. 8º - Ao Segundo Secretario compete:

§ 1º - Redigir ou responder a correspondência que lhe fôr indicado pelo Secretário;

§ 2º - Dirigir o serviço do Arquivo e da Biblioteca;

§ 3º - Substituir o Secretário nos seus impedimentos e ausências e sempre que êste

assuma a Vice-presidência.

Art. 9º - Ao Tesoureiro Geral compete:

§ 1º - Arrecadar a receita e suprir as despesas, trazendo tudo escriturado tecnicamente,

com clareza em dia no livro “Caixa”;

§ 2ª – Pagar as contas visadas pelo Presidente;

§ 3ª – Arrecadar, por meio de guias as importâncias entregues pelos 1º e 2º

Tesoureiros, Proveniente respectivamente, de cobranças de mensalidades, produto da

“campanha do quilo” e de outras que forem organizadas, devendo controlar os serviços a

cargo desses Diretores;

§ 4º - Depositar em estabelecimentos bancários indicados pela Diretoria os saldos

disponíveis, procurando nunca manter em “caixa”, quando desnecessários, saldo superiores a

Cr$- 2.000,00;

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168

§ 5ª – Assinar com o Presidente os cheques para a retirada de numerário dos bancos;

§ 6º - Nomear cobrador ou cobradores de sua confiança para proceder á cobrança das

mensalidades, exigindo dos mesmos as garantias ou fianças que julgar conveniente.

Art. 10º - Ao 1º Tesoureiro compete:

§ 1ª – Controlar o Registro de sócios e de Recibos de mensalidades e fiscalizar o

serviço de anotações dos pagamentos;

§ 2º - Conferir e assinar os recibos de mensalidade e entrega-los, mediante guia, á

secretaria e ao cobrador para cobrança;

§ 3º - Arrecada semanalmente o valor das cobranças efetuadas na secretaria ou pelo

cobrador ou cobradores e conferir os recibos não cobradas pelo menos duas vezes por mês,

com espaço de 15 dias;

§ 4ª – Entregar os produtos das cobranças ao Tesoureiro Geral por meio de guias em

duas vias, uma das quais lhe será devolvida com o necessário recibo para o seu arquivo;

§ 5º - Substituir o tesoureiro Geral nos seus impedimentos ou ausências, ou, no caso de

sua renúncia.

Art. 11º - Ao 2º Tesoureiro compete:

§ 1º - Conferir com o respectivo Diretor os produtos da “campanha do Quilo” e de

outras campanhas, entregando-os por meio de guias em duplicata ao Tesoureiro Geral, uma

das quais lhe será devolvida para o seu arquivo;

§2º - Substituir o 1º Tesoureiro nos seus impedimentos ou ausências e sempre que êste

assuma o cargo de Tesoureiro Geral.

Art. 12º - Ao Diretor Administrador compete:

§ 1º - A administração das obras enquanto não estiver concluída a sede em construção;

§ 2º - A administração de quaisquer concertos ou obras suplementares que seja

autorizadas;

§ 3º - Zelar pela conservação do prédio e dependência, móveis, utensílios, aparelhos

dos gabinetes médicos, etc., veículos de transporte enfim, por todos os bens da sociedade,

promovendo o que fôr necessário para esse fim;

§ 4º - Dirigir e fiscalizar o serviço de compra de mantimentos para a dispensa, copa,

cosinha, lavandaria, farmácia, laboratórios e quaisquer outros departamentos da Sociedade.

§ 5º - Apresentar mensalmente um orçamento das despensas a efetuar no mês indicado

para discussão e aprovação em reunião da Diretoria.

Art. 13º - Ao Diretor de Finanças compete:

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§ 1º - Elaborar os planos de festivais ou quermesses a realizar durante o ano, com o

intuito de conseguir auxílio para a instituição, apresentando-os á Diretoria para estudo e

aprovação;

§ 2º – Organizar e chefiar as comissões para angariar auxilio para a sociedade em

listas de subscrições;

§ 3º - Organizar, periodicamente relações de pessoas físicas ou jurídicas de

reconhecida idoneidade par feito de remessas de listas para aquisição e donativos em favor da

Sociedade;

§ 4º - Tomar as providências que se tornarem necessária junto aos poderes

constituídos, municipais, estaduais e federais e representantes do povo nas Câmaras

Municipais, Estaduais e Federais, bem como no Senado Federal, no sentido de conseguir

ajudas ou subvenções;

5º - Agir por todas as formas possíveis no sentido de conseguir auxílio para a

Sociedade.

Art. 14º - Ao Diretor da “Campanha do Quilo” compete:

§ 1º - Superintendente os trabalhos da “Companha do Quilo” e de outras que forem

organizadas e controlar a arrecadação e recolhimento do numerário, dos gêneros e objetivos

angariados pelos legionários dos vários setores;

§ 2º - Fiscalizar o respectivo serviço da escrituração e estatística, por forma a que o

mesmo esteja sempre em ordem e em dia;

§ 3º - Elabora e apresentar á Diretoria, para estudo e aprovação, planos que visem a

estabilidade do quadro de legionários e o engrandecimento da “Campanha do Quilo” e de

outras campanha, bem assim para passeios e campanhas em localidades do interior e de

festividades com o objetivo de animar os legionários;

§ 4º - Propor á Presidência comissões composta de associados capazes para ajudar o

serviço de contagem do dinheiro arrecadado nas campanhas e seu empacotamento.

Art. 15º - Aos suplentes compete:

§ 1º - Assumir os cargos vagas na Diretoria, de acôrdo com a convocação feita pela

Diretoria;

§ 2º - Poderão também entrar no exercício de outras funções de direção determinadas

pela Diretoria, devendo nesse caso, tomar parte nas reuniões da Diretoria, tendo então direito

de intervir nas resoluções e de voto.

Art. 16º - Á superintendente compete:

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§ 1º - Superintendente todos os serviços interno, cumprir e fazer cumprir os presentes

Estatutos e os regulamentos e instruções emanados da presidência e da Diretoria;

§ 2º - Êste cargo, entretanto somente será preenchido, por eleições, quando o “LAR

DE MARIA” já estiver desempenhado sua finalidade.

CAPITULO V

Do Concelho Fraterno

Art. 17º - Ao Concelho Fraterno compete:

§ 1º - Reunir-se dentro de três (3) dias, a contar de sua posse, para eleger a sua Mesa,

que será assim constituída: Presidente, Secretario e 2º secretario; e, eleger também, dentre os

seus membros e na mesma ocasião, Comissão de contas, que será assim constituida:

Presidente, Secretario e 2º Secretario;

§ 2º - Eleger a Diretoria e aprovar as suas contas de acôrdo com o estabelecido no § 2º

do Art. 2º e § 8 do Art. 4º;

§ 3º - Tomar conhecimento do critério apresentado pelo presidente de acordo com o

estabelecido no § 5º do art. 5º e deliberar sobre as propostas que no mesmo forem

apresentados

§ 4º - Reunir-se, sempre que convocado pelo Presidente, de acôrdo com o estabelecido

no § 4º do Art. 5º, para tomar conhecimento dos assuntos e propostas presentadas pela

presidência ou pela Diretoria, podendo deliberar sobre os mesmo, ou, se julgar preferível,

considerando a importância do assunto, determinar a convocação da Assembléa Geral, para

resolvê-lo;

§ 5º - O Concelho Fraterno só pode deliberar legalmente com a presença de metade e

mais um de seus conselheiros;

§ 6º - No caso da Diretoria não se conforma com a desaprovação pelo Conselho

Fraterno de quaisquer proposta que lhe sejam apresentadas e que julgue de real interesse á

Sociedade, poderá recorrer para a Assembléa Geral, que será convocada de acôrdo com o

estabelecido no § 4º do Art. 5º;

§ 7º - Reunir-se, extraordinariamente, sempre que a maioria dos seus componentes,

desejando tratar de assuntos de real interesse para a sociedade, encaminhe pedido escrito ao

Presidente da Mesa, que deverá proceder a convocação para reunião dentro de dez dias,

mediante convite escrito aos Conselhos, extensivo a todos os membros da Diretoria. Se a

Diretoria discordar das resoluções tomadas nessa reunião pelo Conselho da Fraterno, poderá

recorrer para a Assembléa Geral, de acôrdo com o estabelecido no § 4º do Art. 5º, que

resolverá soberanamente o assunto;

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171

§ 8º - Convocar a Assembléa Geral por intermédio do seu Presidente, sempre que

deliberado por quatro quintos (4/5) dos seus componentes para a resolução soberana de suas

instruções, que a Diretoria se nega a cumprir;

§ 9º - Compete ao Conselho Fraterno cassar o mandato de qualquer Diretor no caso no

caso de ser solicitado e julgador razoáveis e concludentes as razões expostas pela Diretor, de

acôrdo com o estabelecidos no § 11º do Art. 4º. E concedido ao Diretor visado, entretanto, o

direito de recurso para a Assembléa Geral, mediante requerimento endereçado á Presidência.

§ 10º - Perderão direito aos cargos que ocupam os conselheiros que faltarem cinco

reuniões consecutivas sem justificarem por escrito o motivo da faltas.

§ 11º - As vagas que se derem na Mesa do Conselho e na comissão de contas serão

preenchidas por eleição.

§ 12º - Ao Presidente do Conselho Fraterno compete:

a) – Presidir as suas reuniões;

b) – cumprir e fazer cumprir o estabelecido nos presentes estatutos, dentro das

atribuições que lhe forem conferidas;

c) – Determinar a convocação de Suplentes as vagas que se derem no Conselho.

§ 13º - Nas ausências do Presidente o Conselho aclamará um dos conselheiros

presentes para presidir as reuniões, desde que não faça parte da Mesa.

§ 14º - Ao secretário compete:

a) – Secretaria as reuniões;

b) – Lavrar as respectivas átas, que deverão ser lidas, discutidas, aprovadas e

assinadas antes de encerradas as reuniões;

c) – Convocar os Suplentes para as vagas que se derem no Conselho, de acôrdo com

as determinações do Presidentes

d) – Abrir os trabalhos nas ausências do Presidente e solicitar a aclamação de um

Conselheiro para presidir as reuniões;

e) Desempenhar as comissões de serviços que lhe sejam determinadas pelo

Presidente.

§15º - Ao 2º Secretário compete:

a) – Substituir o Secretário nas ausências;

b) – Desempenhar as comissões de serviço que lhe sejam determinadas pelo

Presidente.

§ 16º- A comissão de Contas compete:

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172

a)- Examinar todo o movimento de fundo e a escrita da Sociedade para o que a

Diretora deve fornecer os Livros e documentos necessários;

b) – Quando sejam erros ou omissões reconhecidamente involuntários, a Comissão de

Contas solicitará as regularização indispensáveis, e , somente depois de se encontrar

tudo em ordem, encaminhará o seu parecer ao Conselho Fraterno;

c) – No caso, entretanto, de serem encontradas irregularidades que prejudiquem a

Sociedade ou que deem a convicção de terem sido praticadas desonestidades, deve a

Comissão de Contas comunicar imediatamente o ocorrido ao Presidente da Diretoria

que, se concluir pela procedência da comunicação, deverá convocar com urgência a

Diretoria, e, em seguida o Conselho Fraterno para deliberar o ocorrido;

d) - Apurada que seja qualquer falta grave ou desonestidade, o Conselho Fraterno

deliberará a suspensão dos direitos sociais dos responsáveis procederá a convocação

ou eleição, conforme o caso, para os cargos que vagarem;

e) - Compete ainda à Comissão de Contas emitir parecer, nos termos destes Estatutos,

sempre que solicitados.

CAPITULO VI

DA ASSEMBLÉA GERAL

Art. 18º - Á Assembléa Geral compete:

§ 1º - Resolve Soberanamente as consultas ou propostas que lhe sejam feitas,

observando estritamente o estabelecido neste Estatutos e deliberar sobre casos omissos

nos mesmo, sempre que consultada pela Diretoria ou pelo Conselho Fraterno. Quando

as suas resoluções, entretanto, forem de encontro ao estabelecido nos Estatutos, cabe á

Diretoria recorrer ao judiciário, de acôrdo com as leis civis, devendo ser cumprida a

decisão judicial;

§ 2º - A sua convocação far-se-á pela imprensa, em um dos jornais mais lindos de

Belém, com antecedência de oito dias no mínimo. A publicação do Edital deverá ser

feita três vezes, sendo a última do dia da reunião;

§ 3º - Eleger por escrutínio secreto ou por aclamação o Conselho Fraterno, de acôrdo

com o estabelecido no § 2º do Art. 2º. Essa reunião só poderá funcionar em primeira

convocação com quarenta sócios quites, no mínimo. E em segunda, com vinte sócios

quites; e, em terceira, com qualquer número;

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173

§ 4º - Quando a convocação da Assembéa fôr extraordinária, só poderá funcionar em

primeira convocação com sócios quites, no mínimo. E em segunda, com trinta sócios

quites; em terceiro, com qualquer número;

§ 5º - Se a Assembléa não logra em primeira convocação, número suficiente, o

Presidente que a convocar fará, verbalmente, segunda convocação para uma horas

depois; se persistir a falta de número será convocada pela terceira vez para reunir

quatro dias depois com qualquer número;

§ 6º - Os trabalhos da Assembléa Geral serão abertos pelo Presidente que a convocou,

que dirá dos motivos da sessão e proferirá a prece inicial;

§ 7º - A Assembléa aclamara então, um sócio para dirigir os trabalhos;

§ 8º - O Presidente aclamado convidará dois consócios para secretariar, que serão os

escrutinadores, quando haja eleição;

§ 9 º - Verificar a legalidade da reunião e que todos os sócios estão no pleno gôzo dos

seus direitos, a sessar-se-á;

§ 10º - No caso de eleição do Conselho da Fraterno, terminada a eleição ou aclamação,

o Secretario oficiará aos novos Conselheiros participando sua eleição e convidando-se

a tomarem posse de acôrdo com o estabelecido no § 2º do Art. 2º;

§ 11º - Será então franqueada a palavra a quem dela quizer fazer uso.

CAPITOLO VII

Da Administração Interna

Art. 19º - Compete á Diretoria a administração interna do “LAR DE MARIA”, como a

colaboração de Sub-Diretores nomeados pela mesma, que prestarão seus serviços

independente de remuneração. Quando esses Sub-Diretores prestem relevantes

serviços, sejam reconhecidamente pobre e residam no “LAR DE MARIA”, poderá a

Diretoria propor para os mesmos, ao Concelho Fraterno, uma gratificação ou ajudas de

custo que lhes bastem para manter-se decentemente. Estas propostas devem ser

acompanhadas do parecer da “Comissão de contas”;

§ 1º - Haverá um quadro para a inscrição de Sub-Diretores que desejam presta

colaboração não remunerada, que serão convidados, quando necessário para o

desempenho dos vários serviços;

§ 2º - A distribuição dos vários serviços obedecerá ao estabelecido no § 5º do Art. 4º;

§ 3º - Haverá também um quadro para inscrição de Médicos e Enfermeiros que sejam

prestar a sua colaboração sem remuneração ao “LAR DE MARIA”. Os serviços de

assistência desses colaboradores será distribuído tendo em vista a especialização de

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174

cada um, obedecendo a orientação do Médico chefe, que será escolhido entre os mais

dedicados e assíduos na assistência aos enfermos;

§ 4º - sómente em caso de absoluta necessidade poderá a Diretoria nomear Médicos ou

enfermeiros remunerados, com aprovação prévia do Conselho Fraterno.

CAPITULO VIII

Dá Internação

Art. 20º - Os candidatos á internação no “LAR DE MARIA” – Crianças e velhos –

devem ser de comprovada necessidade verificada por uma sindicância feita por uma

comissão de três membros, designada pela Diretoria.

§ 1º – Os internamentos obedecerão ao estabelecimentos no § 6º do... Art. 4º;

§ 2º - Os pedidos de internação recebem um número de ordem ao serem registrados e

serão atendidos pela ordem numérica de entrada;

§ 3º - Sómente em caso de emergência poderá a Diretoria proceder pelo internamento

sem observar préviamento o estabelecido nos parágrafos antendendo faze-lo em

seguida;

§ 4º - Em todos os casos de internação é imprescindível a respectiva ficha e os

documentos necessários, como certidão de idade, atestado de saúde e de vacina , dos

dois últimos atestados. Não será admitida em hipótese alguma a internação de

crianças ou velhos que sofram de moléstias contagiosas ou em estado repelente ou

desesperador, podendo, entretanto, o “LAR DE MARIA” se ocupar, junto ao seu

médico assistente.

§ 5º - O Limite máximo para internação de crianças é de sete anos;

§ 6º - As crianças abrigadas podem ser órfãs ou não, dede que seus parentes ou pais

sejam comprovadamente miseráveis. Êstes, todavia, as poderão retirar, desde que

provem que mudaram de situação, de molde a poderem mantê-las e educa-las;

§ 7º - No sentido de estabelecer entre as crianças internadas e crianças de famílias

amigas e cristãs os laços de solidariedade humana, de molde gerar assistência social-

material da parte dos que têm mais, as internadas podem ter, lá fóra, “madrinhas

sociais”, que as visitem distribuído com as “afilhadas” um pouco de carinho, de

conforto e de bem estar que por ventura lhes sobrem;

§ 8º - As crianças receberão, além da instrução profissional-doméstica a instrução

elementar e primária, bem assim de moral cristã, através do estudo e medição sobre a

vida e os ensinos de Jesus;

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§ 9º - O “LAR DE MARIA”, tendo em vista a necessidade de internar sempre crianças

novas e de manter o equilíbrio de seu orçamento financeiro, providenciara o

encaminhamento dos internados que atingirem a idade de quinze anos a empregos ou

serviços domésticos que proporcionem sua manutenção;

§ 10º - Serão aproveitados, entretanto, nos misteres vários do “LAR DE MARIA”, os

jovens internados que desejarem dedicar-se aos mesmos, sempre que isso seja

conveniente, sendo-lhes proporcionado o necessário a sua manutenção;

§ 11º - Sairão da tutela do “LAR DE MARIA” os internados que se emanciparem ou

que atinjam a maioridade;

§ 12º - As crianças que completarem o curso primário, sejam inteligentes e

manifestem o desejo de matricular-se em cursos secundários, superiores ou técnicos, o

“LAR DE MARIA” fará o possível para que os seus desejos sejam concretizados,

tendo em vista as possibilidades orçamentas. Na impossibilidade de o fazer, interessar-

se-á o “LAR DE MARIA” para que sejam conseguidas pessoas caridosas e

possuidores de recursos que desejem patrocinar os referidos cursos aos internados que

tenham aptidão e vontade de fazê-los;

§ 13º - Poderão também ser aproveitado nos vários misteres do “LAR DE MARIA” os

velhos internados cujos dotes e condições de saúde os recomendem para os mesmos e

que desejem fazê-lo por amor ao próximo;

§ 14 º - O “ LAR DE MARIA” proporcionará ais seus internados além do tratamento

fraterno, a assistência possível e material, educacional e médica-dentária, de molde

que a todos sintam-se compesados do ambiente que deixaram lá fora

§ 15 º - Será facultada, entretanto, a saída definitiva do “ LAR DE MARIA” aos

velhos desamparados que desejem fazê-lo;

§ 16 º - Observadas as leis de proteção à família poderá ser facultada a as´da de

crianças internadas no “LAR DE MARIA”, provisória ou definitivamente, quando

solicitadas por pessôas idôneas e que gozem de bom conceito moral, que possuam

meios para mantê-la e educa-la convenientemente, ou, que desejem tê-las como filhas

ou perfilhas mediante compromisso lavrado em escritura pública, depois de feitas as

necessárias sindicância apresentando o laudo favorável pela comissão investigadora

nomeada pela Diretoria que deve constar de cinco membros competentes da Diretoria

ou do Conselho Fraterno;

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§ 17 º - Perderão direito ao internamento os internos que cometerem ou reincidirem

em faltas graves contrárias á moral e ao decoro, devendo a Diretoria, com aprovação

do Conselho Fraterno deliberar sobre a forma mais conveniente de afastá-lo;

§ 18º - Também perderão o direito de internação no “ LAR DE MARIA” os

internados que forem acometidos de doenças graves e contagiosas, incuráveis ou de

difícil cura, como a tuberculose, a lepra, a varíola, q peste bubónica, o câncer, etc...

bem assim de doenças mentais e loucura, devendo Diretoria providenciar com

urgência, sempre que se apresente qualquer destes casos, junto as autoridades

competentes, para a transferência do internado doente para o hospital adequado ao seu

internamento e tratamento, Cessado, entretanto, o motivo do afastamento, mediante

documentação que o comprove a juízo da Diretoria, poderá o internado voltar ao

internato no “ LAR DE MARIA”

CAPITULO IX

Dos Sócios

Art. 21ª – O “LAR DE MARIA” terá ilimitado número de sócios de todas as idades, sem

distinção de sexo, côr, credo religioso e nacionalidade.

Art. 22 ª – Haverá quatro categoria de sócio, que são:

§ 1ª - FUNDADORES: os que eram associados desde data anterior á reunião realizada em 15

de Agosto no Grupo Espírita “ Amor e Verdade”, à Travessa Castelo Brando nº 70, na qual

foi considerado fundado o “LAR DE MARI”, conforme consta da respectiva áta, bem assim

as pessôas que estiveram presente à aludida reunião, assinaram o respectivo livro de presença

e se tornaram associados naquela época.

§ 2 º - CONTRIBUINTES - os que contribuírem mensalmente com importância a que se

comprometem em proposta assinada, que não poderá ser inferior ao mínimo estabelecido

anualmente pela Diretoria;

§ 3º - REMIDOS - os que, de uma só vez, contribuírem com a importância que fôr fixada

pela Diretoria, que nunca poderá ser inferior a cinco mil cruzeiro (cr$ - 5.000,00);

§ 4 º - BENFEITORES – os que fizerem doações importantes ao “ LAR DE MARIA” e os

que prestarem relevantes serviços, ou que contribuam com sua atuação e cristã para,

desenvolvimento de obra e execução de seu programa. Os diplomas de sócios Benfeitores só

serão expedidos depois de aprovados pelo Conselho Fraterno as propostas apresentadas pela

Diretoria.

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Art. 23 º - São deveres dos sócios

§ 1 º - Pagar pontualmente sua mensalidade.

§ 2 º - Participar á Secretaria do “Lar de Maria” sua mudança de residência;

§ 3 º - Comparecer ás reuniões ordinárias e extraordinária da Assembléa Geral

§ 4 º - Aceitar e desempenhar os cargos e as comissões para que forem eleitos e que lhe forem

atribuídas;

§ 5 º - Pugnar pelo progresso moral-social-material da Instituição, comparecendo ás reuniões,

prestando sua cooperação em comissões para angariação de donativos e para a realização de

festivais e quermesses sempre houver

Art. 24 º - São direitos dos sócios;

1 § Discutir os assuntos tratados nas Assembléas Gerais, votar e ser votado

2 § Requer no minino, a convocação de um conjunto de cinquenta (50) sócios quites, na

convocação da Assembléa Geral para tratar de assuntos do “ LAR DE MARIA”. Esse

requerimento deve ser entregue ao Presidente da Diretoria assinatura reconhecidas por

tabelião dos os sócios que o assinaram estão em plano que depois de verificar se a

convocação, de acordo, com o estabelecido no Art. Seus direitos, fará

Art. 25 – Os sócios perderão os direitos do Estatuto pelas razões seguintes:

§ 1 º - Por atas e palavras cometidos e proferidas de ... rir a moral e os interesses do “ LAR

DE MARIA”, da Doutrina que o ins-fe ou, de qualquer outra, por forma e incompatibilizar-

nos com os nossos mãos de outras crenças, visto eu e devemos não somente respeitar os

sentimentos e as crenças religiosas de todas as nossos irmãos em Jesus, como também manter

com eles amizade fraternal, tendo unicamente em vista que: “fora da caridade não há

salvação”;

§ 2º - Por atraso no pagamento de suas mensalidades pelo espade um ano;

§ 3º - Cabe-lhe, entretanto, e direito de reabilitação em qualquer época: no caso do § 1º, desde

que o solicite por escrito e fiquem comprovados a sua regeneração e o desejo de pugnar pelo

progresso moral-social-material da Instituição; e no caso do § 2º, se resgatar as mensalidade

de um ano em atraso, e se comprometer a pagar em dia as novas mensalidades na base fixada

pela Diretoria. Se, todavia, o motivo da suspensão dos direitos tiver sido o de falta absoluta de

recursos, poderá a Diretoria permite a reabilitação, dispensando o débito atrasado,

comprometendo- se o associado a manter futuramente em dia o pagamento das suas

mensalidades.

CAPITULO X

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Disposição Gerais

Art. 26º - Os ócios não respondem subsidiariamente por dívidas quaisquer transações

financeiras do “LAR DE ARIA”.

Art. 27º - o patrimônio do “LAR DE MARIA” é inalienável

Art. 28 º - A Assembléa Geral funcionando como poder soberano, tomar medidas de molde a

beneficiar o “ LAR DE MARIA”, observadas as diversas disposições destes Estatutos.

§ Único - Não poderá, em hipótese alguma ser modificada a característica essencialmente

espírita do “LAR DE MARIA”.

Art. 29º - Em caso de dissolução do “LAR DE MARIA” seu patrimônio somente poderá

passar a outra ou outras instituições espírita, civilmente constituídas e com personalidades

jurídica, com sede no território nacional, a juízo da Assembléa que o dissolver.

§ Único – Para que a Sociedade “LAR DE MARIA” possa ser dissolvida, desde que haja

motivos fortes para tanto, como, por exemplo, a impossibilidade de sua manutenção,

necessária é que a Assembléa Geral extraordinária, convocada especialmente para esse fim,

funcione com dois terços de sócios na primeira convocação, metade na segunda e, um terço,

na terceira, todos no pleno gôzo dos seus direitos.

Art. 30 º - A finalidade do “LAR DE MARIA” somente poderá ser modificada para evitar que

a Sociedade seja dissolvida, na impossibilidade de manutenção do seu abriga para as crianças

e velhos desamparados. Nessa hipótese, o “LAR DE MARIA” poderá ser transformado em

uma escola ou um hospital, com características essencialmente espírita. Para isso

indispensável se torna a aprovação da Assembléa Geral, que deverá funcionar com dois terços

dos sócios em primeira convocação, metade em segunda e um terço em terceira, todos em

pleno gôzo dos seus direitos.

Art. 31 º - Os casos omissos nos presentes Estatutos serão solucionados pela Diretoria, com

aprovação do Conselho fraterno, ad-referendum da Assembléa Geral.

Art. 32 º Os presentes Estatutos revogam, totalmente, os anteriores.

§ Único - Em caso de sua reforma, esta só poderá proceder-se três anos, no mínimo, depois

de sua aprovação e por proposta da Diretoria Conselho Fraterno, ad-referamdum da

Assembléa extraordinária, convocada para esse fim, ou, por proposta da Diretoria ou

Conselho, a Assembléa Geral.

CAPITULO XI

Disposições Transitórias

Art. 33º Aprovados os presentes Estatutos, entrarão imediatamente em vigor e deverão ser,

também, imediatamente registrados e impressos

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179

Art. 34 – A Assembléa Geral que os aprovar, elegerá, na mesma reunião, o Conselho

Fraterno, que deverá vigorar até 1º de Setembro de 1956, que será imediatamente empossado

Art. 35 º - O Conselho Fraterno eleito e empossado deve reunir-se dentro de três(3) dias para

dar cumprimento ao estabelecido no § 1º do Art. 17 º; e , também, para eleger os cargos vagos

na Diretoria atual, eleita em 29 de Setembro de 1951 e eleger ainda os novos cargos criados

neste Estatutos.

§ 1º - Os mandatos desses novos Diretores terminarão em 15 de Agosto de 1955

§ 2º - Os mandatos dos atuais Diretores, eleitos em 29 de Setembro de 1951, ficaram dilatados

para 15 de Agosto de 1955.

Estes Estatutos foram aprovados em reunião de Assembléa Geral realizada em

A mesa que presidiu os trabalhos

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180

APÊNDICES

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181

APÊNDICE A – Dissertações de Mestrado do Pará

AUTOR TÍTULO OBJETIVO IES

ANO

Andresson Carlos

Elias Barbosa

O Instituto Paraense de

Educandos Artífices e a

morigerância dos meninos

desvalidos na Belém da Belle

Époque

Compreender o atendimento à criança desvalida

na capital da província do Grão Pará, entre os

anos 1870-1889.

UFPA

2011

Elianne Barreto

Sabino

Assistência e a Educação de

Meninas Desvalidas no Colégio

Nossa Senhora do Amparo na

Província do Grão-Pará (1860-

1889)

Compreender a história social e educacional do

Colégio Nossa Senhora do Amparo, instituição

pública que atendia crianças pobres na

Província do Grão Pará, no período de 1860 a

1889.

UFPA

2012

Adriene Suellen

Ferreira Pimenta

Educação de meninas no

Orphelinato Paraense (1893-

1910)

Analisar a educação de meninas no Orphelinato

Paraense, no período de 1893 a 1910, identificar

qual sua concepção de educação, bem como

verificar o que era ensinado às órfãs.

UEPA

2012

Benedito

Gonçalves Costa

A educação de meninas órfãs,

desvalidas e pensionistas no asilo

de Santo Antônio, no pastorado

do bispo, D. Antônio de Macedo

Costa em Belém – Pará (1878 -

1888)

Analisar a educação de meninas órfãs,

desvalidas e pensionistas no Asilo de Santo

Antônio no período de 1878 a 1888, verificar o

que levou a Igreja Católica a criar o Asilo de

Santo Antônio, mapear os saberes que eram

ensinados às meninas no Asilo e identificar os

princípios que orientavam a prática religiosa e

educativa nesta instituição de ensino.

UEPA

2014

Faneide Pinto

Bitencout

Escola Doméstica Nossa Senhora

da Anunciação: A Formação de

Meninas para servir a Deus, a

Família e ao Lar –

Ananindeua/Pa (1949-1971

__________

UEPA

2015

Fonte: Banco de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior (CAPES) – 2015.

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182

APÊNDICE B – Produções Nacionais

AUTOR TÍTULO OBJETIVO IES

ANO

Cleusa Maria

Fuckner

Lar escola Dr. Leocádio José

Correia: história de uma

proposta de formação na

perspectiva educacional espírita

(1963-2003)

Constituir aspectos da trajetória histórica do Lar

Escola Dr. Leocádio José Correia, no período

entre 1963 e 2003, bem como estudar as

manifestações espíritas, divulgar os princípios

da doutrina dos espíritos e proporcionar

assistência social às famílias carentes. E como

também destaca trajetória da escola, atendendo

meninos órfãos, Educação Especial e Ensino

Fundamental.

UFPR-PR

2009

Nicola José

Frattari Neto

Educandário Espírita

Ituiutabano: Caminhos cruzados

entre inovação e sua organização

conservadora. Ituiutaba, Minas

Gerais (1954-1973)

Encontrar vestígios das características religiosas

espíritas do educandário, bem como o objetivo

principal é sanar uma carência educacional na

cidade de Ituiutaba, apresentando proposta

educativa, filosofia espírita, formação do

homem integral e assistencial.

UFU – MG

2009

Celita Maria Paes

de Souza

Traços de compaixão e

misericórdia na História do Pará:

instituições para meninos e

meninas desvalidas no século XIX

até início do século XX

Investigar a história das instituições de meninos

e meninas desvalidas no Pará, tendo para isso

delimitado o período que vai do início do século

XIX até os primeiros anos do século XX, mais

precisamente até 1912.

PUC-SP

2010

Maria José

Lobato Rodrigues

Educação Feminina no

Recolhimento do Maranhão: o

redefinir de uma instituição

Analisar como o Recolhimento de Nossa

Senhora da Anunciação e Remédios, instituição

maranhense de reclusão feminina, dos Períodos

Colonial e Imperial, redefiniu sua função social

deixando de oferecer às recolhidas apenas uma

educação moral e religiosa, passando

progressivamente, a partir da segunda metade

do século XIX, a incorporar características de

um ensino escolarizado.

UFMA-MA

2010

Thais Palmeira

Moraes

O Atendimento à Criança Pobre,

Abandonada e Sem-Família em

Corumbá (MT): o caso do

Colégio Salesiano Imaculada

Conceição

Refletir sobre recuperação histórica das formas

de acolhimento e de atendimento que as

crianças pobres, abandonadas e sem-família na

região sul de Mato Grosso na Primeira

República (1904 a 1927), no colégio Salesiano

Imaculada Conceição, onde tais crianças eram

acolhidas e criadas pelas irmãs Salesianas e

receberam moradia, alimentação, vestuário e

educação formal.

UFMS-MS

2011

Josineide Siqueira

de Santana

Entre Bordados, Cadernos e

Orações: a Educação de Meninas

e as Práticas Educativas no

Orfanato de São Cristóvão e na

Escola da Imaculada Conceição

Discutir a educação feminina nas instituições

católicas Orfanato de São Cristóvão e Escola da

Imaculada Conceição. Bem como o acolhimento

de meninas desvalidas, em 1922. Tem como

objetivo principal investigar as práticas

UFS-SE

2011

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183

(1922-1969) educativas desenvolvidas nestas instituições, no

período de 1922 a 1969.

Regina Coeli da

Silveira Barbosa

Leite

Educação para Meninas. Volta

Redonda, 1955-1971

Estudar a educação feminina em Volta Redonda

nos anos de 1955 a 1971. Focaliza para análise a

proposta e a prática educacional do Colégio

Nossa Senhora do Rosário. Analisa o contexto

social e histórico da cidade de Volta Redonda,

cidade industrial, planejada para implementação

da CSN. O trabalho enfatiza o tipo de formação,

de papel social e de representações possíveis

sobre as mulheres.

USS-RJ

2011

Kilza Fernanda

Moreira de

Viveiros

O Instituto de Assistência à

Infância: saúde e educação da

criança maranhense (1911-1922)

Estudar a institucionalização da infância em São

Luís por meio do Instituto de Assistência à

Infância do Maranhão, bem como identificar e

configurar a implantação e trajetória do Instituto

de Assistência à Infância do Maranhão de 1911

a 1922, focalizando as circunstâncias sócio-

históricas em que se dava a saúde e a educação

das crianças desvalidas de São Luís

evidenciando sua finalidade e suas repercussões.

UFRN- RN

2011

Rita de Cassia

Grecco dos

Santos

A Educação das Meninas em

Pelotas: a Cultura Escolar

produzida no internato

confessional católico do Colégio

São José (1910-1967)

Propõe caracterizar a cultura escolar produzida

no internato confessional feminino do Colégio

São José, na cidade de Pelotas/RS, analisando a

sua fundação e as repercussões do projeto

educativo desenvolvido naquele contexto.

Promovendo a formação de “meninas dóceis,

cultas e cristãs”, em consonância com o modelo

familiar, católico e higienista, próprio das

primeiras décadas do século XX.

UFPel – RS

2012

Erilane de Souza

Guimaraes

A casa da Criança da Cidade de

Manaus: história de uma

Instituição Educativa

Contribuir para o acervo histórico da cidade

pela identificação e registro das iniciativas e

práticas educativas presentes na cidade; divulgar

os saberes e fazeres difundidos por essa

instituição escolar e, tornar conhecidos os

benefícios associados à criação, implantação e

consolidação institucional.

UNISO – SP

2012

Antonio Valdir

Monteiro Duarte

Órfãs e desvalidas: a formação de

meninas no Orphanato Municipal

de Belém do Pará (1893-1931)

Analisar algumas práticas educativas aplicadas a

centenas de meninas que viveram em condição

asilar em um período marcado por grandes

transformações políticas, econômicas e sociais

na capital Paraense.

UFU-MG

2013

Viviane de

Oliveira Berloffa

Caraçato

Colégio Estadual Dr. Gastão

Vidigal (1953-1975): uma

História no Ensino Maringaense

Reconstruir a história do Colégio Estadual Dr.

Gastão Vidigal, primeira instituição ginasial da

rede pública de ensino do município de

Maringá, no estado do Paraná.

UEM-PR

2014

Fonte: Banco de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior (CAPES) – 2014.

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184

Universidade do Estado do Pará

Centro de Ciências Sociais e Educação

Programa de Pós-Graduação em Educação

Travessa Djalma Dutra, s/n – Telégrafo

66113-200 Belém-PA

www.uepa.br/mestradoeducaca