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A INFLUÊNCIA DO TRANSPORTE DE ÁGUA NO COMPORTAMENTO DOS REVESTIMENTOS DE ARGAMASSA NOS MOMENTOS INICIAS PÓS-APLICAÇÃO Elton Bauer Universidade de Brasília Brasil [email protected] Isaura N. L. Paes Universidade Federal do Pará Brasil [email protected] Maria de N. B. da Silva Universidade de Brasília Brasil [email protected] Eliane Kraus Universidade de Brasília Brasil [email protected] Resumo: O transporte de água da argamassa aplicada, para o bloco de alvenaria, influencia no desenvolvimento das propriedades físico-mecâncias de interesse, como também no desenvolvimento de falhas e patologias. O presente estudo apresenta uma avaliação experimental do transporte de água, com a utilização de sensores de umidade inseridos na argamassa, analisando 3 argamassas com diferentes distribuições granulométricas da areia, aplicadas em blocos de alvenaria em concreto. As características do substrato, em termos de intensidade de sucção, e as diferentes distribuições granulométricas mostraram-se decisivas nos conportamentos observados. Palavras–chave: argamassa, sucção, transporte de água, alvenaria, granulometria.

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A INFLUÊNCIA DO TRANSPORTE DE ÁGUA NO COMPORTAMENTO DOS REVESTIMENTOS DE ARGAMASSA

NOS MOMENTOS INICIAS PÓS-APLICAÇÃO

Elton Bauer

Universidade de Brasília

Brasil

[email protected]

Isaura N. L. Paes

Universidade Federal do Pará

Brasil

[email protected]

Maria de N. B. da Silva

Universidade de Brasília Brasil

[email protected]

Eliane Kraus

Universidade de Brasília

Brasil

[email protected]

Resumo: O transporte de água da argamassa aplicada, para o bloco de alvenaria,

influencia no desenvolvimento das propriedades físico-mecâncias de interesse, como

também no desenvolvimento de falhas e patologias. O presente estudo apresenta uma

avaliação experimental do transporte de água, com a utilização de sensores de umidade

inseridos na argamassa, analisando 3 argamassas com diferentes distribuições

granulométricas da areia, aplicadas em blocos de alvenaria em concreto. As características

do substrato, em termos de intensidade de sucção, e as diferentes distribuições

granulométricas mostraram-se decisivas nos conportamentos observados.

Palavras–chave: argamassa, sucção, transporte de água, alvenaria, granulometria.

1. INTRODUÇÃO

As argamassas de revestimento são dosadas para atender a um conjunto de propriedades

no estado fresco, pertinentes ao processo de aplicação, e aos comportamentos exigíveis ao

desempenho físico-mecânico do sistema de revestimento no estado endurecido. No que

diz respeito aos momentos iniciais após a mistura e aplicação da argamassa sobre a

alvenaria, ocorre uma grande modificação na estrutura interna do material em função do

transporte de água da argamassa. Essa água se movimenta em direção a estrutura porosa

da alvenaria (blocos cerâmicos ou de concreto, por exemplo) basicamente por efeito de

sucção capilar (absorção). Também ocorre movimentação da água para a superfície

exposta causada pela evaporação superficial.

A saída da água da argamassa nos momentos iniciais (algumas horas após a mistura) e nas

idades iniciais (primeiros 7 dias) é extremamente importante, no desenvolvimento de

propriedades do sistema de revestimento (como é o caso da aderência), e também no

surgimento de patologias indesejáveis como por exemplo a fissuração por retração. A

saída da água no instantes iniciais pós-aplicação ainda se faz importante nas operações de

nivelamento e acabamento da argamassa aplicada sobre a alvenaria. Nessa situação, a

argamassa diminui sua plasticidade e fluidez, permitindo que se façam as operações de

acabamento.

Em relação a aderência da argamassa ao substrato (alvenaria), Carasek (1996) [1] mostrou

a importância do transporte de água para o substrato evidenciando a formação de

produtos de hidratação nos poros dos blocos cerâmicos, além da influência da porosidade

tanto da argamassa quanto do bloco cerâmico no desenvolvimento da aderência. Groot

(1988) [2] e Paes (2004) [3] convergem em seus estudos, apontando a importância da

correta sucção de água da argamassa, uma vez que valores muito altos desse transporte

para o bloco de alvenaria podem conduzir a menores valores da resistência de aderência.

Situações em que a sucção é prejudicada (pela baixa porosidade do bloco, por exemplo),

também levam a valores relativamente baixos na resistência de aderência [4].

Do ponto de vista da formulação e dosagem das argamassas, uma propriedade importante,

corriqueiramente avaliada é a retenção de água. No Brasil, esse ensaio é padronizado pela

Norma Brasileira NBR13277:2005, e emprega a metodologia do funil de Bucher

modificado. Dentre os materiais, sabe-se que a cal, bem como também as demais

partículas finas influenciam aumentando a retenção de água da argamassa.

Em relação ao comportamento pós-acabamento, é de extrema importância a

movimentação de água quanto aos fenômenos de fissuração. A saída de água por

evaporação e por sucção da alvenaria causa retração, a qual pode levar a fissuração da

argamassa. Veiga (1998) [5] e posteriormente Silva (2011) [6] estudaram o efeito da

retração associando o comportamento mecâncico das argamassas no sentido do

desenvolvimento da fissuração. Pereira (2007) [7] efetuou um amplo estudo da saída de

água da argamassa por evaporação, associando a mesma ao mecanismo de perda de

aderência e descolamento do revestimento de argamassa.

O transporte de água da argamassa para o bloco de alvenaria obviamente depende das

características da estrutura porosa do mesmo. Esse fluxo de água é muito intenso nos

momentos iniciais de contato e se prolonga em função do grau de favorecimento ao

transporte de água. Assim as características de porosidade do bloco, bem como seu

comportamento em relação a sucção inicial e a evolução da sucção ao longo do tempo,

são importantes no estudo. Paes (2004) [3] mostrou que mais importante do que a sucção

inicial (avalidada corriqueiramente em 1 minuto de contato com a água) vem a ser o perfil

de comportamento em relação a sucção capilar ao longo do tempo. Nesse sentido, a

absortividade proposta por Hall (1989) [8] parece ser um parâmetro mais abrangente na

caracterização da sucção de água pelo bloco de alvenaria.

Em relação a argamassa, a saída de água a partir do contato com o bloco de alvenaria é

bastante alta nos momentos iniciais. Isso ocorre por 2 motivos concomitantes, a saber: o

alto teor de água da argamassa (necessários para a fluidez e trabalhabilidade do processo

executivo) e também pela alta tensão de sucção capilar do substrato. Na medida em que

ocorre o processo de transporte de água, a tensão de sucção capilar no bloco na região de

contato diminui (com o aumento do teor de umidade na região superficial do bloco de

alvenaria), bem como diminui a disponibilidade de água para movimentação na

argamassa. Deve ser lembrado que a água não está completamente livre para

movimentação na estrutura de poros que se formam com a sucção, pois existem forças

capilares, fenômenos de adsorção física, bem como também fixação de água pelas reações

químicas com os aglomerantes. Assim, a sucção de água para o bloco (alvenaria) existe

quando a resultante entre este conjunto de fatores ocorre no sentido favorável (da

argamassa para o bloco).

A modelação comportamental dos fenômenos envolvidos pode ser feita a partir da “teoria

de fluxo em poros não saturados”. Nessa modelação pode-se chegar ao conceito de

“difusividade hidráulica”, que vem a ser um fator de proporcionalidade entre densidade de

fluxo e o gradiente de umidade [3]. Todavia, esses modelos trabalham com situações

ideais, e as modificações no sistema poroso (ao longo do tempo), quer da argamassa, quer

do bloco de alvenaria, associadas a modificações oriudas do próprio fluxo de água, criam

situações de particularidade para cada material estudado. Assim, as equações que

modelam o fluxo em poros não saturados necessitam de ajustes experimentais específicos

para cada material a ser estudado.

O presente estudo buscou determinar a evolução do perfil de umidade desde os momentos

iniciais de contato da argamassa com o substrato (bloco de alvenaria) até o endurecimento

inicial da argamassa. Também foi avaliada a aderênai à tração nas argamassas estudadas.

Para tal foi desenvolvido um programa experimental com o estudo das diversas variáveis

envolvidas.

2. DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL

O objetivo do programa experimental foi estudar a evolução dos perfis de tansporte de

água do sistema argamassa-bloco de alvenaria, monitoranto-se o teor de umidade no

interior da camada de argamassa. Para esse monitoramento foram desenvolvidos nessa

pesquisa, sensores resisitivos de umidade conforme descrito em Paes (2004)[3]. Efetuou-

se o estudo com 3 argamassas mistas (cimeto, cal hidratada e areia), variando-se a

distribuição granulométrica da areia empregada.

2.1 Aplicação da argamassa e mensuração da movimentação de água Os sensores partiram de uma condição saturada (100% de umidade) compatível às

condições de umidade da argamassa recém misturada. Com a movimentação de água para

o bloco de alvenaria os sensores mediam os teores de umidade na posição em que

achavam-se dispostos. As medições nos sensores eram elétricas (corrente), sendo que para

cada um deles existe uma curva de correlação corrente-teor de umidade. A disposição do

posicionamento dos sensores pode ser observada na Figura 1. Os mesmos eram

posicionados por um suporte metálico, dentro de uma forma retangular sobre o bloco de

alvenaria. Uma vez que a espessura da camada de argamassa definida para esse estudo

corresponde a 50mm, a mesma foi subdividida em 4 camadas. A cada camada era

posicionado um conjunto de no mínimo 2 sensores. Assim, na análise, foi possível obter

resultados das seguintes camadas:

• Camada da interface – camada que faz contato com a superfície do bloco de

alvenaria (C4)

• Camada intermediária inferior (C3)

• Camada intermediária superior (C2)

• Camada superficial – camada de topo (C1)

Figura 1 – Posicionamento dos sensores para medição da movimentação de água.

A argamassa foi aplicada nas formas através do princípio da caixa de queda. A partir de

uma mesa com uma escotilha ao fundo, lançava-se a argamassa por queda livre sempre a

mesma altura, ocorrendo então o preenchimento uniforme da forma. Para se evitar perdas

por evaporação todo o conjunto de ensaio foi montado em um recipiente em que se

mantinha a umidade relativa em torno de 100%, conforme pode ser observado na Figura

2.

Figura 2 – Detalhe do aparato de medição do conjunto de ensaio

2.2 Ensaio de aderência A aderência é uma propriedade muito dependente da movimentação de água entre

argamassa e bloco de alvenaria. Nesse sentido efetuou-se o ensaio em um corpo-de-prova

similar ao utilizado no ensaio de movimentação de água, procedendo-se a avaliação de

acordo com a NBR 13528:2010 na idade de 28 dias.

2.3. Materiais Para o desenvolvimento do estudo foram definidas 3 areias a utilizar, nitidamente

diferentes em relação a distribuição granulométrica. A intenção foi de obter argamassas

com perfis diferentes quanto a movimentação de água. A Tabela 1 apresenta a distribuição

granulométrica das areias utilizadas. Observa-se que a areia A é mais fina que a areia B, e

esta é mais fina que a areia C.

Tabela 1 – Percentagens retidas acumuladas das areias.

O cimento empregado foi o cimento brasileiro CP II F 32, Cimento Portland Composto

com até 10% de filer calcário. A cal empregada foi uma cal hidratada CH-I constituída

essencialmente de hidróxido de cálcio.

As argamassas foram dosadas conforme medodologia usual de ajuste de trabalhabilidade

corrente no Laboratório de Ensaio de Materiais (LEM-UnB), descrita em Paes (2004)[3].

Foram obtidas as respectivas proporçoes de materiais, as quais acham-se apresentadas na

Tabela 2.

Tabela 2 – Proporção das argamassas utilizadas

Argamassas Proporção (massa)

(cimento:cal:areia:água)

Proporção (volume)

(cimento: cal:areia:água)

A 1:0,73:9,27:1,97 1:1,24:6,82:1,97

B 1:0,87:9,27:2,14 1:1,47:6,82:2,14

C 1:1,06:9,27:1,94 1:1,80:6,82:1,94

As propriedades das argamassas no estado fresco estão apresentadas na Tabela 3.

Observa-se comportamento similar em relação ao ensaio de espalhamento que foi

parâmetro definidor na dosagem das argamassas. O mesmo comportamento foi observado

no ensaio Vane Test. Quanto à retenção de água foi observada a mesma ordem de

grandeza nas 3 argamassas.

Abertura

(mm) A B C

2,4 0,00 0,00 0,00

1,2 24,06 31,70 39,34

0,6 37,20 47,64 58,08

0,3 62,84 70,80 78,76

0,15 87,42 89,77 92,12

0,075 93,60 95,33 97,06

Fundo 100,00 100,00 100,00

Tabela 3 – Caracterização das argamassas no estado fresco

Propriedade

determinada Método de Ensaio

Resultados Médios

Argamassas

Arg. A Arg. B Arg. C

Consistência

(Espalhamento)

NBR 13276

(2005) 221 mm 252 mm 255 mm

Resistência ao

cisalhamento

(Vane Test)

ASTM D

4648-00 1,19 kPa 1,51KPa 1,70 KPa

Ar incorporado

(pressométrico)

NBR

NM 47:95 5% 6,5% 8%

Retenção de água

(funil)

NBR 13277

(2005) 69% 70% 71%

Densidade de massa NBR 13278

(2005) 1,88 g/cm³ 1,89 g/cm³ 1,91 g/cm³

O presente estudo ateve-se aos blocos de alvenaria tipo blocos de concreto. Os mesmos

foram caracterizados em relação as suas propriedades conforme coloca a Tabela 4.

Tabela 4 – Características dos blocos de alvenaria (blocos de concreto)

Características

Determinadas Método de ensaio

Número de

determinações Resultado médio

Absorção de água MB-3459

(ABNT, 1991) 50 7,0%

Taxa inicial de

sucção (IRA) ASTM C-67 70 50,3 g/194cm²/min

Resistência à

compressão

MB-3459

(ABNT, 1991) 12 6,5 MPa

O bloco de alvenaria foi também avaliado em relação à absorção capilar com água (livre).

O resultado é mostrado na Figura 3, onde se observa que ocorre grande sucção inicial nos

primeiros minutos. Em sequência, a velocidade de sucção é quase constante até o final da

determinação (mais de 10 horas).

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

0 5 10 15 20 25 30

Tempo (min)1/2

Te

or

de

um

ida

de

(%

)

Figura 3 – Comportamento do bloco de alvenaria em relação à absorção capilar

2.4 Resultados e discussão Alguns parâmetros foram mantidos constantes, e dessa forma não foram objeto de estudo

na análise efetuada. Não se mensurou a água combinada ao cimento durante todo o

processo. Deve se mencionar que as leituras foram efetuadas até 540 minutos (9 horas) e

que principalmente após o período de indução, as reações da água com o cimento são

intensas. Todavia, de forma simplificada, essas reações ocorrem em todas as camadas

estudadas, pois para cada camada o teor de cimento é o mesmo. Assim as relações da água

transportada foram mantidas.

2.4.1 Transporte de água O perfil geral de comportamento pode ser analisado na Figura 4, onde se observa a

evolução da água transportada em cada camada. Observa-se um relativo “paralelismo” de

comportamento entre as camadas, sendo notório que as camadas superficiais (C1, C2)

apresentam menor fluxo de água do que as camadas próximas a interface com bloco de

alvenaria (C3, C4). Esse comportamento é o esperado, uma vez que as condições foram

padronizadas para o estudo do transporte de água para o bloco de alvenaria.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

0 5 10 15 20 25

Ág

ua

Tra

nsp

ort

ada

(%)

Tempo1/2 (min)

Camada superfície (C1) Camada Intermediária sup. (C2)

Camada Intermediária inf. (C3) Camada da interface (C4)

Figura 4 – Perfil de evolução do transporte de água – Argamassa A

A análise dos perfis obtidos para as 3 argamassas de estudo levou a distinguir 3 regimes

de fluxo nos quais a velocidade de transporte é relativamente constante. Conforme pode se

distinguir na Figura 5, foram definido os regimes:

• Regime R1 – de 0 a 5 minutos

• Regime R2 – de 5 a 60 minutos

• Regime R3 – de 60 a 540 minutos.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26

Tempo1/2 (min)

Ág

ua

Tra

ns

po

rta

da

(%

)

Figura 5 – Definição dos regimes de transporte de água

Os resultados observados no monitoramento do transporte de água podem ser observados

na Tabela 5. A quantidade de água trasportada corresponde a massa de água perdida (para

a camada subsequente) na camada durante a duração do regime específico. Essa

quantidade é determinada tendo por base a quantidade inicial de água da camada de

espessura de 50mm de argamassa aplicada (sobre o bloco de alvenaria).

Na maioria dos casos observou-se que a ordem de quantidade de água transportada é

maior na camada C4 e diminui consecutivamente até a camada C1. Isso é bastante óbvio,

uma vez que a camada C4 é a camada de contato com o bloco, e é por essa interface que

ocorre o transporte da água. Também se observa, na maioria dos casos, que a velocidade

média de transporte de água é superior na camada C4 em relação as demais. Isso é mais

evidente no regime R1, sendo que também se observa redução na velocidade média nas

camadas C3, C2 e C1 em relação a C4.

Camada da interface Camada intermediária (inf.) Camada intermediária (sup.) Camada da superfície

R1 R2 R3

Tabela 5 – Resultados médios do transporte de água para as argamassas estudadas ARGAMASSA A

Tempos

(min) C1 C2 C3 C4 V1 V2 V3 V4

R1 0 a 5 113 132 150 207 22,60 26,40 30,00 41,40

R2 5 a 60 658 676 677 696 11,96 12,29 12,31 12,65

R3 60 a 540 376 395 414 470 0,78 0,82 0,86 0,98

Totais 1147 1203 1241 1373

ARGAMASSA B

Tempos

(min) C1 C2 C3 C4 V1 V2 V3 V4

R1 0 a 5 204 225 245 286 40,80 45,00 49,00 57,20

R2 5 a 60 674 715 756 797 12,25 13,00 13,75 14,49

R3 60 a 540 470 429 429 408 0,98 0,89 0,89 0,85

Totais 1348 1369 1430 1491

ARGAMASSA C

Tempos

(min) C1 C2 C3 C4 V1 V2 V3 V4

R1 0 a 5 241 259 278 315 48,20 51,80 55,60 63,00

R2 5 a 60 721 703 684 721 13,11 12,78 12,44 13,11

R3 60 a 540 370 370 444 370 0,77 0,77 0,93 0,77

Totais 1332 1332 1406 1406

Regimes

Água Transportada (g)Velocidade média nas camadas

(g/min)

Regimes

Água Transportada (g)Velocidade média nas camadas

(g/min)

Regimes

Água Transportada (g)Velocidade média nas camadas

(g/min)

No caso particular do regime R1, o qual corresponde aos momentos iniciais de contato,

deve-se observar que existem 2 condições muito favoráveis ao fluxo de água.

Primeiramente a superfície do bloco de alvenaria encontra-se com baixa umidade, o que

faz com que a tensão de sucção capilar seja alta nessa região e nesse momento. Em função

da porosidade característica do bloco de concreto (grande poros capilares) pode ocorrer

também uma grande vazão de água na sucção. A Figura 3 ilustra bem esse comportmento

inicial na sucção de água nos momentos iniciais.

Outro aspecto a considerar é a maior facilidade de movimentação da água da argamassa

nos momentos iniciais. Nessa situação a argamassa encontra-se mais fluida, com uma

estrutura porosa ainda indefinida, sendo que a própria sucção inicial irá direcionar a

formação dos poros e vazios capilares. Assim, os momentos iniciais são extremamente

favoráveis ao transporte de água, tanto em quantidade, como em velocidade (vazão). Isso

é muito evidente na Tabela 5 tanto pelos valores de água transportada, como também

pelas velocidades médias em cada camada, para todas as argamassas.

Em termos da influência das argamassas é evidente que a argamassa C apresenta o maior

fluxo de água transportada (em todas as camadas, sendo crescente no sentido

C4>C3>C2>C1) e a maior velocidade média de transporte. Em sequência tem-se

comportamento similar para a argamassa B, só que com menor intensidade que a

argamassa C. Por último tem-se a argamassa A com os menores valores de água

transportada e velocidade média.

As argamassas foram dosadas para serem aplicáveis e relativamente similares entre si em

seu comportamento reológico. A grande diferença entre as mesmas está na ditribuição

granulométrica das areias utilizadas. Como mostra a Tabela 1, a areia C é mais grossa que

a areia B, a qual é mais grossa qua areia A. Como o teor de areia é constante (Tabela 2),

essa diferença exigiu um maior teor de cal na dosagem para as argamassa C e B para

atender as questões de trabalhabilidade. Parece evidente que o maior fator que condiciona

esse maior fluxo de água é a granulometria da areia e o arranjo dos grãos conseguido

principalmente nas dimensões menores das partículas. Observa-se também que as 3

argamassas possuem o mesmo valor de retenção de água (70%), sendo que o

comportamento em relação ao transporte de água foi completamente diferente para as 3

argamassas. Isso parece identificar que a tensão de sucção capilar do bloco de concreto

(alvenaria), no regime R1, talvez seja signficativamente maior do que a aplicada no ensaio

de retenção de água.

Deve ser lembrado tembém que a água transportada de uma camada superior é recebida

em determinada camada e transportada para a camada inferior a mesma. Esse fluxo, como

comentado, é muito favorecido nos momentos iniciais de contato (regime R1). A medida

em que o sistema se estrutura e os mecanismos de transporte se particularizam, o fluxo só

ocorre se a resultante entre a tensão de sucção (originária do bloco) e as restrições ao

fluxo (adsorção, Van der Waals, empacotamento) é favorável ao transporte. No regime R2

se observa uma redução muito forte na velocidade média de transporte, sendo que ainda se

tem uma velovidade superior na camada C4 reduzindo consecutivamente até a camada C1

para todas as argamassas. A redução da velocidade (em relação ao regime R1) é mais

intensa nas argamassas B e C, com areias de maior dimensão de partículas. Nota-se

novamente uma nova contribuição da granulometria da areia, agora em uma nova situação

de fluxo. Observa-se também que a água transportada na camada C4 ainda é superior a

transportada da camada C3. Isso significa que além da água recebida da camada superior

(C3), também ocorre transporte de água da própria camada para os substrato.

No regime R3 seguramente já temos a argamassa sofrendo a transição para o estado

endurecido. Nessa situação tanto o teor de água como a mobilidade dessa água no sistema

poroso são menores. Observa-se uma fortíssiam redução da velocidade de transporte de

água nas camadas, sendo que as mesmas convergem para valores muito próximos entre as

camadas. Observa-se nas argamassas B e C, que em alguns casos a água transportada em

determinada camada é inferior a transportada da camada superior a mesma. Isso justifica-

se tanto pela dificuldade de fluxo que pode ocorrer (redução de poros, deposição de

produtos da hidratação), como também pela diminuição da tensão de sucção uma vez que

o bloco encontra-se já com um significativo teor de umidade (a tensão de sucção é

inversamente proporcional ao teor de umidade). Pode haver, portanto camadas que

pontualmente podem ter uma maior concentração de água pela dificuldade de fluxo que o

sistema passa a apresentar. Deve também ser mencionado que esse comportamento não

foi observado na argamassa A onde o fluxo de água se manteve em todas as camadas no

regime R3.

2.4.2 Aderência à tração Os resultados do ensaio de aderência à tração podem ser observados na Tabela 6.

Identifica-se um nítido crescimento da resistência de aderência da argamassa A, para a B e

para a C.

Associando-se o comportamento frente ao transporte de água, observa-se que as

argamassas B e C apresentaram altos teores de água transportada, enquanto a argamassa A

apresentou os menores valores de água transportada. Os maiores valores de aderência para

as argamassas B e C não podem ser atribuídos somente ao maior teor de água

transportada, mas pode se afirmar que houve uma contribuição efetiva desse aspecto no

resultado final observado.

Tabela 6 – Resistência de aderência à tração

Argamassas Rad (MPa)

Formas de rupturas Predominantes (%)

Argamassa de

revestimento (superfície)

Argamassa de

revestimento (interior)

Interface argamassa/substrato

A 0,30 56 44 -

B 0,41 67 33 -

C 0,46 78 22 -

3. CONCLUSÕES Do estudo apresentado, pode-se enumerar as seguintes conclusões principais:

• O transporte de água é muito mais intenso nos momentos iniciais (regime R1)

possivelmente pela maior tensão de sucção do bloco de concreto e pela maior

mobilidade da água na argamassa.

• O fator determinante no comportamento das argamassas foi a distribuição

granulometrica da areia. Arranjos de grãos mais finos levaram a menores

intensidades no transporte de água.

• Não foi possível associar o transporte de água à retenção de água mensurada nas

argamassas. Possivelmente a tensão de sucção originária do bloco de alvenaria

seja muito diferente da empregada no ensaio.

• A redução no transporte de água com a evolução do tempo é evidente entre os

regimes estudados. Essa redução é mais marcante para as argamassas B e C, de

maior distribuição granulométrica da areia.

• As propriedades físico-mecânicas dependentes do teor de água e do transporte da

mesma são fortemente influenciadas. Observou-se forte incremento da resistência

de aderência à tração com o aumento da água transportada.

4. REFERÊNCIAS

[1] Carasek, H. Aderência de argamassas a bse de cimentos Portland a substratos porosos.

São Paulo, 1996. Tese (doutorado).Escola Politécnica, Universidade de São Paulo.

[2] Groot, C.J.W.P.Aspects of mortar-brick bond. In: International Brick and Block

Masonry Conference, 8th

, Dublin. Proceedings. Elsevier, 1988. V.1. p.175-181

[3] Paes. I.N.L. Avaliação do transporte de água em revestimentos de argamassa nos

momentos iniciais pós-aplicação. Brasília, 2004. Tese (doutorado). PECC, Universidade

de Brasília.

[4] Bauer, E. Revestimentos de argamassa: características e peculiaridades. Brasília,

SINDUSCON-DF, 2005.

[5] Veiga, M.R.S. Comportamento de argamassas de revestimento de paredes.

Contribuição para o estudo da sua resistência à fendilhação. Lisboa, 1998. Tese

(doutorado). Faculdade de Engenharia, Universidade do Porto.

[6] Silva, N.G. Avaliação da retração e da fissuração em revestimento de argamassa na

fase plástica. Florianópolis, 2011. Tese (doutorado). PPGEC. Universidade Federal de

Santa Catarina.

[7] Pereira, C.H.A.F. Contribuição ao estudo da fissuração, da retração e do mecanismo

de descolamento do revestimento à base de argamassa. Brasília, 2007. Tese (doutorado).

PECC, Universidade de Brasília.

[8] Hall. C. Water sortivity of mortars and concretes: a review. Magazine of Concrete

Research , vol. 41(147), 51-61.