a influÊncia do pcb na construÇÃo do ensino .pará, de 1945 a 1964 ... baratismo-moura carvalho
Post on 09-Feb-2019
212 views
Embed Size (px)
TRANSCRIPT
A INFLUNCIA DO PCB NA CONSTRUO DO ENSINO PBLICO
PRIMRIO DE BELM DO PAR DE 1945 a 1964
MARIA JOS AVIZ DO ROSRIO
PROFESSORA DO ICED-UFPA
mrosario@ufpa.br
Este texto tem a pretenso de discutir e analisar a construo do ensino pblico primrio
de Belm do Par, a partir das relaes existentes entre os poderes polticos institudos e
os movimentos sociais organizados liderados pelo Partido Comunista do Brasil PCB,
no perodo entre 1945 e 1964. A anlise toma por base, centralmente, a expanso de
escolas e a institucionalizao dos rgos oficiais do ensino. As fontes usadas para
construo do texto compem-se de mensagens governamentais, dos relatrios
produzidos pelo poder poltico municipal e de depoimentos de comunistas histricos.
Em sua concluso, aponta-se que o PCB no mediu esforos para que o poder poltico
institudo cumprisse com seu dever constitucional de oferta do ensino e que parte das
demandas sociais educacionais asseguradas institucionalmente, foi articulada pelos
movimentos sociais organizados sob a liderana do partido; que os prefeitos se
esforaram para demonstrar empenho na aplicao das leis aprovadas que criavam
novas escolas e permitiam a expanso dos estabelecimentos de ensino, visando
garantia do atendimento ao ensino pblico primrio municipal, bem como dos rgos
responsveis pela sua coordenao. Desse modo possvel afirmar que o PCB, de 1945-
1964, de fato, exerceu um papel importante na histria da construo do ensino pblico
primrio de Belm do Par. A movimentao se deu a partir de orientaes nacionais e
da produo articulada, discutida e elaborada pelos comunistas paraenses, que se
configurou em um projeto de educao. Tal projeto foi discutido com a sociedade
belenense e serviu de base a criao de escolas e rgos oficiais de ensino municipal -
Diretoria de Ensino, em 1949 e o Departamento de Ensino Municipal, em 1958.
Palavras chave
PCB, ensino pblico primrio, poder poltico
mailto:mrosario@ufpa.br
A influncia do PCB na construo do ensino pblico primrio de Belm do Par
de 1945 a 1964
MARIA JOS AVIZ DO ROSRIO
PROFESSORA DO CED-UFPA
mrosario@ufpa.br
Belm do Par de 1945 a 1964, construiu sua trajetria educacional a
partir de suas prprias necessidades mediadas pelo contexto de (re)democratizao
paraense e nacional, alicerado pelos movimentos sociais organizados, com destaque
para o Partido Comunista do Brasil PCB, notadamente no que diz respeito formao
de opinio poltico-social-educacional paraense.
Este texto1 tem a pretenso de analisar a construo do ensino pblico
primrio a partir das relaes existentes entre os poderes polticos institudos e os
movimentos sociais organizados liderados pelo PCB no perodo da (re)democratizao,
1945-1964.
Neste trabalho a anlise recair centralmente na expanso das escolas e
na institucionalizao dos rgos oficiais do ensino pblico primrio de 1945 a 1964, a
partir das mensagens governamentais, dos relatrios produzidos pelo poder poltico
municipal, dos depoimentos de comunistas histricos e outros dados de um contexto de
franco processo democrtico.
A participao do PCB nesse processo ser analisada a partir de dois
momentos distintos: do ps - Estado Novo at a cassao do Partido em 1948, e desta
at 1962.
No primeiro momento, o PCB movimentou-se articulando suas propostas
educacionais por meio dos Comits Democrticos e Populares - CDP, em cuja base se
identifica elementos de um projeto de educao. No segundo momento, o partido, ao se
(re)articular, se voltou mobilizao e conscientizao da sociedade belenense a fim de
discutir a importncia dos direitos sociais, entres eles os educacionais. Ressalta-se que
tanto na legalidade quanto na clandestinidade, o PCB no mediu esforos para que o
poder poltico institudo cumprisse com seu dever constitucional de oferta do ensino. O
empenho do partido no foi em vo, porque parte das demandas sociais asseguradas
1 O texto parte da tese de doutorado intitulada, O PCB e a organizao do ensino pblico debelem do
Par, de 1945 a 1964, defendida em 2006, no PPGE-UFSCAR.
mailto:mrosario@ufpa.br
institucionalmente, no perodo, foi articulada pelos movimentos sociais organizados sob
sua liderana.
Em relao ao ensino, nesse perodo, observa-se que os prefeitos se
esforaram para demonstrar empenho na aplicao das leis aprovadas que criaram novas
escolas e permitiram a expanso dos estabelecimentos de ensino, visando garantia do
atendimento ao ensino pblico primrio municipal, bem como dos rgos responsveis
pela sua coordenao.
A preocupao com o ensino pblico municipal estava ligada aos
encaminhamentos polticos federal ou estadual, haja vista as conexes entre eles e os
limites e alcance de cada esfera poltica. Em 1954, o governo estadual, ao se pronunciar
publicamente anuncia essa perspectiva.
Quando assumimos o governo do Estado, constatamos que as escolas
e os grupos eram insuficientes para o atendimento de todos que
procuravam nossas casas de ensino. E, para contornar, em parte, essa
premente necessidade, plenamente justificada com o aumento da
populao escolar, mandamos construir (3) grupos escolares na
capital e recuperar outro edifcio. (...). Esto projetadas as
construes de mais dois grupos escolares, na capital, sendo um no
bairro da Matinha e outro na Sacramenta, para melhor servir as
populaes escolares dos subrbios (...) (ESTADO DO PAR, 1954,
p. 64-65. Grifo nosso).
Ressalta-se que esse foi um perodo importante para o PCB e
movimentos sociais que ao perceberem a disposio dos poderes polticos constitudos
em fazer valer algumas de suas reivindicaes, procuravam meios de (re)articulao e
(re)organizao. Sobre esse processo, Oliveira (2006) 2, avalia a sua intensidade.
[...] Essas teses eu vivi muito porque foi exatamente na poca em que
entrei para o partido, se debatia muito as reformas que a sociedade
precisava, onde entrava tambm a reforma do ensino, sobretudo a
discusso em cima da educao, a Lei de Diretrizes e Bases do Ansio
Teixeira. Ento, nessa poca voc discutia muito as reformas de bases
que a sociedade precisava e tirava encaminhamentos para encaminha-
las.
Essa fala revela a preocupao do PCB para com o debate sobre a
educao em nvel nacional e como as questes em torno dela eram encaradas pelo
partido em Belm.
2 Entrevista por Alfredo Oliveira, em 19 de setembro de 2006.
Em relao ao poder poltico, a exegese das mensagens demonstram que
esse poder tinha preocupao com o atendimento desse nvel de ensino, ao mesmo
tempo em que lutava para apresentar um quadro que representasse a ampliao do
nmero de escolas municipais.
A esse respeito, interessante a afirmao do prefeito Major Luiz Geols
de Moura Carvalho, no incio dos anos de 1950.
Assumindo as funes inerentes ao cargo de Chefe do Municpio de
Belm, com o qual me distinguiu o Exmo. Sr. Major Luiz Geols de
Moura Carvalho (...) compreendi que a administrao municipal
precisava de um novo influxo de boa vontade e perseverantes esforos
para a prossecuo do seu interesse vital. (...) E assim tive que nortear
o meu esprito por uma orientao segura, que me sugeriu a
necessidade precpua de trabalhar ardorosamente, no objetivo de
corresponder, indene de alardes e preconcios, confiana que me foi
depositada e, contemporaneamente, tornar-me merecedor da confiana
de meus muncipes (PREFEITURA MUNICIPAL DE BELM, 1950,
P. 7-8).
Nesse aspecto, a anlise remete para as questes de disputas no interior
da sociedade belenense que via florescer movimentos de vrias tonalidades poltico-
ideolgicas. As disputas intencionavam a orientao em torno dos projetos que melhor
representassem a sua linha de ao. Oliveira (2006) 3, alerta para o fato de que o PCB
detinha hegemonia em segmentos formadores de opinio.
Depois, depois j na dcada de 50 e no incio da dcada de 60 tambm
o PCB que faz a ligao entre a militncia poltica e a militncia
cultural, a, tambm tem um grande papel o PCB. Ele tinha hegemonia
entre os intelectuais, entre os professores, entre os estudantes e
utilizou muito disso fazendo com que a militncia poltica encontrasse
lugar com a militncia cultural.
nesse contexto, em meio s disputas, que o PCB pode contar com
pessoas que historicamente estiveram muito prximas de sua linha de ao e com outras
que foram sendo convencidas. Essas pessoas se filiaram, mobilizaram e lutaram em suas
fileiras, algumas ligadas ao poder poltico institudo. A ligao do PCB, por intermdio
dessas pessoas, foi importante, pois ajudou o partido a influenciar em algumas questes
3 Entrevista concedida por Alfredo Oliveira, em 19 de setembro de 2006.
poltico-sociais. Essa ligao pode ser analisada a partir do que afirma Rui Barata4 a
respeito de sua ligao com o governador Zacarias de Assuno.
Eu e o Zacarias de Assuno nos tornamos grandes amigos, apesar da
diferena de idade. I