a infidelidade no teatro vicentino: um estudo do … · 2017-12-29 · o teatro de gil vicente, ......

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Graduando , Feira de Santana, v. 8, n. 11, p. 113-125, 2017 ISSN 2236-3335 A INFIDELIDADE NO TEATRO VICENTINO: UM ESTUDO DO AUTO DA ÍNDIA Cristina Sulivânia Oliveira Nunes Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) Licenciatura em Letras com Espanhol [email protected] Profa. Ma. Andréia Silva de Araújo (Orientadora) Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) Departamento de Letras (DLA) [email protected] Prof. Me. Wellington José Gomes Freire (Coorientador) Doutorando da Universidade Federal da Bahia (UFBA) [email protected] Resumo : O objetivo deste estudo é contribuir para uma melhor compreensão das concepções da representação da infidelidade no teatro vicentino, a partir de uma leitura da peça Auto da Índia . A análise se desenvolve através da perspectiva de que a obra vicentina se apoia sobre o riso como forma de desconstrução de padrões sociais tendentes a referendar um discurso ideológico opressor. O auto em questão retrataria uma visão antiépica do processo de expansão imperial portuguesa dos séculos XV e XVI, por via da representação farsesca de tipos sociais integrantes da sociedade portuguesa do período. Para construção do artigo, foi elaborada uma pesquisa e um levantamento bibliográfico sobre o adultério feminino no teatro vicentino. Referendam a análise as considerações de Alves (2002), Costa e Cenci ( 2014), Bakhtin (2013), Brito (2010), Gusmão e Nazareth (2014), Magalhães (2009), Moreira (2013), Palmela (2010), Zacharias (2011) e Claro (2016). Palavras-chave : Gil Vicente. Auto da Índia . Infidelidade. 1 INTRODUÇÃO A infidelidade é um tema caro ao imaginário literário e social. Ele é universalmente encontrado nas mais diferentes

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G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 8 , n . 1 1 , p . 1 1 3 - 1 2 5 , 2 0 1 7

I S S N 2 2 3 6 - 3 3 3 5

A I N F I D E L I DA D E NO T EA TRO V I C E NT I NO : U M E S TU DO DO AU TO DA Í N D I A

C r i s t i n a S u l i v â n i a O l i v e i r a N u n e s

U n i v e r s i d a d e E s t a d u a l d e F e i r a d e S a n t a n a ( U E F S ) L i c e n c i a t u r a em L e t r a s c om E s p a n h o l

s u l i v a n i a @ h o tm a i l . c om P r o f a . M a . A n d r é i a S i l v a d e A r a ú j o ( O r i e n t a d o r a )

U n i v e r s i d a d e E s t a d u a l d e F e i r a d e S a n t a n a ( U E F S ) D e p a r t am e n t o d e L e t r a s ( D LA ) a n d r e i a . c om . a c e n t o @ gma i l . c om

P r o f . M e . We l l i n g t o n J o s é Gome s F r e i r e ( C o o r i e n t a d o r ) D o u t o r a n d o d a U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d a B a h i a ( U F BA )

t e z c a t l i p o c a 4 5@ gma i l . c om

Resumo : O ob j e t i vo des t e e s tudo é con t r i b u i r p a r a uma me l ho r compreensão das concepções da rep resen tação da i n f i de l i d ade n o t e a t r o v i c e n t i n o , a p a r t i r d e uma l e i t u r a d a p e ç a A u t o d a Í nd i a . A aná l i s e se desenvo l v e a t r avés da pe r spec t i v a de que a o b r a v i c e n t i n a s e a p o i a s o b r e o r i s o c o m o f o r m a d e de scons t r uç ão de p ad rões s oc i a i s t e nden t e s a r e f e r end a r um d i scu rso i deo l óg i co opresso r . O au to em ques t ão re t r a t a r i a uma v i s ã o an t i é p i c a do p roce s so de e xp an são impe r i a l p o r t u gue sa d os sécu l o s XV e XV I , po r v i a d a r ep r e se n t aç ão f a r se sca de t i p os soc i a i s i n t e g r an t e s d a soc i e dade po r t uguesa do pe r í o do . P a r a c o n s t r u ç ã o d o a r t i g o , f o i e l a b o r a d a uma p e sq u i s a e um l e van t amen to b i b l i o g r á f i c o sob re o adu l t é r i o f em i n i n o no t e a t r o v i c e n t i n o . R e f e r e n d am a a n á l i s e a s c o n s i d e r a ç õ e s d e A l v e s ( 2 0 0 2 ) , C o s t a e C e n c i ( 2 0 1 4 ) , B a k h t i n ( 2 0 1 3 ) , B r i t o ( 2 0 1 0 ) , Gu smão e N a z a r e t h ( 2 0 1 4 ) , M a g a l h ã e s ( 2 00 9 ) , M o r e i r a ( 2 0 1 3 ) , Pa lme l a ( 20 10 ) , Zacha r i as ( 20 1 1 ) e C l a ro (20 1 6 ) . Pa l av ras -chave : G i l V i cen te . Auto da Í nd i a . I n f i de l i d ade .

1 I N T R O D U Ç Ã O

A i n f i d e l i d a d e é um t em a c a r o a o i m a g i n á r i o l i t e r á r i o e s o c i a l . E l e é u n i v e r s a l m e n t e e n c o n t r a d o n a s m a i s d i f e r e n t e s

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t r ad i ções o ra i s e nos esc r i t os dos ma i s d i ve rsos g rupos huma -

nos . Ta l vez não se j a oc i oso reco rda r que em um dos t ex tos

f undado res da t r ad i ç ão oc i den t a l , a I l í a da , uma das ques tões

que desencade i am a f ábu l a ép i ca é um caso c l áss i co de t r i ân -

gu l o amoroso que resu l t ou no rap to de He l ena e no desenca -

dea r de uma gue r ra que se es tendeu po r dez anos . Uma

esposa i n f i e l e seu aman te p rovoca ram um i nc i den t e i n te rna -

c i ona l . No un ive rso das l e t r as de l í ngua po r tuguesa a t emá t i ca

t ambém ocupa cons i de ráve l espaço , es t ando p resen te desde o

a l vo rece r das p r ime i ras man i f es t ações f i cc i ona i s e a t é em

ob ras de g i gan tes da cu l t u ra human i s t a como G i l V i cen t e e seu

Au to da Í nd i a . O que se p ropõe a f aze r aqu i é con t r i bu i r pa ra

pesqu i sa sob re o que pode r i a se r cons i de rada a rep resen t ação

da i n f i de l i d ade no t ea t ro v i cen t i no e qua i s imp l i c ações pode r i am

se r c i t adas , den t ro da pe rspec t i va do re l ac ionamento ex t r acon -

j uga l com re l ação à ob ra j á an t e r i o rmen te menc i onada . Ass im ,

es te t r aba l ho ob j e t i v a um es tudo da f i gu ra fem in i na e a i n f i de l i -

dade con juga l po r pa r t e da pe rsonagem p r i nc i pa l , que t r a i seu

mar i do como uma fo rma s imbó l i c a de rea l i z ação pessoa l , de

au tonom i a , l evando uma v i da de p raze res com seus aman tes ,

co i sas que não são pe rm i t i d as a e l a na v i da t r ad i c i ona l , po rque

o impo r t an te e ra man te r uma f am í l i a pa t r i a rca l pe ran te à soc i e -

dade .

O pe rcu rso ana l í t i c o aqu i r ea l i z ado se deu a pa r t i r de um

es tudo sob re a rep resen t ação da i n f i de l i d ade p resen te na peça

t ea t r a l do esc r i t o r po r t uguês , es t abe l ecendo uma re l ação com

a impo r t ânc i a do t ea t ro med i eva l e o t ea t ro v i cen t i no , pon tuan -

do o t ema da rep resen t ação da i n f i de l i d ade f em in i na na l i t e r a -

t u ra de mane i r a ge ra l e p r i nc i pa lmen te na l i t e r a t u ra po r tuguesa ,

que se des t acam G i l V i cen t e com sua l i nguagem co l oqu i a l e o

esc r i t o r rea l i s t a Eça de Que i r ós , que c r i t i c a os casos de adu l -

t é r i os f r equen tes e presen tes na época , e menc i ona que os

romp imen tos dos l aços f am i l i a r es e ram po r causa da amb i ção

f i nance i r a e pe l a f a l t a de respe i t o e de empa t i a po r pa r te da

esposa .

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2 A I M P O R T Â N C I A D O T E A T R O M E D I E V A L E M G I L

V I C E N T E

De aco rdo com Pa lme l a ( 20 10 ) , o t e rmo tea t ro pa ra os

Gregos , como pa ra os Romanos , des i gnava o espaço cên i co e

o espaço da ass i s t ênc i a , o con j un to a rqu i t e tôn i co onde se

desen ro l a r i am gêne ros como o d rama ou t ragéd i a , a coméd i a ,

os en redos e ou t ros . O t ea t ro é uma das ma i s an t i gas exp res -

sões a r t í s t i c as do homem . Na cu l t u ra oc i den t a l , as rep resen t a -

ções t ea t r a i s ocupa ram l uga r de re l evo desde a Gréc i a An t i ga ,

que va l o r i zava eno rmemen te t a i s f o rmas de rep resen t ação .

Pa ra e l e s , essa f o rma de exp ressão a r t í s t i ca u l t r apassava os

l im i t e s da me ra es te t i zação do rea l , e possu í a t ambém toda

uma r i c a d imensão s imbó l i c a que aba rcava uma amp l a gama de

poss i b i l i d ades , den t re as qua i s a i de i a de ca t a rse . O conce i t o

se encon t ra o r i g i na lmen te ass i na l ado na Poé t i c a de Ar i s t ó te l e s .

A p l a t e i a es t abe l ec i a uma espéc i e de re l ação re l i g i osa com o

t ex to encenado , d i sso resu l t ava uma pu r i f i c ação s imbó l i c o -

r i t ua l í s t i c a . E ra uma concepção de a r t e cen t r ada na g rand i os i -

dade cên i ca e na p róp r i a g randeza do homem , ob j e to ú l t imo

das re f l exões a l i pos tas . O t ea t ro de G i l V i cen te , embora de r i -

ve desses conce i t os p ropos tos pe l a Ant i gu i dade C l áss i c a ,

de l es se a f as t a na med i da em que p ropõe f o rmas e t emas

ma i s l i g ados ao con tex to do f aze r co t i d i ano . É uma poé t i c a das

f o rmas s imp l es , na qua l ganham no to r i edade f i gu ras que se

encon t ravam obscu rec i das nos pa l cos g reco - l a t i nos , como os

pequenos p rop r i e t á r i os , os so l dados , os de ba i xa ex t r ação

soc i a l e t oda uma imensa mu l t i d ão anôn ima de dese rdados que

ganham espaço e são rep resen t ados nos seus au tos e comé -

d i as .

O t ea t ro de G i l V i cen t e possu i uma ev iden te f i l i a ção a

mat r i zes de cu l t u ra popu l a r . O r i so f a rsesco se f az p resen te

em mu i t os momen tos da ob ra v i cen t i na , ne l a ocupando pos i ção

de re l evo . F requen tes são as passagens que co l ocam em cena

pe rsonagens de ba i xa cond ição soc i a l , envo lv i dos em s i t uações

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de e l evado g rau de com ic i dade . O r i so se ap resen t a como

componen te subve rs ivo , po tenc i a lmen te capaz de desnuda r

p rá t i c as e pad rões de compor t amen to soc i a l con t r á r i as ao

homem . Bakh t i n ( 20 1 3 ) mos t ra que quem r i r eba i xa o a l vo do

r i so , da í po rque o ach i nca l he sempre f unc iona como a rma de

descons t rução de dou t r i nações i deo l óg i c as ou na r ra t i v as que

v i sam da r sus ten tação a uma de te rm i nada o rdem . A ob ra

v i cen t i na pa rece ve r nas camadas popu l a res uma poss i b i l i d ade

de mod i f i c ação cons i s t en t e da rea l i d ade . Obv i amen te há n i sso

t udo ecos de um p l a t on i smo t a rd i o . Duas rea l i d ades se

mos t ram i r r econc i l i áve i s : de um l ado um n í ve l p l eno de rea l i d a -

de – o das f o rmas popu l a res – , e spéc ie de quase mode l o i dea l

que se co r rompeu ao deca i r pa ra a cond i ção “ rea l " de cu l t u ra

l e t r ada , s imbo l i c amen te assoc i ada às l im i t ações e pe rve rsões

var i adas ; de ou t ro t e r í amos o un i ve rso da cu l t u ra “o f i c i a l ” ou

l e t r ada , cons t i t u í do de imagens sé r i as , quase san t i f i c adas ,

resu l t an t es de uma t en t a t i v a de monumen ta l i z ação da H i s t ó r i a .

É con t r a i sso que se i nsu rge o r i so f a rsesco das t r amas de G i l

V i cen t e .

O t ea t ro v icen t i no gua rda g rande impo r t ânc i a e não

apenas h i s t ó r i c a , sua a t ua l i d ade se p rese rva . Os t emas t r a t a -

dos possuem ce r t a a t empora l i d ade , ca rá t e r que é re f o rçado

pe l o t r a t amen to que é dado a e l e s . Pa r t e das peças e au tos

de G i l V i cen te o f e rece aos l e i t o res mode rnos poss i b i l i d ades de

re f l exão ex i s tenc i a l e t ambém soc i a l . As maze l as v i venc i adas

pe l os pe rsonagens encon t ram eco - a i nda que pa rc i a l - na

cond i ção do homem con temporâneo .

3 A I N F I D E L I D A D E N A L I T E R A T U R A

Segundo B r i t o ( 20 10 ) , as soc i edades pa t r i a rca i s su rg i r am

fundadas no pode r do homem , que se ap resen tava e assum iu

o pode r de mando . Ass im , a sexua l i d ade da mu l he r f o i sendo

cada vez ma i s submet i da aos i n t e resses do homem , t an t o no

repasse dos bens ma te r i a i s , a t r avés de he rança , como na

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r ep rodução da sua l i nhagem . Nes te pe r í odo , a mu l he r e ra

c r i ada no se i o de sua f am í l i a pa ra o casamento , que , na ma i o r i -

a das vezes , e ra a r ran j ado , e os no ivos só se conhec i am no

d i a do casamen to .

O a d u l t é r i o o c o r r e d e s d e o s t em p o s a n t i g o s , d e sd e a G r é c i a , g e r a l m e n t e o h omem t r a i s u a c om p a nh e i r a p o r a t r a ç ã o , p o r d e sc o n t e n t am en t o n o c a s am e n t o , o u p o r s i m p l e s p r a z e r , j á a mu l h e r c ome t e a t r a i ç ã o p o r v i n g a n ç a d o p a r c e i r o , p o r s e s e n t i r s o l i t á r i a e p o r n ã o s e r d e s e j a d a , p r o c u r a d a p o r s e u c omp a n h e i r o , o u a t é m e smo p o r s i m p l e s a t r a ç ã o . E s t e é um a s s u n t o q u e s em p r e l e v a n t a p o l êm i c a e a s s u s t a q u em am a , p o r t e r o p o d e r d e t r a n s f o rm a r a v i d a d o c a s a l em um v e r d a -d e i r o p e s a d e l o ( B R I T O , 2 0 1 0 ) .

Br i t o ( 20 10 ) menc i ona que ou t ro ra o homem não pode r i a

se p r i va r de re l ações amorosas f o ra do casamen to , po i s e ra

a l go que f e r i a e cons t r ang i a a sua mascu l i n i dade e dev i do a

i sso e ra ace i t áve l a po l i g am i a do esposo . Mas i sso e ra res t r i t o

ao esposo , v i s t o que a esposa deve r i a se man te r f i e l e , se

come tesse adu l t é r i o , e ra expu l sa de casa e pe rd i a t odos os

seus d i r e i t os , a t é mesmo a gua rda dos f i l hos . Na l i t e r a tu ra , a

rep resen t ação da mu l he r t r a i do ra e ra v i s t a como o de uma

f i gu ra men t i r osa e sem va l o r , be l a e sedu to ra , que f az i a

qua l que r homem apa i xona r -se po r seus encan tos . De aco rdo

com Gusmão e Nazare t h ( 20 14 ) , a rep resen t ação da t r a i ç ão

f em in i na é um bom e l emen to pa ra se pensa r a ques t ão da

c i r cu l ação de de te rm i nadas f o rmas de cons t rução do romance ,

dos pe rsonagens e de d i ve rsas s i t uações f i c t í c i as po r en t re

d i f e ren tes campos cu l t u ra i s dos sécu l os X IX e XX . Uma ráp i da

re f l exão e um o l ha r nas p r i nc i pa i s ob ras , cu j as pe rsonagens

são mu l he res que t r a í r am seus mar i dos ou seus pa rce i r os só

nos l eva a comprova r que as mu l he res t r a i do ras , são

“ e l im i nadas da f i cção ” .

A p a r t i r d e m e a d o s d o s é c u l o X I X , d i f e r e n t e s e s c r i t o -r e s d e d i c a r am - s e à e s c r i t a d e r om an c e s v o l t a d o s

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p a r a a s i t u a ç ã o d o a d u l t é r i o . C u r i o s am en t e , m u i t a s d e s t a s o b r a s s e n o t a b i l i z am a t é o s d i a s d e h o j e : M a d ame B o v a r y , O P r i m o B a s í l i o , An n a K a r e n i n a , D om C a smu r r o . N o s é c u l o XX , e s t a s o b r a s i n s p i r a r am d i v e r s o s a r t i s t a s , c om o N e l s o n R o d r i g u e s , q u e s e a p r o p r i a d e um a s é r i e d e d i s p o s i t i v o s d e s t e s r om an -c e s p a r a c o n s t r u i r s u a s p e ç a s t r á g i c a s . E s t a s o b r a s , d e c e r t a m a n e i r a , p o d em s e r p e n s a d a s a p a r t i r d a l ó g i c a t a n t o d e s t e “m und o d a s l e t r a s ” n o q u a l e l a s f o r am p r o d u z i d a s c omo d a s m a n e i r a s c om o d e t e rm i n a -d a s q u e s t õ e s e m od e l o s c i r c u l a r am e f o r am u s a d o s p e l o s a r t i s t a s ( GUSMÃO ; NAZAR ET H , 2 0 1 4 ) .

A l i t e r a tu ra po r tuguesa p rocu rou re t r a t a r a i n f i de l i d ade

f em in i na e des t acou um g rande mest re na t emá t i c a adu l t é r i o

f em in i no , que f o i Eça de Que i r ós , pe r tencen te ao rea l i smo

por t uguês . “O Pr imo Bas í l i o de Eça de Que i rós é um romance

r ea l i s t a que re t r a t a a soc i edade bu rguesa L i sboe t a do sécu l o

X IX , se exp ressa a t r avés de um ep i sód i o domést i co , um

adu l t é r i o p ra t i c ado pe l a pe rsonagem p r i nc ipa l , Lu í sa ” (BR ITO ,

20 10 ) . A t emát i c a da i n f i de l i d ade fem in i na p resen te na ob ra O Pr imo Bas í l i o pe rmanece f i e l à na r ra t i v a rea l i s t a e desc r i t i v i s t a .

De aco rdo com B r i t o ( 20 10 ) , Eça de Que i r ós t r a t a em sua t r ama

romanesca as consequênc i as desas t rosas que podem adv i r do

adu l t é r i o e chama a t enção dos seus l e i t o res pa ra aque l es que

se ap rove i t am dos desv i os e das f r aquezas humanas , Lu í sa , a

p ro t agon i s t a , paga ca ro pe l o seu envo lv imen to com Bas í l i o .

A p a l a v r a a d u l t é r i o n o s t r a d u z um s e n t i d o d e p r o i b i -ç ã o l e mb r a d o p o r i n úme r o s s í m b o l o s c omo : p e c a d o , a p e d r e j am en t o , c i n t o s d e c a s t i d a d e , i n f âm i a , h o n r a l a v a d a c om s a n g u e . N o l i v r o “ A l e t r a E s c a r l a t e ” , a a d ú l t e r a c a r r e g a um s í m bo l o , a l e t r a A , p e n d u r a d a n o p e s c o ç o , p o r o n d e e l a f o r , j am a i s p o d e r á t i r a r e s t e s í m b o l o , e s t e é o p r e ç o q u e e l a t e r á d e p a g a r p e l o s e u a t o c om e t i d o , o a d u l t é r i o ( B R I T O , 2 0 1 0 ) .

Segundo B r i t o ( 20 10 ) , a l guns esc r i t o res rea l i s t as c r i t i c a -

vam a bu rgues i a e buscavam mudar o compor t amen to dessa

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c l asse que e ra responsáve l pe l os des t i nos soc i a l , econôm ico ,

po l í t i c o e mora l do pa í s . O Rea l i smo p rocu rava f oca r suas c r í t i -

cas em s i t uações c r i adas após o casamen to , aque l a em que a

c l asse méd i a p rocu rava om i t i r , f i ng i r um pape l de f am í l i a pe r fe i -

t a e mode l o a se r segu i do po r t odos . Ass im , com um o l ha r

vo l t ado pa ra a rea l i d ade , os esc r i t o res rea l i s t as se p ropõem a

exp l o ra r a f undo a t emát i c a i n f i de l i d ade con juga l , r eve l ando -a

mu i t o ma i s f r equen te e comum do que se f az i a imag i na r na

bu rgues i a , f azendo - l he ca i r a másca ra da h i poc r i s i a .

5 A I N F I D E L I DAD E ABOR DADA NA OBRA AUTO DA Í N D I A

O con tex to ge ra l do Au to da Í nd i a é a expansão impe r i a l

por t uguesa do sécu l o XV I . O subcon t i nen t e i nd i ano e ra en t ão a

g rande m i r agem do Or i en t e , r eg i ão de opu l ênc i a pa ra onde

t odos os o l ha res cob içosos se vo l t avam em busca de en r i que -

c imen to f ác i l e ráp i do . Embora a rea l i d ade f osse d i s t an t e do

sonho gananc i oso de t an tos aven tu re i r os , a i l u são do ganho

sem d i f i cu l dades impu ls i onou um e levado número de homens a

embarca r na ca r re i r a das Í nd i as , como e ra en t ão denom inada a

t r avess i a t r ansoceân i ca . Segundo A lves ( 2002 ) , a peça t ea t r a l

v i cen t i na é uma c r í t i ca à d i sso l ução da f am í l i a , deco r ren te , na

ma i o r i a das vezes , do abandono em que f i c avam as mu l he res ,

enquan to os mar i dos se aven tu ravam pe lo mar . Dev i do às

v i agens dos companhe i r os , as mu l he res se sen t i am so l i t á r i as e

come t i am os adu l t é r i os , pa ra sac i a r seus dese j os e von t ades

ma i s í n t imos .

A expansão impe r i a l po r t uguesa ap resen tou uma v i s í ve l

f ace de g rand i os i dade ép i ca . A g randeza do empreend imento

mar í t imo se f ez no ta r pe l os p róp r i os con temporâneos dos

acon tec imen tos . Camões com os Lus í adas ou João de Ba r ros

com sua p rosa h i s t o r i og rá f i c a g l o r i f i c a ram os f e i t os daque l es

que se aven tu ram a desb rava r i nósp i t as e remotas reg i ões de

um con t i nen t e desconhec i do . A cons t rução d i scu rs iva v i cen t i na

é t enden te à descons t rução dessa v i são m i t i f i c ada dos f a t os .

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O Au to da Í nd i a ap resen ta uma v i são an t i ép i ca ao p r i v i l e g i a r

uma pe rcepção do desen ro l a r dos i nc i den tes po r v i és daqu i l o

que mode rnamen te denom ina r í amos de m i c ro -h i s t ó r i a . D i t o em

ou t ros t e rmos , o l e i t o r se vê d i an t e de um re l a t o que t r aduz

pa ra o o l ha r mode rno a l gumas das i nqu i e t ações das pessoas

comuns - que nada t i nham de he ro i c as - d i an t e de um p roces -

so h i s t ó r i co de g rande enve rgadu ra .

O tema do Au to da Í nd i a re t r a t a um p rob l ema soc i a l

ev i den t e , que é o adu l t é r i o f em in i no . Es t e oco r re em v i r t ude da

ausênc i a mascu l i n a no l a r , c i r cuns t ânc i a mu i t o usua l naque l a

con j un tu ra h i s t ó r i c a . A p ro t agon i s t a f em in i na da t r ama se

a f i rma pe ran t e a uma con jun tu ra soc i a lmen te des f avo ráve l ao

sexo e se recusa a ace i t a r no rmas e pad rões compor t amen ta i s

po r e l a t i dos como cas t r ado res do dese j o . O abandono deco r -

ren te da p ro l ongada ausênc i a do seu conso r t e a f az t eme r

pe l a imposs i b i l i d ade de f i n i t i va de rea l i z ação de asp i r ações e

dese j os sexua i s rep r im i dos . As j us t i f i ca t i v as po r e l a p ropos t as

pa ra o adu l t é r i o que vem a se r consumado passam pe l a

cons t rução de um d i scu rso que desmora l i z a o p rocesso

expans i on i s t a , ao desnuda r sua f ace pe rve rsa de maze l as sem

con t a p ropo rc i onadas às mu l he res dos mar i nhe i r os . É necessá -

r i o sub l i nha r que a g rande ma io r i a des tes nau t as que pa r t i am

em busca de t esou ros e en r i quec imen to não reg ressavam ao

l a r ; os mot i vos e ram va r i ados , en t re os p r i nc i pa i s devem -se

ass i na l a r as mor tes ao l ongo da t r avess i a , em comba tes com

na t i vos , ou s imp l esmen te po rque reso lv i am f i xa r res i dênc i a no

con t i nen te e l á pe rmanece r em de f i n i t i vo .

“A Ama anse i a po r um amor l i v re de p reconce i t os e de

amar ras ” (ALVES , 2002 , p . 65 ) . Nessa aguda obse rvação c r í t i c a

t emos um dos componentes f undamen ta i s pa ra compreende r o

compor t amen to adú l t e ro da p ro t agon i s t a . E l a sen te g rande

t éd i o da sua re l ação con juga l , sempre des respe i t ou seu mar i do

a t é quando e l e f az i a v i agens de cu r t a du ração ou quando e l e

sa í a pa ra pesca r i a . Cons t ança v i v i a de apa rênc i as e sempre se

p reocupava com a op i n i ão do mar i do , dos aman tes e dos

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v iz inhos , po is quer ia manter sua in tegr idade e de seu casamento

a sa l vo de comen tá r i os des respe i t osos . Ass im , e l a c r i ou um

mundo de i l u sões e passou a men t i r pa ra t odos , mas não

consegu i a engana r a Moça , que e ra sua c r i ada f i e l (CLARO ,

20 1 6 ) . En t re as duas pe rsonagens se es t abe l ece uma re l ação

de t ensão que nos mos t ra as p re fe rênc i as es té t i co - i deo l óg i c as

do au to r . A se rva most ra -se pa r t i dá r i a de uma v i são de mundo

ma i s coe ren te e sensa t a , há ne l a uma ponde ração que se

encon t ra po r i n t e i r o ausen te na he ro í na . Com i sso , G i l V icen te

pa rece i nc l i n a r -se pa ra uma rep resen t ação ma i s pos i t i v a das

camadas popu l a res , t enc i onando de i xa r ev iden t es suas v i r t u -

des e pad rões e l evados de compor t amen to .

Nes t a f a rsa , a f a l s i dade e h i poc r i s i a são ev i den tes , apesa r

do compor t amen to da pe rsonagem p r i nc ipa l se r c l a r amente

i mo ra l . “G i l V i cen te exp l o rou , com i n t u i t os côm icos , um t r aço

ca rac te r í s t i c o da pe rsona l i d ade da Ama : sua adap t ab i l i d ade às

s i t uações ma i s embaraçosas , de modo a sa i r -se bem de t odas

e l as ” (ALVES , 2002 , p . 66 ) . Ama p rocu rava t r ansm i t i r uma

i magem nega t iva do mar i do , mas podemos obse rva r a t r avés

das f a l as da Moça que houve um i n tenc i ona l p rocesso de

demon i zação do Ou t ro . O mar i do de Cons t ança é ap resen t ado

em cena como um crédu l o , que conf i a i n t e i r amen te em sua

esposa . E l e não se mos t ra capaz de pe rcebe r o embus te no

qua l f o i en redado . A capac i dade da p ro t agon i s t a f em in i na de

l ud i b r i a r se f az ma i s ev i den te - com ma i o r g rau de com ic i dade

- nas cenas f i na i s do au to . Reg ressando o desa fo r t unado

mar i do de sua i ncu rsão ma l suced i da ao Or i en te , da qua l nada

de g l o r i oso redundou , nem mesmo r i quezas ma te r i a i s , apenas

desg raças e i n f o r tún i os , a esposa so l i d á r i a , mas apenas f a l sa -

mente so l i d á r i a , debu l ha -se em l ág r imas , mas que e ram

ve rdade i r amen te de i nsa t i s f ação pe l o re to rno daque l e que se

cons t i t u i em empec i l ho ao desab rocha r dos dese j os rep r im i dos .

A c r e d u l i d a d e p a r v a d o M a r i d o s e p a t e n t e i a , p r i n c i p a l -

m e n t e , n o f i n a l d a f a r s a , q u a n d o c h e g o u d e v i a g em

s em a r i q u e z a q u e j u l g a v a p o d e r ame a l h a r n a Í n d i a , e

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a m u l h e r l h e p e d e o r e l a t o d a s a v e n t u r a s . E n q u a n t o o

M a r i d o l h e c o n t a s u a s d e s g r a ç a s , a Am a d i z q u e

t am bém mu i t o s o f r e r a d u r a n t e a a u s ê n c i a d o m a r i d o

( A LVES , 2 0 0 2 , p . 6 6 ) .

Há nes t a peça , sob re t udo , uma fo r te i n tenção c r í t i c a às

cenas de adu l t é r i os , ao compor t amen to dúp l i c e da pe rsonagem

p r i nc i pa l , a p rese rvação da imagem púb l i ca de uma mu l he r

hones t a e um conv i t e à re f l exão . O au tor da peça t ea t r a l

de fende e va l o r i za a é t i c a e c r i t i c a a mu l he r i n te resse i r a , a

c r i ada cúmp l i ce , a f a l t a de amor e empa t i a po r pa r t e da esposa

i n f i e l , que não possu i ca rá t e r e não tem respe i t o pe l os sen t i -

mentos do seu mar i do e de seus aman tes . E l a f i nge se r uma

mu l he r de boa í ndo le e í n teg ra pe ran te à soc i edade da época ,

mas na ve rdade é c rue l , amb i c i osa , ego í s ta e an t ropocen t r i s t a .

Só pensa no seu bem es t a r e f i nge pa ra seu esposo que se

p reocupa com e l e , sendo que na ve rdade e l a es t á i n te ressada

no t esou ro que seu mar i do t rouxe da v i agem . G i l V i cen t e

i l u s t rou mu i t o bem o re t r a to da soc i edade da época , com suas

c r í t i c as soc i a i s e com um ca rá te r mora l i z an te e sa t í r i c o ace rca

de sua peça tea t r a l .

6 C O N S I D E R A Ç Õ E S F I N A I S

A p resen te aná l i se nasceu do ap ro fundamento ma i s espe -

c í f i co e re f l ex i vo das concepções da i n f i de l i d ade no t ea t ro

v i cen t i no , com base em um es tudo sob re o Au to da Í nd i a de

G i l V i cen te , que f az pa r t e da l i t e r a tu ra po r tuguesa . É i n t e res -

san te no t a r que a represen t ação do adu l t é r i o se mod i f i c ou no

deco r re r do t empo , desde um pe r í odo h i s t ó r i co da peça t ea t r a l

a t é os d i as a t ua i s , p r i nc i pa lmen te , dev i do ao pape l em que a

mu l he r vem desempenhando quando se t r a t a de i gua l dade e

p r i nc í p i os democ rá t i cos em suas re l ações pessoa i s . Con tudo , é

impo r t an t e ve r i f i ca r que o a t o de t r a i r envo l ve uma ques t ão de

va l o res mora i s e cu l t u ra i s , e l ementos que f azem pa r t e do me i o

em que o i nd i v í duo es t á i nse r i do . En t re t an to , i sso f az pensa r

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que as i nsa t i s f ações no re l ac i onamen to ap resen t am sa í das

poss í ve i s , med i an te o descon ten tamen to de um ou de ambos

os pa rce i r os . Em con t rapa r t i da , uma re l ação con juga l pode se r

rec í p roca e a t ende r às necess i dades dos envo lv i dos . Po rém ,

se oco r re uma s i t uação de i n f i de l i d ade , no t a -se que há uma

queb ra de con f i ança na qua l é p rec i so es tabe lece r ress i gn i f i -

cados pa ra pode r p rese rva r o re l ac i onamento . Conc l u i - se ,

ass im , po r me i o dessa pesqu i sa , que o au tor c r i t i c ava e sa t i r i -

zava a imo ra l i d ade e ou t ros cos tumes soc i a lmen te condenáve i s

da época , a t r avés de suas peças tea t r a i s .

Resumen : E l ob je t ivo de es te estud io es cont r ibu i r para una me jo r

comprens i ón de l as concepc i ones de l a rep resen t ac i ón sob re l a

i n f i de l i d ad en e l t ea t ro v icen t i no , a par t i r de l a l ec tu ra de l a ob ra

A u t o d e l a I n d i a . E l a n á l i s i s s e d e s a r r o l l a a p a r t i r d e l a

pe rspec t i va de que l a ob ra v i cen t i na se apoya en l a r i sa como

f o rma d e de sc on s t r uc c i ó n d e p ad r o n e s s oc i a l e s t e n d i e n t e s a

h ace r r e f e r e nc i a a un d i s cu r s o i d eo l ó g i c o op re so r . E l a u t o en

cues t i ó n re t r a t a una v i s i ó n an t i é p i c a de l p roceso de expans i ó n

i m pe r i a l p o r t u g u e s a d e l o s s i g l o s XV y XV I , p o r med i o d e l a

r e p r e s e n t a c i ó n f a r s e s c a d e t i p o s s o c i a l e s i n t e g r a n t e s d e l a

soc i edad po r t uguesa de aque l pe r í odo . P a r a l a cons t rucc i ón de

e s t e a r t í c u l o , f u e r e a l i z a d a u n a i n v e s t i g a c i ó n b a s ad a e n u n a

r e v i s i ó n b i b l i o g r á f i c a s o b r e a d u l t e r i o f e m e n i n o e n e l t e a t r o

v i c e n t i n o . R e f e r e n t e a l a n á l i s i s , s e t u v i e r o n e n c u e n t a l a s

cons i de r ac i o nes de A lve s ( 2002 ) , Cos t a e Cenc i ( 20 14 ) , Bakh t i n

( 20 13 ) , B r i t o ( 20 10 ) , Gusmão e Naza re th (20 14 ) , Maga lhães (2009 ) ,

More i ra (2013 ) , Pa lme la (2010 ) , Zachar ias (201 1 ) y C la ro (2016 ) .

Pa labras c lave : G i l V icente . Auto de la Ind ia . In f ide l i dad .

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