a importÂncia da acolhida Às crianÇas na...

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1 ¹Educadora Infantil, Pedagoga e Apoio Pedagógico na UEIIA e Especialista em Artes na Educação pela UNOESTE. ²Doutoranda em Educação na UFSM, Professora Referência e Chefe do Departamento de Ensino, Pesquisa e Extensão na UEIIA. ¹²Participantes do Projeto de Pesquisa “Unidade de Educação Infantil Ipê Amarelo: A Constituição de uma Unidade de Ensino, Pesquisa e Extensão na UFSMA IMPORTÂNCIA DA ACOLHIDA ÀS CRIANÇAS NA ESCOLA EDUCAÇÃO INFANTIL: EXPERIÊNCIAS VIVIDAS NA UEIIA Interculturalidade e Diversidade nas Ações Educacionais Ana Carla Bayer da Silva¹ Juliana Goelzer 2 RESUMO É dever dos professores de Educação Infantil garantir que todas as crianças tenham seus direitos garantidos (CAMPOS; ROSEMBERG, 2009), o que requer que todas as crianças sejam respeitadas em suas especificidades nos espaços educativos construídos com e para elas. Compreendemos que uma das formas de respeitar os direitos e suas singularidades é garantir uma forma de acolhimento respeitosa e afetiva; nesse sentido, temos nos desafiado, na Unidade de Educação Infantil Ipê Amarelo (UEIIA) a qualificar os espaços e as formas de acolhimento às crianças no cotidiano. O objetivo deste trabalho foi proporcionar diferentes formas de acolhimento, não como uma proposta rotineira, mas com olhar atento e escuta sensível para contemplar o que de fato é significativo para as crianças. Disponibilizamos diferentes espaços e materiais para que as crianças pudessem vivenciar de acordo com a sua particularidade, curiosidades e necessidades, vivenciando e respeitando suas construções, criatividades e brincadeiras. Concluímos que os momentos de acolhidas é um processo de aprendizagens significativas, de múltiplas relações, construção de sentidos e variedades de escolhas entre as crianças. Compreendemos, assim, que planejar e refletir sobre essa acolhida é uma forma importante de respeitar os direitos e as individualidades das crianças. Palavras-Chave: Práticas de Acolhimento, Planejamento, Registro, Educação Infantil.

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1 ¹Educadora Infantil, Pedagoga e Apoio Pedagógico na UEIIA e Especialista em Artes na Educação pela UNOESTE. ²Doutoranda em Educação na UFSM, Professora Referência e Chefe do Departamento de Ensino, Pesquisa e Extensão na UEIIA. ¹²Participantes do Projeto de Pesquisa “Unidade de Educação Infantil Ipê Amarelo: A Constituição de uma Unidade de Ensino, Pesquisa e Extensão na UFSM”

A IMPORTÂNCIA DA ACOLHIDA ÀS CRIANÇAS NA ESCOLA EDUCAÇÃO

INFANTIL: EXPERIÊNCIAS VIVIDAS NA UEIIA

Interculturalidade e Diversidade nas Ações Educacionais

Ana Carla Bayer da Silva¹ Juliana Goelzer2

RESUMO É dever dos professores de Educação Infantil garantir que todas as crianças tenham seus direitos garantidos (CAMPOS; ROSEMBERG, 2009), o que requer que todas as crianças sejam respeitadas em suas especificidades nos espaços educativos construídos com e para elas. Compreendemos que uma das formas de respeitar os direitos e suas singularidades é garantir uma forma de acolhimento respeitosa e afetiva; nesse sentido, temos nos desafiado, na Unidade de Educação Infantil Ipê Amarelo (UEIIA) a qualificar os espaços e as formas de acolhimento às crianças no cotidiano. O objetivo deste trabalho foi proporcionar diferentes formas de acolhimento, não como uma proposta rotineira, mas com olhar atento e escuta sensível para contemplar o que de fato é significativo para as crianças. Disponibilizamos diferentes espaços e materiais para que as crianças pudessem vivenciar de acordo com a sua particularidade, curiosidades e necessidades, vivenciando e respeitando suas construções, criatividades e brincadeiras. Concluímos que os momentos de acolhidas é um processo de aprendizagens significativas, de múltiplas relações, construção de sentidos e variedades de escolhas entre as crianças. Compreendemos, assim, que planejar e refletir sobre essa acolhida é uma forma importante de respeitar os direitos e as individualidades das crianças.

Palavras-Chave: Práticas de Acolhimento, Planejamento, Registro, Educação Infantil.

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INTRODUÇÃO

A partir do grupo de estudos da UEIIA, na qual somos participantes do Projeto

de Pesquisa “Unidade de Educação Infantil Ipê Amarelo: A Constituição de uma

Unidade de Ensino, Pesquisa e Extensão na UFSM”, refletimos diariamente a

respeito do contexto escolar de Educação Infantil, sobre a organização do cotidiano

e de como qualificar o trabalho no âmbito da educação. Atuamos como docentes

(professora/Educadora Infantil) na UEIIA, este contexto possibilita acesso a

exposições e participação em eventos culturais e científicos, fazendo parte da

Universidade Federal de Santa Maria. Apresentamos informações relevantes do

Projeto Político Pedagógico da Escola, para situar o leitor e propiciar o

conhecimento necessário dessa realidade.

Atualmente a escola é uma Unidade de Educação Infantil chamada Ipê

Amarelo (UEIIA), na qual propicia às crianças, condições de ampliação de suas

experiências, valorização do seu saber, dando-lhes oportunidades de compreender

e transformar o mundo e as relações (sociais, culturais, políticos, econômicas, etc.)

em que vive, de forma crítica e criativa. A escola tem como proposta as multiidades,

atendendo crianças de diferentes faixas etárias, além de ter como foco a crianças

como protagonistas, que requer atendimento e atividades que respeitem suas

especificidades, para que possam participar das construções de conhecimento como

sujeitos ativo. As turmas são organizadas por cores do arco-íris: Vermelho, Amarelo,

Verde, Azul, Azul Anil, Laranja e Violeta. Pois acreditamos, que as relações se

estabelecem de diferentes formas, é através da espontaneidade das interações

entre as crianças, que elas estão construindo relações de amizade e de respeito.

A Turma na qual desenvolvemos as práticas de acolhida foi a Turma Verde,

que possuía aproximadamente vinte crianças, no ano de 2015. A organização da

faixa etária era de 3 a 6 anos, contemplando maior número de meninos que são 15 e

apenas 5 meninas. Diante das observações realizadas e dos registros, percebemos

a necessidade de qualificar a acolhida, momento de suma importância para as

crianças pois, é o tempo em que se despedem de seus familiares, deixam seus lares

para permanência na Escola. Muitas destas crianças fazem parte do turno integral,

permanecendo em torno de nove horas na Escola, tempo que precisa ser projetado

para melhor acolher, buscamos potencializar os questionamentos, potencialidade e

curiosidade das crianças que refletiu na construção dos planejamentos.

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DESENVOLVIMENTO

Através dos estudos realizados pelo projeto de pesquisa dos professores da

UEIIA, somos instigadas a refletir sobre a nossa prática de modo que pudéssemos

propor algo diferenciado para dar conta das demandas da turma. Nos fazendo

remeter diversos assuntos, entre eles o “Tempo de escola tem se apropriado, cada

vez mais, da infância”. Diante deste fato, buscamos transcender algumas situações

que nos desafiavam a pensar sobre estes momentos de acolhida na Turma (período

em que as crianças chegam a escola).

Quanto profissionais da educação, precisamos compreender sobre a

concepção de infância e qual é o nosso papel em termos de comprometimento e

garantir o direito das crianças a serem respeitadas em suas especificidades e nos

espaços educativos construídos por elas. Nesse aspecto nos desafiamos a buscar,

criar e redimensionar novas acolhidas, não como uma proposta rotineira, mas com

olhar atento e a escuta sensível para contemplar o que de fato é significativo para

crianças, propiciando assim experiências inovadoras que contemplem as

especificidades, curiosidades e atualidades para a turma.

A cada dia, preparávamos a sala e os aguardávamos ansiosamente para

saber qual seria a reação de cada um dos pequenos. Normalmente utilizávamos

diversos jogos sobre a mesa, além de folhas com diversos materiais como: Cola,

tesoura, lápis de cores, giz de cera, tintas e pincéis. Porém, somente alguns

escolhiam tais “cantinhos”, a maioria preferia brincar com brinquedos que traziam de

casa. Diante a este fato, compreendemos a importância de trazer os brinquedos e

emprestá-lo, como exemplo: Condutas como a timidez, a seleção do brinquedo, a

não participação em brincadeiras e a dificuldade de relacionamentos com o grupo ou

com as professoras da Turma. Conforme Azevedo:

O brinquedo faz parceria com a criança na brincadeira. Ao se observar a criança brincar, pode-se obter uma série de informações sobre ela, considerando algumas características da relação criança-brinquedo, tais como: preferência por este ou aquele brinquedo; tempo de permanência no Brinquedo escolhido; contato com a variedade e número de desafios que o brinquedo proporciona; quantidade de brinquedos com que a criança brinca ao mesmo tempo; material com o qual o brinquedo é construído e sua atratividade sobre a criança.(AZEVEDO apud BOMTEMPO, 1998 p.64),

Compreendemos que o brinquedo trazido pelas crianças é objeto que

transmite segurança e muitas vezes possui uma forte relação afetiva, porém, é de

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suma importância que as crianças vivenciem outras práticas para desenvolver-se

nas múltiplas linguagens, a ludicidade, alimentando a imaginação e auxiliando na

construção da autonomia. Kramer (1993), nos remete algumas considerações sobre

a dinâmica do trabalho das professoras com as crianças para construir um ambiente

de confiança e cooperação, de segurança e afetividade, relatando que:

[...] a dinâmica do trabalho do professor é sustentada principalmente pelas relações que estão estabelecidas com as crianças e entre elas. Conhecer os próprios limites, enfrentar os problemas e expô-los ao demais colegas e a equipe pedagógica são requisitos capazes de auxiliar os professores a perceber e ultrapassar defasagens ainda existentes entre a sua prática e a proposta pedagógica que a norteia. (KRAMER, 1993 p.85)

Destacamos que a Turma de crianças que constituem a Turma Verde, são

extremamente criativas e que adoram explorar e vivenciar o mundo adulto,

principalmente as profissões. Diante desta realidade e através da escuta sensível da

professora, proporcionamos as crianças uma recepção com chá da manhã.

Conforme as crianças chegavam a sala de aula se maravilhavam com a sua

acolhida. -Nossa profe! Tudo isso é pra nós? (Fala da criança L. T.).

Na mesa havia xícaras, pratos e bules de porcelana, além de bolachinhas,

margarina e chá de maça, preferida pela turma. Em pouco tempo, já surgiram

algumas brincadeiras perante o chá. –Já sei eu vou ser o Garçom! (fala do P. M). As

Demais crianças compreenderam o recado: -Um chazinho pra mim, por favor! (Fala

do R. S). –Com licença, quero bolachas com misturas. (Fala do L. T). Estas falas

foram retiradas do nosso registro diário, ficamos surpresas com tamanho

envolvimento das crianças com que havia sido proposto. As crianças permaneceram

aproximadamente mais de duas horas, explorando os objetos da mesa e brincando

de clientes e garçons.

Ao retomar os registros, compreendemos a sua importância, pois refletimos o

que foi vivenciado pelas crianças. Conforme Cecília Warschawer o registro é um

instrumento pedagógico dos alunos e dos professores, que traça a história do

desenvolvimento individual e coletivo do grupo.

Segundo WARSCHAWER (1993, p. 61):

Registrar é deixar marcas. Marcas que retratam uma história vivida. [...] registrar a própria prática pode ser um rico instrumento para o professor que busca reconstruir os conhecimentos junto com seus alunos, porque o retrato vivido proporciona condições especiais no ato de refletir. ”

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O registro nos auxilia na observação e na reflexão, a partir das vivências

expostas no papel, é possível reviver este momento e assim, traz a percepção do

significado que está “por trás” das brincadeiras e falas das crianças, originando a

necessidade de refletir e condições para realizar aprendizagens significativas para a

turma de Educação Infantil.

Fotos de arquivo pessoal.

Outro momento que foi de extrema importância para a turma, foi uma acolhida

na sala de aula com diferentes aromas. Foi proporcionado as crianças diversos

chás, sementes e folhas como: Alecrim, cravo, casca de laranja e limão, arruda, ...

quando as crianças chegaram a sala, ficaram curiosas para saber o que havia no

varal, e aqueles diversos aromas que se misturavam através do tule que os envolvia.

Novamente buscando os registros, observei uma suposição de uma das crianças

sobre o Cravo: “É profe, isto aqui são galhos né”! (L.T.) ao cheirar as folhas de

Arrudas uma criança se espantou com o mau cheiro: “Nossa, este aqui é muito

fedorento”, e com a mão colocou o dedo no nariz.

Esta acolhida nos fez refletir sobre os conhecimentos prévios das crianças,

ouvir suas suposições e refletir acerca de cada fala e expressão. Construímos junto

com as crianças diversos “significados”, desenvolvendo a criatividades, as emoções

e o lúdico. Quando a criança C.M nos relatou que ao cheirar a casca da laranja

lembrou do Arroio, lugar aonde a família possui uma chácara. O aroma remeteu a

ideia do lugar aonde a criança vive com os pais, fortalecendo a ideia de sua

singularidade, sendo também instrumento e autoconhecimento.

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Fotos de arquivo pessoal.

Partindo da ideia e opinião das crianças da Turma Verde, realizamos a Festa

do Pijama. Pedimos as famílias para que as crianças pudessem vir de pantufas,

pijamas, trouxessem também cobertas, travesseiros e lanternas. As crianças ficaram

muito animadas com a festa, ao chegar na escola, a criança (Y.R) olhou encantado

para as luzes que enfeitavam a sala de aula e disse: “Feliz dia da festa do pijama!!!”.

Ao planejar os diferentes espaços/tempos e materiais, no tatame ficaram as

caminhas das crianças, nas mesas jogos e outro cantinho com abajur com luzes

vermelhas, lupas e matérias de investigação. Outra proposta oferecida as crianças

além da festa e música para dançar, foi os “contos de terror”. As crianças adoraram

a ideia, ficaram atentos na história da autora Ana Maria Machado, chamada: O

Domador de Monstros. O livro conta a história de Sérgio, um menino que às vezes

era corajoso, outras vezes ficava com medo de “monstros” que iam se formando na

parede do quarto dele...uma história divertida e que de uma maneira engraçada e

bem discreta mostra para a criança que não é preciso ter medo de monstros

imaginados em seus quartos. As crianças riam de cada monstro criado pelo

personagem e comentavam: “Esse é muito feio, mas eu nem tenho medo (YR). ”

Através da história, desencadeou diversas opiniões sobre os medos que as crianças

tinham, algumas se tornaram corajosas, enquanto outras puderam expor o que

estavam sentindo.

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Fotos de arquivo pessoal.

Por fim, outro momento muito significativo para as crianças foi a recepção

com a festa do Vinil. As crianças foram recebidas com diversos discos pendurados,

além do toca disco, jogos de luzes e uma turma convidada, Azul Anil. Pensamos

nesta acolhida, pelo fato de termos recebido como doação som toca discos, as

crianças perguntavam a todo momento o que era o tal objeto e como funcionava. As

crianças se divertiram com a festa, mas mais ainda foi mexer no aparelho,

aprenderam sobre os discos e apertar os botões que deixavam as músicas rápidas e

lentas.

A criança (R.S), nos contou que os pai também possuíam um toca discos em

casa: “No trabalho da minha mãe tem toca discos, ela também escuta e a gente

gosta.” A maioria não conhecia, então expliquei que antigamente não existiam CDs e

pen drives, que comprávamos os “bolachões”, famosos discos para ouvir as músicas

que gostávamos.

Observamos que a música está presente em acontecimentos diversificados,

as crianças possuem acesso a diversos tipos de músicas como: infantil, religiosa,

instrumental, vocal, erudita, popular e para dançar. Trouxe esta antiguidade para

apresentar a eles as mudanças que ocorrem e a diversidade musical, já que os

materiais sonoros são diferenciados.

Conforme Faria (2012), devemos propiciar diversos momentos e

possibilidades:

Evidencia-se, dessa forma, o papel das Instituições de Educação Infantil, ao organizar seu currículo, de possibilitar que as crianças vivenciem o máximo de experiências, partindo daquelas que suas condições concretas de vida lhes permitem acessar e ampliando seus conhecimentos sobre o mundo. Evidencia-se, ainda, como seria inadequado limitar as possibilidades de exploração desse mundo a conteúdos e formas fechadas, restritas, inflexíveis, que não consideram as múltiplas dimensões do seu processo de

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aprendizagem e desenvolvimento e que não se abrem para os interesses das crianças. (FARIA, 2012, p.13).

Fotos de arquivo pessoal

Isto se deve ao fato que a criança precisa conhecer e compreender a música,

desta forma, poderá estabelecer vínculos com diversos gêneros e estilos que mais

tenham significado para ela. Embora, não tenha sido uma aula música propriamente

dita, as crianças exploraram e manusearam o aparelho, ouviram e dançaram as

músicas que tocava. Por meio do movimento e da dança nós interagimos

corporalmente com a mesma, apreciando sua beleza ao escutar com atenção uma

obra musical. Transmitiram com emoção e alegria as músicas tocadas, interpretando

em tocar os instrumentos e cantando.

Logo os grupos se dividiram, e conforme os vínculos as crianças foram

brincar, alguns de desenhar, outros com legos, alguns preferiram manusear os livros

e alguns com diferenciados brinquedos, enquanto a música ainda tocava, alguns se

balançavam e outros continuavam dançando no palquinho.

Segundo FREIRE (p.42, 1996):

O que sempre deliberadamente recusei, em nome do próprio respeito à liberdade, foi sua distorção em licenciosidade. O que sempre procurei foi viver em plenitude a relação tensa, contraditória e não mecânica, entre autoridade e liberdade, no sentido de assegurar o respeito entre ambas, cuja ruptura provoca a hipertrofia de uma ou de outra.

É interessante observar como, de modo geral, as crianças foram se

organizando conforme sua vontade, nós docentes, devemos respeitar a autonomia

das crianças, esta que é indispensável à liberdade de expressão e da

espontaneidade. Assim contribuindo para a construção da autonomia das crianças,

não impondo como fazer, mas criando diversas formas de expressão.

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CONCLUSÃO

Quando questionadas sobre o que nos desafiava, já nos remetia à nossa

mente à acolhida. Algumas vezes preparávamos o espaço e materiais por longo

períodos, buscando algo que inconscientemente nós gostaríamos que fosse

realizado, porém, algumas vezes não era o que as crianças realmente queriam

fazer. Como relatamos anteriormente, nos frustrava o fato de preparar uma acolhida

e a maioria das crianças não demonstrarem interesse em participar.

Diante disso, precisamos buscar e pesquisar nossos registros e nos

aprofundar em diversas leituras, para melhor descobrir e criar novas formas de

acolhimento. Refletimos que estas práticas de acolhidas deveriam permanecer

durante todo o processo de vida na escolar. Isto se deve ao fato que o desafio do

educador é construir vínculos especiais com cada criança e o acolher é inclusão no

sentido mais profundo de respeito ao outro que chega, trazendo muitas vezes

insegurança, desafios, necessidades de romper provisoriamente laços, jeito de ser e

de viver. É confortável chegar e perceber-se acolhido, receber gestos de simpatia,

de carinho, de envolvimento, de compreensão e de aceitação.

O educador precisa ter sensibilidade de estar atento às crianças, um olhar

sensível e ouvidos atentos como um exercício de descoberta de quem são aquelas

crianças, suas histórias de vida e de família. Durante este processo percebi que

quando somos bem acolhidos, sentimo-nos confortáveis e esperançosos de que

estar naquele espaço pode ser bom e possível de ser feliz. Esses sentimentos não

são próprios de adultos, pertencem também aos bebês, crianças, jovens que tem na

acolhida a sensação de porto seguro.

Portanto é por meio da qualidade do acolhimento é que garantirá a qualidade

da adaptação, portanto não se trata de uma opção pessoal, mas de compreender

que há uma relação de movimentos tanto da criança como da instituição dentro de

um mesmo processo.

Outro fator que é indispensável nesta acolhida e a forma de como pode ser

organizado o tempo/espaços e materiais. Diante da concepção de acolhimento é

necessário organizar da melhor forma possível o espaço físico da escola para

atender às especificidades de cada turma e dos alunos individualmente.

Consideramos alguns aspectos importantes, por exemplo: que os materiais estejam

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ao acesso dos alunos, que haja uma boa circulação entre os espaços para favorecer

a construção da autonomia, o uso ou não de mesas e a organização destas em

grupos ou isoladas, conforme os objetivos a serem atingidos em cada proposta, a

limpeza e manutenção dos materiais visando a saúde, segurança e integridade dos

alunos.

O trabalho pedagógico organizado na UEIIA tem como suma importância: o

cuidar e educar são aspectos integrados, se faz pela criação de um ambiente em

que a criança se sinta segura, satisfeita em suas necessidades. Acolhida em sua

maneira de ser, onde ela possa trabalhar de forma adequada suas emoções e lidar

com seus medos, sua raiva, seus ciúmes, sua apatia e possa construir hipóteses

sobre o mundo e elaborar sua Identidade.

Com base nessas condições, as DCNEIs apontam que as instituições de

Educação Infantil, na organização de sua proposta pedagógica e curricular,

necessitam:

Criar condições para que as crianças participem de diversas formas de agrupamento (grupos de mesma idade e grupos de diferentes idades), formados com base em critérios estritamente pedagógicos, respeitando o desenvolvimento físico, social e linguístico de cada criança. (MORAES 2010, p.11).

Por este motivo, muitas vezes nas acolhidas, optamos por fazer integrações

entre as crianças com diferentes faixas etárias. Para melhor abranger diferentes

aspectos culturais, formas de relacionamentos e interações como foco de

aprendizagem.

Durante o período das acolhidas diferenciadas que foram desenvolvidas para

as crianças, pude constatar como educadora as minhas ações planejadas e

estudadas para propor em prática o plano de ação a turma verde. Assim como

processo de reflexão não apenas após o término das acolhidas, mas também

durante a ação, conforme JOLY (2003, p. 121):

“No processo de reflexão na ação, uma outra concepção sobre o conhecimento e sobre o ensino advém daqueles professores que deram razão ao aluno. Nesse caso, trata-se de professores curiosos, que prestam atenção em seu grupo de alunos, ouvem cada um deles, surpreendem e atuam de acordo com as particularidades de cada um. É aquele professor que se esforça para ir ao encontro do aluno, para entender o processo do conhecimento. ”

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Dessa maneira, compreendemos e apreendemos a valorizar os

conhecimentos prévios dos alunos, respeitar as suas vontades, a instigá-los e fazer

da acolhida um momento valioso para eles. Apresentando essa liberdade como uma

ferramenta valiosa na prática educativa, eles não são obrigados a fazer o que lhe és

proposto, mas me esforcei para que tudo que foi proporcionado fosse de estremo

agrado, por isso a importância de conhecer as especificidades de cada um e do

grupo como um todo.

Verificar a transformação da nossa prática foi muito relevante para a nossa

formação profissional. Como ressalta Moita “Ninguém se forma no vazio”. Formar-se

supõe troca, experiência, interações sociais, aprendizagens, um sem fim das

relações”. (MOITA,1992, p.115)

Sendo assim estamos em constante formação se nossa ação estiver sempre

acompanhada da reflexão durante e depois da prática. De acordo com Freire

“Ninguém nasce educador ou marcado para ser educador. A gente se faz educador,

a gente se forma como educador, permanentemente, na prática e na reflexão sobre

a prática”. (FREIRE, 2000, p. 58)

Diante das práticas de acolhimento, observamos e construímos os momentos

de acolhidas como um processo de aprendizagens significativas, múltiplas relações,

construção de sentidos e variedades de escolhas entre as crianças. Assim buscando

experimentar e vivenciar diversas possibilidades para por em prática a criatividade e

o desenvolvimento das crianças, além de torná-las autônomas, críticas e felizes ao

retornarem para escola. Esta prática continua sendo vivenciada não somente pela

Turma Verde, mas por todas as Turmas da UEIIA, diariamente as professoras

realizam a escuta das crianças, utilizando o registro para que possam planejar e

proporcionar este momento de acolhida de forma significativa e prazerosa. Que este

bem estar faça a parte da vivencia diária escolar não somente vivida na educação

infantil, mas que seja lembrada também na sua vida adulta.

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REFERÊNCIAS

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BARBOSA, Maria Carmen. Os Resultados da Avaliação de Propostas Curriculares para a Educação Infantil dos Municípios Brasileiros. Belo Horizonte, 2010.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes curriculares nacionais para a educação infantil / Secretaria de Educação Básica. – Brasília : MEC, SEB, 2010.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC, v3

CAMPOS, Maria Malta; ROSEMBERG, Fúlvia. Critérios para um atendimento em creches que respeite os direitos fundamentais das crianças. 2.ed. Brasília: MEC. 2009.

MACEDO, Elina. Culturas Infantis em creches e pré-escolas: estágio e pesquisa. Campinas, SP, 2011.

FARIA, Vitória; SALLES, Fátima. Currículo na Educação Infantil: Diálogos com os demais elementos da Proposta Pedagógicas-2.ed- São Paulo: Ática, 2012.

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FREIRE, Paulo. A educação na cidade. 4°ed. São Paulo: Cortez, 2000.

JOLY, Ilza. Educação e Educação Musical: conhecimentos para compreender a criança e suas relações com a música. Propostas para pensar e agir em sala de aula. São Paulo: Ed Moderna, 2003.

KRAMER, Sônia. Com a pré-escola nas mãos: uma alternativa curricular para a Educação Infantil. São Paulo: Ática, 1993.

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MORAES, Zilma Ramos de Oliveira. Anais do I Seminário Nacional: Currículo em movimento- Perspectivas atuais. Belo Horizonte, 2010.

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WARSCHAUER, Cecília. A roda e o registro: uma parceria entre professor, alunos e conhecimento. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993.

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ORTIS, Gisele. Adaptação e Acolhimento: Um cuidado inerente ao projeto educativo da instituição e um indicador de qualidade do serviço prestado pela instituição. http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/acolhida-cisele-ortiz.pdf (acesso em 10 de agosto de 2017).