a importância do tratamento térmico para o bom desempenho de peças forjadas
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O objetivo deste trabalho é realizar uma revisão sistemática da literatura, compa-rando os tratamentos térmicos para forjamen-to. Dependendo da aplicação de uma peça forjada, suas propriedades mecânicas podem ser melhoradas por um tratamento térmico realizado anterior ou posteriormente ao for-jamento a quente ou a frio. Os tratamentos realizados têm relação direta com a microes-trutura e composição da peça a ser forjada. Com a realização destes tratamentos térmi-cos, espera-se otimizar o processo de forja-mento e controlar as propriedades finais do componente.TRANSCRIPT
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A Importncia do Tratamento Trmico para
o Bom Desempenho de Peas Forjadas
Bruna Callegari*1, Karen Saori Morioka*2, Roberta de Moraes Marcondes*3, Tas Zor-
zenon*4, Iris Bento da Silva#5
*Departamento de Engenharia de Materiais, Escola de Engenharia de So Carlos,
Universidade de So Paulo #Departamento de Engenharia Mecnica, Escola de Engenharia de So Carlos, Uni-
versidade de So Paulo [email protected], [email protected], [email protected],
[email protected], [email protected]
Resumo - O objetivo deste trabalho realizar
uma reviso sistemtica da literatura, compa-
rando os tratamentos trmicos para forjamen-
to. Dependendo da aplicao de uma pea
forjada, suas propriedades mecnicas podem
ser melhoradas por um tratamento trmico
realizado anterior ou posteriormente ao for-
jamento a quente ou a frio. Os tratamentos
realizados tm relao direta com a microes-
trutura e composio da pea a ser forjada.
Com a realizao destes tratamentos trmi-
cos, espera-se otimizar o processo de forja-
mento e controlar as propriedades finais do
componente.
Palavras-chave - Forjamento; Tratamento
trmico; Tratamento termomecnico; Resfria-
mento controlado.
I. INTRODUO
Forjamento um processo de confor-
mao mecnica atravs do qual se obtm a
forma desejada do componente por meio de
operaes de martelamento ou de aplicaes
gradativas de presso, utilizando-se prensas.
A maioria das operaes de forjamento efe-
tuada a quente. No entanto, certos metais po-
dem tambm ser forjados a frio.
As pecas forjadas so submetidas a
tratamentos trmicos posteriores sua con-
formao com os seguintes objetivos: remoo
de tenses internas introduzidas durante o
forjamento e o esfriamento, homogeneizao
da microestrutura e melhoria de sua usinabili-
dade e de suas propriedades mecnicas. Po-
rm, estes tratamentos tambm podem ser
aplicados anteriormente operao, depen-
dendo do tipo de processamento pelo qual a
matria-prima do forjamento tenha sido sub-
metida [1].
Atualmente, tem-se buscado alternati-
vas aos tratamentos trmicos convencionais
que objetivam a produo de microestruturas
e propriedades adequadas aos processos pos-
teriormente aplicados ou ao uso, visando
reduo de custos e tempos no processo de
conformao.
Neste trabalho, que consiste em uma
reviso sistemtica sobre os tratamentos tr-
micos relacionados ao forjamento, foi feita,
inicialmente, uma breve apresentao sobre os
processos de forjamento a frio e a quente. Em
seguida, foram abordados os tratamentos tr-
micos mais convencionais aplicados a peas
forjadas, tais como recozimento, normalizao,
tmpera e beneficiamento, e os problemas
decorrentes de sua m realizao. Tambm,
foram abordados meios de uso destes trata-
mentos como mecanismo de tenacificao, e as
alternativas que vm sendo utilizadas no intui-
to de se substituir os procedimentos tradicio-
nais de aplicao de tratamentos trmicos,
como os tratamentos termomecnicos e o pro-
cesso de resfriamento controlado. A partir da
pesquisa sistemtica, desenvolveu-se uma
comparao entre os mtodos por meio de um
estudo de casos.
-
*Comunicao pessoal com Lauralice de C. F. Canale.
II. REVISO SISTEMTICA
A. FORJAMENTO
O forjamento classificado quanto
temperatura de processamento (quente ou
frio). Pode ser realizado a quente, aps aque-
cimento uniforme acima da temperatura de
recristalizao do material, que proporcionam
grandes deformaes a menores foras aplica-
das, alm de uma boa preciso dimensional.
Normalmente em metais no ferrosos que
possuem deformaes limitadas, realiza-se
forjamento a frio (ocorre abaixo da temperatu-
ra de recristalizao), necessitando de maiores
esforos mecnicos e obtendo-se uma melhor
preciso dimensional [2].
mais fcil realizar forjamento a quen-
te, pois o aquecimento reduz a tenso de esco-
amento, deixando o material menos resistente
deformao, sendo necessria uma menor
energia. Entretanto, existe uma grande varie-
dade de peas pequenas, como porcas, parafu-
sos, pinhes, engrenagens, pinos, que so for-
jadas a frio, pois este processo promove o en-
cruamento.*
1) FORJAMENTO A QUENTE
O forjamento a quente geralmente ocor-
re com a presena de rebarba devido ao exces-
so de material, que so retiradas em uma ope-
rao de corte, imediatamente aps o forja-
mento. Aps o corte, os forjados so tratados
termicamente para obter-se uma microestrutu-
ra adequada aplicao.
Neste processo, simultaneamente re-
cuperao e recristalizao dos gros, ocorre a
deformao.
Este processo exige menor energia para
deformar o metal, proporciona maior habili-
dade para o escoamento plstico sem o surgi-
mento de trincas e diminui as heterogeneida-
des da estrutura dos lingotes fundidos devido
s rpidas taxas de difuso presentes na tem-
peratura de trabalho. Mas, geralmente, a estru-
tura e propriedades dos metais forjados a
quente so menos uniformes ao longo da seo
reta em relao aos metais trabalhados a frio e
recozidos, uma vez que a deformao sem-
pre maior nas camadas superficiais. O metal
forjado apresentar gros recristalizados de
menor tamanho na superfcie e seu interior,
submetido a temperaturas mais elevadas por
um perodo maior de tempo, pode ter um
crescimento de gros. As variaes estruturais
devido ao trabalho a quente proporcionam um
aumento na ductilidade e na tenacidade, com-
parado ao estado fundido [3].
2) FORJAMENTO A FRIO
No forjamento a frio, a deformao do
material muito til, pois possibilita um me-
lhor controle dimensional, alm de um melhor
acabamento superficial da pea associado ao
aumento da resistncia mecnica devido ao
encruamento. O encruamento provocado
pela deformao plstica do metal abaixo da
temperatura de recristalizao, modificando a
microestrutura do material e provocando o
aumento da resilincia e endurecimento [4].
Na conformao mecnica, verifica-se
que a tenso residual est mais localizada na
superfcie da pea, visto que o local que mais
sofre maior deformao [5].
A presena de tenses residuais com-
pressivas indicada pelo aumento da dureza,
pois facilitam a nucleao e a propagao de
trincas, enquanto que tenses residuais trati-
vas so indicadas pela reduo da dureza e
atuam no sentido de impedir a propagao de
trincas. O forjamento a frio introduz tenses
residuais de compresso, o que traz benefcios
para peas sujeitas a esforos cclicos.
Os tratamentos de tmpera e tmpera
seguida de revenimento aumentam muito o
nvel das tenses residuais e estas so de natu-
reza compressiva em relao pea forjada.
Recomenda-se esses tratamentos para aumen-
tar a resistncia a fadiga de peas forjadas a
frio [4].
B. TRATAMENTOS TRMICOS
Os tratamentos trmicos so processos
de aquecimento e arrefecimento aos quais se
submetem os aos a fim de se modificar mi-
croestrutura e otimizar caractersticas mecni-
cas, sem alterar a sua composio qumica [6].
Podem melhorar as propriedades mecnicas
anteriores ou posteriores ao forjamento, de-
pendendo da aplicao do metal a ser forjado,
mas, por outro lado, so fonte de tenses resi-
duais.*
As tenses residuais aps o tratamento
trmico dependem do tipo de tratamento em-
-
*Comunicao pessoal com Lauralice de C. F. Canale.
pregado e da intensidade e natureza da tenso
residual previamente existente no corpo. Ela
proveniente do histrico de deformaes me-
cnicas e processos trmicos [4].
1) PR-AQUECIMENTO
O material aquecido gradualmente em
um forno ou conjunto de fornos. realizado a
fim de prevenir a fratura ou distoro do ma-
terial [2].
2) RECOZIMENTO
realizado aquecendo-se o metal acima
da zona crtica, deixando-o resfriar lentamen-
te.* Pode anteceder a operao de forjamento
para que o material se torne mais dctil e ma-
level, reduzindo-se assim as tenses internas
[2].
O recozimento visa o aumento da usi-
nabilidade e conformabilidade, diminuindo a
dureza para um valor abaixo da inicial produ-
zindo um efeito indesejado do ponto de vista
de resistncia fadiga [4].
Para o forjamento, importante que o
material seja homogneo. Deste modo, deve-se
fazer um recozimento de homogeneizao
para evitar segregaes que possam prejudicar
o processo.
A geometria, dimenses e processos de
fabricao anteriores, como fundio, lamina-
o, metalurgia do p, interferem no processo.
No caso de uma pea recm-fundida, por
exemplo, podem ocorrer elevados nveis de
segregaes, o que torna necessrio o recozi-
mento de homogeneizao. No caso de peas
anteriormente forjadas, isso no necessrio.
O tratamento de recozimento reco-
mendado no caso de componentes que sero
posteriormente usinados.*
3) NORMALIZAO
realizada para melhorar a estrutura
cristalina do ao, otimizando propriedades
mecnicas. Consiste no aquecimento do mate-
rial acima da zona crtica seguido de resfria-
mento ao ar, permitindo o refino do gro e a
homegeneizao do material.*
A normalizao realizada geralmente
nas peas forjadas a quente a fim de se obter
uma microestrutura perltico-ferrtica de forma
a permitir uma boa usinabilidade do material
nas operaes subsequentes [7].
O tratamento trmico de normalizao
tambm reduz as tenses residuais no forjado.
Entretanto, estas se mantm acima do valor
das tenses residuais do material como rece-
bido [4].
4) TMPERA E TMPERA SEGUIDA DE RE-
VENIMENTO (BENEFICIAMENTO)
Atravs de um tratamento de tmpera
pode ser realizado o endurecimento das peas
forjadas. Nela, feito o aquecimento lento do
material at zona crtica, para que haja uma
transformao uniforme em sua microestrutu-
ra, seguido de um resfriamento rpido num
tanque com gua ou leo [8].
O revenimento atua para aliviar as ten-
ses acentuadas resultantes da tmpera [4].
5) ESTRATGIAS ALTERNATIVAS
Atualmente, tem-se pesquisado novas
alternativas que visam substituio dos tra-
tamentos trmicos. Dentre essas alternativas,
destacam-se o tratamento termomecnico e o
resfriamento controlado (perltico de forja).
Processamento termomecnico uma
tcnica que combina processos de trabalho
mecnico com subsequentes tratamentos tr-
micos, para se obter uma determinada propri-
edade mecnica atravs da manipulao da
microestrutura do material [9].
Estes tipos de processamento permite
que os tratamentos trmicos posteriores a ele
sejam eliminados, o que minimiza tempo e
custo dos processos produtivos que exigem
um controle rgido com relao sequncia do
processo, temperatura, aos tempos e s de-
formaes do material, podendo ser aplicados
ao forjamento a quente [10].
Peas forjadas num tratamento termo-
mecnico controlado podem apresentar pro-
priedades mecnicas melhores que asobtidas
por um forjamento convencional, como obser-
vado por Ghosh (2003) [11].
A outra alternativa a aplicao do res-
friamento controlado do forjado a quente, que
confere maior flexibilidade, rapidez e econo-
mia nos processos de conformao plstica dos
metais.
-
Diferentemente dos tratamentos trmi-
cos, realiza-se este ltimo processo imediata-
mente aps o forjamento a quente, de forma a
aproveitar o calor retido pelo prprio material.
O resfriamento controlado permite uma
taxa de resfriamento adequada para a ocorrn-
cia das transformaes microestruturais dese-
jadas e, consequentemente, garantir as propri-
edades exigidas.
A formao de uma microestrutura fer-
rtica-perltica vincula-se taxa de resfriamen-
to e temperatura inicial (acima da linha de
incio de formao da ferrita); ou seja, o mate-
rial deve estar totalmente austenitizado antes
do resfriamento. Desta forma, a taxa de resfri-
amento do material possibilita a obteno de
uma microestrutura perltica/ferrtica ou mar-
tenstica.
Elevadas taxas de resfriamento podem
produzir uma microestrutura com gros mais
refinados e menor espaamento entre as lame-
las de ferrita e cementita da perlita, promo-
vendo maior resistncia mecnica e dureza.
No caso de processos onde a usinagem
requerida aps o forjamento a quente, torna-se
necessrio o resfriamento ao ar com o intuito
de se promover a formao de uma microes-
trutura ferrtica/perltica, para otimizar a usi-
nabilidade do material [10].
Microestruturas de gro fino, compostas
por um misto de ferrita e bainita, obtidas por
uma transformao controlada em arrefeci-
mento contnuo, tem provado aumentar a
tenso de ruptura e melhorar a tenacidade em
tubos e chapas [2].
6) MECANISMO DE TENACIFICAO
A presena de vrios tipos de partculas
de segunda fase em microestruturas martens-
ticas revenidas prejudica a tenacidade de aos
de alta resistncia. Precipitados responsveis
por refino de gro, como nitretos de alumnio
e carbono, tambm podem reduzir significan-
temente a tenacidade de aos de alta-
resistncia e microestrutura refinada. Assim,
um processo para maximizar a tenacidade
atravs de um refino destes precipitados.
O processo consiste em quatro etapas:
Primeira etapa: reaquecimento e de-
formao a quente (preferencialmente a tem-
peraturas acima da temperatura de solubiliza-
o do precipitado menos solvel presente no
ao), seguido por resfriamento rpido at
500C.
Segunda etapa: recozimento subcrti-
co, para promover a precipitao do mximo
volume de precipitado na ferrita.
Terceira etapa: austenitizao seguida
de tmpera.
Quarta etapa: revenimento, para al-
canar a resistncia desejada. Este processo
muito aplicvel a processos de forjamento de
aos de alta resistncia, uma vez que o pr-
tratamento de solubilizao pode ser realizado
junto s operaes de reaquecimento e forja-
mento.
Um pr-tratamento a altas temperaturas
benfico forjabilidade do material e dura-
bilidade do molde, mas o objetivo principal da
operao sob temperaturas elevadas minimi-
zar o teor de precipitados grosseiros formados
durante o processamento e solidificao inicial
do ao. Aps o forjamento, no entanto, altas
taxas de resfriamento devem ser aplicadas,
para evitar a re-precipitao que pode correr
na austenita [12].
7) PROBLEMAS DECORRENTES DE TRA-
TAMENTOS MAL-SUCEDIDOS
Quanto ao tratamento trmico mal su-
cedido, os problemas so vrios:
O tratamento trmico visa atingir mai-
or resistncia da pea e outras caractersticas,
como tenacidade. Pode-se dizer que um pro-
blema macro seria uma resistncia menor que
o especificado pelo projeto, levando o produto
a uma falha prematura. Um plano de ao
para estas peas seria a realizao de uma
nova tmpera, exceto peas com nibio.
Outro ponto o forno oxidante: a pea
pode oxidar, criando uma fina camada de
xido de ferro em sua superfcie, que tambm
leva falha prematura. Um plano de ao
seria o lixamento da superfcie de trao des-
tas peas para a remoo do xido, conhecido
como carepa, e fazer o alvio de tenso.
No caso da ocorrncia de dureza mai-
or que o especificado, pode haver a quebra
prematura da pea devido baixa tenacidade.
Como plano de ao, as peas devem ser tem-
peradas e revenidas, novamente.
-
**Comunicao pessoal com Cleber M. Chiqueti.
J no caso da dureza menor que o es-
pecificado, pode ser ocasionada a perda de
desempenho dos componentes. Neste caso,
pode haver produtos de transformao (mi-
croconstituintes que no foram transformados
em martensita nos processos de tmpera e
revenimento, como: perlita, bainita, austenita
retida). Um plano de ao a tmpera e reve-
nimento, novamente.**
III. DISCUSSO
A. ESTUDOS DE CASOS
1) ESTUDO DE PROPRIEDADES MECNI-
CAS DE AOS ESPECIAIS, INOXIDVEIS E
RESISTENTES AO CALOR SUBMETIDOS A
TRATAMENTOS TERMOMECNICOS (G. W.
KUHLMAN ET AL., 1986)
Kuhlman realizou o revenimento de
aos HP310. Nele, o material forjado, foi sub-
metido a um tratamento que consistia em
normalizao a 927C por 1h com resfriamento
ao ar, seguida por austenitizao a 871C por
1h, tmpera em leo, refrigerao a -73C por
1h e por um duplo revenimento, de 177C a
399C, sendo que o segundo revenido foi rea-
lizado a uma temperatura ligeiramente menor
que a do primeiro. Por fim, foi realizado alvio
de tenses a 10C abaixo da temperatura do
revenimento final. Em seguida, foram ensaia-
das amostras sob trao e examinadas metalo-
graficamente.
Outro estudo foi baseado na fabricao
de forjados de HP9Ni-4Co-0,20C. As amostras
foram normalizadas a 899C por 1h, austeniti-
zadas a 843C por 1h, temperadas em leo,
refrigeradas a -73C por 1h, revenidas de
522C a 579C, por 4 a 8h, e resfriadas ao ar.
Em seguida, foram ensaiadas mecanicamente.
Realizou tambm um estudo referente
ao tratamento trmico de aos AF1410. Os
forjados foram submetidos a dois tratamentos
trmicos diferentes. Um, para minimizar a
distoro durante a usinagem, consistiu em
normalizao a 899C por 1h com resfriamento
ao ar, seguido por austenitizao a 816C por
1h com resfriamento ao ar, refrigerao a -73C
por 1h e revenido a 510C por 5h com resfria-
mento ao ar. O segundo, para maximizar pro-
priedades mecnicas, principalmente a tenaci-
dade, consistiu em normalizao a 899C por
1h com resfriamento ao ar, seguido por nor-
malizao a 899C por 1h com tmpera em
leo, normalizao a 816C por 1h com tmpe-
ra em gua e revenimento a 510C por 5h com
resfriamento ao ar.
A relao entre o forjamento e os trata-
mentos trmicos em aos inoxidveis foi estu-
dada em duas ligas, 15-5PH e PH13-8Mo. Para
a liga 15-5PH, foram fabricados forjados a
quente, utilizando-se diferentes temperaturas
de processamento, que foram submetidos a
um revenido de 1035C por 1h, resfriamento
ao ar at temperatura abaixo de 32C, 482C
por 2h e resfriamento ao ar, e submetidas a
ensaios de trao e tenacidade fratura. Para a
liga PH13-8Mo, os forjados foram fabricados a
partir de um tarugo e submetidos a um reve-
nimento de 927C por 3h, resfriamento ao ar
at abaixo de 16C, 538C por 4h e resfriamen-
to ao ar, e ensaiadas mecanicamente.
No caso de materiais resistentes ao calor
e corroso foram feitos dois estudos. No
primeiro, foi realizado um processamento
termomecnico da liga A286. O forjamento a
quente do tarugo foi seguido de um tratamen-
to constitudo por manuteno da temperatura
a 899C por 1h, tmpera em leo, aquecimento
a 704C por 12h e resfriamento ao ar. Final-
mente, as amostras foram submetidas a ensai-
os de trao.
No segundo, processou-se termomeca-
nicamente a liga Inconel 625. Um tarugo foi
submetido a dois tipos de processo de forja-
mento: a quente, com reduo total de perfil
de 75%, e uma combinao de quente e morno,
com um nvel similar de reduo. Os forjados
foram submetidos a tratamentos de recozi-
mento (980C ou 870C por 4h, com resfria-
mento ao ar), recozimento seguido por enve-
lhecimento (980C ou 870C por 4h, com res-
friamento ao ar e 650C por 48h com resfria-
mento ao ar), ou envelhecimento (785C por
24h seguido por resfriamento ao ar). Em se-
guida, as amostras foram testadas mecanica-
mente.
Os resultados mostram que, para otimi-
zar a ductilidade dos forjados da liga HP310,
temperaturas de revenimento entre 315C e
343C mostram-se benficas, sem prejudicar a
resistncia do material. Os forjados da liga
HP9Ni-4Co-0,20C podem ser processados
termomecanicamente de modo a atingir exce-
-
lentes combinaes de resistncia e tenacidade
fratura em grandes sees. A temperatura
tima de revenido aparenta estar entre 551C e
565C. As peas fabricadas utilizando-se a liga
AF1410 podem ser tratadas com duas taxas
diferentes de resfriamento para atingir a resis-
tncia mnima, de 1585 MPa, e a tenacidade
mnima, de 143 MPa.m1/2. Ainda que o resfri-
amento em ar, mais lento, atinja tais proprie-
dades e minimize a distoro, ele resulta em
propriedades mecnicas ligeiramente inferio-
res. A resistncia e a tenacidade do ao 15-5PH
varia modestamente de acordo com a tempera-
tura de forjamento, sendo que o valor timo
ocorre quando o processo realizado entre
1050C e 1150C. Uma tenacidade mnima de
60 MPa.m1/2 aparenta ser suficiente para os
forjados. No caso da liga PH13-8Mo, os forja-
dos fabricados apresentaram valores suficien-
tes para as propriedades testadas. A tempera-
tura tima de envelhecimento se encontra
entre 538C e 549C. A resistncia e a tenaci-
dade fratura e, possivelmente, a resistncia
fluncia, da liga A286 pode ser melhorada
atravs de forjamento realizado entre 1125C e
1175C. De modo a se atingir um valor mni-
mo de tenso de escoamento de 413 MPa na
liga Inconel 625, tanto o trabalho a quente
como os trabalhos a quente e a morno combi-
nados podem ser empregados juntamente com
o recozimento nico, entre 870C e 980C. A
combinao de recozimento e envelhecimento
aumenta a tenso de escoamento em 50%, mas
pode no ser prtico para forjados que sero
soldados [9].
2) ESTUDO DE ROTORES DE TURBINAS
COM TRATAMENTO TRMICO DIFEREN-
CIADO (SUZUKI ET AL., 1986)
A aplicao mais comum dos rotores se
d em sistemas com potncia abaixo de 100
MW, utilizando-se ao Cr-Mo-V convencional,
o qual endurecido a temperaturas mais bai-
xas de austenitizao, a taxas maiores de res-
friamento, ou ambos. O tratamento aumenta a
tenacidade, na parte de baixa presso, com
uma consequente queda na resistncia flun-
cia da parte de alta presso. No entanto, a
tendncia de aplicao em sistemas de alta
potncia (150 MW) exige maiores combinaes
e rotores e, consequentemente, novas tecnolo-
gias de manufatura.
O ao modificado permite aumento da
tenacidade sem prejudicar a resistncia flu-
ncia. O Nb adicionado para melhorar a
tenacidade atravs do refino de gro e para
minimizar a queda da resistncia fluncia
causada pela adio de Ni. O Ni adicionado
para melhorar a tenacidade e a temperabilida-
de do ao. O Si reduz a susceptibilidade fra-
gilizao no revenido e permite a aplicao do
processo de desoxidao do carbono na etapa
de fabricao do lingote, alm de melhorar a
tenacidade e temperabilidade do ao.
Geralmente, tratamentos que melhoram
a tenacidade reduzem a resistncia fluncia,
e vice-versa. O aumento da temperatura de
austenitizao resulta no crescimento de gro,
o que aumenta a resistncia fluncia, mas
reduz a tenacidade. O aumento da taxa de
resfriamento na tmpera aumenta a tenacida-
de, enquanto taxas intermedirias favorecem a
resistncia fluncia. Os objetivos dos trata-
mentos so melhorar a tenacidade das turbi-
nas de baixa presso e a resistncia fluncia
das de alta presso.
Uma placa de fibras cermicas, colocada
entre placas de ao, foi posicionada no encon-
tro entre as partes de alta e baixa presso, para
isolamento trmico. Assim, cada parte pode
ser submetida a um tratamento. Esta tcnica
chamada de tratamento trmico diferencial.
Quatro rotores foram fabricados, sendo
que um lingote de 50 toneladas foi produzido
para cada rotor. Aps aquecimento a 1200-
1240C, os lingotes foram forjados, de modo a
formar cilindros com dimetro de 1280 mm.
Aps normalizao a 1050C, os forjados fo-
ram submetidos ao tratamento diferencial. A
parte de alta presso foi austenitizada a 970C
e resfriada em gua, e a de baixa presso, aus-
tenitizada a 920C e resfriada ao ar. Os reve-
nimentos foram realizados a 670C.
As microestruturas obtidas em ambas as
partes eram bainticas. O tamanho de gro na
superfcie da parte de baixa presso era 7,5, na
superfcie da alta presso, de 5,0, e no ncleo
da parte de baixa presso, de 6,5.
A tenacidade da parte de baixa presso
apresentou-se excelente, enquanto a resistn-
cia fluncia apresentou-se ligeiramente mai-
-
or do que a observada em rotores fabricados
com o ao convencional. A zona de transio
trmica tinha um comprimento aproximado de
500 mm na superfcie, e 1000 mm no centro. A
mxima deflexo trmica observada, em teste
realizado a 620C, foi de 0,015 mm, valor satis-
fatoriamente baixo. A mxima tenso residual
foi observada na direo tangencial, apresen-
tando valor de 29,4 MPa e natureza compres-
siva [12].
3) ESTUDO DA UTILIZAO DO RESFRIA-
MENTO CONTROLADO (YAMAKAMI ET
AL., 2004)
O estudo buscou a viabilidade de subs-
tituio do tratamento trmico de normaliza-
o pelo resfriamento controlado em forno,
seguido do forjamento a quente. A microestru-
tura formada por esse processo deve ser seme-
lhante quela obtida pela normalizao, tendo
dureza dentro da faixa especificada para este
tratamento (cerca de 163-187 HB).
A partir de barras de aos para forja-
mento obtiveram-se os corpos de provas. Estes
foram levados ao forno a 1323 K por 20 minu-
tos a fim de se garantir homogeneizao da
temperatura para o forjamento.
Ensaios de forjamento a quente tem-
peratura de 1273 K em uma prensa hidrulica
de 1,2 MN, seguidos imediatamente de resfri-
amento em forno a uma determinada tempera-
tura foram realizados. A partir da microscopia
tica analisou-se as microestruturas obtidas e
pelo realizou-se o ensaio de dureza Brinell, a
fim de compar-las com aquelas de condio
normalizada.
Baseando-se no diagrama de transfor-
mao em resfriamento contnuo para um ao
de composio qumica ao utilizado, definiu-
se a taxa de resfriamento e a temperatura que
permitiriam a formao da microestrutura
distribuda homogeneamente e dureza especi-
ficada, formada por perlita e ferrita.
Resfriou-se os corpos de prova, imedia-
tamente aps o forjamento, em 3 diferentes
condies durante 20 minutos: em forno mufla
a 773 e 873 K e ao ar.
O estudo mostrou que vivel a substi-
tuio do tratamento trmico convencional de
normalizao pelo resfriamento controlado em
forno posterior ao forjamento a quente, apro-
veitando-se do calor do processo. O resfria-
mento controlado em forno a 773 K e ao ar no
permitiu a formao segura de uma microes-
trutura composta somente por ferrita e perlita,
ocorrendo, nestes casos, a formao de ferrita e
perlita pontiagudas, ferrita alotriomorfa em
contornos de gro e, provavelmente, a presen-
a de bainita. Alm de no possuem uma du-
reza adequada usinagem. J o resfriamento
em forno a 873 K foi o que apresentou a mi-
croestrutura composta por perlita e ferrita
distribudas homogeneamente, mais similar
obtida pela normalizao. Alm disso, a dure-
za mostrou-se adequada ao processo seguinte
de usinagem. Esse resfriamento permitiu uma
reduo considervel do consumo de energia e
do tempo de processo, se comparado norma-
lizao comumente realizada na indstria,
proporcionando uma reduo do lead time para
obteno de peas forjadas e normalizadas
[10].
B. ANLISE
O processo de forjamento um mtodo
de conformao muito antigo, que variou pou-
co ao longo de sua existncia. Deparando-se
com tal situao, tornou-se difcil a obteno
de estudos acerca do tema, principalmente
queles relacionados aos tratamentos trmicos.
Entretanto, foi possvel analisar uma
tendncia substituio dos tratamentos con-
vencionais do forjamento a quente, visto que,
atualmente, tem-se dado cada vez mais impor-
tncia a assuntos referentes ao aproveitamento
de energia e otimizao dos processos, que
podem ser conferidos com a execuo do res-
friamento controlado (perltico de forja). Po-
rm, o uso de tais alternativas na indstria
ainda tem sua implementao restrita, devido
falta de normas para a padronizao dos
processos.
Alm disso, nota-se que no so apre-
sentadas alternativas aos tratamentos trmicos
envolvidos no forjamento a frio. Neste caso,
utilizam-se processos de recozimento de ho-
mogeneizao, anteriormente ao forjamento a
frio, e tmpera ou tmpera seguida de reveni-
mento, posteriormente ao processo.
-
IV. CONCLUSO
A partir da pesquisa sobre os tratamen-
tos trmicos realizados anterior ou posterior-
mente aos processos de forjamento, pde-se
inferir que a tendncia cada vez mais utili-
zar-se dos processos de resfriamento controla-
do, que se aproveitam do calor intrnseco ao
processo de forjamento a quente, reduzindo
custos, tempos de operao, alm de permitir a
obteno de uma microestrutura semelhante
obtida pelos tratamentos trmicos de normali-
zao.
Apesar dessa mudana de cenrios ten-
dendo a alternativas aos mtodos convencio-
nais de tratamentos trmicos, estes ainda so
altamente utilizados, principalmente em pro-
cessos de forjamento a frio.
VI. REFERNCIAS
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