a importÂncia do afeto na relaÇÃo … · dois vem abordando sobre a contribuição do...

43
0 FACULDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE FRANCINETE LIMA DE SOUSA A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO PROFESSOR/ALUNO - UM ESTUDO A PARTIR DA ESCOLA RAMOS DE OLIVEIRA MANAUS 2011

Upload: dinhthu

Post on 15-Nov-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

0

FACULDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

FRANCINETE LIMA DE SOUSA

A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO PROFESSOR/ALUNO -

UM ESTUDO A PARTIR DA ESCOLA RAMOS DE OLIVEIRA

MANAUS

2011

Page 2: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

1

FRANCINETE LIMA DE SOUSA

A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO PROFESSOR/ALUNO -

UM ESTUDO A PARTIR DA ESCOLA RAMOS DE OLIVEIRA

Monografia apresentada ao Instituto A Vez do Mestre como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Psicopedagogia.

Orientadoras: Profª Narcisa Cartilho Melo Profª Fabiane Múniz

MANAUS

2011

Page 3: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

2

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por ter me dado forças

para a realização desta monografia.

As Professoras Narcisa Melo e Fabiane

Múniz pelas orientações na elaboração da

mesma.

Aos colegas de trabalho pela amizade e

ajuda no desenvolvimento do trabalho.

Page 4: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

3

DEDICATÓRIA

Ao meu esposo, Francisco de Assis

Farias, aos meus filhos: Samara Lima

Farias e Gabriel Lima Farias, aos meus

pais, irmãos e amigos que de alguma

forma contribuíram em minha formação

acadêmica.

Page 5: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

4

EPÍGRAFE

“Ensinar não é transferir conhecimento,

mas criar as possibilidades para a sua

própria produção ou a sua construção”.

(Paulo Freire)

Page 6: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

5

RESUMO

O capitulo um deste trabalho busca de forma objetiva apresentar os fatores que influenciam a relação afetiva em sala de aula, aborda os seguintes temas: A vida afetiva humana, a relação afetiva familiar e a afetividade na escola. De forma que tanto professor quanto aluno compartilham as mesmas emoções e desejos na educação. A relação que o professor estabelece com os alunos pode contribuir para um rendimento escolar positivo ou negativo, dependendo da qualidade dos laços afetivos estabelecidos. A afetividade é fundamental à prática pedagógica por ser de uma dimensão humana. Havendo o equilíbrio entre o afetivo e o racional o processo de aprendizagem fluirá naturalmente na sala de aula. A forma com que a família demonstra afeto pela criança será significativo para o desenvolvimento de sua personalidade e aprendizagem. A escola não só ajuda no desenvolvimento da inteligência cognitiva, mas desenvolve também a Inteligência emocional. O capitulo dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na qualidade da relação afetiva professor /aluno. O papel do psicopedagogo que é assessorar e esclarecer a instituição sobre os diversos aspectos de ensino-aprendizagem e tem uma atuação preventiva de maneira que contribui para esclarecimento das dificuldades de aprendizagem que surgem no dia a dia de uma instituição escolar. O capitulo três leva você a refletir sobre o Legado do Professor e a afetividade. Na realização profissional, na questão do gênero e na prática pedagógica, bem como apresentar a importância do afeto na vida do profissional de educação. A incumbência do professor é aceitar, amar e conduzir a criança no melhor caminho, favorecendo o desenvolvimento da aprendizagem através dos laços afetivos. Quanto ao gênero, na educação não há preconceito. O profissional de educação independente do sexo precisa estabelecer princípios de afetividade com seus alunos. O perfil do aluno e do professor são determinados pela prática pedagógica em sala de aula. Portanto, o afeto deve fazer parte dessa prática educativa.

Palavras-chave: Afetividade. Relação professor/aluno. Psicopedagogo.

Page 7: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

6

METODOLOGIA

Para elaboração deste trabalho foi realizado um levantamento bibliográfico

através do método dialético e técnica qualitativa para coleta de dados, visando à

relação afetiva professor-aluno como influenciadora no processo ensino-

aprendizagem.

Procedimentos metodológicos foram: Utilização de entrevista individual,

questionário com perguntas diretas, observação direta abrangendo a sala de aula e

áreas próximas como pátio e área recreativa. A população envolvida na pesquisa foi

uma turma de 1ª “A” série do ensino fundamental I, turno matutino, na Escola

Educacional Ramos de Oliveira e seus respectivos pais e professores.

Principais autores que nortearam este trabalho foram: Cunha -

Psicopedagogo (A afetividade na prática pedagógica); Wallon - Teorias psicogênica

(em discussão); Piaget - Psicólogo Suíço (Desenvolvimento cognitivo); Freire -

Educador (A pedagogia da autonomia).

A pesquisa foi direcionada para a relação afetiva permitindo uma

compreensão através da participação do sujeito pesquisador. Possibilitou a análise

cultural das práticas, das percepções, e experiências dos sujeitos da pesquisa

(professores, alunos e pais), “visando à significação social por eles atribuída ao

mundo que os cerca e aos atos que realizam.” (CHIZZOTTI, 2000).

Pesquisa explicativa cujo objetivo foi tornar compreensível a importância da

relação afetiva professor-aluno para o rendimento escolar, justificando os motivos e

visando os fatores que contribuem de alguma forma para a ocorrência do fenômeno.

A investigação se deu através de pesquisa de campo realizada no local onde ocorre

o fenômeno e em áreas adjacentes, referentes às residências das crianças. Dentro

dessa perspectiva utilizaram-se os seguintes instrumentos:

Observação participante: contato direto com o objeto de pesquisa e

possibilidade de colher informações de ações do sujeito em seu contexto natural

atribuindo uma interpretação própria.

Entrevista semi-estruturada: permitindo direcionar o diálogo de forma que os

sujeitos se expressem livremente sobre suas experiências relatando informações

fidedignas. É possível também, colher informações não verbalizadas, mediante a

observação de gestos e expressões dos entrevistados.

Page 8: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

7

A construção deste trabalho deu-se a partir da pesquisa realizada no Centro

Educacional Ramos de Oliveira, especificamente, na zona norte da cidade de

Manaus. Atende uma demanda de crianças, cujos pais ou responsáveis possuem

uma renda financeira fixa entre dois e quatro salários mínimos. O tempo de

funcionamento da escola é de cinco anos e possui a documentação legalizada pelo

Estado e pelo Município. A escola segue uma base teórica tradicional imposta pela

direção, ainda que os professores implantem novas práticas pedagógicas, não as

desenvolvem, pois logo são advertidos, imperando assim o tradicionalismo do

silêncio na sala de aula.

Os dados foram coletados em três etapas. Na primeira etapa foram aplicadas

as técnicas da observação participante e da entrevista semi-estruturada com os

alunos da primeira série, num período de dez dias consecutivos durante o Estágio

Profissional II. Na segunda etapa repetiu-se mesmo procedimento da primeira etapa,

sendo que os instrumentos foram direcionados para a turma de 1ª série do Ens.

Fundamental. Na terceira e última etapa da coleta de dados foram realizadas as

entrevistas com os pais e professores através de visitas às suas residências. É

importante salientar que as entrevistas com os professores ajudaram muito no

enriquecimento do trabalho, tais atividades foram concluídas num período de dez

dias, incluindo domingos e feriados.

Os dados coletados foram organizados em três categorias de análise que

correspondem aos objetivos da monografia, os quais serão apresentados nos

capítulos seguintes. São eles: Os fatores que influenciam a relação afetiva em sala

de aula, A contribuição do Psicopedagogo na qualidade da relação afetiva

professor/aluno e o legado do Professor e a afetividade.

Page 9: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

8

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................. 9

CAPÍTULO 1 - Os fatores que influenciam a relação afetiva em sala de aula 11

1.1 A vida afetiva humana .T....................................................................... 11

1.2 Relação afetiva familiar ........................................................................... 15

1.3 A afetividade na Escola...........................................................................

18

CAPÍTULO 2 - A contribuição do Psicopedagogo na qualidade da relação

afetiva professor/aluno......TT..T.................................................................

23

2.1 Para que o afeto?.TTTT.................................................................... 24

2.2 Quais as dificuldades apresentadas pelo desafeto?..............................

2.3 A qualidade da relação afetiva para o crescimento intelectual, social e

emocionalTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTT...

25

26

CAPÍTULO 3 - O legado do Professor e a afetividade....................................

29

3.1 A realização profissional........................................................................... 35

3.2 A questão do gêneroT.............................................................................. 36

3.3 A Prática Pedagógica. T........................................................................... 37

CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................

39

REFERÊNCIAS................................................................................................

41

Page 10: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

9

INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho foi abordar a afetividade como fundamental para a

prática pedagógica por ser de uma dimensão humana e apresentar o equilíbrio entre

o afetivo e o racional no processo de aprendizagem, que se desenvolve

naturalmente na sala de aula e ambiente familiar

No discorrer desses capítulos, procuramos abordar a afetividade como

fundamental para a prática pedagógica por ser de uma dimensão humana e

apresentar o equilíbrio entre o afetivo e o racional no processo de aprendizagem,

que se desenvolve naturalmente na sala de aula e ambiente familiar.

A escolha dessa temática tem como objetivos focalizar os fatores que podem

impedir a relação afetiva em sala de aula, refletir sobre a contribuição do

psicopedagogo em relação a qualidade da afetividade entre professor/aluno e

visualizar a importância do legado do Profissional de Educação na missão de

ensinar, mas com amor.

Para alcançar esses objetivos procedeu-se a metodologia mais adequada de

investigação do problema. A abordagem adotada foi a qualitativa porque permitiu

uma compreensão do fenômeno através da participação direta na cultura, nas

práticas e experiências dos sujeitos da pesquisa. O tipo de pesquisa foi explicativa

sendo o meio de investigação o de campo e as técnicas aplicadas a observação

participante com entrevista semi-estruturada.

A pesquisa ocorreu em uma escola privada da zona norte, cidade de Manaus/

Amazonas e envolveu uma turma de 1ª série do Ensino Fundamental, sendo que

selecionou-se uma amostragem de vinte alunos, seus respectivos pais e

professores, somando um total de quarenta e duas pessoas.

Os resultados obtidos permitiram uma comparação analítica sobre a relação

afetiva professor-aluno, estabelecida, na turma observada. Os pontos de análise

correspondem aos objetivos e foram estruturados em forma de capítulos que

destacam a necessidade do afeto no desenvolvimento do saber.

Page 11: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

10

O Professor desempenha um grande papel na sala de aula e sua influência

afeta os alunos significativamente. A relação que o professor estabelece com os

alunos pode contribuir para um rendimento escolar positivo ou negativo,

dependendo da qualidade dos laços afetivos estabelecidos. Na sala de aula o

docente é avaliado desde o primeiro contato com os alunos e se uma boa relação

afetiva for estabelecida, ambos serão aliados no processo ensino-aprendizagem.

Page 12: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

11

CAPÍTULO 1 - Os fatores que influenciam a relação afetiva

em sala de aula

Na mente de todo educador já se passou as seguintes perguntas: Pra quê

ensinar? Por que ensinar? Para quem ensinar?

Geralmente na busca pelas respostas certas o profissional da educação

encontra a sua verdadeira vocação e, quando busca sentido para “o ensinar” e “o

aprender” compartilha sentimentos de afetividade com outras pessoas, tais

“sentimentos” são influenciados por fatores externos e internos que estimulam o

comportamento.

Tanto professor quanto aluno compartilham as mesmas emoções e desejos

na educação: ser considerado um bom aluno e, ou, ser considerado um bom

professor. Por essa expectativa de reconhecimento encontramos principais

situações de vida que podem influenciar a relação afetiva em sala de aula. No

entanto, sabemos que o comportamento das pessoas reflete o grau de afeto que

recebem dos outros.

É preciso analisar os fatores a seguir que influenciam quantitativamente no

comportamento humano, bem como no seu desenvolvimento do saber, do pensar e

do agir e, ainda, verificar os possíveis problemas ou sugestões causadas pela falta

ou distribuição da afetividade nos diferentes segmentos abaixo.

1.1 A VIDA AFETIVA HUMANA

Uma das áreas de pesquisa mais recentes em Psicologia do Desenvolvimento

é a formação do attachment ou <ligação afetiva>. A formação das primeiras relações

entre a mãe e o bebê, protótipos de todas as relações sociais futuras, tem sido

objeto de interesse há muito tempo, especialmente por parte de psicanalistas e

behavioristas. A fim de compreender melhor em que aspecto o enfoque dos

pesquisadores que estudam a relação afetiva constitui uma contribuição nova,

Page 13: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

12

precisamos examinar o contexto em que evolui o estudo da formação das relações

mãe-bebê.

Várias explicações teóricas têm sido apresentadas para os fenômenos de

ansiedade de separação e ansiedade em relação a estranhos. Basicamente, as

explicações mais aceitas afirmam que uma vez que o bebê desenvolve expectativas

em relação à mãe, qualquer violação dessas expectativas, tais como um estranho,

um novo ambiente, uma nova babá, pode causar ansiedade. Os trabalhos de Hebb

(1946) e de Littenberg, Tulkin e Kagan (1971) sugerem que os efeitos das violações

de esquemas estabelecidos depende do grau de discrepância em relação a

estímulos conhecidos. Violações pequenas podem ser estimulantes e levar à

exploração mas violações grandes podem causar medo. Também é interessante

notar que a época em que a ansiedade de separação e a ansiedade em relação a

estranhos atingem o auge coincide com a época em que a criança começa a

procurar recapturar objetos escondidos, de acordo com as observações de Piaget

(cap. 3). Segundo Piaget, esta procura indica que a criança atingiu a noção de

permanência do objeto.

Outras pesquisas têm investigado fatores que influenciam o desenvolvimento

da ligação afetiva. Estudos de crianças institucionalizadas indicam que estas

crianças geralmente apresentam demora ou ausência de formação de ligações

afetivas e não discriminam entre pessoas estranhas e pessoas que costumam cuidar

delas (YARROW, 1961).

A partir desses estudos e de outros, Yarrow (1972) infere que uma pessoa

estável que cuida da criança e dá atenção individualizada é essencial à formação da

ligação afetiva. Yarrow (1967) afirma, porém, que o cuidado de crianças em grupo,

por si, não resulta necessariamente em ausência ou demora na formação da ligação

afetiva. Bebês de seis meses, que passavam períodos longos em creches, não

revelaram diferenças, aos 30 meses de idade, de crianças criadas em casa

(CALDWELL, WRIGHT, HONING e TANNENBAUM, 1970). Observações de

crianças criadas nos kibbutzim em Israel, onde a maior parte dos cuidados de rotina

estão a cargo da metapelet, indicam que estas são as principais figuras de

attachment (SPIRO, 1958). As pesquisas de Schaffer e Emerson (1964a) indicam

que compartilhar o cuidado da criança com outras pessoas da família não influencia

a emergência nem a intensidade da ligação afetiva. Assim, parece que uma relação

Page 14: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

13

exclusiva mãe-criança não é essencial, porém, mesmo quando o cuidado da criança

é dividido com outras pessoas, há sempre uma pessoa que predomina e que tem

uma relação especial com a criança.

Yarrow (1972) relata também que a ligação afetiva parece depender do grau

de responsabilidade da mãe. Crianças que mostram ligação afetiva intensa aos 18

meses tipicamente têm mães que respondiam dentro de poucos segundos ao choro

do bebê (SCHAFFER e EMERSON, 1964a).

Ainsworth, Bell e Stayton (1972) estudaram 23 pares de mães-bebês. A

característica da mãe que se revelou mais significante no desenvolvimento da

ligação afetiva foi sua sensibilidade aos sinais emitidos pelo bebê, sensibilidade em

notar os sinais, interpretá-los correta-mente e responder pronta e adequadamente.

Outro fator importante segundo Schaffer e Emerson (1964a) é o nível de

estimulação. As mães dos bebês com ligação afetiva intensa geralmente interagiam

socialmente mais com o bebê, falando, brincando com ele, levando-o a passear do

que as mães dos bebês com ligação afetiva fraca.

O desenvolvimento da ligação afetiva também é afetado por características

das crianças. Bell (1968) comenta que a psicologia apenas começou a considerar a

contribuição da criança para a interação pais-criança e que a era de «culpar as

mães» está terminando. Uma das pesquisas mais interessantes neste sentido é a de

Schaffer e Emerson (1964b) que distinguiram entre «cuddlers» (bebês que gostam

de contacto físico) e «noncuddlers» (bebês que rejeitam contacto físico, não

gostando de colo ou de ser agarrado e preferindo relacionar-se visual ou

auditivamente com a mãe): traço que parece ser inato.

Afetividade é a dinâmica humana mais profunda e complexa que podemos experimentar; é a “loucura” das relações, tão difícil de compreender e aceitar. A afetividade se dinamiza a partir do momento em que um sujeito humano se liga a outro sujeito humano pelo amor incondicional (CAPELATTO, 2007, p.11).

A vida afetiva humana, no ponto de vista educacional é a capacidade de

relacionamento satisfatório desenvolvido pelo homem com os outros e consigo

mesmo, ou seja, Inteligência Interpessoal.

Page 15: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

14

William James – considerado o pai da psicologia moderna – define as

Inteligências Interpessoal e social como “uma habilidade para ver as coisas de forma

clara, com um sentimento intuitivo que nos permite” navegar rumo a felicidade e à

prosperidade”. Ela envolve aspectos da vida como a perspectiva, a espontaneidade,

a criatividade e as habilidades sociais e emocionais.

O ser humano possui uma característica natural que é a sociabilidade. Essa

relação social que estabelece com os outros o leva a defrontar-se com emoções e

sentimentos. Estes constituem a afetividade humana e, tanto a Filosofia quanto a

Psicologia abordam pesquisas que buscam explicações sobre a influência afetiva na

vida do homem.

Muitos teóricos viram na esfera da afetividade a dimensão mais importante da

vida humana. Miller em sua teoria relacional enfatiza que o crescimento da

personalidade se dá por meio de relacionamentos emocionais (PAPALIA, 2000).

Mesmo com muitos estudos publicados sobre a dimensão afetiva na

constituição da subjetividade humana, percebe-se que ainda há um dualismo entre

afetividade/cognição e que essas instâncias permanecem dissociadas

(VASCONCELOS, 2004).

No entanto, não se pode estudar somente a razão e desligá-la da afetividade,

como se o homem fosse um ser fragmentado, pois corre-se o risco de deixar de

analisar aspectos importantes. “O comportamento humano é influenciado pelo afeto

e muitas vezes representam um fator determinante em algumas situações, mesmo

porque não se pode fugir de tal sentimento,” visto que o demonstramos através de

palavras, gestos, expressões faciais, além de tudo é parte integrante da

subjetividade humana. “É fundamental para o bem-estar controlar as emoções,

procurando compreendê-las para manter um equilíbrio e não suprimi-las”

(SAMPAIO, 2004). Esse controle será obtido quando o indivíduo alcançar a

maturidade emocional. “Só então ele será capaz de controlar o impulso, a fim de

ganhar tempo para uma apreciação racional.”

Compreender as relações afetivas leva ao entendimento e aceitação do outro

com seus limites e diferenças. Nem todos exploram o espaço afetivo que há no

interior e por isso não percebem que se tornam egoístas, agindo em benefício de si

mesmo e pondo a margem o outro. A sala de aula é uma oficina de aprendizagens.

Durante o estágio pudemos destacar vários tipos de atitudes apresentadas pelos

Page 16: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

15

alunos: quietude, agitação, medo, risos, seriedade..., cada característica reflete

quantitativamente o afeto recebido e, ou compartilhado pelos alunos e professor. O

mais importante saber é que o afeto influencia direta e indiretamente nossas ações e

pensamentos impulsionando o ser humano a conquistar seus ideais.

[...] a afetividade é o maior conflito humano... É preciso suportar esse conflito humano, porque sabemos que ele é preciso (brigar, gritar, pedir desculpas , abraçar, beijar...). É o conflito que nos mantém vivos... Quando uma pessoa fica indiferente ao outro e indiferente a si mesma, não estuda, não trabalha, ela está em sofrimento, perdeu a relação afetiva com os outros. Quando perdemos a relação afetiva, isso é muito perigoso (CAPELATTO, 2007, p.15).

Se há um conflito há necessidade do afeto, quem evita os conflitos da

afetividade evita também o amor, porém, fica claro que a afetividade é o que move

as pessoas, “são como forças avassaladoras ocultas no interior do próprio ser”. A

afetividade está por trás dos desejos pessoais, das necessidades, do estado de

ânimo, dos problemas e soluções é a aliada para conduzir um indivíduo em qualquer

situação, seja numa maratona, seja para aprender a ler, seja para fazer amigos, ser

reconhecido. O mais importante; “o afeto sempre será uma necessidade humana e

que a ausência do mesmo pode caracterizar crianças desmotivadas, descontroladas,

inseguras, individualistas, intemperantes, agressivas... Portanto, a vida afetiva

humana deve ser cultivada constantemente pelos pais, professores, amigos e

estimulada constantemente por si mesmo.

1.2 RELAÇÃO AFETIVA FAMILIAR

A família é uma instituição que contribui em muitos aspectos no

comportamento da criança em sala de aula. Através da afetividade estabelecida na

casa entre os membros da família, a criança poderá expressar comportamentos

variáveis, sendo possível detectar o nível de afetividade no lar através da

aprendizagem da criança.

O ambiente familiar é propício para inúmeras atividades que envolvem a

criança numa ação intencional, numa situação de trocas intersubjetivas que vão se

Page 17: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

16

tornando mais complexas ou envolvendo mais intencionalidades, numa perspectiva

temporal. Famílias que oferecem às crianças e adolescentes mais atividades

organizadas, gradualmente aumentando sua complexidade e nas quais possam se

engajar por períodos de tempo, facilitam, na proposta de Bronfenbrenner, os

processos de desenvolvimento. Essas atividades não só desenvolvem habilidades

cognitivas e sociais na criança, mas vão consolidando sua posição na constelação

familiar. As trocas intersubjetivas na família, numa situação de apego emocional

sólido, oferecem oportunidade de desenvolvimento para todos os envolvidos e não

só para as crianças (SZYMANSKI, 2010, p.24).

A afetividade acompanha o ser humano desde a vida intra-uterina até a

morte. No útero haverá uma forte interação entre mãe e bebê. Tudo o que é

necessário para a vida do bebê é fornecido pela mãe, desde o oxigênio para respirar

até a sua alimentação. Mesmo adquirindo autonomia respiratória, após o

nascimento, a criança continuará dependendo de cuidados especiais para outras

necessidades (DOURADO, 2003).

O bebê quando nasce expressa suas emoções desde o primeiro dia de vida,

pois é capaz de sentir medo, alegria e várias demonstrações de emoções surgem a

partir das relações estabelecidas com outras pessoas que fornecem a base para

ocorrer as transformações no comportamento da criança ( DAVIS, 1994).

No convívio familiar a criança participa da vida afetiva de seus pais ou

familiares e internaliza, de forma inconsciente, algumas estruturas afetivas que serão

ecoadas em sua vida cotidiana (LEGRAND, 1974). Isso ocorre porque a família,

segundo Aranha (1996), é o suporte da aprendizagem das relações afetivas.

A proposta de atuação educacional dos adultos responsáveis pelas crianças

no contexto familiar que apresentaremos a seguir segue a teoria freireana de uma

“prática educativo-progressista em favor da autonomia do ser dos educandos”

(FREIRE, 1996, p.14).

As relações interativas na família são desenvolvidas e especializadas nas

etapas sucessivas de sociabilidade denominadas por Henri Wallon (DOURADO,

2003). Dessas etapas destacam-se as quatro primeiras.

O primeiro estágio dessas etapas é denominado de impulsivo-emocional e

abrange o período de 12 aos 18 meses. Nessa fase a criança chama atenção dos

Page 18: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

17

pais por meio de gestos, gritos e expressões. Ela já sabe contagiar o adulto com

sorrisos caracterizando laços de natureza afetiva. Essa relação é recíproca e para

Dourado “[...] é necessário que a imperícia do recém-nascido afete o outro e

desenvolva nele solidariedade; é o poder da própria espécie sobreviver utilizando o

contágio emocional de que dispõe como recurso para sua preservação e evolução” .

(2003, p 213). O Dr. Piaget afirma que nesse período a criança percebe o ambiente

e age sobre ele.

O segundo estágio é o sensório-motor e projetivo que vai dos 2 aos 3 anos.

Nesta fase a criança volta-se para a exploração de objetos e do mundo exterior. Ela

descobre os jogos espontâneos que ajudam a conceber relações mais ricas. .

Segundo o Dr. Piaget, nessa fase é desenvolvida a capacidade simbólica.

O estágio seguinte é importante para o desenvolvimento da identidade da

criança e por isso é chamado de Personalismo, para Piaget é o período das

operações concretas. Ele abrange a idade de 3 aos 5 anos, onde a criança toma

consciência de sua autonomia, pois “se torna mais sensível a figura do Eu em

oposição à figura do outro” (DOURADO 2003, p 215). Nessa fase a criança

geralmente ampliará as suas relações interativas que não estarão voltadas somente

para a família. Ela entrará em contato com outras crianças e iniciará a vida escolar.

O quarto estágio atinge as idades de 6 aos 11 anos e é denominado de

Categorial, que Piaget chama de operações formais, porque tem função maior de

desenvolver a razão conhecedora que é possível pelas diferenciações e integrações

sucessivas resultantes do amadurecimento e das intervenções do meio.

Percebe-se a importância das relações no desenvolvimento da criança e o

papel da família como responsável em desenvolver a primeira sociabilidade. É na

família que a criança busca as condições favoráveis para seu desenvolvimento.

Entre tais condições estão as relações afetivas (ARANHA, 1996).

A forma com que a família demonstra afeto pela criança será significativa para

o desenvolvimento de sua personalidade. Se a criança vive em um ambiente

agradável afetivamente, suas ações responderão ao tratamento recebido. E seu

processo de aprendizagem será favorecido. No entanto, se nesse ambiente o

tratamento for áspero e violento resultará em uma criança com difícil conduta social,

com dificuldades de ajustamento à realidade e com inúmeros problemas de

comunicação. O convívio com os alunos acaba trazendo um conhecimento a

Page 19: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

18

respeito do contexto familiar de cada um. Muitos alunos que se comportam de forma

irreverente ou violentamente estiveram passando por problemas de relacionamento

em casa com seus pais, a agressividade era um reflexo do que viam e a irreverência

se destacava pelos conflitos de aceitação, a fim de chamar atenção para si (falta do

afeto).

As influências educativas do lar são uma força decidida para o bem ou para o mal. São, em muitos sentidos, silenciosas e graduais, mas sendo exercidas na direção de vida, tornam-se fator de grande alcance em prol da verdade e justiça (WHITE, 2001, p.7).

É no lar que a criança aprende a ter um bom relacionamento afetivo, através

do respeito, bondade, reconhecimento, amor e atenção ali recebidos É pela

atmosfera do lar que o educando desenvolve sua vida afetiva. “As crianças

aprendem o que vivenciam”. Durante o estágio observou-se na sala de aula crianças

desabrochando e demonstrando toda a afetividade adquirida no lar, pois a sala de

aula acabou sendo, em alguns momentos, reformatório de corações.

1.3 A AFETIVIDADE NA ESCOLA

A Escola não só ajuda no desenvolvimento da Inteligência cognitiva, mas,

também ajuda na Inteligência Emocional - A afetividade é só uma ferramenta dessa

inteligência. É como um instrumento de compreensão do processo ensino-

aprendizagem escolar, uma via que também leva ao conhecimento.

A afetividade não é apenas uma das dimensões da pessoa: ela é também uma fase do desenvolvimento, a mais arcaica, um ser afetivo. Da afetividade diferenciou-se lentamente a vida racional. Portanto, no início da vida, afetividade e inteligência estão sincretamente misturadas, com o predomínio da primeira (SZYMANSKI, 1992, p.90).

Até o início do século XX, os fatores cognitivos eram mais enfatizados no

ambiente escolar, o afeto não era muito comentado ou expressado pelos

profissionais de educação. Posteriormente surgiram teorias psicológicas como a

Gestalt, o Behaviorismo, a Psicanálise entre outras que procuraram ver o problema e

discuti-lo mais profundamente. Só então, os estudos sobre cognição e afetividade

começaram a aparecer. Percebeu-se que é por insistência das pesquisas em âmbito

Page 20: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

19

psicológica que o estado emocional das crianças tem sido reconhecido como um

fator de influência no desempenho escolar. E por que não dizer psicopedagogia?

Com o olhar da psicologia e da pedagogia as estratégias de ensino serão adaptadas

às personalidades cognitivas das crianças de acordo com o nível de afetividade ou

necessidade de afetividade.

A escola contribui para a construção de valores e ideais sociais mediante o

intermédio de modificações comportamentais da área afetiva, pois esse espaço

interior não é muito explorado e por isso pouco conhecido pela criança. Portanto, um

dos papéis fundamentais da educação escolar é resgatar o real significado dessa

dimensão afetiva em benefício do homem na solução de seus problemas, já que

estes não se resolvem somente no nível racional, mas principalmente no nível

afetivo. Dessa forma há uma associação do racional com o emocional.

A sala de aula acaba se tornando o laboratório principal para se detectar e

resolver conflitos emocionais. É na sala de aula que o professor percebe quando a

área afetiva começa a influenciar o rendimento escolar: separação da família, do pai,

dos irmãos e, dos amigos, inquietude ou agressão.

Por esses e outros fatores a iniciação escolar da criança deve ser trabalhada

cuidadosamente com o intuito de favorecer a criança. A preparação inicial cabe à

família. Todas as informações transmitidas sobre a escola farão com que a criança

torne esse momento desejado ou não. Depois compete à escola proporcionar um

bom começo, oportunizando o entrosamento entre a criança que chega, às demais

crianças e os funcionários que já fazem parte do ambiente escolar. “Desse bom

relacionamento inicial resultará a integração da criança no grupo social escolar e sua

maior ou menor adaptação ao novo tipo de vida” (DROUET, 2002).

Ela Poderá gostar ou não da escola e por fim gostará ou não de estudar. Se

não houver interesse por parte da família ou da escola em seguir os cuidados iniciais

de adaptação, possivelmente a criança alimentará uma insegurança em relação ao

novo ambiente e sentirá um impacto difícil de ser superado e talvez resulte em uma

dificuldade de aprendizagem.

Page 21: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

20

“O professor pode ensinar mais com o que é do que com aquilo que pretende ensinar; seu modo de fazer as coisas implica mensagens implícitas de efeitos que podem ser positivos ou negativos; se aceitam ou recusam suas atitudes e seus valores, reforça-se o interesse ou o desinteresse pelo apreendido (pode-se aprender a odiar a matéria)...Uma influência específica vem da relação do professor com os alunos (disponibilidade, interesse manifestado por todos os alunos, paciência, boa preparação das aulas.). Além disso, quer se pretenda conscientemente quer não, os métodos utilizados na sala de aula, os exercícios, as práticas etc. podem influenciar notavelmente não só no aprendizado dos conteúdos ou habilidades dos alunos, mas também em suas atitudes com relação à matéria, ao estudo e ao trabalho, assim como a respeito de si mesmo” (MORALES, 2008, p. 25 e 26).

A escola tem como concepção a formação integral do educando e sua

proposta educativa deve objetivar a formação visando o desenvolvimento de

competências nos alunos, levando-os a serem democráticos e autônomos com as

diversidades culturais e com sentimentos e emoções presentes nas relações que

estabelecem. Portanto, a escola como um todo também contribui para o

desenvolvimento afetivo na vida do educando e conseqüentemente constrói pessoas

saudáveis, compreensivas, seguras de si, respeitadoras dos limites e dos outros. A

escola é a continuidade da educação recebida no lar e dará continuidade no

desenvolvimento do afeto.

O mestre presente não apenas na classe, mas também no coração do aluno, torna-se um guia seguro, que o conduz para a beleza e para a pureza sem necessidade de palavras (CUNHA, 2007, p.106).

O papel do educador na sala de aula torna-se relevante para o

desenvolvimento cognitivo do aluno, quando o mesmo é tratado de maneira afetiva

sendo valorizado e respeitado pelo educador.

O educador arrisca-se a um fracasso semelhante se não fez, a cada dia, o

esforço indispensável de auto-renovação, a fim de que sua presença não se torne

para a criança um hábito, que faria dele uma coisa entre outras coisas. Da mesma

forma, o aluno jamais deverá ser considerado um "objeto" catalogado

definitivamente, cuja "essência" já estaria estabelecida desde o primeiro contato,

anterior a toda experiência vivida até o seu término.

A análise existencial das relações afetivas do "par educativo" nos

oferece essa idéia fecunda de que o aluno se define por sua existência escolar, e

não pode ser enquadrado numa classificação. Se somos obrigados a fazê-Io,

Page 22: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

21

será sempre de uma forma provisória, com a ressalva de frequentes revisões. Não é

no primeiro, mas no último dia de escola, no momento em que deixa as aulas, que

o professor poderá pôr um "rótulo" em seu aluno. A posteridade da essência em

relação à existência é particularmente válida para o aluno.

No fundo, trata-se, praticamente, da posição de Bergson, para quem o futuro

ilumina o passado. Em função desta ideia, os últimos atos da vida escolar de um

aluno poderão oferecer um sentido retrospectivo a todo que ele pode manifestar

durante sua vida escolar e anularão os julgamentos em virtude dos quais se

pretendeu enquadrá-lo neste ou naquele tipo. Todas as classificações, todas

as "rotulações" às quais se proceda devem ser revistas cotídianamente, na

presença recíproca e sempre mutável de duas existências, a do professor e a do

aluno, na sequência de uma soma de esforços sem cessar renovados, de

prodígios de intuição e de compreensão para encontrar o caminho secreto do ser

misterioso e único no mundo que se tem diante de si.

Seria um erro dizer que, se tivemos êxito com um aluno, os meios

empregados com ele devem levar ao mesmo resultado com um novo aluno. O

trabalho ficaria, assim, facilitado para o educador, que gosta de trabalhar com

elementos estáveis e avançar por caminhos bem traçados, num mundo racional,

abstraio e geral. É tão cómodo e tão seguro! Entretanto, a dificuldade da educação

reside no fato de que as soluções que deram certo com um aluno precedente não

precisam necessariamente dar o mesmo resultado com um novo aluno. Quando o

professor tiver conduzido uma criança até o término de sua escolaridade, ser-lhe-á

preciso retomar um novo aluno que, no eterno recomeço dos anos escolares, virá

por sua vez, habitar o coração do educador, expulsando o anterior. E nesta

perspectiva existencial da educação, com este intruso, surge urn novo mistério, um

diálogo se estabelece, um par hesitante se forma nas trevas, um novo problema se

oferece, um novo drama vai se apresentar diante dessas duas existências, para tirar

toda sua substância da dificuldade de se aceitar, sem tolher sua própria liberdade.

Cada vez, é preciso fazer tabula rasa da experiência precedente, antes de

abordar toda nova experiência. Na classe, o professor tem tantos comportamentos e

métodos educativos quantos alunos. Sabe que um determinado aluno pode receber

um tapa sem dano psíquico, mas que, ao contrário, um outro ficaria marcado por

toda a vida. Se um bom educador pode ter tantos tipos de caracteres quantos são os

Page 23: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

22

alunos, a educação individualizada parece-nos preferível à educação coletiva, que

implica no comportamento geral de um mestre perante uma classe inteira.

Não há educa sem amor. O amor implica luta contra o egoísmo. Quem não

ama não é capaz de amar os seres inacabados não podem educar. Não há

educação imposta, como não há amor imposto. Quem não ama não compreende o

próximo, não o respeita. Não há educação do medo. Nada se pode temer da

educação quando se ama (FREIRE, 2007, p.29).

Precisamos amar e valorizar nossos alunos, através das habilidades que

temos como educadores, não somente para propiciar aos alunos qualificações

educacionais, mas também algo que eles precisam como cidadãos e seres humanos

no sentido de ajudá-los a desenvolverem pensamentos positivos valorizando a

questão de um bom relacionamento em sala de aula.

Page 24: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

23

CAPÍTULO 2 - A contribuição do Psicopedagogo na

qualidade da relação afetiva professor / aluno

As duas maiores instituições Família e Escola formam em si redes de

conhecimentos e gerenciamento de pessoas por isso, inserir a psicopedagogia para

estudar como ocorrem as relações interpessoais nestes ambientes é de

fundamental importância. A Psicopedagogia está presente em âmbitos diferentes

de trabalho: em escolas, hospitais e empresas. Seu papel é analisar e assinalar os

fatores que favorecem, intervêm ou prejudicam uma boa aprendizagem e

desenvolvimento nos seres que se relacionam. Propõe e auxilia na construção de

projetos favoráveis às mudanças educacionais, visando evitar processos que

conduzam as dificuldades na construção do conhecimento.

A Psicopedagoga é a profissional indicada para assessorar e esclarecer a

instituição os diversos aspectos do processo de ensino-aprendizagem e tem uma

atuação preventiva. Na escola, o psicopedagogo poderá contribuir no

esclarecimento de dificuldades de aprendizagem que não têm como causa apenas

deficiências do aluno, mas que são consequências de problemas escolares, tais

como:

§ Organização da Instituição;

§ Métodos de ensino;

§ Relação professor/aluno;

§ Orientação Familiar;

§ Linguagem do professor;

§ Planejamento, dentre outros.

O psicopedagogo institucional é o que trabalha dentro da escola como apoio,

ajudando as crianças e adolescente a descobrir problemas na vida escolar e criar

meios que possam auxiliar no desenvolvimento de sua aprendizagem. Além de

orientar as crianças, o psicopedagogo poderá orientar os pais dos estudantes que

muitas das vezes estão passando por sérios problemas familiares que refletem

claramente em sala de aula causando dificuldades na aprendizagem do aluno, vale

Page 25: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

24

ressaltar que o psicopedagogo institucional atua na escola junto com os

professores para a melhoria condições para o processo de ensino-aprendizagem.

O psicopedagogo elabora em sua estratégia de trabalho; dinâmicas a fim de

fortalecer a relação afetiva entre o professor e o aluno; assim a aprendizagem vai

ocorrendo na estimulação do ambiente sobre o indivíduo maduro, onde, diante de

uma situação/problema, se expressa uma mudança de comportamento, recebendo

interferência de vários fatores – intelectual, psicomotor, físico, social e no que refere

ao tema do trabalho, o Afeto ou Afetividade. O psicopedagogo passa a ser um

aliado do professor e do colégio a favor da inteligência cognitiva /emocional

(afetiva). Dessa forma conclui-se que as manifestações de afetividades exercem

um papel relevante no processo de desenvolvimento do aluno seja ele criança ou

adolescente, na expectativa de Construir futuros cidadãos seguros e conscientes

de seus atos.

2.1 PARA QUE O AFETO?

A questão do afeto percorre todo o histórico da educação, sendo que não podemos menosprezá-lo se realmente queremos educar. Ele pode estar no tema a ser estudado ou no educador que irá transmiti-lo. Há momentos em que ouvimos um aluno dizer: “Não gosto da matéria, mas gosto do professor”. Ou o inverso: “Não gosto do professor, mas amo a matéria. O afeto e também o prazer são propulsores da cooperação. Quando existe a cooperação, a classe deixa ser apenas uma soma de indivíduos e passa a ser uma sociedade” (CUNHA, 2007, p. 91 e 92).

O afeto é o elo que liga as pessoas, despertam os verdadeiros sentimentos e

estimulam as diversas habilidades de aprendizagem. Pode ser um instrumento

estimulador para o processo ensino aprendizagem nas mãos de um educador

comprometido. O afeto é a resposta para as necessidades psicológicas, motiva a

boa relação, autonomia, condutas, emoções

O afeto parte do amor incondicional, amor em todos os aspectos: amor ao

próximo, amor a Deus, amor ao trabalho, amor a profissão, amor aos pais. É

através do amor que há possibilidades de sonhos realizados pelo afeto.

Page 26: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

25

“O amor é um conceito diverso, repleto de contrastes, antíteses, paradoxos e peculiares que o tornam tão singular quanto complexo. Por isso defini-lo é muito mais do que uma simples demonstração de conhecimento lingüístico, é antes de tudo uma empreitada desafiadora. O amor também condenada, absolve, revela, esconde, simula, expõe. O amor orienta, desnorteia, incendeia, esfria, congela, ferve” (CHALITA, 2003, p. 19 e 20).

O afeto é de todos e para todos, através dele Paulo Freire, grande

educador, conseguiu perceber as necessidades reais das pessoas e em pouco

tempo seus alunos descobriram o óbvio da leitura no seu dia a dia.

Gosto de ser gente porque, como tal, percebo afinal que a construção de minha presença no mundo, que não se faz no isolamento, isenta da influência das forças sociais, que não se compreenda fora da tensão entre o que herdo geneticamente e o que herdo social, cultural e historicamente, tem muito a ver comigo mesmo (FREIRE, 1996, p.59).

2.2 QUAIS AS DIFICULDADES APRESENTADAS PELO DESAFETO?

“Se o aluno responde com seu esforço às expectativas e à atenção especial do professor, reforça a atitude do professor. Novamente nos encontramos com os influxos recíprocos; neste caso para bem, mas não podemos nos esquecer de que esse influxo mútuo também pode ser para o mal, ao menos por omissão” (MORALES, 1998, p.94).

Todo ser humano encontra na motivação um sentido para correr atrás de

seus ideais. O afeto do professor para com o aluno ou vice-versa é como uma

motivação para a aprendizagem. O aluno amado e reconhecido procura fazer o

melhor para agradar seu professor e o professor para não decepcioná-lo planeja as

suas aulas com satisfação, disposto a alcançar o coração do aluno.

Segundo (HENGEMULHE, 2004) pedimos aos professores que procurassem

se lembrar dos seus professores e indagassem: O que lembramos deles de muito

significado? O que neles nos marcou positivamente? Foram registrados estes

depoimentos. O que é mais citado pelos professores como marcante é a afetividade

com que eram tratados.

O desafeto é a carência do afeto, inimigo principal da Inteligência emocional.

Adultos e crianças não valorizados se transformam em pessoas frustradas, mal

humoradas, desanimadas, estressadas, violentas em ações e palavras. Segundo

Page 27: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

26

as pesquisas, na Escola Ramos de Oliveira, as crianças que se enquadraram

nesse panorama eram filhos de pais separados, de média e baixa renda e alguns

casos; pais com vícios (brigas, bebidas, discussões...). Tais crianças, geralmente

se tornam adultos sem expectativas de vida, sem sonhos, mas isso não é regra.

O afeto desperta o amor, o desafeto o ódio, ódio de si mesmo e dos outros.

Uma criança com raiva no coração não permite ser amada por ninguém, pois não

confia em ninguém, não acredita que pode ser melhor e que um dia alguém poderá

realmente gostar dela. Assim como o amor através do afeto pode ser desenvolvido

no ventre da mãe, o desafeto e a rejeição também. Porém, o desafeto não é uma

doença e se fosse teria cura O AFETO, mas para que isso seja corrigido, todos,

sem exceção deverão contribuir e mudar de atitudes e hábitos e somente através

de um trabalho direcionado por um psicólogo ou psicopedagogo se alcançará um

resultado positivo. A família e a escola devem trabalhar juntas a favor da criança e

do afeto.

2.3 A QUALIDADE DA RELAÇÃO AFETIVA PARA O CRESCIMENTO

INTELECTUAL, SOCIAL E EMOCIONAL

Os itens anteriores dão ênfase à interação entre os indivíduos e sua influência

no desenvolvimento humano. Para Vygotsky o processo ensino-aprendizagem é um

processo global de relações interpessoais e envolve, ao mesmo tempo, alguém que

aprende, alguém que ensina e a própria relação ensino-aprendizagem. A

intervenção do outro nesse processo passa a ser indissociável, pois o professor é

importante para promover o desenvolvimento e as crianças necessitam dessa figura

para despertarem suas potencialidades, fornecendo pistas, instruções e assistência

que as levem a um ensino capaz de promover o desenvolvimento (OLIVEIRA, 2002).

Coll e Solé (1996) fizeram um estudo histórico sobre as pesquisas realizadas

em torno da interação professor/aluno e constataram que até pouco tempo as

tentativas de estudos procuravam apenas definir e medir a eficácia docente. Essa

competência do docente era medida através dos métodos de ensino utilizados pelo

professor, ou seja, essas pesquisas indicam as características pessoais dos

professores como responsáveis por sua eficácia como docente.

Page 28: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

27

No entanto, os estudos passaram a utilizar instrumentos de observação mais

eficazes e potentes para descrever o que ocorre na sala de aula, valorizando com

esses meios a dinâmica dos processos de ensino e de aprendizagem. Percebe-se

que a relação professor/aluno não se reduz apenas a uma questão metódica, mas

sim na revalorização do que ocorre efetivamente nas salas de aula como a

importância para medir a eficácia do professor.

A partir daí passou haver um deslocamento de interesse para perceber a

qualidade da relação afetiva em sala de aula. Tal qualidade refere-se:

§ A maneira de entender o papel do professor;

§ A posição do professor como orientador;

§ As atividades construtivas proporcionadas aos alunos e a interação da

classe;

§ A consideração da estrutura comunicativa;

§ A interação professor/aluno;

§ O amor em ação.

Não necessariamente nessa sequência, mas a medida em que os alunos

estão amadurecidos e que a afetividade está bem distribuída entre os seres do

ambiente, fica mais explícito que cada item citado acima, para o orientador, se torna

necessário para uma auto-avaliação em relação a qualidade da afetividade.

“A maturidade afetiva tem conseqüências diretas na criação de um clima de cooperação entre professores, dos professores com os alunos e deste entre si. Esse é um sinal de excelência da educação, diante dos desafios contemporâneos” (HENGEMUHLE, 2004, p.140).

Tanto professor e alunos contribuem na construção de significados a partir

dos conteúdos transmitidos, mas a interação estabelecida entre ambos contribui

significativamente para a construção do aprendizado. A afetividade se dará a partir

dessa interação e a qualidade pelos resultados dos objetivos alcançados.

Os objetivos quando parcialmente ou integralmente alcançados na sala de

aula, contribuem quantitativamente nos seguintes aspectos:

Page 29: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

28

§ Crescimento intelectual: o aluno sente prazer em estudar e realiza todas

as suas atividades, se esforça para ser bem visto por seu professor e

pelos colegas.

§ Social: o aluno não se torna egoísta, pela afetividade ajuda seus colegas

com dificuldades e compartilha com ele o conhecimento apreendido.

§ Emocional: o aluno tem prazer em estudar e ama sua escola como se

fosse sua casa ou, para alguns, melhor que a mesma, é movido pela

afetividade e ainda que fique doente, chora, com saudades, pois prefere,

nesse estado, vir à aula.

O afeto pode moldar o caráter de uma criança e isso não é só teoria, é

prática, mas é preciso que o agente do saber, o professor, entenda o seu papel,

organize as orientações, planeje as atividades construtivas proporcionadas aos

alunos e a interação da classe; avalie a estrutura comunicativa da classe, conduza a

interação professor/aluno e principalmente, faça tudo com amor.

Page 30: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

29

CAPÍTULO 3 - O legado do Professor e a afetividade

Pensar em educação não é simplesmente observar livros, recursos

comportamentos, nem mesmo avaliar só por avaliar nota, é muito mais que ensinar,

e amar, é acompanhar, é reconhecer esse ofício como um legado. O legado do

professor não é simples, não é fácil, e também não é difícil, quando se tem a

afetividade na profissão tudo se torna leve e prazeroso.O professor não deve se

prender aos problemas relacionados a sua profissão, porém ver o ofício com um

olhar afetivo perceberás que vale a pena ser um educador.

Falar da afetividade na relação professor-aluno na perspectiva Walloniana, é

falar das emoções, disciplina, postura, do conflito eu-outro, ma constante na vida da

criança - em todo o meio de qual faça parte – seja a família, a escola ou outro

ambiente que ela freqüente.

A afetividade favorece a dimensão didática e relacional. Na sala de aula não há apenas uma dimensão puramente didática. O ensino precisa de situações instigadas pelo professor para incentivar e desenvolver a aprendizagem. Dentre essas situações estão as perguntas orais e questionamentos que favorecem a autoconfiança e motivação. A dimensão relacional permite ao professor manifestar interesse, respeito, atitude de ajuda, dando orientações práticas e de autoajuda aos educandos. Dentre dessa dimensão é possível despertar o senso crítico dos alunos, pois se há um relacionamento afetivo entre professor e alunos, estes não terão receio de manifestar suas inquietações (MORALES, 2004 – multidimensionalidade da relação professor-aluno).

A dimensão afetiva, que é de fundamental importância para Wallon, seja do

ponto de vista da construção da pessoa como do ponto de vista do conhecimento,

sendo, portanto, marcante para o desenvolvimento da espécie humana que se

manifesta a partir do nascimento e estende-se pelo primeiro ano de vida da criança.

Wallon explica que uma criança normal, guando já está se relacionando

afetivamente bem corn o seu meio ambiente, em particular com sua mãe, sente

necessidade de ser objeto de manifestações afetivas para que, assim, seu

desenvolvimento biológico seja perfeitamente normal (DANTAS, 1992, p.85)

No terceiro ano de vida, acontece uma reviravolta nas condutas da criança e

nas suas relações com o meio, o qual é de surna importância para a existência da

Page 31: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

30

criança e que Wallon acredita haver desde o período fetal, prolongando-se além do

nascimento. É nesta fase que se iniciam os conflitos interpessoais, onde a criança

opõe-se a tudo que julga diferente dela, que venha de outro. O conflito eu-outro não

é exclusivo do estágio da formação do eu, que o autor chamou de personalista;

pois surgirá uma nova crise de oposição no período da adolescência, crise essa

necessária para a reconstrução da personalidade, sendo, na sua opinião, um

importante recurso para a diferenciação do eu.

Assim, vemos que para Wallon, a afetividade, além de ser uma das

dimensões da pessoa, é uma das fases mais antigas do desenvolvimento, pois o

homem logo que deixou de ser puramente orgânico passou a ser afetivo e, da

afetïvidade, lentamente passou para a vida racional. Nesse sentido, a afetividade e

inteligência se misturam, havendo o predomínio da primeira e, mesmo havendo

logo uma diferenciação entre as duas, haverá uma permanente reciprocidade entre

elas. "(...) a afetividade depende, para evoluir, de conquistas realizadas no plano da

inteligência, e vice-versa" (DANTAS, 1992, p.90).

Verificamos no dia-a-dia que, quando a criança está na idade da escola

maternal, dos três aos cinco anos, sua maneira de agir vai corresponder a

princípios afirmados em etapas anteriores tal como descritas por Wallon, princípios

esses necessários para evitar crises penosas nas quais a maturação da criança, o

eu psicobiológico podem fazê-Ia passar. Para o autor, é na escola maternal, que

.acriança começa a se emancipar da vida familiar. Nesse período, é necessário

disciplina para que a criança seja feliz, uma disciplina.de ordem maternal, diferente

da que virá receber mais tarde na escola. É necessário, também, que haja relações

de ordem pessoal entre ela e seu educador, quase que de ordem maternal.

Na fase dos seis aos sete anos, ainda segundo Wallon, a educação se torna

obrigatória e a criança não mais pertence unicamente ao grupo familiar pois passa

a fazer parte de grupos diferentes, o que caracteriza a fase da socialização. Nesta

fase, o professor tem papel importante para essas novas formas de relações

desenvolvendo, na criança, o espírito de cooperação e solidariedade através das

tentativas de trabalho em equipe. "No caso da criança, no qual entre ela e o objeto

a conhecer existe um mediador, geralmente na pessoa de um adulto que ensina, a

calidez da veiculação afetiva entre eles catalisa poderosamente a reaçâo que

resulta na apreensão do objeío pelo sujeito" (DANTAS, 1997, p.68).

Page 32: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

31

O professor deve ainda ter verdadeira consciência de sua responsabilidade,

precisa tornar decisões de acordo com seu tempo, tomando decisões pensadas,

com fundamento na sua instrução recebida, e de acordo com os valores morais e

as relações sociais pertinentes à sua época. Suas decisões devem ser tomadas

solidariamente com seus alunos, conhecendo suas condições de vida social e

familiar. O professor, em colaboração com seus alunos e de acordo com sua

individualidade, modifica suas próprias idéias em conformação com a realidade,

que é móvel e dependente da existência de todos, e que também deve visar ao

interesse de cada um.

Não podemos esquecer que a disciplina é necessária para se evitar as

futuras perturbações de caráter, mas que tem, na sala de aula, um espaço

adequado para ser trabalhada. Não estamos falando daquela disciplina na

concepção tradicional, ainda usada nas escolas, que exige o silêncio, docilidade e

passividade da criança, pois entendemos que este procedimento é impróprio ao

ensino, podendo reprimir a criança ao invés de desenvolvê-la melhor.

A maioria das tarefas, na escola, exige que a criança fique sentada, parada,

com atenção numa única direção. A postura para o cumprimento de tais tarefas

exige muito controle, que advém de um " tardio e custoso processo de consolidação

das disciplinas mentais (...) a intensidade com que a escola exige essas condutas é

superior às possibilidades da idade, o que propicia a emergência de dispersão e

irnpulsividade (...)" (WALLON apud GALVÃO, 1995, p.109).

É equivocado pensar-se em urn padrão de postura que garanta toda atenção

em qualquer atividade, pois, muitas vezes, são as variações na posição do corpo

que propiciam melhor e maior atenção na atividade que a criança está realizando.

Percebe-se que, ao longo do desenvolvimento da criança, que urna série de fatores

contribuem para sua formação enquanto ser social.

Vivemos num tempo em que o profissional da educação precisa ver sua

tarefa como uma missão, não somente como um ato de ensinar e de aprender ou

um meio de subsistência. A educação de tenra idade molda o caráter dos alunos

em todos os aspectos da vida. Diz Salomão: “Instrui o menino no caminho em que

deve andar, até quando envelhecer não se desviará dele” (Pv 22:6).

Essa linguagem é positiva. O ensino recomendado pelo rei Salomão é dirigir,

Page 33: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

32

educar e desenvolver, para que os pais e mestres façam essa obra, devem eles

próprios compreender “o caminho” em que a criança deve andar. Isso abrange mais

que mero conhecimento de livros. Envolve tudo quanto é bom, virtuoso, verdadeiro,

honesto, justo... valores de vida e este é o legado do professor, moldar caráter para

se ter uma cidadania melhor.

Devem ser de tal maneira educadas que sua mente se ache unida com as dos pais e professores, e instruídas de modo a poderem ver conveniência de atender a seus conselhos. Então, ao saírem de sob a mão orientadora deles, seu caráter não será como a cana agitada pelo vento. (WHITE, 2008, p.11).

Quem escolhe a profissão de educador reconhece que não é uma simples

tarefa, os filhos trazem a herança do caráter recebida no lar e, é na escola que

esse caráter pode ser aperfeiçoado, principalmente nos primeiros anos da vida

escolar. O legado do professor é aceitar, amar, e conduzir a criança no melhor

caminho, pois sua influência pode contribuir para o bem ou para o mal. Através da

afetividade por seres diferentes o professor encontra interesse de valorização em

seu trabalho e interesse em orientar os pequeninos que dele dependem. Através da

afetividade o professor é também motivado e motivador, se relaciona com a turma,

se dedica-se no preparo das aulas, busca alcançar seus objetivos, transmite

segurança e é considerado sabedor da vida – sábio.

A verdadeira educação não desconhece o valor dos conhecimentos científicos ou aquisições literárias; mas acima da instrução aprecia a capacidade, acima da capacidade a bondade, e acima das aquisições intelectuais o caráter. O mundo não necessita tanto de homens de grande intelecto, como de nobre caráter. Necessita de homens cuja habilidade é dirigida por princípios firmes (WHITE, Ed, 2008, p. 225).

O legado do professor é receber seus alunos pra si com amor e permitir que

eles dêem continuidade a sua obra, ou seja, formar caráter nobre pelas suas

atitudes. Vê quanta diferença pode um professor fazer na vida de um aluno?

Page 34: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

33

Os professores influenciam muito seus alunos, direta ou indiretamente. E que estudando sobre a honestidade observou-se que alunos de certos professores admirados e queridos colavam muito pouco em comparação com alunos de professores que não eram queridos (BARROS, 1995, p.59).

Para Piaget, todo processo de desenvolvimento inerente ao ser humano

passa pela dimensão social e envolve cognição, afeto e moral. Sua teoria, portanto,

vem esclarecer e fortalecer mais ainda o foco central desta minha temática, que é a

relação professor-aluno, caracterizada, positiva ou negativamente, pelas intenções

afetivas que por ela perpassam. Segundo ele, durante os últimos 30 anos, tanto

psicólogos, quanto educadores, 'voltaram a atenção' rnais para o papel dos

conceitos cognitivos do que para os conceitos afetivos da sua teoria. Ele próprio,

mesmo reconhecendo o aspecto afetivo como importante, concentrou sua atenção

mais no aspecto cognitivo.

Para Wadsworth (1995), talvez deva-se ao fato de ele ter percebido o estudo

científico do aspecto afetivo como mais difícil do que o da estrutura cognitiva.

Entretanto, uma leitura cuidadosa dos trabalhos de Piaget deixa claro que a visão

do desenvolvimento intelectual, incluindo o cognitivo, sem levar inteiramente ern

conta os aspectos afetivos é incompleta. Não há comportamento afetivo sem

vínculo cognitivo ou vice-versa, há apenas uma diferença de natureza.

O interesse, para Piaget, é o elemento poderoso e comum de afetividade

que, por sua vez, influencia nossa seleção de atividades intelectuais, ou seja, a

seleção não é provocada pelas atividades cognitivas, mas pela afetividade, o que

Piaget chama de interesse.

Ao pesquisar o comportamento da criança, Piaget levou em consideração

suas fases de desenvolvimento, cuja compreensão é importante para se entender o

desenvolvimento afetivo no processo de aprendizagem, na relação conflitante entre

professor e aluno. No período Sensório-Motor, de impulsos e reflexos instintivos, o

recém nascido busca alimentação e libertação de desconfortos, Piaget diz ser uma

fase egocêntrica. Até mais ou menos um ano e meio, não há sentimento de

respeito pelo adulto. É a fase do desenvolvimento moral denominada de anomia.

Nesta fase, o sentimento forte que começa a se desenvolver no relacionamento

entre a criança e os seus tutores é o afeto. Este sentimento é fundamental para a

formação futura do respeito. E no segundo ano de vigja, que a criança começa a

Page 35: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

34

usar os sentimentos para alcançar os fins e experimenta "sucessos" e "fracassos"

do ponto de vista afetivo. "O investimento do afeto em outras pessoas é o primeiro

passo do desenvolvimento 'social' " (WADSWORTH, 1995, p.40).

Os primeiros sentimentos sociais surgem durante o estágio pré-operacional,

representados pela falta e pela representação de imagens das experiências vividas,

como as afetivas.

Durante este estágio, tendo a capacidade de reconstruir o passado cognitivo

e afetivo, o comportamento e os sentimentos da criança se tornam mais

conscientes na medida em que o desenvolvimento avança. Junto com os conceitos

cognitivos e afetivos, a criança, desenvolve a compreensão infantil das regras e dos

conceitos morais.

Para Piaget, o desenvolvimento do raciocínio moral é uma consequência do

desenvolvimento cognitivo e afetivo e, durante o estágio pré-operacional, o

raciocínio moral é visto como pré-normativo, isto é, baseia-se na obediência à

autoridade mais por medo do que por respeito mútuo. Já no estágio das operações

formais, o desenvolvimento afetivo emerge das mesmas fontes do desenvolvimento

cognitivo e das estruturas intelectuais. Na adolescência, o desenvolvimento afetivo

é marcado pelo desenvolvimento dos sentimentos idealistas e a continuação da

formação da personalidade. Para Piaget (1995, p.122), "(...) uma das principais

diferenças afetivas entre o pensamento do adolescente e do adulto reside no fato

de que inicialmente (...), o adolescente aplica o critério da pura lógica nos

julgamentos dos eventos humanos”. É aí que começa a aparecer a capacidade de

raciocinar sobre, de refletir sobre o próprio pensamento. E, se motivadas, as

crianças, com raciocício formal, podem pensar tão logicamente quanto os adultos.

O educador, por sua vez, deve ter a clareza de alimentar apenas os interesses que sirvam de fato para seu desenvolvimento intelectual. Por isso é que: “Do ponto de vista moral e racional, o professor deve ser um colaborador e não um mestre autoritário” (PIAGET, 1965, p.104).

Page 36: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

35

3.1 A REALIZAÇÃO PROFISSIONAL

A satisfação em ser educador não estar no salário de R$ 1.100 – 20h/a ou

2.200 – 40h/a, realidade da Escola Ramos de Oliveira, mas está em sua realização

como profissional. O dinheiro é importante, mas não paga o efeito causado pelo ato

de ensinar para a vida. O resultado do trabalho do professor o acompanhará em

toda a sua história, em sua vida e na vida de seus alunos. A diferença de

pensamento se dá pela afetividade desenvolvida ao longo de sua profissão. O

professor que ama o que faz, reconhece o seu valor e se esforça para que seus

objetivos sejam atingidos. No filme “escritores da liberdade”, por Richard

Lagravanese, a protagonista do filme é uma professora chamada Eurin e em sua

entrevista com a coordenadora ela disse a seguinte frase: “Acho que a luta

verdadeira deve acontecer na sala de aula.” Durante o filme ela trabalharia com 56

alunos que saíram do reformatório e participavam de gangues, pois eram

revoltados com a vida. A professora Eurin, fez a diferença na vida dos alunos e

mudou o rumo de suas histórias.

Relatos de Professores da Escola Ramos de Oliveira, quando responderam

a seguinte pergunta: Você gosta da sua profissão?

Prof. 1: Eu gosto, com certeza. É trabalhoso, cansativo, as vezes as crianças não

colaboram, mas a única coisa que eu posso fazer é respeitá-los e dominá-los. É

muito bom!

Prof. 2: Eu gosto porque é um meio de trabalho o qual eu já me acostumei.

(Entrevista de estágio, 2009)

As vezes relutamos e tentamos esconder a insatisfação e desmotivação que,

como profissionais passamos. As vezes até expressamos sem perceber para os

alunos, pais e administradores, mas antes de condenar um educador devemos nos

colocar em seu lugar e mais que isso nos colocar no lugar de seus alunos, eis a

interferência do psicopedagogo em auxiliar e fazer esse profissional se encontrar

Page 37: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

36

em sua profissão. Não podemos afirmar que a vida de um profissional da educação

é um sonho, mas acima dos prazeres há o legado e só aceita esse legado quem

está disposto a se sacrificar, afinal é o amor, a afetividade que irá fazer a diferença

e aliviar o fardo.

Segundo Tiba (2002, p.55), o respeito à criança lhe ensina que ela é amada

não pelo que faz ou tem, mas simples fato de existir. Sentindo-se amada, ela

sentirá segura para realizar seus desejos.

O professor que realiza seu trabalho com amor e dedicação ultrapassa

qualquer obstáculo pelo bem de seus alunos e os ensina a valorizarem a vida. Isso

é realização profissional.

3.2 A QUESTÃO DO GÊNERO

Observando as crianças da 1ª série na hora do recreio. Percebi que

comentavam sobre os seus professores. Diziam: - Meu professor é melhor ele é

como meu pai, muito engraçado! A outra criança questionava: - Minha professora é

a melhor, ela é mulher e entende mais as nossas necessidades femininas. Fiquei

imaginando o grau da conversa e como o teor se originou a partir da observação

dos alunos. (Relatório de Estágio 2009)

Quanto ao gênero, na educação não há preconceito, o profissional de

educação independente do sexo, precisa estabelecer princípios de vida e criem

laços afetivos com seus alunos, a fim de estimulá-los a construírem conhecimentos

e a desenvolverem valores de vida.

Existe uma preocupação por parte dos pais quando o professor é do gênero

masculino, mas com o passar do tempo o profissional acaba ganhando a confiança

dos pais e dos filhos. Uma coisa é certa, jamais o educador deve confundir

afetividade com liberdade, isso parte de um profissional irresponsável e não de uma

pessoa comprometida com o que faz. Saber fazer a diferença em todos os

momentos da vida, tanto para o aluno quanto para o educador faz com que se

adquira respeito e consideração de todos.

Ele é muito calado. Acho que ele tem que influenciar mais, brincar mais com eles, porque é uma coisa que ele não faz. Ele é muito fechado (mãe de I. S).

Page 38: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

37

Deveria haver mais carinho, mais brincadeira [...] deveria haver mais amizade entre alunos e professores (pai de B. Q). É bom que os dois tenham amizade, porque ele não queria ir mais pra escola. Ele chorava e pedia para eu tirar ele de lá e, que o professor não gostava dele (mãe de J. G.) Esse professor é diferente ele não dá muita atenção pros alunos (Mãe de J. M.). (comentários dos pais numa entrevista de estágio, 2009)

As atitudes do professor, independente de gênero é que fará a diferença na

vida do aluno e de seus pais. O gênero é mais para a identidade do professor, as

suas ações falarão mais alto e por isso que o afeto deve ser estimulado para todos

os gêneros. A imaturidade afetiva do professor pode ser conseqüência de

problemas de relacionamentos com os próprios pais e alunos, bem como colegas

de trabalho.

A valorização pessoal e o esforço independem de gênero ou de posição

social, mas depende do relacional e do reconhecimento pelos atos de

engrandecimento aos alunos através do afeto.

Percebe-se um certo preconceito em relação a pedagogia infantil e a

questão do gênero masculino e quando se observa poucos professores homens em

sala de aula, fica claro que a predominância é do gênero feminino. O gênero pode

ser importante para algumas instituições, mas o mais importante é a formação do

professor, sua opção pela área, a aceitação do legado e a qualidade de afetividade

que ele carrega.O professor não precisa ser só BOM, ele precisa amar o que faz!

3.3 A PRÁTICA PEDAGÓGICA

Com a implantação da nova LDB no Brasil, novas estruturações foram

propostas à prática pedagógica. Analisemos alguns referenciais e conceitos

abordados para solidificar a compreensão e visualizar melhor a harmonização e

importância dessa Prática.

Page 39: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

38

Ser competente é “ser eficaz na busca de soluções para problemas fora da rotina do dia-a-dia, agindo com valores éticos e Moraes, em um clima de boa convivência” (HENGEMUHLE, 2004, p.214).

§ “Precisamos desenvolver pessoas competentes em seu ser, conhecer e

conviver”.

Ter habilidade é “saber fazer”, realizar ação tanto física quanto mental, relacionar, comparar, analisar, refletir, argumentar, compreender, aplicar..., devem ser intensamente empregados (HENGEMUHLE, 2004, p.214).

§ “Precisamos desenvolver habilidades em seu ser, conhecer e conviver”.

O perfil do aluno e o perfil do professor são determinados pela prática

pedagógica em sala de aula. No espaço escolar é onde se desenvolvem o ser

aluno, seu viver, sua maneira de construir os conceitos e experiências de vida

através da convivência com os professores. Por isso o afeto ou relacionamento

afetivo deve fazer parte dessa prática para a educação leve um novo rumo, onde

professor e aluno são valorizados e considerados partes integrantes da escola.

Page 40: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

39

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O clima sócio emocional, na relação professor aluno estabelece o nível da

afetividade na aprendizagem e também estimula o feed back verbal e não –

verbal,aproximando os indivíduos entre si. Dar mais oportunidade,tratamento

especial alunos significa comportamentos de conduta positiva emocional ou seja,

consideradas Teoria do Afeto.

O afeto é fundamental na formação de cidadãos para a vida, realça o papel

do professor e desperta os valores que permeiam o espírito do homem. O Afeto na

relação professor/aluno constrói ponte entre a razão e a emoção, é essencial para

tornar a experiência escolar prazerosa e socializante, sugere a necessidade de

harmonização entre a prática educativa desenvolvida pela família e pela escola e,

além do mais, através do afeto o professor elimina a evasão, o fracasso da

repetência e faz da sala de aula um dos lugares por excelência de uma relação

humana enriquecedora para os atores nela envolvidos.

É incontestável a idéia de que a inteligência não está paralela a emoção. O

indivíduo bem emocionalmente corresponde as expectativas de seu mestre, porém

quando o individuo sofre problemas emocionais e não é compreendido em seu

contexto de vida, ou seja quando não há afetividade, ele apresenta desânimo no

aprendizado.

A contribuição dessa temática na pratica pedagógica é de relevante valor.

Fica claro que os indivíduos se relacionam uns com os outros e dependem dessa

interação como estimulo para seu desenvolvimento intelectual social e emocional.

As reflexões acerca da afetividade na importante e difícil relação entre

professor e aluno, feitas à luz dos três principais fundamentos teóricos Piaget,

Wallon, e Freud, deixam claro que afetividade e inteligência se fundem e se

constituem referência de um só processo, pois dependem uma da outra para

evoluir, significando, portanto, que a dimensão afetiva é um elemento marcante

para todo o desenvolvimento da espécie humana.

Page 41: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

40

Toda a prática pedagógica deve, atenta e constantemente, buscar a

qualidade das suas relações, valorizando os aspectos afetivo, social e cognitivo,

integrando-os enquanto elementos fundamentais no desenvolvimento da criança

como um todo.

Page 42: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

41

REFERÊNCIAS

ARANHA, Maria Lucia Arruda. História da educação. 2. ed. São Paulo: Moderna,

1996.

BARROS, Célia Silva Guimarães. Pontos de Psicologia do desenvolvimento. São

Paulo: Ática, 1995.

CAPELATTO, Ivan. Diálogos sobre afetividade. 4. ed. SP: Papirus, 2007.

CHALITA, Gabriel. Pedagogia do amor – a contribuição das histórias universais

para a formação de valores das novas gerações. 13. ed. SP: Editora gente, 2003.

CUNHA, Eugênio. Afetividade na prática pedagógica. Rio de Janeiro: Wak, 2007.

DANTAS, Heloisa. In; La TAILLE, Yves de. Piaget, Vigotsky, Wallon: Teorias

psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.

DAVIS, Claudia. Psicologia na educação. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1994.

DOURADO, Ione Callado Pacheco. In: Amaral Silvia (org). Psicopedagogia: Um

portal para a inserção social. Petrópolis: Vozes, 2003.

DROUET, Ruth Caribe da Rocha. Distúrbios da aprendizagem. 4. ed. São Paulo:

Ática, 2002.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática

educativa. 22. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

HENGEMÜHLE, Adelar. Gestão de ensino e práticas pedagógicas. Petrópolis, RJ:

Vozes, 2004.

Page 43: A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA RELAÇÃO … · dois vem abordando sobre a contribuição do psicopedagogo na ... alunos da primeira ... pesquisadores que estudam a relação afetiva

42

LEGRAND, Louis. Psicologia aplicada à educação intelectual. Rio de Janeiro:

Zohar, 1974.

MORALES, Pedro. A relação professor-aluno: o que é e como se faz. 5. ed. São

Paulo: Loyola, 2004.

NOLTE, Dorothy Law, HARRIS, Rachel. As crianças aprendem o que vivenciam.

Rio de janeiro: Sextane, 2009.

PAPALIA, Diane E; OLDS, Sally W. Desenvolvimento humano. 7. ed. Porto Alegre:

Artes Médicas Sul, 2000.

SAMPAIO, Dulce Moreira. A Pedagogia do ser: educação dos sentimentos e dos

valores. Petrópolis: Vozes, 2004.

SZYMANSKI, Heloisa. A relação família/escola – desafios e perspectiva. 2. ed.

Brasília: Liber Livro, 2010.

TIBA, Içami. Quem ama Educa! 140. ed. São Paulo: Editora Gente, 2002.

VASCONCELOS, Mario Sérgio. Relações afetivas na escola. Revista de Educação

AEC, Brasília, Ano 33, nº 131, p. 18-33, abril/junho 2004.

WHITE, Ellen. Conselhos sobre educação. SP: Casa Publicadora Brasileira, 2008.

WHITE, Ellen. Pais preparados, Filhos vencedores. SP: Casa Publicadora

Brasileira, 2008.