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A importância da prova pericial julho de 2013 ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 julho/2013 A importância da prova pericial Dorilene Bagio Kempner - [email protected] Avaliação e Perícias da Engenharia Instituto de Pós-Graduação e Graduação IPOG Rio do Sul, SC, 26 de outubro de 2012 Resumo Demonstrar a importância das provas periciais de engenharia civil como ferramenta para magistrados e advogados nos processos de litígio é o principal objetivo deste estudo. A falta de conhecimento técnico e científico em áreas específicas, dificulta o trabalho do judiciário na tomada de decisões; muitas vezes informações, fatos e dados sem fundamentação e sem comprobabilidade, são levados aos autos e podem propiciar equívocos na tomada de decisões. É neste momento que surge a necessidade e caracteriza-se a importância do perito judicial para levar aos autos a prova com base em informações técnicas, no formato do laudo pericial . Os profissionais de engenharia e arquitetura que atuam nesta específica área de perícia como assistentes técnicos e peritos, muitas vezes desconhecem a legislação vigente e apresentam informações que induzem juízes e advogados a erros. A ausência de disciplinas na maioria dos currículos acadêmicos não preparam os profissionais de engenharia para atuar nas áreas de perícias, ocasionando carência de especialistas. Desenvolvemos ampla pesquisa que através da metodologia científica dedutiva, com base em bibliografias consagradas, artigos científicos, monografias, legislação vigente e estudos de casos vivenciados pela própria autora, visando caracterizar a importância da prova pericial e do conhecimento técnico dos peritos nos processos judiciais. Os resultados encontrados demonstram que o papel do perito judicial é de suma importância pois permitem aos juízes tomar decisões com maior segurança. Diante da importância do trabalho do perito judicial é necessário que univesidades disponibilizem disciplinas acadêmicas e de pós-graduação que venham a melhor preparar os profissionais de engenharia para atuar nesta área. Palavras-chave: Perícia. Prova pericial. Perito Judicial. Processo Judicial. Litígio. 1. Introdução A relação entre direito e engenharia, resulta em uma atuação complementar nas duas áreas, chegando a soluções que auxiliem os magistrados na solução dos litígios; esta função é exercida pelos peritos ou pelos assistentes técnicos, preferencialmente com especialidade em perícias, que em conjunto com advogados e juizes atuam nos processos judiciais. De acordo com o entendimento de Maia Neto (2005:05) “Ao perito cabe assistir o juiz nas questões técnicas postas em julgamento, que podem surgir dos mais diversos campos das ciências, médicas, tecnológicas, contábeis, etc., sendo um profissional da estrita confiança do magistrado que o nomeia para a função.” Portanto, sempre que houver uma demanda judicial que envolver conhecimento em área específica não abrangente na área de direito, juízes e advogados irão se assessorar por peritos e assistentes técnicos especialistas na área em que a matéria se engloba. Estes profissionais por trabalharem na interface advocacia-engenharia, devem conhecer noções desta relação para utilizá-las corretamente em suas perícias.

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A importância da prova pericial julho de 2013

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013

A importância da prova pericial

Dorilene Bagio Kempner - [email protected]

Avaliação e Perícias da Engenharia

Instituto de Pós-Graduação e Graduação – IPOG

Rio do Sul, SC, 26 de outubro de 2012

Resumo

Demonstrar a importância das provas periciais de engenharia civil como ferramenta para

magistrados e advogados nos processos de litígio é o principal objetivo deste estudo. A falta de

conhecimento técnico e científico em áreas específicas, dificulta o trabalho do judiciário na

tomada de decisões; muitas vezes informações, fatos e dados sem fundamentação e sem

comprobabilidade, são levados aos autos e podem propiciar equívocos na tomada de decisões. É

neste momento que surge a necessidade e caracteriza-se a importância do perito judicial para

levar aos autos a prova com base em informações técnicas, no formato do laudo pericial . Os

profissionais de engenharia e arquitetura que atuam nesta específica área de perícia como

assistentes técnicos e peritos, muitas vezes desconhecem a legislação vigente e apresentam

informações que induzem juízes e advogados a erros. A ausência de disciplinas na maioria dos

currículos acadêmicos não preparam os profissionais de engenharia para atuar nas áreas de

perícias, ocasionando carência de especialistas. Desenvolvemos ampla pesquisa que através da

metodologia científica dedutiva, com base em bibliografias consagradas, artigos científicos,

monografias, legislação vigente e estudos de casos vivenciados pela própria autora, visando

caracterizar a importância da prova pericial e do conhecimento técnico dos peritos nos processos

judiciais. Os resultados encontrados demonstram que o papel do perito judicial é de suma

importância pois permitem aos juízes tomar decisões com maior segurança. Diante da importância

do trabalho do perito judicial é necessário que univesidades disponibilizem disciplinas acadêmicas

e de pós-graduação que venham a melhor preparar os profissionais de engenharia para atuar

nesta área.

Palavras-chave: Perícia. Prova pericial. Perito Judicial. Processo Judicial. Litígio.

1. Introdução

A relação entre direito e engenharia, resulta em uma atuação complementar nas duas áreas,

chegando a soluções que auxiliem os magistrados na solução dos litígios; esta função é exercida

pelos peritos ou pelos assistentes técnicos, preferencialmente com especialidade em perícias, que

em conjunto com advogados e juizes atuam nos processos judiciais. De acordo com o entendimento

de Maia Neto (2005:05) “Ao perito cabe assistir o juiz nas questões técnicas postas em julgamento,

que podem surgir dos mais diversos campos das ciências, médicas, tecnológicas, contábeis, etc.,

sendo um profissional da estrita confiança do magistrado que o nomeia para a função.”

Portanto, sempre que houver uma demanda judicial que envolver conhecimento em área específica

não abrangente na área de direito, juízes e advogados irão se assessorar por peritos e assistentes

técnicos especialistas na área em que a matéria se engloba. Estes profissionais por trabalharem na

interface advocacia-engenharia, devem conhecer noções desta relação para utilizá-las corretamente

em suas perícias.

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Nem sempre as universidades oferecem disciplinas que preparam o acadêmico para atuar como

peritos ou assistentes técnicos. Muitas vezes estes conhecimentos são buscados ao longo da

carreira, somando estas técnicas aos conhecimentos já adquiridos na universidade e com a

experiência profissional.

Iniciaremos este trabalho apresentando conceitos importantes sobre prova pericial, perícia judicial e

outros elementos necessários para o entendimento deste assunto; apresentaremos as legislações que

regem esta atividade, demonstraremos as principais áreas que solicitam a perícia e daremos ênfase

para a importância da prova pericial nos litígios, bem como iremos caracterizar as dificuldades

encontradas no dia a dia pelos peritos na busca de informações sobre condutas periciais.

2. Definição de prova na linguagem jurídica

Entre as leis que regulamentam o uso de provas no Brasil, se destaca o C.P.C. - Código de Processo

Civil que no art. 131 prevê: “O juiz apreciará livremente a prova, atendendo aos fatos e

circunstâncias constantes dos autos, ainda que não alegados pelas partes; mas deverá indicar, na

sentença, os motivos que lhe formaram o convencimento”. Prova é todo meio destinado a

convencer o juiz, a respeito da verdade de um fato levado a julgamento. As provas fornecem

elementos para que o juiz forme convencimento a respeito de fatos controvertidos relevantes para o

processo. Logo, podemos então concluir que prova é o elemento que permite ao juiz ter convicção

sobre os fatos.

Elencamos alguns meios de prova, ou seja, instrumentos que trazem aos autos a prova;

a.Testemunha: A prova exclusivamente testemunhal tem um valor limitado e é conhecida como a

prostituta das provas, não podendo ser utilizada para provar a existência de contrato superior a 10

(dez) salários mínimos.

b.Perícia: O art. 145 do Código de Processo Civil disciplina que: “Quando a prova de fato depender

de conhecimento técnico ou científico, o juiz será assistido por perito, segundo o disposto no artigo

421.”

c. Confissão: este é mais que um meio de prova, é a prova em si.

No entendimento de Maia Neto:

Ao solicitar a produção de uma prova, a parte busca não só a convicção da existência de um

fato, mas também de sua inexistência, assim o nosso C.P.C. enumera as seguistes provas

usuais:

- depoimento pessoal;

- confissão;

- exibição de documento ou coisa;

- prova documental;

- prova testemunhal;

- prova pericial;

- inspeção judicial. (MAIA NETO, 2005:15)

3. A prova pericial

Existem provas denominadas de pré-constituídas e as provas constituídas no decorrer do processo.

Como exemplo para o primeiro caso, citamos a prova documental, ou seja, são provas juntadas da

inicial ou na contestação, já a prova pericial se trata de prova constituída no decorrer do processo.

Na ausência de pontos controvertidos, quando a matéria envolvida depende somente de normas

jurídicas e as provas documentais apresentadas forem o suficiente para seu convencimento, o juiz

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julga a lide com exclusividade, por ser de sua especialidade. Existindo fatos controversos, surge a

necessidade de provas e neste momento é que o juiz ou as partes solicitam a prova pericial.

De acordo com o entendimento de especialistas de direito, prova pericial seria: Theodoro Júnior

(1998:477): “(...) a prova pericial como o meio de suprir a carência de conhecimentos técnicos de

que se ressente o juiz para apuração de fatos litigiosos.”, já Santos (1998:472) define prova assim:

“É o meio pelo qual, no processo, pessoas entendidas verificam fatos interessantes à causa,

transmitindo ao juiz o respectivo parecer”.

Podemos então afirmar que prova pericial consiste num cuidadoso processo investigativo por parte

do perito que vai ao encontro da verdade, de fatos que demonstrem aos juízes caminhos para a

tomada de decisões. Consiste ao perito ter experiência, perspicácia, espírito investigativo e

persistência para buscar, muitas vezes em alternativas poucos indutivas, a comprovação da verdade

dos fatos.

Bonfim define como características da prova pericial:

São características da prova pericial.

a) é um meio de prova;

b) é o resultado da atividade humana, e não é uma atividade humana;

c) o destino da prova é o processo, ainda que a atividade se realize fora do processo;

d) deve ser realizada por experts no tema sobre o qual versa o laudo;

e) deve versar o laudo sobre fatos e não sobre questões jurídicas;

f) deve nascer de uma obrigação – investidura no cargo ou nomeação ad hoc -, portanto, se não existe

um vínculo legal ou judicial, não se pode falar em perícia, já que não existe perícia espontânea;

g) os fatos sobre os quais versam o laudo devem ser especiais, ou seja, devem requerer conhecimentos

especializados, cietíficos, artísticos ou técnicos;

h) o laudo é uma declaração da ciência, assim, o perito declara o que sabe e o juiz o valora como meio

de prova. (BONFIM, 2008:330)

Conforme art. 420 do Código de Processo Civil: “A prova pericial consiste no exame, vistoria ou

avaliação”.

No conceito de Ficker:

Sobre perícia pode ser dito que é um gênero, do qual o exame, a vistoria e a avaliação são espécies. De

um modo geral o exame é feito por pessoas, documentos e coisas móveis; a vistoria destina-se a

apurar fatos e estados de bens “in loco” e a avaliação a determinar tecnicamente o valor desses bens.

A perícia pode consistir em simples vistoria de constatação de fatos ou estado de um bem, mas pode

investigar as causas que conduziram ao estado observado, apresentado conclusões sobre elas.

(FICKER, 2001:91)

De acordo com Maia Neto:

A prova pericial encontra-se disciplinada no C.P.C. em seus arts. 420 a 439 do CPC, onde inicialmente

discrimina que a perícia se divide em exame, vistoria, ou avaliação, cujas definições jurídicas são as

seguintes:

-Exame é a inspeção judicial feita por peritos sobre pessoas, animais, coisas móveis, livros e

papéis, a fim de verificar algum fato ou circunstância relativa ao mesmo.

-Vistoria é a inspeção judicial feita por perito sobre um imóvel para verificar fatos ou

circunstâncias ao mesmo.

- Avaliação é o exame pericial destinado a verificar o valor em dinheiro de alguma coisa ou

obrigação. Costuma-se dar a denominação de arbitramento a essa perícia quando a verificação ou

estimativa tem por objetivo um serviço,ou compreende cálculo abstrato sobre indenizações ou sobre o

valor de alguma obrigação. (MAIA NETO, 2005:33)

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Anteriormente ao art. 431-B do CPC, quando a prova pericial envolvia profissionais com

atribuições em áreas diferentes, se realizava perícias distintas com peritos distintos, ou se indicava

um perito e este solicitava auxilio de peritos de outras áreas ficando sob sua responsabilidade a

contratação. Atualmente, tratando-se de perícia complexa, o Juiz pode nomear mais de um perito

com base nas determinações do Código de Processo Civil: “Art. 431-B - Tratando-se de perícia

complexa, que abranja mais de uma área de conhecimento especializado, o juiz poderá nomear mais

de um perito e a parte indicar mais de um assistente técnico.”.

3.1 A admissibilidade da prova pericial

O magistrado admitirá a perícia quando reconhecer a necessidade de conhecimentos técnicos e

específicos para produção da prova. Quando as partes apresentarem pareceres técnicos ou fatos que

o juiz julgar suficientes para sua decisão, a perícia pode ser indeferida pelo juiz, mesmo que

solicitada pelas partes. Assim, dispõe o art. 420, parágrafo único: “O juiz indeferirá a perícia

quando: I - a prova do fato não depender do conhecimento especial de técnico; II - for desnecessária

em vista de outras provas produzidas; III - a verificação for impraticável”.

3.2 A importância da prova pericial

O desequilíbrio sócio econômico muitas vezes provoca o surgimento de crises que por fim resultam

em litígios judiciais. Na busca da solução destes litígios, que podem envolver indivíduos entre si e o

estado, é que surge a demanda da prova pericial. Através de profissionais dotados de conhecimentos

técnicos e científicos e com utilização de métodos investigativos, profissionais que quando

nomeados pelos juízes para realizar as provas periciais são denominados peritos judiciais, é que as

partes buscam reestabelecer a verdade dos fatos originários destes litígios.

A prova pericial é fundamental para os casos em que as confissões, as provas documentais ou

outros elementos trazidos aos autos através de meios previstos em lei, não são suficientes para dar

subsídio ao julgamento, logo é a prova pericial que norteia a decisão judicial. Julgamos pertinente

afirmar que a prova pericial é a bússola do magistrado.

3.3 Tipos de ações no campo de atuação do perito de engenharia

Na engenharia o campo de atuação do perito é vasto. Destacamos os principais tipos de ações que

demandam perícias para esta área:

a) Ordinárias:

Envolvem indenização por vícios de construção ou danos causados a terceiros que possam ser

registrados através de verificação e parecer técnico de engenharia. Enquadram-se aí, também as

ações de Quanti Minoris, em que se apura a diferença entre a metragem da área constante no título

adquirido e a área de fato existente. São ações muito abrangentes e muitas vezes as de grande

complexidade para resolução.

b) Vistorias, cautelares e sumaríssimas:

Tem como objetivo preservar os direitos para uma futura ação indenizatória. Procura registrar as

características de uma edificação em determinado momento, por exemplo: executar exame prévio

em imóveis lindeiros antes da instalação de um canteiro de obras, atestar as características de uma

edificação com suspeita de desabamento, verificar os possíveis de danos causados por inquilinos,

investigação se o bem esta sendo utilizado de maneira inadequada, relatar os danos causados a uma

obra após ação de ventos ou alagamentos, enfim, objetiva comprovar o estado do imóvel esta em

determinado momento.

c) Renovatórias e revisionais:

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Ocorrem um ano e seis meses antes do término do contrato de locação de, no mínimo, 05 (cinco)

anos quando o inquilino, segundo o decreto lei n˚. 24.150/34 - requer a decretação da renovação de

contrato por igual período. Geralmente, ocorre porque o proprietário pede maior valor e o inquilino

requer valor menor e o Juiz, então, designa um perito para avaliar o justo valor do mercado de

imóvel. Este profissional precisa utilizar muito do bom senso, pois tais decisões dependem, em

parte, da subjetividade e, por isso, podem causar polemica.

d) Nunciação de obra nova e embargos

Ocorre quando há risco ou danos já constatados a terceiros. Exige precisão e absoluta

imparcialidade do perito, podendo, caso contrário, ser responsabilizado pelos prejuízos decorrentes

de uma análise mal fundamentada. Por isso, o perito deve evitar expressões subjetivas pois podem

levar ao entendimento de parecer tendencioso. Citamos como exemplos: “tudo leva a crer” ou “é

provável que”.

e) Reintegração de posse

Ocorre quando da invasão ou esbulho de terras. O Código Civil através do art. 1.210 estabelece:

“Art. 1.210 – O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de

esbulho e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado. Parágrafo primeiro:

O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto

que o faça logo; os atos de defesa, ou de esforço, não podem ir além do indispensável à manutenção

ou restituição da posse. Parágrafo segundo: Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a

alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa”. Portanto, neste tipo de ação cabe ao

perito levar ao juiz informações a respeito de quem estava na posse, em que momento esta posse foi

esbulhada ou turbada e quem foi o causador do esbulho ou turbação.

f) Manutenção de posse

Quando quem exerce a posse de um imóvel sente-se oprimido por outro que esta alegando seus

direitos sobre a mesma área. É regida pela mesma regra jurídica da reintegração de posse.

g) Interdito provisório

Trata-se de ação que tem por objetivo proteger a posse quando ameaçada. Vejam o que diz o art.

932 do Código de Processo Civil a respeito: “O possuidor direto ou indireto, que tenha justo receio

de ser molestado na posse, poderá impetrar ao juiz que o segure da turbação ou esbulho iminente,

mediante mandado proibitório, em que se comina ao réu determinada pena pecuniária, caso

transgrida o preceito”. Este tipo de ação pode ocorrer até mesmo durante o decorrer de uma ação de

reintegração ou manutenção de posse. O perito ao ser nomeado não pode esperar por agendamento

no escritório, deve de imediato proceder à vistoria evitando que ocorra o esbulho ou a violência

contra o que o autor buscou socorro jurisdicional.

h) Usucapião

Ocorrem nos casos em que a posse do imóvel é caracterizada por um longo período e torna

necessária a avaliação de um perito sobre o que é de fato usufruído pelo requerente. São ações bem

abrangentes que solicitam muito análise.

i) Reivindicatória

O trabalho pericial tem como objetivo principal estudar os títulos apresentados pelas partes,

devendo percorrer os cartórios de registros de imóveis para formar o elo de cadeia sucessória

chegando assim a certeza de qual dos títulos é bom para a propriedade.

j) Demarcatórias

Mais comumente solicitadas para áreas rurais. Surgem quando há divergências entre os

limites/divisores físicos constantes dos títulos e o proprietário é impedido pelo confrontante de

caracterizar sua divisa. Normalmente, envolvem casos de superposição de imóveis e determinam

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longas ações. Exigi-se para tais perícias um perito agrimensor e dois peritos arbitradores que

fiscalizariam o agrimensor.

k) Divisória

Conforme rege o art. 946 do C.P.C: “parágrafo segundo: a ação de divisão, ao condomínio para

abrigar os demais consortes, a partilha da coisa comum”. É o caso em que um imóvel deve ser

fracionado entre vários proprietários ou, por exemplo, herdeiros; onde não ficará localizada a área

de terreno, será uma fração. A perícia judicial transcorre nos mesmos termos das ações

demarcatórias.

l) Extinção de Condomínio

Ocorre pelos mesmos motivos da divisória, ou seja, quando um dos condôminos não deseja mais

partilhar do imóvel. Nestes casos a perícia ocorre para verificar a possibilidade de divisão ou avaliar

o imóvel.

m) Retificações de registros

Originam-se da omissão ou impropriedade nos títulos nominais de medidas e ocasionam as

retificações de registro ou metragem. São obrigatoriamente efetuadas por perito da área de

engenharia, que deve examinar com atenção o título original em confronto com a petição inicial

verificando sua filiação, se as características de sua descrição são coincidentes com os do local.

n) Desapropriações:

Visa mensurar a justa indenização devida ao proprietário que teve sua área expropriada pelo Poder

Público.

o) Discriminatória

São aquelas em que o Estado visa obter o domínio de áreas que se provem devolutas ou outras que

se declare este interesse.

4. Perícia Judicial

4.1 Histórico

Nos povos antigos as lides eram decididas com exclusividade pelos reis que de certa forma

exerciam o papel dos juízes, muitas vezes sem nenhum conhecimento e desta forma com grandes

probabilidades de cometer injustiças. Aos poucos foram percebendo que era prudente buscar apoio

de pessoas com conhecimentos específicos sobre os temas em questão e assim melhor solucionar os

litígios, iniciando-se assim a caractererização da perícia técnica. A partir do século IX a Igreja

Católica começou a incentivar o trabalho de técnicos nos processos através das práticas realizadas

pelas ordenações Afronsinas q vigorando uma coletânea de leis no reinado de Afonso V quando se

instituiu a prova pericial do Direito e depois nas Ordenações Manuelinas, quando D. Manuel em

1521 realizou a revisão das leis que substituíram as leis Afonsinas, onde determinavam que nos

casos não aboradados, deveria ser consultado o direito romano. Estas leis se referiam mas

especificamente as questões de direito marítimo, contratos, mercadores e problemas advindos da

expansão marítima e de grandes navegações.

No Brasil colônia, quando existia influência das Ordenações Filipinas, há referência clara aos

peritos, inclusive com regulamentação sobre perícias. Com o surgimento do Código Comercial, no

século XIX tivemos maiores referências às perícias. Em 1939, no Código de Processo Civil, as

perícias receberam tratamento mais detalhado e foi neste momento que se formalizou a existência

da perícia no processo civil. O código previa a nomeação de um perito da livre escolha do juiz,

permitindo a indicação pelas partes de assistentes técnicos, que poderiam acompanhar os trabalhos

do perito e impugnar as conclusões trazidas em seu laudo. Três anos depois uma alteração feita

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através do Decreto-Lei nº 4.565 determina ao juiz nomear um perito somente na hipótese de as

partes não chegarem a um consenso sobre a escolha de um nome comum.

Em 1946, surge outra alteração no texto legal, e este vigorou até a publicação do Código de

Processo Civil de 1973, surge a figura do perito desempatador, que só era nomeado caso as partes

não indicassem um perito comum, ou, na hipótese de cada parte indicar o seu perito, se as

conclusões não satisfizessem o juiz, o que invariavelmente ocorria, pois eles transformavam-se em

"advogados de defesa" das partes que os haviam indicado.

O Código de 1973 traz mudanças que retroage ao dispositivo previsto no Código de 1939, inovando

apenas no que se referia a determinados requisitos exigidos dos assistentes técnicos, no tocante à

sua imparcialidade, pois, ao contrário da concepção anterior, estes não eram mais os auxiliares da

parte que os indicava, mas, antes de tudo, auxiliares do juiz.

Essa foi à sistemática adotada até a edição da Lei nº 8.455, ocorrida em 1992, que retirou essas

características, uma vez que o assistente técnico, na prática, nunca pautou pela imparcialidade, pois

ninguém contratava um profissional senão com o intuito de demonstrar o acerto de suas posições,

baseado nos elementos técnicos obtidos.

Seguindo o processo evolutivo do instituto da perícia, no final do ano de 2001, Lei nº 10.358,

trouxe algumas novidades, especialmente no tocante a definições sobre a marcação da perícia,

comunicação desta data às partes para que possam acompanhar a vistoria pericial e a prazos para

manifestação das partes a cerca do laudo pericial. Estas definições provocaram e ainda provocam

polêmicas, mas de maneira geral regulamenta de forma mais clara a conduta de peritos e assistentes

técnicos.

4.2 A pericia

Vejamos o que diz a respeito Bonfim (2008:328): “Perícia é o exame realizado por pessoa que

detenha “expertise” sobre determinada área de conhecimento – o perito – a fim de prestar

esclarecimentos ao juízo acerca de determinado fato de difícil compreensão, auxiliando-o no

julgamento da causa.”.

A perícia surge da necessidade da apuração de provas, ela envolve a apuração de um fato. É o meio

no qual, profissionais habilitados e qualificados verificam fatos pertinentes à decisão da causa, e

levam ao juiz a prova através do laudo pericial, demonstrando comprovação técnica e

imparcialidade. A perícia é a prova que define os fatos. São requerentes da perícia as partes ou

exclusivamente pelo juiz. As pericias classificam-se segundo vários critérios:

a. Judiciais ou extrajudiciais: as perícias quando realizadas no decorrer de uma lide, por

determinação do juiz, são denominadas como judiciais e quando realizadas por iniciativa dos

interessados, por vias não judiciais, são definidas como extrajudiciais;

b. Necessárias ou facultativas: se exigidas ou não pela lei ou pela natureza do fato probando;

c. Oficiais ou requeridas: determinadas de ofício ou por solicitação das partes;

d. Cautelares ou preparatórias: as decorrentes no curso do processo.

4.3 Critérios normativos e bases científicas e tecnológicas

A prática da perícia obedece a todo conhecimento técnico que envolve a matéria objeto da perícia,

incluindo os critérios normativos estabelecidos na ABNT – Associação Brasileira de Normas

Técnicas – tanto da matéria da lide como os da prática de perícia em si, ao código de ética e a

legislação processual. Esta fundamentação é importante para garantir ao laudo maior confiabilidade

e incontestabilidade.

Daremos destaques às principais normas e regulamentos que reguem esta atuação:

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a) A NBR 13.752/1996 da ABNT é a norma que trata das perícias. Ela determina as diretrizes

básicas, conceitos, critérios e procedimentos para a realização das perícias de engenharia. A

referida norma determina que, a realização de trabalhos de periciais de engenharia são de

responsabilidade e competência de profissionais legalmente habilitados pelo CREA, em

conformidade com a Lei Federal no

5.194/1996. Cita como documentos complementares: a Lei

6.496/1997, que institui a Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), Resoluções do CONFEA

nos

205 (que adota o Código de Ética Profissional), 218 (que fixa atribuições dos profissionais nas

diversas modalidades) e 345 (que dispõe quanto ao exercício de profissionais de nível superior das

atividades de engenharia de avaliações e perícias de engenharia).

b) Se a perícia envolver assuntos relacionados a avaliações as normas que orientam esta área

seriam:

- NBR-14.653-1 – Avaliação de Bens – Parte 1:Procedimentos Gerais

- NBR-14.653-2 – Avaliação de Bens – Parte 2:Imóveis Urbanos

- NBR-14.653-3 – Avaliação de Bens – Parte 3:Imóveis Rurais

- NBR-14.653-4 – Avaliação de Bens – Parte 4:Empeedimentos

- NBR-14.653-5 – Avaliação de Bens – Parte 5:Máquinas e Equipamentos

- NBR-14.653-6 – Avaliação de Bens – Parte 6:Recursos Naturais e Ambientais

- NBR-14.653-7 – Avaliação de Bens – Parte 7:Patrimonios Históricos

c) Agora, se a perícia exigir conhecimentos nas áreas de patologias, falhas estruturais, concepção de

projetos ou outras áreas relacionadas aos temas de engenharia , devem ser seguidas as orientações

técnicas estabelecidas pelas normas da ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas

respectivas a cada área.

d) No Código de Processo Civil os principais artigos que regem a pratica pericial estão

compreendidos entre art.420 a art.443. Francisco Maia Neto publicou em seus livros um fluxograma

que representa cada artigo em todas as etapas do processo pericial, conforme vemos a seguir:

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Figura 1: Fluxograma da Prova Pericial no CPC

Fonte: Ibape/SP (2008)

4.4 Esclarecimentos e Nova Perícia

Ao concluir os trabalhos periciais formalizado com a entrega do laudo, as partes tem 10(dez) dias

para se manifestarem a cerca do laudo, trazendo aos autos os pareceres técnicos elaborados por seus

assistentes técnicos. Neste momento podem ser solicitados esclarecimentos ao perito, apresentados

sob a forma de quesitos.

Se com o laudo pericial e com esclarecimentos prestados pelo perito ainda restarem pontos

duvidosos, por solicitação das partes ou por próprio entendimento o juiz, poderá ser determinado

realização de nova perícia de acordo com previsto no art. 437 do C.P.C.: “O juiz poderá determinar,

de ofício ou a requerimento da parte, a realização de nova perícia, quando a matéria não lhe parecer

suficientemente esclarecida.”.

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A segunda perícia tem como objetivo os mesmos fatos que ensejaram a primeira, servindo para

corrigir eventual omissão ou inexatidão. Esta nova perícia não substitui a primeira, podendo o juiz

apreciar a que entender ser a melhor.

4.5 Da inspeção Judicial

É uma prova autônoma, podendo ocorrer em qualquer fase do processo, quando o juiz necessitar

esclarecer um fato, procedendo a uma inspeção no local. A ocorrência mais usual é a da perícia.

A lei processual faculta ao juiz, ao realizar a inspeção, ser assistido por peritos, além de estabelecer

as situações em que deverá ocorrer: quando julgar necessário, para melhor verificação e

interpretação dos fatos, quando não puder ser apresentada ao juiz ou resultar em graus de

dificuldade ou consideráveis despesas, e nos casos em que determinar a reconstituição dos fatos.

Quando se encerram os trabalhos de inspeção, faz-se necessário a elaboração do auto de inspeção,

que se trata de um resumo de tudo o que foi constatado e for útil ao julgamento da causa, inclusive

desenhos e fotos. Este auto é lido e assinado por todos.

4.6 Mediação, conciliação a Arbitragem

A prática da mediação, conciliação e arbitragem, que vem ganhando espaço na solução de conflitos.

São maneiras mais rápidas de resolver as lides, muitas vezes evitando que as mesmas cheguem às

vias judiciais. Vamos rapidamente conceituar estes procedimentos:

Mediação se trata de uma alternativa extrajudicial para a resolução de conflitos e se trata de uma

medida preliminar para a solução do litígio. O mediador após expõe os procedimentos da mediação

aos mediandos, coleta as informações a respeito do conflito e posteriormente apresenta alternativas

para a solução e conduz para a negociação. Por fim, quando as partes chegam a um consenso é

firmado o acordo em contrato configurando a conclusão da mediação. O procedimento de mediação

pode ser interrompido em qualquer momento, por decisão do mediador ou dos mediandos.

Conciliação é o processo pelo qual o conciliador procura fazer com que as partes entrem em acordo,

por livre espontânea vontade, isto para evitar que ocorra a jurisdição. O conciliador não decide o

conflito, somente sugere soluções para que as partes tomem as decisões.

Arbitragem é uma alternativa para a resolução de conflitos estabelecida pela lei pela lei no

9.307/1996. A arbitragem decorre da vontade expressa das partes, formalizada por escrito, pela qual

decidem submeter os litígios sugeridos ou relacionados com determinada relação jurídica. O árbitro

analisa e julga o mérito da causa, obedecendo às normas estabelecidas na convenção arbitral. Não

podem ser árbitros juízes ou pessoas impedidas e suspeitas. O encerramento da arbitragem é

configurado com a emissão da sentença arbitral por escrito. Os efeitos da sentença arbitral são

semelhantes ou equivalentes ao de uma sentença judicial. Não é permitido nenhum tipo de recurso

após a emissão da sentença.

Árbitros, mediadores e conciliadores são espaços que na maioria das vezes são ocupados por

profissionais com experiência como peritos e assistentes técnicos.

5. O trabalho pericial

5.1 Funções de peritos e assistentes técnicos

Perito é um profissional com formação universitária, inscrito no respectivo órgão da categoria,

nomeado pelo juiz no decorrer de um processo judicial. Este profissional, uma vez nomeado, passa

a exercer a função de auxiliar da justiça com o encargo de assistir ao juiz na prova do fato que

depender do seu conhecimento técnico ou científico. É dever do perito, comprovar sua qualificação

técnica através de certidão do órgão profissional ao qual pertencer, conforme art. 145 do código de

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processo civil: “§ 2º - Os peritos comprovarão sua especialidade na matéria sobre que deverão

opinar, mediante certidão do órgão profissional em que estiverem inscritos.”. O perito nomeado

não pode se eximir do cargo sem que tenha motivo justo; art. 339 do C.P.C.: “Ninguém se exime do

dever de colaborar com o Poder Judiciário para o descobrimento da verdade.”.

Segundo Abunahman (2008:256): “Cabe ao perito fornecer ao juízo elementos técnicos de

convicção para que o julgamento possa ser apreciado sem dúvidas da parte do Magistrado

formando-se, assim um sistema proporcionador de dados para o convencimento que gerará a

decisão (sentença).”.

O perito é a figura de confiança do juiz, portanto é importante que ambos tenham absoluto

entrosamento. Sua função é de grande responsabilidade, podendo até de maneira figurada dizer que

o perito é os olhos e ouvidos do juízo em campo.

O assistente técnico é o auxiliar da parte, aquele que tem por obrigação concordar, criticar ou

complementar o laudo do perito, por meio de seu parecer, cabendo ao juiz, pelo princípio do livre

convencimento, analisar seus argumentos, podendo fundamentar sua decisão em seu trabalho

técnico; é livremente escolhido pelas partes e sua indicação deve ser feita até no máximo 05(cinco)

dias após a nomeação do perito. Sua função é de orientar a parte que o contratou na formulação de

quesitos, orientar o advogado na formulação das petições e acompanhar o trabalho pericial. Acerca

do laudo pericial devem os assistentes técnicos ofertar seus pareceres em até 10(dez) dias para que

sejam anexados aos autos, procurando destacar os pontos relevantes a seu favor colhidos e

criticando aqueles que não lhe pareçam corretos, ou mesmo apontando os equívocos em que tenha

incorrido o trabalho pericial. Os assistentes técnicos têm o dever de defender, sob a ótica técnica, a

parte que lhe contratou.

Perito e assistentes técnicos devem se valer de seu espírito investigativo aliados aos seus

conhecimentos técnicos, para buscar a prova do fato objeto da lide. Para melhor e com maior

agilidade alcançar seus objetivos, peritos e assistentes técnicos podem se valer do previsto no art.

429 do C.P.C: “Para o desempenho de sua função, podem o perito e os assistentes técnicos utilizar-

sede todos os meios necessários, ouvindo testemunhas, obtendo informações, solicitando

documentos que estejam em poder de parte ou em repartições públicas, bem como instruir o laudo

com plantas, desenhos, fotografias e outras quaisquer peças.”

5.2 O laudo pericial

Relatório onde o perito judicial apresenta com clareza, objetividade, concisão, coerência e sem

rasuras - evitando prolixidade, a constatação de uma situação existente descrevendo-a e

fundamentando-a com comprovação técnica, traduzindo sua possível origem e eventual

consequência e quando necessário apresentado as possíveis medidas corretivas. É a peça na qual o

perito relata o que observou ou avaliou e dá suas conclusões.

Faz parte do laudo a descrição dos fatos ou objetos a serem periciados, narrativas sobre os dados

coletados nas vistorias, ocorrências e fatos verificados nas diligências, bem como uma conclusão

clara, imparcial e bem fundamentada. Anexo ao laudo pericial deve ser apresentado documentação

que comprove a vistoria e outros elementos que serviram de base para as conclusões apresentadas.

Não há uma padronização para a apresentação do laudo pericial, contudo sua redação deve contar

com a criatividade, eficácia e bom senso profissional de seu autor. O laudo deve ser objetivo e

transmitir com organização e detalhamento como o trabalho foi realizado.

5.3 A estrutura do laudo

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Não há critério normativo que estabeleça um modelo oficial para a estrutura de um laudo pericial,

entretanto a prática nos mostra que:

Deve iniciar com um direcionamento ao juiz que o nomeou, fazendo menção ao número dos autos e

enunciação dos no mês das partes.

Em seguida pode-se abrir um capítulo para o histórico, onde com concisão se relata as alegações

iniciais e contestação.

No capítulo seguinte passar-se-á a tratar da vistoria, descrevendo detalhadamente e tudo o que foi

constatado na vistoria ao local, relatando os fatos relatados por quem esteve presente nesta vistoria

inclusive mencionando os nomes, descrevendo as características físicas e geométricas do

vistoriando, enfim, tudo o que pode ser apurado na ocasião.

Na sequencia devem ser apresentados os estudos realizados, as fundamentações técnicas e

conclusões formalizadas a respeito das questões.

Por fim apresenta-se a resposta aos quesitos do juízo e das partes.

Sugere-se como tópicos para a apresentação de um bom laudo pericial:

a) Capa: Folha inicial contendo a indicação do título do laudo, ex: pericial, avaliação, vistoria,

arbitramento, etc., número do processo, natureza da ação e partes do litígio.

b) Identificação do solicitante: descrever os dados de que esta solicitando trabalho.

c).Vistoria: relatar data, horário, quem acompanhou a vistoria e todos os elementos constatados por

ocasião da vistoria.

d) Descrição dos elementos: relatos sobre o objeto da perícia, exemplo: descrição do imóvel a ser

periciado ou a ser avaliado, relatando todas as suas características construtivas e de estado de

conservação, bem como localização e outras características importantes para entendimento das

partes e do magistrado.

f) Descrição dos fatos: aqui se faz menção detalhada de todos os fatos que levaram o bem à lide e

tudo o que foi analisado, investigado e estudado.

g) Conclusão: apresentar opiniões imparciais, fundamentadas à luz das normas técnicas

profissionais, dos documentos analisados e/ou anexados, que possam permitir ao juízo o

entendimento dos fatos e assim lavrar sua decisão.

h) Resposta aos quesitos: apresentar com clareza e objetividade as respostas aos quesitos

formulados pelas partes, transcrevendo-os.

i) Encerramento: indicar nome do responsável pelo laudo, a data de sua elaboração, o número de

páginas que o compõem e a relação dos anexos.

j) Anexos: Fotografias, projetos, croquis, mapas, enfim, quaisquer documentos que tenham sido

objeto de estudo devem ser anexados ao laudo. Faz também parte dos anexos; planilhas

orçamentárias, memórias de cálculos, fichas de pesquisas e outros que tenham sido elaborados para

fundamentar o laudo, bem como a ART- anotação de responsabilidade técnica e certidão de registro

profissional.

O laudo pericial pode não ser o suficiente para o entendimento do magistrado ou das partes, e assim

sendo ao perito pode ser solicitado, o comparecimento em audiência para esclarecimentos em

conformidade com o art. 435: “A parte, que desejar esclarecimento do perito e do assistente técnico,

requererá ao juiz que mande intimá-lo a comparecer à audiência, formulando desde logo as

perguntas, sob forma de quesitos.

Parágrafo único - O perito e o assistente técnico só estarão obrigados a prestar os esclarecimentos a

que se refere este artigo, quando intimados 5 (cinco) dias antes da audiência.”

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6. Os novos rumos da perícia judicial

A perícia judicial esta inserida no contexto da engenharia legal. O termo engenharia legal existe

desde 11 de dezembro de 1933, quando foi sancionado o decreto 23.569 que regulamentou o

exercício profissional do engenheiro. Em 31 de outubro de 1997 quando a ABNT publicou a NBR

13.752 – Perícias de engenharia na construção civil conceituou-se engenharia legal: “Ramo de

especialização da engenharia dos profissionais registrados nos CREA que atuam na interface

direito-engenharia, colaborando com juízes, advogados e as partes, para esclarecer aspectos técnico-

legais envolvidos nas demandas.”.

Mas este conceito esta permanentemente sendo estudado, discutido por experientes e renomados

profissionais de engenharia e já se fala em novas terminologias e novos conceitos.

A engenharia diagnóstica é um dos conceitos que esta ganhando grande espaço. Em 2008 é que

surgiu o termo e conceito de engenharia diagnóstica e de lá para cá seu espaço é crescente, inclusive

com procedimentos rotineiros, padronizados e obrigatórios para determinadas áreas como o caso da

inspeção predial que já é uma realidade em muitas cidades do nosso país.

Conforme representado na figura 2, a engenharia diagnóstica aliada com a engenharia de avaliações

compõe as duas linhas que embasam a moderna engenharia legal, assim denominada nas literaturas.

Figura 2 - Quadro sub-divisão da engenharia Legal

Fonte: Tito Lívio Ferreira Gomide (2009)

Juridicamente a perícia é definida como exame, vistoria e avaliações, e esta definição esta de acordo

com o que dispõe o art. 420 do Código de Processo Civil. Entretanto, na pratica a perícia não se

restringe somente a estas classificações, indo mais além, incluindo muitas outras atividades o que

torna justo comparar a perícia de engenharia com a medicina em vários aspectos. Todo o trabalho

pericial engloba diagnósticos, prognósticos, patologia e outros procedimentos técnicos parecidos

com o da medicina, porém voltados para a natureza construtiva.

Gomide ousa sugerir nova terminologia para perícia de engenharia:

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Portanto, analisando a perícia de engenharia em sua abrangência técnica, destacando sua finalidade de

qualidade total e olhando suas ferramentas com foco exclusivamente científico, entende-se

recomendável a alteração da designação do estudo de perícias e patologia das edificações para

Engenharia Diagnóstica em Edificações, pois esta é a terminologia mais adequada ao mister. Gomide

(2009:09)

Ainda segundo conceitos de Gomide:

Sabendo-se que Engenharia é a arte da transformação de matérias primas em produtos de utilidade,

pode-se, de forma similar, conceituar a Engenharia Legal como a arte de aplicar conhecimentos

científicos, técnicos, legais e empíricos nas perícias e avaliações dos diversos ramos da Engenharia,

para criar provas jurídicas. GOMIDE (2009:10)

Estes temas são discutidos em seminários, congressos e nas entidades de classe. Fala-se muito no

quão é importante que os profissionais tenham entendimento destas evoluções e na necessidade que

sejam inseridas nas grades curriculares disciplinas que proporcionem ao universitário conteúdo

sobre avaliação, perícia, engenharia legal e de acordo com o exposto neste capítulo, engenharia

diagnóstica. A sociedade esta cobrando do profissional postura que necessita de conhecimento

nestas áreas e muitas vezes o tema é pouco conhecido ou até mesmo desconhecido.

7. Estudo de caso

Apresenta-se o resumo da inicial e alegações de uma Ação de Indenização por Desapropriação

Indireta movida na Vara de Feitos da Fazenda da Comarca de Rio do Sul por Carmelito Cunha e

Maria Capistrano Cunha contra o Município de Rio do Sul.

Inicial: Os autores são proprietários do imóvel matriculado sob n° 23798, com área escriturada de

315,00 m², localizado na Avenida Oscar Barcellos, imóvel que foi por eles adquirido no dia 27 de

maio de 2004, conforme R-5 da referida matrícula. Com o alargamento da rua Oscar Barcellos e

realização de obras de infra-estrutura, notadamente pela construção de calçadas fronteiriças pela

requerida , o imóvel sofreu redução de 64,60 m², passando a contar com apenas 237,65 m². Os

autores alegam que a requerida até o presente momento não promoveu o ressarcimento dos

prejuizos a eles causado e por conta disto utiliza o caminho judicial para tal. Os autores apresentam

seus fundamentos e fazem o pedido.

Contestação: O município de Rio do Sul contesta a ação afirmando que a Avenida Oscar Barcelos,

deriva de uma obra realizada no ano de 1981, diferenciando-a de hoje somente quanto a camada

asfaltica executada em 2006. Afirma a requerida que a via não sofreu qualquer modificação com a

implantação do novo setor viário estabelecido, que somente foi executado camada asfáltica, não

sofrendo alargamento como querem fazer crer os autores. A requerida também afirma que o projeto

inicial da via é datado de 1981 e que desde então a via não sofreu modificações quanto a suas

dimensões e que os autores quando adquiriram o imóvel, isto em 2004 ja o encontraram com as

mesmas caracteristicas adquiridas em 1981.

O juiz julgou procedente o pedido dos autores, fixou os pontos controvertidos e deferiu pela

produção prova testemunhal e pericial, fixando o prazo de 10 (dez) dias para que as partes

apresentassem seus quesitos e indicassem os assistentes técnicos. Nomeou como perita judicial

Dorilene Bagio Kempner e solicitou que à perita nomeada se manifestasse em 10 dias se aceitaria o

encargo e indicasse seus honorários. Aos autores foi solicitado a realização do depósito dos

honorários e à perita, no caso de aceitar o encargo apresentar a indicação de data e hora para a

realização da perícia, comunicando os assistentes técnicos para que querendo acompanhassem a

perícia. O juiz também deixou determinado o prazo de 30 (trinta) dias após a realização da vistoria

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pericial para a entrega do laudo. Inicial, contestação e despacho saneador seguem anexo – anexo A-

01.

A requerente não indicou assistente técnico e a requerida indicou como assistente técnico o

engenheiro civil Ednei Sandri. Nenhuma das partes apresentaram quesitos, ficando somente os

quesitos do juizo a serem respondidos.

A pericia tinha 02 (dois) objetivos principais: Apurar se a via que faz frente com o imóvel dos

autores foi alargada e se esta teria sido a causa da redução de área do imóvel dos autores e avaliar o

valor comercial por m² de terra nua para o imóvel sob perícia.

A vistoria pericial foi realizada na presença do requerente e do assistente técnico da requerida. Todo

o processo investigativo e de avaliação realizado segue detalhado no laudo pericial que segue anexo

na íntegra – ver anexo A-02. Vale ressaltar que não foi possível ter acesso ao projeto original da via,

que seria a prova principal para a conclusão , que seria o projeto original da via, pois o mesmo, se

existir, esta em posse da requerida que consegiu manter inacessível. Foram encontrados outras

evidências como fotografias antigas e levantamentos topográficos de imóveis que permitiram ao

juiz promover a sentença com segurança.

As partes apresentaram suas alegações a cerca do laudo pericial sendo que os autores solicitaram

audiência de instrução e julgamento alegando que os pontos controvertidos reconhecidos pelo juizo

no despacho saneador não foram dirimidos pela perita, é que seria necessário obter oitiva da perita

para esclarecimentos. O requerido optou pela impugnação do laudo pericial julgando-o

inconclusivo.

O juiz então determinou pela audiência de instrução e julgamento, solicitando que as partes

apresentassem os quesitos a serem esclarecidos pela perita. Passado o prazo limite para a

apresentação dos quesitos de esclarecimentos as partes não os apresentaram, então somente o juiz

promoveu questionamentos à perita que foram pela própria respondidos em audiência. Com base

no laudo pericial e nos esclarecimentos prestados da perita na audiência o juiz sentenciou o

processo, conforme anexo A-03.

Consideração a respeito da conduta e desfecho do processo: a prova principal do processo seria o

projeto original da via que o requerido acusa ter sido alargada, pois a partir deste projeto

poderíamos verificar suas dimensões originais e se segue o traçado previsto no projeto. Entretanto

esta prova não foi localizada, quando partiu-se em busca de provas fotográficas, depoimentos de

moradores antigos, arquivos da rede ferroviária visto que antes da atual via, naquele local passava a

linha férrea. Com as informações encontradas neste processo investigativo foi possível juntar

indícios que permitiram ao magistrado a decisão com total segurança. Este processo demonstra a

dificuldade muitas vezes encontrada na busca da prova que permite a conclusão pericial, o quanto é

importante o processo investigativo e principalmente a importância da prova pericial para a tomada

da decisão judicial.

8. Conclusão

Como os fatos litigiosos muitas vezes não são da inteira compreensão do juiz e nem sempre é

possível permitir-lhe concluir sobre a lide através dos meios de provas usuais (testemunhal e

documental) é que surge à necessidade da perícia - peça fundamental que representa a prova levada

aos autos em forma de laudo, demonstrando a verificação de fatos que interessam à decisão da

causa. Os resultados obtidos com a prova pericial na solução dos litígios demonstram a importância

desta prova para a tomada da decisão e especialmente a certeza de que a solução é justa.

É crescente a demanda e variedade de litígios na área de engenharia que dependem de perícias

judiciais para serem solucionados. Esta demanda oportuniza que profissionais habilitados

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aumentem suas áreas de atuação. As habilitações profissionais são exigências mínimas necessárias

para que engenheiros possam atuar como peritos, porém não suficientes atuar em perícias judiciais,

pois estas cada vez mais interagem de forma interdisciplinar, requerendo atualizações,

aperfeiçoamentos e aquisição de novos conhecimentos correlacionados.

Com a evolução nos conceitos dos temas relacionados à engenharia legal, a necessidade de

profissionais com maior conhecimento e mais atualizados é ainda maior exigindo ainda mais a

necessidade de aperfeiçoamento. Partindo da premissa que as universidades devem visar suprir as

carências do mercado, é pertinente concluir que inserir disciplinas de engenharia legal nas grades

curriculares dos cursos de graduação de engenharia é de grande relevância e significância.

9. Referências

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Bens – parte 1: Procedimentos Gerais. Rio de Janeiro, 2001.

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LIPORINI, Antonio Sérgio. Posse e domínio: aspectos pertinentes à perícia judicial / Antonio

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MAIA NETO, Francisco. A prova pericial no processo civil. Belo Horizonte: Delrey, 2005.

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