a importancia da orientacao farmaceutica na dispensacao de mips final 27-06-12

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CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO A IMPORTÂNCIA DA ORIENTAÇÃO FARMACÊUTICA NA DISPENSAÇÃO DE MEDICAMENTOS ISENTOS DE PRESCRIÇÃO SÃO PAULO Junho/2012

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Page 1: A Importancia Da Orientacao Farmaceutica Na Dispensacao de MIPS Final 27-06-12

CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO

A IMPORTÂNCIA DA ORIENTAÇÃO FARMACÊUTICA NA DISPENSAÇÃO

DE MEDICAMENTOS ISENTOS DE PRESCRIÇÃO

SÃO PAULO

Junho/2012

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1

INTRODUÇÃO

Segundo a Lei 5991/73, medicamento é o produto farmacêutico,

tecnicamente obtido ou elaborado, com finalidade profilática, curativa, paliativa

ou para fins de diagnóstico. Entretanto, quando usado de forma irracional

também pode causar sérios danos à saúde, resultando em intoxicações,

hospitalizações e óbitos (MOTA et al. 2012).

De acordo com GANDOLFI & ANDRADE (2006, apud SOUSA; SILVA;

NETO, 2008), os medicamentos têm grande importância, ao lado de fatores

como nutrição, moradia e outros, na modificação dos indicadores de saúde.

Entretanto, transformaram-se em tema controvertido em razão de prática

abusiva, uma vez que, à sua função terapêutica, agregam-se funções sociais e

econômicas, necessariamente, não relacionadas com saúde e doença.

Em relação ao consumo de medicamentos no mundo, o Brasil ocupa a

quinta posição, permanecendo em primeiro lugar em consumo na América

Latina. Já em volume financeiro, o país ocupa o nono lugar no mercado

mundial (MORAIS, 2001 apud MOTA, 2012).

A questão dos medicamentos no Brasil é paradoxal: por um lado, a

população sofre com a falta de acesso aos medicamentos, por outro, há o

consumo irracional estimulado pela automedicação e pela concepção errônea

de medicamento como simples mercadoria, isenta de risco (CRF-SP, 2009).

É válido destacar que a maior facilidade no acesso a medicamentos nem

sempre está associada à melhora na saúde da população. Pelo contrário,

estudo realizado por MOTA et al. mostra que a região onde se concentram a

maioria das farmácias, também se concentram os problemas com

medicamentos:

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A maior frequência relativa da mortalidade por intoxicação com medicamentos foi registrada na região Sudeste. É nesta região onde se consome mais medicamentos e onde está quase metade das farmácias e drogarias oficialmente existente no país. (MOTA, D. M.; MELO, J. R .F.; FREITAS, D. R. C.; MACHADO, 2012).

Os medicamentos isentos de prescrição (MIPs), também chamados de

medicamentos de venda livre ou OTC (sigla inglesa de “over the counter”, cuja

tradução literal é “sobre o balcão”), são, segundo o Ministério da Saúde,

“aqueles cuja dispensação não requerem autorização, ou seja, receita

expedida por profissional” (COSTA, 2005 apud CRF-SP, 2009).

Segundo a RDC 138/03 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária

(Anvisa), incluem-se entre os MIPs, respeitadas restrições em situações

especificadas, grupos de medicamentos tais como: antiácidos e antieméticos;

anti-histamínicos; aminoácidos, vitaminas e minerais; anti-inflamatórios;

analgésicos e antitérmicos; cicatrizantes; descongestionantes nasais tópicos;

expectorantes, sedativos da tosse e relaxantes musculares.

Os MIPs podem ser vendidos, comprados, solicitados, fornecidos,

dispensados ou doados sem obrigatoriedade de nenhuma formalização de

documento emitido por profissional legalmente habilitado para prescrevê-lo

(OPAS, 2008 apud CRF-SP, 2009).

De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas

(Abifarma), já na década de 90, cerca de 80 milhões de pessoas eram adeptas

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3

da automedicação (IVANNISSEVICH, 1994 apud BORTOLON;

KARNIKOWSKI; ASSIS, 2007).

O fácil acesso aos MIPs torna-os diretamente atrelados à

automedicação, prática comum, devida à dificuldade de atendimento médico

(demora na marcação de consultas médicas, atendimento precário em pronto-

socorros, etc.) (CRF-SP, 2009).

Para Sousa, Silva e Neto (2008), a automedicação é definida como o

uso de medicamentos sem prescrição médica, onde o próprio paciente decide

qual fármaco irá utilizar. Inclui-se nessa designação genérica a prescrição ou

indicação de medicamentos por pessoas não habilitadas, como amigos,

familiares e mesmo balconistas de farmácia, neste último caso, caracterizando

exercício ilegal da medicina (KOVACS & BRITO, 2006 apud SOUSA; SILVA;

NETO, 2008).

Partindo do princípio de que nenhuma substância farmacologicamente

ativa é inócua ao organismo, a automedicação pode vir a ser prejudicial à

saúde individual e coletiva. Os analgésicos, por exemplo, normalmente

subestimados pela população no tocante aos riscos inerentes à sua

administração, podem mascarar infecções provocadas por bactérias

resistentes, provocar reações de hipersensibilidade, dependência,

sangramento digestivo, além de poder aumentar o risco para determinadas

neoplasias e ainda mascarar a doença de base que, por sua vez, poderá

progredir (NETO et al., 2006 apud SOUSA; SILVA; NETO, 2008).

Acabar com a automedicação é impossível, mas é possível minimizá-la,

cabendo haver uma estreita relação entre farmacêutico e paciente, de modo a

garantir o bem-estar da população (SOUSA; SILVA; NETO, 2008). Quando

praticada de forma responsável, a automedicação pode também contribuir para

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aliviar financeiramente os sistemas de saúde pública. Segundo o Conselho

Federal de Farmácia, entende-se por automedicação responsável “o uso de

medicamento não prescrito sob a orientação e acompanhamento do

farmacêutico” (BRASIL, 2001).

A orientação farmacêutica é uma ferramenta que auxilia uma melhor

escolha terapêutica. Com a orientação disponibilizada, a prática da

automedicação e seus riscos associados podem ser evitados, impedindo-se,

consequentemente, prejuízos à qualidade de vida do paciente.

Todos os países, independentemente de seu grau de desenvolvimento,

precisam de meios para assegurar o uso racional e custo-efetividade dos

medicamentos. Nesse sentido, os farmacêuticos podem desempenhar um

papel-chave no atendimento das necessidades do indivíduo e da sociedade

(OPAS, 2004 apud CRF-SP, 2009).

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MEDICAMENTOS E SEUS RISCOS

Sempre que se prescrevem ou recomendam fármacos, existem riscos

potenciais de reações adversas. Estas se constituem em importante problema

para a área da saúde, determinando sofrimento e piora da qualidade de vida,

perda da confiança nos médicos, necessidade de exames diagnósticos e

tratamentos adicionais e dificuldades no manejo de diferentes condições

clínicas, além de aumento de custos, número de hospitalização, tempo de

permanência no hospital e eventualmente mortalidade. Ainda, seu

aparecimento pode representar uso de mais medicamentos, não só para

tratamento da reação adversa em si, mas também como sequência de

diagnóstico equivocado de nova patologia (FUCHS et al., 2006 apud SOUSA;

SILVA; NETO, 2008).

O uso indiscriminado de medicamentos também pode ocasionar

resultados indesejáveis, tais como: aumento da resistência bacteriana aos

antibióticos pelo uso incorreto e até mesmo uma hemorragia cerebral devido à

combinação de um anticoagulante com um simples analgésico. Além disso, a

pessoa pode apresentar alergia a determinados ingredientes da fórmula

medicamentosa e, em consequência, desenvolver uma intoxicação (LIMA &

RODRIGUES, 2008 apud SOUSA; SILVA; NETO, 2008).

Entre 1986 e 2006, foram registrados no Brasil, pelo Sistema Nacional

de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), 1.220.987 casos de

intoxicação, com um total de 7.597 (0,6%) óbitos. A partir de 1994, os

medicamentos assumiram a primeira posição no conjunto de agentes tóxicos

estudados, respondendo por 24,5% dos casos de intoxicação registrados no

país. Cabe destacar ainda que, segundo os registros de óbitos por intoxicações

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6

no Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde

(SIM/MS) entre 1996 e 2005, a maior frequência relativa da mortalidade por

intoxicação com medicamentos foi registrada na região Sudeste, onde se

consome mais medicamentos e está quase metade das farmácias e drogarias

oficialmente existente no país (MATOS, 2008 apud MOTA et al., 2012).

Os medicamentos são responsáveis por aproximadamente 28% dos

casos de intoxicação humana no país, sendo os benzodiazepínicos, os

antigripais, os antidepressivos e os anti-inflamatórios, as classes de

medicamentos que mais intoxicam no país (MS, 2006).

Arrais (2004) em estudo sobre “Epidemiologia do consumo de

medicamentos e eventos adversos no município de Fortaleza”, ressalta que os

MIPs são os mais utilizados, destacando-se o paracetamol, a dipirona e o ácido

acetilsalicílico. O autor enfatiza ainda que, nos estudos realizados no Brasil, a

preferência por esses analgésicos muda conforme a época e população

estudada, prevalecendo o uso do ácido acetilsalicílico e da dipirona. O elevado

consumo de dipirona é altamente preocupante, já que existe grande polêmica

sobre ele no meio científico. O fármaco está associado ao aparecimento de

reações adversas graves como: agranulocitose (diminuição ou ausência de

granulócitos ou leucócitos granulosos, que são as principais barreiras de

defesa do organismo contra as infecções), trombocitopenia (diminuição do

número de plaquetas, que estão relacionadas à coagulação sanguínea) ou

anemia aplásica (produção em quantidade insuficiente dos diferentes tipos de

células sanguíneas existentes – glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e

plaquetas), tendo sido retirado do mercado farmacêutico de diversos países

(Schönhöfer, 2002 apud ARRAIS, 2004).

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7

Após um longo período de uso, os anti-inflamatórios não-esteroides

(AINEs), como o ácido acetilsalicítico, podem causar efeitos adversos

gastrointestinais que variam de dispepsia (dificuldade de digestão) a

sangramentos de estômago e duodeno e dano tecidual (como úlceras) no trato

gastrointestinal baixo. Já o uso prolongado ou de altas doses de paracetamol,

pode levar à lesão hepática grave.

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AUTOMEDICAÇÃO E ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA

Na maioria das vezes, quando surge um problema de saúde, o usuário

procura uma farmácia – instituição de saúde de acesso fácil e gratuito

(ZUBIOLI, 2000 apud SOUSA; SILVA; NETO, 2008). Como parte do processo

de atenção à saúde, está a dispensação de medicamentos, isentos ou não de

prescrição de profissional habilitado. Quando a dispensação é acompanhada

da orientação do farmacêutico, os riscos relativos a medicamentos diminuem,

contribuindo para a melhora na qualidade de vida do paciente.

A intensificação da atenção primária à saúde, com a máxima

participação dos farmacêuticos, é um dos focos atual dos líderes em saúde no

mundo (SANTOS, 2003 apud BORTOLON; KARNIKOWSKI; ASSIS, 2007).

O farmacêutico é o profissional que tem como obrigação aconselhar, em

uma situação, o meio mais adequado para que o doente se sinta melhor com

um tratamento, exigindo deste profissional conhecimento sobre indicações e

contraindicações, as interações e o acompanhamento com o médico. Neste

processo, o farmacêutico deve encaminhar o paciente ao médico sempre que

necessário, atuando com complementaridade (ARANDA DA SILVA, 2007 apud

BORTOLON; KARNIKOWSKI; ASSIS, 2007).

De acordo com Santos (2003 apud BORTOLON; KARNIKOWSKI;

ASSIS, 2007), o farmacêutico é o único legal, ética e academicamente

capacitado para orientar o usuário do medicamento acerca do produto que está

adquirindo.

Sanitarista especial e por índole, o farmacêutico tem uma

visão incomum da realidade da saúde, conhece as

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doenças mais prevalentes, entende dos medicamentos

que as curam, sabe sobre a terapêutica e deve estar

disponível facilmente nos estabelecimentos. (SANTOS,

2003, p. 64).

O estudo realizado por Bortolon e colaboradores (2007) teve como foco

a atenção primária à saúde do idoso e concluiu que a indicação farmacêutica

leva em consideração os aspectos fisiológicos e patológicos do paciente na

escolha da farmacoterapia adotada. Utilizando as especialidades do saber

profissional de farmácia, a ajuda prestada pelo farmacêutico, no que tange ao

tratamento medicamentoso, pode significar uma valiosa contribuição à saúde

dos idosos.

Ou seja, os MIPs devem ter sua venda livre (sem prescrição de

profissional habilitado) quando a compra é feita com a orientação do

farmacêutico, pois assim como acontece com outros tipos de medicamentos,

podem ocorrer reações alérgicas, uso indevido, incorreto e/ou interações,

levando ao aparecimento de sintomatologias inesperadas e prejudicando a

saúde do paciente.

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LEVANTAMENTOS DA FISCALIZAÇÃO DO CRF-SP

• Disposição dos MIPs e Disponibilidade de Bulas

O CRF-SP realizou um levantamento em drogarias do Estado de São

Paulo (anexo 1) no período de 05 a 12 de abril de 2012, com os seguintes

objetivos:

� Verificar a disposição dos MIPs (acesso restrito/autosserviço);

� Verificar a disponibilidade de bulas entre as diferentes apresentações de

MIPs.

Resultados

• Nº de estabelecimentos pesquisados

� Total: 1442

� Capital: 283

� Grande São Paulo: 327

� Interior: 783

• Disposição dos MIP´s

Total estabelecimentos

Acesso Restrito Autosserviço

1.442 1.068 (74%) 375 (26%)

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• Disponibilidade de bulas

Total de apresentações

Com bula Sem Bula

1.230 163 (13%) 1.067 (87%)

O levantamento realizado pela fiscalização do CRF-SP, no período de

05 a 12 de abril de 2012, demonstrou que 87% dos Medicamentos Isentos de

Prescrição (MIPs) pesquisados, estavam disponíveis para o consumidor sem

bula. Ou seja, além de estarem no autosserviço, não havia nenhuma

informação disponível ao consumidor.

• Comportamento do usuário na Aquisição de MIPs

Em junho/2012, o CRF-SP realizou um levantamento com farmacêuticos

atuantes em farmácias e drogarias do Estado de São Paulo com o objetivo de

verificar se estes profissionais perceberam mudanças no comportamento do

usuário de medicamentos após a vigência da RDC 44/09 e da IN 10/09, que

obriga os estabelecimentos farmacêuticos a manterem os MIPs atrás do balcão

(anexo 2).

Resultados

No período compreendido entre 22 e 26/06/2012, a equipe de

fiscalização do CRF-SP entrevistou 638 farmacêuticos para avaliar o

comportamento dos usuários frente ao consumo dos MIP após a retirada do

autosserviço.

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Os profissionais foram questionados quanto à:

� Comportamento do usuário no ato da aquisição (compra o que

necessita/compra por impulso);

� Forma preferida de aquisição do medicamento (blister/caixa fechada);

� Possibilidade de receber orientação farmacêutica com relação ao uso do

MIP adquirido (aumenta possibilidade/não aumenta possibilidade).

• Nº farmacêuticos entrevistados

� Total: 638

� Capital: 157

� Grande São Paulo: 109

� Interior e litoral: 372

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• Perguntas e Respostas

Nº Pergunta Resposta Quantidade

1

Com os MIPs dispostos fora do alcance dos

usuários, o farmacêutico observou alguma

mudança de comportamento: a maioria dos

usuários compra o MIP por impulso ou

compra somente o que necessita (compra

consciente)?

A maioria dos usuários

compra MIPs por

impulso

204

A maioria dos usuários

compra de forma

consciente

433

Não tem opinião

formada

1

2

Quando o usuário solicita o MIP no balcão,

ele prefere blister ou caixa fechada?

A maioria adquire blister 576

A maioria adquire caixa

fechada

62

3

O fato MIP não estar no autosserviço,

aumenta ou não a possibilidade de procurar

o farmacêutico para orientá-lo quanto ao uso

(receber orientação farmacêutica – OF)?

Aumenta a possibilidade

de receber OF

513

Não aumenta a

possibilidade de receber

OF

120

Não tem opinião

formada

5

Conforme relatado pelos farmacêuticos, verificou-se que, com a retirada

dos MIPs do autosserviço, existe uma tendência a adquirir somente os

medicamentos necessários, diminuindo a aquisição por impulso. Também foi

percebido pelos entrevistados que a preferência é pela aquisição em blisteres,

ao invés de caixas fechadas, implicando em quantidades menores de

medicamentos. Ainda segundo esses profissionais, ao pedir os medicamentos

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no balcão, aumenta a possibilidade dos usuários receberem orientação

farmacêutica.

Diante do exposto, conclui-se que a disposição dos MIPs fora do alcance

dos usuários, favorece um comportamento mais adequado do usuário frente ao

consumo destes medicamentos, sob a égide da saúde pública. Ao solicitar os

medicamentos no balcão, há uma tendência do usuário fazer um consumo

guiado pela real necessidade de atender a um problema de saúde, reduzindo a

aquisição por impulso criada pelo mercado, além do que contribui para reduzir

a cultura da automedicação desinformada, favorecendo a cultura da orientação

pelo farmacêutico, profissional devidamente capacitado para tal. Há que se

considerar, também, que o blister é uma apresentação que não dispõe de bula

ou outra forma de instrução e, portanto, o acesso do blister por meio do balcão

da farmácia possibilita uma aquisição acompanhada de orientação pelo

farmacêutico, o que não ocorre no autosserviço. Desta forma, o usuário

desenvolve o hábito de utilizar os MIP com orientação farmacêutica,

contribuindo significativamente para o uso racional de medicamentos.

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PANORAMA DOS MIPs EM ALGUNS OUTROS PAÍSES

Estados Unidos da América - Food and Drug Administration (FDA)

O FDA iniciou recentemente uma discussão sobre a expansão da

definição de medicamentos isentos de prescrição.

No entanto, o FDA admite que o conceito de auto-cuidado – o qual seria

atendido por essa categoria de medicamentos – é limitado aos auto-

diagnósticos e/ou auto-tratamentos realizados com base em informações que

constam nas caixas dos medicamentos, combinado com o conhecimento de

senso comum.

O FDA entende ser importante ampliar o conceito de medicamentos

isentos de prescrição e, para isso, está fazendo uma ampla consulta (a

consumidores, farmacêuticos, membros da comunidade de saúde, setor

regulado e empresas de seguro) sobre a viabilidade desta iniciativa. Mas a

consulta está focada em discutir que tipos de provas seriam necessárias para

demonstrar que determinados medicamentos podem ser usados com

segurança nessa nova definição.

Para garantir o uso seguro e adequado, seguem alguns critérios que o

FDA entende que podem ser estabelecidos para definir como categorizar os

medicamentos isentos de prescrição.

• Antes de iniciar um tratamento medicamentoso, você pode ter que

conversar com um farmacêutico, ou realizar um teste diagnóstico;

• Em outros casos, você pode ter que visitar um médico para obter

uma receita inicial, mas não seria necessário nova consulta para

a receita do mesmo medicamento;

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• Alguns medicamentos poderiam estar em uma categoria mista, ou

seja, ser um medicamento de prescrição em algumas condições

e um medicamento isento de prescrição em outras condições,

desde que garantisse a segurança ao paciente;

• Um cenário importante para melhorar o autocuidado é o

envolvimento dos farmacêuticos para ajudar os consumidores a

verificarem o seu diagnóstico, ou decidir se a medicação está

certa.

Canadá

O Canadá categoriza os medicamentos em três listas distintas:

1. Medicamentos de prescrição

2. Medicamentos de dispensação farmacêutica

3. Medicamentos de autosserviço

4. Medicamentos de prescrição farmacêutica

Os medicamentos da categoria 2, podem ser vendidos por um

farmacêutico e não necessitam de receita médica, no entanto devem ser

mantidos em uma área da farmácia onde não há acesso público e nenhuma

oportunidade para o paciente auto-seleção.

Os medicamentos da categoria 3 podem ser vendidos numa área de

auto-seleção para o público, porém a farmácia tem que estar licenciada para

isso licenciada e a venda ser feita por um farmacêutico. Os medicamentos da

categoria 4 podem ser prescritos por um farmacêutico, em conformidade com

as diretrizes previamente aprovadas.

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17

Reino Unido

A Lei de Medicamentos de 1968, e a Diretiva 2001/83/CE controlam a

venda e o fornecimento de medicamentos. O estatuto jurídico dos

medicamentos faz parte da autorização de comercialização (MA) e os produtos

podem estar disponíveis:

1. Sob prescrição (POMS - Prescription Only Medicines)

2. Isento de Prescrição Médica, mas sob a supervisão de um

farmacêutico (P - Pharmacist)

3. Para venda geral (GSL – General Sales List) e podem ser

vendidos, em geral, nas lojas de varejo, sem a supervisão de um

farmacêutico.

A Prescrição pode ser emitida por médicos, dentistas, enfermeiros

prescritores, farmacêuticos prescritores e prescritores complementares.

Um medicamento classificado como POM pode se tornar P, desde que

seja seguro permitir que ele seja fornecido sem receita médica. Para isso não

deve se enquadrar em nenhum dos seguintes critérios:

• Susceptível de representar um risco direto ou indireto para a

saúde humana, mesmo quando usado corretamente, se usado

sem a supervisão de um médico;

• É frequentemente utilizado de forma incorreta e, como resultado,

é susceptível de apresentar um perigo direto ou indireto para a

saúde humana;

• Contém substâncias ou preparações de substâncias de cuja

atividade ou efeitos colaterais requerem investigações;

• Formas farmacêuticas injetáveis.

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18

Para a classificação como GSL é necessário afirmar com segurança

razoável que podem ser fornecidos sem a orientação de um farmacêutico.

"Segurança razoável" pode ser definida como "Situação em que o perigo à

saúde, o risco de mau uso e a necessidade de precauções especiais no

manuseio são pequenos, e a amplitude do acesso é mais conveniente para o

comprador."

Portugal

Em Portugal os medicamentos isentos de prescrição médica são

chamados de Medicamentos Não Sujeitos a Receita Médica (MNSRM).

Sua Legislação básica é a seguinte:

• Decreto-Lei n.º 134/2005, de 16 de Agosto, que estabelece

o regime da venda de MNSRM fora das farmácias;

• Decreto-Lei n.º 238/2007, de 19 de Junho que faz a revisão

da adoção da medida de venda de MNSRM fora das

farmácias;

• Portaria n.º 827/2005, de 14 de Setembro, que estabelece

as condições de venda de medicamentos não sujeitos a

receita médica (MNSRM);

• Deliberação n.º 1706/2005, de 7 de Dezembro, sobre o

Registro prévio dos pontos de venda de medicamentos

não sujeitos a receita médica;

Saliente-se que, o item 2, do artigo 6.º, da Portaria de 827/2005 diz que:

“Nos locais de venda os MNSRM não podem

encontrar-se acessíveis ao público, devendo a sua entrega

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19

ser intermediada por pessoal especificamente afecto à

actividade de venda de MNSRM.”

A Ordem dos Farmacêuticos de Portugal tem a seguinte posição no que

se refere aos medicamentos não sujeitos a receita médica (MNSRM):

1. O medicamento, seja legalmente sujeito ou não a receita

médica, não pode ser encarado como um bem de consumo

qualquer. Banalizá-lo, representa riscos para a saúde

pública, pelo que é necessário garantir que a sua utilização

é feita de forma racional, segura e efetiva.

2. Assim, por razões de saúde pública, a Ordem dos

Farmacêuticos defende a elaboração, com base em

critérios técnico-científicos, de uma lista de medicamentos

não sujeitos a receita médica (MNSRM), cuja dispensa seja

exclusiva em farmácias comunitárias.

3. O conjunto de medicamentos disponíveis fora das

farmácias, isto é nos locais de venda de MNSRM, tem

vindo a alargar-se muito significativamente e, neste

momento, inclui medicamentos de uso prolongado ou que

contêm substâncias ativas que, pela sua natureza, exigem

aconselhamento e acompanhamento farmacêutico.

4. Por isso, a Ordem dos Farmacêuticos defende a

consagração legal da chamada “terceira lista” de MNSRM.

A exemplo do que sucede na maioria dos Estados-

membros da União Europeia em que MNSRM estão

disponíveis fora das farmácias, designadamente no Reino

Unido e na Holanda.

Page 21: A Importancia Da Orientacao Farmaceutica Na Dispensacao de MIPS Final 27-06-12

20

5. Com efeito, considerando os 12 Estados-membros da UE

(do total de 27) em que MNSRM estão disponíveis fora das

farmácias, somente Portugal, Itália, Bulgária e Roménia

não têm instituída uma “terceira lista” de MNSRM.

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CONCLUSÃO

Conforme exposto, o abuso na utilização de MIPs é preocupante e

agravado quando o medicamento está diretamente acessível à população. No

nosso entendimento, a permissão para que o usuário tenha livre acesso aos

medicamentos através do autosserviço em nada contribui para a saúde pública.

Ao contrário, cerceia o direito da população à assistência farmacêutica, direito

este assegurado como parte integrante do direito à saúde, garantido pela

Constituição Federal (1988) e reafirmado pela Lei Orgânica da Saúde (Lei

8080/90), pela Política Nacional de Medicamentos (Portaria GM 3.196/1998) e

pela Política Nacional de Assistência Farmacêutica. (Resolução CNS

338/2004). Esta medida desestimula a população a buscar orientação

profissional para aquisição de medicamentos que, embora isentos de

prescrição, não devem ser isentos de orientação profissional.

É nesse cenário que o papel do farmacêutico, enquanto profissional de

saúde responsável pela orientação da utilização correta dos medicamentos,

faz-se fundamental. Os MIPs compõem uma categoria de medicamentos na

qual a intervenção farmacêutica é o principal fator para o sucesso e a

segurança da terapia.

Soma-se a isso o levantamento realizado pela fiscalização do CRF-SP,

que demonstrou que 87% dos Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs)

pesquisados, estavam disponíveis para o consumidor sem bula. Ou seja, se

ficarem dispostos no autosserviço o paciente não terá nenhuma informação

sobre o produto que irá consumir.

Page 23: A Importancia Da Orientacao Farmaceutica Na Dispensacao de MIPS Final 27-06-12

22

Por fim, destaca-se o breve levantamento sobre como é tratada a

questão dos MIPs em alguns países, o qual revela que a classificação desses

produtos é distinta da adotada no Brasil.

Há que se salientar que existe um aspecto em comum entre esses

outros Países: os MIPs estão subdivididos em diversas outras categorias,

muitas das quais incluem a prescrição farmacêutica e aqueles que só podem

ser dispensados sob a orientação farmacêutica.

Outra questão importante a se comentar é que existem alguns critérios

para que um medicamento seja classificado como MIP: dosagem, quantidade

por caixa, forma farmacêutica, forma de uso, etc.

Conclui-se que a questão do MIP é de extrema complexidade e que a

atual discussão feita no Brasil limita-se a questão da disposição dos

medicamentos no autosserviço.

A exemplo de outros Países é necessário fazer uma discussão mais

detalhada de como o Brasil pretende garantir o acesso aos medicamentos de

forma eficaz e segura para sua população.

Enquanto essa discussão não for feita, o Conselho Regional de

Farmácia do Estado de São Paulo entende que, para o bem da Saúde Pública,

os medicamentos isentos de prescrição, na forma como são classificados hoje,

fiquem fora do livre acesso da população, em local que garanta a orientação e

assistência farmacêutica.

Seguem anexos diversos trabalhos e notícias que comprovam os riscos

da automedicação e a importância do farmacêutico no uso racional de

medicamentos (anexos 03 a 08).

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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