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UNIVERSIDADE ANHANGUERA - UNIDERP REDE LUIZ FLAVIO GOMES -LFG DEPARTAMENTO DE DIREITO

A IMPORTNCIA DO DIREITO AMBIENTAL E OS DANOS VISTOS SOB A TICA DA RESPONSABILIDADE

Joel Caetano da Silva Neto Ps-graduando

Artigo apresentado Comisso de Seleo do Curso de Ps Graduao em Direito Pblico, turma 6 da Universidade Anhanguera- UNIDERP

Salvador, 10 de abril de 2011.

DEDICO S PESSOAS QUE ME INCENTIVARAM A FAZER ESTE CURSO. A MEU EM PAI IN A

MEMORIAN,

ESPECIAL,

MEU IRMO E A MINHA ME, QUE SEMPRE ME ORIEN-TOU DIDATICAMENTE, CUJO APOIO FOI FUNDA-MENTAL DA PARA A

CONCLUSO GRADUAO.

MINHA

POS

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Sumrio

I. APRESENTAO.............................................................................................4 II. A ONTOLOGIA HUMANA E A GAIA-CINCIA................................................5 III. A TRANSFORMAO DO CONTROLE SOCIAL AMBIENTAL...................10 IV. A FRAGILIDADE DO CONTROLE BRASILEIRO CONTEMPORNEO SOBRE O MEIO AMBIENTE.........................................................................12 V. A EDUCAO AMBIENTAL REAL................................................................19 VI. CIDADANIA E PROTEO AMBIENTAL ...................................................22 CONCLUSO....................................................................................................27 IX REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS..........................................................29

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I. APRESENTAO Realizada em 1992, no Rio de Janeiro, a Conferncia ECO-92 foi um marco na conscincia e na conscientizao de conceitos como ecologia e preservao do meio ambiente. Recebendo grande destaque nos meios de comunicao, a ECO-92 despertou a ateno principalmente aos problemas correlacionados devastao do meio ambiente pela ao humana. Com isso teve incio a normatizao de parte dessas preocupaes. Porm, s com a edio da Lei dos Crimes Ambientais Lei no 9605, de 12 de Fevereiro de 1998 que o sistema jurdico nacional comeou a instituir penas contra crimes ambientais e que a responsabilidade civil por tais ambientais. passou a ser debatida. Esta monografia ter incio na fixao de um patamar filosfico que permita a descentralizao das lutas ambientais em torno das florestas e da ao diretamente contra elas Aps uma breve introduo filosfica, ter vez um sucinto estudo do texto legal brasileiro, destacando-se principalmente as limitaes e as deficincias das duas leis que lidam com o meio ambiente nacional: a Lei de Propriedade Industrial e a Lei Ambiental. Sero discutidas a luta poltica por uma legislao ecolgica eficiente e as aes estatais que visem ao controle social sobre o meio ambiente. Para que resultados concretos sejam atingidos, dever ser destacada a importncia da conscincia ambiental entre os cidados, principalmente por meio de educao ambiental, ou melhor, da reeducao ambiental, permitindo que os limites do cotidiano sejam superados e que todos cidados se vejam como sendo parte de um mundo vivo como um todo. Alternativas posio do Estado e s Organizaes No-Governamentais (ONG s) ambientalistas devero ser mostradas com estes escritos, contribuindo para seus debates e fortalecendo o papel do cidado como parte da totalidade social e no no como sujeito de direitos.

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II. A ONTOLOGIA HUMANA E A GAIA-CINCIA Para que seja compreendido o papel do Direito Ambiental como parte autodependente do sistema jurdico, a concepo filosfica de Lukcs importante por expor novos critrios para a explicao do surgimento e desenvolvimento do homem enquanto ser distinto das demais formas de vida do planeta. Portanto, o dimensionamento filosfico do meio ambiente permite a apreenso dos ecossistemas como sujeito de direitos. Tendo por princpio as concepes teorizadas pelo filsofo hngaro Gyorgy Lukcs, as situaes que englobam o meio ambiente, assim como toda categoria constitutiva da sociedade, so resultado das atividades desenvolvidas pelos homens nos meios de produo. O homem um ser que decide, que escolhe uma ou mais opes entre alternativas. Diferentemente de outros seres vivos, o ser humanos no precisa acomodar seu corpo quando se encontrar cansado em qualquer pedra de maior porte ou galho de rvore. Para ele, possvel separar a madeira da rvore, testar a sua resistncia, verificar se h parasitas nela, e inventar uma cadeira. A cadeira no existia na natureza, tendo sido concebida na conscincia humana e transposta para o mundo concreto. Fora esta opo de repouso, o homem poderia ter se utilizado desta madeira para inventar um instrumento que garanta o seu conforto entre folhas de outras rvores, por exemplo. Esta multiplicidade de opes uma caracterstica eminentemente humana, pois o homem capaz de, analisando o ambiente em que vive, transformar os recursos naturais de maneira a tornar sua vida mais desenvolvida e confortvel . Existem trs patamares ontolgicos diferentes: o inorgnico, cuja essncia o incessante tornar-se outro mineral; o biolgico, cuja essncia o repor o mesmo da reproduo da vida; e o ser social, que se particulariza pela incessante produo do novo, atravs da transformao conscientemente orientada do mundo que o cerca. O trabalho , ento, a manifestao da razo sobre o meio real, construindo todo o meio social atravs da orientao da subjetividade humana, ou seja a efetivao da subjetividade objetivada, transferida da mente para objetos criados ou aperfeioados pelo homem, mas que no existiam na natureza, pelo menos no na forma finalizada. A cadeira que o homem constri cadeira diante da funo pelo homem atribuda, no existindo na natureza cadeiras manufaturadas mas to somente objetos ou situaes parecidas ou anlogas e, a partir da sua concepo, fazendo com que todo objeto com as mesmas caractersticas, esteja ele em qualquer lugar do mundo, possa ser por este homem considerado cadeira pela sua funo social. , pois, atravs da manipulao e do manufaturamento que o homem se destaca dos demais seres, num processo cuja essncia a construo de um ambiente onde as categorias sociais predominam com intensidade crescente. Essncia, por sua vez, que tem por base o atributo de que toda atividade humana se constitui a partir de uma escolha entre opes, isto , posies prticas teleologicamente orientadas que, pela dinmica inerente ao fluxo da prtica social, so generalizadas em complexos

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mediadores que esto, socialmente falando, em crescente ascenso. Concretizando-se a subjetividade comea a surgir, pois, uma outra caracterstica da ontologia do ser social, que a unidade na universalidade, ou melhor dizendo, a homogeneizao de um objeto que, mesmo sendo apenas um primeira vista, ser, em relao a todos os demais objetos semelhantes, de compreendimento universal, j que em qualquer situao a cadeira ser uma cadeira, seja ela qual for, at que socialmente seja necessrio apoiar objetos sobre a cadeira como se mesa fosse, fazendo com que mude ontologicamente a sua existncia. A produo de formas de existncia absolutamente originais em relao natureza uma caracterstica eminentemente humana. Com a satisfao de determinadas necessidades via transformao da natureza, surgem novas necessidades ainda mais complexas que, por sua vez, gerariam outras aos homens cada vez mais adaptados a sociedades cujas atividades desenvolvem-se mais interligadas e com produo social crescente. A distino do homem em relao aos demais recursos naturais est na mediao da razo. Refletindo sobre o ambiente em que vive, so selecionados os elementos naturais mais eficazes para que o indivduo alcance objetivos crescentemente socializantes atravs da razo humana, ou seja, constitutivos de esferas da vida mais desenvolvidas em que a integrao entre as relaes estabelecidas pelos homens seriam cada vez mais complexas. O uso do meio ambiente seria, ento, o pressuposto fundamental para que o homem se realize como homem, ser racional, diferenciado de outras formas de vida, pois poder ser aperfeioada toda a humanidade racionalmente, atravs do equilbrio entre o homem e a natureza, fazendo este indivduo opes que garantam a continuidade do ambiente. Com o trabalho garante-se a possibilidade do seu desenvolvimento, indo a um patamar superior, racional, diferenciando-o de outras formas de vida. Por mais diversa internamente que seja a sociedade humana, a concepo lukacsiana no comete o equvoco de desconsiderar a matriz biolgica do ser humano. O homem um primata, com suas necessidades biolgicas essenciais existncia, como se alimentar, respirar, beber, proteger-se do frio ou calor intensos, reproduzir e proteger sua cria, assim como qualquer outra forma de vida, conhecida ou ainda no. A ao humana, quando desvirtuada de sua essncia biolgica, evita que o ser humano conhea a si mesmo em sua essncia, sendo ele reduzido a uma mquina nas atividades realizadas, cujo produto de seu trabalho se torna estranho s suas intenes e necessidades bsicas (conscientes ou no), isolando-o da interao com o meio ambiente e com os seu prximo segundo preceito bblico, que aconselha o homem amar ao prximo como a si mesmo . Sendo assim, a concepo plena do homem est em sua interao com a natureza em suas esferas biolgica e mineral, constitutivas do homem. O elemento social ou socializvel s pode aparecer, continuar existindo e se desenvolver sobre a base de um ser orgnico que s pode realizar a mesma tarefa sobre a base de um inorgnico. Isto posto, a integrao entre homem e meio ambiente s ser possvel se as diferentes fontes naturais os animais, os vegetais e os minerais forem pesquisadas pelos seres humanos como sua prpria extenso.

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Assim sendo, a concepo lukacsiana do ser social se correlaciona teoria da Gaia-cincia, segundo a qual o planeta Terra seria por inteiro uma prpria forma de vida, atravs da interligao entre os diversos organismos vivos como partes de um ecossistema global. Aps breve elucidao da importncia ecolgica da ontologia do ser social, terse- incio um sucinto discurso de sua interao com a Gaia-cincia. Acordada com esta teoria ecolgica, a vida no planeta Terra se estruturou, aps milhes de anos, moldando o planeta para que se tornasse o lugar mais eficiente para todas elas. No se tornava necessria a mediao da conscincia neste momento inicial da vida no planeta, mas sim a interligao dos elementos a gua, os gases, o calor, os minerais na constituio do mundo, que fez com que as formas de vida, partindo das mais simples microorganismos em geral s mais complexas mamferos, rpteis, vegetais superiores -, ao se tornarem aptos vida, modificavam o planeta, adaptando-o para sustentar a sua existncia. Com a mediao humana consciente sobre a vida terrestre, passa a ser constatado que a sua humana ao sobre a vida interagia com todos os ecossistemas. Na metade mais jovem de sua vida, o planeta Terra passou a possuir um rico coquetel de gua, gases, calor e minerais nas doses exatas, necessrias e suficientes para que a vida florescesse em toda a sua esplndida e vasta variedade. Pode-se considerar isto apenas uma leda coincidncia: a vida teria simplesmente surgido e se desenvolvido neste relativamente pequeno astro o quinto em tamanho deste nfimo sistema solar e no em qualquer outro pela simples e boa razo de que aqui se encontra o mais confortvel ambiente, se no de todo o vasto e infinito Universo, pelo menos deste simplrio canto csmico. Por outro lado, o que pode ter ocorrido que os organismos vivos, surgidos fortuitamente, com o passar das eras, acabaram tomando conta da casa terrestre, adaptando-a com tamanha perfeio que ela se moldou para suprir os desejos e anseios de seus jovens hspedes. Com este ponto de vista, a degradao ambiental em pequena escala sobre uma nfima poro de uma floresta interfere sobre todo o panorama climtico global. Assim, a compreenso lukacsiana da sociedade desenvolve-se tendo por origem a interao entre as esferas que compreendem as diferentes atividades humanas Direito, Religio, Economia etc. vinculadas, formando uma mesma totalidade, o Ser Social. Esta concepo da ontologia do Ser Social leva as diferentes espcies existentes no mundo a no poderem ser consideradas como desvinculadas da existncia humana, pois as diversas esferas constitutivas do Ser Social esto interligadas a partir da existncia biolgica dispersa pelo mundo, que, por sua vez, tem como raiz o todo mineral. Acidentes como o de Bhopal (ndia, 1984), o maior desastre industrial da histria do Homem, com mais de 2.000 mortos e tendo superado a casa das duas

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centenas de milhares de afetados diretamente pelo vazamento de gs txico, a exploso do reator nuclear de Chernobyl (Ucrnia, 1986), que ocasionou as primeiras mortes por radiao em uma usina nuclear e cujo material radioativo cruzou os oceanos e chegou at o Brasil, no tendo o seu real tamanho destrutivo sido conhecido at a atualidade, e o derramamento de trinta toneladas de produtos qumicos no rio Reno (Sua, 1986), uma das mais graves leses ambientais j ocorridas na Europa, podem ser utilizados como exemplificao da interferncia de aspectos biolgicos e minerais na vida humana. Estes tipos de ocorrncia vem se tornando recorrentes e cada mais tolerados ante a desculpa de progresso. Tem-se como exemplo disto o acidente com o petroleiro norteamericano Exxon Valdez, que derramou toneladas de leo no mar do Alasca. Muitas vezes, at mesmo situaes claramente e declaradamente propositais, como a queima dos poos de petrleo pelos soldados iraquianos durante a Guerra do Golfo Prsico so consideradas aceitveis sob esta tica. A ameaa ao meio ambiente deve, ento, ser considerada, imediatamente, como ameaa ao homem, e toda ameaa ao homem como uma ameaa ambiental, dada a importncia da ao de cada homem como ser social e produtor de novas esferas categoriais do ser social. Assim poder ser possvel concluir este trecho do texto com a afirmao de que o homem constri as condies propcias manuteno da sua vida sem se desvincular do ser biolgico e mineral, ou seja, de, em essncia, ser uma criatura proveniente dos mesmos recursos das demais formas de vida e mesmo das formas inanimadas de existncia. Para que se possa estudar, ento, a importncia da positivao de direitos para esferas biolgicas distintas da humana, alm da esfera mineral, necessrio que se flexibilize o aspecto antropocntrico do Direito, que prevalece nos diversos sistemas jurdicos. A tradicional concepo de direitos compreende a contraprestao s obrigaes assumidas pelo ser humano em relao ao Estado do qual cidado. Esta abordagem insuficiente para assegurar a ordem social, o equilbrio na conduta moral humana. Alm do formalismo tradicional s sociedades liberais, tema que ser abordado posteriormente, no lembrado nesta concepo que at mesmo os componentes minerais devem ter direitos assegurados, haja visto que tambm compem o Ecossistema global, ou seja, como parte do corpo orgnico que assegura as demais formas de vida, assim como a vida humana. A terra no patrimnio do homem. Ao contrrio, o homem pertencente terra. Disso se tem conhecimento e no se nega. Tudo se encontra intimamente relacionado. Tudo est unido entre si. Tudo o que propiciar agresses ao planeta, tambm o faz aos pertencentes a ele, pois no foi o ser humano quem concebeu a vida, mas sim foi concebido. Ele meramente um msero componente da mesma. Todas as atitudes que ele tomar terra, prejudiciais ou benficas, a si mesmo estar afetando, numa atitude exclusivamente reflexiva. Portanto, o perfeito equilbrio interno das sociedades humanas se faz atravs da integrao externa entre o homem e o meio ambiente que o circunda. Porm o ecossistema no perifrico ao homem, mas aspecto constitutivo da sua humanidade como forma de vida autnoma e simultaneamente integrada ao meio ecologicamente

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equilibrado e que se faz harmonicamente sustentvel. Logo, a preservao ambiental e a punio dos responsveis por sua degradao no se relaciona apenas sade humana ou sua posse sobre o planeta, mas sua prpria existncia! Tal fenmeno ser conseqncia do abalo ao frgil equilbrio que mantm em harmonia diferentes formas de vida e mesmo componentes inanimados que sustentam estas vidas.

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III. A TRANSFORMAO DO CONTROLE SOCIAL AMBIENTAL

Com a ampliao do conceito de sujeito de direito, torna-se possvel realizar uma diviso do Direito que considere a proteo de todo o mundo bitico, no apenas do mundo como residncia humana. Passa, ento, a ser necessria a configurao de um Direito Ambiental, no como conjunto de normas que fiscalizam a atividade humana sobre o meio ambiente, mas que garantam, atravs do controle social, a conservao do ambiente humano. Este controle social por uma jurisdio ambiental institucionalizada se torna necessrio com a incorporao da prtica humana como mediao da construo da sociedade transformando o meio biolgico e mineral sem deles se separar. Apesar da possibilidade ideal de fora do sistema jurdico quanto s questes ecolgicas, o Direito Ambiental guarda em sua essncia a necessidade de controlar o incontrolvel, ou seja, a sociedade industrial capitalista, que no considera a essncia do ser humano que se faz no desenvolvimento crescente dos homens se construindo em sociedade ao gerar partes do Ser Social cada vez mais desenvolvidas para corresponder s necessidades humanas. Para o capitalismo, importa to somente o lucro crescente. O desenvolvimento sustentado pregado por parte dos ambientalistas contemporneos prega o controle sobre esta esfera social, essencialmente incontrolvel, podendo-se definir, no como um Estado permanente de harmonia, mas como um processo de modificaes no qual a explorao dos recursos, a orientao dos investimentos, os rumos do desenvolvimento tecnolgico e a mudana institucional esto de acordo com as necessidades, atuais e futuras. A definio de desenvolvimento sustentvel como sendo uma iniciativa estatal sobre a indstria no declara a existncia da economia capitalista como substituio do valor de uso da produo humana pelo valor de troca, em que se sustenta o Capital. Na sociedade capitalista, o valor do objeto se faz pela vinculao do custo de sua produo s exigncias da concorrncia mercantil, no sendo includa a importncia deste produto para a continuidade da vida, mas apenas a taxa de lucro que dele possa ser extrada. O fato de que o capitalismo assim opera, a seu modo, com a ecologia no deveria ser surpreendente. Seria no mnimo ingenuidade, para no dizer ignorncia, achar que tal no ocorra. Porm, a manipulao desta questo em benefcio do moderno estado industrial no significa que se a possa ignorar. A situao real e o problema suficientemente concreto, independente da aplicao que se faa atualmente. Portanto, a precisa concepo do Desenvolvimento Sustentvel deixa clara a participao estatal em seus limites. Urge, para um razovel equilbrio ambiental, que o desenvolvimento industrial sustentvel seja moldado pelos princpios cientficos que regem a manuteno do equilbrio dos ecossistemas, sendo destacada pelos pesquisadores e respeitada pelos meios industriais a inter-relao entre os componentes

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do ambiente, vivos e no-vivos, por que mesmo os seres inanimados tm sua parcela grande, diga-se de passagem de contribuio para a conservao ambiental, isto se dando atravs de uma sustentao mineral do ecossistema. Para tal, atenta-se, obrigatriamente, para a necessidade de se criar uma verdadeira compatibilizao das estratgias de desenvolvimento produtivo social com a proteo do meio ambiente, atravs de medidas de preveno de danos e riscos ambientais, j que tais ocorrncias, so, quando reparveis, morosas, difceis e/ou dispendiosas. Por isso muito mais rpido, fcil e menos onerosa a ateno social se centralize na fiscalizao ambiental. Porm, diante da inadequada legislao da maioria dos pases quanto preservao ambiental, preciso que existam mecanismos internacionais de proteo que sejam capazes de produzir efeitos jurdicos ultrafronteirios sobre atividades devastadoras do meio ambiente. J que h vrias ocorrncias sob a alada de diversar organizaes internacionais como por exemplo o Tribunal Internacional para Crimes Contra a Humanidade, o Tribunal de Haia , os crimes que atentem contra toda a vida terrestre tambm merecem um sistema internacional de fiscalizao e proteo eficiente, que no ceda a interesses financeiros, sendo sustentado com poder de polcia internacional e interagindo com programas de preveno a todos os danos ambientais que obtivessem alcance internacional. Portanto, o real e eficiente controle social ambiental dar-se- atravs da superao dos limites jurdicos nacionais, mesmo que se possa qualificar uma aparente quebra da soberania ptria, pois acima dos interesses individuais devem-se situar os interesses no simplesmente humanos ou das demais formas de vida, mas de todo o sistema orgnico que sustenta o frgil equilbrio ecolgico mundial.

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IV. A FRAGILIDADE DO CONTROLE BRASILEIRO CONTEMPORNEO SOBRE O MEIO AMBIENTE

A promulgao da Lei no 9605, que prev sanes penais e administrativas conduta que cause leso ao meio ambiente, seja ela proposital ou no, em 12 de Fevereiro de 1998, foi considerada uma evoluo no tratamento ao meio ambiente brasileiro. Esta lei, que primeira vista pode parecer uma resposta eficaz s demandas internacionais por prestao jurisdicional ptria quanto preservao ambiental, presso esta efetiva a partir da ECO-92, Conferncia Internacional que tornou oficiais as estatsticas que denunciavam a degradao ambiental e negligncia por parte do Governo do Brasil perante tais degradaes. Em aes isoladas, tornou-se eficaz a aplicao desta lei em curto espao de tempo. Porm a impunidade novamente mostra sua presena. Aps intensas presses polticas efetuadas por um grande nmero de empresrios brasileiros, o presidente da repblica, em 1998, editou uma medida provisria que suspende por at dez anos 11.000 multas aplicadas a quem causou poluies ao meio ambiente. Este escandaloso fato foi timidamente divulgado pela imprensa nacional, merececendo apenas, propositalmente, garantem alguns, pequenas notas em cantos de pginas de jornais e revistas de grande circulao. Naquela mesma poca, era amplamente divulgado o incentivo reeleio presidencial por parte do mesmo grupo empresarial. A vinculao entre as duas informaes no muito difcil, levando-se em considerao que durante semanas consecutivas a imprensa divulgou que os patrocinadores da campanha eleitoral de 1994 principalmente o empresariado no estariam interessados em financiar a campanha reeleitoral. Se j to desagradvel e desconfortvel para o cidado brasileiro ouvir estas informaes, ainda mais gritante o que se realiza no sistema jurdico ptrio sobre a preservao ambiental. A ditadura das medidas provisrias sobre temas diversos, a tipificao penal obsoleta, superficial ou desnecessria e a inexatido quanto tcnica legislativa so alguns dos problemas desta lei, que a tornam muito frgil. Enquanto isso, crimes ambientais reais so impunes no Brasil, o que ser ilustrado posteriormente neste conjunto dissertativo. Diante da clara e ditatorial negligncia presidencial sobre a aplicao das multas, a lei citada cria problemas ainda maiores ao se referir responsabilidade penal da pessoa jurdica, in verbis: As pessoas jurdicas sero responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infrao seja cometida por deciso de seu representante legal ou contratual, ou de seu rgo colegiado, no interesse ou benefcio da sua entidade. O Direito Penal Brasileiro foi sistematizado tendo como base o princpio da personalidade, mas associado responsabilidade penal subjetiva, ou seja, do indivduo humano como agente criminal. A responsabilidade penal objetiva no pode ser admitida, como lembra Damsio Evangelista de Jesus, no sistema penal brasileiro tendo em vista que a Constituio Federal, em seu art. 5o, inciso LVII, afirma que ningum pode ser considerado culpado enquanto no transitar em julgado a sentena

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condenatria, sendo assim revogadas quaisquer disposies legais relativas responsabilidade objetiva, na qual no h culpa nem dolo mas poderia haver aplicao da pena. A supra citada lei gera, assim, uma anomalia no sistema jurdico nacional, que tem como direta conseqncia desta inexatido legislativa a impossibilidade de aplicao de grande parte dos preceitos da lei. Para se inserir a responsabilidade penal nestas situaes, mister se faz a retroao responsabilidade objetiva, fazendo do crime apenas um fato tpico e antijurdico. Tem-se, ento, dois sistemas penais: um para a pessoa humana, embasado na culpabilidade, e outro para a pessoa jurdica, que se fundamenta na responsabilidade objetiva. Assim como os princpios j enunciados, o princpio da exatido ferido por este diploma legislativo. Existe uma referncia aplicao de penas restritivas de direito contra pessoas jurdicas quando for desobedecida qualquer disposio legal ou regulamentar ao meio ambiente. No h limites mnimos nem mximos de aplicao destas penas nem mesmo fixao de que crimes a elas sejam cabveis, sendo inexatamente expresso em lei qualquer desobedincia a disposio legal ou regulamentar ao meio ambiente. No saber o cidado, tomando conhecimento desta lei, quais fatos constituem crimes de pessoa jurdica. O tratamento legislativo da responsabilidade das pessoas jurdicas sobre leses ambientais se torna reduzido a uma enorme lei em branco, onde nem a pena nem o fato delituoso so conhecidos. Em dado momento, o legislador esqueceu completamente a razo de existir da lei, que se inicia pretendo dispor sobre atividades lesivas ao meio ambiente, mas trata de aes delituosas contra plantas de ornamentao destruir, danificar, lesar ou maltratar, atribuindo penas de trs meses a um ano, ou multa, ou mesmo ambas cumulativamente, e ainda admitindo a forma culposa, enquanto a leso a florestas nativas ou plantadas ou vegetao fixadora de dunas, protetora de mangues, que de acordo com a prpria lei so objeto de especial preservao, alude-se apenas a destruir ou danificar. A respeito da fixao de pena no caso de crime contra a integridade de plantas ornamentais, h, vinda dos legisladores, uma plena ignorncia do que seja o meio ambiente, pois toda forma de vida influi na vida do todo, a no ser quando desvinculada de sua prpria vida, reduzida a capricho humano com funo decorativa. A existncia de tamanha severidade sobre plantas ornamentais far com que, caso algum de senso de humor apurado (ou duvidoso) tente aplicar a lei, jardineiros passem a andar na marginalidade da sociedade ao podar plantas de jardins particulares ou logradouros pblicos, sem mesmo que haja neste ato a forma dolosa, pois o jardineiro teve a inteno de danificar, em parte, a planta, e a lei refere-se a por qualquer modo ou meio. Este delito configura-se, assim como outros da lei, em crime de bagatela, que se caracteriza por envolver leso insignificante a bem jurdico, podendo receber, tambm, a denominao de crime de leso mnima. Portanto, deve o princpio da insignificncia ser tratado, no campo do resultado jurdico e da tipicidade, de modo que, em tais situaes, o fato no se qualifique. Torna-se evidente, ento, a ausncia da apresentao desta lei aos movimentos

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ambientalistas e o debate amplo sobre seu projeto de lei, to grandes so as suas incongruncias. A elaborao de leis penais algo muito importante, j que implica no trato de valores bsicos do ser humano e pertinentes prpria sobrevivncia da sociedade. Por isso mesmo, deve ser amplamente presidida pela competncia e seriedade, o que nem sempre seguido, no permitindo tal tarefa primariedade e demagogia. Por outro lado, configuram-se como crimes cuja aplicao prtica no vivel em terras brasileiras um preocupante nmero de delitos expressos na lei. Uma demonstrao da negligncia governamental quanto ao meio ambiente a ausncia de medidas administrativas concomitantes lei - como aumento do nmero de policiais responsveis pelo meio ambiente, seu treinamento em relao ecologia e aparelhamento tecnolgico para suas aes - de tal forma que a fiscalizao, a localizao dos criminosos, a preveno dos delitos so impossveis, pelo menos at a poca do confeito deste dissertativo. Dentre muitos possveis, alguns exemplos podem ser destacados, principalmente o dispositivo legal que reza sobre a exportao de peles e couros de anfbios e rpteis em bruto, sem a autorizao da autoridade ambiental competente. Tambm cabe como exemplificao o dispositivo que rege sobre o impedir ou a dificultao da regenerao natural de florestas e demais formas de vegetao. O mesmo pode ser dito do artigo que regula o comrcio de motosserra e sua utilizao em florestas e nas demais formas de vegetao, sem licena ou registro da autoridade competente. Finalmente, no se deve esquecer do artigo que elucida sobre o causar de poluio de qualquer natureza em nveis que resultem ou que possam via a resultar em danos sade humana, provoquem a mortandade de animais ou a destruio da flora. Como a maioria dos tipos penais disciplinados pela lei referem-se a penas de multa, pleno desrespeito ao Direito Ambiental a Medida Provisria editada pela Presidncia da Repblica, pois as multas prescrevem em dois anos e apenas podem ser aplicadas aps trnsito em julgado da condenao, enquanto a Medida Provisria referese a dez anos sobre todas as multas at ento emitidas contra empresas, perfazendo um total que supera a casa de 11.000 multas. Com o nmero de recursos que podem ser empregados contra a deciso condenatria, a prescrio j seria inevitvel. A fragilidade ptria para proteger as suas prprias formas de vida torna-se ainda mais evidente quando se observa os crimes contra a propriedade intelectual em solo nacional, na Lei de Propriedade Industrial Lei no 9279, de 1996 . De acordo com esta lei, no podem ser patenteados seres vivos, exceto microorganismos transgnicos, ainda assim desde que no sejam mera descoberta. A ausncia da necessria regulamentao da Conveno da Biodiversidade, firmada na ECO-92, faz com que o governo brasileiro no possua as normas necessrias para controlar a transferncia de informaes na rea de biotecnologia e a distribuio eqitativa dos benefcios provenientes da retirada de espcimes do ecossistema brasileiro. A lei se refere ao comrcio de patentes e no s normas para a pesquisa industrial, deixando espao para que laboratrios estrangeiros, com vastos recursos financeiros, tenham domnio intelectual sobre recursos naturais brasileiros por 20 anos,

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com exclusividade. A pirataria destas formas de vida no pode ser enfrentada pela Lei Ambiental nem pela Lei de Propriedade Intelectual. Por isso, pode-se constatar que o sistema jurdico brasileiro ainda no est apto para lidar com a degradao ambiental em suas diversas formas, colocando em risco a soberania nacional pela omisso governamental em relao pesquisa biolgica brasileira. Porm ainda possvel ter esperana em consolidar o Direito Ambiental no Brasil, pois caminhos diferentes para a tutela dos ecossistemas ptrios podem ser desenvolvidos atravs da Constituio Federal. A Constituio de 1988 preocupou-se com a proteo ambiental, dando-lhe a categoria de direito fundamental do cidado, como consta do art. 5o, inciso LXXIII. No art. 225 (anexos, item 3), disps: "Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder pblico e coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo para as presentes e futuras geraes. Todos, Governo e povo, tm o dever de defender o meio ambiente, a fim de que o homem possa sobreviver, com sade, com dignidade." Estabelece o pargrafo primeiro do supracitado artigo da Constituio Federal que, para assegurar a efetividade do direito ao meio ambiente, incumbe ao poder pblico proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as prticas que coloquem em risco sua funo ecolgica, provoquem a extino de espcies ou submetam os animais crueldade. A inoperncia da forma da lei a que se refere tal pargrafo pode ser compensada, em parte, pelas premissas anteriores da Constituio no que se refere ao tema. Os direitos fundamentais so de aplicao imediata, o que indica que no haveria a necessidade de uma lei que discipline condies para a sua operacionalidade. A agresso objetiva a estes direitos requisito primordial para que seja possvel a ao da coletividade sobre a conservao do meio ambiente ecologicamente equilibrado. Apesar de a Constituio parecer se compotar de modo antropocentrista, ao evidenciar a necessidade da tutela do Poder Pblico sobre o meio ambiente quando estiver em risco sua funo ecolgica desfaz este possvel equvoco primeira leitura do dispositivo legal. A ecologia estuda o meio ambiente como um todo, analisando a interao entre espcies dentro de um ecossistema e entre ecossistemas, logo, a agresso a uma espcie cuja utilidade ao homem seja desconhecida ser objeto de tutela pblica, pois esta espcie ter importncia ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Tendo em vista a nfase dada funo ecolgica, nota-se que a defesa da tutela municipal do meio ambiente no se faz eficaz. O Direito Ambiental no se pode sistematizar no mbito municipal desempenhando a sua devida tutela jurdica nestas circunscries porque comum uma determinada rea de proteo ambiental abranger diversos municpios, sendo exemplos corriqueiros a Mata Atlntica, a Floresta Amaznica, o litoral brasileiro, a Caatinga, entre tantas outras formas de vegetao cuja interferncia sobre toda a preservao ambiental nacional to expressiva. Segundo a Conferncia Internacional de Direito Ambiental, a procura por

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solues locais possui a vantagem de enxergar os problemas ambientais com proximidade. Porm, onde o Estado no pde aplicar a legislao com a devida responsabilidade, o municpio pouco ou nada poder fazer, j que a a inoperncia da legislao federal repercutir sobre o Direito Municipal. Este problema pode ser contornado se no for restrita a tutela ambiental ao municpio, o que a Constituio Federal no permite, pois de competncia comum da Unio, dos estados e dos municpios proteger o meio ambiente e combater a poluio em qualquer de suas formas. A preservao ambiental a partir do Poder Pblico, j difcil de se efetivar em escala federal, poder sofrer de conflitos de competncia, que sero objeto de breves consideraes. A tutela do municpio predominar sempre que houver problemas locais. Os problemas ambientais que ocorrem, por exemplo, na Mata Atlntica, no podem ser restritos ao municpio do Rio de Janeiro e quaisquer aes municipais interferiro na esfera de outros municpios prximos, tornando assim difcil a tutela que se restrinja ao mbito municipal. Ser possvel o tratamento municipal da questo ambiental a preservao de reservas ambientais, a tutela a espcies que tm em sua rota de migrao o municpio, mas, como se constata, a tutela extremamente limitada para que a importncia local seja amplamente considerada. O slogan ambientalista pensar globalmente, agir localmente faz com que a ao seja realizada sem a devida efetividade. A relevncia da ao poder, por outro lado, partir da integrao de grupos humanos locais para que estes organizem reivindicaes pela tutela jurdico-ambiental global. Qualquer cidado parte legtima para propor ao popular que vise a anular ato lesivo ao patrimnio pblico ou de entidade de que o Estado participe, moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimnio histrico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada m-f, isento de custas judiciais e do nus da sucumbncia. O Estado faculta, desta forma, a iniciativa jurdico-poltica do cidado na defesa da sua existncia ecologicamente equilibrada, pois a Carta Magna traz em seu texto que todo cidado brasileiro poder defender junto ao Estado a defesa ambiental. No existe, ento, a obrigatria iniciativa do Municpio, podendo partir do cidado mesmo que sem pertencer a qualquer espcie de associao, com a vantagem de no precisar pagar custas judiciais e estando livre do nus da sucumbncia. Porm, fica na leitura apenas deste dispositivo quanto iniciativa da ao. A ao ter a iniciativa do Ministrio Pblico, sendo ela pblica incondicionada, uma vez que so funes institucionais do Ministrio Pblico promover o inqurito civil e a ao civil pblica, para a proteo do patrimnio pblico e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos. Atravs do Inqurito Civil e da Ao Civil Pblica, o cidado poder defender sua residncia viva global, fazendo uso da ao do Ministrio Pblico. A Constituio Federal continua a se referir preservao do meio ambiente em outros dispositivos legais. Entre os bens que so considerados como sendo de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, encontram-se os conjuntos urbanos e stios de valor histrico, paisagstico, artstico, arqueolgico, paleontolgico, ecolgico e cientfico

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Tem-se, ento, que ser possvel, pelo cidado, a partir da ao popular e, atravs do Ministrio Pblico, fazendo como sua ferramenta a ao civil pblica, a defesa do meio ambiente. Contudo, a importncia da especificao da leso ambiental envolvida importante para que o Poder Judicirio possa compreender a relevncia da ao intentada, precisando, assim de um parecer, ou seja, de um estudo informativo que possa contribuir formao da deciso judicial ou administrativa. Para tal, de suam importncia o estudo de impacto ambiental. Sendo exigido sempre que se cuidar do licenciamento de obra ou atividade potencialmente lesiva, em grau significativo, ao meio ambiente. Sua ausncia, quando exigvel, torna a provocao passiva de anulao. Porm, o estudo apenas informativo e no vinculativo da deciso da autoridade administrativa. Contudo, o estudo de impacto ambiental no ser necessrio no caso de ao que reivindique a responsabilidade civil por dano ambiental. Para esta reparao, no preciso que o autor da ao prove o seu direito, pois, diante do carter tcnico das provas de danos ecolgicos e dos elevados custos para o seu levantamento, ocorre, assim como no Direito do Consumidor, a inverso do nus da prova no caso de dano ambiental. Ser de iniciativa da empresa contra a qual se impetra a ao o levantamento de provas, o que, internamente, no ser difcil para empresas que mantm os devidos cuidados sobre o meio ambiente, sendo preciso to somente que se verifiquem os relatrios administrativos referentes ao meio ambiente elaborados rotineiramente pela empresa no-poluidora. O ato ocorrer a partir de uma presuno de causalidade entre a atividade do agente e o prejuzo, sendo sua a incumbncia de desfazer esta presuno, provando, desta forma, sua inocncia no fato ocorrido. Concomitante inverso do nus da prova, ocorre a atenuao do nexo de causalidade entre agente e fato juridicamente relevante. Desta forma, a presuno de causalidade flexibiliza o nexo de causalidade permitindo a inverso do nus da prova mantendo a plena legitimidade para agir por parte do agente passivo da ao. Tendo sido assim expresso o modo como lidar com a responsabilidade civil por danos ambientais, parece tolice todo este texto, pois possvel ter a idia de que os danos ambientais so de fcil soluo, tal o nmero de possveis caminhos jurdicos para lidar com esta questo. Contudo, a morosidade da justia mostra que, na realidade, o sistema jurdico nacional ainda precisa de uma muito ampla reforma do Poder Judicirio, que reduza o nmero possvel de recursos, para que possa haver aplicao para pelo menos uma parcela das normas jurdicas existentes. difcil mesmo imaginar que um metro quadrado de floresta possa esperar por um recurso ordinrio, embargos declaratrios, recursos especiais, possivelmente tambm recursos extraordinrios, agravo de instrumento, agravo regimental, novos embargos declaratrios, embargos de divergncia, recursos estes que sero produzidos num total de trs instncias abarrotadas de processos. Aps cerca de dez anos, numa previso bastante otimista, os advogados ambientalistas poderiam at mesmo acampar na floresta, pois a execuo legal seria realizada contra danos a uma rea ento rida, absolutamente deserta. Para que o

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cidado tenha plena conscincia da importncia da sua iniciativa e do seu papel pelo meio ambiente saudvel, ser necessrio que ele possa conhecer estes seus direitos e exerc-los. Todavia, a aplicao singular inexpressiva, pois o cidado enquanto indivduo isolado dos demais no expressa a indignao da coletividade em relao a danos ambientais, alm de ser vtima dos entraves que encontrar no Poder Judicirio. A eficaz luta ambiental dar-se- no campo da poltica ambiental, no qual ser possvel pressionar o rpido julgamento das questes ambientais, a reforma da legislao vigente e mesmo a presso poltica e econmica sobre as empresas que causem danos ambientais, pois poder ser realizado boicote aos seus produtos, danos s suas instalaes (sob a alegao de estado de necessidade, no momento de uma queimada, de emisso de gases txicos, ou outros danos de maior ou menor tamanho). Por outro lado, para que seja possvel que se organizem movimentos sociais conscientes de seu papel ecolgico ser fundamental a educao ambiental que construa a conscincia ambiental no cidado.

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V. A EDUCAO AMBIENTAL REAL

Podese definir Educao Ambiental como sendo o processo de aprendizagem e comunicao de problemas relacionados interao dos homens com seu ambiente natural. o instrumento de formao de uma conscincia, atravs do conhecimento e da reflexo sobre a realidade ambiental. Aps a Conferncia de Estocolmo, em 1972, as questes e problemticas ambientais passaram a ser abordadas numa viso planetria, multidisciplinar e, at, holstica. Em 1975, ocorreu a reunio de Belgrado, onde autoridades em aprendizado debateram as questes de educao e sua interface com o meio ambiente. Desta reunio extraiu-se a Carta de Belgrado, que contm os fundamentos do que se entende por educao ambiental. A Lei no 6938/81 prev, em seu artigo 2o, inciso X, a educao ambiental a todos os nveis do ensino inclusive a educao da comunidade, objetivando capacit-la para participao ativa na defesa do meio ambiente. A Constituio Federal Brasileira de 1988, em seu artigo 225 (anexos, item 3), segundo pargrafo, inciso VI, incumbe ao Poder Pblico promover a educao ambiental em todos os nveis de ensino e a conscientizao pblica para a preservao do meio ambiente. A conscientizao do cidado sobre seus direitos relativos ao meio ambiente consiste praticamente na sua reeducao, ou seja, na transformao da sua viso social de mundo. Ele precisar superar as limitaes inerentes essencialmente ao cotidiano, para alcanar a ao social sobre os interesses poltico-econmicos envolvidos quando lidam com a questo ambiental. A educao ambiental, como tradicionalmente estimulada, no transcende estes limites, muito bem conhecidos e insuficientes, o que a torna ineficaz. O cotidiano o espao no qual se desenvolvem as relaes humanas submetidas a repetitivas condutas, que no visam satisfao dos homens mas sim continuidade da sociabilidade vigente, sem que se possa super-la sem dela a conscincia ser afastada. Observada sob uma determinada tica, a vida cotidiana em si o espao moldado e delimitado pelo Estado e pela produo capitalista para promover o homem a uma mquina, mquina esta que seja capaz de consumo passivo e constante, com volume suficiente para garantir a continuidade de tal sistema econmico, com uma eficincia produtiva satisfatria e que abdique de sua condio de cidado. Quanto a campanhas de conscientizao sobre preservao do meio ambiente, a respectiva educao ambiental envolvida claramente superficial, pois apenas nos aspectos que se vinculam de imediato ao cotidiano dos indivduos que se nota a sua objetivadade. Um exemplo da conscincia ambiental visando superao destes limites

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pode ser encontrada nas propostas do fsico Jos Goldemberg, que consistem na suspenso de incentivos fiscais para projetos na regio, a regulamentao da exportao de madeira, a desapropriao de reas de interesse florestal e o controle do uso de agrotxicos na floresta. De acordo com o cientista, as reversas ambientais poderiam preencher 70% da Floresta Amaznica, assegurando, assim, a mxima limitao dos desmatamentos. Medidas de grande relevncia social como estas podem ser defendidas socialmente, em contraposio s limitadas intenes cotidianas, quando a educao ambiental compreendida como educao poltica, pois o cidado teria pleno conhecimento do seu papel como membro de uma coletividade e como sujeito de direitos. Sendo conquistada esta emancipao poltica do homem em cidado, ser possvel que ele pense a sociedade em que vive superando as suas limitaes ontolgicas a partir dos problemas em se elaborar uma consistente legislao ambiental, pois por mais organizadas que sejam as leis a sua aplicao depende de medidas administrativas que dependem do sistema econmico em que se baseia a sociedade. O progresso econmico, o desenvolvimento industrial, teriam por alicerce, para que o meio ambiente fosse respeitado, a utilidade da produo humana, sendo superada pela sociedade o domnio do capital que prende os homens ao valor de troca das mercadorias e, consequentemente, compreende a ecologia como mais uma mercadoria, cujo consumo precisa ser adminsitrado mas no se pode deixar de compreend-la como fonte de lucros (por exemplo, indstria farmacutica, turismo ambiental etc.). A superao da sociedade do capital seria o ponto mximo para a eficcia de um controle social sobre o meio ambiente, contudo, a sua mediao, a formao de instncias intermedirias que sustentem eticamente os homens como parte ecologicamente sustentvel do meio ambiente. A importncia da sustentao ecolgica do homem consiste na evidente degradao sobre o mundo biolgico-mineral que tem sido realizada sobre o planeta Terra. O planeta tem se transformado num local inabitvel, j se tendo de conviver com um aumento da temperatura global entre 1,5 e 4 graus Celsius previsto para o ano 2030, caso no sejam tomadas medidas imediatas e eficazes, devido duplicao do monxido de carbono na atmosfera, sendo uma espcie de reao em cadeia. O mar, por exemplo, sofre aquecimento. O plncton, que se ambienta em gua fria, pode vir a diminuir e, eventualmente, desaparecer. Devido a isso, reduz-se a capacidade dos oceanos de absorver o gs carbnico, acumulando-se na atmosfera. Com isso, a situao, muito provavelmente, piorar. No parecem muito significativos os trs graus a mais, porm produzem uma diferena que no pode e no deve ser desprexada. H cerca de 130.000 anos, o Sul da Inglaterra, onde se situa a capital Londres, era 3 graus mais quente. Eram encontrados, ali, ento, pntanos, crocodilos, hipoptamos etc. num equilbrio completamente armonioso. Vive-se atualmente sob estado de necessidade, tamanho o prejuzo j aplicado ao meio ambiente. No se defende ainda o ecoterrorismo, mas danos imediatos pedem aes imediatas, pois a reparao do dano ambiental costuma-se mostrar muito difcil, quando no plenamente impossvel. A presso social concreta ao Parlamento Nacional, ao Poder Judicirio, s autoridades administrativas componentes do Poder

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Executivo, assim como s empresas poluentes so medidas de especial relevo para desmontar os lobbies que influenciam o Congresso Nacional emancipando politicamente o meio ambiente. Todas as propostas, por mais extremas que possam parecer, no sentido de atuar neste mbito, devem atingir a raiz dos problemas ambientais, informando as bases da forma de sociedade em que poder ser resgatado o equilbrio ambiental. Deve-se mudar totalmente a forma de encarar o mundo. Faz-se necessria a criao de uma sociedade na qual as atividades econmicas existam em pequena escala, sendo o modelo da famlia ou das comunidades o ideal. Deve-se reduzir drasticamente o consumo de energia e acabar com a construo de barragens. Deve-se descentralizar as cidades, para que as pessoas possam trabalhar perto de onde moram, o que diminuiria muito a necessidade do carro particular, ocasionando reduo da emisso de poluentes. Tambm deve-se reduzir a produo de bens de consumo descartveis, que duram pouco e dilapidam os recursos naturais. Ao invs deles deve-se preferir os durveis. Deve-se voltar agricultura sem adubos qumicos, pois os biolgicos so tambm eficazes a longo prazo e no possuem conseqncias agressivas para o meio ou para os seus consumidores (principalmente o ser humano). Para isto, a dependncia do homem em relao ao Estado, responsvel por leis e pela sua efetivao, manter o ser humano como ente passivo da consolidao de um concreto controle social-ambiental. A educao ambiental precisa abranger a educao poltico-ambiental, para que a interferncia do cidado possa-se dar sobre as relaes de poder da sociedade da qual faz parte. Os movimentos sociais ambientais, as Organizaes No-Governamentais, como o GreenPeace e a World Wild Found, o S.O.S. Mata Atlntica, o Projeto Tamar, entre tantas outras, so associaes coletivas que podem exercer efetiva presso poltica sobre os governos, fazendo com que as leis necessrias efetiva preservao do meio ambiente possam ser promulgadas e efetivando por completo a emancipao poltico-ambiental do cidado, contando com o Partido Verde, assim como com outras organizaes partidrias, desde que elas sejam reeducadas quanto conscincia poltico-ambiental necessria para salvar as vidas de seus filiados. Portanto, a importncia do Direito Ambiental pode ser compreendida a partir da compreenso do homem no como responsvel pela natureza ou como seu agressor, mas como parte do Ecossistema, por mais que as relaes que os homens estabeleam entre si na produo social transforme o meio ecolgico. A ideologizao da luta ambiental ser sinal do mximo alcance da conscincia ambiental humana, atravs da presso poltica sobre as discusses ambientais e a interferncia direta nas agresses ao meio ambiente, seja ela por meio jurdico ou parlamentar. A educao ambiental ser, ento, a reeducao humana visando expanso de seu alcance poltico-institucional visando sua auto-construo numa sociedade mais justa. Atravs da intensa centralidade ideolgica, ou seja, do consciente planejamento poltico das aes humanas, que se integrem concepo do homem como, muito alm de simples sujeito de direitos, como sujeito vivo e racional de um mundo organicamente integrado, vivo e precisando de qualidade de vida globalmente considerada.

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VI. CIDADANIA E PROTEO AMBIENTAL

Como j elucidado, a proteo ambiental forte dependente de uam conscincia de cidadania e de educao da comunidade, objetivando capacit-la para participao ativa na defesa do meio ambiente. E como a todos cabe um meio ambiente ecologicamente equilibrado, sendo este um bem de uso comum do povo e essencial a uma qualidade saudvel, impe-se ao Poder Pblico e coletividade o dever de o defender e o preservar. Verifica-se no dispositivo constitucional, a imposio do dever de defesa do meio ambiente ao Poder Pblico e coletividade, de forma definitiva e inseparvel, colocando Poder Pblico e sociedade como parceiros nesta luta pela proteo do meio ambiente, que de todos. A Constituio Federal de 1988 trs um grande avano no trato das questes relativas ao meio ambiente. Uma delas a criao dos Conselhos Municipais de Meio Ambiente, que estabelece o debate e contribui para as polticas locais de meio ambiente. O cidado possui diversos mecanismos legais para assegurar a fiscalizao e a proteo do meio ambiente. A principal delas a Ao Civil Pblica. Prevista pela Lei no 7347, de 24 de julho de 1985, disciplina sobre responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artstico, esttico, histrico, turstico e paisagstico (vetado), dando, tambm, outras providncias. Na Ao Civil Pblica, basta qualquer um do povo representar ao Ministrio Pblico e este determinar a instaurao de Inqurito Civil Pblico, objetivando averiguar se os fatos alegados na representao so lesivos contra o meio ambiente. Verificada a hiptese de ato lesivo ao meio ambiente, o MP tem o dever legal de propor Ao Civil Pblica visando a responsabilizar o poluidor pelos danos causados. facultado ainda a determinadas organizaes a titularidade da Ao Civil Pblica, figurando o MP neste caso, na qualidade de fiscal da lei. A Ao Popular prevista na Constituio Federal, Artigo 5o, incso LXXIII: qualquer cidado parte legtima para propor ao popular que vise a anular ato lesivo ao patrimnio pblico ou de entidade de que o Estado participe, moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimnio histrico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada m f, isento de custas judiciais e do nus da sucumbncia;. O artigo 29 da Constituio Federal, em seu inciso XIII, trata da inciativa popular de projetos de lei de interesse especfico do municpio, da cidade ou de bairros, atravs de manifestao de, pelo menos, cinco por cento do eleitorado. Este dispositivo permite, por exemplo, que a comunidade se mobilize na criao de uma determinada Unidade de Conservao, a nvel municipal, como as APA's reas de proteo ambiental , em no havendo inciativa direta dos Poderes Executivo ou Legislativo.

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VII.

OS

DANOS

AMBIENTAIS

VISTOS

SOB

A

TICA

DA

RESPONSABILIDADE O objetivo principal do presente captulo relacionar, de modo mais especfico e completo, o instituto da responsabilidade civil, como colocado na legislao nacional, e seus pontos de maior interesse em relao aos danos ao patrimnio ambiental. No Brasil, a responsabilidade civil teve sua modalidade objetiva introduzida pelo Decreto n. 79.347, de 28 de maro de 1977, que promulgou a Conveno Internacional sobre Responsabilidade Civil por Danos Causados por Poluio por leo, realizada em 1969, fruto da preocupao mundial com os acidentes ocorridos com navios petroleiros. No mesmo ano de 1977, a Lei n. 6.453, trouxe em seu artigo 4, previso sobre a responsabilidade de carter objetivo por danos decorrentes de atividade nuclear, outra preocupao em evidncia na poca. Como fundamento da responsabilidade civil objetiva est a atividade exercida pelo agente e o perigo que pode provocar vida, sade e ao patrimnio de outrem. Dessa maneira, quem exerce atividade, ainda que lcita, capaz de causar perigo a terceiros responder por tal risco, no sendo necessria por parte da vtima a prova da culpabilidade do referido agente. A seguir sero abordados determinados aspectos inerentes responsabilidade civil objetiva no mbito da legislao ambiental. A RESPONSABILIDADE OBJETIVA E SUA APLICAO Se estabelece uma tentativa de evitar que ocorram casos de danos evidentes quanto sua existncia, porm, no reparados pela falta do requisito da culpa comprovada do agente. Em uma primeira anlise poderia considerar-se que o referido veto estaria funcionando no sentido de afastar o regime da responsabilidade objetiva para os danos ao meio ambiente, tendo ocorrido inclusive a divulgao dessa idia atravs de meios de comunicao nacionais, como menciona Francisco Jos Marques Sampaio que se manifesta contrrio idia: No encontramos fundamento razovel que sustente tal ponto de vista, porque a aposio do veto ao mencionado artigo, excluindo-o do texto da lei, de modo algum afeta a vigncia da norma semelhante existente em lei anterior que dispe sobre a matria e que no foi revogada, expressa nem tacitamente, pela Lei 9.605/98.1 Juntamente com o veto presidencial ao artigo 5, deu-se tambm o veto ao artigo 1 do Projeto de Lei n. 1.164-E/91, que estabelecia que condutas e atividades lesivas ao meio ambiente seriam punidas com sanes administrativas, civis e penais, na forma estabelecida nesta Lei, sendo que a ementa da Lei n. 9.605/98 no prev disposio sobre sanes civis, somente administrativas e penais, ou seja, no trata o assunto completamente.

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SAMPAIO, obra citada, p. 140. O autor recomenda verificar as reportagens veiculadas a respeito no Jornal O Globo.

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A RESPONSABILIDADE OBJETIVA NA LEGISLAO AMBIENTAL Como vimos anteriormente, a responsabilidade civil objetiva em matria ambiental teve seu incio com a preocupao oriunda das aes em maior evidncia no final da dcada dos anos setenta, isto , da poluio das guas por leo e a contaminao nuclear, que culminaram com a aprovao do Decreto n. 9.347/77 e da Lei n. 6.453/77, sendo posteriormente estendida aos danos ambientais de qualquer natureza. Os dispositivos infraconstitucionais que se referem questo dos danos ambientais e responsabilidade civil objetiva so os artigos 4, inciso VII, e 14, pargrafo 1, da Lei n. 6.938/81. O artigo 4, inciso VII, estabelece como um dos objetivos da Poltica Nacional do Meio Ambiente a imposio ao poluidor e ao predador da obrigao de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usurio, da contribuio pela utilizao de recursos ambientais com fins econmicos. Destes ltimos, o que deve suscitar maiores discusses ainda, inegavelmente a utilizao dos recursos hdricos, considerando-se a escassez futura que se anuncia, caso o assunto continue sendo tratado, aparente e muito provavelmente, sem a seriedade que merece. O artigo 14, em seu pargrafo nico, contempla a responsabilidade objetiva em matria de reparao de danos ambientais e de danos patrimoniais, por sua vez, decorrentes de danos ambientais, ao prever a obrigao do poluidor de reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros afetados por sua atividade, havendo, ou no, culpa. A respeito da responsabilidade objetiva no mbito do direito ambiental, , ainda, interessante proceder a uma sucinta verificao no posicionamento e nos ensinamentos bsicos proporcionados pelos principais doutrinadores. A EXISTNCIA DO PREJUZO Um dos fatores fundamentais que devem ser comprovados para a configurao da responsabilidade civil por dano ambiental, assim como para os demais tipos de dano, a existncia certa de um prejuzo sofrido, ou seja, que haja algo a ser reparado, um comprovado prejuzo a ser reposto, um estado ou uma situao anterior a ser recomposta. Nas palavras de Caio Mrio da Silva Pereira, sintetizando a necessidade da ocorrncia de fato que provoque prejuzo para que se cogite responsabilidade civil, aquele autor observa: No havendo prejuzo, no h responsabilidade civil.2 O prejuzo a ser reparado deve ser de natureza grave e peridica,3podendo ser causado por um acontecimento nico e de carter acidental. Em relao normalidade dos resultados de uma determinada atividade, podem surgir dvidas de at que ponto normal e a partir de quando essa normalidade transgredida. Para alguns autores, aceitvel um certo grau de prejuzo para as pessoas que vivem em determinado ambiente, desde que a atividade poluidora no esgote as2 3

PEREIRA, Caio Mrio da Silva. Responsabilidade Civil. 2 edio. Rio de Janeiro: Forense, 1990, p. 42. MACHADO. Obra citada, p. 277, ressaltando a importncia das obras de Patrick Girod,

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possibilidades de vida e de trabalho naquele meio, apenas reduzindo-os a uma condio menos agradvel, em relao ao que seria se no houvesse o foco gerador da poluio. Um destes, Giles Martin, bastante evidenciado nas obras de Paulo Affonso Leme Machado, refere-se anormalidade da seguinte maneira: O limiar da anormalidade , portanto, ultrapassado quando a utilizao do meio ambiente o torna parcial ou totalmente imprprio a outros usos.4 Quanto comprovao de um dano ambiental futuro, ou seja, que pode configurar-se com o passar do tempo, far-se- um estudo especfico mais adiante no presente trabalho. A RELAO DE CAUSALIDADE A partir da relao de causalidade necessrio estabelecer uma relao ntida entre a ocorrncia danosa verificada e sua fonte. Deve estabelecer-se uma relao entre o comportamento do agente e o dano, para certificar que o dano decorre da conduta deste, mesmo que seja plenamente lcita. Se a vtima experimentar um dano, mas no se evidenciar que o mesmo resultou do comportamento ou da atitude do ru, o pedido de indenizao, formulado por aquela, dever ser julgado improcedente.5 Esse pensamento, que norteia a teoria da responsabilidade civil, deve ser visto sempre levando em considerao, por exemplo, a inverso do nus da prova. No caso de que a atividade do agente seja potencialmente capaz de produzir efeitos danosos ao meio ambiente, dever ser logo invertido o nus da prova, produzindo-se imediatamente a presuno de responsabilidade quanto ao agente. O POSICIONAMENTO JURISPRUDENCIAL Paralelamente anlise do posicionamento existente quanto ao assunto em vrios pases, as posies da jurisprudncia nacional e da produzida no Estado de Santa Catarina tornam-se merecedoras de estudo, na medida em que demonstram a direo em que segue o Direito no que tange responsabilidade objetiva, sua aplicao e a relao ao-resultado. Dessa forma, esto apresentados, em anexos especficos, alguns julgados nos quais se pode verificar a presena dos fatores anteriormente ressaltados, com nfase valorizao da responsabilidade civil objetiva. Nesse sentido se verifica que descabe, ao poluidor, invocar a ilicitude de uma atividade ensejada por autorizao de autoridade competente, como ocorre quando uma Prefeitura Municipal aprova um loteamento em reserva natural, ou seja, tal aprovao no exime o autor da degradao de sua responsabilidade. Convm, ainda, enfatizar alguns pontos importantes, como o reconhecimento, de4

MARTIN, Giles. Le droit environnement De la responsabilit civile pour faits de pollution au droit environnement. Publications Priodiques Specialises, 1978. 5 RODRIGUES, Silvio. Obra citada, p. 17.

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certa forma pacfico, da responsabilidade objetiva no mbito do direito ambiental; a dificuldade que envolve a realizao da prova de danos ao meio ambiente, bem como do nexo de causalidade entre o dano e a atividade do poluidor.

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CONCLUSO

A partir da compreenso das reais propores da interao homem-natureza, a importncia do Direito Ambiental poder ser conhecida em seu pleno alcance, ou seja, o controle social que permita aos homens realizar-se enquanto homens, distintos da natureza mas dela dependentes, pois da transformao do meio natural so constitudos os alicerces do Ser Social. Sendo o homem parte da natureza, a cincia tem importncia jurdica atravs da incorporao ao Direito da Gaia-Cincia, defendida por pesquisadores de diversas reas e por ambientalistas do mundo inteiro, e da Ontologia do Ser Social, concepo filosfica proveniente dos estudos de Lukcs. A legislao nacional acerca do sistema jurdico de proteo ambiental ainda muito deficiente, como demonstra a Lei no 9605/98 (anexos, item 1), mas a Constituio Federal, integrada aos tipos penais especificados pela lei, pode gerar eficcia para o Direito Ambiental ptrio, atravs das aes especiais disciplinadas pela Carta Magna, a ao popular impetrada por qualquer cidado e a ao civil pblica atravs do Ministrio Pblico. Tem-se, assim, uma base jurdica para que se edifique um sistema de controle social sobre o meio ambiente que garanta aos homens a sustentao sua sociedade como parte de um ecossistema mundial. So continuamente defendidos no Brasil sistemas distintos da proposta aqui adotada da ampliao da constitucionalidade em integrao com as concepes ambientalistas e contando com os movimentos sociais na efetividade da cidadania ambiental. A municipalizao do Direito Ambiental pode trazer efeitos positivos ao pas, desde que a Competncia Municipal no seja originria, ocupando-se to somente das questes ambientais que se limitem exatamente jurisdio do especfico logradouro, desde que no exista conflito de competncia. O meio ambiente no pode esperar pela soluo de questes processuais. Contrariando a onda de municipalizao dos problemas que envolvem o meio ambiente a qual tem-se alastrado pelo pas, importante pensar na instalao de um Tribunal Internacional contra Crimes Ambientais, para julgar os criminosos dos diferentes pases, evitando assim que madeireiras asiticas continuem devastando o mundo, assim como petroleiros europeus que despejam sistematicamente leo bruto nos mares e oceanos e um vasto rol de outros delinqentes de altssima periculosidade que ameaam no apenas grupos humanos, mas toda a vida no planeta Terra. Para que os movimentos sociais ambientalistas Organizaes NoGovernamentais, Institutos de Pesquisa, Grupos Universitrios, entre outros sejam no apenas reconhecidos mas respeitados pelos governos, ser preciso que eles exeram no somente a presso isolada sobre causadores imediatos de problemas ambientais, mas que tambm possuam fora poltica, principalmente atravs da representao parlamentar e administrativa, efetivando, assim, sistematicamente, uma fonte para a criao de normas ambientais de mxima importncia para a legitimidade do controle social ecologicamente coerente.

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A relevncia do sistema jurdico ambiental, junto com a construo da conscincia de cidadania ecolgica e a fora poltica dos movimentos sociais no que se referem s questes ambientais sero possveis desde que seja revista a concepo de educao ambiental, tendo-se como objetivo a construo em cada indivduo a conscincia da coletividade no apenas quanto ao seu meio restrito bairro, cidade, amigos, famlia mas abrangendo toda a comunidade humana mundial, como vtima e responsvel pelos crimes ambientais causados pelas indstrias, pelas empresas diversas, pelos governos, por cidados isolados. Quando comear a surgir a conscincia coletiva, ser vivel iniciar a superao desta forma de sociedade visando construo de uma totalidade orgnica que respeite o meio ambiente e respeite o homem como ser dele distinto, no sendo tratado como mquina nem como mero animal, porm como um ser pensante e prtico, capaz de construir um mundo cada vez mais apto sua sobrevivncia e, consequentemente, sobrevivncia das demais espcies, em harmonia ecolgica no alcanvel sob o sistema econmico-poltico capitalista. A conscincia da cidadania ecologicamente ativa aspecto central a fim de que o Direito Ambiental passe a ter importncia nas sociedades humanas, pois no so os homens que tm que se adaptar promulgao repentina de leis que no foram devidamente discutidas pela sociedade civil, outrossim as leis devem ser promulgadas para atender s necessidades humanas enquanto uma ordem social mais justa e, consequentemente, igualitria no pode ser edificada. O ambiente ecologicamente equilibrado e sustentvel ser defendido pelo cidado que for capaz de ver a si mesmo no simplesmente como detentor de direitos e obrigaes diante de determinado Estado, mas como parte de uma coletividade de homens sedentos de liberdade para decidir sobre as prprias vidas dentro de uma realidade social que permita a todos construir seus rumos sem que se matem tentando.

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IX REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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