a import an cia do brincar no curriculo da creche

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1 A IMPORTANCIA DO BRINCAR NO CURRICULO DA CRECHE 1 1 (…) Nem sempre compreendemos a importância do brincar, sobretudo no Mundo competitivo de hoje. (…)Para a criança não actividade mais construtiva que o brincar(…)Brincar e aprender são duas faces da mesma moeda(…) O Brincar, embora nalgumas sociedades ainda seja considerado como algo inútil e fútil, é uma acção única e indispensável ao desenvolvimento da criança desde os primeiros tempos de vida; basta lembrarmo-nos que o primeiro brinquedo do bebé é o corpo do adulto que cuida dele. Primeiro o bebé descobre o corpo da mãe e só depois descobre as extremidades do seu próprio corpo; o bebé experimenta o seu próprio corpo, sugando-o e manipulando-o tal como os objectos que se encontram ao seu alcance. . 1 In: Santos Lúcia.Editorial.Cadernos de Educação de Infância, nº 90,pg3,Agosto de 2010 Quando o bebé já se “consegue sentar” no sentido de se manter semi-erecto, encostado a almofadas ou na sua cadeira, ele começa a ver o que o rodeia, a explorar com o olhar o que se movimenta em seu redor; esta é uma visão mais abrangente que a anterior, logo o seu campo de experimentação alarga-se substancialmente, permitindo-lhe um novo leque de aprendizagens. Neste período o cérebro do bebé está em constante e permanente ebulição, ele desenvolve-se rapidamente e todos os seus órgãos dos sentidos estão cada vez mais alerta. Os bebés aprendem e apreendem

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Page 1: A Import an CIA Do Brincar No Curriculo Da Creche

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A IMPORTANCIA DO BRINCAR NO CURRICULO DA CRECHE

11(…) Nem sempre

compreendemos a importância do brincar, sobretudo no Mundo competitivo de hoje. (…)Para a criança não há actividade mais construtiva que o brincar(…)Brincar e aprender são duas faces da mesma moeda(…) O Brincar, embora nalgumas sociedades ainda seja considerado como algo inútil e fútil, é uma acção única e indispensável ao desenvolvimento da criança desde os primeiros tempos de vida; basta lembrarmo-nos que o primeiro brinquedo do bebé é o corpo do adulto que cuida dele. Primeiro o bebé descobre o corpo da mãe e só depois descobre as extremidades do seu próprio corpo; o bebé experimenta o seu próprio corpo, sugando-o e manipulando-o tal como os objectos que se encontram ao seu alcance.

.

1 In: Santos

Lúcia.Editorial.Cadernos de Educação de Infância, nº 90,pg3,Agosto de 2010

Quando o bebé já se “consegue sentar” no sentido de se manter semi-erecto, encostado a almofadas ou na sua cadeira, ele começa a ver o que o rodeia, a explorar com o olhar o que se movimenta em seu redor; esta é uma visão mais abrangente que a anterior, logo o seu campo de experimentação alarga-se substancialmente, permitindo-lhe um novo leque de aprendizagens.

Neste período o cérebro do

bebé está em constante e permanente ebulição, ele desenvolve-se rapidamente e todos os seus órgãos dos sentidos estão cada vez mais alerta. Os bebés aprendem e apreendem

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experimentando activamente; eles fazem-no quando, sugam, manuseiam, cheiram, atiram ou batem os objectos; do mesmo modo eles fazem-no com o seu próprio corpo, pelo que o facto de se encontrarem demasiado vestidos, é prejudicial a essa manipulação/experimentação e fonte de frustração, algo que é notório quando o bebé tenta desesperadamente retirar as suas meias a fim de poder chuchar nos dedos dos pés. Os seres humanos , e aqui leia-se Bebés, desenvolvem-se e aprendem em interacção com o mundo que as rodeia.

Bebés e crianças pequenas aprendem com o seu corpo e utilizam os seus cinco sentidos.

É um facto comprovado que as experiencias vividas nos primeiros anos de vida deixam uma marca profunda no mais íntimo do bebé que o influenciará para sempre, podendo mesmo condicionar o seu desenvolvimento futuro.

É aqui que entra o Educador/Cuidador com a missão de proporcionar as actividades, e aqui refiro-me ao brincar e ao brinquedo, que lhes proporcionem um adequado desenvolvimento físico, afectivo e intelectual.

Embora não possamos descurar o local, o espaço em que se encontram as crianças/bebés, pois este deverá ser acolhedor, seguro e plenos de trocas afectivas a par dos cuidados físicos básicos; é muito importante, saliento mais uma vez, que lhes proporcionemos a continua possibilidade de brincar, pois só assim estaremos a contribuir activamente para um desenvolvimento harmonioso desse pequeno ser que se encontra na fase mais importante da sua vida pois o bebé, enquanto observa, descobre, manipula, experimenta e escolhe, está a aprender rápida e activamente, a sua pequena mente fervilha de curiosidade e de desejo de apreender o mundo que o rodeia, pois o seu cérebro regista o maior e mais rápido nível de desenvolvimento que poderá ocorrer ao longo do seu crescimento, este é o momento fulcral do desenvolvimento.

O cérebro de um ser humano está mais activo nos primeiros três anos de vida, durante os quais crescerá até 80% do seu tamanho adulto.

As crianças pequenas exploram e brincam com materiais que consideram apelativos e que lhes despertam a sua atenção; gostam de materiais que lhes estimulem o tacto, que lhes permitam atirar, encaixar, abrir e fechar, objectos que lhes permitam fantasiar…

Por tudo o que foi referido atrás, considero que o currículo de creche deverá contemplar o

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BRINCAR. De acordo com Gabriela

Portugal, citada2 (…) …falar de currículo é falar de princípios e práticas que formam a base de tudo o que sucede num determinado contexto educativo (…)2

Por outro lado e de acordo com Maria das Dores Oliveira2,”… Na creche existe um currículo. Não envolve “matérias” ou conceitos, mas tem a ver com o brincar e as várias experiencias que amplificam, desafiam e são relevantes para as crianças muito pequenas.

Um currículo para crianças com menos de três anos abarca uma vasta gama de opções de aprendizagem experimentação e oportunidades ilimitadas de exploração…”2

Há que salientar, e segundo a mesma autora2 que um dos eixos da Educação na creche é o Brincar e o Jogar.

A Brincadeira surge a partir das relações interpessoais e dos elementos existentes no ambiente.

Quando os bebés se começam a movimentar pelo espaço, dão inicio à grande actividade exploratória; neste

2 Oliveira, Maria das Dores,

Projecto Educativo a partir da creche-A prática Pedagógica na creche (Zero a Tres anos),UDIPSS de Santarem, 6 de Março de 2009

estádio também se pode observar a actividade de transferência, isto é, o bebé pega nos objectos, retira-os e coloca-os dentro de recipientes e volta a retirá-los, denomina-se este estádio de Brincar Lúdico que vem após o Brincar Epistemológico, no qual o centro era a manipulação e a experimentação levando”ao que é” o que precede “o que posso fazer com isto”; ou seja, primeiro descubro o que é para depois descobrir para que serve, como o posso utilizar e como me posso divertir com isto.

De acordo com o Psicólogo

Bruno Gomes3”…O Brincar é uma das formas mais comuns de manifestação do comportamento humano, principalmente durante a infância (…)O brincar potencia o desenvolvimento global da criança, pois permite-lhe aprender a conhecer, a conviver e, sobretudo a ser.

O brincar permite à criança descobrir e aprender autonomamente, pois (…)4A

3 In: Gomes,Bruno, A

importância de brincar no desenvolvimento da criança.Cadernos de Educação de Infância, nº 90,pg 45 a 46,Agosto de 2010

4 In: Portugal,

Gabriela.(1998)Crianças,Familias e Creche-Uma abordagem ecológica da

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criança manipula os brinquedos ou vocaliza sem o envolvimento directo do adulto, situações estas que constituem momentos únicos em que a criança pode ser apenas ela.

BRINCAR é o produto mais puro e espiritual da criança e ao mesmo tempo é um tipo de cópia da vida humana em todas as fases e em todas as relações que estabelece na sua vida de acordo com o pressuposto iniciado por Froebel. Assim como a importância fulcral do brincar, do aprender brincando, como forma real de aprendizagem com prazer, duas boas razões para a sua utilização. No acto de brincar, os sinais, os gestos, os objectos e os espaços valem e significam outra coisa daquilo que aparentam ser. Ao brincar as crianças recriam e repensam os acontecimentos que lhes deram origem, sabendo que estão brincando. É a brincar que aprende o que mais ninguém lhe pode ensinar. É dessa forma que ela, criança ainda pequena, se estrutura e conhece a realidade. Além de estar a conhecer o mundo, está-se a conhecer a si mesma. O acto de brincar incorpora os valores morais e culturais, algumas das actividades

adaptação do bebé à creche.Porto Editora

promovem a auto-imagem, a auto-estima, a cooperação, já que o lúdico conduz à imaginação, fantasia, criatividade e à aquisição inicial do sentido crítico, entre outros aspectos que ajudam a formar as suas vidas, como crianças e, futuramente, como adultos, pois são estas primeiras experiencias que delineiam o percurso para o futuro, pois é através da actividade lúdica que a criança se prepara para a vida; o brincar ao Faz de Conta pressupõe a observação e posterior imitação de cenas quotidianas que permitem à criança integrar o meio e agir como Ser Social. A estimulação sensorial do bebé é um meio por excelência para o processo de aprendizagem precoce. Assim, a estimulação sensorial principalmente, estimulação táctil, visual e auditiva é, por excelência, um veículo para a aprendizagem. 5Os princípios norteadores da Associação Internacional pelo Direito da Criança Brincar - IPA são:

Saúde Brincar é essencial para saúde física e mental das crianças. Educação Brincar faz parte do processo da formação educativa do ser humano. Bem-estar - acção social O brincar é fundamental para a vida familiar e comunitária. Lazer no tempo livre

5Associação internacional

pelo direito da criança brincar - IPA 1979 (Malta), 1982 (Viena), 1989 (Barcelona)

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A criança precisa de tempo para brincar em seu tempo de lazer6 Segundo PIAGET (1967) citado por Ana Carolina Vasconcellos Nunes

Farias da Silva7 “o jogo não pode ser

visto apenas como divertimento ou brincadeira para desgastar energia, pois ele favorece o desenvolvimento físico, cognitivo, afectivo e moral”. É através dele que se processa a construção de conhecimento, principalmente nos períodos sensório-motor e pré-operatório. Agindo sobre os objectos, as crianças, desde pequenas, estruturam seu espaço e seu tempo, desenvolvendo a noção de casualidade, chegando à representação e, finalmente, à lógica. As crianças ficam mais motivadas para usar a inteligência, pois querem jogar bem, esforçam-se para superar obstáculos tanto cognitivos como emocionais.

6http://efartigos.atspace.org/efesco

lar /artigo39.html, Revista virtual EFArtigos - Natal/RN - volume 03 - número 01 - maio – 2005,lido em 26 de Outubro de 2010

7http://libdigi.unicamp.br/document/

?view=36486 , lido em 26 de Outubro de 2010

"... A criança deve ter todas as possibilidades de entregar-se aos jogos e às actividades recreativas, que devem ser orientadas para os fins visados pela educação; a sociedade e os poderes públicos devem esforçar-se por favorecer o gozo deste direito".

(Declaração universal dos direitos da criança, 1959)

Bibliografia

Brazelton, T. (11ª Edição,Maio de 2009). O Grande livro da Criança. Lisboa: Editorial

Presença.

Gomes, B. (Maio/Agosto de 2010). A importancia do Brincar no desenvolvimento da crianças. Cadernos de Educação de Infância ,

p. 45 a 46.

Oliveira, M. D. (6 de Março de 2009). Projecto Educativo a Partir da Creche-A Prática Pedagógica na Creche (Zero a Tres Anos). Santarem: UDIPSS de

Santarem.

Portugal, G. (1998). Crianças,Familias e Creche-Uma abordagem Ecológica da adaptação do bebé à creche. Porto: Porto Editora.

Post, J., & Hohmann, M. (3ªEdição,2007). Educação de bebes em Infantários-Cuidados e primeiras aprendizagens. Lisboa:

Fundação Calouste Gulbenkian.

Santos, L. (Maio/Agosto de 2010). Editorial da Revista nº 90. Cadernos de Educação de Infância , p. 3.

Mestrado em Educação e Cuidados na Primeira Infância

Célia Cristina Gameiro Páscoa Niza

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