a ilha dos piratas

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A I LHA DOS P IRATAS Luiz Fernando Jobim

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Livro infantil com o tema sobre a Ilha do Francês (Florianópolis -SC)

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Page 1: A ilha dos piratas

A ILHA DOS PIRATAS

Luiz Fernando Jobim

Page 2: A ilha dos piratas

CAPÍTULO 1

FÉRIAS DE VERÃOO VERÃO DE 2006 FOI

SURPREENDENTE E TALVEZ MUITOS MENINOS DE MINHA IDADE NÃO

CONSIGAM LER ESSE LIVRO ONDE SÃO DESCRITOS FATOS

INACREDITÁVEIS E UMA AVENTURA COM PIRATAS DO CARIBE QUE

VIVERAM NO PASSADO EM UMA ILHA DE SANTA CATARINA SEM QUE

NINGUÉM SOUBESSE.

ATÉ QUE ALGO ACONTECEU COM GABRIEL WILSON E QUE MUDOU SUA

VIDA PARA SEMPRE.

QUEM TEM MEDO DE DORMIR E SONHAR É MELHOR NÃO LER O

LIVRO!

O BARBA NEGRA PODE APARECER EM SEU SONHO!

Page 3: A ilha dos piratas

- Sou Gabriel Wilson, meu pai é inglês e minha mãe brasileira. Tenho doze anos e sou muito curioso. Procuro aproveitar minhas férias jogando futebol na praia, brincando com amigos e lendo um pouco antes de dormir. Sei que mais tarde a vida será diferente. A juventude será substituída pela vida do adulto e dizem ser pior do que a de criança. Não tenho dúvida de que aos doze anos estou na melhor parte da vida. Logo, essa é a hora de aproveitar e sonhar, pelo menos é o que diz meu avô Luiz.

- Gabiroba, você está sempre alerta para alguma pequena aventura, vasculhando nossa mata, seguindo trilhas e pescando. A juventude é maravilhosa! Aproveita todos os momentos, mas não fique como o Peter Pan que não queria virar adulto.

- Durante os verões, passo férias na praia de Jurerê com meus avós. Vou contar-lhes fatos que se iniciaram no verão de 2006, em nossa casa de veraneio. Moramos em cima de um morro, cercado de mato em frente ao mar e ao Iate Clube. Ao longe, enxerga-se a Ilha do Francês. Uma das mais bonitas paisagens de Florianópolis, sul do Brasil.

- Meus pais são médicos, assim como meu avô. Eu gosto do mar e quem sabe poderei ser marinheiro? No entanto, pratico um pouco de medicina com animais, realizando algumas cirurgias em asas quebradas de pássaros, anestesiando sapos com éter e tratando ferimentos em nossos cães.

O verão iniciou com uma forte tempestade. Pela manhã, o sol apareceu. Desci para ver o que o mar tinha trazido para a praia. Troncos, pedaços de plantas e aguapés. Encontrei uma garrafa e dentro um anel de prata com uma caveira, além de uma moeda. Corri para meu avô! Deveria ser um anel muito antigo, pois estava esverdeado, escuro. Meu avô

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Férias de Verão

SEÇÃO 1∏

Page 4: A ilha dos piratas

identificou a moeda como um “penny”, moeda inglesa antiga e gasta pelo tempo. Limpei a moeda e o anel. Na face interna existiam duas letras gravadas: BN.

- Enviar mensagens em garrafas é uma maneira de comunicação, disse meu avô. Certa vez encontraram uma carta, escrita por um marinheiro. A carta era de despedida para a família, pois seu navio estava afundando. Continha data, nomes e endereço dos familiares. Essas garrafas ficam boiando por muitos anos. Podem ser colocadas em praias africanas, chegando à costa do Brasil, viajando por correntes marinhas.

- Gabiroba, as praias refletem o que acontece no mar, inclusive naufrágios ou a própria vida dos animais marinhos. Há dois anos encontrei uma tartaruga gigante na praia. Dizem que poderia ter mais de 100 anos. A coitada estava

procurando um abrigo. No inverno passado, um leão marinho chegou com vida e muito cansado. Passou o dia dormindo e à noite voltou ao mar. Aliás, muitos mamíferos

aquáticos, como lobos, leões e elefantes marinhos, descansam nas praias e as pessoas pensam que estão doentes.

Os dias seguintes foram ótimos, pois fomos à noite pescar lulas no barco do tio Porto, um fishing de 26 pés. Ancoramos em frente à praia Brava e com caniços colocávamos a garatéia no mar. Quando sentíamos algo diferente, como se fosse um leve mexer na linha, puxávamos e lá estava uma lula enroscada. Em poucas horas pescamos dezenas de pequenas lulas, atraídas pelas cores da garatéia, com ajuda da luminosidade da lua. Minha avó usa uma receita bem simples para preparar as lulas, fazendo questão de ensinar: “Pescou, tem que comer!”

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Os dias passavam rápido em meio a tantas atividades como pescar, nadar e mergulhar em frente de casa. Fisguei uma garoupa perto de uma pedra com um arpão que construí usando uma vara de taquara e um laço de borracha. Elas vivem em tocas, escondidas dos predadores como eu. Quando chegava a noite, caía na cama sem que precisassem mandar.

Numa manhã saí com tio Porto para uma volta de barco. Passamos pela Ilha do Francês que está desabitada. Ele contou-me que hoje somente alguns pescadores passam por lá. No topo da ilha existem ruínas, prováveis habitações de piratas que vinham para a América do Sul esconder suas riquezas. Ficavam escondidos em águas calmas, quentes e sem perigo. Era como se fosse o fim do mundo, não existindo interesse econômico para a marinha portuguesa ou espanhola, mas era conforto para esses homens que tinham trocado a vida honesta das cidades pela aventura e assaltos a navios carregados de ouro e mercadorias. Passavam curtas temporadas na Ilha e voltavam ao mar, em direção norte, procurando navios com carga.

No Natal, ganhei um livro de meu pai sobre pirataria, escrito em 1724. Custei a iniciar a leitura, mas depois de alguns fatos ele se tornou meu livro de cabeceira: A General History of the Robberies and Murders of the most notorious Pyrates (A História Geral dos Roubos e Assassinatos dos Principais e mais Famosos Piratas). Conta a história de cada bucaneiro (pirata), por onde andou e o que fez; suas maldades e valentias, assim como descreve os principais navios que atacaram.

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!

Igaratéia usada para pescar lulas

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CAPÍTULO 2

O ESPELHO DE CRISTAL

EXISTEM PESSOAS QUE FALAM QUE ESPELHO QUEBRADO DÁ AZAR E

OUTROS DIZEM QUE ESPÍRITOS DO PASSADO PODEM NOS VISITAR

PASSANDO PELO ESPELHO.

MAS O CONTRÁRIO NUNCA SE TEVE CONHECIMENTO, OU SEJA QUE

PODERÍAMOS SER TRANSPORTADOS PARA O PASSADO POR INTERMÉDIO

DE UM ESPELHO ANTIGO E QUE TERIA PERTENCIDO A UM DOS MAIS

TERRÍVEIS PIRATAS INGLESES:

O CAPITÃO BARBA NEGRA…

Capítulo 2∏

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Tio Mário Vargas morava perto de nossa casa e colocou um espelho na parede para ampliar o ambiente da sala, possibilitando ver o mar pelo reflexo. Minha avó gostou da idéia, mas resolveu procurar algo diferente. Comprou um espelho muito antigo de um velho pescador da praia de Canajurê. Depois de limpo e escovado, ficou lindo. Pendurado na parede, ele reflete a Ilha do Francês. Desta maneira, quando entramos em casa, além do mar que fica em frente, enxergamos também a Ilha que ficava escondida à direita, mas agora foi trazida para “dentro de casa”.

Naquela noite, levantei-me para beber água na cozinha e, quando passei pela sala casualmente

esfreguei o anel de osso. Num piscar de olhos fui atraído para o espelho, passando por ele como se fosse uma cortina mágica. Quando me dei conta, estava na praia da Ilha do Francês. O pior é que estava de pijama e no meio da noite fria.

Olhei ao redor e só havia escuridão. Um cachorro latiu ao longe. Tremi de medo e de frio. O que estava acontecendo? Uma luz, como se fosse de fogueira, iluminava o topo da Ilha. Existia gente por lá. Olhei para o mar e me deparei com um navio atracado. Era uma sombra negra e certamente não tinha ninguém lá dentro. Aproximei-me e vi a bandeira da Inglaterra secando no trapiche.

Olhei em direção à praia, do outro lado da ilha e nada existia. Como se não houvesse vida. Nem a igreja antiga que freqüentávamos podia ser avistada. Nada, só a escuridão.

A ilha tem uma pequena praia onde estava atracado o navio, mas nunca tinha visto o pequeno trapiche. Ele era novo para mim. Ouvi uns passos na mata e me escondi atrás de uma pedra. De repente, apareceu um enorme homem barbudo que vinha cantando em inglês. Subiu no navio e desapareceu. Logo um lampião acendeu no interior.

Outros homens, cerca de vinte, aproximaram-se e também entraram no barco, trazendo mantimentos. Começaram a içar as velas e subiram a bandeira da Inglaterra como se estivessem se preparando para navegar. Quando o dia nasceu, zarparam, sumindo no horizonte. Deixaram somente

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Espelho de Cristal

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um menino na praia que entrou na mata por um caminho que provavelmente levava para o topo da ilha.

Com a luz do dia consegui identificar a costa onde morava. O local da casa de meu avô era mato! Poderia nadar para nossa praia, deixando a ilha, mas o que faria se nada existisse do outro lado? Além disso, são uns 1500 metros até a praia. O melhor seria procurar o menino e perguntar o que estava acontecendo. Entrei na mata.

Deveria ser umas sete horas da manhã quando cheguei à pequena vila. Existiam umas seis casas velhas de pedra e ninguém à vista. Um cachorro deu sinal da minha presença. Um velho saiu de uma das casas e veio em minha direção, falando em inglês.

- Quem é você e de onde saiu?

Respondi que não sabia como tinha ido parar na ilha, que estava passando uns dias na casa de meu avô e apontei em direção ao continente.

- Menino, você deve ter vindo no navio do Capitão Barba Negra. Escondeu-se no porão e agora está na ilha! Não existe ninguém do outro lado do mar. Estamos na América do Sul, mais especificamente no Brasil.

- Isso eu sei, pois nasci aqui, ou melhor, mais ao sul, em Porto Alegre!

- Vejo que não vamos nos entender. Não existe nada para o Sul, talvez uma aldeia portuguesa. Gostaria de me apresentar: eu sou Thomas Davis, o carpinteiro. Faço os reparos nos navios piratas.

- Eu sou Gabriel Wilson. Sou brasileiro e meu pai é inglês como o senhor, mas não é pirata! Aliás, não existem mais piratas!

- Como não existem? Não viu a nau (barco) que partiu meia hora atrás? Dentro de alguns

meses devem chegar mais duas ou três. Estamos esperando que venham cheias de ouro de galeões que serão atacados no mar do Caribe pelos piratas do nosso grupo.

Nesse momento chegou o menino que tinha visto na praia. Aproximou-se e perguntou:

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- Thomas, quem é o amigo de roupa estranha? Referia-se ao meu pijama e chinelos!

- É o Gabriel Wilson, um companheiro que chegou recentemente na ilha, mas sei que o Capitão não vai gostar de sua presença. Talvez tenhamos de escondê-lo até que possa ser de alguma utilidade. Assim como aconteceu contigo, será um aprendiz de pirata!

- Gabriel, esse é Brian Trowell, o grumete (ajudante de navio). Ele vai dar a você uma ração de bolachas para matar a fome e mostrar-lhe nossa vila. Aviso-lhe que você não pode ser visto pelo Capitão. Quando ele voltar terá de sumir da vista...

- Na realidade, disse Thomas, eu não sou pirata, mas fui capturado há dois anos. Meu navio era o St. Michael, atacado pelo Capitão Samuel Bellamy. Ele apoderou-se da carga, e como eu era carpinteiro, trouxe-me para cá, onde trabalho para seu grupo de piratas.

- Vá, vá comer alguma coisa com o Brian!

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Thomas, Gabriel Wilson, Capitão Samuel Bellamy e Brian Trowell

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CAPÍTULO 3

CONHECENDO A ILHA

OS PIRATAS CONHECERAM MUITAS ILHAS E DEVIA HAVER UMA RAZÃO

PARA ESCOLHEREM ESSA PARA SER A BASE DE APOIO PARA SEUS NAVIOS.

ERA O LOCAL ONDE CONSERTAVAM OS NAVIOS E TRATAVAM DE SEUS HOMENS

FERIDOS NAS BATALHAS.

A RAZÃO ERA DEVIDA A SER UM LOCAL MUITO BONITO E TOTALMENTE

AFASTADO DA CIVILIZAÇÃO. AS CIDADES FICAVAM DIAS MAIS PARA O NORTE E NAVIOS NUNCA APARECIAM

PELOS MARES DO SUL

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- Vamos lá, Gabriel! Nossa cozinha fica na casa de um velho pirata aposentado. Ele é o responsável pela manutenção da Ilha, dos mantimentos, da qualidade da água, da pesca, dos tesouros e da “princesa”.

Chegamos à casa do Dr. James Ferguson e fomos bem recebidos por um velho barbudo, vestindo uma camisa branca e um jaleco velho e rasgado.

- Olá Brian, já estava esperando você para descascar umas batatas. Teremos pouco trabalho nos próximos meses, após a

saída do último barco. Mas, quem é o marujo? Acho que temos de conseguir uma roupa para ele, pois parece que está de pijama?

A casa era ampla e na sala existia uma mesa com vinte cadeiras e alguns móveis velhos, mas bem distribuídos. Junto à parede havia um piano, perto da lareira. Na parede, quadros de navios e um espelho igual ao da casa de minha avó. Seriam idênticos, inclusive na possibilidade de passagem para outra dimensão?

- Meu nome é Gabriel Wilson e sou novo na ilha. Cheguei hoje na praia e não lembro muito bem como vim parar aqui!

- Brian! Acho que arrumamos um novo colega para nossos “trabalhos” na Ilha! Comam umas bolachas e comecem a descascar...

- Antes gostaria de apresentar-me, sou o Dr. James. Na realidade sou médico e responsável por essa Ilha, após ter navegado pelo mundo afora no “Wydah”.

Enquanto descascávamos as batatas, escutávamos o médico:

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Conhecendo a Ilha

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- Vocês sabem pouco dos piratas, embora sejam aprendizes. Eles são vistos como pessoas que usam pernas de pau, olhos de vidro com vendas negras na vista, perfurada por alguma faca ou espada. Eles, na realidade, são soldados do mar e sofrem com a falta de médicos. Essa foi a razão pela qual o capitão Bellamy me trouxe da Escócia para trabalhar com seu grupo, após ter participado de uma rebelião contra o Rei Jorge I. Eu acabaria pendurado na forca e por isso me tornei médico-pirata. Já amputei muitos braços, mãos e pernas. Muitas vezes não podia fazer mais pelo doente do que cortar ou cauterizar suas feridas (queimar os ferimentos).

- A fama dos piratas é de serem cruéis, bêbados e brigões. No entanto, esquecem do mundo difícil que vivemos, levando algumas vezes os homens para o crime. No entanto, o capitão Sam Bellamy nunca permitiu, em sua tripulação, qualquer brutalidade e crime sem uma razão importante!

Nesse momento, dei-me conta de que realmente estava no passado. O espelho e o anel transportaram-me para mais de trezentos anos atrás. Terminamos de descascar as batatas e deram-me uma roupa simples com uma camisa listrada. Meu pijama ficou no quarto do Brian, ao lado da dispensa, onde percebi pilhas de sacos de batatas e barris de bebida.

Saímos para um passeio. Brian contava-me sobre a vida na Ilha. Passamos por outras casas, uma era a do Capitão Sam e outra do temido Barba Negra. Descemos para a praia e seguimos por uma trilha que nos levou até uma caverna. Um lençol de água despencava por cima da entrada, ocultando o

local. Ondas do mar entravam na caverna lentamente. Foi quando vi golfinhos nadando em círculo. Brian tirou a roupa e mergulhou no mar.

- Venha Gabriel, vamos nadar com os meus amigos!

- Apresento-lhe Tom, Mary e seu filhote, ainda sem nome. São mansos e podemos nadar com eles. Trago peixe sempre que posso, para alimentá-los. São meus amigos desde que cheguei aqui há dois anos Fugi com os piratas, quando eles atacaram o navio onde eu estava trabalhando. Esses animais são muito inteligentes. Quando desejar chamá-los basta gritar seus nomes embaixo d’água.

Brian agarrou-se em Tom e se afastaram no mar. Deram uma volta de uns cem metros e retornaram. Mary e o filho

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seguiram lado a lado, dando saltos de alegria. Achei melhor nadar noutro dia. Após essa demonstração, seguimos pelo caminho que passava por cima da caverna, cruzamos um tipo de ponte com troncos de árvores atravessados por cima da água que descia do alto da Ilha. Chegamos a um paredão que formava uma pequena baía com água calma, protegida pelas pedras.

- Esse é nosso pesqueiro. Aqui pescamos para nossa comunidade. Ali está nosso escaler, o barco que nos leva até a parte mais profunda da baía, onde encontramos peixes maiores como robalos, tainhas, garoupas entre outros. Vamos ter muito tempo para pescar!

Antes de voltarmos, entramos na caverna por um caminho lateral, passando por cima das pedras. Chegamos à praia interna. Uma grade com barras de ferro fechava um dos cantos do salão, dentro existiam muitas arcas, prataria e objetos de ouro. Brian disse-me que as arcas estavam cheias de moedas de ouro e prata, retiradas de navios espanhóis, holandeses, portugueses e ingleses. No outro lado da caverna, havia um quarto de madeira fechado, mas com uma pequena janela com barras de ferro.

- Como vai, princesinha? Perguntou Brian.

- Estou bem, mas com muita fome. Veja se consegue algo para comer. A comida de ontem não servia nem para os cães. Diga ao Thomas que me deixe dar uma volta na ilha com

vocês! O capitão viajou e ele pode libertar-me, pois não tenho como fugir!

- Vou fazer o possível, mas eles querem receber o dinheiro que seu pai ficou de enviar. Estão negociando. Em breve, estarás em liberdade. Fui informado de que chegará um navio para te buscar.

- Esse é o Gabriel! Chegou pelo mar e não sei se o Capitão não vai colocá-lo aqui contigo! É possível que ele deseje receber um resgate da família dele.

Chegando à casa do Dr. James Ferguson, não o encontramos. Enquanto Brian foi ao banheiro, fiquei na frente do espelho e esfreguei o anel com força! Zummmmmm e encontrei-me na nossa sala, em frente ao outro espelho. Nesse momento, meu avô perguntou:

- Oi Gabriel, vieste assaltar a geladeira? Já está quase amanhecendo. Come ou bebe o que deseja e volta para teu quarto!

- Nesse momento, entendi que o tempo não tinha passado enquanto estive na Ilha. E mais, estava com meu pijama! Sonho ou realidade?

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CAPÍTULO 4

APROVEITANDO AS FÉRIAS

QUE FÉRIAS!

MEUS COLEGAS DO COLÉGIO NEM IMAGINAM O QUE ESTÁ ACONTECENDO POR AQUI.

VOU APROVEITAR AO MÁXIMO, MAS SEMPRE COM SEGURANÇA!

VIRAR PIRATA, NEM PENSAR...

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O dia amanheceu lindo. Pela manhã o mar é calmo, mas pelas onze horas quase sempre inicia o vento nordeste. A

água fica crespa ou com pequenas ondas, o que torna a navegação desagradável. Meus pais tinham chegado para o fim de semana. Corri para minha mãe, Mariana que trouxera balas de coco. Foi quando meu pai perguntou sobre o anel.

- Oi Gabi, que anel é esse?

Expliquei que era de prata e tinha achado em uma garrafa, junto com um “penny”. Ele olhou e comentou:

- Que anel macabro! Parece história de “magia negra ou de pirata”.

- Estou lendo o livro que ganhei de Natal, mas tenho muitas dúvidas! Os piratas eram maus? Por que roubavam e sequestravam pessoas? Vocês sabiam que quase todos nasceram na Inglaterra? Alguns eram negros, antigos escravos que foram libertados e desejaram seguir com os piratas.

- Isso mesmo Gabriel, concordou Thimoty, seu pai. Muitos eram mandados para o mar pela rainha. Assaltavam e roubavam especialmente navios espanhóis, carregados de ouro que traziam da América.

- Dizem que “quem rouba de ladrão tem cem anos de perdão”! Não é verdade que os espanhóis retiravam as riquezas de tribos indígenas das Américas?

- Muitos foram os marinheiros que deixaram essa vida “por conta” da rainha e passaram a viver como piratas “por conta própria”. Isso acontecia quando conseguiam tomar um navio, dividindo-se a tripulação. Alguns ficavam com um novo líder e saíam a piratear, especialmente na costa do Caribe (América Central), mas também na costa da África e às vezes na América do Sul, incluindo o Brasil. Atravessavam o mundo atrás da fortuna, chegando a atacar cidades.

- Usavam de muitos artifícios para enganar os outros navios. Um deles era o de identificar a bandeira do navio-alvo e usar uma mesma bandeira, fazendo-se passar por “amigos”.

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Aproveitando as Férias

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Quando estavam próximos, erguiam a bandeira negra da pirataria e começavam a disparar seus canhões contra o outro. Em certas ocasiões, chegavam com um navio com bandeira amiga e logo outros três ou quatro navios piratas aproximavam-se, sendo que nessa situação poucos eram os que resistiam. Entregavam-se, tendo seu barco saqueado. Muitas vezes os piratas levavam o barco, especialmente se fosse de qualidade, e armado de muitos canhões. Os piratas passavam de um barco para o outro por meio de cordas amarradas nos mastros. Assim, desciam no outro barco, iniciando quase sempre uma luta feroz. Os tripulantes eram deixados na costa ou em escaleres, (pequenos barcos). Salve-se quem puder! Dessa maneira, organizavam verdadeiras frotas piratas, havendo forte disciplina a bordo, inclusive com condenação à morte.

- Os piratas atuavam desde Nova York, Nova Inglaterra e Virgínia, até a América Central, na região do Caribe, onde especialmente, faziam suas presas. Os ingleses mantinham navios de guerra na região, mas na maioria das vezes não encontravam com os piratas, que conheciam muito bem o mar e as ilhas do Caribe e das Bahamas, especialmente pelo fato de existirem muitos locais para esconderem-se, além de ser um local quente e bom de viver. Em raras ocasiões apareciam na costa do Brasil, mas quando isso acontecia

quase sempre era para consertarem algum navio ou esconder algum tesouro.

- Outro fato que estimulava a pirataria é que o governo britânico, vez por outra, concedia perdão aos piratas que se entregassem, sendo que muitos, passado algum tempo, voltavam a assaltar. Houve inclusive duas mulheres, Mary Read e Anny Bonny que foram a julgamento e condenadas por pirataria.

Nessa época existia a escravidão, disse vovô. No Brasil,

milhares de escravos trabalhavam pela comida e nem sempre eram bem tratados. Era um negócio muito lucrativo e lastimável. Os navios mercadores

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compravam os negros na costa da África e os traziam acorrentados nos porões, com o mínimo de higiene, água e comida. Esses comerciantes vendiam os negros em locais públicos, de onde eram levados para as fazendas para trabalharem de graça, sendo acorrentados para não fugirem à noite. Tudo isso acabou em 1888, quando a escravidão passou a ser crime inafiançável (ou seja, é cadeia na certa). A Lei Áurea, proclamada pela Princesa Isabel, terminou com a escravatura.

- O que acontecia se os escravos fugiam?

- Eram procurados, presos e açoitados em palanques. Muitos conseguiram organizar quilombos, que eram comunidades de negros que fugiam de seus senhores. Existiam os Capitães-do-mato, que eram, em sua imensa maioria, pretos e mulatos livres, caçadores de escravos fugitivos. Capturavam a troco de recompensa, realizando o serviço por encomenda de fazendeiros ou por conta própria, procurando por qualquer escravo que encontrassem em fuga. Foi no século XVII que essa atividade se desenvolveu.

- Que época perversa! A escravidão existia em quase todo o mundo, mas aos poucos os ingleses desistiram do negócio, perseguindo os países que praticavam a escravidão. Isso aconteceu também com o Brasil.

- Os negros sofreram muito! A escravidão marcou profundamente os Estados Unidos. Lá, existiam bairros somente para negros. Eles não podiam frequentar

universidades, e a maioria das escolas só aceitava brancos. Quando fui estudante de pós-graduação em Dallas, no final da tarde, entrava um senhor negro para fazer a limpeza do laboratório. Ele nunca me cumprimentou, embora eu tivesse tentado a aproximação. Era um negro velho que não gostava de brancos.

- Gabriel, isso é o que chamamos de discriminação. No Brasil não foi tão intenso esse sentimento, pois os portugueses, nossos descobridores e dos quais descendemos, gostavam das escravas e tiveram filhos com elas. Essa é a razão de nossa miscigenação, ou seja, o brasileiro é fruto da mistura do branco europeu, do preto africano e do índio. Isso é bonito em nosso país, pois fica abolida a noção de raça.

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- Vô Luiz, por que querem oferecer cotas para os negros nas universidades? É uma maneira de arrependimento?

- Gabiroba, essa é uma política equivocada! Não existe a raça branca e a negra. O homem pertence à raça Homo sapiens. Somos todos iguais. Vejamos um exemplo: você tem um cachorro “poodle” de cor branca, chamado “Hook”. No outro lado da rua, tem um vizinho com um “poodle” de pelo negro. Você acha que eles são da mesma raça ou de raças diferentes?

- São da mesma raça, lógico!

- Isso Gabriel! O governo deveria usar outro meio de fazer justiça para os pobres, onde se incluem os negros, e não criar o preconceito no ingresso da universidade. A solução seria melhorar as escolas públicas, inclusive pagando melhor os professores. Quem sabe essa situação possa ser revertida no futuro? Momentaneamente esse modelo pode ajudar as minorias, mas no futuro, certamente isso será alterado.

- Seria o ideal, completou Mariana. Resolveríamos dois problemas ao mesmo tempo. Melhoraríamos a vida difícil dos professores e a dos nossos irmãos de cor.

- Mariana, você lembra quando moramos na Inglaterra? A filha do professor Morris deixou a Medicina para ser professora primária. Quando perguntei se ela não seria prejudicada no salário, ele respondeu que a diferença entre o que pagam a um médico ou para um professor não é

grande, assim ela preferiu seguir o que gostava mais, lecionar para crianças.

- Vovô, os ingleses estão na nossa frente! Minha mãe estudou em colégio público na Inglaterra e a melhor amiga dela, a Molka, formou-se em Medicina e é uma boa médica. Veja que ela é paquistanesa e não inglesa. Minha mãe diz que os professores e as escolas públicas inglesas são exemplares!

- A sua tia Deborah estudou Enfermagem na Irlanda em escola pública. Aliás, quase não existem universidades privadas na Inglaterra. Eles quase não têm problemas de discriminação e foram os primeiros a se revoltarem contra a escravidão.

- Não é só na nossa frente que os ingleses estão, mas na frente de muitos outros países. Eles já passaram por muitas guerras e sofreram, aprendendo a importância da justiça e da obediência às leis. Veja o caso dos piratas que você falava. Muitos eram contra a escravidão, sendo que libertavam os escravos dos navios negreiros ou traziam os escravos para bordo para serem piratas.

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CAPÍTULO 5

NA ILHA NOVAMENTE

A POSSIBILIDADE DE ENCONTRAR O REI DOS PIRATAS ESTAVA CADA VEZ

MAS PERTO.

OS NAVIOS DEVERIAM CHEGAR A QUALQUER MOMENTO E NELES

ESTARIA O FAMOSO, BARBA NEGRA!

CUIDADO...

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Durante a noite, Gabriel não aguentou. Esfregou o anel na frente do espelho e imediatamente foi transportado para a Ilha. Brian estava limpando peixes, capturados por ele e por Thomas com uma rede de espera.

- Olá Gabriel, onde andaste? Senta aqui, vais me ajudar com esses peixes. Estamos esperando diversos navios para os próximos dias, e preciso salgar os peixes para o jantar de boas vindas. Creio que os Capitães Samuel Bellamy e Barba Negra estarão por aqui. Parece incrível, mas já se passaram quatro meses desde que o último navegou para o norte.

- Nesse momento, dei-me conta de que o tempo passado em casa fora maior do que pensava. Os piratas estavam voltando! O que aconteceria comigo? E se ficasse longe do espelho, como voltaria para casa?

- Brian, o Gabriel já conhece nosso ponto de observação? Perguntou Thomas, o marceneiro.

- Veja, Gabriel, aquele coqueiro alto! O Brian quando quer vasculhar o horizonte sobe para procurar algum navio que se aproxime. Na maioria das vezes são do nosso povo, pois aqui no Sul, dificilmente chegam outros navios. A razão é a inexistência de comércio nesse fim de mundo. Nosso único

trabalho é consertar navios. Às vezes eles trazem uma chalupa (navio de dois mastros com velas triangulares) para demolir. Utilizo a madeira para consertar outros navios, além dos pregos, velas e cordames.

-

- Você sabia, Gabriel, que nessa região existem baleias? Elas viajam para o sul procurando águas quentes, trazendo seus filhotes. Algumas vezes caçamos baleias para usar o seu óleo para cozinhar. O Brian consegue identificá-las de cima do coqueiro. Muitos homens já morreram na pesca de baleias, pois é uma

atividade perigosa. Logo que são feridas pelo arpão elas mergulham e muitas vezes, quando sobem, jogam-se contra o barco.

Terminado o trabalho com os peixes, Brian me levou para conhecer a casa do Capitão Barba Negra. A porta estava aberta e o interior era pobre, com um tapete oriental sujo em uma parede, diversas espadas penduradas na outra, assim

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Na Ilha Novamente

!

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como trabucos (revólveres antigos). Uma porta dava para o quarto, onde havia uma cama desarrumada encostada na parede e um armário sem portas mostrando seu interior com várias roupas de marinheiro e de capitão. Uma coleção de chapéus com duas pontas e com panos chamuscados pendurados mostrava que o dono era um tanto extravagante.

- Gabriel, você deve estar achando estranhos esses chapéus, mas explico: Barba Negra gosta de assustar os inimigos. À noite, durante a tomada de um navio, ele acende fogo nos panos molhados em óleo e pendurados nas pontas do chapéu. O seu rosto, coberto por uma enorme barba negra fica iluminado. Os inimigos pensam ser o demônio.

Barba Negra era o nome de guerra do Capitão Edward

Teach, natural de Bristol, Inglaterra. Distinguiu-se pela audácia e coragem quando velejava em navios corsários da Jamaica quando roubavam a serviço desse país. Em 1712, o capitão Benjamin Hornigold colocou-o para comandar uma chalupa que havia capturado e tornaram-se sócios. Após roubarem na costa da Virgínia, capturaram um navio de grande porte da Guiné Francesa e Teach virou capitão dessa embarcação, enquanto o sócio entregou-se ao reino Inglês que havia oferecido clemência aos piratas que se entregassem até determinada data. Teach ou Barba Negra equipou seu navio com quarenta canhões, trocando seu nome para Queen Ann´s Revenge (vingança da rainha Anne).

- Velas à vista! Gritou Brian de cima do coqueiro.

A ilha ficou na expectativa. Primeiro, era proibido fazer fumaça, para não chamar atenção, caso não fossem navios amigos. Segundo, deveriam estar preparados para atacar estranhos que desejassem desembarcar. Para tanto, tinham canhões dentro do mato apontados para o trapiche. Contavam com vinte piratas aposentados, que viviam em choupanas em diversos pontos da ilha, totalmente camuflados.

- São dois navios e um deles é o Queen Ann´s. O outro pode ser o Wydah. No final da tarde, os dois navios atracaram no trapiche. Todos correram para a praia. O primeiro a saltar foi o capitão Sam Bellamy do Wydah. Acenou para todos e pediu ao Dr. James Ferguson que se

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apresentasse para tratar dos feridos, tinham quatro em cada navio. Eles foram retirados, colocados na praia, e transportados para a casa do médico.

- Brian, venha ajudar o capitão Barba Negra a retirar uma carga especial. Junte mais uns quatro homens para ajudar. Dessa vez trouxemos ouro para a aposentadoria de todos, disse Sam.

Todos bateram palmas e gritaram com alegria os nomes dos capitães: Barba Negra! Barba Negra! Sam Bellamy! Sam Bellamy...

Fiquei escondido na mata e achei melhor ir para a casa do médico, pois não queria encontrar com Barba Negra. Cheguei a ajudar a levar os feridos para um salão que existia

atrás da casa, servindo de enfermaria. O que mais me impressionou foi a sujeira dos piratas. Não tomavam banho há meses. Alguns tinham cortes profundos nas pernas e braços, provavelmente fruto de luta com espadas. Os feridos receberam tratamento, sem antes tomarem rum como anestésico. Ficaram bêbados e o médico começou a cortar braços e pernas com grande experiência, auxiliado por outros piratas mais velhos. Pelo menos três pessoas tiveram membros amputados e outros foram costurados a frio, só com o rum. Um velho coberto de sangue teve seu olho retirado com um tipo de colher afiada. No local colocaram panos limpos e comprimiram com uma bandagem. Lembrei-me de meu pai Timothy e de sua técnica cirúrgica, assim como de meu tio David, anestesista de sucesso. Eles poderiam ajudar muito o médico dos piratas, que mais parecia um açougueiro. No entanto, mesmo sem conhecimento moderno, acabou o serviço e ficou com o corpo ensanguentado. Saiu de casa e foi mergulhar no mar, exausto.

Passei pelo espelho e esfreguei o anel. Imediatamente encontrei-me sentado em nossa sala. Tomei um copo de água e fui deitar-me com o coração batendo forte.

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Page 23: A ilha dos piratas

CAPÍTULO 6

CONVERSAS EM FAMÍLIA: A

IMPORTÂNCIA DA LEITURA

A CULTURA É PASSADA ENTRE AS GERAÇÕES POR INTERMÉDIO DOS

LIVROS.

ESSA É A MENSAGEM QUE DESEJAMOS QUE NOSSOS JOVENS

CULTIVEM E LEIAM SEMPRE!

LEIAM…

Page 24: A ilha dos piratas

Acordei tarde, o café já estava pronto e servido na varanda. No meu lugar na mesa encontrei um pão quentinho, feito em casa pela avó Regina, acompanhado de um suco de laranja. Olhei para o espelho e lá estava a Ilha. Como posso estar vivendo em duas épocas diferentes? Será que estou arriscando demais? Deveria contar para meus pais? Será que eles acreditariam?

! - Bom dia para todos! O que estão preparando para hoje?

! - Tia Solange, nossa vizinha, convidou-nos para sair de lancha, disse minha mãe. Poderíamos ir até a ilha para pescar, mas o vento está mudando e talvez o melhor seja deixarmos para amanhã.

! - Gabiroba, como está o seu livro?

! - Estou muito interessado nos piratas. A vida deles não era nada confortável e muitos eram feridos em lutas pelo domínio dos navios que atacavam. Esses ferimentos eram

tratados sem os cuidados que temos hoje. Imaginem que não existiam antibióticos e muitas vezes tinham que cortar um braço ou uma perna infeccionada. Li que o pirata Barba Negra ameaçou uma cidade com seus navios para conseguir remédios para sua tripulação, pois muitos estavam doentes. Fico imaginando que tipos de medicamentos eram esses em 1700?

! - Mudando de assunto, vocês sabiam que em nossas praias, no passado, existiam muitas baleias, disse meu pai?

! - O pescador Lobo, dono do restaurante na praia do Forte é quem sabe de tudo sobre a caça às baleias que aconteceu no passado recente, completou minha avó..

! - Fiquei penalizada! O Lobo contou-me que existe um local no continente, chamado Ponta da Vigia. Era de lá que avistavam as baleias, que entravam nessa área para descansar. Quando era dado o sinal, vários barcos a remo iam ao seu encontro e as arpoavam com facilidade, pois são animais muito dóceis. Ainda existem por lá os vestígios de uma antiga fábrica de óleo de baleia. O Lobo contou que as praias de Jurerê e a do Forte são cemitérios de baleias. Ossos são facilmente encontrados, existindo algumas vértebras no “Passeio dos Namorados”, na praia de Jurerê, e no próprio restaurante do Lobo. Quando são feitas escavações encontram-se esqueletos completos.

! - A pesca de baleias era considerada insignificante no passado, ao contrario do que acontece atualmente. Vocês

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Conversas em Família: A Importância da

Leitura

Page 25: A ilha dos piratas

devem ter lido sobre os navios frigoríficos japoneses que passam meses no mar caçando baleias. São milhares de animais mortos a cada ano, e o Japão não participa dos esforços internacionais contra essa prática.

! - Mariana, você se lembra do documentário feito pelo Greenpeace? Eles perseguiram com seu navio os japoneses e filmaram a morte das baleias com canhões que atiram arpões contra os animais. Um desses navios foi tomado pelos homens do Greenpeace, tendo sido matéria dos jornais e televisões. Essa organização internacional é de grande importância para a vida no planeta.

! - Não gosto de lembrar, fiquei indignada e o mundo todo também. Não é possível destruirmos animais e a natureza. Na África, aconteceu a incrível matança de elefantes quando o Idi Amim Dada era ditador em Uganda. Durante essa época, milhares de elefantes adultos foram abatidos para venderem os seus chifres de marfim.

! - Gabiroba, a respeito do que sua mãe contou, nos últimos anos, centenas de rinocerontes começaram a aparecer mortos. Eles apresentavam uma perfuração nas costas, de cima para baixo, como se fossem trespassados por uma espada gigante. Foi feita uma pesquisa que durou meses e descobriram que os elefantes estavam matando os rinocerontes e também o gado dos Masai (povo africano). Eles perseguiam os rinocerontes e enfiavam as presas nas suas costas.

! - Existe uma ligação entre os dois fatos. Os elefantes que viram seus pais serem mortos pelos soldados do ditador tornaram-se adultos e impiedosos com os rinocerontes. A memória dos elefantes é prodigiosa. Eles ficaram muito

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Page 26: A ilha dos piratas

traumatizados com a matança dos pais e agora se vingam em outros animais, inclusive no homem.

! - Vovô Luiz, como resolveram essa situação?

! - Trouxeram elefantes adultos de outras regiões da África. Dessa maneira introduziram adultos que não tinham raiva dos outros animais e assim mudaram o comportamento dos jovens com o exemplo dos mais velhos que não atacavam outros animais.

! - Gabriel, você sabe que poucas crianças têm acesso ou são estimuladas a ler? Isso não acontece na Inglaterra, onde sua mãe, na época de estudante, deveria ler um livro da biblioteca a cada mês. Além disso, existia uma hora livre por dia para leitura na escola. Esse é um hábito que devemos incentivar no Brasil. Um povo que lê tem mais oportunidades, inclusive consegue escrever melhor o que é importante em qualquer profissão. Esses fatos sobre os elefantes estão nos jornais e revistas.

! - Vovó! Você que sempre tem um livro na mão, qual foi o livro que mais gostou até hoje?

! - Meu preferido foi “Horizonte Perdido”, escrito por James Hilton. Aconselho todos a lerem, pois a história é fascinante e acontece num lugar lindíssimo situado nas montanhas geladas do Himalaia, o pico mais alto do mundo. Resumindo, o livro inicia com um acidente de avião que cai perto de uma aldeia onde existia um monastério. Os monges meditavam e viviam uma vida diferente, de paz e harmonia

com a natureza. Um dos membros da expedição levou meses para recuperar-se dos ferimentos, e acaba apaixonando-se pela pessoa que o acompanhou durante esse tempo. Ela era

uma monja linda, serena e de imensa cultura. O tempo parecia não passar nessa comunidade...Muita leitura e meditações, num dos lugares mais distantes e frios do planeta. Meses depois, os acidentados resolvem fazer uma expedição para descer até a civilização. A monja se decide por acompanhar seu amor, depois de muito esquivar-se e ser praticamente proibida pelos monjes mais velhos. Enfrentaram muitas dificuldades na descida, desde tempestades de neve, frio e até avalanches. Enfim, somente os dois chegam vivos a um povoado no pé da montanha. A cada dia que passava, alguma modificação acontecia a ela.

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Page 27: A ilha dos piratas

Quando chegaram, ela estava muito velha, possivelmente com algumas centenas de anos, e faleceu nos braços de seu amado. O segredo daquela comunidade foi então desvendado, eles viviam mais do que qualquer pessoa. Eram todos muito velhos, mas com a aparência de jovens. A cultura imensa era decorrente dos anos de vida, de estudo e meditação.

- Vovó, seria a juventude eterna?

- Algo assim! O local chamava-se Shangri-lá. No mundo ocidental, Shangri-lá é entendido como um paraíso terrestre oculto pelas neves do Himalaia.

! - Eu também gostei desse livro, disse o avô! É com tristeza que identifico a nossa rotina de trabalho como responsável pela leitura eventual. Deveríamos ter sempre um livro na cabeceira da cama. Falo de leitura geral, e não da necessária para a escola ou para a vida profissional. Essa é obrigatória, e a outra não. Leia como se estivesse dentro de uma aventura ou mesmo vivendo em outra época.

! - Imagine Gabriel, você dentro de um livro que se passa durante a corrida pelas terras do velho Oeste norte-americano. Os brancos entrando na terra dos índios pele vermelhas. Lendo, você pode verificar o que o branco fez com os pobres índios! Aliás nada muito diferente do que ainda acontece no Brasil, mas o prejuízo nos Estados Unidados foi muito maior, aparentemente.

- A conversa está boa, mas é hora de nossa caminhada. Você vai junto Gabriel?

- Não, vovô! Combinei com tio Mário de ir até o Iate Clube ver sua nova lancha, uma Phanton 30.

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Page 28: A ilha dos piratas

CAPÍTULO 7

O ENCONTRO COM BARBA NEGRA

BARBA NEGRA, O TERROR DOS MARES, NÃO FOI RUIM COM GABRIEL.

CONVIDOU-O PARA SER PIRATA E O LEVARIA NA PRÓXIMA VIAGEM.

IMAGINEM SE OS AVÓS SOUBESSEM ONDE ANDAVA O NETO QUE PASSAVA BOA PARTE DO TEMPO COM PIRATAS, ANDAVA DE GOLFINHO COM SARAH E

SONHAVA COM MAIS AVENTURAS…

OS ÍNDIOS TUPIS QUE VIVIAM NO CONTINENTE SERIAM TAMBÉM

VISITADOS PELOS NOSSOS JOVENS AMIGOS.

QUE VERÃO!

Page 29: A ilha dos piratas

Meu avô não sabia de meu segredo. Era outra maneira de viver uma aventura: participando dela pessoalmente, como personagem da história. Pensando nisso, esfreguei o anel na frente do espelho e fui parar dentro da casa do Capitão Sam Belamy.

! - Dr. James Ferguson, quem é esse intrometido?

! - Sam, esse é o Gabriel Wilson, um menino filho de inglês que chegou à ilha. Ele não sabe dizer como, talvez o barco de seu pai tenha afundado numa tempestade e ele veio agarrado aos destroços. É um bom menino e já foi promovido a nosso novo ajudante.

! - Mais um grumete! E como estão os feridos?

! -Estão ótimos, recuperando-se.

! - Hoje à noite vamos fazer um jantar para comemorar nossas vitórias e contar as novidades do Norte, disse o Capitão.

! Durante a tarde, fomos até a caverna visitar a “princesa”. Seu nome era Sarah, uma norte-americana. Tinha recebido permissão para passear conosco, e como não podia sair da ilha, era uma maneira de sentir-se livre, fora da prisão. Fomos nadar com os golfinhos e dessa vez não tive

receio, nem Sarah. Agarramo-nos em suas costas e lentamente eles saíram nadando. Nunca tinha experimentado uma sensação de tanta liberdade. Era algo maravilhoso estar numa ilha, nadando com golfinhos.

! - Brian, o que faremos se eles mergulharem?!

- Fechem os olhos, segurem-se e mergulhem também. Eles logo subirão para a superfície, pois sabem que não podemos

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O Encontro com Barba Negra

Page 30: A ilha dos piratas

ficar muito tempo em baixo d’água, além disso, não são peixes, mas mamíferos e também necessitam respirar.

! Fomos até a metade do trajeto entre a ilha e a praia de meu avô. Essa poderia ser uma maneira de escapar da ilha em caso de necessidade. Afinal, foram quase oitocentos metros transportados pelos golfinhos e com grande rapidez. Nenhum barco a remo poderia alcançar os golfinhos. No final da tarde levamos Sarah de volta para sua casa, na caverna.

Anoiteceu e o grupo reuniu-se na casa do Dr. James Ferguson. A maioria bebia rum, enquanto Brian preparava uma sopa de batatas com peixe. Barba Negra contava histórias recentes. Todos falavam ao mesmo tempo, riam muito...

- Capitão, conte o que aconteceu recentemente em sua cabine no Queen Ann´s Revenge?

- Ora, não foi nada, simplesmente dei uns tiros no escuro e Israel Hands foi ferido na perna! Foi um de meus acessos de loucura, quando penso ser o diabo!

Na realidade, o piloto, posteriormente, contou que estavam bebendo na cabine do capitão, quando viu que ele armava duas pistolas por baixo da mesa. Num certo momento, assoprou as velas e atirou no escuro contra os outros, ferindo Hands que ficou manco para sempre.

- Mas qual foi a razão desses tiros, capitão?

- Ora, vocês sabem que, de vez em quando, tenho de matar ou ferir alguém para vocês lembrarem-se de quem sou!

Nesse momento, encolhi-me no fundo da sala, louco de medo, mas não adiantou, Barba Negra me viu e perguntou:

- Quem é esse menino com a camisa do Charles King? Vejam, ela deve ainda estar furada do tiro que ele recebeu quando atacamos seu navio! Vire-se de costas!

Virei e o buraco estava lá, ele tinha razão. Eu não sabia que um homem tinha morrido com a minha camisa.

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Page 31: A ilha dos piratas

- Ele é o Gabriel Wilson, e apareceu na ilha. Talvez seja um náufrago!

- Bem, vamos levá-lo na próxima viagem para o Caribe. Vou ensiná-lo a ser um pirata de verdade, diferente desses desordeiros que navegam por aí, sem conhecimento do mar.

- E a questão do resgate da menina Sarah? Não chegou nenhum navio com as dez mil libras? A família dela pode pagar pelo resgate e espero que chegue a tempo. Caso contrário, ela vai virar comida de peixe.

Nesse momento o capitão Sam Bellamy comentou:

- Barba Negra, nosso código de ética proíbe que uma criança participe da tripulação. Quantos anos têm o Gabriel?

- Estou com treze anos, feitos na semana passada!

- Ora, ele já é um homem. Vai comigo e pronto! Treze anos já é considerado adulto para a vida no mar!

Senti que Brian ficou um pouco triste, pois estava há meses, esperando por essa oportunidade. Na realidade fiquei apavorado pensando no espelho. Como faria para voltar para casa?

- Meus capitães: que notícias nos trazem do Norte? Indagou Dr. James.

- A viagem foi um sucesso, embora tenhamos quase naufragado durante uma tempestade. Aliás, devo informar que me casei novamente, disse Barba Negra. Ela chama-se

Mary Ormond e tem dezesseis anos. Dessa vez o casamento teve validade, pois os outros treze, aparentemente não contaram. Vou finalmente, após a próxima viagem, morar na Inglaterra e ter uma vida calma com Mary.

No dia seguinte, Barba Negra chamou-me para que fosse até o navio. Ordenou que eu deveria manter o navio limpo, além

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Page 32: A ilha dos piratas

de servir pessoalmente a ele durante o tempo que ficássemos no mar. Queria que essa fosse sua última vez, navegando como pirata. Depois viria até a ilha buscar sua parte no tesouro e voltaria para a Inglaterra, para viver com todo o conforto. Sentia-se cansado e a bebida tinha consumido alguns anos de sua vida. Mostrou-me sua cabine, de uma incrível simplicidade para um grande pirata. Contou-me que durante as batalhas levava uma cartucheira em cruz, com três coldres para pistolas. Dessa maneira, podia atirar várias vezes sem precisar carregar. A seguir, ensinou-me a carregar as pistolas, pois deveria ajudá-lo nessa atividade perigosa.

Nesse momento prestei atenção na sua figura assustadora. Tinha a barba muito grande, amarrada em tranças, e quando puxadas para cima, podiam fazer a volta dos olhos. A face ficava toda peluda e horrível. Imaginei o medo de encontrá-lo no meio da noite.

Em sua cabine existia um espelho, igual aos outros. Perguntei:

- Capitão, eu encontrei outro espelho igual a esse na Ilha, de onde vieram?

- Eles foram retirados de um navio mal assombrado!

- Encontramos um navio sem tripulação, que navegava solto no mar. Pensamos que pudesse ter sido assaltado por outros piratas, mas estava tudo em ordem. Em uma sala existiam vários espelhos de cristal, assim como um altar cheio de oferendas, muito ouro e nenhuma comida, água ou ração.

Levamos o ouro e alguns espelhos para bordo e assim que nos afastamos ele desapareceu! Nunca soube o que aconteceu, mas era algo de magia. Outros navios encontraram com ele, sempre sem tripulação e nunca mais foi abordado pelo medo de fantasmas. Diziam que era um navio negreiro, os negros a bordo tinham se revoltado e assassinado toda a tripulação, e como não sabiam velejar, também morreram. Provavelmente, saltaram para o mar com visões de terra firme.

À tarde, encontrei Brian e fomos pescar com Sarah. Saímos de escaler e fisgamos diversos peixes. Sarah era muito delicada com Brian, demonstrando grande afeição. Em dado momento, ele foi à praia buscar uns anzóis e resolvi contar meu segredo para Sarah. Perguntei se desejava visitar minha casa, passando pelo espelho.

No final da tarde fomos até o espelho e de mãos dadas esfreguei o anel, de imediato fomos transportados para a sala de minha casa. Sarah estava com a sua roupa simples e rasgada. Resolvi conseguir algo melhor para que ela vestisse. Ainda bem que não tinha ninguém em casa. Fomos até o quintal do vizinho e pegamos emprestadas algumas roupas da Ana, filha do tio Mário. Tudo serviu direitinho! Sarah ficou linda!

Quando chegamos em casa, minha mãe estava lendo.

- Oi gente! Quem é sua nova amiga?

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Page 33: A ilha dos piratas

- Seu nome é Sarah! Ela chegou recentemente de Nova York e não fala português. Ficamos amigos na marina e viemos tomar um lanche.

- Sarah, essa é minha mãe, Mariana Wilson!

- Oi Sarah, seja bem vinda! Em breve vais conhecer o Timothy, pai do Gabriel. Ele foi ao supermercado. Aliás, vocês poderiam ir até lá para comprar um pouco de café, que me esqueci de pedir a ele.

Sarah ficou impressionada com tudo que viu. Nunca tinha entrado num supermercado moderno. Não sabia para que servia a maioria das coisas. Geladeiras, congeladores... Que modernidade, aqui nada estragava. Esse era um grande problema do passado, pois não tinham como conservar os mantimentos perecíveis, como a carne, o peixe, a manteiga, entre outros. Eu nunca tinha pensado no valor de uma geladeira!

Quando viu os automóveis, ficou assustadíssima! Pior foi quando um bimotor passou rasante pela praia! Imagine alguém que vive em 1700 e, num passe de magia, passa para o século 21? Comecei a achar que tinha feito algo muito errado, especialmente pelo fato de que ela estava se tornando mais velha desde que chegamos. Lembrei-me do livro “Horizonte Perdido”. Resolvi não perder tempo: levei-a para frente do espelho e esfreguei o anel, antes que ficasse uma velha.

Voltamos para o barco. Ela não se deu conta do episódio de visitar o futuro. Lógico, voltar para o passado e retornar para o futuro é um fato que se pode lembrar, mas o contrário não! Brian chegou com os anzóis e lançamos a linha no mar. Logo foi mordida por um bagre.

- Cuidado, disse Brian, pois eles têm um ferrão que dói quando fura a pele. Não é um bom peixe. Vamos tentar uma garoupa perto das pedras!

Quando anoiteceu voltei para casa pelo meu túnel do tempo: o anel e o espelho!

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Page 34: A ilha dos piratas

CAPÍTULO 8

OS ÍNDIOS TUPIS

OS ÍNDIOS HABITAVAM A ILHA DE FLORIANÓPOLIS E ERAM BRAVOS

GUERREIROS.

COSTUMAVAM ATACAR OS BRANCOS E NATURALMENTE QUE AOS

PIRATAS TAMBÉM.

BASTAVA QUE FOSSEM AVISTADOS PARA INICIAREM A ATIRAR FLECHAS

ENVENENADAS...

Page 35: A ilha dos piratas

Após o café, fui caminhar na praia com meu avô. Ele estava inspirado naquela manhã, procurando sempre ensinar-me algo de novo.

! - Gabriel, você sabe quem foram os primeiros homens a chegar a Florianópolis? Pois foram os índios! Inicialmente eram índios que catavam conchas e existem rastros deles em verdadeiras dunas de pequenas conchas que chamamos de “sambaquis”. Esse é um termo da língua dos índios tupis e quer dizer “concheiros” ou depósitos de conchas construídos pelo homem. A diferença de hábitos culturais e alimentares levou os estudiosos à conclusão de que os sambaquis eram obra de uma sociedade distinta daquela dos tupis-guaranis, que depois povoaram toda a região costeira do país. Estudos recentes sugerem que os sambaquis tenham sido produzidos por povos que viveram na costa brasileira entre dois e oito mil anos antes do presente. Os mortos enterrados nos sambaquis eram enfeitados com objetos que resistiam ao tempo. É comum encontrar, entre os esqueletos, dentes e ossos de animais como tubarões, macacos, porcos-do-mato, assim como conchas trabalhadas, que formavam colares.

Outros objetos, como pontas de osso e lâminas de machado, também são achados.

- Os tupis-guaranis foram o segundo grupo indígena que morou na região, sendo que eram chamados de carijós pelos brancos europeus.

- Os primeiros civilizados a instalarem-se por aqui foram desertores e náufragos de expedições marítimas. Entretanto, a fundação da cidade de Florianópolis aconteceu em 1675 com o bandeirante Francisco Dias Velho, que veio com a família e muitos índios domesticados, mas foi morto por piratas holandeses. Ele construiu uma igreja e iniciou a agricultura rudimentar. A população decaiu em número e em 1712 havia somente 147 brancos moradores da ilha.- Os portugueses que depois chegaram à região sul do Brasil eram provenientes da ilha dos Açores. Lá a população estava crescendo muito, tendo parte sido enviada para o Brasil onde existia muito espaço para morar e produzir. Muitos vieram para o Rio Grande do Sul, fundando o Porto dos Casais, chamado posteriormente de Porto Alegre. Outros foram para a Ilha de Florianópolis.- Gabiroba, os tupis eram um povo guerreiro, defendiam sua tribo e seus amores. Quando eu era jovem tinha muita curiosidade sobre os índios. Naquela época passava as férias em Torres, no Rio Grande do Sul.

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Os Índios Tupis

Page 36: A ilha dos piratas

Em Torres de São Domingos

Antes de chegarem os gringos

Viviam os índios Tupi

Haviam lutas de morte

Quando o amor era forte

Por bela índia ou por Jaci

O mais forte era Kalua

Amava Jaci, a lua

Quando ela surgia no céu

Mau e traiçoeiro era Katú

Dizem que pior que urubú

Procurando carniça

Brigaram de vida ou morte

Fizeram uma aposta

Nadar ida e volta até a Ilha

Quem chegasse primeiro na costa

Ficava com amor de Jaci

Maravilha!

A noite caiu

Os dois iniciaram a nadar

Sereias surgiram no mar

Kalua não viu

Movia-se sem olhar

Pensamento em Jaci

Katú foi envolvido

Pelo canto mavioso

Dessas mulheres do mar

Que tantos fizeram afundar

No oceano nervoso

Kalua continou

Na Ilha dos Lobos chegou

Voltou rápido

Pelo amor guiado

Sem notar a morte ao lado

A tragédia no mar

Katú nadava com a sereia

Nunca mais foi visto

Não chegou na areia

Kalua na praia deitado

Em noite de lua cheia

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Page 37: A ilha dos piratas

Dei-me conta de que quando os piratas estavam na ilha do Francês já existiam outros brancos, e inclusive índios selvagens na Ilha de Florianópolis. A Ilha do Francês era muito pequena e localizada na costa dessa ilha maior, que posteriormente tornou-se capital do Estado de Santa Catarina.!

Também me lembrei de algo curioso. Tomei leite com Brian na casa do Dr. Fergusson! Como é que tinham leite se não existiam vacas na ilha? Deveria haver uma explicação para isso! Ainda mais, como nunca tinham sido importunados pelos portugueses, já que eles também andavam por lá?

Estava com uma série de dúvidas. Depois de passear com meu avô, esfreguei o anel e voltei para a companhia de Brian e Sarah. Ambos estavam na beira da praia, com os golfinhos.

! - Olá pessoal, como estão as coisas? Brian, tenho uma pergunta a fazer: como temos leite na Ilha sem que existam vacas?

! Ele riu e perguntou:

! - Você nunca atravessou para o outro lado? Vamos até lá e ficarás encantado com nossos animais.

! Fomos de escaler e cheguei pela primeira vez à região onde minha família moraria no futuro, embora nada existisse nessa época. A praia era linda, bem na frente da Ilha do Francês. Identificávamos, ao longe, os dois navios atracados no trapiche. Ao sair do mar, avistamos dois cavalos pastando.

! - Oh! Aqui estão Branca e Brown! Esses são os nossos cavalos, e vamos montar para procurar o gado.

- Nunca tinha visto animais tão mansos. Passamos uma corda no pescoço, montei em Branca e meus amigos em Brown.

Galopamos na praia, espantando gaivotas. Que delícia! Ao longe vimos outros animais pastando. Eram duas vacas, um touro e vários terneiros.

- Essa é a fonte de nosso leite, disse Brian. Esses animais foram “doados” pelos portugueses que vivem mais ao Sul. Os piratas fizeram uma visita de “cortesia” e trouxeram os

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Page 38: A ilha dos piratas

animais de barco para cá, mas consta que torturaram e roubaram o comandante da localidade. Os portugueses nem sonham que estamos tão perto, pois é uma jornada de três horas a cavalo de onde estão. No entanto, entre eles e esse lugar existe uma tribo de índios carijós que não permitiria a aproximação dos portugueses.

Voltamos no final da tarde à Ilha com três galões de leite. Passamos por um sambaqui e, ao longe, por uma aldeia de carijós.

- Gabriel, nunca se aproxime da aldeia! Os índios são selvagens e não sabemos sua reação! Certa vez atacaram alguns piratas que tinham vindo tirar leite. Mataram um deles, mas no final foram dispersos à bala! Os piratas são mais agressivos e suas armas mais poderosas do que as lanças ou flechas. Os carijós ficaram com medo do confronto.

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Máscara de Guerra dos Índios Carijós

Page 39: A ilha dos piratas

CAPÍTULO 9

VELEJANDO NO QUEENS ANNE'S

REVENGE

ESSA FOI UMA VIAGEM SEM VOLTA, POIS GABRIEL CONSEGUIU FUGIR

PARA CASA PELO ESPELHO MÁGICO!

ENTRE OS PIRATAS ACONTECERAM VIOLÊNCIAS INCRÍVEIS, ENTRE SI E

CONTRA A TRIPULAÇÃO DE OUTROS NAVIOS.

TERMINARAM MAL E TODOS FORAM MORTOS PELOS MARINHEIROS DO COMANDANTE ROBERT MAYARD DA MARINHA REAL BRITÂNICA.

Page 40: A ilha dos piratas

Saímos ao nascer do sol. Na praia, ficaram Sarah e Brian abanando. Barba Negra ainda estava um pouco adormecido pela bebida. O navio levava vinte marinheiros, perto dos atuais, era uma casquinha de noz. Navegamos sem ver a costa e nenhuma embarcação. Paramos no quarto dia na foz de um rio, para abastecer o barco de bananas e abacaxis deliciosos. Alguns índios aproximaram-se e foram rechaçados com tiros pelo capitão.

Enfim, chegou o dia em que avistamos velas no horizonte. O navio era grande, bem maior do que o nosso, mas era mercante e não seria difícil abordá-lo. O capitão aproximou-se com uma bandeira inglesa e quando estava à distância de um tiro, levantou a bandeira negra e abriu as portinholas dos canhões, disparando dez tiros. Foi uma fumaceira e o navio rendeu-se com facilidade. Barba Negra saltou a bordo com dez homens e vistoriou a embarcação, encontrando uma carga de açúcar e barris de vinho. Trouxe metade para seu navio e dispensou os coitados. Mais adiante, encontramos outro navio que foi também depenado, tendo levado uma carga de tiros que o deixou sem mastro. Nesse conseguiram

um carregamento de munição, material muito cobiçado pelos piratas, além de uma arca com moedas de prata. Passou os tripulantes para seu barco, pois demonstraram vontade de trabalhar para o pirata e afundou a nau.

Um cheiro ruim tinha surgido a bordo, pela falta de higiene da tripulação. Por mais que lavasse o “deck”, sempre permanecia sujo, enquanto os homens ficavam a cada dia, mais “cheirosos”. Até que chegamos a um rio, com uma ilha que poderia servir de abrigo. Barba Negra resolveu parar para limpeza do barco e abastecimento de água. Lá existia uma população de antigos escravos que mantinham provisões para vender ou trocar com os navios.

! Passado alguns dias, Barba Negra encontrou-se com o “Scaraborough”, navio de guerra de quarenta canhões. Iniciaram uma batalha em que não houve vencedor. Seguimos caminho em retirada e encontramos com outros piratas comandados por um tal major Bonet. Esse foi um homem de bem na ilha de Barbados, transformando-se posteriormente em pirata. Não entendia nada de navegação, Barba Negra tomou seu navio e convidou-o a ser seu hóspede no Revenge. Outro navio que foi incorporado na caravana de Barba Negra foi o “Adventure”. Esse foi entregue a Israels Hands, aquele que levou o tiro na perna...

! Poucos dias após, foi a vez do navio “Protestant Caesar”, que foi abordado pela frota pirata. A tripulação abandonou o barco em chamas, sendo capturada. Outras duas pequenas chalupas foram equipadas com canhões e

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Velejando no Queens Anne´s Revenge

Page 41: A ilha dos piratas

seguiram para Havana e depois para as Carolinas. No caminho fizeram estragos em diversos navios, mas sem luta armada. Na Carolina, Barba Negra mandou mensagem ao governador, anunciando que necessitava de medicamentos. Foi atendido, embora a população tenha ficado indignada, vendo os piratas passear pelas ruas sem nenhum respeito e quase todos bêbados. Barba Negra partiu logo que recebeu os medicamentos e alguns milhares de libras, para não destruir a cidade.

! Passados alguns dias, ouvimos uma salva de canhões. Aproximava-se o Whydah. Era o Capitão Sam Bellamy! Uma festa de comemoração aconteceu no Whydah, entre os sócios da Ilha do Francês. No entanto, os capitões não sabiam que estavam sendo caçados por navios armados pelos governos locais, desgostosos de verem seu comércio paralisado devido à ação dos piratas.

Uma tempestade iniciou no final da tarde. O mar ficou calmo e à noite uma névoa cobriu os barcos que se mantinham próximos, numa pequena baia. Pela manhã não se ouvia nada. Todos dormiam quando o sol apareceu

abrindo um dia luminoso. O Whydah afastou-se, enquanto Barba Negra e eu tomávamos chá com bolachas. Recebi ordens de deixar tudo arrumado para receber a nova esposa do capitão, que subiria a bordo no próximo dia.

A nova esposa de Barba Negra era uma menina, pouco mais velha do que eu! Possivelmente tenha sido comprada pelo pirata ou era sobrevivente de algum navio assaltado. Instalou-se na cabine do Capitão e pouco saía de lá. Já sabia que pretendiam morar na Inglaterra após essa última temporada, não sem antes irem até a Ilha buscar sua parte no tesouro.

Ficamos alguns dias atracados nessa pequena ilha do Caribe. Os homens passavam o dia jogando cartas e bebendo, enquanto eu ajudava na limpeza do navio.

Presenciei o mau humor do capitão, durante um jogo de cartas. Puxou um punhal (espécie de faca pontuda) e cravou na mão de um pirata, quando esse puxava uma carta do baralho. A mão ficou presa na mesa e o homem gritava como um porco.

- Isso é para você parar de roubar no jogo! Retirem o John Todd daqui! Agradeça por não ter morrido!

O homem saiu aos berros, apoiado nos companheiros e com a mão sangrando muito. Logo amarraram um pano no braço

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Page 42: A ilha dos piratas

para estancar o sangue e fizeram um curativo, mas o sangue continuava a gotejar através do mesmo. Será que ele vai morrer por falta de sangue?

No outro dia estava tudo bem. John melhorou e com o passar do tempo ficou somente com uma cicatriz de um furo no meio da mão.

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Page 43: A ilha dos piratas

CAPÍTULO 10

O RESGATE DE SARAH

FINALMENTE O PAI DE SARAH CONSEGUIU SABER O LOCAL ONDE

ESTAVA SUA FILHA.

SEGUIU BARBA NEGRA POR MESES.CADA INFORMAÇÃO QUE TINHA DO

PIRATA FAZIA-O CHEGAR MAIS PERTO DA SUA FILHA.

TENTOU PAGAR UM RESGATE, MAS O PIRATA FUGIU…

PROCUROU NÃO ENFRENTAR BARBA NEGRA NO MAR, MAS ESPEROU ATÉ

QUE A ILHA ESTIVESSE DESPROTEGIDA E ATACOU!

NÃO HOUVE REAÇÃO...

Page 44: A ilha dos piratas

Já estava com saudade de casa e da Ilha. Passei na frente do espelho de Barba Negra e esfreguei o anel. Quando me dei conta, estava na praia e Sarah brincava com os golfinhos.

- Olá Gabriel. Sabias que ontem foi o batizado do filhinho de Mary e Tom? Brian e eu organizamos uma festinha com peixes frescos e demos o nome de Blue para o pequeno, pois ele é quase azul.

Nesse momento, Brian gritou de cima do coqueiro:

- Velas à vista!

Foi uma correria na ilha, pois não poderia ser nem Barba Negra nem o capitão Sam Belamy, tendo em vista que recém tinham navegado para o Norte. Eles levariam pelo menos uns quatro meses para voltar.

- São quatro navios e não são dos nossos! A bandeira é norte-americana!

Nesse momento, Sarah segurou-me pela mão e entramos na floresta.

- Deve ser meu pai que veio me resgatar! Não posso ir para a caverna. Temos de chegar no escaler e sair da ilha!

Corremos pela trilha que dava na baía onde pescávamos. Chegamos ofegantes e lá encontramos Brian.

- Sabia que vocês viriam para cá! São os navios de seu pai, sem dúvida, além disso, eles estão muito próximos.

- Sarah nós não vamos de escaler. Vamos com os golfinhos. Eles são mais rápidos e vão nos tirar da ilha. Vou com você, pois não tenho família!

Abraçaram-se e ela disse:

- Você é da minha família!

Corremos para a entrada da caverna e chamamos na água por Tom e Mary. Em segundos eles surgiram e os amigos agarraram-se com firmeza em suas costas. Antes disso, Sarah aproximou-se e deu-me um abraço apertado e um beijo. Brian despediu-se também, desejando boa sorte.

-Volte para sua casa Gabriel! Nós vamos para a nossa, disse Sarah.

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O Resgate de Sarah

Page 45: A ilha dos piratas

Os golfinhos partiram como uma flecha mar adentro, em direção a um navio que se aproximava da Ilha. Já tinham disparado um tiro quando viram os golfinhos.

- Suspender a artilharia! Era a voz do pai de Sarah.

Baixaram um escaler para recolher os dois. Enquanto isso, os outros navios tinham cercado a ilha.

Da parte dos piratas, nada aconteceu. James Ferguson deu ordens para ninguém aparecer. A superioridade dos outros era grande. Além disso, tinham visto a fuga de Sarah e Brian no lombo dos golfinhos.

- Sabem que estou feliz por isso ter terminado? Disse o médico pirata para Thomas, o marceneiro.

- Não é certo o que os capitães estavam fazendo com essa menina. Sabia que iria dar nisso, pois ela não é uma menina comum. Além de ser inteligente, seu pai é muito poderoso e não deixaria a situação ficar assim. Só não sei como nos descobriram! Fico também feliz pelo Brian, pois é um bom menino e acho que os dois têm muita afeição um pelo outro. Garanto que fazem um belo par e quem sabe o que o futuro lhes reserva?

Vi quando Sarah e Brian chegaram ao convés e foram recebidos pelo pai de Sarah. Em seguida, o navio fez a volta na Ilha e seguiu rumo ao norte na companhia dos demais. Deram antes vários tiros em direção ao continente. Missão cumprida!

Entrei na casa do Dr. James e parei na frente do espelho. Estava me preparando para viajar no tempo, quando ele me interceptou:

- Gabriel, você também tem um segredo que não sei bem o que é, mas você não pertence a essa Ilha. Sei que consegue sair daqui mais rápido que seus amigos, e quero dar-lhe um conselho de um velho médico. Vá para sua casa também. Faça como Sarah e Brian e não volte mais aqui. Esse não é um lugar para vocês. Na realidade, todos eram nossos prisioneiros! Vá atrás de seus sonhos, mas lembre sempre do que aprendeu com os piratas.

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Page 46: A ilha dos piratas

Esfreguei o anel e quando dei-me conta estava sentado na sala de minha casa.

Minha mãe chegou por trás e me deu um abraço e um beijo.

- Gabi, estou com saudade de você! Parece até que estavas viajando?

Meu pai, também concordou:

- Acho que tens toda a razão! Gabriel tem estado muito ausente. Acho que nem sabe da novidade?

- Gabiroba, sua mãe está esperando um bebê. Você vai ter um irmão, disse meu avô. Seu nome será Thomas!

Era tudo que eu queria na vida! Um irmão para me acompanhar nas aventuras...

- Gente, essas férias foram muito especiais para todos. Vou ficar mais em casa e cuidar de todos vocês. Só não quero mais jogar cartas, pois fiquei com um mau pressentimento após um sonho que tive.

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Page 47: A ilha dos piratas

CAPÍTULO 11

O FIM DOS CAPITÃES

GABRIEL DESCOBRIU O QUE ACONTECEU COM OS PIRATAS QUANDO

TERMINOU DE LER O SEU LIVRO.

BARBA NEGRA MORREU EM SANGRENTA BATALHA COM UM

COMANDANTE DA MARINHA REAL QUANDO SEU BARCO QUASE AFUNDOU NUM BANCO DE AREIA PERTO DA PRAIA.

OS MARINHEIROS ESCONDERAM-SE NO BARCO DA MARINHA E QUANDO OS PIRATAS ASSALTARAM O TIROTEIO

INICIOU.

NA LUTA PESSOAL, BARBA NEGRA LEVOU A PIOR SENDO MORTO PELAS

COSTAS.

Page 48: A ilha dos piratas

Estava exausto das aventuras e deixei passar uns dias antes de voltar ao livro dos piratas. Precisava saber o que tinha acontecido com Barba Negra, Sam Bellamy e seus barcos.

Cheguei ao último capítulo do livro, assim como esse era também meu último capítulo da aventura no passado. Não pretendia voltar para a Ilha, nem para a companhia de Barba Negra.

O livro contava que no final de 1718, Barba Negra chegou com sua tripulação na ilha de Ocracoke na Carolina do Norte, onde organizou uma grande festa de piratas com fogueiras, danças e bebidas. A novidade chegou ao governador da Virgínia, Alexander Spotswood que decidiu destruir Barba Negra, tendo dado ordens para o comandante Robert Mayard da Marinha Real de Ocracoke, ir atrás com dois barcos leves. Esperaram os outros piratas afastarem-se e surgiram atirando.

Barba Negra sentiu-se encurralado entre os bancos de areia existentes no mar e os navios. Pela manhã, a maré encheria e os barcos mais leves atacariam Barba Negra. Palavrões e risadas ouviam-se durante a noite. O pirata não estava preocupado como a batalha, ao contrário de sua tripulação. Eles iniciaram os preparativos, trazendo toda a munição dos

porões, molhando lençóis para apagar o fogo caso acontecesse, assim como espalharam areia no chão para estancar o sangue, em última necessidade.

Dizem que um dos piratas, achando que todos iriam morrer perguntou para Barba Negra se sua esposa sabia onde ele escondia seu tesouro. A resposta foi de que somente ele e o demônio conheciam a direção da Ilha do Tesouro, e quem estivesse vivo no final do dia poderia ficar com ele. Era só perguntar ao diabo.

Pela manhã, Barba Negra não tentou atacar. Os barcos inimigos conseguiram flutuar e atacaram o pirata. Esse ordenou içar velas e dirigiu seu barco contra a praia. Com

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O Fim dos Capitães

Page 49: A ilha dos piratas

muita destreza Barba Negra navegou por um canal muito estreito entre a praia e os bancos de areia pouco visíveis. Os navios que o perseguiam bateram nesses bancos e os piratas atiraram contra as duas embarcações. A seguir, o navio pirata moveu-se para trás e ficou preso na areia.

Um dos barcos de Maynard estava destruído. No outro, o comandante ordenou que jogassem fora tudo de pesado,

como barris de água e caixas com comida e bebida. Deu certo. O navio que estava preso flutuou livremente e aproximou-se do barco pirata com toda a tripulação abaixada, escondida no “deck”. Os piratas acharam que todos estavam mortos e abordaram o navio facilmente.

Foi uma surpresa quando Maynard e seus homens se levantaram e começaram a atirar. Barba Negra, com uma pistola na mão e a espada na outra, ficou face a face com Maynard. Os dois atiraram, mas Barba Negra errou o alvo. Ferido, continuou a lutar, quando Maynard escorregou e ficou em posição difícil. Barba Negra ergueu a espada para o golpe final, mas um marinheiro veio por trás e cortou sua garganta.

Como exemplo para outros piratas, a cabeça de Barba Negra foi cortada e pendurada no barco de Maynard. A localização da Ilha nunca foi revelada, pois todos morreram e os que não morreram, não sabiam a rota para lá chegar. Somente os capitães e os piratas mais graduados poderiam localizar o tesouro.

Sam Bellamy, que não estava junto nessa batalha, também morreu semanas após, com toda sua tripulação, durante forte tempestade.

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Page 50: A ilha dos piratas

A Ilha do Francês ficou isolada. Provavelmente, a colônia de velhos piratas extinguiu-se ao longo dos anos, sem que ninguém soubesse quem viveu naquela pequena Ilha de Florianópolis.

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