a ideologia do grafite urbano (hellen fernandes)
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Este trabalho tem como objetivo analisar a abordagem ideológica do grafite urbano. Inicia-se com a pesquisa de sua origem desde os tempos remotos até o período contemporâneo, na revolução estudantil de Paris, na década de sessenta. Sua chegada aos Estados Unidos acompanhado do movimento hip-hop e surte grande repercussão nos bairros periféricos de Nova Iorque. Na década de setenta surge no Brasil durante a ditadura e age como forma de protesto. Examina-se como ele pode refletir a realidade do meio no qual ele é gerado e sua evolução, até os dias de hoje, considerado uma forma de arte democrática. Como se deu esse desenvolvimento e qual a ideologia abordada por alguns grafiteiros da cidade de Sorocaba-SP, em especial, analisei algumas imagens do grafiteiro Will, que aborda comportamentos e atitudes do ser humano - para ele, essas atitudes são resultantes de regras impostas pela sociedade na qual se está inserido. A ideologia representada por cada grafiteiro será definida por sua forma de enxergar a sociedade à sua volta, a consolidação de suas posições e opiniões irá definir a ideologia defendida por esses artistas.Palavras-Chaves: Grafite, Ideologia, Arte, Cultura.TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE DE SOROCABA
PRÓ-REITORIA ACADÊMICA
CURSO DE LETRAS PORTUGUÊS E INGLÊS
Hellen Fernandes
A IDEOLOGIA DO GRAFITE URBANO
SOROCABA/SP
2012
Hellen Fernandes
A IDEOLOGIA DO GRAFITE URBANO
Orientador: Prof. Dr. Luiz Fernando Gomes
SOROCABA/SP
2012
Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como requisito parcial para a obtenção do Diploma de Graduação em Letras Português e Inglês, da Universidade de Sorocaba.
Hellen Fernandes
A IDEOLOGIA DO GRAFITE URBANO
Aprovado em: BANCA EXAMINADORA:
Ass. ______________________________
1º examinador ______________________
Ass. ______________________________
2º.examinador ______________________
Ass. ______________________________
3º.examinador ______________________
Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como requisito parcial para a obtenção do Diploma de Graduação em Letras Português e Inglês, da Universidade de Sorocaba.
Dedico este trabalho à minha família
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por ter me sustentado em todos os momentos de minha
vida.
À minha família que me apoiou e cooperou durante todo o curso. Aos amigos
que influenciaram de maneira direta e indireta para a conclusão deste trabalho.
A todos os meus professores da UNISO que marcaram minha vida e
contribuíram para minha formação.
Ao querido Prof. Luiz Fernando, que me orientou tão sabiamente.
Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância
(Sócrates)
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo analisar a abordagem ideológica do grafite
urbano. Inicia-se com a pesquisa de sua origem desde os tempos remotos até o
período contemporâneo, na revolução estudantil de Paris, na década de sessenta.
Sua chegada aos Estados Unidos acompanhado do movimento hip-hop e surte
grande repercussão nos bairros periféricos de Nova Iorque. Na década de setenta
surge no Brasil durante a ditadura e age como forma de protesto. Examina-se como
ele pode refletir a realidade do meio no qual ele é gerado e sua evolução, até os dias
de hoje, considerado uma forma de arte democrática. Como se deu esse
desenvolvimento e qual a ideologia abordada por alguns grafiteiros da cidade de
Sorocaba-SP, em especial, analisei algumas imagens do grafiteiro Will, que aborda
comportamentos e atitudes do ser humano - para ele, essas atitudes são resultantes
de regras impostas pela sociedade na qual se está inserido. A ideologia
representada por cada grafiteiro será definida por sua forma de enxergar a
sociedade à sua volta, a consolidação de suas posições e opiniões irá definir a
ideologia defendida por esses artistas.
Palavras-Chaves: Grafite, Ideologia, Arte, Cultura.
ABSTRACT
This study aims to analyze the ideological approach of urban graffiti. It begins
with the search for its origin from ancient times to the contemporary period, the
student revolution in Paris in the sixties. Reaches the United States accompanied by
hip-hop freak and great repercussion in the suburbs of New York. In the seventies
arrives in Brazil during the dictatorship and acts as a form of protest. It examines how
it can reflect the reality of the environment in which it is generated and its evolution to
the present day, considered a democratic art form. How did this development and
which ideology approached by some graffiti in the city of Sorocaba-SP.
Key Words: Graffiti, Ideology, Arts Culture.
LISTA DE FIGURAS Figura 1 Grafite da série "esgotos" – São Paulo ...................................... 12
Figura 2 Grafite em São Paulo, Marcela Besson ......................................... 13
Figura 3 Grafite feito pelos irmãos "Os Gêmeos"...................................... 14 Figura 4 Bask, 323, East, Detroit “Nos crimes de seus pensamentos” ... 15 Figura 5 Máscaras – Will .............................................................................. 16 Figura 6 Imagem no estilo Bomb ................................................................ 18 Figura 7 Muro de Berlim ................................................................................ 25 Figura 8 Grafite "Os gêmeos" ...................................................................... 27
Figura 9 Grafite Will - Muro de uma escola ................................................ 30
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 9
1.2 Justificativa ................................................................................................................................ 9
1.3 Objetivo .....................................................................................................................................10
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................................11
2.1 Grafite .......................................................................................................................................11
2.2 Estilos de Grafite ......................................................................................................................16
2.2.1 Grafite e hip-hop ...................................................................................................................18
2.2.2 Grafite no Brasil ....................................................................................................................21
2.3 Grafite x pichação ..................................................................................................................22
2.4 Ideologia ..................................................................................................................................23
2.4.1 Luta de classes .....................................................................................................................26
3 METODOLOGIA ........................................................................................................................28
4 ANÁLISE DE DADOS ................................................................................................................29
4.1 Grafite na escola ......................................................................................................................30
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................31
REFERÊNCIAS ..............................................................................................................................33
9
1 INTRODUÇÃO
O grafite urbano tem tomado grandes proporções em todo o mundo.
Pesquisar sua origem é de fato indispensável para entender essa arte que vêm
assumindo papel de grande importância na sociedade. Entender o panorama
ideológico que o permeia e seu processo cultural desde sua origem contemporânea,
por meados dos anos 60 faz com que entendamos um pouco mais sobre sua
intencionalidade por meio de seu discurso.
Quais são as abordagens usadas por grafiteiros, em especial, da cidade de
Sorocaba e qual a ideologia que eles pregam por meio de seus desenhos. Como
isso afeta a sociedade e como a sociedade influencia o meio de produção. De que
maneira é consolidada a ideologia que os artistas tomam por base para exprimir
seus ideais.
A análise de algumas imagens de grafites espalhados por ruas da cidade de
Sorocaba será uma forma de me aprofundar melhor no tema escolhido, e entender
as diferentes formas de expressão através do grafite.
1.2 Justificativa
A escolha do tema deu-se pelo interesse em entender e decifrar as imagens
impressas nos muros de cidades urbanas, em especial, da cidade de Sorocaba. O
número de grafites espalhados em vários pontos da cidade vem crescido, e por esse
motivo, o efeito dessa arte expressa torna-se maior.
Ao observar alguns grafites e não entender ao certo o que aquela imagem
expressava, um grande questionamento em relação à sua produção foi gerado, a
curiosidade em entender o que os autores querem expressar, e qual a ideologia que
eles defendem.
Para essa pesquisa, observei imagens e fotos de vários grafites, de diferentes
autores ao redor do mundo, analisando como o meio pode influenciar o processo de
10
produção - e em especial, do grafiteiro sorocabano Will, conhecido por seus
desenhos que mostram o homem como uma máquina. Suas obras estão localizadas
em diferentes pontos da cidade, a grande maioria na Zona Norte da cidade. Procurei
analisar como a ideologia do autor pode interferir em suas produções.
1.3 Objetivo
A Ideologia do Grafite têm como objetivo abordar o Grafite Urbano
contemporâneo como meio de manifestação ideológica, os aspectos históricos que
influenciaram sua consolidação, explorar seu processo cultural e discurso através do
desenho e texto, sua intencionalidade e os efeitos causados na sociedade por meio
do grafite urbano.
11
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Este capítulo tem por finalidade abordar o início do grafite, desde suas
criações mais remotas (pinturas rupestres) até o período atual; como essa atividade
consolidou-se com o tempo e quais as mudanças e/ou alterações sofridas em sua
prática. Em sua fase atual (contemporânea) quais são as ideologias tomadas por
artistas, em especial, da cidade de Sorocaba – qual é o impacto desses desenhos e
frases espalhados em diversos pontos da cidade na sociedade.
2.1 Grafite
O termo grafite veio do Grego graphien que inicialmente significava sulcar,
arranhar. Como era desta maneira que se escrevia em tabletes de argila, o sentido
da palavra passou a escrever e hoje compõe outras como caligrafia, datilografia e
estenografia. Em 1904, foi lançada a primeira revista a abordar o grafite de banheiro:
Antropophytea. Esteve presente durante a segunda guerra mundial, com os nazistas
que utilizavam de inscrições em muros como meio de propaganda para provocar o
ódio contra os judeus e demais divergentes (GANZ, 2010, p.9). Na década de
setenta, o grafite esteve presente em manifestações estudantis, distribuído em
muros e cartazes, carregado de ideias ideológicas. Em seu processo de maturação
e a chegada aos Estados Unidos, o grafite ganhou forças e associou-se ao
movimento Hip-Hop nos bairros da periferia de Nova Iorque. Com a disputa de
gangues por territórios, a imagem do grafite logo esteve vinculada a marginalização
e assim se manteve por muito tempo. Chega ao Brasil com a mesma contestação
durante a ditadura militar.
O Grafite é uma arte gráfica de comunicação visual, capaz de transmitir
mensagens através de símbolos, letras e desenhos elaborados, a partir de um
repertório simbólico, que pode ser comum à sociedade geral ou de conhecimento
restrito a grupos específicos. Sua compreensão depende também de sua
elaboração. A leitura pode ser clara e entendida, quando sua finalidade é transmitir
12
ideias especificas, em alguns casos sua leitura procede apenas do imaginário de
cada sujeito, quando não se é possível decifrar códigos e letras contidos no grafite.
O impacto visual causado por essa miscelânea de cores altera a estética da
cidade e gera diferentes posições acerca dessa modalidade artística. Geralmente a
criação tem como suporte muros, metrôs ou em estabelecimentos onde é permitida
sua elaboração. Na imagem abaixo, a rua serviu como suporte para o grafite. A
tampa de bueiro torna-se então uma imagem colorida e criativa.
Figura 2- Grafite da série "esgotos" – São Paulo
Fonte: http://mesquita.blog.br/arte-pintura-grafite-4.
Obs.: Nota-se a alteração do cenário original
Nessa outra imagem, a estação de metrô foi a base utilizada para o grafiteiro
Rui Amaral compor seu trabalho. As cores misturam-se ao cinza da rua e
consecutivamente o cenário original é alterado.
13
Figura 3 - Grafite em São Paulo, Marcela Besson
Fonte: http://vejasp.abril.com.br/materia/grafites-em-sao-paulo Obs.: O Metrô recebe novos desenhos e formas, sendo assim, alterado o cenário original por meio do grafite.
O grafite urbano, geralmente é uma atividade exercida principalmente por
uma minoria social composta por jovens menos favorecidos financeiramente.
Embora autoral, o grafite é arte democrática, uma vez que exposto a toda população
sem distinção ou restrição. A noção de posse da obra é eliminada, e também levanta
questões sobre de quem é a cidade.
Por muito tempo o grafite esteve ligado aos bairros e sujeitos periféricos,
entretanto, nos últimos anos essa característica tem tomado novas dimensões com
a difusão dessa arte. Muitos jovens de classe média alta tem se interessado por
essa atividade por ser esse um meio de comunicação, expressão e arte, deixando
essa de ser somente um ato considerado então de vandalismo para se tornar arte
democrática.
Um exemplo dessa redefinição pode ser visto por meio das obras dos irmãos
“Os Gêmeos”. Nascidos em São Paulo, Otávio e Gustavo Pandolfo são formados em
desenho de comunicação, começaram a pintar grafites em 1987, no bairro do
Cambuci. O trabalho da dupla pode ser encontrado por diversas cidades ao redor do
mundo.
14
Figura 4 - Grafite feito pelos irmãos "Os Gêmeos"
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Os_Gêmeos Obs.: Em um prédio da cidade de São Paulo. A imagem chama a atenção por suas Proporções e cores. Funde-se ao cinza da cidade, o que altera a estética original do lugar.
“A pintura feita nas ruas e as criações feitas para obras e instalações em galerias partem do mesmo mundo onírico que existe dentro da mente da dupla, mas tomam rumos distintos. A primeira é o próprio dialogo dos artistas com as ruas, com cada pessoa que passa e de forma direta ou indireta interage com a pintura, isso é o grafite. A segunda é a materialização de sonhos, ideais, críticas sociais e políticas que retratam o universo vivido dentro em contraste com que se apresenta fora no dia-a-dia dos próprios irmãos. No momento em que todas estas ideias entram em uma galeria, elas deixam de pertencer ao grafite e passam a fazer parte do mundo que envolve a arte contemporânea”. (RALSTON, 2011)
Um olhar mais atento permite concluir que o grafite feito pelos irmãos
mantém pouca semelhança com aquele feito no início da década de sessenta, no
bairro do Bronx. Pode-se notar a identidade de cada grafiteiro por meio de seus
traços. Em suas artes são embutidas características pessoais, o que permite que o
grafite aja como meio identificação. No caso dos irmãos, o grafite pode ser
identificado pelo uso do traço fino. "O jeito de a gente usar o spray, a linha, o
contorno...", explica Gustavo. "A gente faz fininho -- isso também é estilo nosso".
Essa arte está sujeita a influências culturais que acabam moldando suas
características. Outro exemplo dessa influência pode ser notada na obra do grafiteiro
15
Bask. “Quando tinha oito anos, o tcheco Bask fugiu do regime comunista com sua
família para os EUA, se inspirou em culturas e paisagens urbanas e adotou ideias de
estilos convencionais para criar seu próprio estilo de pós-grafite”. Suas imagens
geralmente têm um elemento político ou social. (GANZ, p.31).
Figura 5 - Bask, 323, East, Detroit – “Nos crimes de seus pensamentos”.
Fonte: http://baskinyourthoughtcrimes.com Obs.: Essa é uma das expressões usadas por Bask para ilustrar sua ideologia
Pode-se notar a evidente influencia que o meio exerce sobre a arte
construída. Diferentes culturas influenciam na produção do grafite, como é no caso
do Grafiteiro Bask, que segue uma linha político-social nos discursos de seu
trabalho. Com o tempo o grafite ampliou sua forma tipográfica, o que gerou espaço
para diferentes estilos. Cada grafiteiro faz uso de determinadas técnicas, dando uma
característica particular ao seu grafite.
O grafiteiro sorocabano conhecido como Will emprega na maioria de seus
trabalhos pessoas mascaradas. “Em meus trabalhos a máscara representa atitudes,
comportamentos, e não a falsidade, mas a maneira das pessoas agirem em cada
momento de suas vidas”. (Will, 2010)
Figura 6 – Máscaras – Will
16
Fonte: willartes.blogspot.com Obs.: Nessa obra do Will fica evidente a ideologia por ele abordada – o Homem assume diferentes máscaras para diferentes momentos da vida.
Ao observarmos os trabalhos desses três grafiteiros aqui apresentados,
vemos o contraste de suas obras. Cada um apresenta um estilo próprio; em seus
traços, desenhos, letras e ideias. O discurso e a ideologia por eles abordada reflete
a sociedade na qual isso se condiciona.
2.2 Estilos de Grafite
Abaixo, os diferentes estilos usados no Grafite e suas imagens que
demonstram a variação de formas usadas na produção artística.
Tag (etiqueta)
Assinatura do nome do grafiteiro pelas ruas.
Toy (brinquedo)
É aquele cara que não respeita os outros escritores.
King/Queen (rei/rainha)
Escritor respeitado na cidade.
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Writer (escritor, autor)
Escritor de muros, grafiteiro na atividade que rabisca os muros da cidade.
Bomb (bomba)
Grafite 98% das vezes ilegal feito em portas, muros, geralmente feito na noite.
Bomber (bombardeiro)
Aquele que faz Bombs pela cidade.
Throw-up (vomitar)
Vomitar, estilo simples de letra.
Sopa de letras
Amontoado de letras, geralmente throw-ups.
Cap (capa)
Bico do spray, pode ser Fat (traço grosso para coberturas) ou Skinny (para
contornos ou detalhes).
Marker (fabricante, criador)
Marcadores usados para fazer tags.
Piecebook (livro)
Livro de sketches (rascunhos) do escritor.
Insides (Interior)
Bombardear, encher de tags os trens ou ônibus por dentro.
Piece (partes)
Grafite bem pintado e com um fundo.
Top-to-bottom (de cima para baixo)
Trem que é pintado de cima até embaixo.
18
End-to-end (de ponta a ponta)
Trem que é pintado de um lado até o outro.
Whole Car (carro completo)
É a fusão do Top-to-bottom com o End-to-end, quando o trem é pintado por
completo.
Crew (equipe)
Equipe/grupo de amigos que pintam juntos.
Wildstyle (estilo selvagem, agressivo)
Estilo agressivo de letras entrelaçadas e complicado de ler.
Produção
Pintar um muro por completo com alguma temática, letras e personagens.
Figura 7 - Imagem no estilo Bomb
Fonte: http://wap.uol.com.br/entretenimento/album/bancasdejornalgrafitadas
2.2.1 Grafite e hip-hop
O grafite hoje é definido como arte de rua democrática, uma arte expressa
nos muros na cidade, revela um pouco da cara da sociedade. O grafite, antes
considerado arte marginal, hoje transpõe esses limites e descola-se para vários os
19
pontos da cidade. Ele era utilizado como um meio para marcar um território, ou
demonstrar domínio.
Vê-se na sua chegada aos Estados Unidos e sua ligação ao movimento Hip-
Hop, uma espécie de cultura das ruas, um movimento de reivindicação de espaço e
voz das periferias, traduzido nas letras questionadoras e agressivas, no ritmo forte e
intenso e nas imagens grafitadas pelos muros das cidades. O hip-hop como
movimento cultural é composto por quatro manifestações artísticas principais:
MCing, que anima a festa com suas rimas improvisadas, a instrumentação dos DJs,
a dança do breakdance e a pintura do grafite.Tendo começado no Bronx, a cultura
hip hop emergiu rapidamente para o mundo todo. A música hip hop não deve ser
confundida com o rap (rhythm and poetry), pois este tem estrutura divergente da
música hip hop em vários pontos, apesar de terem pontos em comum. (HISTORIA...
, 2011)
O hip-hop emergiu em meados da década de 1970 nos subúrbios negros e
latinos de nova Iorque. Estes subúrbios enfrentavam diversos problemas de ordem
social como pobreza, violência, racismo, tráfico de drogas, carência de infraestrutura
e de educação, entre outros. Os jovens encontravam na rua o único espaço de lazer,
e geralmente entravam num sistema de gangues, as quais se confrontavam de
maneira violenta na luta pelo domínio territorial. As gangues funcionavam como um
sistema opressor dentro das próprias periferias - quem fazia parte de algumas das
gangues, ou quem estava de fora, sempre conhecia os territórios e as regras
impostas por elas, devendo segui-las rigidamente. (HISTÓRIA... , 2011)
Durante a década de sessenta nos subúrbios do Bronx, Harlem e Brooklyn,
gangues formadas principalmente por negros e latinos, vivenciavam o racismo,
violência, tráfico de drogas e extrema pobreza. Essa exclusão da sociedade
resultava em confrontos bélicos.
Uma gangue (derivado da palavra inglesa gang) é um grupo
de indivíduos que compartilham de uma identidade comum e, na concepção atual,
se envolvem em atividades ilegais. Historicamente o termo refere-se tanto à
grupos criminosos como grupos de pessoas comuns. Alguns antropólogos acreditam
que esta estrutura, a gangue, é uma das formas mais antigas
de organização humana.
20
[...] Cada gangue tem o seu stacking o que ajuda a identificação de membros de cada gangue. Utilizam também cores, carros e até grafites para se identificarem. (GANGUE... ,2011). [...] Movidos pela necessidade de consolidar no grupo a ideia de pertencimento, as turmas de jovens “organizaram-se” como o objetivo de deixar marcas territoriais. (DIÓGENES, p.105).
Como não pertencentes a nenhum grupo da sociedade, esses jovens
achavam nas gangues um meio de autenticar-se. O grafite, por sua vez entra nesse
cenário como um meio de identificação desses grupos, revelando sua ‘cara’,
ocupando lugares de onde fora excluídos ou afastados; uma forma de chamar a
atenção da sociedade para a realidade por eles vivida.
[...] Para “ganhar destaque”, já não vale a pena deixar vestígios no lado de
lá da cidade, é necessário sinalizar a coragem e ousadia, atingindo pontos,
aparentemente intransponíveis de acesso. Os registros espalhados por
todos os cantos da cidade tornaram-se, inicialmente, apenas um modo de
enunciação dos esquecidos, até atingirem, com a estratégia de “pichar
enrolado”, um modo, definitivamente, outsider de “inscrição social”.
(DIÓGENES, p. 67).
O grafite começa a sair dos limites da periferia e alcançar centros urbanos,
territórios residenciais e os ‘não-lugares’, assim definido por Marc Augé.
Em oposição, os não-lugares não se definem como identitários, relacionais ou
históricos. Através dos não-lugares se descortina um mundo provisório e efêmero,
comprometido com o transitório e com a solidão. Os não-lugares são a medida de
uma época que se caracteriza pelo excesso factual, superabundância espacial e
individualização das referências, muito embora os lugares e não-lugares sejam
polaridades fugidias.
[...]O não-lugar é exatamente o contrário do lugar pois não é relacional, não é identitário e nem histórico.Para Marc Auge não-lugar é definido como: “O espetáculo dos outros sem a presença dos outros, o espaço constituído em espetáculo...” (NÃO-LUGAR... , 2011).
Os considerados não-lugares, espaços não habitados, apenas usados como
local de passagem, passam a obter um aspecto particular e uma estética especifica
por meio do grafite.
21
Os desenhos e letras deixados nos muros da cidade constituem nova ideia
para aquele lugar, até então, considerado de “ninguém” e sem identidade histórica, e
passa a auferir de um novo contexto. O grafite produzido passou por um processo
cultural, ideológico e autêntico, conferido por seu criador. A partir daí, aquele lugar
ganha uma nova percepção no imaginário de cada pessoa que possa contempla-lo.
Sendo assim, o grafite urbano entra nesse cenário como arte democrática,
podendo encontra-lo em vários pontos da cidade. Sua chegada ao Brasil na década
de setenta, durante a ditadura militar, logo cidades como São Paulo e Rio de Janeiro
tem seus muros pintados com frases e desenhos que protestavam contra a ditadura
predominante. A arte difunde-se até chegar a seu ápice na década de 90.
2.2.2 Grafite no Brasil
O fenômeno do grafite chegou ao Brasil em meados da década de setenta. As
intervenções artísticas sofriam restrições devido à posição da política vigente na
época. No período estava implantado o regime da ditadura militar e uma de suas
ações repressivas era a coibição de toda ação artística individual ou coletiva que
revelasse mínimas intenções contestatórias diante do sistema governamental. Por
outro lado, essas inscrições também cumpriam outras intenções que condiziam com
o perfil e o interesse de seus produtores, em sua maioria artistas ou estudantes de
artes, caracterizando uma forma de divulgação de sua arte feita às escuras.
[...] Os problemas econômicos e sociais, o abuso de drogas e os conflitos
entre gangues que existem nessa parte do mundo exerceu grande impacto
na cena sul-americana do grafite. E assim em seus primórdios em Nova
York, o grafite sul-americano reflete uma forte oposição contra as classes
sociais altas por parte daqueles que vivem nos guetos (GANZ, p. 19).
O cenário artístico, naquele momento, também favorecia a valorização dessa
arte e suas produções acabam por ser identificadas por um mercado que buscava
por novos acontecimentos para as publicações culturais vigentes, isto é, um período
caracterizado pela ânsia por fatos que revelassem novas possibilidades para a arte
e para que esta se abrisse em novas formas representativas da classe. Sobre esse
acontecimento, Frederico Morais declarou: “O artista hoje é uma espécie de
22
guerrilheiro. A arte é uma forma de emboscada. Atuando imprevisivelmente, onde e
quando é menos esperado, o artista cria um estado permanente de tensão
constante” (CULTURA..., 2011).
Desde então, muitas vezes o grafite liga-se à política. Sobre esse assunto,
Alexandre Pereira, antropólogo da USP afirma: “A pichação é um meio de
participação política nova”, “Não acredito que só haja política na disputa partidária
ou de governo – as pessoas criam e inventam diferentes formas de participação ou
de manifestação política”. Pereira também diz que os grafiteiros criam uma rede de
encontros de espaço para trocas, o que pode ser entendido como uma forma de
organização política. O antropólogo Arthur Lara, professor de arquitetura da USP
afirma que na época da ditadura militar os jovens pichavam frases políticas e
poéticas e clamavam por uma nova ordem social mais flexível, e que atualmente a
expressão política das ruas foi prejudicada (BAND...2011)
A representação política e social mediante as inscrições no muro da cidade
refletem a contestação e o protesto de alguns jovens mediante essa situação. Sendo
assim, o grafite pode ser considerado um fenômeno articulador de diferentes
questões pertinentes à dado momento vivido pela sociedade.
Atualmente, cidades de todo o País estão tomadas por grafites em seus
muros, o que passa a ser objeto de subjetividade, já que todo cidadão que passa por
essas ruas, acaba por contemplar o desenho e letras estampados nos muros. A
partir daí cabe a cada individuo decifrar aquela imagem segundo seu imagético e
construir um conhecimento próprio sobre aquele desenho ou letra contemplado.
2.3 Grafite x pichação
Tanto o grafite como a pichação usam o mesmo suporte – a cidade – e o mesmo material (tintas). (GITAHY, P. 20).
Pichação é o ato de escrever ou rabiscar sobre muros, fachadas de
edificações, asfalto de ruas ou monumentos, usando tinta em spray aerossol,
dificilmente removível, estêncil ou mesmo rolo de tinta. (DEFINIÇÃO..., 2011)
A pichação é uma prática que interfere no espaço, muitas vezes
desagradando os que são alvos de comentários, donos de paredes brancas, muros
23
de estabelecimentos etc. A pichação subverte valores, é espontânea, efêmera e
gratuita. Prática que tem como sua base letras e formas diferentes que podem
significar protestos políticos, xingamentos, protestos de gangs ou simples vontade
de sujar o espaço alheio. A pichação esteve presente desde as antigas civilizações,
concluindo que está não é uma prática contemporânea.
A cidade de Pompéia, vítima de um vulcão chamado Vesúvio, que entrou em
erupção no dia 24 de agosto de 79 d. C. possuía muros em que a pichação era
notável - xingamentos, propagandas políticas, anúncios e poesias estavam
impressos no muro.
Na Idade Média, a pichação também esteve presente com a Inquisição, época
em que bruxas eram queimadas e cobertas por piche e padres manifestavam suas
ideologias pichando paredes de conventos rivais.
Pichação é o ato de desenhar, rabiscar, ou apenas sujar um patrimônio
(público, privado) com uma lata de spray ou rolo de tinta.
Diferentemente do grafite, cuja preocupação é a ordem estética, o piche tem
como objetivo a demarcação de territórios entre grupos. No geral, consiste em fazer
algo que para eles é uma arte e para a sociedade é o ato de vandalismo.
2.4 Ideologia
“O Grafite é ideológico, representando o pressuposto implícito de inverter a ordem; expressa oposição espontânea e simbólica à convenção social e à expressão da cultura dominante disseminada por museus, galerias de arte, mídia e propaganda”. SCHLECHT, N. E. Resistance and appropriation in Brazil: how the media and “official culture” institutionalized São Paulo´s grafite. Studies in Latin American Popular Culture – SLAPC, n. 14, p. 37-67, 1995.
A origem do termo ocorreu com Destutt de Tracy que criou a palavra e lhe
deu o primeiro de seus significados: ciência das ideias. Posteriormente, concluíram
que esta palavra ganharia um sentido novo quando Napoleão chamou De Tracy e
seus seguidores de "ideólogos" no sentido de "deformadores da realidade". No
entanto, os pensadores da Antiguidade Clássica e da Idade Média já entendiam
ideologia como o conjunto de ideias e opiniões de uma sociedade.
Ideologia é um termo que possui diferentes significados e duas concepções: a
neutra e a crítica. No senso comum ideologia é sinônimo a ideário, contendo o
24
sentido neutro de conjunto de ideias, pensamentos, doutrinas ou de visões de
mundo de um individuo ou de um grupo, orientado por suas ações sociais e
principalmente políticas. Para autores que utilizam o termo sob uma concepção
crítica, ideologia pode ser considerada um instrumento de dominação que age por
meio de convencimento.
O Francês Auguste Comte, criador da doutrina positivista compartilha da
definição de Tracy e considera a ideologia como uma atividade filosófico-científica,
que estuda a formação de ideias a partir da observação do homem no seu meio
ambiente. Émile Durkheim considera os fatos sociais como objetos únicos para
estudo da sociologia. Na perspectiva de Durkheim as ideias e valores individuais
(ideologia) são irrelevantes, porque os fatos sociais são manifestações externas,
estão fora e acima das mentes de cada sujeito que integra a sociedade. Portanto,
para ele a ideologia é negativa porque nasce de uma noção pré-científica.
A ideologia, para Althusser, é a relação imaginária, transformada em práticas,
reproduzindo as relações de produção vigentes. Na realização ideológica, a
interpelação, o reconhecimento, a sujeição e os Aparelhos Ideológicos de Estado
(AIE). Para ele a dominação burguesa só se estabiliza pela autonomia dos
aparelhos ideológicos de Estado.
Marilena Chauí declara que a ideologia não é um processo subjetivo
consciente, mas um fenômeno objetivo e subjetivo involuntário produzido pelas
condições objetivas da existência social dos indivíduos. (CHAUÍ, pg. 78).
Karl Marx, por sua vez, desenvolveu a teoria da ideologia na qual é
considerada uma consciência falsa, proveniente da divisão do trabalho manual e
intelectual. Nesse sentido, a ideologia enquanto falsa consciência geraria a inversão
ou a camuflagem da realidade, para os ideais ou interesses das classes dominantes.
Para Marx a produção das ideias não pode ser analisada separadamente das
condições históricas e sociais nas quais elas surgem. Ao se referir à ideologia
burguesa, Marx entende que as ideias e representações sociais predominantes
numa sociedade capitalista são produtos da dominação de uma classe social (a
burguesia) sobre a classe social dominada (o proletariado). Sobre isso, Chauí afirma
que as classes sociais não são coisas nem ideias, mas relações sociais
determinadas pelo modo como os homens na produção de suas condições materiais
de existência se dividem no trabalho, instauram formas determinadas da
propriedade, produzem e legitimam aquela divisão e aquelas formas por meio das
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instituições sociais e políticas, representam para si mesmo o significado dessas
instituições através de sistemas determinados de ideias que exprimem e escondem
o significado real de suas relações. (CHAUÍ, pg.53).
Se a produção das ideias não pode ser analisada separadamente das
condições históricas sociais as quais elas surgem, deve-se levar em consideração o
contexto histórico social no qual se desenvolveu o grafite urbano.
Ora, se a ideologia sendo a luta de classes que tem por função esconder essa
luta, é possível criar uma ligação intrínseca dos ideais do grafite urbano as suas
contestações. Consideremos o meio no qual ele foi concebido, seu desenvolvimento
e maturação. Chega-se então ao ponto de partida do grafite atual, revelando as
queixas da luta de determinada classe social.
Figura 8 - Muro de Berlim
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Muro_de_Berlim Obs.: Lado Ocidental grafitado demonstra um pouco da realidade vivida do lado Capitalista do País.
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2.4.1 Luta de classes
“A vitória das ideias é a vitória dos portadores materiais das ideias”
Brecht
“Os pensamentos da classe dominante são também, em todas as épocas, os pensamentos dominantes, ou seja, a classe que tem o poder material dominante numa dada sociedade é também a potência dominante espiritual.” (MARX E ENGELS).
A teoria marxista da luta de classes baseia-se na concepção da hegemonia
do proletariado. Defendendo essa teoria da hegemonia do proletariado no
movimento de libertação, Marx e Engles moveram uma luta incessante contra o
desprezo pelas camadas não proletárias das massas trabalhadoras, especialmente
o campesinato, bem como contra a tendência oportunista, pequeno-burguesa, da
social democracia que substituía a concepção de povo pela divisão da sociedade em
classes e colocava em último plano a luta de classes. (Marxistis... 2012).
Marx e Engels demonstraram que de todas as classes que se opunham à
burguesia, só o proletariado era uma classe revolucionária consequente até o fim.
Quanto às camadas intermediárias (camponeses, artesãos), tornam-se
revolucionárias na medida em que abandonam seu próprio ponto de vista de aceitar
o ponto de vista revolucionário. Mas isto não só não nega como pressupõe que a
classe operária pode ter aliados nessa camada.
Analisando as concepções marxistas em relação à luta de classes, observam-
se as teorias levantadas por Marx, ao afirmar que a o proletariado sustenta a
burguesia e que o fim da contradição de classes se daria no momento em que o
proletariado se apoderasse do poder político por meio da revolução, não para
reconciliar e perpetuar as classes, mas para liquidar as classes em geral.
Ao fazer um paralelo por meio da concepção marxista da luta de classes e o
grafite, vemos por meio da arte expressa em muros de cidades urbanas uma forma
de gesticular a “revolução”. Analisando obras de diferentes grafiteiros, nota-se sua
identidade histórica e social embutida em seus desenhos e frases, a ideologia por
eles defendida vai refletir nos muros da cidade o processo histórico resultante em
seus trabalhos.
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Podemos analisar diferentes autores de grafites espalhados ao redor do
mundo, e analisar diferentes posturas e discurso por eles expresso. Se a ideologia é
um fenômeno objetivo e subjetivo involuntário produzido pelas condições objetivas
da existência social dos indivíduos, (CHAUÍ, pg. 78) o grafite é resultado de uma
ideologia consolidada por meio do tempo, que será expressa, em sua maioria nos
centros urbanos.
Por discorrer entre o contexto histórico que permeou o grafite em toda sua
fase de criação atual, nota-se através dele o discurso que é caracterizado por uma
classe. Surgido em meados da década de sessenta e setenta, o grafite apresentava
a reivindicação de uma minoria, ora feito por estudantes em manifestações de
caráter político e social, ora feito por jovens da periferia. Em todo caso, não
apresentava o apoio de toda a massa. Sua notoriedade começou pelos bairros
menos favorecidos de Nova York, e o ato de grafitar era, até então considerado uma
atitude marginalizada. Sua imagem liga-se a movimentos indômitos, ignorado pela
burguesia. No Brasil sua imagem também se associa aqueles que estão à margem
da sociedade. Sendo assim, por muito tempo o grafite foi visto com olhos de
discriminação.
Figura 9 - Grafite "Os gêmeos"
Fonte: http://www.fernandonardelli.com.br/blog/?p=411 Obs.: Feito na cidade de São Paulo, esse grafite retrata cenas cotidianas da cidade.
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3 METODOLOGIA
O objetivo do presente capítulo é descrever a metodologia de pesquisa
escolhida para orientar minhas investigações. Optei por uma pesquisa bibliográfica e
visual de caráter qualitativo, que abrange questões teóricas sobre a ideologia – sua
influência sobre o grafite urbano contemporâneo e os reflexos dessa arte sobre a
sociedade.
Para a pesquisa, escolhi imagens de grafites da cidade de Sorocaba, São
Paulo e outras cidades ao redor do mundo. Teoricamente, trabalhei com o livro de
Marilena Chauí, O que é Ideologia, tomando alguns pontos citados nos livros como
referência norteadora para analise das imagens. As análises foram feitas a partir de
trechos citados neste e livro, explorando os conceitos de ideologia, fazendo assim,
um paralelo com as imagens indicadas, em especial do grafiteiro sorocabano
conhecido como Will – seu trabalho consiste em apresentar o homem como um
objeto, manipulado pela sociedade.
O grafite, em seu início no período contemporâneo passou por uma fase de
desenvolvimento. No começo da década de sessenta, jovens parisienses
protestavam a reforma cultural, e o grafite ali teve grande participação, desde então,
ele está presente em grandes metrópoles, assumindo diferentes papeis, podendo
ser um transmissor de ideias, grupos e territórios. Hoje, o grafite pode ser
considerado como arte democrática, estando ela acessível a todos, geralmente em
muros.
O foco principal de minha pesquisa é analisar o conceito por trás dessa arte
urbana. Averiguar qual a posição e intenção dos grafiteiros, dentro de seu contexto
(cidade, sociedade, meio) e qual a ideologia por eles anunciada.
Para análise da ideologia, observei grafites do artista Will. A influência do
meio sobre a obra relatada, e as diversas abordagens. Cada indivíduo ou grupo
apresenta uma ideologia. Para alguns, o grafite é um meio de protesto e
reivindicação, para outros, uma maneira de expor suas ideias e ideários – como é o
caso do grafiteiro sorocabano, Will, que expõe nos muros da cidade seu olhar em
relação à humanidade, já no caso dos grafiteiros Os gêmeos, a abordagem artística
é muito maior do que qualquer forma de protesto.
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4 ANÁLISE DE DADOS
Esta análise de dados investiga como as técnicas de produção dos grafites
foram avaliadas e relacionadas com a ideologia expressa por seu autor. Escolhi
examinar imagens do grafiteiro sorocabano Will, dos irmãos paulistanos, Os Gêmeos
– como cada artista aborda os temas escolhidos, a maneira como eles desenvolvem
sua arte e expressam sua ideologia em seus grafites.
Cada um desses grafiteiros apresenta diferentes posturas mediante ao
trabalho realizado, mesmo compartilhando da mesma técnica, eles diferem na
abordagem ideológica. Cada indivíduo ou grupo irá apresentar suas ideias de
diferentes maneiras. A expressão através dos desenhos e frases é composta de
valores e ideários, que variam de acordo com a vertente ideológica de cada um. A
arte realizada por Will é feita em barros da zona periférica da cidade de Sorocaba, e
é voltado para a análise comportamental do ser humano, quando este é mostrado
nesses desenhos como homem aprisionado, infeliz ou injustiçado, entra em vigor a
ideologia do produtor/grafiteiro – que o homem é aprisionado pelas manipulações da
sociedade na qual está inserido.
Ao retratar cenas cotidianas da cidade de São Paulo, abordando temas como
a imigração, violência etc. o trabalho dos irmãos gêmeos ultrapassou os limites da
cidade de São Paulo, onde o tudo começou. Hoje o trabalho da dupla já pode ser
encontrado em exposições e galerias ao redor do mundo.
Em muitos de seus trabalhos (a maioria feita na cidade de São Paulo) a
representação conota a pessoas do cotidiano, em cenas diárias, tendo grande
expressividade o artifício visual. Nos trabalhos realizados em outros países, como no
Castelo escocês e em exposições em galerias de arte, a estética de seus trabalhos
é pertinente.
O grafite, apesar de representar uma arte democrática – acessível a todos,
presente em vários pontos de uma cidade urbana, não dialoga de maneira direta
com a população. As imagens podem ter diferentes técnicas, traços e intenções, e
mesmo assim, não ser diferenciada por aqueles que as veem. Por esse motivo, essa
analise visa levantar pontos que diferem nas obras de diversos grafiteiros, facilitando
assim, a interpretação e leitura dessas imagens.
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A meu ver, ainda hoje, apesar da grande difusão que o grafite vem tomado
(pontos de destaque da cidade de São Paulo encontram-se grafitados) um olhar
preconceituoso ainda prevalece ao considerar o grafite urbano uma expressão
artística, já que muitos o confundem com a pichação, que tem por finalidade
defender/divulgar determinado grupo com diferentes ideologias (gangues, times,
estilo musical etc.) e delimitar um território. O grafite por sua vez age,
prioritariamente com intenção artística, carregado da ideologia de seus produtores,
seja ela expressa como protesto, divulgação ou manifestação artística, que a
expressam nos muros de cidades urbanas, um local acessível a toda população, o
que faz dessa arte democrática arbitraria.
4.1 Grafite na escola
Vemos nessa imagem a presença do discurso escolhido por Will para divulgar
seu trabalho e proferir seu discurso ideológico. Fixada no muro de uma escola
estadual em um bairro da Zona Norte da cidade, ele deixa impresso seu ponto de
vista em relação à humanidade. Aqui podemos ver o desenho do “homem-máquina”,
que está presente na maioria de seus trabalhos, evidenciando sua principal ideologia
– A manipulação, o uso de máscaras, a fuga da realidade. Essa ideologia por ele
exposta, evidencia suas posições pessoais em relação à humanidade.
Figura 10- Grafite Will - Muro de uma escola
Fonte: http://www.facebook.com/will.ferreira.336?fref=ts Obs.: A imagem é composta por desenhos e letras, mostra o homem conectado a fios e máscaras que o aprisiona em si mesmo.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O grafite hoje tem tomado grandes proporções no País – lugares de destaque
(prédios, conjuntos habitacionais, lojas, escolas) têm aderido a essa técnica artística.
Essa arte que tem por principal material tintas e spray, tem se deslocado de bairros
periféricos para locais privados – como já citados: prédios, residências, galerias e
lojas.
Considerando sua retomada no período contemporâneo (artifício usado para
proferir interesses de determinado grupo) e seu desenvolvimento em bairros de
classe média baixa, o ato de grafitar não era/é considerado expressão artística, mas
foi considerado ato criminal por determinado tempo.
Baseado em suas origens do período moderno (pichação) o grafite era
realizado por jovens menos favorecidos financeiramente, que encontravam no grafite
uma maneira de expressar suas frustrações e anseios dentro da sociedade que os
excluía. Com o passar do tempo, grafiteiros com proposta em comum se uniam, e
expressavam suas ideias e ideais nos muros da cidade. A partir daí, grafiteiros
solidificaram suas ideias, criando suas ideologias e propostas.
Hoje é possível encontrar grafites com uma enorme diversidade de temas –
alguns apontam para o crítico social, ao comunicar comportamentos e atitudes que
julgam impróprios, outros vertem para o aspecto religioso, com frases bíblicas e/ou
versículos, outros denunciam características do lugar em que vivem e atuam como
grafiteiros (geralmente, bairros), e alguns o fazem como reprodução de desenho.
Em todos esses casos, a ideologia está presente – se abordados, cada grupo
mostrará que seu trabalho tem uma ideia, uma função e um objetivo. Nisso se vê
que a ideologia de cada indivíduo/grupo é manifesta por base em suas crenças e
valores (ideologia).
Apesar de não mais ser um artifício apenas dos mais pobres financeiramente,
já que hoje não é difícil encontrar locais em que são oferecidos cursos de grafite,
exposições em galerias e desenhos em locais em que antes, era pouco provável, o
grafite continua sendo mediador do artista para com a população.
Ficou claro neste estudo que o grafite contemporâneo pode assumir diversas
vertentes, dependendo do apelo ideológico de seu produtor, este consolidado a
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partir do contexto no qual o artista está inserido – seu contexto histórico-social irá
influenciar de maneira direta em seus trabalhos. A maneira como eles enxergam a
realidade e sociedade, é expressa por meio de seus trabalhos, revelando seus
ideais, sejam eles políticos, sociais, religiosos ou comportamentais. Sendo assim, a
ideologia do grafite vai depender do processo de formação do grafiteiro, enquanto
indivíduo, que expressará sua visão do mundo através de suas impressões em
relação ao meio em que vive.
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Martina Cavalvanti. Pichação e Grafite surgem como alternativa de participação
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