a identidade fronteiriça brasil bolívia um estudo sobre linguagem na literatura de fronteira...

15
- 1 - Revista Multidisciplinar Acadêmica Vozes dos Vales – UFVJM – MG – Brasil – Nº 04 – Ano II – 10/2013 Reg.: 120.2.095–2011 – UFVJM – QUALIS/CAPES – LATINDEX ISSN: 2238-6424 – www.ufvjm.edu.br/vozes Ministério da Educação Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri UFVJM Minas Gerais Brasil Revista Vozes dos Vales: Publicações Acadêmicas Reg.: 120.2.095 - 2011 UFVJM ISSN: 2238-6424 QUALIS/CAPES LATINDEX Nº. 04 Ano II 10/2013 http://www.ufvjm.edu.br/vozes A Identidade Fronteiriça Brasil-Bolívia: um estudo sobre Linguagem na Literatura de Fronteira Profª. Drª. Rosangela Villa da Silva Doutora em Linguística da Língua Portuguesa pela UNESP Pós-Doutorado em Sociolinguística pela Universidade de Coimbra Portugal. Professora Orientadora do Programa do Mestrado em Estudos Fronteiriços- MEF/UFMS/CPAN e do Mestrado em Estudos de Linguagens (CCHS) Universidade Federal de Mato Grosso do Sul UFMS Corumbá MS Brasil http://lattes.cnpq.br/2728125416409698 E-mail: [email protected] Profª. MSc. Stael Moura da Paixão Ferreira Professora Pesquisadora UFMS-CPAN. Mestre em Estudos Fronteiriços - MEF/ UFMS/CPAN. Linha de Pesquisa: Ocupação e Identidade Fronteiriças e Linha de Pesquisa: Literatura e Ensino de Línguas- UFMS/CPAN. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul UFMS Corumbá MS Brasil http://lattes.cnpq.br/4800465244991413 E-mail: [email protected] Resumo: Tanto no Brasil como na Bolívia, são poucos os estudos acerca dos contatos linguísticos, e em relação aos estudos da literatura de fronteira são ainda mais escassos ou incipientes. Este artigo aborda a linguagem nas obras literárias de Lobivar Matos (BR), Augusto César Proença (BR) e Alcides Arguedas (BO) que descrevem o espaço fronteiriço Brasil - Bolívia, nos aspectos da literacia de obras como Sarobá, Raízes do Pantanal e Raza de Bronce, dentre outras, que contribuem para definir o perfil linguístico do natural deste espaço. Por meio da literatura, abrem-se discussões em torno da linguagem nesta fronteira, dando visibilidade ao reconhecimento da identidade do fronteiriço e de sua expressão em defesa da construção da identidade nacional do natural. Palavras-chave: Literatura; Língua; Fronteira Brasil-Bolívia; Identidade Fronteiriça.

Upload: juliane-regina

Post on 19-Nov-2015

218 views

Category:

Documents


3 download

DESCRIPTION

Identidade, conceito de identidade

TRANSCRIPT

  • - 1 -

    Revista Multidisciplinar Acadmica Vozes dos Vales UFVJM MG Brasil N 04 Ano II 10/2013 Reg.: 120.2.0952011 UFVJM QUALIS/CAPES LATINDEX ISSN: 2238-6424 www.ufvjm.edu.br/vozes

    Ministrio da Educao

    Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri UFVJM Minas Gerais Brasil

    Revista Vozes dos Vales: Publicaes Acadmicas Reg.: 120.2.095 - 2011 UFVJM

    ISSN: 2238-6424 QUALIS/CAPES LATINDEX

    N. 04 Ano II 10/2013 http://www.ufvjm.edu.br/vozes

    A Identidade Fronteiria Brasil-Bolvia: um estudo sobre

    Linguagem na Literatura de Fronteira

    Prof. Dr. Rosangela Villa da Silva Doutora em Lingustica da Lngua Portuguesa pela UNESP

    Ps-Doutorado em Sociolingustica pela Universidade de Coimbra Portugal. Professora Orientadora do Programa do Mestrado em Estudos Fronteirios-

    MEF/UFMS/CPAN e do Mestrado em Estudos de Linguagens (CCHS) Universidade Federal de Mato Grosso do Sul UFMS Corumb MS Brasil

    http://lattes.cnpq.br/2728125416409698 E-mail: [email protected]

    Prof. MSc. Stael Moura da Paixo Ferreira Professora Pesquisadora UFMS-CPAN. Mestre em Estudos Fronteirios - MEF/

    UFMS/CPAN. Linha de Pesquisa: Ocupao e Identidade Fronteirias e Linha de Pesquisa: Literatura e Ensino de Lnguas- UFMS/CPAN.

    Universidade Federal de Mato Grosso do Sul UFMS Corumb MS Brasil http://lattes.cnpq.br/4800465244991413

    E-mail: [email protected]

    Resumo: Tanto no Brasil como na Bolvia, so poucos os estudos acerca dos contatos lingusticos, e em relao aos estudos da literatura de fronteira so ainda mais escassos ou incipientes. Este artigo aborda a linguagem nas obras literrias de Lobivar Matos (BR), Augusto Csar Proena (BR) e Alcides Arguedas (BO) que descrevem o espao fronteirio Brasil - Bolvia, nos aspectos da literacia de obras como Sarob, Razes do Pantanal e Raza de Bronce, dentre outras, que contribuem para definir o perfil lingustico do natural deste espao. Por meio da literatura, abrem-se discusses em torno da linguagem nesta fronteira, dando visibilidade ao reconhecimento da identidade do fronteirio e de sua expresso em defesa da construo da identidade nacional do natural. Palavras-chave: Literatura; Lngua; Fronteira Brasil-Bolvia; Identidade Fronteiria.

    http://www.ufvjm.edu.br/vozeshttp://lattes.cnpq.br/2728125416409698mailto:[email protected]://lattes.cnpq.br/4800465244991413mailto:[email protected]

  • - 2 -

    Revista Multidisciplinar Acadmica Vozes dos Vales UFVJM MG Brasil N 04 Ano II 10/2013 Reg.: 120.2.0952011 UFVJM QUALIS/CAPES LATINDEX ISSN: 2238-6424 www.ufvjm.edu.br/vozes

    1. Introduo

    Sobre a perspectiva dos estudos lingusticos nesta fronteira Brasil-Bolvia

    pode-se afirmar que a linguagem prpria e extremamente rica, pois est

    diretamente relacionada diversidade de grupos tnicos que residem nesse mesmo

    espao geogrfico. O homem fronteirio sempre criou e recriou unidades lexicais

    que corresponderam s necessidades de comunicao, considerando que as

    migraes, tanto de contingentes oriundos dos estados da federao como de

    pases vizinhos e de outros continentes, foram fundamentais para a formao

    cultural da regio. Imigrantes da Alemanha, Espanha, Itlia, Japo, Paraguai,

    Portugal, Sria, Lbano, Turquia e Armnia que marcaram a fisionomia desta regio.

    Neste sentido, entende-se que de acordo com asinterferncias da populao

    (naturais e/ou migrantes), bem como os costumesdos povos que aqui vivem, pode-

    se considerar essa regio como um grande celeiro lingustico, por apresentar

    diversidade e complexidade em sua formao.Aproposta desse artigo analisar, por

    meio da literatura, os aspectos lingusticos e a diversidade da linguagem

    apresentados em obras nessa fronteira que reforcem a identidade nacional do

    fronteirio.

    Convm destacar que Corumb uma cidade situada no extremo Oeste de

    Mato Grosso do Sul, na fronteira Brasil-Bolvia. Dentro do territrio brasileiro,

    distancia-se de Campo Grande, capital do Estado de Mato Grosso do Sul, mais de

    quatrocentos quilmetros. Entretanto, mantmuma distncia de menos de cinco

    quilmetros de Puerto Quijarro e menos de quinze de Puerto Suarez, ambas cidades

    bolivianas. Assim, o distrito de Arroyo Concepcin e a Seccin de Puerto Quijarro e

    Puerto Suarez, situadas na provncia de Germn Busch, leste do departamento de

    Santa Cruz no territrio nacional boliviano, configuram-se como ponto estratgico de

    principal contato entre bolivianos e brasileiros nesta fronteira.

    Sabe-se que nessa fronteira Brasil-Bolvia os fatores que determinam o nvel

    de interao entre as lnguas distintas so diversificados. Muitas motivaes

    ocorrem pelas relaes comerciais, trabalhistas, educacionais e culturais existentes

    entre brasileiros e bolivianos, conforme aponta SILVA, R.V. et al. (2009). Tratamos,

    ento, nesse estudo, de lanar um olhar sobre os contatos lingusticos a partir do

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Alemanhahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Espanhahttp://pt.wikipedia.org/wiki/It%C3%A1liahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Jap%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Paraguaihttp://pt.wikipedia.org/wiki/Portugalhttp://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADriahttp://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADbano

  • - 3 -

    Revista Multidisciplinar Acadmica Vozes dos Vales UFVJM MG Brasil N 04 Ano II 10/2013 Reg.: 120.2.0952011 UFVJM QUALIS/CAPES LATINDEX ISSN: 2238-6424 www.ufvjm.edu.br/vozes

    estudo da linguagem expressas nas obras literrias dos dois pases tentando

    resgatar elementos identitrios constitudos nas obras nesta zona fronteiria.

    Sabemos que pensar a fronteira, nesta linha imaginria que divide os dois

    territrios, pensar em seus contatos, trocas e interaes reais, refletindo as

    especificidades do espao, considerando que h um processo natural, responsvel

    por gerar uma identidade prpria do fronteirio, em que inclusive as tradies

    culturais, sociais e manifestaes religiosas vo se misturando e oportunizando os

    contatos lingusticos. No entanto, pensar os contatos lingusticos a partir das obras

    literrias nessa fronteira fazer emergir elementos identitrios enraizados na

    cultura, nos costumes, nos modos, etnias, etc.

    1.1 A construo Identitria na fronteira brasileira

    Na complexidade do conceito de identidade, que contm em si vrios

    elementos definidores, como a etnia, a histria, espao e costumes, a lngua no

    apenas mais um trao, mas, sobretudo, uma fora de identificao nacional,

    considerando que o grupo social manifesta seu pensamento, sua viso do mundo e

    sua cultura por meio da sua lngua. consensual dizer-se que lngua e cultura so

    entidades inseparveis, que a lngua ao mesmo tempo um reflexo e um

    instrumento de cultura, que se transmite de gerao em gerao. Ao registrar fatos

    lingusticos de uma lngua estamos no s divulgando-a, mas tambm valorizando

    os costumes, as crenas e, enfim, a cultura expressa por essa lngua. Dessa forma,

    vejamos este texto extrado de A Fora do Falar Pantaneiro, texto publicado

    originalmente pela Revista da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras (2004). Nele

    verificamos que Proena enfatiza a vida do homem da terra, vida do homem

    pantaneiro, a linguagem, o falar do homem pantaneiro.Entretanto, Proena adverte

    que necessrio sentir o que ele (o Pantanal) sugere para depois compreender o

    que ele oferece. Vejamos o texto:

    Para entender o Pantanal j dizia Cssio Leite de Barros necessrio sentir o que ele sugere para depois compreender o que ele oferece. E eu, humildemente, acrescento: h que se ir ao cho, s razes, para buscar a rusticidade e simplicidade do homem pantaneiro. Esta vasta plancie, dada de mos beijadas Nao brasileira como um Patrimnio Natural, oferece-nos, alm de uma exuberante paisagem

  • - 4 -

    Revista Multidisciplinar Acadmica Vozes dos Vales UFVJM MG Brasil N 04 Ano II 10/2013 Reg.: 120.2.0952011 UFVJM QUALIS/CAPES LATINDEX ISSN: 2238-6424 www.ufvjm.edu.br/vozes

    pintalgada pela branca pelagem do nelore, uma linguagem extremamente expressiva, rica em variaes fonticas e prosdicas. O livramentano, cuiabano, poconeano, cacerense, quando desceram l do Norte para povoar o Pantanal do Sul viajaram com as suas palavras. Trouxeram, junto com os caribus, as jacubas, os paus de guaran, uma enormidade de termos e expresses que, ao longo da histria, atravs de um processo laborioso de troca, assimilao, absoro, mesclaram-se com a oralidade dos pases vizinhos e formaram um universo muito prprio que se traduz naquilo hoje concebido como o falar do homem pantaneiro. Quantas expresses singulares! Quantos termos inusitados! Quantas riquezas! Os acordes atrevidos da viola de cocho, os quais motivaram os improvisos dos curureiros, versejadores/cantadores das antigas festas pantaneiras produziram neologismos, ampliando a versatilidade lingustica e cultural da regio... As comitivas, pelos caminhos pantanosos, conduzindo boiadas, contriburam para enriquecer o vocabulrio pantans. Da cozinha das nossas avs vieram o furrundu, a paoca de banana, a Maria-Izabel... a lembrana... da carne-seca e do toucinho defumado dipindurado ao lado do fogo, do pote dgua, do dedo na panela para provar o doce de cadju e a catchorrada...Ah! ... e tambm a lembrana... daquele banquinho perto do fogo onde a bugrinha, cabelo penteado, toda prefumada de gua de chero, esperava a hora de abrir a porta pro fio do patro entr. Em torno do lao do vaqueiro, instrumento que faz parte da sua traia, dos seus quase- nada, nasceu uma rica terminologia que vai desde a escolha do couro at o colocar da argola, no arremate final... O sobrenatural, to presente no imaginrio... Entidades que povoam o universo infantil e persistem na crena dos adultos, nomes como Mozo, P-de-garrafa, Minhoco, Come-lngua, Negro-dgua, Anta-amiga, figuras mitolgicas e lendrias que habitam as matas, baas, rios e corixos...(PROENA, 2004, Revista da Academia Sul-Mato-Grossense De Letras. s.p.)

    Alm dos termos que representam entidades que povoam o universo

    pantaneiro como Mozo, P-de-garrafa, Minhoco, Come-lngua, Negro-dgua,

    Anta-amiga, todas figuras mitolgicas e lendrias que habitam as matas, baas, rios

    e corixos, Proena exploraexpresses e verbetes peculiares ao sul-mato-grossense,

    que expressam a rica linguagem pantaneira. Por exemplo, ao citar a exuberante

    paisagem pintalgada pela branca pelagem do nelore, Proenadestaca a riqueza

    cultural oriunda do gado no cerrado pantaneiro. Ecom suas expresses singulares,

    termos inusitados e riquezas, como fueiro, guieiro, cambo, gangorra, tento,

    braa, iapa, afogador, lonqueao e outros termosdo lxico pantaneiro vai tecendo

    suas memrias atravs de seus artefatos mticos, ticos, culturais, que norteiam a

    forma de pensar e agir do homem pantaneiro. Nesse processo de composio

    literria, Proena tambm reflete fatores culturais, transmitidos ao longo do processo

    histrico, de gerao a gerao, como os caribus, as jacubas, os paus de guaran,

    uma enormidade de termos e expresses que vieram junto com os colonizadores e

  • - 5 -

    Revista Multidisciplinar Acadmica Vozes dos Vales UFVJM MG Brasil N 04 Ano II 10/2013 Reg.: 120.2.0952011 UFVJM QUALIS/CAPES LATINDEX ISSN: 2238-6424 www.ufvjm.edu.br/vozes

    participaram da formao daquilo que hoje concebido como o falar do homem

    pantaneiro.

    Assim, as nossas reflexes tendem a passar em torno da questo de que

    cada lngua carrega consigo as marcas de sua formao e assim afirmando,

    recorremos famosa frase de Pessoa, destacada na letra da msica Lngua, de

    Caetano Veloso: "A minha ptria a minha lngua", considerando- se que mais do

    que ser o local em que uma pessoa nasce a ptria o espao de interaes de

    dimenses afetivas, sociais e histricas; interaes genuinamente nacionais. Desta

    forma, verifica-se que palavras pertencentes ao lxico pantaneiro so

    propositadamente empregadas para atribuir valor a esse bem cultural e reconhecer

    o seu significado, construdo pelo senso comum, mas organizado por elementos

    relevantes ao contexto histrico e regional desta fronteira. Desta forma, o furrundu, a

    paoca de banana, a Maria-Izabel, a carne-seca e o pote dgua esto presentes

    neste processo de composio literria, fortalecendo a questo da cultura

    pantaneira.Outro fator que merece destaque em relao ao lxico pantaneiro, no

    texto de Proena, so as variaes lingusticas e fonticas empregadas quando cita

    a lembrana do toucinho dipindurado e do doce de cadju eda catchorrada.

    Nessa mescla de falares tambm encontramos traos lingusticos que so atribudos

    ao falar pantaneiro, como por exemplo, os sons dos fonemas /g/, /j/ e /ch/ em: djente

    (gente), djeito (jeito) e tcho (cho) que segundo Silva (2004, p.21) seriam

    originrios da regio norte de Portugal.

    Destacamos que, segundo Barbosa (1993, p.1), o lxico representa, por certo,

    o espao privilegiado do processo de produo, acumulao, transformao e

    diferenciao dos sistemas de valores. O autor pantaneiro, ao perscrutar essas

    formas de falar, troca o sinal negativo dominante nesses registros e faz notar a face

    positiva de sua cultura. Segundo Barbosa (1993, p. 158), lngua, sociedade e cultura

    so indissociveis, interagem continuamente, e constituem, na verdade, um nico

    processo complexo, a lngua do indivduo pantaneiro e a dos que nesta fronteira

    habitam contribui poderosamente para reconhecer-se e para ser reconhecido pelo

    outro. na realidade um fator de identificao cultural.

    No entanto, gostaramos de salientar que em Lobivar Matos, autor dessa

    fronteira, tambm encontramos as interaes de dimenses sociais e histricas que

    possibilitam um entendimento do modus vivendi na fronteira entre Brasil e Paraguai,

  • - 6 -

    Revista Multidisciplinar Acadmica Vozes dos Vales UFVJM MG Brasil N 04 Ano II 10/2013 Reg.: 120.2.0952011 UFVJM QUALIS/CAPES LATINDEX ISSN: 2238-6424 www.ufvjm.edu.br/vozes

    conforme aponta Puiggari (1933) apud Ferreira e Araujo (2011). No poema Rodeio

    (1936, p. 57), por exemplo, percebemos forte preocupao em destacar as variantes

    lingusticas e sociais dos caboclos de fronteira, que falam uma fala misturada, fruto

    do contexto histrico e regional da fronteira do Paraguai. Nesse poema, domingo

    dia de festa e vai haver corridas, por isso notamos:

    Paraguaios com leno colorau no pescoo,faixa preta na cintura... ... Brasileiros, gachos guapos, caboclos de fronteira, que falam uma fala misturada... ... - Ac no hay hombres! Ho hay muchachos! Hay polleros! Grita um correntino atrevido. Um paraguaio nanico resolveu aceitar a aposta. No quer dinheiro, vai montar por que no pollero... (MATOS, 1936, p. 57-60)

    Observa-se que as falas apresentadas no mbito da literatura fronteiria so,

    propositadamente, escolhidas pelo autor nas mais variadas possibilidades de

    imaginar, nomear e at avaliar e reavaliar a fronteira e o prprio homem fronteirio

    em relao nao brasileira, bem como, em contraste, at privilegiado, com

    qualquer outra regio. O discurso posiciona os sujeitos sociais quanto s suas

    identidades, e as manifestaes sociodiscursivas refletem-se nos sujeitos, seja de

    modo conflitante, seja em sintonia com o que a sociedade determina. Mas, sempre

    haver a heterogeneidade lingustica apontada por Labov (1984) apud Monteiro

    (2000).Assim, ao emergir esses caboclos de fronteira, Matos (1936) volta os

    holofotes para o contato lingustico e para o (inter) relacionamento existente entre os

    dois pases,atravs do processo migratrio.

    Destacamos ainda que no poema Rodeio, de Matos (1936, p. 57-60) no fruir

    da convivncia dos falantes, ou seja, nesse contato fsico e lingustico, h uma

    espcie de aculturao, considerando que juntos, Brasileiros, gachos guapos,

    caboclos de fronteira... cheiram a branquinha da ba e trazem a justia de Mato

    Grosso brilhando, limpinha, no cinturo (MATOS, 1936, p. 58). Ao mesmo tempo,

    refora-se a identidade dos sujeitos, pois segundo Rajagopalan (2003, p.71), a nica

    forma de definir uma identidade em oposio a outras identidades em jogo.

    Em relao a fronteira Brasil-Bolvia, convm destacar que, conforme

    apontam Ferreira e Silva (2012, p, 02-03), por fazer parte da Bacia Platina, aps a

    Guerra do Paraguai, Corumb- BR tornou-se importante centro atrativo de

  • - 7 -

    Revista Multidisciplinar Acadmica Vozes dos Vales UFVJM MG Brasil N 04 Ano II 10/2013 Reg.: 120.2.0952011 UFVJM QUALIS/CAPES LATINDEX ISSN: 2238-6424 www.ufvjm.edu.br/vozes

    estrangeiros, imigrantes de diversas nacionalidades, principalmente, srio-libaneses,

    italianos, argentinos, espanhis, franceses, uruguaios, paraguaios, entre outros.

    Afirmam Ferreira e Silva (2012. p. 02-03) que devido proximidade das cidades,

    entre outros motivos, muitos bolivianos de localidades como: Puerto Suarez,

    Cochabamba, La Paz, Robor, Potos, So Jos de Chiquitos, So Miguel, San

    Ignacio de Velasco, Trinidad, dentre outras, tambm resolveram ingressar no Brasil.

    Assim, estudar a lngua como objeto de construo social, considerando sua

    singularidade, ajuda-nos a compreender as variaes sociais, regionais, geogrficas

    e o discurso enquanto expresso lingustica e social do ato da comunicao.

    1.2 A linguagem na Fronteira Boliviana: a questo do bilinguismo

    Convm explicar que no pretenso dessa pesquisa, abordar sobre os

    idiomas autctones existentes em nenhum dos dois lados dessa fronteira, pois o

    estudo das lnguas minoritrias, segundo SILVA, R.V.da et al (2009, p.125), requer

    um levantamento aprofundado da situao lingustica dos vrios grupos tnicos

    existentes nos dois pases, que apresentam problemticas distintas. Lembramos que

    nossa pesquisa, neste momento, no est voltadapara o extraliterrio. No entanto,

    destacamos apenas que, atualmente, a Constituio boliviana reconhece 36 etnias,

    mas existem no pas pelo menos 54 etnias ou naes originrias, aquelas que

    viviam na Bolvia antes da chegada dos europeus, conforme afirma Amorim (2013).

    Consequentemente, podemos dizer que a Bolvia possui trs lnguas oficiais: o

    espanhol, o aimar e o quichu ou quchua e mais 33 lnguas autctones: araona,

    baure, bsiro, canichana, cavineo, cayubaba, chcobo, chimn, ese ejja, guaran,

    guarasuawe, guarayu, itonama, leco, machajuyai-kallawaya, machineri, maropa,

    mojeo-trinitario, mojeo-ignaciano, mor, mosetn, movima, pacawara, puquina,

    sirion, tacana, tapiete, toromona, uruchipaya, weenhayek, yaminawa, yuki, yuracar

    e zamuco, conforme Embajada del Estado Plurinacional de Bolvia.Sabe-se que as

    lnguas quchua e aimar so as destacadas no universo das lnguas indgenas

    porque a Igreja Catlica escolheu essas lnguas nativas como veculo da

    evangelizao, passando a escrev-las com caracteres latinos e ensin-las, fixando-

    as como as lnguas mais faladas entre os indgenas.

    http://www.embassyofbolivia.nl/es

  • - 8 -

    Revista Multidisciplinar Acadmica Vozes dos Vales UFVJM MG Brasil N 04 Ano II 10/2013 Reg.: 120.2.0952011 UFVJM QUALIS/CAPES LATINDEX ISSN: 2238-6424 www.ufvjm.edu.br/vozes

    Voltando ao campo literrio, no lado boliviano, a obra Raza de Bronce (1919),

    uma das novelas bolivianas mais destacadas da Amrica da Sul, Alcides Arguedas,

    considerado iniciador do Indigenismo na Literatura boliviana, que aps a publicao

    de Pueblo Enfermo (1909), na qual culpa os indgenas e os mestios pela ineficcia

    evolutiva da Bolvia, usa Raza de Bronce (1919) e parte em defesa dos ndios

    escravizados por patrones blancos, feroces dueos de la tierra, y sus empleados

    mestizos (Liminar xv. ARGUEDAS, 1997). Nessa narrativa, encontramos forte

    ideologa que diz respeito la realidad del indio boliviano y su falta de confianza en la

    transformacin de esa realidad. (NACIFF, 2008, p. 34). Todava, Arguedas,

    objetivando expor a moral e a fora dos aimars, apresenta, nesse alegato

    realista em favor do ndio explorado e reprimido pelos latifundirios, vocbulos de

    origem aimar. Destacamos que o autor emprega esses vocbulos e os traduz na

    prpria narrativa, para a lngua espanhola, como por exemplo, nessas passagens:los

    campos estn kenchas (embrujados) (p. 135); em Diestro taliri (masajista)(p. 136);

    fama de Kamiri (adinerado)( p. 146) ou como em la chuspa (bolsa) con coca ( p.

    146).

    Salientamos que, na Bolvia, o acesso educao escolar sempre foi

    privilgio dos blancos, ou quando muito, dos cholos, ficando a maior parte da

    populao, os ndios, excluda do sistema escolar. Segundo David Mangurian

    (1999), foi somente aps 1990 que o "Programa de Reforma Educativa (PRE)", parte

    de um pacote de reformas radicais da educao, com metas que vo bem alm da

    instruo bsica, estabelece o carter democrtico da educao na Bolvia, em que

    pela primeira vez, crianas indgenas podemaprender a ler e escrever em suas

    lnguas nativas, aimar e quchua, e tambm em espanhol. No entanto, conforme

    aponta Mangurian, ainda h forte resistncia por parte dos adultos, pois acreditam

    que preciso resgatar a cultura indgena afim de que essa no seja esquecida.

    Segundo afirma Mangurian, a vida em uma sociedade em que o espanhol

    identificado com progresso e poder e em que as lnguas nativas significam atraso e

    pobreza, criam-se conflitos para os pais indgenas, aimars ou quchuas, pois

    muitos no sabem que lngua ensinar aos filhos. Segundo ele, os adultos no

    permitem que os filhos falem suas prprias lnguas. Mas, tentando protege-los da

    cultura urbana, tambm no querem que os filhos aprendam o espanhol. Assim

    mesmo, a Bolvia dispe incorporao do enfoque intercultural e modalidade

  • - 9 -

    Revista Multidisciplinar Acadmica Vozes dos Vales UFVJM MG Brasil N 04 Ano II 10/2013 Reg.: 120.2.0952011 UFVJM QUALIS/CAPES LATINDEX ISSN: 2238-6424 www.ufvjm.edu.br/vozes

    bilngue na educao, respondendo, deste modo, heterogeneidade sociocultural

    do pas.Corroborando com esse pensamento Apaza (2005) aponta que:

    A complexa situaolingustica da Bolvia,onde o idioma espanhol viveem contatocomas lnguas indgenas, impede, ao menos por enquanto,estabelecer limitesaceitveisque definamcom aceitvel precisoosacordos regionaisdo espanhol boliviano. As tentativasde diviso feitas at agoraso, obviamente,insatisfatriase imprecisas.Neste contexto, acredita-se na realizao demais estudosque permitamdefinir,algum dia,os

    limites dasvariedades doespanhol faladona Bolvia1. (APAZA, 2005, p. 20. Traduo nossa)

    Aps esas explicaes torna-se evidente que esse misto entre a lngua

    espanhola e lngua indgena encontrado na obra de Arguedas no deve ser visto

    com tanta simplicidade. Ao contrriodo que acontece com contatos bilnguesnum

    contexto de nvel da competncia comunicativa, na escrita literria os autores so

    manipuladores da lngua e, com toda a certeza, a interferncia estar sempre

    carregada de significados que se pretendemtransmitir ao leitor. Observa-se, ento,

    que o autor apresenta em seus escritos traos de bilinguismo e, logo em seguida,

    auxilia o leitor nacompreenso total do texto em que os vocbulos deoutro sistema

    lingustico, o aimar, aparecem inseridos nas frasesde lngua espanhola.

    Considera-se que alm de apresentarum exemplo de bilinguismo, na situao

    descrita, Arguedas usa estratgias para familiarizaro leitor com essa lngua

    alternativa. Essa coexistncia lingustica remete-nos realidade lingustica da

    Bolvia. Por outro lado, afirmamos que esse ato criativo tem conotaes polticas e

    ideolgicas, pois a repercusso da obra Pueblo Enfermo (1909), no foi boa e ele foi

    considerado racista, eurocentrista e contrrio aos interesses das culturas originrias

    pelos intelectuais aimars e quchuas.A verdade que desse universo lingustico

    poliglota e dessas realidades multiculturais que Arguedas aponta-nos, paralelamente

    narrativa, o enredo de sua obra: a histria da colonizao boliviana que subjaz a

    existncia das duas lnguas, uma previamente marginalizada, o aimar e a outra de

    1La compleja situacin lingstica de Bolivia, en la que el espaol vive en contacto con... lenguas

    indgenas, impide, al menos por el momento, el establecimiento de fronteras que definan con aceptable precisin las modalidades regionales del espaol boliviano. Los intentosde divisin realizados hasta ahora resultan a todas luces insatisfactorios e imprecisos. Ante este panorama, creemos que se deben llevar a cabo ms estudios que nos permitan delimitar, algn da, las fronteras delas variedades del espaol hablado en Bolivia. (APAZA, 2005, p. 20.)

  • - 10 -

    Revista Multidisciplinar Acadmica Vozes dos Vales UFVJM MG Brasil N 04 Ano II 10/2013 Reg.: 120.2.0952011 UFVJM QUALIS/CAPES LATINDEX ISSN: 2238-6424 www.ufvjm.edu.br/vozes

    prestgio, o espanhol. Por outraspalavras, esta escrita mestia de espanhol e aimar

    realiza a afirmao da existncia dessasidentidades culturais.

    Destacamos que, no plano extraliterrio, Arroyo Concepcin, cidade que liga a

    Bolvia ao Brasil, fortalecida pelo movimento de migraodentro da Bolvia,

    trouxemuitos bolivianos de outras localidades constituindo-se num mosaico de

    linguagens, incluindo as lnguas naturais da regiodos altiplanos e dos vales,

    quchuae aimar.Para alm dos ressentimentos da histria, e dasuposta pureza de

    umsistema lingustico, surgenestazona de fronteira, uma mestiagem lingustica

    como metfora de afirmao de identidade nacional.

    Em relao ao uso da lngua portuguesa por falantes bolivianos de Puerto

    Quijarro, em geral, estabelece-se nas relaes decompra e vendano comrcioda

    cidadeboliviana, pois o comerciante boliviano, que consegue entendera exigncia

    docliente brasileiro expressa em portugus, consegue ter vantagem na

    comercializao de seus produtos.Desta forma, estamos descrevendo um contexto

    bilingue, em que bolivianos motivados pelo comrcio adquirem uma L2, alm de sua

    lingua original indgena. Podemos afirmar,ento, que, nesta fronteira, onde as

    relaes comerciais so latentes, h contextos favorveis a um possvel trilinguismo,

    considerando que os nativos falam as lnguasindgenas, o espanhol e ainda o

    portugus. Neste cenrio comercial, pode-se concluir que esses bolivianos trilngues

    tem como L1 sua lngua original indgena, como L2 o espanhol e como L3 o

    portugus.

    Considere-se outra situao singular que faz parte deste espao fronteirio,

    o caso dos filhos de bolivianos com brasileiras, residentes na Bolvia. Essas crianas

    tm maiores chances de se tornarem falantes nativos nas duas lnguas, ou at nas

    trs lnguas, por serem expostas, constantemente, desde cedo, em casa, a um de

    seus pais, ora falando espanhol, ora falando, com seus familiares bolivianos,o

    aimar, e a me falando em portugus. Para estes casos, poderamos dizer que

    esses sujeitos podem se tornar trilngues em pouco tempo.

    Do lado brasileiro, alm das duas lnguas nacionais e os idiomas

    indgenasesto presentes as lnguas dos imigrantes rabes, alemes, italianos, etc.,

    enfim grande a mescla lingustica, resultado do contexto histrico de

    formaodesta localidade, fruto da migrao de diferentes povos.

  • - 11 -

    Revista Multidisciplinar Acadmica Vozes dos Vales UFVJM MG Brasil N 04 Ano II 10/2013 Reg.: 120.2.0952011 UFVJM QUALIS/CAPES LATINDEX ISSN: 2238-6424 www.ufvjm.edu.br/vozes

    No entanto, considerando que a investigao aqui proposta a de carter

    documental, ou seja, material escrito que possa ser utilizado como fonte para obter

    informaes acerca do comportamento humano e lingstico nesta fronteira, registra-

    se que nas obras consultadas, no lado brasileiro, no foram encontrados vestgios

    de bilinguismo. Encontramos outro tipo de mestiagemrepresentado pela invocao

    da oralidade. Neste caso no falamos de bilinguismo, mas de incluso demarcas de

    oralidade na linguagem escrita, isto , as variaes lingusticas, em relao s

    minorias estigmatizadas. Tomemos em considerao, no lado brasileiro, o poema

    So Sebastio (1936, p. 65-67), de Lobivar Matos. Nele percebemos forte

    preocupao em destacar as variantes lingusticas e sociais, ressaltando a lngua da

    classe social desprestigiada, marginalizada, que no tem acesso educao formal,

    nem aos bens culturais da elite e por isso mesmo considerada feia, pobre e

    carente, consoante com Bagno (1999, p. 42). Vejamos um fragmento do poema

    So Sebastio (1936, p. 65-67) em que o autor expe os dilogos na festa de So

    Sebastio:

    ... - Essa porcaria de chuva vai atrapaiar a festa do santo! -E preciso rezar para a chuva parar de chover. - Que reza nada, Compadre! Moreno,faz uma cruz de cinza no terreiro e crucifica o machado, que porrete. - No, Compadre, nada de cruz. Pe um ovo no toco de pau que So Pedro pensa que a careca do bispo e fecha a torneira depressa pra morde o bispo no vir bde A dansa t animada: Porca paraguaia, arra, santa-f, cururu. -ta! Musga batuta! Harpa, sanfona, violo E o Zz soprando direitinho uma foia de laranjeira... . - No deixa amanhac, Nh Juca, segura a lua! -Firmino, tira os sapatos, deixa de bbage... .

    (MATOS, 1936, p. 65-67)

    No exemplo acima, observa-se o emprego das marcas da linguagem oral que,

    embora no seja uma questo de bilinguismo, recorda-nos toda uma srie de

    questes ligadas ao preconceito lingustico que, segundo Bagno (1999), deve-se a

    uma questo que no lingustica, mas social e poltica. Alm disso, essa quebra

    norma gramatical padrotambm pode ser considerada um gesto de orgulho, de

    preservao da identidade nacional, que valoriza a realidadepopular e a identidade

  • - 12 -

    Revista Multidisciplinar Acadmica Vozes dos Vales UFVJM MG Brasil N 04 Ano II 10/2013 Reg.: 120.2.0952011 UFVJM QUALIS/CAPES LATINDEX ISSN: 2238-6424 www.ufvjm.edu.br/vozes

    cultural fronteiria. Pensemos o poema Maria Bolacha (1936, p. 19-20), de Matos,

    em que a personagem usa a expresso Pra a, pstes, empregando o pra

    forma reduzida de espera, fato inegvel da marca caracterstica da lngua coloquial

    do portugus falado no Brasil presente nesta fronteira. Essa personagem Maria

    Bolacha, tratava-se de um tipo popular das ruas corumbaenses, citada por Renato

    Bez em Figuras & Fatos (1964) e por Ulisses Serra em Camalotes e Guavirais

    (2004). Era uma anci, cor-de-mate, baixa e gorda, que andava com pano cabea,

    personificando o inconformismo e simbolizando a resistncia moral do convvio

    srdido das caladas. (SERRA, 2004 p.115-117).

    Consideraes finais

    Percebe-se que a fronteira oeste de Mato Grosso do Sul apresenta uma

    realidade particular nas relaes lingusticas de brasileiros e bolivianos que

    compartilham o contato das lnguas portuguesa e espanhola, mas acima de tudo,

    por meio do estudo das obras literrias nessa fronteira que percebemos a literatura

    fronteiria constitui um parmetro para anlise e um possvel diagnstico na

    representao da identidade nacional, atravs da apropriao, indagao e

    decodificao do contexto nacionalista, considerando que d visibilidade uma

    literatura com peculiaridades prprias zona de fronteira.

    Analisar a literatura nessa fronteira oeste Brasil- Bolvia refletir uma ruptura

    dos padres estticos europeizados, pois as obras fronteirias dizem muito sobre a

    interioridade do indivduo e a simbologia coletiva. Consoante com Paz (1986, p.209),

    percebe-se, enfim,concluir que a literatura nessa fronteira expressa a sociedade

    einfluencia para modific-la, contradiz-la ou neg-la. Esta literatura, ao caracterizar

    a sociedade fronteiria, ao mesmo tempo, revela, inventa e reinventa os prprios

    fronteirios. Assim, conclumos que a literatura de fronteira apresenta-se com

    caractersticas singulares, e expressa uma espcie de linguagem inaugural, quase

    sempre, pondo em cena as minorias sociolgicas, que,simbolicamente, so fortes

    representaes identitrias.

  • - 13 -

    Revista Multidisciplinar Acadmica Vozes dos Vales UFVJM MG Brasil N 04 Ano II 10/2013 Reg.: 120.2.0952011 UFVJM QUALIS/CAPES LATINDEX ISSN: 2238-6424 www.ufvjm.edu.br/vozes

    Resumen: Tanto en Brasil y Bolivia, hay pocos estudios sobre los contactos lingsticos, y en relacin con los estudios publicados de la frontera son an ms escasos o incipientes. Este artculo aborda el lenguaje en las obras literarias de Lobivar Matos, Csar Augusto Proena (BR) y Alcides Arguedas (BO) que describen el espacio de frontera Brasil-Bolivia, en los aspectos de la obra de alfabetizacin como Sarob, Races de Pantanal y Raza Bronce, entre otros, que contribuyen a definir el perfil lingstico de este espacio natural. A travs dela literatura, la apertura de los debates sobre el idioma en esta frontera, dando visibilidad al reconocimiento dela identidad delos hombres de la frontera y su expresin en defensa de la construccin de la identidad nacional de la natural. Palabras clave: Literatura, Lengua, frontera entre Brasil y Bolivia, Identidad Fronteriza.

    Referncias:

    APAZA, Gregorio Callisaya. LXICO AYMARA EN EL ESPAOL BOLIVIANO. In:

    Instituto francs de estdios. Julho de 2005. Disponvel em

    http://www.ifeanet.org/temvar/SII-ANT6.pdf. Acesso em: 04 set 2013.

    ANDRADE, Mrio de. Macunama, o heri sem nenhum carter. Rio de Janeiro, Villa

    Rica Editoras Reunidas Limitada, 1993.

    ___________. Raza de Bronce. Edio Especial. Opinin, Dirio de Circulacin

    Nacional. Santa Cruz: Coboce-opinin. 1988. Disponvel em:

    http://www.lafamilia.info/Libros/virtuales/Alcides%20Arguedas%20-

    %20Raza%20de%20bronce.pdf. Acesso em: 20 jun. 2013.

    __________. Raza de bronce; WuataWuara. Edicin crtica, coordinador Antonio

    Lorente Medina, liminar Carlos Castan Barrientos. Mxico: Direccin General de

    Publicaciones Del Conaculta. 2. ed. Madrid: UNESCO, 1997. Disponvel em:

    www.mshs.univ-poitiers.fr/crla/.../liminar_11.pdf. Acesso em: 20 jun. 2013.

    AZEVEDO, Cristiane Sampaio de. A desutilidade potica de Manoel de Barros:

    questo de poesia ou filosofia? Revista.doc. Ano VIII. n 3. Janeiro/Junho 2007.

    Disponvel em; www.revistapontodoc.com/3_cristianesa.pdf . Acesso em: 08 ago.

    2013.

    http://www.ifeanet.org/temvar/SII-ANT6.pdfhttp://www.lafamilia.info/Libros/virtuales/Alcides%20Arguedas%20-%20Raza%20de%20bronce.pdfhttp://www.lafamilia.info/Libros/virtuales/Alcides%20Arguedas%20-%20Raza%20de%20bronce.pdfhttp://www.mshs.univ-poitiers.fr/crla/.../liminar_11.pdf

  • - 14 -

    Revista Multidisciplinar Acadmica Vozes dos Vales UFVJM MG Brasil N 04 Ano II 10/2013 Reg.: 120.2.0952011 UFVJM QUALIS/CAPES LATINDEX ISSN: 2238-6424 www.ufvjm.edu.br/vozes

    BEZ, Renato. Corumb: Figuras & Fatos. So Paulo: Brasil, 1964.

    BAGNO, Marcos. Preconceito lingustico: o que , como se faz. 21. ed. So Paulo:

    Loyola, 1999

    BARBOSA, M.A. O lxico e a produo da cultura: elementos semnticos. I Encontro

    de Estudos Lingusticos de Assis. Anais. Assis; UNESP, 1993.

    FERREIRA, Bruno Galassi. ARAUJO, Susylene Dias de. AS NARRATIVAS ENTRE

    O FATO E A FICO NAS FRONTEIRAS DE MATTO GROSSO TERRA

    ABANDONADA DE UMBERTO PUIGGARI. RADO- Revista do Programa de Ps-

    Graduao em Letras da UFGD, Vol. 5, N 10. 2011. Disponvel em

    :http://www.periodicos.ufgd.edu.br/index.php/Raido/article/view/1334. Acesso em: 04

    set 2013.

    FERREIRA, Stael Moura da Paixo. SILVA, Rosangela Villa da. Algumas Reflexes

    Sobre Os Contatos Lingusticos na Fronteira Brasil-Bolvia: As Hibridaes tnicas,

    Culturais e Sociais. In: Revista Internacional ESTUDIOS HISTORICOS. Ao IV.

    Diciembre 2012. N 9. Uruguay. Disponvel em:

    http://www.estudioshistoricos.org/index.php?option=com_content&view=article&id=2

    6:edicion-9&catid 3 archivo temid 12 . Acesso em: 26 jul 2013.

    REVISTA DA ACADEMIA SUL-MATO-GROSSENSE DE LETRAS. Textos de

    Augusto Cesar Proena. Campo Grande, 2004. Disponvel em:

    http://www.acletrasms.com.br/texto.asp?ID=6. Acesso em: 23 jun. 2012.

    SILVA, Rosangela Villa da.Aspectos da pronncia do em Corumb-MS. So

    Paulo: Arte e Cincia/Campo Grande: UFMS, 2004.

    SILVA, R.V.da; RAVANELLI. M de S.: RIVAS, V.E.; GAERTNER, L.G. Lnguas em

    contato e aspectos da integrao lingustica em uma das fronteiras Brasil/Bolvia. In

    Despertar para a fronteira. Campo Grande: Ed. UFMS. 2009.

    Site da Embajada del Estado Plurinacional de Bolvia. Disponvel em:

    http://www.embolivia.org.br/. Acesso em 20 jul. 2013.

    MATOS, Lobivar. Sarob. Rio de Janeiro: Minha Livraria Editora, 1936. (Obra

    original disponvel na Biblioteca Lobivar Matos em Corumb-MS).

    MONTEIRO, Jos Lemos. Para Compreender Labov. Vozes: So Paulo, 2000.

    NACIFF, Marcela. La Raza de bronce de un Pueblo enfermo, o Alcides Arguedas y

    el problema del ndio. Cuadernos del CILHA, v. 9, n. 10, p. 34-46, 2008. Universidad

    Nacional de Cuyo Mendoza, Argentina. Disponvel em:

    http://www.periodicos.ufgd.edu.br/index.php/Raido/article/view/1334http://www.acletrasms.com.br/texto.asp?ID=6http://www.embassyofbolivia.nl/eshttp://www.embolivia.org.br/

  • - 15 -

    Revista Multidisciplinar Acadmica Vozes dos Vales UFVJM MG Brasil N 04 Ano II 10/2013 Reg.: 120.2.0952011 UFVJM QUALIS/CAPES LATINDEX ISSN: 2238-6424 www.ufvjm.edu.br/vozes

    http://redalyc.uaemex.mx/src/inicio/ArtPdfRed.jsp?iCve=181715657006. Acesso em:

    13 ago. 2012.

    PAZ, O. A Amrica Latina e a Democracia, A Tradio Antimoderna. In: Tempo

    Nublado. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.

    PUIGGARI, Umberto. Nas fronteiras de Mato Grosso terra abandonada. So

    Paulo: Casa Mayena, 1933.

    RAJAGOPALAN, Kanavillil. Por uma lingustica crtica: linguagem, identidade e

    aquesto tica. 2.ed. So Paulo: Parbola Editorial, 2003.

    SERRA, Ulisses. Camalotes e guavirais. Campo Grande: Academia Sul-Mato-

    Grossense de Letras Campo Grande Mato Grosso do Sul. Agosto de 2004.

    Disponvel em: acletrasms.com.br/revistas/camalotes.pdf Acesso em: 18 jul. 2013.

    Texto acadmico recebido em: 09/09/2013

    Processo de Avaliao por Pares: (Blind Review - Anlise do Texto Annimo)

    Publicado na Revista Vozes dos Vales - www.ufvjm.edu.br/vozes em: 01/10/2013

    Revista Multidisciplinar Vozes dos Vales - UFVJM - Minas Gerais - Brasil

    www.ufvjm.edu.br/vozes

    UFVJM: 120.2.095-2011 - QUALIS/CAPES - LATINDEX: 22524 - ISSN: 2238-6424

    http://redalyc.uaemex.mx/src/inicio/ArtPdfRed.jsp?iCve=181715657006http://www.ufvjm.edu.br/vozeshttp://www.ufvjm.edu.br/vozes