a identidade da igreja

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A IDENTIDADE DA IGREJA – Gn.12-1-3 Introdução “Imagine que não há paraíso... Você pode dizer que sou um sonhador Mas não o único Espero que um dia você se junte a nós E o mundo será um só” Canção de John Lennon (1970) imagina um mundo melhor em que não há guerra, injustiça, contenda, miséria, desigualdade, ruína e dor que ele vê neste mundo. Ele anseia por um mundo de paz e justiça que será um só. Lennon reconhece que, para que se torne realidade neste mundo, seu sonho não pode consistir em meras palavras e ideias: deve se tornar visível em uma comunidade, uma sociedade de pessoas dispostas a esse sonho, a dirigir sua vida a partir dele.

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Page 1: A Identidade Da Igreja

A IDENTIDADE DA IGREJA – Gn.12-1-3

Introdução

“Imagine que não há paraíso...

Você pode dizer que sou um sonhador

Mas não o único

Espero que um dia você se junte a nós

E o mundo será um só”

Canção de John Lennon (1970) imagina

um mundo melhor em que não há guerra,

injustiça, contenda, miséria,

desigualdade, ruína e dor que ele vê neste

mundo. Ele anseia por um mundo de paz

e justiça que será um só.

Lennon reconhece que, para que se torne

realidade neste mundo, seu sonho não

pode consistir em meras palavras e

ideias: deve se tornar visível em uma

comunidade, uma sociedade de pessoas

dispostas a esse sonho, a dirigir sua vida

a partir dele.

Page 2: A Identidade Da Igreja

O problema é que injustiça e egoísmo

estão profundamente arraigados nos

recônditos mais íntimos do coração

humano.

Os membros dessa comunidade de

Lennon não conseguiram incorporar a

sonhada mudança porque, apesar de

todas as suas boas intenções, a ganância

e a ruína que eles abominavam estavam

arraigadas em seus próprios corações.

Eles simplesmente não tinham como

chegar lá – tinham só boas intenções e

bons sonhos.

Mas John Lennon estava realmente

certo a respeito de uma coisa: esses

sonhos e esperanças são críveis somente

se houver a vida de uma comunidade que

já torna essas coisas visíveis aqui e agora

na sua vida comunitária. (igreja).

Por isso a necessidade de uma

eclesiologia é importante.

Page 3: A Identidade Da Igreja

Deus escolheu e formou uma

comunidade para encarnar sua obra no

meio da história humana.

Essa comunidade deveria manifestar o

conhecimento de Deus, a alegria, a

retidão, a justiça e a paz desse novo

mundo.

Nessa comunidade, todos poderiam ver

os princípios do tipo de mundo que Deus

havia originalmente planejado na criação.

Durante o período do A.T., Israel foi

escolhido para ser essa comunidade, e a

dádiva da lei e da sabedoria de Deus a

Israel expressou um padrão de vida que

tornaria palpável esse novo mundo no

meio dos povos do Oriente.

Porém, o povo de Israel fracassou

seguidamente na sua tarefa, não foi a

comunidade exemplar que Deus havia

pretendido, porque o velho mundo ainda

governava seu coração.

Page 4: A Identidade Da Igreja

Deus através dos profetas prometeu

que um dia agiria de maneira decisiva

para finalmente renová-lo, tratar de seu

pecado e converte-lo em uma sociedade

de pessoas restauradas.

Na cruz Deus obteve uma vitória

decisiva sobre tudo que John Lennon

abominava.

É por esse motivo que a igreja foi

escolhida e experimentou o que é

salvação. Isso é quem somos.

Essa maneira de compreender e

expressar o papel e a identidade da igreja

recebeu a designação “Missional”.

A palavra Missional descreve não uma

atividade específica da igreja, mas a

própria essência e identidade da igreja à

medida que ela assume seu papel na

história de Deus no contexto de sua

cultura e participa na missão de Deus

para o mundo.

Page 5: A Identidade Da Igreja

Descrever uma igreja como missional

significa definir a comunidade cristã

inteira como um corpo enviado ao mundo

e que existe não para si mesmo, mas para

levar as boas-novas ao mundo.

A eclesiologia tem uma função

importante a desempenhar na

recuperação desse papel e dessa

identidade:

“Quando nós, igreja, estamos confusos

sobre quem somos e a quem pertencemos,

podemos nos tornar qualquer coisa e de

qualquer um.”

Eclesiologia tem a ver com a

compreensão de nossa identidade,

quem somos e por que Deus nos

escolheu – a quem pertencemos.

O escritor John Stackhouse menciona

diversos exemplos históricos em que a

igreja cedeu e foi moldada pela cultura ao

Page 6: A Identidade Da Igreja

seu redor, incluindo a igreja alemã na

Alemanha nazista, a igreja sul-africana

durante o apartheid, a igreja em Ruanda

no longo período de violência tribal e

Ruanda, bem como a igreja ocidental na

cultura moderna e pós-moderna. Em cada

um desses exemplos, a igreja se esqueceu

de seu papel bíblico e adotou em seu lugar

a identidade que lhe foi atribuída pela

cultura circundante, aceitando esse lugar

na história cultural.

Ela se rendeu aos ídolos da cultura ao

seu redor.

Necessitamos de eclesiologia para que

possamos ser quem e de quem de fato

somos.

Eclesiologia, no seu âmago, é a

autocompreensão da comunidade cristã,

que então organiza sua vida de uma

maneira particular por causa dessa

autocompreensão.

Page 7: A Identidade Da Igreja

COMO AO LONGO DOS ANOS

PERDEMOS A NOSSA IDENTIDADE:

A igreja dos primeiros três séculos d.C.

vivendo no Império Romano pagão e

muitas vezes hostil, definiam-se como

estrangeiros residentes (grego significa=

uma tensão redentora entre a igreja e seu

contexto cultural).

Esses primeiros cristãos compreendiam-

se como diferentes de outros na sua

conduta, e viviam juntos como uma

comunidade alternativa nutrida por uma

história alternativa.

QUAL ERA A ESSÊNCIA DESSA VIDA

EXEMPLAR?

As barreiras que o mundo haviam sido

erigidos no mundo antigo entre ricos e

pobres, homens e mulheres, escravos e

livres, gregos e bárbaros foram

derrubadas.

Page 8: A Identidade Da Igreja

A vida moral exemplar de cristãos

comuns se destacava diante da

imoralidade desenfreada de Roma.

A esperança, a alegria e a confiança dos

cristãos resplandeciam claramente em

meio ao desespero.

A unidade cristã contrastava

nitidamente, fidelidade conjugal e

domínio próprio em meio a um império

decante e saturado de sexo.

O amor perdoador de uns para com os

outros e para com seus inimigos

testemunhavam do poder do evangelho.

Este testemunho da igreja primitiva era

publicamente subversivo.

Sua confissão de que “Jesus é Senhor”

opunha-se diretamente à confissão

“César é Senhor”, que mantinha o

império unido.

Page 9: A Identidade Da Igreja

Na igreja primitiva, vemos uma espécie

de comunidade que compreendeu sua

identidade como um povo chamado para

testemunhar acerca do reino de Deus em

meio ao mundo ímpio.

A CRISTANDADE COMO IGREJA

ESTABELECIDA

No ano 312 d.C., o imperador

Constantino tornou-se cristão e legalizou

a fé cristã.

A igreja teve de fazer muitos ajustes de

grande alcance em sua nova posição de

influência no império decadente.

De uma posição marginal a igreja passou

a ter uma posição dominante na

sociedade; de ser considerada inferior

social, política e intelectualmente passou

à posição de superioridade e poder.

Page 10: A Identidade Da Igreja

A identidade da igreja foi moldada cada

vez mais pela história da cultura, e não

pela missão de Deus.

“Foi a herança da cristandade recebida

pela igreja que a conduziu a uma

trajetória de ACOMODAÇÃO.”

A igreja estreitou sua compreensão da fé

cristã, adaptando-se à cosmovisão

humanista.

Michael Gohhen diz: “o desafio para a

igreja é assumir sua tarefa da reforma e

na renovação da vida como um todo, em

vez de se tornar mais um serviço de

atendimento ao cliente isolado.”

CONSIDERA-SE ALGUMAS IMAGENS

DA IGREJA QUE PODEM REFLETIR OS

LEGADOS DA CRISTANDADE, DO

ILUMINISMO E DO CONSUMISMO.

Page 11: A Identidade Da Igreja

IGREJA COMO SHOPPING CENTER OU

PRAÇA DE ALIMENTAÇÃO –

Shopping centers oferecem uma

variedade de bens de consumo e as

praças de alimentação também oferecem

inúmeras opções. De modo semelhante, a

igreja oferece uma variedade de

programas para suprir as necessidades

religiosas da congregação.

IGREJA COMO CENTRO COMUNITÁRIO:

Várias instituições existem para suprir

necessidades sociais e se organizam em

torno de hobbies e interesses especiais de

seus membros.

Nesse modelo, a igreja se torna um centro

para suprir as necessidades sociais de

seus membros ao se organizarem em

torno de um conjunto compartilhado de

crenças e de um interesse religioso em

comum. Vários programas são

concebidos para adolescentes, solteiros,

recém-casados e outros grupos para

Page 12: A Identidade Da Igreja

satisfazer suas necessidades sociais

particulares.

IGREJA COMO EMPRESA: Empresas são

racionalmente organizadas para

crescimento, lucro e marketing eficaz de

seus produtos.

Frequentemente os pastores e líderes da

igreja são orientados em direção a

eficiência e não ao cuidado pastoral e a

liderança missional.

Essas igrejas estão organizadas para

comercializar as mercadorias religiosas

que podem oferecer.

IGREJA COMO TEATRO: Teatros são

lugares nos quais as pessoas são

convidadas a sentar-se e desfrutar

passivamente de diversos tipos de

entretenimento. Muitas vezes a maneira

de estruturarmos nossos locais de culto e

liturgias faz nossos "cultos" se pareçam

mais com oportunidades para

entretenimento.

Page 13: A Identidade Da Igreja

IGREJA COMO SALA DE AULA:

Instituições educacionais continuam a

dominar a cultura ocidental. Nessa

estrutura voltada para o consumo, elas

oferecem ensino e discernimento para a

vida. Isso pode muito bem refletir um dos

itens de consumo que a igreja tem a

oferecer a seus integrantes por meio de

estudo bíblico e ensino.

IGREJA COMO HOSPITAL OU SPA: Um

hospital é um lugar de cura, e um spa

oferece a oportunidade para o

rejuvenescimento em um mundo

estressante. A igreja é um lugar de cura

espiritual e rejuvenescimento.

IGREJA COMO UM SEMINÁRIO

MOTIVACIONAL: Em nosso mundo

orientado pela autoajuda, não faltam

seminários motivacionais para ajudar a

melhorar vários aspectos de nossa vida. A

igreja também pode oferece-los, desde

Page 14: A Identidade Da Igreja

dicas de como ser pais melhores a

maneiras de aprimorar o casamento.

IGREJA COMO POSTO DE ASSISTÊNCIA

SOCIAL: O braço de assistência social do

governo existe para cuidar dos fracos,

necessitados e pobres. A igreja

compassiva, preocupada com a

misericórdia diaconal na sua vizinhança,

pode se parecer com esse tipo de

instituição no seu cuidado pelos

necessitados.

-A igreja deve ensinar, importar-se com

os pobres, proporcionar relações sociais e

assim por diante. O problema surge

quando a história bíblica e a natureza

da igreja são esquecidas; então essas

atividades são moldadas por uma história

diferente e perdem seu formato eclesial

autentico.

Page 15: A Identidade Da Igreja

As questões que temos de enfrentar são:

Qual história está moldando nossa

autocompreensão da missão da igreja?

Que imagens estão formando nossa

identidade?

Às vezes, a única forma de avançar é

começar novamente do início.

Para compreender corretamente a igreja,

deve-se começar pelo A.T., porque a

natureza missional da igreja está

arraigada no chamado de Israel.

A identidade missional de Israel é definida

pelo papel que é chamado a desempenhar

na iniciativa redentora de Deus, como

sugere Christopher Wright;

“Fundamentalmente, nossa missão

significa nossa participação

comprometida como povo de Deus,

mediante o convite e a ordem de Deus, na

própria missão de Deus na história do

Page 16: A Identidade Da Igreja

mundo para a redenção da criação de

Deus.”

“A missão de Deus envolve o povo de

Deus vivendo à maneira de Deus diante

das nações.”

A PROMESSA ABRAÂMICA:

ABENÇOADO PARA ABENÇOAR:

Em Gn.12:1-3, Deus faz uma promessa a

Abraão.

O contexto da promessa:

Gn.1-11 – Deus revela a estratégia que irá

adotar em sua missão para restaurar a

criação.

Há uma divisão estrutural básica no livro

de Genesis, entre os capítulos 1-11

(Chamada história primeva) e

12-50(a história dos patriarcas de Israel-

Abraão, Isaque e Jacó).

A promessa de Abraão é uma passagem e

conexão entre as duas seções.

Page 17: A Identidade Da Igreja

Adão está no topo da primeira e Abraão

na segunda.

Os primeiros capítulos apresentam o

problema para o qual a promessa de Deus

a Abraão é a solução.

Gn1-11- conta a história da criação

divina do mundo, da rebelião humana,

do crescimento abominável do pecado à

medida que se alastra por toda a terra.

Gn12, subitamente o foco da história fica

mais restrito: da atuação universal de

Deus com todas as nações para o seu

relacionamento particular com um único

homem.

Gn.3-11- descreve o mundo inteiro e

todas as nações em seu relacionamento

com Deus, mostrando especialmente o

DISTANCIAMENTO entre Deus e toda

humanidade.

Page 18: A Identidade Da Igreja

A má notícia foi vividamente exibida:

todas as nações estão separadas de

Deus.

A primeira seção de Gn.10-11 termina

com juízo culminante de Deus sobre

todas as nações.

E então vem a reviravolta, a boa notícia:

Deus escolhe Abraão e lhe dá a promessa

de que a benção e a harmonia da boa

criação de Deus serão restauradas para

as nações por meio de Abraão.

GN.12:1-3 – ESCOLHIDO EM FAVOR DE

TODAS AS NAÇÕES:

O papel do povo de Deus está aqui; eles

são escolhidos em favor do mundo.

Alguns elementos na promessa que Deus

faz a Abraão:

No primeiro elemento da promessa,

tornar-se claro que há dois estágios no

plano da redenção divina:

Page 19: A Identidade Da Igreja

O primeiro alvo é fazer de Abraão uma

nação grande e poderosa, com as dádivas

de Deus: descendentes, terra e benção.

O segundo alvo é abençoar, por meio

dessa grande nação de Abraão, todas as

nações da terra.

As 70 nações de Gn.10 são, portanto,

uma lista representativa, na qual as 70

nações reais representam todas as

nações da terra.

Benção é um termo bíblico com ricas

ressonâncias, significando a revogação

da maldição do pecado e a restauração da

plenitude da criação.

A palavra “abençoar” é usada cinco

vezes em Gn.12:2-3, é intencional, uma

vez que a palavra “amaldiçoar” é usada

cinco vezes em Gn.1-11.

Desse modo, o autor de Gn pretende

deixar claro que Deus quer reverter em

Abraão os efeitos do pecado.

Page 20: A Identidade Da Igreja

O segundo elemento a ser observado na

promessa de Deus a Abraão é que a

eleição tem por finalidade uma missão:

a fim de que...

O povo de Deus é um povo a fim de que:

eles são escolhidos a fim de que possam

conhecer a salvação de Deus então

convidar todas as nações a fazer parte

dela.

Sua vida deve exibir o plano de criação

de Deus para a vida humana e o objetivo

para o qual seu propósito está me

movendo.

Conclusão

Assim, Abraão, sua família e a nação que

se formará a partir dele são escolhidos

para participar da missão de Deus:

desfrutar da benção redentora de Deus e

andar nos caminhos do Senhor a fim de

que as nações possam participar dessa

benção.