a história secreta dos jesuítas - edmond paris

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  • A Histria Secreta dos Jesutas Edmond Paris

    Traduzido para o portugus em 1997 por Josef Sued21 edio: 2* tiragem / Ano 2000

    ndiceBH Introduo dos editoresIntroduo do Dr. Alberto RiveraO Homem Edmond ParisCaptulo 1

    Fundao da Ordem JesutaIgncio de LoyolaOs Exerccios EspirituaisFundao da CompanhiaO Esprito da OrdemOs Privilgios da Companhia

    Captulo 2Os Jesutas na Europa Durante os Sculos XVI e XVIIItlia, Portugal e Espanha AlemanhaOs Jesutas: O General Boulanger e o Caso DreyfusOs Anos Antes da Guerra 1900-1914

    Captulo 3Misses no Estrangeirondia, Japo e ChinaAs Amricas: O Estado Jesuta do Paraguai

    Captulo 4Os Jesutas na Sociedade EuropiaO Ensino dos Jesutas A Moral dos Jesutas O Eclipse da CompanhiaRenascimento da Companhia de Jesus Durante o Sculo XIXO Segundo Imprio e a Lei Falloux - A Guerra de 1870Os Jesutas em Roma - O Slabo Os Jesutas na Frana de 1870 a 1885

    Captulo 5O Ciclo InfernalA Primeira Guerra MundialPreparativos para a Segunda Guerra Mundial

  • A Agresso Alem e os Jesutas: ustria, Polnia, Thecoslovquia e YugoslviaO Movimento Jesuta na Frana Antes e Durante a Guerra de 1939-1945A Gestapo e a Companhia de JesusOs Campos da Morte e a Cruzada Anti-SemitaOs Jesutas e o Collegium Russicum O Papa Joo XXIII Tira a Mscara

    Captulo 6 ConclusoCaptulo 7 BibliografiaPeridicos

    SuaPolnia e RssiaSucia e InglaterraFrana

    Introduo dos EditoresNo h pessoa mais qualificada para fazer a introduo do livro de Edmond Paris, "A Histria

    Secreta dos Jesutas", que o Dr. Alberto Rivera, ex-sacerdote jesuta, criado desde os sete anos de idade em um seminrio na Espanha, sob extremo juramento e os mais rgidos mtodos de induo, treinado inclusive no Vaticano, que resumiu a histria dos jesutas.

    Os dados contidos neste livro so factuais e amplamente documentados, encontrando-se disposio para consulta de todos os cristos, ao redor do mundo, que crem na Bblia, a qual declara:

    "O meu povo est sendo destrudo porque lhe falta o conhecimento". Osias 4.6

    Introduo do Dr. Alberto RveraOs homens mais perigosos so aqueles que aparentam muita religiosidade, especialmente

    quando esto organizados e detm posies de autoridade, contando com o profundo respeito do povo, o qual ignora seu srdido jogo pelo poder nos bastidores.

    Esses homens chamados "religiosos", que fingem amar a Deus, recorrero ao assassinato, incitaro revolues e guerras, se necessrio, em apoio sua causa. So polticos ardilosos, inteligentes, gentis e de aparncia religiosa, vivendo em um obscuro mundo de segredos, intrigas e santidade mentirosa.

    Esse padro humano, observado em A Histria Secreta dos Jesutas, espiritualmente falando, pode ser verificado entre os escribas, fariseus e saduceus do tempo de Jesus Cristo.

    Os "pastores primitivos" observavam muito do antigo sistema babilnico, alm da Teologia judaica e da Filosofia grega. Todos eles perverteram a maior parte dos ensinamentos de Cristo e de Seus apstolos, construindo as bases para a mquina do catolicismo romano, que estava por vir. Piamente, atacaram, perverteram, acrescentaram e suprimiram da Bblia.

    Esse esprito religioso anticristo, trabalhando atravs deles, pde ser visto novamente quando Igncio de Loyola criou os jesutas para, secretamente, atingir dois grandes objetivos da instituio catlica romana:

    1) Poder poltico universal2) Uma igreja universal, no cumprimento das profecias de Apocalipse 6.13-17 e 18.

  • No momento em que Igncio de Loyola apareceu em cena, a Reforma Protestante tinha danificado seriamente o sistema catlico romano. Ele chegou concluso que a nica possibilidade de sobrevivncia para a sua "igreja" seria atravs do reforo dos cnones.

    Isso aconteceria no pelo simples aniquilamento das pessoas, conforme os frades dominicanos se incumbiam de fazer atravs da Inquisio, mas pela infiltrao e penetrao em todos os setores da sociedade. "O protestantismo deve ser conquistado e usado para o benefcio dos papas", era a proposta pessoal de Igncio de Loyola ao papa Paulo III.

    Os jesutas comearam a trabalhar imediatamente, infiltrando-se em todos os grupos protestantes, incluindo-se a suas famlias, locais de trabalho, hospitais, escolas, colgios e demais instituies. Atualmente, tm sua misso praticamente concluda.

    A Bblia coloca o poder de uma igreja local nas mos de um pastor de Deus. Os astutos jesutas, no entanto, conseguiram com sucesso tirar aquele poder das denominaes evanglicas ao longo do tempo, tendo conseguido agora lanar quase todas as denominaes protestantes nos braos do Vaticano. Isso foi exatamente o que Igncio de Loyola se props a atingir: uma igreja universal e o fim do protestantismo.

    Na medida em que o leitor for se aprofundando na leitura do livro A Histria Secreta dos Jesutas, perceber a existncia de um] paralelo entre os setores religioso e poltico. O autor, Edmond Paris, revela a infiltrao dos jesutas nos governos e naes do mundo, para manipulao do curso da Histria, erguendo ditaduras, enfraquecendo democracias, abrindo caminho para a anarquia social, poltica, moral, militar, educacional e religiosa.

    O Homem Edmond ParisAtravs dos trabalhos profticos do livro do Apocalipse, Edmond Paris se tornou em um mrtir

    para Jesus. Ao expor tal conspirao, apostou sua vida na verdade dos sinais bblicos a serem conhecidos.

    Edmond Paris nunca chegou a me conhecer, mas o conheci sem termos sido apresentados pessoalmente, quando, com outros jesutas e sob juramento, fui instrudo a respeito dos nomes de instituies e indivduos na Europa considerados perigosos para os objetivos da instituio catlica romana. Seu nome nos foi passado nessa ocasio.

    Obras de Edmond Paris: Le Vatican Contre La France Genocide in the Satellite Croatia The Vatican Against Europe.

    As obras de Edmond Paris sobre o catolicismo romano fizeram com que os jesutas assumissem como compromisso: destru-lo; destruir sua reputao, inclusive de sua famlia, e destruir seu trabalho. At hoje, estas grandes obras de Edmond Paris tm sido adulteradas, mas pedimos que Deus continue a preserv-las, pois so extremamente necessrias para a salvao do povo catlico romano.

    PrefcioUm escritor do sculo passado, Adolphe Michel, lembrava que Voltaire estimava em seis mil o

    nmero de obras publicadas sobre os jesutas quela poca. 'A que nmero chegaremos um sculo depois?", perguntava Adolphe Michel, apenas para terminar em seguida: "No importa. Enquanto houver jesutas, livros tero de ser escritos contra eles. Nada mais pode ser dito de novo sobre eles, mas as novas geraes de leitores surgem todos os dias, e esses leitores procuraro por livros velhos?" A razo a qual acabamos de mencionar seria mais do que suficiente para justificar a retomada desse assunto exaustivamente discutido.

  • De fato, muitos dos primeiros livros retratando a histria dos jesutas no podem mais ser encontrados. Apenas em bibliotecas pblicas ainda podem ser consultados, o que os torna inacessveis maior parte dos leitores.

    Com o propsito de informar suscintamente ao pblico em geral, pareceu-nos necessrio um sumrio dessas obras.

    H tambm outra razo, to importante quanto a que acabamos de mencionar. Ao mesmo tempo em que novas geraes de leitores surgem, novas geraes de jesutas aparecem, e estes, trabalham ainda hoje, com os mesmos mtodos tortuosos e tenazes com os quais to freqentemente no passado fizeram funcionar os reflexos defensivos de naes e governos.

    Os filhos de Loyola, mais do que nunca, so a ala dominante da Igreja Romana. To bem disfarados quanto antigos, continuam a ser os mais eminentes "ultramontanos"; os agentes discretos mas eficazes da Santa S em todo o mundo; os campees camuflados de sua poltica; a "arma secreta do papado".

    Este livro ao mesmo tempo uma retrospectiva e atualizao da histria do jesuitismo. Pelo fato da maioria das obras referentes aos jesutas no mencionarem o papel primordial deles nos eventos que esto subvertendo o mundo nos ltimos cinqenta anos, acreditamos ter chegado o momento de superarmos essa lacuna ou, mais precisamente, iniciarmos com nossa modesta contribuio um estudo ainda mais profundo sobre o assunto.

    Fazemo-lo, sem ignorar os obstculos a serem enfrentados pelos autores no - apologistas, desejosos de tornarem pblicos escritos sobre esse assunto to incandescente.

    De todos os fatores integrantes da vida internacional de um sculo cheio de confuses e transtornos, um dos mais decisivos - e ainda no suficientemente reconhecidos - reside na ambio da Igreja Romana.

    Seu desejo secular de estender sua influncia ao Oriente fez dela o aliado "espiritual" do Pan-Germanismo e, ainda, sua cmplice na tentativa de conquistar poder supremo, em duas ocasies, 1914 e 1939, trazendo morte e runa aos povos da Europa. O pblico praticamente ignora a responsabilidade absoluta do Vaticano e seus jesutas no incio das duas guerras mundiais - uma situao que pode ser parcialmente explicada pelos fundos gigantescos disposio do Vaticano e seus jesutas, dando-lhes poder em muitas esferas da vida social, especialmente a partir do ltimo conflito.

    Na realidade, o papel desempenhado por eles nesses eventos trgicos, quase nem chegou a ser mencionado at o presente momento, exceo dos apologistas, ansiosos por disfar-lo. com o objetivo de corrigir isso e estabelecer os fatos verdadeiros que apresentamos nesta e em outras obras a atividade poltica do Vaticano na atualidade - atividade esta que tambm conta com a participao dos jesutas.

    Apesar da tendncia generalizada cada vez maior de uma "laicizao" (excluso da religiosidade); do progresso inelutvel do racionalismo, que reduz um pouco a cada dia o domnio do "dogma", a Igreja Romana no poderia desistir do grande objetivo, o qual tem sido seu propsito desde o incio: reunir sob o seu domnio todas as naes da Terra. Essa "misso" monumental deve continuar, independentemente do que acontea, tanto entre os "pagos" quanto entre os "cristos separados".

    O clero secular tem, em especial, a tarefa de sustentar as posies adquiridas, o que particularmente difcil hoje em dia, enquanto fica a cargo de certas ordens regulares o aumento do rebanho de fiis, pela converso dos "hereges" e "pagos", um trabalho ainda mais rduo.

    A tarefa de preservar ou adquirir, defender ou atacar e, na frente de batalha, est a fora de combate da Companhia de Jesus - os jesutas. Essa companhia no secular nem regular nos

  • termos de seus estatutos; , no entanto, um tipo sutil, intervindo quando e onde for conveniente, dentro e fora da Igreja.

    Resumindo: "A Companhia de Jesus o agente mais qualificado, mais perseverante, mais destemido e mais convicto da autoridade papal", como a descreveu um de seus melhores historiadores.

    Veremos de que maneira esse corpo de janzaros (tropa de choque) foi formado e que tipo de servio inestimvel dedicou ao papado. Verificaremos tambm o quanto esse zelo foi realmente efetivo, a ponto de se tornar indispensvel instituio que servia, exercendo tamanha influncia que seu prior era chamado, e com razo, de o "Papa Negro", pois tornava-se cada vez mais difcil distinguir, no governo da Igreja, a autoridade do papa e a do seu poderoso coadjutor.

    O papa, no satisfeito em dar apenas o seu "apoio" pessoal a Hitler, concedeu dessa forma o apoio moral do Vaticano ao Reich nazista! Ao mesmo tempo em que o terror estava comeando a reinar do outro lado do Reno, e era secretamente aceito e aprovado, os assim chamados "camisa marron" j tinham posto quarenta mil pessoas em campos de concentrao.

    Os massacres organizados e perseguies se multiplicavam, ao som dessa marcha nazista: "Quando o sangue judeu escorrer pela lmina, nos sentiremos melhor novamente" (Horst- Wessel - Lied).

    Durante os anos seguintes, Pio XII viu coisas ainda piores, sem se alterar. No de surpreender que os dirigentes catlicos da Alemanha competissem entre eles na servido ao regime nazista, encorajados que eram pelo seu "mestre" romano. Seria importante ler os delrios ensandecidos e as acrobacias verbais de telogos oportunistas, dentre eles Michael Schmaus, o qual foi posteriormente elevado por Pio XII a "alto dignatrio da Igreja", e descrito como "o grande telogo de Munique" pela publicao La Croix, em 2 de setembro de 1954. Ou ainda um certo livro intitulado Katholisch Konservatives Erbgut, sobre o qual algum escreveu:

    "Esta antologia oferece-nos textos dos principais tericos catlicos da Alemanha, de Gorres a Vogelsang, fazendo-nos crer que o nacional-socialismo nasceu pura e simplesmente de idias catlicas" (Gunther Buxbaum, Mercure de France, 15 de janeiro de 1939).

    Os bispos, obrigados a fazer um voto de obedincia a Hitler, devido ao Tratado, sempre tentaram superar uns aos outros em sua "devoo".

    "Sob o regime nazista, constantemente encontramos o suporte fervoroso dos bispos em todas as correspondncias e declaraes de dignatrios eclesisticos" (Joseph Rovan, op. cit. pg. 214).

    Tais documentos trazem luz as aes secretas e prfidas do Vaticano para a criao de conflitos entre as naes, quando serviam aos seus interesses. Com a ajuda de artigos conclusivos, mostramos o papel desempenhado pela "Igreja" na ascenso dos regimes totalitrios na Europa.

    Estes testemunhos e documentos constituem uma denncia esmagadora e, at o momento, nenhum apologista se atreveu a desmenti-los.

    No dia 1o. de maio de 1938, o jornal Mercure de France lembrou do que havia dito quatro anos antes, e ningum o desmentiu: Que o papa Pio XII foi quem "fez" Hitler. Ele veio ao poder, no tanto atravs dos meios legais mas, principalmente, por causa da influncia do papa no Centrum (partido catlico alemo). O Vaticano acredita que cometeu um erro poltico ao ajudar Hitler indicando-lhe o caminho do poder? Parece que no...

    Pelo menos parecia que no quando isso foi escrito, ou seja, no dia seguinte ao 'Anschluss", ocasio na qual a ustria se uniu ao Terceiro Reich; nem posteriormente, quando as agresses nazistas se multiplicaram; nem mesmo durante toda a Segunda Guerra Mundial.

  • Na verdade, no dia 24 de julho de 1959, Joo XXIII, sucessor de Pio XII, conferiu Franz Von Papen, seu amigo pessoal, o ttulo honorrio de camareiro secreto. Este homem havia sido espio nos Estados Unidos durante a Primeira Guerra Mundial e um dos responsveis pela ditadura de Hitler e pelo Anschluss. S algum tipo especial de "cegueira" pode nos impedir de ver fatos to claros.

    Joseph Rovan, autor catlico, comenta o acordo diplomtico entre o Vaticano e o Reich nazista em 8 de julho de 1933: "O Tratado trouxe ao governo nacional-socialista, considerado por quase todo o mundo como sendo formado de usurpadores, quando no bandoleiros, o selo de um acordo com a fora internacional mais antiga, a epstola pastoral de 3 de junho de 1933, na qual todo o episcopado alemo est envolvido. Que forma toma este documento? Como que comea? Com otimismo e com esta declarao de satisfao: Os homens na direo deste novo governo, para nossa grande alegria, deram-nos a garantia de que colocam a si prprios e ao seu trabalho em bases crists. Uma declarao de tamanha sinceridade merece a gratido de todos os catlicos" (Paris, Plon, 1938, pg. 108).

    Desde o incio da Primeira Guerra Mundial, vrios papas tm surgido e desaparecido, mas suas atitudes tm se mantido invariavelmente as mesmas com respeito s duas faces que se tm confrontado na Europa. Muitos autores catlicos no poderiam esconder a surpresa - e pesar - ao escreverem sobre a indiferena desumana demonstrada por Pio XII face aos piores tipos de atrocidades cometidas por aqueles em seu favor. Dentre muitos testemunhos, citaremos um entre os mais moderados em suas palavras contra o Vaticano, por Jean d'Hospital, correspondente do Le Monde:

    "A memria de Pio XII est cercada de apreenso. Devido seguinte polmica feita por observadores de todas as naes: Mesmo dentro das paredes do Vaticano, ser que ele sabia de certas atrocidades cometidas durante esta guerra, iniciada e conduzida por Hitler?"

    Tendo sua disposio, a todo tempo, de todas as regies, relatrios regulares dos bispos, poderia ele desconhecer o que os dirigentes militares alemes no podiam disfarar - a tragdia dos campos de concentrao; civis condenados deportao; os massacres a sangue-frio daqueles que ficavam "pelo meio do caminho"; o terror das cmaras de gs onde, por razes administrativas, milhes de judeus foram exterminados? E se por acaso sabia de tudo isso, por que ele, fiel dignatrio e primeiro pregador do Evangelho, no veio a pblico, vestido de branco, armas estendidas na forma da cruz, para denunciar um crime sem precedentes e bradar: "No!"?

    Apesar da diferena bvia entre o universalismo catlico e o racismo hitleriano, essas duas doutrinas haviam sido "harmonicamente reconciliadas", de acordo com Franz Von Papen. A razo pela qual esse acordo escandaloso era possvel consistia em que "o nazismo uma reao crist contra o esprito de 1789".

    Voltemos a Michael Schmaus, professor na Faculdade de Teologia de Munique, que escreveu: "Imprio e Igreja consistem em uma srie de escritos que devem ajudar na construo do Terceiro Reich, j que rene um Estado nacional-socialista e a cristandade catlica. Inteiramente alemes e inteiramente catlicos, estes escritos favorecem relaes e intercmbio entre a Igreja Catlica e o nacional-socialismo; eles abrem caminho a uma cooperao frutfera, como est realado pelo Tratado.

    O movimento nacional-socialista o mais intenso e abrangente protesto contra o esprito dos sculos XIX e XX. A idia de um povo de nico sangue o ponto fundamental de seus ensinamentos e todos os catlicos que obedecerem s instrues dos bispos alemes tero de admitir que assim . As leis do nacional-socialismo e as da Igreja Catlica tm o mesmo objetivo" (Begegnungen Zwischen Katholischem Christentum und Nazional-Sozialistischer Weltanschauung Aschendorff, Munster, 1933).

  • Esse documento prova o papel fundamental assumido pela Igreja Catlica na ascenso de Hitler ao poder; na verdade, tratava-se de uma combinao pr-estabelecida. Ilustra o tipo de acordo monstruoso entre o catolicismo e o nazismo. O dio ao liberalismo, que a chave de tudo, torna-se absolutamente claro.

    Vejamos o que Alfred Grosser, professor do Instituto de Estudos Polticos da Universidade de Paris, diz: "O conciso livro de Guenter, Lewy The Catholic Church and Nazi Germany (New York, McGraw Hill, 1964), diz que todos os documentos concordam ao demonstrar a cooperao da Igreja Catlica com o regime de Hitler. Em julho de 1933, quando o Tratado obrigou os bispos a jurarem um voto de obedincia ao governo nazista, os campos de concentrao j estavam abertos. A leitura de citaes compiladas por Guenter Lewy a prova irrefutvel disso. Encontramos algumas evidncias impressionantes de personalidades, tais como o cardeal Faulhaber e o jesuta Gustav Gundlach.

    Apenas palavras vazias podem ser encontradas para negar tais evidncias que provam a culpabilidade do Vaticano e de seus jesutas. A ajuda destes a principal fora por detrs da ascenso "iluminada" de Hitler que, juntamente com Mussolini e Franco, apesar das aparncias, eram fantoches de guerra manipulados pelo Vaticano e seus jesutas.

    Os aduladores do Vaticano deveriam ter baixado suas cabeas, envergonhados, quando um membro do Parlamento italiano exclamou: 'As mos do papa esto cheias de sangue!" (fala de Laura Diaz, membro do Parlamento por Livorno, pronunciada em Ortona, em 15 de abril de 1946), ou quando os estudantes do Cardiff University College escolheram como tema para conferncia: Deveria o papa ser trazido a tribunal como sendo um criminoso de guerra? (La Croix, 2 de abril de 1946).

    Vejamos agora como o papa Joo XXIII se expressou ao se referir aos jesutas: "Perseverem, queridos filhos, nas atividades que j vos trouxeram mritos reconhecidos. Assim vs alegrareis a Igreja e crescereis com incansvel fervor: o caminho do justo como a luz da aurora... E que a luz cresa e ilumine a formao dos adolescentes...

    Em seu livro, Le Silence de Pie XII, publicado por du Rocher, Mnaco, 1965, o autor Cario Falconi escreve em especial:

    "A existncia de tais monstruosidades - extermnios em massa de minorias tnicas, civis prisioneiros e deportados - ultrapassa de longe qualquer conceito de bem e mal. Desafia a dignidade dos seres individuais e da sociedade em geral de tal forma, que leva a denunciar aqueles que poderiam ter influenciado a opinio pblica, sendo eles simples civis ou dirigentes de governos.

    Para manter o silncio diante de tamanho ultraje, deve-se levar em conta uma colaborao inequvoca. Esta estimularia a vilania dos criminosos, instigando sua crueldade e vaidade. Mas se todo homem tem o dever moral de reagir quando confrontado com tais crimes, as sociedades religiosas e seus dirigentes so duplamente obrigados a isso e, acima de tudo, a Igreja Catlica.

    Pio XII nunca expressou uma condenao direta e explcita da guerra de agresso, muito menos com respeito aos crimes indescritveis cometidos pelos alemes ou seus cmplices durante a guerra.

    Ele no se manteve em silncio por no saber o que estava acontecendo; sabia da gravidade da situao desde o comeo, talvez at melhor do que qualquer outro chefe de Estado do mundo" (pgina 12 ss).

    O pior ainda est por vir! O Vaticano prestou ajuda na execuo desses crimes, "alugando" alguns de seus prelados para que estes se tornassem agentes pr-nazistas, neste caso, Hlinka e Tiso. Tambm enviou para a Crocia seu prprio representante, R.P Marcone que, auxilado por

  • Stepinac, vigiava as atividades de Ante Pavelitch e seus assessores. Onde quer que procuremos, o mesmo espetculo "edificante" se apresenta.

    Muito sofrimento, condio de vida desumana, desespero e milhes de mortes nos chamados campos de concentrao nazistas: este foi o resultado do apoio da Igreja Catlica a Hitler.

    Dessa forma, vs ajudareis a levar avante nossos desejos e preocupaes espirituais... Ns concedemos nossa bno apostlica de todo o corao ao vosso prior, a vs e a vossos coadjutores, e a todos os membros da Companhia de Jesus".

    E do papa Paulo VI: "Desde o tempo de sua restaurao, esta famlia religiosa tem recebido a carinhosa ajuda de Deus, e tem enriquecido rapidamente e com grande progresso. Os membros da Companhia tm realizado grandes faanhas, tudo para a glria de Deus e para o benefcio da religio catlica. A Igreja precisa de soldados de Cristo com valor, armados com uma f destemida, prontos para enfrentar dificuldades. por isso que temos muitas esperanas na ajuda que vossa atividade possa trazer, e que a nova era encontre a Companhia no mesmo caminho honrado que ela seguiu no passado" (pronunciado em Roma, prximo Baslica de So Pedro, em 20 de agosto de 1964, durante seu segundo ano como papa).

    Em 29 de outubro de 1965, o jornal Osservatore Romano anunciou: "O Reverendssimo Padre Arrupe, prior dos jesutas, celebrou a Missa Sagrada pelo Concilio Ecumnico em 16 de outubro de 1965".

    Eis a apoteose da "tica papal": Um pronunciamento simultneo sobre um projeto de beatificao de Pio XII e Joo XXIII. "Para fortalecer a ns mesmos em nossa busca de uma renovao espiritual, decidimos iniciar os procedimentos cannicos para a beatificao destes dois pontfices grandes e iluminados e que so to queridos a todos ns"(?) (papa Paulo VI).

    Que este livro revele a todos aqueles que o lerem a verdadeira natureza deste mestre romano, cujas palavras so to melfluas (brandas e harmoniosas) quanto ferozes so suas aes secretas.

    O fundador da Companhia de Jesus, o basco espanhol don Inigo Lopez de Recalde, nasceu no castelo de Loyola, na provncia de Guipuzcoa, em 1491. Foi um tipo de monge-soldado dos mais estranhos j engendrados pelo mundo catlico: de todos os fundadores de ordens religiosas, ele talvez tenha sido o de personalidade mais marcante na mente e comportamento de seus discpulos e sucessores.

    Esta pode ser a razo para aquela "aparncia familiar" ou "marca", fato que chega ao ponto da semelhana fsica entre eles. Folliet questiona este fato(1), mas muitos documentos provam a permanncia de um "tipo jesuta" atravs dos tempos.

    O mais interessante destes testemunhos se encontra no museu Guimet. Sobre o fundo dourado de uma tela do sculo XVI, um artista japons pintou, com todo o humor de sua raa, a chegada dos portugueses e dos filhos de Loyola, em particular, nas ilhas nipnicas. O espanto desse amante da natureza e das cores fortes explcito na maneira como representa aquelas sombras longas e escuras, com suas faces desoladas, sobre as quais se capta toda a arrogncia do dirigente fantico. A semelhana entre o trabalho do artista oriental do sculo XVI e nosso Daumier, de 1830, est a para todos verem.

    semelhana de tantos outros santos, Inigo, que posteriormente romanizou seu nome e se tornou Igncio, parecia longe de ser aquele predestinado a iluminar os seus contemporneos. Sua juventude atormentada foi repleta de erros e mesmo "crimes hediondos". Um relatrio policial afirma que era "traioeiro, brutal e vingativo". Todos os seus bigrafos admitem que ele no recuava nem mesmo diante de seus melhores amigos, no que envolvia a violncia dos instintos, ento uma coisa comum.

    "Era necessrio um golpe fsico violento para mudar sua personalidade"

  • Fundao da Ordem Jesuta"Ele deixou os livros de lado e comeou a imaginar e sonhar. Um tpico caso de "sonhar

    acordado", uma continuao na vida adulta do jogo imaginrio infantil. Se deixarmos que este invada o domnio fsico, o resultado uma neurose e uma alienao da vontade: o que real fica em segundo plano. primeira vista, esse diagnstico parece difcil de ser aplicado ao fundador de uma Ordem to ativa. O mesmo ocorre em relao a outros "grandes msticos" e criadores de sociedades religiosas, todos aparentemente muito capacitados para organizaes. Acreditamos, no entanto, que todos fossem incapazes de resistir a suas imaginaes superativas e, para eles, o impossvel torna-se possvel.

    O mesmo autor tambm diz sobre o assunto: "Quero ressaltar o resultado bvio da prtica do misticismo por algum possuidor de uma inteligncia brilhante. A mente fraca, entregue ao misticismo, encontra-se em rea perigosa, mas o mstico inteligente representa um perigo muito maior, pois seu intelecto trabalha em maior profundidade e amplitude. Quando o mito assume o controle da realidade, atravs de uma inteligncia ativa, torna-se mero fanatismo; uma infeco da vontade que sofre de um alargamento ou distoro parcial."

    Igncio de Loyola foi um exemplo tpico desse "misticismo ativo" e "distoro da vontade". A transformao do cavaleiro-guerreiro em fundador da Ordem mais militante da Igreja Romana foi muito lenta; haveria muitos passos vacilantes antes dele encontrar sua verdadeira vocao.

    No inteno nossa segui-lo atravs de todos esses diferentes estgios. Vamos apenas relembrar os pontos principais: Na primavera de 1522, ele deixou o castelo ancestral com a idia de se tornar um santo semelhante queles cujas faanhas edificantes havia constatado naquele grande livro gtico. Alm disso, segundo ele, a prpria "Virgem" lhe teria aparecido em uma noite, segurando nos braos o menino Jesus.

    "Um soldado desobediente e presunoso", disse um de seus comandantes; "levava uma vida desregrada em tudo que tratasse de mulheres, jogos e duelos", acrescentou seu secretrio Polanco. Tudo isso foi relatado por um de seus filhos espirituais, R. E Rouquette, que tentou de alguma maneira explicar e desculpar esse temperamento explosivo que, posteriormente, se tornou "ad majorem Dei gloriam" (para a glria suprema de Deus).

    Como o caso de muitos heris da Igreja Catlica Romana, era necessrio um golpe fsico violento para mudar sua personalidade. Ele havia sido mensageiro do tesoureiro de Castilla at a desgraa de seu chefe. Depois tornou-se cavaleiro sob as ordens do vice-rei de Navarra. Tendo vivido tal qual um corteso, o jovem comeou sua vida de soldado defendendo Pampeluna contra os franceses, comandados pelo conde de Foix.

    O ferimento que decidiu o futuro de sua vida foi-lhe infligido nessa ocasio. Com a perna quebrada por um tiro, foi levado pelos franceses a seu irmo, Martin Garcia, no castelo de Loyola, iniciando-se o martrio das cirurgias sem anestesia, pois o trabalho no havia sido bem feito. Sua perna foi quebrada novamente e recolocada no lugar. Apesar de tudo isso, Igncio acabou ficando coxo.

    E compreensvel que apenas uma experincia como essa poderia causar-lhe um esgotamento nervoso. O "dom das lgrimas", o qual lhe foi, ento, outorgado "em abundncia" (e que seus bigrafos acreditam como um favor dos cus), pode ser o resultado de sua natureza profundamente emocional, afetando-o mais e mais.

    Enquanto estava deitado, sofrendo as dores do ferimento, seu nico divertimento era a leitura de "A Vida de Cristo" e "A Vida dos Santos", os nicos livros que encontrou no castelo. Praticamente iletrado e ainda afetado por aquele choque terrvel, a angstia da Paixo de Cristo

  • e o martrio dos santos tiveram um forte impacto sobre ele; essa obsesso levou o guerreiro aleijado ao caminho do apostolado.

    Aps uma confisso detalhada no monastrio de Montserrat, Igncio tencionava ir a Jerusalm. A peste era comum em Barcelona e, como todo o trfego martimo estava interrompido, teve de permanecer em Manresa por aproximadamente um ano.

    Passava o tempo em oraes, longos jejuns e auto-flagelao, praticando todas as formas de macerao. Alm disso, nunca perdia a chance de se apresentar diante do tribunal de penitncia, apesar de sua confisso em Montserrat ter aparentemente durado trs dias. Tal confisso minuciosa teria sido suficiente a um pecador menos escrupuloso. Tudo isso descreve claramente o estado mental e nervoso desse homem.

    Finalmente, ao se libertar da obsesso de pecado, decidiu que aquilo era, nada mais nada menos, que um truque de sat, e devotou-se inteiramente s ricas e variadas vises assaltavam sua mente conturbada.

    "Foi por causa de uma viso", diz H. Boehmer, "que ele comeou a comer carne novamente. Uma srie completa de vises que lhe revelou os mistrios do dogma catlico e o ajudou a viv-lo verdadeiramente.

    Dessa forma, ele medita sobre a Santssima Trindade como sendo um instrumento musical de trs cordas: o mistrio da criao do mundo a partir de alguma coisa nublada e a luz vinda de um raio de sol; a milagrosa vinda de Cristo na Eucaristia, como flashes de luz penetrando na gua consagrada, quando o sacerdote a toma durante a orao; a natureza humana de Cristo e da Virgem Santssima, sob a forma de um corpo branco deslumbrante e, finalmente, sat como uma forma sinuosa e cintilante, semelhante a uma imensido de olhos brilhantes e misteriosos." No este o comeo da produo da imagem jesutica conhecida?

    Em abril de 1527, a Inquisio leva Igncio priso para julg-lo por acusaes de heresia. O inqurito examinou aqueles "incidentes estranhos" ocorridos entre seus devotos; as declaraes "excntricas" do acusado sobre o poder excepcional que sua castidade lhe conferia, e sua teoria bizarra sobre a diferena entre os pecados mortais e veniais. Essas teorias tinham afinidades assustadoras com as teorias dos jesutas casustas do perodo seguinte".

    Libertado, mas proibido de realizar reunies, Igncio partiu para Salamanca e logo deu incio s mesmas atividades. Suspeitas parecidas entre os inquisidores o levaram novamente priso. A liberdade s lhe seria possvel mediante a suspenso de tal conduta.

    Assim foi; viajou a Paris para continuar seus estudos na faculdade de Montaigu. Seus esforos para doutrinar seus colegas estudantes dentro de seus mtodos singulares criaram-lhe novos problemas com a Inquisio. Tornando-se mais prudente, passou a se encontrar com apenas seis de seus amigos de faculdade. Dois dentre eles viriam a se tornar recrutas profundamente estimados: Salmeron e Lainez.

    O que teria ele de especial, que pudesse atrair de forma to poderosa jovens a um velho aluno? Talvez o seu ideal e um certo "charme", alm de um pequeno livro, na verdade um livrete que, independente de sua pequena dimenso, tornou-se um dos livros de maior influncia nos destinos da humanidade. Esse livro foi editado tantas vezes que o nmero de cpias desconhecido; tambm foi objeto de mais de 400 comentrios. o livro guia dos jesutas e, ao mesmo tempo, o resumo do longo desenvolvimento pessoal do seu mestre: os "Exerccios Espirituais".

    Assim trabalham eles para o surgimento do "Reino de Deus", de acordo com seu prprio ideal: um grande rebanho sob o cetro do Santssimo Pai.

    Que homens estudados pudessem ter um ideal to anacrnico parece muito estranho, mas inegvel que ainda pensam assim, sendo, portanto, a confirmao de um fato freqentemente

  • desprezado: a proeminncia das emoes na vida do esprito. Alm disso, Kant afirmou que toda a Filosofia no passa da expresso do carter ou temperamento do filsofo.

    A parte dos mtodos individuais, o "temperamento" jesutico parece ser mais ou menos uniforme entre eles: uma mistura de piedade e diplomacia; asceticismo e sabedoria mundana; misticismo e calculismo. Tal como era o carter de Loyola, esta a marca registrada da Ordem." Em primeiro lugar, o paradoxo desta Ordem tem persistido durante 400 anos: Uma Ordem que se empenha em ser "intelectual" mas, simultaneamente, tem sido, dentro da Igreja Romana e na sociedade, a campe do comportamento mais rgido.

    Os Exerccios EspirituaisQuando, finalmente, chegou o momento de Igncio deixar Manresa, no poderia prever seu

    destino, mas a ansiedade relativa sua prpria salvao no era mais uma preocupao. Foi como missionrio, e no como um simples peregrino, que ele seguiu para a Terra Santa em maro de 1523. Chegou a Jerusalm no dia 12 de setembro, aps muitas aventuras; entretanto, logo partiu sob as ordens do superior franciscano que no desejava ver a paz entre cristos e turcos ameaada por um proselitismo fora de hora.

    O missionrio, desapontado, passou por Veneza, Gnova e Barcelona, no caminho para a Universidade de Alcal, onde iniciou seus estudos teolgicos e, assim, comea tambm a sua "cura de almas".

    compreensvel que aps quatro semanas de dedicao a estes exerccios intensivos, com um mestre por sua nica companhia, o candidato estivesse pronto para o treino subseqente e a ruptura. Isso o que Quinet tem a dizer a respeito do criador de tal mtodo alucinatrio: "Voc sabe o que o distingue de todos os ascticos do passado? O fato que podia observar e analisar a si mesmo lgica e friamente, em total estado de arrebatamento, enquanto para todos os outros a idia de reflexo era impossvel. Impondo aos seus discpulos aes que lhe eram espontneas, ele apenas precisava de trinta dias para romper, com este mtodo, a vontade prpria e o bom senso, tal qual um montador domina seu cavalo. Ele precisava de apenas trinta dias, "triginta dies", para subjugar uma alma.

    Note que o jesuitismo se expandiu com a inquisio moderna: enquanto a Inquisio quebrava o corpo, os exerccios espirituais quebravam os pensamentos, atravs da mquina de Loyola."(12b)

    possvel examinar sua vida "espiritual" muito profundamente, mesmo que no se tenha a "honra" de ser jesuta. Os mtodos de Loyola so para ser recomendados aos fiis e eclesisticos em particular, como somos lembrados por comentaristas tais como R. E Pinard de Ia Boullaye, autor de Orao Mental para Todos, inspirado por Boehmer diz mais ainda: "Igncio compreendeu, mais claramente do que qualquer outro lder social anterior a ele, que a melhor forma de conduzir um homem a um certo ideal atravs do controle de sua imaginao. Ns "o imbumos das foras espirituais que ele acreditaria serem difceis de eliminar posteriormente", foras mais duradouras que os melhores princpios e doutrinas. Essas foras poderiam vir de novo tona, s vezes anos depois de no terem sido mencionadas, tornando-se to imperativas que a vontade se acharia incapaz de oferecer qualquer obstculo, e ento teria que seguir seu impulso irresistvel."

    Portanto, todas as "verdades" do dogma catlico tero de ser no apenas meditadas, mas vividas e sentidas por aquele que se dedica a essas "prticas", com a ajuda de um "diretor". Em outras palavras: ele ter de ver e reviver o mistrio com a maior intensidade possvel. A sensibilidade do candidato fica impregnada com tais foras, cuja persistncia em sua memria, e ainda mais em seu subconsciente, sero to fortes quanto o esforo que fez para evocar e

  • assimilar tais foras. Alm da viso, os outros sentidos, como a audio, o olfato, o tato e o paladar teriam seu papel. Resumindo, simplesmente auto-sugesto controlada.

    A rebelio dos anjos, a expulso de Ado e Eva, o julgamento final, as cenas evanglicas e as fases da Paixo so, como se costuma dizer, revividos diante do candidato. Cenas suaves e bem-aventuradas se alternam com as mais obscuras, em um ritmo competentemente determinado. Nem preciso dizer que o inferno desempenha a parte principal nesse show de "lanterna mgica", com seu lago de fogo onde as almas perdidas so atiradas, o terrvel concerto de gemidos, a feroz viso de slfura e carne queimando. Ainda assim, Cristo est l para sustentar o visionrio que no sabe como Lhe agradecer por no ter sido atirado ainda no inferno para pagar seus pecados passados.

    Eis o que Edgar Quinet escreveu: "No s as vises so predeterminadas, mas tambm suspiros, inspiraes e expiraes so implantada em todos os tipos de atividades escolhidas e ganhou a confiana da Cria para sempre."

    Essa confiana era plenamente justificada. Os jesutas e Lainez, em particular, juntamente com seu devotado amigo cardeal Morone, tornaram-se os campees astutos e incansveis da autoridade papal e da intangibilidade do dogma, durante as trs sesses daquele Concilio, terminado em 1562. Por suas geis manobras e dialtica, conseguiram derrotar a oposio e todas as solicitaes "hereges" (incluindo casamento de padres, comunho com dois elementos, uso do idioma local nos rituais e, especialmente, a reforma do papado). Apenas a reforma dos conventos foi mantida. O prprio Lainez, com um forte contra-ataque, sustentou a infalibilidade papal, a qual foi promulgada trs sculos depois, pelo Concilio do Vaticano.

    A Santa S emergiu fortalecida da crise na qual estava praticamente afundada, graas s iniciativas geis e precisas dos jesutas. Os termos escolhidos por Paulo III para descrever essa nova Ordem, em sua bula papal de autorizao, foram plenamente justificados: "Regimen Ecclesiae Militantis".

    O esprito lutador se desenvolveu mais e mais medida que o tempo passava. Alm das misses no estrangeiro, as atividades dos filhos de Loyola comearam a se concentrar nas almas dos homens, especialmente dentro das classes dominantes. Os polticos seriam seu principal campo de ao e todos os esforos de seus "dirigentes" se concentraram em um objetivo: a submisso do mundo ao papado e, para atingi-lo, era necessrio conquistar as "cabeas" antes. Para a obteno desse ideal, duas armas importantssimas eram necessrias: serem os confessores dos poderosos e daqueles de posio elevada, e a educao de seus filhos. Dessa forma, o presente estaria a salvo enquanto o futuro seria preparado.

    Fundao da CompanhiaA Companhia de Jesus foi constituda no dia da Assuno, em 1534, na capela de Notre

    Damme de Montmartre. Igncio tinha ento 44 anos de idade. Aps a comunho, o fundador e seus companheiros fizeram um voto de ir Terra Santa, assim que seus estudos fossem concludos, para converter os infiis.

    O ano seguinte, no entanto, os encontra em Roma, onde o papa, que estava na poca organizando uma cruzada contra os turcos, em conjunto com o imperador alemo e a Repblica de Veneza, mostrou-lhes que o projeto era invivel justamente por causa disso. Assim, Igncio e seus companheiros se dedicaram ao trabalho missionrio em terras crists.

    Em Veneza, seu apostolado levantou suspeitas da Inquisio. Os estatutos da Companhia de Jesus foram finalmente definidos e aprovados em Roma por Paulo III, em 1540, e os jesutas se colocaram disposio do papa, prometendo obedincia incondicional. Ensino, confisso, pregao e obras de caridade foram o campo de ao para essa nova Ordem. Quanto as

  • misses no estrangeiro, no foram excludas pois, em 1541, Francisco Xavier e dois companheiros deixaram Lisboa em direo ao Extremo Oriente, a fim de evangelizarem. Em 1546, o lado poltico da carreira deles foi lanado, quando o papa escolheu Lainez e Salmeron para o representarem no Concilio de Trento, na condio de "telogos papais"..

    O Esprito da Ordem"No podemos esquecer, escreve o jesuta Rouquette, que historicamente o

    "ultramontanismo" tem sido a afirmao prtica do "universalismo".Esse universalismo necessrio seria apenas uma palavra vazia, se no resultasse em uma

    coeso ou obedincia prtica do cristianismo. Por isso Igncio quis que sua equipe estivesse disposio do papa, e ser o campeo da unidade catlica, unidade que s pode ser assegurada atravs de uma submisso efetiva ao vigrio de Cristo.(13a) Os jesutas quiseram impor esse absolutismo monrquico na Igreja Romana e o mantiveram na sociedade civil, pois tinham de olhar os soberanos como representantes temporais do "Santo Papa", verdadeira cabea do cristianismo. Enquanto esses monarcas fossem inteiramente submissos ao seu senhor comum, os jesutas seriam seus mais fiis partidrios. Por outro lado, se esses prncipes se revoltassem, encontrariam nos jesutas seus piores inimigos.

    "Na Europa, sempre que os interesses de Roma exigissem que o povo se levantasse contra seu rei, ou se esses prncipes temporais tivessem tomado decises embaraosas para a Igreja, a Cria sabia que no havia instituio mais habilitada, astuta e ousada que a Companhia de Jesus para a intriga, propaganda ou at mesmo a rebelio aberta."

    R.E Rouquette escreve corajosamente: "Longe de ser uma diminuio do homem, essa obedincia inteligente e autodeterminada o mximo da liberdade, uma libertao da escravido de si mesmo". S temos que ler esses textos para percebermos o extremo (ou ainda monstruoso) carter de submisso da alma e do esprito imposto pelos jesutas, sempre fazendo deles instrumentos dceis nas mos dos seus superiores, alm de inimigos naturais de qualquer tipo de liberdade desde o incio. O famoso "perinde ac cadver" (como se fosse um cadver nas mos de um agente funerrio) pode ser encontrado em toda a "literatura espiritual", de acordo com Folliet, e mesmo no Oriente, na constituio de Haschichin.

    Os jesutas devem estar nas mos de seus superiores "como se fosse um staff", obedecendo a cada impulso, qual uma bola de cera que pode ser modelada e atirada em qualquer direo; semelhante a um pequeno crucifixo, sendo manipulado e movido vontade". Essas frmulas "agradveis" no deixam de ser muito esclarecedoras. Observaes e explicaes do criador dessa Ordem no deixam dvidas sobre seu verdadeiro significado. Alm disso, entre os jesutas, no s a vontade prpria, mas tambm o bom senso e mesmo o escrpulo moral devem ser sacrificados, diante da virtude primordial da obedincia que , de acordo com Brgia, "o mais forte baluarte da Companhia".

    "Podemos estar convencidos de que tudo vai bem quando o superior assim ordena. Mesmo se Deus lhe desse um animal irracional como senhor, voc no hesitar em obedec-lo como sendo mestre e guia, porque Deus assim ordenou", escreveu Loyola.

    Algo ainda mais interessante: O jesuta deve enxergar em seu superior no um homem falvel, mas o prprio Cristo. J. Huber, professor de Teologia Catlica em Munique e autor de uma das obras mais importantes sobre os jesutas, escreveu: "Eis um fato provado: os estatutos repetem quinhentas vezes que deve-se ver Cristo na pessoa do prior".

    A disciplina da Ordem, to freqentemente aproximada das Foras Armadas, nem pode chegar a ser comparada realidade. 'A obedincia militar no equivalente obedincia jesutica. A ltima muito mais abrangente, pois assume o homem inteiro e no est satisfeita,

  • como a primeira, apenas com o ato exterior, mas requer o sacrifcio da vontade pessoal e o abandono da prpria capacidade de julgar".

    O prprio Igncio escreveu em sua carta aos jesutas portugueses: "Temos de ver o preto como branco, se a Igreja assim determinar". Isso o "mximo da liberdade" e a "libertao de si mesmo", anteriormente louvados por R. P. Rouquette. Com efeito, o jesuta verdadeiramente libertado de si mesmo, pois fica totalmente submetido a seus mestres; qualquer dvida ou escrpulo seria considerado pecado.

    Boehmer escreve: "Nos aditivos dos estatutos, os superiores so aconselhados a comandarem os novios, tal qual Deus fizera com Abrao, ordenando coisas aparentemente criminosas, para prov-los; devem, no entanto, proporcionar essas tentaes de acordo com a fora de cada um. No difcil imaginar quais podem ser os resultados de uma educao dessas". Os altos e baixos na vida da Ordem - foi expulsa de todos os pases nos quais esteve - atesta que esses perigos foram reconhecidos por todos os governos, at mesmo os mais catlicos. Introduzindo homens to cegamente dedicados sua causa e ensinando s classes superiores, a Companhia - senhora do universalismo, portanto, "ultramontanismo" - foi inevitavelmente reconhecida como uma ameaa autoridade civil, pelo fato da atividade da Ordem (mero fato de sua vocao) ter-se tornado mais e mais dirigida poltica.

    Paralelamente, o que chamamos de esprito jesuta foi se desenvolvendo dentre os seus prprios membros. O fundador, no entanto, inspirado principalmente pelas necessidades das "misses" internas e no estrangeiro, no tinha menosprezado a especializao e habilidade, escrevendo em seu Setentiae Asceticae: "Um cuidado inteligente com uma pureza medocre melhor do que uma santidade maior aliada a uma habilidade menos perfeita. Um bom pastor de almas deve saber como ignorar muitas coisas e fingir no entend-las. Uma vez que o senhor das vontades, ser capaz de sabiamente guiar os seus alunos para onde ele prprio escolher. As pessoas so totalmente absorvidas por interesses passageiros; assim, no devemos falar-lhes especificamente sobre suas almas, pois seria o mesmo que lanar o anzol sem isca".

    Mesmo a expresso facial esperada dos filhos de Loyola era enfaticamente determinada: "Deviam manter suas cabeas ligeiramente abaixadas, sem jogar para a esquerda ou direita; no deveriam olhar para cima e, quando falavam com algum, no deviam olhar diretamente nos olhos, mas apenas indiretamente."(18) Os sucessores de Loyola memorizaram muito bem essa lio e a aplicaram ostensivamente na realizao de seus planos.

    Os Privilgios da CompanhiaDepois de 1558, Lainez, o sutil estrategista do Concilio de Trento, foi elevado a prior da

    Congregao, com amplos poderes para organizar a Ordem como lhe fosse inspirado. As "declaraes" compostas por ele prprio e Salmeron foram acrescentadas aos estatutos, de forma a criar um compndio; acentuaram ainda mais o despotismo do prior eleito vitaliciamente.

    Um admonitor, um procurador e assistentes, residentes tambm em Roma, o ajudariam a administrar a totalidade da Ordem, dividida em cinco congregaes: Itlia, Alemanha, Frana, Espanha, Inglaterra e Amricas. Essas mesmas congregaes eram subdivididas em provncias, que agrupavam as diferentes sedes da Ordem. Apenas o admonitor e os assistentes eram nomeados pela congregao. O prior indicava todos os outros encarregados, promulgava os regulamentos (que no poderiam modificar os estatutos), administrava as riquezas da Ordem de acordo com sua prpria vontade e dirigia suas atividades, reportando-se apenas ao papa.

    Para tal milcia to bem costurada e entregue nas mos de seu chefe, o qual necessitava da maior autonomia possvel para efetuar as suas aes, o papa concedia privilgios que pareciam exorbitantes a outras ordens religiosas.

  • Por causa de seus estatutos, os jesutas ficaram isentos do regimento enclausurante que a vida monstica implicaria. Eram monges vivendo "no mundo" e, externamente, nada os diferenciava do clero secular mas, ao contrrio deste e de outras congregaes religiosas, no estavam sujeitos autoridade do bispo. J em 1545, uma bula do papa Paulo III os capacitava a pregarem; ouvirem confisses; dispensarem sacramentos; realizarem a missa; absolverem; trocarem penitncias por outras mais fceis de realizar ou at mesmo cancel-las. Em resumo, exerciam seu ministrio, sem terem de se reportar ao bispo. S no podiam celebrar casamentos. Gaston Bally escreve: "O poder do prior referente absolvio e dispensao ainda maior. Pode suspender toda e qualquer punio infligida aos membros da Companhia, antes ou depois de sua entrada na Ordem, absolver todos os seus pecados, at mesmo o pecado de heresia e cisma, a falsificao dos escritos apostlicos, etc.

    O prior absolve, pessoalmente ou atravs de um delegado, todos aqueles que esto sob sua Ordem, do estado infeliz advindo da excomunho, suspenso ou interdio, desde que essas censuras no tenham sido infligidas por excessos to grandes que outros, diante do tribunal papal, possam vir a saber delas.

    Ele tambm absolve o resultado de irregularidades, como bigamia, danos a outrem ou homicdio, desde que estes atos perversos no sejam publicamente conhecidos e causa de escndalo".(19)

    Finalmente, Gregrio XIII outorgou Companhia o direito de negociar, no comrcio e no sistema bancrio, um direito do qual ela veio a usufruir posteriormente. Essas atribuies e poderes sem precedentes lhes foram inteiramente garantidos. "Os papas chegavam mesmo a convocar prncipes e reis para defender estes direitos; eles ameaavam com a grande excomunho "Lata e sententiae" todos os que tentassem infringi-los. Em 1574, uma bula de Pio V dava ao prior o direito de restaurar estes privilgios ao seu mbito inicial, contra todas as tentativas de alter-los ou diminu-los, mesmo que tais diminuies houvessem sido documentadas por revogao papal.

    Cedendo aos jesutas privilgios to exorbitantes, os quais ultrapassavam a antiquada constituio da Igreja, o papado queria no apenas fornecer-lhes armas para combater os infiis, mas principalmente us-los como um corpo de segurana, o qual defendesse seu prprio poder irrestrito dentro e fora da Igreja. Para preservar a supremacia espiritual e temporal, eles usurparam durante a Idade Mdia; os papas venderam a Igreja Companhia de Jesus e, como conseqncia, entregaram-se nas mos deles. Se o papado era sustentado pelos jesutas, toda a existncia deles dependia da supremacia espiritual e temporal do papado. Desta forma, os interesses de ambas as partes estavam intimamente ligados".(20)

    Este comando seleto, no entanto, precisava de auxiliares secretos para dominar a sociedade civil. Tal papel recaiu tambm sobre aqueles aliados da Companhia, os chamados jesutas. "Muitas pessoas importantes eram ligadas Companhia: os imperadores Ferdinando II e Ferdinando III; Sigismundo III, rei da Polnia, que tinha pertencido Companhia oficialmente; o Cardeal Infante e um duque de Savoy. E estes no eram os menos teis."(21)

    Os Jesutas na Europa Durante os Sculos XVI e XVIID-se o mesmo hoje em dia. Os 33 mil membros oficiais da Companhia operam por todo o

    mundo, na capacidade mxima de seu pessoal: oficiais de um exrcito altamente secreto, contando nas suas fileiras com dirigentes de partidos polticos, oficiais de alta patente, generais, magistrados, mdicos e professores universitrios, dentre outras categorias. Todos lutando para realizar, em seu prprio campo de ao, o "Opus Dei" (a Obra de Deus) ou, na verdade, os planos do papado.

  • Itlia, Portugal e EspanhaA Frana o bero da Companhia de Jesus, mas foi na Itlia que recebeu seu programa,

    estatutos e se expandiu, escreveu Boehmer(1), observando o nmero crescente de academias e colgios jesutas (128 e 1680); "mas a histria da civilizao italiana durante os sculos XVI e XVII demonstra suas conseqncias de forma avassaladora. Se uma Itlia culta abraou ento a f e os preceitos da Igreja, recebeu um novo alento do ascetismo e das misses; comps novamente poemas piedosos e hinos para a Igreja; dedicou conscientemente os pincis dos pintores e as esptulas dos escultores para exaltar o ideal religioso. No ter sido por esses motivos que as classes cultas foram instrudas nos colgios e confessionrios jesutas? J no eram mais os tempos de simplicidade infantil, alegria, vivacidade e o simples amor natureza", acrescenta o autor. "Os pupilos dos jesutas so muito clericais, devotos e absorvidos em preservar essas qualidades. So criados com vises de xtases e iluminaes; embriagam-se literalmente com mortificaes assustadoras e tormentos atrozes de mrtires; precisam da pompa, brilho e dramaticidade. A partir do final do sculo XVI, a arte e a literatura italianas reproduzem fielmente essa transformao moral. A inquietao, a ostentao e a splica chocante, que caracterizam as criaes daquele perodo, promovem um sentimento de repulsa ao invs de simpatia pelas crenas que supostamente interpretam e glorificam".(3)

    a marca sui generis da Companhia. Esse amor pelo distorcido, afetado, brilhante e teatral poderia parecer estranho entre os msticos formados nos Exerccios Espirituais, se no detectssemos nele esse desejo essencialmente jesuta de impressionar. uma aplicao da mxima "Os fins justificam os meios", aplicada com perseverana pelos jesutas nas artes e literatura, tal qual na poltica e na moral. A Itlia mal havia sido tocada pela Reforma.

    Os Waldenses, no entanto, haviam sobrevivido desde a Idade Mdia, apesar das perseguies, e se estabeleceram ao Norte e ao Sul da pennsula, ligando-se Igreja Calvinista em 1532. Baseado em um relatrio do jesuta Possevino, Emmanuel Philibert de Savoy lanou outra perseguio sangrenta contra seus temas "hereges" em 1561. O mesmo aconteceu na Calbria, em Casal di San Sisto e Guardi Fiscale. "Os jesutas implicados nesses massacres estavam ocupados convertendo suas vtimas..."(4) "Ele foi com o exrcito catlico, como seu capelo, e recomendou o extermnio na fogueira dos pregadores hereges como um ato necessrio e sagrado", escreveu o padre Possevino.(5)

    Os jesutas eram todo-poderosos em Parma, na corte de Farnese, tanto quanto em Npoles, durante os sculos XVI e XVII. Em Veneza, onde haviam sido agraciados com favores, foram, no entanto, banidos em 14 de maio de 1606, "conforme os demais fiis servos e emissrios do papa". Foi-lhes, entretanto, permitido voltar em 1656, mas sua influncia nessa Repblica seria, a partir de ento, nada alm de uma sombra do que tiveram no passado.

    Portugal foi um pas especial para a Ordem. "J sob Joo III (1521-1559), era a comunidade religiosa mais poderosa do reino. Sua influncia cresceu ainda mais aps a revoluo de 1640, que ps os Bragana no trono".(6)

    Sob o primeiro rei da casa de Bragana, o padre Fernandez era membro do governo e, sob a minoridade de Afonso VI, o conselheiro mais estimado pela regente rainha Luiza. O padre De Ville conseguiu derrubar Afonso VI em 1667, e o padre Emmanuel Fernandez tornou-se representante na Corte em 1667, pelo novo rei Pedro II.

    'Apesar dos padres no exercerem cargo pblico no reino, eram mais poderosos em Portugal que em qualquer outro pas. Eram no s os guias espirituais de toda a famlia real, mas at mesmo o rei e seu ministrio os consultavam em todas as circunstncias importantes. A partir de um de seus prprios testemunhos, hoje sabemos que nenhum cargo na administrao do Estado ou da Igreja poderia ser obtido sem o seu consentimento. Tanto que o clero, as classes altas e o povo disputavam entre si para alcanar seus favores e aprovao. Polticos estrangeiros

    HelioRealce

    HelioNotaVerificar quando a maonaria comeou em portugal

  • tambm estavam sob sua influncia. Qualquer homem razovel perceberia que tal estado de coisas era prejudicial ao bem do reino."(7)

    Na verdade, podemos ver os resultados disso pelo estado de decadncia em que essa terra desafortunada caiu. Toda a energia e perspiccia do Marqus de Pombal foram necessrias, no meio do sculo XVIII, para arrancar Portugal das garras mortais da Ordem.

    Na Espanha, a penetrao dos jesutas foi mais lenta. O alto clero e os dominicanos se opuseram durante muito tempo. Os prprios soberanos, Carlos V e Filipe II, ao aceitarem seus servios, desconfiavam desses soldados do papa e temiam interferncias em sua autoridade. Com muita habilidade, porm, a Ordem finalmente derrubou essa resistncia.

    "Durante o sculo XVII, eles foram poderosssimos na Espanha, entre as altas classes e na Corte. At mesmo o padre Neidhart, ex-oficial cavaleiro alemo, governou completamente o reino como conselheiro de Estado, primeiro ministro e Grande Inquisidor. Na Espanha, tanto quanto em Portugal, a runa do reino coincidiu com a ascenso da Ordem. "(8)

    Edgar Quinet discorre sobre o assunto: "Sempre que uma dinastia morre, posso ver, surgindo e mantendo-se atrs dela, um tipo de gnio mau, uma dessas figuras que so os confessores, gentil e paternalmente atraindo-a para a morte." (9)

    Na verdade, no se pode atribuir a decadncia da Espanha apenas a essa Ordem. " inegvel, no entanto, que a Companhia de Jesus, juntamente com a Igreja e outras Ordens religiosas, aceleraram sua queda. Quanto mais rica ficava a Ordem, mais pobre ficava a Espanha; tanto que quando Carlos II faleceu, os cofres do Estado no tinham nem mesmo a soma necessria para pagar as dez mil missas usualmente rezadas pela salvao de um monarca falecido."(10)

    Itlia, Portugal e Espanha E AlemanhaNo era o Sul da Europa, mas a Europa Central, Frana, Holanda, Alemanha e Polnia o local

    para a batalha histrica entre o catolicismo e o protestantismo. Esses pases eram os campos principais de batalha para a Companhia de Jesus.(11) A situao era particularmente grave na Alemanha: "No s pessimistas conhecidos, mas tambm catlicos sbios e bem-pensantes consideravam a causa da velha Igreja em toda a Alemanha como quase perdida. Mesmo na ustria e na Bomia, a quebra com Roma era to generalizada que os protestantes razoavelmente poderiam esperar a conquista da ustria dentro de mais algumas dcadas. Pois ento como que essa mudana acabou no acontecendo e, ao contrrio, o pas acabou ficando dividido em duas partes? O Partido Catlico, ao final do sculo XVI, nunca hesitava ao responder a essa pergunta, pois j atribua aos Witelsbach, Habsburg e aos jesutas a responsabilidade por essa feliz mudana no rumo das coisas."(12)

    Rene Fulop-Miller escreveu sobre o papel dos jesutas nesses eventos: 'A causa catlica poderia esperar por um sucesso real apenas se os padres pudessem ter influncia e liderana sobre os prncipes, em todas as ocasies e circunstncias. Os confessionrios ofereciam aos jesutas os meios para assegurar uma influncia poltica duradoura e, portanto, uma ao efetiva." (13)

    Na Bavria, o jovem duque Albert V, filho de um catlico fiel e educado em Ingolstadt, a velha cidade catlica, convocou os jesutas para combaterem efetivamente a "heresia".

    "No dia 07 de julho de 1556, oito padres e 112 professores jesutas foram a Ingolstadt. Foi o incio de uma nova era para a Bavria. O prprio Estado recebeu um novo selo. As concepes catlicas romanas dirigiam a poltica dos prncipes e o comportamento das altas classes. Esse novo esprito, porm, foi incorporado apenas pelas classes altas, no tendo conquistado os coraes do povo da rua, da gente simples... Apesar disso, sob a disciplina de ferro do Estado e

  • da Igreja restaurada, eles se tornaram novamente catlicos devotos, dceis, fanticos e intolerantes quanto a qualquer heresia.

    Pode parecer excessivo atribuir tais virtudes e aes prodigiosas a alguns poucos estranhos. Mesmo assim, nestas circunstncias, a fora deles era inversamente proporcional ao seu nmero e foram imediatamente eficientes, pois nenhum obstculo lhes surgiu pela frente. Os emissrios de Loyola conquistaram o corao e a mente do pas desde o comeo. A partir da gerao seguinte, Ingolstadt tornou-se o tipo perfeito de cidade alem jesuta." (14)

    Pode-se julgar o estado mental dos padres presentes nessa "fortaleza de f" lendo o seguinte: "O jesuta Mayrhofer de Ingolstadt ensinava em seu espelho de pregao: No seremos julgados se pedirmos o assassinato de protestantes mais do que seramos ao pedir a pena de morte para ladres, assassinos, contraventores e revolucionrios." (15)

    Os sucessores de Albert V, e especialmente Maximiliano I (1597-1651), completaram seu trabalho, mas Alberto V j estava consciente de sua "responsabilidade" de assegurar a "salvao" de seus sditos. "Logo que os padres chegaram Bavria, sua atitude em relao aos protestantes e os que eram favorveis a eles tornou-se severa. A partir de 1563 impiedosamente baniram todos os recalci-trantes e no tinham piedade dos anabatistas, os quais acabavam por sofrer afogamentos, fogueiras, prises e cadeias, tudo isso com os elogios do jesuta Agrcola. Toda uma gerao teve de desaparecer antes da perseguio ser coroada com xito absoluto. J em 1586, os anabatistas morvios conseguiram esconder 600 vtimas do duque Guilherme. Esse exemplo prova que eram milhares, e no centenas, os banidos, um nmero assustador em um pas com to poucos habitantes."

    "Mas a honra de Deus e a salvao de almas deve estar acima de quaisquer interesses temporais", disse Albert V, do Conselho da Cidade de Munique.(16) Pouco a pouco, todo o ensino na Bavria foi posto nas mos dos jesutas e aquela regio se transformou na base para sua penetrao no Leste, Oeste e Norte da Alemanha.

    'A partir de 1585, os sacerdotes converteram a parte da Westphalia sob controle de Colnia. Em 1586, surgem em Neuss e Bonn, uma das sedes do arcebispo de Colnia; abrem escolas em Hildesheim em 1587 e Munster em 1588. Esta, em especial, j tinha 1.300 pupilos em 1618... Uma grande parte do Oeste da Alemanha foi reconquistada dessa forma pelo catolicismo, graas aos Wittelsbach e aos jesutas.

    'A aliana entre os Wittelsbach e os jesutas talvez tenha sido mais importante ainda para as regies da ustria do que para o Oeste da Alemanha." (17) O arquiduque Carlos de Styrie, ltimo filho do imperador Ferdinando, casou-se em 1571 com uma princesa da Bavria, trazendo ao castelo de Gratz as rgidas tendncias catlicas e a amizade dos jesutas que prevaleciam na Corte de Munique." Sob a influncia dela, Carlos lutou muito para "extirpar a heresia" de seu reino e, quando morreu, em 1590, fez com que seu filho e sucessor, Ferdinando, jurasse continuar essa tarefa. De qualquer modo, Ferdinando estava muito bem preparado para tal. "Por cinco anos havia sido aluno dos jesutas em Ingolstadt; alm disso, era to bitolado que, para ele, no havia mais nobre misso que o reestabelecimento da Igreja Catlica em seu Estado hereditrio. Se essa misso era vantajosa ou no a seu reino, no lhe importava verdadeiramente. "Prefiro "reinar num pas em runas, do que num pas amaldioado", dizia ele.

    Em 1617, o arquiduque Ferdinando foi coroado rei da Bomia pelo imperador. "Influenciado pelo seu confessor jesuta Viller, Ferdinando comeou imediatamente a combater o protestantismo ern seu novo reino, assinalando assim o comeo daquela guerra sangrenta de religio, a qual, nos 30 anos seguintes, manteve a Europa em suspense. Quando em 1618 os infelizes eventos em Praga deram sinal de uma rebelio aberta, o velho imperador Mathias tentou primeiro comprometer-se, mas no tinha poder suficiente para fazer prevalecer suas intenes contra o rei Ferdinando, o qual era dominado pelo seu confessor jesuta; assim perdeu-se a

  • ltima esperana de resolver este conflito amigavelmente. Ao mesmo tempo, a Bomia havia tomado medidas especiais e decretado solenemente que todos os jesutas deveriam ser banidos, pois eram promotores de uma guerra civil." (19)

    Logo aps, a Morvia e a Silsia seguiram esse exemplo, e os protestantes da Hungria, onde o jesuta Pazmany governou com mo-de-ferro, tambm se rebelaram. A batalha da Montanha Branca (1620), no entanto, foi vencida por Ferdinando, que havia sido elevado a imperador novamente aps a morte de Mathias. "Os jesutas persuadiram Ferdinando a submeter os rebeldes mais cruel das punies; o protestantismo foi arrancado de todo o pas s custa de meios indescritivelmente terrveis. No fim da guerra, a runa material do pas era completa."

    "O jesuta Balbinus, historiador da Bomia, admirava-se como ainda pudesse haver alguns habitantes naquele pas. A runa moral, porm, foi ainda mais terrvel. A cultura emergente encontrada entre os nobres e classe mdia, a rica literatura nacional no poderia ser substituda: tudo isso havia sido destrudo, e at mesmo a nacionalidade fora abolida. A Bomia estava aberta para as atividades jesuticas. Eles queimaram a literatura tcheca em massa; sob sua influncia, at mesmo o nome do grande santo nacional (John Huss) foi sendo gradualmente apagado at que estivesse extinto do corao do povo."

    "O auge do poder dos jesutas", disse Tomek, "coincidiu com a maior decadncia do pas em sua cultura nacional. Foi por causa da influncia da Ordem que o despertar dessa terra desafortunada s veio a acontecer aproximadamente um sculo depois". Quando a "Guerra dos 30 Anos" chegou ao fim e a paz foi concluda, com a garantia aos protestantes alemes dos mesmos direitos polticos dos catlicos, os jesutas fizeram o mximo para que a luta continuasse, mas foi em vo." (20)

    Obtiveram, entretanto, de seu aluno Leopoldo I, ento imperador, a promessa de perseguir os protestantes em suas prprias terras e, especialmente, na Hungria.

    'Acompanhados de drages imperiais, os jesutas assumiram esse trabalho de reconverso em 1671. Os hngaros se levantaram contra eles e comearam uma guerra que duraria por quase uma gerao inteira, mas essa insurreio foi vitoriosa, sob a liderana de Francis Kakoczy. Os vitoriosos quiseram expulsar os jesutas de todos os pases sob seu domnio, mas protetores influentes da Ordem conseguiram adiar tais medidas e a expulso s aconteceu em 1707".

    "O prncipe Eugnio culpou, com uma franqueza ousada, a poltica da casa imperial e as intrigas dos jesutas na Hungria. "A ustria quase perdeu a Hungria por ter perseguido os protestantes", escreveu ele, afirmando amargamente que a moral dos turcos era muito superior dos jesutas, na prtica, pelo menos. "Eles querem dominar conscincias, alm de ter o direito de vida e morte sobre os homens", continuou ele.

    'A ustria e a Bavria ceifaram os frutos da dominao jesutica por completo: a compresso de todas as tendncias e a idiotizao sistemtica do povo. A profunda misria que se seguiu guerra religiosa, a poltica impotente, a decadncia intelectual, a corrupo moral, uma diminuio alarmante da populao e o empobre cimento de toda a Alemanha. Estes foram os resultados das iniciativas da Ordem."(21)

    SuaSomente durante o sculo XVII que os jesutas conseguiram se estabelecer com sucesso na

    Sua, depois de terem sido chamados e posteriormente banidos por algumas poucas cidades da Confederao, durante a segunda metade do sculo XVI.

    O arcebispo de Milo, Carlos Borromee, o qual tinha favorecido sua instalao em Lucema, em 1578, logo percebeu quais seriam os resultados de suas aes, conforme nos lembra J.

  • Huber: "Carlos Borromee escreveu a seu confessor que a Companhia de Jesus, governada por dirigentes mais polticos do que religiosos, estava se tornando poderosa demais para preservar a submisso e moderao necessrias. Ela domina reis e prncipes e dirige assuntos temporais e espirituais; a instituio piedosa perdeu o esprito que a animava na origem; nos sentamos obrigados a exclu-la".(22)

    Ao mesmo tempo, na Frana, o famoso legista Etinne Pasquier escreveu: "Introduza essa Ordem em nosso meio e, ao mesmo tempo, estar produzindo dissenso, caos e confuso. "(23) No seria essa a mesma reclamao ouvida e repetida em todos os pases contra a Companhia? Foi o mesmo na Sua, quando a evidncia de seus atos malignos irromperam das aparncias lisonjeiras pelas quais se superava na arte de se disfarar. "Sempre que os jesutas conseguiam fincar razes, seduziam grandes e pequenos, jovens e velhos. Logo, as autoridades comeariam a consult-los em circunstncias importantes; suas doaes comeavam a entrar; logo depois passaram a ocupar todas as escolas, os plpitos de muitas igrejas, os confessionrios de todas as pessoas de posio elevada e influente. Confessores e atentos orientadores da educao de todas as classes sociais, conselheiros e amigos ntimos dos membros da Cmara, sua influncia crescia dia aps dia, e no se faziam de rogados para logo exerc-la em assuntos pblicos. Lucema e Friburgo eram seus centros principais, de onde conduziam a poltica externa de muitos cantes catlicos."

    Polnia e RssiaA dominao jesutica na Polnia foi, de todas, a mais mortal. Isso provado por H. Boehmer,

    um historiador moderado, o qual no tolera a hostilidade sistemtica a essa Ordem."Os jesutas foram totalmente responsveis pela aniquilao da Polnia. A decadncia do

    Estado polons j havia comeado quando eles surgiram em cena. inegvel, entretanto, que aceleraram o processo de decomposio do reino. De todos os Estados nacionais, a Polnia, que tinha milhes de cristos ortodoxos, deveria ser o mais tolerante, do ponto de vista religioso, mas os jesutas no permitiram que isso acontecesse. Fizeram ainda pior: puseram a poltica externa da Polnia a servio dos interesses catlicos de forma mortal". (25)

    Esse texto foi escrito no final do sculo passado, sendo muito semelhante ao que o coronel Beck, antigo ministro polons dos Assuntos Estrangeiros de 1932 a 1939, disse aps a Segunda Guerra Mundial (1939-1945): "O Vaticano uma das principais causas da tragdia do meu pas. Percebi tarde demais que tnhamos seguido nossa poltica externa apenas para servir aos interesses da Igreja Catlica". (26)

    Assim, com distncia de vrios sculos, a mesma influncia desastrosa deixou sua marca outra vez naquela nao desaventurada. J em 1581, o padre Possevino, representante papal em Moscou, tinha se esforado ao mximo para aproximar o czar Ivan, "o Terrvel", e a Igreja Romana. Ivan no era estritamente contra ela. Cheio de grandes esperanas, Possevino tornou-se, em 1584, o mediador da paz de Kirewora Gora entre a Rssia e a Polnia, uma paz que veio a salvar Ivan de dificuldades incrveis. Isso era exatamente o que o astuto soberano esperava. No houve mais discusses sobre a converso dos russos e Possevino teve de abandonar a Rssia sem ter obtido absolutamente nada. Dois anos mais tarde, uma oportunidade ainda melhor se ofereceu aos padres para invadir a Rssia: um monge destitudo revelou-se a um jesuta como sendo na verdade Dimitri, filho do czar Ivan, que havia sido assassinado.

    Ele props submeter Moscou a Roma caso fosse erguido ao trono do czar. Sem refletir, os jesutas aceitaram a proposta de apresentar Ostrepjew ao paladino de Sandomir, o qual lhe concedeu a filha em casamento. Falaram em nome dele ao rei Sigismundo III e ao papa sobre suas expectativas, e conseguiram levantar o exrcito polons contra o czar Boris Godounov. Como recompensa por esses servios, o falso Dimitri renunciou religio de seus pais na

  • Cracvia, uma das sedes jesutas, e prometeu Ordem uma sede em Moscou, prxima ao Kremlin, aps sua vitria sobre Boris.

    "Foram estes favores dos catlicos, entretanto, que desencadearam o dio da Igreja Russa Ortodoxa contra Dimitri. No dia 27 de maio de 1606, ele foi massacrado com vrias centenas de seguidores poloneses. At ento, no se podia falar de um verdadeiro sentimento nacionalista russo; agora, esse sentimento se tornava importantssimo e tomava imediatamente a forma de dio fantico pela Igreja Romana e pela Polnia. A aliana com a ustria e a poltica ofensiva de Sigismundo III contra os turcos, fortemente encorajada pela Ordem, foi tambm desastrosa esutica. Em nenhum outro pas, exceo de Portugal, a Companhia foi to poderosa. A Polnia no s teve um "rei dos jesutas", mas tambm um jesuta rei, Joo Casimiro, um soberano que havia pertencido Ordem antes da sua ascenso ao trono em 1649. Enquanto a Polnia seguia rapidamente para a runa, o nmero de sedes e escolas crescia to rapidamente que o prior estabeleceu na Polnia uma congregao especial em 1751." (27)

    Sucia e InglaterraNos pases escandinavos, o luteranismo anulou todo o resto e, quando os jesutas fizeram

    seu contra-ataque, no encontraram o que havia na Alemanha: um partido poltico em minoria, mas ainda forte, escreveu Pierre Dominique.(28) Sua nica esperana era a converso do soberano (que secretamente estava a favor dos catlicos). Tambm esse rei, Joo III Wasa, tinha se casado em 1568 com uma catlica romana, a princesa polonesa Catarina. Em 1574, o padre Nicolai e outros jesutas foram trazidos Escola de Teologia recentemente fundada, onde se tornaram ardorosos defensores de Roma, enquanto oficialmente assumiam o luteranismo.

    Posteriormente, o hbil negociador Possevino obteve a converso de Joo III e os cuidados pela educao de seu filho Sigismundo, o futuro Sigismundo III, rei da Polnia. Quando chegou o momento de submeter a Sucia Santa S, as condies do rei (casamento de padres e uso do idioma nacional em servios e comunhes - todas rejeitadas pela Cria Romana), levaram as negociaes a um beco sem sada. De qualquer forma, o rei, o qual havia perdido sua primeira mulher, teve de se casar com uma sueca luterana. Os jesutas tiveram que abandonar o pas.

    "Cinqenta anos depois, a Ordem ganhou outra grande batalha na Sucia. A rainha Cristina, filha de Gustavo Adolfo, o ltimo dos Wasa, foi convertida sob a educao de dois professores jesutas, os quais conseguiram chegar a Estocolmo fingindo viajarem com nobres italianos. Para conseguir trocar sua religio sem conflitos, no entanto, ela teve que abdicar no dia 24 de junho de 1654." (29)

    Na Inglaterra, por outro lado, a situao parecia mais favorvel Companhia e podia-se esperar, por algum tempo pelo menos, trazer o pas de volta jurisdio da Santa S. "Quando Elizabeth subiu ao trono, em 1558, a Irlanda era ainda totalmente catlica. Nessa poca, o catolicismo atingia 50% da populao da Inglaterra. J em 1542, Salmeron e Broel tinham sido enviados pelo papa Irlanda, para investigaes." (30)

    Foram criados seminrios sob a direo dos jesutas em Douai, Pont-a-Mousson e Roma, com o objetivo de preparar missionrios ingleses, irlandeses e escoceses. Em acordo com Filipe II, de Espanha, a Cria Romana trabalhou pela queda de Elizabeth em favor da catlica Maria Stuart. Uma rebelio irlandesa, provocada por Roma, havia sido esmagada. Os jesutas, todavia, que haviam chegado Inglaterra em 1580, tomaram parte de uma grande assemblia catlica em Southwark.

    "Posteriormente, sob diversos disfarces, eles se espalharam de condado a condado, de casas de campo a castelos. noite, ouviam confisses; de manh, pregavam e davam a comunho; depois desapareciam to misteriosamente quanto tinham chegado. Assim foi que, em 15 de julho, os jesutas foram proscritos pela rainha Elizabeth."(31)

  • Eles imprimiam e distribuam secretamente panfletos virulentos contra a rainha e a Igreja Anglicana. Um deles, o padre Campion, foi preso, condenado por alta traio e enforcado. Tambm conspiraram em Edimburgo para conquistar o rei James, da Esccia, para sua causa. O resultado de todos esses distrbios foi a execuo de Maria Stuart em 1587. Posteriormente veio a expedio espanhola, a Armada Invencvel, que fez a Inglaterra tremer por algum tempo, fazendo surgir a "unio sagrada" em torno do trono de Elizabeth. A Companhia, entretanto, manteve-se firme em seus propsitos. Preparava padres ingleses em Valladolid, Sevilha, Madrid e Lisboa, enquanto sua propaganda secreta era mantida na Inglaterra, sob a direo do padre Garnett. Aps a conspirao de Gunpowder contra James I, sucessor de Elizabeth, este mesmo padre Garnett foi condenado por cumplicidade e enforcado, tal qual o padre Campion. Sob Charles I, j na Commonwealth de Cromwell, outros jesutas pagaram com a vida por suas intrigas.

    A Ordem chegou a pensar que venceria com Charles II, o qual, juntamente com Lus XIV havia concludo um acordo secreto em Dover, comprometendo-se a restaurar o catolicismo no pas. 'A nao no foi completamente informada a respeito dessas circunstncias, mas o pouco que vazou foi suficiente para criar uma agitao inacreditvel. Toda a Inglaterra estremeceu diante do fantasma de Loyola e das conspiraes jesutas."(32) Uma reunio deles no prprio palcio levou a fria popular a um limite. "Charles II, que desfrutava a vida de um rei e no queria atravessar outra "viagem pelos mares", enforcou cinco padres por alta traio em Tybum. Isso no abateu os jesutas. Charles II, no entanto, foi muito prudente e cnico para o gosto deles, pois estava sempre pronto a despist-los. Imaginaram que a vitria seria possvel quando James II subiu ao trono.

    O rei retornou ao velho jogo de Maria Tudor, mas usou de meios mais suaves. Fingiu converter a Inglaterra e estabeleceu para os jesutas, no palcio de Savoy, um colgio onde 400 estudantes foram imediatamente admitidos. Uma camarilha completa de jesutas tomou conta do Palcio.

    Todas essas combinaes foram a causa principal para a revoluo de 1688. Os jesutas tiveram de ir contra uma corrente muito poderosa. Na poca, a Inglaterra tinha 20 protestantes para cada catlico. O rei foi derrubado; todos os membros da Companhia foram presos ou banidos. Por algum tempo, os jesutas tentaram recomear seu trabalho como agentes secretos, mas no passou de uma agitao ftil. Eles tinham perdido a causa." (33)

    Companhia parece ser extremamente perigosa com respeito f; uma inimiga da paz da Igreja; mortal ao Estado monstico e parece ter sido criada para trazer no a edificao, mas a runa." (34) Os padres, no entanto, foram autorizados a se estabelecerem em Billom, um recanto de Auvergne. De l, organizaram uma grande ao contra a Reforma nas provncias do Sul da Frana. Lainez, o famoso homem do Concilio de Trento, sobressaiu-se nas polmicas, especialmente no Colquio de Poissy, numa tentativa frustrada de conciliar as duas doutrinas (1561).

    Graas rainha me, Catarina de Mdicis, a Ordem abriu sua primeira casa parisiense, o Colgio de Clermont, que passou a competir com a Universidade. A oposio desta, do clero e do Parlamento foi mais ou menos pacificada com concesses verbais, pelo menos, feitas pela Companhia, a qual se comprometeu a se restringir ao direito comum. A Universidade, porm, tinha lutado muito e por muito tempo contra a introduo de "homens subornados s custas da Frana, para se armarem contra o rei", de acordo com Etinne Pasquier, cujas palavras se mostraram verdadeiras no muito tempo depois.

    Nem preciso perguntar se os jesutas "consentiram" com o Massacre de So Bartolomeu (1572). Eles chegaram a prepar-lo? Quem sabe? A poltica da Companhia, sutil e flexvel nos seus procedimentos, tinha objetivos muito claros; a poltica do "tudo para destruir a heresia". Todo o resto deve estar submetido a esse objetivo maior. "Catarina de Mdicis trabalhou muito

  • por esse objetivo e a Companhia podia contar com os Guises. "(35) Esse plano superior, entretanto, to ajudado pelo massacre da noite de 24 de agosto de 1572, provocou uma terrvel exploso de dio fratricida. Trs anos depois, foi a Liga, aps o assassinato do duque de Guises, apelidado "o rei de Paris", e o pedido de "Sua Alta Majestade Crist" para combater os protestantes.

    O astuto Henrique III fez o mximo para evitar uma guerra religiosa. Em acordo com Henrique de Navarra, eles conquistaram os protestantes e os catlicos mais moderados contra Paris, a Liga e seus partidrios, romanos enlouquecidos apoiados por Espanha. "Os jesutas, poderosos em Paris, protestaram que o rei da Frana tinha se entregado heresia. O comit dirigente da Liga deliberou na casa dos jesutas na rua de Saint Antoine. Estaria a Espanha controlando Paris? Improvvel. A Liga? A Liga s era um instrumento em mos extremamente habilidosas. Essa Companhia de Jesus, que tem estado lutando em nome de Roma por trinta anos j, este era o senhor secreto de Paris."

    'Assim, Henrique III foi assassinado. Devido ao fato do herdeiro ser protestante, o assassinato pareceu primeira vista tr sido cometido apenas por razes polticas, mas no seria possvel que aqueles que o planejaram e persuadiram o jacobino Clement a execut-lo estivessem esperando uma revolta da Frana Catlica contra o herdeiro huguenote? O fato que algum tempo depois, Clement foi chamado de "anjo" pelo jesuta Camelet. Guignard, outro jesuta que posteriormente foi enforcado, dava a seus alunos, como forma de moldar suas opinies, textos tirnicos em seus exerccios de latim."(36) Entre outras coisas, esses exerccios escolares continham o seguinte: "Jacques Clement cometeu um ato de mrito inspirado pelo Esprito Santo. Se podemos travar guerra contra ele, ento devemos lev-lo morte." E ainda: "Cometemos um grande erro em So Bartolomeu; deveramos ter feito sangrar a veia real." (37)

    FranaEm 1551, a Ordem comeou a se estabelecer na Frana e, aps 17 anos de sua fundao,

    estava instalada na capela Saint-Denis, em Montmartre. Os jesutas se apresentavam como adversrios efetivos da Reforma, a qual havia conquistado um stimo da populao francesa. O povo, no entanto, no confiava nesses soldados excessivamente dedicados Santa S. Assim, sua penetrao na Frana foi inicialmente muito lenta. Tal como em todos os outros pases onde a opinio pblica no lhes era favorvel, se insinuavam em primeiro lugar entre as pessoas da Corte; depois, atravs destas, nas classes superiores. Em Paris, entretanto, o Parlamento, a Universidade e mesmo o clero mantinham-se hostis. Isso ficou mais evidente na sua primeira tentativa de abrir um colgio na cidade.

    Em 1592, um certo Bamere, o qual tentara assassinar Henrique IV confessou que o padre Varade, reitor dos jesutas em Paris, o havia persuadido a isso. Em 1594, outra tentativa foi levada a cabo por Jean Chatel, ex-aluno dos jesutas, os quais haviam ouvido sua confisso pouco antes de cometer o ato. Foi nessa ocasio que os j mencionados exerccios escolares eram aproveitados na casa do padre Guignard. "O padre foi enforcado em Greve, enquanto o rei confirmava um dito do Parlamento banindo os filhos de Loyola do reino, como "corruptores da juventude, violadores da paz pblica e inimigos do Estado e da Coroa da Frana."

    O dito no foi levado avante em sua totalidade e, em 1603, foi revogado pelo rei contra recomendao do Parlamento. Aquaviva, o prior dos jesutas, havia sido ardiloso em suas manobras e levara o rei Henrique IV a acreditar que a Ordem, reestabelecida na Frana, seria leal servidora dos interesses nacionais. Como poderia ele, sutil como era, acreditar que esses romanos fanticos realmente aceitariam o dito de Nantes (1498), o qual determinava os direitos dos protestantes na Frana e, ainda pior, apoiariam seus projetos contra a Espanha e seu

  • imperador? O fato que Henrique IV escolheu para seu confessor e tutor um dos mais distintos membros da Companhia, o padre Cotton.(38a)

    Em 16 de maio de 1610, na vspera de sua campanha contra a ustria, o monarca foi assassinado por Ravaillac, o qual confessou ter sido inspirado pelos escritos dos padres Mariana e Suarez. Estes dois recomendavam o assassinato de "tiranos hereges" e de todos aqueles no suficientemente devotados aos interesses do papado. O duque de Epernon, que fazia o rei ler uma carta enquanto o assassino estava pronto para a emboscada, foi um amigo famoso dos jesutas, e Michelet provou que eles sabiam dessa cilada. "De fato, Ravaillac havia se confessado ao padre jesuta d'Aubigny pouco antes e, quando os juizes interrogaram o padre, ele simplesmente respondeu que Deus lhe havia concedido o dom de esquecer imediatamente o que lhe era dito no confessionrio."(38)

    O Parlamento, convicto de que Ravaillac tinha sido apenas um instrumento da Companhia, ordenou ao carrasco queimar o livro de Mariana. Felizmente, Aquaviva ainda estava l. Novamente esse grande prior tramou muito bem; condenou severamente a legitimidade do tiranicdio. A Companhia sempre teve autores que, no silncio de seus estudos, expunham a doutrina em toda a sua retido; tambm tinha grandes polticos os quais, quando necessrio, a vestiriam com as mscaras adequadas."(39) Graas ao padre Cotton, que tomou conta da situao, a Companhia de Jesus saiu desse "temporal" ilesa. Sua fortuna, o nmero de estabelecimentos e seguidores cresceu vertiginosamente.

    Quando, entretanto, Lus XIII subiu ao trono, e Richelieu assumiu os assuntos de Estado, houve um conflito de interesses. O cardeal no permitia que ningum se opusesse sua poltica. O jesuta Caussin, confessor do rei, pde verificar a verdade dessa afirmao, quando foi levado priso em Rennes, sob as ordens de Richelieu, tal qual um criminoso de Estado. Esse ato produziu timos resultados. A fim de se manter na Frana, a Ordem chegou ao ponto de colaborar com o respeitado ministro.

    H. Boehmer escreveu sobre esse assunto: 'A falta de considerao pela Igreja sempre demonstrada pelo governo francs, desde Philippe le Bel, nos conflitos entre os interesses nacionais e eclesisticos era, novamente, a melhor poltica."(40) A ascenso ao trono de Lus XIV marcou o incio de um tempo de grande prosperidade para a Ordem. A indulgncia dos confessores jesutas, seu "descuido" inteligente usado para atrair pecadores no muito interessados em pagar penitncias, foram extensivamente utilizados, tanto com o povo quanto na Corte, especialmente com o rei, muito mais um conquistador "Don Juan" que um devoto.

    "Sua Majestade" no tinha inteno de renunciar aos seus casos amorosos, e seu confessor foi muito cuidadoso em evitar o assunto, apesar de ser puro adultrio. Assim, toda a famlia real foi prontamente abastecida com confessores jesutas apenas, e sua influncia cresceu mais e mais na alta sociedade. Os padres de Paris atacavam nos seus Escritos a moral frouxa dos famosos casustas da Companhia, mas sem sucesso. O prprio Pascal interveio, em vo, a favor dos jansenistas, durante a grande disputa teolgica da poca. Em suas Cartas da Provncia, ele exps ao eterno ridculo seus oponentes muito mudanos, os jesutas. Apesar disso, a posio segura que tinham na Corte lhes assegurou a vitria e os de Port-Royal sucumbiram.

    A Ordem assim conquistava outra grande vitria para Roma, cujas conseqncias foram contra os interesses nacionais. No preciso dizer que, contra a vontade, tinham aceitado a paz religiosa assegurada pelo Edito de Nantes, e que tinham continuado em uma guerra secreta contra os franceses protestantes.

    medida que Lus XTV envelhecia, tornou-se mais e mais intolerante, sob a influncia de Madame de Maintenon e do padre La Chaise, seu confessor. Em 1881, eles o persuadiram a recomear a perseguio aos protestantes. Finalmente, em 17 de outubro de 1685, ele assinava

  • a Revogao do dito de Nantes, fazendo com que aqueles dentre seus sditos que se recusassem a abraar a religio catlica ficassem sem direitos legais.

    Logo em seguida, para acelerar as "converses", os famosos "dragonnade" entraram em ao. Esse nome sinistro tornou-se parte de todas as tentativas posteriores de evangelizar por fogo e correntes. Enquanto os fanticos aplaudiam, os protestantes fugiram do reino em massa. De acordo com Marshal Vauban, a Frana perdeu dessa forma 400 mil habitantes e 60 milhes de francos. Industriais, comerciantes, proprietrios de navios e artesos qualificados fugiram para outros pas