a história de amor de romeu e julieta

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A histria de amor de Romeu e Julieta Imitao Brasileira de Matteo Bandello Personas dramticas: Antero Savedra, 1 Coro Quaderna, 2 Coro O Duque Capuleto O Conde Montquio Romeu, menino Trs carrascos Romeu, adulto Merccio Msicos, bailarinos e bailarinas Julieta Teobaldo O Padre A Criada Figurantes: Verona - a cidade do Recife Mntua - a cidade de Olinda

A ao decorre em Verona e Mntua, ou seja, no Recife e em Olinda. Na verso teatral, deve ser instalado um pequeno palco dentro do maior. No menor que surgiro os bonecos que, conduzidos por atores, repetiro, para Romeu, adulto, a cena que ele viu em criana. Tambm nele que acontecer a noite de npcias de Romeu e Julieta. Deve haver tambm, no palco maior, duas cadeiras, nas quais se sentaro Antero Savedra e Quaderna nos momentos em que o Coro emudece e falam os personagens.

Quaderna: Vou contar, neste Romance, a histria de Romeu. A sua curta existncia, e tudo o que padeceu. Foi a histria mais tocante que a minha Pena escreveu. uma histria conhecida em quase toda Nao. No Teatro e no Cinema, tem causado sensao, deixando amargas lembranas

no mais brutal corao. O que sofreu Julieta, quem, como eu, j tem lido, todo o seu padecimento como foi acontecido, depois de seis, sete anos, inda no est esquecido. Verona, antiga cidade da Provncia italiana, foi bero dos Capuletos, aquela raa tirana, inimiga dos Montquios, famlia honesta e humana. O Duque de Capuleto, que tinha grande poder, queria, ao Conde Montquio, aniquilar e vencer. Os dois viviam sonhando ver um ao outro morrer. Ali, tudo era desgosto, intriga e rivalidade. Um dia, corre a notcia que assombrou toda a cidade, notcia que era o comeo da grande fatalidade. Romeu tinha quatro anos quando veio um peloto, mandado por Capuleto por uma cruel traio. Nesse dia foi Montquio trancado numa Priso. Ficou o Conde Montquio naquela Priso sombria. Ali, ele ignorava se era de-noite ou de-dia. Era preso e acorrentado: nem se mexer no podia!

Montquio: Aqui estou acorrentado, sem socorro de ningum. Aqui estou aprisionado, sem saber como e por quem! E, ah meu Deus, minha mulher vem ali, presa tambm! Que dor no meu corao ao ver minha Esposa amada, trazida por trs Carrascos, um de-lana, dois de-espada! E ela com Romeu nos braos, triste, s e abandonada! Condessa: Eu te abrao, meu Marido, minhas queixas relatando! V nosso filho Romeu que, inocente, est chorando! Capuleto: Aqui chegada a hora de na Priso ir entrando! Montquio, agora me pagas, hoje eu hei de me vingar! Um dia, jurei vingana e agora vou te mostrar o furor da minha ira a que ponto vai chegar! Ests a, prisioneiro, pra mim no tens cotao. Vou decidir tua sorte, tenha ou no tenha razo! A vida de tua Esposa est aqui, na minha mo! Tua querida Mulher vai morrer, para teu mal! Talvez ela nem merea este golpe to fatal.

Vai morrer em tua vista, cravada por meu Punhal! Montquio: Eu te digo, Capuleto: tu roubaste o meu direito! Prendeste-me traio, s um Duque sem conceito! Mata-me a mim! Que ela viva, e eu morrerei satisfeito! Capuleto: Montquio, eu vou mat-la, no adianta chorar! Te odeio profundamente, mas vivo vou te deixar, para que a morte dela tu sempre possas lembrar. Condessa: Ah, meu Deus, que sina triste! Me sinto desfalecida! Olho aqui para meu filho, por ele choro, sentida, pois vejo que no me resta nem meia hora de vida! Capuleto cochicha ao ouvido de um dos carrascos, o qual arranca Romeu dos braos da me. Capuleto: A teus pedidos, Montquio, meu sangue no atendeu! J ordenei ao Carrasco, que logo me obedeceu! Dos braos de sua Me foi arrancado Romeu! O Pai dele est a, infeliz e acorrentado! Tu, Mulher, vem para c, aqui, pr'este outro lado, que pra teu Marido ver como, em ti, serei vingado!

Eu j tirei meu Punhal, que cintura carregava. J cravo no peito dela -era o que sempre jurava!e o Punhal j vai rangindo, enquanto o sangue golfava! Condessa: Senhor Duque Capuleto, seu corao perverso! Tenha d do meu filhinho, que ainda dorme de-bero! Capuleto: No! Vou calcar o Punhal para entrar at o tero! Condessa: Com a dor da punhalada meu corpo se estremeceu! Adeus, meu querido Esposo, cuida do nosso Romeu! Diz a Romeu que a Me dele, sendo inocente, morreu! Os msicos repetem a primeira frase do "Romance de Minervina". Capuleto: J est morta a Condessa, prostrada na Laje fria! Vou arrancar o Punhal, onde o sangue j esfria. E mostro ao Marido dela que foi como eu garantia! Ento, querido Montquio, j conheces quem sou eu? Guarda o Punhal para ti: agora o Punhal teu! Quando teu filho crescer, d de presente a Romeu! O corpo, aqui, da Condessa,

no o deixo sepultar! Vocs, Carrascos, o levem pela rua, a se arrastar! Depois, coloquem num saco e joguem dentro do Mar! Os msicos repetem a primeira frase do "Romance de Minervina". Quaderna: A, tendo praticado tamanha barbaridade, Capuleto foi pra casa. Quando chegou cidade, deu ordem pra que Montquio fosse posto em liberdade. Montquio, desesperado, saiu daquela Priso, dando uma mo para o filho, com o Punhal na outra mo. Foi chorar a sua sorte, sozinho, na solido. -Dezesseis anos passaram!Romeu via sempre o Pai muito triste, a suspirar. O filho, no seu segredo no podia penetrar. Como o Pai nunca se abria, Romeu no quis perguntar. Quando o conde achou que o filho era capaz de razo, e, pr'a vingana, podia tomar uma deciso, chamou-o secretamente, fez-lhe a comunicao. Com os msicos tocando a primeira estrofe do "Romance de Minervina", abre-se a cortina do palco menor. O ator que faz Montquio retira-se com Romeu para junto de Antero Savedra e Quaderna, e os quatro passam a formar uma espcie de pequeno pblico para a representao dos bonecos. A critrio do encenador, a cena que se segue pode ser muda, caso em que os bonecos atuaro ao som da msica, que continua.

Montquio-boneco: Aqui estou acorrentado, sem socorro de ningum. Aqui estou aprisionado, sem saber como e por quem! E, ah meu Deus, minha Mulher vem ali, presa tambm! Que dor no meu corao ao ver minha Esposa amada, trazida por trs Carrascos, um de-lana, dois de-espada! Ela com Romeu nos braos, triste, s e abandonada! Condessa-boneca: Eu te abrao, meu Marido, minhas queixas relatando! V nosso filho Romeu que, inocente, est chorando! Capuleto-boneco: Aqui chegada a hora de na Priso ir entrando! Montquio, agora me pagas, hoje eu hei de me vingar! Um dia, jurei vingana, e agora vou te mostrar o furor da minha ira a que ponto vai chegar! Ests a, prisioneiro, pra mim no tens cotao. Vou decidir tua sorte, tenha ou no tenha razo! A vida de tua Esposa est aqui, na minha mo! Tua querida Mulher vai morrer, para teu mal! Talvez ela nem merea este golpe to fatal.

Vai morrer em tua vista, cravada por meu Punhal! Montquio-boneco: Eu te digo, Capuleto: tu roubaste o meu direito! Prendeste-me traio, s um Duque sem conceito! Mata-me a mim! Que ela viva, e eu morrerei satisfeito! Capuleto-boneco: Montquio, eu vou mat-la, no adianta chorar! Te odeio profundamente, mas vivo vou te deixar, para que a morte dela tu sempre possas lembrar. Condessa-boneca: Ah, meu Deus, que sina triste! Me sinto desfalecida: Olho aqui para meu filho, por ele choro, sentida, pois vejo que no me resta nem meia hora de vida. Aqui, os bonecos repetem a cena de Capuleto cochichando ao ouvido de um dos carrascos. Capuleto-boneco: A teus pedidos, Montquio, meu sangue no atendeu! J ordenei ao Carrasco, que logo me obedeceu! Dos braos de sua Me foi arrancado Romeu! O Pai dele est a, infeliz e acorrentado! Tu, Mulher, vem para c, aqui, pr'este outro lado, que pra teu Marido ver como, em ti, serei vingado!

Eu j tirei meu Punhal, que cintura carregava. J cravo no peito dela -era o que sempre jurava!e o Punhal j vai rangindo, enquanto o sangue golfava! Condessa-boneca: Senhor Duque Capuleto, seu corao perverso! Tenha d do meu filhinho, que ainda dorme de-bero! Capuleto-boneco: No! Vou calcar o Punhal para entrar at o tero! Condessa-boneca: Com a dor da punhalada, meu corpo se estremeceu! Adeus, meu querido Esposo, cuida do nosso Romeu! Diz a Romeu que a Me dele, sendo inocente, morreu! Os msicos repetem a primeira frase do "Romance de Minervina". Capuleto-boneco: J est morta a Condessa, prostrada na Laje fria! Vou arrancar o Punhal, onde o sangue j esfria. E mostro ao Marido dela que foi como eu garantia! Ento, querido Montquio, j conheces quem sou eu? Guarda o Punhal para ti: agora o Punhal teu! Quando teu filho crescer, d, de-presente, a Romeu! O corpo, aqui, da Condessa,

no o deixo sepultar! Vocs, Carrascos, o levem pela rua a se arrastar! Depois, coloquem num saco e joguem dentro do Mar! Os msicos tocam a primeira frase e a primeira estrofe do "Romance de Minervina". Fecha-se a cortina do palco menor e Montquio-ator continua a narrao para o Romeuator. Montquio: Romeu, foi este o Punhal que a tua Me matou! Faz hoje dezesseis anos que tua Me expirou, morta por este Punhal que o prprio Duque cravou! Ouve, meu filho, o que digo, presta-me toda ateno! O Duque de Capuleto tem a nossa maldio, pois tua Me, minha Esposa, matou sem ter compaixo! O Duque de Capuleto, por meio de covardia, mandou prender-me traio, pois eu de nada sabia! Brutalmente me trancou numa cruel Enxovia! Depois, matou tua Me, fez esta barbaridade! S ento foi para casa, e, ao chegar cidade, deu ordem para que eu fosse colocado em liberdade. Meu filho, foi quase morto que eu sa da Priso! Uma mo eu dava a ti, com o Punhal na outra mo! Vim sofrer a dura sorte,

aqui nesta solido! Hoje inda choro, Romeu, a nossa infelicidade! Tenho te dado instruo s por fora de vontade! Desde aquele dia vivo fora da sociedade! Isto que te digo agora guardei na minha lembrana. Passaram dezesseis anos, eras ainda criana! Meu filho, o tempo chegado: exijo nossa vingana! preciso que tu vingues a tua Me malfadada! Meu filho, toma o Punhal: ela tem de ser vingada! Parte, Romeu, sem demora! Sai da sombra! Parte, vai! Mata o Duque! S assim a minha dor se retrai! Mata o duque! o que te pede o corao de teu Pai! Romeu: Eu recebo este Punhal que o meu sangue derramou! Beijando a Cruz de seu cabo, juro o que meu Pai jurou! Mato o Duque com o Punhal que a minha Me me roubou! Montquio: Recebo teu juramento com muita satisfao, pois vais cumprir a vingana que te dei como misso! Romeu: Sim, eu juro a meu bom Pai

que vingo a sua Paixo! Quaderna: No outro dia, Romeu, com um amigo dedicado, viajou para Verona e o castelo do Ducado. Dizia para o amigo que o Pai seria vingado. Este amigo, de quem falo, e que ia com Romeu, junto a ele se criara, junto com ele cresceu. Eram como dois irmos: Merccio era o nome seu. No dia em que os dois chegaram l nas terras do Ducado, o aniversrio da filha do Duque era celebrado. O Castelo estava em festa, ricamente embandeirado. Romeu saltou do cavalo e combinou com o amigo. Entraram l, disfarados, naquele Castelo antigo, pois ambos eram valentes, no fugiam do perigo. Os que estavam na festa, tinham ido mascarados. Assim fizeram os dois: entraram fantasiados, ambos de Castelo adentro, em capotes, embuados. Dentro, tudo era alegria, muitos rapazes danavam. Algumas moas, sentadas, com seus noivos conversavam. Tocavam alguns dos Msicos, outros, alegres, cantavam.

Os atores e bailarinos danam ao som de "Bernal Francs", que pode ser tocado com a msica do "Romance da Bela Infanta", pois ela permite variao de ritmo. Romance de Bernal Francs: - Quem bate na minha porta? Quem bate? Quem est a? Dom Bernal Francs, sua porta mande abrir! - No deitar da minha Cama, eu rompi o meu Frandil. No descer da minha Escada, me caiu o meu Chapim. No abrir da minha Porta, apagou-se o meu Candil. Eu te pego pela mo, te levo no meu Jardim, te fao Cama de rosas, travesseiro de Jasmim. Te lavo em gua-de-cheiro, te deito em cima de mim. - Deixem que volte de novo, com minha Capa a cair. Quero ver se a minha Dama ainda lembra de mim! - Tua Dama, Cavaleiro, est morta, que eu j vi. Os sinais que ela levava vou dizer agora aqui. Os sinos que lhe tocaram por minha mo os tangi. O Caixo em que a enterraram era de ouro e marfim. Palavras no eram ditas, morre Bernal, no Jardim. Esta foi a sua histria, foi este o seu triste fim.

Quaderna: A filha de Capuleto, a formosa Julieta, danava com um rapaz que vestia roupa preta. Tinha ao seio, por enfeite, um cacho de violetas. Romeu: Meu Deus, estou encantado com toda aquela beleza! Aquela Moa parece uma Fada, uma Princesa! Merccio, quem aquela? Quem aquela lindeza? Merccio: filha de Capuleto! O leque que ela trazia caiu de sua bela mo, quando, h pouco, se movia! Romeu: Eu vou l! Vou apanh-lo! (Entregando o leque:) O leque lhe pertencia? Julieta: Sim, o leque me pertence! Muito obrigada, Senhor! Em paga da gentileza queira aceitar esta flor: receba esta Violeta em troca do seu favor! Romeu: Eu beijo esta doce Flor de perfume delicado! Vou guard-la junto ao peito, com todo amor e cuidado, como se fosse uma Jia que aqui eu tivesse achado.

Eu no penso mais na jura que fiz a meu velho Pai! Pois o Amor gua pura que em nossas almas cai, e o desejo de vingana na sede do Amor se esvai! Deixe a dana, Julieta, finja que vai passear. Guardo comigo um segredo que a voc vou revelar. V l para a outra Sala: me espere, que chego l! Julieta: Sinto que empalideci, que estou da cor de um Jasmim! Para a outra Sala, no: melhor l no Jardim! L tu podes me dizer o que desejas de mim! H pouco, quando falavas, o meu peito estremecia! Como te chamas? Romeu: Romeu! Julieta: Pois, Romeu, no sei se vias que vieste me salvar da tristeza em que eu vivia! Que que tens pra me dizer? Romeu: Escuta, linda Criana! Eu vim tomar de teu Pai a mais dura das vinganas. Mas o Punhal com que eu vinha deponho ante as tuas tranas! Diante de tal beleza, sinto meu peito chagado!

Por teus olhos verde-azuis, eu fiquei enfeitiado. Eu estou louco de amor! Estou cego, apaixonado! Teu Pai matou minha Me, quando eu era menino. Jurei vingar essa morte, porm decreta o Destino que tudo seja esquecido, ante teu rosto divino! Serei perjuro! Jamais a meu Pai eu voltarei! A teus ps, divina imagem, o teu Escravo serei! Juro que junto de ti viverei e morrerei! Pois bem, Julieta: agora eu quero este Amor selar! Quero em tua linda boca um beijo depositar! Julieta: O que isto? Sem pudor, eu j me deixo beijar? Romeu: Existe, s, um remdio pra aliviar o pudor: repetirmos o beijo, agora com mais calor! Julieta: Meu Deus, eu me sinto tonta! Foi a dana ou o Amor? Romeu: Julieta, quem este que sai ali, de um recanto, pior que um Tigre feroz, cheio de raiva e de espanto?

Julieta: o Marqus Teobaldo, meu primo! Te odeia tanto! Teobaldo: Romeu, que fazes aqui? Responde-me, miservel! Que vieste procurar? Teu sangue sangue execrvel! Sai daqui, seno a morte teu fim inevitvel! Julieta, vai tambm, seno sers arrastada! Julieta: No, Romeu, no lhe respondas! Meu primo, guarda a Espada! Teobaldo: No desobedecers minha ordem, j dada! Romeu: Teobaldo, Teobaldo! No toques nem sua mo! Se tu deres mais um passo, cairs morto no cho! Pois minha Espada certeira cortar teu Corao! Os dois lutam. Julieta: Meu Deus! Romeu e Teobaldo cruzam j suas Espadas! J sinto que vou cair sobre o solo desmaiada! Cai, Romeu mata Teobaldo. Julieta recobra os sentidos. Meu Deus, o que se passou? A luta est terminada!

Teobaldo j caiu, por um golpe traspassado! O pano de sua roupa j est de sangue molhado! E Romeu, de p, contempla o seu ferro ensanguentado! J l chega, do Castelo, o pessoal que danava! Capuleto: O que foi que houve aqui? Quem foi que tais gritos dava? O qu? Teobaldo morto? Meu sobrinho que eu amava? Prendam j este assassino e levem para a Priso! Vai ser condenado morte, sem demora e sem perdo! Quem derramou o meu sangue no merece compaixo! Os msicos tocam "A Rosa Roseira". Quaderna: Fazia, j, sete dias que Romeu fora detido, quando, uma noite, ele ouviu na Priso grande rudo, e apareceu Julieta, envolta em branco vestido. Julieta Romeu, Romeu de minh'alma, quanto sofri tua ausncia! Debalde pedi, por ti, a meu Pai sua clemncia! Eu vim te tirar daqui, desta cruel penitncia! Falei com um velho Padre, a quem contei, lealmente,

que tinha por ti, Romeu, uma paixo louca, ardente! O Padre me prometeu casar-nos secretamente! Vem! Eu subornei os guardas: No h ningum nos seguindo! J soou a meia-noite, os meus Pais esto dormindo! No tenhas medo da Noite, pois o Luar est lindo! Romeu: Meu Deus, que felicidade! a minha noiva-amante! Julieta: Vamos l para a Capela, chegamos l num instante: L, o Padre nos espera, com o Coroinha-ajudante! Enquanto os dois se casam, na presena do padre, os msicos tocam "Bernal Francs", a msica da festa. Quaderna: Assim, Romeu, na Capela, com Julieta casou! Debaixo dos ps de Cristo foi que ele se ajoelhou e, diante de Deus, por ela, amor eterno jurou! O Padre: Romeu, vou dar-lhe um conselho melhor voc partir. Voc deve ir para Mntua, l, um tempo, residir. Prometa sua Mulher ir dela se despedir. Ela sai, vai esper-lo, fiel, em sua janela. Voc, daqui a momentos,

vai l, para estar com ela. Suba o muro do Castelo e v para o quarto dela. Julieta: Romeu, vou em tua frente, para no Castelo esperar-te. Por enquanto, aqui tu ficas, para o Padre aconselhar-te, pois o Padre nosso amigo: o que pretende salvar-te! Sai. O Padre: Muito bem, Romeu, meu filho! Voc agiu bem, Romeu! Mas agora necessrio cuidar do futuro seu. Voc no diga a ningum que quem os casou fui eu! Hoje mesmo, antes que o Sol tenha chegado a sair, voc deve ir para Mntua: Julieta fica aqui. Se o ambiente melhorar, eu mandarei prevenir. Na sua ausncia, eu prometo por Julieta velar. O dio de Capuleto procurarei abrandar. Se conseguir, a notcia logo mando lhe levar. Romeu: Beijo-lhe a mo, meu bom Padre, mas minh'alma est ferida! Vou procurar Julieta, vou procurar minha vida! Sei que me arrisco, mas vou celebrar a despedida!

Quaderna: Ao chegar l no Castelo Romeu achou sua amada. Julieta o esperava, na varanda debruada. Romeu parecia ter a alma toda exaltada! Julieta: Quem bate na minha Porta? Quem bate? Quem est a? Romeu: Ah, minha amada, Romeu! sua Porta venha abrir! Abre-se a cortina do palco menor, onde se v uma cama. Fala Julieta, enquanto se encaminha para l, com Romeu. Julieta: No deitar da minha Cama, se rompeu o meu Frandil. No descer da minha Escada, me caiu o meu Chapim. Eu te pego pela mo, tu entras no meu Jardim. Te fao Cama de rosas, travesseiro de Jasmim. Te lavo em gua-de-cheiro, te deito em cima de mim. Os dois entram e fecham a cortina. Quaderna: O que se passou ali -digo ao pblico-auditor impossvel descrever, tal foi a cena-de-amor! Imagine quem j tenha vivido um igual ardor. Mas, pra falar do que houve, uso um verso conhecido, que no da minha lavra,

pois caiu num outro ouvido. Ele d plida idia do que ali foi sucedido. Novamente a critrio do encenador, a cena seguinte pode ser representada pelo ator que faz Romeu ou por dois bonecos que representem o casal. Romeu (ou o casal de bonecos) aparece por cima do travesso que sustm a cortina. Romeu: "Eu tirei minha Gravata, ela tirou o Vestido. Eu, o cinto, com Revlver, ela seus quatro Corpinhos. As anguas engomadas soavam nos meus ouvidos como um tecido de seda por vinte facas rompido. Eu toquei seus belos peitos que estavam adormecidos, e eles se ergueram, de sbito, como ramos de jacinto. Naquela noite eu passei pelo melhor dos caminhos, montado em Potrinha branca, mas sem Sela e sem estribos. Suas coxas me escapavam, como Peixes surpreendidos, metade cheias de fogo, metade cheias de frio". Julieta: "Ele tirou a Gravata, eu tirei o meu Vestido. Ele, o cinto, com Revlver, e eu, meus quatro Corpinhos. As anguas engomadas soavam nos meus ouvidos como um tecido de seda por vinte facas rompido. Ele tocou nos meus Seios, que estavam adormecidos, e eles se ergueram de sbito, como ramos de jacinto. Naquela noite, corri

pelo melhor dos caminhos, montada por um Ginete, mas sem Sela e sem estribos. Minhas coxas lhe escapavam, como Peixes surpreendidos, metade cheias de fogo, metade cheias de frio". Quaderna: Ento, que imagine o pblico esta cena de noivado. O tempo em que estiveram aqueles dois abraados. Quantos beijos, quantos toques, quantos xtases trocados! O Dia j vinha entrando pela brecha da Alvorada. Eles, coitados, pensavam que inda era a Madrugada, e Romeu, feliz, beijava o corpo de sua Amada. Quando, porm, conheceram que o dia estava a chegar, Romeu disse a Julieta: Romeu: Eu inda estava a sonhar! Adeus! Nesta hora triste, eu parto, vou te deixar! Vamos viver separados, pois o Destino assim quis. Eu peo a Deus que te faa, no mundo, muito feliz. Eu partirei para o exlio: cumpro uma Sorte infeliz! Se algum dia tu souberes que eu, longe de ti, morri, murmura a Deus uma prece por quem tanto amou a ti. Derrama por mim teu pranto,

que eu, por ti, muito sofri. Quanto a mim, tambm te juro que, se morreres primeiro, sobre o teu leito de morte eu virei, triste romeiro, dar, abraado contigo, meu suspiro derradeiro. Eu estou sentindo um triste pressentimento de Morte. Minh'alma, como uma Nau que est perdida e sem norte, vagueia num Mar imenso, entregue a terrvel sorte. Como vai ser triste e duro o tempo que vou passar longe de ti, Julieta, da bno do teu olhar! Adeus, enfim: vou seguir! Adeus: eu vou te deixar! Adeus, Verona, onde deixo meu Sonho, minha iluso! Adeus casas, ruas, praas, e aves de arribao. Adeus, Julieta! Eu parto, mas fica o meu corao! Quaderna: Beijaram-se os dois amantes, se abraaram docemente. Juraram que haveriam de se amar eternamente. E afinal se separaram, chorando o Amor inocente. Logo aps Romeu deixava a nobre e bela Morada. Julieta, soluando, na Varanda debruada, ficou at que Romeu se sumiu no p da Estrada.

Daquele dia em diante, Julieta no mais sorriu. Sonhando pelo Jardim, nunca mais ningum a viu. Do castelo de seu pai, pra canto nenhum saiu. Todos ficaram pasmados, perante aquela tristeza. Pensavam que era doena sua profunda frieza. S imagem de Romeu que se mantinha presa. Um dia, seu pai chamou-a at a sua presena: Capuleto: Minha filha, escute aqui: eu quero que te convenas de que vou dar-te um remdio pra esta tua doena! Ontem, veio o Conde Pris te pedir em casamento. Por ser um moo de bem, dei-lhe o meu consentimento. Vou te apresentar a ele, dentro de poucos momentos. Julieta: Pai, no faa esta desgraa! Eu no quero me casar! Eternamente solteira, quero meus dias findar! Somente a voc, meu Pai que na vida hei-de amar! Capuleto: No, minha filha, ouve bem: tu deves ter um Marido! J dei meu consentimento e o voto ser cumprido! J tenho o Conde por genro,

e um genro muito querido! Se no cumpres o mandado que agora te fao a ti, podes dizer para o mundo: "Para meu Pai, eu morri"! Pois nunca mais deitarei minha bno sobre ti! Julieta: Pacincia! Como Pai, o senhor faz o que quer! Mas eu, desse Conde Pris, nunca serei a Mulher! Desculpe, querido Pai: no posso lhe obedecer! Quaderna: Capuleto, furioso, de raiva cerrou os dentes. Chegou a empurrar ao cho a pobre filha inocente. E, todo cheio de clera, saiu de l bruscamente. Julieta, em desespero, sua Criada chamou. Julieta: V me procurar o Padre que o meu Confessor. Diga-lhe que, sem demora, venha aqui onde eu estou! Quaderna: Alguns momentos depois, quando o Padre ali chegou, Julieta, para ele, os seus desgostos contou. A cena que o Pai fizera, tambm toda relatou. Acabada a narrao, o Padre pega a falar:

Padre: Ah, filha, voc no deve deixar-se desesperar! Acho que tenho um remdio que tudo pode evitar! Precisa muita coragem para o que vou lhe propor. Mas voc no tenha medo: confie em Nosso Senhor! Escute ento o que eu digo, pois meu plano vou lhe expor. Eu tenho, h muito, comigo, um frasco de dormideira. Se voc tom-la, fica morta uma semana inteira. Com ela, que vou salv-la! assim, desta maneira: Voc bebe a dormideira, e vo pensar que morreu. Seu Pai faz o seu enterro: quem vai celebrar, sou eu! Acabada a cerimnia, mando avisar a Romeu. Ele vem, leva seu corpo pra Mntua, terra do exlio. Talvez, depois, o seu Pai o receba como filho. Se assim for, vocs dois vo viver o seu idlio! Quaderna: Julieta aceitou tudo o que o Padre propusera. noite, toma o narctico como o Confessor dissera. E, com pouco, no Castelo, sua Me se desespera. O Pai, tambm muito triste, ordenou o Funeral.

Como aquele nunca houve neste Mundo-terreal: Julieta teve enterro como no houve outro igual. O Povo seguiu o Carro, pra sepultar na cidade. Eram mais de mil tocheiros, dando, a ela, a claridade! Capuleto, arrependido, chorava na soledade! -Foi a que aconteceu a maior fatalidade!Antes que o padre mandasse o aviso pra Romeu, Merccio, em Mntua, lhe disse: Merccio: Ah, meu amigo Romeu! Dou-lhe a notcia sofrendo, pois Julieta morreu! Vim te buscar para a veres, linda, no tmulo seu! Quaderna: Romeu ficou como louco com a notcia que foi dada! Comprou ento um Veneno, cingiu ao cinto a Espada e partiu com o projeto de morrer junto da Amada. Selou depressa o cavalo, e, como um raio, partiu, em galope cego e doido, como ningum nunca viu. E, a caminho de Verona, num momento se sumiu! Quando, l no Cemitrio, pelo Porto j entrara, encontrou Pris que ia

levar Rosas que comprara para perfumar o corpo da Bela que o desprezara. Pris gritou a Romeu: Pris: Que vens tu fazer aqui? No sabes que Capuleto tem grande dio por ti? Retira-te, se no queres tambm ficar morto a! Romeu: A resposta que te dou tirar a minha Espada e descarregar, em ti, tal golpe de cutilada, que te decepe a cabea, na primeira navalhada! Lutam. Romeu mata Pris. Quaderna: Matou, guardou a Espada, e correu para onde estava o belo corpo daquela a quem mais que tudo amava, e que, naquele momento, como morta ali se achava. Romeu (bebendo o veneno): Este Veneno quem salva, de sua morte, a Romeu! Nada me resta no mundo, pois Julieta morreu! No outro vivo, no Reino a que ela se acolheu! Meu Amor, vou encontrar-te: eu no me deixo abater! J faz efeito o Veneno, eu j comeo a morrer! J esto cegos meus olhos!

Mas, vendo-te, volto a ver! Morre. Quaderna: Nesse instante, Julieta de seu sono despertou, e, ento, muito espantada, Romeu ali avistou. Estava, porm, j morto, e ela se desesperou. Julieta: Romeu! Ah, que dor terrvel! Romeu! Estou como louca! Com todo este sacrifcio nossa sorte ser to pouca? No possvel! Romeu, d um beijo em minha boca! Acorda, Romeu, acorda! Faz-me, um que seja, um carinho! Vamos ns dois, descuidados, seguir o nosso caminho, e, longe daqui, bem longe, fazer, pra ns, outro ninho! Quaderna: Ficou assim, muito tempo, chamando por seu Esposo. Afinal, viu que ele fora para o lugar do repouso, l, onde um outro sentido tm Amor, e sonho, e gozo. Tirou, ento, de Romeu, o seu Punhal afiado. Enterrou no corao aquele ferro aguado, e caiu, morta, por cima do corpo do seu Amado. A, algumas pessoas que foram ao Cemitrio

ficaram muito espantadas com todo aquele mistrio: morto o casal, morto Pris, na entrada do Presbitrio. Depois, soube-se de tudo, porque o Padre contou. Capuleto, muito triste, um Tmulo preparou, e os Amantes, abraados, dentro dele sepultou. Somente depois da morte foi que puderam se unir, tendo, os dois jovens corpos, j deixado de existir, e nada mais, neste mundo, lhes sendo dado fruir! Os msicos tocam o "Romance de Minervina. Antero Savedra pronuncia a SegundaCadncia-de-Moralidade. Encerrada esta, Quaderna retoma a palavra: Quaderna: Quem ouviu este Romance e sabe o que se escreveu, sabe a Condessa Montquio em que condies morreu. Tambm conhece a fraqueza que seu filho cometeu. Romeu, que era valente -diz a sua biografia-, soube, dita por seu Pai, a dor que este sofria. Romeu jurou de ving-lo, no mesmo ou no outro dia. Mas logo deixa a promessa no fundo de uma gaveta. Bastou ver, num belo seio, um cacho de violetas. Mesmo inimiga do Pai, amou logo a Julieta. Nas condies em que estava,

no tinha nenhum rodeio: era vingar-se de tudo, fingindo como um passeio. No tinha que perguntar se o rosto era belo ou feio. Mas ele no fez assim: quando entrou naquela Sala, viu Julieta danando, fez tudo pra conquist-la. Inda ela sendo uma Deusa, ele deveria odi-la! Romeu foi falso a seu Pai, vem da o seu castigo. Faltou-lhe tenacidade: no percebeu o perigo de se casar com a filha de seu pior inimigo! Foi este o maior motivo de sua infelicidade. Romeu traiu a famlia, faltou-lhe com a lealdade. Onde existe um dio antigo no pode haver amizade. Os Amantes de Verona tiveram fim desgraado, embora tenham morrido um com a outra abraado. Julieta apunhalou-se, Romeu foi-se, envenenado. -De modo que o espetculo acaba com a ltima estrofe do folheto sertanejo que lhe deu origem:Antero Savedra e Quaderna: Quem odeia a traio tem que dizer como eu: como o rapaz no vingou-se de tudo o que o Pai sofreu, escrevi, mas no gostei, dessa histria de Romeu.

Recife, 21 de fevereiro de 1996. Dia do centenrio de nascimento de Dona Rita Villar Suassuna. ============================================================ Romance de Minervina de casa! de fora! Minervina, o que me guardou? Eu no te guardei foi nada, nosso amor j se acabou Minervina, tu te lembras daquela tarde de sol Em que tu caste em meus braos Molhadinha de suor Minervina, tu te lembras daquela tarde de chuva Em que tu caste em meus braos Desmaiada, cor da uva Na algibeira do capote Trago um punhal escondido Para matar a Minervina Que no quis casar comigo Na primeira punhalada Minervina estremeceu Na segunda, ela bateu asas Na terceira, ela morreu Adeus, adeus minha gente Eu aqui no posso ficar Vou correr o mundo afora Vou morrer, vou me acabar