a história da educaçao fÃsica no brasil

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Universidade de Caxias do Sul Curso de Educação Física A História da Educação Física no Brasil Quando falamos da história da educação física no Brasil, podemos dividi-la nos três grandes períodos vividos em nosso país: Colônia, Império e República. Brasil Colônia (1500 – 1822) O período denominado Brasil Colônia, vai desde a chegada dos portugueses no ano de 1500 até a Independência do Brasil em 1822. As práticas esportivas dos índios A prática de atividades físicas pelos índios estava relacionada com os aspectos do significado adaptativo do esporte 1 , onde o meio possibilitou o surgimento das práticas físicas naturais, associadas à sobrevivência da espécie, como caçar, correr, nadar. Desde forma, a sua contribuição para o desenvolvimento das atividades esportivas no Brasil foi muito pequena. Nas festividades religiosas, algumas outras atividades eram praticadas como danças, lutas e jogos como a corrida de troncos. Estas práticas, porém, não foram absorvidas pelos colonizadores que aqui vieram. Assim, estavam desenvolvidas naquela época atividades diárias como o arco e flecha, a natação e a canoagem, as corridas e as lutas corporais. A prática do arco e flecha era utilizada de forma prioritária entre os indígenas brasileiros, pois serviam para a caça e principalmente para os combates a distância com as outras tribos. Os índios tinham muita habilidade com o manejo do arco e flecha, sendo sua habilidade comparada pelos colonizadores europeus aos melhores arqueiros daquele continente 2 . A técnica do uso do arco e flecha era diferente, pois os indígenas brasileiros normalmente lançavam a flecha deitados de costas, para poder dar maior impulso a ela, principalmente nas situações de combate contra outras tribos. Outra atividade física era a natação e a canoagem, pois pela rica orla marinha e também pela abundância hidrográfica do Brasil. Os índios necessitavam dominar estas habilidades, pois era uma questão de sobrevivência para a espécie. Como eles dominavam o meio líquido, a canoagem obviamente também era muito desenvolvida, facilitando o deslocamento entre as enormes distâncias, além de possibilitar a prática da pesca. A canoagem também era muito utilizada em situações de defesa e combate contra outras tribos. 1 Conceituação de Branchard e Cheska in López Rodríguez, J. (2000). História del Deporte. Inde. 1ª edición. Barcelona. 2 Em Marinho, Inezil. (sem data). História da Educação Física no Brasil. Companhia Brasil. São Paulo.

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Page 1: A História da Educaçao FÃsica no Brasil

Universidade de Caxias do SulCurso de Educação Física

A História da Educação Física no Brasil

Quando falamos da história da educação física no Brasil, podemos dividi-la nos três grandes períodos vividos em nosso país: Colônia, Império e República.

Brasil Colônia (1500 – 1822)O período denominado Brasil Colônia, vai desde a chegada dos portugueses no ano de 1500 até a Independência do Brasil em 1822.

As práticas esportivas dos índiosA prática de atividades físicas pelos índios estava relacionada com os aspectos do significado adaptativo do esporte1, onde o meio possibilitou o surgimento das práticas físicas naturais, associadas à sobrevivência da espécie, como caçar, correr, nadar. Desde forma, a sua contribuição para o desenvolvimento das atividades esportivas no Brasil foi muito pequena. Nas festividades religiosas, algumas outras atividades eram praticadas como danças, lutas e jogos como a corrida de troncos. Estas práticas, porém, não foram absorvidas pelos colonizadores que aqui vieram. Assim, estavam desenvolvidas naquela época atividades diárias como o arco e flecha, a natação e a canoagem, as corridas e as lutas corporais.

A prática do arco e flecha era utilizada de forma prioritária entre os indígenas brasileiros, pois serviam para a caça e principalmente para os combates a distância com as outras tribos. Os índios tinham muita habilidade com o manejo do arco e flecha, sendo sua habilidade comparada pelos colonizadores europeus aos melhores arqueiros daquele continente2. A técnica do uso do arco e flecha era diferente, pois os indígenas brasileiros normalmente lançavam a flecha deitados de costas, para poder dar maior impulso a ela, principalmente nas situações de combate contra outras tribos.

Outra atividade física era a natação e a canoagem, pois pela rica orla marinha e também pela abundância hidrográfica do Brasil. Os índios necessitavam dominar estas habilidades, pois era uma questão de sobrevivência para a espécie. Como eles dominavam o meio líquido, a canoagem obviamente também era muito desenvolvida, facilitando o deslocamento entre as enormes distâncias, além de possibilitar a prática da pesca. A canoagem também era muito utilizada em situações de defesa e combate contra outras tribos.

A corrida a pé era uma prática muito freqüente, pois era necessária para perseguir as caças e muitas vezes para fugir dos animais da floresta e também dos inimigos. Existia na época uma espécie de jogo de guerra, onde os índios soltavam o prisioneiro, dando-lhes uma pequena vantagem. Caso ele fosse alcançado pelos seus perseguidores era morto. Obviamente se ele corresse mais rápido do que eles, conseguiria sobreviver. Este jogo mostrava a valorização e o respeito que os índios tinham por aqueles que apresentavam tais capacidades físicas bem desenvolvidas. A equitação era pouco desenvolvida e foi praticada principalmente pelos índios chamados de Guaicurus, que admiravam os cavalos3.

Os escravos negros e a capoeiraOs escravos foram os grandes responsáveis pela prática da capoeira, utilizada inicialmente como luta contra os “capitães do mato”, quando da fuga dos escravos para os quilombos. Segundo alguns relatos, os “capitães do mato” falavam de uma luta onde os escravos utilizavam-se de um “jogo de corpo, desferindo coices, como se fossem verdadeiros animais indomáveis”4. O nome capoeira está relacionado com o mato onde se entrincheiravam para treinar e praticar. Segundo alguns relatos esta prática surgiu da observação de animais, associadas ao instinto natural dos escravos na sua vida na África. São muito poucos os registros encontrados sobre a escravatura brasileira, pois a grande maioria dos documentos foi queimada para tentar “apagar da memória” do povo esta fase da história do Brasil.

1 Conceituação de Branchard e Cheska in López Rodríguez, J. (2000). História del Deporte. Inde. 1ª edición. Barcelona.2 Em Marinho, Inezil. (sem data). História da Educação Física no Brasil. Companhia Brasil. São Paulo.3 Ibidem.4 Ibidem

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A Educação Física A preocupação com as condições de pobreza da população e a proliferação de doenças e falta de estrutura para combatê-las, leva a Coroa Portuguesa a estudar medidas para melhorar as condições mínimas de saúde da maioria da população. Em 1787 é publicado em Portugal, um Tratado de Educação Física e Moral, que deverá ser seguido no Brasil, como colônia de Portugal. Neste tratado a educação física é compreendida como sendo os cuidados com a alimentação, com a higiene corporal, com a puericultura, concepção, gravidez e parto. Esta obra abordava de forma aprofundada o desenvolvimento das crianças, dividindo-as em fases, do nascimento até os 20 anos de idade. O trabalho aconselhava os cuidados de higiene corporal, e sugeria a prática de atividades como a dança, flexibilidade e atividades de maior esforço corporal como a esgrima e equitação. Salientava ainda a necessidade da criança brincar ao ar livre.

Brasil Império (1822 – 1889)Algumas práticas esportivas se mantiveram ao longo do tempo, resultado da influência dos colonizadores, como as corridas de cavalos, a ginástica acrobática e também o remo. Com a Independência do país, no dia 07 de setembro de 1822, os governantes sentiram a necessidade de criação de um sistema próprio de educação para os brasileiros, pois até então a educação estava totalmente ligada às normas portuguesas. Notamos assim que desde aquela época os destinos da educação brasileira foram traçados por políticos. Durante o Império, em relação a educação, o trabalho de Rui Barbosa (1849-1923) foi o que mais se destacou neste ponto. Ele foi advogado e político com uma grande influência. No que diz respeito à educação, o grande destaque foi a construção de seus pareceres que tiveram larga repercussão, influenciando decisivamente a prática da Educação Física no Brasil. Rui Barbosa com o seu parecer nº 224 no ano de 1882 foi o precursor de idéias fundamentais, que no âmbito da educação física, podem assim ser consubstanciadas:

- obrigatoriedade da ginástica (educação física) no Jardim da Infância, escola primária, secundária, inclusive nos cursos de formação comercial, industrial e agrícola, como matéria de estudo, em horário distinto do recreio e depois das aulas.

- Instituição de exercícios físicos (militares) para os alunos do sexo masculino, a partir da escola primária.

- Distinção dos tipos de exercícios físicos para os alunos do sexo masculino (ginástica sueca) e feminino (calistenia5), respeitando as diferenças fisiológicas e para que as mulheres tivessem preparação para a futura maternidade.

- Valorização do professor de ginástica (educação física), dando-lhe autonomia e paridade em direitos e vencimentos com os demais professores.

- Instituição de uma seção (disciplina) especial de ginástica (educação física) em cada escola normal.- Dispensa de exercícios físicos somente para alunos que, por inspeção médica, fossem declarados

incapazes.- Prática de exercícios físicos pelos menos quatro vezes por semana, durante trinta minutos, devendo

ser estimulada a ginástica exclusivamente higiênica e pedagógica, sem caráter acrobático (com cunho mais artístico).

- Contratação de professores de ginástica (educação física) de reconhecida competência, na Suécia, Alemanha e Suíça.

O que se conclui é que o parecer de Rui Barbosa quebrou o paradigma existente naquela época, pois os professores exerciam a docência nas aulas de ginástica dentro da sala de aula, entre as classes e com os alunos e professores com vestimentas inapropriadas. O parecer de Rui Barbosa está carregado de conceitos higienistas, que preconizam a preocupação com a saúde da população masculina e feminina, neste caso para a preparação para a procriação. Além disto, defendia fortemente a educação física como forma de construir o caráter do indivíduo. “Nós não pretendemos formar acrobatas, nem Hércules, mas desenvolver a juventude pelo vigor essencial de equilíbrio da vida humana, a felicidade da alma, a defesa da Pátria e a dignidade da espécie”. Esta frase é creditada a Rui Barbosa. A orientação da ginástica (educação física) era voltada para a melhora das condições de saúde, sendo que como os professores não tinham formação, eles eram orientados e supervisionados pelos médicos, que prescreviam os exercícios físicos.

As práticas esportivas no Brasil ganham força ainda no final do século XIX e início do século XX, por força da influência da educação e colonização européia que ocorriam no país naquele período de troca de

5 Exercícios divididos em oito grupos, executados com ritmo e normalmente com mãos livres ou pequenos halteres. A calistenia é à base da ginástica moderna e teve origem na ginástica sueca.

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século. Neste período chegaram ao Brasil às doutrinas européias de atividades físicas através de exercícios ginásticos, com os métodos alemão, sueco e francês.

Brasil República – República Velha (1889-1930)No período republicano do Brasil, é que se desenvolvem as práticas esportivas que já vinham sendo bem difundidas na Europa. Esta fase da educação física brasileira é fortemente influencia pelos conceitos higienistas, com relação direta as políticas de eugenia6 empregadas na Europa havia muitos anos e utilizadas no Brasil por meio das proposições de Rui Barbosa que colocam o físico a serviço do intelecto, ressaltando a linha higienista da educação física. Nesta época também, com o início da república, a mulher era vista como frágil e necessitava se fortalecer fisicamente para gerar filhos. Reflexo desta visão higienista, a mulher que tinha filhos era liberada da prática de atividades físicas nas escolas7. Associado ao processo de imigração européia, a atividade física se fortalece através dos métodos de ginástica, principalmente o alemão e o francês. No final deste período o método alemão (característica militar) é substituído nas escolas pelo método francês (militar e higienista). Entretanto, no sul do Brasil resultado da chegada dos alemães, ele ainda apresenta muita força e deixa suas raízes nas práticas esportivas fora do âmbito escolar. São criados clubes onde os imigrantes formavam seus núcleos “nos quais cultivavam seus hábitos germânicos, entre eles a ginástica alemã preconizada por Jahn”8. Com a chegada no Brasil, no final do século XIX da Associação Cristã de Moços -ACM- outras práticas esportivas começam a ser desenvolvidas, principalmente no início do século XX, como o basquete e o voleibol, além do fortalecimento da prática da ginástica calistênica para as mulheres. São criados também clubes para a prática do remo, que acabam por estimular também a prática do pólo-aquático e da natação. A esgrima é estimulada dentro das guarnições militares, principalmente em São Paulo. Neste período o tênis também é estimulado, assim como o xadrez. O Futebol surge no Brasil através de Charles Miller, no ano de 1894.

Fernando Corrêa de Azevedo e Manoel BomfimNo Brasil República velha, surgem as figuras de Manoel Bomfim (1868-1932) e Fernando de Azevedo (1894-1974). O primeiro foi médico e educador. Via uma estagnação na educação brasileira. Foi autor de obras importantes. Em relação a educação física, defendia também a sua utilização na formação integral do indivíduo. Ele falava em educação motora e educação higiênica. Bomfim tinha um discurso que se caracterizava pela defesa da moralização dos hábitos corporais, com a formação de indivíduos fortes e sadios para o aprimoramento da raça. Por sua vez, Fernando Azevedo, formado em direito, também exerceu funções no magistério e escreveu publicações na área da educação. Em relação a educação física, foi o autor do livro intitulado “Da educação física: o que ela é, o que ela tem sido e o que deveria ser” 9. Ele foi um grande defensor da inclusão da educação física nas escolas e de uma ginástica exclusiva para os jovens estudantes. Na concepção de Fernando de Azevedo, a educação física tinha uma contribuição muito importante para o desenvolvimento e melhoria da raça brasileira, como já expressarem também Rui Barbosa e Manoel Bomfim.

Quadro síntese das idéias dos principais pensadores da Educação Física no início do século XX.Rui Barbosa Manoel Bomfim Fernando de Azevedo

6 Eugenia: estudo de medidas sócio-sanitárias, sociais e educacionais que influenciam física e mentalmente o desenvolvimento das qualidades hereditárias dos indivíduos e, portanto das gerações futuras.7 Somente no ano de 1979, o antigo e hoje extinto, Conselho Nacional de Desportos, derrubou uma liberação que proibia a mulher de praticar determinados esportes, como lutas e futebol, por exemplo.8 Tubino, M. (1996). O Esporte no Brasil- do período colonial até os nossos dias. Ibrasa. São Paulo.9 A biblioteca da Universidade de Caxias do Sul, possui um exemplar deste livro, editado no ano de 1920. Está localizado na Coleção Especial Laudelino Teixeira de Medeiros.

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Concepção de ciência

Ciência é toda observação, toda exatidão, toda observação experimental

Discussão interpretativa, uma doutrina de deduções racionais, rigorosas, mas variáveis.

Tudo que pode ser provado racionalmente por meio de experimentação.

Concepção de pedagogia e educação física

Educação dos sentidos com intervenção sobre o corpo

Uma sistematização em discussão continua. Apuro do organismo.

Educação para formação da personalidade, caráter e disciplina. Ciência biológica exata.

Sentido da Ed. Física na escola

Extinguir o antagonismo entre o corpo e o cérebro.

Função educativa na internalização das normas de higiene, apuro das energias e cultivo das forças.

Promover a educação pela atividade neuro-muscular, segundo planos racionais, formação de hábitos de vida, morais e sociais.

Método proposto

Exercícios militares para os meninos e calistenia para as meninas, mais canto e dança.

Ginástica sueca para ambos os sexos, mas com intensidades diferentes.

Ginástica sueca para ambos os sexos, com intensidades diferentes, mais canto e dança para as meninas.

Dimensão da realidade

Estratégias de controle higiênico e colocação do Brasil entre as nações desenvolvidas

Moralização dos hábitos. Melhora das condições raciais das gerações futuras.

Melhora e aperfeiçoamento da raça e desenvolvimento nacional.

A base esportiva no sul do BrasilOs alemães foram os responsáveis pelo desenvolvimento das atividades físicas e esportivas no sul do Brasil. Como reflexo ainda da época colonial, o início da república apresentava um país onde os hábitos esportivos eram pequenos, pois a sociedade ainda era muito tradicional. Era praticamente inexistente o hábito de sair de casa aos finais de semana, ocorrendo apenas mais para os cultos dominicais. Os espaços públicos eram muito sujos, resultados da falta de estrutura e higiene, principalmente nos arredores das grandes cidades. Nos centros das cidades havia muito tráfego de carruagens e barulho decorrente do calçamento ruim das ruas. Com a criação dos clubes alemães, as atividades físicas foram mais valorizadas, em que pese a sua orientação de cunho militar, pois encontraram uma sociedade imersa no sedentarismo, herança do regime escravista, proporcionando aos alemães a possibilidade de realizar na sociedade uma prática esportiva organizada que contribuiu para a formação de uma base esportiva na região sul do país. Desta forma, os alemães criaram seus clubes e proporcionaram a prática de atividades físicas e esportivas, estimulando o surgimento de ligas e outras associações esportivas. Desta forma os alemães aumentaram a prática esportiva em grande escala, ampliando o número de pessoas ativas esportivamente. Como os alemães eram em grande número, eles modificaram a dinâmica social e começaram a liderar processos de inovação em várias áreas, entre elas a área das atividades físicas e esportivas. Outro aspecto que colaborou para isto era a situação econômica das famílias, que ao encontrarem uma terra fértil, começaram muito cedo a colher os resultados econômicos de seu trabalho, ou seja, os alemães foram se tornando economicamente fortes e consequentemente começaram a determinar as ações e investimentos. Especificamente no Rio Grande do Sul, a Sogipa – Sociedade Ginástica Porto Alegre – foi a grande responsável pela expansão e desenvolvimento da cultura esportiva alemã.

Brasil república – Era Vargas (1930-1945)O período de 1930 até 1945 engloba a fase denominada de Era Vargas, sendo que de 1937 até 1945 ela será conhecida como Estado Novo, caracterizado pela ditadura de Vargas. A educação física brasileira nesta época caracterizou-se pela sua formação higienista, focada na saúde física e na moral. Com a participação do Brasil na 2ª Guerra Mundial, o método alemão perdeu força, por questões políticas e pelo apoio do Brasil aos Aliados comandados pelos EUA. Além disto, os clubes alemães e italianos foram obrigados a modificar seus nomes e estatutos, fugindo da perseguição dos setores mais radicais da sociedade brasileira da época. O método francês10 toma o lugar do método alemão como atividade física e o método calistênico ganha muito espaço na ginástica (educação física) escolar. Neste período a educação

10 Modelo ginástico que teve enorme aceitação nos círculos franceses visto que não visava apenas formar o homem forte e sadio capaz de demonstrar as mais diferentes qualidades físicas e psíquicas de um bom militar, mas porque enfatizava a disciplina e a consciência do deveres e serviços para com a Pátria.

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física sofreu maior intervenção estatal e onde o Método Francês adquiriu grande notoriedade. Na Constituição de 1937, com a criação do Estado Novo, a educação física fica ligada à disciplina da moral e ao “adestramento físico”, a fim de preparar a juventude para seus deveres futuros com o trabalho e consequentemente com o desenvolvimento da economia, bem como para uma possível defesa da nação. Nesse sentido, não é muito difícil entender porque o Método Francês teve plena e oficial aceitação no governo Vargas. Fazia-se premente assegurar a política emergente que contava com o apoio do Exército e o Método Francês continha elementos adequados para tal, na medida em que privilegiava também um caráter nacionalista. Ou seja, dentro dos limites de sua provável ação poderia exercê-la com eficiência ao valorizar a ordem, a disciplina, o controle da população por meio de seu caráter higiênico, eugênico e disciplinador. Em relação às práticas esportivas, embora o futebol já fosse o esporte mais praticado no país, foi nesta época que ele se popularizou como esporte de massa. Porém nesta etapa também se iniciam a construção de ginásios esportivos, decorrência do fortalecimento do basquete e o voleibol como resultado do trabalho esportivo das ACMs. O grande destaque para a educação física brasileira é a criação ou transformação em 1933, pelo decreto nº 23.252 do governo de Getúlio Vargas, do Centro Militar de Educação Física em Escola de Educação Física do Exército. “Por este ato, estava criada a ‘célula mater’ da formação de profissionais para a área no País”11. Em 1941 é criado o Conselho Nacional de Desporto, órgão que daria um tratamento legal as práticas esportivas no Brasil, regulando-as e deliberando suas práticas e separando de forma legal a educaçao física dos esportes.

Brasil República – Pedagogização (1945 até 1964)Com o fim do Estado Novo, gerou-se um debate nos meios educacionais para redimensionar os rumos da educação brasileira. Durante o Estado Novo foram criadas muitas faculdades de Educação Física, mas a formação acadêmica era muito diferenciada entre as diversas faculdades (cursos). Para a formação em Educação Física exigia-se apenas o curso secundário12 e a faculdade tinha duração de 02 anos, diferentemente de outras faculdades criadas no mesmo período como pedagogia, letras, filosofia que tinham duração de 04 anos. Apenas no final de 1945 é que a duração do curso de educação física passa de 02 para 03 anos e em 1950 passou-se a exigir, para a prestação do vestibular, o certificado de conclusão do curso clássico ou científico13. Em relação às práticas esportivas, o tutelamento e controle do Estado, característico durante o estado novo, não sofreu muitas modificações e foi apenas adaptado ao novo momento brasileiro. Porém o esporte brasileiro, principalmente nas competições e organizações esportivas, ainda dependia muito de verbas e apoio financeiro do Estado, numa relação de paternalismo que persistiu por muitos anos. Em relação às práticas esportivas, o Yoga ganhou espaço como prática corporal. Surgiram alguns movimentos de utilização do método natural austríaco como prática de ginástica, por estar envolvido com os movimentos diários e também associado a práticas na natureza.

Brasil República - Ditadura Militar (1964 a 1985)O golpe militar de 31 de março de 1964 trouxe novamente para o povo brasileiro uma ditadura, desta feita, sob o comando direto do exército. Com a chegada da ditadura militar, surgiu uma grande necessidade do governo de incentivar a Educação Física e principalmente o esporte. A ditadura militar foi um período de massificação do esporte um período de divulgação dos “feitos” dos atletas brasileiros de alto nível, transformado em “heróis” da pátria. Segundo uma interpretação corrente na historiografia, o esporte, aliado à interferência governamental no desenvolvimento da educação física escolar, possibilitava o controle por parte do poder, uma vez que ele (esporte institucionalizado e normatizado) tende a padronizar a ação dos agentes educacionais, tanto do professor quanto do aluno. Outro aspecto diz respeito ao fato de que o esporte se afirmava como fenômeno cultural de massa contemporâneo e universal, afirmando-se, portanto, como possibilidade educacional privilegiada. Assim, o conjunto de práticas corporais passíveis de serem abordadas e desenvolvidas no interior da escola resumiu-se à prática de algumas modalidades esportivas. As práticas escolares de educação física passaram a ter como fundamento primeiro a técnica esportiva, o gesto técnico, a repetição, enfim, a redução das possibilidades corporais a algumas poucas técnicas estereotipadas. Os historiadores da educação física e do esporte evidenciam neste fato, um objetivo do uso do esporte como uma espécie de instrumento político para afastar os possíveis movimentos sociais. A esportivização da educação física foi muito difundida pelos governos no período da ditadura militar no Brasil. Esta época também foi pródiga em enaltecer a necessidade da prática da educação física em todos os níveis de ensino, sendo inclusive neste período que foi instituída a prática obrigatória da educação física nas Universidades. Esta obrigatoriedade pode ser compreendida como uma tentativa de ocupação do tempo dos estudantes universitários, que eram os

11 Ferreira Neto, A. (1998). Escola de Educação Física do Exército (1929-1945): Origem e Projeto Político Pedagógico. Revista Pesquisa Histórica na Educação Física. Nº. 3. Facha. Aracruz. pp.:69:95.12 Hoje seria o equivalente ao Ensino Fundamental.13 Hoje seria a formação correspondente ao Ensino Médio.

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lideres natos dos movimentos de rebeldia contra o regime militar, isolando-os de outros movimentos sociais importantes naquela época. No final da década de 70 com a chamada “abertura política”, a ditadura militar perdeu força e a educação física começou um movimento de modificação dos conceitos até então desenvolvidos nas escolas. Nesse cenário então ocorre um movimento reflexivo, liderado por alguns professores de educação física, que ficou conhecido como “a crise da educação física brasileira”. Em linhas gerais, essa reflexão denunciava o caráter autoritário e elitista das práticas predominantes na educação física escolar brasileira. Clamava-se por uma educação física transformada da realidade que deixasse de lado a sua serventia as classes dominantes, ou seja, ao regime militar. Os autores do movimento, defendiam uma educação física que se preocupasse, sobretudo com a conscientização dos seus alunos. Este movimento entendia que o aluno não podia mais ser considerado como um compartimento vazio onde o professor depositava os conhecimentos que julgava importante. Os alunos deveriam ser considerados como indivíduos com interesse próprios, apoiados numa série de conhecimentos previamente adquiridos14, devendo desta forma participar do seu processo de aprendizagem. Em relação às práticas esportivas, no início da década de 70 surge a ginástica feminina moderna (ginástica localizada e preparação para aeróbica). A prática do jogging (caminhadas e corridas) inicia com base no Método Cooper, difundido no Brasil pelo professor Cláudio Coutinho. Ainda no final da década de 70, os professores de educação física iniciam a sua atuação fora das escolas, principalmente em clubes esportivos e academias de ginástica que começam a surgir em cada canto do país. De forma resumida, no período do governo militar a educação física brasileira, seja na escola ou mesmo da formação universitária, tem um caráter tecnicista e elitista, onde os de melhor desempenho são privilegiados. Este tipo de formação superior irá influenciar a educaçao física escolar brasileira por muitos anos, pois haverá a criação de uma espécie de ciclo tecnicista, com as universidades formando professores com esta visão que por sua vez irão ensinar seus alunos nas escolas com esta abordagem que mais tarde ingressarão nas Universidades com a mesma visão e assim por diante.

Brasil República - República Nova (1985 até hoje)Como conseqüência da abordagem tecnicista da educação física construída na época do regime militar, os intelectuais da área preconizam uma educação física que tenha uma abordagem humanista, respeitando o indivíduo na suas limitações motoras, procurando assim criar formas de inclusão de todos os alunos nas aulas e não valorizando apenas aqueles que tenham boa técnica esportiva. Neste sentido também, procurou-se determinar novos conteúdos para a matéria, com a introdução de outras práticas nas aulas, que não apenas os esportes. Já no início da década de 1990, começaram a surgir propostas para a renovação das práticas pedagógicas para a educação física, juntamente com uma maior discussão do seu objeto de estudo. A idéia de um objeto conceitual geral que caracterize o enfoque da Educação Física escolar aparece nos Parâmetros Curriculares Nacionais da área, elaborados em 1998. Nessa proposta, a cultura corporal de movimento define-se o objeto da Educação Física. Uma data muito importante para a Educação Física brasileira é o dia 1º de setembro de 1998, quando foi criada a profissão de Profissional em Educação Física, através da lei 9696/98. Neste período a educação física começa por outro lado a ligar-se a modismos nas academias de ginásticas e ao surgimento de novas modalidades esportivas, principalmente aquelas ligadas a natureza. No aspecto social a educação física preocupa-se com uma vertente lúdica, com inserção social, como a inclusão de atividades físicas para portadores de necessidades especiais e também para a participação de pessoas da terceira idade. As atividades físicas, esportivas e de lazer começam a fazer parte dos programas dos governos municipais principalmente.

Bibliografia de Apoio.Castellani, Lino (1998). Educação Física no Brasil: A História que não se conta. 1ª edição. Papirus. Campinas.Ferreira Neto, Amarildo (1998). Escola de Educação Física do Exército (1929-1945):Origem e Projeto Político Pedagógico. Revista Histórica na Educação Física . Nº 3. pp: 69-95.Facha. Aracruz.Ghiraldelli Jr (1988). Educação Física Progressista. São Paulo: Loyola. Marinho, Inezil (sem data). História da Educação Física no Brasil. Companhia Brasil. São Paulo.Marinho, I. (sem data). História Geral da Educação Física. Cia Brasil Editora. 1ª edição. São Paulo.Melo, Vitor (1999). História da Educação Física e do Esporte no Brasil: Panorama e Perspectivas. 1ª edição. Ibrasa. São Paulo.Soares, Carmen (1994). Educação Física: Raízes Européias e Brasil. 1ª edição. Autores Associados. Campinas.Tubino, Manoel (1996). O Esporte no Brasil-Período Colonial até os nossos dias. Ibrasa. São Paulo.

14 Teorias freirianas.