a hist ria secreta da raca humana m a cremo e r l thompson

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A História Secreta da Raça Humana Michael A. Cremo Richard L. Thompson EDITORA ALEPH 2004 Tradução: Bhaktivedanta Book Trust (BBT Brasil) Sumário 1

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Misterios

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PAGE 233

A Histria Secreta da Raa Humana

Michael A. Cremo

Richard L. Thompson

EDITORA ALEPH2004

Traduo: Bhaktivedanta Book Trust (BBT Brasil)

Sumrio

Prefcio 11

Nota ao leitor 13

Introduo e agradecimentos15

PARTE I

1. A cano do Leo Vermelho: Darwin e a evoluo humana23

Darwin fala24

Aparecimento dos homindeos 24

Alguns princpios de epistemologia 29

2. Ossos incisos e quebrados: a aurora da falcia 33

St. Prest, Frana 34

Um exemplo moderno: Old Crow River, Canad36

Deserto Anza-Borrego, Califrnia 37

Ossos incisos de stios italianos38

Rinocerontes de Billy, Frana39

Colline de Sansan, Frana

40

Pikermi, Grcia 40

Dentes de tubaro perfurados de Red Crag, Inglaterra41

Osso entalhado dos Dardanelos, Turquia 42

Balaenotus de Monte Aperto, Itlia43

Halitherium de Pouanc, Frana 46

San Valentino, Itlia47

Clermont -Ferrand, Frana48

Concha entalhada de Red Crag, Inglaterra 48

Instrumentos de osso encontrados embaixo de Red Crag,

Inglaterra 49

Fosso de elefante em Dewlish, Inglaterra52

Palavras de concluso sobre ossos intencionalmente modificados53

3. Elitos: as pedras da discrdia 55

Elitos do plat de Kent, Inglaterra56

Descobertas de J. Reid Moir em East Anglia61

Dois famosos desmascaradores de elitos 69

Exemplos recentes de instrumentos eolticos das Amricas74

George Carter e o stio de Texas Street75

Louis Leakey e o stio de Calico76

Toca da Esperana, Brasil78

Monte Verde, Chile 79

Descobertas recentes no Paquisto80

Sibria e ndia82

Quem fez os instrumentos eolticos?83

4. Palelitos toscos87

As descobertas de Carlos Ribeiro em Portugal 87

As descobertas de L. Bourgeois em Thenay, Frana92

Instrumentos oriundos de Aurillac, Frana 97

Descobertas de A. Rutot na Blgica 103

Descobertas de Freudenberg perto da Anturpia106

Itlia central108

Ferramentas de pedra de Burma108

Ferramentas do rio Black's Fork, Wyoming 109

5. Palelitos e nelitos avanados113

Descobertas de Florentino Ameghino na Argentina113

Ferramentas encontradas por Carlos Ameghino em Miramar,

Argentina116

Tentativas de pr Carlos Ameghino em descrdito119

Mais bolas e objetos semelhantes125

Descobertas norte-americanas relativamente avanadas128

Sheguiandah: arqueologia como uma vendetta 128

Lewisville e Timlin: a vendetta continua 132

Hueyatlaco, Mxico 133

Sandia Cave, Novo Mxico136

Ferramentas neolticas da Terra do ouro, Califrnia137

Preconceitos evolucionrios145

6. Evidncia de cultura avanada em eras distantes149

Artefatos de Aix-en-Provence, Frana 150

Letras em bloco de mrmore, Filadlfia 151

Prego em arenito devnico, Esccia 152

Cordo de ouro em pedra carbonfera, Inglaterra 152

Vaso metlico de rocha pr-cambriana em Dorchester,

Massachusetts 153

Uma bola de giz terciria de Laon, Frana 154

Objetos de rea de escavao de poos em lIIinois 156

Uma imagem de argila de Nampa, Idaho158

Corrente de ouro em carvo carbonfero de Morrisonville, IIlinois161

Pedra entalhada da mina de carvo lehigh, perto de Webster,

lowa 162

Xcara de ferro de mina de carvo em Oklahoma163

Uma sola de sapato de Nevada164

Parede macia numa mina de Oklahoma165

Tubos metlicos oriundos de lenis de giz na Frana167

Impresso de sapato em argila xistosa de Utah167

Esfera sulcada da frica do Sul171

7. Anmalos restos esqueletais humanos 173

Fmur de Trenton 173

O esqueleto de Galley HiII 175

Maxilar de Moulin Quignon 177

Atualizao de Moulin Quignon178

Esqueleto de Clichy 179

Fragmentos de crnio de La Denise 180

O esqueleto de Ipswich 181

Terra Amata182

O crnio de Buenos Aires183

Homo erectus sul-americano?184

O maxilar de Foxhall185

Os esqueletos de Castenedolo187

O esqueleto de Savona194

Vrtebra de Monte Hermoso195

O maxilar de Miramar197

Crnio de Calaveras197

Mais fsseis humanos da terra do ouro da Califrnia200

Descobertas antiqssimas na Europa205

Anomalias extremas205

PARTE II

8. O Homem de Java 211

Eugene Dubois e o Pithecanthropus212

A expedio de Selenka 216

Dubois retira-se da batalha217

Mais fmures

218

Acaso os fmures de Trinil so humanos e modernos?219

O maxilar de Heidelberg221

Outras descobertas do Homem de Java por Von Koenigswald222

O papel da Instituio Carnegie225

De volta a Java227

Descobertas posteriores em Java230

Datao qumica e radiomtrica das descobertas de Java231

Apresentaes enganosas de provas do Homem de Java233

9. A revelao de Piltdown 239

Dawson encontra um crnio240

Um forjamento exposto?244

Identificando o ru250

10. O Homem de Beijing e outras descobertas na China257

Zhoukoudian 258

Davidson Black259

Transformao da Fundao Rockefeller261

Uma descoberta histrica e uma campanha a sangue-frio264

Fogo e ferramentas em Zhoukoudian266

Sinais de canibalismo268

Os fsseis desaparecem269

Um caso de desonestidade intelectual270

Datao por morfologia271

Outras descobertas na China278

11. Australopithecus vivos?285

Criptozoologia285

Homens selvagens europeus286

O noroeste da Amrica do Norte287

Amricas Central e do Sul292

Yeti: homens selvagens do Himalaia293

O Almas da sia Central297

Homens selvagens da China300

Homens selvagens da Malsia e da Indonsia303

frica304

A cincia de elite e os relatos sobre homens selvagens305

12. Sempre algo de novo vindo da frica 307

O esqueleto de Reck 307

Os crnios de Kanjera e o maxilar de Kanam 314

O nascimento do Australopithecus 321

Zinjanthropus 326

Homo habilis...328

Uma fbula de dois meros330

Descobertas de Richard Leakey331

O astrgalo ER 813 332

OH 62: Queira o verdadeiro Homo habilis fazer o obsquio de

levantar-se! 333

Crtica de Oxnard ao Australopithecus336

Lucy na areia com diatribes339

Australopithecus afarensis: humanizado demais? 341

As pegadas de Laetoli 342

Crnio negro, pensamentos negros 346

Resumo de evidncias anmalas relacionadas com a antiguidade humana 349

BibIiografia 361

ndice Remissivo 395

Prefcio

Por Graham Hancock

Autor de O Mistrio de Marte e Digitais dos Deuses

para mim um grande prazer e uma honra apresentar esta verso condensada de Arqueologia proibida. Permitam-me dizer, desde logo, que acredito que este livro um marco dentre as realizaes intelectuais do fim do sculo XX. Os estudiosos mais conservadores vo demorar um pouco mais, provavelmente muitos anos, para aceitar as revelaes que ele contm. Contudo, Michael Cremo e Richard Thompson deixaram suas revelaes mostra e agora o relgio no pode voltar atrs. Mais cedo ou mais tarde, gostemos disso ou no, nossa espcie ter de se ajustar aos fatos documentados de maneira to impressionante nas pginas que se seguem, e esses fatos so espantosos.

A tese central de Cremo e Thompson que, infelizmente, o modelo da pr-histria humana, cuidadosamente elaborado por estudiosos nos ltimos dois sculos, est completamente errado. Alm disso, os autores no esto propondo que esse modelo seja corrigido com pequenos ajustes e retoques. preciso que o modelo existente seja jogado pela janela e que recomecemos com a mente aberta, sem quaisquer posies preconcebidas.

Esta uma posio prxima da minha; com efeito, constitui a base de meus livros Digitais dos Deuses e O Mistrio de Marte. Neles, porm, meu foco se deteve exclusivamente nos ltimos vinte mil anos e na possibilidade de que uma civilizao global avanada possa ter florescido h mais de doze mil anos, tendo sido eliminada e esquecida no grande cataclismo que ps fim ltima Era Glacial.

Em A histria Secreta da Raa Humana, Cremo e Thompson vo muito alm, recuando o horizonte de nossa amnsia no apenas doze ou vinte mil anos, mas milhes de anos no passado, mostrando que quase tudo que nos ensinaram sobre as origens e a evoluo de nossa espcie se apia na frgil base da opinio acadmica e em uma amostra altamente seletiva de resultados de pesquisas. Posteriormente, os dois autores revem os fatos apresentando todos os outros resultados de pesquisas que foram retirados dos registros nos dois ltimos sculos, no porque havia neles algo de errado ou falso, mas apenas porque no se encaixavam na opinio acadmica da poca.

Dentre as descobertas anmalas e deslocadas relatadas por Cremo e Thompson neste livro, esto evidncias convincentes de que seres humanos anatomicamente modernos podem ter estado presentes na Terra no apenas h cem mil anos ou menos (a viso ortodoxa), mas h milhes de anos, e que objetos metlicos de desenho avanado podem ter sido usados em perodos igualmente antigos. Alm disso, embora j tenham sido feitas declaraes sensacionais sobre artefatos fora de lugar, antes elas nunca receberam o apoio de documentao to cabal e plenamente convincente como a que apresentam Cremo e Thompson.

Em ltima anlise, a meticulosa erudio dos autores e o peso acumulado dos fatos apresentados aqui que nos convence. O livro est, creio, em harmonia com o atual humor do pblico como um todo, que no aceita mais, sem questionar, os pronunciamentos das autoridades estabelecidas, e est disposto a ouvir, com a mente aberta, os "hereges" que apresentarem suas causas de maneira razovel e racional.

Nunca antes a hiptese de reavaliao completa da histria da humanidade foi defendida com maior veemncia do que a que se apresenta nestas pginas.

Graham Hancock

Devon, Inglaterra

Janeiro de 1998

Nota ao Leitor

A edio integral de Arqueologia proibida tem 952 pginas, representando, assim, um desafio para muitos leitores. Por isso, Richard L. Thompson e eu decidimos apresentar A Histria Secreta da Raa Humana - uma verso mais curta, mais inteligvel e acessvel de Arqueologia proibida.

Este livro contm, no entanto, quase todos os casos discutidos em Arqueologia proibida. Faltam-lhe as citaes no texto e as discusses detalhadas dos aspectos geolgicos e anatmicos de muitos dos casos. Por exemplo, aqui, ns podemos apenas afirmar que determinado stio arqueolgico tido como sendo do Plioceno Superior. Em Arqueologia proibida, apresentamos uma discusso detalhada da razo para isso, bem como muitas referncias a relatrios geolgicos tcnicos do passado e do presente.

Michael A. Cremo

Pacific Beach, Califrnia

26 de maro de 1994

Introduo e Agradecimentos

Em 1979, pesquisadores do stio de Laetoli, Tanznia, na frica oriental, descobriram pegadas em depsitos de cinzas vulcnicas com mais de 3,6 milhes de anos. Mary Leakey e outros disseram que as impresses no se distinguiam daquelas deixadas por seres humanos modernos. Para esses cientistas, porm, isso significava apenas que os ancestrais humanos de 3,6 milhes de anos atrs tinham ps marcantemente modernos.

Segundo outros estudiosos, como o antroplogo R. H. Tuttle, da Universidade de Chicago, ossos fsseis dos ps de australopitecos conhecidos de 3,6 milhes de anos atrs mostram que eles tinham ps nitidamente simiescos. Logo, no eram compatveis com as pegadas de Laetoli. Em um artigo publicado na edio de maro de 1990 da Natural History, Tuttle confessou que "estamos diante de um mistrio".

Portanto, parece lcito considerar uma possibilidade que nem Tuttle nem Leakey mencionaram - a de que criaturas com corpos humanos anatomicamente modernos, coerentes com seus ps humanos anatomicamente modernos, tenham existido h 3,6 milhes de anos na frica oriental. Talvez tenham coexistido com criaturas mais prximas do macaco. Por mais intrigante que seja essa possibilidade arqueolgica, as atuais idias sobre a evoluo humana vetam-na.

Porm, entre 1984 e 1992, Richard Thompson e eu, com a ajuda de nosso pesquisador Stephen Bernath, reunimos um amplo conjunto de evidncias que questionam as atuais teorias da evoluo humana. Algumas dessas evidncias, como as pegadas de Laetoli, so bem recentes. Mas a maioria delas foi relatada por cientistas no sculo XIX e no incio do sculo XX.

Mesmo sem ver esse conjunto mais antigo de evidncias, alguns vo presumir que deve haver algo de errado com elas - que os cientistas devem t-las descartado h muito tempo por um bom motivo. Richard e eu analisamos a fundo essa possibilidade. Conclumos, no entanto, que a qualidade dessas evidncias controvertidas no nem melhor, nem pior do que as evidncias supostamente incontroversas geralmente citadas a favor das atuais correntes sobre a evoluo humana.

Na Parte 1 de A Histria Secreta da Raa Humana, analisamos de perto a grande quantidade de evidncias controvertidas que contrariam as atuais idias sobre a evoluo humana. Contamos em detalhes de que modo essas evidncias foram sistematicamente suprimidas, ignoradas ou esquecidas, muito embora equivalham (qualitativa e quantitativamente) s evidncias favorveis s posies aceitas atualmente sobre as origens humanas. Quando falamos em supresso de evidncias, no estamos nos referindo a cientistas conspiradores executando um plano diablico para enganar o pblico. Na verdade, estamos falando de um processo social contnuo de filtragem de conhecimentos que parece bastante incuo, mas tem um efeito cumulativo importante. Certas categorias de evidncia simplesmente desaparecem de vista, algo que, em nossa opinio, no justificvel.

Esse padro de supresso de dados tem estado ativo h muito tempo. Em 1880, J. D. Whitney, funcionrio do Departamento de Geologia da Califrnia, publicou uma longa anlise das avanadas ferramentas de pedra encontradas nas minas de ouro californianas. Os implementos, incluindo pontas de lanas, almofarizes e piles de pedra, foram achados no fundo de poos de minas sob espessas camadas inclumes de lava, em formaes cujas idades variavam entre, nove e mais de 55 milhes de anos. W. H. Holmes, da Smithsonian Institution, um dos mais acerbos crticos das descobertas na Califrnia, escreveu: "Se ao menos o professor Whitney tivesse levado em conta o estudo da evoluo humana tal como ela entendida hoje, teria hesitado antes de anunciar as concluses que formulou (a de que os humanos existiram em pocas muito antigas na Amrica do Norte), apesar do importante conjunto de testemunhos com que se defrontou". Em outras palavras, se os fatos no batem com a teoria preferida, ento esses fatos, mesmo uma srie importante deles, devem ser descartados.

Isso vem ao encontro do que, em essncia, estamos tentando demonstrar neste livro, ou seja, que h, na comunidade cientfica, um filtro do conhecimento que impede a divulgao de evidncias malvistas. Esse processo de filtragem existe h mais de um sculo, e continua at os dias de hoje.

Alm dessa filtragem do conhecimento, parece ainda que h casos de eliminao direta.

No incio da dcada de 1950, Thomas E. Lee, do Museu Nacional do Canad, descobriu ferramentas avanadas de pedra nos depsitos glaciais de Sheguiandah, na ilha Manitoulin, ao norte do lago Huron. Segundo John Sanford, gelogo da Wayne State University, as ferramentas mais antigas encontradas em Sheguiandah tinham pelo menos 65 mil anos, talvez at 125 mil anos. Para aqueles que se pautavam na posio convencional sobre a pr-histria norte-americana, tais valores eram inaceitveis. Supe-se que os humanos pisaram pela primeira vez na Amrica do Norte h cerca de doze mil anos, vindos da Sibria.

Thomas E. Lee reclamou: "O descobridor do stio (Lee) foi afastado de seu cargo como funcionrio pblico, ficando um longo tempo desempregado; canais de publicao foram cortados; a evidncia foi interpretada de maneira equivocada por diversos autores de renome [...]; toneladas de artefatos desapareceram em caixotes de armazenamento no Museu Nacional do Canad; por ter se recusado a demitir o descobridor, o diretor do Museu Nacional, que tinha proposto uma monografia sobre o stio, tambm foi despedido e banido; instncias oficiais de prestgio e poder se empenharam em controlar apenas seis espcimes de Sheguiandah que no tinham sido apreendidas, e o stio foi transformado em uma estncia turstica [...] Sheguiandah teria feito com que os poderosos admitissem, envergonhados, que no conheciam tudo. Teria obrigado os estudiosos a reescrever quase todos os livros que existem sobre o assunto. Precisava ser eliminado. Foi eliminado".

Na Parte 2, analisamos o conjunto de evidncias aceitas e geralmente utilizadas para sustentar as idias - hoje dominantes - sobre a evoluo humana. Examinamos especialmente o status do australopiteco. A maioria dos antroplogos entende que o australopiteco era um ancestral do homem com cabea simiesca, corpo semelhante ao humano, uma postura e andadura bpede, humanide. Mas outros pesquisadores defendem de modo convincente uma posio completamente diferente, afirmando que os australopitecos e similares eram bastante simiescos, criaturas que viviam parte do tempo em rvores e que no tinham conexo direta com a linhagem evolutiva humana.

Tambm na Parte 2, consideramos a possvel coexistncia de homindeos primitivos e humanos anatomicamente modernos, no s no passado distante como no presente. No sculo passado, os cientistas acumularam evidncias sugerindo que criaturas humanides, semelhantes ao gigantopiteco, ao australopiteco, ao Homo erectus e ao Neandertal esto vivendo em vrias regies selvagens do planeta. Na Amrica do Norte, essas criaturas so conhecidas como Sasquatch. Na sia central, so chamadas almas. Na frica, China, Sudeste Asitico e Amricas Central e do Sul, so conhecidas por outros nomes. Alguns pesquisadores usam a expresso genrica "homens selvagens" para incluir todos eles. Cientistas e mdicos tm relatado avistamentos de homens selvagens vivos e mortos, bem como suas pegadas. Eles tambm catalogaram milhares de relatos de pessoas comuns que viram esses homens selvagens, alm de descries semelhantes em registros histricos.

Alguns podem questionar o motivo pelo qual fizemos um livro como A histria secreta da raa humana, sugerindo que teramos um motivo subjacente. Sim, h um motivo subjacente.

Richard Thompson e eu somos membros do Instituto Bhaktivedanta, uma diviso da Sociedade Internacional para a Conscincia de Krishna que estuda a relao entre a cincia moderna e a cosmoviso expressa na literatura vdica da ndia. Da literatura vdica extramos a idia de que a raa humana muito antiga. Com o propsito de realizar pesquisas sistemticas sobre a literatura cientfica disponvel acerca da antiguidade do Homem, expressamos a idia vdica na forma de uma teoria: a de que diversos seres humanides e simiescos tm coexistido h longo tempo.

O fato de nossa posio terica ter sido extrada da literatura vdica no deve desqualific-Ia. Uma teoria pode ser escolhida dentre diversas fontes uma inspirao pessoal, teorias anteriores, a sugesto de um amigo, um filme, e assim por diante. O que realmente importa no a fonte da teoria, mas sua capacidade de explicar as observaes.

Em funo de limitaes de espao, no conseguimos desenvolver neste volume nossas idias para uma alternativa s atuais teorias sobre as origens humanas. Portanto, estamos planejando um segundo volume relacionando os resultados de nossas extensas pesquisas nessa rea em fontes vdicas.

Gostaria agora de falar um pouco sobre minha parceria com Richard Thompson. Richard tem formao cientfica; estudou matemtica e publicou artigos e livros nas reas de biologia matemtica, monitoramento remoto por satlite, geologia e fsica. Minha formao no cientfica. Desde 1977 tenho escrito e editado revistas e livros publicados pelo Bhaktivedanta Book Trust.

Em 1984, Richard pediu que seu assistente Stephen Bernath comeasse a reunir material sobre as origens e a antiguidade do ser humano. Em 1986, Richard me pediu para organizar esse material na forma de livro.

Ao analisar o material que Stephen me forneceu, fiquei espantado com o pequeno nmero de relatos entre 1859, quando Darwin publicou A Origem das Espcies, e 1894, quando Dubois publicou seu relatrio sobre o Homem de lava. Curioso, pedi a Stephen que conseguisse alguns livros de antropologia do fim do sculo XIX e incio do XX. Nesses livros, inclusive em uma das primeiras edies de Homens fsseis, de Marcellin Boule, encontrei crticas bastante negativas a numerosos relatos do perodo em questo. Estudando as notas de rodap, descobri que a maioria desses relatos, escritos por cientistas do sculo XX, descrevia ossos com incises, ferramentas de pedra e restos de esqueletos anatomicamente modernos, encontrados em contextos geolgicos inesperadamente antigos. Os relatos eram de boa qualidade e respondiam a diversas objees possveis. Isso tambm me estimulou a realizar uma pesquisa mais sistemtica.

Vasculhar essas evidncias literrias soterradas exigiu mais trs anos. Stephen Bernath e eu obtivemos raras atas de conferncias e revistas especializadas do mundo todo, e juntos traduzimos o material para o ingls. Redigir o manuscrito a partir do material coletado tomou outro par de anos. Durante todo o perodo de pesquisa e de redao, tive discusses quase dirias com Richard sobre a importncia do material e a melhor maneira de apresent-lo.

Stephen obteve boa parte do material apresentado no Captulo 6 com Ron Calais, que gentilmente nos enviou muitas cpias reprogrficas de relatos originais encontrados em seus arquivos. Virginia Steen McIntire foi muito gentil e nos forneceu sua correspondncia sobre a datao do stio de Hueyatlaco, Mxico. Tambm tivemos reunies teis sobre ferramentas de pedra com Ruth D. Simpson, do Museu do Condado de San Bernardino, e com Thomas A. Demr, do Museu de Histria Natural de San Diego, sobre marcas de dentes de tubaro em ossos.

Este livro no teria sido concludo sem os diversos servios prestados por Christopher Beetle, formado em cincia da computao pela Universidade Brown, que entrou para o Instituto Bhaktivedanta de San Diego em 1988.

As ilustraes da Figura 12.8 so obra de Miles Triplett, a quem agradecemos muito. Beverly Symes, David Smith, Sigalit Binyaminy, Susan Fritz, Brbara Cantatore, Joseph Franklin e Michael Best tambm contriburam para a produo deste livro.

Richard e eu gostaramos de agradecer em especial aos curadores internacionais do Bhaktivedanta Book Trust, do passado e do presente, por seu generoso apoio pesquisa, redao e publicao deste livro.

Finalmente, incentivamos os leitores a chamar nossa ateno para quaisquer evidncias adicionais que possam ser de nosso interesse; especialmente para incluso em futuras edies deste livro. A correspondncia pode ser endereada a ns na Govardhan Hill Publishing.

PARTE I

1. A Cano do Leo Vermelho: Darwin e a Evoluo Humana

Em certa noite de 1871, uma associao de cultos cavalheiros britnicos, os Lees Vermelhos, rene-se em Edinburgh, Esccia, para um alegre banquete regado a canes e discursos bem-humorados. Lorde Neaves, notrio por seus chistes literrios, levanta-se perante os Lees reunidos e entoa doze estrofes por ele compostas sobre "A origem das espcies a Ia Darwin". Entre elas:

Um Smio de polegar flexvel e grande crebro

Conseguira o dom da loquacidade lograr,

Enquanto o Senhor da Criao estabelecia seu reino,

O que Ningum pode Negar!

Seus ouvintes respondem, como costume entre os Lees Vermelhos, rugindo gentilmente e abanando as abas de suas casacas.

Apenas doze anos passados da publicao, por Charles Darwin, em 1859, de A origem das Espcies, um nmero cada vez maior de cientistas e outros eruditos achava impossvel, de fato ridculo, supor serem os seres humanos, nada mais nada menos, que descendentes modificados de uma linhagem ancestral de criaturas simiescas. No prprio A origem das Espcies, Darwin tecia somente breves comentrios sobre a questo dos primrdios do homem, afirmando, j nas pginas finais, que "nova luz ser lanada sobre o problema da origem do homem e de sua histria". Todavia, a despeito da cautela de Darwin, era bvio que ele no via na humanidade uma exceo sua teoria de que uma espcie evolui de outra.

Darwin Fala

S em 1871 que Darwin aparece com um livro (A origem do homem) expressando seus pormenorizados pontos de vista sobre a evoluo humana. Para explicar sua demora, Darwin escreveu: "Durante muitos anos, coligi anotaes sobre a origem ou descendncia do homem, sem inteno alguma de publicar algo sobre o tema, seno que, pelo contrrio, com a determinao de nada publicar, por achar que, assim fazendo, estaria apenas contribuindo para os preconceitos contra minhas opinies. Pareceu-me suficiente indicar, na primeira edio de minha A origem das Espcies, que, com esta obra, nova luz ser lanada sobre o problema da origem do homem e de sua histria'; e isso implica que o homem deve ser includo entre os demais seres orgnicos em qualquer concluso genrica que diga respeito maneira como apareceu na Terra".Em A Origem do Homem, Darwin era explcito ao negar qualquer status especial para a espcie humana. "Aprendemos, portanto", dizia ele, "que o homem descende de um quadrpede peludo e com cauda, provavelmente de hbitos arbreos e habitante do Velho Mundo." Era uma declarao ousada, no obstante carecesse do tipo mais convincente de prova - fsseis de espcies transicionais entre os antigos smios e os humanos modernos.Afora os dois mal datados crnios de Neandertal da Alemanha e de Gibraltar, e algumas outras descobertas de morfologia moderna pouco divulgadas, no havia descobertas de restos fsseis homindeos. Esse fato logo tornou-se munio para aqueles que se revoltaram com a sugesto de Darwin de que os humanos tinham ancestrais simiescos. Onde, perguntavam eles, estavam os fsseis para provar tal teoria?

Hoje, contudo, quase sem exceo, os paleantroplogos modernos acreditam ter satisfeito as expectativas de Darwin mediante descobertas positivas de fsseis dos ancestrais do homem na frica, na sia e em outras regies.

Aparecimento dos Homindeos

Neste livro, adotamos o sistema moderno de eras geolgicas (Tabela 1.1). Usamo-lo como fonte fixa de referncia para nosso estudo da histria dos antigos humanos e quase humanos. Assim o fizemos por questo de convenincia. Reconhecemos, no entanto, que nossas descobertas exigiriam uma sria reavaliao da escala de tempo geolgico.

Segundo os pontos de vista modernos, os primeiros seres simiescos apareceram no Oligoceno, que comeou h cerca de 38 milhes de anos. Os primeiros smios considerados antecessores dos humanos apareceram no Mioceno, que se estende de 5 a 25 milhes de anos atrs. Entre eles, est o Dryopithecus.

Depois veio o Plioceno, durante o qual diz-se terem aparecido no registro fssil os primeiros homindeos, primatas de andadura ereta e semelhantes a humanos. O homindeo mais antigo que se conhece o Australopithecus, o smio meridional, remontando a quatro milhes de anos, no Plioceno.

Esse quase humano, dizem os cientistas, tinha entre 1,20 e 1,50 metro de altura, e uma capacidade craniana de 300 e 600 cc. Do pescoo para baixo, diz-se que o Australopithecus era muito parecido com os humanos modernos, ao passo que a cabea revelava caractersticas tanto simiescas quanto humanas.

Pensa-se que uma ramificao do Australopithecus tenha dado origem ao Homo habilis por volta de dois milhes de anos atrs, no princpio do Pleistoceno. O Homo habilis muito parecido com o Australopithecus, com exceo de sua capacidade craniana, que, segundo consta, era maior, entre 600 e 750 cc.

Considera-se que o Homo habilis deu origem ao Homo erectus (a espcie em que se incluem o Homem de Java e o Homem de Beijing) cerca de 1,5 milho de anos atrs. O Homo erectus, segundo consta, tinha entre 1,50 e 1,80 metro de altura, e sua capacidade craniana variava entre 700 e 1.300 cc. Muitos paleantroplogos acreditam hoje que, do pescoo para baixo, o Homo erectus era, tanto quanto o Australopithecus e o Homo habilis, quase igual aos humanos modernos. A testa, contudo, inclinava-se por trs de macias arcadas supraorbitais, os maxilares e os dentes eram grandes, e o maxilar inferior no tinha queixo. Acredita-se que o Homo erectus viveu na frica, na sia e na Europa at cerca de duzentos mil anos atrs.

Os paleantroplogos acreditam que, do ponto de vista anatmico, os humanos modernos (Homo sapiens sapiens) formaram-se aos poucos a partir do Homo erectus. Por volta de trezentos ou quatrocentos mil anos atrs, diz-se terem aparecido os primeiros Homo sapiens primitivos, ou Homo sapiens arcaicos. Na descrio feita deles, a capacidade craniana quase to grande quanto a dos humanos modernos, no entanto, ainda manifestam, em menor grau, algumas das caractersticas do Homo erectus, tais como o crnio espesso, a testa recuada e grandes arcadas supraorbitais. Entre os exemplos dessa categoria, temos as descobertas oriundas de Swanscombe, na Inglaterra, de Steinheim, na Alemanha e de Fontechevade e Arago, na Frana. Como esses crnios tambm apresentam, at certo ponto, caractersticas de Neandertal, tambm so classificados como tipos pr-Neandertal. Hoje, muitas autoridades postulam que tanto os humanos anatomicamente modernos quanto os neandertais europeus ocidentais evoluram de homindeos dos tipos pr-Neandertal ou Homo sapiens primitivo.

No incio do sculo XX, alguns cientistas defendiam o ponto de vista de que os neandertais do ltimo perodo glacial, conhecidos como os neandertais europeus ocidentais clssicos, foram os ancestrais diretos dos seres humanos modernos. Eles tinham crebros maiores do que os do Homo sapiens sapiens. Seus rostos e maxilares eram muito maiores, e suas testas ficavam mais abaixo, inclinando-se por trs de grandes arcadas supraorbitais. Encontram-se vestgios de Neandertal em depsitos do Pleistoceno, com idades variando entre 30 e 150 mil anos. No entanto, a descoberta de Homo sapiens primitivos em depsitos com muito mais de 150 mil anos tirou, de uma vez por todas, os neandertais europeus ocidentais clssicos da linha direta de descendncia desde o Homo erectus at os humanos modernos.O tipo de humanos conhecidos como Cro-Magnon apareceu na Europa h aproximadamente trinta mil anos, e eles eram anatomicamente modernos. Os cientistas costumavam dizer que o Homo sapiens sapiens anatomicamente moderno apareceu pela primeira vez por volta de quarenta mil anos atrs, mas hoje muitas autoridades, levando em considerao descobertas feitas na frica do Sul e em outras regies, dizem que eles apareceram cem mil ou mais anos atrs.

A capacidade craniana dos humanos modernos varia de 1.000 a 2.000 cc, a mdia sendo em torno de 1.350 cc. Como logo se pode observar hoje entre os humanos modernos, no existe correlao entre o tamanho do crebro e a inteligncia. Existem pessoas inteligentssimas com crebros de 1.000 cc e dbeis mentais com crebros de 2.000 cc.

Exatamente onde, quando ou como o Australopithecus deu origem ao Homo habilis, ou o Homo habilis deu origem ao Homo erectus, ou o Homo erectus deu origem aos humanos modernos, no explicado em descries atuais das origens humanas. Entretanto, a maioria dos paleantroplogos concorda que apenas humanos anatomicamente modernos vieram para o Novo Mundo. Diz-se que as etapas anteriores da evoluo, do Australopithecus em diante, deram-se no Velho Mundo. A primeira chegada de seres humanos ao Novo Mundo, segundo consta, data de cerca de doze mil anos atrs, sendo que alguns cientistas preferem determinar uma data de 25 mil anos, equivalente ao Pleistoceno Superior.

Mesmo hoje, so muitas as lacunas no suposto registro da descendncia humana. Por exemplo: h uma ausncia quase total de fsseis que vinculem os smios do Mioceno, tais como o Dryopithecus, aos ancestrais, atribudos ao Plioceno, de smios e humanos modernos, especialmente dentro do lapso entre quatro e oito milhes de anos atrs.

Talvez seja verdade que algum dia sero encontrados os fsseis para preencherem essas lacunas. Todavia, e isto extremamente importante, no h motivo para supor que os fsseis ainda por aparecer sero sustentculos da teoria da evoluo. E se, por exemplo, os fsseis de humanos anatomicamente modernos aparecessem em estratos mais antigos que aqueles em que os Dryopithecus foram encontrados? Mesmo que se constatasse que os humanos anatomicamente modernos viveram milhes de anos atrs, quatro milhes de anos aps o desaparecimento dos Dryopithecus, no Mioceno Superior, isso seria suficiente para desbancar os relatos atuais sobre a origem da humanidade.

De fato, tal evidncia j foi encontrada, mas tem, desde ento, sido suprimida ou convenientemente esquecida. Grande parte dessa evidncia veio tona nas dcadas imediatamente posteriores publicao de A Origem das Espcies, de Darwin, antes do que no haviam sido feitas descobertas notveis, excetuando-se o Homem de Neandertal. Nos primeiros anos do darwinismo, quando no existia uma histria bem definida da descendncia humana que precisasse ser defendida, os cientistas profissionais fizeram e registraram muitas descobertas que hoje nem sequer seriam aceitas nas pginas de qualquer jornal mais respeitvel no meio acadmico do que o National Enquirer.

A maioria desses fsseis e artefatos foi desenterrada antes da descoberta, por Eugene Dubois, do Homem de lava, o primeiro homindeo proto-humano entre o Dryopithecus e os humanos modernos. O Homem de lava foi encontrado em depsitos do Pleistoceno Mdio, aos quais em geral se atribui oitocentos mil anos de idade. Essa descoberta tornou-se um marco. Da por diante, os cientistas no esperariam encontrar fsseis ou artefatos de humanos anatomicamente modernos em depsitos de idade igual ou maior. Se o fizeram (ou algum mais prudente), concluram que isso era impossvel e arranjaram alguma forma de pr a descoberta em descrdito, taxando-a de erro, iluso ou embuste. Antes do Homem de lava, contudo, bem conceituados cientistas do sculo XIX encontraram uma srie de exemplos de restos esqueletais de humanos anatomicamente modernos em estratos antiqssimos. E tambm encontraram um grande nmero de ferramentas de pedra de diversos tipos, bem como ossos de animais com sinais de manuseio humano.

Alguns Princpios de Epistemologia

Antes de comearmos nosso exame das provas paleantropolgicas rejeitadas e aceitas, esboaremos algumas regras epistemolgicas que temos procurado observar. Segundo definio do Webster's new world dictionary, epistemologia "o estudo ou teoria da origem, natureza, mtodos e limites do conhecimento". Ao nos ocuparmos do estudo de evidncias cientficas, importante termos em mente a natureza, os mtodos e os limites do conhecimento, caso contrrio, tendemos a cair em iluso.

A evidncia paleantropolgica tem certas limitaes bsicas para as quais devemos chamar a ateno. Em primeiro lugar, as observaes que se enquadram na categoria de fatos paleantropolgicos tendem a envolver descobertas raras, as quais no podem ser duplicadas vontade. Por exemplo: alguns cientistas dessa rea conquistaram grande reputao com base em poucas descobertas famosas, ao passo que outros, a grande maioria, tm passado suas carreiras inteiras sem fazer uma s descoberta significativa.

Em segundo lugar, uma vez feita uma descoberta, destroem-se elementos essenciais da evidncia, e o conhecimento desses elementos depende exclusivamente do testemunho dos descobridores. Um dos aspectos mais importantes de um fssil , por exemplo, sua posio estratigrfica. No entanto, uma vez que o fssil tenha sido extrado da terra, destri-se a prova direta indicativa de sua posio, e passamos a depender apenas do testemunho do escavador para sabermos onde ele ou ela o encontrou. Evidentemente, ser possvel argumentar que as caractersticas qumicas e outras do fssil podem indicar o seu lugar de origem. Isso se aplica a alguns casos, mas no a outros. E ao fazermos tais julgamentos, temos tambm de depender de relatrios sobre as propriedades qumicas e demais propriedades fsicas dos estratos em que se alega ter encontrado o fssil.

Pessoas responsveis por descobertas importantes no conseguem, s vezes, reencontrar os locais dessas descobertas. Aps alguns anos, os locais so quase que inevitavelmente destrudos, talvez pela eroso, pela escavao paleantropolgica completa ou pelo desenvolvimento comercial (o qual envolve explorao de pedreiras, construo civil e assim por diante). Mesmo escavaes modernas, mediante as quais se consegue um registro meticuloso de detalhes, destroem a prpria evidncia registrada, deixando-nos com nada alm do testemunho escrito para corroborar muitas declaraes essenciais. E muitas descobertas importantes, mesmo na atualidade, so acompanhadas de registros escassssimos de detalhes importantes.

Desse modo, uma pessoa desejosa de conferir registros paleantropolgicos achar dificlimo ter acesso aos fatos em si, mesmo que tenha meios para viajar at o local de uma descoberta. E, decerto, limitaes de tempo e dinheiro impossibilitam-nos de examinar pessoalmente mais do que uma pequena porcentagem da totalidade dos stios paleantropolgicos importantes.

Um terceiro problema que raramente (ou nunca) os fatos de paleantropologia so simples. Digamos que um cientista declare que os fsseis projetavam-se nitidamente de uma certa camada do Pleistoceno Inferior. Mas essa declarao aparentemente simples poder depender de muitas observaes e argumentos, envolvendo falhas geolgicas, a possibilidade de alguma queda repentina, a presena ou ausncia de uma camada de alvio, a presena de um sulco reenchido e assim por diante. Ao consultarmos o testemunho de outra pessoa presente no stio, poderemos descobrir que ela trata de muitos detalhes importantes no mencionados pela primeira testemunha.

Observadores diferentes s vezes se contradizem, uma vez que seus sentidos e memrias so imperfeitos. Nesse caso, um observador em um determinado stio poder ver certas coisas, mas deixar de ver outras importantes. Algumas delas poderiam ser vistas por outros observadores, mas isso poderia acabar se tornando impossvel pelo fato de o stio tornar-se inacessvel.

Outro problema a falsificao. Isso pode ocorrer em nvel de fraude sistemtica, como no caso de Piltdown. Como veremos, para uma abordagem em profundidade desse tipo de fraude, necessrio ter a capacidade de investigao de um super Sherlock Holmes, alm de todos os recursos de um moderno laboratrio forense. Infelizmente, sempre existem fortes motivos para fraudes deliberadas ou inconscientes, uma vez que a fama e a glria acenam para quem logra descobrir um ancestral humano.

A fraude tambm pode dar-se no nvel da simples omisso do registro de observaes que contrariem as concluses desejadas por algum. Como veremos no decorrer deste livro, houve casos de investigadores que observaram artefatos em certos estratos, mas que jamais registraram tais descobertas porque no acreditavam que os artefatos pudessem ter aquela idade. muito difcil evitar isso, pois nossos sentidos so imperfeitos e, se nos deparamos com algo aparentemente impossvel, natural supormos estarmos equivocados. Na verdade, isso pode muito bem acontecer. Enganar omitindo observaes importantes nada mais que uma limitao da natureza humana que, Infelizmente, pode ter um impacto nocivo sobre o processo emprico.

Os empecilhos dos fatos paleantropolgicos no se limitam a escavaes de objetos. Tambm encontramos empecilhos semelhantes em modernos estudos de datao qumica ou radiomtrica. Por exemplo: uma data estabelecida com carbono 14 pareceria envolver um procedimento confivel que produz um nmero final - a idade de um objeto. Porm, estudos concretos de datao costumam exigir consideraes complexas relativas identidade das amostras, alm de seu histrico e possvel contaminao. Podem acarretar a rejeio de certos clculos preliminares de datas e a aceitao de outros com base em complexos argumentos que raras vezes so publicados de forma explcita. Ademais, os fatos podem ser complexos, incompletos e bastante inacessveis.

A concluso a que chegamos a partir dessas limitaes dos fatos paleantropolgicos que, nesse campo de estudo, estamos sobremaneira limitados ao estudo comparativo dos relatrios. Embora realmente exista evidncia concreta sob a forma de fsseis e artefatos em museus, a maior parte da evidncia essencial que d importncia a esses objetos s existe sob a forma escrita.

Uma vez que a informao constante nos registros paleantropolgicos tende a ser incompleta, e como at os mais simples fatos paleantropolgicos tendem a envolver assuntos complexos e insolveis, difcil chegar a concluses slidas sobre a realidade nesse campo. Que podemos fazer, ento? Sugerimos, como coisa importante que possamos fazer, comparar a qualidade de diferentes registros. Embora no tenhamos acesso aos fatos em si, podemos fazer um estudo direto de diferentes registros e compar-los objetivamente.

Uma coletnea de relatrios ligados a certas descobertas pode ser avaliada com base na inteireza da investigao registrada e na lgica e consistncia dos argumentos apresentados. Pode-se considerar se foram ou no levantados e respondidos os diversos contra-argumentos cticos a uma determinada teoria. Uma vez que as observaes registradas devem ser sempre aceitas com base em algum grau de f, pode-se tambm averiguar a idoneidade dos observadores.

Nossa proposta que, se dois conjuntos de relatrios parecerem igualmente confiveis com base nesses critrios, devero ser tratados tambm igualmente. Ambos os conjuntos poderiam ser aceitos, ambos poderiam ser rejeitados, ou poderia-se considerar que ambos tm status incerto. Seria errado, contudo, aceitar um conjunto de relatrios e, ao mesmo tempo, rejeitar o outro, e, em especial, seria errado aceitar um conjunto como prova de determinada teoria e, ao mesmo tempo, suprimir o outro, tornando-o, desse modo, inacessvel a futuros estudantes.

Optamos por aplicar essa abordagem a dois conjuntos especficos de relatrios. O primeiro conjunto consiste em registros de artefatos e restos esqueletais humanos anomalamente antigos, muitos dos quais foram descobertos em fms do sculo XIX e no comeo do sculo XX. Esses registros so examinados na Parte 1 deste livro. O segundo conjunto consiste em registros de artefatos e restos esqueletais aceitos como evidncia em apoio s atuais teorias da evoluo humana. Esses registros variam em data desde o fim do sculo XIX at a dcada de 1980, e so examinados na Parte 2. Por causa das Interligaes naturais entre as diferentes descobertas, algumas descobertas anmalas tambm so examinadas na Parte 2.

Nossa tese que, a despeito dos diversos avanos feitos no campo da cincia paleantropolgica durante o sculo XX, existe uma equivalncia essencial em termos de qualidade entre esses dois conjuntos de relatrios. Portanto, sugerimos no ser apropriado aceitar um conjunto e rejeitar o outro. Isso traz srias implicaes para a teoria moderna da evoluo humana. Se rejeitamos o primeiro conjunto de relatrios (as anomalias) e, em nome da consistncia, tambm rejeitamos o segundo conjunto (evidncia aceita atualmente), ento privamos a teoria da evoluo humana de boa parte de seu fundamento observacional. Porm, se aceitamos o primeiro conjunto de relatrios, devemos aceitar a existncia de seres inteligentes, capazes de fazer ferramentas, em perodos geolgicos to remotos como o Mioceno, ou mesmo o Eoceno. Se aceitamos a evidncia esqueletal apresentada nesses relatrios, devemos ir mais adiante e aceitar a existncia de seres humanos anatomicamente modernos nesses perodos remotos. Isso no apenas contradiz a teoria moderna da evoluo humana, como tambm lana srias dvidas sobre toda a nossa viso da evoluo da vida mamfera na era Cenozica.

2. Ossos Incisos e Quebrados: A Aurora da Falcia

Os ossos de animais, cortados e quebrados intencionalmente, compreendem uma parte substancial da evidncia da antiguidade humana. Passando a ser objeto de srios estudos a partir de meados do sculo XIX, eles continuam sendo submetidos a extensas pesquisas e anlises ainda hoje.

Nas dcadas que se seguiram publicao de A origem das Espcies, de Darwin, muitos cientistas constataram que os ossos incisos e quebrados eram indicativos da presena humana no Plioceno, no Mioceno e em perodos anteriores. Segundo alguns antagonistas sugeriram, as marcas e rachaduras observadas nos ossos fsseis eram provocadas pela ao de carnvoros, tubares ou pela prpria presso geolgica. No entanto, aqueles que apoiavam as recentes descobertas apresentavam contra-argumentos impressionantes. Por exemplo: havia ocasies em que encontravam ferramentas de pedra com os ossos incisos, e algumas experincias feitas com esses instrumentos produziram marcas em ossos frescos exatamente iguais quelas encontradas nos fsseis. Os cientistas tambm se utilizaram de microscpios a fim de distinguir os cortes nos ossos fsseis daqueles que poderiam ser feitos por dentes de tubares ou outros animais. Em muitos casos, as marcas localizavam-se em partes do osso apropriadas para operaes de abate especficas.

No obstante, o conjunto de provas cientficas aceitas hoje exclui os registros de ossos incisos e quebrados, indicativos da presena humana no Plioceno e em pocas anteriores. Tal excluso no pode, contudo, ser justificada. A partir do conjunto incompleto de provas cientficas levado em conta nos dias atuais, os cientistas concluram que os humanos do tipo moderno s vieram a aparecer recentemente. Todavia, em vista da evidncia apresentada neste captulo, tudo leva a crer que eles esto enganando a si mesmos.

St. Prest, Frana

Em abril de 1863, Jules Desnoyers, do Museu Nacional Francs, esteve em St. Prest, noroeste da Frana, para recolher fsseis. Dos cascalhos arenosos ele recuperou parte de uma tbia de rinoceronte. Reparou que o osso apresentava uma srie de ranhuras estreitas, algumas das quais, a seu ver, pareciam ter sido produzidas com faca afiada ou com lmina de pederneira. Observou, tambm, pequenas marcas circulares que podiam muito bem ter sido feitas por um instrumento pontudo. Mais tarde, Desnoyers examinou colees de fsseis de St. Prest nos museus de Chartres e na Escola de Mineralogia em Paris, e viu que traziam os mesmos tipos de marcas. Da resolveu relatar suas descobertas Academia Francesa de Cincias.

Certos cientistas modernos dizem que o stio arqueolgico de St. Prest pertence ao Plioceno Superior. Se Desnoyers concluiu corretamente que as marcas em muitos dos ossos haviam sido feitas por instrumentos de corte, ento tudo levava a crer que seres humanos estiveram presentes na Frana durante aquela poca. Poderia-se perguntar: "Que h de errado nisso?" Segundo o que entendemos que seja, hoje, a paleantropologia, h algo muito errado. A presena, a essa poca e na Europa, de seres que usavam ferramentas de pedra de forma sofisticada, pareceria quase impossvel. Acredita-se que, ao fim do Plioceno, cerca de dois milhes de anos atrs, a espcie humana moderna ainda no havia surgido. Apenas na frica deveria-se encontrar ancestrais humanos primitivos, os quais, por sua vez, limitavam-se ao Australopithecus e ao Homo habilis, este tido como o primeiro a ter capacidade de fabricar ferramentas. Segundo relatrios de outros cientistas, o stio de St. Prest poderia ser de poca mais recente que o Plioceno - talvez com to pouco quanto 1,2 a 1,6 milho de anos. Mas os ossos incisos eram anmalos mesmo assim.

J no sculo XIX, as descobertas de Desnoyers dos ossos incisos de St. Prest provocavam controvrsias. Antagonistas argumentavam que as marcas tinham sido feitas pelas ferramentas dos operrios que as haviam escavado. Desnoyers, porm, demonstrou que as marcas cortadas haviam ficado cobertas com depsitos minerais tanto quanto as outras superfcies dos ossos fsseis. Sir Charles Lyell, destacado gelogo britnico, sugeriu terem as marcas sido feitas por dentes de roedores, mas o pr-historiador francs Gabriel de Mortillet disse no ser possvel que as marcas tivessem sido feitas por animais. Ao contrrio, segundo o parecer dele, haviam sido feitas por pedras afiadas atritando contra os ossos por presso geolgica. Ao que Desnoyers replicou: "Muitas das incises desgastaram-se pela frico ps-escavao, frico esta resultante do transporte ou da movimentao dos ossos em meio areia e aos cascalhos. As marcas da resultantes so de aspecto essencialmente diferente do aspecto das marcas e estrias originais".

Afinal, quem estava certo, Desnoyers ou Mortillet? Certas autoridades acreditavam ser possvel solucionar esse problema caso se pudesse demonstrar que os cascalhos de St. Prest continham ferramentas de pederneira que fossem comprovadamente de manufatura humana. Louis Bourgeois, um clrigo que tambm havia conquistado a reputao de distinto paleontlogo, explorou com bastante cuidado os estratos de St. Prest procura de tais provas. Em sua paciente explorao, acabou encontrando uma srie de pederneiras que acreditou serem ferramentas genunas. Fez delas o tema de um relatrio apresentado Academia de Cincias em janeiro de 1867. Segundo disse o famoso antroplogo francs Armand de Quatrefages, entre as ferramentas havia raspadeiras, furadores e pontas de lana.

Nem esse testemunho satisfez Mortillet, segundo o qual as pederneiras descobertas por Bourgeois em St. Prest haviam sido lascadas pela presso geolgica. Parece, portanto, que, ao tentarmos responder a uma pergunta ou seja, qual a natureza das marcas talhadas nos ossos? -, nos deparamos com outra - a saber, como reconhecer a obra humana nas pederneiras e em outros objetos de pedra? Esta ltima pergunta ser inteiramente examinada no prximo captulo. Por ora, basta atentarmos para o fato de que, mesmo nos dias atuais, provocam considerveis controvrsias os julgamentos quanto ao que venha a ser uma ferramenta de pedra. , portanto, logicamente possvel encontrar razes para questionar a rejeio, por parte de Mortillet, das pederneiras encontradas por Bourgeois. Em 1910, o famoso paleontlogo norte-americano Henry Fairfield Osborn fez estas interessantes observaes em relao presena de ferramentas de pedra em St. Prest: "Os vestgios mais remotos do homem em/estratos dessa era foram os ossos incisos descobertos por Desnoyers em St. Prest, perto de Chartres, em 1863. Dvidas quanto ao possvel carter artificial dessas incises foram eliminadas pelas recentes exploraes de Laville e Rutot, as quais resultaram na descoberta de pederneiras eolticas, confirmando plenamente as descobertas do Abade Bourgeois nesses depsitos em 1867".

De modo que, no que diz respeito s descobertas em St. Prest, fica bastante evidente o fato de estarmos lidando com problemas paleontolgicos que no podemos resolver rpida ou facilmente. Decerto, no h razo suficiente para rejeitar categoricamente esses ossos como provas da presena humana no Plioceno. Isso poderia nos levar a querer saber o motivo pelo qual os fsseis de St. Prest, e outros como eles, quase nunca so mencionados em livros didticos sobre a evoluo humana, exceto em raros casos de breves notas de pde pgina, destinadas a ridicularizar e rejeitar tais descobertas. Acaso isso acontece realmente pelo fato de a evidncia ser nitidamente inadmissvel? Ou estar, talvez, a omisso ou rejeio sumria mais relacionada ao fato de a potencial antiguidade dos objetos do Plioceno Superior contradizer em to alto grau o registro convencional sobre a origem do homem?

A respeito desse tema, Armand de Quatrefages, membro da Academia Francesa de Cincias e professor do Museu de Histria Natural de Paris, escreve em seu livro Hommes fossiles et hommes sauvages (1884): "As objees feitas existncia de humanos no Plioceno e no Mioceno habitualmente parecem estar mais relacionadas a consideraes de ordem terica do que observao direta" .

Um Exemplo Moderno: Old Crow River, Canad

Antes de prosseguir apresentando mais exemplos de descobertas do sculo XIX que desafiam as idias modernas sobre as origens do homem, vamos examinar uma investigao mais recente de ossos modificados intencionalmente. Uma das questes mais controvertidas a confrontar a paleantropologia do Novo Mundo est em determinar a poca em que os humanos surgiram na Amrica do Norte. Segundo o ponto de vista convencional, bandos de caadores-agricultores asiticos atravessaram o estreito de Bering cerca de doze mil anos atrs. Algumas autoridades preferem estender a data para cerca de trinta mil anos atrs, ao passo que uma minoria em expanso registra a evidncia da presena humana nas Amricas em fases bem anteriores do Pleistoceno. Examinaremos esse assunto com mais detalhes em captulos posteriores. Por ora, contudo, pretendemos nos ater aos ossos fsseis descobertos em Old Crow River, no territrio Yukon setentrional, por ser um exemplo contemporneo do tipo de evidncia abordado neste captulo.

Na dcada de 1970, Richard E. Morlan, do Instituto de Pesquisa Arqueolgica do Canad e do Museu Nacional Canadense do Homem, realizou estudos em ossos modificados provenientes de stios em Old Crow River. Conforme concluiu Morlan, muitos ossos e chifres mostravam sinais de obra humana Intencional levada a cabo antes da fossilizao dos citados ossos. Estes, submetidos a transporte fluvial, foram recuperados de uma plancie aluvial dos primrdios da chamada Era Glacial de Wisconsin, datando de oitenta mil anos atrs. Isso desafiou e muito as idias vigentes sobre o povoamento do Novo Mundo.

Porm, em 1984, R. M. Thorson e R. D. Guthrie publicaram um estudo, demonstrando que a ao do gelo fluvial poderia ter provocado as alteraes, consideradas fruto de obra humana por Morlan. Mais tarde, Morlan recuou em suas afirmaes de que todos os ossos por ele recolhidos haviam sido modificados por obra humana. Admitiu que 30 dos 34 poderiam ter sido marcados por gelo fluvial ou outras causas naturais.

Mesmo assim, ele ainda acreditava que os outros quatro espcimes traziam sinais categricos de obra humana. Em relatrio j publicado, dizia ele: "Os cortes e talhos... so indistinguveis daqueles feitos por ferramentas de pedra durante o abate e o descarnamento da carcaa de um animal".

Morlan enviou dois dos ossos dra. Pat Shipman, da Universidade]ohns Hopkins, uma perita em ossos cortados. Shipman examinou as marcas nos ossos, usando um microscpio de expanso base de eltrons, e comparou-as a mais de mil marcas em osso documentadas. Shipman disse serem inconcludentes as marcas em um dos ossos. Mas, na opinio dela, o outro osso trazia uma ntida marca de ferramenta. Morlan observou terem encontrado ferramentas de pedra na rea de Old Crow River e de regies altas prximas, mas no em relao direta com os ossos.

Isso quer dizer que no fcil descartar os ossos de St. Prest e outros como eles. Provas do mesmo tipo ainda so consideradas importantes hoje, e os mtodos de anlise so quase idnticos queles praticados no sculo XIX. Os cientistas daquela poca podem no ter tido microscpios base de eltrons, mas os microscpios pticos serviram, e ainda servem, muito bem para esse tipo de trabalho.

Deserto Anza-Borrego, Califrnia

Outro exemplo recente de ossos incisos como aqueles encontrados em St. Prest uma descoberta feita por George Miller, curador do Museu do Imperial Valley College em El Centro, Califrnia. Miller, falecido em 1989, relatou que seis ossos de mamute escavados do deserto Anza-Borrego apresentam ranhuras do tipo produzido, por ferramentas de pedra. Dataes com istopo de urnio, realizadas pelo Instituto Americano de Pesquisas Geolgicas, indicaram terem os ossos pelo menos trezentos mil anos, e a datao paleomagntica e amostras de cinza vulcnica indicaram uma idade de cerca de 750 mil anos.

Segundo disse certo acadmico bem conceituado, a afirmao de Miller "to razovel quanto o monstro de Loch Ness ou um mamute vivo na Sibria"; Miller replicou que "essas pessoas se negam a ver sinais do homem aqui porque, se o fizessem, suas carreiras iriam por gua abaixo". O tema ossos incisos de mamute do deserto Anza-Borrego foi levantado numa conversa que tivemos com Thomas Demr, um paleontlogo do Museu de Histria Natural de San Diego (31 de maio de 1990). Demr disse ser ctico por natureza em relao a afirmaes como as feitas por Miller. Ele questionou o profissionalismo com o qual os ossos haviam sido escavados, e salientou o fato de no terem sido encontradas ferramentas de pedra com os fsseis. Alm disso, Demr sugeriu ser bastante improvvel que algo a respeito da descoberta viesse a ser publicado em algum jornal cientfico, porque os peritos que examinam os artigos no os aprovariam. Ficamos sabendo, mais tarde, por intermdio de Julie Parkes, curadora dos espcimes de George Miller, que Demr jamais havia sequer inspecionado os fsseis ou visitado o stio da descoberta, muito embora tivesse sido convidado a faz-Io.

Segundo disse Parks, uma inciso parece continuar de um dos ossos fsseis para outro que estaria localizado ao lado do primeiro quando o esqueleto do mamute estava intacto. Isso um indcio de marca de abate. Provavelmente, as marcas acidentais, resultantes do movimento dos ossos na terra aps o esqueleto ter sido quebrado, no continuariam de um osso para o outro dessa maneira.

Ossos Incisos de Stios Italianos

J. Desnoyers encontrou espcimes incisos de modo semelhante aos de St. Prest numa coleo de ossos recolhidos no vale do rio Arno (Val d'Arno), na Itlia. Os ossos estriados eram dos mesmos tipos de animais encontrados em St. Prest - incluindo Elephas meridionalis e Rhinoceros etruscus. Foram atribudos fase do Plioceno chamada Astiana. Isso resultaria numa data de trs a quatro milhes de anos. Porm, possvel que os ossos datassem de 1,3 milho de anos atrs, quando o Elephas meriodinalis tornou-se extinto na Europa.Tambm descobriram ossos estriados em outras partes da Itlia. Em 20 de setembro de 1865, no encontro da Sociedade Italiana de Cincias Naturais em Spezzia, o professor Ramorino apresentou ossos de espcies extintas de veados e rinocerontes portando o que ele acreditava serem incises humanas. Esses espcimes foram encontrados em San Giovanni, nas proximidades de Siena, e, tanto quanto os ossos do Val d'Arno, foram tidos como sendo da fase Astiana do Plioceno. Mortillet, insistindo em sua opinio negativa convencional, declarou considerar que as marcas foram mais provavelmente feitas pelas ferramentas dos operrios que extraram os ossos.

Rinocerontes de Billy, Frana

Em 13 de abril de 1868, A. Laussedat informou Academia Francesa de Cincias que P. Bertrand lhe havia enviado dois fragmentos do maxilar inferior de um rinoceronte. Provinham de uma escavao perto de Billy, Frana. Um dos fragmentos tinha quatro sulcos bem profundos. Estes, situados na parte inferior do osso, eram mais ou menos paralelos. Segundo Laussedat, as marcas de corte apresentavam-se na transversal como aquelas feitas por uma machadinha numa tora de madeira dura. Desse modo, ele achou que as marcas haviam sido feitas da mesma maneira, isto , com um instrumento cortante de pedra com suporte para a mo, quando o osso estava fresco. Para Laussedat, aquilo era indcio de que os humanos haviam sido contemporneos do rinoceronte fssil numa poca geologicamente remota. A antiguidade de tal descoberta revelada pelo fato de o osso maxilar ter sido encontrado numa formao do Mioceno Mdio, com cerca de quinze milhes de anos de idade.

Teriam as marcas no osso sido realmente produzidas por seres humanos? Mortillet achou que no. Aps descartar a idia de essas marcas terem sido feitas por carnvoros roedores, ele escreveu: "No passam de impresses geolgicas". Embora Mortillet possa estar certo, ele no apresentou provas suficientes para justificar seu ponto de vista.

Lewis R. Binford, antroplogo da Universidade do Novo Mxico, em Albuquerque, tido, hoje, como grande autoridade em ossos cortados. Em seu livro Bones: ancient men and modern myths, Binford diz: "Marcas produzidas por ferramentas de pedra tendem a ser curtas, ocorrendo em grupos de marcas paralelas". As marcas descritas por Laussedat enquadram-se nessa descrio.

Colline de Sansan, Frana

As atas de abril de 1868 da Academia Francesa de Cincias contm o seguinte relato de F. Garrigou e H. Filhol: "Temos em nossas mos provas suficientes que nos permitem supor a constatao da contemporaneidade de seres humanos e mamferos do Mioceno". Esse conjunto de provas era uma srie de ossos de mamferos, quebrados de forma aparentemente intencional e oriundos de Sansan, Frana. Foram especialmente dignos de nota os ossos quebrados do pequeno veado Dicrocerus elegans. Os cientistas modernos consideram as camadas sseas de Sansan pertencentes ao Mioceno Mdio. D para avaliar o efeito devastador que a presena de seres humanos h cerca de 15 milhes de anos teria sobre as atuais doutrinas evolucionrias.

Mortillet, como sempre, disse que alguns dos ossos de Sansan quebraram-se por fora de incidentes naturais poca da fossilizao, talvez por dessecao, ao passo que outros quebraram-se posteriormente em virtude do movimento dos estratos.

Garrigou, contudo, manteve sua convico de que os ossos de Sansan haviam sido quebrados por humanos, durante a extrao de tutano. Ele apresentou suas razes em 1871 no encontro em Bolonha, Itlia, do Congresso Internacional de Antropologia e Arqueologia Pr-histricas. Em primeiro lugar, Garrigou apresentou ao Congresso uma srie de ossos recentes com indiscutveis marcas de abate e quebra. Para efeito de comparao, ele ento apresentou ossos do veado pequeno (Dicrocerus elegans) recolhidos em Sansan. As marcaes nesses ossos igualavam-se s dos ossos modernos.

Garrigou tambm mostrou que muitos dos fragmentos sseos tinham marcas de raspagem bem finas, como aquelas encontradas em ossos com tutano quebrados do Pleistoceno Superior. Segundo Binford, o primeiro passo para extrair o tutano dos ossos retirar a camada de tecido da superfcie ssea, raspando-a com uma ferramenta de pedra.

Pikermi, Grcia

Em um local chamado Pikermi, perto da plancie de Maratona, na Grcia, h um estrato rico em fsseis da era do Mioceno Superior (tortoniana), explorado e descrito por Albert Gaudry, preeminente cientista francs. Durante o encontro de 1872, em Bruxelas, do Congresso Internacional de Antropologia e Arqueologia Pr-histricas, o baro Von Ducker registrou que os ossos quebrados de Pikermi provavam a existncia de humanos no Mioceno. As autoridades modernas situam, ainda hoje, a rea de Pikermi no Mioceno Superior, o que conferiria aos ossos a idade de pelo menos cinco milhes de anos.

Foi no Museu de Atenas que Von Ducker examinou vrios ossos do stio de Pikermi pela primeira vez. Ele encontrou 34 partes de maxilar de Hipparion (um extinto cavalo de trs dedos) e de antlope, bem como dezenove fragmentos de tbia e 22 outros fragmentos de ossos de mamferos grandes, tais como os rinocerontes. Todos apresentavam vestgios de fraturamento metdico com o objetivo de extrair o tutano. Segundo Von Ducker, todos eles traziam "vestgios mais ou menos distintos de golpes de objetos duros". O baro observou, tambm, centenas de flocos sseos na mesma situao.

Alm disso, Von Ducker observou dzias de crnios de Hipparion e antlope, demonstrando a retirada metdica do maxilar superior a fim de extrair o crebro. As quinas das fraturas eram muito afiadas, o que em geral pode ser tomado como sinal de quebra por obra do homem, e no quebra por obra de carnvoros roedores ou presses geolgicas.

Mais tarde, Von Ducker viajou para o prprio stio de Pikermi para continuar suas investigaes. No decurso de sua primeira escavao, encontrou dzias de fragmentos sseos de Hipparion e antlope, registrando que cerca de um quarto deles apresentava sinais de quebra intencional. A esse respeito, deve-se ter em mente a descoberta de Binford quanto ao fato de os conjuntos de ossos quebrados, no decorrer da extrao humana de tutano, terem, cerca de 14% a 17% deles, sinais de cortes de impacto. "Eu tambm encontrei", afirmou Von Ducker, "entre os ossos, uma pedra de tamanho que pudesse ser pega na mo. pontuda de um lado, estando perfeitamente adaptada para fazer os tipos de marcas observadas nos ossos."

Dentes de Tubaro perfurados de Red Crag, Inglaterra

Em um encontro do Real Instituto Antropolgico da Gr-Bretanha e da Irlanda, realizado em 8 de abril de 1872, Edward Charlesworth, membro da Sociedade Geolgica, mostrou muitos espcimes de dentes de tubaro (Carcharodon), cada um com um orificio varando-lhe o centro, como o fazem os ilhus dos Mares do Sul com o objetivo de confeccionar armas e colares. Os dentes foram recolhidos da formao oriental de Red Crag, Inglaterra, indicando uma idade de aproximadamente 2 a 2,5 milhes de anos.

Charlesworth apresentou argumentos convincentes quanto aos motivos pelos quais animais marinhos como os moluscos perfuradores no poderiam ter feito os orifcios. Durante o debate, um cientista sugeriu a crie como causa dos orifcios, mas os tubares no costumam apresentar esse tipo de problema. Outro cientista sugeriu a ao de parasitas, porm, admitiu no ser de seu conhecimento a presena de parasitas em dentes de peixes.

A essa altura, o dr. Collyer opinou a favor da ao humana. A ata do encontro afirmava: "Com o auxlio de uma poderosa lente de aumento, examinara cuidadosamente os dentes de tubaro perfurados... As perfuraes, segundo seu ponto de vista, foram obra de algum homem". Entre outros, os motivos para sua declarao eram "as condies chanfradas das quinas das perfuraes", "a posio central dos orifcios nos dentes" e "as marcas de mtodos artificiais empregados para fazer as perfuraes".

Osso entalhado dos Dardanelos, Turquia

Em 1874, Frank Calvert encontrou, numa formao do Mioceno na TurlJuia (ao longo dos Dardanelos), um osso de Deinotherium com figuras de animais entalhadas nele. Observou Calvert: "Encontrei, em diversas partes do mesmo penhasco, no muito longe do stio do osso entalhado, uma lasca de pederneira e alguns ossos de animais, fraturados ao comprido, obviamente pela mo do homem, com o objetivo de extrair o tutano, segundo a prtica de todas as raas primitivas".

O Deinotherium elefantide, segundo o parecer de autoridades modernas, teria existido desde o Plioceno Superior at o Mioceno Inferior na Europa. Portanto, bem possvel que estivesse correta a datao, feita por Calvert, do stio dos Dardanelos como sendo do Mioceno. Hoje, diz-se que o Mioceno se estende de 5 a 25 milhes de anos antes do momento presente. Segundo o atual ponto de vista dominante, apenas homindeos excessivamente simiescos teriam existido durante aquele perodo. Mesmo uma data do Plioceno Superior, de dois a trs milhes de anos para o stio dos Dardanelos, seria por demais precoce para o tipo de artefatos ali encontrados. Segundo consta, os entalhes do tipo encontrado no osso do Deinotherium so obra de humanos anatomicamente modernos dos ltimos quarenta mil anos.

Em Le prhistorique, Mortillet no contestou a idade da formao dos Dardanelos. Ao contrrio, segundo comentou ele, a presena simultnea de um osso entalhado, de ossos quebrados intencionalmente e de uma ferramenta de lasca de pederneira era quase perfeita demais, perfeita a ponto de levantar dvidas sobre as descobertas. Isso bastante extraordinrio. No caso dos ossos incisos de St. Prest, Mortillet queixou-se de que no stio n:\o foram encontradas ferramentas de pedra ou outros sinais de presena humana. Mas nesse caso, com os itens indispensveis descobertos com o osso entaIhado, Mortillet disse achar o conjunto "perfeito demais", insinuando o embuste de Calvert.

No entanto, David A. Traill, professor de literatura clssica da Universidade da Califrnia em Davis, d a seguinte informao a respeito de Calvert: "Foi ele o mais destacado membro de uma famlia de expatriados britnicos muito conhecida nos Dardanelos [...]; ele tinha boas noes de geologia e paleontologia". Calvert realizou diversas escavaes importantes na regio dos Dardanelos, alm de ter participado da descoberta de Tria. Observou Traill: "Tanto quanto tenho podido verificar pelo muito que li de sua correspondncia, Calvert foi escrupulosamente veraz".

Balaenotus de Monte Aperto, Itlia

Durante o ltimo quarto do sculo XIX, apareceram na Itlia ossos fsseis de baleia apresentando marcas de corte. Em 25 de novembro de 1875, G. Capellini, professor de geologia da Universidade de Bolonha, relatou que as marcas haviam sido feitas quando o osso estava fresco, aparentemente com ferramentas de pederneira. Muitos outros cientistas europeus concordaram com a interpretao de Capellini. Os ossos com as citadas marcas eram de

uma baleia extinta (do gnero Balaenotus) do Plioceno. Alguns dos ossos eram de colees de museu, ao passo que outros foram escavados pessoalmente por Capellini em formaes do Plioceno ao redor de Siena, em locais como Poggiarone.

As marcas de corte nos ossos foram encontradas em lugares apropriados para operaes de abate, tais como as superfcies externas das costelas. Em um esqueleto da baleia quase completo escavado por Capellini, as marcas de corte s foram encontradas em ossos de um lado da baleia. "Estou convencido de que o animal encalhou na areia pelo lado esquerdo, tendo o lado direito ficado, desse modo, exposto ao ataque direto de humanos, como o demonstram os lugares em que se encontram as marcas nos ossos", disse Capellini. O fato de apenas os ossos de um dos lados da baleia terem sido marcados tende a descartar qualquer explicao puramente geolgica, bem como a ao de tubares no fundo do mar. Alm disso, as marcas de corte nos ossos fsseis de baleia assemelhavam-se exatamente quelas encontradas em ossos de baleias na atualidade.

No Congresso Internacional de Antropologia e Arqueologia Pr-histricas, Capellini relatou o seguinte: "Prximo aos restos do Balaenotus de Poggiarone, recolhi algumas lminas de pederneira, perdidas nos prprios depsitos litorneos". Acrescentou ele: "Com aquelas mesmas ferramentas de pederneira pude reproduzir, em ossos frescos de cetceos, as mesmssimas marcas encontradas nos ossos fsseis de baleia". Ele tambm observou que haviam encontrado restos esqueletais humanos na mesma parte da Itlia, em Savona (veja Captulo 7).

Aps o relato de Capellini, os membros do Congresso realizaram um debate. Alguns, tais como Sir John Evans, fizeram objees. Outros, tais como Paul Broca, secretrio-geral da Sociedade Antropolgica de Paris, concordaram com Capellini quanto ao fato de que as marcas nos ossos de baleia foram feitas por humanos. Em particular, Broca descartou a hiptese de que as marcas foram feitas por tubares e disse que apresentavam todo sinal de terem sido feitas por uma lmina afiada. Broca foi uma das principais autoridades em fisiologia ssea de sua poca.

Armand de Quatrefages estava entre os cientistas favorveis teoria de que os ossos de Balaenotus de Monte Aperto haviam sido cortados por instrumentos afiados manuseados pelo homem. Em 1884, ele escreveu: "Por mais que tentemos, usando diversos mtodos e instrumentos de outras matrias-primas, no conseguiremos duplicar as marcas. Apenas um afiado instrumento de pederneira, movido em certo ngulo e com bastante presso, poderia faz-Io" .

O assunto foi bem resumido por S. Laing, que escreveu o seguinte em 1893: "Os cortes apresentam curvas regulares, e s vezes quase semicirculares, que apenas o golpe da mo poderia ter provocado, e invariavelmente mostram uma superfcie de corte limpa no lado externo ou convexo, contra o qual se aplicou a presso de uma lmina afiada, com uma superfcie irregular ou esmerilhada na parte interna do corte. O exame microscpico dos cortes confirma essa concluso, sem deixar dvida de que tenham sido feitos por um instrumento como uma faca de pedra, seguro de forma oblqua e pressionado contra o osso ainda em estado fresco, com fora considervel - da forma que um selvagem faria ao retalhar a carne de uma baleia encalhada. Podemos fazer, hoje, cortes exatamente iguais em ossos frescos usando essas facas de pedra, mas no de alguma outra forma conhecida ou concebvel. Negar a existncia do homem tercirio, portanto, mais parece preconceito obstinado do que ceticismo cientfico, se se depender apenas desse caso especfico".

Binford, uma autoridade moderna, declarou: " pouco provvel que um observador de osso modificado confundisse marcas de corte, produzidas durante o desmembramento ou o descarnamento por obra do homem e seus instrumentos, com a ao de animais".

Mas os dentes de tubares (Figura 2.1) so mais afiados que os de carnvoros mamferos terrestres, tais como os lobos, e poderiam produzir marcas em osso mais parecidas com aquelas que poderiam ser feitas com instrumentos de corte. Aps examinarmos ossos fsseis de baleia na coleo de paleontologia do Museu de Histria Natural de San Diego, conclumos que os dentes de tubaro podem de fato fazer marcas bem parecidas com aquelas que poderiam ser feitas com instrumentos.

Os ossos que vimos eram de uma espcie de baleia pequena com barbatana do Plioceno. Examinamos os cortes no osso atravs de uma lente de aumento. Vimos estriamentos longitudinais e uniformemente paralelos em ambas as superfcies dos cortes. Essas so exatamente o tipo de marcas que se esperaria ver feitas pela borda dentada de um dente de tubaro. Tambm vimos marcas de raspagem no osso (Figura 2.2). Elas poderiam ter sido produzidas por um golpe oblquo, com a borda do dente a raspar a superfcie do osso em vez de cort-Ia.

Sabendo-se disso, seria possvel reexaminar os ossos de baleia do Plioceno encontrados na Itlia e chegar-se a algumas concluses bem definidas sobre se as marcas nos ossos foram ou no feitas por dentes de tubaro. Padres de estrias e sulcos paralelos nas superfcies dos fsseis seriam um sinal quase certo da ao predatria e necrfaga dos tubares. E se o exame minucioso de cortes profundos em forma de V tambm revelasse estriamentos longitudinais e uniformemente paralelos, isso deveria ser considerado como prova de que os dentes de tubares fizeram os cortes. No seria de esperar que as superfcies das marcas feitas por lminas de pedra revelassem estriamentos uniformemente espaados.

Halitherium de Pouanc, Frana

Em 1867, L. Bourgeois causou grande sensao ao apresentar, perante os membros do Congresso Internacional de Antropologia e Arqueologia Pr-histricas, reunidos em Paris, um osso de Halitherium com marcas que pareciam ser incises humanas. Halitherium um tipo de vaca marinha extinta, um mamfero aqutico da famlia dos sirendeos (Figura 2.3).

O Abade Delaunay descobrira os ossos fossilizados do Halitherium no leito de conchas em Barrire, perto de Pouanc, no noroeste da Frana. Delaunay surpreendeu-se ao ver, num fragmento do mero, um osso do brao, uma srie de marcas de corte. Alm de as superfcies dos cortes terem a mesma aparncia que o restante do osso, era fcil distingui-Ias de quebras recentes - indcio de que os cortes eram bastante antigos. O osso propriamente dito, o qual estava fossilizado, jazia firmemente engastado num estrato intocado, deixando bem claro que as marcas no osso e o osso tinham a mesma idade geolgica. Alm disso, a profundidade e a finura das incises mostravam que elas haviam sido feitas antes de o osso se fossilizar. Algumas das incises pareciam ter sido feitas por dois golpes interseccionais distintos.

Segundo admitiu o prprio Mortillet, elas no pareciam ser produtos de raspagens ou compresso subterrneas. Porm, ele no quis admitir que pudessem ser produto de obra humana, principalmente por causa da idade, ligada ao Mioceno, do estrato em que foram encontrados os ossos. Em 1883, Mortillet escreveu: "Isso antigo demais para ter a ver com o homem". Eis aqui outro exemplo claro de como preconceitos tericos impem a forma de interpretar um conjunto de fatos.

San Valentino, Itlia

Em 1876, numa reunio do Comit Geolgico da Itlia, M. A. Ferretti mostrou um osso fssil de animal apresentando "vestgios de manuseio humano, to evidentes como para excluir qualquer dvida do contrrio". Esse osso, de elefante ou rinoceronte, foi encontrado firmemente engastado em estratos astianos do Plioceno Superior em San Valentino (Reggio d'Emilie), na Itlia. de interesse especial o fato de o osso fssil ter um orifcio quase que perfeitamente redondo em sua rea mais larga. Segundo Ferretti, o orifcio no osso no foi obra de moluscos ou crustceos. No ano seguinte, Ferretti apresentou ao Comit outro osso com vestgios de obra humana. Esse foi encontrado em argila azul do Plioceno, de idade astiana, em San Ruffino. Este osso parecia ter sido parcialmente serrado em uma de suas extremidades, e depois quebrado.

Em uma conferncia cientfica realizada em 1880, G. Bellucci, da Sociedade Italiana de Antropologia e Geografia, chamou a ateno de todos para as novas descobertaS em San Valentino e em Castello delle Forme, perto de Pergia. As descobertas incluam ossos animais com cortes e marcas de impacto de instrumentos de pedra, ossos carbonizados e flocos de pederneira. Todas foram recolhidas de argilas lacustres do plioceno, caracterizadas por uma fauna semelhante quela do Val d'Arno clssico. Segundo Bellucci, esses objetos provavam a existncia do homem no Plioceno.

Clermont-Ferrand, Frana

Em fins do sculo XIX, o museu de histria naturaI em Clermont-Ferrand adquiriu um fmur de Rhinoceros paradoxus com sulcos em sua superfcie. O espcime fora encontrado num calcrio de gua doce em Gannat, o qual continha fsseis de animais tpicos do Mioceno Mdio. Houve quem sugerisse que os sulcos no osso foram causados por dentes de animais. Porm, Gabriel de Mortillet discordou, apresentando sua explicao habitual - o osso havia sido marcado pelo movimento de pedras sob presso geolgica.

Mas a prpria descrio feita por Mortillet das marcas no osso pe em dvida essa interpretao. As marcas de corte locaIizavam-se perto da extremidade do fmur, prximas das superfcies da articulao. Segundo Louis Binford, perito moderno em ossos cortados, essa seria a rea em que normalmente se encontrariam marcas de abate. Mortillet tambm disse que as marcas eram "sulcos paralelos, um tanto irregulares, transversais ao eixo do osso". Os estudos de Binford revelaram: "As marcas de corte de ferramentas de pedra so mais comumente feitas com um movimento de serragem que resulta em marcas curtas e freqentemente mltiplas, mas impetfeitamente paralelas".

Concha entalhada de Red Crag, Inglaterra

Em 1881, num relato transmitido Associao Britnica para o Avano da Cincia, H. Stopes (Membro da Sociedade Geolgica) descreveu uma concha, cuja superfcie trazia o entalhe de um rosto tosco mas inconfundivelmente humano. A concha entalhada foi encontrada nos depsitos estratificados de Red Crag, que tem entre 2 e 2,5 milhes de anos de idade.

Segundo argumentou Marie C. Stopes, filha do descobridor, em artigo publicado em The Geological Magazine (1912), a concha entalhada no poderia ter sido forjada: "Observe-se que as partes escavadas so de cor marrom-avermelhada to profunda quanto a do resto da superfcie. Isso um aspecto importante, pois, quando a superfcie das conchas de Red Crag so arranhadas, elas mostram um tom branco por baixo da cor. Repare-se, tambm, que a concha, de to delicada, ficaria simplesmente despedaada se tentssemos entalh-Ia". No devemos esquecer que, segundo a opinio paleantropolgica convencional, s vamos encontrar obras de arte como essa aps o perodo do inteiramente moderno Homem de Cro-Magnon, no Pleistoceno Superior, cerca de trinta mil anos atrs.

Instrumentos de osso encontrados embaixo de Red Crag, Inglaterra

No incio do sculo XX, J. Reid Moir, descobridor de muitos instrumentos de pederneira anomalamente antigos (veja Captulo 3), descreveu "uma srie de um tipo primitivo de instrumentos de osso mineraIizados encontrados abaixo do sop dos penhascos de SuffoIk chamados Red Crag e Coralline Crag". O topo de Red Crag em East Anglia considerado, hoje, a fronteira entre o Plioceno e o Pleistoceno, e por isso remontaria a cerca de 2 a 2,5 milhes de anos. A rea mais antiga de Coralline Crag data do Plioceno Superior e, portanto, teria pelo menos 2,5 a 3 milhes de anos. Os veios abaixo de Red Crag e Coralline Crag, os chamados veios de detrito, contm elementos com idades variando entre o Plioceno e o Eoceno. Logo, os objetos ali encontrados poderiam ter entre 2 e 55 milhes de anos de idade!

Um grupo de espcimes de Moir de forma triangular (Figura 2.4). Em seu relatrio, Moir declarou: "Todos esses espcimes formaram-se a partir de pedaos de osso amplos, lisos e finos, provavelmente partes de costelas grandes, as quais foram fraturadas de maneira a apresentarem a forma especfica atual. De qualquer modo, essa forma triangular foi produzida por meio de fraturas transversais ao 'veio' naturaI do osso". Tendo realizado experincias em ossos, Moir chegou concluso de que seus espcimes eram "sem dvida obras do homem". Segundo Moir, os pedaos triangulares de osso de baleia fossilizado descobertos nos estratos embaixo de Coralline Crag poderiam ter sido usados alguma vez como pontas de lana. Moir tambm encontrou costeIas de baleia que haviam sido transformadas em instrumentos pontudos.

Moir e outros cientistas tambm encontraram ossos incisos e instrumentos de osso em diversos nveis, dos mais novos aos mais antigos, do Cromer Forest Bed. Os nveis mais novos do Cromer Forest Bed tm cerca de quatrocentos mil anos; os mais antigos tm pelo menos oitocentos mil anos e, segundo algumas autoridades modernas, poderiam ter at 1,75 milho de anos.

Alm disso, Moir descreveu um osso descoberto por um certo sr. Whincopp, de Woodbridge em Suffolk, o qual tinha, em sua coleo particular, um "pedao de costela fssil parcialmente serrado no sentido transversal em ambas as extremidades". Esse objeto vinha do veio de detrito embaixo de Reg Crag e era, disse Moir, "considerado, tanto pelo descobridor quanto pelo falecido reverendo Osmond Fisher, uma evidncia indiscutvel de trabalho manual humano". Indcios de serragem seriam de todo inesperados em um osso fssil dessa idade.

S. A. Notcutt recuperou um pedao de madeira serrada do Cromer Forest Bed em Mundesley. A maior parte dos estratos de Mundesley tem cerca de quatrocentos a quinhentos mil anos de idade.

Comentando a respeito do pedao de madeira cortada, Moir fez as seguintes observaes: "A extremidade lisa parece ter sido produzida por meio de serragem com uma pederneira afiada, e a certa altura parece ter sido feita uma correo na direo do corte (Figura 2.5), como costuma ser necessrio quando se comea a cortar madeira com um serrote de ao moderno". Moir observou ainda: "A extremidade pontuda est um tanto escurecida, como se tivesse sido queimada, e possvel que o espcime represente uma primitiva vareta de cavar usada para arrancar razes".

Embora haja uma remota probabilidade de seres do tipo Homo erectus lerem estado presentes na Inglaterra durante a poca do Cromer Forest Bed, o nvel de sofisticao tecnolgica indicado por essa ferramenta de madeira serrada sugestivo de habilidades do tipo sapiens. De fato, difcil entender como simples instrumentos de pedra poderiam ter produzido essa espcie de serragem. Pequenas lascas de pederneira instaladas num cabo de madeira, por exemplo, no teriam produzido o corte perfeito evidente no espcime, porque o cabo de madeira teria sido maior que os dentes de pederneira. Portanto, no se poderia ter aberto um sulco estreito com tal instrumento. A lmina de um serrote feito apenas de pedra teria sido por demais quebradia e no teria durado o bastante para realizar semelhante operao. Alm do mais, teria sido uma proeza e tanto confeccionar semelhante lmina de pedra. Desse modo, fica parecendo que apenas um serrote de metal poderia produzir a serragem observada. Evidentemente, um serrote de metal h quatrocentos ou quinhentos mil de anos algo bastante anmalo.

digno de nota que os ossos incisos, os instrumentos de osso e outros artefatos oriundos dos veios de Red Crag e de Cromer Forest mal sejam mencionados em modelares livros didticos e obras de referncia da atualidade. Isso especialmente digno de nota no caso das descobertas em Cromer Forest, muitas das quais, do ponto de vista da idade, atingem o limite do aceitvel, segundo a moderna seqncia paleantropolgica de eventos.

Fosso de Elefante em Dewlish, Inglaterra

Osmond Fisher, membro da Sociedade Geolgica, descobriu algo interessante no panorama de Dorsetshire - o fosso de elefante em Dewlish. Fisher disse em The Geological Magazine (1912): "Este fosso, escavado em giz, tinha 3,60 metros de profundidade e largura suficiente para um homem passar por ele. No se encontra na linha de nenhuma fratura natural, e os veios de pederneira em cada lado correspondem entre si. O fundo era de giz intacto, e uma extremidade, tal qual os lados, era vertical. Na outra extremidade, abria-se diagonalmente em direo ao lado ngreme de um vale. Rendeu restos considerveis de Elephas meridionalis, mas nenhum outro fssil... Esse fosso, em minha opinio, foi escavado pelo homem em fins do Plioceno como uma armadilha para elefantes". O Elephas meridionalis, ou "elefante do sul", existiu na Europa de 1,2 a 3,5 milhes de anos atrs. Dessa forma, embora os ossos encontrados no fosso de Dewlish pudessem concebivelmente ser de idade equivalente ao Pleistoceno Inferior, poderiam datar, tambm, do Plioceno Superior.

As fotografias mostram que as paredes verticais do fosso foram cuidadosamente talhadas como que por meio de um grande cinzel. E Fisher referiu-se a relatos demonstrando que caadores primitivos dos tempos modernos faziam uso de fossos semelhantes.

No entanto, posteriores escavaes do fosso feitas pelo Dorset Field Club, conforme registra uma breve nota no jornal Nature (de 16 de outubro de 1914), revelaram que, "em vez de terminar num solo de fato em seu fundo, ele se divide para baixo numa cadeia de tubos estreitos e profundos giz adentro". Contudo, no improvvel que humanos antigos tivessem feito uso de pequenas fendas para abrir um fosso maior no giz. Valeria a pena examinar os ossos de elefante, encontrados no fosso, procura de sinais de marcas de corte.

Fisher fez outra descoberta interessante. Numa publicao de 1912, escreveu ele: "Quando cavava em busca de fsseis no Eoceno de Barton Cliff, encontrei um pedao de substncia parecida com o azeviche medindo cerca de 25 centmetros quadrados e 5,8 centmetros de espessura... Pelo menos em um de seus lados, trazia o que me pareceu serem marcas da machadada que o havia transformado numa figura precisamente quadrada. O espcime encontra-se hoje no Museu Sedgwick, em Cambridge". O azeviche uma espcie compacta de carvo de tom escuro aveludado que leva uma boa polida e costuma ser usado como jia. A poca do Eoceno remonta a cerca de 38 a 55 milhes de anos atrs.

Palavras de concluso sobre ossos intencionaImente modificados

realmente bastante curioso que tantos investigadores cientficos srios do sculo XIX e do comeo do sculo XX tenham, independente e repetidamente, registrado que as marcas em ossos e conchas de formaes do Mioceno, do Plioceno e do Pleistoceno Inferior fossem indcios de obra humana. Entre os pesquisadores responsveis por tais afirmaes, figuram Desnoyers, Quatrefages, Ramorino, Bourgeois, Delaunay, Bertrand, Laussedat, Garrigou, Filhol, Von Ducker, Owen, Collyer, Calvert, Capellini, Broca, Ferretti, Bellucci, Stopes, Moir, Fisher e Keith.

Estavam enganados esses cientistas? Talvez sim. Mas muito estranho alimentar iluses sobre marcas de corte em ossos fsseis - elementos nada romnticos ou inspiradores. Acaso os pesquisadores supramencionados foram vtimas de uma singular aberrao mental do sculo passado e do primeiro quarto deste sculo? Ou ser que as provas da existncia de caadores primitivos realmente abundam entre os vestgios faunsticos do Plioceno e de perodos anteriores?

Supondo-se que tais provas existam, poder-se-ia questionar por que no so encontradas hoje em dia. Uma tima razo para isso que ningum as tem procurado. Provas de obra humana intencional em ossos facilmente passariam despercebidas para um cientista que no estivesse ativamente procurando-as. Se um paleantroplogo est convencido de que no existiam seres humanos fabricantes de ferramentas no Plioceno Mdio, no provvel que ele d muita ateno natureza exata das marcas em ossos fsseis daquele perodo.

3. Elitos: As Pedras da Discrdia

Cientistas do sculo XIX encontraram muitas ferramentas e armas de pedra em estratos do Pleistoceno Inferior, do Plioceno, do Mioceno e em estratos mais antigos. Tais descobertas foram registradas em jornais cientficos convencionais, tendo sido tema de debate em congressos cientficos. Mas hoje, praticamente ningum ouve falar delas. Categorias inteiras de fatos desapareceram da vista do mundo.

Ns conseguimos, contudo, recuperar uma vasta reserva dessas provas "enterradas", e nosso exame delas nos levar desde as colinas de Kent, na Inglaterra, at o vale do Irrawady, em Burma. Alguns pesquisadores de fins do