a guerra do paraguai

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Quem ganhou a Guerra do Paraguai, o mais cruento conflito latino-americano, entre os anos de 1864 e 1870? Qual foi o verdadeiro papel dos Estados Unidos na guerra? Como era o cotidiano dos soldados das quatro nações envolvidas (Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai)? Quais os reflexos da conflagração nos dias de hoje? Essas e outras questões são respondidas nesta obra. Eu pensei que ia encrencar com esse livro. Olhando apenas seu título, me cheirou a tentativa de equivalência entre os dois lados na Guerra do Paraguai, e imaginei que a obra pudesse ser uma espécie de revisão da revisão da revisão ou seja, uma revisão da corrente historiográfica, cujo livro maior é a Maldita guerra (2002) de Francisco Doratioto, que derrubara a mitificação pró- Paraguai, cujo maior representante é Julio Chiavenato e seu Genocídio americano (1979), que por sua vez revisara a história brasileira oficial, militarista, do conflito. O livro de Doratioto conclui que realmente a história oficial estava cheia daquilo que nós não-especialistas chamamos de besteira, mas tal também é seu veredito em relação à tese de Chiavenato e outros esquerdistas que viam a Guerra em termos de um desprezível Brasil escravocrata aliado a uma Argentina e Uruguai manipulados, os três, por uma Inglaterra imperialista, contra um Paraguai quase socialista, tentando dignamente estabelecer-se como uma poderosa, independente e influente república. Pensei que Nem heróis, nem vilões pudesse estar firmemente entre Maldita guerra e Genocídio americano. Mas qual não foi minha surpresa ao ver que a orelha é assinada pelo próprio Francisco Doratioto alguém que eu cheguei a fantasiar resenhando o Nem heróis para o Amálgama, vejam só os senhores. Moacir Assunção não vê o Brasil como o lado do bem e o Paraguai como o lado do mal. Como aliás não viu Doratioto. As coisas foram mais complicadas. Para Assunção, das quatro nações diretamente envolvidas no conflito, apenas a Argentina pode-se dizer ter saído vencedora. Mas fica óbvio, na leitura de seu livro, que, na questão menor-dos-males (e essa foi a questão), o Brasil e seus aliados vencem o Paraguai. Embora o autor não seja tão enfático nessa conclusão quanto o foi Doratioto. Enquanto as simpatias da imprensa e autoridades dos Estados Unidos eram quase que exclusivamente dirigidas ao Paraguai de López, e a república do norte por pouco não entrou em guerra com o império do sul, o ministro (embaixador) dos Estados Unidos no Brasil durante a Guerra do Paraguai, Watson Webb, escreveu a seu chefe, o secretário de Estado William Seward, afirmando que “somente o ignorante e preconceituoso pode justificar sua simpatia para com López sob a alegação de que ele chama o Paraguai de república.” De fato. O mandatário estava mais para péssimo rei, e seu país estava mais para um especialmente desolador latifúndio, com traços que, como pode-se inferir a partir de algumas passagens do Maldita guerra, prefiguraram as piores ditaduras do século 20. O império brasileiro, em teoria um local com menos liberdade que a república paraguaia, tinha muito mais liberdade política e de imprensa que a nação vizinha. Leitores em dúvida, favor recorrer às páginas 302, 305 e 319 do livro de Assunção, que lidam com a vivacidade da imprensa brasileira e paraguaia durante a guerra. Nem heróis, nem vilões é organizado por subtemas, sem preocupação com a cronologia dos eventos. O leitor curtirá melhor suas páginas se antes já tiver passado por uma história geral da Guerra do Paraguai e quem já não passou, não é verdade? O capítulo sobre os antecedentes da guerra, que normalmente viria em primeiro, é aqui apenas o décimo. O primeiro é sobre os termos depreciativos que paraguaios usavam para se referir a brasileiros, brasileiros a paraguaios, argentinos a paraguaios, etc. Outro capítulo, o quarto, trata da postura pró-Paraguai dos EUA. Outro, o décimo quarto, examina brevemente cada uma das principais batalhas do conflito. O grande diferencial do trabalho de Moacir Assunção, em comparação a outros bons livros sobre a guerra, é estudar com igual cuidado o pós-guerra e fazer uma ponte entre o passado e a atualidade. O autor, por sinal, é jornalista antes de historiador. Temos, por exemplo, valiosas páginas sobre a guerra fria, por assim dizer, que opôs, no interior do próprio Paraguai, os ex-aliados Brasil e Argentina; após a queda de López, os dois maiores países da América do Sul passaram a uma disputa por hegemonia no país guarani, através das correntes colorada (Brasil) e liberal (Argentina). O ditador Stroessner (reinou de 1954 a 1989) foi apoiado pelo Brasil, o que rendeu aos governantes daqui excelentes acordos econômicos. Outras valiosas páginas analisam a situação dos agricultores “brasiguaios”, a esmagadora maioria dos quais é de pequenos proprietários de terra que contribuem positivamente para o saldo comercial do país, mas que, ainda assim, sofrem constantes hostilidades de políticos populistas. Ao mesmo tempo, a figura de López continua a ser reverenciada, não apenas em seu país, como também entre líderes de países vizinhos, como Cristina Kirchner. Moacir Assunção fez inúmeras viagens ao Paraguai profundo ao longo dos anos, e sua opinião de que alguns fantasmas do século 19 continuam entre nós merece ser ouvida com atenção. A Guerra do Paraguai durou seis anos e foi o maior conflito bélico que o Brasil participou e é o segundo maior do continente americano, perdendo somente para a Guerra de Secessão. O episódio é marcante na história brasileira e é recheado de particularidades, curiosidades, mitos e lendas. Para falar sobre este período da história do Brasil, Luciana Ferreira recebe nos estúdios da Jovem Pan Online Moarcir Assunção, jornalista, escritor e autor do livro "Nem heróis nem vilões", que traz novidades sobre a Guerra do Paraguai. Confira também a segunda parte da entrevista (aqui ) e a terceira (aqui ).

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Page 1: A guerra do paraguai

Quem ganhou a Guerra do Paraguai, o mais cruento conflito latino-americano, entre os anos

de 1864 e 1870? Qual foi o verdadeiro papel dos Estados Unidos na guerra? Como era o

cotidiano dos soldados das quatro nações envolvidas (Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai)?

Quais os reflexos da conflagração nos dias de hoje? Essas e outras questões são respondidas

nesta obra.

Eu pensei que ia encrencar com esse livro. Olhando apenas seu título, me cheirou a tentativa de equivalência entre os dois lados

na Guerra do Paraguai, e imaginei que a obra pudesse ser uma espécie de revisão da revisão da revisão – ou seja, uma revisão da

corrente historiográfica, cujo livro maior é a Maldita guerra (2002) de Francisco Doratioto, que derrubara a mitificação pró-

Paraguai, cujo maior representante é Julio Chiavenato e seu Genocídio americano (1979), que por sua vez revisara a história

brasileira oficial, militarista, do conflito.

O livro de Doratioto conclui que realmente a história oficial estava cheia daquilo que nós não-especialistas chamamos de

besteira, mas tal também é seu veredito em relação à tese de Chiavenato e outros esquerdistas que viam a Guerra em termos de

um desprezível Brasil escravocrata aliado a uma Argentina e Uruguai manipulados, os três, por uma Inglaterra imperialista,

contra um Paraguai quase socialista, tentando dignamente estabelecer-se como uma poderosa, independente e influente

república. Pensei que Nem heróis, nem vilões pudesse estar firmemente entre Maldita guerra e Genocídio americano. Mas qual

não foi minha surpresa ao ver que a orelha é assinada pelo próprio Francisco Doratioto – alguém que eu cheguei a fantasiar

resenhando o Nem heróis para o Amálgama, vejam só os senhores.

Moacir Assunção não vê o Brasil como o lado do bem e o Paraguai como o lado do mal. Como aliás não viu Doratioto. As coisas

foram mais complicadas. Para Assunção, das quatro nações diretamente envolvidas no conflito, apenas a Argentina pode-se

dizer ter saído vencedora. Mas fica óbvio, na leitura de seu livro, que, na questão menor-dos-males (e essa foi a questão), o Brasil

e seus aliados vencem o Paraguai. Embora o autor não seja tão enfático nessa conclusão quanto o foi Doratioto.

Enquanto as simpatias da imprensa e autoridades dos Estados Unidos eram quase que exclusivamente dirigidas ao Paraguai de

López, e a república do norte por pouco não entrou em guerra com o império do sul, o ministro (embaixador) dos Estados

Unidos no Brasil durante a Guerra do Paraguai, Watson Webb, escreveu a seu chefe, o secretário de Estado William Seward,

afirmando que “somente o ignorante e preconceituoso pode justificar sua simpatia para com López sob a alegação de que ele

chama o Paraguai de república.” De fato. O mandatário estava mais para péssimo rei, e seu país estava mais para um

especialmente desolador latifúndio, com traços que, como pode-se inferir a partir de algumas passagens do Maldita guerra,

prefiguraram as piores ditaduras do século 20. O império brasileiro, em teoria um local com menos liberdade que a república

paraguaia, tinha muito mais liberdade política e de imprensa que a nação vizinha. Leitores em dúvida, favor recorrer às páginas

302, 305 e 319 do livro de Assunção, que lidam com a vivacidade da imprensa brasileira e paraguaia durante a guerra.

Nem heróis, nem vilões é organizado por subtemas, sem preocupação com a cronologia dos eventos. O leitor curtirá melhor suas

páginas se antes já tiver passado por uma história geral da Guerra do Paraguai – e quem já não passou, não é verdade? O

capítulo sobre os antecedentes da guerra, que normalmente viria em primeiro, é aqui apenas o décimo. O primeiro é sobre os

termos depreciativos que paraguaios usavam para se referir a brasileiros, brasileiros a paraguaios, argentinos a paraguaios, etc.

Outro capítulo, o quarto, trata da postura pró-Paraguai dos EUA. Outro, o décimo quarto, examina brevemente cada uma das

principais batalhas do conflito.

O grande diferencial do trabalho de Moacir Assunção, em comparação a outros bons livros sobre a guerra, é estudar com igual

cuidado o pós-guerra e fazer uma ponte entre o passado e a atualidade. O autor, por sinal, é jornalista antes de

historiador. Temos, por exemplo, valiosas páginas sobre a guerra fria, por assim dizer, que opôs, no interior do próprio Paraguai,

os ex-aliados Brasil e Argentina; após a queda de López, os dois maiores países da América do Sul passaram a uma disputa por

hegemonia no país guarani, através das correntes colorada (Brasil) e liberal (Argentina). O ditador Stroessner (reinou de 1954 a

1989) foi apoiado pelo Brasil, o que rendeu aos governantes daqui excelentes acordos econômicos.

Outras valiosas páginas analisam a situação dos agricultores “brasiguaios”, a esmagadora maioria dos quais é de pequenos

proprietários de terra que contribuem positivamente para o saldo comercial do país, mas que, ainda assim, sofrem constantes

hostilidades de políticos populistas. Ao mesmo tempo, a figura de López continua a ser reverenciada, não apenas em seu país,

como também entre líderes de países vizinhos, como Cristina Kirchner. Moacir Assunção fez inúmeras viagens ao Paraguai

profundo ao longo dos anos, e sua opinião de que alguns fantasmas do século 19 continuam entre nós merece ser ouvida com

atenção.

A Guerra do Paraguai durou seis anos e foi o maior conflito bélico que o Brasil participou e é o

segundo maior do continente americano, perdendo somente para a Guerra de Secessão. O

episódio é marcante na história brasileira e é recheado de particularidades, curiosidades,

mitos e lendas. Para falar sobre este período da história do Brasil, Luciana Ferreira recebe nos

estúdios da Jovem Pan Online Moarcir Assunção, jornalista, escritor e autor do livro "Nem

heróis nem vilões", que traz novidades sobre a Guerra do Paraguai. Confira também a segunda

parte da entrevista (aqui) e a terceira (aqui).

Page 2: A guerra do paraguai

RESUMO DO LIVRO NEM HERÓIS, NEM VILÕES

Quem ganhou a Guerra do Paraguai, o mais cruento conflito latino-americano, entre os

anos de 1864 e 1870? Qual foi o verdadeiro papel dos Estados Unidos na guerra? Como

era o cotidiano dos soldados das quatro nações envolvidas (Brasil, Paraguai, Argentina

e Uruguai)? Quais os reflexos da conflagração nos dias de hoje? Essas e outras questões

são respondidas nesta obra de Moacir Assunção, fruto de anos de pesquisa e viagens aos

países envolvidos na conflagração. O livro conta com entrevistas da bisneta de López,

Gladys Solano López e intelectuais lopistas (defensores do legado do presidente

paraguaio), como o historiador Carlos Pucineri Scala e antilopistas como Manuel Peña,

no Paraguai.

http://www.youtube.com/watch?v=KCka_vrAONQ

http://www.youtube.com/watch?v=2JHy73BDDCU

http://www.youtube.com/watch?v=BZaWgB41Npg

http://www.youtube.com/watch?v=U118e4xAofs

http://www.youtube.com/watch?v=JRdg9SxStv0

http://www.google.com.br/#biw=1280&bih=580&sclient=psy-

ab&q=guerra+do+paraguai+causas+e+consequencias&oq=paraguai:+causas+&gs_l=serp.1.1.0i

5i30l4.7484.14459.0.17238.26.17.2.0.0.10.1975.8357.2-10j2j0j2j1j1j1.17.0...0.0...1c.1.15.psy-

ab.zq86wZFLESg&pbx=1&bav=on.2,or.r_qf.&fp=e02254375a8ea6fa

http://www.google.com.br/#sclient=psy-

ab&q=resumo+sobre+a+guerra+do+paraguai&oq=resumo+guerra+do+paraguai+&gs_l=serp.1.

1.0i30j0i7i30l3.51229.59650.0.63778.29.17.0.0.0.13.2002.13067.2-

3j5j0j1j4j2j1j1.17.0...0.0...1c.1.15.psy-ab.zS87C-D-

zM4&pbx=1&bav=on.2,or.r_qf.&fp=e02254375a8ea6fa&biw=1280&bih=580