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.EcitTAILYSIS 2/96 As greves dos trabalhadores blumenauenses: expressão da consciência economico- corporativa e um caminho à individualização da classe * on enauense possuía, em sua fase ini- cial, uma economia com bases na agricultura de sub- sistência, com mão-de-obra familiar, no dizer de Florestan Fernandes, de cooperação doméstica (FERNANDES, 1975:133). Mas a agricultura passa a não ser a única atividade econômica. O comércio vai se ampliando paralelamente ao aumento da pro- dução interna. Os chamados vendeiros, que não se dedicam ao trabalho no campo, tiveram função im- portante no desenvolvimento da Colônia, sendo os res- ponsáveis pela importação e exportação de merca- dorias. Também vieram a orientar os próprios colonos na aplicação das reservas monetárias. Comerciantes e colonos, chegados em torno de 1880, começam a dedicar-se à atividade capitalista e a montar, aqui, suas lojas de comércio e fábricas. "Os empresários eram comerciantes que acumularam capital a partir do comércio de produtos agrícolas da região" (SEYFERTH, 1987:104). As primeiras fábricas dedi- caram-se ao ramo alimentício, mas, aos poucos, fo- ram suplantadas pelas que se dedicavam à produção têxtil. A produção era, inicialmente, resultado da mão- -de-obra familiar, ou seja, divisão natural do trabalho. O aumento do mercado consumidor, para além da loca- lidade, ,exige, contudo, maior produção, ampliando o número de pessoal a trabalhar na fábrica, passando, então, à divisão voluntária do trabalho. Esta divisão que não é "...causada pela própria ação do homem se trans- forma para ele em força estranha, que a ele se opõe e o subjuga, ao invés de ser por ele dominada...." (MARX, 1989:29). Assim, os colonos que não possuíam um prós- pero comércio e uma produção agrícola suficiente para a subsistência familiar, em conseqüência da diminui- ção da terra da qual eram proprietário - diminuição pro- veniente da divisão nos processos de herança e vendas Vilma Margarete Simão** * O presente trabalho é uma síntese parcial da Dissertação, intitulada: Blumenau: Da indiferenciação Étnica à Diferenciação de Classe, orientada por Aldaíza Sposati, apresentada ao Programa de Pós- -Graduação em Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em março de 1995. ** Especialista em Educação Popular. Mestre em Serviço Social/ PUC - São Paulo, Professora do Departamento de Serviço Social da Universidade Regional de Blumenau.

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  • .EcitTAILYSIS2/96

    As greves dos trabalhadoresblumenauenses: expresso da

    conscincia economico-corporativa e um caminho individualizao da classe *

    on enauense possua, em sua fase ini-cial, uma economia com bases na agricultura de sub-sistncia, com mo-de-obra familiar, no dizer deFlorestan Fernandes, de cooperao domstica(FERNANDES, 1975:133). Mas a agricultura passaa no ser a nica atividade econmica. O comrciovai se ampliando paralelamente ao aumento da pro-duo interna. Os chamados vendeiros, que no sededicam ao trabalho no campo, tiveram funo im-portante no desenvolvimento da Colnia, sendo os res-ponsveis pela importao e exportao de merca-dorias. Tambm vieram a orientar os prprios colonosna aplicao das reservas monetrias.

    Comerciantes e colonos, chegados em torno de 1880,comeam a dedicar-se atividade capitalista e amontar, aqui, suas lojas de comrcio e fbricas. "Osempresrios eram comerciantes que acumularam capital apartir do comrcio de produtos agrcolas da regio"(SEYFERTH, 1987:104). As primeiras fbricas dedi-caram-se ao ramo alimentcio, mas, aos poucos, fo-ram suplantadas pelas que se dedicavam produotxtil.

    A produo era, inicialmente, resultado da mo--de-obra familiar, ou seja, diviso natural do trabalho.O aumento do mercado consumidor, para alm da loca-lidade, ,exige, contudo, maior produo, ampliando onmero de pessoal a trabalhar na fbrica, passando,ento, diviso voluntria do trabalho. Esta diviso queno "...causada pela prpria ao do homem se trans-forma para ele em fora estranha, que a ele se ope e osubjuga, ao invs de ser por ele dominada...." (MARX,1989:29). Assim, os colonos que no possuam um prs-pero comrcio e uma produo agrcola suficiente paraa subsistncia familiar, em conseqncia da diminui-o da terra da qual eram proprietrio - diminuio pro-veniente da diviso nos processos de herana e vendas

    Vilma Margarete Simo*** O presente trabalho uma snteseparcial da Dissertao, intitulada:Blumenau: Da indiferenciaotnica Diferenciao de Classe,orientada por Aldaza Sposati,apresentada ao Programa de Ps--Graduao em Servio Social daPontifcia Universidade Catlica deSo Paulo, em maro de 1995.** Especialista em EducaoPopular. Mestre em Servio Social/PUC - So Paulo, Professora doDepartamento de Servio Social daUniversidade Regional deBlumenau.

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    em pocas de produo insuficientepara pagamento de dvidas contra-das para o plantio -, tornam-se ope-rrios e se submetem a esta ativi-dade, mantendo, porm, suas ati-vidades rurais, por eles dominadas."...O trabalho do campo e o da fbricase articulavam e o lavrador-operrio'completava os salrios da fbrica comos seus rendimentos do trabalho dalavoura" (SEYFERTH, 1987:105).

    Esta dupla condio levava no-identificao dos operrios en-quanto tais, pois na condio decolonos no se apresentavam nascondies de classe trabalhadora,eram proprietrios. A no-cons-cincia de sua condio de classeera reforada pela identidade tnicacom seus patres que possuam ati-tudes fordista. Exemplo disto foi apostura de Bruno Hering que era,ele mesmo, o "... responsvel pelaparte social da empre5a, tentou dar,alm da assistncia material, apoiomoral e espiritual aos seus colabora-dores e, com essa finalidade, criouuma biblioteca. Verificando que a fre-qncia era pouca, passou ele mesmoa ler textos noite aos operrios, nasala de refeies da fbrica..." (HE-RING, 1987:102). Alm disso, cuida-vam dos problemas de moradia,alimentao, sade, etc. A mais-valia, no plano ideolgico, noexistia, para aqueles operrios."Realavam-se as relaes prximas,primrias, e a organizao social,peculiar a regio, se mantinha tra-dicional, apesar das transformaesestruturais, pelas quais lentamentevo passando a economia agrria emdireo economia industrial capi-talista" (CASTRO, 1992:84).

    Misturavam-se salrio e solida-riedade nas relaes de etnia. Oscolonos-operrios, trabalhavam nasfbricas, mas ainda consideravam

    sua principal atividade a agricultu-ra. "A ligao com a terra, assim, oelemento definidor do colono-ope-rrio, enquanto categoria social dife-rente do operrio. A propriedade daterra garante a manuteno da condi-o camponesa, mesmo que um oumais membros da famlia sejam ope-rrios" ( SEYFERTH, 1987:119). Ocolono buscava emprego quandoperdia uma colheita, com dvidacontrada sem poder saldar ouquando ocorria a partilha da pe-quena propriedade com a morte doschefes da famlia. Com isso a rendafamiliar era complementada com ossalrios.

    Essa condio do operrio naprimeira fase de industrializaomesclando relaes desolidariedade resultante daidentidade tnica, contribuiu para afalta de identidade coletiva econscincia da contradio declasses nas relaes sociais e polti-cas, levando no-existncia demovimentos prprios dos trabalha-dores.

    Com o avano da produocapitalista e o aumento daimigrao para Blumenau, dapopulao de municpios vizinhos elitorneos, a composio dooperariado e dos trabalhadores emgeral, vai se tornando,culturalmente, mais heterognea e acondio de colono-operrio vai sealterando pela baixa produoagrcola. Os salrios, que inicial-mente eram consideradossuplemento de renda, passam a sermuito mais importantes para asobrevivncia do que a renda obtidana lavoura. Assim, comeam a surgirmovimentos prprios da classetrabalhadora, que os levavam afixar-se na defesa dos interesses eco-nmicos da prpria categoria

    profissional. So estes movimentos,todavia, a base para a construoda solidariedade de interesses declasse e destes para a participaona administrao pblica e,finalmente, o fortalecimento de umpartido que possa representar osinteresses histricos da classetrabalhadora.

    Movimentos de Greve dosTrabalhadores de Blumenau

    Os industriais blumenauensesorganizaram a sociedade civil local,criando instituies para a melhoriadas condies materiais que lhespossibilitassem um maior acmulode capital, como foi o caso da funda-o da empresa de fora e luz, daestrada de ferro, linha telefnica eoutros. Chegaram at a solicializarcom os operrios aes da empresafora e luz para defender seusinteresses j que continuavammantendo relaes autoritrias comseus empregados. A postura diantedas greves ser de uso da fora re-pressiva e do prprio capital.

    No final dos anos de 1920, houveum pequeno movimento de greve deexpresso na cidade. No entanto,esta atingiu apenas uma das fbri-cas j existentes, a empresa Garcia3que se situava num bairro de maiorcontingente populacional de origemnativa, ou seja, imigrantes de Itaja,Tijucas e outros.

    A empresa Garcia, que sempreesteve envolvida nos movimentos degreve, possua em seu quadro fun-cional um nmero significativo detrabalhadores que no eram dedescendncia alem. Tambm assu-miu a representao no Executivolocal, em 1966, o proprietrio daArtex S.A., que encampou a empresaGarcia, o que mostra o peso polticoque representam nas foras locais. A

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    nica empresa txtil que, ao longoda histria, registrar somente umagreve, esta em 1989, a Cia Heringque, ao mesmo tempo, foi a maispresente na vida pblica da cidade,pois elegeu, repetidas vezes, repre-sentantes para o Legislativo e oExecutivo Locais. Alm disso, quasesempre os empregados destaempresa assumiram a direo doSindicato dos Trabalhadores dasIndstrias Txteis de Blumenau.Ocorria, portanto, o claro mono-plio do poder do Estado local nasmos destes dirigentes empresariais.

    No ano em que fundada aprimeira instituio de crdito na re-gio, 1907, o Sindicato Agrcola domunicpio de Blumenau, so realiza-das as primeiras greves de trabalha-dores: a dos estivadores da Cia Flu-vial de Navegao e dos funcionriosque trabalhavam na construo daEstrada de Ferro de Santa Catarina(E.F.S.C.). No entanto, esta greve deluta por melhores salrios, em que amaioria era de cor negra, foisolucionada atravs de demisses,acontecendo o mesmo com ostrabalhadores da CompanhiaFluvial.

    A terceira greve ocorreu emfevereiro de 1912. Os cocheiros de Blu-menau declararam-se em greve por noquererem pagar a licena policial quepassaram a lhes exigir Blumenau ficou,durante 15 dias, sem seus carros demola. No h registro do desfecho dessemovimento. O movimento no estavanuma relao com patro e sim comEstado. O mesmo vai acontecer com agreve de 13 de maro de 1918, quandoos operrios das oficinas da EFS.C. sedeclararam em greve por ter o governoencampado a estrada. No h maioresregistros que possibilitem o conheci-mento das razes da greve, podendoesta ter sido desencadeada para preser-

    var o vnculo empregatcio e pleitearmelhorias salariais. A greve durou at06 de abril de 191&

    Em 1920, ano de grandesmovimentos grevistas no Brasil, Blu-menau integrava-se a essemovimento. Em 08 de junho de 1920deu-se incio greve dos traba-lhadores da Empresa Garcia, na lutapor melhores salrios. O desfechofinal deste movimento se diferenciade todos os demais, pois como resul-tado no se tem apenas demissesdos integrantes, mas tambm aexpulso do territrio nacional dedois alemes: Fritz Koch e GeorgSteruck, considerados anarquistas eportanto perigosos cidade eameaa ao capital. A imprensa domunicpio se dividiu. O Jornal doBrasil e "Der Urwaldsbote"publicam elogios atitude tomadapelas "...autoridades locais no inte-resse da famlia blumenauense, dapopulao ordeira e trabalhadoradeste municpio e da integridadenacional" (Jornal BRASIL). Mani-festavam, tambm, intolerncia aideologias comunistas, assimdizendo: "Tanto quanto sabemos soos primeiros alemes que so ex-pulsos do territrio nacional poratitudes socialistas ou bolchevistas(...),j constatamos anteriormenteque o marxismo e anarquismo, se domuito bem" ("Der Urwaldsbote", 27/07/20). Sobre a expulso dos doisanarquistas, o Jornal "BlumenauZeitung", que defendia a causa dosrepublicanos, divulgou um manifestodo deputado Celso Bayma que diziaque os operrios Koch e Sterneck,desenvolveram, em Blumenau umaatividade instigadora, que levou greve os operrios da fbricaGarcia. Bayma cita as testemunhasargidas pela polcia. Entre elas, oredator do jornal "Der

    Unvaldsbote" e um diretor comer-cial confirmaram que o "Urwaldsbo-te", jornal que defendia as causas dopangermanismo4 e nesse momento sepronunciava contra os anarquistas,divulgara a pretenso dos doisoperrios expulsos em destruir a usi-na eltrica do Salto. O "BlumenauZeitung" publica a verso dosoperrios que se diziam inocentes. Ojornal os colocava como lamentveism4rtires dos pangermanistasperseguidos nas pessoas de Koehlere Franquet ("Der Urwaldsbote", 3/09/1920:02).

    Na cidade, porm, houve polmi-ca em conseqncia de tal ato,aqueles que compartilhassem damesma posio ideolgica dosexpulsos, defendendo-os, mesmo quesem fora para evitar que fossem de-portados do Brasil, representavamperigo para o capital, dado o eco daRevoluo Russa - 1917 - queressonava em todo o mundo.Estavam as classes hegemnicas domundo capitalista a combater aproposta socialista, atravs dadesarticulao dos movimentos dostrabalhadores e com fortespropagandas anticomunistas.

    No ano de 1920, de acordo como Censo do ferido ano, de 72.213habitantes, 28.530 constituam apopulao ativa de Blumenau. Des-tes, 82% trabalhavam na agricultu-ra, 5% nos principais ramos daindstria, 4% no servio domstico e2,3% no comrcio, mostrando que aeconomia ainda era predominante-mente agrcola. Dos recursos os queocupavam maior nmero de pessoas,destacavam-se: vesturios - 453operrios; edificao - 300operrios; metalurgia - 267operrios; mobilirio - 188 oper-rios; alimentao - 108 operrios;madeiras - 61 operrios; txtil - 55

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    operrios, etc (SINGER, 1968:124-125).

    um parque industrial aindamodesto, no entanto, nada desprez-vel, pois o Brasil, em 1920, era umpas pouco industrializado. Poroutro lado, sendo a agricultura pre-dominante no municpio, a vidaurbana era pouco desenvolvida e ascontradies sociais ainda poucopercebidas, fazendo com que apopulao ficasse pouco solidriaao movimento de greve. Alm do queos alemes Fritz Koch e GeorgSteruck foram acusados de preten-der a destruio da Usina Eltrica,atingindo os interesses de toda apopulao. Mas o que estava por detrs de toda esta aparente defesa dosinteresses da comunidade, era umaprofunda luta poltica entrepangermanistas e antipangerma-nistas, pois entre eles estariam os taisoperrios anarquistas que se toma-vam perigosos por sua capacidade deliderana e organizao dostrabalhadores. Isto tudo mostraquanto os poderes econmico epoltico estavam organicamentevinculados aos interesses do capital eo pangermanismo, uma organizaoque visava ao pleno desenvolvimentodo capitalismo, ambos, poltico eeconmico, estavam em perfeitaarticulao e tudo faziam para man-t-la.

    Alm da luta poltica entrepangermanistas (alemestradicionais) e antipangermanistas,cuja razo de ser era a concepo deEstado e nacionalidade permeadapela questo da etnia, Blumenau co-mea a baixar a importao percpita ao eclodir da la GrandeGuerra. Dois fenmenos "...exgenos economia de Blumenau se fizeramsentir sucessivamente: a enchenteque acarretou um influxo de bens sem

    contrapartida (donativos) e a GuerraMundial, que forou a reduodrstica das importaes do exterior.A reduo das importaes globaisde Blumenau, devido guerra signi-fica que estas importaes erampredominantemente do exterior..."(SINGER, 1968:122). Estes fenme-nos, sem dvida, interferiram naqualidade de vida da populao eda classe trabalhadora, que se vsem condies de manter suasobrevivncia com o salrio quevinha recebendo.

    Ainda neste perodo ocorre outragreve, embora sem maior repercus-so no municpio. O fato, porm, nosmostra que as contradies iam setomando cada vez mais emergentes.Em 1921, os condutores de carro demola, durante dez dias ficaramparalisados motivados pelo preoda carteira de habilitao quepassou a ser exigida. No existem re-gistros que possibilitem o conheci-mento do desfecho do movimento.

    Apesar de Blumenau ter vividono decorrer da segunda guerra mun-dial seu pice econmico,politicamente viver perodos degrande instabilidade e de grandeinterferncia da poltica do governocentral, com a poltica de nacio-nalizao, que leva ao fechamentode jornais, escritos na lngua alem,alterao de nome de ruas, a-fastamento dos imigrantes daadministrao municipal e de suasprprias indstrias, organizaespolticas e outros.

    Passada a Guerra, a indstria txtilbrasileira perdeu seus mercados exter-nos e entrou num perodo de crise e osmovimentos dos operrios retomam suafora nos anos 40 e em 1950.

    Greve de 1950- mais um Movimentoque Nasce "Espontneamente"

    Em 1950 deflagrada, a maiorgreve da histria de Blumenau. Omovimento de paralisao permane-ceu durante 29 dias. As fbricas queparalisaram foram: Gases Medici-nais Cremer S.A., Chapus Nelsa,Algotex, Grfica Catarinense eEmpresa Garcia, todosreivindicavam aumento de salrios.O movimento, espontaneamente, sema direo do Sindicato, iniciadopela Empresa Industrial Garcia. OSindicato no apoiou o movimentode greve, por consider-la violenta ede ms maneiras, conforme posio do Presidente, expressa ementrevista: "eu era contra a greve,sempre fui. E dizia sempre para osoperrios que com boas maneiras seconsegue muito mais, do que comesta violncia que vocs esto fazen-do... " (DIAS, 1985: 99). Na verdade,a direo do Sindicato, que alm deatrelada ao Estado era cooptadopelo empresariado, j no atendiaaos interesses dos donos do capital,por no agirem de forma que asgreves fossem evitadas. No estavaeste sujeito poltico coletivo con-tribuindo para a imposio dosinteresses do empresariado, sem aexistncia de conflitos entre capitale trabalho. Por isso, a direo doSindicato sofrer alterao (leia-se,SIMO, 1995).

    O movimento de greve foidecretado ilegal, reafirmando a abo-lio do direito de greve no ano de1946 pelo Presidente Dutra. RaulCaldas, Delegado do Ministrio doTrabalho em Santa Catarina, veio aBlumenau objetivando a conciliaodos interesses das classes e parasolicitar aos trabalhadores queretornassem ao local de trabalho,para dar continuidade s negocia-

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    es, porm, sem xito. Os diretoresda Empresa Industrial Garcia(maior empresa em greve, 1200operrios) "...condicionaramqualquer atendimento ao afastamentodos empregados do local, devendoos mesmos se dirigir para suas resi-dncias, embora continuassem emgreve" (A NAO, 18102/1950). Noentanto, os operrios no aceitaramessa imposio e permaneceramjunto aos portes da fbrica,demonstrando sua fora e organi-zao. Essa atitude dos trabalhado-res levou o juiz de direito da co-marca de Blumenau, Oscar Leito, acaracterizar o movimento de carterno-pacfico e de cunho subversivo."As greves, de acordo com a CLT edo Decreto 9070 da constituio,foram sempre consideradassubversivas e por isso semprecombatidas, empregando-se desdecacetetes aos tanques e tropasregulares" (DIAS, 1985:102). Osempresrios de Blumenau, por suavez, no diferindo desta prtica, notardaram em lanar "mo" dos apa-relhos repressivos, objetivando adefesa dos interesses da classe. oque nos mostra a reportagem de Jor-nal A NAO (19/0211950):

    " meia-noite, os choques poli-ciais rumaram para o local,atacando os grevistas combombas de gs lacrimogneo,ao mesmo tempo que dispa-ravam tiros de metralhadorase fuzis para o ar No conse-guiram, porm, abrir os por-tes, pois a eles se agarravamdesesperadamente os grevistasembora cegados momentanea-mente pelo gs. (...) No se re-gistrou qualquer reao con-tra os policiais muito emboraos operrios se agarrassem aosportes impedindo que fossemabertos..."

    No obstante toda a campanhacontra a greve feita na imprensa, apresso dos empresrios e arepresso policial, para que ostrabalhadores retornassem s ativi-dades, o movimento prosseguiu.Mas, para a continuidade do movi-mento, era necessrio que atitudesfossem tomadas no sentido de possi-bilitar a manuteno do mesmo.Para tanto no na dia de greve, osoperrios, sem perspectiva desoluo para suas reivindicaes,organizaram uma campanha de ali-mentos em nvel local e estadual.Esta campanha recebeu o apoio dolder petebista local, OctaclioNascimento, e de Saulo Ramos,Deputado Estadual do PTB (DIAS,1985: 105 ).

    O domnio econmico manifestopelo uso da represso continuou,levando os trabalhadores a cederems presses. Com a virada do ms, omovimento comeou a declinar Ostrabalhadores da Algotex voltaramao trabalho, cedendo s exignciasdas autoridades. O fato que maiscontribuiu para o retorno foram asnotcias sobre as demisses de ex-grevistas da Fbrica de ChapusNelsa, divulgadas no Jornal A NA-O (10M/1950: 01): "Nada menosde doze operrios que participavam dagreve na Fbrica de Chapus Nelsa,foram sumariamente despedidos, sen-do que outros, que j haviam adqui-rido estabilidade foram suspensos poralguns dias do servio ".

    Diante do quadro conjunturallocal, os trabalhadores decidemretornar s atividades. No entanto,por intermdio do Ministrio dotrabalho, condicionam o retorno garantia de que os empresrios noadotariam represlias contra osintegrantes do movimento. Contudo,aps o retorno dos trabalhadores s

    suas atividades, o delegado especialda Polcia abriu inqurito para apu-rar os responsveis pelo movimento.Conseqentemente, comearam asdemisses nas fbricas, como pode-mos observar no artigo do jornal, AFOLHA, 15 de maro de 1950. Nestareportagem h, tambm,manifestaes do interesse da comu-nidade no atendimento s reivindi-caes para evitar novas greves queprejudicassem a economia do muni-cpio. "...Espera-se que o entendi-mento entre patres e empregadosque forem feitos nesse sentido, sejamlevados a bom termo a fim de evitar arepetio do movimento grevista orafindo, cujas conseqncias repercu-tiam profundamente em nossa econo-mia..." Esta preocupao existia porter a greve adeso total dos traba-lhadores, e num perodo longo. Acidade paralisou. Alm disso, aimprensa dizia que essas reaeseram previsveis e evitveis, atravsdo entendimento entre trabalha-dores e empresrios, sem o uso dagreve, que lhes era assegurado pelalegislao social. Mas, se os traba-lhadores, que tinham seus salriosachatados, entravam em greve, eraporque seus direitos no estavamsendo respeitados e nem defendidospela entidade de representaoprofissional cooptado pelo empresa-rindo. Sem uma direo sindicalatuante, sem organicidades na de-fesa dos interesses da classe, osoperrios, espontaneamente,organizavam o movimento dereivindicao por melhores salrios,mas mesmo num movimento quenasce espontaneamente vosurgindo sujeitos, do prprio movi-mento, que passam a dar direo. Noentanto, com o trmino da greve, ostrabalhadores perdem seus dirigen-tes que surgiram com o movimento e

  • 1C4.17,41-YSIS1/96 mantiveram a organicidade defen-dendo os interesses da classe. Os em-presrios os demitem por no conse-guir coopt-los, como mostra oartigo do Jornal A NAO.

    "... nas diversas indstrias emque se verificam as greves, osseus diretores pretendem fazer;antes de tudo, um expurgo entreseus operrios, demitindo os queencabearam o movimento pa-redista. Trata-se de uma medidaque se justificaria em casos iso-lados de insubordinao, pormno recomendvel na presenteconjectura, onde o movimentoteve a participao e o apoio datotalidade do operariado" . (AFOLHA, 15/03/1950).

    No decorrer dos anos da dcadade 50 rbitros da Liga Blumenauen-se de Futebol entram em greve noms de setembro", reivindicandoaumento nas taxas de arbitragem. Altima da dcada foi realizada, em1959, pelos motoristas de transpor-tes de madeira, o que mostra que omovimento dos trabalhadores no serestringe aos dos setor txtil, apesardo ramo ser o de predominncia nomunicpio.

    13 de maro de 1989 -O Dia em que Blumenau Parou

    Em 1988, d-se incio altera-o da direo no Sindicato dosTrabalhadores Txteis de Blumenaupela organizao de urna chapa deoposio que concorreria s elei-es do Sindicato. Os dirigentes queat ento conseguiram manter-se frente da entidade de representaoprofissional dos txteis, foramapoiados pelo empresariado quetudo fez para a manuteno dedirigentes que defendessem osinteresses do patronato, desde a no

    divulgao do edital de convocaodas eleies, a atos mais repressivos,como demisso de lideranas queiam emergindo. No entanto, noconseguiram conter a organizaodos trabalhadores que searticulavam e se mantinham longedo controle do empresrio, alm dodescontentamento latente nos oper-rios que tinham, cada vez mais, seussalrios diminudos com a inflao;excesso de trabalho com a implan-tao do terceiro turno, que alm detudo dificultava o encontro familiar;pois os dias de descanso no maisseriam comuns a todos os trabalha-dores. O Sindicato nada fazia paraalterar a situao de diminuioexorbitante do poder aquisitivo,tanto assim que a oposio assumiua direo do Sindicato e os traba-lhadores deflagraram greve dacategoria.

    O surgimento da oposio sindi-cal provocou a reao dos empres-rios, que perseguiram, segundoKrzizanowski, os integrantes da cha-pa com o intuito de impedir, deinviabilizar o seu registro. Umadestas medidas foi a demisso sum-ria de uma mulher integrante dachapa, doze dias antes do registrodesta. No entanto, a chapa contor-nou o problema e obteve seu regis-tro. Como ltima tentativa, na noiteque antecedeu as eleies, foi distri-budo um panfleto, como sendo dachapa oposicionista, com propostasde defesa do horrio de trabalho noperodo das 22 horas de sexta-feiras 9 horas de sbado para o terceiroturno, o que era amplamente repu-diado pelos trabalhadores. Entre-tanto, a chapa de oposio conse-gue sua vitria nas eleies de 14 dedezembro de 1988, com a propostade construo de um sindicalismoautnomo, combativo e de classe

    (KRZTIANOWSKI, 1992:49).O Sindicato dos Trabalhadores

    Txteis, o maior sindicato de Blume-nau, com aproximadamente 30 milassociados na regio.' de Blumenau,possui poder de influncia nasociedade local. Blumenau vive, de-pois de muitos anos, movimento degreve dos trabalhadores. Os blume-nauenses contagiam-se com aparalisao no incio do ano de1989. As assemblias so realizadasna rua principal, no centro da cida-de, com a participao macia dostrabalhadores que vinham a p at ocentro, pois tambm o transportecoletivo paralisou suas atividades.

    Com tantos planos econmicos, aolongo da histria brasileira, a classetrabalhadora tinha, e continua tendo,seus salrios arrochados. E, em 1989,mais um plano elaborado pelogoverno federal, era imposto: o"Plano Vero". Para se manifestaremcontra mais um arrocho conseqenteda defasagem salarial deste plano, asCentrais Sindicais: Central nica dosTrabalhadores (CUT) e Central Geraldos Trabalhadores (CGT)mobilizaram os trabalhadores parauma Greve Geral em maro de 1989.Visando a mobilizao dostrabalhadores para a Greve Geralmarcada para os dias 14 e 15 demaro, organizado pelas centraissindicais, no dia 1 de maro, o "DiaNacional de Mobilizao Pela GreveGeral ", acontecendo grandes manifes-taes: passeatas; planfletagem emportas de fbricas, ponto de nibus enas ruas de o todo pas como atos derepdio ao "Plano Vero". Estamobilizao prossegue e os dias queantecederam a greve tambm forammarcados por passeatas, assemblias,greves de alguns setores, etc. Todoesse movimento ia conscientizando ostrabalhadores para que, ento, nos

  • dias 14 e 15 de maro, a greve tivesseampla adeso, com fora para pres-sionar o governo no sentido deatender s reivindicaes dostrabalhadores encaminhadas pelasCentrais Sindicais: recuperaoimediata das perdas salariais acumu-ladas desde o Plano Cruzado, calcula-da pelo DIEESE em 41% a 49% (con-forme categoria profissional) emrelao mdia de maro de 1986;congelamento real dos preos;medidas contra a recesso e o de-semprego; execuo da reformaagrria e formulao de uma polticaagrcola de interesse dostrabalhadores; no pagamento dadvida externa defendida pela CUTsuspenso temporria do pagamentoda dvida externa defendida pela CGT

    nesta conjuntura, em 1989, que deflagrada a greve dos trabalha-dores txteis de Blumenau, que seestende a todos os trabalhadores dacidade.

    Os 21 Sindicatos' do Vale haja,com sede em Blumenau, no dia 1 demaro - Dia Nacional deMobilizao pela Greve Geral,organizaram uma manifestao noCentro da cidade, nas escadarias daIgreja Matriz de So Paulo Aps-tolo, com a participao de,aproximadamente, dois miltrabalhadores, nmero irrelevantepara uma cidade industrializada. Noentanto, faltando trs dias para oincio da Greve Geral em nvelnacional, comea a se alterar oquadro que indicavadesmobilizao local. Grevesisoladas comearam a emergir noprincipal ramo industrial de Blume-nau: txteis. Mais uma vez omovimento de paralisao se inicioude forma espontnea, mas logo anova diretoria do Sindicato dosTrabalhadores Txteis assume a

    direo do movimento de greve dacategoria.

    A Tecelagem Kuenrich, TEKAS.A., foi a primeira empresa em queos operrios paralisaram suasatividades, acontecendo logo aps orecebimento do contracheque defevereiro e no dia seguinte seestendendo para as empresas: SulFabril, Cremei; Maj, Hering eoutras. "O motivo determinantedessas paralisaes era o arrochosalarial que havia corrodo o poderaquisitivo dos trabalhadores, fazendocom que grande maioria nopudessem cobrir nem os gastos coma cooperativa" (KRZIZANOWSK1,1992:81). Nesse sentido, ostrabalhadores estavam sem asmnimas condies de manterem asua sobrevivncia. Com a cidadevivendo um clima de greve e com avitria da oposio no Sindicato, ostrabalhadores txteis facilmente semobilizariam na defesa de seusinteresses primrios, comer e morai;no garantidos pelo salrio queestavam recebendo, ou seja, nenhum,pois o salrio no era suficiente,sequer, para saldarem as dvidascontradas nas cooperativas deconsumo mantidas pela fbrica.

    Motivados por estes movimentos,os dirigentes sindicais de Blumenau,em assemblia Intersindical, no dia12 de maro, decidem antecipar aGreve Geral, chamada pelasCentrais Sindicais em nvelnacional. E no dia 13 de maro de1989 "...70% do comrcio estava deportas fechadas. As indstriastxteis, maior empregadora de mo-de-obra, viu 90% dos empregados debraos cruzados. As escolas parali-saram: 50 mil alunos da redemunicipal, estadual e a Universidade(FURB) ficaram sem aulas. Dos 43bancos somente alguns abriram

    precariamente..." (KRZIZANOWSKI,1992:81). Tambm entram em greveos motoristas e cobradores, portempo indeterminado, paralisando otransporte coletivo. Ostrabalhadores da indstriametalrgica, das fbricas debrinquedos, Cristais e daConstruo Civil tambm entraramem greve. Eram os trabalhadores deBlumenau retomando seu prpriomovimento na defesa de seusinteresses, mas com uma diferena,neste ano de 1989 a cidade de Blu-menau paralisou suas atividades etodos os trabalhadores, que noapenas os txteis, se movimentaramem luta pelos seus interesses.

    A Greve Geral de Blumenautermina no segundo dia da GreveGeral chamada pelas CentraisSindicais: CUT e CGT No dia 15 demaro, pelo acordo feito com ossindicatos patronais e empresasisoladas, 50% dos trabalhadoresvoltam s atividades, tambmvoltando a funcionar o transportecoletivo, dando a impresso que acidade voltava vida cotidiana Noentanto, continuam em greve ostrabalhadores txteis e osmetalrgicos.

    Os proprietrios das empresas,cujos trabalhadores continuavam emgreve, no assistiam ao movimentosem se utilizarem dos aparelhos"privados" de hegemonia. Atravsda imprensa escrita e faladatentavam reforar o senso comum deque o trabalhador de Blumenau ordeiro pacfico,

    "...atravs de veiculao de co-mercial na televiso, onde umacriana vestida de preto e bran-co corria por um jardim e umavoz ao fundo clamava peloesprito ordeiro e trabalhadordo povo blumenauense, que es-

  • ICA.TAZ:YSIS1/96

    tava sendo ameaada por agi-tadores profissionais que que-riam quebrar a paz e harmo-nia reinante nas empresas dacidade", nota distribuda aosjornais da cidade dizendo: 'Otrabalhador blumenauenseconstruiu uma cidade com umdos melhores padres de vidado Brasil, e isto foi conseguidopelo trabalho e no custa degreves'..." (KRZIZANOWSKI,1992:86).

    Como a classe patronal noconseguia organizar o consenso,passou a se utilizar da repressopolicial. Atravs desta, impediam aformao de piquetes e garantiam oacesso dos que continuavam atrabalhar "...Houve inclusivemomento de tenso e confronto entregrevistas e policiais, resultando emprises e agresses. (...) Algunsdesses operrios detidos apresenta-vam marcas de violncia policial, comgolpes de cassetete, chutes e socospelo corpo" (KRZIZANOWSKI,1992:86). Tambm ameaaram comadmisso de novos operrios paraocupar as vagas dos que continua-vam em greve e no dia 16 de maro,em nota nos jornais da cidade, oSindicato patronal avisava quefariam cadastramento geral. Outratentativa de reprimir o movimentofoi a publicao de uma nota, narede de televiso local, que dizia:

    "A voc, que pensa em no vol-tar ao trabalho nesta segunda-feira:PERDER - 33,1% no salrio;PERDER - 50% do adicionalsobre as horas normais traba-lhadas at o fim do ms de mar-o;PERDER - o parcelamento dosdias parados (em trs vezes) apartir de abril, sendo desconta-

    dos de uma s vez no ms demao.Poder ser demitido.LEMBRETE - neste ms serdescontado um dia do seu sal-rio para o sindicato dos traba-lhadores (contribuio sindical)A GREVE DESNECESS-RIA. VOLTE AO TRABALHO"(ICRZILANOWSKI, 1992:87).

    Esta nota passava com grandefreqncia, de minuto em minuto,causando impacto em toda apopulao que a via e lia,logicamente, provocando grandetenso entre os trabalhadores emg, eve e, ao mesmo tempo, as classesse acirravam na defesa de seusinteresses. De um lado, os traba-lhadores que continuavam em grevee de outro o patronato que senegava a negociar com os grevistas.Exigiam o retorno s atividadespara ento realizarem as negocia-es. Nem mesmo com a intervenoda Delegacia Regional do Trabalho,com Paulo Soar; as negociaesforam reabertas.

    Os trabalhadores das indstriasmetalrgicas tambm continuavamem greve, mas sem o apoio dadireo do sindicato e da comissode negociao organizada, ficandoas negociaes sob a direo daConfederao e ainda com oagravante da data base ser no msde abril e no maro, argumentoutilizado pelo patronato. Enquantoisso, os trabalhadores txteis conta-vam com uma direo sindicalorgnica que, naquele momento,mantinha sua organicidade. Mas acategoria no ultrapassava apostura corporativista e nada faziano sentido de pressionar os pro-prietrios das indstrias metalr-gicas para abrirem as negociaes.

    Diante da intransigncia daclasse patronal, o presidente doSindicato dos Trabalhadores daFiao e Tecelagem de Blumenau foia Braslia, para uma audincia coma Ministra do Trabalho, DorotiaWerneck. Tambm estava presente oDeputado Federal Vilson de Souza,eleito pelo PSDB. Ambos solicitaram Ministra sua interveno nosentido de reabrir as negociaes.Nesta reunio, foram discutidos:1) a Portaria 3.078, que instituiu osistema de rodzio e adotado pelaempresa ARTEX S.A., que permitia ofuncionamento da fbrica durante24 horas, com autorizao doMinistrio do Trabalho por tempoindeterminado, mas a cada doisanos se realizaria uma percia paracomprovar se as condies daempresa se adequavam lei. O prazode dois anos se encerraria no dia 31de maro e os trabalhadores eramcontrrios sua renovao,principalmente, por este interferir naconvivncia familiar, pois o operriotinha apenas um final de semana defolga, em cada ms; 2) o outro pontode pauta da reunio foi a duraoda jornada de trabalho do terceiroturno. Questo esta que j estava noTribunal Regional do Trabalho. AMinistra se comprometeu a entrarem contato com esta instituio einterferi; caso necessrio. Asquestes discutidas nesta reuniocom a Ministra mostram a explo-rao do patronato e a revolta dostrabalhadores.

    A iniciativa do Presidente doSindicato de ir a Braslia e o pedidode dissdio coletivo, foraram aclasse patronal a negociar com osgrevistas, atravs do Sindicato. Emreunio, os representantes dasIndstrias de Fiao e Tecelagem edos trabalhadores chegaram a uma

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  • .FeetITALYSIS2196 cato: amparo aos filhos de traba-lhadores txteis e assistnciamdica, fossem de grandeimportncia para o trabalhador.Estes servios foram oferecidosdentro do jogo do mercado, no secaracterizando como direito univer-sal, pois com a resciso do contratode trabalho, o trabalhador perde odireito de usufruir dos benefciossociais oferecidos atravs do Sindi-cato. Desta direo, emerge umrepresentante poltico que sevincular aos interesses da classedominante.

    Os movimentos especficos daclasse trabalhadora, em Blumenau,se iniciam na segunda dcada de1900, com movimento de cunhopuramente economicista, no seconstituindo uma particularidade, ese estendendo at a oitava dcadade 1900. O interesse comum destaclasse eram os salrios, que os uniacontra o patro para garanti-los oumelhor-los. No existiram, durantelongo perodo de tempo, lutas nadefesa e desenvolvimento da prpriaorganizao e, muito menos, lutasque defendessem interesses de toda aclasse. Um trabalhador txtil noera solidrio a outro do mesmoramo, at mesmo do mesmo local detrabalho, no existindo unidadeentre todos os trabalhadores sequerdo mesmo ramo, j que os sindicatosno unificavam as lutas dostrabalhadores do ramo. Esta visoeconomicista do movimento e a no--existncia da solidariedade declasse, permite a caracterizaodeste perodo como o primeiromomento da conscincia polticaque, segundo Gramsci, econmico--corporativo.

    Mesmo j existindo um sindicatoorganizado no significava que ostrabalhadores tivessem conscincia

    de classe, mesmo que esta conscin-cia se limitasse solidariedade noplano meramente econmico. Osegundo momento da conscincia declasse definido por Gramsci comoa conscincia da solidariedade deinteresses entre todos os membros dogrupo social, mas ainda no campomeramente econmico. "...Neste mo-mento j se coloca a questo do Esta-do, mas apenas visando alcanar umaigualdade poltico-jurdica com osgrupos dominantes: reivindica-se odireito de participar da legislao e daadministrao e, talvez, de modific-las, reform-las, mas nos quadrosfundamentais j existentes"(Gramsci, 1980:51). A passagempara este segundo momento marcada pela candidatura de AldoPereira de Andrade , mesmo quecooptado pelos empresrios, repre-sentava a reivindicao dos traba-lhadores em participarem da admi-nistrao pblica. Esta reivindica-o tambm se manifestou, comoser analisado no prximo captulo,com a organizao do partido doMovimento Democrtico Brasileiro(MDB) pela base.

    Mas, a construo de umavontade poltica coletiva, ou seja,individualizao da classe,independncia em relao s demaise ascendncia de uma luta no planouniversal, comea a se fazer presentena candidatura de AmndioCastellain' a vice-prefeito peloPartido dos Trabalhadores, em1988, e emergindo, definitivamente,a partir da greve de 1989 . , de fatoa partir deste movimento que os'sindicatos mudam suas direes,como tambm se integram aorganizaes que extrapolam aogrupo imediato, por exemplo, Central nica dos Trabalhadores(CUT). Assim, adquirindo, conforme

    Gramsci, conscincia de que os pr-prios interesses corporativossuperam o crculo corporativo degrupo meramente econmico, e po-dem e devem tornar-se os interessesde todos os trabalhadores. Alm dafiliao em centrais nacionais detrabalhadores, .o partido, que podecongregar interesses individua-lizados dos trabalhadores, comea ase fortalecer. Este fato se confirmacom o resultado eleitoral, para avaga no Executivo local, de 1992,no qual, segundo dados do TribunalRegional Eleitoral, o Partido dosTrabalhadores fez jus a 16% dosvotos. Esta a fase mais abertamentepoltica, que assinala, segundoAntnio Gramsci, (1980:50) apassagem ntida da estrutura para aesfera das superestruturas com-plexas; a fase em que as ideologiasanteriormente se transformam empartido. O partido "... a primeiraclula na qual se aglomeram germesde uma vontade coletiva que tendema se tornar universais e totais"(GRAMSCI, 1980:06).

    Palavras-chaves: conscincia declasse, sindicato, greve, ideologia,vontade coletiva.

    FONTES DE PESQUISA

    ACIB. Blumenau 90 anos de memria.Blumenau, 1989.

    JORNAL "BRAZIL". Greve dosTrabalhadores de Navegao.Traduo de Edith Sophia Eimer,Blumenau, 25 de julho de 1920.

    JORNAL A CIDADE. Greve dosTrabalhadores Txteis. Blumenau,Santa Catarina, 15 de maro de1950.

    JORNAL A FOLHA. Greve dosTrabalhadores Txteis. Blumenau,11 de maro de 1950.

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  • .7,42-24.1.1'5151/96

    Sindicato dos Trabalhadores nasIndstrias de Fiao e Tecelagemde Blumenau. Dissertao deMestrado em Histria, UFSC, Flo-rianpolis, outubro de 1991.

    SEYFERTH, Giralda. Aspectos deProletarizao do Campesinato noVale do itaja (SC): os colonos-operrios. In Cultura eIdentidade Operria. Rio deJaneiro, UFRJ, 1987.

    SILVA, Jos Ferreira da Silva.Histria de Blumenau. EdioFundao "Casa Dr Blumenau",Blumenau, 1988.

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    DIFERENCIAO DE CLASSEDissertao de Mestrado. SoPaulo, Pontifcio UniversidadeCatlica de So Paulo, 1995.

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    SINGER, Paul. Desenvolvimentoeconmico e evoluo urbana:anlise da evoluo econmica deSo Paulo, Blumenau, Porto aAlegre, Belo Horizonte e Recife.So Paulo, Editora Nacional eEditora da USP, 1968.

    Endereo para contato: RuaGeneral Osrio 1525, apt 303Bairro Velha - Blumenau - SCCEP: 89041- 001

    NOTAS3 Da qual Blumenau teve como represen-

    tante na sociedade poltica,Henrique Probst e Frederico G. Busch,que proprietrios foram desta empresa.

    Pangermanismo significava que oalemo teria uma relao poltica como Estado brasileiro e defenderia daexistncia de apenas um partido, comliderana alem sobre a massa. Um

    Estado para os alemes, independenteda sua nacionalidade (territorial), queser sempre alem. O movimentocontrrio: antipangermanistas, noteriam apenas uma relao polticacom o Estado brasileiro e, sim, patri-tica, embora ainda mantendo a suanacionalidade alem, pois j nasceramno Brasil. Logo so teuw-brasileiros,cuja relao com a Alemanha semantm apenas por laos sangneos.

    "...A `organicidade' s pode ser do centra-lismo democrtico, que um centralismoem movimento, isto , uma contnuaadequao da organizao ao movimentoreal, um modo de temperar os impulsos dabase com o comando da cpula, uminserimento contnuo dos elementos quebrotam do mais fundo da massa na cornijaslida do aparelho de direo que asseguraa continuidade e a acumulao regular dasexperincias..." (GRAMSCI, 1980:83).

    " Os associados do Sindicato dosTrabalhadores Txteis so de Blu-menau, Gaspar e Indaial.

    7 Sendo as diretorias sindicais deBlumenau cooptadas pelo patronato eestes esto na direo da mobilizaopr-Greve Geral, indica que os empre-srios desta regio, estavam tambmcontra o plano e portanto favorveis amobilizao dos trabalhadores, noentanto, a greve na cidade fugir aocontrole das direes sindicais.

    8 Aldo Pereira de Andrade teve destaquena poltic.a local, comeando suacarreira em 1954. Sua atuao poltica iniciada atravs do Sindicato dosTrabalhadores da Indstria de Fiao eTecelagem, onde permanece comopresidente no perodo de 1958 a 1966,na qual por ele reforada a polticaassistencialista, concretizando com acriao da Associao de Amparo aosfilhos dos Trabalhadores de Fiao eTecelagem de Blumenau. Em 1958, foisuplente de Deputado Estadual. Em1965 e 1972, Aldo Pereira de Andradecandidatou-se, no se elegendo, aogoverno local, pelo partido da UnioDemocrtica Nacional - UDN, com oapoio do industrial Ingo Hering, seuex-patro. Em 1962, novamenteeleito para a Assemblia LegislativaEstadual, sendo o deputado maisvotado pelo partido da UDN. Em 1968,

    n Donntnn mai, vnineln nn PtaWn

    de Santa Catarina, sendo neste mesmo anoo 2a Vice-Presidente da Asemblia e, nobinio entre 1971 - 1972, o la Vice-Presidente da Assemblia. Faleceu em 20de maio de 1986.

    " Em agosto de 1989, a chapa de oposio,denomida "A Grande Virada", recebe amaioria dos votos, dos associados aoSindicato dos Trabalhadores nas IndstriasMetalrgicas e de Materiais Eltricos,passando a ter uma direo no cooptadapelo os empresrios deste ramo. AmndioCastellain o integrante desta chapa nafuno de presidente, no perodo 1989 -1992, e atualmente integra a diretoriacolegiada que d a direo a esteSindicato.

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