a gramática de joão de barros

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A GRAMÁTICA DE JOÃO DE BARROS: CONTEXTO HISTÓRICO E CONCEITOS TEÓRICOS. Estudo de Ana Lúcia Tinoco Cabral e Nílvia Pantaleoni A GRAMÁTICA DE JOÃO DE BARROS: CONTEXTO HISTÓRICO E CONCEITOS TEÓRICOS Ana Lúcia Tinoco Cabral e Nílvia Pantaleoni INTRODUÇÃO Esta exploração da segunda gramática da língua portuguesa procura contextualizá-la na vertente greco-romana das gramáticas ocidentais. A escolha não recaiu sobre a primeira gramática da língua, de Fernão de Oliveira, mas sobre a segunda pelo fato de esta contemplar todas as partes de uma gramática tradicional: fonética, morfologia e sintaxe, sistematizando, com fins pedagógicos, pela primeira vez, a língua portuguesa. Traça-se o perfil do fenômeno da gramatização no Ocidente, apresentando o panorama histórico e gramatical em que se insere a gramática de João de Barros; abordam-se conceitos teórico-gramaticais fundamentais que se desenvolveram, ao longo dos séculos, a partir de Platão, com a finalidade de fornecer subsídios para a leitura crítica da obra de João de Barros; e finalmente relatam- se as observações elaboradas durante a leitura crítica. Cumpre esclarecer que este estudo não tem a pretensão de esgotar o assunto, constituindo-se numa análise que visa apenas a resgatar conceitos importantes que permeiam o processo de gramatização que se inicia com os filósofos gregos culminando no Renascimento. 1.1 HISTÓRIA DAS GRAMÁTICAS NO OCIDENTE: O FENÔMENO DA GRAMATIZAÇÃO É próprio de todo ser humano, em relação à língua que utiliza, independente do grau de instrução que possui ou do meio cultural em que vive, um saber que Auroux (1992) denomina saber linguístico que é múltiplo e principia na consciência do indivíduo. Este saber é epilinguístico, universal, quando se refere ao saber inconsciente que todo locutor possui da natureza da linguagem em geral e da natureza de sua língua em particular; é saber metalinguístico quando exige do indivíduo uma elaboração especulativa – situada puramente no elemento da representação abstrata – ou uma elaboração de natureza prática – utilizada

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Page 1: A Gramática de João de Barros

A GRAMÁTICA DE JOÃO DE BARROS: CONTEXTO HISTÓRICO E CONCEITOS TEÓRICOS. Estudo de Ana Lúcia Tinoco Cabral e Nílvia Pantaleoni

A GRAMÁTICA DE JOÃO DE BARROS: CONTEXTO HISTÓRICO E CONCEITOS TEÓRICOS

Ana Lúcia Tinoco Cabral e Nílvia Pantaleoni

INTRODUÇÃO

Esta exploração da segunda gramática da língua portuguesa procura contextualizá-la na vertente greco-romana das gramáticas ocidentais. A escolha não recaiu sobre a primeira gramática da língua, de Fernão de Oliveira, mas sobre a segunda pelo fato de esta contemplar todas as partes de uma gramática tradicional: fonética, morfologia e sintaxe, sistematizando, com fins pedagógicos, pela primeira vez, a língua portuguesa. Traça-se o perfil do fenômeno da gramatização no Ocidente, apresentando o panorama histórico e gramatical em que se insere a gramática de João de Barros; abordam-se conceitos teórico-gramaticais fundamentais que se desenvolveram, ao longo dos séculos, a partir de Platão, com a finalidade de fornecer subsídios para a leitura crítica da obra de João de Barros; e finalmente relatam-se as observações elaboradas durante a leitura crítica. Cumpre esclarecer que este estudo não tem a pretensão de esgotar o assunto, constituindo-se numa análise que visa apenas a resgatar conceitos importantes que permeiam o processo de gramatização que se inicia com os filósofos gregos culminando no Renascimento.

1.1 HISTÓRIA DAS GRAMÁTICAS NO OCIDENTE: O FENÔMENO DA GRAMATIZAÇÃO

É próprio de todo ser humano, em relação à língua que utiliza, independente do grau de instrução que possui ou do meio cultural em que vive, um saber que Auroux (1992) denomina saber linguístico que é múltiplo e principia na consciência do indivíduo. Este saber é epilinguístico, universal, quando se refere ao saber inconsciente que todo locutor possui da natureza da linguagem em geral e da natureza de sua língua em particular; é saber metalinguístico quando exige do indivíduo uma elaboração especulativa – situada puramente no elemento da representação abstrata – ou uma elaboração de natureza prática – utilizada pelo falante quando se propõe à aquisição de um determinado domínio. Citam-se, como principais, em relação ao saber metalinguístico, três domínios: no campo do saber lógico, a capacidade de o locutor tornar sua fala adequada a uma determinada finalidade compreende o domínio da enunciação; no campo do saber gramatical, destacam-se o domínio das línguas – falar ou compreender a língua materna ou outra língua – e o domínio da escrita.

A aquisição do domínio da escrita, sem dúvida, foi precedido de inúmeras reflexões metalinguísticas que se perderam para sempre, justamente pela impossibilidade de registro de todas as especulações que deram origem ao processo de objetivação da linguagem representado pela aquisição desse domínio. A escrita teve inicialmente um papel mnemotécnico. Listas de palavras eram gravadas, possibilitando a sua conservação fora da memória de um indivíduo particular, dando a oportunidade de que outros indivíduos tivessem acesso a uma determinada informação, apesar da ausência de seu produtor. No século V a.C., na Grécia, a escrita vai transpor mais um patamar: de simples suporte mnemônico do oral, transforma-se no objeto de uma verdadeira leitura. Ao lado da produção de textos para serem

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lidos, temos o nascimento e o desenvolvimento da filologia que trata da leitura e da decifração de textos antigos, iniciando-se a longa tradição exegética dos textos homéricos na época helenística, constituindo uma disciplina filológica que se aplica à crítica de textos, e que vai levar à criação das gramáticas que se tornarão mais tarde independentes. A gramática surge, portanto, como parte do estudo literário característico da época helenística.

Neves (1987) aponta a distinção que os gregos estabeleciam entre o filólogo e o gramático: “O termophilólogos se refere àquele que se interessa pela cultura em geral; o que tenta a revisão crítica dos textos e a compreensão da obra literária se chama mais especificamente grammatikós. Este não só explica as obras como também as julga; reconhece ou não a sua autenticidade, aponta suas belezas e defeitos. Faz a correção dos textos e exerce julgamento em geral; é, portanto,um crítico, atividade que representa o poder de decidir como juiz das obras escritas”.

A tradição especificamente gramatical no Ocidente inicia-se com os gramáticos alexandrinos, que exerciam a função de bibliotecário chefe da Biblioteca de Alexandria. Considerada a mais célebre biblioteca da Antiguidade, reuniu filósofos, matemáticos, pesquisadores nas mais diversas áreas, além de tradutores. Teria possuído cerca de 700.000 títulos entre obras poéticas, literárias e científicas, com inúmeras traduções que abrangiam grande parte da produção intelectual das diversas línguas do Mediterrâneo, Oriente Médio e Índia. Foi incendiada em 47 a.C. após a entrada de César em Alexandria; foi reconstruída e novamente destruída em 391. Lamenta-se até hoje seu acervo perdido.

O primeiro bibliotecário foi Zenódoto de Éfeso (325-234 a.C.). Primeiro editor crítico de Ilíada e daOdisséia de Homero, não possuía ainda critérios gramaticais para a revisão e fixação dos textos, organizou uma lista com as palavras raras que encontrou nos textos de Homero. Aristófanes de Bizâncio (257- 180 a.C.), sucessor de Zenódoto, editou além dos textos homéricos, outros autores clássicos como Anacreonte, Píndaro e, provavelmente, Sófocles e Ésquilo. Ele não chegou a construir um sistema gramatical, contudo sistematizou a acentuação e a pontuação, fez algumas considerações a respeito da etimologia, e, em relação às desinências, fixou as distinções de gênero, de caso e de número. Em seguida, Aristarco da Samotrácia (215-145 a.C.) continua a tradição dos gramáticos alexandrinos. Infelizmente, todos os seus originais foram perdidos, conhecemos seu trabalho a partir dos comentários de seus discípulos. Aristarco estendeu seus estudos e publicações dos autores gregos da época helênica, fazendo uma exegese minuciosa, buscando os fatos de uso linguístico, não chegando, contudo, ao estabelecimento de regras. Acredita-se que todo conhecimento gramatical de seu tempo era dominado por ele. Conseguiu, em seus trabalhos, reconhecer oito partes do discurso: nome, verbo, particípio, pronome, artigo, advérbio, preposição e conjunção.

O verdadeiro organizador da arte da gramática na Antiguidade foi, sem dúvida, Dionísio de Trácia (170-90 a.C.), discípulo de Aristarco. Ele também se preocupou com o estabelecimento da autenticidade dos textos homéricos, pesquisando especialmente a analogia das formas sonoras. Dessa maneira, em seu pequeno manual, temos uma grande parte reservada aos estudos da fonética e o restante refere-se à morfologia, ignorando completamente a sintaxe.

Três séculos mais tarde, um outro bibliotecário da Biblioteca de Alexandria, Apolônio Díscolo (primeira metade do século II d.C.), além de ter preocupação com a fonética, dedicando uma

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obra aos sons elementares, Dos elementos e com a morfologia, escrevendo separadamente sobre as oito partes do discurso, já anteriormente estabelecidas por Aristarco da Samotrácia, será o primeiro gramático a tratar da sintaxe das partes do discurso. De sua obra, apenas chegaram até nós os seguintes trabalhos gramaticais: Do pronome, Das conjunções, Dos advérbios e Da sintaxe das partes do discurso.

Em relação à língua latina, os principais gramáticos que retomam e continuam os trabalhos gregos são: Varrão (116-?27 a.C.), Donato ( século IV) e Prisciano (século V). Marco Terêncio Varrão viveu em Roma, na época de César que o encarregou da organização de bibliotecas públicas. De suas 650 obras, apenas restaram três: Res rusticae, fragmentos de Res divinae e partes de um tratado de gramática, De lingua latina. O início da obra apresenta sua definição de Gramática:

A gramática tem sua origem no alfabeto; o alfabeto representa-se sob a forma de letras; as letras juntam-se em sílabas; uma reunião de sílabas produz um grupo sonoro interpretável; os grupos sonoros interpretáveis juntam-se em partes do discurso; as partes do discurso pela sua soma formam o discurso; é no discurso que se desenvolve o falar bem; exercitamo-nos no falar bem para evitarmos os erros.

Varrão. De língua latina. Apud Bastos (1981)

Os estudos gramaticais de Donato encontram-se reunidos em suas obras Ars Minor e Ars Maior que apresentam uma minuciosa descrição fonética da língua latina e um pouco de morfologia, contudo ignoram completamente a sintaxe, que vai ser estudada um século mais tarde por Prisciano que a define como “a disposição que visa a obtenção de uma oração perfeita”. Sua obra Institutio de arte grammatica, manual largamente usado durante toda a Idade Média para o ensino da gramática latina, vai influenciar, mais tarde, a partir do Renascimento, a constituição das gramáticas vernáculas.

O início da Idade Média, no século V, com a queda do Império Romano no Ocidente, é marcado pelas inúmeras invasões bárbaras que não lograram dissipar as influências clássicas (gregas e latinas) que foram administradas pela Igreja Católica a seu bel-prazer. Não podemos deixar de lembrar que a língua oficial adotada pela Igreja Católica no Ocidente foi o latim que, evidentemente, não era mais o clássico e que a língua oficial adotada pelo catolicismo ortodoxo que vai se fixar na parte oriental do Império Romano e vai perdurar até a queda de Constantinopla, no século XV, foi o grego. Dessa forma, a divisão do Império Romano em duas partes, com a sobrevivência da metade oriental, vai provocar uma ruptura cultural articulada em torno das duas línguas: o latim e o grego.

No Ocidente, a preocupação da Igreja em preservar o latim através sobretudo do ensino gramatical pode ser observada, por exemplo, pelas prescrições de Isidoro de Sevilha que, no século VII, escrevia sobre a necessidade “do conhecimento satisfatório da gramática para compreender, sem o auxílio da pontuação, onde termina um grupo de palavras, onde a frase fica em suspenso e onde, finalmente, se completa o sentido”, apud Buescu (1978).

No Renascimento, a gramática como ciência de observação da linguagem, deixa necessariamente de ser latina e passa a incidir sobre as realidades das línguas vernaculares

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representadas pelo francês, espanhol, português, entre outras. Essas línguas surgiram basicamente a partir do latim, tomando cada uma características próprias pelo fato, principalmente, de terem sofrido a influência de diversos substratos e superestratos. Essas línguas, que podemos chamar de modernas, estarão definitivamente codificadas no final do século XVI, através das gramáticas que passam a assumir também um caráter normativo. O papel primordial dessas gramáticas, segundo Fávero, é duplo: a descrição da língua e o estabelecimento de regras, visando à garantia da hegemonia linguística nacional. (7o Congresso Brasileiro de Língua Portuguesa – PUC/SP, 1998).

O latim, durante todo o Renascimento, momento da fixação das línguas vernaculares, não é repudiado, ele vai continuar até o século XVIII a ser a língua da ciência e a liturgia católica apenas na segunda metade do século XX vai deixar de empregá-lo. Esta convivência entre o latim (notadamente na escrita, nos textos litúrgicos prefixados e mais na incontestável influência literária que vai exercer em todo Ocidente) e as modernas línguas europeias é salientada por Meillet:

Les langues nationales ont eu beau prendre de l’importance, servir depuis la Réforme à des fins religieuses, devenir l’expression de la science; derrière toutes les langues de civilisation du monde moderne, on sent le modèle latin, souvent dans des emprunts évidents, et, à défaut d’emprunts avoués, d’une manière également certaine sous des transpositions où se reconnait le modèle latin. C’est en imitant l’articulation des phrases latines que les prosateurs européens ont apris l’art d’écrire. La partie intellectuelle de toutes les langues littéraires de l’Europe occidentale est nourrie de latin.

MEILLET, A. Esquisse d’une histoire de la langue latine. 1948.

Vale observar como o desenvolvimento e a consolidação dos países europeus, a partir do final do século XV, são acompanhados e solidificados pela preocupação dos intelectuais com o aprofundamento dos saberes metalinguísticos que vão se concretizar através da publicação das primeiras gramáticas e dos primeiros dicionários monolíngues, logo divulgados pelo oportuno aparecimento da imprensa no contexto expansionista mercantilista e colonial. Notadamente os espanhóis e os portugueses seguiram as lições dos romanos que preservaram a hegemonia política de seu império, tendo como uma das armas mais eficazes a hegemonia linguística, no caso do Ocidente, do latim, através da obrigatoriedade do emprego dessa língua em todas as situações de uso.

Dos dois países da Península Ibérica é a Espanha quem tomará a dianteira na publicação de uma gramática de língua nacional. Elio António de Nebrija, em 1492, publica a Grammática Castellana, estabelecendo para ela três finalidades: a) fixar a língua (senão encontrar-se-ão, ao fim de cinquenta anos, tantas diferenças quanto entre duas línguas); b) facilitar a aprendizagem do latim para as crianças; e c) permitir aos estrangeiros aprender o castelhano (trata-se igualmente de converter e de dar leis aos povos conquistados). É muito significativa a dedicatória à rainha Isabel: “Reina y Señora natural de España y las Islas de nuestra mar … siempre la lengua fue compañera del imperio”…de acordo com Auroux (1992).

Reinava em Portugal D. João III na época da publicação das duas primeiras gramáticas de língua portuguesa: A gramática de Fernão de Oliveira e a de João de Barros. A política cultural

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desenvolvida por seu governo foi, em muitos aspectos, extremamente benéfica: um dos benefícios concretos aos estudiosos portugueses foi a concessão de bolsas, o que permitiu a difusão do pensamento humanista em Portugal. Além disso, devemos destacar dois momentos de especial significado cultural: a reforma da Universidade e a criação do Colégio das Artes. Embora pessoalmente D. João III não fosse muito dado às letras, ele pode ser considerado um mecenas, preocupando-se com a preparação intelectual da classe dirigente, isto é, com os nobres portugueses, entre outras coisas, para que fosse possível um confronto com as idéias luteranas que, nesse momento, já se espalhavam pela Península Ibérica, pondo em risco a ortodoxia religiosa tão cara a ele, conhecido como “O Rei Piedoso”, responsável pela introdução da Inquisição em Portugal. Uma das consequências funestas da Inquisição foi a introdução da censura representada por três instituições que deveriam aprovar qualquer publicação: o Paço, o Santo Ofício e o Ordinário Eclesiástico. A gramática de João de Barros é uma das obras que vai entrar no rol das obras parcialmente vetadas, ainda que momentaneamente, pela suspeita de erasmismo(idéias de Erasmo de Roterdam, autor de “O elogio da loucura”, que se recusara a tomar partido na disputa entre protestantes e católicos).

Foi em 1536 que surgiu em Lisboa o nosso primeiro manual de gramática portuguesa: a Grammática de Lingoagem Portuguesa da autoria de Fernão de Oliveira (1507 – 1580 ou 1581). Fernão de Oliveira qualificava modestamente sua obra como “a primeira anotação da Língua Portuguesa”. Sem preocupação didática, ele consagra a maior parte à descrição fonética, apresenta um breve estudo de alguns problemas de morfologia e reserva apenas uma página à sintaxe que ele denomina “construção”. O espírito de homem do Renascimento é evidente em sua pequena obra, com frequência ele faz alusão ao fato de que a língua portuguesa faz parte de um contexto linguístico maior afirmando que ela é aparentada à castelhana e estabelecendo analogias não só entre o latim e o grego, mas também entre a língua dos Hebraicos e dos Arábigos. A descrição fonética que ele faz da língua portuguesa, precedendo o trabalho dos gramáticos comparatistas do século XIX, ao compará-la à língua castelhana merece ser, pelo menos, em parte transcrita:

Examinemos a melodia da nossa língua e essa guardemos, como fizeram outras gentes, e isto desde as mais pequenas partes, tomando todas as vozes e cada uma por si e vendo em elas quantos diversos movimentos faz a boca como também diversidade do som e em que parte da boca se faz cada movimento, porque nisto se pode discutir mais distintamente o próprio de cada língua. E assim é verdade, que os Gregos com os Latinos e os Hebraicos com os Arábigos e nós com os Castelhanos que somos mais vizinhos, concorremos muitas vezes em umas mesmas vozes e contudo não tanto que não fique alguma particularidade a cada um por si uma só voz e com as mesmas letras e a nós e aos castelhanos guerra e papel. E no pronunciar quem não sentirá a diferença que temos porque eles escondem-se e nós abrimos mais a boca? E quase podemos dizer que o que dá a entender Horácio na Arte Poética dos Gregos e Latinos temos entre nós e os castelhanos porque a eles deu a a natureza afeiçoar o que querem dizer e nós falamos com mais magestade e firmeza.

Fernão de Oliveira, Grammática, capítulo VII. apud Buescu(1978)

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João de Barros (1496-1570) nasceu em Vila Verde, próximo à cidade de Vizeu, no nordeste de Portugal, e morreu na sua quinta de Ribeira de Alitém, perto de Pombal. Era um homem da corte na época de D.João III, tendo em sua juventude exercido, inclusive, o papel de “moço-de-guarda-roupa” do, então, príncipe D. João. Teve uma vida muito produtiva intelectualmente, não deixando de lado o espírito aventureiro dos portugueses do século XVI, entrando numa empresa temerária com mais dois sócios: montou uma frota de dez navios para procurar, em vão, ouro no norte do Brasil, na capitania do Maranhão. De sua obra extensa e variada, nos interessa o programa pedagógico que ele se propôs a realizar entre os anos de 1539 e 1540, escrevendo a Cartinha para aprender a ler, dedicada ao filho de D.João III, D.Filipe, morto precocemente; em seguida, Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja e, finalmente, Gramática da Língua Portuguesa, seguida de Diálogo em louvor de nossa linguagem. Ainda em 1540, publica mais dois diálogos, sempre com intuito pedagógico, pensando principalmente em seus filhos (curiosamente, alguns deles foram alunos do primeiro gramático da língua portuguesa, Fernão de Oliveira): Diálogo da Viciosa Vergonha e Diálogo de João de Barros com dous filhos seus sobre preceitos moraes em forma de jogo. Digno de nota é o elogio que João de Barros faz da língua portuguesa e de seu contemporâneo Gil Vicente:

A linguágem portuguesa, que tenha ésta gravidade, nam pérde a força pera declarár, mover, deleitár e exortár, a párte a que se enclina, seja em quál género de escritura. Verdáde é ser em si tam honésta e cásta, que paréçe nam consistir em si ua tál óbra como Çelestina. E Gil Viçente, cómico que â máis tratou em composturas que algua pessoa destes reinos, nunca se atreveu a introduzir um Çentúrio português, porque, como ô nam consentem e naçám, assi ô nam sófre a linguágem. “Cérto, a quem nam falecer matéria e engenho para demonstrár sua tençám, em nóssa linguágem nam lhe falecerám vocábulos, porque de crer é que, se Aristóteles fora nósso naturál, nam fora buscár linguágem emprestáda pera escrever na filosofia e em todalas outras matérias de que tratou.

João de Barros, Diálogo em louvor da nossa Linguágem

1.2. CONCEITOS TEÓRICOS DOS GRAMÁTICOS DA VERTENTE GRECO-LATINA

Os gregos empregam o termo grammatiké para designar a arte de ler e escrever, enfatizando a língua escrita desde o início. Para Platão (427-347 a.C.), a gramática é o téchne (arte) que regula a atribuição das letras na formação dos nomes permitindo a possibilidade de combinação eficaz entre as letras; sendo, portanto, um sistema de regras que gera enunciados múltiplos. Devemos observar que, para Platão, grámma (letra) não tem o sentido etimológico de símbolo gráfico, designando na realidade o som. Aristóteles (384-322a.C.) amplia o conceito de gramática, pois a considera uma disciplina didática na medida em que faz parte da educação elementar, compreendendo o ensino da escrita e da leitura através de uma exposição sistemática dos fatos de língua depreendidos das obras literárias. O manual de Dionísio de Trácia recebeu o nome de téchne grammatiké, essa gramática tem um intuito didático, examinando os fatos da língua com o objetivo de estudar e preservar os textos representativos da cultura helênica, prescrevendo o que considerava o grego puro numa época de influências culturais estranhas ao purismo do grego antigo. Para Dionísio, a gramática tem uma natureza prática, não especulativa; não é uma disciplina filosófica, fixando-se num

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domínio totalmente linguístico. Trata-se da valorização do conhecimento empírico recuperado pela leitura dos poetas e dos prosadores que ele tomava como exemplares.

Platão, para dar conta da relação da linguagem com o pensamento, apresenta, em O Sofista, as bases de uma análise de proposições em termos de um esquema tema-rema, em que define o enunciado mínimo decomposto em dois constituintes dos quais cada um é ligado a uma categoria morfológica. Aristóteles vai além e desenvolve a teoria das categorias, que será muito comentada pelos estudiosos da linguagem na Antiguidade, na Idade Média e até a época moderna. As categorias são dez, e correspondem aos esquemas de predicação; seis delas correspondem às formas nominais e as outras quatro dizem respeito ao sistema verbal:

1. Substância [exemplo: homem, cavalo];

2. Quanto (quantidade) [exemplo: de dois cúbitos; de três cúbitos];

3. Qual (qualidade) [exemplo: branco, instruído]

4. Relativamente a que (relação) [exemplo: duplo, metade, maior]

5. Onde (lugar) [exemplo: na escola, no mercado]

6. Quando (tempo) exemplo: ontem, ano passado]

7. Estar a postos (posição) [exemplo: ele está deitado, ele está sentado]

8. Estar em estado (posse) [exemplo: ele está calçado, ele está armado]

9. Fazer (ação) [exemplo: ele corta, ele queima]

10. Sofrer (paixão) [exemplo: ele está cortado, ele está queimado]

Observamos que as categorias de pensamento, propostas por Aristóteles são, na realidade, como observou E.Benveniste (1995), categorias de língua. As seis categorias que se referem às formas nominais encontram sua unidade nas especificidades da morfologia grega. Quanto às formas verbais, cumpre esclarecer que os gregos possuíam em sua morfologia, dentre suas formas verbais, uma voz que se intercala entre o ativo e o passivo, o médio. Além disso, o perfeito grego não tem apenas um valor temporal, mas indica, conforme o caso, uma maneira de ser do sujeito, que indica o fato de estar em um certo estado.

A téchne grammatiké de Dionísio de Trácia foi elaborada a partir de um esquema das partes do discurso que reflete a sedimentação das concepções de seus predecessores, sejam elas filosóficas, lógicas ou poéticas. Quanto à metodologia gramatical, o princípio organizador é o da divisão. Divide as categorias gramaticais em classes de palavras flexionadas (por exemplo, gênero, espécie, figura, número, caso para o nome; modo, diátese, espécie, figura, número, pessoa, tempo e conjugação para o verbo; gênero, número e caso para o artigo; pessoa, gênero, número, caso, figura e espécie para o pronome) ou palavras não flexionadas (advérbio, preposição e conjunção). Esta classificação por divisão deve ser observada sob dois pontos de vista: de um lado, como a descrição gramatical a partir de uma matriz cognitiva com intuito pedagógico e, de outro, como a aplicação do método de Platão de uma análise de proposições em termos de um esquema tema/rema.

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Entre as sistematizações gramaticais, a de Dionísio de Trácia é sa mais importante porque pode ser considerada representativa do procedimento gramatical que surgiu na época alexandrina e porque é o modelo sobre o qual se apoiaram, em geral, as gramáticas ocidentais. Embora seu manual não apresente uma organização global, ele apresenta um procedimento de decisão no estabelecimento das classes de palavras e um modo de definição que podem ser reduzidos a determinadas linhas, com certa coerência.

Verifica-se que:

nas definições prevalecem os critérios formais, interferindo flexão e posição;

na própria definição prenunciam-se classificações;

distingue-se entre inventários abertos (em que há exemplos) e fechados (em que se apresenta lista exaustiva).

No quadro de classificação gramatical de Dionísio de Trácia as formas linguísticas são consideradas sob diversos aspectos. As definições apresentadas configuramuma consideração morfológica, ou, mais especificamente, morfossintática. A consideração fica, porém, no nível da palavra: nem, morfologicamente, desce ao exame dos elementos constitutivos vocabulares nem, sintaticamente, vai às relações intervocabulares. Acima de tudo, o que se encontra são elementos de flexão e de distribuição. Isso é gramática e, a partir daí, podem rotular certas indicações nocionais esporádicas como extragramaticais.

É importante salientar que, embora preocupados com o caráter pedagógico da gramática, os filósofos gregos desenvolvem, na realidade, doutrinas sobre a linguagem, examinando os seus princípios, definindo as categorias que as palavras expressam. Demonstram, na verdade, uma preocupação basicamente filosófica. Predominam problemas de definição, relativos, por exemplo, à essência da linguagem, e às categorias da língua.

Durante a Idade Média, a gramática era considerada uma ciência que tinha como objeto as categorias gramaticais do latim, seu papel era didático, preparando os estudantes para as principais disciplinas universitárias, desenvolvendo-se, portanto, no círculo fechado das universidades europeias. Tinha como principais fontes as Artes de Donato e as Institutiones de Prisciano. Apenas durante o Renascimento teremos um alargamento do horizonte linguístico, através do inventário das línguas conhecidas e de sua descrição gramatical e lexical.

Os autores das gramáticas vernaculares do Renascimento, dentre eles, João de Barros (1540) buscaram fundamentação em duas fontes: a grega antiga (Dionísio de Trácia) e a latina (Prisciano).No caso particular de João de Barros, há além das fontes citadas, a influência de Nebrija, autor da primeira gramática castelhana.

1.3 ANÁLISE CRÍTICA DA GRAMÁTICA DE JOÃO DE BARROS

A edição da Gramática de Língua Portuguesa que passamos a analisar é a 3a, publicada em 1957, organizada por José Pedro Machado. Da 1a edição só se conhece um exemplar que se encontra na Biblioteca da Ajuda; a 2a edição, de 1785, faz parte de uma compilação de várias outras obras feitas pelos monges da Real Cartucha de N.S. da Escada do Ceo, em Lisboa. José

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Pedro Machado respeitou o texto original de 1540, contudo, como seu objetivo era de divulgação e não propriamente científico, fez as seguintes alterações: atualização da ortografia naquilo que não aplicasse alterações fonéticas, pontuação e abertura de parágrafos.

A obra apresenta a seguinte divisão:

1o capítulo: Definção da gramática e as partes dela – pp. 1 e 2.

2o capítulo: Definção das lêteras e número delas – pp. 2 e 3. (ortografia)

3o capítulo: Da sílaba e seus acidentes – pp. 3 e 4. (prosódia)

4o capítulo: Da dição – da p. 4 à p. 41. (dição)

Do nome e das suas espécies

Dos artigos

Do pronome e seus acidentes

Do verbo

Do avérbio

Da preposição

Da interjeição

5o capítulo: Da construição – da p. 42 à p. 54. (sintaxe)

Da concordância do nome sustantivo com o ajetivo

 Do regimento dos verbos

 Dos verbos impessoais

 Do regimento dos nomes

 Do regimento do avérbio

 Da preposição

 Da conjunção

 Da interjeição

 Das figuras

6o capítulo: Da ortografia – da p. 54 à p. 67.(ortografia)

Das lêteras que temos e da sua divisão

Das lêteras consoantes

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Das lêteras dobradas que usamos

Das lêteras numerais

Regras da ortografia

Regras particulares de cada lêtera

Dos pontos e distinções da oração

1o capítulo: Definção da gramática e as partes dela

A definição de gramática que ele apresenta na 1a parte é, primeiramente, etimológica: Gramática é vocábulo grego. Quer dizer ciência de letras… 

Em seguida, ele diz como os gramáticos a definem: segundo a definção que lhe os gramáticos deram, é um modo certo e justo de falar e escrever, colheito do uso e autoridade dos barões doutos. 

Nota-se que ele compartilha com outros gramáticos uma preocupação em definir a norma, a língua exemplar que ele vai apresentar, por meio de exemplos dos barões doutos, contudo não ignora que existam outros meios de falar e de escrever, já que a gramática é um modo certo e justo, não o único.

Curiosamente, apesar de não pretender escrever uma gramática especulativa, filosófica, ele faz alusão ao que denominamos “universais linguísticos”, empregando a *metáfora, mais tarde retomada por Saussure, do jogo de xadrez para definir linguagem: E como pera o jogo de enxedrez se requerem dous reis, um de ua cor e outro de outra e que cada um deles tenha suas peças postas em casas próprias e ordenadas, com leis do que cada uma deve fazer (segundo o ofício que lhe foi dado) . assim tôdalas linguagens têm dous reis, diferentes em género e concordes em ofício: a um chamam nome e ao outro verbo. 

Também nesta parte introdutória, ele vai prestar o seu tributo à língua e à gramática latinas, afirmando que a divisão de sua gramática imita a latina, pelo fato de sermos filhos do latim, e não somos degenerados, isto é, devemos reconhecer a importância do legado dos antigos que dividem a gramática em quatro partes: ortografia, que trata da letra; prosódia, que trata da sílaba; etimologia, que trata da dição; e sintaxe, que trata da construção.

2o capítulo: Definção das lêteras e número delas

Para definir o que é letra, João de Barros recorre aos gramáticos antigos e estabelece uma inusitada analogia entre as letras e os quatro elementos: o ar, a terra, o fogo e a água: Lêtera, segundo os Gramáticos, é a mais pequena parte de qualquer dicção que se pode escrever, a que os Latinos chamaram nota e os Gregos cara[c]ter, per cuja valia e poder formamos as palavras; e a esta formação chamam eles primeiros elementos da linguagem, cabem como do ajuntamento dos quatro elementos se compõem tôdalas cousas, assim do ajuntamento das lêteras uas com as outras por ordem natural se entende cada um em sua linguagem, pola valia que pôs no seu A, b, c. Donde as lêteras vieram ter estas três cousas: nome, figura, poder. Nome, porque à primeira chamam A, à segunda Bê, à terceira Cê. Figura, porque se 

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escrevem desta maneira: A, b, c. Poder, pola valia que cada ua tem, porque, quando achamos esta lêtera A, já sabemos que tem a sua valia, e, por semelhante modo, podemos julgar das outras, que em número são vinte e três, como as dos Latinos de quem as nós recebemos. 

Poder e valia são princípios gramaticais empregados por João de Barros que os empresta dos antigos e que, por sua vez, vão ser retomados pelos linguistas do século XX, é o que Saussure denomina deValor da unidade linguística.

3o capítulo: Da sílaba e seus acidentes

Sílaba é ua das quatro partes da nossa Gramática que corresponde à Prosódia, que quer dizer acento e canto. A qual Sílaba é ajuntamento de ua vogal com ua e duas e às vezes três consoantes que juntamente fazem ua só voz.

Nota-se que João de Barros apresenta uma visão falha de sílaba por não contemplar em sua definição a sílaba composta apenas de vogal e os encontros vocálicos que participam da mesma sílaba, contudo, no último capítulo, ele observa que: Chamam-se estas lêteras vogais, porque cada ua per si, sem ajuntamento de outra, faz perfeita voz e trocadamente, uas com as outras, fazem estes sete ditongos: ai, au, ei, eu, ou, oi, ui.

Em relação aos acidentes da sílaba, ele nos apresenta três: número de letras – serão no máximo três consoantes, como é o caso de li – vros ; espaço de tempo – há sílabas longas e curtas, como é o caso de Bár – ba – ra ( a primeira é longa e as demais são curtas); e canto - que pode ser alto ou baixo, correspondendo ao que atualmente denominamos tonicidade e atonicidade das sílabas da língua portuguesa que é, como sabemos, uma língua de icto.

4o capítulo: Da dição

João de Barros inicia este capítulo (o mais extenso, por sinal) explicando que ele corresponde à parte da gramática que os latinos chamavam de etimologia que quer dizer “nascimento da dição” (p.4). Entretanto, como crê ser impossível encontrar as origens das palavras(“seria ir buscar as fontes do Nilo”,p.4) passa logo ao tratamento das partes da dição: o nome, o artigo, o pronome, o verbo, o avérbio, a preposição e a interjeição. Nota-se que ele utiliza a classificação de Dionísio de Trácia, acrescentando-lhe o artigo e a interjeição e eliminando a conjunção, mencionada apenas no capítulo da construição(sintaxe).

Do Nome e suas espécies

Define o nome por oposição ao verbo: nome é “aquele que declina per casos, sem tempo”; verbo“conjuga-se per modos e tempos”. São definições essencialmente formais (flexão), diferentemente das encontradas nas gramáticas tradicionais da atualidade, que são filosóficas ou semânticas. Em contrapartida, a distinção que faz entre concreto e abstrato é essencialmente nocional: ”tem corpo”/“não tem corpo”.

Atribui ao nome os seguintes acidentes: qualidade, espécia, figura, género, número e declinação per casos. Qualidade é ua diferença pela qual conhecemos um do outro; definição que não esclarece nada ao leitor sobre o conceito de qualidade do nome. Subdivide as

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qualidades em próprio, comum, apelido, sustantivo, ajetivo, relativo e antecedente. Note-se que João de Barros considera substantivo e adjetivo como qualidades do nome, classificações dentro da classe nome.

Apresenta as “qualidades do nome” sempre em pares opositivos, definindo uma por oposição à outra, prática costumeira também em nossas gramáticas:

Do nome próprio e comum;

Do nome sustantivo e ajetivo;

Do nome relativo e antecedente;

Define adjetivo por sua dependência ao substantivo, estabelecendo implicitamente que existe sempre entre esses dois “nomes” uma relação sintagmática, em que só o adjetivo não sobrevive sem o substantivo.

Na classificação que faz dos nomes relativos e antecedentes, inclui vários fatos linguísticos simultaneamente: o substantivo antecedente do pronome relativo, a anáfora, representada pelo pronome anafórico a que ele chama de relativo a um antecedente, os conectivos comparativos, a que denomina “relativos de acidente”. Esclarece ainda que as declinações desses relativos será incluída nas dos pronomes, o que demonstra uma organização bastante aleatória, pouco científica.

No que diz respeito à espécie do nome, classifica-o em primitivos e derivados, retomando uma classificação já existente em Dionísio de Trácia, que se baseou nas espécies já registradas pelos filósofos para apresentar um sistema de unidades relacionadas.

Apresentamos, a título de ilustração, um quadro comparativo da classificação do nome nos dois gramáticos.

NOMES (quanto à forma)

PRIMITIVOS DERIVADOS

Dionísio de Trácia João de Barros

PatronímicoPossessivo

Hipocorístico*

PatronímicoPossessivo

Diminutivo

Aumentativo

Comparativo

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Comparativo

Superlativo

Parônimo

Verbal

Denominativo

Adverbial

Participial

Verbal

* Hipocorístico: vocábulo familiar carinhoso, apelido

É interessante a observação que faz quanto ao efeito de sentido produzido pelo emprego dosaumentativos”como mulherão, cavalão, valhacaz, ladrabaz, e outros que sempre são ditos em desprezo e abatimento da pessoa ou cousa a que os atribuímos”. Percebe-se aí uma preocupação com o uso da língua.

Os nomes averbiais são derivados dos avérbios: “soberano de sobre; avantage de àvante; forasteiro de fora; traseiro de trás.Observa-se que o que ele considera nomes averbiais são, na realidade, substantivosderivados de advérbios. Os advérbios constituem uma classe à parte. Os nomes verbais são derivados de verbos; os nomes de patronímico indicam “o filho de”. Assim, os nomes derivados recebem sua nomenclatura seja de sua deriva, seja de sua função, a que ele chama de significação.

A figura do nome diz respeito à distinção entre simples e composto. Apresenta várias formas de composição, associando diferentes classes de palavras. Não faz alusão a “radical”, mas à impossibilidade de se manter o significado com a divisão das palavras simples, apelando para critérios nocionais.

Ao apresentar o género do nome, emprega uma abordagem comparativa, com o intuito de justificar o emprego do artigo aliado à desinência de gênero, a que ele atribui o papel de significação. Inclui ogénero neutro e o comum a dois e comum a três, estes últimos apenas para os nomes ajetivos.

Com relação ao número do nome, é bastante vasta a lista dos nomes que considera irregulares, pelo fato de se apresentarem sempre no plural ou no singular. Nota-se uma preocupação normativa e pedagógica que lança mão do mesmo recurso metodológico de Dionísio de Trácia que trabalha com listas exaustivas de inventário fechado.

Os casos do nome, na Gramática de João de Barros são: nominativo, genitivo, dativo, acusativo, vocativo e ablativo: a nossa linguagem declina-se em outras duas a ua podemos chamar vogal , por ser dos nomes que acabam nas vogais; e a outra consoante, por acabarem os nomes que per ela declinamos nestas cinco consoantes, l, m, r, s, z. Declinação acerca de nossa linguagem quer dizer “variação”, porque, quando variamos um nome de um caso ao outro em seu artigo, então a declinamos…

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Observamos que, na língua portuguesa, o nome não sofre alterações desinenciais em cada caso. Na realidade, o autor os mantém apenas por fidelidade ao latim, ou para que sirva de auxílio para o estudo dessa língua posteriormente, um dos objetivos de sua obra.

Dos Artigos

Apresenta o artigo como “hua das partes da oração”. É uma definição de caráter sintático, que considera a função do artigo. Aponta ainda as declinações dos artigos, que segundo os casos, especificam as preposições a serem empregadas ou a ausência delas.

Tendo em vista o fato de o artigo estar diretamente ligado ao nome (é necessário artigo masculino ao nome masculino…), logo após ter apresentado as declinações para o artigo, aborda as declinações do nome e, em seguida, as flexões de número para os nomes.

É uma forma bastante desordenada de apresentação dos fatos de língua, se tomarmos por base os temas isolados ou as gramáticas tradicionais modernas. Entretanto, como o seu intento é pedagógico, o autor agrupa temas que ele julga afins e que, por isso, podem facilitar a compreensão por parte dos pupilos. Percebe-se nele uma visão global dos fatos linguísticos, mais voltada para o funcionamento da língua do que para as partes em si.

Do Pronome e seus acidentes

João de Barros considera apenas os pronomes pessoais e os demonstrativos. Atribui a eles os seguintes “acidentes: espécia, género, número, figura, pessoa e declinação”(p.19).

Quanto à espécia, classifica os pronomes em primitivos e derivados. São primitivos os pronomes pessoais e demonstrativos (eu, tu, si, este, esse ele) e derivados os pronomes possessivos (meu, teu, seu, nosso, vosso). Apresenta, ainda como demonstrativos os pronomes Eu, nós, tu, vós, este, estes e, como relativos, os pronomes ele e esse. Postula a existência de três géneros para os pronomes: masculino, feminino e neutro, a este último correspondem os indicadores dêiticos eu, tu, de si.

Do Verbo

A definição apresentada por João de Barros atende a dois critérios simultaneamente: um formal, que diz respeito à flexões e outro nocional, que diz respeito ao significado que verbo engloba. Verbo, segundo definição de todos os gramáticos, é ua voz ou palavra que demonstra obrar algua cousa, o qual não se declina como o nome e pronome per casos, mas conjuga-se per modos e tempos…

Apoiando-se nos latinos, divide os verbos em sustantivos e aietivos. O verbo ser é o verbo sustantivo, os demais são ajetivos.

Classifica também os verbos quanto ao género, tendo dois géneros: o autivo eo passivo. Acrescenta ainda a classificação verbo neutro, para aqueles que não podem ser convertidos de ativa para passiva. A explicação para esse fato é novamente sintática, considerando as relações sintagmáticas, reforçando o conceito de visão globalizada da língua, em que as partes se entrelaçam no exercício de suas diversas funções.

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Ao tratar da impessoalidade do verbo, recorre novamente aos latinos para explicar os fatos portugueses por comparação aos latinos. Cumpre observar que, embora esteja tratando da impessoalidade do verbo como manifestada pela conjugação na terceira pessoa do singular, João de Barros apresenta as formas verbais hei, hás, dentro do mesmo capítulo dos impessoais, deixando a impressão de que os classifica assim. Em seguida, esclarece que são verbos neutros.

Quanto à espécie, classifica o verbo em duas: primitiva e dirivativa. Os derivativos, pelos exemplos que apresenta, são formados por afixação e subdividem-se em: aumentativos, diminutivos, denominativos, averbiais. Com relação aos aumentativos e diminutivos, cumpre observar o critério semântico para tal classificação: aumentativos são aqueles que significam aumento e contínuo acrecentamento daquilo que os seus primitivos sinificam, com: de branquejar, embranquecer, de tremer, estremecer…Diminutivos serão aqueles que significam (sic) algua mais diminuição que seus primitivos, como: de chorar, choromingar, de bater, batocar…

Apresenta, também para o verbo, a classificação simples/composto, quanto à figura, estabelecendo, na realidade, uma distinção entre primitivo e derivado, pois exemplifica com um verbo derivado por prefixação.

Baseia-se na gramática latina para a determinação dos tempos e modos verbais. São cinco os tempos:presente, passado por acabar, passado acabado, passado mais que acabado e vindouro ou futuro. São, também, cinco os modos: indicativo, imperativo, outativo ou desejador, sujuntivo e infinitivo.Estabelece uma analogia entre as pessoas do verbos e os pronomes.

Nota-se que João de Barros, no tratamento das conjugações verbais, tem sempre como referência a gramática latina a que faz menção constantemente.

Do avérbio

Define advérbio recorrendo a critérios sintáticos: é ua das partes da oração que sempre anda conjunta e coseita com o verbo e daqui tomou o nome, porque ad quer dizer “cerca” e composto como verbum  fica adverbium, que quer dizer acerca do verbo.

Apresenta, em seguida, uma definição filosófica: Assi tem o avérbio este poder, acrecenta, diminui e totalmente destrui a obra do verbo a que se ajunta …dá aos verbos cantidade ou calidade acidental…

Estabelece uma analogia entre o advérbio e o adjetivo, pela função: como o ajetivo ao sustantivo.Apresenta uma lista de advérbios, de acordo com a sua significação.

Da preposição

João de Barros não afirma que a preposição faz parte da oração, com o faz para as outras classes de palavras, apenas menciona que é uma das partes da gramática.

Distingue dois tipos de preposição: per ajuntamento ou per composição. As preposições propriamente ditas, classifica como de “figura singela” e as composições, como de “figura

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dobrada”, seja, pela composição entre um verbo e uma preposição justapostos, como, por exemplo, aprazer, comprazer, desprazer. Inclui nas preposições dobradas, ou compostas, as locuções prepositivas e as locuções adverbias. Cumpre observar que o autor não faz distinção entre o que denomina preposição composta e verbo composto.

Da interjeição

Apresenta uma definição de interjeição puramente filosófica: não é mais que ua denotação do que alma padece. Novamente faz lembrar que sua gramática se baseia na latina.

5o capítulo: Da construição

O capítulo refere-se à sintaxe que o autor subdivide em concordância e regimento, tratando, logo em seguida das figuras, mais exatamente dos vícios da linguagem: os barbarismos e os solecismos.

Em relação à concordância e regimento, ele apresenta uma distinção de cunho filosófico, ao considerar a concordância, um universal linguístico e o regimento (regência) particular de cada língua: é uma conveniência antre partes postas em seus naturais lugares, per as quais vimos em conhecimento dos nossos conceitos. E bem como ao homem é natural a fala, assi lhe é natural a conveniência destas partes: nome sustantivo com ajetivo, nominativo com verbo, relativo com antecedente. Quanto ao regimento das outras partes, cada nação tem a sua ordem e por não serem universais a todos, lhe podemos chamar acidentais.

Com respeito às figuras, ele retoma uma definição do retórico romano Quintiliano (século V), ao afirmar que figura é ua forma de dizer per algua arte nova, contudo ele vai ignorar os ornamentos do estilo, elencando apenas os vícios.

Apresentamos o inventário feito por João de Barros, do que ele considera “barbarismos”, contudo, é interessante verificar que grande parte deles, na realidade, eram metaplasmos que nossa língua vinha sofrendo há muito tempo, antes de poder se estabilizar graças, sobretudo, ao trabalho dos intelectuais do Renascimento.

Barbarismo é vício que se comete na escritura de cada ua das partes ou na pronunciação.

quer dizer

Próstesis Acrescentamento……de lêtera ou sílaba ao princípio… até aqui por té qui

Aféresis Cortamento……de lêtera ou sílaba ao princípio… determinar porterminar

Epêntesis Interposição……de lêtera ou sílaba na dição… todos os portôdolos

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Síncopa Cortamento……de lêtera ou sílaba no meio da dição… letra porlêtera

Paragoge Acrescentamento……de lêtera ou sílaba no fim de algua palavra… guardare porguardar

Apócopa cortamento de fim……que é o contrairo de estoutra que acrescenta…

a mó de falarpora modo de falar

Diéresis Apartamento……de ua sílaba em duas partes… poemos porpomos

Sinéresis Ajuntamento……per ela ajuntamos duas lêteras vogais em ua… s’houver porse houver

Sinalefa Apartamento……que é casi como a de cima…

dandar daquiporde andar daqui

Antítesispostura de lêtera ua por outra…

…principalmente nesta lêtera x, que tomamos da pronunciação mourisca dixe por disse

Metátesis Transposição…

…porque per elas trastrocamos as lêteras… apretar porapertar

6o capítulo: Da ortografia

A ortografia, ciência de escrever dereitamente, é delimitada ao estudo de cada letra do alfabeto que, na realidade, pretende ser uma descrição, pelo menos parcial, dos sons que estas letras representam. Por exemplo, dividindo as consoantes em mudas — b, c, v, f, g, p, q, t; e meias vogais —l, m, n, r, s, x, z .

João de Barros estabelece as seguintes regras para quem pretender escrever dereitamente:

A primeira e principal regra da nossa ortografia é escrever tôdalas dições com tantas lêteras com quantas as pronunciamos, sem poer consoantes ociosas;

nenhua dição ou sílaba podemos escrever acabada em muda;

nenhua dição podemos escrever com lêtera dobrada, senão com as  meias vogais: l, m, n, r, s;

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toda dição que se escrever com lêtera dobrada, a primeira das lêteras será da precedente sílaba e a segunda da seguinte, como nestas dições: nos-so e guer-ra; e

todo o nome que no singular acaba em algua sílaba destas:   am, em, im, om, um, no plural, em lugar de m, se porá til, como nestas dições.

III – CONCLUSÃO

Do século V de nossa era até o final do século XVI se desenrola um processo único em seu gênero: a gramatização, a partir de uma só tradição linguística inicial (a greco-latina), das línguas do mundo. Para os gregos e os romanos, a gramática era uma etapa de acesso à cultura escrita; para o europeu da Idade Média, o latim é antes de tudo uma segunda língua – cada vez mais abstrata, objeto de uma gramática teórica -, língua conceptualmente sofisticada do saber letrado, do poder e da religião. A constituição das gramáticas vernáculas está ligada à formação das nações europeias no século XV e XVI e se deve principalmente a três fatores:

A renovação da gramática latina feita a partir do Humanismo que tinha como uma das prioridades a restauração do latim da época clássica;

A imprensa que, no seu papel de agente multiplicador, barateia o custo de cada exemplar, aumentando a sua difusão; e

A contemporaneidade com as grandes descobertas que vão mudar o perfil do planeta, delineando novos e imensos territórios que vão sendo conquistados também com a imposição da língua instrumentalizada pelas suas gramáticas.

Em relação à atividade gramatical, podemos afirmar que ela é fundadora em dois aspectos: no formato descritivo da língua, que fará uma longa carreira no Ocidente e numa concepção da linguística reduzida ao inventário das categorias (paradigmáticas e, em seguida sintagmáticas, apesar da análise pouco aprofundada) de uma única língua que se deseja fixar num estado normativo. Os tratados gramaticais apresentam geralmente três características: ponto de vista categorizante, perspectiva monolingual, abordagem normativa. Além disso, deve-se considerar que os gramáticos antigos tinham consciência da existência de outras línguas e mesmo das variantes dentro da própria língua, mas isso não influía na sua análise gramatical; apenas os gramáticos romanos, no final da Antiguidade começaram a se incomodar com o fato de estarem transferindo o modelo grego para a língua latina. O saber gramatical dos antigos não se constitui num bloco monolítico nem é um inventário fixado de uma vez por todas; a confrontação dos manuais gramaticais nos mostra a evolução de uma técnica gramatical presente em várias dimensões: é um saber flexível, aberto, que se dobra às necessidades do ensino caracterizado pelas inovações que se alinham aqui e ali ao lado dos traços conservadores e das convicções ultrapassadas; dessa forma, priorizavam alguns conteúdos em detrimento de outros. Por isso, atualmente, quando se estudam as gramáticas tanto da Antiguidade greco-romana, quanto as gramáticas vernáculas do Renascimento, deve-se levar em consideração o momento histórico e cultural em que estão inseridas.

Especificamente em relação à gramática de João de Barros, podemos afirmar que se trata da primeira sistematização dos saberes metalinguísticos a respeito da língua portuguesa já que a obra de Fernão de Oliveira não traz a preocupação sistematizadora e didática de sua

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gramática. É nesse sentido que João de Barros fixa um objetivo: porque nossa tenção é fazer algum proveito aos mininos que per esta arte aprenderem, levando-os de leve a grave e de pouco a mais.

E delimita com precisão a extensão de seus estudos, não ultrapassando a oração: e leixando as figuras e vícios poéticos, trataremos somente daqueles per que mais commumente falamos em oração soluta, porque como já disse quando tratei do acento, as cousas que competem aos poetas ficaram pera quando for restituído a este reino o uso das trovas.

Existe de sua parte a consciência de que o latim é a língua “mater”, de que por meio dele, recebemos influência do grego, também é ciente da proximidade da nossa língua com a castelhana e não ignora a origem mourisca (árabe) de certos vocábulos, como almoxarifado e a própria letra “x”.

Fica clara a influência de Dionísio de Trácia sobre a gramática de João de Barros, assimilada provavelmente de Nebrija. Recorre aos mesmos procedimentos daquele gramático, apesar de não citá-lo:

Nas definições prevalecem os critérios formais, interferindo flexão e posição e função;

Na própria definição prenunciam-se classificações;

Distingue-se entre inventários abertos (em que há exemplos) e fechados (em que se apresenta lista exaustiva).

As definições apresentadas configuram uma consideração morfológica, ou, mais especificamente, morfossintática. A análise não se limita ao nível da palavra, desce ao exame dos elementos constitutivos vocabulares vai às relações intervocabulares, chegando à oração soluta. Acima de tudo, o que se encontra é a predominância do princípio da divisibilidade preconizada já pelos gregos.

É inegável o interesse histórico e social de João de Barros. Podemos, através dos exemplos que ele seleciona, perceber a estatura do homem renascentista da Península Ibérica: católico fervoroso, ainda que simpatizante de Erasmo; homem justo, ainda que preconceituoso contra negros e colonizados; ciente da afirmação de Portugal entre outras jovens nações europeias, ainda que preferisse recorrer à história antiga para dar exemplos do uso da língua portuguesa, ignorando “os barões doutos”portugueses.

IV – BIBLIOGRAFIA

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