a gnr no combate À fraude e evasÃo...

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CEDIS Working Papers | Direito, Segurança e Democracia | ISSN 2184-0776 | Nº 14 | outubro de 2015 1 DIREITO, SEGURANÇA E DEMOCRACIA NOVEMBRO 2015 15 A GNR NO COMBATE À FRAUDE E EVASÃO FISCAL RUI MANUEL RODRIGUES CHANTRE Mestrando em Direito e Segurança RESUMO Com a globalização, as exigências do mercado, o aumento da economia paralela, o aumento da carga fiscal imposta aos contribuintes, importa combater este a evasão e fraude fiscal em todo o seu espetro. É com este objetivo que, ao longo dos tempos, se vem mantendo uma policia que consiga, não só identificar, como, de forma concertada, combater os desvios no pagamento dos tributos legalmente impostos em todo o circuito dos bens transacionados e, consequentemente, a identificação das mais-valias obtidas com estes ilícitos. A criação da Guarda Fiscal, em 1885, teve como objetivo de restaurar o sistema fiscal português, para que os tributos impostos fossem harmonizados por todos os cidadãos, o que se detalha na primeira parte do trabalho. Desde então, até aos nossos dias, Portugal esteve sempre dotado de uma polícia, independente até 1993 e, posteriormente, integrada na GNR, visando o suprareferido objetivo de igualdade fiscal. Na parte final, após nos referirmos às mais importantes restruturações policiais, abordamos como na atualidade a GNR efetua o seu papel de deteção e combate à evasão fiscal.

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DIREITO, SEGURANÇA E

DEMOCRACIA

NOVEMBRO

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Nº 15

A GNR NO COMBATE À FRAUDE E EVASÃO FISCAL

RUI MANUEL RODRIGUES CHANTRE Mestrando em Direito e Segurança

RESUMO Com a globalização, as exigências do mercado, o aumento da economia paralela,

o aumento da carga fiscal imposta aos contribuintes, importa combater este a evasão e

fraude fiscal em todo o seu espetro.

É com este objetivo que, ao longo dos tempos, se vem mantendo uma policia que

consiga, não só identificar, como, de forma concertada, combater os desvios no

pagamento dos tributos legalmente impostos em todo o circuito dos bens transacionados

e, consequentemente, a identificação das mais-valias obtidas com estes ilícitos.

A criação da Guarda Fiscal, em 1885, teve como objetivo de restaurar o sistema

fiscal português, para que os tributos impostos fossem harmonizados por todos os

cidadãos, o que se detalha na primeira parte do trabalho.

Desde então, até aos nossos dias, Portugal esteve sempre dotado de uma polícia,

independente até 1993 e, posteriormente, integrada na GNR, visando o suprareferido

objetivo de igualdade fiscal.

Na parte final, após nos referirmos às mais importantes restruturações policiais,

abordamos como na atualidade a GNR efetua o seu papel de deteção e combate à

evasão fiscal.

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PALAVRAS-CHAVE GNR, UAF, fiscal e aduaneiro, evasão fiscal, investigação criminal, fiscalização tributária

ABSTRACT With globalization, market demands, increase the black economy, the increased tax

burden on taxpayers, it combat this evasion and tax fraud in all its spectrum.

It is with this objective that, over time, it has maintained a police that can not only

identify, as a concerted effort to fight the deviations in the payment of legally imposed

taxes on the entire circuit of traded goods and, consequently, capital gains identification

obtained with these crimes.

The creation of the Guarda Fiscal in 1885, aimed to restore the Portuguese tax

system, so that taxes were harmonized for all citizens, which is detailed in the first part of

the work.

Since then, until today, Portugal has always been endowed with police,

independent until 1993 and subsequently integrated into the GNR, litigations seeking the

goal of tax equality.

In the final part, after referring to the most important police restructuring, as we

approach today GNR performs its role as the detection and fight tax evasion.

KEYWORDS GNR, UAF, tax and customs, tax evasion, criminal investigation, tax inspection

LISTA DE ABRAVIATURAS, SIGLAS E ACRÓNIMOS AT Autoridade Tributária e Aduaneira

BF Brigada Fiscal

DGAIEC Direção-geral das Alfândegas e dos Impostos Especiais sobre o Consumo

DGCI Direção-geral de Contribuições e Impostos

FSS Forças e Serviços de Segurança

GF Guarda Fiscal

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GNR Guarda Nacional Republicana

LOGNR Lei Orgânica da Guarda Nacional Republicana

OPC Órgão de polícia Criminal

PJ Policia Judiciária

RGIT Regulamento Geral das Infrações Tributárias

RGSGNR Regulamento Geral do Serviço da Guarda Nacional Republicana

UAF Unidade de Ação Fiscal

UCC Unidade de Controlo Costeiro

INTRODUÇÃO O presente trabalho insere-se no âmbito do curso de Mestrado em Direito e

Segurança da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa visando, em

contexto académico, teorizar sobre o papel da Guarda Nacional Republicana (GNR) no

combate à fraude e evasão fiscal.

Este objetivo visa responder à pergunta “Qual é a atuação da GNR no combate à

fraude e evasão fiscal?”.

Sendo o signatário do presente trabalho capitão da GNR que toda a sua carreira

profissional foi em subunidades fiscais da GNR, encara este desafio como altamente

aliciante, encontrando-se extremamente motivado para a pesquisa que se pretende

efetuar.

Durante o trabalho, vão ser utilizadas, essencialmente, fontes documentais

plasmadas em normativos legais e fontes bibliográficas, empregando-se as técnicas e

métodos associadas às ciências jurídicas. Para a recolha de dados, as técnicas de

pesquisa documental e bibliográfica. Para a análise de dados vão ser utilizados na

abordagem o método dedutivo e no procedimento os métodos histórico e comparativo.

No Capítulo I, com o título A Guarda Fiscal – Génese e Competências, é efetuada

uma abordagem histórica da missão da Guarda Fiscal (GF), integrada na GNR em 1993,

que veio a atribuir a esta última entidade a missão de combate à fraude e evasão fiscal,

que a primeira já vinha combatendo desde 1885.

O Capítulo II, sob o título A Guarda Nacional Republicana efetua-se uma breve

referência a duas restruturações governamentais instituídas à GNR, designadamente, a

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integração da GF na GNR, através da Brigada Fiscal (BF) e, posteriormente, à extinção

desta Unidade e criação da Unidade de Ação Fiscal (UAF).

No Capítulo III, com a epígrafe A investigação criminal tributária na Unidade de

Ação Fiscal, abordaremos as competências atribuídas à GNR no âmbito da investigação

criminal de processos de elevada complexidade de ilícitos tributários fiscais e aduaneiros

e contraordenacionais de infrações detetadas pelos militares de todo o dispositivo da

GNR

O Capítulo IV, intitulado A fiscalização tributária pela Unidade de Ação Fiscal,

faremos uma breve referência às competências de fiscalização de bens em circulação,

designadamente, vocacionada para os produtos suscetíveis de serem utilizados em

fraudes.

Por fim, sob a designação Conclusões, irão ser plasmadas algumas considerações

finais materiais e referidas as principais dificuldades sentidas na elaboração do presente

trabalho.

I – A GUARDA FISCAL – GÉNESE E COMPETÊNCIAS A GF, corpo de fiscalização criado por Decreto n.º 4, de 17 de setembro de 1885

(Diário do Governo, 1885), exercia, para cumprimento da sua missão, uma ação terrestre

nas zonas fiscais da raia e do litoral, no interior do país e nas Ilhas Adjacentes, e uma

ação marítima e fluvial nas águas territoriais, costas marítimas e portos, enseadas e

ancoradouros do Continente e Ilhas Adjacentes.

Para efeitos de fiscalização o Território Continental e Ilhas Adjacentes foram

divididos em Círculos de Inspeção Fiscal, compreendendo Distritos, Seções e Postos

Fiscais de Vigilância e Serviços Especiais e Postos Fiscais de Registo e Habilitados a

Despachar. O Continente encontrava-se dividido em quatro Círculos Fiscais, com sede

em Lisboa, Coimbra, Porto e Évora (Diário do Governo, 1885).

A cobrança de impostos desde sempre foi uma das principais formas de

financiamento das Monarquias e dos Estados. Como não poderia deixar de ser, Portugal

também teve aqui uma importante fonte de financiamento. No entanto o sistema fiscal

português do Século XIX, apresentava algumas debilidades, muito pela grande

instabilidade da época, o que provocou obviamente uma necessidade de serem revistos e

otimizados alguns procedimentos e métodos de cobrança de impostos.

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Foi no reinado de Dom Luiz I (1861-1889) (Anon., 1998-2014), que o então Ministro

da Fazenda, Ernesto Ribeiro, encarregue de gerir os negócios da fazenda, rapidamente

de apercebe que era urgente e necessário reestruturar o regime fiscal, por diversas

razões (Governo, 1885, p. 2611).

Nessa época encontravam-se criados três corpos fiscais, o do Porto, Lisboa e

Faro, chefiados por três inspetores, que por sua vez ainda dependiam da Direção-Geral

das Alfândegas, era portanto uma estrutura do Governo, chefiada por entidades civis.

Mas existiam nesses anos grandes movimentos revolucionários, que deram origem

a várias alterações na política e por sua vez muita instabilidade. Era registada uma

grande concorrência fraudulenta, existia grande especulação, tentava-se iludir o fisco,

contrariamente ao que vigorava nas leis, prejudicando “o tesouro nas suas receitas e a

indústria na regularidade das suas transações. Factos que atestavam quanto mais forte

era o incentivo ao contrabando do que o receio da repressão fiscal “ (Santos, 1985, p. 86).

Vem então referir, o Ministro da Fazenda, na sua proposta de decreto que “ a par de um

sensível quebrantamento de força e de disciplina nos corpos externos de fiscalização, tão

longo e moroso era o despacho nas alfândegas, que a todos se evidenciava a frouxidão

no trabalho e a deficiência nas condições materiais de serviço” (Governo, 1885, p. 2611),

e por entre outros fatores, este era um dos principais que mais contribuía para a falta de

recursos financeiros, muito pela deficiente cobrança de impostos, existindo pouca

“matéria prima dos recursos tributários do thesouro” (Governo, 1885, p. 2611).

A sua intenção era então remodelar os serviços fiscais e os corpos da alfândega,

entendendo que o essencial desde o início seria criar um corpo onde a fiscalização

externa tivesse uma unidade de ação, aglutinando todos os corpos já então criados para

esse fim numa única unidade nacional (Santos, 1985, p. 87). Como o próprio referiu na

sua proposta, era sua vontade organizar um corpo de guarda fiscal, moldado nos

preceitos da disciplina militar (Governo, 1885, p. 2612). No entanto ele propunha

aproveitar os elementos que estivessem no ativo, que fossem disciplinados e que fossem

“experientes no manejo de armas” (Governo, 1885, p. 2614), pois intencionava ainda que

para além das tarefas de cobrança fiscal, este corpo de guarda fiscal pudesse

desempenhar também tarefas de “defeza e vigilancia” (Governo, 1885, p. 2614).

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Desde 15 de Junho de 1829, que na Ilha Terceira já tinha sido criado um corpo

militarizado de guardas de alfândega, este apresentava uma estrutura hierarquizada em

moldes militares, o que veio a estar na base do decreto de 1885 (Santos, 1985, p. 9).

Mas Ernesto Ribeiro não se conformou em verificar o sistema de fiscalização existente na

Ilha Terceira, ele observou outros países onde estruturas de fiscalização semelhantes

também já existiam e funcionavam, para ter mais alguns elementos de comparação e

assim criar uma estrutura que fosse eficaz e trouxesse garantias de sucesso ao Governo.

Como exemplo de nações estrangeiras, observou o sistema espanhol, italiano e francês,

todos estes com estruturas com moldes militares.

Em Espanha, existia o “cuerpo de carbineiros del reino, que se destina às fronteiras

a às costas marítimas, e o cuerpo de carabineiros veteranos, que se emprega nos

ancoradouros, no recinto das alfandegas, e nos limites das povoações onde há direitos a

cobrar, são verdadeiros corpos militares, que se regem pelas ordenanzas do exercito”

(Governo, 1885, p. 2614).

Em França também existia fiscalização externa e marítima, exercida por militares,

desde decreto de dois de abril de 1875 (Governo, 1885, p. 2614).

Itália possuía “um corpo especial de fiscalização, a guardie di finanza, instituída por Lei de

sete de abril de 1881 (…)faz parte integrante das forças publicas, para o que é

militarmente constituído; mas facilmente se pode mobilisar, formando batalhões e

companhias. Ficando então exclusivamente subordinado ao ministério da guerra, ao qual,

em todo o tempo, está cometida a sua instrução e inspeção militar” (Governo, 1885, p.

2615).

Era este último o sistema que o Ministro da Fazenda entendia ser o mais adequado

a implementar em Portugal. Era então a sua proposta que a guarda fiscal precisava de ter

“a par da disciplina e educação militar, um tirocínio especial, que lhe dê conhecimentos

dos hábitos de contrabando, dos ardis a que a fraude se socorre, da topografia das

regiões onde os descaminhos são mais frequentes, e dos meios que convém usar para os

descobrir e combater” (Governo, 1885, p. 2615). Em suma era sua intenção que na

guarda fiscal ninguém seria “admitido neste corpo sem que para logo se sujeite a um

duplo tirocínio, o militar e o fiscal.” (Governo, 1885, p. 2615)

Ernesto Ribeiro ressalva no documento que os militares deste novo corpo deveriam

ter como qualidades pessoais, boa capacidade de iniciativa (Governo, 1885, p. 2615), ou

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seja, deveriam ser os primeiros a fazer qualquer algo para combater a fraude, ter o

desembaraço nas resoluções , pois as infrações fiscais, não são algo que facilmente

fossem detetadas, pois eram usualmente camufladas por outras ações legais.

Como o próprio ministro referiu em 1885, “reformar não é destruir, mas sim aperfeiçoar”

(Governo, 1885, p. 2615), e “os fundamentos pelo qual se assenta a acção fiscal, que em

breve o paiz encontrará ahi um valioso subsidio para a manutenção dos seus justos

interesses” (Governo, 1885, p. 2615).

E o propósito que foi fundamental para a elaboração do decreto de 1885, foi

“preparar, instruir e disciplinar um corpo de guardas, que seja apto para todas as

evoluções de uma séria fiscalização e defeza” (Governo, 1885, p. 2615), dando ao reino

uma maior capacidade de coleta e fiscalização de impostos.

Foi então através da Carta de Rei, que D. Luiz I, “Rei de Portugal e dos Algarves”

(Governo, 1885, p. 2615), decreta que “os corpos de fiscalização serão constituídos à

similhança de corpos militares, ficando dependentes do ministério da fazenda quanto aos

serviços fiscais, e aos ministérios da guerra e da marinha quanto à manutenção da

disciplina” (Governo, 1885, p. 2617), sendo o comandante deste novo corpo um oficial

superior do exército (Governo, 1885, p. 2612), em comissão de serviço.

A Criação da GF, veio assim dar força e coesão, concentrando numa superior ação

dirigente, a cobrança e fiscalização de impostos por parte da Administração Pública

(Esteves, 1985, p. 13).

II – A GUARDA NACIONAL REPUBLICANA

A. A INTEGRAÇÃO DA GUARDA FISCAL NA GNR No período do Estado Novo, instaurado em 1933, a GNR e a GF , tendo em conta a

sua dispersão territorial, ganharam grande importância e enfoque especialmente ao longo

das zonas de fronteira, onde, para além da proteção das pessoas e bens, tinham a

grande missão de prevenir e reprimir o contrabando (Andrade, 2011, p. 110).

Em 26 de junho de 1993, em plena integração na União Europeia e consequente

abolição das fronteiras terrestres, as forças de segurança sofrem uma reestruturação

onde é extinta a Guarda Fiscal, ficando depositária do seu espólio a Guarda Nacional

Republicana com o Decreto-lei n.º 230 (Assembleia da República, 1993).

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No preâmbulo do citado preceito legal, encontra-se plasmado que “A Guarda Fiscal

assegura, há mais de um século, a atividade de controlo de trânsito de pessoas e bens,

contribuindo, com dignidade e prestigiante brio no desempenho da sua elevada função,

para a solidificação do Estado de direito em Portugal, atuando empenhada e

conscientemente na prevenção de atos ilícitos, na fiscalização e na repressão das

infrações e fraudes às leis do Estado” e que fruto dos “imperativos do momento histórico,

em ordem à prossecução do interesse público hodierno, exigem, conjunturalmente, um

esforço de adaptação das estruturas e instituições, de cuja responsabilidade o Governo

não pode alhear-se” (Assembleia da República, 1993).

Por outro lado, é reconhecido que é “cada vez mais imperioso reconhecer a

associação entre as redes de contrabando ou as infracções isoladas às leis fiscais dos

Estados e a criminalidade em geral, o que obriga a dotar as entidades encarregadas de

repressão fiscal de meios técnicos aptos e adequados a uma resposta eficaz perante uma

actividade ilícita mais exigente. Esta circunstância exige, por isso, o reforço dos

componentes de segurança das forças encarregadas do controlo do trânsito de

mercadorias, o que, por atenção à já referida extensão da costa marítima, não pode

deixar de significar uma profunda alteração na estrutura essencial de uma organização

com competências no domínio da fiscalização do cumprimento das leis fiscais”

(Assembleia da República, 1993).

Já nessa conjuntura de dificuldades financeira é reconhecido que “na perspectiva da

racionalidade deste sector de actividade estadual e da economia de meios, são evidentes

os benefícios que se retiram da ausência de uma multiplicação das entidades

competentes. Além de se evitarem duplicações de custos, não fica a eficiência e rapidez

de resposta do sistema dependente de um mero princípio de colaboração” e que

“perspectivando-se o futuro essencialmente em termos de reforço da segurança e

modernização da actuação em termos de fiscalização da costa, sem esquecer outras

competências que nestes e noutros domínios lhe devem também caber, entende-se que a

Guarda Fiscal se deverá transformar numa Brigada Fiscal através da integração dos

poderes que lhe estão cometidos e dos meios e pessoal que lhe estão afectos na Guarda

Nacional Republicana” (Assembleia da República, 1993).

Fruto da referida reestruturação, foi criada a BF da GNR, com as atribuições de dar

cumprimento da missão da GNR no âmbito da prevenção, descoberta e repressão das

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infrações fiscais, através da aprovação da nova Lei Orgânica da GNR (LOGNR)

(Assembleia da República, 1993).

Também no preâmbulo do citado normativo vem, desde logo, salientar que “a

circunstância do novo enquadramento institucional da Guarda Fiscal, que se traduz na

integração desta força de segurança na Guarda Nacional Republicana, vem implicar

ainda em termos orgânicos a criação, simultaneamente com a extinção da Guarda Fiscal,

de uma nova unidade na Guarda Nacional Republicana denominada Brigada Fiscal” e

que “a missão e competências anteriormente atribuídas à Guarda Fiscal e seus órgãos

são cometidas, com a necessária adaptação, à Guarda Nacional Republicana, torna-se

necessária a publicação de uma nova Lei Orgânica da Guarda Nacional Republicana que

defina claramente a sua missão, organização e características” (Assembleia da

República, 1993).

B. A EXTINÇÃO DA BRIGADA FISCAL E A CRIAÇÃO DA UAF Em 06 de Novembro de 2007, a nova lei orgânica da Guarda extingue a BF. Da

extinção da BF nasce a Unidade de Controlo Costeiro (UCC), que fica responsável pela

vigilância e patrulhamento da Costa e mar territorial, e a Unidade de Ação Fiscal (UAF),

com competência específica de investigação para o cumprimento da missão tributária,

fiscal e aduaneira cometida à GNR (Assembleia da República, 2007).

“Com as alterações legislativas operadas nos últimos anos, designadamente,

através da publicação da Lei Orgânica da GNR , Lei de Segurança Interna e da Lei de

Organização da Investigação Criminal , foram introduzidas profundas mutações no

figurino legal e organizacional de combate à criminalidade tributária, cuja materialização

se traduziu num reforço das competências de investigação criminal, no passado,

cometidas à Guarda” (Assunção, 2010, p. 40).

A UAF da GNR, no desempenho das suas atribuições, desenvolve as suas

missões, essencialmente e para além da missão geral da GNR, em três vertentes.

Através da sua vertente de Investigação Criminal (complexa, simples e económica); da

instrução de processos de contraordenação (aduaneiras e no âmbito de práticas

piscatórias e mergulho ilegal); e através da fiscalização tributária, nomeadamente, de

bens em circulação.

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Muito embora a missão atribuída tenha um espetro algo abrangente, conforme

resulta do artigo 41.º da LOGNR , a UAF é “uma Unidade especializada de âmbito

nacional com competência específica de investigação para o cumprimento da missão

tributária, fiscal e aduaneira cometida à Guarda”.

Na sequência da publicação desta panóplia legislativa, foram introduzidas

alterações organizacionais e operacionais no seio da Guarda. Assim, na sequência do

plasmado na LOGNR, conjugada com os artigos 4.º e 6.º da Portaria 1450/2008 , de 16

de dezembro, foi estabelecida uma organização da UAF, conforme organograma que se

segue (Assunção, 2010):

Figura n.º 1 - Organograma da UAF (ANEXO A, ao Despacho GCG n.º 62/09-OG, de 30 de dezembro de

2009)

C. ENQUADRAMENTO JURIDICO DA MISSA TRIBUTÁRIA

FISCAL E ADUANEIRA DA GNR A GNR, enquanto “força de segurança de natureza militar, constituída por militares

organizados num corpo especial de tropas e dotada de autonomia administrativa”,

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compete-lhe “no âmbito dos sistemas nacionais de segurança e proteção, assegurar a

legalidade democrática, garantir a segurança interna e os direitos dos cidadãos, bem

como colaborar na execução da política de defesa nacional, nos termos da Constituição e

da lei” (Assembleia da República, 2007).

No artigo 3.º da citada LOGNR, na sequência da missão geral da GNR, advém a sua

missão tributária, fiscal e aduaneira que decorre das suas atribuições de âmbito genérico

e específico, previstas respetivamente, no n.º 1 e nº 2 do artigo 3.º do mesmo diploma

legal (José, 2014).

No âmbito das competências genéricas atribuídas à GNR, destacamos as seguintes

competências:

• “e) Desenvolver as ações de investigação criminal e contraordenacional que lhe

sejam atribuídas por lei, delegadas pelas autoridades judiciárias ou solicitadas pelas

autoridades administrativas”;

• “h) Participar no controlo da entrada e saída de pessoas e bens no território

nacional”;

• “q) Prosseguir as demais atribuições que lhe forem cometidas por lei”.

No mesmo artigo, encontram-se ainda elencadas as designadas atribuições específicas

cometidas à GNR , designadamente:

• “c) Assegurar, no âmbito da sua missão própria, a vigilância, patrulhamento e

interceção terrestre e marítima, em toda a costa e mar territorial do continente e das

Regiões Autónomas;”

• “d) Prevenir e investigar as infrações tributárias, fiscais e aduaneiras, bem como

fiscalizar e controlar a circulação de mercadorias sujeitas à ação tributária, fiscal ou

aduaneira;”

• “e) Controlar e fiscalizar as embarcações, seus passageiros e carga, para os

efeitos previstos na alínea anterior e, supletivamente, para o cumprimento de outras

obrigações legais”.

No referido normativo legal , sob a epígrafe Autoridade de Policia Tributária, está

previsto que “Para efeitos do regime jurídico aplicável às infrações tributárias, são

consideradas autoridades de polícia tributária: a) Todos os oficiais no exercício de

funções de comando nas Unidades de Controlo Costeiro e de Ação Fiscal e nas

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respetivas subunidades; b) Outros oficiais da Guarda, quando no exercício de funções de

comando operacional de âmbito tributário” (Assembleia da República, 2007).

Acrescenta ainda, o mesmo artigo no seu n.º 2 “De forma a permitir o cumprimento

da sua missão tributária, bem como a prossecução das suas atribuições de natureza

financeira e patrimonial, a Guarda mantém uma ligação funcional com o Ministério das

Finanças, regulada por portaria conjunta do ministro da tutela e do membro do Governo

responsável pela área das finanças” (Assembleia da República, 2007).

Outro normativo de extrema importância no desenvolvimento da missão da GNR, é

o Regulamento Geral do Serviço da Guarda Nacional Republicana (RGSGNR) . Assim, no

artigo 6.º (Áreas em que se desenvolve a missão da Guarda), no seu n.º 5, contempla “As

missões de fiscalização no âmbito fiscal e aduaneiro são desempenhadas, em todo o

território nacional, pela Unidade de ação Fiscal” (Assembleia da República, 2010).

Ainda sob a epígrafe, “Serviço fiscal”, do Capitulo IV do Titulo IV, do RGSGNR, no

seu artigo 186º, refere quanto à vigilância “O efetivo da Guarda, no desempenho das

funções que lhe são conferidas pela legislação aduaneira e fiscal em vigor, deve exercer

aturada vigilância em todas” (Assembleia da República, 2010).

O referido Regulamento, plasma no n.º 8 do seu artigo 6.º que “As missões de

prevenção e de investigação da atividade tributária, fiscal e aduaneira são exercidas pela

Unidade de Ação Fiscal em todo o território nacional” (Assembleia da República, 2010).

“A criação da UAF, enquanto unidade com carácter especializado e de alto nível técnico,

traduz a materialização orgânica necessária para dar resposta às competências em

matéria de investigação da criminalidade tributária, atribuídas por lei – LOIC” (José, 2014,

p. 47).

Em complemento da supra elencada legislação, designadamente da LOGNR, o

Excelentíssimo Comandante-geral, através do supramencionados Despachos n.º 75/08-

OG, de 22 de dezembro e 62/09-OG, de 30 de dezembro, contempla à UAF:

• Executar ações de fiscalização tributária, fiscal e aduaneira;

• Recolher notícias e apoiar operacional e tecnologicamente as atividades de

investigação exercidas pelas subunidades operacionais;

• Coordenar com os comandos territoriais dos Açores e da Madeira a execução de

ações decorrentes da sua missão geral.

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“Assim se depreende que a UAF, paralelamente à atividade de investigação,

desenvolve como tarefa primária, a execução de ações de fiscalização e controlo de

mercadorias em circulação. Pretende-se desta forma apoiar e recolher informação de

apoio direto a inquéritos de âmbito criminal e contraordenacional e de prevenir e detetar

novos modus operandi.” (José, 2014).

III – A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL TRIBUTÁRIA NA UNIDADE

DE AÇÃO FISCAL A UAF vê, com a aprovação da Lei de Organização da Investigação Criminal , as

suas competências de combate à criminalidade tributária complexa, expressamente

previstas no n.º 4, do artigo 7.º deste diploma estruturante da investigação criminal.

Fruto do conhecimento adquirido, na sequência dos excelentes trabalhos de

investigação e resultados obtidos, no âmbito do combate a fraude e evasão,

nomeadamente no âmbito tributário, fiscal e aduaneiro, a publicação da Lei de

Organização da Investigação Criminal , viu consagrada a competência concorrencial com

a Polícia Judiciária (PJ) na investigação de ilícitos tributários de valor superior a 500.000€

, constituindo-se como um voto de enorme confiança nesta nova Unidade da GNR.

É neste contexto que, esta Unidade se vê obrigada a adaptar, organizando-se em

dois tipos de Destacamento, os de Ação Fiscal (Porto, Coimbra, Lisboa, Évora e Faro) e o

de Pesquisa, de âmbito nacional .

A atuação dos militares da UAF tem por base diferentes planos da atividade de

investigação criminal, nomeadamente, ao Nível Estratégico, que consiste na construção

do futuro aproveitando as competências da instituição (Supra Processual) e no conjunto

de planos para alcançar resultados consistentes com a missão e objetivos da instituição;

ao Nível Técnico, baseado no conjunto de conhecimentos e métodos adequados de agir;

e, ao Nível Tático, opção pela melhor via e momento de cumprir os atos e diligências

processuais.

Contudo, a atuação deve fazer face aos estratagemas fraudulentos característicos

da criminalidade tributária complexa, designadamente, a falsificação de documentos; a

criação de sociedades fictícias; a utilização fraudulenta dos regimes suspensivos de

impostos (apuramento irregular dos regimes suspensivos); a simulação de transmissões

intracomunitárias isentas; a fraude “carrossel”; e os reembolsos fraudulentos.

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IV – A FISCALIZAÇÃO TRUIBUTÁRIA PELA UNIDADE DE

AÇÃO FISCAL De forma complementar e subsidiária, a UAF, desenvolve ações de fiscalização de

bens em circulação, na sequência do que vinha sendo efetuado pela extinta BF, em todo

o Território Nacional e de forma exclusiva no contexto das Forças e Serviços de

Segurança (FSS). Esta atividade tem-se revelado bastante profícua, designadamente, na

deteção de fraude e evasão fiscal no âmbito dos produtos que posteriormente são

investigados na estrutura da própria Unidade/Subunidade.

“Contudo, deparamo-nos ainda com leis especiais reguladoras desta matéria, que

não conferem competências especiais à GNR no seu todo, mas continuam a apresentar à

extinta BF. É o avivar de duas correntes que já veem do passado, situação essa que

levou o Comando Geral da GNR a estabelecer, em 2002, um protocolo com a DGAIEC e

a difundir instruções específicas, através das Circulares nº 3/2002-P, de 20 de maio, e n.º

3/2006-F, de 02 de março, ambas da 3ª Repartição (hoje Direção de Operações)” (José,

2014).

Muito embora todo o Órgão de Polícia Criminal (OPC) tenha obrigatoriedade de

intervir quando se depara com um qualquer ilícito, o Regime Geral das Infrações

Tributárias (RGIT) , no seu artigo 35º nºs 1 e 6 define que a noticia do crime adquire-

se…por intermédio dos OPC… devendo o auto de noticia ser remetido, no mais curto

prazo ao órgão da Autoridade Tributária competente para o inquérito” (Assembleia da

República, 2001).

Segundo José (2014) “a questão surge a nível contraordenacional de onde se

resume, a nosso ver, a duas situações: uma situação é ter competência para fiscalização

de mercadorias no âmbito fiscal e aduaneiro e outra é ter competência para levantar AN

por contraordenação. Esta situação surge da análise dos diplomas e despachos referidos

anteriormente, onde subsiste, quanto a nós, dúvidas quanto à legitimidade do dispositivo

territorial na execução de ações de fiscalização e controlo no âmbito tributário, fiscal e

aduaneiro, em elaborar AN por contraordenação. É que o RGIT, na sua alínea a) do n.º 1

do artigo 63º afirma, como já vimos, constituir uma nulidade insuprível no processo de

contraordenação tributário, o levantamento do AN por funcionário sem competência,

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cabendo a este tão-somente, nos termos do n.º 1 do artigo 60º, participar ou denunciar tal

infração” (José, 2014).

O que supra se expos, é reforçado com normativos internos da Autoridade

Tributária e Aduaneira - AT (originada com a extinção das DGAIEC e DGCI),

nomeadamente no âmbito fiscal através do Oficio Circulado nº 60075, de 28 de julho de

2010, dispor que: “Ao abrigo das disposições conjugadas da Lei 63/2007, de 6 de

novembro e do DL nº 147/2003, de 11 de julho, a sucessão das designadas unidades

(BF/UAF), no que concerne à fiscalização e controlo de circulação de mercadorias

sujeitas à ação tributária, fiscal e aduaneira, … quanto à redação do nº 1 do artº 13º do

referido decreto-lei, clarificando… que a UAF tem competência para, em face das

infrações destetadas, elaborar os respetivos autos de notícia”.

Segundo, Andrade (2011, p. 222), a competência específica de investigação para o

cumprimento da missão tributária, fiscal e aduaneira, bem como o controlo da circulação

de mercadorias sujeitas à ação tributária e fiscal e aduaneira é exercida pela UAF, cujo

dispositivo decorre das suas especificidades e, no essencial, acompanha a articulação

dos Comandos Territoriais, nos respetivos distritos, incluindo os comandos territoriais dos

Açores e Madeira.

CONCLUSÕES Com a presente investigação, pretendeu-se explicar a importância que é para um

Estado democrático ter uma força policial que, diariamente seja capaz de articular a

fiscalização dos bens em circulação e a correspondente investigação de fenómenos de

fraude detetados, visando um equilíbrio da economia e finanças que permita a redução da

carga fiscal imposta a todos os cidadãos.

Tendo presente as circunstâncias em que o trabalho, o qual se insere no âmbito do

curso de Mestrado em Direito e Segurança da Faculdade de Direito da Universidade Nova

de Lisboa visando, verificaram-se as seguintes dificuldades: pouca bibliografia que, por si

só, abordasse de forma doutrinária e profunda, a problemática em estudo; reduzidos

investigadores que, no âmbito da prevenção da fraude e evasão fiscal, no âmbito

operacional, fossem conhecedores destas estruturas, de forma a se efetuar um trabalho

com maior caráter de científico; e o reduzido tempo para se aprofundar do tema em

análise.

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À pergunta base da estruturação do presente trabalho, “Qual é a atuação da GNR

no combate à fraude e evasão fiscal?”, pode-se concluir que a instituição, após herdar as

competências da GF, em 1993, tem sabido manter e reforçar a confiança que lhe foi

atribuída na prevenção e o combate a este flagelo que é a evasão fiscal.

Foi assim que, ao longo de sucessivas reestruturação impostas às FSS, se adaptou à

evolução dos mecanismos de fraude detetadas, conseguindo impor sempre a o seu lema

“Pela Lei e Pela Grei”

Ainda que de forma modesta, considera-se que as conclusões materiais do

presente trabalho, e os aspetos analíticos qua as sustentam, podem contribuir para uma

melhor clarificação concetual das matérias tratadas, assim como abrir outras hipóteses de

estudo.

BIBLIOGRAFIA Andrade, N., 2011. 100 Anos Guarda Nacional Republicana. 1ª ed. Lisboa: Guerra e Paz,

Editores S.A..

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Santos, P. R. d., 1985. Génese e Estrutura da Guarda Fiscal. Edição Comemorativa do

1.º Centenário ed. Lisboa: Imprensa Nacional da Casa da Moeda.

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