a globalizaÇÃo e sua influÊncia ao meio ambiente e as manifestaÇÕes de cidadania ambiental

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A GLOBALIZAÇÃO E SUA INFLUÊNCIA AO MEIO AMBIENTE E AS MANIFESTAÇÕES DE CIDADANIA AMBIENTAL. JEFERSON VALDIR DA SILVA 1 Mestrando do curso de Pós-Graduação em Ciência Jurídica da Universidade do Vale do Itajaí. Introdução O meio ambiente 2 é um dos temas mais debatidos na sociedade contemporânea, visto a sua importância e complexidade 3 . Em todos os recantos do mundo a cada dia que passa deteriora-se a qualidade ambiental e consequentemente a qualidade de vida. 1 Formado em Segurança Pública pela UNIVALI, em Direito e Pós-Graduação “latu sensu” em Educação Ambiental pela UNIDAVI, atua como Comandante da Polícia Ambiental do Alto Vale do Itajaí. Email: [email protected]. 2 DEEBEIS citando José Afonso da Silva diz que: “O conceito de meio ambiente há de ser, pois, globalizante, abrangente de toda natureza original e artificial, bem como os bens culturais correlatos, compreendendo, portanto, o solo, a água, o ar, a flora, as belezas naturais, o patrimônio histórico, artístico, turístico, paisagístico e arqueológico.” DEEBEIS, Toufic Daher. Elementos de direito ambiental brasileiro. São Paulo: Leud, 1999. p. 26. 3 “Os problemas com que as sociedades contemporâneas e o sistema mundial se confrontam no fim do século são complexos e difíceis de resolver.” SANTOS, Boaventura de Souza. Pela Mão de Alice - O social e o político na pós-modernidade. 3º ed. São Paulo: Cortez, 1997. p. 319.

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A GLOBALIZAO E SUA INFLUNCIA AO MEIO AMBIENTE E AS MANIFESTAES DE CIDADANIA AMBIENTAL.

JEFERSON VALDIR DA SILVA1 Mestrando do curso de Ps-Graduao em Cincia Jurdica da Universidade do Vale do Itaja.

Introduo O meio ambiente2 um dos temas mais debatidos na sociedade contempornea, visto a sua importncia e complexidade3. Em todos os recantos do mundo a cada dia que passa deteriora-se a qualidade ambiental e consequentemente a qualidade de vida. H poucas dcadas atrs as discusses mundiais eram apenas focadas em poluio local e a curta distncia. Hoje este tema deveras complexo, transfronteirio, e alcana at mesmo uma dimenso planetria. Exemplo disso temos os efeitos globais4, como: o efeito estufa e as mudanas climticas.1

Formado em Segurana Pblica pela UNIVALI, em Direito e Ps-Graduao latu sensu em Educao Ambiental pela UNIDAVI, atua como Comandante da Polcia Ambiental do Alto Vale do Itaja. Email: [email protected]. 2 DEEBEIS citando Jos Afonso da Silva diz que: O conceito de meio ambiente h de ser, pois, globalizante, abrangente de toda natureza original e artificial, bem como os bens culturais correlatos, compreendendo, portanto, o solo, a gua, o ar, a flora, as belezas naturais, o patrimnio histrico, artstico, turstico, paisagstico e arqueolgico. DEEBEIS, Toufic Daher. Elementos de direito ambiental brasileiro. So Paulo: Leud, 1999. p. 26. 3 Os problemas com que as sociedades contemporneas e o sistema mundial se confrontam no fim do sculo so complexos e difceis de resolver. SANTOS, Boaventura de Souza. Pela Mo de Alice - O social e o poltico na ps-modernidade. 3 ed. So Paulo: Cortez, 1997. p. 319. 4 Por Efeitos Globais ROCHA nos ensina que: A Primeira considerao sobre o assunto a temperatura do sistema terra-atmosfera. A Terra e receptora da radiao termal do sol. A constante solar: 440 Btu/hr/ft (equivalente a 2 cal/cm/min) revela a caloria que recebida na atmosfera terrestre. Estes fatos so conhecidos, mas o que no esta elucidado a funo da atmosfera e dos oceanos na redistribuio desta entrada de energia solar por todas as latitudes. Definem-se trs efeitos globais que o ar poludo provoca no homem e natureza como um todo: a) Efeito Casa-Verde devido ao CO2; b) Efeito Mudana Climtica; c) Efeito Estufa. De 1840 at a dcada de 1940 a temperatura da atmosfera vem aquecendo 0,6 C e algumas vezes esfriando 0,3 C por ano. A presena do CO2 no ar reduz a perda de calor por irradiao infravermelha. Isto pode causar um aumento da temperatura da orem de 1,1 C na temperatura media do planeta. Origem do CO2: queima de combustveis fosseis, processo de respirao, atividade

Como o passar dos anos, e devido ao aproveitamento dos recursos naturais como fonte de rendimentos, aliado ao pensamento de fontes inesgotveis de recursos naturais, os problemas ambientais tornaram-se mais graves. Desta feita, o processo de globalizao exerce influncia nas questes ambientais, j que retira do Estado o controle sobre estas questes; o territrio, torna-se cada vez menos importante frente aos problemas ambientais, estes que so transfronteirios. Com este processo, floresce a economia ecolgica que faz transformaes significativas na estrutura produtiva das empresas, junto a estas mudanas, nasce um novo sistema da gesto ambiental. Graas aos avanos tecnolgicos surge um novo sistema criado pela globalizao. A importncia do meio ambiente para a qualidade de vida da populao ponto central e comprovado, devido a essa importncia comea a ser motivos de discursos internacionais. Os problemas ambientais, nesta direo, tambm so aclamados em fruns internacionais, j que estes no esto restritos a apenas alguns pases, so problemas transnacionais. Para tanto, o meio ambiente um bem econmico essencial s atividades humanas, exigindo a necessidade de mudanas do atual desenvolvimento, que voltado apenas explorao e utilizao dos recursos naturais. Utilizao esta, que vm ocasionando mudanas radicais no meio ambiente global.vulcnica, queimadas, decomposio de matria orgnica. De um modo geral, admite-se que, por meio da fotossntese e da respirao, a produo de oxignio e o consumo de CO2, pelas plantas, e o consumo de O2 e produo de CO2 nos outros seres vivos, por serem processos antagnicos, estejam equilibrados. O que pe em risco este balanceamento a queima intensa dos combustveis fsseis, bem como da prpria madeira e da vegetao em geral. A combusto substitui a decomposio ou a respirao orgnica: produz calor com consumo de oxignio e combustveis (composto orgnico) com a liberao de gs carbnico. A devastao das florestas (para queimada de madeira, bem como para outras aplicaes) e a poluio das guas podem comprometer a produo e a reserva de oxignio na Terra. A energia perdida na queima de 1 Km de floresta equivale energia solar que pode ser aproveitada neste mesmo Km (1 Km de floresta queimada corresponde a 1 Mega Cal). Os componentes mais importantes do sistema climtico so, alm da atmosfera, os oceanos e as calotas de gelo com as usa enormes capacidades calorficas, as quais direcionam o comportamento da atmosfera, e tambm da vegetao, que pode armazenar a umidade do solo e determinar a reflexo da luz solar. Em mais de 50%, as emisses de monxido de carbono representam, atualmente, a principal causa com efeitos sobre o clima. Devido elevada concentrao de oligogases na atmosfera, a irradiao trmica procedente da Terra absorvida, sendo assim deslocado o equilbrio radioativo com o solo no sentido de um aquecimento da troposfera, esfriando-se, ao mesmo tempo, a estratosfera. ROCHA, Jos Sales Mariano da. Educao Ambiental Tcnica para os ensinos Fundamental, Mdio e Superior, 2 ed. Santa Maria: Imprensa Universitria. 1999. p. 24-5.

Tambm as questes sociais so intimamente ligadas s questes ambientais, para tanto, a defesa do meio ambiente passa a ser um desfio a sociedade global. Estes desafios e estas mudanas s podero ocorrer com a participao popular, atravs do exerccio da cidadania ambiental. A gesto dos bens ambientais clama pela participao social, mas isto s ocorrer se for proporcionado ao cidado informao, participao e o acesso justia, bem como os instrumentos condizentes ao Estado Democrtico e Ambiental de Direito.

A Globalizao e as questes ambientais

A par dos problemas ambientais, o processo de globalizao5 exerce influncia no meio ambiente, na medida em que os territrios deixam de serem importantes para as polticas de expanso geogrficas dos Estados-Naes, bem como, a expanso dos mercados e das empresas. O processo de globalizao retira do Estado6 o controle de muitas questes antes dominadas por este, o controle sobre os fluxos de capitais e da

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Em recente livro, Octvio Ianni relaciona oito teorias de globalizao. Dado a ausncia de um consenso terminolgico em discusses sobre o tema, oportuna uma rpida reviso das teorias apresentadas pelo autor: economia-mundo - as economias-mundo se submetem a um plo dominante, que pode mudar de acordo com os movimentos econmicos; os autores dessa vertente enfatizam os ciclos econmicos, pocas e tendncias das economias-mundo, que no deixam de ser Estados-nao com caractersticas nacionais definidas; internacionalizao do capital produtivo - um incremento da internacionalizao do capital produtivo com a disperso geogrfica da produo leva a uma nova diviso internacional do trabalho; o mundo transforma-se em uma fbrica global e as pessoas compram coisas de vrios lugares como se estivessem em um shopping center global; empresas e governos se modernizam, no sentido de desregulamentar, privatizar, abrir as fronteiras, etc; interdependncia das naes - devido maior ligao com empresas, conglomerados internacionais, instituies mundiais (ONU, FMI, OMC10 e outras) e formao de blocos de pases, os estados nacionais so considerados atores importantes e, aparentemente, no perdem a autonomia; a interdependncia considerada benefcio mtuo; essa interpretao v o mundo como um sistema; ocidentalizao - vista como modernizao do mundo, o emblema do desenvolvimento e do progresso; a meta seria a modernizao nos moldes ocidentais, a ser obtida atravs da desestatizao, desregulao, liberalizao, consumismo, automao, informatizao e das telecomunicaes; a modernizao tambm se imporia na forma de organizao social da vida e do trabalho e seria como uma ante-sala para o paraso; aldeia global - no sentido cultural surge da, unificao aquilo que as pessoas pensam, seus smbolos e idias; o modo de ser das pessoas passaria a ser guiado pelos smbolos da globalizao, como se as idias se transfigurassem pela magia da eletrnica; nos meios de comunicao de massa, igrejas e msicas, tudo se transforma eletronicamente pela informtica e levam os signos da cultura da mundializao; predominam os esteretipos e os cidados transformam-se em consumidores; racionalidade capitalista - o capitalismo caracteriza a racionalidade do mundo; as mais diversas esferas da vida social e intelectual so organizados em termos de calculabilidade, eficincia e lucratividade; o consumismo outra esfera de dinamizao das aes, tendo-se a confuso de liberdade e igualdade de consumidores com os direitos dos cidados; h, tambm, um evidente incremento da racionalidade individualista; dialtica da globalizao - o capitalismo seria um modo de produo internacional que, ao longo da histria, j teve movimentos como o mercantilismo, colonialismo, imperialismo, multilateralismo e globalismo; o capitalismo seria um processo complexo e contraditrio, que estaria sempre em movimento, se expandindo, entrando em crise e, depois, retomando a expanso; multiplicar-se-iam empresas, conglomerados, monoplios, trustes, cartis e multinacionais, com contnua concentrao; aos poucos, os princpios de mercado, produtividade, lucratividade, dinamismo das transnacionais passariam a influenciar as mentes e coraes das pessoas; modernidade-mundo - tem a capacidade de modificar as pessoas de maneira filosfica, cientfica e artstica; desenvolve-se a sociedade global e as estruturas de poder econmico e poltico caractersticas da globalizao; a ruptura dos quadros sociais e mentais de referncia logo provoca a onda da psmodernidade; h um vasto mercado de coisas, gente e idias, alm de iluses, homogeneidades e diversidades, obsolescncia e novidades; modificam-se modos de ser, pensar, agir e sentir. IANNI, Octvio. Teorias do Globalizao. 1995. 6 Estado Do latim statu, do verbo stare, estar de p, manter-se. O vocbulo apresenta o radical st, de origem indo-europia, que significa permanncia, durao. No direito romano, status personarum

poltica monetria, bem como tambm reduziu a margem de manobra das polticas macroeconmicas. A globalizao tambm, elimina a parcela geogrfica do espao econmico, ou seja, distribui e deslocaliza a atividade produtiva, tanto dos centros produtores de insumos quanto dos mercados consumidores, devido s novas tcnicas de organizao e distribuio da produo.

(civitatis, lebertatis e familiae) eram estados que as pessoas podiam encarnar na sociedade romana, conforme o ponto de vista dos direitos polticos, de sua liberdade ou de sua condio conjugal e sucessria. No direito poltico, a sociedade dotada de poder soberano e voltada para o bem comum. Estado (Origens sociolgicas) No estudo do homem pr-histrico destacam-se duas cincias: a Arqueologia, que se ocupa de vestgios humanos de qualquer natureza, como utenslios e pinturas rupestres, e a Etnologia, que estuda a vida social dos chamados primitivos atuais, vale dizer, aqueles que ainda hoje vivem nas mesmas condies dos mais remotos antepassados do homem contemporneo. Tais cincias, apoiadas pela Antropologia, conseguem lanar alguma luz sobre os obscuros primrdios das sociedades primitivas e de seus organismos diferentes. Todas as sociedades humanas, includas as selvagens, sempre se apresentaram dotadas de poder de mando rudimentar e, por mais que recuemos no tempo, at onde alcancem os mais antigos vestgios deixados pelo homem, encontraremos, sempre, o elemento humano vivendo em sociedade e uma autoridade dirigindo o grupo. Para situarmos-nos naquelas pocas remotssimas do passado humano, faremos um bosquejo referente periodizao de tais fases da Pr-Histria. Se levarmos em conta a teoria que afirma ter o homem surgido na Terra por volta de 600.000 anos atrs, poderemos dividir a Pr-Histria em duas idades: a Idade da Pedra (600.000 a 3.500 a.C) e a Idade dos Metais (3.500 a 50 a.C), sendo a primeira subdividida em perodos Paleoltica Inferior (mais antigo), Paleoltico Mdio e Paleoltico Superior (mais recente), Mesoltico e Neoltico e, a segunda, em duas idades: a do bronze e a do ferro. Que fazia o homem do Paleoltico Inferior para se manter? Evidentemente no poderia viver sozinho; a obteno de carne, mediante a matana de grandes e perigos animais, a luta contra as adversidades impostas pelo meio ambiente, alm da natural sociabilidade humana (aquele apetite social que se referia Thomas Hobbes), determinaram a vida em sociedade. [...] Foi a fixao do homem ao solo que ensejou a consolidao do Estado. [...], duas importantes teorias buscam elucidar, definitivamente, o problema da origem da autoridade entre os antigos: a teoria patriarcal e a teoria matriarcal. [...] A origem do prprio Estado encontrar-se-ia na unio de famlias diversas, aps fases sucessivas de transformao: gens tribo nao Estado. Nesta longa evoluo, a famlia patriarcal jamais deixou de persistir como ncleo interno e bsico, afirmam Summer Maine, Mommesen e Robert Filmer, alguns de seus principais expoentes. [...] Os principais seguidores da teoria matriarcalista so Bachofen, Lewis Morgan, Friedrich Engels e Giraud Telon. Quanto origem de cada Estado, de cada sociedade poltica tomada individualmente, problema dos mais srios e intrincados. Entre as teorias que buscam esclarecer a formao do Estado destacam-se algumas que, ainda hoje, usufruem de grande prestigio. [...] Quando Jean-Jacques Rousseau (1712 1778) desenvolveu a teoria do contrato social em obra clssica, no estava sendo o primeiro a afirmar que o Estado surge de um acordo de vontades. Antes dele, Thomas Hobbes (1588 1679) j desenvolvera teoria semelhante. Existe, porm, um foco de divergncia entre esses autores: se ambos consideram o homem primitivo vivendo num estado selvagem, passando a vida em sociedade mediante um pacto comum a todos, exatamente como se cria uma sociedade civil ou comercial, vale frisar que Rousseau imagina uma convivncia individualista, mas cordial, vivendo os homens pacificamente, sem atrito com seus semelhantes, ao contrario de Hobbes, para quem, em celebre tirada, o homem o lobo do prprio homem (homo homini lupus). Considera Hobbes que o homem um ser anti-social por natureza, e seu apetite social seria o fruto da necessidade da vida comunitria, fiscalizada por um aparato gigantesco destinado a impor a ordem, o Estado, enfim. A esse aparato Hobbes denomina Leviat. [...]. Para Karl Marx (1818 1883) e seu parceiro Friedrich Engels (1820 1895), o surgimento do poder poltico e do Estado nada mais que o fruto da dominao econmica do homem pelo homem. O Estado vem a ser uma ordem coativa, instrumento de dominao de uma classe sobre outra. Em seu celebre manifesto do Partido Comunista, Marx e Engels afirmam que a Historia da humanidade sempre foi a historia da luta de classes: homens livres e escravos, patrcios e plebeus, nobres e servos, mestres e artesos, numa palavra, exploradores e explorados sempre mantiveram uma luta, s vezes oculta, s vezes

A globalizao torna o territrio cada vez menos importante como elemento fundamental da produo de bens, por causa das novas tcnicas de produo, deixando para o espao geogrfico apenas questes voltadas ordem interna e a funo preservacionista do meio ambiente. Significa desta forma, dizer que o Estado e o territrio perdem a importncia que at aqui mantiveram. O Estado, desta forma, modificou-se profundamente para responder s exigncias que a nova diviso internacional do trabalho e, a nova organizao do processo produtivo reclama. Neste caminho acentua Pessoa7:A economia ecolgica surge como resposta demanda de avano as formas anteriores, tratando da problemtica do uso dos recursos naturais com as externalidades da cadeia produtiva, trazendo a prtica efetiva da sustentabilidade ambiental, associada capacidade de suporte do planeta, indicando como e quais os limites desejveis e mximos para o desenvolvimento econmico que no degrade os ecossistemas. [...] A economia ecolgica entende o sistema econmico como um subsistema de um todo maior que o contm, impondo uma restrio absoluta sua expanso. O capital construdo e o capital natural so complementares. A doutrina atribui economia ecolgica o conceito de sustentabilidade forte.

patente. Marx afirma que todos os fenmenos histricos so produtos das relaes econmicas entre os homens, e que o marxismo foi a primeira ideologia a afirmar o estudo das leis objetivas do desenvolvimento econmico da sociedade, em oposio aos ideais metafsicos. Segundo Engels, o Estado vem a ser terrvel maquina de coero destinada explorao econmica e, consequentemente, poltica, de uma classe sobre outra. Para alguns pensadores a origem do poder poltico e do Estado reside nas qualidades militares superiores a media nos grupamentos primitivos. [...] O princpio de autoridade militar de base religiosa consolidarse-ia como princpio de autoridade civil de carter permanente. O chefe de guerra converte-se em chefe poltico, autoridade administrativa, juiz e legislador. Afirma o clebre Voltaire que le premier qui fut roy fut um soldat heureux!. A denominada teoria da fora ou da violncia na gnese do poder poltico desenvolvida por Gumplowicz. Diz ele que o poder poltico vem a ser, pura e simplesmente, o resultado da fora bruta, da violncia imposta por alguns maioria dbil da sociedade. [...]. O pensamento de Miguel Elias Reclus no discrepa de Gumplowicz e de Marx e Engels, pois ele v na imposio violenta e espoliativa de impostos a verdadeira origem do Estado. [...] Se, como pretende mile Durkheim, o processo de centralizao do poder poltico se desenvolve paralelamente ao processo de centralizao do poder religioso at ento difuso no grupamento, a imposio de tributos surge, nesse estagio, como uma instituio de carter mgico, religioso. Ao clero soa feitos donativos in natura, o qual, em contrapartida, deve proteger a comunidade contra os vizinhos inimigos e os maus espritos. [...] segundo Durkheim e seus seguidores, a diviso dos homens primitivos em cls a primeira organizao social conhecida. Mais que a famlia ou a consanginidade, o que une os seres humanos a sua natureza mstica religiosa. ACQUAVIVA, Marcus Cludio. Dicionrio jurdico brasileiro Acquaviva. 11 ed. Ampl. Ver. e atual. So Paulo: Editora Jurdica Brasileira. 2000. p. 601-6. 7 PESSOA, Gergia Patrcio. Economia e Meio Ambiente Quanto vale a Biodiversidade? Congresso Internacional de Direito Ambiental - Paisagem Natureza e Direito. 9. 2v. So Paulo. 2005. p. 132-3.

Assim, o Estado tem que lidar com as mudanas ocorridas em nvel ambiental, a economia tambm sofre transformaes. RIFKIN8 faz uma anlise da transformao das caractersticas do Estado-nao frente ao novo paradigma:"A transio de uma economia baseada em material, energia e mode-obra para outra baseada na informao e na comunicao reduz ainda mais a importncia da nao-estado como participante essencial de garantia dos destinos do mercado. Uma importante funo da moderna nao-estado sua capacidade de usar a fora militar para tomar recursos vitais, captar e explorar mo-de-obra local e at global. Agora que os recursos energticos, minerais e mo-de-obra esto tornando-se menos importantes do que informao, comunicao e propriedade intelectual no mix da produo, a necessidade da interveno militar macia menos aparente. Informao e comunicao, as matrias primas da economia global de alta tecnologia, so impermeveis a fronteiras fsicas. Elas invadem espaos fsicos, cruzam linhas polticas e penetram nas camadas mais profundas da vida nacional. Exrcitos inteiros no podem conter nem mesmo diminuir o fluxo acelerado da informao e das comunicaes atravs de fronteiras nacionais."

a

internacionalizao

da

economia

que

estabelece

estas

transformaes, gerando assim, uma empresa globalizada, que permite em tese ao sistema padronizar e exigir condutas similares com relao ao meio ambiente, criando assim um sistema de gesto de melhor qualidade. Essa transformao nos leva a uma gesto dos bens ambientais, como descreve Almada9:Noutro passo, com o crescimento das atividades produtivas e comerciais, h necessidade da correspondncia entre tal fato e a tutela de um dos bens jurdicos mais importantes que o meio ambiente, considerado um bem fundamental da pessoa humana. Logo, a expanso dos mercados consumidores, em razo da sociedade capitalista em que vivemos e da globalizao que se8

RIFKIN, J. O fim dos empregos. O declnio inevitvel dos nveis de emprego e a reduo da fora global de trabalho. So Paulo: Makron Books. 1995. p.260-1. 9 ALMADA, Diego Bisi. Norma NBR ISO 14.001: Concesso Mediante a Observncia dos Instrumentos Legais de Proteo do Meio Ambiente, presentes na Lei n 6.938/81 (Lei de Poltica Nacional do Meio Ambiente) Congresso Internacional de Direito Ambiental - Paisagem Natureza e Direito. 9. 2v. So Paulo. 2005. p. 533-4.

encontra, cada dia mais, presente em nossas vidas, empresas de todo o mundo buscam um diferencial para alcanarem xito no mundo empresarial, que muitas vezes dotado de uma concorrncia desleal. Desta forma, qual seria a melhor maneira de diferenciar um empresa da outra, seno buscando pautar sua poltica empresarial sob o prisma ambiental? Foi pensando desta forma que surgiu a NBR ISO 14.001. [...] A norma NBR ISO 14.001, que possui cunho internacional, foi publicada em setembro de 1996 e responsvel por estruturar a implementao de um sistema de gesto ambiental.

Todas estas mudanas no sistema internacional so possveis graas aos avanos tecnolgicos na informtica e nas telecomunicaes, bem como pelas mudanas no modelo de gesto empresarial. Dlsep, afirma que de fato, quem deve estar mais interessado na gesto ambiental o prprio empresrio, no fito de assegurar os recursos naturais, [...], alm da imagem de sua empresa, [...].10 Este novo sistema criado pela globalizao torna obsoleto e incapaz de competir aquele que no se adapta s exigncias da nova diviso internacional do trabalho, bem como s exigncias ambientais esperadas pelo mercado consumidor. Dlsep11 afirma ainda que:A gesto ambiental instrumento hbil a propiciar s empresas uma melhoria de sua imagem. O marketing verde tem se revelado numa forte arma contra a concorrncia. Alm da satisfao e maior segurana aos prprios clientes, atinge o consumidor verde. Consoante j disposto, constitui-se num pblico a mais a ser alcanado. Ademais, afigura-nos ser esse perfil uma prospera tendncia.

As inovaes tecnolgicas criadas possibilitaram ao sistema de produo mundial a exigir menos recursos naturais do que as utilizadas anteriormente, portanto, mais favorveis ao meio ambiente. Segundo WOODALL12 a Tecnologia da Informao promete modificar a estrutura mundial:10

DLSEP, Clarissa Ferreira Macedo. Direito Ambiental Econmico e a ISO 14000: Anlise jurdica do modelo de gesto ambiental e certificao ISO 14001. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2004. p. 142. 11 DLSEP, Clarissa Ferreira Macedo. Direito Ambiental Econmico e a ISO 14000: Anlise jurdica do modelo de gesto ambiental e certificao ISO 14001. p. 142. 12 WOODALL, P. As ltimas das grandes ondas tecnolgica. Gazeta Mercantil. So Paulo. 1996. p.12.

"enquanto os automveis, ferrovias e motores a vapor usavam matrias primas em grande escala, a tecnologia da informao (TI) acelera a mudana para uma economia "sem peso", na qual uma parcela crescente da produo toma a forma de bens intangveis. A TI oferece tambm enorme potencial para reduzir a poluio e os congestionamentos, por meio do "teletrabalho" e das "telecompras", que tornaro muitas viagens desnecessrias."

A evoluo tecnolgica mencionada anteriormente, d perspectivas positivas em relao s atividades humanas, reservando para o futuro um melhor aproveitamento e proteo do meio ambiente. Surge de antemo a idia de um desenvolvimento sustentvel13 onde o conceito principal diz respeito ao princpio de uso mltiplo do territrio. Este uso mltiplo do territrio, trs consigo a utilizao plena dos recursos, porm elimina o aspecto meramente produtivo e estratgico do territrio, incluindo a proteo ambiental das reas. O meio ambiente torna-se tambm elemento de lazer, de qualidade de vida e principalmente econmico, pois desenvolve em seu seio todas as atividades humanas, adquiri assim, um status econmico, sendo desta forma, valorizado como tal. Pessoa14 citando Costanza apresenta uma estimativa da valorao dos servios de ecossistemas e do capital natural, representa:33 trilhes de dlares anuais, uma estimativa mdia entre um mnimo de 16 e um mximo de 54 trilhes de dlares, aproximandose a quase duas vezes o PIB mundial. Acredita-se que no Brasil este valor atinja 45% do PIB, considerando-se a atividade agroindustrial, a extrao de madeiras e a pesca, a partir dos recursos naturais manejados no pas.

Assim, os inmeros desastres ecolgicos, e o surgimento de grupos ambientalistas radicais despertaram a sociedade para a preservao do meio13

[] entre a defesa do meio ambiente e o desenvolvimento econmico, h uma dicotomia, na verdade, um antagonismo; criou-se, na Conferncia de Estocolmo/72, nos princpios 5 e 8, a noo de desenvolvimento sustentvel (ou sustentado, ou ainda ecodesenvolvimento), que prosperou, ecoando mais tarde em plo menos onze dos vinte e sete Princpios da Declarao da Rio/92, em especial nos princpios 3 e 4, assim como no setor privado, mediante a sua implementao nos modelos de gerenciamento empresarial a gesto ambiental. DLSEP, Clarissa Ferreira Macedo. Direito Ambiental Econmico e a ISO 14000: Anlise jurdica do modelo de gesto ambiental e certificao ISO 14001. p. 35-6. 14 PESSOA, Gergia Patrcio. Economia e Meio Ambiente Quanto vale a Biodiversidade? Congresso Internacional de Direito Ambiental - Paisagem Natureza e Direito. p. 128-9.

ambiente, porm ele se tornou importante, na medida em que foi se degradando, ficando escasso, e assim sendo, se convertendo num bem econmico. desta feita, que o meio ambiente torna-se alvo da economia, e para tal, gera oportunidades de novos empreendimentos. As atividades no meio rural tm aumentado em grande escala, e o meio ambiente torna-se lucrativo aos olhos dos investidores, sendo desta forma importante para a sociedade.

A Importncia do Meio Ambiente para a Sociedade Global Como bem sabemos a previso legal por si s no assegura o direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado. Contudo os ditames legais, bem como os princpios15 do Direito ambiental estabelecem as diretrizes para as condutas humanas, possibilitando assim, exigir o seu cumprimento. O direito ambiental16 est incumbido de regular s relaes do homem com o meio Ambiente como um todo (natural e artificial), este que deve ser protegido, pois essencial s atividades humanas, preceito equivalente ao direito vida. Para tanto, SILVA17, assim nos afirma:O conceito de meio ambiente h de ser, pois, globalizante, abrangente de toda a natureza, o artificial e original, bem como os bens culturais correlatos, compreendendo, portanto, o solo, a gua, o ar, a flora, as belezas naturais, o patrimnio histrico, artstico, turstico, paisagstico e arquitetnico. O meio ambiente , assim, a interao do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas. (grifo nosso)15

A expresso princpios significa proposies diretoras de uma cincia, s quais todo o desenvolvimento posterior dessa cincia deve estar subordinado. DEEBEIS, Toufic Daher. Elementos de direito ambiental brasileiro. p. 29. 16 O jurista Paulo Afonso Leme Machado, citando o Prof. Des. Tycho Brahe Fernades Neto, ensina que o Direito Ambiental o conjunto de normas e princpios editados objetivando a manuteno de um perfeito equilbrio nas relaes do homem com o meio ambiente. Acentua o referido jurista que a expresso Direito Ambiental mais ampla do que Direito Ecolgico. MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 12 ed. rev. atual. ampl. So Paulo: Malheiros. 2004. p.138. 17 SILVA, Jos Afonso. Direito ambiental Constitucional. So Paulo: Malheiros, 1994. p.6.

A qualidade de vida essencial sade humana. Todas as fontes poluidoras causam uma deteriorizao no bem estar humano, e consequentemente na qualidade de vida da populao. Neste caminho, nos ensina Robert Bullard18 que:As comunidades mais poludas so as comunidades com infraestrutura desintegrada, ausncia de investimentos econmicos, habitaes precrias, escolas inadequadas, desemprego crnico, alta pobreza e sistemas de ateno sade sobrecarregados.

Dentro destas perspectivas observa-se que as normas constitucionais assumiram a conscincia de que o direito vida, como matriz de todos os demais direitos fundamentais do homem que h de orientar todas as formas de atuao no campo da tutela do meio ambiente.19 Neste diapaso Paulo Affonso Leme Machado20 nos ensina que:As Constituies escritas inseriram o direito vida no cabealho dos direitos individuais. No sculo XX deu-se um passo a mais ao se formular o conceito do direito qualidade de vida. A conferncia das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente, na Declarao de Estocolmo/72, salientou que o homem tem direito fundamental a ... adequadas condies de vida, em um meio ambiente de qualidade... (Princpio 1). A conferencia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, na Declarao Rio de Janeiro/92, afirmou que os seres humanos tm direito a uma vida saudvel (Princpio 1). O Instituto de Direito Internacional, na seo de Estrasburgo, em 4.9.97, afirmou que todo ser humano tem o direito de viver em um ambiente sadio. [...] No basta viver ou conservar a vida. justo buscar e conseguir a qualidade de vida. [...] O tribunal Europeu de Direitos Humanos, com sede em Estrasburgo, decidiu, em 9.12.94, no caso Lpez Ostra, que atentados graves contra o meio ambiente podem afetar o bem-estar de uma pessoa e18

BULLARD, Robert. Enfrentando o racismo ambiental. In: ACSELRAD, Henri. HERCULANO, Selene. PDUA, Jos Augusto (orgs). Justia ambiental e cidadania. Rio de Janeiro: Relume Dumar. 2004. p. 44. 19 SILVA, Jos Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. So Paulo: Malheiros, 1992, p.719. 20 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. p.47-9.

priv-la do gozo de seu domicilio, prejudicando sua vida privada e familiar.

Portanto a sadia qualidade de vida s poder existir se o meio ambiente estiver ecologicamente equilibrado, para isso necessitamos de um meio ambiente no poludo, sendo assim as atividades humanas devem ser reguladas. Necessitamos, ainda que, sejam tomadas certas medidas e polticas pblicas destinadas a tal fim, constituindo-se assim uma sociedade justa, democrtica e de direito. Neste caminho, os assuntos internacionais antes debatidos, como paz e guerra eram considerados essenciais, hoje ainda o so, porm os debates enriqueceram-se consideravelmente. A discusso moderna engloba outros setores de influncia, e abordam todas as grandes problemticas que do forma ao mundo, marcado agora por sua natureza global e pelas interaes entre fenmenos transnacionais. Santos21 desta feita assinala que:De todos os problemas enfrentados pelo sistema mundial, a degradao ambiental talvez o mais intrinsecamente transnacional e, portanto, aquele que, consoante o modo como for enfrentado, tanto pode redundar num conflito global entre o Norte e o Sul, como pode ser a plataforma para um exerccio de solidariedade transnacional e intergeracional.

Os fenmenos transnacionais envolvem questes antes no discutidas, como: as grandes pandemias; as catstrofes ambientais; as poluies transfronteirias; as chuvas cidas e o problema do buraco na camada de oznio. Sobre as questes ligadas ao ser humano e o meio ambiente escreve STERN, YOUNG e DRUKMAN22:Os seres humanos no so mais vtimas inocentes compelidas a adaptar-se, em alguns casos, rapidamente, a mudanas em grande21

SANTOS, Boaventura de Souza. Pela Mo de Alice - O social e o poltico na ps-modernidade. p. 296. 22 STERN, Paul L., YOUNG Oraw R, DRUCKMAN, Daniel. Mudanas e Agresses ao Meio Ambiente. (traduo de Jos Carlos B. Santos). So Paulo: Makron, 1993, p.11.

escala nos sistemas ambientais e resultantes de foras superiores ao seu controle. Ao contrrio, o prprio comportamento humano que deve ser controlado se que pretendemos ter sucesso no melhoramento ou no redirecionamento da mudana global.

Aos antigos desafios, como o subdesenvolvimento, vm se sobrepor a novas ameaas, desafios muito maiores e que exigem a tomada de deciso da comunidade mundial. Hoje a preservao do meio ambiente vista com maior importncia pela sociedade, por ser considerado um bem econmico e essencial s atividades humanas. Desta forma, deve-se colocar em prtica, em escala mundial uma verdadeira estratgia de mudana do atual desenvolvimento. Esses constituem desafios maiores sociedade global. Para Santos23:, os problemas mais srios com que se confronta o sistema mundial so globais e como tal exigem solues globais, marcadas no s pela solidariedade dos ricos para com os pobres do sistema mundial, como pela solidariedade das geraes presentes para com as geraes futuras.

A Mobilizao da Sociedade Global em Prol do Meio Ambiente

As posturas adotadas at a presente data, em relao aos recursos naturais, que pesam sobre nosso planeta, vm ocasionando mudanas radicais no globo terrestre, exigindo desta forma, a acelerao da mobilizao internacional. Sobre estas questes ambientais Santos24 adverte que:... os factores da transnacionalizao do empobrecimento, da fome e da m nutrio tiveram entre muitas conseqncias adversas a da degradao ambiental. A presso para intensificao das culturas de explorao combinada com tcnicas deficientes de gesto de solos23

SANTOS, Boaventura de Souza. Pela Mo de Alice - O social e o poltico na ps-modernidade. p. 299. 24 SANTOS, Boaventura de Souza. Pela Mo de Alice - O social e o poltico na ps-modernidade. p. 296.

levaram desertificao, salinizao e eroso. A destruio das florestas tropicais, sobretudo no Brasil e na Amrica Latina mas tambm na Indonsia e nas Filipinas, apenas o exemplo mais dramtico. Em cada dcada, desde 1950, perderam-se 30 milhes de hectares de floresta na frica tropical, 40 milhes na Amrica Latina e 25 milhes na sia meridional (Pelizzon, 1992:2) [...] Mas a degradao ambiental provocada por esta via apenas um aspecto muito parcial de um fenmeno muito mais amplo a crise ecolgica to amplo que, em meu entender, constitui o terceiro vector, juntamente com a exploso demogrfica e a globalizao da economia, do espao-tempo mundial.

Trata-se desta forma, em um desafio central para a sociedade global, que deseja integrar todas as dimenses da mundializao25 e contribuir para o advento de um mundo mais justo, mais estvel e mais seguro. A defesa do meio ambiente no poderia ser deixada de lado, por si s um desafio, e uma prioridade para a sociedade global. Esta defesa situa-se num patamar equivalente ao direito a vida, no centro de uma iniciativa coerente, de uma nova maneira de conceber e construir o mundo. Nesta direo nos ensina Paulo de Bessa Antunes26:A Qualidade de vida um conceito que ultrapassa o da simples sobrevivncia humana. uma expresso cuja definio jurdica ainda est por ser construda. Pode-se dizer que a qualidade de vida um conceito que se encontra vinculado noo de sustentabilidade, isto , a capacidade de promoo de uma estrutura social e econmica que seja capaz de assegurar o equilbrio entre as condies ambientais adequadas e a distribuio de riquezas de forma suficiente a assegurar que cada individuo possa encontrar o seu bem-estar fsico e espiritual. A sustentabilidade a capacidade do desenvolvimento de atividades sejam desenvolvidas sem a destruio dos elementos ecolgicos indispensveis ao prosseguimento da vida, em qualquer de suas formas. O conceito, como bvio, no se limita ao aspecto material mas, ao contrrio,

25

Assim, a mundializao em curso no sculo XX, em especial depois da Segunda Guerra Mundial e mais ainda em seguida ao trmino da Guerra Fria, pode ser vista como um novo surto de mundializao da racionalidade prpria da civilizao capitalista ocidental. Mas com uma peculiaridade: nesta poca a racionalidade prpria desse processo civilizatrio j adquire categoria global. IANNI, Octvio. Teorias da Globalizao. p. 119. 26 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 7 ed. Rio de Janeiro: Lmen Jris, 2004. p.754.

est permeado por elementos de natureza subjetiva que se modificam a cada etapa concreta da vida em sociedade.

A tarefa imensa, e compartilhada pela humanidade, todos nos sabemos que vrias espcies vivas esto gravemente ameaadas de extino27, sabemos tambm que florestas esto sendo devastadas, que a gua de nosso planeta continua sendo contaminada, e isto tudo coloca em perigo os seres humanos e todas as vidas deste planeta. Sobre este perigo Franco28 nos adverte que: de conhecimento geral, e mesmo hoje lugar comum, falar-se a respeito da nfima quantidade de gua doce existente no planeta e do problema previsto acerca da falta deste elemento diante do crescente consumo, da interferncia nos ciclos hidrolgicos acarretando sua diminuio e, principalmente, diante do descaso com que o ser humano h muito vem poluindo-o. No ignorando tal situao, devese observar que tal crise afeta no apenas diretamente o ser humano, mas tambm todas as demais espcies, por tratar-se de elemento indispensvel sobrevivncia de todos os seres vivos da biosfera.

Desde o final dos anos setenta e em conseqncia de uma srie de catstrofes infelizmente bastante conhecidas, e pouco apreciadas, comeamos a pensar e discutir estes problemas ambientais.29

A mudana de estratgia com relao ao meio ambiente dever surgir em conjunto com a participao popular, onde est mobilizar os outros agentes sociais, ou seja, os Governantes, os Empresrios, os Comerciantes e aqueles ligados s atividades potencialmente poluidoras do meio ambiente.

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Lista da fauna Silvestre brasileira ameaada de extino que foi publicada pelo Ministrio do Meio Ambiente no dia 22 de maio de 2003. Disponvel em: www.mma.gov.br/port/sbf/fauna/index.cfm Acesso em 15.12.2005. 28 FRANCO, Jos Gustavo de Oliveira. Direito Ambiental Matas Ciliares. p.133. 29 Desde a dcada de 70 diversas conferncias foram proferidas no mundo inteiro e vrias cartasforam elaboradas, fazendo intenso chamamento Educao Ambiental [...] A Conferencia de Estocolmo marcou o incio da Educao Ambiental no Mundo e a Carta de Belgrado consagrou-se como o marco da Educao Ambiental. [...] As jornadas de Vezlay, que reuniram todos os pases de lngua francesa, a Carta de Viena, o acordo de Montreal (PNUE: Programme ds Nations Unies pour Invironnement), os relatrios do Center for Latin American Studies(USA) e do Center for Amazonian Studies (Reino Unido) e o famoso Relatrio de Marcel Blanc, todos concluram sobre os 4 (quatro) perigos bsicos que podero destruir o planeta nas prximas dcadas: a energia atmica, o efeito estufa, a camada de oznio e os produtos provenientes da biotecnologia [...]. Relatam esses relatrios que a Educao Ambiental macia e pratica, (Educao Ambiental Tcnica) atingindo os grandes centros, poderia ser uma esperana para evitar a destruio do planeta. ROCHA, Jos Sales Mariano da. Educao Ambiental Tcnica para os ensinos Fundamental, Mdio e Superior. p. 3-4.

MOTA30 em seu livro cita VARELLA e BORGES, apontando a necessidade da Cidadania como elemento fundamental para uma sociedade tica e mais justa, livre e feliz ressalta que:O exerccio democrtico da cidadania fundamentalmente tico. uma opo valorativa no sentido de entendimento e pratica de transformao em busca de uma sociedade mais justa, mais livre e mais feliz. Essas pautas ticas so o inverso do conformismo e estabelecem bases para a constituio de novos direitos. [...] Hoje, a cidadania apresenta outra dimenso. A questo de seu exerccio transcende a internacionalizao e invade a planetarizao. Isto se d pelo fato da produo apresentar efeitos destrutivos em todo o planeta, no mais se circunscrevendo aos parmetros geopolticos do internacionalismo, mas avanando para a questo da prpria sobrevivncia do planeta e da espcie humana. O que leva necessidade de o ser humano conceituar-se de modo diferente. No mais um cidado que domina a natureza para criar um mundo convivendo com ela. Esse cidado planetrio tem na questo ambiental um dos problemas polticos e humanos mais srios da contemporaneidade. O ser humano chegou ao ponto de poder se destruir enquanto espcie.

Portanto h a necessidade de mobilizar-nos mais, ou seja, exigir uma postura menos agressiva natureza, buscando desta forma, um aproveitamento consciente de seus recursos, aproveitando-o de forma economicamente sustentvel. Os desafios da mundializao, entre os quais se encontra a gesto dos bens pblicos ambientais, exigem, de fato, uma poltica mais atuante, coerente e ambiciosa, que tenha como base um trabalho de educao ambiental 31 e mudana de comportamento mais eficaz.

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MOTTA, Maude Nancy Joslin. O exerccio da cidadania do direito ambiental. In: VARELLA, Marcelo Dias, BORGES, Roxana Cardoso B. O novo em direito ambienta. Belo Horizonte: Del Rey, 1998. p.102. 31 Segundo ROCHA, Educao Ambiental um processo de tomada de conscincia poltica, institucional e comunitria da realidade ambiental, do homem e da sociedade, para analisar, em conjunto com a comunidade (atravs de mecanismos formais e no formais), as melhores alternativas de proteo da natureza e do desenvolvimento scio-econmico do homem e da sociedade. ROCHA, Jos Sales Mariano da. Educao Ambiental Tcnica para os ensinos Fundamental, Mdio e Superior. p. 7.

A natureza est a nossa disposio, porm devemos fomentar novas formas de utiliz-la, de modo sua preservao e conservao32, visando assim, uma harmonia entre o homem e a natureza. A Comunidade mundial deve buscar e almejar cada vez mais rpidas aes em defesa do meio ambiente, fortalecendo os laos entre os pases, impondo-se responsabilidades mtuas, gerando assim, uma gesto duradoura dos recursos naturais, bem como criao de reas protegidas que permitam a preservao da biodiversidade33. Os fenmenos ambientais de que falamos hoje no conhecem fronteiras, desta forma preciso abord-los em escala mundial, privilegiando o dilogo interno e internacional. Devemos tambm identificar aes precisas e prioritrias. Assim, lutar contra a degradao ambiental, contribui, simultaneamente para a melhoria dos meios de subsistncia do homem e para a reduo de seus efeitos negativos. Santos34 afirma que:Os problemas com que as sociedades contemporneas e o sistema mundial se confrontam no fim do sculo so complexos e difceis de resolver. So fundamentais, na designao de Fourier, a exigir solues fundamentais. [...] Emergiram ou agravaram-se nas duas ltimas dcadas uma srie de problemas transnacionais, alguns transnacionais por natureza e outros transnacionais pela natureza do seu impacto. So os problemas da degradao ambiental, do aumento da populao e do agravamento das disparidades de bemestar entre o centro e a periferia, tanto ao nvel do sistema mundial, como ao nvel de cada um dos Estados que o compem.

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ROCHA simplificadamente nos explica a diferena entre Preservao e Conservao: O conceito de Preservao caracteriza deixar a Ambincia como ela se encontra. Se poluda, devera permanecer como tal. J o conceito de Conservao atende ao Eco-Desenvolvimento. Usa-se a Ambincia visando a sua melhoria constante e a sua perpetuidade. ROCHA, Jos Sales Mariano da. Educao Ambiental Tcnica para os ensinos Fundamental, Mdio e Superior. p. 9. 33 FRANCO em seu livro Direito Ambiental Matas Ciliares nos aponta o conceito de Biodiversidade: ...atravs do Decreto 2.519/98 conceitua, em seu art. 2 biodiversidade, ou diversidade biolgica, como a variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquticos e os complexos ecolgicos de quem fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro de espcies, entre espcies e de ecossistemas. FRANCO, Jos Gustavo de Oliveira. Direito Ambiental Matas Ciliares. p.30. 34 SANTOS, Boaventura de Souza. Pela Mo de Alice - O social e o poltico na ps-modernidade. p. 319.

Estas aes devem constituir, em primeiro lugar, uma responsabilidade nacional, mas ela tambm uma questo de mbito internacional, e deve para tanto ser discutida em foros internacionais. Neste sentido Giddens35 ensina que:At onde diz respeito s relaes entre os estados parece evidente que uma ordem poltica mundial mais coordenada tende a emergir. Inclinaes para uma globalizao crescente mais ou menos foram os estados a colaborarem sobre questes com as quais eles procuraram outrora lidar separadamente. [...] Finalmente, a crescente interdependncia global aumenta a gama de situaes em que interesses semelhantes so partilhados por todos os estados. [...] A preocupao com os danos ao meio ambiente est agora difundida, e um foco de ateno para os governos em todo o mundo. [...] Na medida em que a maior parte das questes ecolgicas conseqentes to obviamente global, as formas de interveno para minimizar os riscos ambientais tero necessariamente uma base planetria.

A Cidadania como mecanismo de participao e manifestao social As questes ambientais so complexas e demandam uma resposta da sociedade global, assim, temos a cidadania como mecanismo de participao social, que pode ser exercida por meio da participao do cidado nas decises pblicas, atravs de sua influncia e fiscalizao, agindo de forma isolada ou associativamente, concretizando o Estado de Direito Ambiental. A respeito do assunto, estes so os ensinamentos de Jos Rubens Morato Leite36:Na prtica, uma consecuo do Estado de Direito Ambiental s ser possvel a partir da tomada de conscincia global da crise ambiental, em face s exigncias, sob pena de esgotamento irreversvel dos recursos ambientais, de uma cidadania moderna e participativa, [...]. De fato, a concretizao do Estado de Direito Ambiental converge obrigatoriamente para mudanas radicais nas estruturas existentes da sociedade organizada. E no h como negar que a conscientizao global da crise ambiental exige uma cidadania participativa, que35

GIDDENS, Anthony. As conseqncias da modernidade. traduo Raul Fiker. So Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1991. p. 167-9. 36 LEITE, Jos Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo, extrapatrimonial. 2 ed. rev. atual. e ampl. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003. p. 32-4.

compreende uma ao conjunta do Estado e da coletividade na proteo ambiental. No se pode adotar uma viso individualista sobre a proteo ambiental, sem solidariedade e desprovida de responsabilidades difusas globais. Trata-se de um pensamento equivocado dizer que os custos da degradao ambiental devem ser repartidos por todos, em uma escala global que ningum sabe calcular. Esta viso distorcida e leva ao esgotamento total dos recursos ambientais e a previses catastrficas. Portanto, somente com a mudana para a responsabilidade solidria e participativa dos Estados e dos cidados com os ideais de preservao ecolgica que se achar uma luz no fim do tnel. [...] Saliente-se, entretanto, que mudanas exigem tarefas fundamentais do Estado na proteo ambiental e uma poltica ambiental intercomunitria, significando que as transformaes no abandonam por completo o Estado Social, mas trazem um perfil modificado a este. [...] Desta forma, [...], caber ao Estado de Direito do Ambiente, indiscutivelmente, entre outras funes, proteger e defender o meio ambiente, promover educao ambiental, criar espaos de proteo ambiental, executar o planejamento ambiental. [...] A introduo da viso democrtica ambiental proporcionar uma vertente de gesto participativa no Estado, que estimular o exerccio da cidadania, com vistas ao gerenciamento da problemtica ambiental.

Para tanto, as relaes de cidadania no seio da sociedade no so to fceis de serem incorporadas e assimiladas, porm, o princpio da comunidade rousseauiana o que tem mais virtualidades para fundar as novas energias emancipatrias, segundo Santos37:Se complexa a relao entre subjectividade e cidadania, -o ainda mais a relao entre qualquer delas e a emancipao. Porque a constelao ideolgica-cultural hegemnica do fim do sculo parece apontar para a reafirmao da subjectividade em detrimento da cidadania e para a reafirmao desigual de ambas em detrimento da emancipao, torna-se urgente submeter a uma anlise crtica as relaes entre estes trs marcos da histria da modernidade. Uma tarefa particularmente urgente para aqueles que se identificam com o que nesta constelao afirmado sem contudo se poderem identificar com o que nela negado ou negligenciado. [...] O pilar da regulao constitudo por trs princpios: o princpio do Estado (Hobbes), o37

SANTOS, Boaventura de Souza. Pela Mo de Alice - O social e o poltico na ps-modernidade. p. 235-63.

princpio de mercado (Locke) e o princpio da comunidade (Rousseau). [...] Apesar de estar ele prprio muito colonizado pelo princpio do Estado e pelo princpio do mercado, o princpio da comunidade rousseauiana o que tem mais virtualidades para fundar as novas energias emancipatrias. A idia da obrigao poltica horizontal, entre cidados, e a idia da participao e da solidariedade concretas na formulao da vontade geral so as nicas susceptveis de fundar uma nova cultura poltica e, em ltima instncia, uma nova qualidade de vida pessoal e colectiva assentes na autonomia e no autogoverno, na descentralizao e na democracia participativa, no cooperativismo e na produo socialmente til.

A participao38 necessria, e fundamental nas questes ambientais, para isso devem ser encorajadas e facilitadas. essencial que esta participao envolva todos os setores da sociedade, sejam as empresas, os comrcios, as organizaes no-governamentais, bem como a administrao pblica, todos juntos em prol de um meio ambiente equilibrado. Assim leciona Jos Rubens Morato Leite39:No h como negar que, para se discutir, impor condutas, buscar solues e consensos que levem proteo ambiental, necessria a participao dos mais diversos atores: grupos de cidados, ONGs, cientistas, corporaes industriais e muitos outros. [...] Assim, para se edificar e estruturar um abstrato Estado Ambiental, pressupe-se uma democracia ambiental.

Nesta direo, tem-se o Princpio democrtico que o elemento constituinte do Estado Democrtico social de direito, que busca a informao e participao da sociedade nos temas ambientais. Para Antunes O princpio democrtico materializa-se atravs dos direitos informao e participao. [...] aquele que assegura aos cidados o direito pleno de participar na elaborao das polticas publicas ambientais. 40 O exerccio da democracia participativa fortalece a sociedade, pois da a esta a possibilidade de informao, mudana de comportamento e conscincia necessria s questes ambientais.38

A participao dos indivduos e das associaes na formulao e na execuo da poltica ambiental foi uma nota marcante dos ltimos vinte e cinco anos. MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. p. 81. 39 LEITE, Jos Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo, extrapatrimonial. p. 34-5. 40 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p. 32-3.

A informao o mecanismo essencial ao entendimento das questes ambientais, este que interligado com a liberdade de pensamento e de expresso, fontes principais do direito de comunicao. O homem v a liberdade como um direito a ele inerente, e assim, o busca de todas as formas, e nas questes ambientais o direito a informao fundamental para o exerccio de suas liberdades. A Declarao Universal dos Direitos do Homem, aprovada pela Assemblia-Geral das Naes Unidas assegura o direito a liberdade de expresso e a obter informaes, em seu art. XIX. Assim descrito:Art. XIX Todo homem tem direito liberdade de opinio e expresso; este direito inclui a liberdade de, sem interferncias, ter opinies e de procurar, receber e transmitir informaes e idias por quaisquer meios independente de fronteiras.41

Neste mesmo caminho temos a Conveno Americana sobre Direitos Humanos, Pacto de So Jos da Costa Rica, em seu anexo Decreto n 678 de 6/11/1992 que assim prescreve em seu art. 13:Art. 13: 1. Toda pessoa tem direito liberdade de pensamento e de expresso. Esse direito compreende a liberdade de buscar, receber e difundir informaes e idias de toda natureza, sem considerao de fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou em forma impressa ou artstica, ou por qualquer outro processo de sua escolha.42

A informao para o doutrinador Paulo Affonso Leme Machado serve para o processo de educao de cada pessoa e da comunidade. Mas a informao visa, tambm, a dar chance pessoa informada de tomar posio ou pronunciar-se sobre a matria informada.43 O direito a informao ento analisado de trs formas, ou seja, o direito de informar, o direito de se informar e o direito de ser informado, sendo assim, fonte primordial para o exerccio da cidadania. A Conveno de Aarhus44 que foi aprovada na 4 Conferencia Ministerial da srie Meio Ambiente para a Europa, realizada pela Organizao das41

ALVES, Marina de Lima Draib. A Lei de Acesso Informao Ambiental e o Direito Informao no Brasil Direito Ambiental Enfoques Variados. Bruno Campos Silva (org.). So Paulo: Lemos & Cruz, 2004. p. 41. 42 ALVES, Marina de Lima Draib. A Lei de Acesso Informao Ambiental e o Direito Informao no Brasil Direito Ambiental Enfoques Variados. p. 42. 43 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. p.78. 44 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. p. 77.

Naes Unidas em 25 de junho de 1998, na Dinamarca, trata do Acesso Informao, Participao Pblica em Processos Decisrios, e Justia em Matria Ambiental. A conveno tida como uma das normas mais completas e atuais sobre o tema da participao pblica na gesto do meio ambiente, garantindo aos cidados o acesso a informaes sobre a qualidade ambiental, o acesso justia para garantir seus direitos, e principalmente a um meio ambiente sadio. A conveno de Aarhus prope o acesso a informaes contidas na posse de autoridades pblicas, prope ainda a participao do pblico na tomada de decises a respeito do meio ambiente, e prope tambm, o alargamento das condies de acesso justia. A conveno acima citada, disciplina que os pases membros da Comunidade Europia devero observar o acesso informao e participao mundial. Desta forma, a informao, a participao e o acesso justia, proporcionam o verdadeiro envolvimento da comunidade com as questes ambientais, mudando a forma de pensar, bem como influenciando nas tomadas de deciso. Certo disso, um dos instrumentos capazes de mudanas e destas possibilidades a Educao Ambiental. Um cidado educado ambientalmente, ser certamente, capaz de compreender melhor os temas ambientais. Sendo assim, a educao ambiental no apenas um meio de exerccio de cidadania ambiental, o mecanismo de abertura desta. A cidadania ambiental, por sua peculiaridade, uma nova concepo de cidadania, conceito que explicado por Leite e Ayala45:No se pode deixar de ser observado que o caput do art. 225 da CRB constitui no texto poltico fundamental brasileiro o punctum de referncia imediata do reconhecimento da abertura dogmtica amiga ao reconhecimento da cidadania ambiental, nos precisos termos em que afirma a qualidade difusa do bem ambiental e estrutura um45

pblica

em

processos

decisrios

em

matria

ambiental,

estabelecendo mecanismos para tal, servindo de exemplo para a comunidade

LEITE, J.R.M, AYALA, P.A. Direito ambiental na sociedade de risco. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 2002.

sistema de responsabilidades compartilhadas entre todos, em uma orientao inclusiva, que inclui no s aqueles que no possam exercer regularmente os direito polticos, mas tambm as futuras geraes.

A cidadania ambiental impe uma nova postura da sociedade, envolvendo a sociedade civil e o poder pblico na gesto do meio ambiente, possibilitando a todos uma participao efetiva, e com a devida tomada de deciso por parte da coletividade. Assim sendo, Santos46 nos d uma caracterizao do que esta nova cidadania:A nova cidadania tanto se constitui na obrigao poltica vertical entre os cidados e o Estado, como na obrigao poltica horizontal entre cidados. Com isso, revaloriza-se o princpio da comunidade e, com ele, a idia da igualdade sem mesmidade, a idia de autonomia e a idia de solidariedade. Entre o Estado e o mercado abre-se um campo imenso que o capitalismo s descobriu na medida em que o pode utilizar para seu benefcio no estatal e no mercantil onde possvel criar utilidade social atravs de trabalho auto-valorizado (trabalho negativo, do ponto de vista da extraco da mais-valia): uma sociedade-providencia transfigurada que, sem dispensar o Estado das prestaes sociais a que o obriga a reivindicao da cidadania social, sabe abrir caminhos prprios de emancipao e no se resigna tarefa de colmatar as lacunas do Estado e, deste modo, participar, de forma benvola, na ocultao da opresso e do excesso de regulao. O cultivo desse campo imenso, que tem vindo a ser tentado com xito diferenciado pelos NMSs, ser o produtoprodutor de uma nova cultura.

Santos47 ainda completa dizendo que:[...] e novas formas de cidadania colectivas e no meramente individuais; assentes em formas poltico-jurdicas que, ao contrrio dos direitos gerais e abstractos, incentivem a autonomia e combatam a dependncia burocrtica, personalizem e localizem as competncias interpessoais e colectivas em vez de as sujeitar a padres abstractos; atentas s novas formas de excluso social46

SANTOS, Boaventura de Souza. Pela Mo de Alice - O social e o poltico na ps-modernidade. p. 277-8. 47 SANTOS, Boaventura de Souza. PELA MO DE ALICE O social e o poltico na ps-modernidade. p. 263-4.

baseadas no sexo, na raa, na perda de qualidade de vida, no consumo, na guerra, que ora ocultam ou legitimam, ora complementam e aprofundam a excluso baseada na classe social.

A cidadania s poder prosperar se o poder pblico criar os mecanismos necessrios a sua concretizao, ou seja, tornando possvel a incluso da sociedade civil, e de todos aqueles que desejem participar, abrindo os canais de participao, para que as decises sejam legitimas, coletivas e pblicas. Concluso Como podemos observar, os problemas ambientais enfrentados pela sociedade no so mais problemas resolvidos no mbito dos Estados, mas sim, em fruns internacionais e com a participao da sociedade mundial. A processo de globalizao demonstra perspectivas positivas em relao ao meio ambiente, j que os meios de comunicao e a tecnologia esto tambm voltados s questes ambientais, e neste processo a discusso ambiental encontra respaldo tambm perante a economia e principalmente na sociologia. O processo produtivo, com essas mudanas e problemas ambientais, requerem cada vez mais avanos e melhorias, estas que so aclamadas pela sociedade, e consubstanciadas atravs da gesto ambiental. A importncia do meio ambiente torna-se constante nas discusses internacionais, j que essencial a sobrevivncia da sociedade e para a sua qualidade de vida. Assim sendo, os problemas ambientais antes vistos no mbito interno, hoje se tornam transfronteirio, e suas conseqncias afetam a todo o globo. O meio ambiente hoje visto como um bem econmico, e para tal valorizado, sendo essencial s atividades humanas. Neste sentido, sente-se a necessidade de novas propostas de desenvolvimento e de sua melhor gesto. As questes ambientais tambm so vistas como um grande desafio a sociedade global, portanto, necessitam de outras vias de acesso populao. A modificao do Estado posta pelo processo de globalizao, necessria na medida em que estes tm que se adaptar aos novos rumos da

estrutura mundial, baseados principalmente, no sistema financeiro, na comunicao e na informao. Este processo o diferencial nas atividades empresariais, e nos modelos de gesto empresarial, pois ao empresrio cabe preservar sua matria-prima, sua imagem perante o consumidor, e sociedade, basta exigir um meio ambiente de qualidade para a sua vida. Assim todos ganham, j que as inovaes tecnolgicas , a gesto e o clamor da sociedade, tendem ao melhor aproveitamento dos recursos naturais, ou seja, o desenvolvimento sustentvel. A tutela do meio ambiente, nesta fase, necessria e importante, temos doutrinas e normas para essa questo, em mbito nacional e internacional, porm no bastam, pois ainda temos os problemas ambientais que afloram nos dias atuais. Esses problemas ambientais so por natureza problemas sociais, ligados a todas as mazelas sociais, so apenas aspectos da crise ecolgica. A sada assim para essas questes trata-se de uma questo tica e de participao social em busca de uma sociedade mais justa, livre e feliz. A mobilizao social por sua vez, fundamental para as questes ambientais, j que a participao social e a mudana de comportamento so essenciais melhoria do sistema. Aliada a essa participao, a Educao Ambiental o instrumento ideal para tornar pblico os temas ambientais, j que o cidado ambientalmente educado, compreender melhor e estar melhor apto a opinar sobre as questes ambientais. Para isso, a consecuo do Estado Democrtico Ambiental s ser possvel a partir da tomada de conscincia global da crise ambiental que nos assola, exigindo uma cidadania participativa. A emancipao da cidadania ambiental est vinculada participao de todos os setores da sociedade, e mais ainda a uma obrigao poltica vertical entre os cidados e entre os cidados e o Estado.

REF ER NC IA S

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