a geopolítica russa

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  • 7/31/2019 A Geopoltica Russa

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    A Geopoltica Russa: De Pedro "O Grande" a Putin, a"Guerra Fria", o Eurasianismo e os Recursos Energticospor Eduardo Eugnio Silvestre dos Santos

    "Apoltica de um Estado est na sua geografia.Napoleo 1o.

    A Rssia uma charada, embrulhada num mistrio, dentro de um enigma.Winston Churchill

    1. Introduo

    Apesar do termo Geopoltica ter sido utilizado pela primeira vez pelo cientistapoltico sueco Johan Rudolph Kjellen, apenas no final do sculo XIX, vriosintelectuais importantes tinham j escrito sobre a influncia da geografia na conduta daestratgia global das naes, e os confrontos pelo domnio de territrios e populaesperdem-se na neblina dos tempos. O termo surgiu na era da rivalidade imperialista entre1870 e 1945, quando os imprios em competio travavam inmeras guerras, gerando,alterando e revendo as linhas de poder que eram as fronteiras do mapa polticomundial.2

    Existem inmeras definies de Geopoltica. Aqui se deixam algumas que, na opiniodo autor, melhor reflectem e abrangem o pleno mbito do termo:

    Kjellen definiu-a como o estudo da influncia determinante do ambiente na poltica deum Estado. Para a Escola de Munique de Haushofer a cincia da vinculaogeogrfica dos fenmenos polticos. Para N. Spykman, era o planeamento da polticade segurana de um pas em termos dos seus factores geogrficos.3 Maismodernamente, G. OTuathail afirma que o modo de relacionar dinmicas locais eregionais com o sistema global como um todo4 e, em conjunto com J. Agnew, omesmo autor escreve que estuda a geografia da poltica internacional, particularmen tea relao entre o ambiente fsico (localizao, recursos, territrio, etc.) e a conduta da

    poltica externa.5

    Na histria do mundo, existem, em competio constante, duas aproximaes s noesde espao e terreno a terrestre e a martima. Na Histria antiga, as potncias que setornaram em smbolos da civilizao martima foram a Fencia e Cartago. O imprioterrestre que se lhes opunha era Roma. As Guerras Pnicas foram a imagem mais clarada oposio terra-mar. Mais modernamente, a Gr-Bretanha tornou-se o plomartimo, sendo posteriormente substitudo pelos EUA. Tal como a Fencia, aGr-Bretanha utilizou o comrcio martimo e a colonizao das regies costeiras comoo seu instrumento bsico de domnio. Criaram um padro especial de civilizao,mercantil e capitalista, baseada acima de tudo nos interesses materiais e nos princpiosdo liberalismo econmico. Portanto, apesar de todas as variaes histricas possveis,pode dizer-se que a generalidade das civilizaes martimas tem estado sempre ligadaao primado da economia sobre a poltica.

    Por seu lado, Roma representava uma amostra de uma estrutura de tempo de guerra,autoritria, baseada no controlo civil e administrativo, no primado da poltica sobre aeconomia. um exemplo de um tipo de colonizao puramente continental, com a sua

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    penetrao profunda no continente e assimilao dos povos conquistados,automaticamente romanizados aps a conquista. Para os Eurasianistas, na Histriamoderna, os seus sucessores so os Imprios Russo, Austro-Hngaro e Alemo.

    2. Retrospectiva Histrica da sia Central

    A histria da sia Central foi condicionada pelas migraes de pastores nmadas dasestepes desde muito cedo, provavelmente 4000 AC. Segundo Mehdi Amineh, podemconsiderar-se cinco perodos histricos: o pr-islmico (Ciro, Alexandre e a dinastiaSassanida; remonta ao sculo II AC a rota da seda, que tornou possvel o comrcioentre o Ocidente e o Oriente, o Norte e o Sul da sia), o islmico (dinastias Ummayad eAbbasid), o mongol (Genghis Khan e sucessores), o dos sculos XVI ao XIX, e orusso-sovitico.6 No mbito deste trabalho interessam particularmente os dois ltimos.

    Para entender mais completamente o que se pretende expor neste trabalho, temos derecuar na histria russa at ao incio do sculo XIII, pois nessa poca teve lugar um

    acontecimento catastrfico que deixou marcas indelveis no carcter nacional russo. Em1206, um gnio militar analfabeto de nome Teumjin, conhecido para a posteridadecomo Genghis Khan, teve o sonho de conquistar o mundo, tarefa que ele cria lhe tersido confiada por Deus para executar. Nos 30 anos seguintes, ele e os seus sucessoresquase o conseguiam. Nessa poca, a Rssia consistia apenas em cerca de uma dzia deprincipados, frequentemente em guerra uns com os outros. Entre 1223 e 1240, notendo conseguido unir-se para combater o inimigo comum, caram um a um perante aimplacvel mquina de guerra mongol. O sistema poltico que o domnio mongol criouera muito descentralizado (sistema de khanatos semelhantes a principadosonde okhan era uma espcie de senhor feudal, sujeitos a tributos obrigatrios pesadssimospelos mongis), e o resultado inevitvel foi um jugo tirnico dos prncipes vassalos

    sobre os seus sbditos, cuja sombra ainda hoje se faz sentir na Rssia.

    Durante cerca de 250 anos, os russos estagnaram e sofreram a opresso da HordaDourada, termo pelo qual os mongis ficaram conhecidos. Entretanto, aproveitando ascircunstncias e a fraqueza militar, os vizinhos europeus da Rssia (principadosalemes, Litunia, Polnia e Sucia) foram ocupando partes do seu territrio.

    Raramente uma experincia deixou cicatrizes to profundas e perenes na psicologia deuma nao, explicando grande parte da sua xenofobia, a sua poltica externa muitasvezes agressiva, e a histrica aceitao da tirania interna.7 Para George Kennan,encarregado de negcios dos EUA em Moscovo no incio da guerra-fria e estudioso

    da poltica externa sovitica, as fontes principais da conduta sovitica eramdeterminadas pela histria e geografia russas. A cautela e a flexibilidade soviticas soatitudes solidificadas nas lies da histria russa: sculos de batalhas entre forasnmadas na vastido de plancies desprotegidas.8

    O homem a quem os russos devem a sua liberdade face opresso mongol foi Ivan III,o Grande, prncipe de Moscovo, no final do sculo XV. A mquina de guerra mongol,to temida no incio, tinha entretanto perdido a vontade e o gosto de lutar,acomodando-se e no sendo j invencvel. O poderoso imprio de Genghis Khancolapsou no Ocidente, ficando reduzido apenas a trs khanatos dispersos: Kazan (2,Fig. 1), Astrakhan (1, Fig. 1) e Crimeia. Ivan IV, o Terrvel, um dos sucessores de o

    Grande, reconquistou os dois primeiros (1553 e 1555), anexando-os a Moscovo, que seexpandia rapidamente, com a finalidade de evitar invases, recolher as produes e

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    capturar populaes para vender como escravos. Apenas restou a Crimeia como ltimoreduto trtaro, em virtude de ter a proteco do Imprio Otomano, que via nele umimportante baluarte contra os russos. Foi a partir do Principado de Moscovo que, apartir de meados do sculo XIV, com a derrota dos trtaros na batalha do rio Ugra (5,Fig. 1), se foi cimentando e alargando o Imprio Russo. A ameaa mongol tinha assim

    sido eliminada, deixando o caminho aberto para uma das maiores empresas coloniais dahistria: a expanso da Rssia para Oriente, na sia. A partir de 1580, o comrcio depeles comeou a atrair os russos para a Sibria, bem para alm dos Urais. A expansorussa s terminou quando o Oceano Pacfico foi atingido, sendo comparvel em muitosaspectos conquista americana do Oeste.9 No seu apogeu o Imprio Russo inclua,alm do territrio russo actual, os estados blticos (Litunia, Letnia e Estnia), aFinlndia, Cucaso, Ucrnia, Bielorssia, boa parte da Polnia (antigo reino daPolnia), Moldvia (Bessarbia) e quase toda a sia Central. (Fig. 2) A Histria provaque o espao e a posio tm infludo no destino poltico de cada territrio () Oespao, quando existe, cria a grande potncia.10

    Durante o sculo XVI, o Imprio Persa tentou impedir o Imprio Otomano de ter acesso Rota da Seda e ganhar o monoplio desta fonte de riqueza. A guerra entre estes doisimprios fez com que os khanatos asiticos perdessem o seu poder e ressurgissem asforas tribais, causando o declnio econmico da sia Central no sculo XVII. No fimdo sculo XVIII, devido ao crescente comrcio entre as tribos da sia Central e aRssia, deu-se uma nova dinmica vida econmica e poltica. tambm nesta alturaque se d a progressiva sedentarizao das tribos nmadas, o que contribuiu bastantepara a centralizao poltica da regio.

    3. A Expanso Russa

    Pode recuar-se na geopoltica russa at finais do sculo XVII, e afirmar que, pelomenos desde essa poca, a Rssia perseguiu dois objectivos estratgicos:

    um, Constantinopla, levada por um lado pelo sonho da libertao dos cristosortodoxos, mas que lhe daria tambm o controlo do Bsforo e dos Dardanelos e, logo, oacesso ao Mediterrneo;

    o outro, tentar chegar ndia; alguns polticos britnicos continuavam contudo apensar que o objectivo real da Rssia era, no a ndia, mas Constantinopla: para mantera Gr-Bretanha sossegada na Europa, devia mant-la ocupada na sia.11

    O primeiro dos Czares a tentar modernizar a Rssia foi Pedro o Grande, j da dinastiaRomanov, na transio do sculo XVII para o XVIII. Para tal, enviou uma embaixadadiplomtica Europa Ocidental e construiu S. Petersburgo, que imaginou como umaporta de ligao comercial e cultural com a Europa. Porm, tendo esgotado o tesourocombatendo simultaneamente a Sucia e o Imprio Otomano, chegaram-lhe notcias, noincio do sculo XVIII, da descoberta de ricos jazigos de ouro na sia Central, nasmargens do Amu-Darya, o que o fez virar a ateno para a e para a ndia. Cerca de 50anos mais tarde, Catarina a Grande voltou a dar sinais de interesse pela ndia.Catarina era uma expansionista e no era segredo que sonhava em expulsar os turcos deConstantinopla e control-la. No conseguiu conquistar nem Constantinopla nem andia, mas apoderou-se do khanato da Crimeia nos finais do sculo XVIII, e o seu

    sucessor Alexandre I recuperou Prsia os territrios do Cucaso. Em 1801, anexou oantigo e independente reino da Gergia, que a Prsia considerava estar na sua esfera de

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    influncia. Em 1804, avanou ainda mais para Sul, cercando Yerevan, capital daArmnia (Fig. 3), uma possesso crist do X, ameaando Constantinopla.

    O Mar Negro tinha deixado de ser um lago turco e os russos comearam a construiruma gigantesca base naval em Sebastopol (4, Fig. 1), ficando os seus vasos de guerra a

    dois dias de Constantinopla. A presena da Rssia no Prximo Oriente e no Cucasocomeava a preocupar ao Imprio Britnico. Porm, entretanto, surgiu Napoleo! Esteofereceu ajuda ao X para rechaar os russos, em troca da utilizao da Prsia comocaminho de passagem para invadir a ndia, o que fez parar o avano russo. Em 1807,aps subjugar a ustria e a Prssia, derrotou os russos em Friedland, forando-os aaderir ao bloqueio continental, destinado a isolar e a derrotar a Gr-Bretanha.12

    Aps a derrota de Napoleo em 1812, o Czar Alexandre solicitou, no Congresso deViena, a modificao do mapa poltico da Europa, exigindo o controlo da Polnia.Perante a forte oposio britnica, Alexandre I concordou em dividi-la com a ustria ea Prssia, ficando contudo com a parte de leo. No sculo XIX, as guerras na Europa

    para fomentar revolues ou conquistar territrio, eram vistas como ameaas aoequilbrio de poder entre os Estados dominantes, as grandes potncias. Mas adicotomia entre a Europa e os outros continentes era reforada pela combinaofrequente entre uma terra-me e uma periferia trazendo uma experincia colonial para

    perto de casa. Nos EUA e na Rssia, por exemplo, no existia uma separao claranem fronteiras fsicas bvias.13

    A trgua entre a Rssia e a Prsia no Cucaso (a Prsia acabou por aceitar a soberaniarussa entre o Cucaso e o Mar Cspio e em grande parte do Azerbaijo), fez virar asatenes de S. Petersburgo para a sia Central. O Grande Jogo, a luta subtil maspersistente pelo controlo das vastas terras situadas entre o Mar Cspio, a Prsia e a

    ndia, a jia da coroa do Imprio Britnico, a Sul, tinha comeado.

    O Grande Jogo um termo atribudo a Arthur Connolly, utilizado para descrever arivalidade e o conflito estratgicos entre os Imprios Britnico e Russo, pela supremaciana sia Central. O termo foi popularizado posteriormente por Rudyard Kipling, na suaobra Kim. O perodo clssico do Grande Jogo decorre desde aproximadamente1815 at Conveno Anglo-Russa de 1907. Aps a revoluo bolchevique de 1917,existiu uma segunda fase.14

    Existiam apenas duas rotas possveis para um exrcito russo, suficientemente grandepara ter sucesso, atingir a ndia:

    uma seria partindo de Orenburg (3, Fig. 1 e 3), capturar Khiva (2, Fig. 3) e Balkh (6,Fig. 3), atravessar o Hindu Kush, como tinha feito Alexandre o Grande, e dirigir-se aKabul; da marcharia para Jalalabad, atravessaria o Desfiladeiro Khyber (K, Fig. 4) paraPeshawar e chegaria ao rio Indo; esta rota, embora mais longa, tinha mais gua que arota alternativa, atravs do Karakorum, e evitava os confrontos com os perigososTurcomenos;

    a outra rota possvel implicava a captura de Herat (7, Fig. 3), que seria utilizada comoponto de apoio logstico. Da marchariam por Kandahar (Z, Fig. 4) e Quetta (Q, Fig. 4)para o Desfiladeiro Bolan (B, Fig. 4). Herat poderia ser atingida atravs de um acordo

    com a Prsia, ou atravessando o Cspio para Astrabad.Em qualquer dos casos, um invasor teria de passar pelo Afeganisto!

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    No sculo IV DC, Alexandre, o Grande, conquistou todo o imprio persa, excepo daprovncia Bactro-Sogdiana, o Afeganisto de hoje. No sculo XIII, Genghis Khanabandonou a campanha no Afeganisto, em virtude da resistncia tenaz e das pesadasbaixas sofridas.15 Desde o colapso do grande imprio Durrani, fundado em meados do

    sculo XVIII, que o Afeganisto estava no centro de uma intensa e incessante luta pelopoder. No existia unidade real entre os afegos, meramente alianas temporrias,quando e onde era vantajoso para os respectivos lderes tribais. O Imprio Britnicosentiu isso bem na pele. Se os afegos, como nao, estiverem determinados a resistiraos invasores, as dificuldades tornar-se-iam intransponveis, afirmou um oficialbritnico em servio na ndia. Esta frase explica o interesse britnico em manter oAfeganisto forte e unido por um lder central em Kabul.16 Explica ainda uma grandeparte da histria mais moderna deste pas.

    Em 1833, uma enorme frota de navios de guerra russos posicionou-se perto deConstantinopla, encerrando uma cadeia de acontecimentos iniciada dois anos antes, com

    uma revolta do governador do Egipto, ento nominalmente parte do Imprio Otomano.Cercou Damasco e avanou pela Anatlia na direco de Constantinopla com umpoderoso exrcito, querendo destronar o sulto. Este apelou ao auxlio britnico, cujosgovernantes hesitaram. Mais lesto foi o Czar Nicolau I, que lhe ofereceu prontamenteauxlio. Perante a situao, o sulto teve de aceitar reconhecido esse auxlio, que veiopor termo rebelio. A armada russa retirou, mas os turcos passaram a ser pouco maisdo que um protectorado do Czar e, nos termos do tratado de paz, poderiam fechar osDardanelos a todos os navios de guerra estrangeiros, se S. Petersburgo assim odesejasse. Estes desenvolvimentos colocaram de sobreaviso o Imprio Britnico, quevia no alargamento da armada russa e nas suas posies no Cucaso umacabea-de-ponte para lanar investidas posteriores contra a Turquia e contra a Prsia.

    At ento, os estrategistas consideravam que o poder da Rssia era apenas defensivo, acoberto da fortaleza inexpugnvel com que a natureza a tinha contemplado o seuclima e os seus desertos conforme Napoleo tinha descoberto sua prpria custa.Mas, na realidade, desde o reinado de Pedro o Grande, os sbditos do Czar tinhamaumentado quatro vezes, de 15 para quase 60 milhes. Ao mesmo tempo, as fronteirasda Rssia tinham avanado cerca de 800 km em direco a Constantinopla e cerca de 1500 em direco a Teero, a uma razo de mais de 50 000 km2 por ano. Na Europa, asconquistas russas sobre a Sucia montavam a metade da rea original daquele reino, esobre a Polnia eram quase iguais rea de todo o Imprio Austraco. Todo esteterritrio tinha sido conseguido furtivamente, atravs de astcia e pequenas invases

    sucessivas, nenhuma delas suficientemente importante para causar frices importantescom os outros poderes europeus.17

    No incio do sculo XIX, a maior parte das paragens da sia Central no estavacartografada. As cidades de Bukhara (10, Fig. 3), Khiva, Merv e Tashkent (12, Fig. 3)eram praticamente desconhecidas dos estrangeiros. No final do referido sculo, aexpanso imperial czarista ameaava colidir com o domnio e a ocupao crescentes dosub-continente indiano, e os dois imprios jogaram um jogo subtil de explorao,espionagem e diplomacia imperialista, o j referido Grande Jogo, em toda a siaCentral. O conflito ameaou sempre uma eventual guerra entre as partes, sem contudonunca ter chegado a um confronto directo. O ponto nevrlgico da actividade foi, como

    j foi dito, o Afeganisto.

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    Da perspectiva britnica, a expanso czarista ameaava a ndia. medida que as tropasrussas comearam a conquistar khanato aps khanato, os britnicos temeram que oAfeganisto se tornasse numa rea de preparao para uma invaso russa da ndia. Mas,em vez de tentar estabelecer uma liderana forte e amistosa que pudesse proteger a ndiacontra invases russas, levou mesmo a um dos piores desastres da histria militar

    britnica. Em 1838, a Gr-Bretanha lanou um ataque ao Afeganisto (1. GuerraAnglo-Afeg), e imps um regime fantoche. O regime durou pouco tempo,insustentvel sem apoio militar britnico significativo. Em 1842, a multido atacou astropas inglesas nas ruas de Kabul e a guarnio acordou uma retirada protegida.Infelizmente para os britnicos, os afegos no cumpriram o acordado e cerca de 4 500militares e 12 000 apoiantes pereceram durante a retirada. A 1. Guerra Anglo-Afeg foium golpe devastador no seu orgulho e prestgio. O desastre russo em Khiva (1839) nose pode comparar a este. No seguimento desta humilhante derrota, os britnicosrefrearam as suas ambies sobre o Afeganisto.18

    Entre meados de 1857 e meados de 1858, os britnicos viram-se a braos com a

    Revolta da ndia, amotinao dos cipaios indianos. Aps essa rebelio, os sucessivosgovernos britnicos passaram a ver o Afeganisto como um estado-tampo. Porm, osrussos continuaram a avanar para Sul, em direco quele estado e, em 1865, anexaramformalmente Tashkent e, trs anos depois, Samarcanda (11, Fig. 3) e Bukhara. Em1870, foi a vez de Khiva. O controlo russo estendia-se ento at margem Norte do rioAmu-Darya.19O Czar Nicolau I visitou a Rainha Vitria, ento com 25 anos, em Londres em 1844. Asua principal preocupao era o futuro do Imprio Otomano, o homem doente daEuropa, como lhe chamava. Confessou estar muito preocupado com o que poderiaacontecer quando ele se desfizesse, algo que temia estar eminente. As duas partesconcordaram que o sulto deveria ser mantido no trono enquanto tal fosse possvel.

    Concordaram tambm em consolidar as suas fronteiras, subjugando vizinhosproblemticos. No perodo de dtente que se seguiu, os russos avanaram as suaspraas-fortes atravs das estepes cazaques at s margens do Syr-Darya, cerca de 400km a leste do Mar de Aral. Os britnicos, por seu turno, conseguiram anexar o Sind ecolocar lderes favorveis a governar o Punjab e a Caxemira.

    Porm, em 1853, as boas relaes cessaram. Em 1848, tinham estalado revoluesnacionalistas em vrias capitais europeias (Paris, Berlim, Viena, Roma, Praga,Budapeste, etc.) entre governantes e governados, entre lei e desordem, entre aqueles quetinham e aqueles que queriam ter.

    Considerando-se o guardio dos locais santos do Cristianismo na Terra Santa, entoparte integrante do Imprio Otomano, o Czar Nicolau invadiu as provnciassetentrionais dos Balcs, alegadamente para proteger os cristos eslavos daquela regio,ignorando um ultimato dos turcos para retirar, pondo uma vez mais os dois pases emguerra. Os britnicos e os franceses, determinados a manter os russos afastados doPrximo Oriente, aliaram-se ao sulto. A Guerra da Crimeia, que ningum queria e quepoderia facilmente ser evitada, tinha comeado.

    No Outono de 1854, franceses e britnicos sitiaram Sebastopol, a grande base navalrussa no Mar Negro, considerando que a sua captura e destruio asseguraria aindependncia da Turquia. O cerco durou quase um ano e a rendio russa tornou-seinevitvel, ao mesmo tempo que o Czar Nicolau I adoecia e morria em Maro de 1855.Aps a rendio de Sebastopol, a ustria ameaou juntar-se coligao e o novo Czar,

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    Alexandre III, acedeu a assinar um acordo preliminar de paz. Os russos foramfortemente penalizados na regio do Mar Negro, banidas que foram todas as bases enavios de guerra daquele mar, cederam a foz do Danbio e vrias cidades capturadasaos turcos. O Mar Negro ficou desmilitarizado e a independncia e integridade daTurquia garantidas. As ambies da Rssia na Europa e no Prximo Oriente tinham

    sido bloqueadas. Passaram 15 anos at que a Rssia denunciasse o acordo de paz ereiniciasse a construo de uma frota do Mar Negro. Ao derrotar os russos na Crimeia, aGr-Bretanha esperava no s afast-la do Prximo Oriente, mas tambm fazer parar asua expanso na sia Central. O efeito foi, todavia, o oposto. A seguir derrota naGuerra da Crimeia, a Rssia olhou para a sia Central como uma regio onde arivalidade com a Gr-Bretanha lhe poderia ser mais favorvel.20

    Entretanto, o Afeganisto voltou a ser notcia. O X da Prsia, aproveitando a Guerra daCrimeia, reclamou a cidade de Herat e ocupou-a no final de 1856. Em 1863, o lderafego reconquistou-a.

    Na dcada de 1850s, os russos continuaram a expandir-se para Leste, ao longo do rioAmur, e para Sul, em direco costa do Pacfico, onde hoje Vladivostok (Fig. 5). Oimperador chins, a contas com a rebelio Taiping no Sul e, ao mesmo tempo, com asexigncias francesas e britnicas para concesses de terras e outros privilgios, quedegeneraram em 1856 na Segunda Guerra do pio, entre a China e a Gr-Bretanha, noestava em posio de os impedir. Os russos acrescentaram assim uma enorme poro deterritrios, do tamanho da Frana e da Alemanha juntas, ao seu j gigantesco imprioasitico. Em 1859, conseguiram tambm submeter finalmente a quase totalidade daCircassia, no Cucaso. Em 1860 chegaram ao Pacfico, fundando Vladivostok.

    Faltavam contudo os trs khanatos independentes da sia Central. Aquilo que

    finalmente decidiu o Czar a agir, foi a Guerra da Secesso nos EUA, cujos estadossulistas tinham sido a principal fonte de abastecimento de algodo. Como resultado daguerra, o abastecimento foi cortado, afectando seriamente toda a Europa. A Rssiasabia, no entanto, que a regio de Khokand (4, Fig. 3) na sia Central, especialmente ofrtil vale de Fergana, era particularmente favorvel cultura do algodo, com potencialpara produzir quantidades substanciais desse txtil. O Czar Alexandre III estavadecidido a conquistar esses campos de algodo o mais rapidamente possvel. Em 1863,a Rssia estava preparada para penetrar na sia Central, se bem que gradualmente. OMinistro dos Negcios Estrangeiros do Czar declarou no final de 1864, nummemorando para os seus embaixadores na Europa: A posio da Rssia na siaCentral idntica de todos os estados civilizados que entram em contacto com

    populaes nmadas e semi-selvagens, que no possuem uma organizao socialestvel. Nesses casos, acontece sempre que o estado mais civilizado forado, nointeresse da segurana das suas fronteiras e das suas relaes comerciais, a exercer umacerta ascendncia sobre os vizinhos com um carcter mais turbulento e agressivo, que ostorna indesejveis. interessante verificar a semelhana entre esta posio e a expressano final do sculo XIX por Theodore Roosevelt, presidente dos EUA e conhecido pelocorolrio Roosevelt.

    Os khanatos de Khiva, Bokhara e Khokand dominavam, entre eles, uma vasta regiode desertos, osis e montanhas, com o tamanho de metade dos EUA, que se estendia damargem oriental do Mar Cspio at ao Pamir. Mas, para alm destas trs cidades-estado,existiam outras cidades importantes: uma era Samarcanda, capital do extinto imprio deTamerlane, agora parte dos domnios de Bokhara; outra era Kashgar (5, Fig. 3), sob o

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    domnio chins, separada das outras por altas montanhas; finalmente, Tashkent,anteriormente independente, com os seus pomares, vinhas, pastagens e uma populaode 100 000 pessoas, a cidade mais rica da sia Central, possesso de Khokand.21

    Em 1862, Samarcanda foi absorvida pelo Imprio Russo, deixando apenas o khanato

    de Khiva a fazer frente ao Czar. Em 1865 ocuparam Tashkent, declarando que aocupao era temporria, o que se sabia no ser verdade pois, algum tempo depois, foiconstitudo o novo Governo Geral do Turquesto, o que significava que os khanatostinham os dias contados. Existiam trs razes principais para isso:

    antes de tudo, o receio que os britnicos chegassem ali primeiro, vindos do Sul, emonopolizassem o comrcio;valor militar na conquista militar da sia;

    finalmente, o factor estratgico; tal como o Bltico era o calcanhar de Aquiles daRssia, no caso de disputa com a Gr-Bretanha, h muito que se sabia que o ponto maisvulnervel do Imprio Britnico era a ndia; Tashkent era considerada a chave para a

    conquista e o domnio da sia Central.Comearam tambm a melhorar significativamente as suas comunicaes na siaCentral: uma nova linha frrea vinha de S. Petersburgo at Gorki (antiga NijniNovgorod), no Volga, onde circulavam cerca de 300 barcos a vapor at ao Mar Cspio.O modo mais bvio de ligar a sia Central Rssia europeia era construir um porto namargem oriental do Cspio. Eventualmente, quando Khiva fosse conquistada e osperigosos Turcomenos pacificados, uma linha frrea podia ser construda atravs dodeserto ligando Bokhara, Samarcanda, Tashkent e Khokand.22

    Em 1867, a Rssia vendeu o Alasca aos EUA por sete milhes de dlares, em virtude

    de, segundo eles, no ser facilmente defensvel nem economicamente vivel!23Em 1870, renunciou unilateralmente s clusulas do acordo de paz sobre o Mar Negro,aps a Guerra da Crimeia, o primeiro de uma srie de movimentos que iriam fortalecergrandemente a sua posio poltica e estratgica na regio.

    No vero de 1871, ocupou o territrio muulmano de Ili (8, Fig. 3), que dominavaimportantes passagens para a Sibria meridional, e que se tinha recentemente rebeladocontra a soberania chinesa. Tinha sido atravs destes desfiladeiros que as hordas deGenghis Khan tinham, sculos antes, invadido a Rssia. Este territrio era tambm ricoem minrios e servia como celeiro daquela desolada regio.

    Em 1873, o Czar Alexandre II decidiu efectuar um ataque demolidor a Khiva. Aps osrevezes anteriores, em 1717 e 1839, a Rssia no queria falhar, e lanou um ataque detrs direces diferentes: de Tashkent, de Orenburg e de Kransnovodsk (13, Fig. 3)(hoje Turkmenbashi). Khiva finalmente capitulou.

    Com esta aco, a Rssia adquiriu o controlo da navegao no baixo Amu-Darya, comos correspondentes benefcios comerciais e estratgicos, bem como o domnio total damargem oriental do Cspio. Conseguiu tambm uma base a partir da qual poderiaameaar a independncia da Prsia e do Afeganisto e, distncia, a ndia. Numperodo de 10 anos, a Rssia tinha anexado um territrio com a rea de metade dos

    EUA e conseguido uma barreira defensiva em toda a sia Central, do Cucaso aKhokand, ocupada em 1875.24

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    Entretanto, na Europa, a Rssia voltou a envolver-se com as outras potncias, devido adivergncias sobre as possesses do Imprio otomano nos Balcs. O problemainiciou-se em 1875 na Bsnia-Herzegovina, de onde se espalhou rapidamente Srvia,ao Montenegro e Bulgria. Tropas turcas mataram e massacraram alguns milhares de

    cristos blgaros. Este massacre levou o Czar, que se proclamava protector dos cristossob soberania turca, a um conflito latente com o Sulto. Em 1877 os russos declararamguerra Turquia e iniciaram o avano para Constantinopla, atravs dos Balcs e,simultaneamente, da Anatlia Oriental. A resistncia turca fracassou e, em 1878, osexrcitos russos estavam s portas de Constantinopla, prestes a realizar o seu sonho desculos. Porm, encontraram tambm a esquadra britnica fundeada nos Dardanelos, oque fez o Czar Alexandre II recuar e aceitar uma trgua com os turcos. A Bulgriaadquiriu a sua independncia do Imprio Otomano, contra a opinio britnica, e aRssia conseguiu territrios na Anatlia Oriental. A ustria-Hungria aliou-se Gr-Bretanha sobre o problema da Bulgria, ocupando a Bsnia-Herzegovina, e osbritnicos colocaram tropas em Malta e ocuparam Chipre, numa tentativa de fazer

    recuar as tropas russas de Constantinopla. No final, a crise resolveu-se sem recurso guerra, tendo o Sulto conseguido recuperar dois teros do territrio perdido.25

    A tenso voltou a crescer em 1878, quando a Rssia enviou uma misso diplomtica aKabul, sem convite prvio. A Gr-Bretanha exigiu que o homem forte do Afeganisto,Sher Ali, aceitasse tambm uma misso britnica. Esta foi recusada e, em retaliao,uma fora de 40 000 homens atravessou a fronteira, iniciando a 2. Guerra Anglo-Afeg.Esta incurso foi quase to desastrosa como a primeira e em 1881 os ingleses voltaram aretirar de Kabul. O trono foi oferecido a Abdur Rahman, que aceitou que aGr-Bretanha orientasse a sua poltica externa enquanto ele consolidava a sua posiointerna. Conseguiu dominar as rebelies internas com eficcia brutal e reunir a maior

    parte do pas sob o governo central.26 Os britnicos tinham conseguido assimestabelecer um estado-tampo razoavelmente estvel e com um lder amistoso, aomesmo tempo que tinham erradicado a influncia russa em Kabul.

    Em 1879, quatro anos aps ter anexado Khokand, a Rssia tentou atacar a cidadeturcomena de Geok-Tepe (9, Fig. 3), no limite Sul do deserto Karakum, a meio caminhoentre o Cspio e Merv, mas foi rechaada. Foi a sua pior derrota na sia Central desde oataque de m memria a Khiva, em 1717.27

    Em 1881, os russos cercaram Geok-Tepe de novo, desta vez com xito. Em 1884tomaram Merv, formalmente pertencente Prsia, levando finalmente as tribos

    turcomenas capitulao e submisso soberania de S. Petersburgo. A rendio deMerv, conseguida de modo considerado militarmente pouco ortodoxo, foi considerada

    pelas autoridades britnicas, na ndia e em Londres, como sendo de longe o passo maisimportante dado pela Rssia para ameaar a ndia. Estas preocupaes britnicasbaseavam-se na linha frrea que os russos tinham comeado a construir na direco deMerv, que quando completada, podia facilmente fazer a ligao entre as cidades eguarnies da sia Central e transportar tropas at fronteira afeg. Aps uma longacorrespondncia diplomtica, representantes das duas potncias (Comisso Conjunta daFronteira Afeg) reuniram-se perto de Merv, com a finalidade de delinearcientificamente a fronteira entre a Transcspia russa, a Prsia e o Afeganisto.28

    Em 1884, a expanso russa despoletou nova crise quando ocupou o osis de Pandjeh, ameio caminho entre Merv e Herat, no Afeganisto. O X da Prsia, profundamente

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    alarmado pela agressividade russa, pediu Gr-Bretanha para ocupar Herat antes dosrussos. beira da guerra, a Comisso Conjunta acordou que a Rssia devia abandonarMerv, mas podia reter Pandjeh. O acordo estabelecia a fronteira Norte do Afeganistono Amu-Darya, com perdas substanciais de territrio.29 A Rssia tinha conseguidomais uma vez aquilo que queria, demonstrando ser mestre na arte do facto

    consumado.

    Em 1895, Londres e S. Petersburgo chegaram finalmente a acordo sobre a fronteiraentre a sia Central russa e o Afeganisto oriental. A falha do Pamir estavafinalmente fechada.

    Em 1907, a Conveno Anglo-Russa finalizou o perodo clssico do Grande Jogo,com a aceitao russa de que a poltica do Afeganisto ficava sob controlo britnico, eque conduziria todas as suas relaes com aquele pas atravs da Gr-Bretanha, desdeque esta garantisse a permanncia do regime. As fronteiras manter-se-iam.

    O Caminho-de-Ferro Transcaspiano foi iniciado em 1880. Em 1888 atingiu Bokhara eSamarcanda e encontrava-se a caminho de Tashkent. A linha frrea corria paralela fronteira com a Prsia durante cerca de 500 km, representando, com a sua capacidade detransportar tropas e artilharia, uma espada de Damcles sobre a cabea do X.Alterava drasticamente o equilbrio estratgico na regio.30

    Mas a Rssia continuava a sonhar abrir para si todo o Extremo Oriente, com os seusrecursos e mercados, antes dos outros predadores o conseguirem. O plano envolvia aconstruo do maior caminho-de-ferro jamais visto, o Trans-Siberiano (Fig. 6). Teriamais de 7 200 km de Moscovo a Vladivostok e seria capaz de transportar mercadorias ematrias-primas em ambos os sentidos em menos de metade do tempo que demorariam

    por via martima, causando assim srios embaraos hegemonia da Gr-Bretanha sobreas rotas martimas.

    Por esta altura, as maiores potncias europeias estavam j empenhadas numa corridadesenfreada para conseguirem a sua parte do moribundo Imprio Manchu e do que lheestava associado. Os alemes, apesar de terem partido tarde na corrida colonial, foramos primeiros a solicitar uma base naval e uma estao de carvo, algures na costa Norteda China para a sua frota do Extremo Oriente. Nas escaramuas que se seguiram, aFrana e a Gr-Bretanha obtiveram outras concesses, enquanto a Rssia, fazendo opapel de protectora da China, obteve o porto de guas quentes de Port Arthur (hojeDalian) (1, Fig. 5) e as terras em redor. Os EUA juntaram-se tambm ao leilo, e

    adquiriram em 1898 o Hawai, Guam, Wake e as Filipinas, cobiadas tambm por outraspotncias.

    Em 1900, as potncias europeias foram apanhadas de surpresa pela Revolta dosBoxers, um sentimento de forte ressentimento contra os diabos estrangeiros que,tirando partido da fraqueza da China, estavam a conseguir portos e outros privilgioscomerciais e diplomticos. Foram massacrados missionrios cristos, o Cnsul francsfoi linchado, tendo a revolta sido dominada por uma fora de interveno de seis pasesque ocupou Pequim. Porm, a revolta, apesar de dominada, viria a ter consequnciasimportantes na Manchria, onde os russos temiam pelo seu novo caminho-de-ferro eonde, devido a isso, colocaram 170 000 homens.

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    S. Petersburgo foi fortemente pressionada para retirar esta fora aps a revolta ter sidodominada, mas apenas retirou cerca de um tero dela, e com grande relutncia. Ficouclaro que, uma vez mais, os russos jogaram no facto consumado.

    O Japo tomou conscincia, em meados do sculo XIX, de que se no quisesse ser

    colonizado como a ndia ou despedaado como a China, devia ter um exrcito europeu econstruir um imprio pela guerra.31 Tinha observado com grande apreenso ocrescimento militar e naval da Rssia no Extremo Oriente, que ameaava directamenteos seus prprios interesses na regio. Tinha notado particularmente a infiltrao russa naCoreia, o que a colocava perigosamente perto do seu territrio. O Japo tinha aindaconscincia que o tempo jogava contra si, pois quando o caminho-de-ferroTrans-Siberiano estivesse concludo, os russos poderiam trazer tropas em grandenmero, artilharia pesada e outro material de guerra. Por estas razes, os responsveis

    japoneses decidiram enfrentar a ameaa russa e, em 1904, atacaram sem aviso a basenaval russa de Port Arthur. A Guerra Russo-Japonesa tinha comeado.

    Brilhantemente liderada pelo Almirante Togo, a frota japonesa, apesar de inferior emnmero e do fogo cerrado das baterias de artilharia de terra russa, conseguiu infligirbaixas importantes frota russa e minar-lhe o moral. Tudo correu mal aos russos.Encontraram-se sitiados e prisioneiros na base naval fortemente defendida, medidaque os japoneses, tacticamente superiores e melhor comandados, dominavam o mar. OCzar Nicolau II decidiu ento enviar a frota do Bltico para o Extremo Oriente, voltade trs continentes, numa tentativa desesperada de terminar o bloqueio a Port Arthur. Oconflito durou 18 meses e, no incio de 1905, Port Arthur capitulou. Um ms depois,caiu o fortemente defendido centro ferrovirio de Mukden (hoje Shenyang) (2, Fig. 5),400 km a Norte de Port Arthur, que os peritos russos consideravam praticamenteinexpugnvel. A perda das suas praas-fortes no Oriente para os macacos amarelos

    abalou profundamente o prestgio russo no mundo, especialmente na sia. As msnotcias chegaram esquadra do Bltico quando esta se encontrava ainda emMadagscar. Apesar disso, foi determinado que esta prosseguisse com a finalidade dereconquistar os mares do Oriente aos japoneses. Estes, contudo, estavam sua esperanos Estreitos de Tsushima, entre a Coreia e o Japo, e infligiram-lhe uma derrotacatastrfica. A humilhao russa foi total e o sonho do Czar Nicolau II de construir umnovo imprio no Oriente pereceu para sempre. A paz foi mediada pelos EUA e assinadoum acordo de paz. Ambos os pases acordaram em abandonar a Manchria, que foidevolvida soberania chinesa. Port Arthur e o controlo de partes do Trans-Siberianoforam transferidos para o Japo. A Coreia foi declarada independente, apesar de ficar naesfera de influncia japonesa. Indirectamente, a Guerra Russo-Japonesa levou queda,13 anos depois, da monarquia russa.

    Em Outubro de 1917, a revoluo russa levou ao colapso de toda a frente oriental da 1.Guerra Mundial, do Cucaso ao Bltico. Os bolcheviques rasgaram todos os tratadosassinados pelos seus predecessores. Longe de estar terminado, o Grande Jogorecomearia com renovado vigor e uma nova face, pois Lenine pretendia pegar fogo aoOriente com o evangelho do Marxismo.32

    Os Czares tinham permitido e apoiado as religies e as instituies sociais existentes,bem como jornais e escritos em lnguas turcas e persa. Esta descentralizao foidestruda pela revoluo bolchevista em 1917, que introduziu novas noes denacionalidade e dividiu os territrios etnicamente heterogneos em regiesadministrativas que no respeitaram as etnias existentes. Em 1936, foram criadas as

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    Repblicas Socialistas Soviticas da Armnia, Azerbaijo, Cazaquisto, Gergia,Quirguizisto, Tadjiquisto, Turcomenisto e Uzbequisto.33

    A revoluo bolchevique de 1917 anulou os tratados existentes e deu incio a umasegunda fase do Grande Jogo. A 3. Guerra Anglo-Afeg (1919) foi precipitada pelo

    assassinato do lder de ento, Habibullah Khan. O seu sucessor, Amanullah, declarouindependncia total e atacou a fronteira Norte da ndia britnica, embora compouqussimos resultados. O Acordo de Rawalpindi concedeu autodeterminaocompleta ao Afeganisto em poltica externa. Em Maio de 1921, o Afeganisto e aURSS assinaram um tratado de amizade. A URSS fornecia a Amanullah ajudamonetria, tecnolgica e militar, fazendo desvanecer a influncia britnica. Apesardisto, as relaes sovitico-afegs continuaram equvocas, tendo Amanullah oferecidoabrigo aos muulmanos fugidos da URSS, bem como aos nacionalistas indianosexilados.

    O Reino Unido imps sanes econmicas e diplomticas insignificantes, temendo que

    Amanullah escapasse sua esfera de influncia e percebendo que a poltica do governoafego era controlar todas as tribos de lngua pashtu, de ambos os lados da fronteira.

    Com o advento da 2. Guerra Mundial, em 1940, os interesses da URSS e do ReinoUnido convergiram na expulso de um grande contingente no diplomtico alemo, tidocomo envolvido em actividades de espionagem.

    Com o fim da 2. Guerra Mundial e o incio da guerra-fria, os EUA substituram oReino Unido como poder global, afirmando a sua influncia no Mdio Oriente naextraco de petrleo, conteno da URSS e acesso a outros recursos. Este perodo foi

    baptizado por vrios analistas no incio dos anos 1990s, como uma luta mais

    abrangente, o Novo Grande Jogo, face analogia dos acontecimentos envolvendo andia, o Paquisto, o Afeganisto e, mais recentemente, as novas repblicas da siaCentral. Segundo Lutz Kleveman, a campanha russa no Afeganisto foi apenas mais ummero episdio desse Novo Grande Jogo.34

    Hoje, os actores so diferentes e as regras do jogo neocolonial so muito maiscomplexas do que as de h um sculo atrs. Centraliza-se nas reservas energticas doMar Cspio (petrleo e gs natural). Nas suas margens e nos seus fundos, esto asmaiores reservas inexploradas de combustveis fsseis.

    4. O Eurasianismo

    Na geopoltica russa do final do sculo XIX, o Eurasianismo lutava por se sobrepor stendncias reformistas pr-ocidentais e ao movimento eslavfilo. O papel mpar daRssia era juntar a rica diversidade da Eursia numa terceira via, consistente com acultura e as tradies da Ortodoxia e da Rssia.35

    Baseado nas ideias de Mackinder, o Eurasianismo procurava estabelecer a identidadempar da Rssia, distinta da Ocidental e focava a sua ateno para Sul e Leste, sonhandonuma fuso entre as populaes ortodoxas e muulmanas.36 Rejeitava categoricamenteo projecto do Czar Pedro para europeizar a Rssia, mas os termos em que seidealizava o pas eram idnticos aos de um imprio europeu, pela simples circunstncia

    que englobava territrios, a maioria dos quais se localizavam na sia, em que um gruponacional dominava outras nacionalidades subordinadas. Defendia que a Rssia era

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    pois, contrariamente doutrina marxista, preservou a grande unidade do espaoeurasiano do Imprio Russo. Por seu lado, Trotsky insistia na exportao da revoluo,na sua mundializao, e considerava a URSS como algo efmero e transitrio, algo quedesapareceria perante a vitria planetria do comunismo; as suas ideias traziam, porisso, a marca do Atlantismo! Para o mesmo autor, a grande catstrofe eurasiana foi a

    agresso de Hitler contra a URSS. Aps a guerra fratricida e terrvel entre dois pasesgeopoltica, espiritual e metafisicamente chegados, a vitria da URSS foi de factoequivalente a uma derrota.43

    5. A Guerra-Fria

    Apesar da guerra-fria ter sido primria e fundamentalmente um confronto entreideologias e no sobre geopoltica alguns autores chamam-lhe geopolticaideolgica a Geopoltica desenvolvida pelos pensadores europeus do final do sculoXIX foi uma matria importante para Estaline. O Pacto de Varsvia, integrando ospases da Europa de Leste na esfera sovitica, insere-se nesse projecto geopoltico como

    oposio OTAN, criando uma zona tampo (buffer zone) de estados -satlite queimpedissem a repetio dos traumas causados pelas invases de Napoleo e de Hitler. Aguerra-fria fez com que a URSS utilizasse meios militares na sua zona geopolticapara fazer face a levantamentos populares na Polnia, na Hungria, na Checoslovquia eno Afeganisto, com justificaes equivalentes teoria americana do domin44.

    A justificao para esta atitude ficou conhecida como a doutrina Brezhnev (1968),onde se articulavam os limites dentro dos quais os Estados-satlite comunistas daEuropa Oriental podiam operar. Qualquer deciso desses Estados que pudesse por emcausa o socialismo nesse pas, os interesses fundamentais do socialismo noutros pases,ou o movimento comunista a nvel mundial, justificavam a interveno militar sovitica,

    estando o exrcito vermelho apenas a ajudar o povo a exercer a sua autodeterminaonum sentido ideolgica e geopoliticamente correcto.45 Cada Partido Comunista responsvel no s perante o seu povo, mas tambm perante todos os pases socialistas eo inteiro movimento comunista. () A soberania individual de pases socialistas no sepode sobrepor aos interesses do socialismo e do movimento revolucionrio mundiais.() Cada Partido Comunista livre de aplicar os princpios do Marxismo-Leninismo edo socialismo no seu pas, mas no se pode desviar desses princpios46

    O encarregado de negcios americano em Moscovo em 1946, George Kennan, expso seu conceito sobre a URSS como sendo uma potncia com uma determinao e umanecessidade, histricas e geogrficas, de se expandir. Esta era a essncia da URSS e

    nada podia ser feito contra tal; no se podiam estabelecer acordos com a URSS.47

    A partir de 1937, como em muitos outros domnios, a reflexo estratgica deixou deexistir na URSS. A URSS devia ser uma fortaleza, simultaneamente esquadrinhada,fechada no seu interior (Gulag), e hermeticamente fechada sobre o exterior. O ensino daGeopoltica foi interdito na URSS, por ser a disciplina maldita de uma Alemanhamalvola.48 Toda a cincia se tornou marxista-leninista, sendo Estaline o grandemestre. Durante os ltimos anos do estalinismo, apesar do aparecimento do tomo e dosfoguetes, a reflexo continuou bloqueada. De facto, o que poderiam pesar taisevolues nos armamentos face s teorias enunciadas pelo genial Estaline? Apenasaps a sua morte se retomou, timidamente, a reflexo sobre uma eventual guerra futura.

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    A ideia da no-inevitabilidade das guerras entre os dois sistemas polticos foi afloradapor Estaline apenas na sua ltima interveno pblica, em Outubro de 1952,provavelmente influenciado pelas ideias de Malenkov, o seu delfim. Foi a partir dessaaltura que os soviticos aceitaram o dogma da coexistncia pacfica, que iria serretomado mais tarde, face evoluo da relao de foras entre os dois sistemas, na

    qual a arma atmica tinha um lugar de destaque. Contudo, durante a primeira metade dadcada de 50, antes de conseguir capacidade nuclear intercontinental, a URSS viveuaterrorizada pela eventualidade de uma ofensiva ocidental.49

    Desde o final da 2. Guerra Mundial, uma figura chave na geopoltica sovitica foi oGeneral Sergey M. Shtemenko, que chegou a ser, durante os anos 60s, comandante dasforas armadas do Pacto de Varsvia e Chefe do Estado-Maior General da URSS. Nosseus planos estratgicos, estava, desde 1948, a penetrao econmico-cultural noAfeganisto, afirmando que aquele pas tinha um papel geopoltico especial, permitindoo acesso sovitico ao ndico. Khrutschev tinha conceitos geoestratgicosexclusivamente baseados no emprego de msseis intercontinentais, em detrimento das

    outras armas. Estava preocupado com a Amrica Latina e insistia no conceito de guerranuclear intercontinental relmpago. Ao contrrio, Shtemenko j tinha alertado que noseria sensato basear a segurana da URSS apenas em msseis balsticosintercontinentais.50

    Entre o fim dos anos 60se a metade dos anos 80s, a marinha sovitica conheceu umaascenso considervel, resultado da conjugao de um projecto poltico, de uma visoestratgica para fazer da URSS uma potncia mundial e de uma conjuntura internacionalfavorvel a esse projecto. Khrutschev teve bastante pena de no ter porta-aviesdurante a crise de Cuba, dizia-se em Moscovo. Exigiu por isso uma modernizao dasforas navais e o desenvolvimento de uma frota de alto mar. Por essa altura, a

    descolonizao criou, principalmente em frica, uma srie de vazios polticos queinteressava preencher. Este programa de construo naval reforou o empenhamento daURSS numa poltica realmente mundial.

    Porm, a prpria configurao do territrio sovitico no permitia o acesso permanentea mares abertos, quer por razes climatricas (Murmansk e Vladivostok), quer porestarem fechados por estreitos controlados pela OTAN (estreitos turcos edinamarqueses). Alm disso, a qualidade dos navios no podia rivalizar com a dosEUA. Por isso, apesar do esforo enorme de aumento da capacidade naval, a URSSnunca conseguiu apresentar-se como uma potncia martima capaz de conseguir obter ocontrolo dos mares.51

    Um dos herdeiros das ideias geopolticas e geoestratgicas de Shtemenko foi oMarechal N. V. Ogarkov, Chefe do Estado-Maior General das foras armadas soviticasentre 1977 e meados dos anos 80s. Foi ele o responsvel pela operao contra aChecoslovquia, em que os servios de informaes da OTAN foram confundidos poruma desinformao excelentemente conduzida, e tambm pela adopo de uma opodoutrinria de guerra convencional limitada na Europa, como objectivo de planeamentoe modernizao dos armamentos convencionais.52 Ele afirmava que a funodissuasora das armas nucleares estratgicas era um assunto arrumado e que eraconveniente modernizar os armamentos clssicos. Uma guerra mundial pode comeara ser travada, por um tempo determinado, apenas com armamentos convencionais.

    Vislumbra-se aqui uma nova concepo estratgica, um conflito desenroladoexclusivamente na Europa com armas convencionais, justificao para o acrscimo do

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    poder militar convencional no teatro europeu. Esta dissociao entre guerra total eguerra limitada, fez com que os soviticos aceitassem sentar-se mesa das negociaesSALT a partir de 1968. As negociaes sobre a limitao de armas estratgicascontriburam para o aparecimento de uma nova gerao de pensadores estratgicosmilitares na URSS.

    Mas, para levar a cabo tais operaes em profundidade, os soviticos tinham de contarcom o desenvolvimento muito rpido da tecnologia ocidental de armamentos de novagerao, nos anos 70s e 80s. Ora, a indstria sovitica de armamento no parecia estar altura dessa revoluo industrial, face obsolescncia do seu aparelho de produoe dos seus mtodos de gesto. Da, o grito de alarme de Ogarkov em 1984.

    O debate foi pois geopoltico e geoestratgico mas, ao mesmo tempo, oramental eestrutural, e surgiu bem antes da SDI.

    O discurso de Brezhnev de 18 de Janeiro de 1977 marcou a adopo formal do conceito

    de dissuaso na doutrina estratgica sovitica. A partir de 1979, multiplicaram-se asreferncias, no s dissuaso, mas tambm ideia do absurdo de uma guerra nuclear e impossibilidade de obter uma vitria numa tal guerra. Em 1981, Brezhnev afirmouque o equilbrio estratgico-militar entre a URSS e os EUA, entre a OTAN e o Pactode Varsvia, servia objectivamente a manuteno da paz no planeta.

    O reconhecimento da dissuaso pelo poder sovitico teve como resultado a inrcia denada fazer em matria de modernizao dos armamentos convencionais e, portanto,indirectamente, em reformar o conjunto da economia sovitica. Mas os dadosestratgicos modificaram-se consideravelmente a partir de 1983, aps o lanamento daSDI.53

    Na dcada de 80s, tinha surgido uma nova gerao de burocratas soviticos, ansiosospor salvar o sistema comunista da estagnao, da corrupo e da hiper-extensoimperial (por demais evidente na campanha militar desastrosa no Afeganisto). O nomemais sonante dessa gerao foi Mikhail Gorbachev. Ao declarar que nenhum pasdetm o monoplio da verdade, assinalou o fim da doutrina Brezhnev como oprincpio geopoltico orientador das relaes entre a URSS e os regimes comunistas daEuropa Oriental.54

    A sua chegada ao poder, em 1985, apressou a mudana das atitudes. Para os lderesocidentais, a vontade sovitica de renunciar Doutrina Brezhnev e de desistir da luta

    anti-imperialista no Terceiro Mundo, eram sinais evidentes de que a perestroika eraum facto real.

    Quando o comunismo sovitico entrou em colapso, Gorbatchev e os seus sucessoreslideravam um Estado suficientemente poderoso para controlar um povo aindaamedrontado, mas demasiado fraco para administrar uma economia aberta. A evoluoque se tem verificado na Rssia, sobre os escombros do regime comunista, umprocesso em que as transformaes polticas e econmicas tm acontecidosimultaneamente, mas com primazia para as polticas, tornando-o assim ainda maisdifcil. A realidade que no existe cultura democrtica na Rssia. H muitos sculosque um Estado imperial, muito antes de ser comunista. Este facto fundamental para

    se poder analisar com rigor a sua possvel evoluo.

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    6. O Novo Eurasianismo

    O que ir ser a Rssia? Um Estado-Nao ou um imprio multinacional? ZbigniewBrzezinski afirma que a Rssia ser um imprio ou um estado democrtico, mas nuncaambos ao mesmo tempo.55

    A evoluo da orientao geopoltica da Rssia liga-se busca de uma identidadeps-sovitica e ao seu lugar no mundo aps o colapso do comunismo.

    Em grandes linhas, existem duas aproximaes quanto s opes geopolticas daRssia: os internacionalistas liberais ou ocidentalizadores e os eurasianistas. Osprimeiros (Gorbatchev, Kozyrev, Yeltsin, Trenin, etc.) crem que os valores ocidentaisdo pluralismo e da democracia so universais e aplicveis Rssia. Os segundos(Dugin, Zhirinovsky, Zyuganov, Solzhenitsyn, etc.) tm linhas ideolgicas nacionalistase patriticas que acreditam que, devido s particularidades geogrficas, histricas,culturais e mesmo psicolgicas, a Rssia no pode ser classificada como Ocidental ou

    Oriental, sendo um Estado forte e dominante na Eursia. O Eurasianismo conseguiureconciliar filosofias muitas vezes contraditrias como o comunismo, a religioortodoxa e o fundamentalismo nacionalista, conquistando adeptos ao longo de todo oespectro poltico.

    Contra o Atlantismo, personificando o primado do individualismo, liberalismoeconmico e democracia protestante representado primariamente pelo blocoanglo-saxnico ergue-se o Eurasianismo, personificando princpios deautoritarismo, hierarquia e o estabelecimento de um comunitarismo, sobrepondo-se spreocupaes de ndole individualista e econmica.56

    O Partido Eurasianista foi fundado por Alexander Dugin em Maio de 2002,supostamente com apoio organizacional e financeiro do Presidente Putin que, desde queassumiu a presidncia da Rssia, em Dezembro de 1999, alterou o rumo da polticaexterna de Moscovo. De facto, o Eurasianismo, essa obscura e velha moldurageopoltica e ideolgica, ganhou rapidamente importncia, emergiu como uma foramaioritria nos meios da poltica externa russa e, mais significativo ainda, cada vezmais evidente na conduta daquela poltica pelo Presidente. Grande parte deste novoalento do Eurasianismo deve-se a Dugin, seu principal idelogo. Apesar do seu passadoobscuro (antigo membro duma organizao radical anti-semita e, posteriormente, daRevoluo Conservadora racista, Dugin hoje considerado o principal geopoltico russoe conselheiro de assuntos internacionais de vrias figuras proeminentes da Duma. As

    suas ideias tm influenciado o lder do Partido Comunista, Gennady Zyuganov, oex-ministro da defesa Yevgeny Primakov, Vladimir Zhirinovsky e outros altosdignatrios.

    Dugin analisou com profundidade e ateno os trabalhos de Trubetskoy, Savitsky eFlorovsky, adaptou as teorias tradicionais de Mahan e Mackinder e postulou uma lutapelo domnio internacional entre as potncias terrestres personificadas na Rssia eas potncias martimas principalmente os EUA e o Reino Unido. Como resultado,Dugin cr que os interesses estratgicos da Rssia devem ser orientados de um modoanti-ocidental e para a criao de um espao Eurasitico de domnio russo. Por outraspalavras, a Rssia no poder subsistir fora da sua essncia imperial, pela sua

    localizao geogrfica e caminho histrico.57 A Rssia uma civilizao distinta,

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    diferente do Ocidente nos seus valores culturais, bem como nos interesses epreocupaes de segurana.

    A ideia de Mackinder sobre a oposio geopoltica entre potncias martimas eterrestres, foi levada ao extremo por Dugin, que postulou que os dois mundos no so

    apenas regidos por imperativos geoestratgicos antagnicos, mas tambm so opostosculturalmente. As sociedades terrestres, teoriza ele, tendem normalmente a ter sistemasde valores e tradies absolutas e centralizadoras, enquanto que as sociedades martimasso inerentemente liberais.

    Muitos intelectuais russos que um dia pensaram que a vitria da sua ptria seria umresultado inevitvel da histria, colocam agora a sua esperana em ver regressar aRssia grandeza numa teoria que , em muitos aspectos, o oposto do materialismodialctico. A vitria ser encontrada na geografia, no na histria; no espao, no notempo.58

    O novo imprio eurasiano ser construdo no princpio fundamental do inimigocomum: a rejeio do Atlantismo, controlo estratgico dos EUA e na recusa emaceitar valores liberais para nos dominar. Este impulso civilizacional comum ser a basede uma unio poltica e estratgica. Dada a presente situao internacional poucoinfluente da Rssia, Dugin refora a necessidade de construir alianas que sirvam paraaumentar o domnio poltico e econmico. Assim, pe nfase num eixoMoscovo-Teero e na criao de uma zona de influncia iraniana no Mdio Oriente. NaEuropa, advoga um eixo Moscovo-Berlim, que v como essencial para a criao de umcordo sanitrio contra a influncia ocidental no antigo bloco sovitico.59

    Por outro lado, o Eurasianismo ope-se tambm ao wahabismo satnico, que ameaa

    e pe em risco a sua fronteira Sul, aquilo a que W. Churchill chamou o baixo-ventre daRssia, para onde se dirigem as suas actuais aspiraes de hegemonia.60

    No respeitante poltica externa, o Eurasianismo defende que o caminho que oOcidente tomou destrutivo; a sua civilizao espiritualmente vazia, falsa emonstruosa; por detrs da prosperidade econmica, est uma degradao espiritual total.Os EUA exploraram a mgoa pelos ataques terroristas de 11 de Setembro, e sob a capada luta contra o terrorismo, para fortalecer as suas posies na sia Central, zona deinfluncia russa. A Europa, apesar de ser cultural, social e politicamente chegada aosEUA, tem preocupaes geopolticas, geoestratgicas e econmicas semelhantes Rssia e Eursia.

    Quanto poltica interna, pretende reforar a unidade estratgica da Rssia, a suahomogeneidade geopoltica e a linha vertical de autoridade, reduzir a influncia dos clsoligrquicos, combater o separatismo e o extremismo, e apoiar a economia nacional.61

    O que torna Dugin notrio e preocupante que o seu pensamento faz lembrar, em certosaspectos, Hitler: fala sobre capitalismo, baseado numa combinao de nacionalismo esocialismo. As suas teorias foram banidas durante a poca sovitica pelas suas ligaesao Nazismo, mas so hoje aceites sem relutncia pelo Partido Comunista.62

    O colapso da URSS e o fim da Guerra fria levou a uma alterao dramtica na

    configurao da geopoltica da Eursia. Uma das consequncias mais importantes dessaalterao foi a apario de novas repblicas independentes na sia Central, ao longo da

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    fronteira Sul da Rssia: Cazaquisto, Quirguizisto, Tadjiquisto, Turcomenisto eUzbequisto na sia Central; Armnia, Azerbaijo e Gergia no Cucaso.

    Dada a posio geoestratgica da regio, uma rea de ligao natural e de trnsito entrea Europa, o Mdio Oriente e a sia, ela constitui um elo importante de comrcio. Ao

    mesmo tempo, os enormes recursos petrolferos e de gs natural da regio,transformaram-na num local de enorme competio/cooperao.

    As determinantes fundamentais da postura russa presentemente, to evidentes nagovernao do Presidente Putin, so o declnio acentuado do seu poder nacional na

    primeira metade da dcada de 90s, a enorme prioridade dos problemas econmicos esociais internos, especialmente durante a presidncia de Yeltsin, o conflito naTchetchnia, o alargamento da OTAN, e o grande retraimento das suas aspiraesexternas, juntamente com o fim da misso de grande potncia, e a prudente avaliaodos objectivos/capacidades e dos custos/benefcios.63

    Estas consideraes so fundamentais na posio da Rssia face sia Central. ARssia sempre considerou a regio como o seu quintal estratgico, mas no teve osrecursos polticos, econmicos e militares para manter a sua influncia na dcada que seseguiu ao colapso da URSS. De qualquer modo, a Rssia espera manter a sua influnciana sia Central. A limitada definio dos seus requisitos de segurana leva a Rssia aver aquela regio como uma zona tampo (buffer zone), em especial das foras dorevivalismo islmico.64

    A doutrina consensual da vizinhana prxima define que a Rssia quer manter umpapel poltico, econmico e estratgico preponderante naquelas ex-repblicas da URSS,legitimando uma interveno militar, se necessrio. Contudo, a incapacidade da Rssia

    implementar as necessrias reformas nas suas Foras Armadas e na sua economia, emconjunto com a hostilidade com que a sua presena vista, limita as suas possibilidadesde cooperao e faz diminuir a sua influncia, em especial no Cucaso, em detrimentodos EUA. A Rssia v assim a sua posio na regio ameaada pela expanso militaramericana e da OTAN, bem como pelos seus prprios problemas internos (a guerra naTchechnia fez com que as relaes com a Gergia, a quem acusa abertamente deabrigar terroristas tchetchenos, se deteriorasse muito). Para contrabalanar esta situao,props uma cooperao triangular com a China e com a ndia atravs da Organizao deCooperao de Xangai (com Cazaquisto, Quirguizisto e Tadjiquisto) e estabeleceuuma relao privilegiada com o Iro.

    Feng Shaolei afirma que durante a primeira fase do perodo ps-guerra-fria(1991-1993), o vcuo geopoltico criado deveu-se poltica russa para a regio.Fazendo um esforo enorme para ter relaes mais estreitas com os EUA e o Ocidente,a Rssia desperdiou muitas oportunidades de preservar a sua influncia na siaCentral, e alcanar a integrao econmica, poltica e militar, pois a maioria dos lderesda regio eram antigos colegas de Boris Yeltsin no Comit Central do PartidoComunista ou tinham obtido as suas posies com a sua ajuda. Mesmo assim, apesardesta poltica oficial, a Rssia manteve grande influncia.

    Na fase seguinte, de 1994 a 1996, a Rssia perdeu o controlo sobre os acontecimentos.As ex-repblicas da sia Central evoluram de proto-estados para estados plenos, com

    os respectivos atributos.

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    Ministro dos Negcios Estrangeiros Andrei Kozyrev deu lugar orientao eurasianistade Yevgenyi Primakov. A Rssia fez ento esforos titnicos para restaurar a suainfluncia e teve um papel importante no problema dos oleodutos e gasodutos daregio.

    A poltica russa para esta regio no se alterou radicalmente at 1999/2000, quando asrelaes com o Ocidente caram para o nvel mais baixo, em virtude da crise do Kosovo,dos ataques extremistas no Quirguizisto e no Uzbequisto e, especialmente, daascenso de Vladimir Putin presidncia.

    Entretanto, reforava o seu controlo sobre os oleodutos e gasodutos, utilizando porvezes esse controlo como um mecanismo para controlar os Estados da regio.65

    A resposta dos EUA aos ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001, fez alterar ageopoltica global. Segundo D. Trenin, a poltica externa seguida por Putin a partirdessa data caracterizou-se por uma inflexo nas suas escolhas estratgicas, dando a sua

    concordncia colocao de foras americanas em antigas bases soviticas na siaCentral, e apoiando o Ocidente na sua guerra contra o terrorismo internacional.66 Nopensamento de Putin, a verso extremista do Islo uma das maiores ameaas para aRssia.

    Apesar disto, nos seus esforos para manter os EUA longe da regio do Cspio, o Iroencontrou um aliado inesperado na Rssia. Ambos puseram temporariamente as suasdivergncias de lado, para fazer frente s actividades americanas na rea. A alianarusso-iraniana pode alis considerar-se um dos mais importantes factos geopolticos dops-guerra-fria. Para a Rssia, uma relao estreita com o Iro pode considerar-se comouma reaco expanso da OTAN para a Europa Oriental. O fornecimento de material

    militar convencional e de tecnologia nuclear russa ao Iro um dos aspectos fulcraisdesta aliana, j que muito poucos pases esto interessados em fornecer armas aoregime dos ayatollahs. O Iro confia na Rssia como fornecedor de armamento, dadono existirem muitos pases que o queiram fazer; a Rssia tambm v vantagens elucros no fornecimento de armamento, nuclear inclusive, ao Iro.

    A possvel influncia iraniana no fundamentalismo islmico, na opinio pblica russa, bastante limitada e claramente exagerada pelos polticos ocidentais. Em primeiro lugar,os iranianos so etnicamente Indo-Arianos e, portanto, bastante diferentes de outrasetnias da regio Sul da ex-URSS, que so de origem turca ou caucasiana, excepodos Tadjiques. Em segundo lugar, o Iro pertence faco Shiita do Islo, ao passo que

    a maioria da populao muulmana da sia Central ( excepo do Azerbaijo) Sunita. Em terceiro lugar, as elites locais no pretendem adoptar a forma de governoteocrtica imposta no Iro. Em quarto lugar, o Iro no est economicamente emposio de iniciar uma modernizao estrutural na sia Central e no Cucaso, apesar depossuir divisas dos petro-dlares.

    Muitos polticos e peritos russos esto bastante mais alarmados com a Turquia, devido sua proximidade geogrfica, cultural, tnica e religiosa maioria das ex-repblicassoviticas, bem como o seu potencial econmico e apoio poltico ocidental. Alm disso,o modelo secular de desenvolvimento turco pode atrair os regimes da sia Central queprocuram exemplos para seguir.67

    7. O Petrleo

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    Sabia-se da existncia de petrleo no Cucaso e na sia Central desde o sculo XIII efoi factor importante no Grande Jogo do sculo XIX. No final deste sculo, com ascapacidades tecnolgicas aumentadas, a explorao das reservas petrolferas emergiramcomo um factor primordial na competio, e o Jogo intensificou-se.

    At ao incio do sculo XX, a principal actividade econmica da sia Central estavaligada ao algodo, ao curtimento de couro, ao processamento da l e fiao da seda.Durante a 1. Guerra Mundial, os alemes tentaram conquistar a regio petrolfera deBaku, na margem ocidental do Mar Cspio, para continuar a alimentar o esforo deguerra, o que no conseguiram. Na 2. Guerra Mundial, Hitler parece ter tido a mesmadeterminao, estando consciente em 1942 que, se falhasse o controlo do petrleo doCucaso, perderia a guerra.68

    A data crtica para o petrleo deu-se em 1912, quando a Marinha Inglesa decidiuconverter a propulso dos navios de combate do carvo para o petrleo. Esta transio

    deu aos navios britnicos uma vantagem significativa em velocidade e autonomia sobreos seus adversrios, em especial a Alemanha. Mas, por outro lado, colocou a Londresum outro dilema: se bem que bastante rica em carvo, a Gr-Bretanha tinha poucosrecursos petrolferos domsticos e ficava dependente de importaes.

    Expandiu os seus interesses petrolferos ao Golfo Prsico e fortaleceu a sua posio naPrsia (hoje Iro). A Frana, por seu turno, conseguiu concesses importantes emMosul, no Noroeste do Iraque, enquanto a Alemanha e o Japo planeavam abastecer-sena Romnia e nas ndias Orientais Holandesas (hoje Indonsia). A tentativa japonesa dese abastecer nas ndias Orientais Holandesas levou imposio de um embargo deexportaes para o Japo o que, por seu turno, persuadiu os japoneses que uma guerra

    com os EUA era inevitvel, levando-os ao ataque de surpresa a Pearl Harbor. No teatroeuropeu, a desesperada necessidade da Alemanha em obter petrleo, levou invaso daRssia em 1941, para alcanar Baku.

    A riqueza mineral da sia Central s foi, na realidade, apenas descoberta a partir demeados do sculo XX pois, at a, estava restrita margem ocidental do Mar Cspio,

    junto ao Cucaso.69

    As reservas de petrleo e de gs natural da regio do Mar Cspio so sem dvidasignificativas. Nos cinco pases que circundam aquele mar (Azerbaijo, Cazaquisto,Iro, Rssia e Turcomenisto) esto comprovados cerca de 154109 de barris de

    petrleo70 e cerca de 76,51012 de metros cbicos de gs natural. Em termos depercentagem, aqueles cinco pases possuem cerca de 15% das reservas mundiaiscomprovadas de petrleo, e cerca de 50% das de gs natural.71

    Estes vastos recursos energticos transformaram a regio numa rea de grandecompetio e de cooperao, entre actores estatais e no-estatais, pelo controlo daquelesrecursos. O fim da guerra-fria, o processo de globalizao e a internacionalizao dasactividades do Estado como consequncia principal daquela, transformaram o modocomo o mundo pode ser compreendido, levando a uma reformulao do conceito degeopoltica. Este contexto ps-guerra-fria pertinente para compreender a actualgeopoltica da sia Central.72 Novos Estados, sem experincia anterior de

    independncia, numa regio onde a dissoluo da URSS criou um vazio de poder.73 Defacto, a conquista da soberania alcanada pelas ex-repblicas soviticas no foi apoiada

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    e baseada em regras, normas e mecanismos polticos apropriados que assegurem umacoabitao civilizada entre a Rssia e os novos estados.

    8. O Futuro

    As orientaes polticas russas emergentes ligam-se busca de uma identidade nacionalrenovada e do seu lugar no mundo e nos assuntos internacionais, aps o colapsosovitico. Da o ressurgimento de um discurso Eurasianista na poltica externa, aps achegada de Putin presidncia. Esta alterao foi posteriormente acentuada com asalteraes geopolticas introduzidas pela administrao Bush como resposta aos ataquesterroristas de 11 de Setembro de 2001. Parece bvio que a Rssia fez uma escolhaestratgica ao emparceirar com o Ocidente na guerra contra o terrorismointernacional.

    As maiores preocupaes da Rssia dizem respeito ao controlo das rotas de exportaodos recursos energticos. O maior objectivo de Moscovo assegurar que uma parte

    significativa dos recursos energticos do Cspio seja transportada pelo sistema russo deoleodutos para o Mar Negro e, da, para a Europa. Porm, o sistema existente deoleodutos e gasodutos da era sovitica considerado como obsoleto, feitos commateriais de qualidade duvidosa e com manuteno de m qualidade tcnica, que seesto a deteriorar com o tempo. As novas repblicas procuraram por isso outras opespara se distanciar e no depender da Rssia, e serem capazes de alcanar mercadosdiversificados.

    Para tentar manter a sua influncia nas exportaes dos produtos energticos, a Rssiaapoia apenas oleodutos que passem atravs do seu territrio.74 Todavia, as tentativasrussas para retardar os projectos de desenvolvimento liderados por outras potncias,

    levaram ao estudo de rotas alternativas para levar os recursos at aos mercados,prejudicando a posio da Rssia como potncia dominante na regio e fazendo-aperder o controlo sobre os recursos energticos da regio e do seu transporte.75

    Para a Rssia, os alvos geopolticos primrios para a subordinao poltica parecem sero Cazaquisto e o Azerbaijo. A subordinao deste ltimo ajudaria a selar a siaCentral do Ocidente, especialmente da Turquia. O Azerbaijo, encorajado pela Turquiae pelos EUA, rejeitou os pedidos russos para a manuteno de bases militares no seuterritrio e desafiou tambm as exigncias daquele pas para um nico oleoduto comterminal no porto russo de Novorossiysk, no Mar Negro. A acrescentar ao oleoduto deBaku para Supsa, na Gergia, a Turquia, o Azerbaijo e a Gergia assinaram em 1999

    um acordo para a construo de um oleoduto ligando Baku ao porto turco de Ceyhan,no Mediterrneo, evitando assim definitivamente o territrio russo. Moscovo sentiu issocomo uma humilhao geopoltica que prenunciava uma grave perda de influncia noCucaso.76 neste contexto que se encontra a explicao mais plausvel para osrecentes problemas de fornecimento de gs natural Gergia e para o diferendo com aUcrnia sobre o mesmo combustvel.

    A vulnerabilidade tnica do Cazaquisto (cerca de 40% da populao russa) tornaquase impossvel uma confrontao aberta com Moscovo, que pode tambm explorar oreceio do Cazaquisto sobre o crescente dinamismo da China. Para tentar diminuir asiniciativas unilaterais de desenvolvimento das novas repblicas, nomeadamente as duas

    referidas atrs, tem utilizado tambm a incerteza quanto ao regime legal do Mar Cspio,ainda por acordar.

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    Ao bloquear ou atrasar novos projectos de oleodutos, a Rssia conseguiu vencerpraticamente todos os negcios energticos, com investimentos pequenos. Porm, oactual sistema de oleodutos no possui a capacidade para o aumento de produo que seprev para o Cazaquisto e para o Azerbaijo e, se tiverem de construir mais, a Rssia

    gostaria que passassem por territrio seu.77A Tchetchnia era uma regio autnoma gozando j de uma larga autonomia, quandodeclarou unilateralmente a sua independncia em 1994. A Rssia decidiu resolver oassunto pela fora por duas razes principais: em primeiro lugar porque, se aTchetchnia fosse autorizada a sair da Federao Russa, seria um perigoso precedenteque outras repblicas predominantemente islmicas do Norte do Cucaso (Tcherkessia,Dagesto, Kabardin-Balkar, etc.) poderiam querer seguir; em segundo lugar, aTchetchnia um ponto nevrlgico na rede de oleodutos vindos do Cspio.

    Se a materializao dos planos do oleoduto para Oeste falhar, todo o petrleo do

    Azerbaijo ir continuar a ser transportado pelo nico oleoduto existente para o marNegro, e esse atravessa a Tchetchnia. Se a Rssia quiser lucrar com o aumento deproduo no Azerbaijo, tem de manter o controlo da repblica a todo o custo. Grozny,capital da Tchetchnia, o centro de uma importante rede de oleodutos que liga aSibria, o Cazaquisto, o Cspio e Novorossiysk.78

    Outra ameaa sria Rssia o trnsito, importao e consumo de droga. De acordocom estimativas da ONU, dois ou trs toneladas de herona pura so transportadasanualmente da sia Central. Apenas h seis ou sete anos, a Rssia era principalmenteum pas de passagem no fornecimento de droga Europa. Actualmente, j umconsumidor importante.79

    Neste contexto, as prioridades de Putin parecem ser: a recuperao da economia russa; arestaurao da Rssia enquanto grande potncia; combater o fundamentalismo islmico;controlar e eliminar as rotas do trfico de estupefacientes; estabelecer um novorelacionamento de segurana com a Europa e com a OTAN; e resolver a questo nuclearestratgica com os EUA.

    No plano poltico, a Rssia tentou avanar primeiro e rapidamente para a reformapoltica e chegou a um presidencialismo inflacionado, reduzindo os poderes dasoutras instituies governativas.

    No plano econmico, a Rssia no aprendeu as duas lies fundamentais que se podemextrair da experincia histrica da evoluo da democracia: promover umdesenvolvimento econmico autntico e sustentado e construir instituies polticastransparentes e equilibradas. A Rssia falhou em ambos os aspectos. Est a fazer ocontrrio da China, que est a reformar a sua economia antes do sistema poltico.80No mbito da poltica de segurana, o fundamentalismo islmico constitui a maiorpreocupao da Rssia. Os lderes russos consideram os talibans do Afeganisto emovimentos similares como ameaas ao Cucaso e s recm-independentes repblicasda sia Central, antigas repblicas soviticas e ainda regies de grande relevncia paraa segurana da Rssia.

    Estas preocupaes levaram Putin a tratar os ataques terroristas de 11 de Setembro de2001 como uma oportunidade para cooperar com o Ocidente relativamente ao desafio

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    fundamentalista que, de qualquer modo, sentia j estar no seu caminho.81 Aps aqueleevento, a Rssia comeou a ajudar os EUA no problema afego, passando toda ainformao que possua sobre terroristas islmicos e a sua experincia no montanhosopas. Pela primeira vez desde o incio da 2. Guerra Mundial, ambos os pases tinhamum inimigo comum! A Rssia concordou mesmo com a presena de tropas americanas

    no Uzbequisto e no Quirguizisto, porque Washington no conseguiu arranjar umainfra-estrutura militar no Paquisto.82

    Por outro lado, todavia, no hesitou em entrar em conflito com a Ucrnia, ameaandocortar o fornecimento de gs natural, facto que no deixa de conter dois alertas: aafirmao de que no prescinde de continuar a manter a Ucrnia na sua esfera deinfluncia, e um srio aviso UE, face profunda dependncia energtica desta.

    Porm, para a Rssia, a poltica internacional ainda um jogo de soma zero: sehouver vencedores, tem de haver vencidos.

    As elites ocidentais tm ultimamente empreendido uma intensa campanha na opiniopblica contra Putin, desde que ele nacionalizou a Yukos Oil aps a declarao defalncia desta em 2006 e a colocou sob o controlo da Gazprom (empresa controladapelo Estado, que detm 51% das aces), que se est a tornar numa das maioresempresas petrolferas do mundo.

    Esta medida deu-lhe grande popularidade interna (mais de 70% de concordncia com adeciso) e teve um efeito benfico na estabilizao do rublo e no aumento do nvel devida. Muitos russos recordam ainda as experincias falhadas de mercado livre deYeltsin, que desbarataram a riqueza nacional e que contriburam bastante para odeclnio econmico e para a perda de prestgio internacional da Rssia.

    Putin est a abrir os mercados russos e a procurar satisfazer as grandes empresaspetrolferas, fazendo, ao mesmo tempo, crescer a economia russa. Cr que adependncia mtua fortalece a segurana energtica do continente europeu, criando

    boas perspectivas para a aproximao noutras reas.

    O Ocidente tem criticado Putin por ter utilizado o petrleo e o gs natural para enviarmensagens Gergia e Ucrnia. O vice-presidente americano, Dick Cheney,chamou-lhe mesmo chantagem. De qualquer modo, no sensato irritar o homem queaquece as nossas casas e que abastece os nossos carros.

    Tem razo, mas no estar a ser um pouco ingnuo? Vrias civilizaes tm sidotrituradas para satisfazer a gula e a cobia mundiais pelo petrleo. Poder a Rssia serpoupada?83

    Por seu lado, a Rssia tem-se oposto tenazmente poltica externa dos EUA, emassuntos que vo do Iro ao Sudo, ao Kosovo e Coreia do Norte. Putin tem declaradoque pretende um nmero multipolar, em vez de um unipolar. Contudo, nem a Coreia doNorte, nem o Sudo, nem o Iro tm importncia estratgica fundamental para a Rssia;servem apenas para que possa ter uma voz de oposio oficial poltica externaintervencionista americana. O objectivo de longo prazo reestabelecer a influnciainternacional da Rssia.

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    A Cimeira UE-Rssia, realizada em Outubro de 2007 em Lisboa, veio desbloquearalguns problemas existentes, tais como garantias quanto ao abastecimento energtico Europa e o levantamento do embargo da Rssia sobre carne e frescos da UE,nomeadamente da Polnia.

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    12 HOPKINS, Peterobra citada, pp. 19-33.13 AGNEW, John Geopolitics Re-visioning world politics, Routledge, London,1997, pp. 87-93.14 HOPKINS, Peterobra citada, p. 118.15 CANAS, Vitalino Segurana e droga no Afeganisto: Chegou a altura de novasalternativas, em Segurana e Defesa, n. 1, Dirio de Bordo, Novembro de 2006, p.41.16 HOPKINS, Peterobra citada, p. 131.17 HOPKINS, Peterobra citada, pp. 149-164.18 HOPKINS, Peterobra citada, pp. 168, 253, 270.19 http://en.wikipedia.org/wiki/The_Great_Game, 2006-08-05.

    20 HOPKINS, Peterobra citada, pp. 281-292.21 HOPKINS, Peterobra citada, pp. 301-306.

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    22 HOPKINS, Peterobra citada, pp. 312-317.23 HOPKINS, Peterobra citada, p. 409.24 HOPKINS, Peterobra citada, pp. 351-353.25 HOPKINS, Peterobra citada, pp. 377-381.26 http://en.wikipedia.org/wiki/The_Great_Game, 2006-08-05.

    27 HOPKINS, Peterobra citada, pp. 388-389.28 HOPKINS, Peterobra citada, pp. 401-416.29 http://en.wikipedia.org/wiki/The_Great_Game, 2006-08-05.30 HOPKINS, Peterobra citada, pp. 438-445.31 MOREAU-DEFARGES, Philippe, Introduo Geopoltica, Gradiva, Lisboa,2003, p. 107.32 HOPKINS, Peterobra citada, pp. 502-522.33 FORSYTHE, Rosemarieobra citada, pp. 9-10.34 KLEVEMAN, The new great game: Blood and oil in Central Asia, AtlanticMonthly Press, New York, 2003, p. 2.35 HAHN, Gordon M. The rebirth of Eurasianism, 12Jul2002, em

    www.therussiajournal.com/index.htm?obj=6041, 2005-01-10.36 HAHN, Gordon M.obra citada.37 BASSIN, MarkClassical Eurasianism and the geopolitics of russian identity, emwww.dartmouth.edu/~crn/crn_papers/Bassin.pdf, 2005-01-10.38 DUGIN, Alexander The great war of continents, emwww.bolsheviks.org/DOCUMENTS/THE%20GREAT%20WAR%20I.htm, p. 7,2005-01-10.39 DUGIN, Alexander, obra citada, p. 4, 2005-01-10.40 www.vor.ru/culture/cultarch235_eng.html, 2005-01-10.41 BASSIN, Mark- obra citada, 2005-01-10.42 Ibidem.43 DUGIN, Alexanderobra citada, pp. 2-8, 2005-01-10.44 A teoria do domin (William Bullit, 1947) postulava o medo do comunismomonoltico avanar no mundo atravs da China e da sia de Sudeste. Eisenhowerdefendeu-a, afirmando que a perda da Indochina causaria a queda da sia de Sudestecomo as pedras de um jogo de domin. Serviu como base terica para a intervenoamericana no Vietname.45 OTUATHAIL, Gearid Cold War geopolitics Introduction, em Thegeopolitics reader, Routledge, Londres, 1998, pp. 52-53.46 BREZHNEV, Leonid Soberania e a obrigao internacionalista dos pasessocialistas, Pravda, 1968, citado em The geopolitics reader, pp. 74-75.

    47 OTUATHAIL, Gearid Cold War geopolitics Introduction, em Thegeopolitics reader, Routledge, Londres, 1998, p. 47.48 MOREAU-DEFARGES, Philippeobra citada, pp.109-110.49 ROMER, Jean-Christophe La pense strategique russe au Xxe sicle, emwww.stratisc.org/pub/pub_ROMER_STRU_tdm, 2005-01-10.50 DUGIN, Alexander The great war of continents, emwww.bolsheviks.org/DOCUMENTS/THE%20GREAT%20WAR%20II.htm, pp. 2-4,2005-01-10.51 ROMER, Jean-Christopheobra citada, 2005-01-10.52 DUGIN, Alexander The great war of continents, emwww.bolsheviks.org/DOCUMENTS/THE%20GREAT%20WAR%20II.htm, pp. 7,

    2005-01-10.53 ROMER, Jean-Christopheobra citada, 2005-01-17.

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    54 WALKER, M.The cold war: A history, Holt, New York, 1993, p. 290.55 BRZEZINSKI, ZbigniewThe premature partnership, em Foreign Affairs, Vol.73, n. 2, JAN/FEV 1994, p. 72.56 DUGIN, Alexander The great war of continents, emwww.bolsheviks.org/DOCUMENTS/THE%20GREAT%20WAR%20I.htm,

    2005-01-10.57 BERMAN, Ilan Slouching toward Eurasia?, emwww.bu.edu/iscip/vol12/berman.html, 2005-01-25.58 CLOVER, Charles Dreams of the Eurasian heartland, emwww.geocities.com/eurasia_uk/heartland.html, 2005-01-25.59 BERMAN, Ilanobra citada, 2005-01-25.60 MARKETOS, ThrassyEurasianist theory: Consequences to the strategic securityof the russian muslim South, emwww.cacianalyst.org/view_article.php?articleId=3281, 2007-01-26.61 http://en.wikipedia.org/wiki/Eurasia_Party, 2007-01-27.62 HAHN, Gordon M.obra citada, 2005-01-25.

    63 SHI YinhongGreat power politics in Central Asia today: A chinese assessment,em Islam, oil and geopolitics, Rowman & Littlefield, Plymouth, 2007, p. 165.64 DAVIS, Elizabeth Van Wie & AZIZIAN, Rouben Islam, oil and geopolitics inCentral Asia after September 11, em Islam, oil and geopolitics, p. 7.65 FENG ShaoleiChinese-Russian relations: The Central Asia angle, em Islam, oiland geopolitics, pp. 203-206.66 TRENIN, Dimitri From pragmatism to strategic choice: Is Russias security

    policy finally becoming realistic?, citado por OLOUGHLIN, John, OTUATHAIL,Gearig & KOLOSSOV, Vladimir Russian geopolitical culture and public opinion:The masks of Proteus revisited, em www.colorado.edu/ibs/PEC/johno/pub/Proteus.pdf67 LOUNEV, SergeyRussian-Indian relations in Central Asia, em Islam, oil andgeopolitics, p. 77.68 FORSYTHE, RosemarieThe geopolitics of oil in the Caucasus and Central Asia:Prospects for oil exploitation and export in the Caspian basin, Adelphi Paper 300, IISS,Oxford University Press, 1996, pp. 9-10.69 FORSYTHE, obra citada, p. 9.70 Um barril de petrleo equivalente a 159 litros, 42 gales americanos, ou 35 galesimperiais.71 AMINEH, Mehdi Parviziobra citada, p. 1.72 Ibidem73 HANSEN, Sander Pipeline politics The struggle for control of the Eurasian

    energy resources, Clingendael Institute, The Hague, 2003, p. 1.74 AMINEH, Mehdi Parviziobra citada, pp. 74-81.75 CUTLER. Robert Cooperative energy security in the Caspian region: A new

    paradigm for sustainable development?, em www.robertcutler.org/ar99gg3b.htm 2005-01-25.76 RAMONET, Ignacio Guerras do sculo XXI Novos medos, novas ameaas,Campo das Letras, Porto, 2002, p. 127.77 FORSYTHE, Rosemarieobra citada pp. 13-17.78 KLEVEMAN, Lutzobra citada, pp. 53-57.79 LOUNEV, Sergeyobra citada, p. 181.80 ZAKARIA, Fareed O futuro da liberdade A democracia iliberal nos Estados

    Unidos e no mundo, Gradiva, Lisboa, 2003, pp. 87-90.81 KISSINGER, Henryobra citada, p. 296.

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    82 LOUNEV, Sergeyobra citada, p. 183.83 WHITNEY, MikeEnergy geopolitics: Putin gets mugged in Finland, em GlobalResearch, October 22, 2006.