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A Futura ISO 50 501 – Sistemas de Gestão de Inovação. Linhas de orientação A Futura ISO 50 501 – Sistemas de Gestão de Inovação. Linhas de orientação Isabel Caetano 1 , Joana dos Guimarães Sá 2 e Rita Ribeiro de Sousa 3 Introdução A normalização na área dos sistemas de gestão de inovação tem vindo a ser desenvolvida em diversos Países, e recentemente foi criado um comité técnico, TC 279, na International Organization for Certification, a ISO. No âmbito do Grupo de Trabalho 1 “Innovation Management Systems” da ISO TC 279, ocorreu nos dias 21 a 25 de maio de 2018, na Agência Nacional de Inovação, no Porto, uma reunião para finalização da proposta de draft de norma internacional (DIS) de linhas de orientação para sistemas de gestão da inovação, que irá circular para tradução, votação e comentários junto dos membros da ISO nos próximos meses. Prevê-se a publicação do draft final de norma internacional (FDIS) em inícios de novembro e a publicação da norma internacional no início do ano 2019. Este artigo descreve as principais caraterísticas da futura norma de sistemas de gestão de inovação, tal como apresentadas na versão DIS, podendo ainda vir a sofrer alterações e melhorias. ________________________________________________________________________ Os Princípios de Gestão da Inovação Os Princípios de Gestão da Inovação correspondem aos alicerces, em termos conceptuais e estratégicos, que fundamentam a Norma do sistema de gestão. São os fundamentos, ou termos de referência, que possibilitam garantir a consistência e a coerência do conteúdo normativo, refletindo o espírito que esteve presente na criação deste Comité Técnico da ISO e sobretudo no grupo de trabalho a quem foi atribuída essa missão. Na versão inicial desta Norma, foram definidos sete princípios, incluindo a definição do conceito, a sua explicitação e a sua racionalidade, como se pode observar na Figura 1. Tendo em consideração a importância associada ao impacto do sistema de gestão, foram ainda descritos os benefícios expectáveis e as ações que podem ser tomadas para cada princípio. Além destes 7 princípios do sistema de gestão, o trabalho de desenvolvimento normativo e as sucessivas iterações fizeram emergir um oitavo princípio, o da abordagem sistémica, ainda em fase de aprovação e comentários. Na perspetiva de Portugal, este novo princípio em muito beneficiará a adoção de rotinas e processos indutores da inovação empresarial, identificando claramente a importância de gerir de modo adequado as suas atividades. Em paralelo, encontra-se em preparação a ISO 50 500, dedicada à terminologia e fundamentos das normas de Gestão de Inovação. À semelhança do que ocorreu com os princípios de gestão da qualidade, prevê-se que os 1 Presidente da CT 169 Atividades de Investigação, Desenvolvimento e Inovação, mirror committe da TC 279, [email protected] 2 Diretora de Desenvolvimento na Associação Portuguesa de Certificação, APCER, membro atuando como secretária do WG1- Innovation Management System Standard- Guidance da ISO/TC 279 Innovation Management, [email protected] 3 Gestora de desenvolvimento APCER, [email protected]

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A Futura ISO 50 501 – Sistemas de Gestão de Inovação. Linhas de orientação

A Futura ISO 50 501 – Sistemas de Gestão de Inovação. Linhas de orientação

Isabel Caetano1, Joana dos Guimarães Sá2 e Rita Ribeiro de Sousa 3

Introdução

A normalização na área dos sistemas de gestão de inovação tem vindo a ser desenvolvida em diversos Países,

e recentemente foi criado um comité técnico, TC 279, na International Organization for Certification, a ISO.

No âmbito do Grupo de Trabalho 1 “Innovation Management Systems” da ISO TC 279, ocorreu nos dias 21 a

25 de maio de 2018, na Agência Nacional de Inovação, no Porto, uma reunião para finalização da proposta de

draft de norma internacional (DIS) de linhas de orientação para sistemas de gestão da inovação, que irá circular

para tradução, votação e comentários junto dos membros da ISO nos próximos meses. Prevê-se a publicação

do draft final de norma internacional (FDIS) em inícios de novembro e a publicação da norma internacional no

início do ano 2019.

Este artigo descreve as principais caraterísticas da futura norma de sistemas de gestão de inovação, tal como

apresentadas na versão DIS, podendo ainda vir a sofrer alterações e melhorias.

________________________________________________________________________

Os Princípios de Gestão da Inovação

Os Princípios de Gestão da Inovação correspondem aos alicerces, em termos conceptuais e estratégicos, que

fundamentam a Norma do sistema de gestão. São os fundamentos, ou termos de referência, que possibilitam

garantir a consistência e a coerência do conteúdo normativo, refletindo o espírito que esteve presente na

criação deste Comité Técnico da ISO e sobretudo no grupo de trabalho a quem foi atribuída essa missão.

Na versão inicial desta Norma, foram definidos sete princípios, incluindo a definição do conceito, a sua

explicitação e a sua racionalidade, como se pode observar na Figura 1. Tendo em consideração a importância

associada ao impacto do sistema de gestão, foram ainda descritos os benefícios expectáveis e as ações que

podem ser tomadas para cada princípio.

Além destes 7 princípios do sistema de gestão, o trabalho de desenvolvimento normativo e as sucessivas

iterações fizeram emergir um oitavo princípio, o da abordagem sistémica, ainda em fase de aprovação e

comentários. Na perspetiva de Portugal, este novo princípio em muito beneficiará a adoção de rotinas e

processos indutores da inovação empresarial, identificando claramente a importância de gerir de modo

adequado as suas atividades.

Em paralelo, encontra-se em preparação a ISO 50 500, dedicada à terminologia e fundamentos das normas de

Gestão de Inovação. À semelhança do que ocorreu com os princípios de gestão da qualidade, prevê-se que os

1 Presidente da CT 169 Atividades de Investigação, Desenvolvimento e Inovação, mirror committe da TC 279, [email protected] 2 Diretora de Desenvolvimento na Associação Portuguesa de Certificação, APCER, membro atuando como secretária do WG1- Innovation Management System Standard- Guidance da ISO/TC 279 Innovation Management, [email protected] 3 Gestora de desenvolvimento APCER, [email protected]

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princípios de gestão de inovação sejam integrados nessa norma e, ao mesmo tempo, disponibilizados

livremente no site do Comité.

Relembra-se ainda, que findo o prazo de tradução da versão DIS, aproximadamente no início de agosto de

2018, a mesma estará disponível para venda no site da ISO. Caso tenham comentários sobre a norma os

mesmos são bem vindos e podem ser enviados para a CT 169, o comité espelho da ISO TC 279, através de

correspondência direta com as autoras deste artigo.

De seguida, apresenta-se uma breve descrição de cada princípio, de acordo com a tradução e interpretação

das autoras, não existindo qualquer hierarquia ou ordem pré-definida na sua apresentação.

Figura 1 - Princípios de gestão da Inovação

Os princípios de Gestão de Inovação abrangem, como veremos, aspetos essenciais na gestão das Organizações

para o desenvolvimento da inovação e sua transformação em valor, gerando retorno e impacto. Assim,

integram elementos, por vezes considerados intangíveis, como a Cultura ou a Adaptação à Mudança. Outros

princípios salientam as características da liderança e da orientação estratégica das Organizações como

determinantes para a realização de valor, baseado na inovação.

Cultura (Culture): Valores, crenças e comportamentos partilhados que suportam a abertura à mudança, a

aceitação do risco e a colaboração, permitindo a coexistência e equilíbrio entre comportamentos de

criatividade e de execução.

Líderes visionários (Future Focused Leaders): Líderes que, a todos os níveis da Organização, estimulam a

curiosidade e atuam com coragem, focados no futuro, desafiam o status quo, criando um propósito e visão

inspiradores, envolvendo continuamente as pessoas para o seu alcance.

Direção estratégica (Strategic Direction): A gestão das atividades de inovação alicerça-se na estratégia da

Organização, dela resultando orientações para as atividades de inovação baseadas em objetivos alinhados e

partilhados, com um nível relevante de ambição, suportados pelas pessoas e pelos recursos necessários.

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Explorações intuitivas (Exploitable Insights): Um conjunto diversificado de fontes interdisciplinares internas e

externas é usado para apropriar informações, desenvolver conhecimentos perspicazes e explorar

necessidades declaradas ou não declaradas.

Gerir a incerteza (Managing uncertainty): As incertezas e os riscos são avaliados e geridos, recorrendo, por

exemplo, à aprendizagem com experimentação sistemática, processos iterativos, no contexto de um

portefólio de oportunidades.

Adaptabilidade (Adaptability): As mudanças de contexto da organização são endereçadas através da

adaptação atempada das suas estruturas, processos, competências e modelos de realização de valor que

maximizam as capacidades de inovação.

Realização de valor (Value Realization): A criação de valor e sua apropriação resultam da implementação

oportuna, adoção e impacto resultante de soluções novas e melhoradas para todas as partes interessadas,

não sendo de negligenciar o conhecimento obtido no desenvolvimento dessas atividades, mesmo que delas

não tenha surgido qualquer resultado comercializável.

Abordagem Sistémica (Systems approach): A gestão da inovação é baseada numa abordagem sistémica com

elementos interrelacionados, com avaliação regular do desempenho e identificação de melhorias a introduzir

no próprio sistema.

Estrutura da Norma 50 501 para um Sistema de Gestão de Inovação

Sendo uma norma de linhas de orientação, a ISO 50501 segue a Estrutura de Alto Nível e texto comum

aplicáveis a normas de sistemas de gestão da ISO (Anexo SL), e que abrangem diversos domínios de atuação.

Existe já um conjunto alargado de normas ISO de sistemas de gestão que adotaram esta estrutura, como por

exemplo, a ISO 9001 para qualidade, ISO 14001 para ambiente, ISO 45001 para segurança e saúde no trabalho,

ISO 27001 para segurança de sistemas de informação, etc.

A estrutura da Norma inclui 7 secções de linhas de orientação, secções 4 a 10, alinhadas com o ciclo “Plan-Do-

Check-Act” (PDCA) de gestão:

Figura 2 - Estrutura da norma

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Na secção 4 - Compreender a organização e seu contexto – são tratadas as questões relacionadas com a análise

interna e externa que podem influenciar, determinar ou estimular a inovação, bem como a determinação das

partes internas e externas relevantes e compreensão das suas necessidades, expectativas e requisitos. Segue,

deste modo, a abordagem da Norma Portuguesa, associando-se neste domínio aos conceitos de micro e macro

envolventes, ainda que simplificada e enquadrada na estrutura de alto nível.

Ainda na secção 4 e no que respeita aos principais fatores críticos da gestão da inovação nas organizações, a

norma dedica uma secção específica ao sistema de gestão, colocando no mesmo plano a definição do sistema

de gestão e dos seus processos, a promoção de uma cultura de inovação e a definição de uma abordagem à

colaboração interna e externa. Tal permite, como se apresenta na Figura 3, focar o sistema de gestão em três

principais elementos motores para o seu funcionamento, ilustrando a importância de uma cultura favorável à

inovação, de processos sistémicos que sustentem as atividades e da adoção de uma abordagem aberta e

colaborativa:

Figura 3: Pilares da Inovação

A secção 5 – Liderança – inclui, para além dos temas presentes na estrutura de alto nível Liderança e

Compromisso, Política, Funções, Responsabilidades e autoridades organizacionais, o Foco na realização de

valor e a Visão.

A secção 6, dedicada ao planeamento, assegura o alinhamento com a estrutura de alto nível ao nível das ações

para tratar riscos e oportunidades, objetivos e planeamento para os atingir e inclui ainda três secções distintas

que completam o planeamento ao nível de um sistema de gestão de inovação: Estratégia de inovação,

Estruturas organizacionais e Portefólios de inovação.

A secção 7 apresenta orientações detalhadas para gestão dos recursos e das atividades de suporte necessários

à inovação, considerados na literatura e na opinião de especialistas, como críticos para a obtenção de

resultados e criação de valor.

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Figura 4 - Suporte e Recursos necessários para a inovação

A secção 8 divide as operações de inovação em três secções aqui apresentadas de modo esquemático:

Figura 5 - Estrutura da secção 8 Operações

As secções 9 e 10, respetivamente Avaliação do desempenho e Melhoria, seguem de perto a estrutura e texto

de alto nível, aplicando-as no contexto da inovação. Tratam assim de temas como monitorização, medição,

análise e avaliação, auditorias internas, revisão pela gestão, melhoria, desvios, não conformidades e ações

corretivas É de salientar uma proposta muito desenvolvida sobre indicadores de desempenho e a introdução

do conceito de desvio.

____________________________________________________________________________

8. Operações

8.1 Planeamento e

controlo operacional

8.2 Gestão de

iniciativas de inovação

8.3 Processo de inovação

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Principais caraterísticas da Norma 50501

A Norma 50501, apesar de se encontrar ainda em redação, apresenta algumas características distintivas, que

serão descritas de seguida, numa abordagem não exaustiva:

Inovação como resultado

O termo “inovação” designa, nesta nova Norma e conforme adotado nos trabalhos do Comité Técnico 279 da

ISO, o resultado associado à realização ou redistribuição de valor. No contexto desta definição, o termo

“entidade” é usado para se referir a qualquer “objeto” seja ele produto, serviço, modelo (exemplo: modelo

organizacional de negócio ou operacional) ou uma combinação, podendo ser material, imaterial ou imaginado.

No que respeita a atividades, abrangendo todas aquelas que resultam ou pretendem resultar em inovação, a

Norma prevê o seu enquadramento, enquanto atividades de inovação, em iniciativas ou em processos de

inovação.

Entender o contexto e identificar oportunidades

A inovação não pode dissociar-se do contexto da organização (4.1), implicando uma avaliação e atenção

regulares, por parte da Organização, às questões internas e externas que podem influenciar e determinar o

seu desenvolvimento, incluindo a identificação de áreas de oportunidade a explorar. A importância de

compreender as necessidades das partes interessadas relevantes (4.2) evidencia, também, o seu papel na

cadeia de valor da Organização, em colaboração com esta, em concorrência ou fora das relações diretas da

própria Organização.

Por outro lado, importa considerar que a Organização terá de perspetivar o modo de interação com as partes

interessadas, atuais ou potenciais, com necessidades e expectativas atuais ou futuras, declaradas ou não

declaradas, próximas ou distantes, para monitorizar e rever a informação, especialmente crítica para as

atividades de inovação. A secção relativa à gestão da inteligência estratégica (secção 7) complementa as

orientações relativas a estes temas.

Foco na realização de valor

O foco de um sistema de gestão de inovação é a realização de valor, financeiro ou não financeiro, competindo

à gestão de topo demonstrar o seu compromisso com a realização de valor, considerando a identificação de

oportunidades com potencial, o balanço entre risco e oportunidade, incluindo a análise de consequências

potenciais das oportunidades perdidas, permitindo a experimentação e demonstrando resiliência.

Cultura de inovação

A cultura de inovação tem por finalidade permitir a coexistência entre criatividade e atividades necessárias

para identificar e gerar soluções novas que realizem valor. Para tal, é importante aceitar o insucesso como

parte do processo de inovação e como parte da aprendizagem, promovendo uma cultura de aceitação e

criando condições para experimentação que minimize o seu impacto.

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O desenvolvimento de uma cultura favorável à inovação é um aspeto-chave para obter resultados inovadores

e criar valor.

Muitos dos aspetos relativos à cultura são referidos quer na secção referente à Liderança quer na secção 4.4.2

– Cultura, que destaca como principais elementos determinantes do espírito de inovação na Organização:

• Abertura, curiosidade, foco no utilizador e desafio dos pressupostos existentes;

• Encorajar retorno de informações e sugestões;

• Encorajar aprendizagem, experimentação, criatividade e mudança;

• Trabalhar em rede, colaboração e participação;

• Diversidade, respeito e inclusão de diferentes pessoas, disciplinas e perspetivas;

• Aprender com os insucessos;

• Processos de equilíbrio e planeamento linear e não linear;

• Avaliar a cultura com indicadores.

Colaboração

A colaboração interna e externa, necessária para a implementação eficaz do sistema de gestão da inovação,

pressupõe uma abordagem determinada, na qual assenta o planeamento e a execução, de acordo com linhas

de orientação definidas, nos termos da secção 4.4.3 da Norma.

Estruturas organizacionais

Ao contrário da maioria das normas de sistemas de gestão, esta Norma dá especial atenção à necessidade de

a organização refletir sobre as estruturas organizacionais mais adequadas para alcançar os resultados

pretendidos e assegurar que as mesmas são adaptáveis e capazes de antecipar a necessidade de mudança ou

de rapidamente se adequarem.

A Norma apresenta exemplos de situações que normalmente requerem estruturas de inovação dedicadas,

como sejam:

• inovações disruptivas ou concorrentes das ofertas existentes,

• quando são necessários diferentes estilos de liderança,

• necessidade de proteção do resto da organização, entre outros.

Gestão de Portefólio

A inovação integra, na Organização, diversos tipos de atividades, prevendo esta Norma necessidade de a

organização estabelecer, priorizar e gerir um ou mais portefolios de iniciativas de inovação de modo garantir

um equilíbrio entre o risco e o retorno, a curto e longo prazo.

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Entre outras questões, é relembrada a importância de a organização assegurar:

• O alinhamento e contribuição para a estratégia de inovação e objetivos;

• A consistência entre iniciativas, incluindo sinergias;

• Investimentos de inovação apropriados;

• Gestão adequada de certos tipos de iniciativas de inovação;

• Tomada de decisões eficazes.

Gestão da propriedade intelectual

Sendo a propriedade intelectual uma atividade chave para a criação de valor, a Norma dedica uma atenção

especial ao seu desenvolvimento e gestão, enunciando orientações relevantes para a definição da abordagem

à gestão da propriedade intelectual. São exemplos desta gestão, a definição das áreas a proteger, como

proteger, o racional para criação, proteção e utilização da propriedade intelectual, criação de valor a partir de

direitos de propriedade intelectual, entre outros temas abordados na Norma.

Iniciativas

Uma iniciativa de inovação é uma atividade ou um conjunto de atividades que podem ser geridas formal ou

informalmente através de projetos, programas e processos, e podem ser propostas por qualquer pessoa da

organização. A Norma propõe uma abordagem de gestão aplicável a essas iniciativas, próxima à da gestão de

projetos, reconhecendo que muitas delas, no entanto, acabarão por não ser geridas desse modo.

Processo de Inovação

O Processo de inovação descreve detalhadamente um ciclo de inovação abrangente, com cinco "fases"

principais:

Figura 6 – Processo de inovação

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No entanto, é importante referir que a organização deve configurar o processo ou os processos de acordo

com as suas necessidades: o processo pode ser linear ou não linear, iterativo ou não-iterativo, pode incluir, ou

não, todas estas fases ou parte das mesmas, pode ser aplicado de modo diferente a cada iniciativa e pode ser

alterado durante o processo.

Indicadores de desempenho

A avaliação do sistema de gestão de inovação recorre a um conjunto de indicadores que permite enquadrar

não só o desempenho do próprio sistema, mas também os resultados da inovação, combinando a utilização

de indicadores relacionados com:

• Processos,

• Desempenho,

• Entradas e saídas,

• Quantitativos e qualitativos,

aplicados ao sistema de gestão, ou a uma iniciativa ou portfólio.

Figura 7 - indicadores de desempenho

ISO 50501: O debate sobre a apresentação de uma norma de linhas de orientação versus uma norma de

requisitos

O debate em torno da importância de definir “orientações” de um sistema de gestão de inovação em

alternativa a “requisitos” no contexto do Comité Técnico da ISO não foi nem original nem inesperado. Quer

nos trabalhos de desenvolvimento de normas nacionais, quer no âmbito da Comissão Técnica do Comité

Europeu de Normalização, CEN, a questão foi amplamente discutida.

Assim, no TC 279 da ISO, havendo uma participação diminuta de países com experiência e interesse numa

abordagem de certificação, a decisão recaiu no desenvolvimento de uma Norma de linhas de orientação.

Contudo, o interesse por uma norma de requisitos tem vindo a crescer na CT, sendo visível o apoio de vários

membros.

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Por outro lado, iniciar o trabalho por uma norma de linhas de orientação traz a vantagem de permitir explorar

conceitos, ideias, providenciar mais informação útil para os utilizadores e obter mais facilmente o consenso

no processo de desenvolvimento da Norma. Este último aspeto é particularmente relevante na produção de

uma primeira edição com um grupo de trabalho novo, com pessoas de diferentes países.

A ISO TC 279 Innovation Management – Gestão da Inovação

A ISO/TC 279 foi criada em 2013, sendo o secretariado assegurado pela AFNOR, o membro francês da ISO.

Este comité da ISO conta com a participação de 32 países, é constituído por 4 grupos de trabalho e tem como

finalidade desenvolver, manter e promover normas nos domínios da gestão da inovação.

O grupo de trabalho 1, WG 1 - Sistemas de gestão, liderado pela Argentina e secretariado por Portugal, é

responsável por desenvolver a futura norma ISO 50501 - Innovation Management System - Guidance (Sistema

de Gestão da Inovação – Linhas de orientação), que será a primeira norma a ser publicada por este comité,

acompanhada da norma de terminologia, ISO 50500 - Innovation management - Fundamentals and

vocabulary, desenvolvida dentro do WG2.

Figura 8: Estrutura do ISO/TC 279.

O WG 3, liderado pelo Canadá, desenvolve normas de linhas de orientação sobre ferramentas tendo em curso

os seguintes projetos:

• ISO 50503 - Innovation management - Tools and methods for innovation partnership – Guidance

(Gestão da Inovação – Ferramentas e métodos para colaboração em inovação - Linhas de orientação),

grupo de trabalho liderado pelo Canadá, passou neste momento à fase de DIS;

• ISO 50504 - Innovation management - Strategic intelligence management – Guidance (Gestão da

Inovação - Gestão da Inteligência estratégica - Linhas de orientação) – proposto por Espanha e

atualmente coordenado pela França, está em fase de arranque;

• ISO 50505 - Innovation management - Intellectual property management (Gestão da Inovação –

Gestão da Propriedade Intelectual) – iniciativa proposta e coordenada pela China, atualmente em fase

de arranque;

ISO/TC 279

WG1 Sistema de gestão

WG2 Terminologiae conceitos

WG3 Ferramentas

WG4 Avaliação

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O WG 4, coordenado pela Alemanha está a elaborar um relatório técnico sobre avaliação:

• ISO/TR 50502 - Innovation Management- Assessment

Antecedentes e processo de desenvolvimento da ISO 50501 Para o desenvolvimento da norma ISO 50501, a TC 279 beneficiou da existência de normas publicadas, em vários países, sobre gestão da inovação, como é o caso da Norma Portuguesa, NP 4457:2007 ou da norma espanhola UNE 166002:2014.

Também no Comité Europeu de Normalização (CEN), no âmbito do Comité Técnico 389 (Innovation

Management), a norma CEN TS 16555-1:2011, Sistema de Gestão da Inovação. Linhas de orientação,

permitira já avançar na divulgação de especificações, resultantes do trabalho de especialistas de vários

países da União Europeia, harmonizando e propondo uma abordagem sistémica neste domínio. Assim, o

trabalho preparatório da Norma ISO 50501 envolveu o conhecimento e análise das normas de sistemas de

gestão da inovação existentes, a definição da estrutura da norma e a definição dos princípios de gestão da

inovação.

PAÍS NORMA

Espanha UNE 166002:2014, Gestão de I+D+i: Requisitos do Sistema de Gestão de I+D+i. (Nota:

primeira edição de 2006)

Portugal NP 4457:2007, Gestão da Investigação, Desenvolvimento e Inovação (IDI) Requisitos do

sistema de gestão da IDI

México NMX-GT003-IMNC: 2008 Sistema de Gestão da Tecnologia. Requisitos

Irlanda NSAI Swift 1:2009 Guia de boas práticas na inovação e em processos de desenvolvimento

de produtos

Europa CEN TS 16555-1: 2011, Gestão da inovação - Parte 1: Sistema de Gestão da Inovação

Inglaterra BS 7000-1:2011 Sistema de gestão de design. Guia para a gestão da inovação

Brasil ABNT/CEE 130: 2011. PROJETO 130.000.00-01. Diretrizes para sistemas de gestão da PDI

França FD X50-71:2013 Gestão da Inovação. Linhas de orientação para uma abordagem de gestão

da inovação

Rússia GOST R: 2013 Sistema de Gestão da Inovação (adota a norma CEN em forma de requisitos)

As normas de inovação existentes foram, como referido, um ponto de partida para o trabalho de preparação

da ISO 50501 - tendo sido identificadas todas as normas publicadas. As normas disponíveis em inglês,

Tabela 1: Normas de inovação anteriores e respetivo país de publicação, por ordem cronológica

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Espanha, França, Irlanda, Norma Europeia, Reino Unido e Portugal, foram mapeadas e comparadas no

âmbito da atividade desenvolvida no Grupo de Trabalho (WG 1). Também as figuras, imagens e modelos de

todas as normas foram identificados e analisados. Da análise efetuada pelo Grupo de Trabalho resultou a

consolidação do conhecimento existente, publicado nos documentos associados às reuniões do Grupo de

Trabalho, que serviu de entrada para a redação da norma.

Paralelamente, foi estudado o Anexo SL das Diretivas da ISO - a conhecida estrutura de alto nível e texto

comum para normas de sistemas de gestão da ISO – que foi adotado como base da norma de sistema de

gestão.

Seguidamente, foi definida a proposta de estrutura das secções normativas relativas ao sistema de gestão

da inovação que, por sua vez, teve alterações relevantes aquando da sua passagem a versão provisória de

Norma (DIS).

As primeiras versões da Norma, designadas working drafts, circularam pelos membros do WG para

comentários até à preparação de um draft de Comité (CD) que foi enviado aos Organismos de Normalização

Nacional, membros do TC 279, para aprovação e comentários. Portugal tem participado ativamente, quer

ao nível do WG 1 quer na produção de comentários e propostas de revisão do texto da norma. Portugal

votou negativamente, propondo soluções alternativas no sentido de uma maior simplificação do texto e

melhores representações gráficas.

Desta fase em diante, as alterações à Norma resultam de comentários e propostas de alteração pelos

membros do ISO/TC 279. Neste caso, optou-se pela elaboração de um segundo draft de comentários, dado

ainda existir uma elevada percentagem de votos negativos (ver tabela 2).

O draft de Norma Internacional irá seguir para comentários e votação de passagem a final draft para todos

os membros da ISO, independentemente de serem membros deste comité ou não, e estará já disponível

para compra no site da ISO ( www.iso.org). Uma vez aprovado e com base na disposição de quaisquer

comentários submetidos, é preparada a proposta final de norma internacional, o FDIS, que segue para

votação. Nessa fase, só são aceites comentários a questões editoriais que não alterem o conteúdo da

norma.

Figura 9: Cronograma de desenvolvimento da norma ISO 50501

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A Comissão técnica CT 169 Atividades de investigação, desenvolvimento e inovação

O IPQ é o Organismo Nacional de Normalização (ONN) em Portugal, membro da ISO. Sob a alçada direta do

IPQ, foi criada em 2006, a CT 169 para desenvolver a família de normas portuguesas de gestão da inovação,

num projeto pioneiro apenas antecedido pelas normas espanholas de gestão da inovação.

O IPQ delega a atividade de normalização sectorial em organizações competentes nos temas a que

respeitam.

Desde o início do ano 2018, o Organismo de Normalização Sectorial português é a Agência Nacional de

Inovação, que coordena o Comité Nacional CT 169, onde a participação portuguesa é muito ativa em

diversos grupos de trabalho.

A Agência Nacional de Inovação recebeu, nos dias 21 a 25 de maio de 2018, no Porto, a última reunião do

grupo de trabalho 1 da ISO TC 279, que contou com a participação de 13 delegados de 9 países, tendo

contado com o apoio da APCER.

Conclusão

A capacidade de inovação das organizações é reconhecida como um dos principais fatores para o crescimento

económico, melhoria da qualidade de vida e desenvolvimento das sociedades. A inovação depende não só das

competências internas da organização como também da sua capacidade de interatuar com outras partes

interessadas relevantes, transformando conhecimento em realização de valor. Deste modo, a capacidade de

uma organização gerir a inovação de modo sistémico é um fator crítico de sucesso4.

A futura Norma ISO 50 501 define linhas de orientação para a organização implementar, manter e avaliar as

suas atividades de inovação e para alcançar o desempenho inovador pretendido, aplicável a qualquer

organização em qualquer setor. A norma baseia-se na estrutura de alto nível e texto comum para normas de

sistemas de gestão sendo integrável com outros sistemas de gestão adotados. Assenta em oito princípios para

4 Adaptado da Introdução da ISO 50 501

Figura 10: Foto de grupo de alguns elementos do WG1 da ISO TC 279

Page 14: A Futura ISO 50 501 Sistemas de Gestão de Inovação. Linhas ... · Estrutura da Norma 50 501 para um Sistema de Gestão de Inovação Sendo uma norma de linhas de orientação,

A Futura ISO 50 501 – Sistemas de Gestão de Inovação. Linhas de orientação

a boa gestão da inovação e fornece um conjunto compreensivo de linhas de orientação para gerir todos os

aspetos de gestão da inovação que foram sucintamente apresentados neste artigo.

A Norma foca-se em organizações já estabelecidas, e não tanto em start-ups ou organizações de caráter

temporário, podendo, contudo, este tipo de organizações obter benefícios na adoção de algumas orientações

propostas na Norma.

Estando orientada para a criação de valor, implementação de processos de gestão, estabelecimento de uma

cultura de inovação e colaboração que permitam atingir resultados, esta Norma é especialmente útil para

todas as organizações que pretendem melhorar o seu desempenho inovador e nela podem encontrar boas

práticas para a gestão da inovação.

No caso de Portugal, esta Norma possibilita que as organizações já certificadas segundo a NP 4457 possam

considerar a sua contribuição atual na reflexão sobre os sistemas de gestão, harmonizando a sua evolução

com as orientações internacionais, desenvolvendo e melhorando as práticas e processos de gestão de

inovação. Não podemos deixar de salientar, mais de uma década volvida sobre a publicação da norma

portuguesa, o caráter inovador da mesma em 2007 e o papel impulsionador da disseminação de uma cultura

de inovação orientada para resultados, baseados na transferência e valorização de conhecimento científico e

tecnológico, demonstrado pelo alinhamento entra a mesma e a presente norma ISO. Esperamos que a

publicação de uma norma Internacional possa dinamizar um esforço coletivo, público e privado, para o

alargamento da base de organizações utilizadoras que ainda está muito aquém do que poderia ter sido

alcançado, sendo um bom exemplo o caso espanhol que prosseguiu ativamente com o desenvolvimento da

iniciativa de certificação da gestão da inovação.

No entanto, as organizações que pretendam adotar uma abordagem sistémica na gestão de inovação, e

independentemente de terem já sido certificadas na NP 4457, podem encontrar na ISO 50501 um quadro de

referência internacional, facilmente reconhecido pelos seus pares e partes interessadas, garantindo,

simultaneamente, a identificação dos elementos chave para a gestão de inovação num contexto de incerteza

e de risco como aquele que carateriza a realidade atual.

Procurando apoiar as organizações nacionais, a APCER convida-o a acompanhar o tema, quer através da

comunicação da APCER, quer através da CT 169 e da Agência Nacional de Inovação, e irá promover um

conjunto de iniciativas para a divulgação desta Norma internacional que trará importantes e atuais

contribuições para a gestão da inovação, domínio de especial importância para a competitividade de Portugal.