a fotografia

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1 A FOTOGRAFIA Elementos essenciais da máquina fotográfica – Introdução histórica. Se estivermos sentados numa sala escura em que haja um único buraquinho por onde possa entrar luz, vinda, por exemplo, de um jardim iluminado, veremos uma imagem desse jardim na parede em frente ao buraquinho (dependendo da distância). É neste princípio, chamado de câmara escura, que todas as máquinas fotográficas se baseiam, sendo este princípio conhecido há mais de dois mil anos. Aristóteles (cerca de 334 A. C.), descreve a câmara escura na sua obra intitulada Física. Por volta do séc. XVI, em vez de buracos de alfinete, usavam-se lentes convexas — como as dos óculos para a miopia. Nesse mesmo séc. Leonardo da Vinci (1452-1519) utilizou a câmara escura para a resolução dos problemas da perspectiva e, a partir de então, outros artistas começaram a utilizá-la para representar num plano, com o maior realismo possível, a realidade tridimensional. A lente produzia no ‘écran’ uma imagem clara e nítida, sendo usada para traçar contornos de paisagens, edifícios e naturezas-mortas. Só no séc. XIX é que foi possível o aparecimento da máquina fotográfica, pois só então começou a ser possível aproveitar materiais sensíveis, próprios para fixar directamente a imagem. Primeiro através do francês Nicéphore Niepce (1765- 1833) que obteve, com uma câmara escura, uma imagem permanente sobre uma superfície sensível à luz. Depois, o pintor francês Louis Daguerre (1787-1851), que se havia associado a Niepce, desenvolveu e conseguiu a primeira imagem permanente que permitia a sua reprodução múltipla. Esta imagem permanente ainda não tinha o nome pela qual hoje é conhecida, fotografia, mas sim daguerreótipo, que deriva do nome do seu próprio inventor. O daguerreótipo, era então uma placa metálica sensibilizada com iodeto de prata, procedimento que permitia a reprodução múltipla, mas só refotografando. A verdadeira reprodução múltipla só aconteceu em 1841, sendo simultaneamente o primeiro processo negativo-positivo. Este processo foi inventado pelo inglês William Talbot que o baptizou de calótipo e que é um aperfeiçoamento do daguerreótipo. Passou-se também a usar vidros. Estes eram cobertos com líquidos sensíveis à luz, e metidos numa máquina que não era mais do que uma caixa. Eram expostos à luz o tempo necessário, sendo depois revelados. A fim de controlar o tempo, foram inventados obturadores mecânicos, do mesmo modo que, para controlar a luminosidade da imagem, surgiram os diafragmas. Cerca de 1890, George Eastman inventou um rolo com várias películas, que permitia à máquina, agora já mais desenvolvida, tirar fotografias seguidas. Desde então, têm sido criados milhares de modelos de máquinas fotográficas e têm-se desenvolvido vários tipos de películas fotográficas. Hoje em dia, a película é constituída por um suporte de celulóide coberto por uma emulsão de prata. Nicéphore Niepce Vista da janela sobre Le Gras 1826 Louis Daguerre Vista do Boulevard du Temple 1839

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Page 1: A Fotografia

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A FOTOGRAFIA

Elementos essenciais da máquina fotográfica – Introdução histórica.

Se estivermos sentados numa sala escura em que haja um único buraquinho por onde possa entrar luz, vinda, por exemplo, de um jardim iluminado, veremos uma imagem desse jardim na parede em frente ao buraquinho (dependendo da distância).

É neste princípio, chamado de câmara escura, que todas as máquinas fotográficas se baseiam, sendo este princípio conhecido há mais de dois mil anos. Aristóteles (cerca de 334 A. C.), descreve a câmara escura na sua obra intitulada Física.

Por volta do séc. XVI, em vez de buracos de alfinete, usavam-se lentes convexas — como as dos óculos para a miopia. Nesse mesmo séc. Leonardo da Vinci (1452-1519) utilizou a câmara escura para a resolução dos problemas da perspectiva e, a partir de então, outros artistas começaram a utilizá-la para representar num plano, com o maior realismo possível, a realidade tridimensional. A lente produzia no ‘écran’ uma imagem clara e nítida, sendo usada para traçar contornos de paisagens, edifícios e naturezas-mortas.

Só no séc. XIX é que foi possível o aparecimento da máquina fotográfica, pois só então começou a ser possível aproveitar materiais sensíveis, próprios para fixar directamente a imagem.

Primeiro através do francês Nicéphore Niepce (1765-1833) que obteve, com uma câmara escura, uma imagem permanente sobre uma superfície sensível à luz.

Depois, o pintor francês Louis Daguerre (1787-1851), que se havia associado a Niepce, desenvolveu e conseguiu a primeira imagem permanente que permitia a sua reprodução múltipla. Esta imagem permanente ainda não tinha o nome pela qual hoje é conhecida, fotografia, mas sim daguerreótipo, que deriva do nome do seu próprio inventor. O daguerreótipo, era então uma placa metálica sensibilizada com iodeto de prata, procedimento que permitia a reprodução múltipla, mas só refotografando. A verdadeira reprodução múltipla só aconteceu em 1841, sendo simultaneamente o primeiro processo negativo-positivo. Este processo foi inventado pelo inglês William Talbot que o baptizou de calótipo e que é um aperfeiçoamento do daguerreótipo.

Passou-se também a usar vidros. Estes eram cobertos com líquidos sensíveis à luz, e metidos numa máquina que não era mais do que uma caixa. Eram expostos à luz o tempo necessário, sendo depois revelados. A fim de controlar o tempo, foram inventados obturadores mecânicos, do mesmo modo que, para controlar a luminosidade da imagem, surgiram os diafragmas.

Cerca de 1890, George Eastman inventou um rolo com várias películas, que permitia à máquina, agora já mais desenvolvida, tirar fotografias seguidas. Desde então, têm sido criados milhares de modelos de máquinas fotográficas e têm-se desenvolvido vários tipos de películas fotográficas. Hoje em dia, a película é constituída por um suporte de celulóide coberto por uma emulsão de prata.

Nicéphore Niepce Vista da janela sobre Le Gras 1826

Louis Daguerre Vista do Boulevard du Temple 1839

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Tipos de máquinas fotográficas. Os modernos modelos de máquinas fotográficas oferecem grande variedade de escolha, em função do tamanho dos fotogramas, visores, formatos, estilos e, evidentemente, preços.

A câmara técnica — de grandes dimensões —, único tipo que antigamente existia, é agora usada sobre tudo por profissionais e para fins muito específicos.

A versão moderna destas máquinas de grandes dimensões, é a de sistema de focagem em monocarril ou assente numa base sólida, de 9x12 cm.

A tendência actual é para máquinas mais pequenas e mais práticas — do tipo de 35mm de visor óptico directo ou de objectivas geminadas ‘reflex’ (TLR) para película em rolo (a que normalmente chamamos filme). Porém, durante os últimos trinta a quarenta anos, a evolução tem sido sobretudo no sentido da máquina de tipo ‘reflex’, mas de uma só objectiva (SLR). Este género tanto inclui os tipos 35 mm de prisma pentagonal, conhecidos em todo o mundo, como as versões mais sofisticadas de médio formato e filme em rolo, usadas por profissionais ou amadores mais exigentes.

Muitos têm sido os melhoramentos introduzidos nas potencialidades das objectivas e das películas, melhoramentos esses de que resultam máquinas compactas, de bolso como por exemplo os modelos 110 (utiliza película de 16 mm) e 35 mm entre outros. Os sistemas de rápida substituição de objectivas, de carregadores de rolo, de exposição automática e os dispositivos para fotografia instantânea têm também tornado a utilização das câmaras muito mais fácil e rápida.

Fonte de luz e motivo a fotografar. A palavra fotografia significa «desenhar com luz».

A luz que ilumina o motivo e tudo o que o rodeia, reflecte-se em todas as direcções; alguns destes raios luminosos vão passar através da objectiva, formando uma imagem que é um reflexo do motivo.

A posição da fonte de luz (sua altura e incidência) e a qualidade da mesma (seja ela dura como a da luz directa do Sol, seja difusa como a dos dias nublados) determinam o aspecto e a direcção das sombras, de influência decisiva sobre o volume do assunto fotografado.

O contraste entre a luz e a sombra pode ser reduzido ou modificado se, usando uma superfície de cor clara ou uma segunda fonte de luz, se fizer reflectir parte da luz na sombra. A intensidade da fonte de luz é extremamente importante, devido ao efeito produzido no tempo de exposição necessário.

Objectivas. A objectiva é, basicamente, um disco de vidro ou plástico (o plástico tem menor

qualidade) modelado e polido, mais fino nos bordos do que no centro ou, por outras palavras, uma lente convexa.

Na realidade, as objectivas dos nossos dias são formadas por um conjunto de lentes de vários tipos e não só por lentes do tipo convexas, o que nos permite obter imagens com uma qualidade superior.

Motivo

Objectiva

Obturador

Diafragma

Visor

Plano focal e película

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A objectiva recebe os raios luminosos reflectidos pelo motivo a fotografar, convergindo-os para um ponto e divergindo-os depois para o plano focal — plano onde a imagem se vai formar no filme —, criando uma imagem invertida e luminosa.

A focagem da luz vai provocar uma imagem clara e nítida. À distância entre a objectiva e o plano focal chama-se distância focal ou seja, é obrigatoriamente a distância entre a objectiva e o filme.

Obturador. O

obturador é um dispositivo que abre e fecha e que nos permite não só escolher o

momento exacto para tirar a fotografia, mas também controlar o tempo total em que a luz actua sobre o filme (velocidade de disparo da máquina). Existem dois tipos principais de obturador:

— o de lâminas metálicas colocadas entre a objectiva e o diafragma, ou entre o diafragma e o plano focal (filme), ou ainda combinado no diafragma;

— o de plano focal, constituído por duas cortinas que abrem uma a seguir à outra (excepto quando a velocidade de disparo é inferior a 1/125 seg., onde a segunda cortina fica parada o tempo necessário de disparo) e que estão colocadas junto ao plano focal, o que possibilita a mudança de objectivas. No sistema reflex de uma objectiva, permite a observação do motivo através da objectiva. Diafragma. O diafragma está sempre colocado junto à objectiva. Tem funções idênticas às da íris (parte colorida) dos nossos olhos. Variando o seu diâmetro, podemos controlar a quantidade de luz que entra na câmara (velocidade de abertura do obturador ou velocidade de disparo da máquina).

Uma grande abertura, usada para um motivo mal iluminado, poderá dar tanta claridade como a que se obtém com uma abertura pequena utilizada em condições de grande intensidade luminosa.

A maior parte dos diafragmas são um conjunto de finas lâminas. Estas são controladas através da rotação de um anel de controlo, que aumenta ou reduz o diâmetro da abertura. A esta acção de controlo chama-se abrir ou fechar o diafragma.

O anel de controlo do diafragma é calibrado em números f, actuando cada um deles sobre a imagem obtida no plano focal, reduzindo para metade ou aumentando para o dobro a luz.

O diafragma influi também na profundidade de campo. Visor. Todas as máquinas fotográficas que se destinam a ser utilizadas manualmente precisam de um tipo qualquer de visor, que nos permita orientar a máquina e enquadrar a imagem com maior ou menor rigor.

Hoje em dia, muitas câmaras utilizam tipos de visor por sistema reflex. Este sistema utiliza uma segunda objectiva (câmaras de objectivas geminadas), ou até mesmo a própria objectiva (câmaras reflex directo), mostrando no visor exactamente a imagem que irá ficar registada no filme.

A visão através de uma única objectiva reflex, além de ser muito mais exacta no enquadramento e na focagem, tem também a vantagem de se ajustar quando há mudança de objectiva.

Distância focal

Plano focal

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Plano focal. O plano focal é a superfície plana na qual se forma a imagem. Quando tiramos uma fotografia, a película está esticada em cima do plano focal. Quanto mais perto a máquina está do motivo, tanto mais longe o plano focal se encontra da objectiva.

Por conseguinte, é preciso haver um sistema de focagem que permita movimentar a objectiva, afastando-a ou aproximando-a do plano focal, de forma a obter imagens nítidas dos motivos que estejam perto ou longe.

Todas as máquinas fotográficas são construídas de tal maneira que, quando a focagem está bem feita, o plano focal vai coincidir com a superfície da película.

Película. Existem vários tipos (preto e branco (P/B), cores, diapositivos (slides), infravermelha, raios X, etc.) e vários formatos de película (110, 120, 135 ou 35mm, etc.) que variam mediante as necessidades do fotógrafo.

A película, a que normalmente chamamos filme por esta ser a forma mais vulgar de a encontrar, distingue-se também

pela sua sensibilidade à luz e quanto maior for essa sensibilidade mais rápida é a velocidade de abertura do obturador ou disparo da máquina, necessária para fotografarmos o mesmo motivo com a mesma abertura do diafragma, ou seja, a película necessita de menos tempo de exposição à luz.

Existem vários sistemas que relacionam a sensibilidade das películas umas com as outras como por exemplo, os sistemas ASA, DIN e ISO.

No sistema ASA, a um número dobrado corresponde uma sensibilidade dupla. No sistema alemão DIN, são três pontos que fazem duplicar a sensibilidade. Actualmente utiliza-se o sistema ISO que é a aglutinação dos sistemas ASA e DIN.

ASA DIN ISO 16 13 16/13 32 16 32/16 64 19 64/19 125 22 125/22 200 24 200/24 400 27 400/27 800 30 800/30 1600 33 1600/33 3200 36 3200/36

A CÂMARA DE VISOR DIRECTO

A câmara de visor directo utiliza um dispositivo de visão completamente independente da

objectiva. Vê-se o motivo a fotografar directamente através de uma janela de metal ou plástico, ou através de um sistema tubular que costuma ter uma lente simples em cada uma das extremidades, ficando enquadrada a zona observada, de modo a poderem ver-se as partes da cena que irão ficar registadas.

As máquinas deste tipo mais conhecidas são as compactas, e têm a vantagem de simplificar a captação de imagens.

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Normalmente, estas máquinas são de foco fixo o que permite focar com enorme rigor tudo o que se encontra à distância de entre 2 m e o infinito.

Noutros modelos, foca-se com uma escala em que as distâncias ao motivo são assinaladas por símbolos ou por metros.

Muitos modelos escolhem eles próprios a exposição correcta, noutros marca-se o símbolo adequado às condições atmosféricas e outros ainda, permitem escolher a velocidade de obturação e a abertura do diafragma.

Muitas destas máquinas, têm flash incorporado que geralmente tem um alcance máximo de 3,5 m com uma película de sensibilidade média (100 ASA).

Com exposição automática ou feita através de símbolos de condições atmosféricas, não se consegue alterar a abertura do diafragma, sendo a profundidade de campo impossível de controlar.

O ponto de vista das máquinas de visor directo, não é exactamente igual ao da objectiva. O visor está geralmente afastado cerca de 2 ou 3 cm e colocado de modo a apanhar a mesma parte que a objectiva abarca de um motivo distante. Porém, quando se aproxima do motivo, em consequência do deslocamento dos dois pontos de vista, no visor vê-se mais da parte de cima e menos da de baixo, do que na objectiva, assim como o ponto de vista do visor, estará mais para um dos lados do que o ponto de vista da objectiva. A este problema de enquadramento chama-se erro de paralaxe. Quanto mais perto o motivo estiver, maior o erro de paralaxe.

Os modelos mais avançados das máquinas de visor directo, já permitem um controlo manual da

focagem, do obturador e da sensibilidade do filme. A focagem do motivo, pode ser feita através do sistema de telémetro, onde a luz da janela do

telémetro é reflectida através de espelhos para o visor, indo aí formar uma imagem virtual. Focando a lente de observação, uma lente de espelhos desloca-se, fazendo deslocar também a imagem virtual para um lado. Quando as imagens coincidirem, a cena estará bem focada. Durante a focagem, a máscara que o visor forma desloca-se, obliquamente, indicando a compensação da paralaxe.

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A CÂMARA REFLEX DE UMA OBJECTIVA (SLR)

A SLR é a máquina mais desenvolvida e mais procurada para a realização de fotografia avançada. O seu fundamento — um espelho a 45 graus para reflectir a imagem formada pela objectiva num

despolido do visor exactamente até antes do momento da exposição — foi aplicado pela primeira vez no séc. XIX, nas máquinas de placas.

Contudo a perfeição atingida pelos actuais modelos era inimaginável há cem anos atrás. Este tipo de máquina, não sofre do erro de paralaxe, pode-se ver exactamente a mesma imagem que a objectiva vai formar na película — o seu tamanho, a distância exacta da focagem e, se se fechar o diafragma, a profundidade de campo.

Quando se muda de objectiva, aparece automaticamente no despolido o novo campo de visão.

Se se adaptar a máquina a um telescópio ou a um microscópio, ou se se colocarem difusores e máscaras na objectiva, continua a ser possível ver-se exactamente a imagem que a objectiva vai formar.

É devido à popularidade internacional da SLR, que a mais avançada tecnologia óptica e electrónica é concebida, prioritariamente, em função deste tipo de máquina. Fotómetro de leitura directa através da objectiva (TTL), zoom e motor são partes de um sistema sempre crescente, construído em torno do corpo da máquina.

Alguns fotógrafos acham que é mais difícil focar num despolido do que com o telémetro de imagem coincidente, especialmente quando há pouca luz ou quando o diafragma se encontra fechado. Para solucionar este último problema, a maior parte das objectivas utiliza diafragmas automáticos que permanecem completamente abertos até ao momento da exposição.

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Acompanhando o desenvolvimento tecnológico, as mais modernas câmaras estão já equipadas com objectivas de focagem automática, carregamento automático e avanço motorizado do filme, código (DX) de selecção automática de sensibilidades, programas diversificados de modos de exposição e, algumas, flash incorporado.

Quando a imagem passa pela objectiva aparece virada de cima para baixo e invertida lateralmente. O sistema de visor da SLR utiliza um espelho para colocar a imagem na posição correcta e um pentaprisma — basicamente um bloco de cristal de cinco lados, dos quais três são prateados — para corrigir a inversão lateral. Assim, o fotógrafo vê uma imagem normal, ao olhar pelo visor.

O pentaprisma proporciona também uma trajectória luminosa suficientemente longa entre o despolido e o óculo que, na realidade, estão apenas a 1 ou 2 cm de distância um do outro. Tal facto diminui a fadiga da vista.

Todos os despolidos de focagem possuem uma superfície de cristal despolido onde a imagem é projectada. Mas existem também despolidos com acessórios de

focagem de imagem partida ou microprismas. Existe também o despolido de focagem de Fresnel, que é constituído por uma

placa plástica gravada e que tem a capacidade de concentrar a luz. Colocada mesmo por baixo do despolido de focagem, os seus sulcos concêntricos rectificam os raios luminosos projectados para o exterior, assim melhorando e distribuindo mais uniformemente a luminosidade da imagem sobre o visor.

Como existem fotógrafos que acham difícil focar através de um vidro despolido, especialmente quando a luz é pouca, colocou-se no centro e por baixo do vidro de focagem, um telémetro de imagem partida. Consiste em dois semicírculos de cristal cuneiformes que se cruzam no plano da superfície de focagem. Quando a focagem está correcta, a imagem na parte central é contínua. Caso contrário, a luz incide nos prismas e a imagem parece estar partida na parte central.

A PROFUNDIDADE DE CAMPO

A profundidade de campo é a distância que está para lá e para cá do motivo e que ainda se encontra focada. Por exemplo, quando é focado um motivo a uma distância de 3 m e é aberto o diafragma para f2, praticamente só aparece focado o motivo e tudo o que estiver à mesma distância que ele. Se, e mantendo a mesma distância, fecharmos o diafragma para f16 teremos focado não só o motivo, mas tudo o que se encontre entre aproximadamente 1,8 m e 6,1 m.

Não só o diafragma altera a profundidade de campo, como as próprias objectivas o podem fazer. Assim, se mantivermos a mesma distância e a mesma abertura de diafragma (por exemplo f5,6) e formos trocando a objectiva de 28 mm para 50 mm e finalmente para 135 mm, verificamos que vamos tendo uma profundidade de campo cada vez menor. À objectiva de 28 mm corresponde uma distância de 1,8 m até ao infinito; à de 50 mm corresponde 2,4 m até 4 m; á de 135 mm menos de 30 cm para lá e para cá do motivo. Este fenómeno deve-se às diferentes distâncias focais das diferentes objectivas.

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É por este motivo que as máquinas compactas, geralmente com objectivas de pequena distância focal, dão uma profundidade de campo muito grande, normalmente entre 2 m e o infinito.

PINTAR COM A LUZ

O fotógrafo, tal como o pintor, preocupa-se em conseguir enquadramentos equilibrados, por isso

o fotógrafo não deve esquecer os pontos e as linhas de força mais importantes do campo visual que fotografa.

São linhas e pontos importantes de uma imagem as medianas, as diagonais, os pontos extremos destas e o centro. Sentem-se sem se verem.

O enquadramento. Enquadrar significa literalmente meter no quadro. Esta é a primeira decisão

que o fotógrafo, tal como o desenhador de B.D. e o cineasta, tem que tomar. Podem estabelecer-se alguns procedimentos, que não sendo regras, ajudam a obter um bom enquadramento.

1- O centro do enquadramento é o ponto de maior

equilíbrio e, em princípio, de maior força, mas o centro óptico é ligeiramente subido em relação ao centro geométrico.

2- A simetria na vertical é sempre sinónimo de grande

equilíbrio. É de pé, na vertical, que nos sentimos equilibrados e, por isso, esta simetria funciona melhor do que qualquer outra para os nossos sentidos.

3- A assimetria exige que se procure equilibrar inconscientemente o

peso visual dos elementos presentes de um lado e do outro dos eixos da composição. A sensação de movimento é assim levemente percepcionada.

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4- A inclinação dos elementos dá uma sensação clara de movimento, mesmo que haja simetria.

5- As linhas curvas e contracurvas transmitem igualmente

sensações de movimento.

6- Pontos de vista insólitos atraem a atenção. Cortar o elemento principal, por exemplo, é um recurso muito actual e dinâmico em fotografia e cinema. Prende a atenção e de certa forma a imaginação.

7- O contraste forma/fundo é muito importante para definir

com maior ou menor intensidade a forma. Este contraste pode ser dado pela cor, claro/escuro, textura e estrutura.

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8- A falta de contraste amplia a dimensão da forma, chamando a si o fundo, ou anula a própria forma que passa a ser lida como pertencendo ao fundo.

9- As cores têm pesos

diferentes e o equilíbrio pode resultar desse facto. A leitura das cores numa composição é sempre um instrumento importante que se deve considerar.

Depois de conhecidos estes procedimentos, existem duas preocupações básicas no enquadramento

de uma imagem: - a distância do enquadramento, que depende do teor da informação que se pretende transmitir através da imagem. - o ângulo do enquadramento, que depende da expressividade que se pretende dar à imagem. A distância do enquadramento. Conforme a importância que se quer dar ou a descrição que se quer fazer do motivo, vai-se utilizar diferentes tipos de planos. Assim, existem os planos mais afastados, que são os mais adequados para descrever e os planos mais próximos, os mais adequados para realçar a importância do motivo, cativando mais a atenção para esse mesmo motivo.

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Nos planos mais afastados, existem: -Plano geral; é um plano

onde o pretendido é mostrar um grande espaço, como por exemplo, uma paisagem. Neste plano não existe um ponto particular de interesse, para onde seja puxada a atenção.

- Plano de conjunto; é um plano onde o pretendido é mostrar uma parte do plano geral. Neste plano pode existir um ou mais pontos de interesse relativo, pois não é dada uma atenção particular para um motivo.

- Plano médio; é um plano onde o pretendido é mostrar um motivo em particular. Neste plano já existe um ou mais pontos de interesse para onde é desviada a atenção.

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Nos planos mais próximos, existem:

- Plano americano; é um plano onde se destaca o motivo, cortando-o um pouco acima da base ou, no caso de uma pessoa ou animal, aproximadamente pela altura dos joelhos. Este plano é designado americano, pelo facto de ter surgido no cinema americano e de ter como intenção, não mostrar o chão onde eram projectadas as sombras provocadas pela iluminação artificial, o que denunciaria as filmagens feitas em estúdio que pretendiam passar por cenas de exteriores. Neste plano existe um evidente desvio da atenção para um motivo.

- Plano aproximado; é um plano onde o destaque dado ao motivo se torna ainda mais evidente e particular havendo uma aproximação e um seccionamento do motivo ainda maior. No caso de uma pessoa, este plano distingue-se por fazer um corte aproximadamente pela zona do peito. Neste plano existe um desvio da atenção para a parte de um todo que é o motivo.

- Primeiro plano; é um plano onde há um evidente destaque de uma parte em particular, do todo que é o motivo. No caso de uma pessoa, este plano é definido pelo corte à altura dos ombros. Neste plano existe, novamente, um desvio da atenção para a parte de um todo que é o motivo, embora reforçada pela ainda maior aproximação.

- Grande plano; é um plano onde o destaque dado a uma parte do motivo é feita por uma aproximação tão grande que o quadro da imagem é totalmente preenchido por essa parte do motivo. No caso de uma pessoa, este plano é identificado pelo facto de só o rosto da pessoa aparecer no quadro. Neste plano existe somente o motivo (ou parte deste) para ser observado.

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- Plano de pormenor; é um plano onde só se destaca, como o próprio plano indica, um pormenor do motivo. No caso de uma pessoa, este plano é identificado, por exemplo, por mostrar apenas um pormenor do rosto. Neste plano, apenas é mostrado um pormenor do motivo, podendo mesmo o motivo estar completamente irreconhecível.

O ângulo do enquadramento. A um enquadramento pode ser dada uma maior ou menor

expressividade. O efeito de tornar uma fotografia mais ou menos expressiva é conhecido por efeito dramático. Este efeito de dramatizar uma imagem é conseguido, em grande parte, pelo ângulo do qual a fotografia é realizada ou seja, o ângulo que a câmara faz com o motivo. Este ângulo é variável em dois sentidos, vertical quando a câmara se movimenta segundo um eixo vertical e horizontal rotativo, quando a câmara se movimenta em torno de um eixo representado pelo motivo.

Partindo de um plano frontal, que é um plano calmo e em princípio sem grande drama, vai-se identificar, segundo o seu ângulo, alguns planos.

No sentido vertical existem: - Plano picado, quando a câmara se situa num nível acima do motivo. Este plano faz parecer o motivo mais pequeno colocando-o numa situação de dominado, de inferior, relativamente ao observador. Por esta razão, diz-se haver uma maior dramatização da imagem.

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- Plano contra-picado, quando a câmara se situa num nível abaixo do motivo. Este plano torna o motivo mais imponente colocando-o numa situação de dominador, superior, relativamente ao observador. Por esta razão, diz-se haver uma maior dramatização da imagem.

No sentido horizontal rotativo existem:

- Plano de 3/4, quando a câmara executa uma rotação de sensivelmente 60º, a partir de um plano frontal. Este plano, imprime algum dinamismo ao motivo o que lhe confere alguma expressividade.

- Plano de perfil, quando a câmara executa uma rotação de 90º, a partir de um plano frontal. Este plano, confere algum alheamento por parte do motivo. A expressividade existente neste plano pode estar parcialmente ausente.

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- Plano posterior, quando a câmara executa uma rotação de 180º, a partir de um plano frontal. Este plano sugere um afastamento do motivo, podendo ainda existir um alheamento. A expressividade existente neste plano pode ser nula.

Pintar com a luz. A luz é o elemento mais importante da fotografia, pois é com a sua presença ou ausência parcial, que uma imagem é reproduzida. Assim, a luz pode ser o elemento mais importante no aspecto expressivo de uma fotografia. A interferência provocada pela luz em características da imagem como simetria, assimetria, textura, volume, contraste, etc, é tão importante que todo a drama contido na imagem pode perder-se pela simples mudança de direcção da iluminação.

Glossário

Aristóteles- Célebre filósofo grego, nascido na Estagira (384 A.C.), na Macedónia e morreu em Calcis (322 A.C.), na Eubeia. Foi discípulo de Platão durante vinte anos. O seu sistema mostra-nos toda a Natureza como um imenso esforço da matéria bruta para se elevar até ao acto puro, isto é, ao pensamento e à inteligência. Aristóteles é o génio mais vasto da Antiguidade; abrangeu todas as ciências do seu tempo e criou muitas que não existiam. Alguns dos seus principais tratados são o Organon, a Retórica, a Poética, dois tratados de Moral, a Política, a História dos Animais, a Física, os Meteoros, o Céu, a Metafísica, etc. Câmara escura- Na sua forma mais simples, consiste numa sala escura, com um pequeno orifício numa das paredes. Os raios luminosos que passam por esse orifício projectam num plano (que pode ser uma parede) uma imagem invertida da cena existente no exterior. Foi pela primeira vez referida por Aristóteles no séc. IV (cerca do ano 334 A.C.) e desenvolvida ao longo dos tempos, como auxiliar do desenho. Durante o séc. XVI, juntaram-se lentes biconvexas ao aparelho primitivo. Thomas Wedgewood, filho do poeta Josiah, foi quem, cerca do ano de 1800, tentou pela primeira vez associar materiais sensíveis à luz, à câmara escura. O francês Nicéphore Niepce conseguiu, efectivamente, fazê-lo, tendo obtido uma imagem permanente em 1826. Celulóide- Plástico elástico, translúcido e moldável que se obtém da dinitrocelulose e cânfora, criado em 1869 pelo norte-americano J. Wesley Hyatt. Emprega-se no fabrico de películas e como substituto do vidro, chifre e marfim. Devido a ser altamente inflamável foi substituído na maioria das aplicações por produtos sintéticos. Daguerreótipo- Em 1839, Daguerre inventou um processo de tirar fotografias em folhas de cobre revestidas a prata que produzia fotografias positivas de alta qualidade que não podiam ser reproduzidas a não ser refotografando.

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Despolido de focagem- Plano de vidro despolido que, colocado no plano focal da máquina, permite observar e focar a imagem. Diafragma- Termo que designa a abertura ajustável da objectiva. É ele que controla a quantidade de luz a entrar na máquina, podendo estar colocado na parte anterior ou posterior da objectiva ou ainda dentro dela. Difusor- Qualquer material capaz de dispersar ou difundir a luz a fim de a suavizar. Quanto mais próximo estiver da fonte de luz, menos a dispersa. Distância focal- É a distância entre a objectiva (a partir do seu ponto nodal posterior) e o plano focal, quando a focagem está feita para o infinito. DX- Sistema de codificação dos rolos fotográficos que permite às máquinas de leitura DX ler a sensibilidade do filme. Emulsão- Material sensível à luz, constituído por uma suspensão de halogenetos de prata em gelatina, aplicada sobre bases diferentes, de modo a produzir placas, películas e papel fotográfico. Focagem- Sistema que permite movimentar a objectiva em relação ao plano da imagem, de modo a obter o grau de nitidez desejada sobre a película. Fotómetro- Instrumento utilizado para medir a quantidade de luz que incide no motivo ou que por ele é reflectida. Está concebido de modo a transformar essa medida em informações úteis, como a velocidade de obturação e abertura necessárias para tirar uma fotografia de qualidade aceitável. Lente- Elemento óptico de cristal ou plástico, capaz de flectir a luz. Em fotografia, uma objectiva pode ser constituída por um único elemento ou por vários. Basicamente, as lentes simples são de dois tipos: Convergentes e divergentes. As convergentes são convexas e conduzem os raios luminosos para o eixo óptico. As divergentes são côncavas e afastam os raios luminosos do eixo óptico. Utilizam-se ambas nas objectivas compostas, mas o efeito geral é fazer convergir os raios luminosos. Luminosidade- Quantidade de luz emitida ou reflectida por uma superfície. Máquina reflex- São máquinas que utilizam um espelho para reflectir os raios luminosos provenientes da imagem para um despolido de vidro, usado para observar e focar. São de dois tipos: SLR que possui um espelho retráctil por trás da objectiva; TLR, com um espelho fixo por trás da objectiva de observação. O sistema TLR está sujeito ao erro de paralaxe. Microprisma- Círculo com a forma de grade, existente no centro do vidro despolido de focagem de uma máquina, que rodeia o visor de imagem partida. Ajuda a focar motivos não lineares. Números f- São os números marcados no barril da objectiva e que indicam o tamanho da abertura do diafragma. Obturador- Mecanismo utilizado para controlar o tempo de actuação da luz numa emulsão sensível. Obturador de plano focal- Obturador colocado mesmo em frente do plano focal. A película colocada no plano focal é exposta progressivamente, à medida que as lâminas do obturador se deslocam sobre ela. Paralaxe- Diferença entre a imagem vista pelo visor e a registada na película. Essa diferença aumenta quando os motivos se aproximam da objectiva.

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Película- Material fotográfico que consiste numa base de plástico fino e transparente, revestida de uma emulsão sensível à luz. A película a preto e branco tem uma única camada de emulsão, enquanto a película para cor tem, pelo menos, três, sendo cada uma delas sensível a uma cor diferente. Pentaprisma- Dispositivo óptico, geralmente montado nas máquinas de 35 mm, que possibilita a observação da imagem durante a focagem. Um sistema de espelhos inverte a imagem lateralmente, de modo que a cena possa ser observada na posição correcta. Plano focal- Área perpendicular à objectiva e de focagem nítida. SLR- São máquinas reflex de uma só objectiva. Telémetro- Sistema de focagem que mede a distância da máquina ao motivo. TLR- São máquinas reflex de duas objectivas geminadas. TTL- Abreviatura da expressão “through the lens”; refere-se a um sistema de leitura no qual um mecanismo sensível à luz incorporado no corpo da máquina mede a exposição a partir da luz da imagem que atravessa a objectiva. Visor- Sistema utilizado para enquadrar e, por vezes, para focar o motivo. Zoom- Objectiva construída de forma a variar a distância focal, sem afectar a focagem ou a abertura do diafragma, dentro de certos limites (por exemplo: zoom de 80-200 mm). Bibliografia: “ O manual do fotógrafo” – Autor: John Hedgecoe; Porto Editora “Visualmente 9” – Autora: Zita Areal; Areal Editores “Visualmente 8” – Autora: Zita Areal; Areal Editores “Educação Visual – 8º ano” – Anayalivro – editores associados