a formaÇÃo docente: formar e formar-se, … formaÇÃo docente formar e... · graduação...
TRANSCRIPT
A FORMAÇÃO DOCENTE: FORMAR E FORMAR-SE, IMBICANDO PRAXIS
E HUMANIZAÇÃO NO COTIDIANO EDUCATIVO, UMA DIDÁTICA
ATRAVÉS DE RELATOS DE HISTÓRIAS DE VIDA.
Renata da Silva Massena1
(Universidade do Estado da Bahia-UNEB-DEDC [email protected])
Ana Paula Silva da Conceição2
(Universidade do Estado da Bahia-Uneb-DEDC I – [email protected])
RESUMO
Buscamos, com este artigo, apresentar o recorte de uma pesquisa de mestrado que está
sendo realizada na Universidade do Estado da Bahia – UNEB, no Programa de Pós-
Graduação Mestrado Profissional em Educação de Jovens e Adultos-MPEJA. Tal curso,
a nível de Mestrado, se configura como um marco na formação de Mestres em EJA no
Estado da Bahia, com vistas a preencher lacunas na formação dos sujeitos envolvidos
com a militância da EJA. O objetivo geral da pesquisa tenta compreender e mediar a
formação de professores, com vistas à dinâmica de formar e formar-se, subsidiada pela
sua própria história de vida e experiências nela imbuída, com uma didática própria da
formação através de narrativas, com a criação de “artefatos de guardar”. A nossa
condição humana se perpetua pela nossa memória, talvez como um processo mágico de
fazer dessa caminhada no mundo validada pela experiência de (ser) humano. A
formação de professores tem como fundante o movimento constante que é a formação
de pessoas. Logo, por seu turno, a utilização do ato de rememorar, através dos relatos de
experiência, compactuando com a escrita (auto)biográfica, possibilita a construção e a
inauguração de artefato(os) de formação, com raízes no modo didático e também
humanizador da praxis docente. Nessa perspectiva de trabalho, a experiência docente,
na sua prática diária, corrobora para a real efetividade da pesquisa com a escrita
(auto)biográfica. Esta é uma pesquisa-formação e tem como metodologia a abordagem
biográfica como contribuição de experiência formadora e formativa, com
desenvolvimento de capacidades reflexivas dos sujeitos e com os sujeitos que
colaboram com a proposta.
Palavras-chave: Formação. Praxis. Escola.
1 Graduada em Pedagogia pela Universidade do Estado da Bahia. Aluna regular do Mestrado Profissional
em Educação de Jovens e Adultos-MPEJA – UNEB - DEDC I - CAMPUS I. Aluna da Especialização em
Metodologia do Ensino Superior da Fundação Visconde de Cairu. Bolsista Pesquisadora da Fundação de
Amparo à Pesquisa-Fapesb. 2 Graduada em Pedagogia, Mestre e Doutora em Educação pela Universidade Federal da Bahia-FACED.
Professora Adjunta da UNEB e docente do Mestrado Profissional de Educação de Jovens e Adultos-
MPEJA – UNEB - DEDC I - CAMPUS I. Orientadora desta pesquisa.
Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores
EdUECE- Livro 200847
2
PROPOSIÇÕES INICIAIS
A questão problema da nossa pesquisa tem como objetivo compreender como as
histórias de vida dos professores podem contribuir para a formação no ambiente escolar.
Buscamos investigar, na dimensão formativa dessa proposta, a relação construída na
aproximação do sujeito com seu âmbito de trabalho e como essa relação influencia em
suas escolhas de maneira mais formativa. De acordo com Josso (2004), a experiência de
vida é o que valida a real formação dos professores enquanto sujeitos de sua própria
história.
Desse modo, temos esta maneira de realizar formação como uma proposta
didática de transformação da prática docente, com vistas à humanização e à colaboração
do grupo, pensamos a escola como espaço de aplicação dessa nova proposta.
Entendemos que, para iniciar um debate sobre formação docente, é necessário
evidenciar que compreendemos formação como uma trilha que vai se configurando e se
contextualizando com a trajetória de vida desses professores e vai se constituindo em
experiência de vida.
A pesquisa com narrativas (auto)biográficas e/ou de formação desponta
questionamentos, tais como, quais buscas formativas os sujeitos fazem a partir das
narrativas de si? Ou como a abordagem biográfica poderá se tornar um movimento de
investigação-formação, considerando as itinerâncias e aprendizagens dos educadores ao
longo da vida?
Neste sentido, na nossa tessitura encontramos amparo e referência sobre a
concepção (auto)biográfica em Josso (2004), Nóvoa (2013), e Souza (2006). Quanto às
concepções de formação, temos o aparato de Josso (2002), Larossa (2002), Nóvoa
(2013) e Macedo (2010).
No sentido da experiência, temos Larossa (2002) ao indicar que temos que
pensar a educação a partir do par experiência/sentido, essa afirmação, sustenta esta
pesquisa, na qual buscamos interpretar os sentidos e significados dados pelos
professores em seu contexto de vida/profissão.
Pensar sobre o que fez, o que faz e o que pretende fazer ocorre sempre no
momento de (re)memorar e escrever no presente, no aqui e no agora. A investigação em
si mesmo torna-se um modo ontológico de compreensão da nossa existência e
Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores
EdUECE- Livro 200848
3
permanência. Os esconderijos de nossa condição humana abarcam elementos que
corroboram com a nossa prática profissional, com nossa forma de ser no mundo,
observando a importância da nossa escrita de si, que viabiliza uma reflexão da nossa
praxis, indagando/compreendendo a prática pedagógica.
CAMINHO METODOLÓGICO
A pesquisa tem como método de coleta as histórias de vida direcionadas para as
trilhas de formação como um caminho customizado ao modo dos professores. Para
Macedo (2010), a formação é “como o conjunto de condições e mediações para que
certas aprendizagens socialmente legitimadas se realizem”. A escolha pela abordagem
(auto)biográfica como “um caminhar para si”, conforme pontua Josso (2004), aponta,
para a metarreflexão no ato de narra-se, de dizer-se de si para si, mesmo como uma
evocação dos conhecimentos construídos nas suas experiências formadoras.
O campo de inserção é uma instituição pública no Município de Salvador-BA. O
percurso metodológico, de inspiração etnográfica, tem contemplado a realização de
visitas à unidade, seguidas de observações participantes e do estabelecimento de
diálogos com profissionais da instituição.
De acordo com Ludke e André (2013), o universo que envolve um caminho
metodológico de uma pesquisa coaduna com a ideia de pesquisa como enriquecimento
do trabalho do educador, com estreita relação com a sua vida diária. (Re)visitando a si
mesmo, mergulhado nas vivências da sua vida pessoal e profissional, os professores
refletem sobre sua própria história para a constituição de sua formação enquanto ser.
Temos intrínsecas a nossas memórias coisas que podem nos surpreender, mas elas só
podem ser tiradas do “baú” durante o movimento de (re)memorar e escrever. Somos,
então, objetos da nossa própria pesquisa e isso é emocionante: é o passado que nos
indaga e o presente que cria uma dialética com o futuro.
Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores
EdUECE- Livro 200849
4
DISCUSSÕES PARCIAIS
A necessidade de falar sobre nós é muito latente; no grupo de professores,
apresenta-se como uma necessidade vital, não só como processo de formação, mas
como uma inserção contínua ao longo da vida, buscando em si artifícios de
(re)memorar. Pretendemos construir um artefato de memórias, ou vários deles, para a
humanização da prática dos professores, que se configurem com o ato de preservar,
guardar para (re)memorar. Utilizaremos álbuns do memorial desse grupo, composto de
histórias, gravações e fotografias, constituindo componentes de formação.
As primeiras interpretações têm corroborado para a coerência entre o processo
de formação e as experiências vividas, para trazer sentido e significados aos sujeitos.
Assim, como resultado desse primeiro momento, podemos considerar que os
professores terão a possibilidade de um espaço para reconstrução das experiências,
compreensão da própria prática e reflexão sobre seus percursos formativos, guardando e
buscando esse material de volta para si quando for necessária a sua formação.
Esta pesquisa evidencia o papel do sujeito na sua formação, mediante a
apropriação de seu percurso de vida, visando mobilizar através do método
(auto)biográfico, coletando, armazenando histórias de vida, construindo saberes críticos,
reflexivos, históricos, num movimento emancipador para si.
“Nada somos além daquilo que recordamos”, como afirma (Bobbio, 1997).
Portanto, para dar sentido e significado a nossa exitência nada mais coerente que o
resgate a nós mesmos, o resgate ao outro internalizado em nós. (Re)memorando com
zelo, preservando a si, pois, os professores refletem sobre a sua própria história
dialogando com o outro introspectivo nele mesmo e fora dele.
Sendo assim, a experiência torna-se consolidada e validada durante o percurso
da vida e da trilha de formação docente, como bem define Larrosa (2002), “algo como
uma superfície sensível que aquilo que acontece afeta de algum modo, produz alguns
afetos, inscreve algumas marcas, deixa alguns vestígios, alguns efeitos”. Assim, a
prerrogativa da formação é o ato de (re)memorar os momentos, visto que, no espaço
escolar, onde vivenciamos, experimentamos memórias com forte carga de emoção, seja
ela positiva ou negativa; o que importa nesse estudo é compreender quais memórias eu
consolido na minha prática docente.
Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores
EdUECE- Livro 200850
5
REFERÊNCIAS
BOBBIO, Norberto. O tempo da memória: de senectude e outros escritos
autobiográficos. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
JOSSO, Marie-Christine. Experiência de vida e formação. São Paulo: Cortez, 2004.
LAROSSA, Jorge Bondia. Notas sobre a experiência e o saber de experiência.
Revista Brasileira de Educação. Rio de Janeiro, n.19, p.20-28, jan/abr.2002a.
LUDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E.D.A. Pesquisa em educação: abordagens
qualitativas. 2. ed. Rio de Janeiro: E.P.U., 2013.
MACEDO, Roberto Sidnei. Compreender/mediar à formação o fundante da
educação. Brasília: Liber Livro Editora, 2010.
NÓVOA, Antônio. Vida de Professores. Porto: Porto Editora, 2013.
_________O método (auto)biográfico e a formação. São Paulo: Paulus, 2010.
SOUZA, Elizeu Clementino. Pesquisa narrativa e escrita (auto)biográfica: interfaces
metodológicas e formativas. In. SOUZA, Elizeu Clementino; ABRAHÃO, Maria
Helena Menna Barreto. Tempos, narrativas e ficções: a invenção de si. Porto Alegre:
EDIPUCRS, 2006.
Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores
EdUECE- Livro 200851