a formação do espaço urbano cidades medias para

Upload: carlos-de-tarso-massari

Post on 17-Jul-2015

53 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

A formao e produo do espao urbano: discusses preliminares acerca da importncia das cidades mdias para o crescimento da rede urbana brasileiraCilcia Dias dos Santos 1

ResumoO presente ensaio integra a discusso atual acerca da formao territorial no Brasil e, consequentemente as discusses a respeito da formao, produo e reconfigurao do espao urbano, evidenciandose, atravs de discusses preliminares a conjuntura da rede urbana e o importante papel das cidades mdias brasileiras. Destaca-se o processo de urbanizao, utilizando-se das taxas de urbanizao demonstradas nos resultados dos censos do IBGE a partir do ano de 1940. Palavras Chaves: espao urbano, rede urbana, cidades mdias, urbanizao.

Recebimento: 10/4/2008 Aceite: 21/10/2008 1 Licenciada em Geografia pela Universidade Estadual do Maranho UEMA, e mestranda do Programa de Ps-Graduao em Geografia da Universidade Federal de Rondnia UNIR. End: Rua 13, quadra 24, casa 23. Cohatrac 4. So Lus, MA, Brasil. CEP 65.054-450. E-mail: [email protected].

178

Revista Brasileira de Gesto e Desenvolvimento Regional

A training and production of urban space: preliminary discussions about the importance of cities medium for the growth of the urban network brazilianAbstractThis essay incorporates current discussion about the territorial training in Brazil and hence the discussions about the formation, production, and reconfiguration of urban space, showing up through the preliminary discussions juncture of the urban network and the important role of cities brazilian medium. It is the process of urbanization, using the rates of urbanization demonstrated in the results of the census of the IBGE from the year of 1940. Keywords: urban, urban network, medium cities, urbanization.

G&DR v. 5, n. 1, p. 177-190, jan-abr/2009, Taubat, SP, Brasil

Revista Brasileira de Gesto e Desenvolvimento Regional

179

1 - IntroduoO espao urbano e sua formao so objetos de estudo da geografia, que aborda a constante reconfigurao do espao total, social, e seus diversos recortes. A inteno deste ensaio discorrer sobre a formao do espao urbano, e o crescente e vertiginoso fenmeno da urbanizao, tendo por foco de interesse as cidades mdias, e a nova configurao do cenrio urbano no Brasil. A urbanizao brasileira um fenmeno recente. A partir dos anos 1940 comea-se a observar o crescimento das taxas de urbanizao no pas. No perodo a populao ainda era tida em sua maioria como rural. Na dcada de 1970, conforme censo realizado pelo IBGE, a populao brasileira tornou-se mais urbana e, desde ento no houve regresso nas taxas de urbanizao, chegando a exorbitante taxa de 81% no ano 2000, como demonstram os resultados obtidos pelo IBGE atravs do censo do mesmo ano. Atualmente, j se fala em uma taxa de urbanizao de 83 a 84%, tendo em vista as estimativas de crescimento populacional no Brasil. Sob uma nova tica tratada a urbanizao brasileira e a concentrao urbana por Soares (2006)Na contemporaneidade da urbanizao brasileira, verifica-se um amplo processo de reestruturao caracterizado pela exploso das tradicionais formas de concentrao urbana e pela emergncia de novas formas espaciais, continentes de novas territorialidades dos grupos sociais. Na escala intraurbana, o fenmeno da disperso urbana est alterando a morfologia urbana tradicional, gerando novas centralidade e novas periferias. Na escala interurbana e regional, so produzidos novos processos de desconcentrao e reconcentrao espacial da populao, das atividades econmicas e da informao sobre o territrio.

Assim, surge a cidade mdia, e sua importncia na configurao do espao se d de forma a sustentao que a mesma desempenha na hierarquia e na rede urbana. A urbanizao crescente, e decorrente desta, a metropolizao das principais reas econmicas e administrativas do pas, nos trouxe o surgimento de reas significativas no tocante oferta de servios e produtos, e a prpria recomposio e multiplicao do capital flutuante. Tais reas, prximas a reas metropolitanas, compem de fato a rede hierrquica de aes e intervenes no espao. G&DR v. 5, n. 1, p. 177-190, jan-abr/2009, Taubat, SP, Brasil

180

Revista Brasileira de Gesto e Desenvolvimento Regional

2. A produo do espao urbano: algumas discussesDiscorrer sobre o conceito do espao urbano e tambm sobre o conceito de cidade um vis um tanto complexo e polmico. Cada sociedade v o espao de uma forma que diretamente estar ligada as suas concepes sociais e culturais. Segundo Corra (2000).O espao urbano capitalista Fragmentado, articulado, reflexo, condicionante social, cheio de smbolos e campo de lutas um produto social, resultado de aes acumuladas atravs do tempo, e engendradas por agentes que produzem e consomem espao. So agentes sociais concretos, e no um mercado invisvel ou processos aleatrios atuando sobre um espao abstrato. A ao destes agentes complexa, derivando da dinmica de acumulao de capital, das necessidades mutveis de reproduo das relaes de produo, e dos conflitos de classe que dela emergem. A complexidade da ao dos agentes sociais inclui prticas que levam a um constante processo de reorganizao espacial que se faz via incorporao de novas reas ao espao urbano, densificao do uso do solo, deteriorao de certas reas, renovao urbana, relocao diferenciada da infra-estrutura e mudana, coercitiva ou no, do contedo social e econmico de determinadas reas da cidade

nesse espao fragmentado e articulado que surge a cidade como plo de atrao. As suas benesses e atrativos superam o simples desejo de melhoria de vida e bem-estar social, ao mesmo tempo que a cidade repulsiva excludente, pois a urbanizao nos mostra o lado cruel do espao ao vislumbrarmos a especulao proveniente dos grupos detentores do solo e do capital. Como afirma Corra (2000):O espao de uma grande cidade capitalista constituise, em um primeiro momento de sua apreenso, no conjunto de diferentes usos da terra justapostos entre si. Tais usos definem reas, como o centro da cidade, local de concentrao de atividades comerciais, de servios e de gesto, reas industriais, reas residenciais distintas em termos de forma e contedo social, de lazer e, entre outras, aquelas de reserva para futura expanso. Este complexo conjunto de usos da terra , em realidade, a organizao espacial da cidade ou, simplesmente, o espao urbano, que aparece assim como espao fragmentado G&DR v. 5, n. 1, p. 177-190, jan-abr/2009, Taubat, SP, Brasil

Revista Brasileira de Gesto e Desenvolvimento Regional

181

A produo do espao urbano est intimamente ligada ao jogo de interesses entre os seus agentes e partcipes, fruto das relaes simblicas e contraditrias do capitalismo em suas mltiplas facetas. O espao urbano artificial, construdo no meio antes natural e, em seguida manipulado numa teia de aes sociais, onde as relaes entre os atores envolvidos nem sempre resultaro na aplicabilidade das solues que visem os anseios da maioria. Como nos expe Cavalcanti (2001):Colocar como meta compreender a cidade e explicar a produo do espao urbano implica entender esse espao como relacionado sua forma (a cidade) mas no se reduzindo a ela, medida que ela expressa muito mais que uma simples localizao e arranjo de lugares, expressa um modo de vida. Esse modo de vida no est ligado somente ao modo de produo econmica, embora sofra seu constrangimento, mas est ligado a todas as esferas da vida social: cultural, simblica, psicolgica, ambiental e educacional.

O espao urbano e a utilizao do solo urbano so destinados a poucos atores, gerando uma crescente massa de excludos sociais. Para Carlos (1990), a cidade produto das contradies de classe e envolve interesses e necessidades diversas. Assim, o espao produzido atravs das lutas que ocorrem na cidade. Corra (1995) tende a identificar os agentes sociais envolvidos na produo do espao urbano: os proprietrios fundirios e dos meios de produo, os promotores imobilirios, o Estado e os grupos sociais excludos. Os dois primeiros agentes especulam e moldam o espao mediante as necessidades da demanda populacional de mdia e alta renda. Ou seja, os que podem pagar para utilizarem-se do espao urbano. O autor tambm d a entender que os grupos sociais excludos, ao produzirem favelas, invadindo terrenos pblicos ou privados, tornam-se, efetivamente, agentes modeladores, produzindo seu prprio espao. Da mesma forma, Souza (2000) complementa que o modo de produo capitalista produz novas formas e origina paisagens com caractersticas cada vez mais urbanas. No entanto, Harvey (1980) afirma que: H numerosos e diversos atores no mercado de moradia, e cada grupo tem um modo distinto de determinar o valor de uso e o valor de troca. Harvey identifica os seguintes grupos: os usurios de moradia; os corretores de

G&DR v. 5, n. 1, p. 177-190, jan-abr/2009, Taubat, SP, Brasil

182

Revista Brasileira de Gesto e Desenvolvimento Regional

imveis; os proprietrios; os incorporadores e construtores; as instituies financeiras; e as instituies governamentais. Por outro lado, vlido ressaltar que o espao urbano no est preso a uma mera representao social do espao, pois o mesmo extrapola os limites da cidade e/ou dos ncleos urbanos em ascenso, pois possvel encontrar caractersticas urbanas no espao rural e vice-versa. Tais fenmenos, nessa superposio de reas, geram atrativos para a reproduo do capital e as condies de desenvolvimento financeiro, e por fim a urbanizao dessas reas. Enfim, a produo do espao urbano segue os ditames do capital. O capital se reproduz no espao artificial e a partir da gera industrializao, urbanizao, metropolizao, segregao e excluso scio-espacial. A cidade excludente, com cenrios totalmente diferentes a classes antagnicas. Sobrevive na cidade quem pode pagar pelas amenidades que o capital oferece, e assim, desfrut-las.

3. A rede urbanaUm determinado conjunto de cidades interligadas entre si atravs de sistemas de transportes, servios, comunicao. - gera, ou poder ocasionar, uma rede urbana. Geralmente, adota-se a regra que para milhares de pequenas cidades, existam centenas de cidades mdias e poucas metrpoles. No entanto, nos pases desenvolvidos, as redes urbanas so mais densas e articuladas devido aos altos nveis de industrializao e urbanizao presentes nessas reas. De acordo com Corra (2006):A rede urbana, entendida como um conjunto de centros funcionalmente articulados, constitui-se em um reflexo social, resultado dos complexos e mutveis processos engedrados por diversos agentes sociais. Desta complexidade emerge uma variedade de tipos de redes urbanas, variadas de acordo com combinaes de caractersticas, como o tamanho dos centros, a densidade deles no espao regional, as funes que desempenham, a natureza, intensidade, periodicidade e alcance espacial das interaes e a forma da rede.

No caso do Brasil, a rede urbana dispersa, com pouca ligao entre os principais centros regionais produtivos, marcada principalmente pelo contraste entre as regies do pas. De um lado h redes rarefeitas, estruturas de pequeno porte e pouqussimos centros regionais, e de outro, a presena de redes mais densas, com metrpoles G&DR v. 5, n. 1, p. 177-190, jan-abr/2009, Taubat, SP, Brasil

Revista Brasileira de Gesto e Desenvolvimento Regional

183

bem estruturadas, com hinterlndias espraiadas e em ntido processo de megalopolizao em formao entre as metrpoles nacionais So Paulo e Rio de Janeiro. Pode-se compreender esse contexto sob o vis da colonizao, que traou um movimento de ocupao do litoral para o interior, o que explica o fato de a maioria da populao se concentrar na faixa prxima ao litoral, regies Nordeste, Sudeste e Sul. Ao mesmo tempo, pode-se observar a existncia de vazios ou baixos ndices populacionais nas regies Norte e Centro-oeste. Outra razo quanto concentrao populacional brasileira se d ao fato da regio sudeste ter se industrializado mais rpido. As cidades mdias tendem a crescer no territrio a se consolidar no territrio tendo em vista a desacelerao do crescimento populacional das metrpoles e aglomeraes urbanas e o crescimento das cidades acima de 100 mil habitantes, consolidando desta forma a rede urbana brasileira, definindo desta forma a importncia das mesmas. Conforme indica Santos (2005):Tomadas em conjunto, as aglomeraes com mais de 100 mil habitantes, raras em 1940 quando eram apenas dezoito em todo o pas vem o seu nmero aumentado nos recenseamentos seguintes, alcanando 142 em 1980. Em 1991, 183 municpios contavam com mais de 100 mil habitantes. A partir dos anos 1970, parece ser esses (100 mil) o patamar necessrio para a identificao de cidades mdias em boa parte do territrio nacional; A expanso e a diversificao do consumo, a elevao dos nveis de renda e a difuso dos transportes modernos, junto a uma diviso do trabalho mais acentuada, fazem com que as funes de centro regional passem a exigir maiores nveis de concentrao demogrfica e de atividades.

Para Santos e Silveira (2004), o crescimento populacional das cidades acima de 100 mil e 500 mil habitantes fruto da desmetropolizao e da desconcentrao industrial, ocorrido a partir da dcada de 1980, o que veio a fortalecer o crescimento das cidades mdias no Brasil.

4. As cidades mdiasOs estudos a respeito das cidades mdias remontam Frana no perodo de 1970 e preocupao de que tais cidades viessem a G&DR v. 5, n. 1, p. 177-190, jan-abr/2009, Taubat, SP, Brasil

184

Revista Brasileira de Gesto e Desenvolvimento Regional

drenar os recursos das metrpoles. Especulava-se a definio de cidade mdia utilizando-se apenas de parmetros demogrficos. No entanto, estudos recentes e mais dinmicos apontam para a necessidade de examinar outras caractersticas na definio das cidades mdias. Tal situao exposta por Pereira (2004)Longe de ser um consenso entre os estudiosos da rea, a noo de cidade mdia envolve uma srie de interpretaes e conceituaes. Dois enfoques ganham destaque nos estudos relacionados s cidades mdias no Brasil. O primeiro, classifica a cidade mdia a partir de seu tamanho populacional; o segundo, trabalha na perspectiva da construo de um conceito de cidade mdia, incorporando elementos qualitativos tendo em vista uma nova forma de abordagem sobre o tema. Neste enfoque, questes como situao geogrfica favorvel; relevncia regional; distanciamento das reas metropolitanas e oferta de bens, servios e empregos constituem alguns dos critrios que contribuem para uma nova definio do que seja cidade mdia.

Pereira (2004) tambm alerta para o fato de as pequenas e mdias cidades apresentam os maiores ndices de crescimento populacional nas ltimas dcadas, inclusive, superiores s grandes cidades, e detm, segundo os dados do Censo 2000, 70% da populao regional. Esse destaque nos leva a repensar a forma de estudo do espao urbano, que na maioria das aes tem destinado os seus olhares as metrpoles e aglomeraes urbanas. O que chama a ateno foi o fato de as cidades mdias terem passado quase que despercebidas no tocante s pesquisas urbanas de carter nacional e regional, o que poderia ter ocorrido como estratgia de planejamento e ordenamento territorial como definio das macropolticas para o desenvolvimento regional, salvo o II PND, com uma linha destinada as cidades de porte mdio. Ainda conforme Pereira (2004, p. 23)Os debates acerca da organizao de um sistema nacional urbano ganham fora a partir de 1975 com a divulgao do II Plano Nacional de Desenvolvimento do Brasil (II PND). O II PND traz um captulo dedicado Poltica Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU), que traava estratgias para os G&DR v. 5, n. 1, p. 177-190, jan-abr/2009, Taubat, SP, Brasil

Revista Brasileira de Gesto e Desenvolvimento Regional

185

centros urbanos de porte mdio, por macrorregies brasileiras, no sentido de descentralizar e interiorizar o desenvolvimento atravs da desconcentrao industrial e do fomento ao surgimento de novos centros para receber essa desconcentrao, redirecionar os fluxos migratrios e fomentar novas polarizaes de atividades econmicas

Na bibliografia disposta na geografia urbana, no urbanismo, e/ou no planejamento urbano, tambm se encontram os termos cidades intermedirias, cidades de porte mdio, ou at mesmo centros regionais. O crescimento populacional e o acelerado processo de urbanizao implicaram o aumento da rede urbana, em geral, e das grandes e mdias cidades brasileiras. Outrossim, deve ser considerado que o territrio brasileiro marcado pela forte desigualdade regional na distribuio da populao, das atividades econmicas e da rede de cidades e, acrescentando a esse quadro os desnveis sociais no Brasil. Ao discorrer sobre a urbanizao brasileira Villaa (2003) afirma que:A cidade brasileira hoje o pas. O Brasil est estampado nas suas cidades. Sendo o pas, elas so a sntese das potencialidades, dos avanos e tambm dos problemas do pas. Vamos falar dos problemas. Nossas cidades so hoje o locus da injustia social e da excluso brasileiras. Nelas esto a marginalidade, a violncia, a baixa escolaridade, o precrio atendimento sade, as ms condies de habitao e transporte e o meio ambiente degradado. Essa a nova face da urbanizao brasileira

O processo de urbanizao brasileiro caracterizado por vrios fenmenos, entre eles a metropolizao de reas economicamente desenvolvidas pelo capital industrial e a migrao exacerbada da populao entre as regies sub-desenvolvidas e em desenvolvimento de nosso pas. Nesse contexto, as cidades mdias do Brasil, hoje podem ser vistas como centros regionais ou sub-metropolitanos, integrando a rede urbana dessas metrpoles (nacionais e regionais), configurando desta forma um verdadeiro suporte logstico a reas j proeminentemente estabelecidas no cenrio nacional como plos da rede urbana brasileira. Mediante o explicitado por Santos e Silveira (2004):Os sistemas de cidades constituem uma espcie de geometria varivel, levando em conta a maneira como G&DR v. 5, n. 1, p. 177-190, jan-abr/2009, Taubat, SP, Brasil

186

Revista Brasileira de Gesto e Desenvolvimento Regional

as diferentes aglomeraes participam do jogo entre o local e o global. dessa forma que as cidades pequenas e mdias acabam beneficiadas ou, ao contrrio, so feridas ou mortas em virtude da resistncia desigual dos seus produtos e de suas empresas face ao movimento de globalizao.

Ainda segundo os autores:As cidades mdias comandam o essencial dos aspectos tcnicos da produo regional, deixando o essencial dos aspectos polticos para aglomeraes maiores, no pas ou no estrangeiro, em virtude do papel dessas metrpoles na conduo direta ou indireta do chamado mercado global. Mas isso se constitui uma fonte permanente de indagaes, j que a cidade regional, rel poltico subordinado, tambm um espelho de contradies entre as preocupaes ligadas produo propriamente dita (seu lado tcnico) e as ligadas realizao (seu lado poltico).

As cidades mdias constituem-se como verdadeiros centros regionais dotados de infra-estrutura e, particularmente vm ao longo dos anos absorvendo o excedente populacional que em dcadas anteriores era destinada principalmente s metrpoles nacionais, visto o processo de desconcentrao industrial ter massivamente contribudo para tal conjunto de aes. Para Arroyo (2007) as cidades mdias fazem parte da dinmica territorial de uma vida de relaes que as integra, com maior ou menor intensividade, ao movimento do mundo e da formao scioespacial. Partindo da premissa que o conceito de cidade mdia no est vinculado apenas a critrios populacionais quantitativos, ressalta-se o tamanho populacional; a diversificao da economia; o grau de urbanizao; a importncia de sua configurao; as suas funes e o papel que evidenciam na rede urbana (nas diferentes escalas: regional, nacional e internacional). No entanto, Damiani (2006) chama a ateno para o fato de:Os processos de capitalizao intensificados de modo desconcentrado, as formas de poltica insistindo nesta desconcentrao corroboram para a constituio de espaos de catstrofe das metrpoles, das cidades mdias e das pequenas, com os desmembramentos

G&DR v. 5, n. 1, p. 177-190, jan-abr/2009, Taubat, SP, Brasil

Revista Brasileira de Gesto e Desenvolvimento Regional

187

municipais, a constituio de pequenas cidades e o aumento do tamanho das cidades. Altera-se a medida dos fenmenos urbanos, com a mobilizao qualitativa da varivel indiferente que a quantidade de populao.

primaz a anlise do quadro abaixo. O mesmo representa um demonstrativo da evoluo dos municpios acima de 500 mil habitantes, e a questo territorial, bem como a localizao dessas cidades. Somamse a essas caractersticas o papel que as cidades mdias desempenham na reconfigurao da rede urbana no perodo estabelecido entre as dcadas de 1960 a 1990. Figura 1: Difuso de cidades com mais de 500.000 habitantes (1960 e 1996).

Tal quadro acusa proeminentemente a ocupao do territrio atravs das vias de colonizao a partir do litoral, onde a maioria das cidades acima de 500 mil habitantes esto concentradas. Outro ponto significativo que tais cidades podem ser integrantes de reas metropolitanas ou aglomeraes urbanas, e/ou centros submetropolitanos. Igualmente significativo, foi o surgimento dos ncleos urbanos acima de 500 mil habitantes nas regies Norte e Centro-Oeste, como o caso de: Belm - PA, Manaus - AM, Goinia GO, e Cuiab MT. G&DR v. 5, n. 1, p. 177-190, jan-abr/2009, Taubat, SP, Brasil

188

Revista Brasileira de Gesto e Desenvolvimento Regional

5. Consideraes finaisO espao urbano uma abstrao da totalidade espacial e por isso tipificado como um recorte dessa totalidade, ou ento, podemos t-lo explicitado como a sucesso de tempos desiguais defendido por Milton Santos (2004). Analisar o espao urbano como algo desarticulado e sem comunicao necessariamente precisar rever conceitos e idias pertinentes a temtica urbana. A cidade no mais um local isolado. A idia de grandes centros urbanos, aglomeraes urbanas e regies metropolitanas exprime que a cidade cresceu de maneira vertiginosa. Com o passar do tempo, a cidade, que j est inserida em uma rede urbana proeminente, visualiza a desacelerao de seu crescimento dando a lugar a novos ncleos em expanso urbana territorial, crescimento populacional, servios e circulao de mercadorias quantitativamente e qualitativamente satisfatrios ao capital e as condies que venham garantir a reproduo do mesmo de forma rpida e cada vez mais lucrativa. A reconfigurao do espao urbano se d atravs das novas funes e caractersticas que uma cidade pode vir a assumir ou abandonar. Cidades crescem, enquanto outras diminuem lentamente. Nossas metrpoles no so mais as mesmas. O mesmo acontece com cidades outrora tmidas no ramo produtivo e competitivo capitalista. A desmetropolizao e o crescimento das cidades mdias so fenmenos a serem estudados com mais afinco e dedicao, a fim de que sejam estabelecidas regras ou idias a respeito do crescimento urbano (ou regresso) desses ncleos urbanos produtivos. possvel precisar ou estimar novas configuraes e reconfiguraes do espao urbano? Ou o patamar das redes urbanas atuais sero mantidas nas prximas dcadas? sabido que o espao urbano est em constante mutao. As relaes sociais estabelecidas neste espao, so, acima de tudo, a mola propulsora das atividades estabelecidas com o intuito de gerar o desenvolvimento econmico do pas e o estabelecimento de novas redes urbanas, novas metrpoles, novos centros regionais, novas cidades plos e, por fim, novas cidades mdias e pequenas. Ressaltando-se que cada uma dessas cidades tem o seu papel e grau de importncia na esfera econmica e produtiva, destacando-se a importncia das cidades mdias na insero de novas dinmicas produtivas, abertura e fortalecimento da economia e da sociedade.

Referncias G&DR v. 5, n. 1, p. 177-190, jan-abr/2009, Taubat, SP, Brasil

Revista Brasileira de Gesto e Desenvolvimento Regional

189

ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NO BRASIL. PNUD; IPEA; FUNDAO JOO PINHEIRO, 2000. CD-ROM ARROYO, M. M. Dinmica Territorial , circulao e cidades mdias. In: SPOSITO, E. S. SPOSITO, Maria Encarnao Beltro. SOBARZO, Oscar. (Orgs.). Cidades mdias: produo do espao urbano e regional. 1 ed. So Paulo: Expresso Popular, 2006. (Srie Geografia em Movimento). BEAUJEU-GARNIER, J.. Calouste Gulbenkian, 1980. Geografia urbana. Lisboa: Fundao

CAVALCANTI, L. de S. Uma geografia da cidade elementos da produo do espao urbano. In: CAVALCANTI, L.de S. (ORG.). Geografia da Cidade: a produo do espao urbano de Goinia. Goinia: Editora Alternativa, 2001. CORRA, R. L. O espao urbano. 4 edio, 2 reimpresso. So Paulo: Editora tica, 2000. ______. Estudos sobre a rede urbana. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 2006. DAMIANI, A. L. Cidades mdias e pequenas no processo de globalizao: apontamentos bibliogrficos. In: LEMOS, A. I. G. de. ARROYO, M. SILVEIRA, M. L. (Orgs.). Amrica Latina: cidade, campo e turismo. CLACSO, Conselho Latino-americano de Cincias Sociais, So Paulo: Dezembro/2006. GOTTDIENER, M. A produo social do espao urbano. Traduo de Geraldo Gerson de Souza. So Paulo: Editora de Universidade de So Paulo, 1993. HARVEY, D. A Justia Social e a Cidade. So Paulo: Editora Hucitec. 1980. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA. Censos demogrficos dos anos de 1940 a 2000. Rio de Janeiro: IBGE. LEFEBVRE, H. A revoluo urbana. Traduo de Srgio Martins. 2 reimpresso. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2004. PEREIRA, J. C. M. Importncia e Significado das Cidades Mdias na Amaznia: uma abordagem a partir de Santarm (PA). Belm: NAEA/UFPA, 2004 (Dissertao de Mestrado) SANTOS, M. A Natureza do Espao: Tcnica e Tempo. Razo e Emoo. So Paulo: Hucitec, 1996. G&DR v. 5, n. 1, p. 177-190, jan-abr/2009, Taubat, SP, Brasil

190

Revista Brasileira de Gesto e Desenvolvimento Regional

______. A urbanizao brasileira. 5. ed. So Paulo: Editora da Universidade de So Paulo, 2005. (Coleo Milton Santos; 6). SANTOS, M. e SILVEIRA, M. L. O Brasil: territrio e sociedade no incio do sculo XXI. 6. ed. Rio de Janeiro: Record, 2004. SANTOS, M. et al. Territrios, territrios: estudos sobre o ordenamento territorial. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. Programa de Ps-Graduao em Geografia/ Universidade Federal Fluminense PPGG/ UFF (Coleo espao, territrio e paisagem). SOARES, P. R. Cidades mdias e aglomeraes urbanas: a nova organizao do espao regional no Sul do Brasil. In: SPOSITO, E. S. SPOSITO, M. E. B.. SOBARZO, O. (Orgs.). Cidades mdias: produo do espao urbano e regional. 1. ed. So Paulo: Expresso Popular, 2006. (Srie Geografia em Movimento). VILLAA, F. A recente urbanizao brasileira. In: CASTRIOTA, L. B. (Org.) Urbanizao Brasileira: redescobertas. Belo Horizonte: C/ Arte, 2003.

G&DR v. 5, n. 1, p. 177-190, jan-abr/2009, Taubat, SP, Brasil