a fogueira de xangô

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A fogueira de Xangô ... o orixá do fogo Fragmentos de Textos extraído do livro de José Flávio Pessoa de Barros Festa de Xangô no terreiro de Obaladô no Rio de Janeiro Após executada a 1ª parte do cerimonial de abertura , segue a continuação... A CASA EM FESTA - OS SÚDITOS O sol se põe, e começa a escurecer na casa de Obaladô. A casa de Xangô, especialmente iluminada neste dia, aguardava o início da festa. As árvores do terreiro foram plantadas por Obaladô a mais de 21 anos, quando recebera de Xangô , seu orixá, a ordem de abrir uma casa – de – santo. Lenta e calmamente, interrompe suas divagações, dirigindo-se para frente da casa – de – Airá sentandose em um pequeno banco. A poucos metros erguia-se majestosamente a fogueira, armada be cedo e já contendo os axés próprios do orixá do fogo. A um aceno seu , uma filha de Oiá traz o seu Adjarim. Obaladô , com delicadeza, apanha a sineta que, ao ser vibrada, anuncia o início de uma reza. As esteiras são estendidas e sobre elas os iniciados se ajoelham, busto curvado, pousando a cabeça no chão, em direção a Obaladô. Sua voz faz-se ouvir, então, salmodiando cada verso como um lamento, um canto em solo é ouvido e que se repetirá por três vezes. È um lento responsório, em que o oficiante canta primeiro, acompanhado em um segundo momento , pelos presentes. Oba kawòó o Ó Rei, meus cumprimentos.

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A fogueira de Xang ... o orix do fogoFragmentos de Textos extrado do livro de Jos Flvio Pessoa de BarrosFesta de Xang no terreiro de Obalad no Rio de JaneiroAps executada a 1 parte do cerimonial de abertura , segue a continuao...

A CASA EM FESTA - OS SDITOSO sol se pe, e comea a escurecer na casa de Obalad. A casa de Xang, especialmente iluminada nestedia, aguardava o incio da festa. As rvores do terreiro foram plantadas por Obalad a mais de 21 anos,quando recebera de Xang , seu orix, a ordem de abrir uma casa de santo.Lenta e calmamente, interrompe suas divagaes, dirigindo-se para frente da casa de Air sentandoseem um pequeno banco. A poucos metros erguia-se majestosamente a fogueira, armada be cedo e jcontendo os axs prprios do orix do fogo.A um aceno seu , uma filha de Oi traz o seu Adjarim. Obalad , com delicadeza, apanha a sineta que, aoser vibrada, anuncia o incio de uma reza.As esteiras so estendidas e sobre elas os iniciados se ajoelham, busto curvado, pousando a cabea nocho, em direo a Obalad. Sua voz faz-se ouvir, ento, salmodiando cada verso como um lamento, umcanto em solo ouvido e que se repetir por trs vezes. um lento responsrio, em que o oficiante cantaprimeiro, acompanhado em um segundo momento , pelos presentes.Oba kaw o Rei, meus cumprimentos.Oba kaw o Rei, meus cumprimentos.O, o, Kabysl Sua majestade, o Rei mandou construir uma casa.Oba ni klOba sr O Rei do xere, o Rei prometeu e traz boa sorte,Oba njje o dono do pilo.Sere aldBongbose O ( wo ) bitiko Bambox abidik, meus cumprimentos ( ao )Os Kaw Ox, sua majestade.O, o, Kbysil Meus cumprimentos.O som do Adjarim marca o incio do pa, palmas compassadas que a anunciam uma nova reza para oorix do fogo....... o cntico continua: nka, Nka Ele cruel, ele cruel(o trovo ).w j att Eu jejuo para o punidor.Bad, bad y Tmi Bad, bad, meu esprito sofre nka, nka r n lde o Ele cruel, o trovo cruel sim. O dono da coroa cruel. nka we j attu Ele cruel, ele cruel(o trovo )Eu jejuo para o punidor.Aira ma s re awo, ariwo, ale od Air(o trovo), verdadeiramente voa e cai ruidosamente.Ma s Forte como um pilo, como um tambor ( barulho ).Aira ma s re awo, ariwo, ale od Air(o trovo), verdadeiramente voa e cai ruidosamente.Ma s Forte como um pilo, como um tambor ( barulho ).Yy, kr-kr lo ni joko ayagba O pssaro vagarosamente senta e chora para as grandes mes.Ale od ma s Forte como um pilo, como um tambor ( barulho ).A reza diz que o trovo cruel, implorando a Bad... "ele a voz estrepitosa e aterrorizante do Trovo, afora que deflagra a carga irregular dos raios". Os nags dizem ser Bad um vodum, isto , de origemjje, e que os jjes do maranho, dizem que um orix nag e que, quando ele se apresenta na Casa das Minas, fala por sinais para no revelar os segredos dos nags.Os pssaros lembram as feiticeiras que ameaam os seres humanos, necessrio implorar as grandesmes senhora dos pssaros, para que no flagelem os homens.Air tambm mencionado no texto sagrado, recolhido entre os que se originam do ax de I Nas. Esteorix ocupa um lugar especial nesta comunidade, estando ligado a primeira no nominao...Ax AirIntil.Novamente o Adjarim anuncia que o Rei Xang continuar sendo louvado, e uma nova reza comea:Oba r lk O Rei lanou uma pedra.Oba r lk O Rei lanou uma pedra.ymasse k w Iymasse cavou ao p de uma grander oje rvore e encontrou.Aganju ko m nje lekan Aganju vai brilhar, ento , mais uma vez como trovo.r lok ly Lanou uma pedra com fora (coragem)Tbi rs, O Grande Orix do orum (terra dos ancestrais) vigia.Oba s run O Rei dos troves, est no pr oba oje de uma grande rvore ( pedra de raio )A orao sada o Rei dos troves, como sendo Aganju, o Alafin de Oi, filho de Ajak e sobrinho deXang. Iamass considerada sua me quem revela aos mortais, que a pedra de raio, smbolo do seupoder, encontrada ao p de uma grande rvore. O brilho dos raios e o barulho dos troves lembram queAganju vigia do orum , terra dos ancestrais, seus sditos fiis.O Adjarim marca um novo momento, Obalad levanta-se e se dirige a casa de Xang pousando no choda mesma uma gamela cheia de Amal , a comida predileta deste orix.B ni je a! p bo Sim, comer(amal)dentro(de uma gamela) com satisfao, de uma s vez,adorando.Je b o o ni a! p bo Comer, nascer dele, dentro(de uma gamela)com satisfao, de uma s vez,adorando.E ni p lrn d b li Cortado muitas vezes(o quiabo),sempre com cutelo, dentro da gamelam w mn mw Procurar conhecimento,K je n mm s certamente torna inteligente.K je n mm s A comida (amal) faz adquirirK je n mm s e aumenta o conhecimento do Ax.A reza indica que, ao se desfrutar da comida sagrada, descobre-se o ax, isto , a fora, que dconhecimento e sabedoria aos que delas usufruem.Nos ltimos acordes da reza, os ogans de Xang pousam os xeres e acendem a fogueira. Varias vozesgritam..Kaw Kbysil !!! Kaw Kbysil !!! = Meus cumprimentos sua majestade !!!A RODA DE XANG.....Alguns minutos decorrem entre as imagens fortes do fogo e o incio do xir do Rei de Oi, no barraco. Oritmo da Hamunha convida a todos, os da casa e os convidados a iniciarem a roda de Xang.Comea o xir, louvando Ogum, em seguida, Oxossi, Obaluai, Ossaim, at que, repentinamente, ouveseo som do bat , ritmo prprio de Xang.A roda de Xang ou bat-de-Xang comea a ser executada:wa dp oba dod Ns agradecemos a presena do Rei que chegou.A dp oba dod Ns agradecemos a presena do Rei que chegou.A dup ni mn oba e k alA dup ni mn oba e k al Ns agradecemos por conhecer o Rei, boa noite a vossamajestade. w , w nil Ele veio, est na terra.A dup ni mn oba e k alOs primeiros cnticos dirigem-se ao Rei, a Xang. Sua presena louvada e a sua saga mtica sercontava atravs do canto e da dana. No ser somente o seu aspecto guerreiro que ser homenageado,outros sero lembrados.... O Xang justiceiro ser um deles.F l f l Ele quer poder...ele quer poder ( vir )Yemonja w okun Iemanj banha (lava) com gua do marYemonja w okun D-nos licena para vermos atravs dosg fir mn seus olhos e conhecer-mos...g fir mn D-nos licena...Ajak igba ru , igba ru Ajak traz na cabea, traz na cabea ( gua do mar ) w e Ento estas de volta.O canto dedicado Ajak fala da gua do mar, como tambm de ver atravs dos olhos. Ajak cultuadodurante as festas de Xang junto com sua me, Iamass, considerada como uma Iemanj.Sngb sngb Ele executou feitos maravilhosos, feitos maravilhosos.Did n gbdo Pairou sobre Igbodo,Ode ni m os caadoresSy n, n sabem disto.O cntico fala de Ajak, destronado por seu irmo Xang, refugiando-se em Igbodo. Ficou nesta cidadepor sete anos, perodo em que reinou sobre Oi seu irmo Xang.n Dda , g l r Senhor Dad, permita-nos v-lo !!n Dda , g l r Senhor Dad, permita-nos v-lo !!Dda m sokun mDda m sokun m Dad no chore mais. feere n feere franco tolerante, bg lorun ele vive no orun,Bb kn lonn da r o pai que olha por ns nos caminhos.Ajak alm deste nome , tambm era conhecido como Baaiyani e tambm como Dad, em razo de seuscabelos anelados. O Ritmo forte e cadenciado do bat louva Dad ou Ajak.Bynni gdigdi , Bynni olBynni gidigidi , Bynni ol Baiani ( Ajak ) forte como um animal e muito , muito rico.Bynni ad , Bynni w A coroa de Baiani honrosa e muito rica.Bynni ad , Bynni wA coroa de Baiani, descrita no cntico, da qual dita ser honrosa e pertencer a um Ob, refere-se a Ajak,terceiro Rei de Oi. A palavra ow, significa , dinheiro, riqueza, e est relacionada a uma grandequantidade de bzios que ornam esta coroa e que antigamente serviam como moeda. Referente ao termo:gidigidi, que um superlativo, isto , muito ; e gdigdi, animal grande e forte. Trata-se de um trocadilhocomum no iorub. Os cnticos continuam sucedendo-se. Discutem normas morais, e tambm falam departicularidades referentes ao culto dedicado ao Deus do fogo.Fura ti n, Fura ti n e , Fura ti n, Desconfie do fogo, desconfie do fogo.r l si s j O raio a certeza de que ele queimar.Fura ti n, Fura ti n e , Fura ti n, Desconfie do fogo, desconfie do fogo.r l si s j O raio a certeza de que ele queimar.O cntico chama a ateno para que os descuidados, no tenham a devida cautela e respeito com o fogo.Este elemento, fundamental na vida do homem, pode lhe proporcionar conforto, mas quando sem controle,pode significar a morte. O raio a certeza de que ele queimar, pois seu direcionamento incerto.b rsb Onl Abeno dos orixs,Onl mo jb o Abeno do Senhor da terra,b rs , b Onl Ao Senhor da terra (Onil)Onl mo jb o minhas saudaes.O cntico sada Onil o "Senhor da terra", nas cerimnias dedicadas a Xang, oferendas so destinadas terra, para que este orix permita sobre seu templo, "A Terra" ser acesa a fogueira de Xang.O canto a seguir fala que o "rei no se enforcou" , por tanto no morreu, sumiu cho adentro comoconvm a um orix.rn in a lde o Sim, a circunstncia o colocou de fora.Bara en j, nia r ko O mausolu real quebrou ( no foi usado )Oba n Koso n r l o O homem no se pendurou.Bara en j, nia r ko O rei sumiu, no se enforcou, sumiu no cho e reapareceu. nka wn b lrun krj O mausolu real quebrou ( no foi usado ) nka wn b lrun O homem no se pendurou.Krj gtn Ele cruel, olhou, retornou para o rum,ten pd w lna deu um grito enganando ( seus inimigos ). nka si rel O carneiro mansamente procura e encontra o caminhoIbo si rn in a lde o Ele cruel contra os que humilham.Bara en j, nia r ko A consulta ao orculo foi negativa.On ma, ni w j O verdadeiro senhor contra juras ( falsas ) .Bara en j, nia r ko Sim, a circunstncia o colocou de fora. O homem no sependurou.Oba sre la fhinti Incline-se o rei do xere salvou-seOba sre la fhinti Incline-se o rei do xere salvou-seOba ni w y b lrun Suplique ao rei que existe e vive no orum.Oba sre la fhinti Incline-se o rei do xere salvou-seDizem que o rei recebeu um cesto contendo ovos de papagaio. Era o sinal determinado pela tradio deque deveria renunciar coroa e talvez vida. Xang retira-se para o interior seguido de alguns amigos e desua esposa Oi, que volta para sua cidade de origem, Ir. O mito diz que entristecido o Rei enforca-se emum p de Arab. Seus companheiros vo a Oi e relatam o fato, quando retornam ao local, encontram umburaco vazio, por onde ele teria entrado, aps uma crise de fria, tornando-se assim um Orix. Em Oi osque admitiam a sua morte ( inimigos ) falavam "Ob so" que significa "o rei enforcou-se"Os seus partidrios falam Ob ko so" o que significa "o rei no se enforcou" afirmando o Rei virouOrix.Xang no morreu, ele existe e vive no Orum, esta a crena dos seus fiis sditos.Um breve cntico, sada a me deste poderoso orix:Eye kkr O pequeno pssaro na cabea, da esquerda,Ad si arl parente da me do rio , mase.y lod maseEye ko kr ln Apanhou com gentileza, o pequeno e sofrido pssaroSoko ygba lod mase a grande me do rio , mase.Os pssaros so um dos smbolos mais conhecidos das Iagbs, alm de serem sua representao, sopor elas cultuados e protegidos. So criaturas das grandes mes, consideradas como seus filhos.O orix do fogo mltiplo, reconhecem seus fiis, e nesta acepo seus sditos imploram a Xang Air,para que as chuvas no sejam destruidoras, que elas apenas limpem e fecundem a terra.Aira jo A chuva de Air,M pr s apenas limpa e faz barulho como um tambor.A m pr s Ele apenas limpa e faz barulho como um tambor.A Roda-de-Xang atinge o seu clmax com este canto, mais rpido e vibrante.Comeam a surgir os primeiros sinais da presena dos Orixs. O primeiro a chegar foi Ogum, logo acolhidopelas Ekedis. Em seguida quase que no mesmo momento, apresentou-se Oxum, Iemanj, Oi e Ob.Finalmente a vez de Oxagui, o deus funfun ( do branco ) da criao e tambm guerreiro.A casa de Xang, esta em festa, Obalad est feliz.. os cnticos continuam...A nw wre Ns temos a existncia e a boa sorte.A wre nw Ns temos a boa sorte e a existnciaA nw wre Ns temos a existncia e a boa sorte.A wre nw Ns temos a boa sorte e a existnciaOba lgb obalad O rei afugentou ( os maus feitores ) o rei do pilo.Obalad r s O rei do pilo olha e arremessa ( os raios )Obalad O rei do pilo.O rei sempre protege seus adeptos, dando-lhes boa sorte. O Ob tambm faz justia e persegue osladres, mentirosos, perjuros e jamais esquece os que contra ele blasfemam.Olw Abastado Senhor, aquele que definitivamenteK m b , m b d proteo, d proteo.K m b Aquele que definitivamente d proteo.Olw Abastado Senhor, aquele que definitivamenteK m b , m b d proteo, d proteo.Alfn rs Senhor do palcio e orix.Xang considerado muito rico, grande proprietrio das riquezas da terra, possuidor de tesouros e cidades, palcios, filhos e mulheres.Omo sk Br Os filhos , com o tempo, iniciaram o ( culto do )k inn, k inn fogo de k ( lagos ), o culto do fogo de k.Omo sk Br Os filhos , com o tempo, iniciaram o ( culto do )k inn, Lde roko fogo de k, ao redor das plantaes.Omo sk Br Os filhos , com o tempo, iniciaram o ( culto do )k inn, k inn fogo de k ( lagos ), o culto do fogo de k.Omo sk Br Os filhos , com o tempo, iniciaram o ( culto do )k inn, fogo de k,r njj com medo extremo.O canto talvez relembre o incio da imigrao Yorub, em direo ao mar, ligados aos mitos de origem dacidade de Lagos e a diviso das terras entre filhos do conquistador, que implantaram na regio sua cultura eseus deuses, provavelmente o culto a Xang ou Jakut.....O CANTO E A DANA DO REI...Mal termina o Aluj, um novo surge. Ele pede licena para percorrer os caminhos e determina que os orixsesto chegando. Todos em gala, portando em suas mos as insgnias que identificam sua procedncia.g lna e Licena no caminho.Dde ma dago Levantem-se, eles esto chegando na horago go lna prevista ( de costume )E dde ma yo Levantem-se com alegria habitualKr w nise o Que o ritual teve trabalho. frente do cortejo estava Ogum, a quem cabe a primazia, logo aps Ex, de ser o primeiro louvado. Logoaps. Xang Air, todo de branco, exibia dois oxs prateados e uma coroa tambm de prata que reluzia,dando majestade ao patrono da casa. Logo a seguir deste mais trs Xangs, todos portando seus oxsporm desta vez de cobre, seguidos de Oy , Oxum, Ob e fechando o cortejo Oxagui.Comea, ento os louvores ao orix do fogo....ao ouvirem os atabaques, os quatro Xangs levantam-seprecedidos pelo mais velho, ou seja, Xang Air.Oba n s r lk od Ele o rei que pode despeda-lo sobre o pilo; b r omon Aquele que cumprimenta como um guerreiro os filhos,Oba n s r lk od Ele o Rei que pode despeda-lo sobre o pilo.Oba kso ay O Rei de kos com alegria.OOJE IKU IKE OBARAINAN....CONTINUA....