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A Finalidade da Salvação por Cristo Ou, Salvos para quem e para o quê? Silvio Dutra JAN/2016

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A Finalidade da Salvação por Cristo

Ou, Salvos para quem e para o quê?

Silvio Dutra

JAN/2016

2

A474 Alves, Silvio Dutra A finalidade da salvação por Cristo./ Silvio Dutra Alves. – Rio de Janeiro, 2016. 131p.; 14,8x21cm 1. Teologia. 2. Salvação. 3. Cristianismo. I. Título.

CDD 234

CDD

230.227

3

Sumário

Salvação .................................................................... 4

Jesus Não Veio Condenar mas Salvar........ 9

Por que é Difícil a Entrada dos Ricos no

Reino de Deus? ......................................................

12

Salvos sem Merecimento................................. 15

A Ilustração da Salvação em Cristo na Cura de Naamã ......................................................

18

A Serpente de Bronze Levantada................... 31

Focalizando o Ponto Correto, Principal e

Vital .............................................................................

65

A Salvação é do Senhor....................................... 70

O Ladrão que creu................................................ 72

O Caminho da Salvação.................................... 101

Uma Cura Tríplice para um Mal Tríplice. 123

Sem Fé não Há Salvação.................................... 125

“Poderoso para salvar” (Isaías 63:1).............. 129

4

Salvação

Quando a Bíblia fala na salvação do pecador o

que está em foco é muito mais do que simples

livramento de perigos iminentes, pois é

sobretudo a restauração do pecador caído para que nele se cumpra o propósito eterno de Deus

de ter muitos filhos semelhantes a Jesus Cristo.

Somos a rigor, salvos de nós mesmos, de nossa condição de miséria e de morte espiritual e

eterna.

Somos livrados de uma inclinação constante para o mal para nos inclinarmos para o bem e para tudo o que se encontra na natureza de

Deus.

Jesus nos livra do pecado; do consequente estado de morte espiritual que se transforma

em morte eterna quando morre o corpo; e da

também consequente ira, da condenação , e do juízo eternos de Deus; da servidão ao diabo; das

enfermidades do corpo e da alma; da maldição

da Lei – mas além disso Ele nos purifica,

santifica, nos reveste de Suas próprias virtudes, nos reconcilia com Deus e nos torna seus filhos

amados, e nos faz herdeiros juntamente com Ele

de toda a glória que Ele possui no céu.

5

Para este propósito, desde que houve a queda do primeiro casal no pecado, Deus sujeitou a

criação à vaidade, ao vazio, à maldição de ter que

enfrentar tantos males e tribulações. Pode parecer um paradoxo, mas se não fosse por isto,

jamais seríamos resgatados de nossa condição

de orgulho e rebelião contra a justiça e a santidade.

Necessitamos das tribulações para sermos tornados humildes e vermos o quanto

dependemos da graça e da misericórdia de

Deus.

Para além das tribulações há os braços estendidos de um grande Pai de amor, que deseja que estejamos conscientes de nossa

plena aceitação por Ele, apesar de sermos

pecadores, por causa da visitação em juízo dos

nossos pecados em Jesus.

Ele nos amou tanto que nos deu o Seu próprio

Filho Unigênito, sem qualquer mancha ou pecado, cheio de glória e majestade, para que

pudesse morrer a nossa morte, e assim

tivéssemos acesso a tudo o que havíamos perdido por causa do pecado, e que Ele havia

planejado para nós, para toda a eternidade.

Daí ter sido anunciado pelo anjo à virgem Maria que aquele que nela seria gerado pelo Espírito

Santo era o eterno Yeshua (em hebraico), que

6

significa o Salvador, ou Aquele que salva. No

texto original grego esta palavra foi

transliterada para iesous, de onde também por

transliteração vem o nosso Jesus em português.

Ele, que é o Grande Eu Sou (YWHW – hebraico)

juntamente com o Pai e o Espírito Santo, tomou este nome por causa do trabalho de livramento

e restauração que Ele operaria em favor da

humanidade, pois a salvação inclui tanto uma

coisa quanto outra.

Muitas são as operações que estão vinculadas à

salvação que Jesus veio consumar. Antes de tudo a eleição, depois a chamada, o

convencimento do Espírito, a justificação, a

regeneração, a santificação e por fim a

glorificação.

Que grande trabalho de paciência e sabedoria

eterna está envolvido em tudo isto.

Quem seria suficiente para tanto – algum

homem ou anjo?

A resposta óbvia é não. Senão somente Deus de Deus, feito perfeito homem, nascido em corpo de homem, poderia realizar uma obra tão

maravilhosa, celestial e espiritual.

Não temos um Salvador que foi estabelecido na hora da nossa emergência, mas Alguém que foi

designado para tal antes mesmo da fundação do

7

mundo. Alguém que foi anunciado por muitas

profecias no Velho Testamento, e até mesmo

nos dias anteriores a Moisés, como a promessa

feita a Adão do descendente da mulher que esmagaria a cabeça da serpente, e a feita a

Abraão de abençoar no Seu descendente

(Cristo) todas as nações da Terra.

Outro ponto importante a ser considerado na salvação é que ela é segura e firme. Nada pode apagá-la ou destruí-la. É uma obra de caráter

eterno para adentrar a eternidade, assim como

é eterno o nosso Salvador e Senhor.

O crente está firmemente seguro na graça que lhe foi concedida em Jesus para nunca mais ser daí removido de uma forma final. Ainda que caia

será levantado pelo poder do Senhor, porque

tem prometido não lançar fora por motivo

algum a qualquer que tenha sido salvo por Ele.

De tantas que são as profecias que temos em

relação a esta salvação no Velho Testamento, não teríamos espaço suficiente para aqui

enumerá-las, senão citar apenas algumas no

anexo em que apresentamos vários textos relativos a este assunto.

Cabe lembrar que todo o mobiliário do tabernáculo, o ofício dos sacerdotes, profetas e

reis, os sacrifícios de animais do Velho

Testamento, tudo isto era uma figura, um tipo,

8

do grande Salvador que se manifestaria ao

mundo na plenitude dos tempos.

9

Jesus Não Veio Condenar mas Salvar

Marcos 2:17 Tendo Jesus ouvido isto, respondeu-lhes: Os sãos não precisam de

médico, e sim os doentes; não vim chamar

justos, e sim pecadores.

João 12:47 Se alguém ouvir as minhas palavras e não as guardar, eu não o julgo; porque eu não

vim para julgar o mundo, e sim para salvá-lo.

Dê a devida atenção a estas palavras de nosso

Senhor Jesus Cristo.

Até que Ele volte, a porta da salvação estará aberta para todo aquele que se arrepender dos

seus pecados e buscar viver para Ele.

Amados leitores, nosso Senhor mesmo definiu a Sua principal missão em ter vindo a este mundo

há cerca de 2.000 anos atrás, como sendo a de

salvar e não a de condenar pecadores.

Então, enquanto perdurar esse tempo de graça até que Ele volte, Deus está abrindo uma

grande oportunidade para todas as pessoas que

queiram ser livradas da manifestação da ira

vindoura, em forma de juízo de uma condenação eterna, que há de vir sobre todos os

que viveram neste mundo, sem terem se

convertido a Cristo.

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Por isso, queremos ser muito claros, sinceros e diretos em todas as mensagens transmitidas aos

amados leitores, mantendo o foco do evangelho

que aponta somente para Jesus Cristo para que sejamos salvos de tal condenação em razão do

pecado.

É bom lembrar que um único pecado praticado ao longo de toda a vida já sujeita o seu praticante à condenação eterna.

Portanto, não há um único justo, de si mesmo, pela sua própria justiça, diante de Deus.

Por isso Jesus morreu em nosso lugar na cruz, carregando sobre si toda a culpa dos nossos

pecados.

Em suma, tudo o que se refere à necessidade de um viver reto, do dever de se guardar os

mandamentos de Deus, e tudo o mais que se

refira à santificação de nossas vidas, somente

pode ser praticado e vivido caso sejamos convertidos a Cristo, e estando em comunhão

com Ele, por meio do Espírito Santo.

Assim, se a Lei santa de Deus lhe condena justamente por causa do pecado, lembre que

pela fé em Jesus, nos está sendo oferecida gratuitamente a libertação de tal condenação,

ao mesmo tempo que somos por Ele capacitados

a viver de modo aprovado pela justiça divina,

11

pelo poder da graça de Jesus, mediante o

trabalho do Espírito Santo em nossos corações.

Não há qualquer condenação no evangelho, porque Jesus, pelo evangelho que nos trouxe, ou

seja, por esta maravilhosa notícia, que é o

significado desta palavra no original grego do Novo Testamento, tem se oferecido para ser a

nossa justiça, de modo que Deus possa se

agradar de nós e se reconciliar conosco.

A rejeição do evangelho. Desta oferta de justiça da pessoa de Jesus, tão graciosa, é que traz

condenação.

12

Por que é Difícil a Entrada dos Ricos no

Reino de Deus?

“Lucas 18:24 E Jesus, vendo-o assim triste, disse: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os

que têm riquezas!

Lucas 18:25 Porque é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar

um rico no reino de Deus.”

Nosso Senhor Jesus Cristo se referiu à riqueza

de bens deste mundo como um fator não

impeditivo, mas gerador de grande dificuldade

para a conversão que garante a entrada dos

pecadores no reino de Deus.

Percebemos que suas palavras não se referem à dificuldade de permanência dos ricos no reino,

mas à própria admissão deles.

Por que é difícil para eles tal ingresso, conforme pode ser constatado na experiência real de suas

vidas ao longo destes dois mil anos de Cristianismo?

Deus não ama aos ricos tanto quanto aos pobres de bens mundanos?

Deus fez uma prioridade pelos pobres, de modo a excluir a grande maioria dos ricos?

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De modo nenhum!

O bom senso não o permita!

A dificuldade não está em Deus e nem sequer

em sua boa vontade para salvar a qualquer que vier a Cristo, mas nos próprios ricos.

A conversão requer arrependimento, humildade de espírito, confiança total em Cristo e dependência total de Sua graça salvífica.

Reconhecimento da condição de miséria da nossa natureza terrena, que está morta em

delitos e em pecados, e que está naturalmente indisposta contra Deus, e em real estado de

inimizade contra Ele.

Confessar a Jesus como Senhor e Salvador de sua vida, e suplicar-lhe humildemente que lhe salve da condenação eterna.

Entristecer-se pelos pecados e buscar um viver santificado no Espírito Santo para a purificação

da consciência e do coração, pela entrega total de si mesmo à prática da justiça e das boas obras.

Uma vez convertido pelo Espírito, negar-se a si mesmo, carregar a cruz cotidianamente e

dispor-se como uma criança a obedecer fielmente todos os mandamentos de nosso

Senhor Jesus Cristo, conforme se encontram

registrados na Bíblia.

14

É nisto tudo, basicamente, que reside a dificuldade dos que são ricos para serem salvos,

e nem tanto pelo fato propriamente dito de

serem detentores de grandes riquezas.

15

Salvos sem Merecimento

Deus justifica por eleição e misericórdia.

“Terei misericórdia de quem quiser ter misericórdia”.

É preciso ter muito cuidado para não

colocarmos o assunto da justificação em termos de méritos pessoais ou da justiça própria.

Assim fazendo não incorreremos no erro do fariseu em relação ao publicano, na parábola citada por Jesus, o qual se considerava justo

diante de Deus, pelas obras que praticava.

Ao seu lado, um desprezado publicano, reconhecia-se pecador, e sequer ousava erguer

os olhos para o céu, em arrependimento dos

seus pecados. Este foi justificado e não o outro.

A parábola dos trabalhadores na vinha também exemplifica a concessão da graça na mesma

medida salvadora, para todos os homens,

independentemente dos seus méritos.

Pois todos receberam o mesmo salário, tanto os que trabalharam muitas horas quanto os que

trabalharam uma só hora.

16

A razão porque o Senhor “não desamparará o seu povo” como está afirmado em I Sm 12.22 está

expressada aqui mais explicitamente, tanto

quanto a declaração do Seu imutável amor.

Não é porque eles fossem menos pecadores do que os outros, quer em natureza quer por

praticá-lo; ou por causa de alguma qualidade

moral que se encontrasse neles; mas “porque

aprouve ao Senhor fazer-vos o seu povo.”, e “por causa do Seu grande nome”.

É da natureza terrena nos compararmos com outros e pensarmos que somos mais justos do

que eles. Mas aos olhos de Deus todos somos

transgressores da sua lei e culpados.

Somente em Cristo e por meio de Cristo e por

causa de Cristo, que podemos ser aceitos, porque a nossa natureza terrena, seja ela qual

for, a de um sincero Nicodemos, ou a de um

terrível malfeitor, está separada de Deus, em

sua morte espiritual, e necessita de um novo nascimento, que só pode ter aquele que for

justificado pela fé.

A graça somente opera para o nosso bem porque é de fato um favor imerecido. De outra forma

não operaria para nenhum de nós. Bem faríamos em fazer sempre como o publicano,

por maior que seja o grau de nossa santificação:

“Oh Deus sê compassivo a mim mísero

17

pecador”, e também a dizer juntamente com

Paulo, “Miserável homem que sou. Quem me

livrará do corpo desta morte ? Graças a Deus por

Jesus Cristo.”.

18

A Ilustração da Salvação em Cristo na

Cura de Naamã

Nós aprendemos do relato de II Reis 5, que os

dons de Deus não podem ser comprados pelo

homem.

A Sua graça não pode ser vendida pelos Seus ministros, porque eles têm recebido de graça da

parte do Senhor os dons com os quais devem

servir aos homens.

O que foi recebido pela graça deve ser ministrado pela mesma graça.

É basicamente este ensino que nos é dado em quase tudo o que é narrado no quinto capítulo de

II Reis.

“Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, limpai os leprosos, expulsai os demônios; de

graça recebestes, de graça dai.” (Mt 10.8).

Não é dito qual era o rei de Israel na época em que Naamã foi curado da sua lepra, e não

podemos fazer qualquer afirmação neste

sentido, porque o ministério de Eliseu foi

extenso e durou cerca de cinquenta anos, abrangendo os reinados de Jorão, Jeú e Jeoacaz,

e nenhum destes reis andou nos caminhos do

Senhor, de modo que não ficassem sujeitados ao

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juízo determinado do Senhor de entregá-los nas

mãos da Síria, por causa do pecado de Israel, que

nunca se desviou do pecado de adoração dos

bezerros de ouro que havia sido introduzido por Jeroboão desde a inauguração do Reino do

Norte.

Nós vemos no primeiro versículo deste capitulo que fora pela graça de Deus que Naamã, general

da Síria obteve vitória sobre o próprio povo de Israel, em razão de ter sido o instrumento

escolhido do Senhor para castigar o pecado de

Israel. Na expressão que lemos no referido

verso: “porque por ele o Senhor dera livramento aos sírios”, a palavra usada para livramento no

original hebraico é teshuah, que significa

vitória, livramento, socorro, salvação.

Sendo ele general do exército da Síria veio a obter com isto a reputação de ser um grande homem diante do seu rei, e era muito respeitado

por todos.

Apesar de ser leproso o Senhor fizera dele um valente na guerra (v 1b).

E do verso 2 nós depreendemos que havia sido feito por Naamã mais do que uma investida

sobre o território de Israel, e alguns israelitas haviam sido tomados para serem escravos na

Síria, e dentre estes Naamã colocou uma jovem

israelita a serviço de sua esposa.

20

A preocupação desta jovem com a saúde de Naamã dá testemunho do tratamento humano e

bondoso que ela recebia na sua casa, pois não

somente se preocupou pelo bem estar dele como disse à sua senhora que se ele procurasse

o profeta que estava em Samaria, fazendo

referência a Eliseu, certamente seria curado da

sua lepra (v. 2, 3).

Naamã reportou ao rei da Síria todas as palavras da sua serva (v. 4), tendo obtido não apenas

permissão do rei para ir a Israel como também

se dispôs a escrever uma carta ao rei de Israel (v.

5), na suposição de que ele saberia o que fazer em relação à cura da sua lepra.

Os reis de Israel não tinham em alta estima o ministério dos profetas porque estes

protestavam contra os seus pecados, e do povo,

mas seria de se esperar o contrário, porque

aqueles que falam da parte de Deus para o Seu próprio povo deveriam ser não apenas

estimados como também ouvidos e obedecidos.

Naamã estava tão esperançoso da sua cura, que levou consigo, como forma de demonstrar sua

gratidão ao profeta, ao qual esperava ser enviado pelo rei de Israel, dez talentos de prata,

e seis mil siclos de ouro e dez mudas de roupa (v.

5).

21

Para que se tenha uma ideia da riqueza que ele pretendia dar ao profeta, um talento pesava

cerca de 35 kg, então ele levava nada menos do

que o valor em moedas que correspondiam a

350 kg de prata.

Como o siclo correspondia aproximadamente a

12 g, o valor em ouro que Naamã daria a Eliseu seria equivalente a cerca de 72 kg de ouro.

Além disto lhe daria ainda dez mudas de roupa novas.

Quando o rei de Israel leu a carta que lhe enviara o rei da Síria, que dizia: “Logo, em chegando a ti

esta carta, saberás que eu te enviei Naamã, meu

servo, para que o cures da sua lepra.”, ele rasgou

as suas vestes e pensou que ele estava procurando um pretexto para guerrear contra

ele.

Ele declarou que não era Deus para que pudesse fazê-lo, mas não havia nenhuma verdadeira

humildade e reconhecimento da parte dele

nisto, da glória que é devida ao Senhor, porque se tivesse de fato o verdadeiro temor de Deus ele

saberia a quem deveria recorrer para que a cura

fosse efetuada.

Todavia, alguém na corte sabia o que fazer, apesar de o rei ímpio não sabê-lo, e o fato chegou

22

ao conhecimento de Eliseu, e não seria de se

estranhar que ele tivesse enviado uma

mensagem ao rei de Israel repreendendo-o por

ter rasgado as suas vestes, em vez de ter enviado Naamã a ele para que soubesse que os

verdadeiros profetas de Deus viviam em Israel

(v. 8).

Iniciamos o comentário do quinto capítulo de II Reis afirmando que os dons de Deus são

gratuitos mas a concessão deles raramente

deixa de colocar à prova a nossa fé.

O Senhor faz com isto que valorizemos estes dons, que façamos aquilo que muitas vezes contraria a própria natureza como prova de

demonstração da nossa completa confiança nas

Suas promessas.

E com Naamã a bênção seguiria a regra da provação da fé, e não a exceção, do recebimento do dom e da misericórdia sem a necessidade do

concurso da fé.

Aquela cura ilustraria o modo da salvação espiritual. Porque é por simplesmente confiar

na Palavra de Deus no evangelho, e recebê-la por graça e mediante a fé, que a cura do nosso

espírito que se encontra morto, é efetuada, e por

nada mais.

23

O nome do Deus de Israel seria glorificado naquela cura, a ponto de vir a ser referida no

futuro pelo próprio Jesus, como prova da fé que

se espera daqueles que se aproximam de Deus (Lc 4.27).

Não somente a fé de Naamã seria provada, como ele seria curado ao mesmo tempo de uma

religiosidade falsa, de orgulho, de presunção e de outras atitudes pecaminosas, quando tivesse

que reagir ao método que Eliseu lhe apresentou

para ser curado, e a maneira como recepcionou

o general sírio, uma vez que este viera ter com profeta já com toda uma ideia preconcebida

quanto ao modo como seria recebido e curado.

Jamais passou pela sua mente a possibilidade de sequer o profeta vir à sua presença, e ainda lhe

enviar um mensageiro lhe ordenando que mergulhasse sete vezes no rio Jordão para que

fosse purificado da sua lepra (v. 9 11).

A fé de Naamã não foi destruída com esta dura prova, mas ela foi detida pela sua perplexidade e

indignação.

Questionar os métodos de Deus nunca é bom para a nossa fé.

E de igual modo, o orgulho, a ira e a indignação nos impedem de desfrutar das bênçãos do

Senhor.

24

Mandar um leproso mergulhar num rio, e não apenas uma vez, mas sete, não é um caminho

lógico e natural para curar a lepra de alguém,

porque a água em vez de ajudar na cura, poderia, naquelas condições, até mesmo agravar a

doença pelo amolecimento das feridas.

Por outro lado, Naamã esperava ser recebido como um general, mas na presença dos ministros de Deus, quando estes estão a Seu

serviço, todos os homens não são apenas iguais,

como aquele que deve ter a precedência da

honra é aquele que está ministrando na presença do Senhor, e não aquele que está

buscando a bênção de Deus, através dos Seus

ministros.

Naamã chegou até mesmo a desprezar por um momento o país que o abençoaria, porque desdenhou as águas do Jordão comparando a

inferioridade da qualidade delas às dos rios da

Síria.

Ele se deixou levar pela lógica e não pela fé, porque se a cura demandaria um mergulho em um rio, porque não lhe foi pedido que o fizesse

em sua própria terra e em águas melhores?

Entretanto, o caminho da fé não é o caminho da lógica.

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A vida será sempre dura e difícil para aquele que não se submeter ao caminho estreito da

obediência que nos é exigida pelo Senhor, para

um viver abençoado.

Na verdade há um grande perigo até mesmo de perdição eterna para aqueles que em vez de se

submeterem ao caminho de se obter a justiça de

Deus, que é pela graça, mediante a fé, acabam nunca alcançando a salvação de suas almas por

tentarem estabelecer o seu próprio caminho ou

aquele que receberam por tradição de seus pais,

e que seja diferente daquele que é estabelecido pelo Senhor na Sua Palavra.

A luta com Naamã era exatamente esta de abandonar o caminho da cura que ele havia

elaborado pela sua própria imaginação para

acatar o que estava sendo proposto pelo profeta.

Ele havia inclusive decidido não se submeter à palavra do profeta e retornar à sua terra, quando

a Providência usou os próprios servos de Naamã

para considerar que nenhuma coisa difícil havia

sido pedida a ele.

Era exatamente por não ter sido difícil que ele a estava rejeitando.

Muitos deixam de ser abençoados pelo Senhor porque não admitem que seja realmente tão

fácil o caminho que Deus estabeleceu para

26

recebermos coisas tão preciosas infinitas, como

a própria salvação das nossas almas, a saber, o

único caminho da fé, e realmente da fé somente.

Nada além da fé, porque o que passa da fé naquilo que é pedido por Deus para a nossa

justificação e regeneração (novo nascimento) já é desobediência e rebelião.

A nós cumpre somente fazer o que Ele determinou e o resto Ele fará, para honrar a

nossa fé naquilo que a Sua boca tem proferido.

Deus tem afirmado na Bíblia que é o evangelho, a fé do evangelho, o Seu poder para a salvação de

todo aquele que nele crer.

Todavia, há passos a serem cumpridos por nós para a confirmação dessa fé salvadora. Primeiro

arrependimento, depois confiança total no Senhor Jesus, e ainda um caminhar

perseverante de degrau a degrau, no processo

da santificação.

Veja o caso de Naamã, que não poderia ter mergulhado menos do que sete vezes seguidas

no Jordão, porque seis vezes apesar de ser um número muito próximo de sete, não era ainda o

cumprimento do que fora ordenado.

É bem provável e quase certo que cada mergulho dado por ele não lhe trouxe nenhuma

evidência de melhora até que desse o sétimo.

27

É possível que tenha havido uma grande luta entre a sua mente racional e a obediência da fé,

porque não podemos descartar a possibilidade

de ter pensado até mesmo que poderia estar sendo zombado e ludibriado à medida que

mergulhava e não obtinha qualquer evidência

de cura.

Isto pode parecer um método cruel, mas o Senhor sabe muito bem o que cada um de nós

precisa para ser curado da lepra da

incredulidade e do orgulho, de modo que venhamos a andar humilde e obedientemente

na Sua presença.

Tendo sido curado, Naamã voltou à presença de

Eliseu e pôs-se diante dele afirmando que agora sabia que o único e verdadeiro Deus era o de

Israel (v. 15) e instou que Eliseu recebesse como

expressão da sua gratidão todos os presentes que havia trazido consigo da Síria, mas o profeta

recusou recebê-los e permaneceu firme na sua

decisão apesar de Naamã ter insistido com ele

para que os recebesse (v. 15, 16).

Este testemunho da graça divina manifestado na recusa do profeta de receber algo em troca

pela cura, ainda que fosse em forma de gratidão,

reforçou em Naamã a certeza que havia somente um Deus verdadeiro, e que as nações

que têm muitos deuses, não servem a nenhum

Deus verdadeiro.

28

Ele veio então a fazer uma outra declaração na presença de Eliseu que atestava a genuidade da

sua fé e conversão, porque se dispôs a levar da

terra de Israel para a Síria, certamente para construir um altar no qual pudesse oferecer

sacrifícios Àquele que reconheceu como sendo

o único que era digno de recebê-los, porque estava determinado a nunca mais oferecer

holocausto nem sacrifico a outros deuses, senão

somente ao Senhor (v. 17).

Ele foi sincero ainda diante de Eliseu ao lhe dizer, não para justificar o que teria que

continuar fazendo na Síria, mas para que fosse apresentado pelo profeta por ele em intercessão

ao Deus de Israel, o fato de ter que acompanhar

o rei da Síria, na qualidade de um oficial do

reino, e não de um religioso devotado, nas ocasiões oficiais que ele tinha que comparecer

ao templo do deus sírio, Rimom.

Ele disse isto para demonstrar que não o faria para honrar o falso deus, pois sabia que só há um

único e verdadeiro Deus, a saber, o de Israel,

mas faria por conta de sua obrigação de honrar o rei de sua terra.

Assim, Naamã disse a Eliseu que esperava ser perdoado pelo Senhor quanto a este

constrangimento ao qual ele estaria obrigado a

fazer por conta do seu ofício.

29

O profeta, em sua sabedoria, não lhe impôs qualquer carga, nenhum tropeço àquele novo

convertido, dizendo-lhe apenas “vai em paz”,

como a dizer, a paz do Senhor será contigo apesar disto, pois, em sua experiência sabia a

quantos constrangimentos muitos servos de

Deus estão expostos neste mundo.

Nós pensamos por exemplo nos policiais que são obrigados a fazer segurança de casas noturnas, sendo verdadeiros crentes.

Eles devem cumprir a sua função enquanto se guardam de se contaminar com o pecado do

ambiente, que por força das circunstâncias, são

obrigados a vigiarem.

Como em toda conversão genuína o diabo

nunca se dá por satisfeito, enquanto não conseguir desviar o novo convertido da fé, quer

pelos ataques diretos que faz contra eles em

relação aos mandamentos de Deus, arrazoando

que os que servem ao Senhor não são em nada diferentes dos que são do mundo, despertou a

cobiça de Geazi, o moço de Eliseu.

Mas é possível Naamã tenha tido conhecimento posteriormente que Geazi ficara leproso, e que

fora dito por Deus pelo Seu profeta, que aquela lepra de Geazi era a mesma que estava

anteriormente nele, e que não estaria somente

em Geazi, mas em toda a sua descendência, de

30

modo que o testemunho do profeta

permaneceria verdadeiro, pelo fato de ter dito a

Naamã que não receberia nenhum dos seus

presentes porque esta era a vontade de Deus naquele caso.

Geazi mentiu em nome do próprio Eliseu, dizendo que por força das circunstâncias de

uma visita inesperada havia pedido a Naamã uma parte daqueles presentes que havia trazido

com ele.

Ele somente não pediu tudo, provavelmente, para não levantar qualquer tipo de desconfiança

no general sírio.

Mas, cobiçando herdar um dinheiro que o próprio Deus havia recusado porque estava em

jogo um bem muito mais precioso que era a

alma do próprio Naamã, Geazi acabou herdando

a lepra de Naamã e é bem possível que tenha ficado até mesmo sem os bens, porque

certamente Eliseu deve ter determinado que

tudo fosse devolvido ao seu legítimo dono.

“Ajuntar tesouros com língua falsa é uma vaidade fugitiva; aqueles que os buscam, buscam a morte.” (Pv 21.6).

Geazi cometeu o mesmo pecado de Ananias e Safira, que foi o de mentir em assuntos

envolvendo o nome de Deus, para obter

31

vantagem pessoal, escondendo a sua própria

cobiça, e achou com isto um juízo de morte.

32

A Serpente de Bronze Levantada

Por Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra

Eu pensei que a melhor maneira que eu

poderia expressar a minha gratidão a Deus, pelo sermão de número 1.500 a que chegamos, seria

pregar novamente Jesus Cristo, e apresentá-lo

em um sermão no qual o simples evangelho é

exposto tão simples como o alfabeto de uma criança. Espero completar a lista de 1500

sermões, com este que lhes prego agora, o

Senhor me dará uma palavra que vai ser mais

abençoada do que qualquer outra que a precedeu, para a conversão daqueles que a

ouçam ou a leiam. Que aqueles que estão

mergulhados nas trevas, porque eles não entendem a gratuidade da salvação e o método

fácil pelo qual pode ser obtida, são trazidos à luz

pela descoberta do caminho da paz por meio da

fé em Cristo Jesus. Desculpe este prelúdio, minha gratidão não iria deixar-me abster de

expressá-la.

Passemos agora ao nosso texto e à serpente de bronze. Se você procurar no Evangelho de João,

você vai notar que seu início contém uma espécie de lista ordenada de tipos tomados a

partir da Sagrada Escritura. Começa com a

criação. Deus disse: "Haja luz", e João começa por

33

afirmar que Jesus, o Verbo eterno, é "a luz

verdadeira que ilumina todo homem que vem

ao mundo." Antes de concluir seu primeiro

capítulo, João introduziu um tipo proporcionado por Abel, porque quando o Batista viu que

Jesus vinha para ele, disse: ". Eis o Cordeiro de

Deus que tira o pecado do mundo" E ele não terminou o primeiro capítulo antes de nos

lembrar da escada de Jacó, pois descobrimos

que nosso Senhor disse a Natanael: "vereis o Céu

aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem". Quando chegamos ao

terceiro capítulo, já temos avançado tão longe

como o fez Israel no deserto, e lemos as palavras

de alegria, "E como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do

Homem seja levantado, para que todo aquele

que nele crê não pereça, mas tenha a vida

eterna. "

Vamos falar hoje sobre este ato de Moisés, para que todos nós, possamos contemplar a serpente

de bronze e comprovar que a promessa é

verdadeira, "Qualquer um que for mordido e

olhar para ela, viverá." Pode ser que vocês, que a tenham olhado antes, obtenham um novo

benefício ao olharem para ela novamente,

enquanto alguns que nunca voltaram seus olhos

nessa direção, possam olhar firmemente o Salvador levantado, e poderem ser salvos do

veneno abrasador da serpente neste dia,

desse veneno mortal do pecado que agora se

34

esconde em sua natureza, e que gera morte em

suas almas. Que o Espírito Santo faça que esta

palavra seja eficaz para esse fim misericordioso.

I. Lhes convido para analisarem o tema, primeiro, vendo a PESSOA em perigo mortal,

para o qual a serpente de bronze foi feita e levantada. Nosso texto diz: "E quando alguma

serpente mordia alguém, olhava para a serpente

de bronze, e vivia."

Notemos em primeiro lugar, que as serpentes abrasadoras chegaram em meio do

povo, porque esse povo tinha desprezado o

caminho de Deus e do pão de Deus. "E o povo ficou desanimado pelo caminho." Era o caminho

de Deus, Ele o tinha escolhido para eles, e tinha

escolhido em sabedoria e misericórdia, mas

eles murmuraram contra o caminho. Como afirma um velho teólogo, "Era longo e solitário",

mas mesmo assim, era o caminho de Deus e,

portanto, não era para ser desagradável:

Sua coluna de fogo e de nuvem ia adiante deles, e seus servos Moisés e Arão os levou como um

rebanho, e deveriam haver-lhes seguido

alegremente. Cada passo de sua jornada tinha

sido previa e corretamente ordenado, e deveriam ter estado extremamente seguros de

que esse desvio da terra de Edom, foi também

ordenado corretamente.

35

Mas não, eles brigaram com o caminho de Deus

e queriam seguir o seu próprio caminho. Esta é

uma das loucuras permanentes dos homens: não podem simplesmente esperar no Senhor e

seguirem o seu caminho, mas preferem uma

vontade e um caminho próprios.

O povo também discutiu com o alimento de Deus. Ele lhes forneceu o melhor dos melhores,

porque "pão de nobres comeu o homem", mas se

referiram ao maná com um título infamante, que em hebraico contém um sentido de

ridículo, e até mesmo em nossa tradução

transmite a ideia de desprezo. Eles disseram:

"Nossa alma abomina este pão vil" como o considerando inútil e útil apenas para inflá-los,

porque era de fácil digestão, e não produzia

neles esse calor do sangue e a tendência às

doenças que uma dieta mais pesada teria produzido.

Estando insatisfeitos com o seu Deus, eles discutiram com o pão que ele colocou em sua

mesa, embora superasse qualquer outro que o mortal, houvesse comido, antes ou depois.

Esta é a obra da insensatez do homem, seu

coração se recusa a se alimentar da palavra de

Deus ou crer na verdade de Deus. O homem aprecia o alimento da carne e da razão carnal, os

alhos da tradição supersticiosa, e os pepinos da

especulação. E não pode tolerar que sua mente

36

se rebaixe para crer na Palavra de Deus, ou

aceitar uma verdade tão simples, tão adequada à

capacidade de uma criança.

Muitas pessoas exigem algo mais profundo que o divino, mais profundo do que o infinito, mais

liberal do que a graça imerecida. Brigam com o

caminho de Deus, e com o pão de Deus, e por isso se apresentam entre eles as serpentes

ardentes da concupiscência maligna, e da

soberba do pecado.

Eu poderia estar me dirigindo a algumas pessoas que até agora têm brigado com os

preceitos e doutrinas do Senhor, e eu

afetuosamente quisera lhes advertir que sua

desobediência e presunção levarão ao pecado e ao desespero. Os rebelde contra Deus são

propensos a se tornarem cada vez piores. As

modas e correntes do pensamento encorajam os vícios e os crimes do mundo. Se desejamos os

frutos do Egito, em breve teremos de enfrentar

as cobras do Egito. A consequência natural de

nos voltarmos contra Deus, como serpentes, é encontrar serpentes que aparecem no nosso

caminho. Se abandonamos o Senhor em espírito

ou na doutrina, a tentação porá uma emboscada

em nosso caminho e o pecado morderá nossos pés.

Eu lhes peço que observem cuidadosamente que aqueles para quem a serpente de bronze foi

37

levantada especialmente, já haviam sido

mordidas pelas serpentes. O Senhor enviou

serpentes abrasadoras àquelas pessoas, porém

não foi porque as serpentes estavam entre eles que ordenou o levantamento de uma serpente

de bronze, mas porque as cobras realmente lhes

haviam mordido, o que O levou a prescrever um remédio. "E quem foi mordido e olhar para ela,

viverá." As únicas pessoas que realmente

olharam e tiveram o benefício da cura

maravilhosa levantado no meio do acampamento foram aqueles que haviam sido

mordidos pelas serpentes.

A noção comum é que a salvação é que a salvação é para pessoas boas, que a salvação é para aqueles que lutam com a tentação, que a

salvação é para aqueles que estão

espiritualmente saudáveis, mas quão diferente

é a palavra de Deus. O remédio de Deus para os enfermos e Sua saúde é para aqueles que sofrem

doenças. A graça de Deus dada por meio da

expiação de nosso Senhor Jesus Cristo, é para os

homens que são efetiva e realmente culpados.

Não pregamos uma salvação sentimental de uma culpa imaginária, mas um perdão real e

verdadeiro de ofensas reais. Eu não me importo

nada com supostos pecadores, que nunca fizeram nada de errado, que são tão bons

interiormente que estão perfeitamente bem,

não tenho nada a ver com vocês, porque eu sou

38

enviado para pregar Cristo para aqueles que

estão cheios de pecado, e são dignos da ira

eterna. A serpente de bronze era um remédio

para aqueles indivíduos que tinham sido realmente mordidos.

Que coisa terrível é ser mordido por uma cobra peçonhenta! Ouso dizer que alguns de vocês se

lembram do caso de Gurling, um dos guardiões dos répteis do zoológico. O incidente ocorreu

em outubro de 1852, e, portanto, alguns de vocês

podem lembrar. Este homem infeliz estava

prestes a dizer adeus a um amigo que estava viajando para a Austrália, segundo o costume de

muitos, tinha de beber com o amigo. Ele bebia

grandes quantidades de gin, mas

provavelmente teria ficado muito bravo se alguém tivesse dito que ele estava bêbado, no

entanto, razão e bom senso, obviamente,

tinham sido submetidos. Ele retornou ao seu

posto no zoológico num estado de excitação. Alguns meses antes tinha visto uma exibição de

encantadores de serpentes, que ainda

permaneciam em seu pobre

cérebro estupefato. Devia imitar os egípcios, e brincar com cobras. Primeiro tirou da sua gaiola

uma cobra venenosa de Marrocos, que colocou

em volta do pescoço, e deixou-a enroscar-se

em seu corpo. Felizmente para ele, não acordou o suficiente para mordê-lo. O guarda

assistente gritou: "Por Deus, solte a cobra", mas

o tolo respondeu: "Eu estou inspirado." Esta

39

serpente letal estava um pouco letárgica por

causa do frio da noite anterior e, portanto, o

imprudente a colocou em seu peito até que ela

se reanimou, e deslizou para baixo e sua cabeça saiu na parte traseira do seu colete. Ele tentou

segurá-la pela cauda para girá-la em torno de

sua cabeça. Ele a segurou por um instante contra a sua face, e como o relâmpago, a cobra o

mordeu no meio dos olhos. O sangue correu em

torrentes pelo seu rosto, e pediu ajuda, mas seu

companheiro fugiu horrorizado e, segundo declarou ao júri, não sabia quanto tempo esteve

ausente, porque ficou 'perplexo'. Quando a ajuda

chegou, Gurling estava sentado numa cadeira,

depois de ter colocado a serpente na gaiola. Ele disse: "Sou um homem morto". Eles o colocaram

numa carruagem e o levaram para o hospital.

Primeiro perdeu a fala e só podia gemer, então a

visão lhe falhou, e perdeu a audição. Sua taxa de pulso diminuía gradualmente, e dentro de uma

hora a partir do momento que ele tinha sido

mordido, era um cadáver. Só havia uma

pequena marca na ponta do seu nariz, mas o veneno se espalhara pelo seu corpo, e morreu.

Conto essa história para usá-la como uma parábola e aprendam a não brincarem com o

pecado, e também para apresentar vividamente

para vocês no que consiste ser mordido por uma cobra. Suponham que Gurling pudesse ter sido

curado se ele tivesse olhado para uma peça de

bronze, não teria sido uma boa notícia para ele?

40

Não havia nenhum remédio para essa pobre

criatura orgulhosa, porém há um remédio para

vocês. Jesus Cristo foi levantado na cruz para

que os homens que foram mordidos pelas serpentes venenosas do pecado: não somente

para vocês que ainda estão brincando com a

serpente, não somente para vocês que a têm abrigado em seus peitos, sentindo-a deslizar

sobre a sua pele, mas para vocês que foram

realmente mordidos e estão mortalmente

feridos. Se alguém é mordido de tal forma, que se enferme pelo pecado, e sente o

mortífero veneno em seu sangue, Jesus está

exposto hoje para ele. A graça soberana fornece

um remédio, mesmo para os casos considerados extremos.

A mordida da serpente era dolorosa. O texto bíblico nos informa que essas cobras eram

"abrasadoras", que pode se referir, talvez, à sua

cor, mas mais provavelmente se refere aos efeitos de queima de seu veneno. Esquentava e

acendia o sangue de tal forma que cada veia se

tornava um rio fervente e crescido pela

angústia. Em alguns homens o veneno de víboras que chamamos de pecado, tem

inflamado suas mentes. Eles estão inquietos,

insatisfeitos e cheios de medo e de ansiedade.

Escrevem sua própria condenação, eles têm certeza de que estão perdidos, e recusam todas

as boas notícias de esperança. Não conseguimos

que prestem uma atenção calma e sóbria para a

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mensagem da graça. O pecado produz neles tal

terror, e eles se dão como mortos. Em sua

própria compreensão são, como disse David,

"Deixados entre os mortos, como os mortos à espada que jazem no sepulcro, dos quais você

não se lembra agora." A serpente de bronze foi

levantada para os homens mordidos pelas serpentes ardentes, e Jesus é pregado aos

homens envenenados de fato pelo pecado. Jesus

morreu por aqueles que se encontram

totalmente desesperados: por aqueles que não conseguem pensar retamente, por aqueles

cujas mentes são agitadas de cima para baixo,

por aqueles que já estão condenados. Foi pelos

tais que o Filho do homem foi levantado na cruz. Que coisa tão confortável é que possamos dizer-

lhes isso.

A picada dessas serpentes era, como eu lhes disse, mortal. Os israelitas não poderiam ter qualquer dúvida sobre isso, porque em sua

própria presença "muita gente de Israel

morreu." Viram morrer pelas picadas das

cobras, seus próprios amigos e até ajudaram a enterrá-los. Eles sabiam por que eles morreram

e tinham certeza de que era porque o veneno das

cobras ardentes corria pelas suas veias. Eles não

tinham nenhuma desculpa para imaginarem que poderiam ser mordidos e ainda viverem.

Agora, sabemos que muitos têm perecido como resultado do pecado. Nós não temos nenhuma

42

dúvida sobre o que o pecado vai fazer, pois a

palavra infalível nos ensina que "o salário do

pecado é a morte", e também que "o pecado,

sendo consumado, gera a morte." Sabemos também que esta morte é uma miséria sem fim,

pois a Escritura descreve os perdidos como

sendo lançados nas trevas exteriores ", onde o seu verme não morre e o fogo não se apaga".

Nosso Senhor fala dos condenados que irão para

o castigo eterno, onde haverá choro e ranger de

dentes. Nós não temos nenhuma dúvida sobre isso, e a maioria daqueles que duvidam disso,

são aqueles que temem que será a sua própria

porção, eles sabem vão descer à dor eterna e,

portanto, tentam fechar os olhos para a sua condenação inevitável.

Oh, quão terrível é encontrar bajuladores no púlpito para incentivar o seu amor ao pecado

tocando a mesma melodia. Nós não estamos em sua classe. Acreditamos no que o Senhor tem

dito com toda a solenidade de terror, e,

conhecendo os terrores do Senhor, procuramos

persuadir os homens a fugirem disso.

Todavia era para os homens que tinham experimentado a mordida mortal, para os

homens sobre cujos rostos pálidos a morte

começou a colocar o seu selo, para os homens cujas veias estavam queimando com esse

terrível veneno da serpente. Foi para eles que

Deus disse a Moisés, "Faça uma serpente

43

ardente, e põe-na sobre uma haste, e qualquer

que tenha sido mordido e olhar para ela, viverá."

Não há nenhum limite fixado para o grau de envenenamento, não importa o quanto ele tenha avançado, o remédio ainda teria poder. Se

uma pessoa tivesse sido mordida um instante

antes, e ainda que tenha visto apenas algumas

gotas brotando, e somente sentiu um pouco de dor, poderia olhar e viver, e se tivesse esperado,

infelizmente esperado, ainda por meia hora, e

fala lhe faltasse, e o pulso ficasse enfraquecido,

mas se pudesse olhar, viveria imediatamente. Não havia limites para o poder deste remédio

divinamente ordenado.

A promessa não continha uma cláusula condicional: "Qualquer um que for mordido e olhar para ela, viverá", e nosso texto nos diz que

a promessa de Deus foi aplicada em cada caso,

sem exceção, pois lemos: "E quando uma

serpente mordia alguém, olhava para a serpente de bronze, e vivia ". Assim, então, eu descrevi a

pessoa que estava em perigo mortal.

II. Em segundo lugar, consideremos o remédio fornecido para essa pessoa. Este era tão singular com efetivo. Foi puramente de origem divina, e

é claro que a sua invenção, e capacitação foram

inteiramente de Deus.

44

Não havia remédio algum para as picadas das

serpentes de fogo no deserto, exceto aquele que

Deus havia fornecido, e à primeira vista, esse remédio deve ter parecido loucura. Um simples

olhar sobre a figura de uma serpente sobre uma

haste! Quão improvável era que funcionasse!

Como e por que meios poderia se efetuar uma cura por simplesmente olhar para uma peça de

bronze retorcida? Parecia, de fato, que era quase

uma piada convidar os homens a olharem aquilo que tinha causado a sua desgraça. Por acaso se

poderia curar a mordida de uma cobra, olhando

para uma serpente? Traria vida aquilo que

causou a morte? Porém, é nisto que residia a excelência do remédio, que era de origem

divina, pois quando Deus ordena uma cura, está

obrigado, por esse mesmo fato, a colocar uma

força nela. Ele não conceberia um fracasso, ou prescreveria um escárnio. A nós sempre nos

bastará saber que Deus ordena um modo de

bênção para nós, pois se Ele ordena, tem que se

cumprir o resultado prometido. Não necessitamos saber como funcionará,

basta-nos que a poderosa graça de Deus esteja

empenhada em fazer o bem às nossas almas.

Este remédio particular de uma serpente levantada numa haste era muito instrutivo,

embora eu não ache que Israel teria entendido.

Nós temos recebido o ensinamento de nosso

45

Senhor e sabemos o seu significado. Se tratava

de uma serpente enrolada numa haste. E assim

como tomarias uma haste pontiaguda para

perfurar a cabeça de uma cobra para matá-la, de igual modo a serpente de bronze foi mostrado

como estando morta e pendurada sem vida à

vista de todos. Era a imagem de uma cobra morta.

É a maravilha das maravilhas que o nosso Senhor Jesus Cristo se rebaixou ao ser

simbolizado por uma cobra morta. A instrução

para nós, depois de ler o Evangelho de João, é esta: o nosso Senhor Jesus Cristo, em

humilhação infinita, se dignou a vir ao mundo, e

concordou em se fazer maldição para nós. A

serpente de bronze não teria veneno em si, mas tomou a forma de uma serpente ardente. Cristo

não é um pecador, e não há pecado nele, mas a

serpente de bronze tinha a forma de uma

serpente, e da mesma maneira, Jesus foi enviado por Deus "à semelhança da carne do

pecado". Ele veio sob a lei, e o pecado Lhe foi

imputado, e, portanto, caiu sob a ira e maldição

de Deus por nossa causa. Em Cristo Jesus, se você olhar para a cruz, você vai ver que o pecado

é mortalmente ferido e pendurado como uma

cobra morta, também ali a morte é vencida,

porque "Jesus Cristo ... aboliu a morte e trouxe à luz a vida e a imortalidade" : e ali também a

maldição é para sempre cancelada porque Ele a

carregou, sendo "feito maldição por nós (porque

46

está escrito: Maldito todo aquele que for

pendurado no madeiro)." Então, estas serpentes

são pendurados na cruz como um espetáculo

para todos os espectadores, todas mortas por nosso Salvador agonizante. O pecado, a morte e

a maldição agora são como serpentes mortas.

Oh, que visão! Se pudessem vê-lo, que prazer lhes proporcionaria. Se os hebreus tivessem

compreendido o significado desta cobra morta

pendurada numa haste, lhes haveria profetizado o quadro glorioso a nossa fé

contempla neste dia: Jesus sacrificado, e o

pecado, a morte e o inferno mortos nEle. Então

o remédio que devia ser contemplado era sumamente instrutivo, e sabemos que a

instrução foi concebido para nos ser

comunicada.

Não se tratava apenas de se olhar para uma serpente de bronze, porque era necessário ter fé

que aquele remédio estranho provido por Deus,

seria realmente o suficiente para livrar da morte da picada mortal. Os que desconfiassem da

eficácia do remédio, pela sua simplicidade, e

não olhassem para a serpente de bronze,

morreriam. E assim, também morrerão eternamente, todos aqueles, que estando

feridos pela picada mortal do diabo e do pecado,

se recusam a olhar para o Cristo crucificado.

47

Assim, a instrução a ser comunicada aos pecadores, pela figura da serpente de bronze, é

a de que Deus os livra da morte por se ter fé, que

simplesmente olharem para o Cristo que foi levantado e morto na cruz, os salva da própria

morte eterna deles, porque Ele destruiu o

veneno do pecado, a maldição e perfurou a cabeça da velha serpente, o diabo, quando

morreu por nós na cruz.

Lembre-se que em todo o acampamento de Israel não havia senão apenas um remédio para a picada de cobra, e que remédio era a serpente

de bronze, e só havia uma serpente de bronze,

não duas. Israel não podia fazer outra. Se eles

fizessem uma segunda serpente, não teria nenhum efeito: havia uma cobra, e apenas uma,

a que foi erguida no centro do acampamento, de

modo que se alguém foi mordido por uma cobra

poderia olhá-la e viver.

Há um Salvador e somente um. Não há outro nome debaixo do céu dado entre os homens

pelo qual possamos ser salvos. Toda a graça está concentrada em Jesus, de quem, lemos:

"aprouve ao Pai que, nele, residisse toda a

plenitude." Cristo suportou a maldição e acabou

com a maldição, Cristo foi ferido no calcanhar pela velha serpente, mas esmagou a cabeça da

serpente: é somente Cristo que devemos olhar,

se queremos viver. Oh pecador, olha para Jesus

48

na cruz, pois Ele é o único remédio para todas as

formas de feridas envenenadas de pecado.

Havia apenas uma serpente curadora, e esta era resplandecente e brilhante. Era uma serpente

de bronze, e bronze é um metal brilhante. Foi

um bronze forjado e, portanto, não estava

obscurecido, e sempre que o sol brilhava, refletia um brilho que vinha da serpente.

Poderia ter sido uma cobra feita de madeira ou

qualquer outro metal, se Deus tivesse ordenado

isso, mas ele ordenou que ela deveria ser de bronze, para que estivesse cheia de brilho.

Que grande brilho há em nosso Senhor Jesus Cristo! Se simplesmente o expusermos em seu

próprio metal verdadeiro, é brilhante aos olhos dos homens. Se pregamos simplesmente o

evangelho, e não pensamos em decorá-lo com

nosso pensamento filosófico, veremos que há suficiente brilho em Cristo para captar o olho do

pecador, e realmente chama a atenção de

milhares de pessoas. O Evangelho Eterno brilha

de longe, na pessoa de Cristo. Assim como o estandarte de bronze refletia a luz solar, assim

também Jesus reflete o amor de Deus pelos

pecadores, e vendo-O, olham pela fé e vivem.

Além disso, este remédio era duradouro. Era uma serpente de bronze, e suponho que

permaneceu no meio do acampamento desde

aquele dia. Foi inútil depois que Israel entrou

49

em Canaã, mas enquanto no deserto,

provavelmente foi exibida no centro do

acampamento, perto da porta do tabernáculo,

sobre um estandarte elevado. No alto e aberta a todos os olhos, pendia essa imagem de uma

serpente morta: a cura perpétua para o veneno

de serpentes. Se tivesse sido feita a partir de outros materiais, poderia ter-se quebrado, ou

poderia ter sido destruída, mas uma serpente de

bronze duraria enquanto as serpentes

abrasadoras importunassem o acampamento no deserto. Quando um era mordido, ali estava a

serpente de bronze para curá-lo.

Que conforto é este, que Jesus ainda salva perpetuamente a todos os que por Ele se

aproximam de Deus, vivendo sempre para interceder por eles. O ladrão moribundo viu o

brilho da serpente de bronze, quando ele olhou

para Jesus pendurado ao seu lado, e foi salvo, e

assim como você e eu podemos olhar e viver, porque "Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e

pelos séculos dos séculos. "

"Minha cabeça desfalecida e meu coração fraco doente,

Ferido, todo machucado,

Eu sinto o aguilhão ardente de Satanás

Envenenado com o orgulho do inferno:

50

Mas se à beira da morte,

Dirijo meus olhos para o alto,

Eu vejo Jesus levantado,

E eu vivo por Ele, que morreu por mim. "

Espero que não obscurecer o meu tema com estas figuras. Eu não quero fazer isso,

mas apresentá-los claramente. Para todos os

que sejam realmente culpados, para todos os que foram mordidos pela serpente, o remédio

certo é olhar para Jesus Cristo, que tomou sobre

si os nossos pecados e morreu no lugar do

pecador ", “Aquele que não conheceu pecado, se fez pecado por nós, para que fôssemos

feitos justiça de Deus nele. " O único remédio de

vocês está em Cristo e em nenhum outro lugar.

Olhem para Ele e sejam salvo.

III. Somos levados a considerar agora, em terceiro lugar, a aplicação do remédio ou o elo entre o homem mordido pela serpente e a

serpente de bronze iria curá-lo. Qual era o

vínculo? Era o tipo mais simples imaginável. A

serpente de bronze poderia ser levada pela ordem de Deus, aonde estava o enfermo pela

picada, mas não foi assim.

O remédio poderia ter sido aplicado por fricção: poderia se esperar que o mordido fizesse

alguma forma de oração repetitiva, ou que o

51

sacerdote realizasse uma cerimônia, porém não

havia nada disso, o enfermo somente deveria

olhar.

Foi bom que a cura fosse tão simples, porque o perigo era generalizado. As picadas de cobras

foram dadas de diversas maneiras: um homem

poderia estar recolhendo madeira, ou apenas caminhando nos arredores, e era mordido.

Mesmo agora, no deserto, as cobras são

perigosas. O Sr. Sibree comentou que uma

ocasião ele viu o que parecia ser uma pedra redonda, muito bem marcada. Ele estendeu a

mão para pegá-la, quando, para seu horror,

descobriu que era uma serpente viva que estava

enrolada.

Durante todo o dia, quando as serpentes abrasadoras foram enviadas entre eles, os

israelitas deviam ter estado em perigo. Em suas camas e quando comiam em suas tendas e

quando saíam, eles foram expostos ao perigo.

Essas cobras são chamadas por Isaías "serpentes

voadoras", não porque elas realmente voem, mas porque eles se enrolam e, de repente,

saltam até alcançarem uma altura considerável,

e um homem pode ser surpreendido e atacado a

perna enquanto ele ainda está além do alcance destes répteis malignos.

O que um homem deveria fazer? Não teria nada a fazer, senão ficar de fora da porta da sua tenda,

52

e olhar onde brilhava longe, o fulgor da serpente

de bronze, e no momento que ele olhava ficava

curado. Não teria que fazer nada, senão apenas

olhar, não era necessário nenhum sacerdote ou água santa ou de um abracadraba ou livro de

oração, ou qualquer outra coisa, exceto uma

olhada.

Um bispo da Igreja Romana disse a um dos primeiros reformadores, quando ele pregou a

salvação pela fé simples: "Oh senhor abra este

portão para o povo e nós estaremos arruinados." E arruinados, estão, de fato, pois o negócio e o

comércio do sacerdócio estariam acabados para

sempre, se os homens simplesmente

confiassem em Jesus para viverem.

E é assim. Creiam nEle, pecadores, pois este é o significado espiritual de olhar, e imediatamente

o seu pecado é perdoado, e ainda mais, o seu poder mortal deixa de operar dentro do seu

espírito. Há vida em olhar para Jesus. Não é tão

simples?

Mas, por favor, note como era estritamente pessoal. Um homem não poderia ser curado por

qualquer coisa que alguém fizesse por ele. Se ele

foi mordido por uma cobra e se recusou a olhar

para a serpente de bronze, e havia se recolhido para a cama, nenhum médico poderia ajudá-lo.

Uma piedosa mãe poderia se ajoelhar e orar por

ele, mas não adiantaria. As irmãs poderiam vir e

53

implorar-lhe, pastores poderiam ser chamados

para orarem para que o homem pudesse viver,

mas morreria, apesar de suas orações, se não

olhasse para a serpente de bronze.

Havia somente uma esperança para sua vida: deveria olhar a serpente de bronze. É

exatamente o mesmo com você. Alguns me escreveram me pedindo para orar por eles:

assim o tenho feito, porém não seria de nenhum

uso a não ser que você mesmo creia em Jesus

Cristo. Não há sob as abóbadas do céu, nem no céu, nenhuma esperança para qualquer um de

vocês, a menos que você creia em Jesus Cristo.

Seja você quem for, por mais mordido que esteja pela serpente, e por mais que esteja próximo da morte, se olhar para o Salvador, viverá, mas se

não fizer isso, você deve ser condenado, tão

certo como você vive. No último grande dia, vou

testemunhar contra você, porque lhe disse direta e claramente. "Aquele que crer e for

batizado será salvo, mas o que não crer será

condenado." Não há nenhuma outra ajuda para

isso, você pode fazer o que quiser: unir-se à igreja que você escolher; tomar a Ceia do

Senhor, se batizar, aplicar-se severas

penitências, ou entregar todos os seus bens para

sustento dos pobres, todavia você é um homem perdido a menos que você olhe para Jesus, pois

Ele é o único remédio, e até mesmo o próprio

Jesus Cristo não pode salvá-lo, a menos que você

54

olhe para Ele. Não há nada em Sua morte que lhe

salve, nada em sua vida que lhe salve, a menos

que você confie nEle. Se resume a isto: você deve

olhar, e olhar para si mesmo.

Então, também, é muito instrutivo. O que significa esse olhar? Isso significa o seguinte: a

autoajuda deve ser abandonada e tem que se

confiar em Deus. O homem ferido diria:.! "Eu não

devo ficar aqui olhando a minha ferida, porque isso não me salvaria.

Vejo onde a cobra me atacou, o sangue está fluindo, tingido de negro pelo veneno. Como

arde e incha. Meu coração desfalece. Mas todas

essas considerações não me aliviarão. Devo olhar para longe, a serpente de bronze que foi

levantada. " É inútil olhar qualquer outro lugar,

exceto ao único remédio ordenado por Deus.

Os israelitas devem ter compreendido isto: que Deus requer que confiemos nele, e que

utilizemos este instrumento de salvação. Devemos fazer conforme o que nos ordene, e

confiar que Ele vai operar a nossa cura, e se não

fizermos isso, nós morremos eternamente.

Esta forma de cura tinha a intenção de que magnificassem o amor de Deus, e atribuíssem a sua saúde inteiramente à graça divina. A

serpente de bronze não foi apenas uma figura,

como já comentei, que mostra que Deus tira o

55

pecado ao aplicar a Sua ira em Seu Filho, senão

que foi uma demonstração do amor divino. E eu

sei disso porque o próprio Jesus disse: "Como

Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado ...

Porque Deus amou o mundo de tal maneira que

deu o seu Filho unigênito"; afirmando claramente que a morte de Cristo na cruz foi

uma demonstração do amor de Deus aos

homens, e qualquer que olhar para esta

exposição muito grande do amor de Deus ao homem, isto é, Sua entrega de seu Filho

unigênito para se tornar uma maldição,

certamente viverá.

Agora, quando um homem era curado ao olhar para a serpente, não poderia dizer que ele

tinha curado a si mesmo, pois ele apenas olhou

e não havia qualquer poder no seu próprio olhar.

Um crente não pode reivindicar qualquer mérito ou honra, por causa de sua fé. A fé é uma

graça nega o ego, de maneira que nunca venha

a jactar-se. Onde está o grandioso crédito de crer

simplesmente na verdade, e humildemente confiar em Cristo para nos salvar? A fé glorifica

a Deus, e assim nosso Senhor a tem escolhido

como o instrumento da nossa salvação.

Se um sacerdote tivesse se aproximado e tocado o homem mordido, este poderia atribuir alguma

honra ao sacerdote, mas como não havia

nenhum sacerdote envolvido no caso, como não

56

havia necessidade de qualquer coisa exceto

olhar para a serpente de bronze, o homem era

levado à conclusão de que o amor e o poder de

Deus lhe haviam curado.

Eu não sou salvo por qualquer coisa que tenha

feito, senão pelo que o Senhor fez. Deus quer que todos nós cheguemos a essa conclusão, todos

temos que confessar que se somos salvos, é pela

graça gratuita, rica, soberana e imerecida, mostrada na pessoa de Seu Filho amado.

IV. Dê-me um momento quanto ao quarto tópico, que é A CURA EFETUADA. O texto nos

informa que "quando uma serpente mordia

alguém, olhava para a serpente de bronze, e

vivia", ou seja, era curado imediatamente. Não teria que esperar cinco minutos ou cinco

segundos.

Caro ouvinte, você já ouviu isso antes? Se não tinha ouvido falar, poderia ficar surpreendido,

mas é verdade. Se você tem vivido no pecado

mais negro possível, até este momento, mas se você agora crer em Jesus Cristo será salvo antes

de o relógio bater o seu próximo tic-tac. Isto é

realizado com a velocidade de um relâmpago, o

perdão não é um trabalho de tempo. A santificação requer uma vida inteira, mas a

justificação não precisa mais do que de um

instante. Se você crê, você vive. Se você confiar

57

em Cristo, seus pecados desaparecem, e você é

um homem salvo no instante em que crê.

"Oh", dirá alguém - "isso é uma maravilha." É uma maravilha, e continuará sendo uma

maravilha por toda a eternidade. Os milagres de

nosso Senhor quando estava na terra, foram em

sua maioria instantâneos. Ele os tocava e os que padeciam de febre eram capazes de se levantar

e servirem-no. Nenhum médico poderia curar

uma febre dessa maneira, pois gera uma

fraqueza quando o calor da febre diminuiu. Jesus opera curas perfeitas, e quem nele crê,

ainda que tenha crido um só minuto, é

justificado de todos os seus pecados. Oh, a graça

incomparável de Deus!

Este remédio curava uma e outra vez. Muito possivelmente, depois que um homem tinha

sido curado, poderia voltar ao trabalho, e ser atacado por uma segunda serpente, pois

havia ninhadas delas em todos os lugares. O que

deveria fazer? Bem, olhar novamente, e se ele

fosse ferido mil vezes, tinha que olhar mil vezes.

Você, querido filho de Deus, se tem pecado contra a sua consciência, olhe para

Jesus. A maneira mais saudável de viver onde

abundam as serpentes, é nunca tirar o olho da serpente de bronze. Ah, vocês víboras, podem

morder se quiserem, pois enquanto que meu

olho estiver pregado na serpente de bronze, eu

58

desafio suas presas e seus sacos de veneno, pois

tenho um remédio permanente operando

dentro de mim. A tentação é vencida pelo

sangue de Jesus. "Esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé."

Esta cura era universalmente eficaz para todos os que a usaram. Não houve nenhum caso em

todo o acampamento de Israel, de um homem

que tivesse olhado a serpente de bronze e tivesse morrido, e nunca haverá qualquer caso

de um homem que olhe para Jesus, e permaneça

sob condenação. O crente deve ser salvo.

Algumas das pessoas devem ter olhado a uma longa distância. A haste com a serpente de

bronze não poderia estar à mesma distância de

todos, todavia, desde que pudessem vê-la,

curava a todos, tanto os que estavam perto quanto os que estavam longe.

Tampouco importava se os seus olhos eram fracos. Nem todos os olhos teriam a mesma

capacidade de visão, mas se olharam, viveram.

Talvez o homem não podia discernir a forma da cobra quando olhava. "Ah", disse para si mesmo: "Eu não posso discernir os contornos da

serpente de bronze, mas eu posso ver o brilho do

metal", e viveu.

Oh, pobre alma, talvez não possas ver totalmente a Cristo, nem todas as suas belezas e

59

riquezas de Sua graça, mas se você pode ver que

Ele se fez pecado por nós, viverás. Se você disser:

"Senhor, eu creio, ajuda minha incredulidade:"

Sua fé lhe salvará, um pouco de fé vai lhe proporcionará um grande Cristo, e você

encontrará a vida eterna nEle.

Assim, tentei descrever a cura. Oh, que o Senhor possa opera essa cura em cada pecador que nos

ouve agora. Peço-lhe que o faça.

É um pensamento agradável que se olhassem

aquela serpente de bronze, sob qualquer tipo de luz, viviam. Muitos a contemplaram no brilho do

meio dia, e viam seus contornos reluzentes, e

viviam, mas não me surpreenderia que alguns

foram mordidos durante a noite, e a luz da lua apareceu e olhavam para cima e viviam. Talvez

fosse uma noite escura e tempestuosa, e não

havia nenhuma estrela visível. A tempestade ribombava nas alturas, e das nuvens se

desprendiam os relâmpagos. Pelo brilho desta

luz repentina, o moribundo via a serpente de

bronze, e pelo único instante em que a viu, vivia. Da mesma forma, um pecador, se sua alma está

envolvida na tempestade, e se a nuvem mostra

um único raio de luz, olhe para Jesus Cristo com

a ajuda dos raios e viva.

V. Concluo com este último ponto de reflexão: Há aqui uma lição para aqueles que amam o seu

Senhor. O que devemos fazer? Devemos

60

imitamos Moisés, cuja responsabilidade era

colocar a serpente de bronze em uma haste. É,

portanto, sua responsabilidade como a minha

levantar o Evangelho de Jesus Cristo para que todos possam vê-Lo. Tudo o que Moisés teria

que fazer era colocar a serpente de bronze à

vista de todos. Ele não disse: "Aarão, traga o seu incensário, e traz contigo muitos sacerdotes, e

formem uma nuvem de incenso." Ele não disse

"Eu mesmo vou usar o meu traje de legislador, e

eu estarei lá." Não, Moisés não tinha nada a ver com o que era pomposo e cerimonial. Somente

tinha que mostrar a serpente de bronze e deixá-

la descoberta e disponível ao olhar de todos. Ele

não disse: "Aarão traga aqui um manto de ouro e envolve a serpente em linho fino azul e

escarlate." Um ato assim teria sido, certamente

contrário às suas ordens. Ele deveria manter a

serpente descoberta. Seu poder estava em si, e não o que a rodeava. O Senhor não lhe disse para

pintar a haste e decorá-la com as cores do arco-

íris. Oh, não. Qualquer haste serviria. Os

moribundos não necessitavam ver a haste, eles precisavam apenas de ver a serpente. Eu diria

que ele fez uma haste nítida, porque a obra de

Deus deve ser feito com decência, mas ainda

assim, a serpente era tudo que eu tinha para ser olhado.

Isso é o que temos que fazer com nosso Senhor. Temos que pregamos a Cristo, ensiná-lo, e

torná-lo visível para todos. Não devemos Lhe

61

ocultar com os nossos intentos de envolvê-lO

com a eloquência e o conhecimento. Temos que

acabar com a haste polida da eloquência,

e aqueles pedaços de carmesim e azul, na forma de frases grandiosas e estrofes poéticas. Tudo

deve ser feito para que Cristo possa ser visto, e

não deve ser tolerado nada que o oculte.

Moisés pode ir para casa e se deitar uma vez que a serpente está levantada. Tudo o que é

necessário é que a serpente de bronze esteja

visível tanto de dia como de noite. O pregador pode se ocultar a tal ponto que ninguém saiba

quem ele é, pois, se expuser a Cristo, é melhor

que não se interponha.

Agora, vocês, mestres, ensinem a Jesus a seus filhos. Mostrem a eles a Cristo crucificado.

Mantenham a Cristo diante deles. Vocês que são

jovens e intentam pregar, não tentem faze-Lo de maneira grandiosa. A verdadeira grandeza da

pregação consiste em que Cristo seja

grandiosamente exibido nela. Não é necessária

qualquer outra grandeza. Mantenham o ego em segundo plano, porém coloquem Jesus Cristo no

meio do povo, evidentemente crucificado entre

eles. Ninguém, senão Jesus. Ele deve ser a suma

e a substância de todos os seus ensinamentos.

Alguns de vocês têm olhado a serpente de bronze, eu sei, e têm sido curados, porém, o que

têm feito com a serpente de bronze desde

62

então? Não têm vindo à frente para confessarem

a sua fé e se juntar à igreja. Não têm falado com

ninguém sobre a sua alma. Colocaram a

serpente de bronze em um baú e a esconderam. Isso é correto? Tirem-na e a coloquem numa

haste. Preguem a Cristo e Sua salvação. A

intenção nunca foi que fosse tratado como uma curiosidade de museu, o objetivo é que seja

exibido nas ruas para que aqueles que têm sido

mordidos possam olhar para Ele.

"Mas eu não tenho uma haste adequada", diz alguém. O melhor tipo de haste para mostrar

Cristo, é a que seja muito alta, para que possam

vê-lO de longe. Exaltem a Jesus. Falem bem do

Seu nome. Não conheço nenhuma outra virtude que possa estar na haste, senão a sua altura.

Quanto mais puderem falar em louvor do seu

Senhor, quanto mais alto possam levantá-Lo,

será melhor. Levantem a Cristo de verdade.

"Oh", diz alguém: "mas eu não tenho uma haste longa." Então você tem que levantá-lo com o que

tiver, pois existem pessoas ao seu redor de baixa estatura que seriam capaz de vê-Lo através de

você.

Creio que lhes tenha falado uma vez do quadro que vi da serpente de bronze. Quero que os professores da escola dominical ouçam isso. O

artista representou todos os tipos de pessoas

reunidas em torno da haste, e quando olhavam,

63

as horríveis serpentes se desprendiam de seus

braços, e viviam.

Havia tal multidão em torno da haste que uma mãe não pôde se aproximar dela. Ela estava

carregando um bebê que tinha sido mordido por

uma cobra. Você pode ver os sinais azul do

veneno. Desde que não poderia chegar mais perto, a mãe segurava a criança no alto, e virou

a cabeça para que ele pudesse ver com seus

olhos infantis a serpente de bronze e poderia

viver.

Façam isso com as crianças pequenas a seu cuidado, vocês que são professores de escolas

dominicais. Mesmo que ainda sejam muito

pequenos, orem para que olhem para Jesus Cristo e vivam, pois não há um limite de idade

estabelecido. Idosos mordidos por serpentes

viriam cambaleando sobre suas muletas. "Eu tenho 80 anos de idade", disse alguém, "mas eu

olhei para a serpente de bronze, e estou curado."

Crianças pequenas foram levadas por suas

mães, mas ainda não podiam falar claramente, e gritavam em sua linguagem infantil: ". Eu olho a

grande serpente e sou abençoado”

Todos as classes e gêneros, e personalidades e disposições olharam e viveram. Quem quer olhar para Jesus nesta boa hora? Oh almas

queridas, querem ter vida ou não? Desprezarão

a Cristo e perecerão? Se assim for, seu sangue

64

caia sobre as suas próprias vestes. Eu lhs tenho

falado do caminho da salvação de Deus, e vocês

têm que se apegar a ele. Olhem para Jesus

imediatamente. Que Seu Espírito os conduza gentilmente a fazê-lo. Amém.

Quanto a este sermão disse Spurgeon:

"Eu apreciaria muito se este sermão pudesse ser amplamente distribuído. Eu pedi aos impressores, os Srs. Passmore e Alabaster, que

o publiquem em forma de livro. Pode ser obtido

a um preço altamente adequado". Charles

Haddon Spurgeon.

65

Focalizando o Ponto Correto, Principal e

Vital

O apóstolo João destacou em seu evangelho nem tanto os milagres de cura de nosso Senhor Jesus

Cristo, conforme estes se acham registrados

nos chamados evangelhos sinópticos, mas concentrou sua narrativa especialmente

naquelas coisas essenciais e indispensáveis à

nossa salvação, porque foi nisto também que

nosso Senhor concentrou em Seu ministério terreno todos os Seus esforços, porque afinal

viera a este mundo com a missão de salvar

pecadores.

Daí lermos estas suas seguintes palavras em Jo

3.17 e 12.47:

“Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o

mundo fosse salvo por ele.” (Jo 3.17)

“E, se alguém ouvir as minhas palavras, e não as

guardar, eu não o julgo; pois eu vim, não para julgar o mundo, mas para salvar o mundo.” (Jo

12.47)

É importante se frisar que as passagens de Jo 3.1-21 e Jo 12.20-36 estão intimamente relacionadas, porque na primeira, João destaca o ensino de

Jesus sobre a salvação no discurso que fizera a

Nicodemos, e em Jo 12.20-36 temos, a

66

reafirmação do ensino de Jo 3.1-21, quando ele

estava em Jerusalém às portas da Sua

crucificação, que seria o ponto de partida para a

salvação de pessoas em todas as partes do mundo.

Nestas duas passagens citadas nosso Senhor destacou o modo pelo qual ocorreria tal

salvação e o que seria necessário fazer para

alcançá-la, e além disso Ele citou qual é o propósito de Deus na referida salvação, e no que

ela consiste realmente.

Ora, se nosso Senhor definiu o que é e qual é o propósito e o modo da salvação, conforme isto

se encontra relacionado à Sua missão em

relação a nós pecadores, faríamos bem, então, em prol do destino eterno de nossas almas,

concentrarmos a nossa atenção e esforços,

justamente em compreender tais palavras.

Veja que na passagem de João 3.1-21, Nicodemos falou de Deus, dos milagres realizados por Jesus,

e que entendia que por isso Ele era Mestre vindo da parte de Deus, e que Deus era com Ele, Jesus,

mas recebeu da parte de nosso Senhor a

afirmação de que ele, Nicodemos, não conhecia

nem a Ele, nem ao Pai, nem ao reino de Deus, apesar de tudo quanto havia afirmado, que

poderia dar a impressão de que ele havia se

convertido de fato.

67

Então nosso Senhor passou a instruir Nicodemos lhe dizendo que toda a possibilidade

de se conhecer de fato a Deus e entrar no Seu

reino, decorre de uma experiência transformadora de vida com o Espírito Santo.

E que o motivo de tal operação transformadora é o de revivificar nossos espíritos, para que

possamos responder ao amor de comunhão

com Deus.

Assim, quando nosso Senhor disse que “Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu

Filho unigênito, para que todo o que nele crê

não pereça mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16)

tencionava nos ensinar que não é possível ter qualquer comunhão com Deus sem que se

tenha fé em Seu Filho Jesus Cristo.

E que o objetivo principal desta fé é nos gerar novas criaturas, com um espírito vivificado pelo

Espírito Santo, o qual possa responder ao amor

de Deus, que se traduz principalmente em comunhão, porque a comunhão é uma das

partes principais da expressão do espírito

divino.

Somente no Espírito de Deus, que é um espírito vivo, residem em plenitude e perfeição todas as faculdades essenciais do espírito, como as da

comunhão, da intuição e da consciência, e estas

faculdades somente podem ser experimentadas

68

por aqueles que tiverem seus espíritos

revivificados pelo Espírito Santo, e daí ter nosso

Senhor proferido a Nicodemos que nos importa

a nós pecadores, nascermos do Espírito Santo, para que possamos entrar no reino de Deus.

Na passagem de Jo 12.24-26, nosso Senhor definiu o resultado da salvação com as seguintes

palavras:

“24 Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo caindo na terra não morrer, fica ele só;

mas se morrer, dá muito fruto.

25 Quem ama a sua vida, perdê-la-á; e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para

a vida eterna.

26 Se alguém me quiser servir, siga-me; e onde eu estiver, ali estará também o meu servo; se alguém me servir, o Pai o honrará.” (Jo 12.24-26)

Ele deixou claro que esta vida divina, que procede do céu, decorre de um processo de

morte e ressurreição, e que demanda portanto a

morte do nosso ego pecaminoso, para vivermos

pela vida do próprio Cristo.

E ainda, que tal renascimento espiritual tem por alvo nos conduzir a viver não mais solitariamente, quanto a não termos comunhão

real no espírito com Deus e com os que são

nascidos do Espírito, mas a vivermos num corpo

69

do qual o próprio Cristo é a cabeça, a saber, a Sua

Igreja.

Sem esta morte referida do ego, que Jesus chamou de “odiar a vida”, nada mais é do que o ato de se aborrecer a própria vontade para que

se possa fazer a de Deus, porque a palavra “vida”

no citado texto vem do original grego “psique”,

que significa alma. Está em vista então não vivermos pela alma mas pelo espírito

revivificado pelo Espírito Santo.

Em suma, nosso Senhor quer nos ensinar que não é possível ter comunhão, intuição e consciência espirituais plenas, divinas e

verdadeiras, sem esta vida do Espírito Santo no

nosso espírito, e que não poderemos ter isto sem

esta disposição de morrermos para a nossa própria vontade pecaminosa, para praticarmos

a vontade de Deus revelada na Sua Palavra.

70

“A salvação é do Senhor." (Jonas 2.9)

A salvação é obra de Deus. É somente ele que vivifica a alma "morta em delitos e pecados", e é

ele também que mantém a alma em sua vida espiritual.

Ele é tanto "Alfa e Ômega". "A salvação é do Senhor". Se eu estou em oração, Deus me faz

orar; se eu tenho graças, elas são dons de Deus para mim, se eu mantenho uma vida coerente, é

porque ele me sustenta com sua mão.

Eu não faço nada para a minha própria preservação, exceto o que Deus fez primeiro em

mim. Qualquer bem que eu tenha, vem somente

do Senhor. Se eu peco, isto procede de mim, mas

quando ajo corretamente, isto vem de Deus, total e completamente.

Se eu tenho repelido um inimigo espiritual, é a força do Senhor que sustenta meu braço. Eu vivo

diante dos homens uma vida consagrada? Não sou eu, é Cristo que vive em mim.

Estou santificado? Eu não purifico a mim mesmo; é o Espírito Santo de Deus que me santifica. Estou desmamado do mundo? Eu sou

desmamado por Deus com aflições santificadas

para o meu bem.

71

Eu cresço em conhecimento? O grande Instrutor me ensina. Todas as minhas joias

foram formadas pela arte celeste. Acho em Deus

tudo o que eu necessito, mas acho em mim mesmo nada além de pecado e miséria.

"Somente ele é a minha rocha e a minha

salvação."

Eu me alimento da Palavra? Essa Palavra não seria comida para mim a menos que o Senhor a

fizesse alimento para a minha alma, e me

ajudasse a alimentar-me dela. Eu vivo do maná que cai do céu? O que é o maná, senão o próprio

Jesus Cristo encarnado, cujo corpo e cujo

sangue eu como e bebo? Estou continuamente

recebendo aumento de forças renovadas? Onde eu reúno minhas forças? O meu socorro vem

das colinas do céu: sem Jesus nada posso fazer.

Como o ramo não pode dar fruto se não permanecer na videira, não mais posso eu, se

não permanecer nele. O que Jonas aprendeu no

grande abismo, deixe-me aprender em oração

no meu quarto: "A salvação é do Senhor."

Texto de Charles Haddon Spurgeon, em domínio público, traduzido e adaptado pelo Pr

Silvio Dutra.

72

O Ladrão Que Creu

“Então disse: Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino. Respondeu-lhe Jesus: Em

verdade te digo que hoje estarás comigo no

paraíso” (Lucas 23:42, 43).

Faz algum tempo que preguei sobre a história

completa do ladrão moribundo. Não me

proponho a fazer o mesmo no dia de hoje,

somente quero vê-lo desde um ponto de vista específico. A história da salvação do ladrão

agonizante é um exemplo notável do poder de

salvação de Cristo, e de sua abundante

disposição para receber a todos que vêm a Ele, em qualquer condição em que possam estar.

Não posso considerar este ato de graça como um

exemplo solitário, como tampouco a salvação de Zaqueu, a restauração de Pedro, ou o chamado

de Saulo, o perseguidor.

Em certo sentido, toda conversão é única: não há duas iguais, e contudo, qualquer conversão é

um modelos de outras. O caso do ladrão moribundo é muito mais semelhante à nossa

conversão, do que diferente; de fato, seu caso se

pode considerar mais como típico do que como

um fato extraordinário, e assim o considerarei neste momento. Que o Espírito Santo fale por ele

para alentar aqueles que estão à beira do

desespero!

73

Recordem, amados amigos, que nosso Senhor Jesus, no momento que salvou a esse malfeitor,

estava em seu ponto mais baixo. Sua glória havia

minguado no Getsêmani, e diante de Caifás, Herodes e Pilatos; mas agora havia alcançado

seu nível mais baixo. Despido de sua túnica, e

cravado na cruz, a atrevida multidão zombava de nosso Senhor que, agonizante, estava

morrendo; então Ele “foi contado entre os

transgressores” e foi feito como escória de todas

as coisas. Contudo, ainda nessa condição, concluiu esse maravilhoso ato de graça. Vejam a

maravilha produzida pelo Salvador despojado de

toda Sua glória, e pregado no madeiro em um

espetáculo de vergonha, à beira da morte! Quão certo é que pode fazer grandes maravilhas de

misericórdia agora, visto que regressou a Sua

glória, e está assentado no trono de luz! “Pode

salvar por completo aos que por meio dele se achegam a Deus, posto que vive para sempre

para interceder por eles”.

Se um Salvador agonizante salvou o ladrão, meu argumento é que Ele pode fazer ainda mais

agora que vive e reina. Todo poder no céu e na terra Lhe foi dado; pode algo no momento

presente se sobrepor ao poder de Sua graça?

Não é somente a debilidade de nosso Salvador

que faz memorável a salvação do ladrão penitente; é o fato de que o malfeitor moribundo

o viu diante de seus próprios olhos. Você pode se

pôr em seu lugar, e imaginar a alguém que está

74

suspenso em agonia de uma cruz? Poderia

facilmente crer que era o Senhor da glória, e que

logo iria a seu reino?

Não seria pouca a fé para que, em um momento assim, cresse em Jesus como Senhor e Rei. Se o

apóstolo Paulo estivesse aqui, e quisesse

agregar um versículo ao Novo Testamento, ao capítulo onze do Livro de Hebreus, começaria

certamente seus exemplos de fé admirável com

a fé deste ladrão, que creu em um Cristo

crucificado, ridicularizado e agonizante, e clamou a Ele como a alguém cujo reino viria

com certeza. A fé do ladrão foi ainda mais

notável porque estava sob uma terrível dor, e

condenado a morrer. Não é fácil exercitar a paciência quando se é torturado por uma

angústia mortal. Nosso próprio descanso

mental às vezes se vê perturbado pela dor do

corpo quando somos sujeitados por um sofrimento agudo, não é fácil mostrar essa fé

que cremos possuir em outras situações. Este

homem, sofrendo como estava, e vendo ao

Salvador em um estado tão triste, contudo, ainda assim creu para a vida eterna. Fala aqui

uma fé que raramente se vê.

Recordem, também, que estava rodeado de zombadores. É fácil nadar com a corrente, mas é duro ir contra ela. Este homem ouviu os

sacerdotes orgulhosos, quando ridicularizavam

ao Senhor, e a grande multidão do povo, todos a

75

uma só voz, unirem-se no escárnio; seu

companheiro captou o espírito da hora e

também zombou, e ele talvez tenha feito o

mesmo por um breve momento; mas pela graça de Deus foi transformado, e creu no Senhor

Jesus apesar de todo seu desprezo. Sua fé não foi

afetada pelo que o cercava; ele, pelo contrário, ladrão agonizante como era, se reafirmou em

sua confiança. Como uma rocha saliente,

colocada no meio da torrente de águas, declarou

a inocência do Cristo, de quem outros blasfemavam. Sua fé é digna de que a imitemos

em seus frutos. Nenhum outro membro de seu

corpo estava livre exceto sua língua, e a utilizou

sabiamente para repreender a seu irmão malfeitor, e defender ao Seu Senhor. Sua fé

tornou manifesto um valente testemunho e

uma confissão ousada. Não vou elogiar o ladrão,

ou a sua fé, mas a exaltar a glória dessa graça divina que deu ao ladrão uma fé assim, e logo

imerecidamente o salvou por seu meio. Estou

ansioso de mostrar quão glorioso é o Salvador,

esse Salvador que salva de maneira completa, aquele que em um momento assim, pôde salvar

a esse homem, e dar-lhe uma fé tão grande, e tão

perfeita e rapidamente prepará-lo para a

felicidade eterna. Vejam o poder desse Espírito que podia produzir tal fé em um solo tão pouco

promissor, e em um clima tão pouco propício.

Entremos de imediato no centro do nosso

sermão.

76

Primeiro, observem ao homem que foi o último companheiro de nosso Senhor na terra;

segundo, observem que esse mesmo homem foi

o primeiro companheiro de nosso Senhor na porta do paraíso; e terceiro, vejamos o sermão

que nosso Senhor nos prega neste ato de graça.

Oh, que o Espírito Santo abençoe este sermão do princípio ao fim!

I. Com muito cuidado OBSERVEMOS QUE O LADRÃO CRUCIFICADO FOI O ÚLTIMO

COMPANHEIRO DE NOSSO SENHOR NA

TERRA. Que triste companhia nosso Senhor selecionou quando esteve aqui. Não se juntou

com os religiosos fariseus nem com os

filosóficos saduceus, senão que era conhecido

como o “amigo de publicanos e de pecadores”. Como me regozijo nisto! Me dá a segurança de

que Ele não recusará associar-se comigo.

Quando o Senhor Jesus me fez seu amigo,

seguramente que não fez uma seleção que lhe trouxesse crédito. Crês que ganhou alguma

honra quando te fez seu amigo? Acaso ganhou

algo por causa de nós alguma vez? Não, irmãos

meus; se Jesus não tivesse se inclinado tão baixo, talvez não teria vindo a mim; e se não tivesse

procurado ao mais indigno, não teria vindo a ti.

Assim o sentes, e estás agradecido pois Ele veio

“não para chamar a justos, senão pecadores”. Como o Grande Médico, nosso Senhor passava

muito tempo com os enfermos: se dirigia para

onde podia exercitar sua arte de curar.

77

Os sãos não necessitam de um médico: não podem apreciá-lo, nem oferecem a

oportunidade para que ele exercite sua

habilidade; por conseguinte, Ele não frequentou suas moradas. Sim, depois de tudo, nosso

Senhor fez uma boa escolha quando te salvou e

quando me salvou; em nós encontrou abundante campo para a sua misericórdia e

graça. Houve suficiente espaço para que Seu

amor pudesse trabalhar dentro dos terríveis

vazios de nossas necessidades e pecados; e ali Ele fez grandes coisas por nós, pelas quais nos

alegramos.

Para que não haja aqui alguém que se desespere e diga: “nunca se dignará a olhar para mim,”

quero que estejam advertidos que o último companheiro de Cristo na terra foi um pecador,

e não um pecador comum. Havia transgredido

as leis do homem, pois era um ladrão. Alguém

que se chama “bandido”; e suponho que provavelmente esse era o caso. Os bandidos

desses dias mesclam o assassinato com seus

roubos: era provavelmente um pirata armado

contra o governo romano, fazendo disto um pretexto para saquear se a ele fosse apresentada

a oportunidade. Ao fim, foi feito prisioneiro e foi

condenado por um tribunal romano, que de

forma geral, era usualmente justo, e neste caso, certamente o foi; pois o mesmo confessa a

justiça de sua condenação. O malfeitor que creu

na cruz era um ladrão convicto, que havia

78

permanecido na cela dos condenados e logo

sofreria a pena capital por seus crimes. Um

criminoso convicto era a última pessoa com a

qual nosso Senhor teve que tratar nesta terra. Que amante das almas dos culpados é Ele! Como

se inclina até o mais baixo da humanidade! À

este homem tão indigno, antes que deixasse a vida, o Senhor da glória falou com graça

incomparável, falou-lhe com palavras tão

maravilhosas como nunca se poderão superar

ainda que procures em todas as Escrituras: “Hoje estarás comigo no paraíso.”

Não creio que em nenhuma parte deste Tabernáculo se encontre alguém que tenha sido

convencido diante da lei, que nem sequer se

possa culpar de uma transgressão contra a honestidade comum; mas se houvesse uma

pessoa assim entre os meus ouvintes, a

convidaria a que encontrar perdão e

transformação em seu coração por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. Podes chegar a Ele,

quem quer que sejas; este homem o fez. Aqui há

um exemplo de alguém que havia chegado ao

fundo da culpa, e que o reconheceu; não procurou desculpas, nem buscou um manto

para tapar seu pecado; estava nas mãos da

justiça, enfrentando sua sentença de morte, e

contudo creu em Jesus, e disse uma humilde oração para Ele, e ali mesmo foi salvo. Como é a

amostra assim é o todo. Jesus salva a outros do

mesmo tipo. Por isso, deixem-me expor de

79

forma muito simples, de maneira que ninguém

me interprete mal, nenhum de vocês está

excluído da infinita misericórdia de Cristo, por

maior que seja a iniquidade de vocês: se creem em Jesus, Ele os salvará.

Este homem não somente era um pecador; era um pecador que apenas havia despertado. Não

creio que antes tivesse pensado seriamente no Senhor Jesus. De acordo com os outros

evangelistas, parece que se tinha unido com seu

companheiro ladrão para zombar de Jesus: se

em realidade não utilizou palavras de opróbrio, no mínimo chegou a consentir com elas, de

maneira que o evangelista não lhe fez injustiça

quando disse, “também os ladrões que estavam

crucificados com ele lhe injuriavam da mesma maneira”. Contudo, repentinamente, se

desperta a convicção de que o homem que está

agonizando ao seu lado é algo mais que um

homem. Lê o título sobre a sua cabeça, e acertadamente crê: “Este é Jesus, o rei dos

judeus”. Ao crer-lhe assim, fez sua petição ao

Messias, que havia encontrado havia pouco

tempo, e se encomenda em suas mãos. Querido leitor, vês esta verdade, que no momento em

que um homem sabe que Jesus é o Cristo de

Deus pode pôr de imediato confiança Nele e ser

salvo? Um certo pregador, cujo evangelho era muito duvidoso, dizia: “vocês, que viveram no

pecado por cinquenta anos, creem que em um

instante podem ser limpos pelo sangue de

80

Jesus?” Respondo: “Sim, certamente cremos

que em um instante, por meio do precioso

sangue de Jesus, a alma mais negra pode se

tornar branca. Certamente cremos que em um simples instante podem ser absolutamente

perdoados os pecados de sessenta ou setenta

anos, e que a velha natureza, que ia se tornando cada vez pior, pode receber sua ferida de morte

em um instante, enquanto a vida eterna pode

ser implantada de imediato na alma.” Assim foi

com este homem. Havia tocado no fundo, mas em um momento, se despertou a convicção de

que o Messias estava junto a ele, e crendo, o viu

e viveu.

Assim que, meus irmãos, se vocês nunca tiveram uma convicção religiosa em suas vidas,

se viveram até agora uma vida totalmente ímpia,

ainda assim, se neste exato momento creem que

o amado Filho de Deus veio ao mundo para salvar aos homens do pecado, e sinceramente

reconhecem seus pecados e confiam Nele,

imediatamente serão salvos. Sim, enquanto

digo estas palavras, a obra da graça pode ser consumada pelo Ser glorioso que foi ao céu com

poder onipotente para salvar.

Desejo expor este caso de forma muito simples: este homem que foi o último companheiro de Cristo sobre a terra, era um pecador na miséria.

Seus pecados lhe haviam encurralado: agora

tinha a recompensa por suas obras.

81

Constantemente encontro pessoas nesta

condição: viveram uma vida de libertinagem,

excessos e descuidos, e começam a sentir que

caem em seus corpos as chamas de fogo da tempestade da ira; vivem em um inferno

terreno, um prelúdio da condenação eterna. O

remorso como uma áspide os picou, convertendo seu sangue em fogo. Este homem

estava neste terrível estado, e mais, estava no

extremo. Já não podia viver muito: a crucificação

era inevitavelmente fatal; em pouco tempo as pernas lhe romperiam para pôr fim a sua

existência infeliz. Ele, pobre alma, não tinha de

vida senão um curto espaço do meio-dia ao pôr-

do-sol; mas esse era o tempo suficiente para o Salvador, que é poderoso para salvar. Alguns

têm muito medo que as pessoas adiem o

momento de vir a Cristo se afirmamos isto. Não

posso impedir o que os homens de má fé façam com a verdade, mas eu vou proclamá-la de todas

as maneiras. Se estão a uma hora de morrer,

creiam no Senhor Jesus Cristo, e serão salvos. Se

não chegarem jamais a seus lares, porque poderão morrer no caminho, se agora creem no

Senhor, serão salvos de imediato. Olhando para

Jesus e confiando nele, Ele lhes dará um coração

novo e um espírito reto, e tirará a mancha dos vossos pecados. Esta é a glória da graça de Cristo.

Como gostaria de enaltecer sua graça com uma

linguagem adequada! A última vez que foi visto

na terra antes de morrer foi em companhia de um criminoso convicto, a quem falou da

82

maneira mais amorosa. Venham, oh culpados, e

Ele os receberá com abundante graça!

Mais ainda, este homem a quem Cristo salvou

no último momento era um homem que já não podia realizar boas obras. Se a salvação fosse

pelas boas obras, não poderia ter sido salvo;

posto que estava atado de pés e mãos ao madeiro de seu destino funesto. Tudo havia terminado

para ele quanto a qualquer ato ou obra de

justiça. Poderia dizer uma ou duas boas palavras,

mas isso era tudo; não podia executar nada bom; se sua salvação tivesse dependido de uma vida

ativa de serviço, certamente que nunca poderia

ter sido salvo. Como pecador que era, não podia

exibir um arrependimento duradouro do pecado, pois tinha curtíssimo tempo para viver.

Não podia ter experimentado uma amarga

convicção de seus atos, que tivesse durado

meses e anos, pois seu tempo estava medido em instantes, e estava à beira da sepultura. Seu fim

estava muito perto, e contudo, o Salvador o pôde

salvar, e o salvou tão perfeitamente que antes do

pôr-do-sol, estava no paraíso com Cristo.

Este pecador, que não pude descrever com cores demasiadamente negras, foi um que creu

em Jesus, e confessou sua fé. Confiou no Senhor.

Jesus era um homem, e assim ele lhe chamou; mas também soube que era o Senhor, e assim

lhe chamou e disse: “Senhor, lembra-te de

mim”. Tinha tal confiança em Jesus que se tão

83

somente o Senhor pensasse nele, se tão-

somente o recordasse quando chegasse ao seu

reino, isso seria o que pediria dele. Ah, meus

queridos leitores! A inquietude que sinto por alguns de vocês é que sabem tudo acerca do

Senhor, e contudo não confiam nele. A

confiança é o ato salvador. Há alguns anos estavam no ponto de confiar realmente em

Jesus, mas agora seguem tão distantes dele

como estavam então. Este homem não titubeou:

se agarrou a essa única esperança. Não guardou em sua mente a segurança no Senhor como

Messias como uma crença seca, morta, senão

que a transformou em confiança e oração,

“Senhor, lembra-te de mim quando entrares no teu reino”. Oh, que muitos de vocês possam

confiar neste dia, na infinita misericórdia do

Senhor! Seriam salvos, estou seguro que

seriam: se vocês, ao confiarem Nele não são salvos, eu mesmo teria que renunciar a toda

esperança. Isto é tudo o que nós temos feito:

temos visto, e temos vivido, e continuamos

vivendo porque vemos ao Salvador vivente; oh, que esta manhã, ao sentir o pecado, vejam a

Jesus, confiando nele, e confessando essa

confiança! Reconhecendo que Ele é Senhor para

a glória de Deus Pai, vocês devem e serão salvos.

Como consequência de ter esta fé que o salvou, este pobre homem disse uma oração humilde

porém apropriada, “Senhor, lembra-te de mim”.

Isto não parece que seja pedir muito, mas como

84

ele o compreendeu, é tudo o que um coração

ansioso poderia desejar. Ao pensar no reino,

tinha uma tão clara ideia da glória do Salvador,

que sentiu que se o Senhor tão somente pensasse nele, seu estado seria salvo. José na

prisão, pediu ao copeiro do rei que se lembrasse

dele quando o rei restaurasse seu posto; porém o copeiro o esqueceu. Nosso José nunca esquece

um pecador que clama a Ele dentro do mais

profundo calabouço; em seu reino recorda os

lamentos e queixas dos pobres pecadores oprimidos pelo sentimento de seu pecado. Não

podes orar nesta manhã, e desta maneira

assegurar-te um lugar na memória do Senhor

Jesus?

Assim, intentei descrever ao homem, e depois de ter feito o melhor que pude, falharei em meu

propósito a menos que os faça ver que qualquer

coisa que este ladrão tenha sido, não é senão

uma descrição do que vocês são. Especialmente se foram grandes pecadores, e se viveram muito

tempo sem se preocuparem pelas coisas

eternas, são como este malfeitor; e contudo,

vocês, sim, vocês, podem fazer o que o ladrão fez; podem crer que Jesus é o Cristo e

encomendar suas almas em suas mãos, e Ele os

salvará tão seguramente como salvou ao

bandido condenado. Jesus com graça abundante disse: “Ao que vem a mim, de maneira alguma o

lançarei fora”. Isto significa que se vocês vêm e

confiam Nele, não importa o que sejam, Ele, por

85

nenhuma razão, e sob nenhum fundamento,

nem circunstância, os lançará fora.

Compreendem esse pensamento? Sentem que

lhes pertence, e que, se vão a Ele, encontrarão vida eterna? Me regozijo se já percebem esta

verdade.

Há poucas pessoas que tenham tanto trato com almas abatidas e desesperadas como eu. Pobres

rejeitados me escrevem continuamente.

Apenas sei o motivo. Não tenho um dom

especial para consolar, mas com gosto me inclino a reconfortar aos afligidos, e parece que

eles sabem. Que alegria tenho quando vejo a um

desalentado que encontrou a paz! Tive esta

alegria várias vezes durante a semana que acaba de terminar. Quanto desejo que alguns de vocês,

que têm o coração destroçado, porque não

podem encontrar perdão, quisessem vir ao meu

Senhor, e confiar Nele, e descansar! Ele não disse: “Vinde a mim, todos os que estais

cansados e oprimidos, e eu os aliviarei”?

Venham e o ponham à prova, e o descanso será

de vocês.

II. Em segundo lugar, OBSERVEM QUE ESTE HOMEM FOI O COMPANHEIRO DE NOSSO

SENHOR NA PORTA DO PARAÍSO. Não vou

especular quanto ao lugar para onde foi nosso Senhor quando abandonou o corpo que estava

pregado na cruz. Por algumas Escrituras parece

que desceu ao centro da terra, para que pudesse

86

cumprir todas as coisas. Mas Ele atravessou

rapidamente as regiões dos mortos. Recordem

que Ele morreu, talvez uma hora ou duas antes

do ladrão, e durante esse tempo a glória eterna brilhou através do mundo subterrâneo, e estava

fulgurando através das portas do paraíso justo

quando o ladrão perdoado entrava no mundo eterno. Quem é este que entra pela porta de

pérolas ao mesmo tempo que o Rei da glória?

Quem é este favorecido companheiro pelo

Redentor? É um mártir digno de honra? É um fiel apóstolo? É um patriarca, como Abraão; ou

um príncipe, como Davi? Não, nenhum deles.

Vejam, e assombrem-se com a graça soberana!

O que entra pela porta do paraíso, com o Rei da glória, é um ladrão, que foi salvo em um decreto

de morte. Não é salvo de uma maneira inferior,

nem é recebido na beatitude de um modo

secundário. Verdadeiramente, há últimos que serão primeiros!

Aqui gostaria que notassem a condescendência da eleição de nosso Senhor. O camarada do

Senhor da glória, por quem o querubim deixa de lado sua espada de fogo, não é uma grande

pessoa, senão um malfeitor recentemente

convertido. E por quê? Penso que o Salvador o

tomou com Ele como um exemplo do que Ele queria realizar. Parecia dizer a todos os poderes

celestiais: “Trago um pecador comigo; é uma

amostra do restante”.

87

Vocês não ouviram daquele que sonhou que estava em frente das portas do céu e enquanto

estava ali, ouviu uma música doce de um grupo

de veneráveis pessoas que seguiam seu caminho até a glória? Entraram pelas portas

celestiais, e houve grande regozijo e

exclamações. Ao perguntar: “quem são estes?”, lhe foi dito que eles eram a boa companhia dos

profetas. Suspirou e disse: “Ai! Não sou um

deles”. Esperou um pouco, e outro grupo de

seres brilhantes se aproximou, e adentraram ao céu com aleluias, e quando perguntou: “Quem

são estes e de onde vêm?”, a resposta foi: “Este é

o glorioso grupo dos apóstolos”. Outra vez

suspirou e disse: “Não posso entrar com eles”. Então veio outro grupo de homens com túnicas

brancas e levando palmas em suas mãos, esses

homens andaram em meio de grandes

aclamações dentro da cidade dourada. Soube então que era o nobre exército dos mártires; e

outra vez chorou, e disse: “não posso entrar com

estes”. Ao final ouviu as vozes de muita gente, e

viu uma multidão maior que avançava, entre os quais percebeu a Raabe e Maria Madalena, Davi

e Pedro, Manassés e Saulo de Tarso, e observou

especialmente ao ladrão, o que morreu à destra

de Jesus. E foram se aproximando das portas celestiais. Então ansiosamente perguntou:

“quem são estes?” E lhe responderam: “esta é a

hoste de pecadores salvos pela graça”. Então se

pôs extremamente contente, e disse: “eu posso entrar com estes”. Ainda que pensou que não

88

haveria aclamações quando esta multidão

chegasse ante as portas e que entrariam no céu

sem cânticos; contudo, pareceu que se

levantava um louvor sete vezes maior com aleluias para o Senhor do amor; porque há

alegria entre os anjos de Deus pelos pecadores

que se arrependem. Eu convido a qualquer pobre alma que não aspira servir a Cristo, nem

sofrer por Ele todavia, que no entanto, venha à

companhia de Jesus com outros pecadores

crentes, pois Ele nos abre uma porta diante de nós.

Enquanto analisamos este texto, observem bem o bendito lugar ao qual o Senhor chamou a este

penitente. Jesus disse: “Hoje estarás comigo no paraíso”. Paraíso significa jardim, um jardim

cheio de deleites. O jardim do Éden é o tipo do

céu. Sabemos que paraíso significa céu, pois o

apóstolo nos fala de um homem que foi arrebatado ao paraíso, e em seguida lhe chama

o terceiro céu. Nosso Salvador levou este ladrão

agonizante ao paraíso de deleite infinito, e é para

ai onde levará a todos nós, pecadores que cremos nele. Se confiarmos nele, ao final

estaremos com Ele no paraíso.

A seguinte palavra é ainda melhor. Notem a glória da sociedade na qual é introduzido este pecador: “Hoje estarás comigo no paraíso”. Sim

o Senhor disse, “Hoje estarás comigo,” não

necessitamos que se agregue outra palavra;

89

porque onde Ele está, é o céu para nós. Agregou

a palavra “paraíso” para que ninguém se

perguntasse para onde iria. Pensa nele, alma

desprovida de graça; vais a habitar com o Todo Desejável para sempre. Vocês, pobres e

necessitados, estarão com Ele em sua glória, em

sua felicidade, em sua perfeição. Onde Ele está, e como Ele é, ai estarão e serão vocês. O Senhor

olha esta manhã para os seus olhos chorosos, e

diz: “Pobre pecador, tu estarás comigo um dia”.

Penso ouvi-los dizer: “Senhor, essa é uma felicidade demasiadamente grande para um

pecador como eu”; porém responde: “Te amei

com um amor eterno, por conseguinte com

misericórdia vou te atrair a mim, até que estejas onde eu estou”. A ênfase do texto está na rapidez

de tudo isto. “Em verdade te digo, hoje estarás

comigo no paraíso”. “Hoje”. Não permanecerás

no purgatório por gerações, nem dormirás no limbo por tantos anos; senão que estarás pronto

de imediato para a alegria, e de imediato irá

desfrutá-la. O pecador já estava quase ante às

portas do inferno, mas a misericórdia todo poderosa o levantou, e o Senhor disse, “Hoje

estarás comigo no paraíso”. Que mudança da

cruz à coroa, da angústia do Calvário à glória da

Nova Jerusalém! Nessas poucas horas o mendigo foi levado do esterco e foi posto entre

príncipes. “Hoje estarás comigo no paraíso”.

Podem medir a mudança desse pecador,

abominável em sua iniquidade quando o sol estava no alto do meio-dia, a esse mesmo

90

pecador, vestido de branco puro, e aceito no

Amado, no paraíso de Deus, ao pôr-do-sol? Oh,

Salvador glorioso, que maravilhas podes fazer!

Quão rapidamente podes realizá-las!

Por favor, estejam advertidos também, sobre a majestade da graça do Senhor neste texto. O

Salvador lhe disse? “em verdade te digo, hoje estarás comigo no paraíso”. Nosso Senhor dá

sua própria vontade como razão para salvar este

homem. “Te digo”. O disse quem reclama o

direito de falar assim. É Ele quem terá misericórdia de quem Ele quiser ter

misericórdia, e terá compaixão de quem Ele

quiser ter compaixão. Fala com majestade, “Em

verdade te digo”. Acaso não são palavras imperiais? O Senhor é um Rei em cuja palavra

há poder. O que Ele diz ninguém pode

contradizer. Ele, que tem as chaves do inferno e

da morte te diz, “Te digo, hoje estarás comigo no paraíso”. Quem impedirá o cumprimento de Sua

Palavra?

Vejam a certeza disto. Diz: “em verdade”. Nosso bendito Senhor na cruz retomou sua antiga maneira majestosa, quando dolorosamente

volveu sua cabeça, e viu ao seu ladrão

convertido. Ele sempre inicia sua prédica com,

“Em verdade, em verdade”; e agora que está agonizando utiliza sua maneira favorita, e diz,

“Em verdade”. Nosso Senhor não jurava; sua

mais forte asseveração era, “Em verdade, em

91

verdade”. Para dar ao penitente a mais simples

segurança, disse, “Em verdade te digo, hoje

estarás comigo no paraíso”. Nisto tinha uma

segurança absolutamente indisputável que ainda que tivesse que morrer, contudo viveria e

se encontraria no paraíso com seu Senhor.

Desta maneira lhes mostrei que nosso Senhor passou pela porta de pérolas em companhia de um a quem Ele mesmo havia garantido a

entrada. Por que você e eu não haveríamos de

passar através dessa porta de pérolas a seu

devido tempo, vestidos com Seu mérito, lavados em Seu sangue, descansando em Seu poder? Em

um destes dias os anjos dirão de ti e de mim,

“Quem é este que vem do deserto apoiando-se

no Amado?” Os luminosos se assombrarão ao ver a alguns de nós indo. Se viveste uma vida de

pecado até agora, e contudo te arrependes e

entras no céu, que assombro haverá em cada

rua dourada ao pensar que chegaste ali! Nos primeiros anos da Igreja Cristã, Caio Mário

Vitorino[1] se converteu; porém havia alcançado

uma idade tão avançada, e havia sido um tão

grande pecador, que o pastor e a igreja duvidaram dele. Deu contudo uma clara prova

de haver experimentado a transformação

divina, e então houve grandes aclamações e

muitos gritos de “Vitorino se converteu em cristão!” Oh, que alguns de vocês grandes

pecadores possam ser salvos! Com quanto gosto

me regozijaria por vocês! Por que não? Não seria

92

para a glória de Deus? A salvação deste convicto

assaltante de caminhos fez nosso Senhor ilustre

por Sua misericórdia ainda neste dia; Não faria o

mesmo caso de vocês? Não exclamariam os santos: “Aleluia! Aleluia!”, se ouvissem que

alguns de vocês saíram da escuridão para a luz

admirável? Por que não seria assim? Creiam em Jesus e assim será.

III. Agora chego a meu terceiro e mais prático ponto: NOTEM DE TUDO ISTO, O SERMÃO DO

SENHOR PARA NÓS.

O demônio quer pregar um pouco nesta manhã. Sim, Satanás pede para passar à frente e pregar-

lhes; mas não se pode permitir-lhe. Vai-te

enganador! Contudo não me assombraria se ele se aproximasse de alguns de vós quando

termine o sermão, e lhes diga em voz baixa:

“Vejam que podem ser salvos no último

momento. Adiem o arrependimento e a fé; podem ser perdoados em seu leito de morte”.

Senhores, vocês sabem quem é o que quer

arruinar-vos com esta sugestão. Aborreçam seu

ensino enganador. Não sejam ingratos porque Deus é bondoso. Não provoquem ao Senhor

porque é paciente. Uma conduta assim seria

indigna e ingrata. Não corram um risco terrível

simplesmente porque alguém escapou ao perigo tremendo. O Senhor aceitará a todos os

que se arrependam; mas como sabem vocês que

vão se arrepender? É verdade que um ladrão foi

93

salvo, mas o outro se perdeu. Um é salvo, e

portanto não podemos nos desesperar; o outro

está perdido, e portanto não podemos nos

vangloriar. Queridos amigos, confio que vocês não estão feitos de tão diabólica substância

como para tirar da misericórdia de Deus um

argumento para continuar no pecado. Se vocês o fazem, somente lhes posso dizer que a vossa

perdição será justa; a haverão atraído sobre

vocês mesmos.

Considerem agora o ensino de nosso Senhor; vejam a glória de Cristo na salvação. Está pronto para salvar no último momento. Já estava

morrendo; seu pé estava no umbral da casa do

Pai. Então chega este pobre pecador, ao final da

noite, na undécima hora, e o Salvador sorri e manifesta que não entrará se não for com este

tardio vagabundo. Aí mesmo na porta declara

que esta alma que o busca entrará com Ele.

Houve muito tempo para que Ele tivesse vindo antes: vocês sabem como podemos dizer:

“Esperaste até o último momento. Já me vou, e

não posso atender-te agora”. Nosso Senhor

tinha as angústias da morte sobre Ele, e contudo atende ao criminoso que perece, e lhe permite

passar através do portal celestial em Sua

companhia. Jesus salva com muita facilidade aos

pecadores pelos quais Ele morreu com tanta dor. Jesus ama resgatar aos pecadores de sua

queda no poço. Estarás muito feliz se fores salvo,

mas não estarás nem na metade de felicidade

94

como Ele estará quando te salvar. Vejam quão

terno Ele é!

“Sua mão nos leva ao trono,

Nenhum terror vistes à sua frente;

Nem raios para lançar nossas almas culpadas

Às ferozes chamas do inferno”.

Se achega a nós cheio de ternura, com lágrimas em seus olhos, misericórdia em suas mãos, e

amor em seu coração. Creiam que é um grande

Salvador de grandes pecadores. Ouvi de alguém que havia recebido grande misericórdia que

dizia: “Ele é um grande perdoador;” e gostaria

que vocês dissessem o mesmo. Vocês verão suas

transgressões apagadas, e os vossos pecados perdoados de uma vez para sempre, se vocês

confiam nele.

A seguinte doutrina que Cristo prega desta maravilhosa história é a fé que se apropria da

promessa. Este homem creu que Jesus era o

Cristo. O que fez a seguir foi apropriar-se desse Cristo. O ladrão lhe disse: “Senhor, lembra-te de

mim”. Jesus poderia ter dito: “O que tenho eu

que ver contigo, e o que tens tu a ver comigo? O

que tem que ver um ladrão com o Ser perfeito?” Muitos de vocês, boas pessoas, tratam de

afastarem-se tanto quanto possam dos que

erram e dos caídos. Poderiam contaminar sua

95

inocência! A sociedade nos exige que não

estejamos em términos de familiaridade com as

pessoas que ofenderam suas leis.

Não devemos ser vistos associados com eles, porque cairíamos no descrédito. Bobagens

infames! O que nos pode desacreditar,

pecadores como somos, tanto por natureza como pela prática? Se nos conhecemos diante

de Deus, não estamos suficientemente

degradados em nós mesmos e por causa de nós

mesmos? Depois de tudo, há alguém no mundo que seja pior do que nós quando nos vemos no

espelho fiel da Palavra?

Tão pronto como um homem crê que Jesus é o Cristo, que se firme Nele. No momento que creias que Jesus é o Salvador, agarra-te a Ele

como teu Salvador. Se me lembro bem,

Agostinho chamou a este ladrão “Latro

Laudabilis et Mirabilis,” um ladrão para ser louvado e admirado, que se atreveu, por assim

dizer, a tomar para si ao Salvador como seu.

Nisto deve ser imitado. Toma ao Senhor para

que seja teu, e o terás. Jesus é propriedade comum de todos os pecadores que se atrevem a

tomá-lo. Todo pecador que tem o desejo de fazê-

lo pode levar para sua casa ao Senhor. Ele veio ao

mundo para salvar aos pecadores. Tomem-no pela força, como os que roubam tomam seu

despojo;porque o reino do céu sofre a violência

da fé que se atreve. Agarre-o, e Ele nunca se

96

separará de ti. Se confias Nele, deve te salvar.

Estejam advertidos sobre a doutrina da fé em

seu poder imediato.

“No momento que um pecador crê,

E confia em seu Deus crucificado,

Recebe de imediato seu perdão,

Redenção completa por Seu sangue”.

“Hoje estarás comigo no paraíso”. Assim que crê, Cristo sela sua fé com a segurança completa

de que estará com Ele para sempre em sua glória. Oh, queridos corações, se vocês creem

nesta manhã, serão salvos nesta manhã! Que

Deus lhes conceda, por sua rica graça, que

venha a salvação aqui, neste lugar, e de imediato!

O seguinte é, a proximidade das coisas eternas. Pensem nisto por um minuto. O céu e o inferno

não são lugares distantes. Podem estar no céu

antes de outro “tic” do relógio, está tão perto.

Que possamos rasgar esse véu que nos separa do desconhecido! Tudo está ali, e tudo perto.

“Hoje,” disse o Senhor; no máximo de três ou

quatro horas, “estarás comigo no paraíso;” está

tão perto. Um estadista nos deu a expressão de estar “em uma distância medível”. Todos

estamos dentro de uma distância medível do

céu e do inferno; se há alguma dificuldade em

97

medir a distância, descanse em sua brevidade

mais que em sua longitude.

“Um suave suspiro rompe as cadeias,

Apenas podemos dizer, se foi,

Antes que o espírito redimido,

Tome sua mansão próximo ao trono”.

Oh, que nós, no lugar de aceitar com leviandade estas coisas, porque parecem tão distantes, as

tomássemos solenemente em conta, pois estão

tão próximas! Este mesmo dia, antes que se ponha o sol, algum ouvinte, sentado neste lugar,

pode ver em seu próprio espírito as realidades

do céu e do inferno. Tem ocorrido

frequentemente nesta congregação tão grande, que alguém de nossa audiência tenha morrido

antes que chegasse o seguinte Domingo; pode

ocorrer esta semana. Pensem nisto, e que as

coisas eternas lhes impressionem ainda mais devido a sua proximidade.

Mais ainda, saibam que se creram em Jesus estão preparados para o céu. Pode ser que

tenham que viver na terra por vinte, ou trinta,

ou quarenta anos para glorificar a Cristo; e, se

assim é, agradeçam o privilégio; mas se não vivem uma hora a mais, essa morte instantânea

não alteraria o fato de que quem crê no Filho de

Deus está pronto para o céu. Seguramente se

98

algo fosse necessário além da fé para nos

tornarmos dignos do paraíso, o ladrão teria sido

retido um pouco mais de tempo aqui; mas não,

ele está na manhã em sua natureza, ao meio-dia entra no estado de graça, e ao anoitecer está no

estado de glória. A pergunta nunca é, se um

arrependimento no leito de morte é aceito se é sincero. A pergunta é: É sincero? Se assim é, se

o homem morre cinco minutos depois de seu

primeiro ato de fé, está tão seguro como se

houvesse servido ao Senhor por cinquenta anos. Se tua fé é verdadeira, se morres um momento

depois que creste em Cristo, serás admitido no

paraíso, ainda que não tenha desfrutado de

tempo para produzir boas obras e outras evidências da graça. Ele que lê o coração lerá tua

fé escrita nas tábuas de carne, e te aceitará por

meio de Jesus Cristo, ainda que nenhum ato de

graça se tenha feito visível aos olhos dos homens.

Concluo dizendo outra vez que este não é um caso excepcional. Comecei com isso, e com isso

quero terminar, por haver tantos falsos

pregadores do evangelho, terrivelmente temerosos de pregar a graça imerecida com

plenitude. Li em algum lugar, e creio que é

verdadeiro, que alguns ministros pregam o

evangelho da mesma maneira que os asnos comem espinhos, ou seja, muito, mas muito

cuidadosamente. Pelo contrário, eu pregarei

atrevidamente. Não tenho a menor apreensão

99

acerca deste assunto. Se alguém de vocês faz

mau uso do ensino da graça gratuita, não o

posso impedir. Aquele que será condenado pode

arruinar-se por perverter o evangelho como por outra coisa qualquer. Não posso impedir o que

os corações baixos possam inventar; mas o meu

intuito é pregar o evangelho em toda a sua plenitude de graça, e assim o farei.

Se o ladrão foi um caso excepcional, e nosso Senhor não atua usualmente desta maneira,

haveria uma indicação de um fato tão

importante. Teria sido posto um cerco de proteção para esta exceção a todas as regras.

Não teria dito o Salvador tranquilamente ao

moribundo: “És o único a quem tratarei desta

maneira”? “Não o menciones, pois senão terei muitos me assediando”. Se o Salvador quisesse

que fosse um caso solitário, lhe teria dito em

baixa voz: “Não deixes que ninguém saiba; mas

hoje estarás no reino comigo”. Não, nosso Senhor falou abertamente, e os que estavam ao

redor ouviram o que disse. Ademais, o inspirado

escritor o assentou assim. Se fosse um caso

excepcional, não teria sido escrito na Palavra de Deus. Os homens não publicam suas ações nos

periódicos se sentem que ao registrá-las podem

conduzir outros a esperar o que não podem dar.

O Salvador fez que esta maravilha da graça se reportasse nas notícias diárias do evangelho,

porque Ele quer repetir essa maravilha a cada

dia. O todo será igual a amostra, e por isto lhes

100

põe frente à amostra a cada um de vocês. Ele é

capaz de salvar por completo, pois salvou ao

ladrão que agonizava. O caso não teria sido

exposto para alentar esperanças que Ele não poderia cumprir. Todas as coisas escritas então,

foram escritas para que aprendêssemos e não

para que nos desalentássemos. Por isso, lhes rogo, se alguns de vós todavia não estão

confirmados no meu Senhor Jesus, venham e

confiem Nele agora. E então cantarão comigo:

“O ladrão agonizante se regozijou ao ver,

Essa fonte em seu dia,

E ali eu também, tão vil como ele,

Lavei todos os meus pecados.

Por Charles Haddon Spurgeon

101

O Caminho da Salvação

“Não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome,

dado entre os homens, pelo qual importa que

sejamos salvos” Atos 4.12

É uma circunstância muito feliz, quando os

servos de Deus estão preparados a transformar

tudo por conta de seus ministérios. Neste

momento o Apóstolo Pedro foi chamado,

perante os sacerdotes e Saduceus – Os chefes dessa nação – para respondê-los por ter curado

um homem que era coxo de nascença. Enquanto

considerava esse caso de cura, ou se eu posso

usar a expressão, esse caso de salvação temporal, o Apóstolo Pedro teve esse

pensamento sugerido a ele. “Enquanto eu estou

levando em consideração a salvação desse

homem da condição de coxo, Eu tenho uma ótima oportunidade para mostrar a essas

pessoas o caminho de salvação da alma, que de

outra forma não nos ouviriam”. Então ele

prosseguiu do menor para o maior, da cura do membro do homem para a cura da alma do

homem. E tendo os informado uma vez que foi

pelo nome de Jesus Cristo que aquele homem

impotente foi feito um homem inteiro, ele agora anuncia aquela salvação – a grande salvação,

deve ser trabalhada do mesmo modo. – “Não há

salvação em nenhum outro; porque abaixo do

102

céu não existe nenhum outro nome, dado entre

os homens, pelo qual importa que sejamos

salvos”.

Que grande palavra é essa, a palavra salvação.

Ela inclui a limpeza de nossa consciência de toda culpa do passado e a libertação da nossa alma de

toda aquela propensão ao mal que tão

fortemente predominava em nós. Ela se entende, na verdade, para a destruição de tudo

o que Adão fez. Salvação é a total restauração do

homem de seu estado de caído. E ainda é algo a

mais que isso, a Salvação de Deus determina uma condição mais segura do que nós

sentíamos antes – ela nos encontra quebrados

em pedaços pelos pecados do nosso primeiro

pai – contaminados, sujos e amaldiçoados. Ela primeiro cura nossas feridas, ela remove nossas

doenças, ela leva embora nossa maldição; ela

coloca nossos pés sobre a Rocha, Jesus Cristo, e

tendo feito isso, ela levanta nossa cabeça bem mais alto sobre todos os principados e

potestades, para sermos coroados para sempre

com Cristo, o Rei dos Céus! Algumas pessoas,

quando elas usam a palavra, “salvação” não entendem nada mais que livramento do Inferno

e admissão no Céu. Agora, isso não é salvação –

essas duas coisas são efeitos da salvação! Nós

fomos redimidos do inferno porque fomos salvos e entramos no céu porque

antecipadamente fomos salvos. Nosso estado

eterno é o efeito da salvação em nossas vidas.

103

Salvação, é verdade, inclui tudo isso porque a

salvação na verdade é a mãe dessas coisas e as

carrega no interior do seu coração, mas ainda

assim é errado para nós pensar que essas coisas são todo o significado da palavra. A Salvação

começa com as pessoas vagueando como

ovelhas. Ela nos acompanha nesse caminho complexo. Ela coloca-nos nos ombros do pastor.

Ela leva-nos para o aprisco. Ela reúne os amigos

e vizinhos. Ela se regozija conosco. Ela preserva-

nos no aprisco por meio da vida! E então por último ela nos traz para os pastos verdes do

Paraíso – ao lado das águas tranquilas da

felicidade – onde descansamos para sempre na

presença do Pastor Chefe, nunca mais seremos perturbados.

Agora nosso texto nos fala que só há um único caminho de salvação. “Não há salvação em

nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens,

pelo qual importa que sejamos salvos” (Atos

4.12). Antes de tudo, eu introduzirei a Verdade

negativa que Deus ensina aqui, em outras palavras, não há salvação fora de Cristo. E então,

secundariamente, a verdade positiva que Deus

infere, em outras palavras, há salvação em Jesus

Cristo pelo qual importa que sejamos salvos.

I. Primeiro, então, UM FATO NEGATIVO, “Não há salvação em nenhum outro”. Você percebeu

a intolerância da Religião de Deus? Em tempos

104

antigos o gentio, que tinha deuses diferentes,

respeitava os deuses do seu vizinho. Por

exemplo, o rei do Egito confessaria que os

deuses de Nínive eram deuses verdadeiros e reais e o príncipe da Babilônia reconheceria que

os deuses dos filisteus eram reais e

verdadeiros. Mas Jeová, o Deus de Israel, colocou como um de seus primeiros

Mandamentos, “Não terás outros deuses diante

de mim” (Êxodo 20.3). E ele não permitiria a eles

prestar o mais leve respeito a deuses de outras nações. “Mas derribareis os seus altares,

quebrareis as suas colunas e cortareis os seus

postes-ídolos” (Êxodo 34.13). Todas as outras

nações eram tolerantes – uma com as outras – mas os judeus não poderiam ser. Uma parte de

sua religião era: “Ouve, Israel, O Senhor, nosso

Deus, é o único Senhor” (Deuteronômio 6.4). E a

consequência dessa crença, de que havia só um Deus, e que esse Deus único era Jeová era que

eles sentiam a obrigação de chamar todos os

outros deuses por apelidos, para cuspir em cima

deles, para tratá-los com ofensa e desprezo. Se você aplicar a um Bramam o conhecimento de

um caminho para a salvação, ele provavelmente

te dirá que uma vez que as pessoas seguirem

suas religiões com convicções sinceras, serão indubitavelmente salvas. “Há”, ele diz, “ Os

Muçulmanos – se eles obedecerem Maomé e

sinceramente acreditarem no que ele ensinou

sem dúvidas – Alá ira glorificá-los no final”. Então, o Bramam volta-se para o missionário

105

Cristão e diz – “Qual a finalidade, de você trazer

seu cristianismo aqui para nos perturbar? Eu

digo que nossa religião é totalmente capaz de

nos levar para o paraíso se nós formos fiéis a ela”. Agora só ouçam o texto – Quão intolerante

é a religião Cristã – “Não há salvação em

nenhum outro”. O Bramam pode admitir que existe salvação em 50 religiões junto a sua, mas

nós não admitimos coisa semelhante! Não há

salvação verdadeira fora de Jesus Cristo! Os

deuses dos gentios podem nos aproximar com falsa caridade e dizer-nos que todo homem pode

seguir as convicções da própria consciência e

ser salvo. Nós respondemos – “Nada disso! Não

há salvação em nenhum outro – porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado

entre os homens, pelo qual importa que sejamos

salvos.”

Agora, o que vocês supõem ser a causa para essa intolerância – se eu posso usar essa palavra novamente? Eu acredito que é porque só existe

a verdade de Deus tanto para o Judeu como para

o Cristão. Uns mil erros podem viver em paz uns

com outros, mas a verdade de Deus é o martelo que quebra todos esses erros em pedaços!

Milhares de religiões mentirosas podem dormir

pacificamente em uma cama – mas em todo

lugar a religião cristã chega como a verdade de Deus. É como um tição e não tolera nada que é

mais substancial que a madeira, como o feno e a

palha do erro carnal. Todos os deuses dos

106

gentios e das outras religiões são nascidos no

inferno e, então, são filhos do mesmo pai,

pareceria errado que eles deveriam cair,

reprovar e lutar! Mas a religião de Cristo é criatura de Deus – seu pedigree vem do alto e,

então, uma vez que ela é empurrada em meio a

essa geração incrédula e rebelde, não há nenhuma paz, nem discussão, nem tratado –

pois é a Verdade de Deus, que não se pode

permitir ser emparelhada com erro – ela ergue-

se sobre seus próprios direitos e declara ao erro que nele não há salvação – mas na verdade de

Deus, e na verdade de Deus somente, a salvação

pode ser encontrada.

Novamente – e é porque nós temos o castigo de Deus. Seria impróprio para qualquer homem que tivesse declarado um credo de si próprio

declarar que todos os outros que não acreditam

nisso devessem ser condenados. Seria uma

impressionante disposição de condenar e inveja cega que nos permitiria sorrir. Mas desde que a

religião de Cristo é revelada dos próprios céus –

Deus que é o autor da própria Verdade – tem o

direito de anexar a essa verdade a terrível condição que, quem quer que seja rejeitar, irá

perecer sem misericórdia! E ele pode proclamar

que separado de Cristo nenhum homem pode

ser salvo. Nós realmente não somos intolerantes com nós mesmos, mas ecoamos as

Palavras dEle que fala dos Céus e que declara

que amaldiçoado é o homem que rejeita essa

107

religião de Cristo, visto que não há salvação fora

dEle. “Não há salvação em nenhum outro;

porque abaixo do céu não existe nenhum outro

nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos”

Agora, eu ouço uma ou duas pessoas dizendo, “Você imagina então, que ninguém pode ser

salvo separado de Cristo?” Eu respondo, eu não imagino, mas eu tenho aqui em meu texto

claramente ensinado! “Bem mas,” diz um, “Em

relação a morte de crianças? Não morrem as

crianças sem um pecado real? Elas são salvas? E se são, como?” Eu respondo, elas são salvas, sem

dúvidas – todas as crianças morrendo na

infância são levadas para o Terceiro Céu de

glória eternamente! Mas anote isso – nenhuma criança foi salva separada da morte de Cristo.

Jesus Cristo comprou com seu sangue todos os

que morreram na infância. Elas são todas

regeneradas, não em pequena quantia, mas provavelmente no momento de suas mortes

uma maravilhosa mudança passa por suas vidas

pela respiração do Espírito Santo. O sangue de

Jesus é aplicado, e eles são lavados de toda corrupção original que herdaram dos seus pais

– e dessa forma, lavados e purificados, eles

entram no reino dos Céus. De outra forma,

amados, não estariam aptas a participar da canção eterna. Àquele que nos ama, e, pelo seu

sangue, nos libertou dos nossos pecados” (Ap

1.5c) Se as crianças não forem lavadas no sangue

108

de Cristo, elas não podem participar da canção

universal que perpetuamente circunda o Trono

de Deus! Nós acreditamos que elas todas são

salvas – cada uma delas sem exceção – mas não separadas do grande Sacrifício do Senhor Jesus

Cristo.

Outros dizem, “Mas e os gentios? Eles não conhecem Cristo – alguns dos gentios são salvos?” Anotem, as Santas Escrituras dizem

alguma coisa concernente à salvação dos

gentios, mas pouco. Há muitos textos nas

escrituras que nos levam a inferir que todos os gentios irão perecer. Mas há alguns outros

textos, que de outro modo, levam-nos a

acreditar que alguns dos gentios, conduzidos

pelo Espírito secreto de Deus, estão procurando Ele no escuro. Pelo Seu Espírito eles se esforçam

a descobrir uma coisa que eles não poderiam

descobrir na natureza. E pode ser que o Deus de

infinita Misericórdia que ama suas criaturas, esteja contente em fazer essas revelações em

seus próprios corações. Revelações misteriosas

e secretas em relação às propriedades do Céu –

então mesmo eles podem ser feitos participantes do sangue de Jesus Cristo – sem

ter uma visão tão aberta como a que nós

recebemos – sem comtemplar a Cruz

visivelmente elevada e Cristo exposto entre eles. Foi observado que em muitas ilhas pagãs

antes dos missionários estarem lá, havia um

forte desejo pela religião de Cristo. Nas Ilhas

109

Sandwich, antes de nossos missionários irem

para lá, havia uma estranha comoção na mente

daqueles pobres bárbaros. Eles não sabiam o

que era isso, mas eles tiveram um súbito descontentamento com a sua idolatria e depois

tiveram um profundo desejo de algo maior,

melhor e mais puro do que qualquer coisa que eles tinham descoberto até então. E tão logo,

quando Jesus foi pregado eles com vontade

largaram toda a sua idolatria e se colocaram

sobre Ele, para Ele ser a sua força e salvação deles! Agora nós acreditamos que isso foi o

trabalho do Espírito de Deus secretamente

inclinando essas pobres criaturas a buscá-lo. E

nós não podemos dizer que em alguns locais isolados onde nós pensamos que o evangelho

nunca foi pregado, não pode haver algum

panfleto isolado, algum capítulo da Bíblia,

algum verso solitário do Escrito sagrado lembrado o qual pode servir suficiente para

abrir olhos cegos e guiar esses pobres corações

ignorantes aos pés da cruz de Cristo! Mas uma

coisa é certa – nenhum gentio, de qualquer forma moral – seja na velha filosofia ou no

tempo presente de seu barbarismo – jamais

entrou ou poderia entrar no Reino dos Céus

separado do nome de Jesus Cristo “Não há salvação em nenhum outro” Um homem pode

procurá-lo e trabalhar de sua própria maneira,

mas não é possível encontrá-lo, “porque abaixo

do céu não existe nenhum outro nome, dado

110

entre os homens, pelo qual importa que sejamos

salvos.”

Mas depois de tudo, meus queridos amigos, é muito melhor – quando estamos lidando com

esses assuntos – não falar de maneira especulativa, mas falar pessoalmente a nós

mesmos. E deixe-me agora te perguntar essa

questão – Você já provou por experiência a verdade desse grande fato negativo, que não há

salvação em nenhum outro? Eu posso falar o

que eu sei e testificar o que eu tenho visto

quando eu declaro solenemente na presença dessa congregação que é mesmo assim! Uma

vez eu pensei que havia salvação em boas obras

e eu trabalhei duro e diligentemente me

esforcei para preservar um caráter de integridade e sinceridade. Mas quando o

espírito de Deus veio ao meu coração “reviveu o

pecado, e eu morri.”(Rm 7.9c) O que eu pensava

ser bom, provou ser mal – De maneira que eu pensava ser santo – eu me descobri como não

santo. Eu descobri que minhas melhores ações

eram pecaminosas. Que minhas lágrimas a

serem choradas e minhas muitas orações precisavam do perdão de Deus! Eu descobri que

eu estava buscando salvação pelas obras da lei –

que eu estava fazendo todas as minhas boas

obras por um motivo egoísta – em outras palavras salvar a mim mesmo e, então, elas não

poderiam ser aceitáveis a Deus. Eu descobri que

eu não poderia ser salvo por boas obras por duas

111

razões muito boas. Primeiro, eu não tinha

nenhuma, e segundo, se eu tivesse, elas não

poderiam me salvar! Foi depois disso que eu

entendi que a salvação poderia ser obtida de uma certa forma por reforma e de uma certa

forma por confiar em Cristo. Então eu trabalhei

duro novamente e pensei que se eu adicionasse umas poucas orações aqui e ali, algumas

lágrimas de penitência e algumas promessas de

melhora, tudo estaria bem. Mas depois de

trabalhar por muitos dias enfadados, como um cavalo cego trabalhando em um moinho, eu

achei que não havia mais, mas ainda estava lá, a

maldição de Deus, pairando sobre mim.

“Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro da lei, para

praticá-las.” (Gl 3.10b). E ainda havia um vazio

doloroso em meu coração, que o mundo não

poderia preencher – um vazio de agonia e preocupação – em mim que estava

dolorosamente perturbado porque eu não

conseguia alcançar o descanso que minha alma

desejava! Você tentou desses dois modos chegar ao Céu? Se você tentou, eu confio no Senhor, no

Espírito Santo, que fez seu coração doente,

porque você nunca entraria no Reino do Céu

pela porta correta até você primeiramente ser levado a confessar que todas as outras portas

estão barradas em seus dentes! Nenhum

homem virá até Deus pelo caminho estreito e

apertado até que ele tenha tentado todos os outros caminhos – e quando nós nos

112

descobrimos gastos, frustrados e derrotados –

então pressionados por uma necessidade

dolorosa, nós nos entregamos à fonte aberta e

nós nos lavamos e nos tornamos limpos.

Talvez tenhamos aqui alguns que estão tentando ganhar a salvação por cerimônias.

Você foi batizado na infância. Você toma regularmente a Ceia do Senhor. Você está

presente em sua igreja ou capela. E se você ficar

sabendo de outras cerimônias você estará

presente nelas. Ah, meus queridos amigos, todas essas coisas são palha diante do vento na

questão da salvação! Elas não podem te ajudar a

dar um passo em direção a aceitar a Pessoa de

Cristo.

Construir sua casa com água é como construir sua salvação com pobres coisas como essas. Elas

são boas o bastante para você quando você é

salvo, mas se você procura salvação nelas, elas serão para você como poços sem água, nuvens

sem chuva, árvores secas, duas vezes mortas,

arrancadas pelas raízes! Qualquer que seja seu

caminho de salvação – porque há milhares de invenções do homem pelas quais eles procuram

se salvar! Qualquer que seja ele, ouça a sentença

de morte dela a partir desse versículo “Não há

salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre

os homens, pelo qual importa que sejamos

salvos”

113

II. Agora, isso me leva ao FATO POSITIVO o qual é inferido no texto, em outras palavras, há

salvação em Jesus Cristo, certamente, quando

eu faço esse enunciado, eu posso exclamar em seguida a canção dos anjos e dizer “Glória a

Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os

homens, a quem ele quer bem.”(Lucas 2.14) Aqui há milhares de misericórdias unidas em uma,

nesse doce, doce fato – que há salvação em Jesus

Cristo! Eu me esforçaria agora para dividir com

qualquer alma aqui presente que mantém uma dúvida em relação a sua salvação em Jesus

Cristo. Eu queria destacar e dirigir a você

carinhosamente e seriamente, eu quero me

esforçar para mostrar-lhe que você ainda pode ser salvo e que em Cristo há salvação para você!

Eu conheço você pecador! Você tentou encontrar o caminho para o Céu e o perdeu.

Você realizou milhares de truques

deslumbrantes para enganar-se, e mesmo assim, nunca conseguiu uma base sólida de

conforto para os seus pobres pés cansados. E

agora, cercados pelos seus pecados você não é

capaz de erguer os olhos. A culpa está como um fardo pesado em suas costas, e seus dedos estão

em seu lábios para você não ousar gritar por

perdão. Você tem medo de falar sob pena de sua

própria boca que você deve ser condenado! Satanás murmura em seus ouvidos “Tudo está

sobre você – não há misericórdia para quem é

como você – você está condenado e condenado

114

você deve ser! Cristo é capaz de salvar muitos,

mas não de salvar você.” Pobre alma! O que eu

devo lhe dizer, além disso – venha comigo a cruz

de Cristo e você verá lá uma coisa que ira remover sua incredulidade! Você vê aquele

Homem pregado naquele madeiro? Você

conhece Essa Personalidade? Ele está sem mancha, ou defeito ou qualquer coisa assim. Ele

não era ladrão para ter morrido uma morte

criminosa – Ele não era um assassino nem um

criminoso para ele ter sido crucificado entre dois malfeitores. Não – Sua origem era pura,

sem um pecado. E Sua vida era Santa, sem uma

falha! Da Sua boca procediam somente bênçãos.

Suas mãos eram cheias de boas ações e Seus pés eram rápidos em relação a atos de misericórdia.

Seu coração era branco, com Santidade! Não

havia nada Nele que um homem poderia culpar.

Mesmo Seus inimigos, quando procuraram acusá-Lo, encontraram falsas testemunhas, e

mesmo delas “os depoimentos não eram

coerentes”(Mc 14.56b). Você O vê morrendo?

Pecador, deve haver mérito na morte de um Homem como Aquele! Sem um pecado próprio,

quando ele é colocado para sofrer – deve ser

pelos pecados de outros homens! Deus não iria

afligi-Lo e fazê-Lo sofrer se Ele não merecesse isso. Deus não é o tirano que esmagaria o

inocente! Ele não é alguém não Santo que

puniria um homem justo. Ele sofreu, então,

pelos pecados de outros-

115

“por pecados não os seus,

ele morreu para expiação”

Pense na pureza de Cristo e então veja se não há salvação Nele. Olhe agora para si mesmo, com

toda a escuridão, e olhe para a Sua Brancura.

Olhe para si mesmo com toda a sua

contaminação e olhe para a Sua Pureza. E você olha para a Sua pureza como o Lírio e você vê o

vermelho de Seu sangue transbordando, deixe

esse murmúrio ser ouvido em seus ouvidos – Ele

é capaz de te salvar, pecador, na medida em que ele foi “tentado em todas as coisas, à nossa

semelhança” ainda Ele esteve “sem pecado”

(Hb 4.15). Então o mérito de seu sangue deve ser

grande. Oh, que Deus nos ajude a crermos nEle!

Mas essa não é a coisa magnífica que deveria recomendá-lO a você. Lembre, Ele que morreu

naquela cruz é nada menos que o eterno Filho de Deus! Você vê Ele lá? Venha, torne seus olhos

mais uma vez para Ele. Você vê suas mãos e pés

gotejando fluxos de sangue? Aquele Homem é o

Deus todo-poderoso. Aquelas mãos que estão pregadas na madeira são mãos que podem

balançar o mundo! Naqueles pés que estão

furados, se Ele tiver vontade de colocá-los

adiante, tem uma potência de força que pode fazer as montanhas derreter abaixo de seus

passos. Aquela cabeça, agora oprimida em

angústia e fraqueza, tem a sabedoria da Cabeça

116

de Deus que com seu aceno pode fazer o

universo tremer. Ele que está pendurado

naquela cruz é Ele sem o qual nada do que foi

feito existiria – por Ele todas as coisas consistem – Produtor, Criador, Protetor, Deus da

providência e Deus da Graça – Ele que morreu

por você é Deus sobre tudo, santificado para sempre. E agora, pecador, em um Salvador com

Esse há algum poder para salvar? Se ele fosse

um mero homem, um Cristo Sociniano ou

Ariano, eu não ofereceria minha confiança Nele. Mas como Ele não é nenhum outro senão

Deus, Ele mesmo, Encarnado em carne

humana, eu te suplico, lance-se nele -

“Ele é capaz, ele está disposto, sem mais dúvidas”

Ele é capaz de salvar totalmente, então venha a Deus por Ele.

Você lembrará, novamente, como uma consolação a mais na sua fé, você pode acreditar

que Deus o Pai aceitou o Sacrifício de Cristo? È a

fúria do Pai a maior causa que você tem para tremer – o Pai está irado contra você, porque

você pecou e ele prometeu com uma maldição

que Ele iria puni-lo por suas ofensas! Agora

Jesus morreu em lugar de cada pecador que se arrependeu ou mesmo irá se arrepender. Jesus

Cristo foi colocado como seu substituto e seu

bode expiatório. Deus, o Pai, aceitou o Cristo em

117

lugar de pecadores! Oh, isso não deveria levá-lo

a aceitá-lo. Se o Juiz aceitou o sacrifício,

certamente você pode aceitá-lo também! E se

Ele está satisfeito – certamente você também pode estar contente. Se o Credor escreveu um

perdão da dívida livre e completo – você o pobre

devedor pode regozijar-se e acreditar que esse perdão da dívida é lhe satisfatório para porque é

satisfatório para Deus. Mas você pode me

perguntar como eu sei que Deus aceitou a

expiação de Cristo. Eu lembro a você que Jesus ressuscitou dos mortos. Cristo foi colocado na

prisão do túmulo depois que ele morreu, e lá Ele

esperou até Deus aceitar a expiação.

“Se Jesus nunca tivesse pagado a dívida Ele nunca teria sido libertado”

Cristo estaria no túmulo esse mesmo dia se Deus não tivesse aceitado Sua expiação para

nossa justificação! Mas o Senhor olhou do Céu e Ele avaliou o trabalho de Cristo e disse consigo

Mesmo, “Muito Bom. É o suficiente.” E virando-

se para um anjo disse “Anjo, meu filho está

confinado em uma prisão, um refém para meus eleitos. Ele pagou o preço. Eu sei que ele não

quebrará a prisão por si Mesmo – vá anjo, vá e

role aquela pedra da porta do sepulcro e O

liberte.” Voou abaixo o anjo e rolou a pedra pesada. E levantando das sombras da morte o

Salvador viveu! “Ele morreu e ressuscitou para

nossa justificação.” Agora, pobre Alma, você

118

entende que Deus aceitou a Cristo – Então

certamente, você pode aceitá-lo e crer nele!

Um outro argumento que talvez possa se aproximar de sua própria alma é esse – muitos

que foram salvos são tão desprezíveis como você, então, há salvação! “Não,” você diz,

“ninguém é tão desprezível como eu.” È uma

misericórdia da qual você pensa desse modo, no entanto é quase certo que outros que foram

salvos foram tão imundos como você. Você foi

um perseguidor? Sim, mas você não teve mais

sede de sangue do que Saul! E ainda aquele chefe de pecadores se tornou o chefe dos

santos! Você foi um praguejador? Você

amaldiçoou o Todo-poderoso em Sua Face? Sim.

E tais foram alguns de nós que levantamos nossas vozes em oração e nos aproximamos de

Seu trono com aceitação. Você foi um bêbado?

Sim, assim como muitos do povo de Deus foram

por muitos dias ou por muitos anos – mas eles abandonaram sua podridão e se voltaram ao

Senhor com pleno propósito de coração. No

entanto é grande o seu pecado, eu te digo,

homem, mulher, alguns tão afundados no pecado como você foram salvos! E se ninguém

que foi salvo foi tão grande pecador como você,

então uma razão muito maior porque Deus deve

te salvar – Ele pode ir além de tudo aquilo que ele mesmo já fez! O Senhor sempre se alegra em

fazer maravilhas. E se você permanece o chefe

dos pecadores, um pouco a frente de todo o

119

resto, eu creio que Ele irá se alegrar em salvar

você – que as maravilhas de Seu amor e de Sua

Graça podem ser mais notoriamente

conhecidas! Você ainda diz que é o chefe dos pecadores? Eu te digo que eu não acho isso. O

chefe dos pecadores foi salvo anos atrás – esse

foi o Apóstolo Paulo – mas mesmo se você excedesse-o – ainda aquela palavra vai um

pouco além de você! “Por isso, também pode

salvar totalmente os que por ele se chegam a

Deus” (Hb 7.25a) Lembre, Pecador, se você não encontrar salvação em Cristo, será porque você

não procurou-o, porque ela certamente está lá.

Se você irá perecer sem ser salvo pelo sangue de

Jesus Cristo, não será por ausência de poder no sangue para te salvar, mas completamente por

ausência de vontade de sua parte – que você não

crerá nele, mas de forma libertina e intencional

rejeitou Seu sangue para sua própria destruição! Tome cuidado consigo mesmo,

porque certamente como não há salvação em

nenhum outro, tão certamente há salvação

Nele.

Eu posso voltar-me a mim mesmo e lhe dizer que certamente deve haver salvação em Cristo

para você assim como eu encontrei salvação em

Cristo para mim. Frequentemente eu tenho dito

que eu nunca vou duvidar da salvação de ninguém, enquanto eu posso, somente sabendo

que Cristo me aceitou. Oh, quão escuro era o

meu desespero quando pela primeira vez eu

120

procurei seu Propiciatório! Eu pensava que se

ele tivesse misericórdia do mundo todo, Ele

ainda nunca teria misericórdia de mim! Os

pecados da minha infância e adolescência me assombravam. Eu procurei me livrar deles um

por um, mas eu fui pego em uma rede de ferro

de maus hábitos e eu não podia pôr fim neles. Mesmo quando eu renunciava meu pecado a

culpa ainda aderia em minhas roupas. Eu não

poderia tornar a mim mesmo limpo! Eu orei por

três longos anos. Eu dobrei meus joelhos em vão, e procurei, mas não encontrei

misericórdia. Mas, no fim, abençoado por Seu

nome, quando eu tinha desistido de toda

esperança e pensava que sua fúria rapidamente me destruiria e que a sepultura do inferno

abriria sua boca e me engoliria, no tempo em

que eu cheguei ao meu limite Ele se manifestou

e me ensinou a me lançar simplesmente e completamente a Ele! Assim será com você –

somente confie Nele, porque há salvação Nele –

descanse assegurado disso. Todavia, para

apressar sua diligência, Termino referindo que, se você não encontrar a salvação em Cristo,

lembre-se que você nunca irá encontrá-la em

outro lugar. Que terrível coisa será se você

perder a salvação provida por Cristo. “como escaparemos nós, se negligenciarmos tão

grande salvação?” (Hb 2.3a) Hoje, muito

provavelmente, eu não estou falando para

muito dos mais rudes pecadores, ainda eu sei que estou falando para alguns dessa classe. Mas

121

sejamos nós rudes pecadores ou não – quão

terrível coisa será para nós morrermos sem

primeiro ter encontrado interesse no Salvador.

Oh Pecador! Isso deveria te apressar em ir ao propiciatório. Lembre que se você não

encontrar misericórdia em Jesus você não

encontrará em nenhum lugar mais. Se os portões do céu nunca se abrirem para você,

lembre que não há nenhum outro portão que

possa ser aberto para sua salvação! Se Cristo

recusar você, você é recusado! Se seu sangue não for borrifado em você, você está perdido,

sem dúvida. Oh, se ele mantém você esperando

um pouco, continue em oração.

É digno esperar por – especialmente quando você tem este pensamento mantendo-o

esperando, ou seja que não há esperança em

nenhum outro, nenhum outro caminho,

nenhuma outra esperança, nenhuma outras base de confiança, nenhum outro refúgio. Lá eu

vejo os portões do céu, e se eu devo entrar, eu

devo rastejar em minhas mãos e joelhos porque

é um portão baixo. Lá eu vejo, é estreito e apertado, eu devo deixar atrás de mim meus

pecados, minha justiça e meu orgulho e devo

rastejar por aquela portinhola. Venha pecador, o

que você diz? Você vai além por esse portão apertado e estreito, ou você vai desprezar a vida

eterna e arriscar a felicidade eterna? Ou você vai

passar humildemente esperando aquele que

122

deu a si mesmo por você, te aceitou e te salvou

agora e eternamente.

Tomara que essas poucas palavras tenham poder para atrair alguns para Cristo e assim fico

contente. “Crê no Senhor Jesus e serás salvo” (At 16.31b) “porque abaixo do céu não existe

nenhum outro nome, dado entre os homens,

pelo qual importa que sejamos salvos”

Amém. Amém!

Por Charles Haddon Spurgeon

123

Uma Cura Tríplice para um Mal Tríplice

Existem três principais defeitos no homem desde a queda:

Há ignorância e cegueira.

Há rebelião na vontade e afeições.

E no que diz respeito à sua condição, em razão dos pecados da natureza e da vida, há a sujeição

a um estado amaldiçoado, sob a ira de Deus e à

condenação eterna.

Agora, para responder a estes três grandes males, aquele que deve ser ordenado Salvador deve fornecer remédios adequados para os

mesmos. Por isso há um tríplice ofício em

Cristo, que é ordenado para salvar o homem,

para curar esses três males citados.

Como somos ignorantes e cegos, ele é um profeta para nos instruir, para nos convencer do

mau estado em que estamos, e, então, para nos

convencer do bem que ele designou para nós, e que tem feito por nós, para nos instruir em todas

as coisas para o nosso conforto eterno. Ele é um

profeta que não somente nos ensina

externamente, mas o nosso homem interior. Ele abre o coração, ele ensina a fazer as coisas que

ele ensina. Os homens ensinam o que devemos

fazer, mas não podem nos capacitar

124

interiormente a fazê-las. Ele é um profeta que

tanto nos ensina o que fazer, como também a

amar e obedecer, etc.

E responde à rebelião e pecaminosidade de

nossas disposições, ele é um rei para dominar tudo o que está mal em nós, e também para

subjugar todos os poderes que se opõem em nós.

Pouco a pouco ele vai subjugando todos os inimigos debaixo de seus pés, e sob os nossos

pés, também, dentro de pouco tempo.

Agora, como nós fomos amaldiçoados por causa de nossa condição pecaminosa, por isso ele é

um sacerdote para satisfazer à ira de Deus contra nós. Ele foi feito maldição por nós, Gál

3.13. Ele se tornou um servo, para que, sendo

assim, ele pudesse morrer, e se submeter à

morte de maldição na cruz, não somente uma morte, mas uma morte amaldiçoada, e por isso

o seu sangue pode ser uma expiação, e ele um

sacerdote. Assim, respondendo ao tríplice mal

em nos, você pode ver aqui um tríplice ofício em Cristo.

Tradução feita pelo Pr Silvio Dutra de parte de um texto de Richard Sibbes, em domínio

público.

125

Sem Fé não Há Salvação

Alguns pensam que é difícil que não haja nada

para eles senão ruína caso não creiam em Jesus

Cristo; mas se você pensar nisso por um minuto

verá que é justo e razoável. Eu suponho não haver outra forma de manter um homem com

suas forças exceto por comer. Se você dissesse,

“Eu não vou comer novamente, eu desprezo tal

animalismo”, você poderia ir para a Ilha da Madeira, ou viajar por todas as terras (supondo

que você viva o suficiente!), mas verificaria que

nenhum clima e nenhum exercício

conseguiriam manter você vivo se você recusasse comida. Você então reclamaria, “É

uma dura coisa que eu tenha de morrer porque

eu não acredito em comer”? Não é uma coisa

injusta que, se você for tão tolo a ponto de não comer, você morra. É precisamente assim com

a fé. “Creia e serás salvo”. Se tu não creres, não é

uma coisa dura que tu tenhas de se perder. Seria estranho, na verdade, que não fosse assim.

Um homem com sede está diante de uma fonte. “Não”, ele diz, “eu não vou tocar em uma gota de

umidade enquanto eu viver. Eu não posso ter

minha sede saciada de outra forma?” Dizemos a

ele, não; ele deve beber ou morrer. Ele diz, “Eu nunca vou beber; mas é algo duro que por isso

eu tenha de morrer. É fanatismo, crueldade

dizer isso para mim”. Ele está errado. Sua sede é

126

o resultado inevitável de negligenciar as leis da

natureza. Você também deve crer ou morrer;

porque se recusar a obedecer ao mandamento?

Beba, homem, beba!

Tome a Cristo e viva. Aí está o caminho da salvação, e para entrar você tem de confiar em

Cristo; mas não há nada de duro no fato de que você perecerá se não confiar no Salvador. Eis um

homem no mar; ele tem um mapa que indica a

posição das estrelas, e aquele mapa, se bem

estudado, irá, com a ajuda da bússola, guiá-lo pela sua jornada até o fim. A estrela polar brilha

além das nuvens, e isso também o ajudará.

“Não”, diz ele, “Eu não terei nada que ver com as

estrelas; eu não creio no pólo norte. Eu não vou prestar atenção naquela coisa dentro daquela

caixa; uma agulha é igual a qualquer outra. Eu

não tenho fé no seu mapa, e não lhe darei

atenção. A arte de navegação é totalmente sem sentido, e foi criada por pessoas cuja intenção

era ganhar dinheiro, e eu não serei enganado

por ela”. Então Jesus diz, “Quem não crer já está

condenado”. “Isso é muito duro”, diz você. Mas não é. Não é mais duro do que o fato de que se

você rejeitar a bússola e a estrela polar você não

chegará ao porto. Não há como mudar isso; tem

de ser assim.

Você diz que não terá nada com Jesus e Seu sangue, e você se esquiva de toda religião. Você

achará difícil rir desses assuntos quando você

127

morrer, quando o suor frio for limpo de sua

testa, e seu coração bater no peito como se

quisesse saltar e voar para longe de Deus. Pobre

alma! Você descobrirá então, que aqueles domingos, e aqueles serviços, e este velho Livro,

são algo mais e melhor que você pensou que

eram, e você perceberá que você era muito ingênuo para ter negligenciado qualquer ajuda

real de salvação. E além de tudo, que infortúnio

ter desprezado a Cristo, a estrela-polar que por

si só pode guiar o marinheiro para o ancoradouro de descanso!

Aonde você vive?

Você talvez viva do outro lado do rio, e você tem de cruzar uma ponte antes de chegar em casa. Você tem sido tão idiota se perceber que você

não acredita em pontes, barcos ou mesmo na

existência de algo como a água. Você diz, “Eu

não vou passar por nenhuma das suas pontes, e nem entrar em nenhum dos seus barcos. Eu não

creio que haja um rio, ou que haja algo como a

água”. Você está indo para casa, e logo chega à

velha ponte; você não a atravessará. Na margem há um barco; mas você está determinado a não

entrar nele. Há ali um rio, e você resolve não

cruzá-lo da maneira habitual; e ainda assim você

pensa ser algo muito duro que você não consiga chegar em casa. Certamente alguma coisa

destruiu sua capacidade de raciocínio, pois você

não pensaria ser isso duro se estivesse

128

plenamente consciente. Se um homem não fizer

o que é necessário para determinado objetivo,

como ele espera alcançá-lo? Você tomou

veneno, e o médico traz o antídoto, e diz, “Tome rápido, ou você morrerá, mas se você tomar

logo, posso garantir que o veneno será

neutralizado”. Mas, diz você, Não doutor, eu não acredito em antídotos. Deixe que tudo aconteça

como deve, como a água segue o seu devido

curso; Eu não terei nada que ver com o seu

remédio. Além do mais, eu não creio que haja nenhum remédio para o veneno que eu tomei;

e, ainda, eu não me importo se há ou não.

Bem, meu caro, você irá morrer; e quando o inquérito do legista for realizado em seu corpo,

o veredicto será, “Serve-o bem!” Assim será

com você se, tendo ouvido o evangelho de Jesus

Cristo, disser, “Eu sou um homem muito avançado para me meter com aquela noção

antiquada de substituição. Eu não atenderei ao

discurso do pregador sobre sacrifício e aspersão

de sangue”. E, quando você perecer, o veredicto finalmente dado por sua consciência, que vai se

sentar lá em cima junto com o Rei, será,

“Suicídio: ele destruiu a própria alma”.

Assim diz o velho Livro – “A tua ruína, ó Israel,

vem de ti”. Leitor, eu lhe imploro, não faça isso.

Por Charles Haddon Spurgeon

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“Poderoso para salvar” (Isaías 63:1)

Pela palavra "salvar" compreende-se toda a

grandiosa obra da salvação, desde o primeiro

desejo santo até a completa santificação.

Na verdade, eis aqui toda misericórdia em uma só palavra.

Cristo não é somente "poderoso para salvar" aqueles que se arrependem, mas Ele também é

capaz de fazer com que os homens se

arrependam.

Ele conduzirá ao céu todos os que creem; além disso, Ele também é poderoso para dar aos

homens um novo coração e operar dentro deles

a fé.

Ele é poderoso para fazer o homem que odeia a santidade, amá-la, e para constranger aos que desprezam o Seu nome, a dobrar os joelhos

diante dEle.

Isso não é tudo, pois o poder divino é igualmente visto depois da conversão.

A vida do cristão é uma série de milagres operados pelo "Poderoso Deus".

A sarça arde, mas não se consome.

130

Ele é poderoso para manter o Seu povo em santidade de vida após tê-lo tornado santo, e

para preservá-los em temor e amor até

consumar sua existência espiritual no céu.

O poder de Cristo não está em tornar uma pessoa crente e depois deixar que ela mude por si mesma; mas

Aquele que começa a boa obra continua o Seu trabalho; Aquele que dá o primeiro sopro de vida

na alma morta prolonga a existência divina e

fortalece-a até que ela rompa todos os laços do

pecado e a alma salte da terra, aperfeiçoada em glória.

Cristão, eis aqui o teu alento.

Estás orando por um ente querido?

Oh, não desistas das tuas orações, pois Cristo é "poderoso para salvar".

Tu és impotente para recuperar o rebelde, mas o teu Senhor é Todo-Poderoso.

Agarra-te nesse braço poderoso e usa-o para que te dê da Sua força.

São os teus próprios problemas que te atormentam?

Não temas, pois a força dEle é suficiente para ti.

Começando com os outros ou continuando a obra em ti, Jesus é "poderoso para salvar"; a

melhor prova disso reside no fato de que Ele te

salvou.

Quantas misericórdias não tens encontrado nAquele que é poderoso para salvar!

Por Charles Haddon Spurgeon