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ACÇÃO DE COMPLEMENTO DE FORMAÇÃO DE NÍVEL 1 Estágio de Treinador de Nível 1 Documento retirado do “Manual das Acções de Complemento de Formação de Nível I”. Para uso exclusivo dos Treinadores Estagiários como documento de apoio à sua formação. 1 CURSO DE TREINADORES DE NÍVEL 1 ACÇÃO DE COMPLEMENTO DE FORMAÇÃO TEMA : A FILOSOFIA DO TREINADOR DE JOVENS

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ACÇÃO DE COMPLEMENTO DE FORMAÇÃO DE NÍVEL 1Estágio de Treinador de Nível 1

Documento retirado do “Manual das Acções de Complemento de Formação de Nível I”.Para uso exclusivo dos Treinadores Estagiários como documento de apoio à sua formação.

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CURSO DE TREINADORES DE NÍVEL 1

ACÇÃO DE COMPLEMENTO DE FORMAÇÃO

TEMA : A FILOSOFIA DO TREINADOR DE JOVENS

ACÇÃO DE COMPLEMENTO DE FORMAÇÃO DE NÍVEL 1Estágio de Treinador de Nível 1

Documento retirado do “Manual das Acções de Complemento de Formação de Nível I”.Para uso exclusivo dos Treinadores Estagiários como documento de apoio à sua formação.

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A Filosofia do Treinador

Procurando na bibliografia encontramos diferentes formas de sistematizar as funçõesdo treinador, as suas características e as suas tarefas.

Pela nossa parte, optámos por apresentar o problema dizendo que, para poder exercercorrectamente a sua função, o treinador precisa de :

CONHECER • os aspectos da sua modalidade

• os praticantes (em todas as suascomponentes)

• os factores de treino, as técnicasde ensino

• as questões do planeamento e daorganização do seu trabalho

COMUNICAR • fazer chegar aos praticantesaquilo que eles sabe

• estabelecer com eles uma relaçãocordial, franca, de respeito eaberta

GOSTAR • daquilo que faz

• de ensinar e de treinar

• dos praticantes

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O sucesso do treinador resulta assim de diferentes combinações destas capacidades,sendo certo que o treinador ideal (que apresente todas estas características no seuvalor máximo) dificilmente vai existir e que a ausência completa de todas elascondena o treinador ao completo inêxito no exercício da função.

AS QUALIDADES DO TREINADOR

Conhecer Comunicar Gostar

F I L O S O F I A

Porém, envolvendo tudo isto e ao mesmo tempo sustentando todas estas componentessurge um conjunto de princípios que o treinador vai construindo e que o ajudam aresponder a várias questões que vão surgindo no trabalho e a ultrapassar obstáculos,por vezes bem difíceis, nos momentos de crise, ao mesmo tempo que facilita atomada de opções entre as diferentes alternativas que se lhe colocam. Estamos a falar

da FILOSOFIA DO TREINADOR, ou seja, um conjunto de princípios,conceitos e valores que o treinador defende com convicção e que, com o tempo,ganham raízes em si próprio,, que condicionam de forma determinante a sua prática,a sua actividade quotidiana e que, sem poderem confundir-se com ciência, assumemum lugar de destaque no exercício das tarefas que ele tem de realizar, ajudando-o aescolher de entre os vários caminhos que ele pode seguir.

Uma das ajudas que a filosofia do treinador lhe pode dar, situa-se na capacidade deencontrar a resposta que melhor se adequa ao seu caso, no que se refere ao definir aprincipal preocupação que o guia no exercício da sua função

• a vitória

• o praticante

• a modalidade

• ele próprio

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Diferentes filosofias

VITÓRIA JOGADOR

EU

VITÓRIA JOGADOR

MODALIDADE EU

VITÓRIA JOGADOR

MODALIDADE EU

MODALIDADE

Não é fácil construir uma filosofia de treinador. Trata-se de uma questão individual,morosa, que exige tempo para reflexão, estudo, experimentação; que depende demodelos e de valores, que muitas vezes podem vir a entrar em choque com tendênciasmaioritárias mas em que ele convictamente acredita

O caso particular do treinador de jovens

Neste quadro, onde colocar o treinador de jovens?

O que dissemos anteriormente sobre a filosofia do treinador leva-nos necessariamentea verificar que estamos perante um nítido paradoxo, entre a natural fragilidade dascaracterísticas mais frequentes do treinador de jovens e a necessidade de ele ser capazde dominar uma correcta filosofia de trabalho que sustente um conjunto deconhecimentos que, obviamente, ele precisa de ter na sua posse.

Ora, quem são os treinadores de jovens?

São, quase sempre, treinadores ... igualmente jovens, inexperientes, no início de umacarreira e de uma actividade de que gostam, muito mais vulneráveis às “tentações” deuma filosofia desportiva dominante a que eles têm acesso por diferentes vias, mascuja filosofia própria, orientadora de muitos aspectos do seu trabalho, ainda está emconstrução

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“Sem uma clara filosofia orientadora para a sua actividade,os treinadores dos jovens tendem a adoptar a filosofia

predominante, o modelo que lhes chega com maior frequênciavindo do desporto de alta competição e do desporto profissional,

que realça o ganhar como elemento essencial.É esta posição que frequentemente coloca os jovens jogadores no

centro das aspirações e anseios dos outros, ao mesmo tempo que se esquecem dosseus interesses e as suas necessidades”

Martin Lee

É neste quadro que surge com frequência a afirmação de que a treinar os jovensdeveriam estar os melhores treinadores. Trata-se de uma falsa questão que obriga aum esclarecimento prévio do conceito de “melhor treinador”.

Não é este o caminho pelo qual desejamos seguir. O problema passa pela melhoria daformação destes treinadores, que vão continuar a dirigir a preparação dos jovens, pelacriação de condições para que haja treinadores que vão ganhando raízes e gosto pelotrabalho nestes escalões etários, de forma a que, cada vez mais, possamos ver atreinar as categorias etárias mais novas, treinadores experientes, seguros e que sejamcapazes de responder sem hesitar e com convicção a questões como:

• o que pretendo com a minha actividade?

• a quem estou eu a servir no exercício desta função?

• como avaliar o sucesso do meu trabalho?,

respostas estas que emanam de uma filosofia forte, construída ano após ano, que é

colocada ao serviço do praticante, e que irá auxiliar o treinador a encontrar as suasrespostas e a decidir sobre qual deverá ser o sentido da sua intervenção em áreascomo: prioridades e objectivos do trabalho; limites para as suas funções; tipo derelacionamento que estabelece com os seus jogadores; significado a atribuir à práticadesportiva; aplicação dos valores da ética desportiva; definição do sucesso para o seutrabalho; importância atribuída aos resultados alcançados pela sua equipa; tipo de

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relacionamento com os árbitros e os adversários; concepção de jogo e soluçõestácticas por que decide optar;

A FILOSOFIA DO TREINADOR

■ prioridades e objectivos

■ limites para as suas funções

■ significado da prática desportiva

■ aplicação da ética desportiva

■ definição do seu sucesso

■ importância dos resultados

■ relação com árbitros e adversários

■ concepção de jogo

■ tipo de relação Treinador - Jogador

Comunicar - componente essencialdo processo de treino

Treinar é, por excelência, um processo de comunicação entre o treinador e os

praticantes. Cada acto do treino exige que o treinador comunique com os seusatletas, e, ao mesmo tempo, obriga a que estes se envolvam, de modo consciente eempenhado, naquela forma de intercâmbio de mensagens.

Contudo, o processo de comunicação entre o treinador e os seus atletas não serestringe ao treino e às diferentes mensagens orais que são enviadas durante arealização dos exercícios. Estamos na verdade perante um tipo de relacionamentobem mais vasto, onde somos obrigados a incluir todo o tipo de influência que otreinador exerce sobre os jogadores, através dos princípios por que norteia a suaactuação, dos valores que ele defende e pratica, do exemplo que ele constitui,aspectos que se tornam bem mais relevantes no caso do treinador dos mais jovens,dada a maior componente formativa de que este trabalho tem de se revestir

Tal como já vimos, e ao contrário de outras actividades, a simples aquisição deconhecimentos por parte do treinador, não corresponde à garantia de obtenção desucesso no trabalho que realiza. Efectivamente, de nada lhe vão servir os seusconhecimentos, se o treinador não for capaz de os fazer chegar aos praticantes,levando-os a dar expressão viva e criadora aos referidos conhecimentos.

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“Mesmo que um treinador saiba muitas coisas sobre o exercício da sua função,mesmo que ele conheça a fundo as necessidades técnica, físicas e psicológicas dosseus atletas, o sucesso ou o fracasso do seu trabalho esbarra sempre numobstáculo: COMUNICAÇÃO. No seu relacionamento com os atletas, quase todo otempo irá ser gasto a tentar transferir para eles os seus conhecimentos, procurandogarantir que eles consigam fazer aquilo que ele espera que eles façam” Tutko e Richards (1971)

A existência de uma boa comunicação entre os intervenientes principais doprocesso de treino (treinador e jogadores) constitui um argumento importante para oêxito do referido programa. Atendendo ao papel de direcção que o treinador vai ter dedesempenhar, torna-se decisiva a capacidade que ele vier a demonstrar neste domínio.

Comunicar é, no entanto, bem mais do que falar. Por um lado porque opróprio silêncio constitui uma forma de comunicação. Depois, porque a simplesemissão de palavras nem sempre conduz à certeza de que a mensagem chegou ao seudestino, bastando que o receptor não possa ou não queira perceber aquilo que lhe estáa ser dito para que deixe de poder-se falar em comunicação.

Estamos assim perante uma realidade de que o treinador não pode alhear-se, para apoder utilizar de acordo com os seus interesses bem como para evitar cair na“armadilha” de acreditar que, quando fala com os seus atletas, está a comunicar comeles.

É preciso reconhecer que nem sempre isso acontece! E sem que isto deva levar otreinador a atribuir menos importância àquilo que diz, a consciência deste factoobriga-o porém a tomar todos os cuidados para que as suas mensagens possamefectivamente chegar aos seus jogadores e serem por eles compreendidas.

Sucede porém que no treino a ideia de comunicação precisa de ganhar uma dimensãomais ampla, não podendo limitar-se à emissão e recepção de palavras por causa doensino das técnicas.

Martens (1990) defende que a comunicação deverá ter conteúdo e emoção, emboraesta deva ser controlada, uma vez que, quando em excesso, podem levar os jogadoresa confundir o conteúdo da mensagem com a forma como ela lhe está a sertransmitida.

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Se considerarmos neste quadro toda a influência que exerce sobre os atletas,chegaremos à conclusão de que o treinador comunica com eles das mais diversasformas: através do interesse que demonstra pelos problemas pessoais de cada um, dajustiça e da igualdade de tratamento que caracterizam as suas acções dentro e fora dotreino, do recurso que faz ao humor e à zanga em função da oportunidade, daconfiança que lhes transmite e que vai sendo progressivamente conquistada maispelos seus actos do que pelas palavras, da ajuda que lhes presta tendo em vista aresolução das suas dificuldades, do modo como corrige os erros e aplaude os sucessosou os esforços que os praticantes fazem para os conseguirem alcançar, e mesmoatravés da própria criação de um bom ambiente de treino, ao mesmo tempo alegre esério, descontraído e concentrado.

Citando as conclusões de um estudo efectuado junto do famoso treinador americanode Basquetebol, John Wooden, ao longo do qual foi analisado o seu comportamentodurante vários treinos, verificou-se que, na mesma sessão de treino, ele assumia emcertos momentos uma atitude disciplinadora e quase militar, típica de um sargento doexército, para logo de seguida manifestar carinho e uma enorme sensibilidade narelação com os jogadores, tal como se tratasse de um avô a cuidar dos seus netos.

A determinação e empenho que o treinador coloca no seu trabalho, a seriedade edisciplina que exige durante as horas que comporta a sessão de treino, não podem serobstáculo a um tipo de relacionamento próximo e afectivo, em que o treinadorprocura interessar-se e demonstrar empenho em resolver os problemas dos seusjogadores, gosta de conversar com eles, está sempre disponível para abordar qualquerassunto.

Como já dissemos, comunicar é um caminho com dois sentidos, factoque o treinador precisa de conhecer e sobretudo estar interessado em explorar, tendoem vista a melhoria do rendimento da sua função. Para que esse processo funcionecom menores dificuldades o treinador tem de procurar ouvir os jogadores, mostrarinteresse naquilo que eles têm para lhe dizer, levá-los a expressar as suas ideias,criando para isso as condições facilitadoras desses momentos de diálogo e asoportunidades que permitam a sua concretização.

O estabelecimento de uma boa comunicação entre o treinador e os atletas é

favorecido por um conjunto diversificado de factores:

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FACTORES QUE FAVORECEMA COMUNICAÇÃO

■■ tratar os jogadores pelo nome■ falar e “brincar” com os jogadores■ perguntar pelos outros centros de interesse■ interessar-se pelas questões familiares■ recorrer à comunicação não verbal■ “escutar” as suas opiniões■ ajudar a estabelecer objectivos realistas■ fornecer informação sobre a sua “performance”■ não ter medo de elogiar

− criar um ambiente de treino favorável, sem grandes pressões, ondeimpere o entusiasmo, o empenho e a atenção, tanto da parte dos jogadorescomo do próprio treinador

− atenuar o distanciamento que naturalmente existe entre treinador eatletas, fruto do estatuto que aquele assume, principalmente no caso dospraticantes mais jovens, sem que tal contrarie a absoluta necessidade de seevidenciarem as obrigatórias diferenças entre ambos

− utilização de uma linguagem simples, apropriada ao escalão etário aque se destina. Um dos erros que os treinadores mais vezes cometem, é orecurso ao mesmo tipo de linguagem quando treinam jovens e adultos. Se asimplicidade do vocabulário deverá estar sempre presente, todavia, o casode se estar a trabalhar com praticantes seniores, permite que o treinadorpossa utilizar as palavras de uma outra forma, nomeadamente utilizando-asnum discurso mais rico e profundo, aproveitando-as melhor de acordo coma sua finalidade;

− recorrer ao uso de todos os canais de comunicação possíveis. Orecurso à comunicação não verbal, se é naturalmente mais pobre do pontode vista de conteúdo, apresenta porém efeitos psicológicos notáveis juntodo atleta, ajudando a desbravar vias até então obstruídas;

− ouvir os praticantes, estar sempre disponível para escutar as suasopiniões e as suas dúvidas, sem preferências nem temas proibidos,arranjando sempre o tempo necessário para atender a qualquer pedido deesclarecimento ou à manifestação de uma necessidade de diálogo por partedos jogadores;

− colorir as suas mensagens com a expressão das emoçõesque a acompanham. Na verdade, o conteúdo de determinadas frases podechegar com maior facilidade ao seu destinatário, se for acompanhado pelasemoções que lhe estão ligadas, traduzindo o modo como o treinador“sente” a informação que está a transmitir, sem atingir situações de

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excesso, que poderiam levar à subvalorização do respectivo conteúdo,contribuindo assim para que os atletas não lhe prestem a atenção devida;

− sempre que possível, envolver os atletas nas tomadas dedecisão relativamente aos assuntos da equipa e do grupo, procurandoconhecer a sua opinião e ouvindo atentamente aquilo que eles tiverem paradizer. Os assuntos que podem ser objecto desta partilha de poder, variamnaturalmente em função da idade dos praticantes, embora, em qualquer doscasos, os efeitos de uma tal medida sejam sempre benéficos, de modo a quea respectiva participação venha a ser mais consciente e interessada;

− conquistar o respeito e a admiração dos seus atletas, pelo seu exemplo,pelos valores que defende e que aplica no seu comportamento e nas suasatitudes, pela seriedade que coloca em tudo aquilo que faz, nomeadamentenos assuntos e nas tarefas que estejam relacionados com a equipa ou com ogrupo, pela justiça das suas decisões, pela imparcialidade no tratamento dosjogadores, e pela credibilidade do trabalho efectuado;

− aproveitar as oportunidades que se lhe deparam para elogiar edemonstrar, com verdade e justiça, o reconhecimento pelo comportamentodos seus jogadores e pelos progressos por eles conseguidos;

Principais objectivos da preparação dos jovens jogadores:

Partindo deste ponto e na presença daquela filosofia a que fizemos referência, torna-

se mais fácil conhecer e adoptar como seus, os seguintes objectivos dapreparação dos jovens jogadores:

OBJECTIVOS PARAA FORMAÇÃO DE JOGADORES

■ atingir o nível óptimo de desenvolvimento■ a caminho da expressão plena das suas■ potencialidades em adulto

■ consolidar o gosto pela prática

■ ajudar a construir uma atitude positiva departicipação

■ contribuir para a formação do jovemem todas as suas facetas

■ proporcionar uma prática desportivasadia e agradável

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• contribuir para a criação das condições óptimas de desenvolvimento daspotencialidades do jovem praticante, tendo em vista a possibilidade da suaexpressão plena na idade adulta;

• consolidar o gosto e o prazer da prática do Basquetebol

• ajudar a construir no jogador uma atitude consciente e positiva departicipação nas actividades

• contribuir para a formação dos jovens em todas as suas facetas. Numaperspectiva ampla do conceito de formação

“Em si mesmo, o desporto não é bom nem mau.Os efeitos positivos e negativos associados ao desporto

não resultam apenas da participação em si,mas essencialmente da qualidade da experiência vivida.

Porém, chegamos à conclusão que um elemento essencialpara a natureza dessa experiência,

é a qualidade da liderança dos adultos que a rodeiam”

Tony Byrne

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Qual o significado dos resultados dos jovens?

O tema que de seguida vamos abordar, deverá ocupar um lugar obrigatório nafilosofia de trabalho de qualquer treinador de jovens, visto que a tomada deconsciência da resposta correcta a esta questão bem como o conhecimento dasimplicações que resultam de uma atitude desajustada neste âmbito, podem tornar-seextremamente úteis para o melhor desempenho da sua função.

Deixando transparecer desde já os contornos da nossa posição acerca deste tema,começaremos por dizer que consideramos ser absolutamente necessário

1 - relativizar a importância que se atribui aos resultadosalcançados pelos mais jovens praticantes desportivos, esobretudo

2 - desdramatizar as reacções que resultam da apreciação quevier a ser feita a esses resultados, sejam eles vitórias ouderrotas;

Vejamos aquilo que frequentemente acontece. Quem possuir alguma experiência deacompanhamento da prática desportiva dos mais jovens está familiarizado com umconjunto de situações de que as perguntas seguintes são reveladoras:

• Que é feito daquele campeão de iniciados tão elogiado, quepraticamente deixámos de ver competir na categoria de juniores e quehoje, já adulto, apenas encontra nas bancadas a assistir aos jogos deseniores?

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• Porque será que aquela grande promessa dos juvenis, que se

destacava nitidamente dos seus companheiros e adversários, nãopassou de um atleta sénior mediano, nunca tendo vindo aconfirmar o futuro risonho que tantos lhe anteviam?

Começaremos por assinalar a prudência que sempre nos deve acompanhar aoqualificarmos de grande promessa este ou aquele jogador, sobretudo quando na basedesta apreciação estiver apenas o valor absoluto e os aspectos mais visíveis das suasprestações enquanto iniciado ou juvenil. Para além dos riscos que este tipo deapreciação pode trazer para a sua formação enquanto praticante desportivo,

consideramos não menos perigoso o facto de se poderem estar a criar no jogadorexpectativas desajustadas para o seu futuro mais ou menos próximo, que elenão vai poder confirmar, abrindo assim caminho para o aparecimento de estadospsicológicos de alguma gravidade, principalmente de frustração e de ansiedade, faceà não confirmação de uma auto-imagem criada e alimentada do exterior, queultrapassa as potencialidades verdadeiras do jogador em questão.

Resulta assim evidente a importância que tem para este processo a definiçãocorrecta daquilo que é um bom iniciado ou um bom juvenil, ou seja,com outras palavras, quais os aspectos determinantes a utilizar na apreciação quefizermos de um jogado com estas idades.

Dados os erros que muitas vezes se cometem nesta área, no quadro de referência emque nos situamos de querer relativizar a importância dos resultados alcançados nestasidades começaremos desde já por referir que os treinadores dos praticantes maisjovens devem centrar todo o seu interesse e todas as suas preocupações noutras

direcções, evitando qualquer tipo de sobrevalorização tanto dasvitórias como das derrotas que forem alcançadas, rejeitando centrar as suasprevisões acerca do futuro dos jogadores em comparações feitas com base no valorrelativo das capacidades reais que eles demonstrem, optando preferencialmente por ofazer atendendo às aptidões e potencialidades de que eles possam dar sinal.

Fica assim mais fácil de entender a razão por que defendemos que os resultadosalcançados pelos jovens devem ser encarados com muito cuidado, sobretudo quandoencarados ou apreciados apenas numa perspectiva de relatividade face aos seus pares(da mesma idade). As vitórias alcançadas, os pontos marcados, a supremacia reveladaface aos companheiros e adversários, podem constituir situações passageiras e darorigem a previsões que nunca virão a confirmar-se, com as consequências negativasdaí resultantes quer para os directamente visados (quantas frustrações não se criam aopermitir ou provocar endeusamentos fáceis, com origem em argumentos falsos), quer

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para a própria modalidade (ao vermos subvalorizar a presença de outros jovens maisdotados, que às vezes chegam a afastar-se, em detrimento de apostas feitas quecorrespondem a investimentos que não conduzem depois ao sucesso previsto).

Regressemos agora à questão principal do tema que pretendemos abordar. Uma vezalertados para os erros que se podem cometer nesta qualificação precoce dosjogadores, será que é possível definir os critérios e os indicadores capazes decaracterizarem um bom iniciado ou um bom juvenil nos jogos desportivos colectivos?

Não é fácil responder a esta questão de uma forma peremptória e absoluta. Seja como

for, aquilo que se torna absolutamente essencial é fazer esta avaliação semprenuma perspectiva de futuro, daquilo que ele poderá vir a conseguir e não

daquilo que ele demonstra na altura, estando consciente de que muitas vezes osresultados de momento não são os melhores indícios daquele objectivomais longínquo.

Estamos assim perante uma tarefa complicada, que é preciso realizar em função dascaracterísticas de cada modalidade. No caso do basquetebol, diremos que a altura dosjogadores, a velocidade e a disponibilidade motora que revelem, poderão ser osfactores determinantes para esta escolha, a que acrescentaríamos depois a capacidadede aprendizagem, a inteligência, a concentração da atenção e a capacidade desacrifício reveladas pelos jogadores.

A experiência de vários anos que possuímos neste campo permite-nos afirmar comum grau de segurança bastante elevado que, de entre os campeões regionais enacionais de iniciados, juvenis e juniores que anualmente surgem, só um númerobastante reduzido vem depois a confirmar a saliência que aqueles resultados e aqueleestatuto lhes concede.

A questão torna-se ainda mais interessante e a merecer uma cuidada reflexão quando,ao analisarmos a história desportiva de muitas dessas jovens “estrelas” que parecemdespontar, verificamos que, para além de um número significativo se transformar emfiguras de segundo e de terceiro plano no escalão sénior, muitas delas abandonammesmo a prática da modalidade, fazendo-o por vezes bastante cedo.

Para além do alerta que o relato destes factos pode constituir para os treinadores dosmais jovens, bem como a chamada de atenção para a necessidade de reflectirmosprofundamente sobre este conjunto de situações tendo em vista uma correctacondução da sua preparação, sentimos necessidade de ir à procura das causas quepodem estar por trás das apreciações defeituosas a que fizemos alusão. Ao percorrereste caminho foi possível chegar a um conjunto de argumentos que podem estar na

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origem de uma apreciação deturpada dos resultados dos mais jovens jogadores,capazes de justificarem os erros por vezes clamorosos que se cometem tanto nasescolhas dos jogadores para as equipas como na previsão que se faz para a suaevolução.

Chamámos-lhes de FACTORES DE ENGANO na avaliação dos resultadosdos jogadores mais jovens, que podem deturpar a escolha dos jogadores, poisinduzem em erro treinadores, pais, dirigentes e amigos, fazendo com que se criemexpectativas incorrectas para o seu futuro, as quais, dado que facilmente tambémchegam aos jovens jogadores envolvidos, contribuem quer para o aparecimento desituações frustrantes nos visados, quer para a tomada de decisões que vêm a revelar-se perfeitamente contraproducentes.

FACTORES DE ENGANONA APRECIAÇÃO DOS RESULTADOS

■ ritmo acelerado de desenvolvimentofísico

■ experiência na modalidade■ alteração do peso dos factores de

sucesso■ erros de preparação■ perturbações na componente

psicológica■ causas naturais

Vejamos então onde podem estar situados os elementos capazes de deturpar aantevisão que é feita sobre as capacidades futuras dos jogadores mais jovens:

1 - Presença de um ritmo de desenvolvimento físico aceleradoO simples acompanhamento familiar das crianças e adolescentes que estão perto denós é suficiente para constatarmos quanto por vezes é pouco significativa a idadecronológica (com base no ano de nascimento) de certos jovens, rapazes ou raparigas,sendo possível encontrar situações de verdadeira aberração, face às diferenças decrescimento e maturação que neles encontramos. Os dados científicos comprovameste fenómeno determinando uma idade biológica individual, essa sim, verdadeirorelógio do desenvolvimento de cada um de nós.

Ora, como sabemos, a constituição das equipas e a integração dos jogadores nosdiferentes escalões etários faz-se com base no ano de nascimento, podendo assim serincluídos no mesmo grupo, jovens com capacidades momentaneamente diferentes,embora não correspondendo a aptidões efectivamente distintas.

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Nestas circunstâncias, pode acontecer que determinados rapazes ou raparigas (nestasum pouco mais cedo) se evidenciem dos respectivos companheiros “de idade”durante esse período na prática da sua modalidade preferida, vindo depois a inverter-se a ordem de valor que efectivamente possuem, logo que “os mais novos” recuperamo seu atraso passageiro.

Qualquer apreciação feita durante este período acerca da respectiva capacidade, ou aemissão de juízos de valor que se pretendam seguros, correm por isso o risco de vir aredundar em profunda incorrecção.

2 - Experiência na modalidadeTrata-se de uma argumento muito importante nos escalões etários mais baixos dosjogos desportivos colectivos. Em determinadas circunstâncias podem fazer parte damesma equipa jogadores com a mesma idade, mas cujo passado desportivo éperfeitamente distinto. Um rapaz ou uma rapariga de 14 ou 15 anos, que precisamentenessa época se inicia na modalidade, pode ter ao lado companheiros ou companheirasjá quase “veteranos”, isto é, que tiveram a oportunidade ou a “sorte” de começaraquela prática 5 ou 6 anos antes.

As consequências deste facto são por vezes muito grandes. O conhecimento do jogo eem particular o domínio da técnica que lhes são proporcionados pela aprendizagemque viveram, dão a estes jogadores uma vantagem manifesta, que, no entanto, podeconstituir um argumento perfeitamente transitório. Aqueles que iniciam a prática damodalidade apenas nessa altura ficam deste modo nitidamente desfavorecidos faceaos seus companheiros de equipa, estando naturalmente impossibilitados de alcançar

os feitos daqueles outros jogadores, dado que ainda não podem mostrarcompletamente as suas aptidões, mesmo que elas sejam de um potencialbem mais elevado.

3 - Alteração dos factores de sucesso na modalidade.As razões do êxito que os jogadores obtêm nas modalidades desportivas podem sofreruma certa evolução durante os anos em que decorre a sua formação, sendo possívelque argumentos suficientes para alcançar o sucesso numa dada etapa, deixem de o serquando o desenvolvimento do jovem, enquanto tal e enquanto jogador, passar paraoutra etapa. Efectivamente, se num dado momento esse êxito (a vitória, a vantagem, oser melhor do que os outros) pode ser conseguido à custa de um dado factor, maistarde, a relação causa-efeito que o justifica, pode deixar de existir ou principalmentealterar o peso com que contribui para o resultado final, perdendo o seu lugar dedestaque ou a qualidade de argumento de decisão que anteriormente possuía.

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Poderíamos dar alguns exemplos nesta matéria. No entanto, para ilustrar aquilo queacabámos de dizer, desejamos apresentar-vos, como exemplo, a dúvida que nosassalta acerca da importância que deve ser atribuída à agressividade na escolha dosmelhores nos escalões iniciais da formação. Vejamos o caso particular dobasquetebol e dos jovens de 12-14 anos. Esta agressividade é normalmente apanágiodos mais pequenos, daqueles que já atravessaram a fase crítica do seu crescimento, oudos que já dominam as técnicas de corrida e da modalidade, independentemente depoder também corresponder a uma atitude psicológica que se deseja para o futurojogador. Porém, ao sobrevalorizar a exteriorização desta característica, poderemosestar a pôr claramente em causa um jovem significativamente mais alto para a suaidade, que ainda demonstre, para além do mais, alguns problemas de inibição.

Se este ou outros factores do mesmo género podem momentaneamente corresponder

a elementos de vantagem, ao atribuir-lhes um peso excessivo naapreciação e escolha dos jogadores, poderemos estar a cometer umerro grave e mais tarde, quando se chegar ao escalão sénior, vir a concluir que setratou de uma decisão contraproducente, dado que o peso da agressividade para aobtenção das vitórias, se ainda importante, exige estar acompanhada de outrosargumentos não menos decisivos.

4 - Erros de preparaçãoA presença desta componente como factor perturbador do processo dedesenvolvimento do praticante desportivo, não pode deixar de preocupar o treinadordado que é a ele que terão de ser assacadas a as principais culpas.

São várias as possibilidades que podem surgir neste domínio no caso dos jogosdesportivos colectivos: níveis de treino elevados fora de tempo; ausência de umaumento progressivo das cargas de treino, (fazendo com que depois, como sénior, osjogadores venham a ficar sujeitos a cargas iguais ou até mesmo inferiores às quefaziam enquanto juvenis); trabalho demasiado específico, em particular naquilo quese refere à componente técnico-táctica (fazendo com que os jogadores seespecializem em determinadas funções, onde eles têm momentaneamente vantagem esucesso, as quais, mais tarde, na idade adulta, desaparecem por completo, pelaintrodução de novos argumentos e o apelo a novas capacidades absolutamentenecessárias mas que eles não possuem); não actuação a tempo sobre determinadascapacidades, sejam elas do foro técnico, táctico, físico ou psicológico (cuja ausênciase vem a revelar como perturbadora da integração dos jogadores em programas depreparação mais avançados).

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5 - Perturbações verificadas na componente psicológicaÉ hoje uma questão incontroversa que para se ser atleta de alto nível tem de se estarna posse de capacidades psicológicas compatíveis com este nível de preparação. Aoreferirmos este facto como factor enganador, estamos a pensar nas seguintespossibilidades;

1. - ausência ou quebra de motivação por parte do jogador, diminuição doespírito de sacrifício e da capacidade de dedicação a um processo depreparação exigente;

2. - reflexos negativos do excesso de elogios e de prémios resultantes dosêxitos alcançados nas etapas iniciais da sua carreira.

6 - Aparecimento de causas naturais de abandonoÉ bom não esquecermos que a entrada e a manutenção em programas de preparaçãode alto rendimento exige total disponibilidade física e de saúde, e, muitas vezes,opções profissionais que obrigam os intervenientes a ter de fazer escolhas difíceis.

Daí ser necessário pensar que alguns dos “desaparecimentos” de jogadores queencontramos poderem ficar a dever-se a questões de saúde, em particular a lesões,algumas das quais podem ser motivadas por níveis de treino desajustados, ou pelodesejo de continuar uma carreira profissional diferente da desportiva, surgindo osestudos como o elemento que mais frequentemente surge neste campo.

7 - Tipo de competições existenteA secundarização dos resultados alcançados pelos mais jovens praticantes, ou pelomenos a sua apreciação comedida, feita na base de elementos que ultrapassam ossimples resultados finais alcançados nas provas em que intervêm, obriga a que hajaalgum cuidado na escolha do tipo de competições em que eles vão participar esobretudo na importância que lhes atribuímos e em tudo aquilo que rodeia essaparticipação.

Sabemos que, tratando-se de uma prática desportiva, a presença da competição, a lutapela vitória e o empenho posto para a alcançar, constituem elementos com que otreinador irá obrigatória e naturalmente conviver.

Todavia, nas competições dos mais jovens, mais do que as vitórias e asderrotas interessa destacar a forma como esse resultado éalcançado, as potencialidades que o atleta revela, sobretudo se indiciadores de umaevolução frutuosa, a caminho de novas e mais importantes vitórias quando adulto, e

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finalmente, a progressão verificada, isto é, a melhoria por si evidenciada face aanteriores prestações.

Diremos pois que no treino com jovens é preciso que o treinador venha a centrar maisa sua atenção na avaliação do trajecto percorrido, nos sucessos pessoais de cada umface ao seu passado e o volume de potencial que o jovem aparenta possuir, em vez dea focalizar quase exclusivamente na permanente comparação com os outros. Nãonegamos a existência deste tipo de confronto; ele constitui a essência definidora do

conceito de desporto; apenas discordamos do valor exagerado que porvezes se lhe atribui, causa d consequências nefastas quenormalmente ele traz consigo.

Em vez da obsessão pela vitória, deve procurar-se o sucesso fornecido pelo progressoalcançado, pelo conseguir fazer bem e na altura devida, pelo potencial revelado,sempre em função das características do momento, evitando assim as atitudesexacerbadas, procurando pelo contrário, encará-la sempre como uma forma deavaliação, actuando sobre a preparação que está a ser realizada, se necessário.

“Para um jovem praticante, ganhar uma competição só tem significado

se isso representar a qualidade do caminho que ele percorreu

até chegar a essa vitória”

Scott, P.

Estamos perante uma tarefa nada fácil, que por vezes nos faz combater contra pais,dirigentes e adeptos. Porém se eles erram nesta apreciação e assumemcomportamentos desajustados, o treinador não os pode assumir.

Porquê?

• porque a sobrevalorização de um jovem menos dotado pode criar, no futuro,estados de desânimo e frustração terríveis, ao não verificar a confirmação dasua imagem;

• porque o excesso de elogios ao jovem dotado pode perturbar o seu normaldesenvolvimento

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• porque subvalorizar, directa ou indirectamente, jogadores que, de momento,se encontram atrasados, pode levá-los a afastarem-se precocemente

O exemplo do treinadorAs funções do treinador de jovens praticantes ultrapassam substancialmente osaspectos relativos ao ensino da técnica e da táctica e ao desenvolvimento das suasqualidades físicas. Particularmente no caso dos atletas mais jovens, a intervenção dotreinador deverá cobrir, tal como já vimos, um outro conjunto de áreas não menosimportantes, que podem condicionar o seu comportamento desportivo mas de que épossível igualmente extrair reflexos importantes para a sua vida de cidadão comum.

Faz parte da filosofia em que pretendemos fundamentar a nossa acção, enquanto

treinador dos mais novos, acreditar que, embora com limitações, está ao nossoalcance dar um importante contributo para a sua formação geral decidadãos, indo assim um pouco para além da função de atleta quemomentaneamente desempenham. É certo que não podemos esquecer o pouco tempoem que essa intervenção vai ser exercida, sobretudo se a compararmos com o volumedas restantes influências que o praticante desportivo sofre nesta direcção ao longo dodia, as quais, como seria de esperar, nem sempre são coincidentes, ou, pelo menos,convergentes com aquela que desejamos levar a cabo.

O jovem praticante desportivo deseja ardentemente participar nas actividades que otreinador lhe proporciona. Desde o princípio que ele está fortemente empenhado embeneficiar delas, em conseguir aprender os “segredos da sua modalidade preferida,em imitar os seus ídolos.

Ao mesmo tempo o grupo de que ele faz parte tem para si umsignificado tremendo, participando de forma interessada no seu funcionamento,sujeitando-se voluntariamente às regras que ali estão estabelecidas, empenhando-separa que as condições envolventes sejam as que mais ajudam ao seu progresso.

Estão por isso mais abertas as portas que conduzem a uma maior actuação formativada parte do treinador.

Compete-lhe então ser capaz (e estar interessado) em aproveitar o melhor possíveltoda esta situação favorável. Ele sabe, por exemplo, que as regras que vão serapresentadas para o funcionamento do grupo, vão ser entendidas e aceites por todoscom maior facilidade, passando a ser as regras do grupo e não do treinador.

Por cima deste ambiente educativo com bastantes potencialidades, integrado nele mas

com as suas funções de direcção perfeitamente definidas e reconhecidas, surge afigura do TREINADOR. Para os mais novos praticantes ele assume, por vezes,durante o tempo em que convivem, um lugar de bastante significado. Às vezes com

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características de herói, que depois procuram imitar. Noutros casos, sobretudo emdeterminados assuntos ou em situações mais directamente relacionadas com a vida daequipa, a palavra do treinador é para o jovem mais importante do que a dos pais,conseguindo-se, em certos momentos e em determinados temas, exercer sobre elesuma influência maior do que aquela que é alcançada ao nível familiar.

Esta influência não fica porém limitada às palavras, aos discursos, aos apelos que porsi são feitos nas mais variadas circunstâncias. Cada acção que o treinador realiza,cada um dos seus comportamentos, a maneira como reage a este ou àquele estímulo,tudo vai ser objecto de apreciação por parte dos praticantes desportivos que são por sidirigidos.

Estamos perante formas de comunicação não verbal, que nestas idades consideramosbem mais eficazes do que algumas palavras, às quais o atletas não deixam de estarparticularmente atentos e que constituem veículos educadores de enorme significadoe eficácia.

“Aquilo que tu és fala tão alto,que não consigo ouvir aquilo que tu dizes!”

Autor desconhecido

Se queremos entusiasmo...... ........sejamos entusiastas

Se queremos empenho....... .......sejamos empenhados

Se queremos disciplina....... ........sejamos disciplinados

Se queremos respeito

pelos árbitros e adversários........

.........sejamos os primeiros

a proceder dessa forma

Se queremos não ver

sobrevalorizadas as vitórias.........

..........sejamos nós os primeiros

a não dramatizar as derrotas

Se queremos ver dar importância

aos pormenores da técnica........

..........sejamos os primeiros a

demonstrar quanto eles

são importantes para nós

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Os actos dos treinadores assumem pois características de exemplo para os seusatletas, ajudando, por essa via, à conquista do respeito e da confiança que eles passama nutrir por si, consolidando e favorecendo as vias de comunicação que ele vai poderutilizar no sentido de lhes fazer chegar as suas mensagens.

Aquilo que os treinadores fazem, o modo como se comportam, os valores quetransparecem do seu comportamento no dia a dia, podem ajudar os atletas tanto oumais do que o ensino da técnica e da táctica da modalidade escolhida. Daí que a suaformação não possa esquecer estas componentes. Trata-se no entanto de um processode conquistas progressivas, que não podem ser impostas ou exigidas.

A influência exercida pelo treinador não se confina aos aspectos técnicos oupsicológicos e sociais. A própria forma como os atletas se comportam no treino, aatitude que assumem durante o tempo em que estão a treinar, pode igualmentedepender do exemplo que lhes é fornecido pelo treinador naquelas circunstâncias.

Acreditamos convictamente que a atitude do treinador relativamente aotreino é contagiosa. O seu entusiasmo, a atenção que coloca no trabalho, aorganização que revela , a disciplina com que dirige a sessão de treino, sãoargumentos decisivos para transferir para os praticantes o entusiasmo, a atenção e adisciplina, indispensáveis a uma boa sessão de trabalho.

A prática desportiva é pois fértil em situações educativas, que um treinadorconsciente e atento não vai deixar de aproveitar, fazendo chegar aos seus atletas

mensagens positivas através do seu exemplo.

• A justiça e imparcialidade com que todos os elementos do grupo sãotratados, independentemente do seu valor como atletas, constitui mais umargumento revelador da forma como o treinador se coloca perante a suaequipa .

• O modo como ele se relaciona com os juízes e árbitros durante ascompetições, a sua reacção às decisões que são tomadas, são exemplosdecisivos para o comportamento que os praticantes vão demonstrar face aosmesmos agentes.

• O significado atribuído às derrotas, e o comportamento assumido pelotreinador perante as vitórias, são mais alguns aspectos a que os praticantesestão atentos e que serão levados a imitar.

• A forma como se aplicam os princípios da ética desportiva, os valores que sedefendem na prática diária do relacionamento com os adversários, a postura

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que em geral se assume tanto em treinos como em jogos, constituem maisalgumas oportunidades que o treinador tem ao seu dispor para, através doseu exemplo, condicionar o futuro comportamento dos seus atletas.

Sabemos que a influência do treinador é apenas uma de entre as várias a que ele estásujeito nessa etapa da sua formação e que estas nem sempre serão convergentes. Podepois suceder que as limitações da sua intervenção não permitam alcançar a eficáciaplena neste processo. Estamos conscientes disso

Porém, sabemos igualmente que os efeitos conseguidos num processo educativoaumentam proporcionalmente ao empenho e envolvimento do interessado, pelo que otreinador deve aproveitar a situação potencialmente vantajosa em que se encontrapara as tentar aproveitar

“No período em que os jovens estão mais envolvidos no desporto,eles sofrem rápidas mudanças na sua formação,

sendo fortemente influenciados pelo que lhes acontecee pelo que acontece à sua volta.

Os treinadores têm de assumir a responsabilidade que lhes cabenesta função educativa, que tem efeitos bem para além do desporto.Devem por isso estar conscientes do impacto que as suas prioridades

e os seus actos exercem sobre os jovens jogadores que treinam”

Martin Lee

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