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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2012. ISSN 2179-510X A FAMÍLIA HOMOAFETIVA NA PERSPECTIVA DOS ESTUDOS DE GÊNERO Cláudia Moraes e Silva Pereira 1 Edina Schimanski 2 Resumo: A instituição familiar se encontra em constante modificação desde sua definição até sua função na sociedade. Contudo, vivemos em uma sociedade que se baseia na heteronormatividade e o modelo que referencia a família ainda é o modelo heterossexual. A família homoafetiva, nesse sentido, sofre pressões que, direta ou indiretamente, interferem na sua dinâmica social. Neste contexto, a hipótese aqui apresentada leva em consideração que as relações homoafetivas ao mesmo tempo em que se contrapõem ao modelo familiar heterossexual existente podem reafirmar tal modelo na medida em que estão fundamentadas na estrutura familiar estabelecida. Entendendo que o debate sobre família é parte de um debate interdisciplinar e que envolve necessariamente os estudos de gênero, nosso objetivo é discutir a família homoafetiva no que diz respeito à sua existência em uma sociedade que se apresenta submersa em normas heterossexuais. Nesse aspecto, o presente trabalho traz a tona alguns pontos de reflexão para se pensar a família hoje a partir desses novos arranjos sociais, bem como pensar problemáticas referentes ao debate de gênero que envolvem a família homoafetiva enquanto configuração familiar. Palavras-chave: Família homoafetiva; Estudos de gênero; Heteronormatividade. Introdução A palavra família tem sido utilizada para designar agrupamentos sociais e instituições com estruturas e funções bastante diferenciadas em diferentes momentos históricos, por pessoas de culturas diversas. De acordo com Prado (1982) “o termo família origina-se do latim famulus que significa: conjunto de sexos e dependentes de um chefe ou senhor. Entre os chamados dependentes inclui-se a esposa e os filhos.” (Prado, 1982, p.51). Foram diversas as transformações que a família sofreu durante a história e várias possibilidades de constituição familiar estão presentes atualmente. Contudo devemos considerar que há um modelo idealizado socialmente do que seria considerado realmente uma família aceitável em uma sociedade colonizada pelos europeus, capitalista, heteronormativa, na qual se constituiu a realidade brasileira. “(...) a família que se está visualizando é composta por pai, mãe e algumas crianças vivendo numa casa. Essa imagem corresponde a um modelo, que é o da família nuclear burguesa” (Szymanski, 2002, p.23). Contudo, a estrutura familiar apresenta-se em constante mutação produto de sua própria construção histórica. 1 Professora de Educação Física – Mestranda em Ciências Sociais Aplicadas – Bolsista CAPES – Universidade Estadual de Ponta Grossa – Ponta Grossa/PR/Brasil. 2 PhD em Educação – Professora do Programa de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) em Ciências Sociais Aplicadas – Universidade Estadual de Ponta Grossa – Ponta Grossa/PR/Brasil.

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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2012. ISSN 2179-510X

A FAMÍLIA HOMOAFETIVA NA PERSPECTIVA DOS ESTUDOS DE GÊNERO

Cláudia Moraes e Silva Pereira1

Edina Schimanski2

Resumo: A instituição familiar se encontra em constante modificação desde sua definição até sua função na sociedade. Contudo, vivemos em uma sociedade que se baseia na heteronormatividade e o modelo que referencia a família ainda é o modelo heterossexual. A família homoafetiva, nesse sentido, sofre pressões que, direta ou indiretamente, interferem na sua dinâmica social. Neste contexto, a hipótese aqui apresentada leva em consideração que as relações homoafetivas ao mesmo tempo em que se contrapõem ao modelo familiar heterossexual existente podem reafirmar tal modelo na medida em que estão fundamentadas na estrutura familiar estabelecida. Entendendo que o debate sobre família é parte de um debate interdisciplinar e que envolve necessariamente os estudos de gênero, nosso objetivo é discutir a família homoafetiva no que diz respeito à sua existência em uma sociedade que se apresenta submersa em normas heterossexuais. Nesse aspecto, o presente trabalho traz a tona alguns pontos de reflexão para se pensar a família hoje a partir desses novos arranjos sociais, bem como pensar problemáticas referentes ao debate de gênero que envolvem a família homoafetiva enquanto configuração familiar. Palavras-chave: Família homoafetiva; Estudos de gênero; Heteronormatividade. Introdução

A palavra família tem sido utilizada para designar agrupamentos sociais e instituições com

estruturas e funções bastante diferenciadas em diferentes momentos históricos, por pessoas de

culturas diversas. De acordo com Prado (1982) “o termo família origina-se do latim famulus que

significa: conjunto de sexos e dependentes de um chefe ou senhor. Entre os chamados dependentes

inclui-se a esposa e os filhos.” (Prado, 1982, p.51).

Foram diversas as transformações que a família sofreu durante a história e várias

possibilidades de constituição familiar estão presentes atualmente. Contudo devemos considerar que

há um modelo idealizado socialmente do que seria considerado realmente uma família aceitável em

uma sociedade colonizada pelos europeus, capitalista, heteronormativa, na qual se constituiu a

realidade brasileira. “(...) a família que se está visualizando é composta por pai, mãe e algumas

crianças vivendo numa casa. Essa imagem corresponde a um modelo, que é o da família nuclear

burguesa” (Szymanski, 2002, p.23). Contudo, a estrutura familiar apresenta-se em constante

mutação produto de sua própria construção histórica.

1 Professora de Educação Física – Mestranda em Ciências Sociais Aplicadas – Bolsista CAPES – Universidade Estadual de Ponta Grossa – Ponta Grossa/PR/Brasil. 2 PhD em Educação – Professora do Programa de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) em Ciências Sociais Aplicadas – Universidade Estadual de Ponta Grossa – Ponta Grossa/PR/Brasil.

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2 Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2012. ISSN 2179-510X

Nesse trabalho pretendemos discutir os novos arranjos familiares e o processo de

surgimentos de novas concepções de família, bem como a família homoafetiva dentro do processo

de transformação. Para isso, procuraremos relacionar o debate da família homoafetiva com os

estudos de gênero, buscando a compreensão da problemática por um viés interdisciplinar sobre as

novas configurações familiares.

Família no Brasil: do tradicional ao moderno

Partimos do entendimento que a família brasileira possui fortes influências da família

patriarcal. A família patriarcal se caracteriza pela seguinte formação:

(...) um extenso grupo composto pelo núcleo conjugal e sua prole legítima, ao qual se incorporavam parentes, afilhados, agregados, escravos e até mesmo concubinas e bastardos; todos abrigados sob o mesmo domínio, na casa-grande ou na senzala, sob autoridade do patriarca, dono das riquezas, da terra, dos escravos e do mando político. Ainda se caracterizaria por traços como: baixa mobilidade social e geográfica, alta taxa de fertilidade e manutenção dos laços de parentesco com colaterais e ascendentes, tratando-se de um grupo multi-funcional. (TERUYA, 2000, p. 3 e 4)

O Brasil, como país colonizado pelo Ocidente, traz em sua história um pensamento de

família que se constitui dentro da formação patriarcal. Gilberto Freyre (1933) é um dos primeiros

estudiosos a refletir sobre a família brasileira. O autor apresenta um estudo sobre a família patriarcal

que se instala no Brasil, mostrando as relações que existiam com essa família na região nordeste do

país. De acordo com Teruya (2000) foi Freyre quem elaborou e difundiu o poderoso sistema

ideológico em torno da família patriarcal.

O estudo de Gilberto Freyre eliminou as possibilidades de estudar outras formações

familiares, principalmente nos estudos do século XVIII e XIX, colocando a família patriarcal como

o modelo de família brasileira no Brasil Colônia. A formação da família patriarcal e sua

consolidação no Brasil refletem o momento econômico e político na época da colonização, na qual

o governo português não conseguia se fazer presente em toda extensão territorial do país, o que

possibilitou o comando dos grandes senhores. O poderio patriarcal foi gestado na ausência de um

Estado forte e o declínio da família patriarcal viria quando o Estado assumisse seus papéis. (Teruya,

2000).

A realidade brasileira do século XVIII é marcada pela influência do patriarcalismo, em

função da maneira como o país foi colonizado e a influência cultural que se instaurava com a

chegada dos europeus. A família patriarcal tinha como característica ser formada por um chefe com

o papel dominante, no caso, o homem que exerce o domínio sobre sua família. Portanto, a

concepção de família para os brasileiros sofre influência direta desse sistema familiar, onde a única

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3 Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2012. ISSN 2179-510X

forma de relação possível era entre um homem e uma mulher, reforçando um sistema de relações do

binário heterossexual.

Contudo, essa não era a única configuração existente. Em São Paulo, por exemplo, com o

advento da industrialização brasileira e o desenvolvimento da autoridade estatal, as famílias foram

se construindo de maneiras distintas, diversificadas, de acordo com a exigência da época. Almeida

Neto (1999) relata sobre a construção da família médico-higienista que se apresentava como um

modelo mais próximo da família burguesa ascendente ao processo pós-industrial. O discurso

relacionado à saúde influenciou na constituição familiar, com uma estrutura mais reduzida e

coerente com o momento de desenvolvimento da sociedade característica do sistema capitalista.

A família nuclear moderna surge como um tipo ideal, um exemplo a ser seguido, o que se

coloca como modelo de família a ser alcançado – a família “boa”, “certa”, “estruturada” – e que se

apresenta com pai, mãe e filhos. Alguns relatos e estudos caracterizam que as famílias que não se

enquadram nos moldes tradicionais e idealizados são consideradas famílias “desorganizadas” e ou

“desestruturadas”, ou seja, as que são compostas de outras formas, como por exemplo, mãe ou pai

ou responsável e filhos.

Algumas características sócio-históricas contribuíram para o avanço nas formas de

constituição de famílias. No final do século XIX, a abertura e necessidade da entrada da mulher no

mercado de trabalho para o aumento da produção possibilitou uma maior autonomia da mulher,

fazendo com que esta assumisse um papel que era destinado ao homem somente. Simionato (2003)

complementa:

Em todo o mundo, o conceito da família nuclear, e a instituição casamento intimamente ligada à família, passaram por transformações. A expressão mais marcante dessas transformações ocorreu no final da década de 60: cresceu o número de separações e divórcios, a religião foi perdendo sua força, não mais conseguindo segurar casamentos com relações insatisfatórias. A igualdade passou a ser um pressuposto em muitas relações matrimoniais. (SIMIONATO, 2003, p. 60).

A partir do momento em que a concepção da Igreja começa a ser questionada em relação ao

matrimônio sagrado e a finalidade do casamento não se resume mais na procriação, a primeira

mudança na constituição familiar acontece. Os interesses do matrimônio se voltam ao prazer, à

construção de uma vida em conjunto, com o fortalecimento dos laços afetivos.

Junto com isso, outros elementos contribuíram para a existência das novas constituições

familiares, tal como o surgimento da pílula anticoncepcional que possibilitou a separação da

sexualidade e da reprodução. A partir disso, a mulher pôde desvincular a sexualidade da

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maternidade, a qual se torna uma opção e não um “destino”. A partir desse momento, a mulher pode

utilizar o sexo para sentir prazer, sem a obrigatoriedade de ter a relação sexual reproduzir a espécie.

Da mesma forma que encontramos a transformação da constituição familiar, as relações de

gênero sofrem alterações. Durante a década de 1930 até meados da década de 1980 os pais,

geralmente, desempenhavam suas tarefas educativas baseados na tradicional divisão de papéis

segundo o gênero. A partir da década de 1980 os papéis parentais passaram por transformações

mais consistentes, apesar de suas representações ainda estarem relativamente marcadas por modelos

tradicionais de parentalidade e paternidade. (Trindade, Andrade e Souza, 1997 apud Wagner et al,

2005, p. 181).

Disto posto, o que se pode afirmar é que, independente da configuração familiar que se

instalou em diferentes momentos da história brasileira, pensar em família hoje ainda remete pensar

em uma concepção de formação binária e heterossexual, com fins de reprodução e formação dos

indivíduos para conviverem em sociedade. Essa formação binária heterossexual é um elemento

importante que dificulta a aceitação da construção de famílias compostas por casais homoafetivos

enquanto estrutura familiar por grande parte da sociedade.

Um passeio pelas teorias de gênero Discutir a família homoafetiva nos dá a necessidade de buscar não somente a história dessa

instituição, mas também as relações sociais que a envolvem, principalmente no que diz respeito à

discussão de gênero. Debater o gênero como categoria de análise, remete-nos a um estudo

interdisciplinar e o entendimento de que gênero deve ser compreendido para além de um debate

sexual, mas um debate de construção social.

O desenvolvimento de teorias feministas impulsionaram discussões relevantes sobre os

“problemas de gênero” desde o século XIX, onde essas foram se tornando cada vez mais visíveis e

reconhecidas. Simone de Beauvoir (1970), com sua obra “O segundo sexo” revolucionou o

pensamento de muitas mulheres e homens de seu período e deu início às discussões e aos debates

feministas. É precursora na apresentação de uma nova visão a respeito da mulher na sociedade,

criticando antigas opiniões estruturadas na concepção biológica e psicológica, fundamentadas nas

teorias naturalistas. Influenciada pelo pensamento existencialista, buscou contextualizar

historicamente a condição da mulher assim como desnaturalizar a construção dos papéis pré-

definidos pelo sexo biológico.

Pela perspectiva estruturalista o gênero é discutido como uma categoria abstrata que parte da

observação do real. Héritier (1996), uma das autoras dessa perspectiva, discute que ao gênero

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caberia uma descontinuidade do biológico, ou seja, seria uma categoria que produz uma relação de

oposição fundamentada nas estruturas simbólicas presentes na sociedade. Isso se dá à medida que

vivemos em uma sociedade que possui estruturas legais que trazem valores simbólicos, os quais são

acatados por todos seus integrantes. Essa estrutura simbólica do feminismo nos coloca num mundo

de regras, de oposição de significados, que formam uma linguagem estrutural assumida. Significa

dizer que a ‘ordem do simbólico’ é de ‘natureza patriarcal’. Héritier (1996) em seu livro traz o

conceito de valência diferencial dos sexos no sentido de que a sociedade se constrói em função das

diferenças de sexo, ou seja, a dominação masculina se dá a partir da dominação das capacidades

reprodutivas da mulher. (Segato, 1998).

Outra perspectiva nos estudos de gênero são as teorias pós-coloniais, que aparecem no final

do século XIX, principalmente na França, Estados Unidos e Inglaterra. Essa corrente teórica discute

as questões de gênero levando em consideração as manifestações culturais existentes em diferentes

estados nacionais, bem como as diferenças do significado da linguagem. Glória Anzaldua (1997),

teórica da perspectiva, critica as teorias da dualidade (estruturalistas), afirmando que as diferenças

aparecem para além de uma única oposição, para além do homem e mulher, mas também entre os

próprios homens e entre as próprias mulheres, dependendo da cultura inserida, trabalhando o gênero

em conjunto com os debates de classe e etnia.

Já as feministas materialistas criticavam as teorias naturalistas e essencialistas. Foram a

primeira corrente a introduzir categoria de gênero, ferramenta crítica que acabava por desnaturalizar

o gênero. Baseavam-se na ideia de que a sociedade se constrói mediante as relações de poder, as

quais produzem as diferenças e hierarquias, bem como seus valores como normas estabelecidas.

Criticam o debate da diferença e defende a criação de grupos enquanto classe, o que acaba por

resultar a categoria de dominação observada como construção histórica de um sistema. Esse sistema

é o sistema patriarcal, responsável pela dominação do homem sobre a mulher. Monique Wittig,

autora feminista materialista, desconstrói o mito da mulher num mundo onde elas têm a obrigação

de possuir corpos dóceis, as quais são incorporadas pela cultura e aprisionadas pela mesma (Conboy

et al, 1997). Para a autora, o sexo é uma categoria política da mente heterossexual (straight mind)

que impõe às mulheres a heterossexualidade e a obrigação de reproduzir a espécie.

A heterossexualidade e o lesbianismo são decisões políticas que permitem, ou não, sair da

condição de apropriação da classe das mulheres. Isso significa que mesmo que as mulheres não

possuam nenhuma relação com outro homem, coletivamente, elas são oprimidas e exploradas

dentro de um sistema de classes patriarcal, na qual os homens são a classe dominante. Assim, pode-

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6 Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2012. ISSN 2179-510X

se entender as mulheres formadoras de uma classe que lutam contra um inimigo comum que

buscam a sua libertação.

Dentre as teóricas contemporâneas dos Estudos de Gênero, Judith Butler (2003) se destaca.

A problemática que ela desenvolve é a inexistência de um sujeito representado pelo feminismo, e

represar a categoria mulheres como sujeito do feminismo. A autora discute a diferença sexual como

uma função de diferenças materiais que estão marcadas e formadas por práticas discursivas. “Butler

indicava, assim, que o sexo não é natural, mas é ele também discursivo e cultural como o gênero”

(Rodrigues, 2005, p. 180). Nesse sentido, o “sexo” é um constructo ideal que é materializado

através do tempo e as normas regulatórias são responsáveis por essa materialização através da

reiteração dessas.

Beatriz Preciado (2011) desenvolve o que ela denomina de queer que designa àqueles que

não se encontram nos padrões de sexualidade pré-definidos e aceitos socialmente. O abjeto é algo

que identifica repulsa ou nojo, aquilo que é identificado como estranho, anormal e o contato com

este pode ser contaminante ou nauseante. A abjeção deriva do julgamento negativo sobre o desejo

homoerótico, principalmente aos que rompem os padrões normativos. São multitudes queer, ou

seja, multidões de corpos tais como Preciado (2011) coloca: corpos transgêneros, homens sem

pênis, bolachas lobas, ciborgues, femmes butchs, maricas lésbicas que se opõe ao corpo straight ou

heterossexual. Através das técnicas do discurso, intenta-se reconduzir as minorias dos anormais à

regulação normativa do corpo straight. Deste modo, o pensamento heterocentrado assegura o

vínculo estrutural entre a produção da identidade de gênero e a produção de certos órgãos como

órgãos sexuais e reprodutores (Preciado, 2011).

É através desse caminho traçado nesse ponto que nos propomos a analisar a família

homoafetiva. Acreditamos que é possível discutir a família homoafetiva através dos Estudos de

Gênero e que cada perspectiva pode contribuir para esse debate, por compreender ser um tema

interdisciplinar capaz de responder algumas questões mediante a problemática lançada no mundo

atual.

A família homoafetiva: aproximações teóricas iniciais Para entendermos o que significa a família homoparental na atualidade precisamos fazer

uma análise tanto pelo viés da história da família como pelo resgate das teorias de gênero, já que é

impossível olhar para a problemática sem um olhar interdisciplinar. Separando os conceitos, tanto o

conceito de família como de gênero não são fatos dados e naturais na humanidade. Cada qual com

suas construções e processos históricos passaram por modificações de acordo com a necessidade de

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cada sociedade e contexto no qual se estabeleceram. Porém, encontramos a possibilidade de discutir

esses termos de maneira conjunta, visando uma tentativa de explicação das famílias homoafetivas

no cenário atual, bem como o entendimento do conceito de família na atualidade.

A família homoafetiva aparece como nova configuração familiar reconhecida pelo IBGE e

alguns setores da sociedade como o Supremo Tribunal Federal (STF) que aprovou uma

jurisprudência que estende os direitos civis para casais do mesmo sexo, legitimando a união estável,

bem como o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que aprovou em 2013 a obrigatoriedade de

realização do casamento entre casais do mesmo sexo em todos os cartórios do país. Contudo,

sabemos que o problema dessa estrutura familiar não é algo simples, e precisa ser cada vez mais

aprofundado para que possamos superar valores tradicionais e reconhecer essa estrutura enquanto

família, já que apresenta grandes restrições na sociedade brasileira que podem ser compreendidos

pelos estudos de gênero.

No Brasil, a disputa ideológica em relação à concepção de família está em grande debate.

Existe um setor da sociedade que defende o resgate da família tradicional como base moral capaz de

desenvolver “os verdadeiros valores morais da sociedade” e, por outro lado, outro setor que aceita

as formas plurais de constituição familiar e busca adequá-las na legislação com reconhecimento de

entidade familiar. Nesse caso, a polêmica se encontra fortemente instaurada quando se trata de

família homoafetiva.

A concepção tradicional de família se construiu com base no sistema patriarcal europeu, em

que o homem ocupa um valor superior sexualmente e socialmente, desde o momento que se

consolida a propriedade privada e a família monogâmica. Dentro do universo familiar, coube ao

homem o papel de alavancar a produção fora de casa, no espaço público, enquanto à mulher ocupou

o espaço privado da família e da casa, espaço de propriedade masculina. (Toledo, 2001).

Para a teoria feminista materialista, existe o “inimigo comum” representado pelo homem.

Sobre isso Delphy (1995) introduz o pensamento do patriarcado como “o inimigo comum”, no qual

as mulheres são exploradas no trabalho doméstico por seus maridos e irmãos maiores no marco do

matrimônio e da constituição familiar. A autora chama isso de modo de produção doméstico,

similar ao modo de produção industrial do sistema capitalista, mas nesse casso o sistema é o

patriarcal. Isso significa que mesmo que as mulheres não possuam nenhuma relação com outro

homem, coletivamente, elas são oprimidas e exploradas dentro de um sistema de classes patriarcal,

na qual os homens são a classe dominante. Assim, pode-se entender as mulheres formadoras de uma

classe que lutam contra um inimigo comum que buscam a sua libertação.

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Pensar nessa perspectiva as famílias homoafetivas exige considerar alguns elementos.

Contrapor-se ao sistema patriarcal, dentro da visão materialista, significa combater a família como

instituição patriarcal de dominação, principal ferramenta ideológica de submissão da mulher. Porém

a reinvindicação do movimento LGBT é pela reafirmação da família para casais do mesmo sexo, o

que faz com que a perspectiva de análise pela visão materialista seja insuficiente. A família

homoafetiva, ao mesmo tempo em que é conformada como instituição patriarcal, contrapõe ao

modelo familiar do próprio sistema patriarcal, podendo ser colocada como uma contraposição ao

próprio sistema para alcançar a transformação do conceito de família. Seria talvez possível então

afirmar que o sistema familiar patriarcal está indo a falência?

Não podemos afirmar veementemente que isso esteja acontecendo, pois a família, como

qualquer outra instituição social, está em constante mutação e possui especificidades de acordo com

seu contexto histórico. O fato é que outros modelos de família começam a surgir e, atualmente, a

família nuclear não é o único modelo existente.

Além disso, discutir o feminino enquanto classe de mulheres limita considerar que vivemos

em uma sociedade plural, e que dentro do que consideramos feminino também existe suas

pluralidades. Uma mulher, não é igual a todos os indivíduos que são submissos a figura do homem

branco e heterossexual. Todos que estão fora desse modelo são colocados secundários no seu valor

social. Portanto, mulheres brancas, negras, negros, gays, lésbicas, travestis, transexuais, dentre

outros, são passíveis de discussão como feminino desde que consideremos o masculino como

norma padrão.

A noção binária de masculino/feminino constitui não só a estrutura exclusiva em que essa especificidade pode ser reconhecida, mas de todo modo a ‘especificidade’ do feminino é mais uma vez descontextualizada, analítica e politicamente separada da constituição de classe, raça, etnia e outros eixos de relações de poder, os quais tanto constituem a ‘identidade’ como tornam equívoca a noção singular de identidade. (BUTLER, 2003, p. 21)

Bem como podemos entender que seres abjetos, como discute Preciado (2011) também

possam almejar constituir família. Isso porque estamos inseridos em um sistema macro, que

reivindica a família como estrutura base da sociedade, onde se constroem relações de afetividade e

proteção. Em uma sociedade cada vez mais individualizada, a família reflete essa individualização,

se confirmando como responsável pela preparação dos indivíduos para tal sociedade. Nesse aspecto,

o interesse em constituir uma família atinge a maioria dos sujeitos sociais, independente da sua

orientação sexual ou identidade de gênero.

Gays e lésbicas são socializados com base nos valores heterossexuais, aprendendo como os

casais heterossexuais, a conferir grande importância à dimensão afetivo-sexual por meio da

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conjugalidades expressiva na sociedade e na ideia de fazer um outro sujeito feliz. A contradição se

encontra na forma estrutural na formação familiar, não naturalista, e na forma de vivenciarem a

sexualidade. (Mello, 2005)

Portanto, não há possibilidade de resumir a discussão de família em uma concepção binária

de estruturação da sociedade, pois estaríamos caindo no erro de considerar a sociedade baseada em

um modelo ideal e Outros fora do modelo. A família homoafetiva deve ser entendida como nova

possibilidade de constituição familiar, o que não significa dizer que o modelo tradicional de família

tenha que desaparecer, apenas significa que a sociedade está aberta ao surgimento de outras

estruturas familiares.

Em meio às mudanças que aconteceram nos últimos anos em torno à família, ao casamento e

ao amor, uma barreira ainda existe como ao que se parece ser um consenso: o fato das famílias

serem constituídas por um homem e uma mulher. Entra aí o elemento do heterocentrismo

compulsório, ou seja, a crença de família e casamento estarem intrinsecamente associados à relação

afetiva-sexual entre o casal heterossexual.

A heteronormatividade se resume ao fato de assumir normas e convenções culturais do

sistema heterorreprodutivo. A heteronormatividade, de acordo com Miskolci (2012), significa:

“ordem sexual do presente, fundada no modelo heterossexual, familiar e reprodutivo. Ela se impõe

por meio de violências simbólicas e físicas dirigidas principalmente a quem rompe as normas de

gênero.” (Miskolci, 2012, p. 44). Por essa definição se estabelece uma ordem em toda a sociedade

que orienta e define os valores a serem seguidos, visivelmente colocados na família.

Considerando a heteronormatividade como um sistema de ordem a ser seguido e entendido

como algo dado e natural, a estrutura familiar também se encontra dentro desse modelo. Nesse

sistema, quando fala-se em diferenças entre homens e mulheres, fala-se em sexualidade e

consequentemente em reprodução. Na família, a relação socialmente aceita que produz filhos é a

relação entre homem e mulher. Para isso pressupõe que sexualmente as pessoas que constituem essa

família sejam heterossexuais. Nesse sentido, num sistema heteronormativo, a possibilidade de

constituição de uma família homoafetiva é possível, mas passível de restrições, pois nesse

pensamento, gays e lésbicas não fazem jus ao ser homens e mulheres capazes de reproduzir-se de

maneira “natural”. (Almeida Neto, 1999).

Para Miskolci (2012), a sociedade ainda exige o cumprimento das expectativas com relação

ao gênero e a um estilo de vida que mantêm a heterossexualidade como um modelo inquestionável,

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por isso se compreende a busca de casais homossexuais em adotar um padrão heterossexual em seus

relacionamentos. Para o autor

Isso é a clara expressão da vigência da heteronormatividade, dentro da qual uma relação só é reconhecida socialmente se seguir o antigo modelo do casal heterossexual reprodutivo. A demanda recente pelo casamento gay, adoção de crianças e reconhecimento dessas relações como modelo familiar corroboram esse novo momento histórico marcado mais pela heteronormatividade de que pela heterossexualidade compulsória. (MISKOLCI, 2012, p.42).

A família homoafetiva se insere em um sistema institucional que engloba interesses e

valores que podem se construir como barreiras para o reconhecimento desses casais. A

heteronormatividade é a norma que rege a sociedade e socializa os indivíduos que nela se inserem.

Há, portanto, a necessidade de quebrar algumas regras heteronormativas e visibilizar a existência

dessas famílias para que o reconhecimento e a legitimidade possam sobrepor valores tradicionais e

preconceituosos em relação às novas configurações familiares que surgem na contemporaneidade.

Considerações finais

Ao se tratar da conjugalidade homossexual, o heterocentrismo e o androcentrismo se

apresentam como fortes características nos embates em relação à homossexualidade e à família. O

padrão heterossexual para a família acatado pela sociedade brasileira é um dos aspectos que mais

colocam barreiras para a consolidação da família homoafetiva. Por mais que novas configurações

familiares estejam aparecendo, o pensamento da família nuclear heterossexual se coloca como

modelo idealizado.

Os estudos de gênero têm sido um suporte significativo para a compreensão da temática e

merecem ser valorizados. Com os estudos de gênero podemos debater a família para além do ponto

de vista sociológico, mas um ponto de vista interdisciplinar, cada vez mais rico e possível de

rápidos avanços, principalmente no que diz respeito à sociedade heteronormativa.

Nesse sentido, é necessário compreender que existem transformações na sociedade e que a

família enquanto instituição acompanha essas mudanças. O reconhecimento das famílias

homoafetivas passa por um processo não apenas legal, mas de legitimidade, o que significa dizer

que é preciso superar as barreiras da heteronormatividade instauradas na sociedade atual.

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HOMO FAMILIES IN THE GENDER STUDIES PERSPECTIVE Abstract: The conception of family is in constant change in society. We used to live in a kind of society which is based on hetero principles and paradigm. And the society reference is based on a heterosexual model. The homo families suffer pressures that interfere directly or indirectly in the social dynamic of the family. In this context, the hypothesis presented here takes into consideration a fundamental contradiction. That is, at the same time that families face a heterosexual model they can support this kind of model of established family when propose a traditional family model. Understanding that the issues about family are interdisciplinary and that they are involved in the gender studies, our goal is to consider homo relationships in a society based on heterosexual norms. This research presents some points of reflection to think about family from these new social arrangements, as well as, to think about gender issues that involve homo families. Keywords: Homo families; Gender studies; Heteronormativity.