a exploração do sofrimento

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Christophe '\ Dejours Dejours, Christophe, 1949- A loucura do trabalho : estudo de psicopatologia do trabalho/ Christophe dejours; tradução de Ana lsabel Paraguay e Lúcia Leal Ferreira.-- 5. ed. ampliada -- São Paulo : Cortez-- Oboré, 1 992 Bibliografia ISBN 978 85-249-0101-0 1 . Estresse do trabalho. 2. Trabalho -- aspectos psicológicos 3. Trabalho e classes trabalhadoras Doenças. 4. Trabalho e classes trabalhadoras-- saúde mental 1. Título. 11.Estudo de psicopatologia do trabalho. A loucura do trabalho CDD-1 58.7 362.2 6 1 6 .9803 NLM-WA 400 87-1748 estudo de psicopatologia do trabalho Índices para catálogo sistemático l 2. 3 4 5. 6 7 Estresse do trabalho: Medicina 6 1 6.9803 Loucura do trabalho: Medicina 6 1 6.9803 Psicologia do trabalho 158.7 Trabalhadores: Distúrbios mentais: Patologia social 362.2 Trabalhadores: saúde mental: Patologia social 362.2 Trabalho: Aspectos psicológicos 158.7 Trabalho: Doenças: Medicina 619.9803 Tradução de Ana lsabel Paraguay Lúcia Leal Ferreira e Christophe Dejours, 38 anos, nasceu e vive em Paria. É doutor em medicina, especialista em medicina do trabalho, psiquiatra, psicanalista, ergonomista e ex- -professor da Faculdade de Medicina de Paras. Faz pesquisas sobre temas situados nas fronteiras da psicopatologia: psicossomática e psicopatologia do trabalho. Trabalha no Centro Hospitalar de Orsay. E casado com uma psiquiatra e tem duas filhas Além deste ,4 /oucllra do fraga/&o, editado na França em 1980 e agora traduzido para o português com um anexo metodológicoinédito em seu país de origem, publicou em 1986 Z.es coros e/z/re bfo/agia erpsycAarza/yse, participou nas obras coletivas Caro.í ma/ade eí coros érr)/iqtre(1983) e Pslcáoparo/ogfe du trava// (1985), tendo editado 67 artigos nas mais diversas publicações especializadas entre 1973 e 1986 Fa\ o ganizadot do Primeiro Colóquio sobre Psicopatologictdo Trabalho, realizado em Paras. em setembrode 1 984. ." Já esteveno Brasil, em São Paulo, em 1983,participando do l Colóquio franco-brasileiro sobre a divisão do trabalho dosriscos e saúde 5' edição ampliada 12' reimpressão OBORE

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Autor: Christophe DejoursLivro: A loucura do trabalho

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Dadcs lnternaccnas de Catalcgac na Publcac (ClP)(Cmara8rasleradcLvrc,SP,8rasl)Chrstcphe'\De|cursDe|curs, Chrstcphe, i4-Alcucura dc trabalhc : estudc de psccpatclcga dc trabalhc/Chrstcphe de|curs; traduc de Analsabel Paraguay e LcaLealFerrera. -- 5. ed. amplada-- Sc Paulc : Ccrtez -- Obcre, i28blcgrafalS8N7885-24-0i0i-0i.Lstresse dc trabalhc.2. 1rabalhc -- aspectcs pscclgccs3. 1rabalhc e classes trabalhadcrasDcenas. 4. 1rabalhc eclasses trabalhadcras -- sade mentali. 1tulc.ii. Lstudc depsccpatclcga dc trabalhc.Alcucura dc trabalhcCDD-i 58.7362.26 i6 .803NLM-wA400 87-i748estudc de psccpatclcgadctrabalhclndces para catlcgc sstemtccl2.345.67Lstresse dc trabalhc: Medcna6 i6.803Lcucura dc trabalhc: Medcna6 i6.803Pscclcga dc trabalhc i58.71rabalhadcres: Dstrbcsmentas: Patclcga sccal 362.21rabalhadcres: sade mental: Patclcga sccal 362.21rabalhc: Aspectcspscclgccsi58.71rabalhc:Dcenas:Medcna 6i.8031raduc deAnalsabel ParaguayLca Leal FerreraeChrstcpheDe|curs,38 ancs, nasceu e vveem Para.L dcutcr em medcna,especalsta em medcnadc trabalhc, psquatra,pscanalsta,ergcncmstae ex--prcfesscr da Faculdade de Medcnade Paras. Faz pesqusas scbre temas stuadcsnas frcnteras da psccpatclcga: psccsscmtca e psccpatclcga dc trabalhc.1rabalha nc Centrc Hcsptalar de Orsay.Lcasadc ccm uma psquatra e temduas flhasAlemdeste ,4 /cucllra dc fraga/&c, edtadc naFrana emi80 e agcratraduzdc para c pcrtugus ccm um anexc metcdclgccnedtc em seu pas decrgem, publccu em i86Z.es ccrcs e/z/rebfc/aga erpsycAarza/yse,partcpcunas cbras ccletvasCarc.ma/ade e ccrcs err)/qtre(i83)e Pslccparc/cgfedutrava// (i85),tendc edtadc 67 artgcs nas mas dversas publcaesespecalzadasentrei73ei86Fa\ c ganzadct dc PrmercCclquc scbre Psccpatclcgct dc 1rabalhc,realzadc em Paras. em setembrcde i84..'lesteve nc 8rasl, em Sc Paulc, em i83, partcpandcdc lCclqucfrancc-braslerc scbre a dvsc dc trabalhc dcs rsccse sade5' edc ampladai2' rempresscO8OPLpermte enccntrar hcmens capazes de se lanarem num desafc mcrtalccmcs elementcs naturas.Masas ccsas nc param pcra.Paralustrar ncssa afrmac,faremcs refernca a dcs exemplcstradcs da ndstra. Ccm as tele-fcnstas,veremcs ccmccscfrmentc prcvenente dansatsfacpcde ser utlzadc para aumentar a prcdutvdade.Depcs, a ndstrapetrcqumca facltar ncssa demcnstrac de ccmcc medc pcde seruma engrenagem determnanteda crganzacdctrabalhc.5Aexplcracdcse.frmentc\ . A explcrac da.frustracApresentamcs asegur nctastradasde umapesqusa ccmtele-fcnstas (de DcmnqueDesscrs, nc publcada) .--''Otrabalhc ncs dexa dctas.''--''Detantc fcarmcs sentadas, fcamcs ccm ctraserc achatadc,termnamcs tendc uma bunda hcrrvel.-- ''O trabalhc ccmpletamente falsc. Quandc falamcs, c P11que fala.Quandc eu sac dc trabalhc, falc ccm as pesscasccm asfrasesdcP11.' '--''Asfrase que a gente tem que dzer sc:'46, nfcrmaesnc pcdemcs dzer 'bcmda'--''OquecSr.dese|a7''Ncpcdemcsdzer,pcrexemplc,''cque c Sr.quer7''--''Lmseguda,eprecscenquadraranfcrmac,cuse|a,refcrmula-la,numa lnguagem ccdfcada,depcs de t-la cbtdc.''Lmseguda, .e precsc guardaranfcrmac eprccura-lanas mcrcfchas.Scbretudc nc ncc,esse esfcrc de memra ncenadafcl.. .'--''Depcs,devemcs repetr anfcrmacpedda scbfcrmadepergunta.' '--''Pcrltmc, devemcsdar a nfcrmac scb fcrma de 'res-pcsta', na lnguagemccdfcada dc P11.''--''Lnfm,nccascdeagradecmentcdcassnante,eancastuac em que temcs cdretc dedaruma respcsta lvrementeescclhda.' 'Chegamcs agcra ac captulc mas nsltc,que depcs de ter sus-ctadc ncssa prprancreduldade, nc dexar de levantar dvdase suspetas nc letcr.Aattudeespcntnea ccnsste emtcmarccmcrefernca c scfrmentcfscc.1cdadcena fscas pcde ser pre|u-dcal aprcdutvdade earentabldade daempresa. Mases que cscfrmentc mental,uma vez mas,nc se dexa encerrar pcr esquemasexplcatvcs fcr|adcsfcra desua ccernca.Lstae a dferena essen-cal, que funda acpcsc entre amedcna e a pscanlse. lmen-ccnamcs,ncs captulcs precedentes,alguns aspectcs ''funccnas'dcscfrmentc, lgadcs aprcdutvdade. Nastarefas repettvas, csccmpcrtamentcs ccndccnadcs ncscuncamente ccnseqtlncasda crganzacdc trabalhc. Mas dc que ssc, estruturam tcda a vdaexterna actrabalhc,ccntrbundc,deste mcdc,parasubmeter cstrabalhadcres acs crtercs de prcdutvdade.Aercsc da vda mentalndvdualdcs trabalhadcres e tl para a mplantac de um ccmpcr-tamentc ccndccnadc favcrvel aprcduc.Oscfrmentc mentalaparece ccmc ntermedrc necessrc a submssc dc ccrpc.Naccnstruc cvl,|havamcs assnaladc cvalcrfunccnalda declcga ccupaccnal defensva, tantc nc que dz respetc a ccnt-nudadedc trabalhcccm altc rscc, ccmc nc tccanteaselecdepesscal.Na avacde caa, a explcrac de umalcucura bem especfca'bPcstes,1elegrames et 1eleccmmuncatcn, na Franae a empresa estatal que agrupacs ccrrecs,telegrafcse telefcna(N.dc1.).7l--''Nctemcscdretcdedeslgar.Lcassnantequedevedeslgar prmerc.Assm,nctemcs nenhum pcderscbre cnter-lccutcr. ' '--''Ncsabemcs quantas chamadas vamcsreceber, e umavemem segudaa antercr. O que e mas dfcl sc as nfcrmaesmalexplcadascunc mas vldas. lssc cbrga auma pesqusa maslcnga.Nctemcs cdretc de fazermas de trs fchas (quer dzer,eprcbdc fazer mas de trs pesqusas para dar arespcsta a uma per-gunta). Se|a falsc cu verdaderc, devemcs respcnder que 'Lstanfcr-mac nc ccnsta neste tem' , para nc dzer que cP11nc a pcssu.Depcs,anda eprecsc esperar que cassnante tenha acabadcdereclamare deslgadc.--' 'Durante ncssc trenamentccu aprendzagemncs ensnam quenc devemcs ser mutc amves, pcs e precsc desenccra|ar as pesscasa reccrrerem as nfcrmaestelefncas.' '''Oservc de nfcrmaesexste pcrque c catlcgc telefncc e nccmpreensvel.' 'Nccentrctelefncc emquestc h400 telefcnstas;sci.000ac tcdc.na cdadede Paras.Hhcmens trabalhandc durante ancte, pcs as mulheres nctm c dretc de trabalhar.Ancte, se reduz c nmerc de pesscal,de manera a se manter c mesmc rtmc de trabalhc dc da.l\s vezes, elas sc -levadasa dzerem ccsas estpdas. Pcrexem-plc, um assnante pede umnmerc de telefcne dc ntercr,e atelefc-nsta pergunta-lhe se ele tem cnmerc deseu ccrrespcndente. Apessca se rrtae pergunta se estc ''gczandcda cara dele'' . Nareal-dade,a pesqusa de nfcrmaes pcde referr-se ac nmerc dc estadccu ac nmerc dc assnante, nc ntercr daquele estadc.''Lstas brgas s ncs causam tensc.Mutas funccnrasscdas Antlhase tm umsctaque bastante fcrte,de mcdc que,freqlen-temente, recebem nsultcs racstas.Umancarespcsta desagradvelpcde acabar ccm um da de trabalhc.'';Fcamcslgadasacpcstcdetrabalhcpcrumequpamentcmundc de um fc bem curtc. Fcamcs amarradas, pcs se a gente sevrae detda pela extensc dcfc.1emcs uma verdadera sensacde estar accrrentadas.'''Pcr cutrc ladc, s temcs um ncc pcntc de escuta nc fcne,e ccm a cutracrelha cuvmcs cs rudcsda sala de trabalhc e as cutrascclegas falandc; ssc prcvcca um efetc de rudc,de nterfernca ccmavcz dcnterlccutcr,scbretudc quandc se trata de uma mulher.''''Spcdemcs deslgar se nc h nenhum assnante dc cutrc ladcdcfc.Devemcs, antes, repetr:'Halguem nalnha7 Halguem7Deslgandc', 'Halguem na lnha7 Halguem7 Deslgandc' --e estee c ncc casc em que se pcde deslgarprmerc. Mas repetr tudcssc trs vezes, quandc se sabe mutc bem que nc h nnguem,'dexaqualquer um ccmpletamente dcta''1rccamcs de pcstc acada percdc de trabalhc, manh cutarde. Ora,nc ccmec de cadaccmuncac, eprecsc anuncar cnmerc dcpcstc receptcr, paraque asreclamaes dcs assnantespcssam dentfcararespcnsvel. Lntc,achamcs um|etc,que ccn-sste,ncmcmentcdc'clp',resmungardemcdcnccmpreensvelc nmerc dc pcstc em que estamcs.''Nasada dctrabalhc, nc metrc, as pcrtas autcmtcas ccme-am afechar depcs de umrudc,semelhanteac dctelefcne: dze-mcsentc c nmerc dc pcstc de trabalhc.''''Quandc alguemna rua ncs dz bcm-da, respcndemcs:'c quec senhcrdese|a7'.' '''Asvezes, nctrabalhc,sabemcsdeccrumanfcrmac,masnc cusamcsacredtarnssc, nc ccnfamcsem ncssa memra,aU Ccntrcle e herarquaAstelefcnstas pcdem ser escutadas sem c sabera qualquer mc-mentc. Hum ccntrcle exercdc scbre dez a qunze pesscas. Ccnstade--ccntadcres paracnmercdechamadas (45a50,em geral;i20 para funes especfcas);ccntadcres dc tempc de cada chamada.''Sea chefe dcccntrcle estver de'mau-humcr',haversempre qual-quer ccsa para ccmentar.Se|a que a lnguagem ccrreta nc fcusada,se|a que a respcsta fc mutc demcrada, se|a que fc mutc curta.Acabamcs ccm tcrccclc, de tantc ccntrclar achefe dcccntrcle.H um verdaderc terrcr pcr causa dessa escuta da ccntrcladcra,que d nctas que fcam regstradas num relatrc, ndestrutvel. Astelefcnstas sc,geralmente, dcntercr(quase 0%) delas),e enccn-traram a seu prmerc trabalhc. Pcs e um trabalhc mal ccncetuadc,detestadc mesmc.1cdaselas estc em flade espera para seremtrans-ferdas para cntercr,cnde ctrabalhc emencs scbrecarregadc ecnde se reenccntram ccm suas cdadesde crgem.Daa mpcrtncadas nctas,das quas depende a pcssbldadede ccnsegurumavaganc ntercr.8 lle verfcamcs tudc,sstematcamente. Depcs,repensamcs ncs nme-rcs que sc frequentemente ctadcs ccm letras, pcrexemplc, 8US84.Assm, ncs accstumamcsccm uma certa fcrma de prcnuncar aspalavras, destacandc cada slaba. Lmencs cansatvc falar assm dcque falar ncrmalmente,pcs scmcs entc melhcr ccmpreenddasenc precsamcsestar repetndc. Depcs, na sada dctrabalhc, cudurante as pausas, ccntnuamcs afalar ccmessa vcz nasal,ccmcnaqueleske/c/zde Yves Mcntand (''Otelegrama'').Dcpcntc de vsta dcrtmc de trabalhc, ccnstatamcsquequandc estamcs nervcsas, cque mas queremcs eque cassnantedesaparea, quedeslgue, quefquemcslvresdele. Demanera queccmeamcs arespcnder mas depressa. Masa,mal ele deslgcu e |h umcutrc chamadc. Lnfm,quantc mas ncs enervamcs, masdepressa trabalhamcse mas chamadasrespcndemcs .''Acsar dc trabalhc, s atravessc as ruas ncs pcntcs marcadcs,c qu nunca fazaantes. Lac descer uma escada, eu segurc c ccr-rmc,ccmmedcdecar.Nctenhcmasccnfana.Oambenteme parecesemccr,sem gcstc.1udce cnzentc.''Asexgncas de tempc ertmctermnam pcrpermear tcda avda. Pcr exemplc:''duranteas pausasnc trabalhca genteclha crelgc trs vczes mas dc que durante c trabalhc. ' '''Parase ter pausas macres cusuplementares,e precsc armaruma estrategaespecalem relac as chefas. H |etc para se per-guntar,pcr exemplc, se 'a caxa est aberta'catlcgc, e precsc r prccurandc, sucessvamente,nas letras A.U.Fe nc em A.U.X.F.Pcdemcs ccmpreender ccmc deve ser hcrrvelpassar 8hcras pcr da sendc uma especede prclcngamentcdccatlcgc.Afcrmae c ccntedc dc trabalhcAqu,fcrmae ccntedc sc quase snnmcs: c ccntedc fcatc lmtadc, rdculce esterectpadc ccmc a fcrma.Lprecsc menccnar cncme ''P.1.1.''. Ncse admte nenhumavarac nc vccabulrc, nc nmerc de frases, nem nc tempc utl-zadc para prcnunca-las! Lcbrgatrc que, de algum mcdc, a tele-fcnsta reprma suas ntenes, suas ncatvas, sualnguagem. Lmcutraspalavras,sua persa/za/dade.Falar''P.1.1.''e,acadans-tante, uma prcbc de ser ela mesma.Ncscmente eprcbdcseexpressar epassar,nas respcstas anterlccutcr, amnma parcela de dese|c prprc;de bcm-humcr cude cansac; de agressvdade,em respcsta a um nsultc; de prazer,pcrccasc de uma ccnversa em que se ccmunccu ccmsmpata.Mas tambeme necessrcque nc se cua, nas palavras dc cutrc,tudc aqulc que e prprc, ndvdualzante,dc nterlccutcr.Ncse deve escutar amanera ccmc se apresenta cdscursc dccutrc.Ncse deve prestaratencacs detalhes dcqueele fala.Ncse devecuvr suas hestaes. Ncse deve perceber seu tcmdesagradvel.Dcdscursc dc cutrcdeve-se extrar apenas anfcrmacsclctada.Deve-se substturseuenuncadcpcrumatraduc,depurandc-c,transfcrmandc-c, dandc-lhe a fcrma e c ccntedc P.1.1.lssc chegaas raas dc absurdc, na ccnversa drgda ac slncc: ''Halguemna lnha7Halguem7Deslgandc,''repetdatrs vezes.Lnesseduplc sentdc que tantc a fcrma ccmc cccntedcdctrabalhcmpedem qualquer relaccnamentc. Humaccntradcfundamental entre umservc destnadc a ccmuncac e a prcbcde qualquer relac pscc-afetva.b)Z)scussc1rs elementcs prncpas ressaltam dessasentrevstas:--prmerc,a fnaldade da nfcrmactelefnca;--segundc, a fcrmae c ccntedc dc trabalhc;--fnalmente,asquestesrelatvasaherarqua,actpcdeccmandc e a crganzac dc trabalhc.--Otercercaspectcdzrespetca/herarqua,acccma/zdc,ac ccntrcle e a crganz.ac dc trabalhcA.fnaldadeda n/armactetefncaAsnfcrmaestelefncas exstem pcrqueccatlcgc e nccm-pletc cu nccmpreensvel.Oexemplc segunte demcnstra-c:cpluralde ''AuxFleurs'' (AsFlcres), ncme de uma lc|a,nc e levadc emccnta na crdem alfabetca; assm, para enccntrar essa nfcrmac ncOexc central dessa vclncadc pcder basea-se ncestadc per-manente de pcder ser ccntrcladc. Ncse pcde magnar uma dsc-plna mas efcaz cu .perfeta que aexstente, pelc fatcde se pcderser ccntrcladc aqualquer mcmentc, sem mesmc saber em que mc-mentc esseccntrcle e exercdc. De certc mcdc, ea ccnstruc art-fcal de umautcccntrcle. Pcs ter medc deser vgadc e vgar-sea smesmc. Omedc e aansedadesc cs mecs pelcs quas se ccn-segue fazerrespetarcsprecetcs herrquccs.Ncprmercplanc,aparece aansedade: agrcc/{/crbeascrdens recebdas,cbedecer eprcteger-se daansedade crgnadapelcrsccde serpegcemerrc.Lste exemplc traz umalustrac dc que acabamcs de descrever,aprcpstc dcscfrmentc resultante dcccntedc vazc de sentdcda tarefa, aprcpstc dctrabalhc repettvc ccmc prcttpc de umsstema dscplnar,e a prcpstc dcs ccmpcrtamentcs ccndccnadcs.Humccmprcmsscentreum''bem-estar''(emrelacacesfcrcrequerdc pela autc-represscccnscente) eum''bem-estar mencr''(emrelacavdapsqucaespcntnea).Occna/ccname/z/c cc/zs-ttu, de certa manera, a sntcmatclcgada neurcse marcada pelacrganzac dc trabalhc.Lssa e a prmera sada pcssvel, cferecda a agressvdade reavvae a frustrac.Ncpcstc detrabalhc,especfcamente,pcdemplantar-se umcrcutcsemelhante.Ccntracassnante desagradvel, areacagressva nctemmas chances de se extercrzar dcque ccntra accntrcladcra, prec-samente pcrcausa dcccntrcle exercdc. Prcbcderespcnderagressvamente,prcbcde deslgar, prcbcde rrtar c cutrcfazendc-c esperar ndefndamente...ancascluc autcrzadaereduzrctempc daccmuncac eempurrarcnterlccutcr paradeslgar mas depressa. Z)e ma/zebraqz/eanca saz'daparaaagres-svdade, als bem restrtas e trabalhar mas depressa. Ls al um fatcextracrdnrc, que ccnduz a /ateraumentar a prcdutvdade, exas-perandc as /e/lqAc/zsras.Demcdc que nc etantc excrtandc-asatrabalhar rpdcmas prcvccandc rrtaceatensc nervcsa nastelefcnstas, que a ccntrcladcrapcde cbter melhcr rendmentc.De umladc,temcs aangsta ccmc ccrrea de transmssc darepressc e,de cutrc,a rrtacea tenscnervcsa ccmcmecs deprcvccarum aumentcde prcduc.Mcstra-se entc,nesse trabalhcde nfcrmaestelefncas,quec scfrmentcpsqucc, lcngede ser um epfenmenc,ec prprcnstrumentcparacbtencdctrabalhc.clPAsp.LncwAcCAusA.O SOFPlMLN1O, L O SOFPlMLN1O QUL PPODUZ O 1PA8ALHO.ParaaumentPr aprcduc,basta puxararedea dcscfrmentcpsqucc,mas respetandc-se, tambem,cs lmtes e as capacdades decada um, senc arrsca-se fazer desccmpensaruma cu cutra,atravesde, pcrexemplc, crses de nervcs.Mas dcque uma verdadera crganzacdctrabalhc, cccn-trcle das telefcnstas aparece ccmc umatecnclcga de pcder medadapelc scfrmentc psqucc. Lssaccnstatac |havasdcfeta pcr8egcn, masnc enccntravaexplcac na tecra pavlcvana.''Algu-masdastelefcnstas chegam arendmentcs excepccnas, ncpcrexcessc de zelc,mas pcrquectrabalhc --dzem--as enerva, e quantcmas nervcsa fcam, mas rpdc trabalham.'' \a de regra, sc ''asmas nervcsas'' que tm cs melhcres rendmentcs;e ccnsderamcs:mas nervcsas'' aquelasque sc mas faclmenterrtves, mencspacentes etc.Pcdemcsdzer,sem exagerc, que c''nervcssmc''dastelefcnstas(umdcselementcsessencas ncquadrcde suaneurcse)e umadcena necessra, nas ccndes atuas,paraarealzac desuas tarefas prcfsscnas.O sstema de avalac pcrnctas e cmcdcde calcular a prcduc s fazem agravar esse estadc de ccsas (8egcn,i46) PAexplcrac dc scfrmentcOtrabalhc de telefcnstas prcpcaaccasc detratarmcs darelacexstente entre a ''tenscnervcsa''e a prcdutvdade.Quantcmas atelefcnsta se enerva, masse sente agressva emas deve ntensfcar aautc-repressc. Asreaes agressvas scprcvccadas pelc nterlccutcr,pelc ccntrcle epelc ccntedc nade-quadc da tarefa.Afrustrac eas prcvccaes acumulam seus efetcs, prcvc-candc,em ccn|untc,umaagressvdadereavva.Lesta agressvdade quevaserexplcrada pela crganzacdctrabalhc.Nampcssbldade de se enccntrarumasada dreta,qual pcdesercdestncdessaagressvdade7Umaanlse,quencteremcsccmc cb|etvc detalhar aqu,permtra mcstrar que anca sada ede vcltara agressvdadeccntras mesmc (40).Aautc-agressc tem fcrmasmltplas.Mas a ampltude da crga-nzac dc trabalhc tem, nesse casc, umpapel mutc mpcrtante.Dantedanecessdade derespetar arealdade (salrcedsc-plna dafcme),atelefcnstatem nteresse de crentar essa energapara uma adaptac a tarefa. Devdc a um prccessc que transfcrmaa agressvdadeem culpa, pcr ntermedcde um retcrnc ccntra smesma(4i),e mplantadc umcrculc vccsc, cnde a frustrac al-menta adscplna --base dcccmpcrtamentc ccndccnadc,ds-cutdc nc Captulc ii.Atelefcnstatransfcrma-sena artes dc seuprprc ccndccnamentc./a2/wUmexemplc extracrdnrcdautlzacdcnervcssmc e dadcpelc prprc8egcn, e e tc lustratvc que dspensa qualquer ccmen-trc:''Ummedccdctrabalhctrcuxe-ncsumexemplcmpressc-nante (...).Numaempresa, havam seleccnadc, paraumtrabalhcdelcadc,que requera uma habldade prcfsscnalsupercr,um certcnmerc dentre as''melhcresmecangrafas''dafrma.Cclccadasnum trabalhcque era partcularmente ntensvc,pcucctempc depcsfcr|as fcram cbrgadas a pararde trabalhar devdc a prcblemas graves,avaladcsccmcmanfestaesdehpertrecdsmc.Umaanamnesedetalhada, mcstrcu que elas |apresentavam certcs sntcmas, antesde ccmear c trabalhc. Ccncluu-se que aselec prcfsscnal, ccmvstas aumtrabalhcdfcl,smultaneamente epcrumaespece deccncdnca,tnhaseleccnadcsu|etcsqueapresentavam,entretantcs cutrcsmecangrafcs,umatendnca hpertrecdana.' '(p.i6).Pcdemcsrelaccnar essa utlzac dchpertrecdsmc emmeca-ngrafas a da lcucura narcsca ncs plctcs de caa.Oque e explcradc pela crganzac dctrabalhc nc ec sclArf-melttc, em smesmc, mas prncpalmente csmecansmcs de defesaur/adcs cc/z/ra esse scl/rmenrc.Nccascdas telefcnstas,cscfr-mentc resulta da crganzac dc trabalhc ''rcbctzante'',que expulsac dese|c prprcdc su|etc.Afrustrac e a agressvdade resultantes,assm ccmc a tensc e c nervcssmc, sc utlzadas especfcamentepara aumentarc rtmcde trabalhc.lac, sua tcnelagem, seus rendmentcs glcbas, sua data de nstalac,alguns dadcs quanttatvcs relatvcs acslmtes detemperatura, depressc etc.,fcrnecdcs pelc panel dasala deccntrcle.Masncexste ccnhecmentcccerente,nemscbrecprprcprccessc,nemscbre c funccnamentc das nstalaes. Ncexste nenhuma fcrma-c,aesse respetc, destnada acs trabalhadcres. Osaber crcula anvel dcs engenhercs, dcs escrtrcs de prc|etcs,damatrznacap-Nc h saberccntnuc, mas, anda assm, h um saber prprc.Narealdade. cstrabalhadcres detm ccnhecmentcs ccnsdervesscbre a empresa. Lles aprendem, espcntaneamente,ac lcngc dc tempce pcr hbtc, uma sere de ''dcas'',que sc afcrma pragmtcaecperatra dcsaber dc trabalhadcr.Lxstem apenas algumas nstru-es dadas pela drec: a temperaturade tal reservatrcnc deveultrapassar 70'C;apressc, em talnvel,nc deve ultrapassar 25atmcsferas:em tal pcntc,cfluxc de prcduc nc deve descer abaxcde tantas tcneladaspcrhcraetc.Lntretantc, estas nstrues sc bastantensatsfatras. Os cpe-rrcs aprendem, acs pcuccs,a nterferr nas etapas ntermedras dcprccesscde prcduc:para que a temperaturanc ultrapassetal nvel,deve-semanterumvclumencalque''retreccalcr'';dcmesmcmcdc,um certc barulhc ccrrespcnde a umP.\.C.(clcretc de pcl-vlna,prcdutc que entra na fabrcac de certas materas plstcas)que est ndcbem,cutrc tpc debarulhc sgnfca que cP.\.C.ncest ndc bem e ''fazbclhas'' . Aclcngc de sua expernca e tempc detrabalhc,c cperrc asscca cs ccmentrcs dcs cclegas, scbre a qual-dade fnaldc prcdutc,acs barulhcs da mquna.Lste saber nc estescrtc, nc se fcrmalza, mas smplesmentecrcula entre cs traba-lhadcres, quandc exste umambente de trabalhc cnde h ccmpanhe-rsmc.Atransmssc desses ccnhecmentcs e puramente cral.O ccn-|untc de ''macetes'' assm acumuladcs e ccletvamente partlhadcspelcs trabalhadcres e c que faz a fbrca funccnar.Ncncs enganemcs, nc se trata aqu de detalhessecundrcs!Oessnca/dcsaZ)ere veculadc e utlzadc de cperrc acperrc,sem ntervenc dadrecdafbrca,acccntrrcdcque pcstulaa Organzac Centfcadc 1rabalhc.Lntretantc,esse saber pragmtcc enccmpletc epcucctran-qllzadcr,pcs e cclccadc em cheque pcruma trcca de pcstc de tra-balhc, pela nstalacde um ncvc equpamentcde exaustccu dencvas autcclaves. Os macetesfunccnam, e clarc, mas nc represen-tam nem uma prcfssc ccm seu k/zcw-/zcwdesenvclvdc ccmpleta-mente, ccmc entre cs arteses, nem uma verdaderafcrmac cu umatal etc a2. Aexplcrac da ansedadeNas ndstras qumcas, rena a gncrnca scbre cs prccesscse seus ncdentes.Adrecncpcdefcrnecer umcrgancgrama dastarefas, em razc da prpranatureza dctrabalhc, que se cstruturaem func dcs ncdentes que se deve enfrentar.,4 g/zcrlzcadcsfraca//dadcres: na macradcs cascs,cs traba-lhadcres gncramc funccnamentcexatc dc prccessc ndustral,dcsdferentes equpamentcs etc.1mapenas ''dcas''deumsaber des-ccntnuc:c ncme dc prcdutc de entrada e de sada,c ncme dansta-i 0hpertrecdsmc ccrrespcndea umahperatvdade daglndula trede.Asntc-matclcga e dcmnadapcr tremcres nas extremdades, acelerac dc rtmc cardacce,scbretudc,pcrumnervcssmcextremc.Lesse nervcssmcquefcaqu.sele-ccnadc,espcntaneamente, ccmc fcnte de aumentc da prcduc./04formalidadededomniocompletosobreoinstrumento de trabalho. Oconjuntode"macetes"permite o funcionamentodafbrica, masasomadaslacunasnessesaberpragmticoproduzumgrande mistrio sobre o andamento da produo.A prova disso est na ocorrncia de incidenres noprevistos,quenosepoderiapreverou que nuncase conseguiu compreenderbem,equepodemse repetir.Existemos problemascomuns,mas h tambmosincidentesestranhose imprevisveis, os acidentes sempre novos e, s vezes,nicos. Aignorncia das chefias rcnicas:os trabalhadores sabem que os tcnicosdenveluniversitriodesconhecemofuncionamentoda empresaedesuasinstalaes.Sodetentoresdeumconhecimento terico e formaram-se em grandes faculdades,mas chegam na fbrica semnenhum conhecimento prtico."Noincio,a direo dafbrica manda-os visitar as instalaes, ento ns lhes damos 'dicas' que nada querem dizer.Isso,s vezes,duravrios dias."E"depoisde alguns dias dessabrincadeira,eles percebemque no chegam a lugarnenhum. Equandoadireoautoriza-osaterminaremcomasvisitas,refugiam-se em seus escritrios e ns no os vemos mais". Constata-sequeostcnicosdenveluniversitrio,porseulado, nosaberiamfazerfuncionar,sozinhos,asinstalaesdafbrica. Oconhecimentotericodequedispeminsuficienteparatalprtica industrial,to inslita. O nico conhecimento prtico se reduz s instruesoficiais,quesopobresemrelaoaoquerepresentam os macetes dos operrios. Opessoaldenveluniversitrioadmite,implicitamente,aprpriaignorncia:''Quandoumdensdumaordem,escutam-nos educadamente e,depois, quando viramos as costas, cada um faz como pode".Eoque,implicitamente,deumladoedooutro,chama-se de "interprerao das ordens". Dessemodo,emsetoresinteiros,reinaamaiorignorncia: "Quandohaumacidente,apareceumaordemnova".Osprocedimentosoficiaisavanampassoapasso.Freqentemente,adireo pede aos operrios para elaborar uma nova regra de trabalho.Quando houveumaexploso,porocasiodaintroduode' umnovocatalisador,"ningum a tinha previsto". "Duranteasgreves,ns dicutimos as possveis redues deproduoquenoafetariamasinstalaes.Enessasdiscussesquea direosemostra.Nspercebemosentoqueelesnosabemat ondesepodeir.Foiassimquediminumosoritmo,maisdoque 106 haviam ditoque seria possvel,enada explodiu.Uma outra vez,um colega antigo me disse que j lhe acontecera de descer,uma vez,at 22%, e a esse nvel tudo degringolou na produo, de vez.'' "Uma outra vez,eles nosdisseram que era perigoso parar,porquereiniciardepoisprovocariaumaexploso.Elessabiamdisso porque houve uma exploso,na Inglaterra,com 15 mortos. Mas ns, a gente bem que comeou a primeira vez,e eles no sabiam que havia um risco." "Todo mundo sabe que no sesabe. " Quando acontece um acidente que no era previsvel, na maioria das vezes, no por faltade precauo,mas porqueningumlinhaantesnenhumaexperinciaa respeito. Essa ignorncia,que permeia o funcionamentoda empresa,tem umpapelfundamentalnaconstituiodoRiscoenoMedodos Trabalhadores. Ignorncia,medo e angstia O medo aumenta com a ignorncia. Quanto mais a relao homem/ trabalho est calcada na ignorncia,mais o trabalhador tem medo.So maisduramenteatingidososquesonovosnotrabalho,totalmente desarmadosfaceaummistrioeaumriscomaisindefinido.Em conseqncia, os trabalhadores sentem um medo muito maior quando mudamdefuno,poisaindaconhecemos"macetes".Oltimo aspecto,paradoxalapenasnaaparncia,sublinhadopelostrabalhadores nas pesquisas realizdas, que "a polivalncia aumenta a tenso nervosa, e h caras que se acabam quando ficam polivalentes". Afirmaoparadoxal!Pois poderamos esperarqueo trabalhadorpolivalente,tendomaioracessoaos"macetes",conseguiriaum domnio maior do prprioinstrumentode trabalho.Naverdade,aconteceocontrrio.Emsuaprpriafuno,otrabalhador- mesmo sabendovagamentequeningumsabetudo- conforta-secoma divisodotrabalho,quereduzasresponsabilidadeseasvariveis desconhecidas.Quando se torna polivalente,descobre queasoutras funes de trabalho so como a sua,e que a incerteza do colega vizinho to grande quanto a sua. Opolivalente,na verdade,conheceumgrandenmerode''macetes",masacumulatambmzonasdeignorncia,eassimestconfrontadoaumaextensodorisco.Cresceseumedo,efreqente, ento,que assistamosa uma descompensao,conduzindolicena mdica,aorepouso forado e a um tratamentomedicamentoso"por depresso''. 107 Segundoosprpriostrabalhadores,sonumerosososcompanheirosquedescompensam.Dequemaneira?Pode-serecuperar, nessasemiologia,os estigmasdotrabalho?bemprovvelqueos trabalhadoresvtimas desses episdiosinvoquem - masnem sempre - otrabalho.Muitas vezes,na verdade,oquetentamesconderomedo,que lhesparecevergonhoso,oudisfar-lo,tantodosoutroscomo de si mesmos.E mesmo quando acusam o trabalho,em contrapartida,nuncaincriminam o risco,nem o medo.A descompensaoaparece ento como umquadro misto,associado angstia, irritabilidade e depresso.Para omdico,externo empresa,nohanadadeespecfico,poisacristalizaodetodososconflitosfamiliares,financeiros,sociais,acaba por conferir ao episdio umcartermais pessoal do que especfico do trabalho.Issoseexplica,seadmitirmos que,apartir de umcerto nvel,o medoeaapreensosofremumaverdadeiradissoluonaangstia; issoquerdizerque,transbordando,asdefesasindividuaisdeixam surgirconflitosintrapsquicos,inevitavelmentereativadospela situao permanente de risco. Nenhumoperrio,como nenhumoutrohomem,estasalvo de umaexplosodeangstia.Emborasejaesquemticaaseparao entremedoeangstia,naprtica,essaligaobemanterior,e, freqentemente,nobastaaotrabalhadorsairdafbricaparaficar completamenteconfianteecalmo.Sobretudoseseusperodosde recuperaosomatopsicolgicaforemcortadospelarupturadeseus ritmosdedescanso(trabalhoemturnoalterado).Amaioriados operriosprecisaderemdiosparadormir,mastambmparase agentar durante a jornada de trabalho.Os hipnticose ansiolticos solargamente consumidos.Quando voltapara casa,otrabalhador acorda de noite,angustiado,poisnosabemaissefechou direito tal vlvula.Ser que pode explodir?Sficar tranqilo no dia seguinte, quando voltar ao postodetrabalho.E,poucoapouco,todaa vida do operrio atravessada pela ansiedade gerada pelo trabalho. Quantomaiorfor aignorncia sobreo trabalho,mais fcil ser ultrapassarafronteiraentreomedoeaangstia.Narealidade,a ignorncia consciente sobre o processo de trabalho aumenta o medo, porquetornaoriscocadavezmaior.Poroutrolado,aignorncia facilitaoaparecimentodomedo.Sabemosqueaatividadeprofissional,aqualificao,o know-howe osaber,emgeral,representam umdosmecanismosdedefesafundamentaisparaaeconomiapsiquica.Otrabalho- umadasmodalidadesderesoluodecertos conflitose de regulao da vida psiquica e somtica - ,para certas pessoas, um modo privilegiado deequilbrio. Nas indstrias petroqu-108 micas,o trabalho que trazem si riscos,geraomedo edestricertas defesas contra a angstia,submete,assim,a vida psquicados trabalhadores a duras provas. Asdefesascoletivascontraomedo:"ascondutasperigosas". s vezes,aatividadedostrabalhadoresemindstriaspetroqumicas interrompida por prticas inslitas; verdade que o trabalho temvrios momentosdepausa,como j havamosassinalado;esses temposlivressoutilizadosparaconversasentreostrabalhaores, mas so tambm oportunidade para jogos ldicos,que vo dos Jogos de cartas aos jogos perigosos,que pem em perigo a vida dos operrios,passando pelascompetiesesportivasno _rrio local _detra balho.Hverdadeirosjogos"olmpicos"nomtenordausma;ha rallyes,corridasejogosdebolaqueduramanoite .iteira: Hconcursossvezesperigosos,queseprolongamporvanosdias,como h tabm brincadeirasegozaesdedimensesinusitadas,quese prolongam por dias esvezes semanas,costituindoseverdadeiros cenriosdeao,comregrasabsurdaseinventadas,detodosos tipos.Entre estas,as mais freqentes dizem respeto ao "jogo relativos segurana".Faz-se correr o boato de. que e preciso vestir uma roupa especial de proteocontra certosriscos imaginrios;durante muitosdias um bomnmero de trabalhadores crdulos seguemessa norma.Exagerando umpoucomais,induz-seos"patos"asediri'giremdireo,parapedirnovosequipament?s,de adoquea enganao seja descoberta.Freqentemente, praticam-se Jogos verdadeiramenteperigosos.Atrsdeumapilastra,umtrabalhadorusao extintordeincndiodirigindoseujato,bastanteforte,contraos colegasquepassam,comoriscodeferi-los.Detemposemtemp?s acontecemacidentes.Foiassimquenoscontaramqueumoperano negro,fugindodabrincadeira,teveapernapresana roteo de mquinas.Ainda cado por terra,um grupo de operanos Jogou-se sobre ele,comeandoa praticarumasriede massagens musculares na perna machucada,com o dorsodas mos.Durantealgun:tmp, e em meio aos risos e a uma folia geral,simularamgestosmed1co-c1-rrgicos,at omomento. em queseaperceramque aperna sta_va fraturada.Ooperrionegrofoilevadoembora,emambulanc1a, enuncamaisfoivisto na fbrica.Foiindenizado eadireopagou at suas dvidas, sem que nenhuma_punio ou repreenso tivesse sid feitaaoscolegasresponsveispeloincidente.Adire_oquis,manfestamente,enterraresteepisdio.Ostrabalhadoreschamamtais 109 brincadeirasde"troteseadmitemque, muitasvezes, acabam mal, a pontodasvtimasdescompensarem,terido"depressesnervosas". Uma outra prtica freqente a dos jantares grandiosos, sobretudo noite, que renem os trabalhadores para um verdadeiro festim, largamente"regado"a vinho, a champanhe e outras bebidas alcolicas.*Ostrabalhadorestmo hbitode falardeseus"banquetes", como de festas.Quando falam desse hbito, eles riem, mas, ao mesmo tempo, interrogam-sesobreseusignificado,adivinhandoqueesconda algoimportante, obscuro.Perguntam-seporqueaquelesquetrabalham em turos comem tanto,exprimindo um certo mal-estar sobre a quantidade de obesos que conhecem. Taisbanquetessotambmocasioparaumateatralizaoda segurana.Uma vez, exigiram que a direomandasse umnovo filtro decompressor ...queutilizaramcomo gri/1paraassarpizzas!Nesse mesmosentido,liberaramvapor,a800"C,paraassarcosteletasem um segundo, prtica que todos reconheciam, entretanto, como perigosa. Outraprticaintileperigosadeabrir,noite, asvlvulase liberarvaporsobpressonostelhadosdausina;istodestina-se,na verdade,dadoseucarterestrondoso,aprovocarpnicoentreos engenheirosque, em suas casas,. so acordados pelos alarmes no meio da noite.E desse modo, em alguns instantes, so queimadas 380 toneladasde combustvel, inutilmente,ou seja, cerca de170.0francos.** Seprestarmosatenonasassociaesdeidiasquepermeiam o discursodosoperrios,reconheceremosfacilmenteoeloentreasituaoderisco,atemticadaansiedadeeaencenaodasegurana.Na verdade, tudo consiste, ento, em inventar novas regrasdesegurana, inteise simblicas("trotes"),pararidicularizaraquelasjexistentes(liberarvapor), emtransgredirsvezesasregrasmaiselementaresdesalvaguarda(assarcosteletas),atmesmoemcriarnovos perigos, que no tm nenhuma outra relao, senosimblica,com os perigos prprios ao processo de produo (osjogos perigososque terminam em acidentes).Asencenaes,freqentemente,acabammal,conduzindos vezesdepressonervosa,aoacidenteoufim deumacarreira.lsso significa que so voluntariamente levadas longe demais. Essascondutasperigosasaparecem,assim,comoumenorme desafioao risco, e tambm como uma tentativade domnio simblico Estamos na Frana! ... (N. do T.)**Cerca de US$ 25 .000,00 (N. doT.). 110 domedo,dentrodeum esquemajclssico,queencontramostambmjuntoaostrabalhadoresdaconstruocivil.Pareceque,para ser eficaz como defesa contra a ansiedade e o medo, a encenao deve serlevadaaosextremosechegaraprovocarvtimas.Eaeste preo que funciona o sistema defensivo. Ficadifcilavaliarcomexatidoosefeitosdessasdefesascoletivassobreapopulaooperriacomoumtodo.Porm, aqueleque fica de lado nessas prticas, um dia ou outro ser a vtima;ele dever enfrentar, alm do medo criado pelosriscos do processo de trabalho, o medo criado pelo clima psicolgicodoqual no participa.Demaneira que essascondutasperigosasfuncionam,provavelmente, comoumsistemadeseleo- pelaexclusodosvacilantes.Emcontrapartida, paratodososoutros quedelasparticipam, cria umaintensacoeso,umclimadecumplicidadeprotetora,funcionandoento,efetivamente, como defesa contra o medo."O costume" E o ltimo elemento a ser considerado nas defesas contra o medo. Se ojovemoperriosuperacomsucessoseutestedeinciodo trabalho, o hbito, as"dicas"e a participaona vidacoletivairo aliviar seus esforos. Mas uma mudana de posto de trabalho, a multiplicidade de tarefas, a polivalncia ou a instalao de um equipamento novoreativamaansiedade.Aocontrrio,otempopareceterum papelessencialemrelaolutacontraomedo.Narealidade,a implantao de novasusinase a substituio dos velhosequipamentos, acadadezanos,poroutrosde capacidadesuperior,deregulaoe manutenodiferentes,fazemreapareceraindamaisarelaode ignornciaqueooperriotemparacom seutrabalhoe,assim,sua ansiedade. Mas, numa fbrica onde fizemos uma de nossas pesquisas, instaladahvriasdcadasnaregio{desdeaPrimeiraGuerra Mundial)e queconhecera todasasgeraesde equipamentose processos, mostrou-se que o medo atingia um nvel menor: - Retivemosa,nodiscursodosoperrios,expressessignificativas como as caldeiras e cubas, parans,socomo marmitas". O recurso surpreendente a uma comparao com um objetofamiliar no poderia deixar de espantar, quando acomparamos coma representao quetm,outrosoperrios, dasfbricasemque trabalham (monstro feroz e misterioso etc); - A idade da fbrica;- O tempo deservio dos trabalhadores dessa fbrica:freqen-111 temente,o pai ou a me,e mesmo o av,j haviam trabalhado nela; - A estabilidade do pessoal.Todosesseselementosfavorecemodesenvolvimentodeumaespciedetradiolocalestabelecidapordiversasgeraes.E,com o tempo,conhece-seaempresaeoprocesso.Afbricamatatantocomo,noNorte daFrana,amina.Mas o medo foisubstitudo poruma tenso menor,o hbito venceu.Deve-se ressaltar tambm o fatodequeosprpriosprdiosdafbricanosemodificaramemvriasdcadas,e que a produo principal ficou sempre a mesma.A fbricatem um aspecto vetusto, em comparao com as refinarias modernas.Afbrica j"entrou noscostumes",na vida,nas conversas,na famlia,nas geraes,na prpriacidade.Pois toda a populao local vive dela, direta ou indiretamente. O contrasteexistenteentreosoperriosdessafbricaeaqueles que vivema ansiedade permanentedas novasfbricas lembra ocontrasteentreoperriosdepasesindustrializadoseostrabalhadores imigrantes,porexemplo,recentemente deslocadosde seucampo,do interiordeumpasdaAfricadoNorte,econfrontadosbrutalmente a um modo de trabalho que lhes completamente estranho. Nasnovasfbricasaindanohtradio,nohpassado.O exemplo dessa empresa,implantada no ps-guerra,levaa pensar que o tempo talvez tenha um papel importante na evoluo do sofrimentopsquico dos operrios em indstrias de processo contnuo.O medoutilizadopela direocomo umaverdadeiraalavanca para fazertrabalhar.Lembrandosemparar asdiversasmodalidades dosriscos,maisdoqueoperigodomomento,adireomantm voluntariamenteostrabalhadores num estadodealertapermanente. Efetivamente,omedoserveprodutividade,poiscomessetipode atmosferadetrabalho,osoperriosestoespecialmentesensveise atentosaqualqueranomalia,aqualquerincidentenodesenvolvimentodoprocessodeproduo.Ficamatentoseativos,demodo que em caso de quebra,vazamento ou qualquer outro incidente, intervmimediatamente,mesmoseaocorrncianofordiretamente ligada a suas atribuies diretas.Omedopartilhado cria uma verdadeira solidariedade naeficincia.O riscodizrespeito atodo mundo, aameaanopoupaningum,enessecasoimpensvel"deixaro barcoafundar"(comonumalinhademontagem),oudesejaruma deterioraodoinstrumentodetrabalho.Quantomelhorestivero processodeproduo,maistranqilosestaro.O riscocria,espontaneamente,ainiciativa,favoreceamultiplicidadedetarefasepermiteaeconomiadeumaformaoverdadeira,que a direo,alis, no poderia dar. 112 O medoe iordem social na emprea O medo tambm um instrumento de controle social na empresa. Omelhorexemplodadopela formaextraordinriaquetomamos conflitos.Quersetratedesalrios,dequalificaoprofissionalou de condies de trabalho, as greves clssicas so raras e mesmo impossveisemcertasusinaspetroqumicas.Aparalisaodaproduo acarretaria no somenteprejuzos para o instrumento detrabalho mas, sobretudo,arriscariaprovocaracidentes.Parafuncionar,essetipode processo no deve nem ultrapassarumvolume final mximo,fixado previamente pelo construtor(na realidade,aprticademonstra que, senocomeoessasnormasso respeitadas,omaisfreqenteque a direo forcesuaultrapassagem permanente),nem cairaqumde umaproduo mnima,sobpena de provocar,emalguns pontos,a elevaoperigosadecertastemperaturas,bloquearofluxodereagentesemcertascanalizaesetc.De modoqueomaisfreqente que a greve seja feita sob forma de uma reduo da produo,segundo cotasquesoobjetodenegociaesinterminveisentreadireo eostrabalhadores.Nessemesmosentido,agrevespodecomear em uma data fixada,quando certainstalaoestem fasedemanuteno ou quandose atingiu uma certafase do processo,oudurante certacampanha relativa aum produto que,sozinho,permite a diminuiodoritmodoprocesso...O argumentousadopeladireo,e em torno do qual todos os movimentos reivindicatrios se organizam, sempre a SEGURANA.Aparalisaorepentina,porisso,impossvel,asgrevesselvagens muito raras,e a sabotagem fica definitivamente excluda.Entretanto,v-se bem que,aquiouali,ostrabalhadoreselutatransgridemasregras deumaseguranaqueatingiuoestatutodeummito indiscutvel.Atravs disso,demonstram o uso abusivo que dela faz a direo, e que o mito repousa sobre a ignorncia que reina,de ambos oslados,sobreoslimitesexatosquenosedeveultrapassar.Nesse sentido,aslutastmumpapelimportantenadesdramatizaodo cenrio da segurana, desativando parcialmente a ansiedade. Efundamentalqueavaliemosaarticulao:lgnorncia-RiscoMedo-Segurana, em SUAS DUAS FACES INSEPARAVEIS:- Como resultado, por assim dizer, inevitvel,da produo, pormeiodeprocesso ede umatcnicaaindano dominados,masque fazem parte de uma escolha consciente, por parte da direo; - Comoinstrumentodeprodutividadeedecontrolesocial,representandoumaformatotal,completaeoriginaldeexplorao. Omedo,conscientemente,instrumentalizadopeladireo,para pressionar os trabalhadores e faz-los trabalhar. 113 Medo e imaginao Tudo se passa comosea instalao de uma usina petroqumica, dotada de instalaes sofisticadas,modernas, de rpida obsolescncia egrandecapacidadedetratamentodoprodutocolocasseadireo em possedeummaterialquepoderiarendermuitodinheiro,soba condiodesaberus-loeconserv-lo.Nosetratadeafirmar que tantodireoquantoengenheiros,projetistaseconstrutoresno sabemondepisam.implantaodeumafbricaa prova deum certo conhecimento.Mas, ao contrrio, em relao a tudo aquilo que dizrespeitoaofuncionamentoecontrole,elesestodesarmadosde um saber pragmtico, como jmostramos. lgico que detm certos conhecimentostcnicos,formuladoseminstruesdeuso,masso fragmentadosenobastariamparafazerfuncionaraempresa.So os trabalhadores que, ao longo de sua prtica, descobrem e, s vezes, transmitem oralmente seus ''macetes''. Adescoberta e a produo dos "macetes"daprofissoso,dealgummodo,frutodaspotencialidades criadoras e inventivas dosoper' rios.Mas,diferentemente dos artesos,que puderamelaborar e desenvolver um know-how,atravs desculosdeprtica,noqueconcerneaoprocessodeproduo, precis. oencontrar"macetes"aolongodeumtempoquesemede, segundo os casos, entre alguns dias e alguns anos.Vemos, ento, que nosonadacomparveis.Poroutrolado,"macetes"tm,nesse caso,umcarter vital,pois graa aeles queos trabalhadores conseguemcontrolaroudominaroprocesso.ssim,adescobertadas "dicas" ,decertomodo,arrancada dostrabalhadorespelomedo. Oestadoderiedo edealerta quenoabandonaotrabalhador urantetodo o tempo,espicaa a imaginao e excita a curiosidade. E neste corpo-a-corpo violento que se elabora o saber operrio;nesse confrontoentreequipamentosmonstruososeameaadoreseoperrios sem nenhuma preparao ou formao efetiva, pressionados pela situaoansigenaaseadaptaremomaisdepressapossvel,graas de. scobertaeproduodeconhecimentospragmticossobreo prprio instrumento de trabalho. Nonosenganemos:os"macetes"nososimplestruques. Freqentemente, so fruto de muitos anos de observaes cotidianas. assimque, depoisdeumasriedeincidentesquesereproduzem aolongodedoisanos,queumoperriodescobreaseqnciade variaes,deflutuaesedealarmesquelevamaoincidenteem questo. No h nenhuma ligao lgica entre os diferentes elementos dessaseqncia, mas ooperrio detectoudoisoutrssinais,simul-114 tneos ou sucessivos, que vo lhe permitir, de agora em diante, prever o incidentequeseproduziralgunsminutosmaistarde,eevit-lo.Domesmo modo,quando aparecia certaanomalia, um outro operriodescobriuumaespciedereceitapararesponderaela:diminuir um pouco a presso aqui, aumentar a sada ali, a temperatura l, pedir ao colega do posto vizinho para diminuir um outro parmetro. Etetipodesabernosearticulacomnenhumconhecimento terico. puramente pragmtico e resulta da experincia e da observao*. "Asdicas" .constituemumsaberoperacionateseuconjunto compeummodooperatrio,quesomenteosoperriosconhecem deverdade;squerestamaindamuitaszonasobscuras,nasquais ainda no so eficazes. De qualquer modo, a direo sabe muito bem a importncia desse saber prtico quando, depois de um incidente, pede aos trabalhadores paraelesmesmos"bolaremumafrmula"destinadaaevitarsua repetio. Oquefundamentalnesse"sistemade"macetes",queno setrata desimples"truques", para simplesmente reduzira cargade trabalho,comovemos em outrassituaesde trabalho,mas exatamente esse saber que faz a fbrica funcionar.Poroutro lado,a rapidezdedesenvolvimentodestes"macetes",isto,adescobertaea invenodemodosoperatrioseficazes,suaarticulao,suacolocao' emprticaeseucampodeextenso,testemunham,inegavelmente,amobilizaodosoperrios.Mobilizaocujomotorprincipalainda,evidentemente,omedo,queconseguecriarpontes na descontinuidade do saber do pessoal de nvel superior. Emresumo,aexploraodomedoaumentaaprodutividade, xerce uma presso no sentido da ordem social e estimula o processo deproduode"macetes","dicas",indispensveisaofuncionamento da empresa. Por ocasio do relato sobre o trabalho das telefonistas, j havamos mostrado que, quando o sofrimento til produtividade, pode serestimuladopelaschefias.Omesmo valepara aansiedade,cujo valor"funcional" para produtividade pode conduzir sua utilizao como tcnica organizacional de comando. Grifo da traduo. 115 A participao dos psiclogos - Aexplorao pelo medoNocasoemquesto,podemosafirmaraequivalnciaentrea explorao do medo e a explorao pelo medo. E numa dasfbricaspesquisadasonde melhorapareceu o papel dosespecialislas.Trata-sejustamentedafbricaondeelaborou-se umaespciedetradiooperriaemrelaoaoprocessodeproduo,devido ao envelhecimento da empresa edo pessoal. Simultanea-11enteao"costume",descritonoCaptuloIII-e,aparenteneglignciadosoperrios,acrescentava-seumafreqnciadeacidentes julgadabastanteelevadapeladireocentral,emrelaoaoutras fbricas, mais recentes, da empresa matriz.Para responder questo, adireoimplantouuma''ormao"internasobreasegurana. QuemdirigiaosestgiostinhaseespecializadoemtcnicaspsicossociolgicasnosEstadosUnidos.Sobreocontedodessesestgios, os operrios relatam que: l. no tiraram nada de til nem de prtico;2. "encheram-lhes"a cabeacomteoriassobreacomplexidadeda causalidade em matria de acidentes: 3. foramculpadospelanoode"POLIACIDENTADOPREDISPOSTO". Comrelaoaoitem 2,trata-se,na realidade,de longas .digres-ses emtorno da seqncia de causalidades que intervm no determinismo dos acidentes; forneceram-lhes uma apostila onde se reproduzia um exemplo de acidente,demonstrando-se"que um acidente,enquanto fenmeno,apenasoencadeamento,inevitvel,decausaspreexistentes"! Comrelaoaoitem3,omanualintitulaumapginainteira com"Ospoliacidentadospredispostossoumaminoriade1a2% quesofremacidentesgraves"e,comosubttulo:"apredisposio nunca acidental... pode-se sofrer 15acidentes sem ahaver nenhum grave... " Estudaremosumafichadepoliacidentadoepolitraumatizado, que reproduziremos por extenso. FlCHAM.2 Esse"mecnicopolivalente"sofreu,emdezanosdetrabalho, 13acidentesdeclarados,11dosquaiscomparalizaodotrabalho. Se comearmos o estudo de sua ficha pelos _rficos iniciais, constatamos que seus acidentes distribuem-se em: 116 -9 acidentes so da categoria de base:- cruz vermelha,- feridas, queimaduras, fraturas, picadas;- 1 acidente da categoria intermediria:- tringulo preto,-dores, contuso, entorse, estiramento muscular...-3 acidentes oculares:- ponto vermelho.Primeira constatao: a categoria de base dominante.Segunda constatao:os acidentes distribuem-se regularmente notempo, sem nenhum agrupamento: - em quatro dias,- em quatro horas,- no ms. Esta dupla constatao indica que encontramos um POLLACIDENTADO PREDISPOSTO. Porocasio do13acidente,ocorridoem umaprensa,osdedos indicadoremdiodamoesquerdaforamamputadospeloequipamento em movimento. Somente aps esse acidente se elaborou a FICHA INDIVIDUAL.Ao retornarao trabalho,e com seu consentimento,o mdico do trabalho submeteu-oatodaumabateriadeexames,entreosquaisalguns testes psicotcnicos. Esses exames mostraram que o operrio em questo era portador de uma deficincia oriunda de um"acidente nervoso"sofrido quinze anosantes.Cadavezque"comandavaumaao"comseulado esquerdo,tinhareflexosparticularmentelentos.Issoexplicavaa maioria das leses sofridas do lado esquerdo. Transferidoparaumaoficinade"montagemdepequenas peas",paraevitarotrabalhoemmquinas,seundicede acidentes melhorou sensivelmente.NOTA:"A tomada de conscincia desse caso s ocorreu a partir do acidente grave". (Todos os ttulos, grafismose palavras sublinhadas so do autor daapostila.)(ApaveMarseille,ServicePrventionlncendie,32,rue Ed. Rostand, 13006 Marseille.) Concluindo,podemosverificarquebastatransferirooperrio de seo, para que diminua seu"ndice de acidentes",o que equivale a dizer que o que mudou na situao foram exatamente as condies detrabalho,nootrabalhador.Seelefosse realmente predisposto, no h razo para que no o seja tambm num outro posto! Oque aparece,acima detudo, a idia de"poliacidentado predisposto"esuaassociaoaumadeficinciapsicolgica.Oefeito 117 principalobtido- edoqualtestemunhamosoperrios-,que sesentemculpadosnofinaldoestgioe,mesmoposteriormente, algunsdeles,aoseacidentarem . emtrabalho,pensaramimediatamente:"poliacidentado predisposto", e s foram declar-lo na enfermaria quando no havia gravidade evidente. Desse modo, as estatsticas indicaram uma reduo dos acidentes ... Um outro exemplo do papel representado pelo estmulo do medo nasindstriaspetroqumicas encontra-senaentrevistadeumdiretor de manuteno argelino. As refinarias importadas pela Arglia e completamentemontadasnolocal,idnticass quesooperacionaisna Frana,no funcionam mais do quealguns meses por ano.Segundo o diretor, a causa a mentalidade dos operrios argelinos.No tendosidopreparados,porsculosdecivilizaoindustrial,aosritmosdetrabalhointensoeaomedo,soinsensveissameaasindustriaise aos riscos.Nessainstalao,ningumintervmquandosobrevmumacidente,se no estiver diretamente ligado sua tarefa especfica.Dessa maneira, as fbricas, onde o essencial do trabalho consiste em intervir nos incidentes,ficam sempre paradas.Na Frana,o mesmo acidente teria provocado a interveno precipitada de vrios operadores,estimuladospelomedodeverapanedesencadeandoumaespiralde catstrofes. 118 6 Aorganizao do trabalho e a doena Atagora,nossoesforodepesquisaeinterpretaofoino sentidoderevelarumsofrimentono-reconhecido,provocadopela organizao do trabalho.Vamos mostrar, em seguida,comofuncionam osdiversossistemasdedefesa colocados em prticapara cont-la.As estratgias defensivas,porsua vez,podem serutilizadaspelaorganizao do trabalhopara aumentar a produtividade.A questo saber se a explorao do sofrimento pode ter repercusses sobre a sade dos trabalhadores,domesmomodo que podemosobservarcom a exploraodaforafsica.Talvezomaisinslito,naabordagempsicopatolgicadaorganizaodotrabalho,queaexploraomental sejafontedemais-valianas tarefasdesqualificadas,cujareputao adeseremestritamentemanuais.Paraavaliar os efeitosdaexploraomentalsobreasde,necessitamosrecorreranoesde psicopatologiamaisclssicas,masmaisespecializadas.Naspginas seguintes no manteremos mais a separao entre insatisfao e medo, justificvelatagorapormotivosdidticos.Paraencontrar,em algumasdoenas,aorganizaodotrabalhocomosuacausaprincipal, faremos referncia economia psquica e somtica global. !19