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A EXPERIÊNCIA DESENVOLVIDA COM PROFESSORES/ ALFABETIZADORES DE JOVENS E ADULTOS AGRICULTORES NA AMAZÔNIA PARAENSE HELLEN DO SOCORRO DE ARAÚJO SILVA 1 - UEPA [email protected] RESUMO Este texto versa sobre os resultados da experiência de formação que foi desenvolvida com professores/alfabetizadores no Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA) em municípios da Região Nordeste da Amazônia Paraense. O PRONERA em 2007 constituía-se em um projeto de extensão da Universidade Federal do Pará (UFPA) na perspectiva de formar professores para atuar com jovens e adultos dos assentamentos de reforma agrária. O projeto apresentava como princípio a Pedagogia da Alternância proporcionando um currículo específico para atender as reais necessidades dos jovens e adultos trabalhadores do campo. Através da pedagogia da alternância, a formação é voltada à melhoria da qualidade de vida dos agricultores, bem como a uma aplicação de conhecimentos técnicos – científicos que são organizados a partir dos conhecimentos familiares, sempre fomentando em jovens e adultos dos assentamentos agrários, o sentido de comunidade e o espírito associativo e empreendedor. Referido projeto teve duração de 12 meses e atualmente, encontra-se concluído. Durante o período de execução em 2007 realizou-se momentos formativos com os professores/alfabetizadores e visitas nas salas de aulas. As metodologias utilizadas foram: seminários regionais, oficinas locais, audiências públicas, rodas de conversas e palestras. Os sujeitos atendidos foram professores/alfabetizadores durante o processo de formação e consequentemente alunos em processo de alfabetização. Nos resultados alcançados pode-se demonstrar o atendimento de 18 municípios, 34 assentamentos de reforma agrária, 42 professores/alfabetizadores e aproximadamente 750 jovens e adultos em processo de alfabetização. Palavras chave: PRONERA. Educação do Campo. Pedagogia da Alternância. Educação de Jovens e Adultos INTRODUÇÃO A educação do campo está em discussão permanente na busca por um projeto de desenvolvimento social, econômico, político e cultural. Esses aspectos estão situados em um contexto histórico que norteia o seguinte debate: por um lado suas bases epistemológicas estão centradas na reforma agrária, na agricultura familiar, no trabalho e na luta pela terra; no outro, encontra-se a expansão do capitalismo com forte 1 Pedagoga e professora de EJA da Secretaria de Estado de Educação (SEDUC). Atualmente cursa mestrado na UEPA com vínculo na Linha de Pesquisa Formação de Professores.

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A EXPERIÊNCIA DESENVOLVIDA COM PROFESSORES/ALFABETIZADORES DE JOVENS E ADULTOS AGRICULTORES NA

AMAZÔNIA PARAENSE

HELLEN DO SOCORRO DE ARAÚJO SILVA1- [email protected]

RESUMO

Este texto versa sobre os resultados da experiência de formação que foi desenvolvida com professores/alfabetizadores no Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA) em municípios da Região Nordeste da Amazônia Paraense. O PRONERA em 2007 constituía-se em um projeto de extensão da Universidade Federal do Pará (UFPA) na perspectiva de formar professores para atuar com jovens e adultos dos assentamentos de reforma agrária. O projeto apresentava como princípio a Pedagogia da Alternância proporcionando um currículo específico para atender as reais necessidades dos jovens e adultos trabalhadores do campo. Através da pedagogia da alternância, a formação é voltada à melhoria da qualidade de vida dos agricultores, bem como a uma aplicação de conhecimentos técnicos – científicos que são organizados a partir dos conhecimentos familiares, sempre fomentando em jovens e adultos dos assentamentos agrários, o sentido de comunidade e o espírito associativo e empreendedor. Referido projeto teve duração de 12 meses e atualmente, encontra-se concluído. Durante o período de execução em 2007 realizou-se momentos formativos com os professores/alfabetizadores e visitas nas salas de aulas. As metodologias utilizadas foram: seminários regionais, oficinas locais, audiências públicas, rodas de conversas e palestras. Os sujeitos atendidos foram professores/alfabetizadores durante o processo de formação e consequentemente alunos em processo de alfabetização. Nos resultados alcançados pode-se demonstrar o atendimento de 18 municípios, 34 assentamentos de reforma agrária, 42 professores/alfabetizadores e aproximadamente 750 jovens e adultos em processo de alfabetização.

Palavras chave: PRONERA. Educação do Campo. Pedagogia da Alternância. Educação de Jovens e Adultos

INTRODUÇÃO

A educação do campo está em discussão permanente na busca por um projeto de

desenvolvimento social, econômico, político e cultural. Esses aspectos estão situados

em um contexto histórico que norteia o seguinte debate: por um lado suas bases

epistemológicas estão centradas na reforma agrária, na agricultura familiar, no trabalho

e na luta pela terra; no outro, encontra-se a expansão do capitalismo com forte

1 Pedagoga e professora de EJA da Secretaria de Estado de Educação (SEDUC). Atualmente cursa mestrado na UEPA com vínculo na Linha de Pesquisa Formação de Professores.

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influência no agronegócio, globalização, industrialização, urbanização, exploração e

lucro.

Os sujeitos do campo fazem parte da diversidade sociocultural brasileira, os

quais produzem formas de vida vinculadas aos pilares que movimentam as pessoas do

campo e das águas na perspectiva da transformação social, por conseguinte a educação

do campo precisa estar vinculada ao desenvolvimento sócio-histórico das relações em

busca de políticas que de fato atenda os direitos educacionais dos agricultores.

O artigo ora apresentado aborda a experiência de formação dos professores/

alfabetizadores, que atuaram com jovens e adultos agricultores no município de Aurora

do Pará, as visitas dos bolsistas nas turmas de alfabetização e alguns resultados

conquistados com o término do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária

(PRONERA) no ano de 2007.

O PRONERA surge com a intenção de oferecer educação para jovens e adultos

agricultores que moram em áreas de assentamento de reforma agrária. A região em

destaque é o Nordeste Paraense. Deste modo, a questão problema que sustenta a

construção teórico- metodológica deste artigo versa sobre: quais os desafios e

perspectivas desenvolvidas na formação de professores/alfabetizadores e na

implementação da proposta pedagógica desenvolvida com jovens e adultos agricultores

da Amazônia Paraense?

O PRONERA vinculou-se a Universidade Federal do Pará, Campus

Universitário de Castanhal, enquanto Projeto de Extensão, na perspectiva de contribuir

com a diminuição do índice de analfabetismo, elevação da escolaridade e favorecer a

inclusão social e educacional de jovens e adultos assentados.

O projeto intitulado “Educação Cidadã: construindo uma reforma agrária

sustentável” enfocou em seus eixos norteadores as discussões sobre Meio Ambiente,

Políticas Públicas, Reforma Agrária e Organização Social. Tais temáticas contribuíram

significativamente para o fortalecimento da educação popular, com o saber pautado na

história de vida e no contexto sócio-político onde os sujeitos do campo estão inseridos.

Nesse sentido, procura-se apresentar neste relato, a experiência que foi

desenvolvida no município de Aurora do Pará, local onde tivemos a oportunidade de

participar dos círculos de formação e também de realizar visitas nas turmas de

alfabetização diretamente nos assentamentos. A organização deste artigo é resultado do

conjunto de relatório que foram produzidos no período.

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1- A FORMAÇÃO E O PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DO PRONERA EM TURMAS DE ALFABETIZAÇÃO: a pedagogia da alternância na perspectiva do letramento

Os jovens e adultos agricultores necessitam de políticas públicas educacionais

que os fortaleçam no campo. A ausência desse direito acarreta o abandono dos estudos e

em muitos casos a saída do campo em busca de escolas nas cidades.

As trajetórias de lutas sociais dos povos do campo foram marcadas pela disputa

de território, pelo massacre, pelo descaso e pela reivindicação incansável da educação

enquanto direito de todos e dever do Estado.

No debate sobre educação do campo estão presentes diversas vozes: dos

Movimentos Sociais, Universidades, Grupos de Pesquisas, agricultores, Ministério da

Educação, Secretarias Estaduais e Municipais de Educação, INCRA, entre outros. Estas

entidades e instituições contribuíram na execução do PRONERA de alfabetização ora

apresentado.

O programa contou com a participação de professores/alfabetizadores, jovens

e adultos assentados, líderes sindicais e movimentos sociais, que na perspectiva

da educação dialógica buscaram no referido programa uma aliança na intenção de

afirmação de suas identidades. Nesse sentido, entende-se que “o diálogo é este encontro

dos homens, mediatizados pelo mundo, para pronunciá-lo [...]”. (FREIRE, 1987, p. 45).

No desmembrar deste artigo, selecionamos algumas situações que marcaram

a nossa aproximação pelo debate da educação do campo, especificamente com jovens

e adultos. Nas conclusões deste ensaio enfatizaremos os desafios, as dificuldades e os

resultados alcançados no processo de alfabetização destes sujeitos.

1.1- Os círculos de formação

A compreensão dos círculos de formação proposto pelo PRONERA surge a

partir da interpretação dos círculos de cultura proposto por Freire (1987), uma vez que a

intenção é de proximidade e envolvimento dos sujeitos com a ação de educar. Por isso,

Freire (1987, p. 5) destaca que:

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Ao objetivar seu mundo, o alfabetizando nele reencontra-se com os outros e nos outros, companheiros de seu pequeno “círculo de cultura”. Encontram-se e reencontram-se todos no mesmo mundo comum e, da coincidência das intenções que o objetivam, ex-surge a comunicação, o diálogo que criticiza e promove os participantes do círculo. Assim, juntos, re-criam criticamente o seu mundo: o que antes os absorvia, agora podem ver ao revés. No círculo de cultura, a rigor, não se ensina, aprende-se em “reciprocidade de consciências”; não há professor, há um coordenador, que tem por função dar as informações solicitadas pelos respectivos participantes e propiciar condições favoráveis à dinâmica do grupo, reduzindo ao mínimo sua intervenção direta no curso do diálogo.

Nesse contexto a concepção que buscamos construir no programa, foi com

foco na concepção freireana, para pensarmos o processo de alfabetização pautado nas

palavras geradoras. Diante disso “o alfabetizando já está motivado para não só buscar o

mecanismo de sua recomposição e da composição de novas palavras, mas também para

escrever seu pensamento”. (FREIRE, 1987, p. 5).

Ao iniciarmos o processo de alfabetização com palavras geradoras verificamos

que os professores/alfabetizadores por serem moradores do próprio assentamento onde

funcionavam as turmas de alfabetização não apresentaram dificuldade de propiciar

momentos significativos para leitura de mundo e interpretação de sua realidade social.

O que os professores exigiam nas formações eram orientações e estratégias pedagógicas

que ampliassem o trabalho com tais palavras.

As formações do programa foram organizadas em oficinas por pólos, encontros

regionais, audiências públicas e formações municipais. Cada formação tinha uma

carga horária de 40 horas. A realização dos círculos de formação nos pólos foram

pensadas estrategicamente pela aproximação territorial e pelas articulações políticas dos

sindicatos envolvidos.

No desmembrar das demais formações destacam-se três encontros regionais

que ocorreram nos município de Castanhal. Esses momentos foram riquíssimos para

as trocas de experiências e principalmente para ouvir os relatos dos professores/

alfabetizadores. Era consenso nas falas a vontade de melhor compreender a proposta

de educação apresentada pelo PRONERA e também da necessidade de orientações

pedagógicas in loco.

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Essa exigência se dava em detrimento das dúvidas surgidas no momento de

atuação pedagógica, por esse motivo, pontuaram que as visitas dos bolsistas deveriam

ser mais sistemáticas, com tempo disponível para permanecer nas turmas e colaborar

com os professores na prática educativa. Porém as nossas visitas eram mensais, e nem

sempre o tempo de permanência em cada turma era suficiente para que pudessem

vencer as dúvidas dos professores.

Outro momento importante que conseguimos realizar foram duas audiências

públicas, uma no município de Aurora do Pará e outra no município de Capitão

poço. Em Aurora do Pará, da qual participamos, foi possível mobilizar um número

significativo de participantes, entre eles: STRs, INCRA, Emater, líderes dos

assentamentos, professores, alunos e coordenador local. A temática debatida foi sobre

as contribuições do PRONERA para o município, e principalmente pela valorização da

educação de jovens e adultos do campo, que moram em área de assentamento.

Realizamos também as formações locais, destinadas ao planejamento a partir

dos eixos temáticos, em Aurora do Pará realizamos duas, uma sobre meio ambiente

com destaque para o desenvolvimento sustentável e a outra sobre reforma agrária.

As atividades nas oficinas iniciavam com o relato do trabalho que os professores/

alfabetizadores estavam desenvolvendo e a partir das questões levantadas, focávamos

nas orientações pedagógicas.

Nesse cenário, o processo de educar não é uma tarefa fácil, assim o PRONERA

vem rompendo barreiras em prol do fortalecimento da educação do campo, pois

possibilita a valorização de jovens e adultos assentados e os proporciona a inclusão

social e o exercício da cidadania.

1.2- As visitas nas turmas de alfabetização

A proposta político pedagógica do PRONERA apresentava como princípio

educativo e formativo a Pedagogia da Alternância na perspectiva do letramento,

conforme apresenta o projeto base, a “Pedagogia da Alternância adotada em nosso

projeto, será utilizado como um método onde os educandos terão, na alfabetização

10 Módulos com 40Hs presenciais e 10hs não presenciais totalizando 500hs/ano”.

(BELÉM, 2004).

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As visitas nos possibilitaram perceber a implementação do programa na prática

educativa. Inicialmente algumas situações impediam que os professores/alfabetizadores

desenvolvessem concretamente seu trabalho, entre elas destacam-se: primeiro pela

dificuldade de compreender o trabalho voltado para a pedagogia da alternância, segundo

foi pensar em um calendário diferenciado pautado em uma organização curricular que

atendesse as reais necessidades dos jovens e adultos agricultores.

Uma questão importante que vale enfatizar foi o trabalho desmembrado pelos

professores na perspectiva do letramento. Momento em que apesar das dificuldades,

procuravam considerar o meio social, cultural e político relacionado com as

experiências de vida dos alunos.

Nessa perspectiva, o PRONERA trata o processo ensino aprendizagem na

perspectiva do letramento para que os jovens e adultos atendidos não se limitassem a ler

palavras sem compreender os significados, mas que buscassem interpretar o mundo do

qual fazem parte. Portanto, torná-los alfabetizados foi, sobretudo, formar sujeitos

reflexivos de sua própria história.

Nas turmas de alfabetização visitadas em Aurora do Pará a ânsia dos professores/

alfabetizadores seria de como criar atividades que propiciassem a leitura, sem perder de

vista o espaço de vida e trabalho dos sujeitos. Nesse momento estão os desafios dos

responsáveis pelo ato de ensinar e aprender. Ancorados nisso os professores faziam de

forma incisiva as seguintes interrogações. Como vamos alfabetizar? Como posso

relacionar as temáticas das formações para ensinar os alunos a ler? Procurando refletir

sobre as questões levantadas torna-se relevante dialogarmos com Tfouni (2004, p. 21)

ao explicar que,

Os estudos sobre letramento, desse modo, não se restringem somente àquelas pessoas que adquiriram a escrita, isto é aos alfabetizados. buscam investigar também as consequencias da ausência da escrita a nível individual, mas sempre remetendo ao social mais amplo, isto é, procurando, entre outras coisas, ver quais características da estrutura social têm relação com os fatos postos.

Isso mostra que, reproduzir somente a escrita, não é indicador de interpretações

sociais, porque se partirmos deste pressuposto os alunos desenvolverão habilidades,

registros de códigos lingüísticos, mas apresentarão dificuldades para explicar fatores de

sua realidade.

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Ter restritivamente a escrita como requisito da alfabetização de jovens e adultos

é um método anacrônico com aulas repetitivas e monótonas, já que os alunos escrevem

e não compreendem o sentido em sua vida.

Na proposta do PRONERA procuramos valorizar o processo de leitura, com

ênfase para os prévios conhecimentos dos sujeitos para que pudéssemos perceber as

diferenças sociais, culturais e econômicas. Sendo a leitura fundamental no aprendizado,

buscamos trabalhá-la através dos relatos orais e da história de vida que marcaram cada

aluno.

Introduzir a leitura a partir das experiências é tornar a história valorizada e

refletida, oportunizando com isso um repensar sobre suas próprias ações. Esse momento

deve ser dialógico para que os professores não seja meros transmissores de mensagens.

O processo de leitura como ato convencional a partir da concepção de

alfabetização têm como princípio que os alunos nesse estágio já se apropriaram das

exigências sociais que é “saber ler e escreve”. Diante disso Soares (2003, p. 20) afirma

que “[...] não basta apenas saber ler e escrever, é preciso também saber fazer uso do ler

e do escrever, saber responder as exigências da leitura e escrita que a sociedade faz

continuamente [...]”. As idéias expressam que tornar-se alfabetizado não é

simplesmente decodificar letras ou assinar o nome, mas ampliar a visão de mundo.

Nesse contexto, a partir do que observamos nas turmas de alfabetização e nas

conversas com os professores/alfabetizadores, focalizaremos para o relato de uma

professora quando afirmou que identificava significativos avanços nas escritas dos

alunos, no entanto necessitava de atividades pedagógicas para ampliar e avançar no

processo da leitura.

Perante disso, a professora/alfabetizadora do assentamento Vale do Capim

afirma: “professora eu quero idéias para ensinar eles a ler, porque todos escrevem

o nome e desenham o que se pede, mas quando chega na leitura parece que tem um

bloqueio”

Esses questionamentos foram constantes durante as visitas de acompanhamento,

porque os professores sempre esperam um método ou materiais pedagógicos prontos

para reproduzirem em sala de aula. Tais práticas, não podem ser cobradas apenas dos

professores que atuam em educação popular, mas deve-se questionar a concepção de

alfabetização que vem sendo aplicada no decorrer da história na educação formal. Nesse

sentido, acreditamos que a educação do campo por meio do PRONERA e de outros

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programas de alfabetização na perspectiva da educação popular avança ao propor uma

educação que valorize a realidade local dos povos do campo.

Diante do exposto, elaborávamos os nossos relatórios de visitas e colocávamos a

importância de trabalhar nas oficinas questões onde os professores apresentavam mais

dificuldades. Assim colaborávamos com eles na confecção de materiais, nas orientações

e na seleção de material pedagógico para estratégia de leitura e escrita, mas nem sempre

o tempo de permanência em uma turma possibilitava essa interação.

CONCLUSÕES

No município de Aurora do Pará o Programa funcionou em 6 turmas de

alfabetização, atendeu 5 professores/alfabetizadores e aproximadamente 100 jovens e

adultos de áreas de assentamento. No período de execução do PRONERA os círculos

de formação ocorreram em vários momentos. Primeiro as formações dos bolsistas e

orientações pedagógicas pelos docentes da universidade, segundo houve um diagnóstico

junto aos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais (STRs) sobre a realidade educacional

dos municípios que faziam parte do programa, terceiro ocorreram as oficinas regionais

e as audiências públicas, paralelo a isso fazíamos as visitas diretamente nas turmas

de alfabetização na perspectiva de assessorar pedagogicamente o trabalho junto aos

professores.

Nos resultados alcançados pode-se demonstrar o atendimento de 18 municípios,

34 assentamentos de reforma agrária, 42 professores/alfabetizadores e aproximadamente

750 jovens e adultos em processo de alfabetização. No município de Aurora do

Pará concluíram aproximadamente 100 jovens e adultos que foram certificados pelo

PRONERA em fase da alfabetização.

No desenvolvimento do programa ocorreram também algumas dificuldades,

entre elas destacam-se:

Atraso no pagamento de todos os envolvidos com o programa;

Paralisação das aulas em algumas turmas;

Falta de material didático para os alunos e professores;

Reivindicação de óculos para os alunos, isto acarretou muitas desistências;

As dificuldades de visitas em períodos de chuvas;

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O intervalo de dois a três meses para a ocorrência das oficinas foi um

complicador na implementação do programa;

Por fim, o PRONERA na região nordeste especificamente no município de

Aurora do Pará, proporcionou aos jovens e adultos agricultores o direito a educação

diretamente no meio onde vivem, em que pese às dificuldades este programa tem

contribuições significativas para a inclusão social e educacional daqueles que por

muitos anos foram esquecidos por serem do campo e principalmente por residirem em

áreas de assentamentos.

REFERÊNCIAS

BELÉM, Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária. Projeto Educação Cidadã: construindo uma reforma agrária sustentável. 2004.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

SOARES, Magda. Letramento: um tema de três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.

TFOUNI, Leda Verdiani. Letramento e alfabetização. 6ª Ed. São Paulo: Cortez, 2004.