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Revista do Instituto Geológico, São Paulo, 25(1/2), 1-28, 2004. 1 A EXPANSÃO URBANA NO PLANALTO DE CAMPOS DO JORDÃO. DIAGNÓSTICO GEOMORFOLÓGICO PARA FINS DE PLANEJAMENTO May Christine MODENESI-GAUTTIERI Silvio Takashi HIRUMA RESUMO Parte do bloco principal da serra da Mantiqueira, o planalto de Campos do Jordão sofreu nas últimas décadas o impacto de uma expansão urbana contínua e desordenada, que aumentou as condições naturais de instabilidade próprias do planalto. A evolução quaternária sob climas de altitude deu origem ao sistema de paisagem atual, o geossistema dos altos campos, caracterizado por estrutura em equilíbrio precário, extremamente vulne- rável ao uso inadequado do solo e a riscos ambientais urbanos. Num relevo acentuado como o do planalto, com encostas íngremes, o conhecimento das características geomorfológicas do sítio urbano é da maior importância para planejamento do desenvol- vimento urbano e de interferências deliberadas no espaço natural. O mapeamento da evolução urbana (1973, 1982, 2000) evidencia de forma nítida a intensificação do cresci- mento urbano nas últimas décadas e seus efeitos na descaracterização do mosaico origi- nal da vegetação. Mapeamento geomorfológico de detalhe (1:8000) foi realizado por amostragem em três áreas do vale do Capivari/Sapucaí-Guaçu, com base em trabalhos de campo e interpretação de fotos aéreas e imagens de satélite. Os compartimentos identifi- cados anteriormente nos altos campos do planalto, como unidades dinâmicas da paisa- gem, caracterizadas por formas, materiais, solos, vegetação e processos próprios, consti- tuíram a base do diagnóstico geomorfológico. Dez unidades diagnóstico foram defini- das, cada uma com aptidões específicas quanto aos riscos associados ao desenvolvi- mento urbano. Essas unidades foram finalmente agrupadas em três classes, de acordo com a vulnerabilidade aos processos erosivos e adequação à ocupação. Palavras-chave: diagnóstico geomorfológico, uso do solo, expansão urbana, altos campos, planalto tropical, Campos do Jordão ABSTRACT Part of the main block of the Serra da Mantiqueira, the Campos do Jordão Plateau has been exposed in recent decades to the pressures of a continuous and desorderly urban expansion, which increased the inherent unstable natural conditions of the tropical plateau. Quaternary evolution under high altitude (up to 2050m) conditions developed a tropical montane landscape system, the altos campos geosystem, characterized by a structure in precarious equilibrium, extremely vulnerable to inadequate land use and prone to urban environmental hazards. Knowledge of the geomorphical characteristics of the site is of the utmost importance for planning urban development and deliberate interferences in the steep high relief of the plateau. Mapping of urban evolution (1973, 1982, 2000) clearly shows the intensification of urban growth in the last decades and its effects in the decharacterization of the original vegetation mosaic. Detailed geomorphological mapping (1:8000) of three sampling areas in the more intensively urbanized Capivari/MogiGuaçu Valley was based on field work and the interpretation of aerophoto and satellite images. The geomorphological compartments identified in previous investigations at the altos campos as dynamic units characterized by specific landforms, materials, soils, vegetation and processes, constitute the basis of the diagnosis. Ten diagnostic units were defined, each one with specific aptitudes in relation

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Revista do Instituto Geológico, São Paulo, 25(1/2), 1-28, 2004.

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A EXPANSÃO URBANA NO PLANALTO DE CAMPOS DO JORDÃO. DIAGNÓSTICOGEOMORFOLÓGICO PARA FINS DE PLANEJAMENTO

May Christine MODENESI-GAUTTIERISilvio Takashi HIRUMA

RESUMO

Parte do bloco principal da serra da Mantiqueira, o planalto de Campos do Jordãosofreu nas últimas décadas o impacto de uma expansão urbana contínua e desordenada,que aumentou as condições naturais de instabilidade próprias do planalto. A evoluçãoquaternária sob climas de altitude deu origem ao sistema de paisagem atual, o geossistemados altos campos, caracterizado por estrutura em equilíbrio precário, extremamente vulne-rável ao uso inadequado do solo e a riscos ambientais urbanos. Num relevo acentuadocomo o do planalto, com encostas íngremes, o conhecimento das característicasgeomorfológicas do sítio urbano é da maior importância para planejamento do desenvol-vimento urbano e de interferências deliberadas no espaço natural. O mapeamento daevolução urbana (1973, 1982, 2000) evidencia de forma nítida a intensificação do cresci-mento urbano nas últimas décadas e seus efeitos na descaracterização do mosaico origi-nal da vegetação. Mapeamento geomorfológico de detalhe (1:8000) foi realizado poramostragem em três áreas do vale do Capivari/Sapucaí-Guaçu, com base em trabalhos decampo e interpretação de fotos aéreas e imagens de satélite. Os compartimentos identifi-cados anteriormente nos altos campos do planalto, como unidades dinâmicas da paisa-gem, caracterizadas por formas, materiais, solos, vegetação e processos próprios, consti-tuíram a base do diagnóstico geomorfológico. Dez unidades diagnóstico foram defini-das, cada uma com aptidões específicas quanto aos riscos associados ao desenvolvi-mento urbano. Essas unidades foram finalmente agrupadas em três classes, de acordocom a vulnerabilidade aos processos erosivos e adequação à ocupação.

Palavras-chave: diagnóstico geomorfológico, uso do solo, expansão urbana, altoscampos, planalto tropical, Campos do Jordão

ABSTRACT

Part of the main block of the Serra da Mantiqueira, the Campos do Jordão Plateauhas been exposed in recent decades to the pressures of a continuous and desorderlyurban expansion, which increased the inherent unstable natural conditions of the tropicalplateau. Quaternary evolution under high altitude (up to 2050m) conditions developeda tropical montane landscape system, the altos campos geosystem, characterized by astructure in precarious equilibrium, extremely vulnerable to inadequate land use andprone to urban environmental hazards. Knowledge of the geomorphical characteristicsof the site is of the utmost importance for planning urban development and deliberateinterferences in the steep high relief of the plateau. Mapping of urban evolution (1973,1982, 2000) clearly shows the intensification of urban growth in the last decades and itseffects in the decharacterization of the original vegetation mosaic. Detailedgeomorphological mapping (1:8000) of three sampling areas in the more intensivelyurbanized Capivari/MogiGuaçu Valley was based on field work and the interpretation ofaerophoto and satellite images. The geomorphological compartments identified inprevious investigations at the altos campos as dynamic units characterized by specificlandforms, materials, soils, vegetation and processes, constitute the basis of thediagnosis. Ten diagnostic units were defined, each one with specific aptitudes in relation

Revista do Instituto Geológico, São Paulo, 25(1/2), 1-28, 2004.

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1 INTRODUÇÃO

O planalto de Campos do Jordão é um pla-nalto cristalino em bloco, alçado (ALMEIDA1976) a mais de 2000m de altitude e limitado porescarpas abruptas que se erguem, aproximadamen-te, 1500m sobre as colinas do médio vale doParaíba (Figura 1). No planalto afloram terrenoscristalinos da Província Mantiqueira (HASUI &OLIVEIRA 1984), representados por gnaisses,migmatitos, granitos, xistos, quartzitos, calcários,calciossilicáticas e anfibolitos (HASUI et al. 1978,CAVALCANTE et al. 1979, MORAIS et al. 1998).Na bacia do Alto Sapucaí Guaçu predominam ro-chas gnáissicas, orientadas a NE-SW e ENE-WSW, com mergulhos superiores a 50º, por vezessubverticais. Nos morros de altitude inferior a1710/40m ocorrem biotita gnaisses finamentebandados com intercalações de quartzitos,anfibolitos e biotita xistos. Acima de 1800m, aosul do ribeirão Capivari, afloram gnaisses, local-mente com bandamento menos definido (gnaissesgraníticos), e rochas granitóides; ao norte, ocor-

rem gnaisses bandados e, com maior freqüência,muscovita quartzitos.

O clima do planalto é caracterizado(MODENESI 1988a) por temperaturas médias anu-ais de 14,3o C (1973/1978) e precipitação anualentre 1205 e 2800mm, em Capivari. Dados de 40anos de observação mostram que a ocorrência degeadas é freqüente no inverno, variando de 9 a 70dias/ano. Concentração de 80% das chuvas noperíodo outubro-março e incidência de até 6 me-ses com porcentagens de precipitação inferioresa 2% permitem reconhecer uma estação mais seca.É interessante lembrar que as vertentes do planal-to apresentam assimetria ambiental caracterizadapor encostas ensolaradas e relativamente secasna face norte e encostas sombrias e úmidas naface sul-sudeste. Esta assimetria, frequente emáreas montanhosas, é acentuada em Campos doJordão pela exposição direta da face sul às frentespolares, principais responsáveis pelas chuvas naregião (MONTEIRO 1964, 1969; CONTI 1975).

A evolução quaternária sob climas de altitudedeu origem ao sistema de paisagem atual, o

to risks associated with urban development. These unities were finally ranked in threeclasses according to the vulnerability to erosive processes and fitness to urbandevelopment.

Keywords: geomorphological diagnosis, land use, urban expansion, altos campos,tropical plateau, Campos do Jordão.

FIGURA 1 - O planalto de Campos do Jordão e a compartimentação regional.

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geossistema dos altos campos (MODENESI 1988a),singular em área tropical e bem definido nas porçõesmais elevadas do planalto. Paisagem típica do topodas serras da Mantiqueira (campos do Jordão e doribeirão Fundo, Monte Verde e Itatiaia) e da Bocaina,os altos campos constituem um enclave acima dosmares de morros (AB’SÁBER 1966). O sistema demontanha tropical, caracterizado por estrutura emequilíbrio instável e extremamente vulnerável ao usoinadequado do solo, esteve exposto nas últimasdécadas a intensos fenômenos de degradação dapaisagem. O impacto de uma urbanizaçãodesordenada, com uso inadequado dos espaçosnaturais e ocupação de áreas instáveis, deu origema problemas geoecológicos de conseqüências ca-tastróficas. A desestabilização das vertentes foi ace-lerada, principalmente por processos de movimen-tos de massa.

O entendimento da evolução da paisagem eda combinação dos fatos geomorfológicos nela en-volvidos é importante para o tratamento de proble-mas ambientais e para o planejamento de interven-ções deliberadas nos espaços naturais. O reconhe-cimento das características geomorfológicas do sí-tio urbano permite identificar fatores favoráveis oudesfavoráveis à sua ocupação, limitações e possi-bilidades de uso dos solos, susceptibilidade po-tencial à erosão, sendo portanto essencial para adefinição das áreas de preservação, de uso restritoe de ocupação urbana. Este trabalho tem por obje-tivo apresentar uma classificação geomorfológicade aptidão para desenvolvimento urbano, que pos-sa servir à preservação dos recursos naturais e àreordenação da ocupação do planalto. A área es-colhida para estudo foi o vale do Capivari /Sapucaí-Guaçu (Figuras 1 e 2), onde pressão da expansão

FIGURA 2 - As áreas de amostragem (A, B, C) no vale do Capivari/Sapucaí-Guaçu. Mosaico típico de distribuição davegetação no geossistema dos altos campos. Litologia (qz = quartzito, x = xisto, gn = gnaisse granítico, gnb = gnaissebandado, gr = granito) e foliações metamórficas.

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do fotos aéreas nas escalas 1:25.000 e 1:8000, e oterceiro (2000), uma imagem de satélite de alta reso-lução (IKONOS). Loteamentos pouco ocupados fo-ram excluídos da mancha urbana.

Dados de pesquisas anteriores sobre o planal-to de Campos do Jordão foram atualizados ecomplementados pelo levantamento geológico-geomorfológico de detalhe da área de estudo. A in-terpretação das imagens de satélite e fotos aéreasfoi feita de forma integrada com os trabalhos de cam-po e a elaboração de legenda apropriada ao registrode formas, materiais e processos geomorfológicos.

Os mapeamentos geomorfológicos básico e dediagnóstico foram realizados na escala 1:8000(recobrimento aerofotogramétrico Terrafoto S/A,1982) por amostragem em três áreas (Figuras 2 e 4),duas delas escolhidas por apresentarem os proble-mas ambientais mais comuns no vale do Capivari(áreas A e B) e, a terceira, por ainda preservar o mo-saico natural dos altos campos (área C). A escalaescolhida (1:8000) é adequada à aplicação em traba-lhos de reordenação urbana e zoneamento de risco(VERSTAPPEN 1983) e à representação dos fatosgeomorfológicos relacionados aos problemas emfoco. A compartimentação geomorfológica serviu debase à definição de unidades diagnóstico com ap-tidões específicas quanto aos riscos associados aodesenvolvimento urbano.

3 O SISTEMA DE PAISAGEM DOS ALTOSCAMPOS

O retrabalhamento quaternário do planalto deCampos do Jordão, comandado por níveis de baselocais, deu origem ao seu fracionamento em duasunidades espaciais, diferenciadas não apenas pe-las características morfológicas mas por um verda-deiro sistema de paisagem, com formas, formaçõessuperficiais e vegetação próprias. Estas unidadestêm na vegetação o seu principal elemento de ca-racterização fisionômica e podem ser enquadradasna categoria dos geossistemas (BERTRAND 1968).Variações de forma e grau de dissecação do relevo– determinadas pelo comportamento diferencial dosubstrato frente ao intemperismo, à pedogênese eà morfodinâmica – constituem a base deestruturação dos geossistemas dos altos campos eserrano, reconhecidos no planalto por MODENESI(1988a), como unidades de paisagemfisionomicamente heterogêneas, nas quais se acen-tuam o complexo geográfico e a dinâmica de con-junto.

urbana e vulnerabilidade a riscos ambientais sãomaiores e onde já ocorreram graves desastres, porexemplo, em Vila Albertina (1972) e Vila Abernéssia(1998).

Numerosos estudos geomorfológicosefetuados nos altos campos da Mantiqueira nos úl-timos vinte anos permitiram acumular conhecimen-tos sobre a compartimentação e formas de relevo,formações superficiais, relações intemperismo-morfogênese, morfotectônica, processosgeomórficos e evolução quaternária dos planaltosde Campos do Jordão e Itatiaia (MODENESI 1980,1983, 1988a, 1988b, 1992; MODENESI et al. 1982; DEPLOEY et al. 1983; MODENESI & MELHEM 1992;MODENESI & TOLEDO 1993, 1996; MODENESI-GAUTTIERI 1996, 2000; MODENESI-GAUTTIERI &NUNES 1998; HIRUMA 1999; HIRUMA et al. 2001;MODENESI-GAUTTIERI et al. 2002), úteis para otratamento dos problemas ambientais dos altos pla-naltos do Brasil de Sudeste. No caso de Campos doJordão, estes estudos fornecem dados básicos quepodem ser aproveitados para mapeamentogeomorfológico e classificação do terreno da áreado Alto Sapucaí-Guaçu.

2 METODOLOGIA

A cartografia geomorfológica constitui o ins-trumento adequado para reunir e apresentar as ca-racterísticas geomorfológicas de uma área, entre-tanto, cartas para aplicação prática devem ser sim-ples e incluir apenas informações relevantes paraseu fim específico (TRICART 1965, VERSTAPPEN1983, HART 1986). Tais critérios orientaram a or-ganização de um documento pragmático (Figuras28, 29, 30), adaptado aos propósitos de classifica-ção e avaliação da paisagem para tratamento deproblemas de reordenação do espaço natural eurbano.

Modelos digitais de terreno e cartas auxiliaresde hipsometria, declividade (Figura 3) e orientaçãode vertentes foram elaborados, a partir de cartas to-pográficas digitalizadas na escala 1:10.000 (ProjetoMacro-Eixo, Terrafoto S.A./SEP, 1977/78), para a áreasituada ao longo do vale do ribeirão Capivari, comcerca de 8km de extensão e 6km de largura, abran-gendo os núcleos urbanos de Abernéssia, Jaguaribee Capivari. A existência de sucessivos recobrimentosaerofotogramétricos e imagens de satélite permitiumapear a evolução da expansão urbana e observaros seus efeitos sobre o quadro natural dos altoscampos. Foram mapeados três momentos da evolu-ção urbana, os dois primeiros (1973 e 1982) utilizan-

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O geossistema dos altos campos (Figuras 2 e4) caracteriza-se nas porções mais elevadas da bor-da sudeste do planalto, nos campos do Jordão e deSão Francisco, e, para o interior, nos campos do Ser-rano. Essas áreas de campo ocorrem circunscritaspor uma série de corredeiras ou cachoeiras e relati-vamente protegidas da dissecação fluvial mais enér-gica. O relevo é caracterizado por contraste nítidoentre as formas arredondadas do topo dos morros elombas (na terminologia local, vertentes convexasrecobertas por campo) e os setores dissecados dasvertentes (vertentes retilíneas, setor retilíneo inferi-or das vertentes convexas, e anfiteatros de erosão).O mosaico de distribuição da vegetação é típico,ajustado à variação das formas e das condiçõesambientais; campos revestem topos de morro e lom-bas, matas ocupam as áreas mais dissecadas dasvertentes e os vales (Figura 2); observa-se uma rela-ção constante entre dissecação do relevo e presen-ça de mata.

Nas áreas profundamente dissecadas pela dre-nagem subseqüente (ribeirões dos Marmelos, doJacu e Coxim), a jusante dos altos campos, desen-volve-se o geossistema serrano (Figura 4), cujo

modelado contrasta com o dos campos. Interflúviosestreitos, em cristas freqüentemente orientadas se-gundo as direções estruturais predominantes, ver-tentes retilíneas, abruptas, e amplitudes de até 700msão característicos, mas a diferença mais marcanteestá no mosaico da vegetação: o campo desaparecedo topo dos interflúvios e a mata tende a ocupartodos os níveis das vertentes.

4 COMPARTIMENTAÇÃOGEOMORFOLÓGICA DO VALE DO CAPIVARI

A compartimentação geomorfológica geral dosaltos campos do planalto, identificada e descritaanteriormente (MODENESI 1988a) entre o vale doCapivari e o Mirante do Itapeva, é também válidapara a área de estudo, uma vez que esta se insere nasua porção mais típica. Os compartimentosgeomorfológicos definidos não são apenas unida-des morfológicas, estáticas, mas compartimentosdotados de dinâmica própria, relacionada a varia-ções do substrato e/ou dos processos atuantes(MODENESI 1988a). Um mosaico de distribuição da

FIGURA 3 - Carta de declividade da bacia do ribeirão Capivari. Áreas de amostragem (A, B, C).

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vegetação fortemente relacionado à variação dascondições ambientais acentua a diferençafisionômica entre os compartimentos. Estes consti-tuem unidades fisionômicas e funcionais homogê-neas e bem diferenciadas entre si, que integram osvários elementos da paisagem, e são, por este moti-vo, ideais para fins de aplicação em planejamento ougerenciamento ambiental.

Pequenos ajustes foram feitos na classifica-ção original para adaptá-la aos objetivos do projeto.Cinco compartimentos podem ser diferenciados novale do Capivari: (1) áreas de topo, (2) lombas pro-priamente ditas, (3) vertentes retilíneas, (4) anfitea-tros de erosão, (5) depressões turfosas e (6) planíci-es alveolares − incluindo várzeas, terraços e rampasde colúvio. Cada uma dessas unidades é caracteri-zada por combinações específicas de topografia eformas, substrato, processos atuantes e coberturavegetal.

A compartimentação geomorfológica das trêsáreas de amostragem é apresentada nas figuras 5, 6,e 7, nas quais estão registrados topografia e formas,declividade, foliação metamórfica e processos

erosivos predominantes nas vertentes − erosãolaminar fraca, moderada e intensa e movimentos demassa atuais. Declividade geral do vale do Capivari/Sapucaí-Guaçu e litologia do planalto constam, res-pectivamente, das figuras 3, 2 e 4.

4.1 Áreas de topo

Neste compartimento estão incluidos os to-pos de morro e a parte superior das lombas, áreascom características morfológicas, condiçõeshidrológicas e formações superficiais semelhan-tes, que podem ser reunidas numa só unidadegeomorfológica. Os divisores dos principais for-madores do Sapucaí-Guaçu ocorrem embutidos nasuperfície cimeira do planalto (nesta área, a 1900-1950m), subnivelados a altitudes que decrescempara norte e noroeste em três níveis topográficos,situados a 1800/1820m, 1710/1740m e 1640/1660m(MODENESI 1988a), os dois mais baixos bem re-presentados na zona urbana de Campos do Jordão(Figura 8). O nível intermediário (1710/1740 m) (Fi-gura 9) é mais extenso sobre gnaisses bandados

FIGURA 4 - Os geossistemas dos altos campos e serrano no planalto de Campos do Jordão (Adaptado de MODENESI1988a).

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FIGURA 5 - Esboço geomorfológico da área de amostragem A.

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FIGURA 6 - Esboço geomorfológico da área de amostragem B.

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FIGURA 7 - Esboço geomorfológico da área de amostragem C

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da margem direita do Capivari; na margem esquer-da, sobre quartzitos, tem sua área reduzida e acen-tuados os desníveis que o separam das colinasmais baixas, ou da planície aluvial. As colinas donível inferior (Figura 8) ocorrem ao longo dos ri-beirões Capivari e das Perdizes, sobre gnaissesbandados.

O topo dos morros tem seção convexa, maislarga e arredondada sobre gnaisses e granitos, maisestreita sobre xistos e quartzitos. Declividades de 2a 5º e, excepcionalmente, 8° caracterizam o setor su-perior das lombas. Nestas áreas relativamente secase revestidas por vegetação de campo, o lençolfreático encontra-se, com freqüência, a mais de 30mde profundidade. Materiais de cobertura pouco es-pessos (10 a 30cm e excepcionalmente 50cm) e solosácidos, com horizonte A friável − litossolos ou soloscom B incipiente (OLIVEIRA et al. 1975) − são co-muns. Solos de textura argilosa predominam nosmorros de altitude inferior a 1800/20 m; perfis sobregranito apresentam cascalho de quartzo e maior por-centagem de areia grossa. O contato com a rocha

alterada é quase sempre marcado por linha de sei-xos; a rocha alterada é coesa e dura, com as estrutu-ras bem preservadas. Os materiais de topo são osmais intemperizados (MODENESI 1980, 1983), com afração mineral dos solos e a rocha alteradaconstituidos quase exclusivamente por quartzo,gibbsita e caulinita, e totais caolinita + gibbsita su-periores a 50%. Restos de lateritas in situ podemaflorar na borda dos topos, na primeira ruptura dedeclive dos morros de altitude superior a 1800m.Topos são áreas de vegetação de campo (Figura 7):campos limpos, constituídos por vegetação herbá-cea e graminosa, e campos sujos, com ervas, sub-arbustos, arbustos e arvoretas isoladas; acima de1800m ocorrem campos de altitude semelhantes aosdas outras cimeiras do Brasil de sudeste (SIEBERTet al. 1975).

Escoamento superficial de tipo anastomosado(MORGAN 1986, MOYERSONS 1989, MODENESI& JORDÃO 1992) e erosão laminar/sheet erosionmoderada são característicos dos campos das áreasde topo (Figura 10).

FIGURA 8 - Os três níveis topográficos reconhecidos no vale do ribeirão Capivari a altitudes de 1800/20m, 1710/40me 1640/60m. Note-se a total ocupação das colinas correspondentes ao nível inferior.

FIGURA 9 - Morro do nível intermediário (1710/40m), no alto da Vila Inglesa. Exemplo da ocupação de áreas maisestáveis por residências de alto padrão, construídas em terrenos amplos nos topos de morro e lombas.

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4.2 Lombas propriamente ditas

Pouco inclinadas no setor superior, as lom-bas (Figuras 11 e 12) podem apresentar, a partir dosetor médio, perfis em rampa, mais íngremes (emtorno de 20º) sobre substrato rochoso e menos in-clinados (12 - 15º), ou formando patamares, noslocais de acumulação de colúvios (Figura 13). Seusetor terminal pode ser retilíneo ou, em planíciesalveolares como a do ribeirão Capivari, ligeiramen-te côncavo (rampas de colúvio). Lombas são ambi-entes relativamente secos, caracterizados por dis-persão do escoamento superficial e das águas depercolação e por menor profundidade dointemperismo; na sua parte convexa, o lençolfreático encontra-se geralmente a mais de 20m deprofundidade.

FIGURA 13 - Patamar formado pela deposição de colúviosno setor médio de lomba; nestes locais são tambémfreqüentes bolsões de solo com horizontes-A enterrados.

FIGURA 10 - Depósito de areia branca sobre cobertura decampo, evidência da ação do escoamento superficialanastomosado e erosão laminar intensa.

FIGURA 12 - Lombas (L) dos morros mais baixos do valedo Capivari, em Abernéssia. Note-se a densa ocupação doscompartimentos de menor declividade, inclusive da várzea.

FIGURA 11 - Anfiteatros com mata (a) e lombas recobertaspor campo (l) no vale do ribeirão do Fojo. Em primeiroplano, microterraceamento (terracetes, t) característico damorfologia das lombas (comum acima de 20°).

Os materiais de recobrimento das lombas sãorasos, com características morfológicas emineralógicas semelhantes às dos materiais dos to-pos. Colúvios mais espessos, com elementosrudáceos menores e em menor número e horizonteshúmicos enterrados, podem ocorrer no terço inferiordas lombas, caso de Vila Nova Suíça, ou em bolsõese patamares. O horizonte A dos solos das lombas égeralmente menos argiloso, com maior concentra-ção da fração areia em relação à rocha subjacente. Ograu de alteração dos solos e da rocha alterada é umpouco inferior ao observado nos topos; nos depó-sitos, depende da alteração dos materiais de mon-tante. Campos semelhantes aos do topo dos morrosocorrem nas lombas; nas vertentes mais secas pre-dominam campos sujos.

Lombas com declividade em torno de 10° po-dem apresentar erosão em filetes/rills (MODENESI& JORDÃO 1992) e, acima de 20°, terracettes ( Figu-ras 5, 6, 7 e 11) e ravinamentos/gullies (Figuras 5 e

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7). Ravinamentos também podem ocorrer na passa-gem do setor convexo para o retilíneo inferior, ondeaumento e mudança de declividade favorecem a con-centração do escoamento das águas pluviais demontante.

4.3. Vertentes retilíneas

O perfil das vertentes retilíneas (Figuras 6, 7 e14) é geralmente caracterizado por convexidade su-perior pouco acentuada; vertentes totalmenteretilíneas ocorrem apenas em vales muito encaixa-dos. Setores basais côncavos são raros. Nas ver-tentes mais íngremes é típico o terraceamento empequenos degraus (terracettes/ pieds de vache).Vertentes retilíneas são comuns sobre quartzitos, masocorrem também sobre outras rochas, em áreas de

maior amplitude e dissecação do relevo, freqüente-mente associadas a alinhamentos estruturais. Sobrerochas gnáissicas e xistosas, perfis retilíneos carac-terizam as vertentes contrárias ao mergulho dasfoliações, em geral, elevado.

O setor superior convexo das vertentesretilíneas, relativamente estável, possui formaçõessuperficiais rasas e muito intemperizadas, semelhan-tes àquelas do setor superior das lombas e topo dosmorros. Na vertente retilínea propriamente dita, açõeserosivas fizeram aflorar as zonas mais profundas dosperfis de alteração e mesmo a rocha sã; a instabilida-de destas áreas essencialmente dinâmicas é com-provada pela ocorrência de solos rasos menosintemperizados. Os solos das vertentes retilíneas sãoos menos evoluídos do planalto, com valores míni-mos da soma caulinita + gibbsita (MODENESI 1980);o grau de intemperismo da rocha alterada é, também,nitidamente inferior. Alguns depósitos e solos maisespessos podem existir nas vertentes médias, empequenos patamares com declividade de até 12º, ounas rampas de colúvio dos setores basais. Sob matasão comuns latossolos e solos podzólico-latossólico-húmicos (MODENESI et al. 1982), se-melhantes aos das vertentes íngremes dos anfitea-tros. A mata geralmente ocupa o setor inferior dasvertentes (Figura 7) e somente nos perfis inteira-mente retilíneos pode atingir sua porção superior; amaior parte das vertentes retilíneas é recoberta porcampo.

A ocorrência generalizada de solos rasos emenos intemperizados evidencia a desnudação maisrápida destas vertentes, áreas essencialmente dinâ-micas. Sua instabilidade é comprovada pela presen-ça de alguns depósitos, no setor basal e em peque-nos bolsões das vertentes, e de horizontes humíferosenterrados. Ravinamentos, voçorocas (Figuras 7, 15)e escorregamentos podem ocorrer nas vertentesretilíneas (Figura 7). Nas encostas sombrias, volta-das para sul e sudeste, o impacto direto das chuvasfrontais aumenta a vulnerabilidade a processoserosivos.

4.4. Anfiteatros de erosão

Anfiteatros de erosão (Figuras 5, 6, 7 e 16)são rentrâncias originadas por importantes e pro-fundos movimentos de massa (MODENESI 1988a,1988b) que dissecaram de alto a baixo as vertentesconvexas dos altos campos; não se restringem ape-nas às cabeceiras de drenagem mas ocorrem lateral-mente ao longo dos vales. Nos anfiteatros de ero-são, topografia e forma favorecem a concentração

FIGURA 14 - Morro do nível intermediário (1718m) comvertentes retilíneas de declividade superior a 35° ocupadaspor residências de baixo padrão (Vila Santo Antônio).

FIGURA 15 - Voçorocas desenvolvidas em vertente retilíneacom declividade de 24/32°, sobre gnaisses bandados (NovaCapivari). Apesar da tentativa de contenção com plantio dePinus, em alguns pontos há reincidência da ação erosiva demovimentos de massa e ravinamentos.

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FIGURA 16 - Expansão urbana nas vertentes de morros do nível intermediário (1710/40m), em Vila Nova Suiça; 1983 (A)e 2005 (B). A única área preservada é o anfiteatro (a), que apresenta declividades de até 40°; note-se a ocupação, total, darampa frontal (r) e, parcial, da depressão turfosa (d). (C) No mesmo local, vista lateral do anfiteatro e de sua rampa.

do escoamento superficial e subsuperficial, caracte-rizando-os como ambientes úmidos, comintemperismo e solos relativamente mais profundos(MODENESI 1988a, 1988b). A vegetação caracterís-tica destas áreas é a mata de Araucaria e Podocarpusdensa e rica em epífetas e lianas.

Nas bacias dos ribeirões Capivari e das Per-dizes o diâmetro dos anfiteatros varia de 80 a 230m;formas maiores podem resultar da coalescência de

vários anfiteatros. Os anfiteatros ocorrem sempresuspensos em relação aos talvegues atuais, dosquais se separam por degraus rochosos ou rampasfrontais (Figura 16B). Seu perfil longitudinal é carac-terizado por pequena convexidade superior, abrup-tos com declividades de 23 a 35º na parte lateral e até45º na parte posterior, e secção inferior côncava;rampas suavemente inclinadas (2º a 3º) correspondemà superfície das bacias turfosas desenvolvidas na

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sua base. O perfil transversal típico é em calha, como fundo ligeiramente inclinado das bordas para ocentro e para jusante, perfis em V são menos co-muns. A amplitude topográfica varia de 30-40m a100m, mas pode chegar a 150m na margem direita doribeirão das Perdizes. Sobre gnaisses e granitóidessão amplos e semicirculares; o regolito relativamen-te homogêneo, argiloso e profundamenteintemperizado favorece movimentos de massa pro-fundos. Em quartzitos e rochas xistosas os anfitea-tros são menos marcados e, às vezes, alongados.Formas menores ou nichos com morfologia típica decorridas de lama (cicatriz côncava e base levementebosselada) ocorrem, por exemplo, no vale do ribei-rão Piracuama, em Vila Nova Suíça, pouco acima dasvárzeas atuais.

Áreas essencialmente dinâmicas da paisa-gem, os anfiteatros são há longo tempo o sítio prefe-rencial da atividade morfogenética nas encostas,onde formas e depósitos evidenciam recorrência demovimentos de massa, escorregamentos e corridasde lama (MODENESI 1988a, 1988b); rocha sã oupouco alterada pode aflorar nas suas bordas. Porisso a superposição de colúvios com horizonteshumíferos enterrados é comum nas vertentes dosanfiteatros.

Depósitos espessos, grossos, heterométricose sem estruturas − com seixos, blocos e matacões dosubstrato dispersos em matriz síltico-arenosa, argilo-síltico-arenosa ou areno-síltico-argilosa −, preserva-dos em patamares suspensos no interior dos anfitea-tros, acima do limite das matas, testemunham a ação demovimentos de massa na abertura dessas reentrâncias.Tais depósitos podem estar recobertos por colúviosavermelhados menos grossos e por materiais amarela-dos de textura mais fina e homogênea, sobre os quaisse desenvolvem solos de Campos do Jordão (COMIS-SÃO DE SOLOS 1960). Ações secundárias e locais doescoamento superficial são evidenciadas pela deposi-ção de camadas arenosas estratificadas e acumulaçãoresidual de blocos e matacões.

4.5.Depressões turfosas

Depressões mal drenadas (Figuras 5, 6, 7 e 17)com área geralmente inferior a 2ha e superfície suave-mente inclinada (2 - 3º) ocorrem na base dos anfitea-tros, suspensas acima dos talvegues atuais . Escava-das na rocha subjacente estas pequenas bacias sãocolmatadas por seqüências turfosas de estrutura fi-brosa, com até 3m de espessura, freqüentemente in-terrompidas por lentes ou camadas esporádicas deareia (Figura 18) e, às vezes, tamponadas por materi-

ais provenientes das encostas; as camadas escuras ehumificadas apresentam grande variação textural ebaixo teor de argila. Sobre estes materiais desenvol-vem-se solos orgânicos ácidos com teores de matériaorgânica entre 13 e 55%, insuficientes para definirturfeiras verdadeiras; com importante fração mineral,

FIGURA 17 - Depósito turfoso na base de anfiteatrorelacionado ao nível intermediário (1710/1740m) esuspenso acima do talvegue do ribeirão das Perdizes.Espessura aproximada de 3m (Jardim Primavera).

FIGURA 18 - Bolsão arenoso intercalado nos sedimentosturfosos que colmatam depressão de base de anfiteatro em VilaNova Suiça. Estruturas formadas por sobrecarga diferencial,pela deposição de areia proveniente das encostas sobre a lamaturfosa, testemunham a instabilidade destes sítios.

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constituem turfeiras tropicais (MODENESI 1988a).A deposição de materiais grossos no interior (Figura18) ou na superfície das seqüências turfosas (lobosde fluxos de detritos com as formas bem preservadas)evidencia recorrência de ações erosivas no interiordos anfiteatros (MODENESI 1988a).

A vegetação atual dessas turfeiras inclui plan-tas herbáceas e pequenos arbustos adaptados àsvariações locais das condições hidrológicas. Na es-tação chuvosa, o lençol freático geralmente aflorana maior parte do depósito. O acúmulo de águas doescoamento superficial e subsuperficial e a dificul-dade de drenagem característica destes sítios sãofatores determinantes de instabilidade e da ocorrên-cia de escorregamentos e corridas de lama.

4.6. Planícies alveolares

Pequenas planícies alveolares (Figuras 5, 6 e7) desenvolvem-se a montante de soleiras rocho-sas, intercaladas com segmentos encaixados dosprincipais cursos d’água do planalto. A área reduzi-da e os coluvinamentos múltiplos ocorridos nas suasbordas (rampas de colúvio), no limite com as ver-tentes, contribuiram para mascarar os baixos terra-ços e várzeas, formas e depósitos típicos destescompartimentos. Mata de Araucaria e Podocarpusocupa os vales, com adensamento da população dePodocarpus nas várzeas mais úmidas.

As raras, estreitas e pouco desenvolvidasplanícies de inundação são constituídas por sedi-mentos finos, sem materiais turfosos como os dabase dos anfiteatros. Setores de várzea ao longodo Capivari (Figuras 5 e 6) têm largura geralmenteinferior a 100m, alargando-se um pouco (até 200m)apenas na confluência dos afluentes principais(Figuras 5, 19). Depósitos grossos de baixos ter-raços com cascalho (Tc1 e Tc2 ) ocorrem com aespessura reduzida, retrabalhados e recobertos

por colúvios, neste caso apresentandodeclividades de até 5-6º (Figura 6); constituem,quase sempre, seqüências complexas, com carac-terísticas aluviocoluviais (MODENESI 1988a) %caso das rampas do sopé do Morro do Elefante,em Capivari.

Na borda das planícies aluviais e depressõesturfosas, coluvionamentos múltiplos retrabalharamos materiais de vertente formando rampas decolúvio, que modificam o perfil do setor inferior dasencostas. Rampas com declividade de 6 - 8º e até 10ºdesenvolvem-se nos vales mais amplos, muitas ve-zes incorporando topograficamente os baixos terra-ços à vertente; predominam texturas areno-argilo-sas ou argilo-arenosas, teores de silte entre 10 e 27%,grânulos e seixos esparsos. Seqüências de até 3mde espessura ocorrem na margem direita do córregoPiracuama, afluente do Capivari, com camadascoluviais superpostas e freqüente intercalação dehorizontes húmicos escuros.

5 A EXPANSÃO URBANA E SUASRELAÇÕES COM A COMPARTIMENTAÇÃO

GEOMORFOLÓGICA

O ribeirão Capivari constituti o eixo da ocupa-ção e desenvolvimento urbano do maior dos alvéo-los abertos no relevo do planalto de Campos doJordão. A expansão urbana se fez a partir de trêsnúcleos estabelecidos ao longo do vale, Abernéssia,Jaguaribe e Capivari (Figura 2). Inicialmente foramocupadas as áreas de topografia mais favorável,terraços, rampas, lombas de menor declividade e topodas colinas mais baixas, respeitando as limitaçõesdo terreno e preservando o mosaico da vegetaçãodos altos campos. Entretanto, o rápido crescimentourbano observado nas últimas décadas, principal-mente dos bairros residenciais médios e pobres,levou à ocupação de sítios instáveis das vertentes e

FIGURA 19 - Um dos poucos setores preservados da várzea do ribeirão Capivari, próximo à confluência com o ribeirãoPiracuama, na entrada de Campos do Jordão.

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anfiteatros, descaracterizando o mosaico original davegetação e criando graves problemas de degrada-ção ambiental.

O mapeamento de três momentos da evoluçãourbana (Figura 20) permite analisar o crescimentofísico da área de adensamento entre 1973 e 2000.Este período é importante por permitir registrar a ex-pansão ocorrida nas décadas de 70 e 80, justamentequando se verificou o ápice do desenvolvimentoimobiliário e expansão do município, com multiplica-ção dos loteamentos (década de 70) e edificações(década de 80). É interessante notar que a expansãode Campos do Jordão se fez sentir antes da institui-ção de seu território como Área de ProteçãoAmbiental (APA), em 1983, portanto quando meioambiente e recursos naturais ainda não eram consi-derados fatores importantes no planejamento urba-no (SILVA 2002). Este fato foi agravado pela legisla-ção municipal que, a partir de 1991, passou a consi-derar como urbana praticamente 80% da área domunicípio, contribuindo para aumentar os proble-mas relacionados ao parcelamento de terrenos, à

ocupação de áreas instáveis e, de modo geral, à de-gradação ambiental.

Considerando a área de maior adensamentode construções e excluindo os loteamentos poucoocupados, em 1972 a mancha urbana correspondiaa 3,7km2, em 1983, a 6,7km2, e em 2000, a 22,6km2. Até1973, as construções concentram-se ao sul do ribei-rão Capivari, ocupando os sítios mais favoráveis,rampas de colúvio de menor declividade, baixos ter-raços e topo das colinas mais baixas. Na década se-guinte inicia-se a ocupação das áreas instáveis; asvertentes íngremes da margem esquerda do Capivari,voltadas para sudeste, começam a ser invadidas (Fi-gura 21).

A imagem de satélite de 2000 registra o resulta-do deste processo de expansão urbana, com a ocu-pação desordenada de vertentes de declividade su-perior a 30º (vertentes retilíneas e anfiteatros) e de-pressões turfosas. Nestas áreas, hoje densamentepovoadas, os problemas de degradação ambientalforam agravados pela subdivisão dos lotes e pelopadrão baixo ou, secundariamente, médio das cons-

FIGURA 20 - Três momentos da expansão urbana no vale do Capivari. Observe-se a descaracterização do mosaicotípico de distribução da vegetação de campo e mata (Imagem de satélite IKONOS, 2000).

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truções, com adoção de técnicas geralmente inade-quadas (Figuras 22 e 23). A várzea do Capivari foisendo progressivamente ocupada por estabeleci-mentos comerciais (Figura 24) e habitações de dife-rentes tipos (Figura 25), inclusive, próximo aJaguaribe, por construções precárias (Figura 26).Espaços livres são raros e permanecem por exemplono setor de várzea relativamente amplo que existepróximo à confluência com o ribeirão Piracuama, naentrada de Campos do Jordão (Figura 19).

A expansão atingiu também o topo dos morrosde nível intermediário (1710 – 1740 m) em Abernéssiae Jaguaribe, mas estas são áreas geomorfologicamentemais estáveis e onde ainda persistem propriedadesmaiores, o que atenua os problemas de degradação.Em Capivari (Figura 27), loteamentos de padrão maiselevado, geralmente em curvas de nível, com terrenosmaiores, assim como a adoção de técnicas de cons-trução mais apropriadas, caracterizam um padrão deurbanização com menor modificação do ambiente físi-

FIGURA 21 - Bairro Britador em 1983 (A) e 2005 (B). A comparação das fotos evidencia modificações introduzida napaisagem pela ocupação das encostas íngremes e sombrias da margem esquerda do Capivari. Na primeira, os anfiteatrosque ladeiam a pedreira aparecem bem caracterizados, recobertos por mata com araucária. Na segunda foto observa-se oaumento da cava da pedreira por escorregamentos recentes e a modificação dos anfiteatros que a ladeiam; o recuo da mataé nítido no anfiteatro da esquerda; à direita desaparecem as araucárias e há total descaracterização do anfiteatro. Nota-se também que, apesar dos escorregamentos ocorridos na área, o número de construções não diminui.

co e certa preservação do mosaico de distribuição davegetação de campo e mata.

FIGURA 22 - Ocupação típica dos bairros de padrão médioe baixo, onde subdivisão dos lotes e adoção da técnica decorte e aterro agravam os problemas de estabilidade daslombas mais íngremes.

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6 AS UNIDADES-DIAGNÓSTICO

O conhecimento das característicasgeomorfológicas dos sítios urbanos é básico na de-terminação do uso do solo e da susceptibilidade aosprocessos erosivos, permitindo reconhecer áreas demaior potencial de risco, que requerem atenção dopoder público. Num relevo acentuado como o doplanalto de Campos do Jordão, a identificação desetores mais ou menos favoráveis à ocupação tor-na-se essencial para o planejamento urbano.

Com o objetivo de atender à demanda por infor-mações geomorfológicas que possam orientar a expan-são urbana no planalto, o vale do Capivari foi divididoem unidades-diagnóstico, com diferentes aptidões paraocupação. Essas unidades tiveram como base compar-timentos geomorfológicos caracterizados por formas,formações superficiais, processos dominantes e co-

bertura vegetal específicos; em alguns casos, a suadelimitação exigiu um maior detalhamento dacompartimentação estabelecida anteriormente(MODENESI 1988a), com subdivisão dos compartimen-tos em unidades menores e mais simples. As unidades-diagnóstico são representadas por polígonos que de-limitam áreas sob influência de processos semelhan-tes, característicos de cada uma delas. Por exemplo, osanfiteatros de erosão, representados nos esboçosgeomorfológicos (Figuras 5, 6 e 7) pela cicatriz dosmovimentos de massa (head), correspondem, no diag-nóstico, a polígonos que incluem toda a área sob açãode movimentos de massa e concentração do escoa-mento superficial e subsuperficial, processos caracte-rísticos dos anfiteatros.

As dez unidades-diagnóstico reconhecidas novale do Capivari (Figuras 28, 29 e 30) são descritas aseguir.

FIGURA 23 - Vila Sodipe, exemplo de ocupação inadequada e densa de vertentes íngremes. No centro da foto,residências de baixo padrão construídas na borda de ravinamento profundo.

FIGURA 24 – Danceterias construídas na borda do canaldo Capivari.

FIGURA 25 – Vários tipos de habitações e estabelecimentoscomerciais que ocupam a várzea e avançam sobre o canal doribeirão Capivari.

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Unidade-diagnóstico 1 - Fazem parte destaunidade as áreas planas do topo dos divisores dosribeirões e córregos formadores da bacia do Sapucaí-Guaçu, nivelados a altitudes de 1800/20m, 1710/40m e1640/60m, e o setor superior das lombas, comdeclividade geralmente inferior a 8°. Baixa declividade,solos rasos, alteração profunda − rocha alterada coe-sa e dura, com estruturas preservadas − e ambienterelativamente seco são característicos destas áreas.O processo geomorfológico dominante, relacionadoà cobertura por vegetação de campo, é o escoamentosuperficial de tipo anastomosado, com erosão laminar.

Topos de morro e altas lombas são os setores maisestáveis do terreno.

Unidade-diagnóstico 2 - Áreas de vertentesconvexas recobertas por campo, as lombas consti-tuem ambiente semelhante ao do topo dos morros,relativamente seco, caracterizado por dispersão doescoamento superficial e subsuperficial, e diferenci-ado pela maior declividade e menor profundidadedo intemperismo e do lençol freático. A presença desolos menos argilosos em superfície reflete a maiorintensidade do escoamento pluvial e erosão laminar,relacionados ao aumento da declividade. Acima de10° e, principalmente, 15° há tendência à concentra-ção do escoamento superficial, com aparecimentode filetes e ravinas.

Unidade-diagnóstico 3 - Características pró-prias do setor inferior das lombas, como perfilretilíneo, declividade acima de 25° e recobrimentopor mata, justificam a criação de umsubcompartimento para fins de diagnóstico. Os pro-cessos atuantes nesta unidade são semelhantesàqueles das vertentes retilíneas. A mudança dedeclividade que caracteriza a passagem do setorconvexo para o setor retilíneo inferior das lombas émarcada por tendência à concentração do escoa-mento superficial, expressa na formação de ravinas.

FIGURA 27 - Capivari, na face noroeste do vale de mesmo nome, ocupa principalmente as encostas e topos de 1640/60m e 1710/40m (Nova Capivari); na linha do horizonte aparecem dois grandes empreendimentos hoteleiros e um doscondomínios que já ocupam os topos mais elevados (1800/20m). Note-se o padrão de urbanização, com maior preservaçãodas áreas verdes e, nas áreas mais elevadas, do mosaico original de distribuição de mata e campo.

FIGURA 26 - Habitações precárias construídas emJaguaribe sobre a várzea do Capivari, quase na borda docanal. Alguns dos barracos de madeira já foram substituídospor construções de alvenaria.

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Unidade-diagnóstico 4 - Vertentes retilíneassão áreas instáveis, essencialmente dinâmicas, ondeerosão intensa e acúmulo de colúvios podem origi-nar setores com perfís diferentes, retilíneos ou empatamares. Os setores retilíneos apresentamdeclividade acentuada, geralmente superior a 25° eaté 40°, substrato menos alterado, e os solos menosevoluídos do planalto. Forte declividade é o princi-pal fator limitante da ocupação destas áreas, onde ainterferência antrópica acelera a ação de processosde erosão linear e movimentos de massa. Mergu-lhos contrários ao caimento das vertentes, observa-dos principalmente na margem esquerda do ribeirãoCapivari, são um fator atenuante da instabilidadecaracterística das vertentes retilíneas; a orientaçãodas vertentes sombrias, por outro lado, agrava asuceptibilidade a movimentos de massa. Nos peque-nos patamares formados pela deposição de colúvios,apesar da diminuição da declividade, geralmente in-ferior a 12°, as condições de estabilidade são com-prometidas pelas características dos materiais; sobcondições de hidromorfia, grande parte dos colúviosamarelos argilosos ou argilo-sílticos encontra-se emsituação de equilíbrio crítico (DE PLOEY et al. 1983).

Unidade-diagnóstico 5 - Os anfiteatros cons-tituem, juntamente com as lombas, as feições maistípicas da paisagem do planalto, principal suportedo mosaico de campo e mata dos altos campos. Ca-racterizados por alta declividade e convergência doescoamento superficial pluvial, estes compartimen-tos constituem o sítio preferencial da atividademorfogenética nas encostas, guardando no seu in-terior evidências da sucessão de eventos de movi-mentos de massa (escorregamentos profundos,escorregamentos rasos, corridas de terra e lama) e,localmente, de erosão linear que se sucederam du-rante o Quaternário (MODENESI 1988a, b). Suascaracterísticas permitem defini-los como unidadesaltamente instáveis. Registros da recorrência deeventos erosivos pretéritos alertam para o perigo dainterferência antrópica; o desmatamento e a ocupa-ção dessas áreas certamente intensificará a ação dosprocessos erosivos naturais.

Unidade-diagnóstico 6 - Esta unidade incluias pequenas bacias turfosas da base dos anfitea-tros, áreas instáveis, que oferecem elevado potenci-al de risco à ocupação urbana. A saturação constan-te das turfas é fator determinante de desequilíbrio eda ocorrência de corridas de lama. Movimentos demassa nas paredes íngremes do interior dos anfitea-tros também podem desencadear fenômenos de ero-

são violenta nos depósitos turfosos. O desastreocorrido em Vila Albertina (Figura 5), em 1973, con-firma a alta instabilidade dessas áreas. Apesar dosproblemas, a baixa declividade tem sido um atrativopara a instalação de loteamentos de renda baixa emédia sobre turfeiras. Tentativas de resolver os pro-blemas de ocupação com drenagem e aterramentodos depósitos turfosos não parecem adequadas,uma vez que as camadas de material turfoso perma-necem enterradas em locais de concentração do es-coamento superficial e subsuperficial, representan-do um risco potencial.

Unidade-diagnóstico 7 - No vale do Capivari,o maior desenvolvimento das rampas que articulama base dos anfiteatros com a planície aluvial permitediferenciar uma nova unidade, a das rampas fron-tais. Essas rampas, com comprimento de 100-300m edeclividade de 5-6º e até 8º, passam às várzeas, semquebra de declividade; nas áreas densamenteurbanizadas, como por exemplo em Abernéssia, édificil mapeá-las, uma vez que se confundem com aplanície aluvial. As rampas frontais dos anfiteatrossão áreas de passagem de eventuais fluxos proveni-entes do interior dos anfiteatros (escoamento su-perficial, corridas de lama) e podem conter, em al-guns casos, material turfoso. Portanto, permanecemnesta unidade as condições desfavoráveis à ocupa-ção que caracterizam anfiteatros e depressõeshidromórficas.

Unidade-diagnóstico 8 - Os terraços fluviaisdo planalto de Campos do Jordão são geralmentepouco extensos e ocorrem recobertos ouretrabalhados por colúvios. Os terraços mais am-plos mapeados na margem direita do rio Capivariconstituem na realidade um nível resultante do arra-samento das formas e depósitos originais, efetuadopara ampliação do sítio favorável, durante o proces-so de ocupação.

Unidade-diagnóstico 9 - Fazem parte destaunidade as rampas de colúvio, de ocorrência ge-neralizada nas baixas vertentes do planalto; sóforam mapeadas aquelas cuja morfologia ocorrepreservada, a despeito de modificaçõesintroduzidas pela atividade antrópica. O grau delimitação ao uso urbano depende da variação decondições locais como comprimento e declividadedas rampas, textura e espessura dos depósitos.Medidas de resistência ao cisalhamento efetuadasem campo (DE PLOEY et al. 1983), nos materiaisargilo-síltico amarelados das baixas vertentes

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retilíneas ou das lombas, mostram que grande partedestes sítios, sujeitos à hidromorfia, encontra-seem situação de equilíbrio crítico. Essas condiçõesde instabilidade também caracterizam os depósi-tos de materiais semelhantes existentes nos pata-mares das vertentes.

Unidade-diagnóstico 10 - Unidadeconstituida pelos setores de várzea das pequenasplanícies alveolares do ribeirão Capivari e de seusafluentes. Por definição, várzeas são áreas instá-veis, sujeitas a inundações. Apesar da característi-

ca de rio de planalto do Capivari favorecer o esco-amento, inundações localizadas têm ocorrido naárea central de Campos do Jordão. A instalação deempreendimentos comerciais e habitações de bai-xo padrão no interior da várzea dificulta a infiltra-ção e o escoamento das águas pluviais, contribu-indo para aumentar a ocorrência de inundaçõesdurante a estação chuvosa, principalmente na con-fluência do Capivari com seus tributários. Alaga-mentos são também comuns ao longo da avenidaprincipal, nos locais de concentração das enxurra-

FIGURA 28 - Esboço diagnóstico da área de amostragem A. (1) áreas de topo e setor superior das lombas, (2) lombaspropriamente ditas, (3) setor inferior das lombas, (4) vertentes retilíneas, (5) anfiteatros, (6) bacias turfosas, (7) rampasfrontais de anfiteatro, (9) rampas de colúvio, (10) várzeas.

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das que descem das áreas mais elevadas por ruasimpermeabilizadas.

7 CLASSIFICAÇÃO GEOMORFOLÓGICADA APTIDÃO PARA O

DESENVOLVIMENTO URBANO

As dez unidades-diagnóstico definidas no valedo Capivari podem ser agrupadas, conforme o graude estabilidade e susceptibilidade aos processoserosivos, em três classes com diferentes aptidõespara o desenvolvimento urbano (Tabela 1).

Áreas favoráveis à ocupação urbana - in-cluem as unidades-diagnóstico 1, 2 e 8, corres-pondentes respectivamente ao topo dos morros,lombas propriamente ditas e terraços. Nestas uni-dades, caracterizadas por menor declividade, pre-dominam processos de erosão laminar;ravinamentos e escorregamentos podem ocorrerapenas nos setores mais íngremes das lombas (>15°). A morfologia e os processos dominantes per-mitem definir estas áreas como as mais favorá-veis, com nenhuma ou pequena limitação à expan-são urbana.

FIGURA 29 - Esboço diagnóstico da área de amostragem B. (1) áreas de topo e setor superior das lombas, (2) lombaspropriamente ditas, (3) setor inferior das lombas, (4) vertentes retilíneas, (5) anfiteatros, (6) bacias turfosas, (7) rampasfrontais de anfiteatro, (8) baixos terraços fluviais, (9) rampas de colúvio, (10) várzeas.

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FIGURA 30 - Esboço diagnóstico da área de amostragem C. (1) áreas de topo e setor superior das lombas, (2) lombaspropriamente ditas, (3) setor inferior das lombas, (4) vertentes retilíneas, (5) anfiteatros, (6) bacias turfosas, (10) várzeas.

Áreas de uso restrito - correspondem às áreas depossivel instabilidade definidas nas unidades-diag-nóstico 7 e 9, respectivamente, rampas frontais dosanfiteatros e rampas de colúvio. Estas são áreas debaixa declividade, que atraem a ocupação; entretanto,sua localização na saída dos anfiteatros e no sopé dasvertentes, respectivamente, torna-as vulneráveis à açãode processos erosivos e à deposição de sedimentos,caso ocorram desequilíbrios a montante.

Áreas de preservação – incluem as unidadesinstáveis caracterizadas por alta declividade, 3, 4 e

5, presença de materias turfosos, 6, ou por sua po-sição no interior da planície de inundação, 10. Osetor inferior das lombas (3) é, por sua história econdição geomorfológica, área de deposição decolúvios (depósitos das rampas de colúvio). Atu-almente estável, e nas condições naturais revesti-do por mata, este setor das vertentes pode serdesestabilizado pela interferência antrópica, desen-cadeando ravinamentos e pequenos movimentosde massa. As unidades 4 (vertentes retilíneas) e 5(anfiteatros) apresentam condições locais favorá-veis à ação de movimentos de massa − em geral,

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TABELA 1- Classificação geomorfológica da aptidão para o desenvolvimento urbano

escorregamentos nas vertentes retilíneas eescorregamentos, slumps e corridas de terra ou lamanos anfiteatros − e à formação de ravinas, princi-palmente quando seu equilíbrio é modificado pelainterferência antrópica (desmatamento, cortes econstruções). Evidências de eventos recorrentesde movimentos de massa durante o Quaternário(escorregamentos profundos, escorregamentos ra-sos e corridas de terra e lama) confirmam esta ten-dência evolutiva nas vertentes retilíneas e, princi-palmente, nos anfiteatros. A unidade 6 correspondeàs pequenas bacias da base dos anfiteatros, ondecondições de hidromorfia e presença de espessascamadas de turfa tropical são responsáveis pelaincidência de corridas de lama. As reduzidas e es-treitas várzeas (10) intercaladas entre trechos en-caixados do ribeirão Capivari estão sujeitas a inun-dações localizadas, agravadas pela crescenteimpermeabilização do solo e pelos obstáculos cria-dos no interior da planície de inundação por cons-

truções abusivas, que aumentam o volume e retar-dam o escoamento das águas pluviais.

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nos altos campos do Jordão, a ação dos pro-cessos atuais soma-se à herança quaternária(MODENESI 1988a, b) na definição de uma paisagemem equilíbrio precário. As condições naturais de ins-tabilidade existentes no planalto têm sido agravadasnas últimas décadas pelo desmatamento progressivoe pelo impacto do crescimento desordenado dos trêsnúcleos urbanos da estância climática de Campos doJordão: Abernéssia, Jaguaribe e Capivari. Adoção detécnicas inadequadas de construção (corte e aterro)(Figura 22), assim como infraestrutura deficiente (es-goto, escoamento de águas pluviais) modificaram anatureza e intensidade dos processos hidrológicos egeomorfológicos, aumentando as condições de risconas vertentes. Neste contexto, o conhecimento das

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características físicas do terreno e dos processosgeomorfológicos dominantes adquire especial signi-ficado para o planejamento urbano.

A análise geomorfológica, associada à obser-vação das modificações provocadas pela urbaniza-ção no vale do ribeirão Capivari, forneceu os ele-mentos necessários para identificar áreas problemá-ticas e melhor adequar a expansão urbana às condi-ções locais do sítio. A compartimentaçãogeomorfológica do planalto, marcada por fortes con-trastes fisionômicos e ambientais e pelo mosaico davegetação, mostrou ser base segura e de fácil per-cepção para delimitar áreas favoráveis ou desfavo-ráveis à ocupação. O diagnóstico efetuado permitiudefinir unidades com diferentes graus desuscetibilidade aos processos erosivos e, conside-rando seu risco potencial, indicar as que merecempreservação total (anfiteatros de erosão, vertentesretilíneas, depressões turfosas e planícies alveolares)e as mais adequadas à ocupação (topos, lombas debaixa declividade e terraços). Esses resultados sãoválidos para orientar a expansão urbana em todas asáreas de altos campos do planalto (Figura 4).

A forte pressão exercida pela expansão urba-na no planalto determinou a invasão das áreas demaior potencial de risco geomorfológico: vertentesretilíneas, anfiteatros, depressões turfosas e vár-zeas. A declividade acentuada que caracteriza osdois primeiros é por si só evidência de condiçõesde instabilidade, comprovadas pelos depósitos demovimentos de massa recorrentes, principalmentenos anfiteatros; a ocupação dessas áreas é, certa-mente, problemática. Nas vertentes íngremes damargem esquerda do ribeirão Capivari, o bairroBritador (Figura 21) é exemplo da situação de risco

em que se encontram as populações de baixo po-der aquisitivo instaladas nestes sítios, onde a ins-tabilidade das vertentes retilíneas, naturalmentesujeitas a processos de escorregamento, é agrava-da pelo uso de técnicas de construção inadequa-das; na estação chuvosa de 2000, escorregamentosmúltiplos destruiram mais de 300 das 400 casas aliconstruídas. Em Vila Santo Antônio, casas de pa-drão inferior ocupam vertentes de declividade su-perior a 35° (Figura 14). É também comum a ocupa-ção de encostas com declividades de até 30° porresidências de padrão médio, caso de Vila Sodipe(Figura 23). As crescentes demandas da urbaniza-ção levaram ainda à ocupação das depressõesturfosas, áreas de topografia favorável porém su-jeitas a processos de corrida de lama, semelhantesaos que provocaram o desastre de Vila Albertina,em 1972. Apesar dos problemas, a ocupação de áreasimpróprias continua a se fazer de forma regular, atémesmo por loteamentos. Por exemplo, em Vila NovaSuíça, na base do anfiteatro cortado pela rua Davos(Figura 16), residências foram construidas sobredepósitos turfosos tamponados por camada pou-co espessa de materiais provenientes das encos-tas. A ocupação das várzeas é hoje quase total,com construções feitas praticamente no talveguedo rio (Figuras 24, 25 e 26).

Um sinal evidente de deterioração da paisa-gem é a descaracterização do mosaico de mata e cam-po típico dos altos campos do planalto, que vemsendo alterado, primeiro, pelo plantio de Pinuselliottii nas áreas de campo, topos e lombas, e, emsegundo lugar, pela ocupação da borda das matas(Figura 31). Este último é um processo que leva aodesmatamento progressivo, com recuo do contato

FIGURA 31 - Evidência do processo de desmatamento progressivo que ocorre na borda das matas, por instalaçõeslocalizadas inicialmente em áreas de campo, com recuo do limite mata/campo.

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campo/mata, como pode ser observado na EstradaVelha do Itapeva, onde a instalação de grandes em-preendimentos hoteleiros e condomínios no topodos morros provocou destruição ou rarefação dasmatas dos anfiteatros próximos.

A interferência humana nas condições de equi-líbrio das encostas aumentou a vulnerabilidade dapaisagem aos desastres ambientais, que ocorrem prin-cipalmente sob condições extremas de pluviosidade.Qualquer tentativa de planejamento urbano do pla-nalto não poderá deixar de considerar estes fatos,para diminuir as conseqüências da degradaçãoambiental e evitar a repetição de situações de altorisco. Apesar de constituir em sua quase totalidadeárea de preservação ambiental, o planalto de Camposdo Jordão vem sofrendo o constante impacto de umprocesso acelerado de urbanização, com conseqüên-cias graves no aumento dos problemas ambientais ena degradação da paisagem. Considerando-se suaposição na serra da Mantiqueira, importante divisorde águas das bacias do Paraíba do Sul e Paraná, estesfatos são especialmente preocupantes.

9 AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Engenheiro Agrô-nomo Alexandre Gonçalves da Silva, na ocasião Se-cretário do Meio Ambiente do Município de Cam-pos do Jordão, pelo apoio logístico e fornecimentode documentos cartográficos; ao Instituto de Pes-quisas Tecnológicas/São Paulo, a cessão da FolhaCampos do Jordão I (digitalizada); aos consultoresda revista, a revisão crítica.

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Endereço dos autores:

May Christine Modenesi-Gauttieri – Instituto Geológico, Secretaria do Meio Ambiente, Avenida MiguelStéfano, 3900, CEP 04301-903, Água Funda, São Paulo, SP. E-mail: [email protected]

Silvio Takashi Hiruma - Instituto Geológico, Secretaria do Meio Ambiente, Avenida Miguel Stéfano,3900, CEP 04301-903, Água Funda, São Paulo, SP. E-mail: [email protected]

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