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A EXIGÊNCIA DO EXAME DE PROFICIÊNCIA EM MEDICINA E O PAPEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA DEFESA DA SAÚDE PÚBLICA (Nadir de Campos Júnior – 7º. PJ do Patrimônio Público) O presidente da CREMESP – Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, Dr. Renato de Azevedo Júnior vem a público para defender perante a sociedade brasileira, a exigência do exame de aptidão para o exercício da carreira de médico, como forma de selecionar profissionais capacitados para o exercício da profissão. Reconhece que atualmente, no Brasil e não apenas no Estado de São Paulo, não existe dispositivo legal que venha a obrigar um estudante de medicina, no 6º. ano de Faculdade, antes de colar grau no curso superior, se submeter a tal exame, o que tem contribuído com um aumento do número de registro de médicos sem qualquer aptidão para o exercício deste sacerdócio, que envolve um compromisso de honra com a defesa da saúde dos destinatários de seus serviços profissionais. Por outro lado, forçoso reconhecer que o próprio Governo Federal vem dando margem à proliferação das Faculdades de Medicina, especialmente no Estado de São Paulo, que nos últimos dois anos autorizou a criação de nada menos que 06 (seis) Faculdades de Medicina em nosso Estado, sendo 02 em São José do Rio Preto (contando agora com 03 estabelecimentos de ensino hospitalar) e 01 em Votuporanga, na mesma região central do Estado. Conclui não existir colorido de inconstitucionalidade ou ilegalidade na exigência do fazimento da prova para a obtenção do registro, posto que este, independe do resultado final do exame. Em outras palavras, desde 2.005 as provas vêm sendo exigidas no Estado de São Paulo, com notas bem abaixo até mesmo das exigidas para obtenção da Carteira da Ordem dos Advogados do Brasil (Rádio Jovem Pan – 24/07/12, 11:30 hs.)

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Page 1: A EXIGÊNCIA DO EXAME DE PROFICIÊNCIA EM MEDICINA E … exigencia.pdf · O presidente da CREMESP – Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, Dr. Renato de Azevedo

A EXIGÊNCIA DO EXAME DE PROFICIÊNCIA EM MEDICINA E O PAPEL DO

MINISTÉRIO PÚBLICO NA DEFESA DA SAÚDE PÚBLICA (Nadir de Campos

Júnior – 7º. PJ do Patrimônio Público)

O presidente da CREMESP – Conselho

Regional de Medicina do Estado de São Paulo, Dr. Renato de Azevedo

Júnior vem a público para defender perante a sociedade brasileira, a

exigência do exame de aptidão para o exercício da carreira de médico,

como forma de selecionar profissionais capacitados para o exercício da

profissão.

Reconhece que atualmente, no Brasil e

não apenas no Estado de São Paulo, não existe dispositivo legal que

venha a obrigar um estudante de medicina, no 6º. ano de Faculdade,

antes de colar grau no curso superior, se submeter a tal exame, o que

tem contribuído com um aumento do número de registro de médicos

sem qualquer aptidão para o exercício deste sacerdócio, que envolve um

compromisso de honra com a defesa da saúde dos destinatários de seus

serviços profissionais.

Por outro lado, forçoso reconhecer que o

próprio Governo Federal vem dando margem à proliferação das

Faculdades de Medicina, especialmente no Estado de São Paulo, que nos

últimos dois anos autorizou a criação de nada menos que 06 (seis)

Faculdades de Medicina em nosso Estado, sendo 02 em São José do Rio

Preto (contando agora com 03 estabelecimentos de ensino hospitalar) e

01 em Votuporanga, na mesma região central do Estado.

Conclui não existir colorido de

inconstitucionalidade ou ilegalidade na exigência do fazimento da prova

para a obtenção do registro, posto que este, independe do resultado

final do exame. Em outras palavras, desde 2.005 as provas vêm sendo

exigidas no Estado de São Paulo, com notas bem abaixo até mesmo das

exigidas para obtenção da Carteira da Ordem dos Advogados do Brasil

(Rádio Jovem Pan – 24/07/12, 11:30 hs.)

Page 2: A EXIGÊNCIA DO EXAME DE PROFICIÊNCIA EM MEDICINA E … exigencia.pdf · O presidente da CREMESP – Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, Dr. Renato de Azevedo

Destacamos, entretanto, que está em vias

de ser agendada audiência pública para o debate da criação do Exame

Nacional de Proficiência em Medicina, como condição para o exercício

da profissão, conforme requerimento do senador Cyro Miranda,

aprovado em data de 26/06/12 no Senado Federal. Argumentou o

membro do Congresso Nacional que: “Como esse projeto é da maior

importância para as associações médicas, achei por bem em ouvi-las

para formar uma opinião mais segura quanto ao relatório final” (in,

Comissão de Educação do Senado Federal, 26/06/12).

O senador se referia ao Projeto de Lei do

Senado Federal de n. 217/2004, que altera o artigo 17 da Lei n. 3.268, de

30 de setembro de 1.957, que dispõe sobre os Conselhos de Medicina e

da outras providências, e o artigo 48 da Lei n. 9.394, de 20 de dezembro

de 1.996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para

instituir o Exame Nacional de Proficiência em Medicina como requisito

para o exercício legal da Medicina em nosso País, que lhe fora

redistribuído em 09/05/12 para apresentação de relatório final (cf, Sec.

Geral da Mesa – Atividades Legislativas – Tramitação de Matérias,

24/07/12).

Num primeiro momento, fica a falsa

impressão de que o tema não toca de perto às atribuições ministeriais,

ao teor do disposto no artigo 129 da Carta Magna. Entretanto, relatamos

em 01 (um) ano como 7º. Promotor do Patrimônio Público e Social da

Capital do Estado de São Paulo, o colossal descaso do Poder Público com

a saúde pública, bem como, o enorme número de inquéritos civis,

iniciados em sua maioria em razão de representações anônimas, dando

conta da ausência de médicos em Hospitais de grande contingente de

necessitados (v.g. Hospital de Heliópolis, de Sorocaba, Guarulhos, entre

outros, a exigir a participação do órgão do GAECO), onde se evidencia

facilmente que os profissionais têm assinado livros de ponto e

recebendo como se cumprida toda uma jornada de trabalho, quando na

verdade, atendem um singelo número de pacientes para justificar seus

polpudos salários (in, Foletim Eletrônico - Fantástico, de 20/05/12).

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Em inquérito civil, que não tramita em

segredo de justiça, um médico, chefe do serviço de endoscopia do

Hospital de Heliópolis, permaneceria tão somente duas horas na

entidade, assinando o ponto e recebendo por um plantão de 24 horas de

trabalhos ininterruptos; outro, especializado em cirurgia torácica,

assinaria o ponto uma vez por mês e, devido à sua falta, o mesmo

estabelecimento hospitalar lhe pagaria plantão extra e, por derradeiro,

um terceiro médico do setor de pneumologia prestaria serviços médicos,

recebendo dinheiro público, mesmo comprovadamente estando a anos

morando fora do Brasil.

Neste diapasão, é sim função institucional

do Ministério Público a defesa intransigente do patrimônio público e

social (art. 129, CF, c.c. art. 25, IV, alínea “b” da Lei Federal n. 8.625/93;

arts. 103, VIII e 295, IX, da Lei Complementar Estadual n. 734/93).

Entretanto, buscamos na matéria em destaque, provocar sensibilizar a

classe dos membros do Ministério Público para uma questão de fundo,

que é a necessidade premente de uma maior intervenção do órgão

ministerial, por sua entidade de classe, no debate do processo legislativo

federal e estadual, de forma a contribuir para minorar o descalabro com

que se observa a saúde pública em nosso Estado e em nosso País.

Talvez seja chegado o momento de

refletirmos sobre questões postas pelo mestre Antônio Araldo Ferraz Dal

Pozzo, no sempre lembrado “Encontro Estadual dos membros do

Ministério Público, realizado no Memorial da América Latina”, no qual se

provocava toda uma classe de agentes do Estado a uma reflexão para

problemas que atingiam muito mais de perto as pessoas simples da

sociedade brasileira, mas os reais responsáveis pela escolha de

representantes constituintes de 1.987, que tiveram o papel fundamental

de desenhar um novo papel constitucional para o Ministério Público

Brasileiro, razão pela qual a necessidade de um novo olhar do membro

do “Parquet”, não do jardim, mas da janela de nossa instituição,

devendo o mesmo sair de seu gabinete e abraçar os problemas sociais

que atingiam e até hoje atingem a sociedade brasileira.

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Por outro lado, para o Prof. Oswaldo

Tanaka Diretor do Departamento de Saúde Pública da USP, cabe ao

Ministério Público com atribuição na área respectiva, apurar

responsabilidades em relação às reclamações de “consultas com

atendimento coletivo”, que vêm sendo realizadas pelas UBS da

Prefeitura Municipal de São Paulo, ao passo que, segundo as mães das

crianças, os atendimentos feitos pelos médicos credenciados, vêm sendo

feitos de forma a abarcar pessoas de faixas de idade distintas, cujos

diagnósticos nem sempre são os mesmos, recebendo dinheiro público

por todo o atendimento em horas de serviço público prestado.

Por tais razões, acrescidas ao fato do

baixo nível escolar e proliferação das Faculdades de Medicina em nosso

país, sem bibliotecas à altura para uma formação necessária ao

atendimento do público, indicação de 32% de procedimentos

administrativos por erro médico no Hospital Souza Aguiar/RJ, concessão

de registros sem qualquer avaliação do aparelho formador,

desinformação do destinatário dos serviços de medicina de como

representar às autoridades competentes sobre trocas de bebês, cirurgias

em membros incorretos, entre outras mazelas relatadas pela imprensa

brasileira, me coloco favorável ao Projeto de Lei n. 217/2004, em vias de

votação pelo Plenário do Senado Federal, não como forma de

materializar juridicamente uma “reserva de mercado” dos profissionais

de medicina (em sua grande maioria, grandes profissionais liberais ou

servidores públicos), mas, para concluir como o Presidente da própria

Cremesp, no sentido de que o inédito ordenamento jurídico não está

sendo elaborado para a defesa de uma categoria profissional, mas sim,

da sociedade brasileira.