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A EXIGÊNCIA DO EXAME DE PROFICIÊNCIA EM MEDICINA E O PAPEL DO
MINISTÉRIO PÚBLICO NA DEFESA DA SAÚDE PÚBLICA (Nadir de Campos
Júnior – 7º. PJ do Patrimônio Público)
O presidente da CREMESP – Conselho
Regional de Medicina do Estado de São Paulo, Dr. Renato de Azevedo
Júnior vem a público para defender perante a sociedade brasileira, a
exigência do exame de aptidão para o exercício da carreira de médico,
como forma de selecionar profissionais capacitados para o exercício da
profissão.
Reconhece que atualmente, no Brasil e
não apenas no Estado de São Paulo, não existe dispositivo legal que
venha a obrigar um estudante de medicina, no 6º. ano de Faculdade,
antes de colar grau no curso superior, se submeter a tal exame, o que
tem contribuído com um aumento do número de registro de médicos
sem qualquer aptidão para o exercício deste sacerdócio, que envolve um
compromisso de honra com a defesa da saúde dos destinatários de seus
serviços profissionais.
Por outro lado, forçoso reconhecer que o
próprio Governo Federal vem dando margem à proliferação das
Faculdades de Medicina, especialmente no Estado de São Paulo, que nos
últimos dois anos autorizou a criação de nada menos que 06 (seis)
Faculdades de Medicina em nosso Estado, sendo 02 em São José do Rio
Preto (contando agora com 03 estabelecimentos de ensino hospitalar) e
01 em Votuporanga, na mesma região central do Estado.
Conclui não existir colorido de
inconstitucionalidade ou ilegalidade na exigência do fazimento da prova
para a obtenção do registro, posto que este, independe do resultado
final do exame. Em outras palavras, desde 2.005 as provas vêm sendo
exigidas no Estado de São Paulo, com notas bem abaixo até mesmo das
exigidas para obtenção da Carteira da Ordem dos Advogados do Brasil
(Rádio Jovem Pan – 24/07/12, 11:30 hs.)
Destacamos, entretanto, que está em vias
de ser agendada audiência pública para o debate da criação do Exame
Nacional de Proficiência em Medicina, como condição para o exercício
da profissão, conforme requerimento do senador Cyro Miranda,
aprovado em data de 26/06/12 no Senado Federal. Argumentou o
membro do Congresso Nacional que: “Como esse projeto é da maior
importância para as associações médicas, achei por bem em ouvi-las
para formar uma opinião mais segura quanto ao relatório final” (in,
Comissão de Educação do Senado Federal, 26/06/12).
O senador se referia ao Projeto de Lei do
Senado Federal de n. 217/2004, que altera o artigo 17 da Lei n. 3.268, de
30 de setembro de 1.957, que dispõe sobre os Conselhos de Medicina e
da outras providências, e o artigo 48 da Lei n. 9.394, de 20 de dezembro
de 1.996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para
instituir o Exame Nacional de Proficiência em Medicina como requisito
para o exercício legal da Medicina em nosso País, que lhe fora
redistribuído em 09/05/12 para apresentação de relatório final (cf, Sec.
Geral da Mesa – Atividades Legislativas – Tramitação de Matérias,
24/07/12).
Num primeiro momento, fica a falsa
impressão de que o tema não toca de perto às atribuições ministeriais,
ao teor do disposto no artigo 129 da Carta Magna. Entretanto, relatamos
em 01 (um) ano como 7º. Promotor do Patrimônio Público e Social da
Capital do Estado de São Paulo, o colossal descaso do Poder Público com
a saúde pública, bem como, o enorme número de inquéritos civis,
iniciados em sua maioria em razão de representações anônimas, dando
conta da ausência de médicos em Hospitais de grande contingente de
necessitados (v.g. Hospital de Heliópolis, de Sorocaba, Guarulhos, entre
outros, a exigir a participação do órgão do GAECO), onde se evidencia
facilmente que os profissionais têm assinado livros de ponto e
recebendo como se cumprida toda uma jornada de trabalho, quando na
verdade, atendem um singelo número de pacientes para justificar seus
polpudos salários (in, Foletim Eletrônico - Fantástico, de 20/05/12).
Em inquérito civil, que não tramita em
segredo de justiça, um médico, chefe do serviço de endoscopia do
Hospital de Heliópolis, permaneceria tão somente duas horas na
entidade, assinando o ponto e recebendo por um plantão de 24 horas de
trabalhos ininterruptos; outro, especializado em cirurgia torácica,
assinaria o ponto uma vez por mês e, devido à sua falta, o mesmo
estabelecimento hospitalar lhe pagaria plantão extra e, por derradeiro,
um terceiro médico do setor de pneumologia prestaria serviços médicos,
recebendo dinheiro público, mesmo comprovadamente estando a anos
morando fora do Brasil.
Neste diapasão, é sim função institucional
do Ministério Público a defesa intransigente do patrimônio público e
social (art. 129, CF, c.c. art. 25, IV, alínea “b” da Lei Federal n. 8.625/93;
arts. 103, VIII e 295, IX, da Lei Complementar Estadual n. 734/93).
Entretanto, buscamos na matéria em destaque, provocar sensibilizar a
classe dos membros do Ministério Público para uma questão de fundo,
que é a necessidade premente de uma maior intervenção do órgão
ministerial, por sua entidade de classe, no debate do processo legislativo
federal e estadual, de forma a contribuir para minorar o descalabro com
que se observa a saúde pública em nosso Estado e em nosso País.
Talvez seja chegado o momento de
refletirmos sobre questões postas pelo mestre Antônio Araldo Ferraz Dal
Pozzo, no sempre lembrado “Encontro Estadual dos membros do
Ministério Público, realizado no Memorial da América Latina”, no qual se
provocava toda uma classe de agentes do Estado a uma reflexão para
problemas que atingiam muito mais de perto as pessoas simples da
sociedade brasileira, mas os reais responsáveis pela escolha de
representantes constituintes de 1.987, que tiveram o papel fundamental
de desenhar um novo papel constitucional para o Ministério Público
Brasileiro, razão pela qual a necessidade de um novo olhar do membro
do “Parquet”, não do jardim, mas da janela de nossa instituição,
devendo o mesmo sair de seu gabinete e abraçar os problemas sociais
que atingiam e até hoje atingem a sociedade brasileira.
Por outro lado, para o Prof. Oswaldo
Tanaka Diretor do Departamento de Saúde Pública da USP, cabe ao
Ministério Público com atribuição na área respectiva, apurar
responsabilidades em relação às reclamações de “consultas com
atendimento coletivo”, que vêm sendo realizadas pelas UBS da
Prefeitura Municipal de São Paulo, ao passo que, segundo as mães das
crianças, os atendimentos feitos pelos médicos credenciados, vêm sendo
feitos de forma a abarcar pessoas de faixas de idade distintas, cujos
diagnósticos nem sempre são os mesmos, recebendo dinheiro público
por todo o atendimento em horas de serviço público prestado.
Por tais razões, acrescidas ao fato do
baixo nível escolar e proliferação das Faculdades de Medicina em nosso
país, sem bibliotecas à altura para uma formação necessária ao
atendimento do público, indicação de 32% de procedimentos
administrativos por erro médico no Hospital Souza Aguiar/RJ, concessão
de registros sem qualquer avaliação do aparelho formador,
desinformação do destinatário dos serviços de medicina de como
representar às autoridades competentes sobre trocas de bebês, cirurgias
em membros incorretos, entre outras mazelas relatadas pela imprensa
brasileira, me coloco favorável ao Projeto de Lei n. 217/2004, em vias de
votação pelo Plenário do Senado Federal, não como forma de
materializar juridicamente uma “reserva de mercado” dos profissionais
de medicina (em sua grande maioria, grandes profissionais liberais ou
servidores públicos), mas, para concluir como o Presidente da própria
Cremesp, no sentido de que o inédito ordenamento jurídico não está
sendo elaborado para a defesa de uma categoria profissional, mas sim,
da sociedade brasileira.