a evoluÇÃo dos direitos polÍticos no brasil: uma … · setembro 1822, houve a proclamação da...

26
A EVOLUÇÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS NO BRASIL: UMA BREVE ANÁLISE DO PERÍODO COLONIAL AOS DIAS ATUAIS 1 Enver Souza Lima 2 RESUMO: Este trabalho apresenta uma análise sobre a evolução dos direitos políticos do Brasil desde o período colonial até as últimas reformas eleitorais nos dias atuais. O país passou por longos períodos de instabilidade dos direitos políticos, ocorrendo constantes progressos e retrocessos, mudanças que moldaram o nosso sistema eleitoral atual. Durante esse percurso evolutivo a sociedade lutou por seus direitos políticos, consequentemente por sua participação na condução da coisa pública, seu direito de votar e ser votado. Assim, buscar-se-á desenvolver uma breve análise acerca da importância dos direitos políticos, da sua evolução e das reformas eleitorais atuais. Palavras-chave: Direitos políticos; evolução; sistema eleitoral; mudanças; reformas políticas. ABSTRACT: This paper presents an analysis of the evolution of the political rights of Brazil from the colonial period to the last electoral reforms in the present day. The country has gone through long periods of political rights instability, with constant progress and setbacks, changes that shaped our current electoral system. During this evolutionary course the citizen fought for his political rights, consequently by their participation in the conduct of the public thing, your right to vote and to be voted. Thus, a brief analysis will be developed on the importance of political rights, of its evolution and of the current electoral reforms Key-words: Rights policy; evolution; electoral system; changes; political reforms. Sumário: Introdução. 1) Contexto histórico; 1.1) Período colonial; 1.2) Período Imperial; 1.2) Período Republicano; 1.3.1) Período ditatorial (1937-1945); 1.3.2) Período ditatorial (1964 1985); 1.4) Nova república; 2) Direitos Políticos; 2.1) Relação entre os Direitos Políticos e os Direitos Fundamentais; 2.2) Classificação dos direitos políticos; 2.2.1) Direitos políticos positivos: sufrágio, plebiscito e referendo; 2.2.2) Direitos políticos negativos: inelegibilidade, perda e suspensão; 3) Reformas eleitorais; 3.1) Governo Lula; 3.1.1) Minirreforma eleitoral de 2006; 3.1.2) Minirreforma eleitoral de 2009; 3.2) Governo Dilma; 3.2.1) Minirreforma eleitoral de 2013; 3.2.2) Minirreforma eleitoral de 2015; Considerações finais. 1 Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado ao Curso de Direito/CERES/UFRN como exigência parcial para a obtenção do bacharelado em Direito, sob a orientação do Prof. Dr. Ubirathan Rogerio Soares. 2 Acadêmico do Curso de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Upload: hoangthien

Post on 08-Nov-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

A EVOLUÇÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS NO BRASIL: UMA BREVE ANÁLISE

DO PERÍODO COLONIAL AOS DIAS ATUAIS1

Enver Souza Lima2

RESUMO: Este trabalho apresenta uma análise sobre a evolução dos direitos políticos do

Brasil desde o período colonial até as últimas reformas eleitorais nos dias atuais. O país

passou por longos períodos de instabilidade dos direitos políticos, ocorrendo constantes

progressos e retrocessos, mudanças que moldaram o nosso sistema eleitoral atual. Durante

esse percurso evolutivo a sociedade lutou por seus direitos políticos, consequentemente por

sua participação na condução da coisa pública, seu direito de votar e ser votado. Assim,

buscar-se-á desenvolver uma breve análise acerca da importância dos direitos políticos, da sua

evolução e das reformas eleitorais atuais.

Palavras-chave: Direitos políticos; evolução; sistema eleitoral; mudanças; reformas políticas.

ABSTRACT: This paper presents an analysis of the evolution of the political rights of Brazil

from the colonial period to the last electoral reforms in the present day. The country has gone

through long periods of political rights instability, with constant progress and setbacks,

changes that shaped our current electoral system. During this evolutionary course the citizen

fought for his political rights, consequently by their participation in the conduct of the public

thing, your right to vote and to be voted. Thus, a brief analysis will be developed on the

importance of political rights, of its evolution and of the current electoral reforms

Key-words: Rights policy; evolution; electoral system; changes; political reforms.

Sumário: Introdução. 1) Contexto histórico; 1.1) Período colonial; 1.2) Período Imperial; 1.2)

Período Republicano; 1.3.1) Período ditatorial (1937-1945); 1.3.2) Período ditatorial (1964 –

1985); 1.4) Nova república; 2) Direitos Políticos; 2.1) Relação entre os Direitos Políticos e os

Direitos Fundamentais; 2.2) Classificação dos direitos políticos; 2.2.1) Direitos políticos

positivos: sufrágio, plebiscito e referendo; 2.2.2) Direitos políticos negativos: inelegibilidade,

perda e suspensão; 3) Reformas eleitorais; 3.1) Governo Lula; 3.1.1) Minirreforma eleitoral

de 2006; 3.1.2) Minirreforma eleitoral de 2009; 3.2) Governo Dilma; 3.2.1) Minirreforma

eleitoral de 2013; 3.2.2) Minirreforma eleitoral de 2015; Considerações finais.

1 Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado ao Curso de Direito/CERES/UFRN como exigência

parcial para a obtenção do bacharelado em Direito, sob a orientação do Prof. Dr. Ubirathan Rogerio Soares. 2 Acadêmico do Curso de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

2

INTRODUÇÃO

Os direitos políticos sempre fizeram parte do cotidiano da humanidade. Desde os

primórdios da existência humana, surgiu a necessidade de as pessoas fazerem escolhas e

tomarem decisões coletivas acerca de assuntos que envolviam os seus vilarejos, cidades ou

aldeias.

Porém, apesar de sempre fazer parte da vida em sociedade, tais direitos sempre

desencadearam tensões e conflitos entre seus detentores. Especificamente no caso brasileiro,

para que os direitos políticos fossem implantados no ordenamento jurídico pátrio, houveram

lutas, progressos e regressos em prol do fortalecimento da democracia, sendo possível a

participação do cidadão de maneira ativa, direta ou indireta da administração pública.

A legislação eleitoral do Brasil passou por mudanças significativas durante os

últimos anos, reformas cujo o objetivo é melhorar o sistema eleitoral nacional. A mudança

mais recente foi em decorrência da publicação da Lei nº 13.165, em vigor desde o dia 29 de

setembro de 2015 e aplicada pela primeira vez nas eleições municipais de 2016, que de

acordo com seu texto, visa reduzir os custos das campanhas eleitorais, simplificar a

administração dos Partidos Políticos e incentivar a participação feminina.

O presente estudo pretende, com base em uma metodologia de pesquisa

bibliográfica, gerar um estudo acerca da evolução dos direitos políticos no país, desde sua

origem no período colonial até os dias de hoje. Para tanto, se faz necessária a explanação dos

direitos políticos, fazendo a classificação destes, bem como esclarecer a ação das reformas

eleitorais mais recentes no Brasil. Tais objetivos serão alcançados através de estudo associado

à própria história do Brasil, como também das diretrizes constitucionais, das normas

infralegais e dos posicionamentos doutrinários sobre o tema sob análise.

A estruturação do presente trabalho foi organizada da seguinte forma: no primeiro

capítulo, será apresentada a evolução histórica dos direitos políticos no âmbito interno; já no

segundo capítulo, serão abordadas as peculiaridades acerca dos direitos políticos como parte

dos direitos fundamentais; e por fim, no terceiro capítulo, apresentar de maneira sucinta as

reformas eleitorais articuladas durante os dois últimos governos.

Justifica-se o trabalho na necessidade de fazer um estudo doutrinário, histórico e

conceitual acerca da importância dos direitos políticos na vida dos cidadãos brasileiros e o

estudo das mais recentes reformas eleitorais, a título de conhecimento do leitor.

3

1. CONTEXTO HISTÓRICO DOS DIREITOS POLÍTICOS NO BRASIL

É possível afirmar que na atualidade vivemos uma fase em que os direitos

políticos estão cada vez mais perto do ideal para garantir a soberania popular e a democracia,

expressas na Constituição Federal de 1988. Porém, para que essa realidade se tornasse

possível, passamos por uma longa evolução, que se iniciou nos primórdios do descobrimento

do país.

A seguir, faremos um apanhado histórico do surgimento dos direitos políticos no

Brasil, para assim compreender as raízes de seu surgimento, analisar a influência das

transformações para melhor compreender a realidade atual.

1.1 PERÍODO COLONIAL (1500 – 1822)

A primeira eleição no Brasil ocorreu em 23 de janeiro de 1532 e aconteceu de

forma indireta na Vila de São Vicente, que era a sede da capitania hereditária de São Vicente,

atual São Paulo. Seu objetivo principal era escolher o conselho administrativo da vila e

somente seria disputada pelos chamados “homens bons”, que era uma expressão utilizada na

época para se referir a pessoas que tinham propriedades, bens ou fossem de famílias

tradicionais. Outra regra da primeira eleição, era a proibição de autoridades do Reino nos

locais de votação, para que não influenciasse o voto.

Faoro3 (2001, p. 214), define bem os critérios de escolha dos homens bons:

Na verdade, o escopo íntimo da superioridade institucional do homem bom será o

mesmo que inspira os conselhos portugueses: inscrever os proprietários e burocratas

em domicílio na terra, bem como seus descendentes, nos ‘Livros da Nobreza’,

articulando-os, desta sorte, na máquina pública e administrativa do império.

Durante todo o período colonial as eleições tinham um caráter local e municipal,

sendo regidos pelo “livro das ordenações”, uma legislação de Portugal, produzido no ano de

1603. A ampliação das eleições para o âmbito nacional surgiu em 1821, um ano antes da

proclamação da independência, e pode-se dizer que foi nossa primeira eleição nacional de

acordo com os moldes atuais.

Apresentando uma análise mais precisa de como funcionaram as primeiras

eleições em âmbito nacional, Porto 4(2002, p.23 e 24) definiu que:

3 FAORO, Raymundo. Os donos do poder. Formação do patronato político brasileiro. 3ª ed. São Paulo: Globo,

2001.

4

As Cortes de Lisboa eram uma assembleia constituinte com representantes do clero,

nobreza e povo que culminaram com a aprovação da Constituição portuguesa de

1822. Para a designação dos deputados para as Cortes, o processo eleitoral consistia

numa complexa eleição em quatro graus para formação de juntas eleitorais de

paróquia, de comarca e de província. As primeiras se comporiam de todos os

cidadãos da paróquia que elegeriam onze compromissários, e estes elegeriam o

eleitor paroquial; as juntas de comarca se comporiam dos eleitores da paróquia que

elegeriam os eleitores de província que elegeriam os deputados de Cortes.

Na ausência de uma legislação eleitoral brasileira, utilizaram a Constituição

Espanhola para reger o pleito, que trazia algumas novidades, como a possibilidade do

analfabeto votar. Nesse pleito, 72 representantes do povo foram eleitos por homens livres.

Algumas das instruções das eleições de 1821, apresentavam um sistema dividido

em quatro graus: o povo, em massa, escolhia os compromissados; estes, escolhiam os

eleitores de paróquia, que, por sua vez, escolhiam os eleitores de comarca; finalmente, estes

últimos procediam à eleição dos deputados. (FERREIRA 2005)5.

Podemos assim concluir que as eleições no período colonial careciam da vontade

da população brasileira, devido ao total controle que as classes dominantes e religiosas tinham

perante o eleitorado, baseando-se nas regras eleitorais europeias. Vejamos adiante a

continuação da evolução dos direitos políticos no Período Imperial.

1.2 PERÍODO IMPERIAL (1822 – 1889)

No ano posterior às primeiras eleições gerais da história do país, no dia 07 de

setembro 1822, houve a proclamação da independência do Brasil pelo então príncipe regente

Dom Pedro I. Sendo que em 03 de junho de 1822, o príncipe regente já estava convencido de

que a independência do Brasil de fato ocorreria naquele ano e, logo, fez a convocação de uma

Assembleia Constituinte com o objetivo de elaborar uma Constituição para o novo Estado

Soberano.

A partir da Assembleia Constituinte alguns ideais foram estabelecidos em relação

aos direitos políticos, um deles foi o voto censitário, que seria o voto permissionário a pessoas

que possuíssem uma renda anual equivalente a 150 alqueires de farinha de mandioca ou fosse

4 PORTO, Walter Costa. O voto no Brasil. Da Colônia à 6ª República. 2ª ed. Rio de Janeiro: Topbooks Editora,

2002. 5 FERREIRA, Manoel Rodrigues, A evolução do sistema eleitoral brasileiro. 2ª ed. Tribunal Superior

Eleitoral, 2005.

5

dono de grandes quantidades de terras. Devido a tal peculiaridade, o projeto passou a ser

conhecido como “Constituição da Mandioca” (ARRUDA, PILETTI, 2001)6.

A divisão dos poderes proposta pela Assembleia Constituinte contrariou os

interesses de Dom Pedro I devido a predominância do poder legislativo sobre o executivo,

limitando o seu poder e desafiando as suas pretensões absolutistas. Tal fato o incentivou a

dissolver da Assembleia Constituinte com o apoio militar, gerando o acontecimento

conhecido como “a Noite da Agonia”.

Em sua obra “a evolução constitucional do Brasil”, Paulo Bonavides (2004, p.

385)7, apresenta como foi a dissolução da Assembleia Constituinte:

Em 1823, o confronto dos dois poderes, em face da insubmissão do poder

constituinte de direito, provocou uma colisão aberta e ostensiva, que teve por

desfecho a queda da Assembleia Geral Constituinte e Legislativa, dissolvida pela

tropa sob o comando pessoal de D. Pedro I, e, a seguir, a outorga da Carta do

Império

Após a dissolução da Assembleia, D. Pedro I convocou seis ministros e quatro

políticos de sua confiança para redigir junto com ele a nova Constituição Brasileira, que foi

outorgada em 25 de março de 1824, com o intuito de garantir o seu poder de imperador.

Algumas das características da nova Constituição eram: a concentração do poder nas mãos do

imperador, através do poder moderador, a exclusão da maioria da população brasileira do

direito de votar, pois apenas o eleitor rico que comprovasse determinada renda teria esse

direito, a criação do conselho de estado, onde os representantes eram escolhidos pelo

imperador.

O artigo 98 da Constituição do Império do Brasil de 1924, estabelecia nitidamente

as características da constituição, cujo objetivo era concentrar o poder nas mãos do imperador.

Vejamos:

Art. 98. O Poder Moderador é a chave de toda a organisação Politica, e é delegado

privativamente ao Imperador, como Chefe Supremo da Nação, e seu Primeiro

Representante, para que incessantemente vele sobre a manutenção da Independencia,

equilibrio, e harmonia dos mais Poderes Politicos.

Durante todo o período de império e colônia as fraudes eleitorais eram frequentes,

pois além de não haver uma fiscalização eficiente eram permitidas ações que facilitavam as

6 ARRUDA, José Jobson de A.; PILLETI, Nelson. Toda a História: História Geral e História do Brasil, 2001.

11ª edição. São Paulo: Ática. 7 BONAVIDES, Paulo. A evolução constitucional do Brasil. Estudos Avançados, São Paulo, v. 14, n. 40,

p.155-176, 2000.

6

alterações dos resultados. Uma das principais fraudes eleitorais decorreu da possibilidade do

voto por procuração, onde pessoas não compareciam aos locais de votação e enviavam um

representante munido de um instrumento de procuração para exercer o seu direito de voto.

Além disso não existia na época título eleitoral, as pessoas eram reconhecidas

pelos integrantes da mesa apuradora e por testemunhas, o que facilitava a ação dos

fraudadores, que contabilizavam votos de mortos, crianças e eleitores de outras cidades.

O ano de 1881 trouxe grandes mudanças no sistema político da época, nele foi

instituído o Decreto nº 3.029 de 9 de janeiro, conhecido como “Lei Saraiva”, em homenagem

ao então Ministro do Império José Antônio Saraiva. Tal Decreto trouxe consideráveis avanços

para as eleições nacionais, quais sejam: a instituição do título de eleitor, eleições diretas para

todos os cargos eletivos do império e possibilidade de um candidato não católico disputar o

pleito.

Apesar dos avanços que proporcionou, o Decreto recebeu fortes críticas por seguir

um caráter de exclusão social. Segundo Porto 8(2002, p. 100):

O que se esperava com a eleição direta, segundo Rui Barbosa, é que se excluísse ‘o

capanga, o cacetista, o biju, o xenxém, o bem-te-vi, o morte-certa, o cá-te-espero, o

mendigo, o analfabeto, o escravo, todos esses produtos da larga miséria social, para

abrir margem ao patriotismo, à ilustração, à independência, à fortuna, à experiência’.

A Lei Saraiva apresentou retrocessos ao impedir que os analfabetos exercessem o

seu direito de voto, e ao condicionar a candidatura dos não católicos que possuíssem renda

inferior a duzentos mil reis. Mais uma vez, seguindo a característica do período colonial, a

legislação eleitoral era voltada para a manutenção da realidade social existente e respectivas

injustiças sociais, visto que excluía da vida política do país parcela significativa da sociedade

por critérios pautados no poder econômico dos indivíduos.

1.3 PERÍODO REPUBLICANO (1889 – 1930)

Em 1891 foi promulgada a Constituição da República dos Estados Unidos do

Brasil, a primeira constituição republicana da história do país, tendo como principais

contribuições as grandes modificações no regime político e jurídico. A construção desta Carta

8 PORTO, Walter Costa. O voto no Brasil. Da Colônia à 6ª República. 2ª ed. Rio de Janeiro: Topbooks

Editora, 2002.

7

Magna foi baseada no positivismo francês e na constituição norte americana, se estabelecendo

o modelo presidencialista e federalista.

Sobre o assunto, Silva (2000, p. 103)9 apresenta a definição de federalismo:

O federalismo, como expressão do direito constitucional, nasceu com a Constituição

norte-americana de 1787. Baseia-se na união de coletividades políticas autônomas.

Quando se fala em federalismo, em Direito Constitucional, quer-se referir a uma

forma de Estado, denominada Federação ou estado federal, caracterizada pela união

de coletividades públicas dotadas de autonomia político-constitucional, autonomia

federativa.

A Magna Carta de 1891 ainda trouxe avanços como o voto direto masculino e não

secreto para os representantes do poder executivo e legislativo, a alteração do Estado em laico

e a exclusão do poder moderador (afastando do Imperador o poder político) e do Conselho de

Estado.

Ainda no período republicano, foi instituído o primeiro Código Eleitoral

brasileiro, precisamente no ano de 1932, por meio do Decreto nº 21.076, cujo principal

objetivo era a reforma da legislação eleitoral pátria, trazendo mudanças consideráveis, como a

instituição do voto secreto e obrigatório, do voto feminino10, a adesão do sistema proporcional

de votação, a regularização das eleições federais, estaduais e municipais e a delegação à

Justiça Eleitoral pela organização de todo o processo eleitoral. No mesmo ano, o TSE

(Tribunal Superior Eleitoral) foi inaugurado no estado do Rio de Janeiro, que na época era a

capital do país.11

Outra grande inovação que o Código Eleitoral de 1932 trouxe foi a criação dos

Tribunais Regionais Eleitorais, cujo objetivo era fazer o cumprimento das decisões do

Tribunal Superior Eleitoral, o julgamento de recursos e a divisão sua jurisdição em zonas

eleitorais.

Dois anos depois, em 16 de julho de 1934, no governo Vargas, foi promulgada a

Constituição Brasileira de 1934. A nova Carta chamava atenção por suas características

progressistas e nacionalistas. Os principais avanços que trouxe foi o voto feminino, a

criação da justiça eleitoral e a justiça do trabalho, o voto obrigatório para maiores de 18

anos e o voto secreto.

9 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 18. ed. São Paulo: Malheiros: 2000. 10 “Pela primeira vez, as mulheres conquistavam o exercício da cidadania, o que, além de ter um significado

político muito importante, implicava um acréscimo substancial no corpo de votantes. (FAUSTO, 2007, P.22) 11 "Primeiro Código Eleitoral do Brasil completa 81 anos”. Tribunal Superior Eleitoral. 2013. Disponível em:

< http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2013/Fevereiro/primeiro-codigo-eleitoral-do-brasil-completa-81-

anos >. Data de acesso: 30 de outubro de 2016.

8

Apesar do pouco tempo em que esteve em vigor, a Constituição Federal dos

Estados Unidos do Brasil de 1934 deixou seu legado para as questões sociais brasileiras.

Sobre tal legado e suas consequências, Arruda e Caldeira (1986)12 expõem que:

Com a Constituição de 1934, a questão social passou a assumir grande destaque no

país: direitos democráticos foram conquistados, a participação popular no processo

político aumentou, as oligarquias sentiram-se ameaçadas - juntamente com a

burguesia - pela crescente organização do operariado brasileiro e de suas

reivindicações. Nessa conjuntura registrou-se a primeira grande campanha nacional

em que a Imprensa esteve envolvida: o debate a respeito do apelo nacionalista

apregoado pelo Integralismo, movimento anti-liberal, anti-socialista, autoritário,

assemelhado ao Fascismo italiano.Em conseqüência disso, o equilíbrio era algo

difícil e já se previa naquela época que alcançá-lo iria levar tempo, para as novas

forças políticas brasileiras.

A valorização e atenção às questões sociais incomodou de certa forma a classe

burguesa brasileira, ameaçando também as oligarquias, que mantinham em suas mãos o

poder. Logo surgiram movimentos anti-socialistas e de cunho fascista, elementos tidos como

essenciais a nova forma de governo que se iniciaria em 1937.

1.3.1 PERÍODO DITATORIAL (1937- 1945)

Apesar dos avanços que trouxe, o primeiro Código Eleitoral brasileiro foi

revogado no ano de 1937, após início do Estado Novo, como era conhecida a “nova ordem”

instituída pelo presidente Getúlio Vargas. Em 10 de novembro foi outorgada a Constituição

de 1937, conhecida como “polaca”, trouxe um regresso considerável dos direitos políticos do

cidadão brasileiro, abolindo os partidos políticos, suspendendo as eleições livres,

estabelecendo eleições indiretas para presidente da República, no qual teria um mandato de 6

anos.

Durante o período de 10 anos não houve eleições no país, período caracterizado

por abolir vários direitos políticos, concentrando o poder nas mãos das autoridades

governantes. Paulo Bonavides (2008)13 em sua obra Curso de Direito Constitucional,

apresenta considerações acerca da Carta de 1937, afirmando que esta:

12 Apud ARRUDA, Marcos. CALDEIRA, Cesar. Como Surgiram as Constituições Brasileiras. Rio de

Janeiro: FASE (Federação de Órgãos para Assistência Social e educacional). Projeto Educação Popular para a

Constituinte, 1986. 13 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 22 ed. São Paulo: Malheiros Editores Ltda.

9

representa na tela do constitucionalismo um largo esboço de limitação da autoridade

do governante. O rei, príncipe ou Chefe de Estado enfeixa em suas mãos poderes

absolutos, mas consente unilateralmente em desfazer-se de uma parcela de suas

prerrogativas ilimitadas, em proveito do povo, que entra assim no gozo de direitos e

garantias, tanto jurídicas como políticas, aparentemente por obra apenas e graça da

munificência real.

No ano de 1945 a Justiça Eleitoral foi reestabelecida por meio do Decreto nº 7586.

No mesmo ano Getúlio Vargas anuncia eleições gerais e sofre o golpe militar. Após o golpe, o

presidente do Supremo Tribunal Federal se estabeleceu no poder durante o período

aproximado de 3 meses, período conhecido como hiato eleitoral. Esse lapso temporal trouxe

uma ideia de cidadão/trabalhador, valorizando o cidadão que participava de alguma forma da

economia do país.

O Código Eleitoral instituído por meio do Decreto nº 7586, trouxe novidades para

o cenário político, como: a obrigatoriedade da vinculação dos candidatos a partidos políticos e

a redução da idade mínima para votar, que passou de 21 anos para 18 anos. Além disso, a Lei

Agamenon, como também era conhecido o Código Eleitoral, trouxe mais segurança às urnas

com a finalidade de garantir o sigilo do voto, utilizavam sobrecartas oficiais, uniformes e

opacas; para evitar as fraudes, o código determinava pena de detenção de três meses a um ano

a quem se escrevesse mais de uma vez e pena de seis meses a um ano para o eleitor que

votasse no lugar de outro.14

1.3.2 PERÍODO DITATORIAL (1964 – 1985)

Em 1964 instaurou-se o golpe militar, trazendo mais regressos para a

manifestação da cidadania, proibindo o voto direto para presidente da república e aos cargos

de governador, prefeito e senador, permitindo apenas o voto para deputado estaduais e

federais e vereadores.

Segundo (FAUSTO 2008)15, para controlar o poder de Estado durante 21 anos, o

regime ditatorial produziu 17 atos institucionais, regulamentados por outros 104 atos

complementares. Os atos Institucionais, decretos que davam ao Executivo poderes

14 “Código Eleitoral completa 50 anos nesta quarta feira”. Tribunal Superior Eleitoral. 2015. Disponível em:

< http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2015/Julho/codigo-eleitoral-completa-50-anos-nesta-quarta-feira-

15 >. Data de Acesso em: 01 de novembro de 2016. 15 FAUSTO, Boris. História do Brasil. Edusp, 2008; HERKENHOFF, João Baptista. Gênese dos Direitos

Humanos. Editora Santuário, 2002.

10

excepcionais, constituíram o principal instrumento utilizado para revestir de legalidade as

ações do governo de exceção.

No período entre 1964 e 1985 (fim da ditadura militar), o povo era tratado como

ignorantes políticos, que não tinham consciência política suficiente para exercer o seu direito

de voto, e isso impedia que o cidadão agisse como um ser político e transformador da

democracia, o cidadão observou os seus direitos políticos serem ceifados durante vinte e um

anos mediante atos institucionais.

1.3.3 NOVA REPÚBLICA (1985 – atual)

Com o fim da ditadura militar, em 1985, foi eleito indiretamente o presidente

Tancredo Neves, que morreu logo após a sua eleição, sendo a presidência ocupada por José

Sarney. O período que se iniciou com o fim do regime militar é conhecido como Nova

República e trouxe diversos avanços, como as eleições diretas para a presidência e prefeituras

das cidades, a concessão do direito de votar aos 16 anos e a permissão do voto ao analfabeto.

A nova república ganhou esse nome devido ao surgimento de um período

democrático novo e diferenciado, onde havia grande oposição ao sistema militar que

proporcionou aos cidadãos 20 longos anos de censura, repressão dos movimentos sociais e

regresso democrático. O período da nova república se iniciou em 1985 e vivemos ele até os

dias de hoje.

Em 1988 foi promulgada a nova Constituição Federal, conhecida como a

Constituição cidadã, que estabeleceu as eleições diretas, a eleição por maioria absoluta para

presidente, governadores e prefeitos (municípios acima de 200 mil eleitores, caso não haja

maioria absoluta na primeira votação terá segundo turno), estabeleceu o período de cinco anos

para o mandato do presidente, vedando a reeleição para o período subsequente, fixou a

desincompatibilização até seis meses antes das eleições, para presidente, governador e

prefeito que almejasse concorrer a outro cargo. A Carta Magna de 1988 também permitiu o

voto do analfabeto, tornou o voto facultativo para os maiores de 16 anos e menores de 18 e

deu maior autonomia aos partidos políticos, tornando-os pessoa jurídica de direito privado.16

Os anos 90 foram marcados por avanços consideráveis no sistema eleitoral

brasileiro. Em 1993 mais de 67 milhões de pessoas foram às urnas para decidir, através de

16 “Década de 80: ad diretas já”. Disponível em: <

http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/POLITICA/93436-DECADA-DE-80:-AS-DIRETAS-

JA.html >. Acesso em 13/10/2016.

11

plebiscito, a forma e o sistema de governo, sendo escolhidos a república e o presidencialismo.

No ano posterior, foi aprovada a Emenda Constitucional nº5, de 7 de junho de 1994 que

reduzia o mandato presidencial de cinco para quatro anos.17

Nas eleições municipais de 1996 o brasileiro passou a votar de maneira diferente:

surgiram as urnas eletrônicas, uma inovação tecnológica que trouxe mais segurança,

confiabilidade, agilizou bastante a apuração dos votos e reduziu consideravelmente as fraudes.

Nos anos 2000 a máquina passou a ser utilizada nas eleições em todo o país, sendo o Brasil o

único país em que o sistema de apuração de votos é totalmente eletrônico.

A Constituição Federal de 1988 vedou em seu texto a reeleição para o período

subsequente, porém, no ano de 1997 a emenda Constitucional nº 16, de 4 de junho de 1997 foi

aprovada, possibilitando a reeleição. Tal decisão foi alvo de críticas, tendo em vista que o

candidato que concorre à reeleição já tem o contato com a máquina administrativa.

Nos anos 2000 a internet passou a ser uma das principais ferramentas das

campanhas eleitorais. Os candidatos utilizam blog e redes sociais para fazer uma espécie de

marketing pessoal. O candidato ainda pode receber doações online, através do cartão de

crédito.

Após a análise histórica e evolutiva dos direitos políticos no Brasil, surge a

necessidade da análise conceitual desses direitos, assim como a sua relação com os direitos

fundamentais e classificação de acordo com a Constituição Federal de 1988, vejamos no

capítulo adiante.

2.DIREITOS POLÍTICOS

O Título II da Constituição Federal de 1988 – CF/88 dedica-se ao estabelecimento

dos chamados “direitos e garantias fundamentais” que, por sua vez, divide-se em espécies,

quais sejam: direitos e deveres individuais e coletivos, direitos sociais, direitos de

nacionalidade, direitos políticos, que são objeto principal do presente estudo, e, por fim, os

partidos políticos. Tais direitos estão plenamente interligados, de forma que a ausência de um

compromete a plenitude dos demais e, consequentemente, dos direitos fundamentais como um

todo.

17 “Década de 90: avanços no sistema eleitoral”. Disponível em: <

http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/POLITICA/93435-DECADA-DE-90-AVANCOS-NO-

SISTEMA-ELEITORAL.html >. Acesso em 16/10/2016.

12

Especificamente com relação aos direitos políticos, dá-se grande destaque em

nosso atual sistema eleitoral, devido as prerrogativas e deveres que eles transferem a

população. É através deles que é possível a participação do cidadão na vida pública, na

organização e no funcionamento do Estado.

Pedro Lenza (2009, p. 785)18, na sua obra “curso de direito constitucional

esquematizado”, conceitua os direitos políticos como:

os direitos políticos nada mais são do que instrumentos por meio dos quais a

Constituição Federal (CF) garante o exercício da soberania popular, atribuindo

poderes aos cidadãos para interferirem na condução da coisa pública, seja direta,

seja indiretamente.

Seguindo esta mesma linha de raciocínio, José Afonso da Silva (2004)19 citando

Pimenta Bueno também define que os direitos políticos são as prerrogativas, os atributos,

faculdades ou poder de intervenção dos cidadãos ativos no governo de seu país, intervenção

direta ou só indireta, mais ou menos ampla, segundo a intensidade de gozo desses direitos.

Os cidadãos gozam dos seus direitos políticos, exercendo o seu direito de

participação popular, que surge da vontade manifestada individualmente por cada pessoa, com

a finalidade de contribuir de maneira direta ou indireta para a organização do estado e

manutenção da democracia.

2.1 RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS POLÍTICOS E DIREITOS FUNDAMENTAIS

Os Direitos Fundamentais têm o objetivo de assegurar aos indivíduos o respeito, a

dignidade e a garantia das mínimas condições para que o ser humano se desenvolva. Tais

direitos são positivados nas constituições federativas dos respectivos países com a função de

garantir a proteção do indivíduo.

Apresentando um conceito claro e importante, Moraes (2002)20 define os direitos

fundamentais como:

O conjunto institucionalizado de direitos e garantias do ser humano que tem por

finalidade básica o respeito a sua dignidade, por meio de sua proteção contra o

arbítrio do poder estatal e o estabelecimento de condições mínimas de vida e

desenvolvimento da personalidade humana.

18 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional esquematizado. 13. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo:

Saraiva, 2009. 19 SILVA, José Alfonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. Editora Malheiros. 23º Edição. 2004.

página 344. 20 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: Teoria Geral. 4ªed. São Paulo: Atlas, 2002.

13

De acordo com a evolução de cada época, baseadas nos preceitos constitucionais

das nações, nasceu a necessidade, por parte dos teóricos, de fazer a divisão dos direitos

fundamentais em três gerações. Em breve síntese, a primeira geração compreende os direitos

civis, políticos e as liberdades clássicas, a segunda geração compreende os direitos

econômicos, sociais e culturais e a terceira geração, por sua vez, trata do direito ao meio

ambiente equilibrado, qualidade de vida saudável, paz e autodeterminação.

Preciosas são as palavras de (BONAVIDES, 1993)21, ao fazer referência aos

direitos de primeira dimensão, quando afirma que os direitos fundamentais de primeira

dimensão representam exatamente os direitos civis e políticos, que correspondem à fase

inicial do constitucionalismo ocidental, mas que continuam a integrar os catálogos das

Constituições atuais (apesar de contar com alguma variação de conteúdo), o que demonstra a

cumulatividade das dimensões.

Conclui-se então, que os direitos políticos estão intimamente relacionados com os

direitos fundamentais, tendo em vista que estes são divididos em três gerações, na qual os

direitos políticos fazem parte da primeira geração. Além disso, como apresentado no tópico

anterior, a Constituição Federal de 1988, traz em seu Título II os “Direitos e garantias

fundamentais”, tendo como espécie os direitos políticos.

Dando continuidade ao trabalho, para melhor análise e compreensão do dos

direitos políticos, se faz necessário um tópico que trata da sua classificação.

2.2CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS

Podemos classificar os direitos políticos em positivos e negativos. Os primeiros se

vinculam ao sufrágio e à capacidade eleitoral ativa e passiva, ou seja, a capacidade de eleger e

de ser eleito. Já os direitos negativos, por sua vez, são os impedimentos que o indivíduo sofre

na atividade política, privando-o de exercer a sua cidadania, tendo em vista o não

cumprimento dos requisitos expressos na Constituição Federal.

Corroborando este entendimento, colaciona-se posicionamento de Sylvio

Clemente da Motta Filho22 (2008, p. 207), segundo o qual existem os direitos políticos

positivos, cujo âmago é o direito de sufrágio e suas consequências, ladeado pelo direito de ser

21 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. São Paulo: Malheiros, 1993. 22MOTTA FILHO, Sylvio Clemente. Direito constitucional: teoria, jurisprudência e questões. 20. ed. Rio de

Janeiro: Elsevier, 2008.

14

eleito, exercer sua atividade política e assumir encargos públicos. Direitos políticos negativos

são os que importam na privação na qualidade de eleitor (cidadão).

Conclui-se que há a necessidade de classificação dos direitos políticos, tendo em

vista a sua importância no exercício da atividade política. Vejamos, mais adiante e de maneira

mais clara, no que consistem os direitos políticos positivos e negativos.

2.2.1 DIREITOS POLÍTICOS POSITIVOS: SUFRÁGIO, PLEBISCITO E

REFERENDO

O direito político positivo do sufrágio é pedra angular de um regime democrático,

pois um dos preceitos do regime democrático é a escolha dos seus representantes políticos e a

possibilidade de também se tornar representante, caso preencha os requisitos. Ou seja, o

sufrágio representa o direito de votar e ser votado.

Segundo Araújo (2006)23, o direito de sufrágio não é um direito individual, pois

tem o condão de possibilitar o cidadão de participar da vida política do Estado, atuando como

agente transformador do regime democrático, assumindo um direito-dever.

Em posicionamento parecido sobre o direito de sufrágio, Pontes de Miranda24

(1967, p.560) defende que:

O direito de sufrágio posto que não seja mero reflexo das regras jurídicas

constitucionais, como já se pretendeu, não é só direito individual no sentido em que

o é o habeas corpus e o mandado de segurança, pela colocação que se lhes deu na

Constituição. É função pública, função de instrumentação do povo: donde ser direito

e dever.

Diante do apresentado, observa-se que o sufrágio é um dos direitos políticos mais

importantes e é constantemente confundido com o sinônimo do voto. Porém, vale salientar

que o sufrágio é um direito público subjetivo, já o voto é o instrumento pelo qual exercemos o

sufrágio. Também há uma dúvida comum, acerca do que seria o escrutínio, sendo este a forma

do voto, público ou secreto.

Além do sufrágio os outros direitos políticos positivos estão previstos no Art. 14

da Constituição Federal de 1988, o presente artigo estabelece que: “A soberania popular será

23 ARAÚJO, Luiz Aberto David. Curso de Direito Constitucional. Editora Saraiva. 10ª Edição. 2006. pg. 239. 24 MIRANDA, de Pontes. Comentários à constituição de 1967. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1967.

15

exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e,

nos termos da lei, mediante: I – plebiscito; II – referendo; III- iniciativa popular.

O Plebiscito e o referendo são direitos políticos expressos na Carta Magna de

1988 e regulamentados pela Lei nº 9709, os dois tem o mesmo objetivo, consultar o povo para

que tomem decisões sobre algum tema de relevância nacional nas questões de natureza

constitucional, legislativa ou administrativa.

Apesar de possuírem o mesmo objetivo de consulta popular, eles se diferenciam

quanto o momento da consulta. O plebiscito é convocado antes da criação do ato legislativo

ou administrativo, para que o povo decida se o ato será criado ou não. Já o referendo se dá

após o ato, e o cidadão tem que escolher pela ratificação ou rejeição da proposta apresentada.

2.2.2 DIREITOS POLÍTICOS NEGATIVOS: INELEGIBILIDADE, PERDA E

SUSPENSÃO

Os direitos políticos negativos estabelecem impedimentos e restrições acerca do

exercício do direito de eleger certo candidato ou impossibilidade de este assumir algum cargo,

eletivo ou não. Para que a pessoa tenha qualidade de cidadão, deve cumprir alguns requisitos

relacionados ao direito de sufrágio, não incorrendo nos casos de suspensão, inelegibilidade ou

perda dos seus direitos políticos.

Pedro Lenza (2004)25, define os direitos políticos negativos da seguinte forma:

individualizam-se ao definirem formulações constitucionais restritivas e impeditivas das

atividades político-partidárias, privando o cidadão do exercício de seus direitos políticos

Os direitos políticos negativos (inegibilidade, perda e suspensão dos direitos

políticos), estão expressos no artigo 14, §4º ao §11º, da Carta Magna de 1988 e São ações que

privam o cidadão do direito de participação no procedimento político nos órgãos

governamentais.

As causas de inelegibilidade estão previstas no art. 14, §§ 4º a 7º e § 9º, da CF/88,

e elas ocorrem quando o candidato não tem capacidade eleitoral ativa, não podendo

consequentemente ser votado. A inelegibilidade restringe total ou parcialmente a

possibilidade de o indivíduo ser eleito a algum cargo público.

25 LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 7 ed. São Paulo: Método, 2004.

16

O próprio texto constitucional em seu art. 14, § 9º, estabelece que a finalidade da

inelegibilidade é proteger a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do

poder econômico ou do abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração

direta ou indireta, conforme expressa previsão constitucional (art.14, § 9º, CF/88).

É importante salientar que devido ao aspecto constitucional da inelegibilidade, é

possível que outros casos e situações sejam tratados por lei complementar. Segundo Pedro

Lenza26, as inelegibilidades estão previstas tanto na CF (art. 14, §§ 4º a 8º), normas estas que

independem de regulamentação infraconstitucional, já que de eficácia plena e aplicação

imediata, como em lei complementar, que poderá estabelecer outros casos de inelegibilidade e

os prazos de sua cessação” (2009, p. 789).

Ainda podemos classificar as inelegibilidades em absolutas e relativas. A primeira

diz respeito ao impedimento de exercer qualquer cargo eletivo, seguindo os casos taxativos

expressos pela CF/88, já a segunda diz respeito a cargos eletivos cujo caso concreto e a

situação em que o indivíduo se encontra o impedirá de exercer o cargo.

Assim como a inelegibilidade, os casos de perda e suspensão dos direitos políticos

estrão elencados na Carta Magna de 1988, o artigo 15 estabelece que: “É vedada a cassação

de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de: I - cancelamento da

naturalização por sentença transitada em julgado; II - incapacidade civil absoluta; III -

condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos; IV - recusa de

cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII; V -

improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.

A evolução dos direitos políticos continua até os dias de hoje, podemos observar

tal evolução através das reformas eleitorais, que nos últimos dois governos ocorreram com

certa frequência, objetivando a melhoria, o equilíbrio e a transparência das nossas eleições,

vejamos no próximo capítulo as principais reformas eleitorais.

3. REFORMAS ELEITORAIS

Neste capítulo, serão expostas as reformas eleitorais ocorridas nos últimos dois

governos presidenciais, Luís Inácio Lula da Silva (2003 a 2011) e Dilma Rousseff (2011 a

26 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional esquematizado. 13. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo:

Saraiva, 2009.

17

2016). Porém, antes de adentrar nas reformas propriamente ditas, importante a diferenciação

entre reforma política e reforma eleitoral, que não podem ser utilizadas como sinônimos.

Reforma política seria um termo mais amplo, utilizado para designar mudanças no

próprio sistema político como um todo, motivado por pressões sociais que não se veem

representadas pelos governantes e clamam por mais participação.

Ao definir reforma política, Frei Sérgio Antônio Gorgen (2016) fala de uma “crise

de representação” que, em suas palavras, “é quando os representados não se sentem mais

representados por seus governantes formais e deixam de acreditar no próprio sistema de

representação, pois sabem antecipadamente que seus anseios e necessidades não estarão sendo

minimamente atendidos”.

Um dos motivos dessa crise de representação advém da influência do poder

econômico em nosso sistema político. Pode-se dizer que os maiores empresários do país estão

no poder, seja como políticos ou como financiadores das campanha dos políticos aliados.

Nestes dois casos, os eleitos não trabalhariam em prol da população e do bem comum, pelo

contrário: desenvolveriam suas ações no sentido de manter os privilégios sempre existentes.

Já a reforma eleitoral, por sua vez, tem um campo de abrangência menor. Ela

busca alterar as regras da campanha para que o pleito possa ocorrer de forma igualitária, sem

que uma parcela da sociedade, em geral os mais ricos, seja beneficiada em detrimento de

outra. Ao tratar dos objetivos das reformas política e eleitoral, Fernando de Lascio (2015)

afirma que:

Enquanto na reforma política o principal objetivo é a inclusão da sociedade nos

processos decisórios das políticas públicas, portanto, a implementação da

democracia participativa, na reforma eleitoral o objetivo geral é aperfeiçoar as

normas de campanha, tais como financiamento de público de campanha, reeleição,

prazos, inelegibilidade, ficha limpa, etc.

Feita esta diferenciação inicial, a seguir serão expostas as principais reformas

eleitorais ocorridas na legislação brasileira entre os anos de 2003 a 2015. Serão abordadas as

principais mudanças como também sua importância para um processo eleitoral limpo e

honesto, cada vez menos sujeito ao poderio econômico.

3.1 – GOVERNO LULA (2003 - 2011)

Durante o governo Lula ocorreu duas minirreformas eleitorais, a Lei 11.300/2006

e a Lei nº 12.034/2009, ambas com o objetivo de trazer melhorias para o nosso sistema

18

eleitoral no tocante à contenção de gastos no período eleitoral, a regularização da publicidade

eleitoral e da prestação de contas dos candidatos.

3.1.1 Minirreforma eleitoral de 2006 (Lei nº 11.300/2006)

Durante os 8 anos de governo Lula, a legislação eleitoral passou por algumas

alterações. Entre elas, citamos as inovações trazidas pela Lei nº 11.300, de 10 de maio de

2006, chamada de "minirreforma eleitoral", o objetivo principal desta lei era conter gastos e o

excesso de recursos publicitários envolvidos nas eleições.

Na parte financeira, podemos falar da responsabilidade solidária do tesoureiro de

campanha, que a partir da Lei de 2006, passou a dividir a responsabilidade da administração

financeira com o candidato. Além disso, devem ser abertas contas durante o período eleitoral,

com a finalidade de apenas movimentar custos da campanha, não devendo ser utilizada

nenhuma outra conta além da exclusiva. 27

A respeito das doações de campanha, a minirreforma trouxe novidades, impondo

que estas somente poderão efetuadas em contas do partido ou do próprio candidato, pessoas

jurídicas não podem fazer doações em dinheiro, devendo transferir ou depositar cheque

cruzado e pessoas físicas podem doar dinheiro em espécie, desde que o depósito seja

identificado da forma correta.

A Lei 11.300/06 ainda trouxe no seu art. 26, um rol de gastos eleitorais que devem

ser feitos registros, gastos com aluguel de bens particulares, montagens de carros de som,

gastos com propaganda e publicidade, entre outros. A coibição das irregularidades aumentou,

diante da possibilidade que a Lei trouxe de cassar o candidato após as eleições, caso este

tenha cometido irregularidades durante o pleito.

Quanto ao marketing de campanha, houve alterações consideráveis. Passou a não

ser mais permitida qualquer meio de propagandas em bens públicos, como permitia a Lei

9504/97; também foi proibida a distribuição de brindes como: bonés, camisas, chaveiros,

entre outros, com o objetivo de coibir a vantagem do candidato. Os conhecidos Showmícios

também foram proibidos. Os outdoors não podem ser utilizados na campanha eleitoral,

sujeitando-se a empresa responsável ou partido a retirada e o pagamento de multa.

27 “Novas regras para as eleições de 2006”. 2006. Disponível em: < https://jus.com.br/artigos/8580/novas-

regras-para-as-eleicoes-de-2006 >. Data de Acesso em: 03 de novembro de 2016.

19

Outra importante mudança foi a proibição de candidatos que possuíam programas

de rádio ou televisão, que a partir da lei devem encerrar suas atividades a partir do resultado

da convenção, que ocorre em junho, como forma de evitar o abuso de poder pela mídia.

Por último, se faz necessária a apresentação de mais uma mudança. O artigo 73 da

Lei 11.300/06, apresentou o seguinte texto que fala da proibição da doação de bens e valores

pela Administração pública: "no ano em que se realizar eleição, fica proibida a distribuição

gratuita de bens, valores ou benefícios por parte da Administração Pública, exceto nos casos

de calamidade pública, de estado de emergência ou de programas sociais autorizados em lei e

já em execução orçamentária no exercício anterior, casos em que o Ministério Público poderá

promover o acompanhamento de sua execução financeira e administrativa."

3.1.1 Minirreforma eleitoral de 2009 (Lei nº 12.034/2009)

A segunda minirreforma eleitoral do governo Lula foi a Lei nº 12.034 de 2009,

que segundo os eu texto, altera as Leis nos 9.096, de 19 de setembro de 1995 - Lei dos

Partidos Políticos, 9.504, de 30 de setembro de 1997, que estabelece normas para as eleições,

e 4.737, de 15 de julho de 1965 – Código eleitoral.

Se faz necessário uma breve análise acerca das mudanças que a Lei trouxe para o

nosso sistema eleitoral, iniciando pela internet, devido a evolução da era tecnológica. A lei

permitiu o uso de redes sociais, sites e blogs, como meio de propaganda eletrônica, permitiu a

doação pela internet através do cartão de crédito e direito de resposta na internet.

No tocante a prestação de contas houve uma “suavização” nas punições, tendo em

vista que o candidato ou partido que não prestar as contas corretamente sofrerá sanção de

forma proporcional, por um a doze meses e não poderá ser aplicada a esta suspensão caso as

contas não tenham sido julgadas depois de cinco anos de sua apresentação, ainda cabendo

recurso em todas as instâncias com efeito suspensivo.

Em relação às campanhas nas ruas, a lei proibiu a propaganda em bens públicos

de uso comum, propriedades comerciais, árvores e jardins de área públicas, cercas. No dia das

eleições estão proibidas as aglomerações e manifestações coletivas com roupas de

propagandas. A lei proibiu os trios elétricos nas carreatas, podendo ser utilizados apenas nos

comícios, sendo permitidas as movimentações de entrega de material de campanha e

caminhadas até às 22 horas do dia anterior ao pleito.

20

As propagandas antecipadas, ou seja, material divulgado antes do dia 5 de julho

do ano eleitoral, serão aplicadas multas aos responsáveis, que vão de cinco mil reais a vinte e

cinco mil reais.

Os candidatos também devem ter cuidado, pois a nova reforma estabeleceu o

prazo de um ano para julgamento definitivo de processo de perda de mandato pela Justiça

Eleitoral. Também é de grande importância a apresentação de propostas por parte dos

candidatos, que são obrigatórias para a validação do registro de candidatura.

3.2 GOVERNO DILMA ROUSSEFF (2011 a 2016)

Foi durante o Governo da Presidenta Dilma Rousseff que a legislação eleitoral

sofreu transformações significativas, sobretudo no que diz respeito à busca pela moralidade e

honestidade dos que concorrem no pleito, como pela procura em acabar, ou no mínimo

diminuir, a influência do poder econômico no resultado das eleições.

3.2.1 Minirreforma eleitoral de 2013 (Lei n.º 12.891/2013)

A primeira minirreforma eleitoral que ocorreu durante o governo de Dilma

Rousseff foi a de 2013. Aprovada por intermédio do Projeto de Lei n.º 441, de 2012 (no

6.397/13 na Câmara dos Deputados), que altera dispositivos da Lei dos Partidos Políticos (Lei

n.º 9.096/95), da Lei das Eleições (Lei n.º 9.504/97) e do Código Eleitoral (Lei n.º 4.737/65),

destacando as inclusões normativas promovidas nas mencionadas leis e as modificações

ocorridas nas regras que se encontravam vigentes. A finalidade da minirreforma eleitoral de

2013 é diminuir os custos das campanhas eleitorais, apresentando aperfeiçoamentos da

legislação eleitoral. 28

Uma das mudanças consideráveis foi o cancelamento de filiação a partido

político, onde para ter o cancelamento imediato da filiação partidária, basta o candidato se

filiar a outro partido, passando a vigorar a filiação do partido mais recente, diferente das

regras anteriores, que exigiam o cancelamento da antiga filiação.

28 "Breves notas sobre a minirreforma eleitoral de 2013”. Justiça Eleitoral. 2014. Disponível em: <

http://www.justicaeleitoral.jus.br/arquivos/tre-ms-artigo-breves-notas-sobre-a-minirreforma-eleitoral-de-2013 >.

Data de acesso: 05 de novembro de 2016.

21

Em relação a ata da convenção, esta deve ser feita e publicada em qualquer meio

de comunicação em até 24 horas após a realização da convenção. E caso não seja obedecida a

norma, o juiz eleitoral pode determinar o seu cumprimento obrigatório.

Antes da minirreforma a substituição de candidatos às eleições majoritárias

poderia ocorrer a qualquer tempo e dos candidatos às eleições proporcionais em até 60 dias

antes do pleito. Porém, o prazo para substituição de candidatos foi estabelecido em 20 dias,

tanto para majoritária quanto para proporcional.

Em relação aos gastos de campanha, 10 % (dez por cento) foram limitados com

alimentação do pessoal que presta serviços às candidaturas e 20% (vinte por cento) ao aluguel

de veículos. Os gastos com a contratação do pessoal em campanha estão expressos pelos

artigos 100-A e 30-A, que estabelecem a contratação direta ou terceirizada para a prestação de

serviços de militância e a contratação está vinculada aos limites impostos aos seus candidatos.

São excluídos dos limites fixados a militância não remunerada, pessoal contratado para apoio

administrativo e operacional, fiscais e delegados credenciados para trabalhar nas eleições e os

advogados dos candidatos ou dos partidos e coligações.

Quanto ao marketing eleitoral, passou a ser proibida a veiculação de propaganda

eleitoral em vias públicas utilizando cavaletes, bonecos e cartazes, sendo permitido apenas o

uso de bandeiras móveis. A minirreforma limitou o tamanho dos adesivos, tendo as

dimensões máximas de 50cm por 40cm, porém, proibiu adesivos em taxis e ônibus.

O marketing sonoro também foi reformado, estabelecendo um limite de volume e

de funcionamento do dia 6 de julho até as eleições, das 8 às 22 horas, com distância nunca

inferior a 200 metros de órgãos públicos e de hospitais, fóruns, escolas, bibliotecas públicas,

igrejas e teatros. O volume máximo permitido para o funcionamento do som é de 80 decibéis

de pressão sonora.

Um importante assunto, tendo em vista a sua atualidade, que a minirreforma

trouxe, foi a possibilidade de manifestação e posicionamento pessoal sobre questões políticas

nas redes sociais antes do período destinado a propaganda eleitoral, em decorrência do direito

fundamental da livre manifestação do pensamento.

Por fim, a nova lei também estabeleceu que a prestação de contas deve ser

realizada mediante escrituração contábil, sendo necessária fiscalização de documentos

contábeis e fiscais apresentados pelo partido, contendo as despesas da campanha eleitoral

como um todo.

22

3.2.2 Minirreforma eleitoral de 2015 (Lei nº 13.165/2015)

A segunda e última minirreforma eleitoral do governo Dilma Rousseff foi a Lei nº

13.165, aprovada em 9 de setembro de 2015, por intermédio do Projeto de Lei nº 5.735/13 na

Câmara dos Deputados e nº 75/15 no Senado Federal, que altera dispositivos da Lei das

Eleições (Lei nº 9.504/97), da Lei dos Partidos Políticos (Lei nº 9.096/95) e do Código

Eleitoral (Lei nº 4.737/65), destacando as inclusões normativas promovidas nas mencionadas

leis e as modificações ocorridas nas regras que se encontravam vigentes. A finalidade da lei

estudada é reduzir os custos das campanhas eleitorais (a mesma atribuída à minirreforma

anterior, implementada pela Lei nº 12.891/2013), simplificar a administração dos partidos

políticos e incentivar a participação feminina.29

O presente estudo trará uma breve análise das novidades mais relevantes que a lei

trouxe. Inicialmente se faz necessário abordar as mudanças na cassação do registro, que com a

nova lei as decisões dos Tribunais Regionais acerca das ações que tenham como objeto a

cassação de registro, anulação geral de eleições ou perna de diplomas, deverão ser tomadas

mediante a presença de todos os juízes integrantes; segundo o Art. 257, §2º da Lei 13.165/15,

os recursos das respectivas ações serão recebidos pelo tribunal competente com efeito

suspensivo. 30

No tocante ao registro de candidatura, alterações foram feitas no prazo para o

candidato dar entrada no registro de candidato a cargo eletivo, passando a ser até o dia 15 de

agosto do ano das eleições, alterando o prazo anterior que era de até 90 (noventa) dias antes

do pleito. Já o prazo para julgamento dos registros era de setenta dias antes do pleito, sendo

alterado para até 20 dias antes do pleito.

As convenções partidárias que têm como objetivo a escolha de candidatos nas

eleições majoritária e proporcional, são abordadas na nova lei e o seu prazo para realização

deverá ser entre os dias 20 de julho a 05 de agosto do ano do pleito.

A Reforma Eleitoral de 2015 também trouxe novas regras para os candidatos

eleitos nas eleições proporcionais, ou seja, vereador, deputado federal, deputado estadual e

29 "Breves notas sobre a minirreforma eleitoral de 2015”. Justiça Eleitoral. 2015. Disponível em: <

http://www.justicaeleitoral.jus.br/arquivos/tre-ms-breves-notas-sobre-a-minirreforma-eleitoral-de-2015-

1449677024470 >. Data de acesso: 06 de novembro de 2016. 30 "Série Reforma Eleitoral 2015: conheça os principais pontos alterados no Código Eleitoral”. Tribunal

Superior Eleitoral. 2015. Disponível em: < http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2015/Outubro/serie-

reforma-eleitoral-2015-conheca-os-principais-pontos-alterados-no-codigo-eleitoral >. Data de acesso: 06 de

novembro de 2016.

23

deputado distrital, estabelecendo que serão eleitos apenas os candidatos que tenham obtido

um número igual ou superior a 10% do quociente eleitoral.

Outro importante avanço que a minirreforma trouxe para os nossos direitos

políticos é a ampliação do voto em trânsito. A partir de agora o código eleitoral assegura que

o eleitor que estiver dentro do estado em que vota poderá votar para diversos cargos políticos

em cidades com mais de 100 mil eleitores. Os militares também poderão votar na

circunscrição em que estiverem laborando, mesmo que não seja no seu domicílio eleitoral.

A Lei 13.165 de 2015 trouxe diversas outras novidades e alterações do nosso

sistema eleitoral, porém, como apresentado no início do tópico, o objetivo deste capítulo é

fazer apenas uma breve análise das reformas eleitorais em um contexto evolutivo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os direitos políticos fazem parte da terceira geração dos direitos fundamentais,

sendo de grande importância para garantir ao povo a sua soberania e participação direta ou

indireta da administração do Estado. Porém, os direitos políticos surgiram sob uma égide

diferente dos dias de hoje, sofrendo forte influência das classes dominantes.

Observa-se esta tendência ao analisar que os primeiros códigos restringiam o

direito de votar e ser votado, estabelecendo condições para o exercício da cidadania, baseados

no poder e status econômico da população, ás questões relacionadas ao gênero e idade do

indivíduo.

Acompanhando a evolução das questões sociais e luta pelos direitos

fundamentais, os direitos políticos passaram a fazer parte de um contexto mais igualitário.

Embora a realidade atual seja bastante diferente do que existia na época do seu surgimento,

sobretudo no que diz respeito a amplitude dos direitos, que hoje podem ser exercidos por

homens e mulheres, pobres e ricos, observadas as disposições legais e constitucionais, não

podemos deixar de admitir que violações ainda existem, sobretudo no que diz respeito ao

abuso do direito econômico.

Sob esses aspectos, surgiu a necessidade de leis com a finalidade de reformar o

nosso sistema eleitoral, tornando o pleito mais igualitário entre os candidatos e abolindo o

máximo possível a autopromoção dos candidatos que através do poder econômico e político.

Apesar das minirreformas eleitorais e dos avanços que estas trouxeram, o país necessita de

uma reforma política incisiva, que traga mudanças significativas para o nosso sistema político

e eleitoral, consequentemente possibilitando um maior desenvolvimento do país.

24

REFERÊNCIAS

Apud ARRUDA, Marcos. CALDEIRA, Cesar. Como Surgiram as Constituições

Brasileiras. Rio de Janeiro: FASE (Federação de Órgãos para Assistência Social e

educacional). Projeto Educação Popular para a Constituinte, 1986.

ARAUJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Curso de direito

constitucional. 11. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007.

ARAÚJO, Luiz Aberto David. Curso de Direito Constitucional. Editora Saraiva. 10ª

Edição. 2006. pg. 239.

ARRUDA, José Jobson de A.; PILLETI, Nelson. Toda a História: História Geral e

História do Brasil, 2001. 11ª edição. São Paulo: Ática.

BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. São Paulo: Malheiros, 1993.

BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 22 ed. São Paulo: Malheiros

Editores Ltda.

BONAVIDES, Paulo. A evolução constitucional do Brasil. Estudos Avançados, São Paulo,

v. 14, n. 40, p.155-176, 2000.

BRASIL. "As Constituições do Brasil". Supremo Tribunal Federal, Brasília, Out. 2008.

Disponível em:

<http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=97174>. Data de

acesso: 25 de outubro de 2016.

BRASIL. Constituição Política do Império do Brazil. Secretaria de Estado dos Negocios do

Imperio do Brazil a fls. 17 do Liv. 4º de Leis, Alvarás e Cartas Imperiaes: Rio de Janeiro,

1824. Disponível

em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao24.htm%3E>. Acesso

em: 01 de novembro de 2016.

CANÊDO, Letícia Bicalho. Aprendendo a votar in: PINSKY, Jaime e PINSKY, Carla

Bassanezi (orgs.) História da Cidadania. São Paulo: Contexto, 2008.

FAORO, Raymundo. Os donos do poder. Formação do patronato político brasileiro. 3ª ed.

São Paulo: Globo, 2001.

FAUSTO, Boris. O Brasil republicano, v. 10: sociedade e política (1930-1964) – 9ª edição

– Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2007, página 22.

FERREIRA, Manoel Rodrigues, A evolução do sistema eleitoral brasileiro. 2ª ed. Tribunal

Superior Eleitoral, 2005.

25

GORGEN, Frei Sérgio Antônio. Crise no sistema político. In: Plataforma pela Reforma do

Sistema Político. 2016. Disponível

em: http://www.reformapolitica.org.br/noticias/artigos/1838-crise-no-sistema-politico.html.

Acesso em 08/11/2016.

LASCIO, Fernando de. Reforma Política X Reforma Eleitoral. Fevereiro, 2015. Disponível

em: <http://www.qualicidade.org.br/blog-do-cidadao-independente/reforma-politica-x-

reforma-eleitoral/>. Acesso em 06/11/2016

LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional esquematizado. 13. ed. rev. atual. e ampl.

São Paulo: Saraiva, 2009.

LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional esquematizado. 18. ed. rev. atual. e ampl.

São Paulo: Saraiva, 2014.

LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 7 ed. São Paulo: Método, 2004.

MAGALHÃES, José Luiz Quadros de. Direitos humanos na ordem jurídica interna. 1a.ed.

Belo Horizonte: Interlivros Jurídica de Minas Gerais Editora, 1992. 295p.

MIRANDA, de Pontes. Comentários à constituição de 1967. 2ª ed. São Paulo, Revista dos

Tribunais, 1967.

MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: Teoria Geral. 4ªed. São Paulo:

Atlas, 2002.

MOTTA FILHO, Sylvio Clemente. Direito constitucional: teoria, jurisprudência e

questões. 20. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.

PORTO, Walter Costa. O voto no Brasil. Da Colônia à 6ª República. 2ª ed. Rio de Janeiro:

Topbooks Editora, 2002.

SILVA, José Alfonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. Editora Malheiros. 23º

Edição. 2004. página 344.

SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 23. ed. São Paulo:

Malheiros, 2006.

SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 18. ed. São Paulo:

Malheiros: 2000.

“Conheça a história do voto”. Disponível em:

<http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/93439-CONHECA-A-HISTORIA-DO-

VOTO-NO-BRASIL.html>. Acesso em 06/10/2016.

“Década de 30: surgem os votos secretos e feminino”. Disponível em:

<http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/POLITICA/93438-DECADA-DE-30:-

SURGEM-OS-VOTOS-SECRETO-E-FEMININO.html >. Acesso em 10/10/2016.

26

“Anos 60 e 70: ditadura e bipartidarismo”. Disponível em: <

http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/NAO-INFORMADO/126747-ANOS-60-

E-70-DITADURA-E-BIPARTIDARISMO-.html >. Acesso em 13/10/2016.

“Década de 80: ad diretas já”. Disponível em: <

http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/POLITICA/93436-DECADA-DE-80:-AS-

DIRETAS-JA.html >. Acesso em 13/10/2016.

“Década de 90: avanços no sistema eleitoral”. Disponível em: <

http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/POLITICA/93435-DECADA-DE-90-

AVANCOS-NO-SISTEMA-ELEITORAL.html >. Acesso em 16/10/2016.

"História da Eleições. Do final da Velha República a biometria”. Justiça Eleitoral. 2013.

Disponível em: < http://www.justicaeleitoral.jus.br/arquivos/do-final-da-velha-republica-a-

biometria-roteiros-eje >. Data de acesso: 25 de outubro de 2016.

"Primeiro Código Eleitoral do Brasil completa 81 anos”. Tribunal Superior Eleitoral.

2013. Disponível em: < http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2013/Fevereiro/primeiro-

codigo-eleitoral-do-brasil-completa-81-anos >. Data de acesso: 30 de outubro de 2016.

“Código Eleitoral completa 50 anos nesta quarta feira”. Tribunal Superior Eleitoral. 2015.

Disponível em: < http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2015/Julho/codigo-eleitoral-

completa-50-anos-nesta-quarta-feira-15 >. Data de Acesso em: 01 de novembro de 2016.

“Novas regras para as eleições de 2006”. 2006. Disponível em: <

https://jus.com.br/artigos/8580/novas-regras-para-as-eleicoes-de-2006 >. Data de Acesso em:

03 de novembro de 2016.

"Breves notas sobre a minirreforma eleitoral de 2013”. Justiça Eleitoral. 2014. Disponível

em: < http://www.justicaeleitoral.jus.br/arquivos/tre-ms-artigo-breves-notas-sobre-a-

minirreforma-eleitoral-de-2013 >. Data de acesso: 30 de outubro de 2016.

"Série Reforma Eleitoral 2015: conheça os principais pontos alterados no Código

Eleitoral”. Tribunal Superior Eleitoral. 2015. Disponível em: <

http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2015/Outubro/serie-reforma-eleitoral-2015-

conheca-os-principais-pontos-alterados-no-codigo-eleitoral >. Data de acesso: 06 de

novembro de 2016.

"Breves notas sobre a minirreforma eleitoral de 2015”. Justiça Eleitoral. 2015. Disponível

em: < http://www.justicaeleitoral.jus.br/arquivos/tre-ms-breves-notas-sobre-a-minirreforma-

eleitoral-de-2015-1449677024470 >. Data de acesso: 06 de novembro de 2016.

"Mudanças da legislação eleitoral ”. 2009. Disponível em: <

http://adrianosoaresdacosta.blogspot.com.br/2009/07/mudancas-na-legislacao-eleitoral.html

>. Data de acesso: 08 de novembro de 2016.