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III CONGRESSO PORTUGUÊS DE SOCIOLOGIA A. Estado, Poderes e Sociedade B. Estruturas Produtivas, Trabalho e Profissões C. Educação e Desenvolvimento D. Território, Ambiente e Dinâmicas Regionais e Locais E. Cultura, Comunicação e Transformação dos Saberes F. Família, Género e Afectos G. Teorias, Modelos e Metodologias Sessões Plenárias Algumas considerações teórico-metodológicas sobre o fenómeno da violência na família Isabel Dias Considerações iniciais A violência na família constitui um fenómeno social global de longa data que, em tempos mais recentes, tem vindo a conhecer proporções quase epidémicas. Nos nossos dias, este fenómeno é alvo de maior atenção do que em qualquer outro período da sociedade ocidental, o que não significa que constitua um fenómeno novo. Contrariamente, e de acordo com Richard Gelles, a violência tem sido uma parte constitutiva da família ao longo da sua história quer nos Estados Unidos, quer na Europa, quer na maior parte dos países e sociedades do globo. [1] Também, as diversas disciplinas científicas não têm permanecido estranhas a este fenómeno de tal modo que as crises e conflitos que ocorrem no âmbito do grupo familiar não constituem uma surpresa para a análise social nem tão-pouco para as disciplinas psicológicas (...) pelo contrário, tal como para a realidade social envolvente, fornecem a matéria-prima desse processo complexo que é a constituição social da família. [2] Desde tempos muito longínquos que alguns membros da família são alvo de todo o tipo de comportamentos agressivos. As crianças e as mulheres, por exemplo, têm sido vítimas de inarráveis crueldades. A história da violência sobre as crianças data dos tempos bíblicos [3] e nas sociedades do Antigo Regime o sentimento e o conceito de infância[4] era praticamente inexistente, sendo o infanticídio uma prática social que, em colaboração com outros factores, contribuía para a desvastação da população infantil. [5] As mulheres situam-se, igualmente, no grupo das pessoas historicamente mais agredidas no seio da família. Estas agressões são, geralmente, praticadas pelos maridos/ex-maridos ou pelos namorados/companheiros, sendo socialmente reconhecidas como legítimas. Os idosos, hoje, engrossam o contingente dos grupos sociais afectados pela violência doméstica, sendo que as diversas formas de agressão que experimentam reforçam o conjunto das condições do mal-viver anciãodos nossos dias. [6] Actualmente existe uma maior preocupação com os membros da família mais frágeis e com menos poder, o que não impede que continuem a ser alvo de negligência, agressões físicas, psicológicas, afectivas e outros abusos cometidos no seio da sua própria família e por outros familiares exteriores a esse núcleo. A opinião pública, em geral, os políticos e os cientistas, em particular, dedicam a este fenómeno cada vez mais atenção, o que reflecte uma maior consciencialização acerca dos seus efeitos e consequências ao nível da sociedade, dos indivíduos e das famílias onde ela ocorre. A família privada dos nossos dias, dotada de uma dimensão expressiva e encarada como um espaço privado e particular dos afectos é, também, uma família atravessada por conflitos e tensões que, em extremo, podem conduzir à violência. A família das sociedades modernas torna-se, assim, ambivalentepodendo surgir, simultaneamente, como lugar de realização e expressão dos direitos individuais, mas também como lugar crucial de opressão dos seus membros. [7] Ora, é precisamente, este carácter paradoxalda família moderna que pretendemos problematizar na presente comunicação. Pretendemos, igualmente, reflectir e lançar algumas pistas de análise sobre o fenómeno da violência na família, reflexão que se integra no âmbito de um trabalho de investigação, ainda, na sua fase inicial de elaboração. file:///E|/f/f108.htm (1 of 8) [17-10-2008 17:17:19]

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III CONGRESSO PORTUGUÊS DE SOCIOLOGIA

A. Estado, Poderes e Sociedade B. Estruturas Produtivas, Trabalho e Profissões C. Educação e Desenvolvimento D. Território, Ambiente e Dinâmicas Regionais e Locais

E. Cultura, Comunicação e Transformação dos Saberes F. Família, Género e Afectos G. Teorias, Modelos e Metodologias Sessões Plenárias

Algumas considerações teórico-metodológicas sobre o fenómeno da violência na famíliaIsabel Dias

Considerações iniciais

A violência na família constitui um fenómeno social global de longa data que, em tempos mais recentes, tem vindo a conhecer proporções quase epidémicas. Nos nossos dias, este fenómeno é alvo de maior atenção do que em qualquer outro período da sociedade ocidental, o que não significa que constitua um “fenómeno novo”. Contrariamente, e de acordo com Richard Gelles, “a violência tem sido uma parte constitutiva da família ao longo da sua história quer nos Estados Unidos, quer na Europa, quer na maior parte dos países e sociedades do globo”.[1] Também, as diversas disciplinas científicas não têm permanecido estranhas a este fenómeno de tal modo que “as crises e conflitos que ocorrem no âmbito do grupo familiar não constituem uma surpresa para a análise social nem tão-pouco para as disciplinas psicológicas (...) pelo contrário, tal como para a realidade social envolvente, fornecem a matéria-prima desse processo complexo que é a constituição social da família”.[2]Desde tempos muito longínquos que alguns membros da família são alvo de todo o tipo de comportamentos agressivos. As crianças e as mulheres, por exemplo, têm sido vítimas de inarráveis crueldades. A história da violência sobre as crianças data dos tempos bíblicos[3] e nas sociedades do Antigo Regime o sentimento e o conceito de “infância”[4] era praticamente inexistente, sendo o infanticídio uma prática social que, em colaboração com outros factores, contribuía para a “desvastação da população infantil”.[5] As mulheres situam-se, igualmente, no grupo das pessoas historicamente mais agredidas no seio da família. Estas agressões são, geralmente, praticadas pelos maridos/ex-maridos ou pelos namorados/companheiros, sendo socialmente reconhecidas como legítimas. Os idosos, hoje, engrossam o contingente dos grupos sociais afectados pela violência doméstica, sendo que as diversas formas de agressão que experimentam reforçam “o conjunto das condições do mal-viver ancião” dos nossos dias.[6]Actualmente existe uma maior preocupação com os membros da família mais frágeis e com menos poder, o que não impede que continuem a ser alvo de negligência, agressões físicas, psicológicas, afectivas e outros abusos cometidos no seio da sua própria família e por outros familiares exteriores a esse núcleo. A opinião pública, em geral, os políticos e os cientistas, em particular, dedicam a este fenómeno cada vez mais atenção, o que reflecte uma maior consciencialização acerca dos seus efeitos e consequências ao nível da sociedade, dos indivíduos e das famílias onde ela ocorre. A família privada dos nossos dias, dotada de uma dimensão expressiva e encarada como um espaço privado e particular dos afectos é, também, uma família atravessada por conflitos e tensões que, em extremo, podem conduzir à violência. A família das sociedades modernas torna-se, assim, “ambivalente” podendo surgir, simultaneamente, como lugar de realização e expressão dos direitos individuais, mas também como lugar crucial de opressão dos seus membros.[7] Ora, é precisamente, este carácter “paradoxal” da família moderna que pretendemos problematizar na presente comunicação. Pretendemos, igualmente, reflectir e lançar algumas pistas de análise sobre o fenómeno da violência na família, reflexão que se integra no âmbito de um trabalho de investigação, ainda, na sua fase inicial de elaboração.

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A (des)construção de alguns mitos sobre a família

Sendo um espaço no seio do qual se experienciam os acontecimentos fundamentais da vida humana a família é, também, um lugar a partir do qual se constroem arquétipos, modelos e “mitos” sobre a realidade social e familiar. Modelos que correspondem a uma determinada visão do mundo e da família e que reflectem interesses éticos, políticos e materiais muito diversificados. Não é de estranhar, por isso, que ao lado das “imagens contemporâneas da família —refúgio, da família lugar de intimidade e de afectividade, espaço de autenticidade, arquétipo de solidariedade e da privacidade, coabitem as imagens da família como lugar de inautenticidade, de opressão, de obrigação, de egoísmo exclusivo, de família como geradora de violência — a família que mata”.[8].São imagens como estas que povoam o imaginário colectivo e que têm incidências no plano das práticas sociais e familiares. Se, por um lado, a família dos nossos dias assume a realização afectiva e pessoal dos seus membros, a autonomia, a partilha das tarefas, a igualdade na divisão do trabalho e elevados níveis de comunicação conjugal e intergeracional como dimensões essenciais à sua organização e funcionamento, por outro lado, ela não está, completamente, desprovida de certos traços da família “tradicional”, nomeadamente a distância, o autoritarismo e diversas formas de agressão exercidas pelos membros da família que, num determinado momento, possuem o poder de orientação das interacções familiares.[9]Se as transformações dos processos económicos (que se reflectiram na crescente racionalização das empresas com vista à maximização dos lucros, levando ao colapso das formas tradicionais de trabalho familiar, que consistia na prática de um ofício comum), e dos processos sociais (que transformaram os modos de reprodução, que passaram a estar ligados ao crescimento do papel do Estado na transmissão do poder e dos privilégios), a par do declínio das sociabilidades públicas e da busca da intimidade estão ligadas ao “novo sentido” da família que desde o século XVIII caminha para a sua privatização; a violência que persiste nalgumas famílias mostra-nos que a família moderna ainda pode ser um lugar de sujeição e um lugar de exercício do poder, sobretudo, para alguns dos seus membros.[10] E, se é na família que o indivíduo pode desfrutar de liberdade, se é nela que ele está a salvo dos olhares dos outros é, também, na família privada e intimista que se pode atentar, tal como refere António Teixeira Fernandes, contra “os direitos humanos”. Neste sentido, afirma:“Uma parte considerável dos atentados aos direitos humanos, nas sociedades democráticas, ou são ignorados ou mal conhecidos. No caso particular da família, confinam-se frequentemente ao lar. São os próprios cônjuges que fogem à publicidade, em defesa da sua respeitabilidade. São as crianças que se mostram incapazes de fazerem valer os seus direitos, sem outra alternativa senão o suportarem os maus-tratos. É a velhice desvalida, não menos que a infância, desejosa de protecção que se acomoda à agressividade ou ao abandono a que é votada”.[11]Foi, de facto, para o bem e para o mal que o homem do século XX se recolheu na família. O carácter privado da família moderna torna o fenómeno da violência pouco visível, e tem conduzido a uma certa inibição por parte das instituições públicas e privadas em intervirem em situações de violência doméstica. Inibição que está, profundamente, enraizada numa imagem cultural de “família normal”, mas também numa certa relutância em quebrar a privacidade conquistada. A invisibilidade deste fenómeno é, ainda, reforçada pela divisão estrutural entre domínio público e espaço privado familiar, o que tem contribuído para a difusão e perpetuação de uma concepção da família moderna como uma família “não-violenta”. E esta concepção constitui, talvez, um dos maiores mitos sobre a família contemporânea.Se, por um lado, persiste, em termos de imaginário colectivo, o ideal de uma família feliz, “harmoniosa” por outro lado, a realidade familiar pode ser atravessada por tensões e conflitos que comprometem, grandemente, esse ideal.[12] A família faz parte de uma realidade em mudança mas é, também, ela própria agente e protagonista da mudança social. E o que hoje persiste como “ideal” em termos de família começa a sofrer a concorrência de novas modalidades de organização conjugal e familiar, o que torna a análise deste fenómeno ainda mais complexa.Com estas reflexões acerca da família moderna e privatizada, dos nossos dias, não queremos negar a evidência da sua mutação histórica, demográfica e sociológica. De facto, a família “tradicional” existia num contexto social altamente violento em que a “violência era essencialmente colectiva” e tinha continuidade no meio doméstico.[13] O século XVIII anuncia a emergência de uma família mais intimista e humanizada que, no entanto, não se consegue libertar, totalmente, de alguns traços do passado.Perante o carácter “ambivalente” da família dos nossos tempos pretendemos, entre outros objectivos, analisar o modo como ela é geradora de comportamentos e atitudes que podem assumir a forma de violência física, simbólica e psicológica sobre os seus membros. Os factos históricos

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mostram-nos que o fenómeno da violência na família não é novo e que, provavelmente, as famílias de hoje não são mais violentas, ou talvez sejam menos violentas, do que as dos nossos antepassados. A preocupação central reside em perceber se a família moderna é uma “família violenta” e se a violência entre os membros da família moderna é, provavelmente, tão comum como a dimensão expressiva. Este constitui um dos principais problemas de partida para a nossa pesquisa.

Algumas notas sobre o estado actual dos conhecimentos: o conceito de violência na família

O estudo da violência na família gera fortes sentimentos e controvérsias quando o investigador se depara, simultaneamente, com as práticas e expressões de violência e com os modelos de análise existentes. A pouca visibilidade deste fenómeno social, a par da ausência de dados sistemáticos e de poucos estudos teórico/empíricos torna a abordagem da violência na família pouco acessível[14] O que é reforçado pela existência de obstáculos epistemológicos, metodológicos, resistências de ordem pessoal e de certas subjectividades inerentes ao facto de se tentar apreender dimensões profundas da realidade individual e familiar. A violência na família é um fenómeno complexo, multifacetado e global que exige, por isso, o recurso a abordagens teóricas e metodológicas interdisciplinares.As primeiras conceptualizações sobre a violência na família concentravam-se nas agressões e abusos cometidos sobre as crianças. No início dos anos 60 passou-se, rapidamente, do “síndroma da criança batida” para integrar outras formas de maus-tratos, nomeadamente a negligência. Nos anos 70 e 80 a análise deste fenómeno passou a considerar o estudo das agressões brutais experimentadas pelas mulheres nos seus lares, bem como as causas e as consequências dos abusos sexuais. Até meados dos anos 70 o abuso sobre mulheres não era encarado como um problema social. O movimento das mulheres, em geral, e as Feministas, em particular, vieram chamar a atenção da opinião pública para o largo espectro da vitimização da mulher. Doravante, a sua condição na família e na sociedade começa a ser largamente discutida por grupos de mulheres que, quase “acidentalmente”, descobrem que têm um problema em comum — a violência que experimentam nas suas próprias famílias.[15] Este assunto “acidentalmente” descoberto permitiu a muitas mulheres perceberem que a violência não era um problema individual, que afinal não mereciam ser alvo de agressões nem tão pouco deviam reforçar a sua vitimização, mas que era um problema que conhecia grandes proporções na família dos nossos tempos.A divisão estrutural entre a esfera da vida pública e a da vida familiar privada veio, de acordo com a Sociologia Feminista reforçar a visibilidade daquele espaço social e a invisibilidade das relações familiares.[16] Tal divisão tornou a família moderna num espaço crucial e particular de opressão da mulher uma vez que, legitimando a natural divisão sexual do trabalho, passou a excluí-la da possibilidade de participação na vida activa. A partir de então, desenvolve-se toda uma literatura dedicada ao “síndroma da mulher batida” associada, em grande parte, à vitimilogia feminista[17] que passa a encarar a família moderna como uma “instituição anti-social” na medida em que privacidade significa, para a mulher, isolamento social e invisibilidade das situações de opressão.[18]À medida que a violência na família se foi transformando, cada vez mais, em objecto de investigação científica novas conceptualizações foram surgindo e, hoje, podemos identificar várias abordagens teóricas deste fenómeno.[19] Como, por exemplo, a teoria dos sistemas, que encarando a violência como um produto do sistema (social e familiar), preocupa-se em descrever os processos que levam ao uso dessa violência nas interacções familiares e em explicar a forma como ela é gerida e estabilizada; a teoria dos recursos, que insiste que o capital de recursos detido por alguns membros da família os dota de um certo poder e legitima o uso da força e da violência; a perspectiva ecológica, que considera que o problema da violência na família deve compreender-se como resultado de múltiplos factores e de distintos níveis ecológicos, nomeadamente o nível individual, o nível das relações familiares e o das transacções familiares com sistemas extrafamiliares e outras variáveis culturais que reforçam e legitimam a violência; a teoria sociobiológica, que explica a violência na família (sobretudo a infligida pelo homem sobre a mulher e filhos) como reflexo da própria luta pela reprodução; e a teoria da troca e do controlo social, que propõe que se interprete os abusos e agressões cometidos sobre alguns membros da família como sendo governados pelo princípio dos custos e recompensas. Ou seja, de acordo com este modelo, a violência é utilizada quando as recompensas que daí advêm são superiores aos custos.A diversidade destes modelos teóricos mostra-nos que não existe uma teoria dominante, nem um corpo de dados exaustivo que nos permita encontrar soluções definitivas de prevenção e tratamento da violência doméstica. Por isso, são também vários os problemas deixados em aberto por estas

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abordagens. E aqui, estamos já a entrar no domínio das suas limitações. De qualquer forma, pensamos que o modelo ecológico é teórica e metodologicamente relevante na medida em que nos permite uma compreensão e explicação da violência no contexto mais amplo da família, da comunidade e da sociedade, isto é, trata-se de um modelo de análise que considera simultaneamente os diversos sistemas implicados neste fenómeno.Por esta razão, é um modelo que trabalha analiticamente com variáveis individuais, por exemplo, as características da personalidade dos cônjuges, dos pais; a ausência de certas qualidades, como o fraco autocontrolo da agressividade, a falta de disciplina e de capacidade de resolução dos problemas; a frequência de certos comportamentos aditivos; e elevadas expectativas face ao cônjuge e aos filhos. Em relação às crianças, certas variáveis relevantes são a deficiência física ou mental, a hiperactividade, os problemas de disciplina, de impulsividade e de agressividade. Recorre-se também a variáveis familiares ( por exemplo, as estratégias de controlo parental como a educação dos filhos, a disciplina com recurso à agressão física e psicológica, o controlo punitivo, a influência das interacções violentas entre pais e filhos e a existência de círculos coercitivos, as tensões conjugais e a insatisfação matrimonial) e a variáveis do sistema social, cabendo aqui, o nível de stress global experimentado pela família e provocado por situações como o desemprego, o isolamento social, a exclusão social, a valorização do projecto profissional em detrimento do projecto familiar e as relações da família com sistemas extrafamiliares, como o acesso à educação, à saúde, aos sistemas de apoio socioeconómico.[20]Tais abordagens sugerem-nos que houve, também, uma certa evolução do próprio conceito de violência na família. O que não significa que a definição do seu sentido seja uma questão pacífica e consensual. Pelo contrário, são muitas as controvérsias à volta do significado deste conceito e, tal como salientam Nelson Lourenço e Manuel Lisboa, “(...) vive-se num tempo social em que a noção de violência tem sido alargada e extensiva a actos e situações que historicamente, mesmo em épocas recentes, não eram considerados violentos”.[21]Inicialmente o fenómeno da violência na família não era identificado como um problema holístico, e este termo era aplicado a um conceito vago de maus tratos que incluía fazer mal mas não, necessariamente, actos fisicamente violentos.[22] A violência pode ser definida como um acto desenvolvido com a intenção de, ou percebido como tendo a intenção de fisicamente magoar outra pessoa.[23] Mas esta é uma definição básica de violência que tanto tem em consideração o seu carácter instrumental (caso da violência exercida com vista a alcançar certos fins como a obediência e a disciplina), como o seu carácter expressivo (v.g. a violência exercida sobre o cônjuge, motivada pelo ciúme e que em extremo pode conduzir ao homicídio), mas que deixa de lado outras manifestações de violência.Nesta linha, pensamos que, actualmente, o termo violência deve ser encarado no seu duplo aspecto activo e passivo e nas suas múltiplas manifestações cobrindo desde a agressão física, emocional, psicológica, simbólica, sexual, até à violência situada numa perspectiva macrossocial e que é experimentada pelas dificuldades de acesso à saúde, ao emprego, à educação, e à cultura.[24] Paralelamente, devemos precisar o seu significado não apenas na natureza e tipo de agressão cometida, mas também no “agente agressor e nos efeitos de quem a sofre” — o indivíduo e respectiva família.[25] A violência é um comportamento que assumindo diversas manifestações, acaba por ser extensiva a todos os membros da família. Por isso, mais pertinente do que falar, por exemplo, em “síndroma da criança batida” ou “síndroma da mulher batida” será heuristicamente enriquecedor falarmos de “síndroma da violência na família”, o que implica uma nova orientação metodológica, que consiste em assumir a “família” como unidade principal de análise e não apenas os seus membros. Trata-se, por isso, de um fenómeno que não afecta um único grupo de pessoas, um único sexo, uma única faixa etária ou classe social. O problema não reside tanto em conhecer quem na família é mais vitimizado, mas se vivemos numa família e em lares violentos. Desta forma, pensamos não se perder a natureza holística, multifacetada e transversal deste fenómeno.Paralelamente, certos fenómenos como o alcoolismo, a toxicodependência, a exclusão social, o stress causado pelo desemprego mas também pelo emprego e pelo investimento na carreira profissional, sem serem fenómenos novos, dão uma tonalidade particular a este problema.Nos nossos dias, e tal como sucede com a toxicodependência, nenhuma família está imune à violência. Parece que hoje o amor que os membros da família sentem entre si já não é suficiente para evitar as agressões que se podem gerar no seio do grupo doméstico. O amor e o ódio continuam a coexistir na família moderna e nem sempre se consegue o equilíbrio entre estas duas dimensões. Ora, permanecem, ainda, algumas questões em aberto, nomeadamente o que podemos fazer? Como penetrar no mundo privado da família? Como prevenir as situações de violência doméstica? Como quebrar o ciclo de violência na família?

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Tratam-se de questões que nos remetem, entre outros planos, para o domínio dos problemas metodológicos suscitados pelo estudo da violência na família.

Alguns problemas metodológicos

O estudo da violência na família suscita problemas metodológicos acrescidos. A sua natureza privada e retrospectiva levanta dificuldades de validade e fiabilidade dos dados recolhidos. Trata-se de um fenómeno cuja observação directa é, praticamente, impossível pelo que o seu acesso é, quase sempre, mediatizado. Ou seja, o investigador tem acesso à informação ora através da própria vítima da agressão, ora através de testemunhas e de informantes privilegiados, ora através das instituições/organismos que proporcionam apoio/protecção às vítimas.São vários os problemas que o investigador deve equacionar quando parte para o terreno. Desde o problema da coexistência de crenças e de valores comuns, que levam os entrevistados a redefinirem as situações de violência minimizando a severidade de certos actos, com vista a darem uma imagem de si e da sua família conforme com a normalidade social; ao problema da capacidade do entrevistado ser capaz de recordar com rigor os factos mas também o contexto de violência e as emoções que contornam os acontecimentos; ou ao problema ligado à tendência para a informação ser, geralmente, recolhida a partir da perspectiva da mulher/esposa; passando pela questão de definição inadequada dos conceitos utilizados e pela utilização de amostras pouco rigorosas, ou ainda pelo problema da confusão entre as correlações e as causas deste fenómeno.Paralelamente, os entrevistados possuem diferentes percepções sobre o que é um acto violento e, por isso, uma agressão brutal pode ser minimizada com vista, por exemplo, à validação da afectividade que se continua a sentir pelo agressor. Também, a percepção deste fenómeno pode ser relativizada na ausência, por morte, dos membros da família que eram violentos passando, doravante, a serem vistos como carinhosos. Ao mesmo tempo, a morte destas pessoas pode levar outros membros da família a falarem livremente sobre a violência praticada por aqueles. Por outro lado, a abordagem deste fenómeno, centrada no testemunho exclusivo das mulheres/esposas agredidas, deixa de lado o fenómeno da violência sobre os homens (“husband abused”). Vários homens sentem-se, hoje, vítimas de diversas formas de agressão, nomeadamente são alvo de hostilidade, de injúrias, de agressão afectiva, psicológica e simbólica, de manipulação e assédio sexual. Em extremo são vítimas de homicídio.[26] Pelo que é necessário, para a análise da violência doméstica, ter em consideração as diferentes percepções dos parceiros envolvidos na relação, mas também dos restantes membros da família.A violência é um fenómeno social que afecta muitas famílias portuguesas, embora não existam dados estatísticos rigorosos que nos permitam fazer esta afirmação com segurança. Em Portugal, as estatísticas da justiça são, praticamente, omissas face a este tipo de crimes e agressões, levantando grandes dificuldades à análise da sua ocorrência não permitindo, ao mesmo tempo, o estabelecimento de relações entre as variáveis mais utilizadas (as mais comuns são o sexo da vítima, tipo de agressão, relação da vítima com o agressor).[27] Por outro lado, na maior parte das instituições que lidam com as diversas manifestações de violência na família, existe uma grande falta de sistematização da informação. Isto acontece quer nos Hospitais e respectivos Serviços de Urgência, quer nos organismos policiais, que ora não registam os pedidos de auxílio sobre violência doméstica, ora estes apelos não resultam, sequer, na apresentação de uma queixa formal por parte das vítimas quer, ainda, nos Tribunais de Família, que apenas podem trabalhar os instrumentos de prova e as queixas apresentadas.Ao mesmo tempo, começam a proliferar, um pouco por toda a parte, as Organizações Não Governamentais que reflectem a necessidade de se intervir neste domínio, e de se proporcionar mecanismos de apoio e protecção aos membros da família mais afectados pela violência.[28] Tais iniciativas ilustram quer uma certa vontade política, que não mais pode permanecer alheia a este problema, quer uma necessidade colectiva de intervenção em situações de violência doméstica, que para além de afectarem física, intelectual e emocionalmente os indivíduos têm consequências negativas para a família e para a própria sociedade. A violência na família nunca é, por isso, inconsequente.A complexidade deste fenómeno não se esgota neste conjunto de reflexões e a sua abordagem exige o recurso a várias estratégias teórico-metodológicas. Os abusos cometidos na família têm motivações e origens muito diversas, assim como são diversificadas as representações sobre as suas causas e efeitos. Na presente comunicação, pretendemos lançar algumas pistas de reflexão teórica e metodológica sobre um fenómeno que sem ser novo, apenas foi, recentemente, identificado, em Portugal, como um problema social.

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De referir a passagem em que Abraão sacrifica o seu filho e, mesmo, o nascimento de Jesus, o qual é marcado pela perseguição de Herodes a crianças inocentes. Ver Murray Straus et al., Behind Closed Doors: Violence in the American Family, Newbury Park, Sage Puiblications, 1988, p. 7.[4]

Ver Philippe Ariès, L’enfant et la vie familiale sous l’Ancien Régime, Paris, Éditions du Seuil, 1973, pp. 28-52; História Social da Criança e da Família, Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1981, p. 232.[5]

Ana Nunes de Almeida, Cristina Ferreira, Filipa Ferrão, Isabel Margarida André, Os Padrões Recentes da Fecundidade em Portugal,

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III CONGRESSO PORTUGUÊS DE SOCIOLOGIA

Lisboa, Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres, Cadernos Condição Feminina, nº 41, 1995, p. 10.[6]

António Joaquim Esteves, O. c., p. 105.[7]

Cfr. D. H. J. Morgan, The Family, Politics and Social Theory, London, Routledge & Kegan Paul, 1985, p. 223.[8]

Chiara Saraceno, Sociologia da Família, Lisboa, Editorial Estampa, 1992, p. 13.[9]

Sobre o modelo de família “tradicional” (ou “família-instituição”) e de família “moderna” (ou “modernista”) consulte-se Andrée Michel, “Modèles sociologiques de la famille dans les sociétés contemporaines”, in Archives de Philosophie du Droit, vol. 20, 1975, pp. 127-136; Louis Roussel, La Famille Incertaine, Paris, Éditions Odile Jacob, Cap. I, 1989, pp. 5-20; Jean Kellerhals et al., Microssociologia da Família, Lisboa, Publicações Europa-América, 1989, p. 11; João Ferreira de Almeida, Portugal - Os Próximos 20 Anos. Valores e Representações Sociais, vol. VIII, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1990, pp. 94-108.[10]

Philippe Ariès, “Para uma história da vida privada”, in História da Vida Privada - Do Renascimento ao século das Luzes, vol. 3, Porto, Edições Afrontamento, 1990, p. 15.[11]

António Teixeira Fernandes, “Os Direitos do Homem nas sociedades democráticas. A violência na família”, in Sociologia, Revista da Faculdade de Letras do Porto, 4, 1994, p. 27.[12]

Idem, p. 30.[13]

Nelson Lourenço e Manuel Lisboa, Representações da Violência, Cadernos do Centro de Estudos Judiciários, nº 2, Lisboa, 1992, p. 6.[14]

Salvo algumas excepções como, por exemplo, Ana Nunes de Almeida, Isabel André, Helena Nunes de Almeida, Os maus tratos às crianças em Portugal, Lisboa, 1995; António Teixeira Fernandes, O. c., Luisa Ferreira da Silva, “O direito de bater na mulher - violência interconjugal na sociedade portuguesa”, in Análise Social, nº 111, Lisboa, Instituto de Ciências Sociais, 1991, pp. 385-397; Entre marido e mulher alguém meta a colher, Santa Maria da Feira, À Bolina, 1995.[15]

Murray Straus et al., O. c., pp. 11 e 12.[16]

Katherine R. Allen, Kristine M. Baber, “Issues of Gender - A Feminist Perspective”, in Families and Change, Patrick C. McKenry, Sharon J. Price (eds.), Newbury Park, Sage Publications, 1994, pp. 21-39.[17]

Ver Christopher M. Murphy, Michele Cascardi, “Psychological Agression and Abuse in Marriage”, in O. c., p. 86; Katherine R. Allen, Kristine M. Baber, O. c., pp. 21-39; Luisa Ferreira da Silva, O. c., pp. 50-59.[18]

Michèle Barrett, Mary McIntosh, The anti-social family, London, Verso, 1982, pp. 43-80.[19]

Cfr. Suzanne Steinmetz, “Family Violence - Past, present and future”, in Handbook of Marriage and the Family, Marvin B. Sussman, Suzanne Steinmetz (eds.), New York, Plenum Press, Cap. 26, 1987, pp. 729-730; Richard Gelles, “Family Violence, Abuse and Neglect”, in Families and Change, Patrick C. McKenry, Sharon J. Price (eds.), Newbury Park, Sage Publications, 1984, pp. 262-280; Richard Gelles, Murray Straus, “Determinants of violence in the family: Toward a theoretical integration”, in Contemporary Theories about the Family, vol. I, Wesley R. Burr, Reuben Hill, F. Ivan Nye, Ira L. Reiss (eds.), New York, 1979, pp. 549-581.[20]

Garbarino, J., “The human ecology of child maltreatment: A conceptual model for research”, in Journal of Marriage and the Family, nº 39, 1977, pp. 721-736.[21]

Nelson Lourenço e Manuel Lisboa, O. c., p. 5[22]

Richard Gelles, O. c. p. 4.[23]

Suzanne K. Steinmetz, O. c., pp. 729-730.[24]

Ver Alexandra Coimbra, Ana Faria, Teresa Montano, “ANOVA: Centro de apoio e de intervenção na crise para crianças vítimas de maus tratos”, in Análise Psicológica, nº 2, Lisboa, Instituto Superior de Psicologia Aplicada, 1990, p. 193.[25]

Nelson Lourenço e Manuel Lisboa, O. c., p. 17.[26]

Neste caso, a cozinha é, para os homens, o espaço mais fatal. Ver Murray Straus et al., O. c., p. 12.[27]

Sobre esta questão ver Luisa Ferreira da Silva, O. c., p. 18.[28]

Em Portugal merece destaque particular, pela sua importância e empenhamento em dar alguma visibilidade aos problemas das mulheres na sociedade portuguesa e da própria família alargando, assim, a sua acção a todos os seus membros, a Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres, outrora conhecida por Comissão da Condição Feminina. A referida Comissão tem dado uma atenção particular ao problema da violência na família constituindo, para o efeito, um gabinete de atendimento a funcionar, simultaneamente,

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em vários pontos do país. Também, o Projecto de Apoio à Família e à Criança que possui uma “Linha de emergência criança maltratada” fazendo, igualmente, o acompanhamento das famílias, é revelador de uma crescente consciencialização pública acerca deste fenómeno. A autonomia de tais Organizações Não Governamentais é ainda relativa devido à sua dependência organizativa e financeira face ao Estado. No âmbito do Conselho Consultivo da Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres são inúmeros os exemplos deste tipo de Organizações pelo que, apenas, citaremos algumas, nomeadamente Associação de Mulheres contra a Violência (AMCV), Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, Associação O Ninho, Intervenção Feminina (IF), Programa Cidadão e Justiça.

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