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A ESCOLA E OS PROGRAMAS DE INCLUSÃO SOCIAL NA PERSPECTIVA NEOLIBERAL NO PERÍODO DE 1990 A
2010
Luiza Alves dos Anjos1 Cláudia Monteiro2
RESUMO: O presente artigo é o resultado da intervenção pedagógica no Colégio Estadual Vinicius de Moraes no município de Tupãssi-Pr, com alunos do 9º ano do Ensino Fundamental, através do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE/2012-2013. Tivemos como base os estudos referentes ao processo de globalização e neoliberalismo, bem como, suas consequências e os impactos das políticas sociais atreladas ao sistema capitalista, como o Bolsa Família, implementada durante o período que envolve os governos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva (1990 à 2010). A pesquisa proporciona aos alunos a compreensão e discussão dos aspectos ideologicamente naturalizados e sua relação com a história, possibilitando ao estudante a relação da atual conjuntura social ao desenvolvimento e implementação das políticas neoliberais. Neste processo, busca-se a permanente reflexão como princípio para a construção do conhecimento e a compreensão da realidade na qual se está inserido.
PALAVRAS-CHAVE: Neoliberalismo; globalização; políticas sociais.
1 – INTRODUÇÃO
Na sociedade brasileira e de forma geral no mundo vêm ocorrendo muitas
transformações, isso em consequência dos processos atuais de globalização, os
quais se originaram das evoluções dos meios de transporte e comunicação,
ocorrendo em escala global. É evidente que tais mutações estão apresentando um
caráter de maximização para o grande capital e de minimização para a sociedade
que vive do trabalho.
Não se pode negar as mudanças, ainda mais em um mundo em que o
movimento do capital é uma tônica diária. O que se defende aqui no entanto, sempre 1 Luiza Alves dos Anjos é aluna do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE da Secretaria de Estado
da Educação do Estado do Paraná – turma 2012-2013. Professora efetiva da disciplina de História lotada na cidade de Tupãssi/Pr.
2 Cláudia Monteiro é professora da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE , e orientadora do presente artigo.
que há alguma mudança na sociedade, as mesmas deveriam ter como fundamento
primeiro, a classe menos favorecida, fato este que não ocorre.
O processo de globalização pode ser compreendido como um fenômeno
social que surgiu para atender ao capitalismo e aos países desenvolvidos, estando
portanto, intimamente conectado aos seus ditames. Em termos amplos, o contexto
da globalização colocou em pauta a necessidade de políticas que garantissem uma
renda mínima à população. Para Hobsbawm,
[…] a globalização implica em um acesso mais amplo, mas não equivalente para todos, mesmo na sua etapa, teoricamente mais avançada. Do mesmo modo, os recursos naturais são distribuídos de forma desigual. Por tudo isso, acho que o problema da globalização está em sua aspiração a garantir um acesso tendencialmente igualitário aos produtos e serviços em um mundo naturalmente marcado pela desigualdade e pela diversidade. Há uma tensão entre estes dois conceitos básicos. Tentamos encontrar um denominador comum acessível a todas as pessoas do mundo, a fim de que possam obter as coisas que naturalmente não são acessíveis a todos. O denominador comum é o dinheiro, isto é, outro conceito abstrato (2000, p. 75).
Como reflexo de tais engendramentos, os efeitos causados pela globalização
estão presentes na sociedade representados pelas crises estruturais as quais
atingiram os Estados nacionais, a classe dominante, a posse da terra, por meio do
desemprego, do aumento da violência e na significativa precariedade a que está
exposta a classe trabalhadora.
Este contexto remete à sociedade capitalista em seus aspectos políticos e
econômicos a uma constante reorganização não apenas de mercados, mas também
das instituições, uma vez que diante das crises cíclicas do capital mundial, o sistema
capitalista brasileiro contou com diversos mecanismos regulatórios para a sua
própria sobrevivência.
A readequação do capital por meio do neoliberalismo e do processo de
globalização remete-nos a uma fase de reformulações. Contudo, é preciso salientar
que neste emaranhado de mudanças “há sinais tanto no que diz respeito a
inovações positivas com relação ao trabalho, como sinais também de regressão
social” (POCHMANN, 1999, p. 14).
No aspecto de regressão social é possível enfatizar o abismo da qualidade de
vida da classe trabalhadora, a qual subsiste precariamente dentro do sistema
excludente e classista a qual estamos expostos. A precariedade de vida destes
sujeitos tem sido intensificada constantemente, uma vez que o objetivo do capital é a
sua própria manutenção e expansão.
De forma mais específica, no Brasil, segundo Palma Filho (2005), o
neoliberalismo começa a emergir no início dos anos 1990, com o governo de
Fernando Collor de Mello, e acelerou na gestão do Presidente Fernando Henrique
Cardoso (FHC), especialmente em seu primeiro mandato (1995-1998).
Diante da impossibilidade de ampliar a democracia social, os governos sociais
democratas buscam por meio do Estado de bem-estar social implementar políticas
de compensação social, para atender esses setores empobrecidos.
Historicamente desde o período de 1964 a 1985, tem-se matizes de políticas
voltadas à expansão dos serviços sociais, a qual se configurou como uma triste
paródia do modelo do Estado de bem-estar europeu, porque é totalmente despida
da essencial concepção de cidadania, que inclui os direitos civis, políticos e os
direitos sociais (PONTES, 2004).
Essas condições do capitalismo trazem em si, limitações das políticas sociais
e são percebidas no Consenso de Washington, cujas recomendações podem ser
sintetizadas em disciplina fiscal, priorização dos gastos públicos, reforma tributária,
liberação financeira, regime cambial, liberação comercial, investimento direto
estrangeiro, privatização, desregulação e propriedade intelectual (CARCANHOLO,
1998).
Cenário este, que enfatiza a necessidade de compreensão das políticas de
inclusão por parte dos diversos sujeitos que compõem a escola pública, uma vez
que, compreender-se enquanto sujeito histórico, construtor de uma dada realidade
e não apenas construído a partir desta, perpassa pela compreensão da totalidade
que assola o país, e como não poderia deixar de ser, os estados e municípios que
o constituem.
Nesta realidade estrutural em que o Brasil está submerso, o município de
Tupãssi, oeste do Paraná, configura-se como parte de um todo e é submetido à
mesma ótica capitalista. Tupãssi se destaca na economia pela alta produção do
binômio: soja e milho. Sua economia é voltada para os grandes mercados
obedecendo a uma política de readequação que nas últimas décadas tem se
implantado no Brasil.
Compreender os ditames neoliberais e a submissão dos sujeitos à ótica
capitalista por parte dos jovens que compõem a comunidade discente do município
contribui para a formação de um sujeito com o olhar voltado para as construções
históricas determinantes da realidade, uma vez que inúmeras vezes é possível
perceber por parte de nossa sociedade certo preconceito em relação às pessoas
cujo nível social é inferior, ou ainda em relação aos diversos sujeitos que são
beneficiados por política de inclusão social, como o caso do Bolsa Família, uma
inversão de causa e consequência.
Contudo, este preconceito alimenta-se da ideologia da classe dominante,
pois não se refere à realidade concreta e sim ao universo das aparências,
naturalizando a realidade, ocultando a situação.
2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Nas últimas décadas a economia mundial tem passado por metamorfoses,
com o predomínio do capitalismo financeiro, o que causou o empobrecimento de
vários setores da sociedade, uma ácida e corrosiva realidade com a qual nos
deparamos. Uma destas transformações é o neoliberalismo, o qual surgiu como
possibilidade de uma reorganização e redimensionamento econômico para a crise
que o capital enfrentava.
O neoliberalismo nasceu logo depois da Segunda Grande Guerra Mundial, nos principais países do mundo capitalista maduro. Nasceu como uma reação teórica e política ao modelo de desenvolvimneto centrado na intervenção do Estado, que passou a se constituir, desde então, na principal força estruturadora do processo de acumulação de capital e de desenvolvimento social. Considerando essa intervenção como a principal crise do sistema capitalista de produção, os neoliberais passaram a atacar qualquer limitação dos mecanismos de mercado por parte do Estado, denunciando tal limitação como uma ameaça letal à liberdade econômica e política. É nesse sentido que os neoliberais vão retomar a tese clássica de que o mercado é a única instituição capaz de coordenar racionalmente quaisquer problemas sociais, sejam eles de natureza puramente econômica ou política. Daí a preocupação básica da teoria neoliberal em mostrar o mercado como um mecanismo insuperável para estruturar e coordenar as decisões de produção e investimento
sociais. Consequentemente, mecanismo indispensável para solucionar os problemas de emprego e renda na sociedade (TEIXEIRA, 1998, p. 195-196).
Neste sentido, pode-se afirmar que é uma doutrina político-econômica que
“[...] representa uma tentativa de adaptar os princípios do liberalismo econômico às
condições do capitalismo moderno”, a qual defende a não participação do estado na
economia (SANDRONI, 1994, p. 240).
A herança do neoliberalismo é uma sociedade profundamente desagregada e distorcida, com gravíssimas dificuldades em se constituir do ponto de vista da integração social e com uma agressão permanente ao conceito da prática da cidadania. [...] A ‘democratização’ se expande no discurso e na ideologia dos regimes democráticos, mas a cidadania é negada pelas políticas econômicas neoliberais que tornam impossível o exercício dos direitos cidadãos. Quem não tem casa, nem comida, nem trabalho não pode exercer os direitos que, em princípio, a democracia concede a todos por igual (SADER & GENTILE, 1995, p.187-188).
Para atender aos setores empobrecidos tem-se o aumento das políticas
compensatórias, como por exemplo o programa Bolsa Família, lançado no governo
do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tendo continuidade no governo atual com
caráter mais educativo e de promoção cidadã. Como cita Weissheimer:
Uma das características centrais do programa é que ele procura associar a transferência do benefício financeiro ao acesso a direitos sociais básicos, como saúde, alimentação, educação e assistência social. O Bolsa Família tem dois objetivos básicos: combater a miséria e a exclusão social, e promover a emancipação das famílias mais pobres. Uma das novidades do programa em relação a iniciativas similares anteriores foi a unificação de todos os benefícios sociais do governo federal (Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Cartão Alimentação e Auxílio Gás) em um único programa. O objetivo da unificação foi garantir maior agilidade na liberação do dinheiro, reduzir a burocracia e melhorar o controle dos recursos (2006, p. 25).
Percebe-se na teorização de Weissheimer que o Programa Bolsa Família é
um meio, uma tentativa de superação dos problemas sociais e um incentivo à
educação além das outras finalidades.
A política social do governo Fernando Henrique Cardoso teve como pilar o
Programa Comunidade Solidária, do estímulo ao trabalho solidário, que evidenciam
como se daria a intervenção do Estado nas mazelas sociais. Já no Governo Lula o
enfrentamento da pobreza continuou com o Programa Fome Zero no início do
governo, mas depois uniu todos os outros programas no Programa Bolsa Família, o
qual passou a ter importância no enfrentamento da pobreza, norteando a política
social de assistência do governo.
Pobreza “é um fenômeno complexo, podendo ser definido de forma genérica
como a situação nas quais as necessidades não são atendidas de forma adequada”
(ROCHA, 2006, p.09). Da mesma forma, segundo o Banco Mundial, pobreza
constitui um fenômeno que se refere à privação de bem-estar e que se manifesta em
variadas dimensões que se influenciam mutuamente e que pode ser medido através
do acesso individual ao rendimento, à nutrição, à saúde, à habitação e a um
determinado conjunto de direitos no contexto da vida social.
O Brasil é reconhecido internacionalmente como um país desigual, segundo
Eric Hobsbawn é um monumento da exclusão social que exclui grande parte da
população de usufruir de condições mínimas de dignidade. Mesmo com todo o
progresso da ciência, tecnologia nos setores da economia, política, social e
liberdades democráticas ainda vive-se em uma situação contraditória, pois não se
conseguiu erradicar a pobreza e a fome (HOBSBAWN, 1994). Como resultado
histórico deste processo tem-se o acirramento das contradições entre classes
sociais, a precarização da vida humana e a implementação de políticas públicas
paliativas.
Para Hoflinig, pode-se definir políticas públicas como o Estado em ação “[...]
implantando um projeto de governo, através de programas, de ações voltadas para
setores específicos da sociedade”. Essas ações estabelecem o padrão de proteção
social e redistribuem os benefícios sociais visando “a diminuição das desigualdades
estruturais produzidas pelo desenvolvimento socioeconômico” (HOFLING, 2001, p.
31).
No entanto, analisar as políticas públicas requer abordar essas ações como
forma de intervenção do Estado, que está relacionado com o comando político do
sistema capitalista, que a partir de 1970, resultou e reestruturou as condições
históricas do neoliberalismo e de suas políticas econômicas e sociais (LARA &
KOEPSEL, 2010).
De acordo com as propostas neoliberais, o Estado deve garantir os direitos
individuais sem impedir a concorrência. Assim, as políticas sociais passam a ser
oferecidas como assistência social, assumindo o caráter de focalização aos
excluídos.
[…] atribuem uma transferência monetária a indivíduos ou famílias, mas que também associam a essa transferência monetária, componente compensatório, outras medidas situadas principalmente no campo das políticas de educação, saúde e trabalho, representando, portanto, elementos estruturantes, fundamentais, para permitir o rompimento do ciclo vicioso que aprisiona grande parte da população brasileira nas amarras da reprodução da pobreza (SILVA, 2007, p.143).
Na realidade, a situação de exclusão social é grave. Precisa-se de estratégias
que busquem melhores condições de vida para a população, igualdade de
oportunidades para todos os seres humanos e construção de valores éticos
socialmente desejáveis por parte dos membros das comunidades.
Em relação à exclusão social não se trata apenas de um conceito, e sim de
uma nova questão social. Esta situação, assim como enfatiza Lesbaupin (2000),
está sendo produzida pela conjunção das transformações no processo produtivo,
com as políticas neoliberais e com a globalização. Geralmente, a exclusão social é
combatida por programas assistencialistas que objetivam manter os mais
vulneráveis com determinado nível de satisfação, evitando a rebeldia e os riscos
políticos (TSUGUMI, 2006).
Assim, inclusão social é uma ação para combater a exclusão social,
oferecendo aos mais necessitados oportunidades de participarem da distribuição de
renda do país. A partir da inclusão social, os indivíduos passam a ter acesso a
direitos básicos, sendo capazes então, de exercer sua cidadania e autonomia na
vida social, política e econômica.
Nos anos 90, o Brasil era atingido pela miséria social e as políticas de
combate à pobreza entraram na “agenda nacional”, em plena globalização. Isso
partiu do pressuposto de que a alimentação é dever do Estado. O primeiro programa
de transferência de renda condicionado com base na educação surgiu em 1996: o
Bolsa Escola. Neste programa, “as famílias inscritas [...] recebiam um auxílio
financeiro condicionado à frequência escolar das crianças” (BIER, 2009, p. 46).
O governo Lula teve o combate à fome como seu objetivo social, envolvendo
todas as areas do governo, alicerçado inicialmente no programa Fome Zero. Este
programa impediu a morte, causada pela fome, de milhões de pessoas (COGGIOLA,
2006). Em 2004, o programa foi transformado no Programa Bolsa Família (PBF).
O Programa Bolsa Família (PBF) foi instituído por medida provisória em
outubro de 2003. É um programa de transferência direta de renda que beneficia
famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza em todo o País. Possui eixos
focados na transferência de renda, condicionalidades, ações e programas
complementares.
A transferência de renda promove o alívio imediato da pobreza. As
condicionalidades reforçam o acesso a direitos sociais básicos nas areas de
educação, saúde e assistência social. Já as ações e programas complementares
objetivam o desenvolvimento das famílias, de modo que os beneficiários consigam
superar a situação de vulnerabilidade.
A gestão do Bolsa Família é descentralizada e compartilhada entre a União,
Estados, Distrito Federal e municípios. Os entes federados trabalham em conjunto
para aperfeiçoar, ampliar e fiscalizar a execução do Programa, instituído pela Lei
10.836/04 e regulamentado pelo Decreto nº 5.209/04.
As políticas sociais neoliberais são caracterizadas, pelo elevado grau de
seletividade, com a exigência de comprovação da pobreza (atestado de pobreza),
estes devem ser obrigatoriamente “cadastrados” e “identificados” enquanto pobres.
Isso pode causar certo constrangimento, fazendo com que as pessoas que
realmente necessitam, sintam-se envergonhadas em receber o que lhes são de
direito (SILVA & ZIMMERMANN, 2006).
Para Aranha, esta é uma questão que é explicada pela inversão da
realidade, isto é,
[...] o que é apresentado como causa é na verdade consequência; por exemplo, se o filho de um operário não consegue melhorar seu padrão de vida, o insucesso é considerado resultante de sua incompetência, quando na verdade esta é efeito de outras causas, tais como as condições precárias (de saúde, educação, etc.) a que
se acha submetido, ele joga um ‘jogo de cartas marcadas’, e as possibilidades de melhora não dependem dele (1996, p. 32).
Na visão neoliberal, quem vive de programas sociais e não explora o mercado
capitalista, depende do Estado, não se constituindo em um elemento emancipatório.
Na realidade, o Estado e não o mercado tem o dever de garantir os direitos sociais.
Essas políticas apresentam caráter provisório e passageiro. Mesmo depois de
considerar os efeitos positivos esperados dos investimentos públicos, há indícios de
que a desigualdade da renda se retroalimenta, reestruturando-se segundo a lógica
capitalista.
Porém, investir em políticas sociais proporciona às classes menos
favorecidas condições para o seu desenvolvimento e o crescimento do país, já que o
dinheiro no bolso dos mais pobres pode ser traduzido em aquecimento da economia.
Segundo Pochmann,
O mercado interno funciona de acordo com o poder de compra da população. Considerando que os pobres gastam tudo o que têm, não guardam dinheiro e boa parte ganha um salário mínimo, mais dinheiro para essas classes é muito positivo para a economia (1999, p.21).
Em relação aos programas de inclusão social dentro da perspectiva neoliberal
e da globalização entre os períodos de 1990 e 2010 nos governos FHC e Lula,
observa-se que são readequações das formas que o capitalismo expôs mediante as
crises de desemprego e inflação, dentre outras determinações.
As chamadas políticas de inclusão ou políticas sociais, as quais visam o
combate à pobreza são mantidas e mesmo ampliadas sem que haja uma real
perspectiva de superação dos grandes desníveis sociais que caracterizam a atual
sociedade. Se por um lado faz parte do direito do indivíduo, por outro ainda está
muito distante de contribuir para a democratização e para o fortalecimento do
homem em seus aspectos ontológicos.
Questões como estas devem ser elucidadas no interior da escola, através da
construção permanente do conhecimento, somente assim nossos jovens estarão
sendo preparados para um futuro mais digno e não alienante, já que partir do exame
das relações estabelecidas entre homens na produção de sua existência é o
pressuposto fundamental para uma compreensão crítica e rigorosa acerca das
múltiplas relações construídas historicamente na sociedade.
3 - METODOLOGIA UTILIZADA
A metodologia utilizada neste artigo partiu de uma revisão bibliográfica, para
reflexão acerca do tema abordado “Políticas de inclusão na perspectiva neoliberal”.
As estratégias utilizadas perpassam pela coletividade da escola, por meio de
exposição do projeto de intervenção pedagógica na escola para todos os
profissionais que atuam na instituição, como também, membros da APMF e
Conselho escolar durante a semana pedagógica de 2013.
A implementação da proposta se deu com o 9º ano do Ensino Fundamental
do Colégio Estadual Vinícius de Moraes - Ensino fundamental e Médio, na cidade de
Tupãssi-Pr, por meio de textos que foram a base das discussões e do
aprofundamento teórico acerca da temática, análise de filmes, músicas, vídeos,
debates sobre os programas de inclusão e sobre a realidade da sociedade brasileira
na atualidade, construções de materiais (cartazes), e análise do programa “Bolsa
Família”.
A intervenção pedagógica se efetivou em etapas distintas, enfatizando
didaticamente a construção do conhecimento por parte dos estudantes, levando em
consideração que este se realiza em um processo dinâmico que requer a
participação de todos os envolvidos.
4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES
Visando proporcionar aos alunos discutir acontecimentos históricos
vinculados à história imediata, como os fatos marcantes da política das últimas
décadas no Brasil e possibilitar que relacionem tais fatos com o processo de
globalização do capitalismo, evidencia-se a necessidade de compreensão da sua
história de vida e a sua possível relação com as mazelas que afligem a classe
trabalhadora atualmente.
A presente pesquisa buscou romper com os supostos preconceitos em
relação aos alunos das classes menos favorecidas que são beneficiados com os
Programas Sociais. Fazendo essas considerações, iniciou-se o trabalho com alunos
do Colégio Estadual Vinícius de Moraes - EFMP, por meio do uso de várias
linguagens, o que possibilitou o despertar de uma consciência crítica visando
potencializar as suas capacidades humanas, o respeito às diferenças e contribuir
para o desenvolvimento de uma educação cidadã.
A metodologia constitui-se por meio de várias ações que evidenciaram o
caráter didático da temática abordada na construção do conhecimento por parte dos
alunos. Por meio destas ações pretendeu-se evidenciar os sujeitos como parte
constituinte da história e também como parte construtora desta. Para a
concretização deste processo foi necessário a realização do roteiro de atividades, os
quais estão descritos a seguir: Unidade I - Apresentação do projeto de intervenção
na escola na semana pedagógica (à direção, equipe pedagógica, professores e
funcionários); Unidade II - Apresentação do projeto aos professores da disciplina de
História; Unidade III - Reunião com a equipe do PDE - com o objetivo de apresentar
a Unidade Didática para acompanhamentos do processo de implementação;
Unidade IV - Revolução Industrial; Seleção e preparação de materiais: textos,
vídeos, imagens; Unidade V - Revolução industrial: conhecimento provisório dos
alunos, na forma de discussão. Vídeo do documentário “A história das coisas”,
estudo e discussão do texto: Produção, distribuição e consumo, para que o aluno se
perceba como um contribuinte para a manutenção do sistema capitalista; Unidade VI
- Reorganização de atividades relacionadas à Revolução Industrial, objetivando a
verificação da aprendizagem dos alunos em relação ao consumismo e a exploração
social; Unidade VII – Globalização: O mundo sem fronteiras; utilizando revistas,
jornais para recortes, com o objetivo de montar mural sobre os assuntos acima, e
leitura de textos; Unidade VIII - Globalização: A exclusão social no Brasil no século
XX, música Cidadão, com o objetivo de analisar e discutir a discriminação, a falta de
moradia, educação, transporte, saneamento básico, etc.; Unidade IX - Programa
Bolsa Família. Construção de mural e apresentação. Pesquisa e debate sobre os
pontos positivos e negativos do assunto em questão.
5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Buscou-se através da temática abordada uma compreensão por parte dos
alunos do 9º ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Vinicius de Moraes,
acerca da realidade da atual sociedade, evidenciando os seus aspectos
explicitamente ligados ao modo de produção capitalista e os resultados históricos
para os sujeitos que são ao mesmo tempo formados por este processo, mas
também formadores deste.
A escola é uma instituição que visa permanentemente a construção do
conhecimento e a formação de um sujeito cujo olhar possa compreender além das
amarras impostas pelo sistema. Neste contexto é preciso efetivar a disciplina de
História a partir de uma compreensão ampla, a qual possibilita-nos “despertar
reflexões a respeito de aspectos políticos, econômicos, culturais, sociais e das
relações entre o ensino da disciplina e a produção do conhecimento histórico”
(SEED-PR/DEB, 2008, p. 37).
Assim, ensinar não é apenas representar o mundo como ele está, mas
refletir por que ele está assim. Para isso, é importante que o conhecimento seja
construído no todo, e não de forma fragmentada. Para que se viabilize a apropriação
deste conhecimento da realidade social, é necessário que o aluno entenda que a
sociedade em que ele vive é conflituosa, não é estática e nem harmônica, e para
que essa compreensão ocorra, é necessário se apropriar da realidade a qual se está
inserido, bem como os seus determinantes, acompanhado das tensões ideológicas
presentes na sociedade capitalista.
Compreender a História como ações em permanente construção e, a si
mesmo como interlocutor, pressupõe o início da visão de mundo que almejamos. As
relações humanas produzidas por essas ações podem ser definidas como estruturas
sócio-históricas. Diante das situações adversas da globalização e do neoliberalismo,
cabe ao profissional da educação comprometer-se para a construção do
conhecimento dos educandos, seja na forma de agir, pensar, sentir, representar,
imaginar ou de se relacionar social, cultural e politicamente.
A partir da caminhada realizada foi possível perceber que a perspectiva de
minimizar a pobreza não é em benefício do ser humano como processo
humanizador, capaz de diminuir e até excluir as diferenças sociais, mas apresenta
um foco específico vinculado ao consumismo e à produção de lucro para o capital.
Políticas de inclusão social ou políticas sociais ao serem projetadas
apresentam uma visível constituição agregada ao seu caráter político, ou seja, como
estão vinculadas ao sistema que impera até o momento em nossa sociedade,
explicitamente se estruturam como formas paliativas de combate à pobreza. A
perspectiva de uma real alteração de uma sociedade classista e desigual para outra,
na qual os sujeitos possam efetivamente viver e não apenas subsistir dentro de uma
ótica que potencializa o lucro, relegando o homem a mera precariedade, não é um
objetivo a ser buscado.
Evidentemente, mesmo apresentando este caráter paliativo, inúmeras
pessoas ao logo dos anos de existência do Programa Bolsa Família, puderam
concretizar uma melhoria na qualidade de vida, ainda que de forma insuficiente.
Neste sentido, a partir destas elucidações, compreende-se que são
necessárias novas estratégias a partir das quais os sujeitos possam estar se
desvinculando destas políticas assistencialistas e estabelecendo vínculos com
políticas que visem uma sociedade mais justa. Para a superação deste, muitas
questões devem ser melhor interpretadas e a luta árdua ao capital deve ser
construída como forma de não degradar a vida humana. A escola neste universo
tem a obrigação moral de colaborar para uma formação que possa contribuir para a
educação voltada para o ser humano, para o desenvolvimento de suas
potencialidades e de seu processo de reflexão acerca da realidade.
6 – REFERÊNCIAS
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