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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO PROGRAMA DE PÓS - GRADUAÇÃO EM REDE REDE NORDESTE DE FORMAÇÃO EM SAÚDE DA FAMÍLIA MESTRADO PROFISSIONAL EM SAÚDE DA FAMÍLIA LIVIA CRISTINA SOUSA A EPIDEMIA DE AIDS NO ESTADO DO MARANHÃO: ANÁLISE ESPAÇO- TEMPORAL São Luís/MA 2019

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Page 1: A EPIDEMIA DE AIDS NO ESTADO DO MARANHÃO: ANÁLISE … · A epidemia de aids no Estado do Maranhão: análise espaço-temporal / Livia Cristina Sousa. – 2019. 50 p. Orientador

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

PROGRAMA DE PÓS - GRADUAÇÃO EM REDE

REDE NORDESTE DE FORMAÇÃO EM SAÚDE DA FAMÍLIA

MESTRADO PROFISSIONAL EM SAÚDE DA FAMÍLIA

LIVIA CRISTINA SOUSA

A EPIDEMIA DE AIDS NO ESTADO DO MARANHÃO: ANÁLISE ESPAÇO-

TEMPORAL

São Luís/MA

2019

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LIVIA CRISTINA SOUSA

A EPIDEMIA DE AIDS NO ESTADO DO MARANHÃO: ANÁLISE ESPAÇO-

TEMPORAL

Trabalho de Conclusão de Mestrado apresentado

à banca defesa do Mestrado Profissional em

Saúde da Família, da Rede Nordeste de

Formação em Saúde da Família, Universidade

Federal do Maranhão.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Arlene de Jesus Mendes

Caldas

Área de concentração: Saúde da Família

Linha de pesquisa: Atenção e gestão do cuidado

em saúde

São Luís/MA

2019

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Sousa, Livia Cristina.

A epidemia de aids no Estado do Maranhão: análise espaço-temporal /

Livia Cristina Sousa. – 2019.

50 p.

Orientador (a): Arlene de Jesus Mendes Caldas.

Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-graduação em Rede – Rede

Nordeste de Formação em Saúde da Família / ccbs, Universidade

Federal do Maranhão, São Luís, 2019.

1.Análise espacial. 2. Epidemiologia. 3. Síndrome da Imunodeficiência

Adquirida. I.Caldas, Arlene de Jesus Mendes. II.Título.

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A EPIDEMIA DE AIDS NO ESTADO DO MARANHÃO: ANÁLISE ESPAÇO-

TEMPORAL

Livia Cristina Sousa

Trabalho de Conclusão de Mestrado apresentado à banca de defesa do Mestrado

Profissional em Saúde da Família, da Rede Nordeste de Formação em Saúde da Família,

Universidade Federal do Maranhão.

Banca Examinadora:

_________________________________________________

Profa. Dra. Arlene de Jesus Mendes Caldas

Universidade Federal do Maranhão

Orientadora

_________________________________________________

Profa. Dra. Tereza Cristina Silva

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão

Examinadora Externa

_________________________________________________

Profa. Dra. Lena Maria Barros Fonseca

Universidade Federal do Maranhão

Examinadora Interna

Data da aprovação:

São Luís-MA, ____/____/_____.

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À minha filha Marina, razão do meu viver!

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AGRADECIMENTOS

À Deus, por ter me guiado e me abençoado para que eu chegasse até aqui. Toda

hora e toda glória a Ti Senhor!

À meus pais, João Damasceno Sousa e Antônia Lourença Gonçalves Sousa, por

todo amor e apoio a todas as etapas da minha vida. Amo vocês!!

À minha filha, Marina Sousa Assunção Aragão, obrigado pelo amor, apoio,

carinho e atenção. Sem vocês não teria conseguido concretizar esse sonho! Te amooo!!

À minha família, especialmente a minha irmã, Alana Lisléa de Sousa, por todo

amor e cuidado comigo. Tudo que sou, devo a vocês!! Obrigada por ser esta pessoa tão

especial e inspiradora em minha vida!!

Às minhas amigas, Alessandra e Dorília por todo o carinho e apoio na luta diária

na coordenação de IST, aids e hepatites virais.

A todos os professores do RENASF pelos ensinamentos valiosos!!

Às colegas Tereza Silva e Thaís Furtado, agradeço pelo acolhimento e

ensinamentos.

Aos meus colegas de turma, pela parceria e convivência harmoniosa,

especialmente, aos amigos queridos Joama Gusmão, Neusa Amorim, Rafaelle Queiroz,

Joelmara Furtado, Danyelle Carneiro, Jonh Lennon Santos, Bruno Lima, Heloísa

Gonçalves, Ivonice Cirqueira, Patrícia Veras, Rafaela Duailibe, Ellen Rose e Evanilde

da Silva pelo compartilhamento de experiências, conhecimentos e risadas. Aprendi

muito com todos vocês!!

À minha orientadora, Profª Dra. Arlene de Jesus Mendes Caldas, pelos

ensinamentos e orientações realizadas.

À Jéssica Diniz, secretária do mestrado, sempre atenciosa e solícita a nos ajudar.

Agradeço, enfim, a todos que fizeram parte desta etapa de crescimento pessoal e

profissional!

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Em cada fim, venta um começo.

(Rubens Alves)

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RESUMO

A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida é um importante problema de saúde

pública, em função do seu caráter pandêmico e sua gravidade, com alastramento

expressivo nas regiões mais pobres do planeta. Neste trabalho, objetivou-se analisar a

distribuição espaço-temporal dos casos de aids no Estado do Maranhão-MA. Trata-se de

um estudo ecológico dos casos de aids notificados no Sistema de Informação de

Agravos de Notificação no período de 2011-2018, tendo como unidade de análise os

municípios do estado. Foram calculadas as incidências brutas e ajustadas pelo método

bayseano empírico local. Para o cálculo, considerou-se como numerador a média dos

casos de aids ocorridos no município e como denominador, a média da população

residente no respectivo município, multiplicado por 100 mil. Os Índices de Moran

Global e Local foram calculados para observar a existência de autocorrelação espacial

dos casos de aids e para delimitação de aglomerados de alto e baixo risco. As análises

estatísticas foram realizadas no software GeoDa versão 1.14.0 e os mapas foram

construídos no software QGIS 3.6.2. Durante o período do estudo foram notificados

6.349 casos de aids, os quais se distribuíram de forma heterogênea, sendo que esta

distribuição não se deu de forma aleatória, apresentando áreas de alto risco concentradas

principalmente nos municípios da mesorregião Norte e Centro, de baixo risco nas

mesorregiões Leste e Sul. O estudo permitiu identificar áreas prioritárias para

investimentos em saúde, evidenciando aspectos importantes a serem considerados em

termo de gestão e organização dos serviços de saúde visando garantir equidade e

integralidade no cuidado às populações que vivem com HIV/aids nessas localidades.

Palavras-chave: Análise espacial. Epidemiologia. Síndrome da imunodeficiência

adquirida.

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ABSTRACT

Acquired Immunodeficiency Syndrome is an important public health problem, due to its

pandemic nature and severity, with significant spread in the poorest regions of the

planet. This study aimed to analyze the spatio-temporal distribution of AIDS cases in

the State of Maranhão-MA. This is an ecological study of AIDS cases notified in the

Notifiable Diseases Information System in the period 2011-2018, using the state's

municipalities as the unit of analysis. Gross incidences were calculated and adjusted

using the local empirical Baysean method. For the calculation, the average of AIDS

cases in the municipality was considered as a numerator and the average of the

population living in the respective municipality as a denominator, multiplied by 100

thousand. The Moran Global and Local Indices were calculated to observe the existence

of spatial autocorrelation of AIDS cases and to delimit high and low risk clusters.

Statistical analyzes were performed using GeoDa software version 1.14.0 and maps

were built using QGIS 3.6.2 software. During the study period, 6,349 AIDS cases were

reported, which were distributed heterogeneously, and this distribution did not occur at

random, presenting high-risk areas concentrated mainly in the cities of the northern and

central mesoregions, of low risk in the Eastern and Southern mesoregions. The study

allowed the identification of priority areas for investments in health, highlighting

important aspects to be considered in terms of management and organization of health

services in order to guarantee equity and integrality in the care of populations living

with HIV / AIDS in these locations.

Keywords: Spatial analysis. Epidemiology. Acquired immunodeficiency syndrome.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura1Mesorregiões do Estado do Maranhão...........................................................29

Figura 2 Incidência bruta da aids no Estado do Maranhão, no período 2011-

2018..............................................................................................................................33

Tabela 1 Incidência e aglomerados de aids no Estado do Maranhão, no período 2011-

2018..............................................................................................................................34

Figura 3 Incidência ajustada ( método bayseano empírico local ) da aids no Estado

do Maranhão, no período 2011-

2018..............................................................................................................................35

Figura 4 Aglomerados de aids no Estado do Maranhão, no período 2011-

2018..............................................................................................................................37

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AIDS - Acquired Imunodeficiency Syndrome

(Síndrome da imunodeficiência Humana)

ARC - Complexo Relacionado à aids

AZT - Zidovudina

DNA - Ácido desoxirribonucleico

DPP - Plataforma Duplo Percurso

DST - Doença Sexualmente Transmissível

FO - Fluido Oral

HAART - Highly Active Antiretroviral Therapy

(Terapia Antirretroviral de Alta Potência)

HIV- Human immunodeficiency virus

(Vírus da Imunodeficiência Humana)

HSH - Homens que fazem sexo com outros homens

IB - Imunoblot

IBR - Imunoblot Rápido

IFI - Imunoflorescência

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas

I - Índice de Moran Global

INNTR - Inibidores Não Nucleosídeos da Transcriptase Reversa

MRG - Médicos Referência em Genotipagem

OI - Infecção Oportunistas

ONU - Organização das Nações Unidas

PREP - Profilaxia Pré-Exposição

RNA – Ácido Ribonucléico

SIG - Sistema Informação Geográfica

SINAN - Sistema de Informação de Agravos de Notificação

SIM - Sistema de Informação sobre Mortalidade

SISCEL - Sistema de Controle de Exames Laboratoriais

SICLOM - Sistema de Controle Logístico de Medicamentos

SK - Sarcoma de Kaposi

SUS - Sistema Único de Saúde

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TARV - Terapia Antirretroviral

T CD4+ - Linfócitos T CD4+

TR - Teste Rápido

UNAIDS - Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/aids

WB - Western Blot

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..........................................................................................................13

2. JUSTIFICATIVA.......................................................................................................16

3. OBJETIVOS...............................................................................................................17

3.1 Objetivo geral ........................................................................................................... 17

3.2 Objetivos específicos ................................................................................................ 17

4. REVISÃO DE LITERATURA.................................................................................18

4.1 Considerações sobre a aids ....................................................................................... 18

4.1. 1. Características gerais ........................................................................................... 18

4.1.2 Diagnóstico ............................................................................................................ 18

4.1.3 Manifestações clínicas e tratamento ...................................................................... 19

4.2 Aspectos históricos e epidemiológicos da aids ........................................................ 21

4.3 Políticas públicas voltadas para o controle da aids .................................................. 23

4.4 A vigilância epidemiológica da aids ......................................................................... 25

4.5 Sistema de Informação em Saúde ............................................................................. 26

4.6 Análise espacial em saúde ........................................................................................ 27

5. METODOLOGIA......................................................................................................29

5.1 Tipo de estudo .......................................................................................................... 29

5.2 Local do estudo ......................................................................................................... 29

5.3 População do estudo ................................................................................................. 30

5.3.1 Critérios de exclusão ............................................................................................. 30

5.4 Coleta de dados ......................................................................................................... 30

5.5 Análise dos dados ..................................................................................................... 31

5.6 Aspectos éticos ......................................................................................................... 32

6. RESULTADOS..........................................................................................................33

7. DISCUSSÃO..............................................................................................................38

8. CONCLUSÃO...........................................................................................................42

REFERÊNCIAS.........................................................................................................................43

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1 INTRODUÇÃO

A síndrome da imunodeficiência adquirida é uma doença viral de evolução

crônica que representa um grande problema de saúde pública na atualidade (LEVI et al.,

2016; OPAS, 2017) em função do seu caráter pandêmico e sua gravidade (BRASIL,

2017). Apesar dos avanços nos métodos de prevenção, diagnóstico e tratamento, no ano

de 2018, estima-se que ocorreram 1,5 milhões de novas infecções e 770 mil pessoas

morreram de doenças relacionadas à aids no mundo (UNAIDS, 2019).

No Brasil, de 1980 até junho de 2018, foram registrados no país 926.742

casos de aids no Sistema de Informação de Agravos de Notificação-SINAN (BRASIL,

2018). Do ponto de vista de sua distribuição espacial, a evolução da epidemia de

HIV/aids transitou de um agravo concentrado em alguns centros urbanos, a uma

infecção presente em praticamente todo o território nacional (BERMÚDEZ, 2018;

RIBEIRO; FONSECA; PEREIRA, 2019). Essa transição na sua distribuição espacial foi

marcada por três períodos, nos anos 80, os casos notificados concentraram-se

principalmente em capitais do Sudeste e Sul do país. Na década de 90, passaram a

incluir as notificações das regiões Nordeste e Centro-Oeste. A partir de 2005 até o

presente momento, os casos registrados apresentaram uma distribuição espacial que

abrangeu todo o país (BRASIL, 2017).

Essa mudança no perfil territorial da epidemia de HIV/aids ocorreu no

Brasil, de forma concomitante à intensificação dos casos em alguns segmentos

populacionais específicos, o que define a epidemia de aids no país como sendo de

caráter concentrada, delineando uma forte tendência de pauperização (ARAÚJO et al.,

2012), homossexualização e juvenização da epidemia no território nacional, destacando

o aumento da prevalência da infecção entre os jovens (GRANGEIRO;

CASTANHEIRA; BATTISTELLA NEMES, 2015).

Os seguimentos mais afetados pela epidemia de aids são denominados de

população chave, tais como, gays e homens que fazem sexo com homens (HSH),

pessoas que usam álcool e outras drogas, trabalhadoras do sexo, pessoas transexuais e

pessoas privadas de liberdade. Entre pessoas que fazem uso de drogas ilícitas a

prevalência é 5,9% (considerando uso injetável de drogas), entre gays e homens que

fazem sexo com outros homens a prevalência atinge 10,5%, entre mulheres transexuais

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31,2% e profissionais do sexo 4,9% (DAMACENA et al., 2011; BASTOS; BERTONI,

2014; VERAS et al., 2015; GRINSZTEJN et al., 2017).

Tal cenário é resultado de múltiplos fatores, razões comportamentais e

sobretudo estruturais, haja vista que os contextos de extrema vulnerabilidade, que

incluem situações de violência, pobreza, machismo, sexismo, racismo, estigmas,

discriminação e criminalização contribuem para ampliar as barreiras de acesso à

cidadania, aos direitos e às ações de cuidado integral à saúde (GRANGEIRO;

CASTANHEIRA; BATTISTELLA NEMES, 2015).

O ajuntamento geográfico de casos de aids é um fenômeno comum em áreas

urbanas (SHACHAM et al.,2013). Achados de Alves et al (2016) apontam crescimento

de casos novos de aids no Estado do Rio de Janeiro, podendo também ser vista em

outras áreas metropolitanas, como em algumas regiões urbanas da África do Sul

(MANDA et al.,2012), dos Estados Unidos (HALL et al., 2010; HIXSON et al., 2011) e

nos bairros de grande vulnerabilidade social (SHACHAM et al., 2013; PIRES et al.,

2014).

O estudo realizado por Rodrigues-Júnior e Castilho (2009) sobre a aids nas

regiões da fronteira do Brasil, identificou que as sub-regiões com os maiores

coeficientes de incidência estão localizadas nas áreas de fronteiras do Brasil com outros

países da América do Sul. As dimensões continentais do Brasil fazem com que este país

apresente diferenças regionais importante no que se concerne ao perfil da aids.

Assim, o caráter pandêmico, complexo, instável e multifacetado da infecção

pelo HIV/aids suscita a necessidade de vigilância constante de suas tendências, das

características das populações mais afetadas, dos comportamentos que favorecem a

propagação do vírus, bem como das respostas políticas oficiais em seus diversos

contextos (NASCIMENTO; SOUSA; PINTO, 2014).

O uso do geoprocessamento constitui em uma importante ferramenta para a

identificação, localização e acompanhamento de populações, principalmente nas

periferias dos grandes centros urbanos, além de contribuir para o estudo da transmissão,

disseminação, ações de controle e de vigilância epidemiológica das doenças. O uso

dessa tecnologia de análise espacial permite a integração de informações

epidemiológicas, socioeconômicas, ambientais e demográficas, sem dissociá-las do

espaço geográfico, e possibilita compreender os eventos em saúde e através dos

métodos de visualização fazer uma análise exploratória ou de modelagem de dados

georreferenciados (NARDI et al., 2013).

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Nesse contexto, os Sistemas de Informação Geográficas (SIG) são utilizados

para o entendimento dos fatos e fenômenos que ocorrem no espaço geográfico, ou seja,

ferramentas utilizadas para a manipulação de informações aplicadas a saúde coletiva,

permitindo o mapeamento das doenças, a avaliação de riscos e ainda contribuem na

estruturação, análise de riscos sócios ambientais e no planejamento das ações de saúde.

Para estas análises são necessária a localização geográfica dos eventos, associando

informações gráficas (mapas) às bases de dados de saúde (CHIARAVALLOTI-NETO,

2017).

Assim, a utilização das ferramentas de geoprocessamento permitirá a

obtenção de informações importantes relativas à vigilância epidemiológica para uma

melhor compreensão sobre a epidemia de aids no Estado do Maranhão. Entender como

se dá a distribuição espacial dos casos de aids, através do sistema de informação

geográfica, permitirá aos gestores e profissionais identificarem as áreas geográficas sob

maior pressão epidemiológica, além de contribuir no desenvolvimento de estratégias de

prevenção que impacte diretamente na cadeia de transmissão, controlando surtos e

possibilitando medidas de intervenções mais efetivas (CARROLL et al., 2014).

Tem-se como objeto de estudo, a distribuição espaço-temporal da aids no

Estado do Maranhão. Propõe-se a responder às seguintes perguntas: Como se

distribuem no tempo e no espaço os casos de aids no Estado do Maranhão? Existem

autocorrelação espacial entre os casos de aids? Quais áreas de maior risco estão

concentradas os casos? Diante de tais questionamentos, temos como hipóteses que a

aids apresenta um aumento de casos ao longo do tempo e que espacialmente sua

distribuição é heterogênea no Estado do Maranhão.

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2 JUSTIFICATIVA

O atual contexto dos sistemas de saúde tem levado a uma crescente

demanda por informações que permitam a avaliação dos serviços de saúde e o

gerenciamento de recursos públicos. Nessa perspectiva, a utilização de técnicas de

análise espacial por meio do geoprocessamento de dados georreferenciados tem

despertado muito interesse ao setor saúde, uma vez que permite ter uma visão

abrangente da saúde dos indivíduos no contexto social, histórico, político, cultural e

ambiental em que estão inseridos (CARROLL et al., 2014).

O Estado do Maranhão, caracterizado por grande extensão territorial e

disparidades sociais e econômicas, defronta-se com altos índices de infecção pelo

HIV/aids. Dados do Ministério da Saúde apontam que o Maranhão apresentou uma

taxa de detecção de aids 19,7/100 mil habitantes no ano de 2018, ocupando a décima

primeira posição do Brasil e a segunda posição da Região Nordeste (BRASIL, 2019).

Nessa perspectiva, a utilização do geoprocessamento no setor saúde oferece

grandes possibilidades, dentre elas a aplicação de um método inovador de manejo de

informações, tornando-se, assim, uma relevante ferramenta de integração de

informações diversas, as quais poderão proporcionar uma visão ampliada da situação de

uma determinada doença ou agravo no espaço, de forma a conceder uma cadeia

explicativa dos problemas do território e orientar a tomada de decisões.

Espera-se que estudos dessa natureza sejam incrementados e difundidos

localmente, pois essas informações qualificadas poderão subsidiar à tomada de decisão,

baseada em evidência, bem como no planejamento e programação das ações em saúde,

contribuindo para fortalecimento do papel da Vigilância Epidemiológica, na orientação

dos gestores e equipe de saúde quanto a focalização de ações estratégicas fundamentais

para enfrentamento do HIV/aids no Estado do Maranhão.

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3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo geral

Analisar a distribuição espaço-temporal dos casos de aids no Estado do

Maranhão, no período de 2011 a 2018.

3.2 Objetivos específicos

Estimar os coeficientes de incidência de aids por município;

Verificar a existência de autocorrelação espaço-temporal dos coeficientes de

incidência;

Identificar aglomerados de alto e baixo risco de aids no Estado.

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4 REVISÃO DE LITERATURA

4.1 Considerações sobre a aids

4.1. 1. Características gerais

A aids é uma doença causada pela infecção do vírus HIV. Esse vírus ataca o

sistema imunológico, o qual é responsável por defender o organismo de doenças. As

células mais atingidas são os linfócitos T CD4+. O vírus é capaz de alterar o DNA

dessa célula e fazer cópias de si mesmo. Depois de se multiplicar, rompe os linfócitos

em busca de outras células para continuar a infecção (OPAS, 2017).

Os indivíduos soropositivos, que têm ou não aids, podem transmitir o vírus

a outras pessoas pelas relações sexuais desprotegidas, através do esperma ou secreções

vaginais. Além disso, pode ser transmitida pelo sangue (via parenteral e vertical) e pelo

leite materno (RACHID; SCHECHTER, 2017). Desde o momento de aquisição da

infecção, o portador do vírus é transmissor. No entanto, indivíduos com infecção aguda

ou imunossupressão avançada têm maior concentração do HIV no sangue (carga viral) e

nas secreções sexuais, transmitindo com maior facilidade o vírus. Outros processos

infecciosos e inflamatórios favorecem a transmissão do HIV, especialmente a presença

das doenças sexualmente transmissíveis (JUNQUEIRA et al., 2013).

4.1.2 Diagnóstico

O diagnóstico da infecção pelo HIV é feito a partir da coleta de sangue ou

por fluido oral. No Brasil, os exames laboratoriais e os testes rápidos, que detectam os

anticorpos contra o HIV. Esses testes são realizados gratuitamente pelo Sistema Único

de Saúde (SUS), conforme quadro abaixo (Quadro 1).

Quadro 1 - Exames diagnósticos para identificação do vírus HIV, MS, 2018.

EXAMES DIAGNÓSTICOS

PARA INFECÇÃO DO HIV METODOLOGIA

Testes rápidos (TR)

Imunoensaios simples (imunocromatografia de

fluxo lateral ou de duplo percurso (DPP) que

podem ser realizados com plasma, soro, sangue

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total ou fluido oral (FO). Detectam anticorpos

anti-HIV em até 30 minutos Sua realização pode

ser em ambiente laboratorial e não laboratorial.

Testes imunoenzimático do tipo

ELISA

Testes iniciais imunoensaios de 3° ou 4°

gerações

Western blot (WB), Imunoblot (IB) e

imunoensaios em linha – Imunoblot

rápido (IBR) e Imunofluorecência

indireta (IFI).

Testes complementares para a confirmação do

diagnóstico de HIV.

Testes moleculares

Carga viral

Teste complementar em que ocorre a detecção

direta do HIV. Permitem identificar o antígeno

p24, RNA ou DNA pró-viral. Atualmente são os

mais eficazes, pois permitem o diagnóstico em

infecções agudas e/ou recentes, além de

apresentarem melhor custo-efetividade, sendo

essenciais para diagnóstico em crianças menores

de 18 meses.

Fonte: (Brasil, 2018a)

É importante ressaltar que a carga viral, também é utilizada como marcador

para o monitoramento clínico da resposta ao tratamento retroviral e detecção de falha

virológica (SHAFER RHEE BENNET, 2008; GUZMÁN; IRIART, 2009).

4.1.3 Manifestações clínicas e tratamento

A infecção pelo HIV é um processo de longa duração que passa por

diferentes estágios. Entretanto, a evolução da história natural da infecção pelo HIV dos

estágios iniciais assintomáticos até a fase avançada (aids), caracteriza-se por uma

contínua e progressiva deficiência imunológica e pode variar entre os indivíduos. A

duração e a gravidade de cada estágio dependem de vários fatores relacionados tanto

com o vírus quanto com o hospedeiro. A infecção pelo HIV pode ser dividida em três

fases: infecção aguda, latência, sintomática inicial e sintomática tardia (RACHID;

SCHECHTER, 2017).

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A primeira fase, chamada de infecção aguda ou síndrome retroviral aguda

ou infecção primária, manifesta-se clinicamente em pelo menos 50% dos pacientes.

Caracteriza-se por viremia elevada, resposta imune intensa e rápida queda na contagem

de linfócitos T CD4+ de caráter transitório. Os sintomas de infecção viral estão

presentes como febre, adenopatia, faringite, mialgia, artralgia, exantema maculopapular

eritematoso; ulcerações mucocutâneas, envolvendo mucosa oral, esôfago e genitália;

hiporexia, adinamia, cefaleia, fotofobia, hepatoesplenomegalia, perda de peso, náuseas e

vômitos. Alguns pacientes, ainda, podem apresentar candidíase oral, neuropatia

periférica, meningoencefalite asséptica e síndrome de Guillain-Barré. A síndrome

retroviral aguda é autolimitada e a maior parte dos sinais e sintomas desaparece em 3 a

4 semanas (FOCACCIA, 2010).

A fase de latência clínica pode durar de meses a anos, em média 10 anos, e

os sintomas clínicos são mínimos ou inexistentes. Os exames sorológicos para o HIV

são reagentes e a contagem de linfócitos T CD4+ pode estar estável ou em declínio.

Alguns pacientes podem apresentar uma linfoadenopatia generalizada persistente,

flutuante e indolor (FOCACCIA, 2010).

Na fase sintomática inicial, o portador da infecção pelo HIV pode apresentar

sinais e sintomas inespecíficos de intensidade variável, além de processos oportunistas

de menor gravidade, conhecidos como complexo relacionado à aids (ARC). São

indicativos de ARC a candidíase oral e a presença de mais de um dos seguintes sinais e

sintomas, com duração superior a 1 mês, sem causa identificada como, linfoadenopatia

generalizada, diarreia, febre, astenia, sudorese noturna e perda de peso superior a 10%

(BASILIO DE OLIVEIRA, 2005).

A fase sintomática tardia ou síndrome da imunodeficiência adquirida, o

aparecimento de infecção oportunistas (OI) e neoplasias são definidores da aids

(BRASIL, 2017). As neoplasias mais comuns são sarcoma de Kaposi (SK), linfoma não

Hodgkin, câncer anal e câncer de colo uterino em mulheres jovens. Nessas situações, a

contagem de linfócitos TCD4+ situa-se abaixo de 200 cél/mm³. Além das infecções e

das manifestações não infecciosas, o HIV pode causar doenças por dano direto a certos

órgãos ou por processos inflamatórios, tais como miocardiopatia, nefropatia e

neuropatias, que podem estar presentes durante toda a evolução da infecção pelo HIV

(FOCACCIA, 2010).

Os objetivos do tratamento são melhorar a qualidade de vida e prolongar a

sobrevida, pela redução da carga viral e reconstituição do sistema imunológico. A

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terapia antirretroviral deve ser oferecida a todas as pessoas com diagnóstico do HIV,

independentemente da carga viral e da contagem de linfócitos TCD4+. Essa medida,

além de melhorar a qualidade de vida das pessoas diagnosticadas, reduz a probabilidade

de transmissão do vírus (GBD HIV, 2016; BERMÚDEZ, 2018).

A TARV poderá ser iniciada desde que a pessoa que vive com HIV seja

esclarecida dos seus benefícios e riscos, além de estar fortemente motivada e preparada

para o tratamento, respeitando-se a autonomia do indivíduo. Deve-se enfatizar que a

TARV, uma vez iniciada, não deverá ser interrompida. Em nenhuma situação haverá

qualquer tipo de coerção para início da TARV (BRASIL, 2017a).

O país oferece todas as classes de antirretrovirais existentes, de forma

alinhada com o que existe de mais atual na indicação de tratamento para cada população

(adultos, gestantes, crianças), com base em evidencias cientificas. Atualmente, a

indicação para tratamento inicial em adultos com HIV/aids consiste em dois inibidores

não nucleosídeos da transcriptase reversa (INNTR) e o dolutegravir (inibidor da

integrase). O tratamento pode ser realizado em centros especializados, em centros de

referência ou na Atenção Básica, variando de acordo com a organização das redes locais

de atendimento e dos fluxos estabelecidos pelos estados e municípios. Para pacientes

experimentados, a escolha do tratamento mais adequado passa por Câmaras Técnicas

em cada Estado, nas quais Médicos Referência em Genotipagem (MRG) indicam a

melhor opção de esquema de antirretroviral, com base no histórico e nos exames de

genotipagem (UNAIDS, 2017).

4.2 Aspectos históricos e epidemiológicos da aids

A aids surgiu como epidemia no final da década de 70, com os primeiros

casos detectados nos Estados Unidos, Haiti e África Central (SOUSA et al.,2012;

FIOCRUZ, 2018). Em 1983, ocorreu a primeira notificação mundial de infecção por

HIV em criança. No ano seguinte, em 1984, o HIV-1 é isolado e caracterizado no

Instituto Pasteur, na França. Em 1985, o agente etiológico causador da aids é

denominado Human Immunodeficiency Virus (HIV). Ainda nesse ano, surge o primeiro

teste diagnóstico para a doença, baseado na detecção de anticorpos contra o vírus

(FIOCRUZ, 2018).

De acordo com dados do Unaids (2018), o número de pessoas vivendo com

HIV no mundo é crescente. Em 2005 havia cerca de 31,8 milhões de infectados,

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passando para 33,3 milhões em 2010 e chegando a 36,9 milhões em 2017. Por outro

lado, as taxas de mortalidade global caíram de 1,8 milhão de óbitos em 2005, para

940.000 mortes em 2017. A redução da mortalidade está ligada à maior cobertura do

tratamento antirretroviral.

No Brasil, o primeiro caso confirmado de aids e identificação da via de

transmissão por transfusão sanguínea ocorreu em São Paulo em 1982. Nesse ano, houve

a adoção temporária do termo Doença 5 H – homossexuais, hemofílicos, haitianos,

heroinômanos (usuários de heroína injetável), hookers (profissionais do sexo). Em

1983, o Brasil identifica primeiro caso de aids entre mulheres e surge os primeiros

relatos de transmissão heterossexual do vírus e de contaminação de profissionais de

saúde (FIOCRUZ, 2018).

Desde o registro do primeiro caso, na década de 80, até junho de 2017, o

Brasil registrou 926.742 casos, sendo computados 327. 655 mil óbitos relacionados à

aids até dezembro de 2017, tendo o HIV/aids como causa básica (BRASIL, 2018).

A epidemia de HIV/aids no Brasil é de tipo concentrada, apresentando

grandes diferenças por sexo, faixa etária e raça/cor, além de categorias de exposição. Os

últimos estudos nas populações chave realizados em 2016-2017 identificaram taxas de

prevalência de 19,8% entre homens que fazem sexo com homens (HSH), 5,3% entre

mulheres profissionais do sexo e um estudo entre mulheres trans no Rio de Janeiro,

mostrou uma prevalência de 31,2% a carga mais alta no conjunto das populações-chave

no Brasil (GRINSZTEJN et al.,2017).

Algumas análises de tendência epidemiológica do HIV/aids no país revelam

a ocorrência de novas infecções anuais. As novas infecções atingem especialmente

homens jovens, particularmente, jovens que fazem sexo com homens. A mortalidade,

com resistência ao declínio, persiste estável, mostrando diferenças marcantes entre as

regiões e capitais, como Porto Alegre (GRANGEIRO; CASTANHEIRA;

BATTISTELLA NEMES, 2015). Em termos das diferenças regionais, há uma iniciativa

de cooperação interfederativa, tendo como foco os estados do Rio Grande do Sul e

Amazonas, cujas incidências e taxas de mortalidade em 2015, 10,6 e 8,7 ainda se

mostram merecedoras de ações coordenadas (DA CUNHA; DA CRUZ; TORRES,

2016; BERMÚDEZ, 2018).

O Estado do Maranhão caracterizado por grande extensão territorial e

disparidades sociais e econômicas, defronta-se com altos índices de infecção pelo

HIV/aids. O Estado registrou no período de 1984 até junho de 2017, 17.640 casos, e o

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número de óbitos tendo como causa básica a aids alcançou 5.392 notificações

(BRASIL, 2018).

A capital do Maranhão, ocupa a 8ª posição entre as capitais brasileiras e a 2ª

posição entre as nordestinas, no ranking da taxa de detecção (por 100.000 habitantes) de

casos de aids notificados oficialmente até 2017(BRASIL, 2018).

São Luís é a cidade que detém a maioria dos casos notificados no Estado,

mas a epidemia se alastra por todo o Estado. O Ministério da Saúde atesta que já no ano

de 2012, dos 217 municípios maranhenses, 182 apresentavam pelo menos um caso

oficialmente notificado (BRASIL, 2017). Os municípios que apresentaram números

mais expressivos com maior taxa de detecção, no período de 2013 - 2017 foram: São

Luís com 46,2/100 mil habitantes, Paço do Lumiar com 42,3/100 mil habitantes, São

José de Ribamar com 38,4/100 mil habitantes, Bacabal com 37,3/100 mil habitantes,

Timon com 26,3 mil/habitantes, Imperatriz com 26,3/100 mil habitantes, Codó com

34,6 mil/habitantes e Açailândia com 12,7 mil/habitantes (BRASIL, 2018).

4.3 Políticas públicas voltadas para o controle da aids

As primeiras iniciativas federais para responder à epidemia de aids datam de

maio de 1985, com a criação do Programa de Controle da aids, sob a coordenação da

Divisão Nacional de Dermatologia Sanitária, da Secretaria Nacional de Programas

Especiais de Saúde, do Ministério da Saúde. A portaria de criação do programa

apontava um cenário sombrio com aumento de casos, recursos terapêuticos escassos,

internação prolongada e mortalidade alta. Passando um ano, o programa de controle é

transformado no programa nacional de doença sexualmente transmissível (DST) e aids

(BRASIL, 2015).

A ONU em 1987 cria o dia Mundial de Luta Contra a aids, chamando a

atenção para a doença e suas medidas de prevenção, o qual passa a ser celebrado em 1º

de dezembro. O objetivo era reforçar a solidariedade, a tolerância, a compaixão e a

compreensão em relação às pessoas infectadas pelo HIV (BRASIL, 2015).

Em 1988, o Brasil concorre em mobilização social para construir as bases da

criação do SUS, o que resultou no capítulo da Saúde da Constituição Federal. Em meio

ao nascer do sistema, impulsionado pelos movimentos sociais de luta contra a aids, no

ano de 1991, inicia-se o processo de aquisição dos antirretrovirais e a Zidovudina (AZT)

passa a ser distribuída gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (BERMÚDEZ,

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2018) e a aids passa a integrar o código internacional de doenças e os procedimentos

necessários ao tratamento da infecção são incluídos na tabela do SUS. Em 1993, o AZT

passa a ser produzido no Brasil (FIOCRUZ, 2018).

Em 1987, o MS implementou a terapia antirretroviral altamente ativa, cuja

sigla em inglês é HAART – Higly Active Antiretroviral Therapy (PARKER, 2017) que

constituiu um marco na evolução da epidemia, sendo uma combinação de pelo menos

três drogas antirretrovirais (ARV) ativas contra o HIV (GARCEZ, 2013).

Entre 2006-2007 com a universalização do tratamento, reduziram-se em

mais de 50% o número de casos de transmissão vertical, aumentando ainda mais a

sobrevida das pessoas com aids no Brasil (GRANGEIRO; ESCUDER;

CASTANHEIRA, 2011).

A partir de 2008, houve duas grandes conquistas no âmbito nacional, a

primeira delas é a conclusão da descentralização do teste rápido para detectar o HIV e a

segunda é a entrada do Tenofovir, de fabricação nacional, no mercado (BRASIL,

2013a).

Em 2011 foi criado plataforma TELELAB, um programa de educação

continuada, do Ministério da Saúde, que disponibiliza cursos gratuitos cujo público alvo

são os profissionais da área da saúde, visando a ampliação de capacitações técnicas à

distância para os profissionais envolvidos no diagnóstico e monitoramento das

IST/aids/Hepatites (BRASIL, 2018b).

O protocolo de tratamento como prevenção do HIV é adotado no país em

2013, que anuncia a universalização do tratamento de todas as pessoas vivendo com

HIV independente da contagem de linfócitos T CD4+(GRANGEIRO;

KUCHENBECKER; VERAS, 2015a).

A Portaria nº 1.271 de 6 de junho de 2014, define a lista de nacional de

agravos de notificação e inclui a notificação do HIV (BRASIL, 2016). No ano de 2015

foi iniciado o estudo da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) no Brasil, realizado nas

cidades de Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Ribeirão Preto e Fortaleza, que

acompanhou aproximadamente 300 indivíduos no uso do Truvada ® por dois anos

(LINDNER, 2017).

Nesse mesmo ano é implementado o “3 em 1”, dose combinada dos

antirretrovirais lamivudina, tenofovir e efanvirez, que reduz para apenas um

comprimido o tratamento da maioria dos pacientes com HIV do país (BRASIL, 2015).

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Em 2017 o medicamento dolutegravir foi incorporado no âmbito do SUS

para manejo terapêutico, com vantagem esquema de alta potência, alta barreira genética,

administração única diária, poucos eventos adversos e garantia de esquema seguro

(BRASIL, 2017c). A estratégia de prevenção combinada é adotada, intervenções

biomédicas, comportamentais e estruturais voltada para diminuir a infecção contra o

HIV, com foco às populações chaves (GRANGEIRO; CASTANHEIRA;

BATTISTELLA NEMES, 2015).

Tanto na resposta à aids quanto na construção do SUS, a participação social

teve papel especial e o Ministério da Saúde reconhece a importância de todos os atores

envolvidos na luta contra a aids. Com a participação dos movimentos sociais, Brasil

alcançou resultados relevantes e é exemplo internacional no combate e prevenção da

aids, salvando milhares de vidas (BERMÚDEZ, 2018).

4.4 A vigilância epidemiológica da aids

A vigilância epidemiológica da aids baseia-se na notificação compulsória de

casos. Para fins de notificação, o critério de definição de casos de aids em indivíduos

com mais de 13 anos, é definido de acordo com o Ministério da Saúde no Quadro 2:

Quadro 2. Critério de definição de casos de aids em indivíduos com mais de 13

anos, MS, 2017.

1. Critério CDC adaptado – Revisão 2013

Evidência de diagnóstico de infecção pelo HIV por teste sorológico (de triagem,

confirmatório e teste rápido) ou virológico, normatizados pelo Ministério da Saúde

+

Evidência de imunodeficiência: diagnóstico de pelo menos uma doença indicativa de

aids

e/ou

Contagem de linfócitos T CD4+

2. Critério Rio de Janeiro/Caracas

Evidência de diagnóstico de infecção pelo HIV por teste sorológico (de triagem,

confirmatório, e teste rápido)

ou

virológico, normatizados pelo Ministério da Saúde

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+

Somatório de, pelo menos, 10 pontos, de acordo com a escala de sinais, sintomas ou

doenças

3. Critério excepcional óbito

Evidência de menção de aids em algum campo da Declaração de Óbito

ou

Menção de infecção pelo HIV e de doença indicativa/presuntiva de aids em algum

campo da Declaração de Óbito

+

Investigação epidemiológica inconclusiva

Fonte: BRASIL, 2017

Além dessa definição de casos para notificação de aids, existem outras

estabelecidas pelo Ministério da Saúde, as quais não são objeto deste estudo:

Definição de casos de HIV em crianças menores de 13 anos de idade – todo

indivíduo diagnosticado com infecção pelo HIV;

Definição de casos de gestante/parturiente/puérpera com HIV - Toda mulher em

que for detectada a infecção por HIV, ou aquela que já tenha o diagnóstico

confirmado de HIV ou aids, no momento da gestação, parto ou puerpério;

Definição de casos de criança exposta ao HIV - Toda criança nascida de mãe

infectada, ou que tenha sido amamentada por mulher infectada pelo HIV.

Vale Ressaltar que no ano de 2014, a notificação compulsória da infecção

pelo HIV foi introduzida, sendo necessário para caracterização e monitoramento das

tendências, perfil epidemiológico, riscos e vulnerabilidades na população infectada, com

vistas a aprimorar a política pública de enfrentamento da epidemia (BRASIL, 2017).

4.5 Sistema de Informação em Saúde

No Brasil, as fontes usadas pela vigilância epidemiológica do HIV e da aids

baseiam-se em dados fornecidos pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação

(SINAN), o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), o Sistema de Controle de

Exames Laboratoriais (SISCEL) e o Sistema de Controle Logístico de Medicamentos

(SICLOM) (BRASIL, 2017).

O SINAN foi desenvolvido no início da década de 90, tendo como objetivo

a coleta e processamento dos dados sobre agravos de notificação em todo o território

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nacional, fornecendo informações para a análise do perfil da morbidade e contribuindo,

dessa forma, para a tomada de decisões nas três esferas de governo (BRITO, 1993).

Em 1993, iniciou-se a implantação do SINAN, entretanto, este se deu a

esmo, pois até então não havia uma regulamentação oficial do Ministério da Saúde.

Somente em 1998 tornou-se obrigatória a alimentação regular da base de dados nacional

pelas três esferas de governo. Em setembro de 1998, visando melhorar a

operacionalização do SINAN, foi realizada a “Oficina de Trabalho de Reformulação do

SINAN” que contribuiu para a padronização de conceitos, definição de fluxo e

concepção de formulários para coleta de informações (BRASIL, 1998).

Este sistema foi criado para constituir-se na principal fonte de informação

para estudar a história natural de um agravo ou doença e estimar a sua magnitude como

problema de saúde na população, detectar surtos ou epidemias, bem como elaborar

hipóteses epidemiológicas a serem testadas em ensaios específicos (LAGUARDIA et

al., 2004).

Desta forma, o SINAN deveria armazenar somente as informações das

doenças de notificação compulsória sendo permitido aos Estados incluir notificações de

outros agravos, adequando o sistema ao perfil epidemiológico de populações distintas.

Entretanto, ao longo dos anos, foram incluídas neste sistema, fichas de investigações

para agravos não constantes da lista de notificação compulsória nacional, o que

acarretou na sobrecarga de dados e, consequentemente, em problemas de

operacionalização do sistema (LAGUARDIA et al., 2004).

O Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN) recebe as

notificações e controla o registro, o processamento desses dados em todo território

nacional, fornecendo informações para análise do perfil da morbidade e contribuindo

para a tomada de decisões em nível municipal, estadual e federal (BRASIL, 2017).

4.6 Análise espacial em saúde

Em diversos lugares do mundo são realizados estudos que envolvem

técnicas de geoprocessamento para avaliarem a dinâmica espacial da aids em diferentes

grupos populacionais (RODRIGUES et al., 2015).

O geoprocessamento constitui um conjunto de tecnologias de coleta,

tratamento, análise e apresentação de informações espaciais. Os dados epidemiológicos

têm dimensão espacial e podem ser expressos no contexto da distribuição geográfica.

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Ao tomar posse desse conhecimento, pesquisas na área da saúde buscam identificar

associação de um agravo com variáveis pertinentes a população em estudo, através da

análise minuciosa de um local (MENEZES et al., 2013).

Os Sistemas de informações geográficas (SIG) podem ser entendidos como

a mais completa das técnicas de geoprocessamento, pois são sistemas informatizados,

usados para armazenar, manipular, analisar, e produzir dados referenciados

geograficamente. Os SIG, portanto, são cadeias automatizadas de informações que

partem de uma base de dados geográfica para realizar diferentes análises e obter

resultados significativos do ponto de vista territorial (REZENDE et al., 2015).

No âmbito das pesquisas epidemiológicas, a utilização das técnicas de

geoprocessamento vem sendo aplicadas à saúde pública e à saúde coletiva, uma vez que

tornam possível a análise das relações entre o ambiente e os eventos relacionados à

saúde, auxiliando no planejamento, monitoramento e avaliação das ações de saúde e

contribuindo para estruturação e análise de riscos socioambientais. Além disso, a

aplicação de tais técnicas busca identificar espacialmente áreas com características

específicas, a fim de subsidiar programas ou políticas voltadas para a melhoria da saúde,

visando aumentar a eficiência na utilização de recursos públicos, definindo áreas

prioritárias de atuação, tornando possível a qualificação e a organização dos serviços de

saúde de acordo com as particularidades de cada área geográfica (REZENDE et al.,

2015).

As variações geográficas influenciam as taxas de aids e evidenciam a

influência do local em que se vive no enfrentamento da doença. Embora nas últimas

décadas tenhamos assistido a grandes avanços biomédicos no diagnóstico, tratamento e

prevenção de aids, ainda há muito a ser feito para controlar a doença. O conhecimento

da distribuição geográfica da aids é necessário para orientar a direção das intervenções

de prevenção do HIV e políticas de saúde preventivas destinadas a pacientes

(RODRIGUES et al., 2015).

Logo, a inclusão de elementos geográficos para realizar pesquisas

relacionadas a esse agravo permite observar a distribuição espacial dos casos e a

identificação de aglomerados, o que facilita a identificação de locais mais vulneráveis e

permite o redirecionamento de ações de promoção e prevenção em saúde, de acordo

com suas particularidades territoriais, socioculturais e econômicas (SANTOS; MELO;

SANTOS, 2012).

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5 METODOLOGIA

5.1 Tipo de estudo

Realizou-se um estudo ecológico dos casos de aids ocorridos no Maranhão,

durante o período 2011 a 2018, tendo como unidade de análise os municípios.

5.2 Local do estudo

A pesquisa foi realizada no Estado do Maranhão, localizado na Região

Nordeste do Brasil, com uma área de 331.983 KM². Este possui, segundo dados do

Censo de 2010, uma população estimada de 7.075.181 habitantes, tendo como cidade

mais populosa a capital São Luís. Quanto à divisão político-administrativa, esse Estado

é composto por 217 municípios, 05 mesorregiões e 21 microrregiões geográficas, áreas

estas constituídas de acordo com os aspectos físicos, geográficos e de estrutura

produtiva do Estado. As cinco mesorregiões estão divididas em: Mesorregião do Norte

Maranhense, Mesorregião do Oeste Maranhense, Mesorregião do Centro Maranhense,

Mesorregião do Leste Maranhense e Mesorregião do Sul Maranhense (IBGE, 2010).

Figura 1. Mesorregiões do Estado do Maranhão

Fonte: GOOGLE,2019.

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5.3 População do estudo

A população foi constituída por todos os casos de aids em indivíduos com

13 anos ou mais notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação

(SINAN) do Estado do Maranhão, no período de 2011 a 2018. Optou-se por essa faixa

etária por ser a idade preconizada pelo Ministério da Saúde para fins de notificação de

casos (BRASIL, 2017).

Considerou-se como caso de aids, todo indivíduo com evidência

laboratorial, sintoma de uma doença indicativa de aids e/ou contagem de linfócitos T

CD4+ abaixo de 350/mm 3, bem como óbito pelo critério excepcional (BRASIL, 2017).

5.3.1 Critérios de exclusão

Foram excluídos os casos de aids que as fichas de notificação apresentaram

inconsistências (informações imprecisas), incompletudes (informações incompletas) e

duplicidades (dois ou mais registros para o mesmo caso).

Para a análise de duplicidades foram realizadas depurações manuais com

objetivo de quantificar os registros pareados e pertencentes ao mesmo indivíduo. Foi

considerada duplicidade de registro quando o mesmo paciente foi notificado para aids,

mais de uma vez.

Após o pareamento dos casos, as duplicidades foram analisadas pelos

seguintes critérios: nome do paciente, nome da mãe e data de nascimento. Em caso de

duplicidade foi mantida a notificação mais antiga sendo excluída do banco de dados a

notificação mais recente. Em alguns casos, a notificação mais antiga foi complementada

com informações da notificação mais recente antes da exclusão deste último.

5.4 Coleta de dados

As informações relativas aos casos de aids e óbitos foram coletadas no

banco de dados do SINAN disponibilizadas pelo serviço de Vigilância Epidemiológica

da Secretaria Estadual de Saúde, sendo estas coletadas em setembro de 2019.

Para obtenção dos dados populacionais dos municípios do Maranhão foram

utilizadas as estimativas populacionais, de cada ano, produzidas pelo Instituto Brasileiro

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de Geografia e Estatística e disponíveis no ambiente virtual do Departamento de Saúde

do SUS (DATASUS).

5.5 Análise dos dados

A análise dos dados foi realizada para cada ano, separadamente.

Inicialmente foram calculadas as incidências brutas e em seguida as incidências

ajustadas pelo método bayesiano empírico local com o objetivo de minimizar as

flutuações decorrentes do pequeno número de casos e população em alguns municípios.

Com o método bayesiano empírico local obtém-se uma média ponderada entre a

incidência bruta do município e a incidência dos vizinhos mais próximos (BAILEY;

GATRELL, 1995).

Para o cálculo das incidências considerou-se como numerador os casos de

aids ocorridos no município e como denominador, a população residente no respectivo

município, multiplicado por 100 mil.

A análise espacial dos dados iniciou-se com criação da matriz de vizinhança

entre os entre os 217 municípios do estado do Maranhão com o objetivo de comparar a

similaridade dos atributos geográficos em feições vizinhas. Por tratar-se de um estudo

de análise de áreas, estabeleceu-se como critério de vizinhança a contiguidade sendo

testadas as matrizes do tipo Rook e Queen. A primeira considera apenas as fronteiras

físicas como vizinhos e a segunda considera os vértices e fronteiras. Ambas podem ser

de primeira, segunda, terceira ou mais ordens, dependendo da escolha do número de

vizinhos a ser considerados. Neste estudo, adotou-se a matriz de vizinhança do tipo

Queen, de primeira ordem, pois foi a que capturou o máximo de dependência espacial,

ou seja, que gerou mais alto valor do Índice de Moran Global significativo (CÂMARA

et al.,2004). A matriz de vizinhança criada apresentou uma média de 5,46 (±1-13)

vizinhos por município.

Para observar a existência de autocorrelação espacial, foi calculado o Índice

de Moran Global (I). O índice varia de -1 a +1, existindo correlação direta se o valor for

positivo, correlação inversa se o valor for negativo ou ausência de autocorrelação

espacial se o valor for igual a zero (CÂMARA et al., 2004). O I foi validado através do

teste de pseudosignificância, com 999 permutações.

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Em seguida, calculou-se o Índice Local de Moran (Ii) para delimitação dos

aglomerados de aids. Para tal, considerou-se como ponto de corte a incidência média de

aids nos 217 municípios ajustada pelo método bayesiano empírico local.

Foi considerado como aglomerado de Alto Risco aqueles municípios que

apresentaram alta incidência de aids (incidência acima da média) e eram cercados por

municípios que também apresentaram altas incidências de aids (padrão de

autocorrelação denominado de Alto-Alto). Inversamente, foi considerado como

aglomerado de Baixo Risco aqueles municípios que apresentaram baixa incidência de

aids (incidência abaixo da média) e eram cercados por municípios que também

apresentaram baixas incidências de aids (padrão de autocorrelação denominado de

Baixo-Baixo) (CÂMARA et al.,2004).

Os municípios com baixa incidência de aids cercados por municípios com

altas incidências de aids (padrão de autocorrelação denominado de Baixo-Alto) e os

municípios com alta incidência de aids cercados por municípios com baixas incidências

de aids (padrão de autocorrelação denominado de Alto-Baixo) não foram considerados

aglomerados e sim, zonas de transição.

Toda a análise estatística do presente estudo foi realizada no software

GeoDa versão 1.14.0. Tanto para o I e Ii, foi considerado como significância estatística

o valor de p <0,05.

Mapas coropléticos foram construídos no software QGIS 3.6.2 para

apresentação dos dados. A malha digital cartográfica dos municípios foi adquirida junto

ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Embora o georreferenciamento dos dados, tenha sido realizada utilizando os

municípios como unidade, os resultados e análises foram apresentados por mesorregião,

demonstrando apenas o padrão de distribuição no espaço geográfico do estado, não

existindo a possibilidade de identificação dos indivíduos e/ou domicílios.

5.6 Aspectos éticos

A pesquisa foi realizada com dados secundários de domínio público,

atendendo aos aspectos éticos das Resoluções 466/12 e 510/2016 do Conselho Nacional

de Saúde (CNS), sendo dispensada à submissão ao Comitê de Ética e foi preservado o

anonimato dos participantes.

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33

6 RESULTADOS

Durante o período de 2011 a 2018 foram notificados 6.349 casos de aids

no Estado do Maranhão, com média anual de 635 casos. Em 2015 foi registrado o maior

número de casos (895) e em 2018 o menor número de casos (586).

Os casos de aids se distribuíram em todos os anos de forma heterogênea nas

cinco mesorregiões do Estado do Maranhão e estes não ocorreram de forma aleatória,

existindo autocorrelação espacial positiva (Figura 2).

Figura 2 – Incidência bruta da aids no Estado do Maranhão, no período de 2011-

2018.

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SINAN (2011-2018).

Houve variação na incidência bruta de aids ao longo dos anos. Tendo o ano

de 2015 a maior incidência (6,73 ± 8,14 casos por 100 mil habitantes) e no 2018, a

menor incidência (4,52 ± 6,00 casos por 100 mil habitantes) (Tabela 1).

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Tabela 1: Incidência e aglomerados de aids no Estado do Maranhão, no período de 2011-2018.

Variáveis/Ano 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018

Incidência média anual 5,64

DP=8,76

5,79

DP=7,73

6,23

DP=8,56

6,41

DP=8,69

6,73

DP=8,14

6,62

DP=8,71

6,67

DP=7,83

4,52

DP=6,00

Incidência média ajustada 7,88

DP=6,63

7,67

DP=6,03

7,96

DP=6,87

8,11

DP=6,26

8,71

DP=6,33

8,04

DP=5,84

8,07

DP=6,00

5,71

DP=4,13

Índice de Moran Global** 0,49 0,64 0,64 0,61 0,67 0,68 0,72 0,60

Aglomerado Alto-Alto

Incidência no aglomerado* 19,89 20,10 19,81 21,63 21,56 18,72 21,99 13,39

Número de municípios envolvidos 25 19 25 20 22 30 19 20

Aglomerado Baixo-Baixo

Incidência no aglomerado* 1,93 2,91 1,96 2,27 2,47 2,90 3,03 2,33

Número de municípios envolvidos 41 38 42 42 38 50 41 29

*Incidência média/100 mil hab. ajustada pelo método bayesiano empírico local.

**p-valor≤0,05

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Após o ajuste pelo método bayesiano empírico local, observa-se que os

casos de aids se distribuíram de forma heterogênea, mantendo a autocorrelação espacial

positiva (Figura3).

Verificou-se um melhor alisamento dos dados, onde a incidência ajustada

também sofreu variação no período, atingindo no ano de 2015 maior incidência

(8,71±DP 6,33 casos por 100 mil habitantes) e no ano de 2018 menor incidência

(5,71±DP 4,13 casos por 100 mil habitantes) (Figura 3, Tabela 1).

Figura 3 – Incidência ajustada (método bayesiano empírico local) da aids no

Estado do Maranhão, no período de 2011-2018.

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SINAN (2011-2018).

Na análise espacial, foram identificados aglomerados estatisticamente

significantes de Alto e Baixo Risco (Figura 4).

As áreas de Alto Risco mantiveram um padrão de distribuição no período

de 2011 a 2018, com concentração em municípios localizados nas mesorregiões Norte e

Centro do Estado do Maranhão.

O aglomerado de Alto Risco de adoecimento para aids localizado na

mesorregião Norte foi formado pelo agrupamento dos municípios de Alcântara, Arari,

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Axixá, Apicum Açu, Bacabeira, Bacuri, Bacurituba, Bequimão, Cajapió, Conceição do

Lago Açú, Cedral, Central do MA, Cururupu, Guimarães, Icatú, Matões do Norte,

Mirinzal, Paço do Lumiar, Peri Mirim, Pinheiro, Porto Rico do MA, Presidente

Juscelino, Raposa, Rosário, Santa Rita, São Bento, São José de Ribamar, São Luís e

Serrano do MA.

Na mesorregião Centro foi formado pelo agrupamento dos municípios de

Bacabal, Igarapé Grande, Lago Verde, Lima Campos, Olho Dágua das Cunhãs, Pio XII,

Pedreiras, Santo Antônio dos Lopes, São Luiz Gonzaga do MA, São Mateus do MA e

Trizidela do Vale.

As áreas de Baixo Risco concentraram-se principalmente nas mesorregiões

do Leste e Sul. Observou-se uma variação de casos na mesorregião Oeste com expansão

nos anos de 2013 a 2014, redução no ano de 2015, e novamente ascendência nos anos

de 2016 a 2018. Em 2018, os dados evidenciaram uma redução na região Sul, passando

esta área ser considerada não significante para aids.

O aglomerado de Baixo Risco de adoecimento para aids localizado na

mesorregião Leste foi formado pelo agrupamento dos municípios de Araioses,

Anapurus, Água Doce do MA, Barão de Grajaú, Brejo, Buriti, Buriti Bravo, Belágua,

Chapadinha, Coelho Neto, Duque Bacelar, Lagoa do Mato, Magalhães de Almeida,

Mata Roma, Matões, Milagres do MA, Mirador, Nova Iorque, Paraibano, Parnarama,

Passagem Franca, Pastos Bons, São Benedito do Rio Preto, Santa Quitéria do MA,

Santana do MA, São Bernardo, São Francisco do MA, São João dos Patos, Sucupira do

Riachão e Urbano Santos.

Na mesorregião Sul, o aglomerado de Baixo Risco foi formado pelos

municípios de Alto do Parnaíba, Balsas, Benedito Leite, Carolina, Feira Nova do MA,

Fortaleza dos Nogueiras, Loreto, Nova Colina, Riachão, São Pedro dos Crentes, São

Raimundo das Mangabeiras, São Félix do Balsas, São Pedro dos Crentes, Sambaíba,

Tasso Fragoso.

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Figura 4 – Aglomerados de aids no Estado do Maranhão, no período de 2011-2018.

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7 DISCUSSÃO

Observou-se que os casos de aids se distribuíram de forma heterogênea, nas

cinco mesorregiões do Estado do Maranhão, mantendo a autocorrelação espacial

positiva, sendo que essa distribuição não se deu de forma aleatória, com áreas de alto

riscos concentradas principalmente nas mesorregiões Norte e Centro, e baixo risco nos

municípios das mesorregiões Leste e Sul.

Estudos realizados por Reis et al (2008), Maliska et al (2009) e Viana et al

(2017), também, constataram distribuição geográfica heterogênea, e atribuíram a este

achado ao processo de interiorização da epidemia de aids no Brasil, sua propagação para

os municípios distantes das principais áreas metropolitanas, atingindo fortemente

aqueles municípios de médio e pequeno porte, os quais estão as comunidades menos

assistidas.

No presente estudo, constatou-se que os aglomerados de alto risco para os

casos de aids concentraram-se principalmente na mesorregião Norte do Maranhão em

todo o período estudado. Tal situação pode ser explicada pela mesorregião Norte ser

uma área costeira e onde está situada a região metropolitana de São Luís. Estudo

realizado por Bastos et al14

, também, evidenciaram uma maior concentração de casos de

aids nos grandes centros urbanos, cidades costeiras e regiões metropolitanas com maior

fluxo sociodemográfico e socioeconômico, corroborando este estudo.

É importante referir que na mesorregião Norte está localizada a Região

Metropolitana de São Luís formada pelos municípios de Alcântara, Raposa, São José de

Ribamar, Paço do Lumiar e São Luís (capital do Estado). Estes três últimos municípios

estão no Ranking das cem cidades do Brasil com maior taxas de detecção de casos de

aids (BRASIL, 2018), o que pode contribuir para concentração de casos de aids no

aglomerado de alto risco dessa localidade.

Desta forma, os resultados deste estudo indicam que na mesorregião Norte

parece existir uma exposição mais acentuada ao vírus do HIV. Tal fato, pode ser

explicado por ter a maior área urbana e populacional, centro político e econômico do

Estado, áreas de potencial turístico, portos, área de grande vulnerabilidade social e

econômica (MASULLO; PEREIRA, 2017; IMESC, 2018), o que podem também

explicar este maior risco de adoecimento por aids.

As regiões onde estão inseridos os grandes centros urbanos viabiliza o

contato entre pessoas devido ao grande fluxo de pessoas nessas localidades. Em muitos

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centros urbanos, os indivíduos envolvem-se no trabalho sexual devido à extrema

pobreza, vivenciando situações de violência, o que as predispõe ao maior risco de

infecção pelo HIV e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). Essas

situações colaboram para o abuso de álcool e outras drogas, o qual é particularmente

importante para o ciclo de transmissão do HIV/aids, tendo em vista que o seu consumo

diminui o uso do preservativo nas relações sexuais (ARAÚJO et al., 2014;

BERMÚDEZ et al., 2016; MARANHÃO; PEREIRA, 2018).

As desigualdades socioeconômicas, como as existentes nessas localidades,

influenciam na dinâmica da aids (GARCIA; SOUZA, 2010). A dificuldade econômica é

um fator potencializador da vulnerabilidade ao vírus HIV (PEREIRA et al.,2014;

AMARAL et al., 2017). Sua disseminação junto às camadas mais pobres e com baixo

nível de escolaridade aponta maior susceptibilidade deste grupo, possivelmente pela

falta de informações e menor acesso aos serviços de saúde, meios de prevenção e

tratamento (COSTA et al., 2011; DRIEMEIER et al., 2012).

Amaral (2016) e Pereira et al (2014) constataram que fatores

comportamentais e culturais como, uso e abuso de álcool e outras drogas, práticas

sexuais desprotegidas, multiplicidade de parceiros, questões de sexualidade, gênero,

estigmas e preconceitos relacionados a doença aumentam a vulnerabilidade ao HIV.

Fatores estes, que podem estar contribuindo para o aumento da incidência da infecção

nesse aglomerado, demonstrando a importância das ações de promoção e prevenção.

Nesse sentido, Grangeiro, Escuder e Castilho (2010) reforçam a necessidade

de intensificação das estratégias de promoção e prevenção direcionadas, principalmente

às populações chaves, as mais afetadas pela infecção do HIV. Por outro lado, Amaral

(2016), constatou que essa medida levará à redução de danos e mudança de atitudes

frente à exposição ao vírus, o que poderá contribuir na diminuição da expansão dessa

infecção e diminuição do impacto epidemiológico provocado na saúde da população,

principalmente nos grupos mais vulneráveis.

O acesso aos serviços de saúde foi demonstrado como fator significativo e

determinante para a detecção e controle do HIV/aids em diferentes populações

(GRANGEIRO; ESCUDER; CASTILHO, 2010; MEE et al.,2014). Além disso, o

crescimento da epidemia de aids nas regiões brasileiras está relacionada às

desigualdades na oferta de serviços de saúde, pois o maior grau de resposta para conter

o crescimento de novas infecções pelo HIV, ocorreu nos municípios onde existe melhor

organização do SUS, maior capacidade de gestão dos serviços de média e alta

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complexidades, utilização mais intensa dos serviços de atenção e melhores indicadores

de saúde da população (GRANGEIRO; ESCUDER; CASTILHO, 2010).

Nesse aspecto, é importante destacar que o aglomerado de Alto Risco da

mesorregião Norte, a capital São Luís tem uma baixa cobertura populacional de equipes

de saúde da família (E-GESTOR, 2019) indicando que a grande parcela da população

dessa localidade apresenta déficit de assistência, com baixa capacidade de resposta no

que tange as ações de promoção, prevenção, diagnóstico e tratamento, as quais fazem

parte das diretrizes da Estratégia Saúde da Família (COIMBRA et al., 2017).

Pesquisas realizadas por Grangeiro, Escuder e Castilho (2010) constataram

que mesmo com os significativos investimentos realizados para alterar o modelo de

atenção predominante, a cobertura da atenção básica permanece relativamente baixa em

alguns municípios do Brasil. Além disso, a constante rotatividade de profissionais, à

descontinuidade das ações e à desconexão entre realidade epidemiológica e os

programas desenvolvidos são aspectos que podem interferir no alcance desse nível de

atenção nas ações preventivas e assistenciais dirigidas para o controle da aids no país.

Esses autores ainda enfatizam a necessidade de aprimorar o modelo de intervenção,

conferindo maior peso as ações de prevenção, sem que haja prejuízo às atividades de

assistência e tratamento à saúde de pessoas com HIV.

Ressaltamos nesse estudo, que as localidades onde estão inseridos os

aglomerados de baixo risco nas mesorregiões Leste e Sul, também apresentaram

municípios com intensas vulnerabilidades sociais e econômicas (IMESC, 2018). No

entanto, possuem municípios com maior cobertura populacional de equipes de saúde da

família (E-GESTOR, 2019), devendo ser este, um fator de proteção para um menor

risco de adoecimento por aids, pois quanto maior a cobertura, espera-se melhores

estratégias de promoção e prevenção.

No entanto, os dados acerca da aids não são suficientes para afirmar que as

ações de promoção e prevenção desenvolvidas nesta localidade sejam adequadas para o

controle enquanto problema de saúde pública. Coimbra et al (2017) salienta que a

ampliação em termos quantitativos da cobertura, não significa garantir atenção integral

à saúde, ou que essa se dê satisfatoriamente, de acordo com o preconizado, melhorando

assim a qualidade de vida da população. Para que isso ocorra é primordial refletir acerca

da operacionalização, sustentabilidade e qualidade dos serviços prestados (COIMBRA

et al., 2017).

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Não podemos desconsiderar a dinâmica de deslocamento destes usuários

dos serviços de saúde do interior do estado para os outros locais que possuem a maior

concentração de serviços especializados, como o caso da capital São Luís, aumentando

as notificações de casos nessas localidades. O estudo realizado por Alves (2010)

evidencia que os casos de aids não estão sendo diagnosticados nos seus municípios de

origem, por diversos motivos, tais como, a busca de uma infra-estrutura melhor ou a

garantia de anonimato, uma vez que em cidades pequenas costuma haver uma rede de

contatos muito próxima ao usuário; Assim em muitas situações, com receio de não ser

atendido, informa residir na localidade do serviço de saúde.

Uma vez que a aids está diretamente relacionada com contextos (social,

comportamental e estrutural), podendo impactar de forma distinta em espaços

geográficos diferentes devido às más condições de vida, como baixa renda, baixa

escolaridade, aglomeração urbana, promiscuidade e outros comportamentos de risco,

faz-se necessário a realização de novos e contínuos estudos para melhor compreensão

da dinâmica de aids na população.

O presente estudo tem como ponto forte a utilização da análise espacial em

saúde, por meio de dados atuais e de abrangência estadual com vistas à identificação de

aglomerados de risco, possibilitando às autoridades de saúde estabelecer as prioridades

e, assim, orientar recursos e nortear as intervenções. Como ponto forte, tem-se ainda, a

incorporação do método bayesiano empírico local na análise dos dados, o que permitiu

minimizar as flutuações decorrentes do pequeno número de casos em alguns

municípios. Como limitação, tem-se a possibilidade de os dados serem subestimados

pela subnotificação dos casos de aids no SINAN.

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8 CONCLUSÃO

Constatou-se que os casos de aids se distribuíram de forma heterogênea,

sendo que esta distribuição não se deu de forma aleatória, mantendo a autocorrelação

espacial positiva, com áreas de Alto Risco concentradas principalmente nos municípios

das mesorregiões Norte e Centro do Estado, e Baixo Risco nos municípios das

mesorregiões Leste e Sul.

Frente aos achados, a concentração de casos de aids nos aglomerados de

alto risco das mesorregiões Norte e Centro, pode ser considerada preocupante,

indicando um déficit na qualidade das ações de promoção, prevenção e assistência à

saúde.

O estudo possibilitou identificar áreas prioritárias para investimentos em

saúde, evidenciando aspectos importantes a serem considerados em termo de gestão e

organização dos serviços de saúde visando garantir equidade e integralidade no cuidado

às populações que vivem com HIV/aids.

É importante enfatizar a necessidade de intensificação das ações de

promoção e prevenção nas áreas de aglomerados de alto e baixo risco, ações de

educação em saúde que contemplem o uso combinado de intervenções biomédicas,

comportamentais e estruturais centrada no contexto social do indivíduo, considerando as

singularidades, especificidades dos meios que estão inseridos e as formas de

transmissão do HIV.

A utilização de técnicas de análise espacial por meio do geoprocessamento

mostraram ser uma relevante ferramenta de integração de informações diversas, as quais

proporcionaram uma visão ampliada da situação de uma determinada doença ou agravo

no espaço, de forma a conceder uma cadeia explicativa dos problemas do território e

orientar a tomada de decisões.

Em virtude das desigualdades sociais entre os municípios, recomenda-se a

realização de pesquisas considerando unidades de análise menores e investigações

comparativas entre diferentes territórios, a fim de compreender melhor a dinâmica dos

casos de aids no Estado do Maranhão.

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