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A Energia Nuclear na União Europeia: a sua relação com a Economia e o Ambiente. por Pedro André Silva Dantas Dissertação de Mestrado em Economia e Gestão do Ambiente Orientada por Prof. Dra. Maria Isabel Rebelo Teixeira Soares 2017

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A Energia Nuclear na União Europeia: a sua relação com a

Economia e o Ambiente.

por

Pedro André Silva Dantas

Dissertação de Mestrado em Economia e Gestão do Ambiente

Orientada por

Prof. Dra. Maria Isabel Rebelo Teixeira Soares

2017

Nota Biográfica

Pedro André da Silva Dantas nasceu em Vila Nova de Gaia, na freguesia de

Mafamude, a 19 de novembro de 1990.

Em junho de 2015, completou a licenciatura em Geografia pela Faculdade de

Letras da Universidade do Porto. Durante os três anos de licenciatura, adquiriu especial

interesse pelas áreas do ambiente e da energia, o que o levou a candidatar-se ao Mestrado

em Economia e Gestão do Ambiente, na Faculdade de Economia do Porto. Nessa mesma

instituição, realizou a presente dissertação sobre a energia nuclear nos países europeus,

sob a tutoria da Prof.ª Dr.ª Isabel Soares.

Agradecimentos

A realização desta dissertação contou com muito apoios e incentivos para a

realização e o sucesso da mesma.

Posto isto, quero agradecer á minha mãe e ao meu irmão, que me proporcionaram

ser a pessoa que sou hoje e consequentemente de me permitir a possibilidade de concluir

mais esta etapa académica.

À minha namorada, Catarina Ferreira, pela ajuda, paciência e espirito de

sacrifício, que, diga-se de passagem, não foi nada fácil para ela ao longo destes meses

suportar o meu mau feitio.

Agradeço de uma forma muito sentida à minha orientadora, Professora Doutora

Isabel Soares, pela sua orientação capaz e competente, criticas, apoio e incentivos que me

foi dirigindo ao longo deste percurso.

E por fim, agradeço aos meus amigos, que sabem muito bem quem são, pelo apoio

e incentivo que muito me deram para o sucesso efetivo deste caminho muito ambicionado.

Resumo

A energia nuclear no período de 1990 a 2014 desempenhou um papel crucial na

geração de eletricidade.

Hoje, a opinião pública, e mesmo o discurso quanto ao futuro do nuclear, está a

mudar. Sendo que o período em análise se inicia em 1990 até 2014 (a escolha deste espaço

temporal, deveu-se ao facto de só existir dados estatísticos a partir do ano de 1990 até aos

dias de hoje) os desastres nucleares ocorridos, antes e após 1990, tiveram influência na

opinião pública de muitos países europeus, o que fez com houvesse uma pressão sobre os

decisores políticos na tomada de decisões, com o objetivo do desmantelamento gradual

de muitas centrais. Contudo, o problema é que a energia nuclear é fundamental na

economia de muitos destes países e a emissão de gases de efeito estufa provocados por

essas centrais é muito reduzida, nomeadamente o CO2, o que vai ao encontro dos

objetivos traçados pela UE para a descarbonização gradual do sector energético.

Quando analisamos os resultados desta dissertação, verificamos que a correlação

entre a variável produção bruta de eletricidade de origem nuclear e a variável PIB, tem

uma significância estatística muito positiva, corroborando a literatura da área e mesmo

alguma evidência empírica.

Assim, pode-se concluir, que a energia nuclear e o PIB estão intimamente ligados,

na medida em que, quanto maior é a produção de energia nuclear num determinado país,

maior será também o seu produto interno bruto, ou seja, há um consequente crescimento

económico, contribuindo assim para a riqueza nacional de cada país.

Palavras-chave

Energia Nuclear; União Europeia; Correlação; Macroeconomia; Ambiente;

Abstract

From 1990 to 2014, nuclear energy played a major role in electricity production.

Today, public opinion and even the narrative surrounding the future of nuclear

energy is changing. Considering that the period under analysis beggins in 1990 until 2014

(the choice of this time period relies on the fact of the available data concerns only from

1990 until nowadays) the nuclear disasters that occored, before and after 1990, had

influence on public opinion of many European countries, which in turn put a lot of

pressure on politicians to gradually shift away from nuclear energy by shutting down and

disassembling nuclear power plants in their own countries.Yet, the problem with this

course of action is that nuclear energy is a crucial part of the economy of a lot of these

nations, furthermore, nuclear energy has low greenhouse gases emission rates, namely

CO2, which helps countries adhere to the EU objectives for gradual decarbonization of

the energetic sector.

When we look at the findings of this dissertation, we can see, for example, that

the correlation between the Gross nuclear electricity production variable and the GDP is

statistically positive, corroborating literature and even some empirical evidences.

Therefore, we can conclude that nuclear energy and GDP are intimately

connected, in a way that the greater the production of nuclear energy in a certain country

the greater will be its internal gross product. That is, there is the consequent economic

growht, contributing to the national wealth of the country in question.

Keywords

Nuclear energy; European Union; Correlation; Macroeconomics; Environment;

Jel Codes

Q4; Q43; Q5; Q53; Q58

Índice

Capítulo 1 – Introdução ............................................................................................ 12

Capítulo 2 – O Panorama atual da Energia Nuclear ............................................. 15

2.1. A energia nuclear no mundo. ................................................................................ 15

2.2. Vetores que despoletaram o repensar da estratégia nuclear .................................. 17

2.2.1. Acidente nuclear de Three Mire Island .............................................................. 18

2.2.2. Acidente nuclear de Chernobyl .......................................................................... 19

2.2.3. Acidente nuclear de Fukushima ......................................................................... 20

2.3. A opinião pública .................................................................................................. 22

2.4. A situação da energia nuclear na UE .................................................................... 23

2.4.1. A Energia Nuclear em França ............................................................................ 24

Capítulo 3 – Metodologia .......................................................................................... 27

3.1. Seleção das variáveis explicativas ........................................................................ 27

3.1.1. Emissão de gases com efeito de estufa: potencial de “aquecimento global” -

sector das indústrias da energia (TCO2 – Milhares) .................................................... 27

3.1.2. Intensidade elétrica da Economia (tep por milhões de euros) ............................ 29

3.1.3. Intensidade carbónica da Economia (tep por milhões de euros) ........................ 30

3.1.4. PIB – Produto Interno Bruto .............................................................................. 31

3.1.5. Dependência Energética .................................................................................... 32

3.1.6. Produção bruta de eletricidade - Total (tep) ...................................................... 35

3.1.7. Produção bruta de eletricidade - Nuclear (tep) ................................................. 36

3.2. Amostra ................................................................................................................ 36

3.3. Período temporal .................................................................................................. 36

3.4. Procedimentos ...................................................................................................... 37

3.5. Modelo ................................................................................................................. 38

Capítulo 4 – Resultados ............................................................................................ 39

Capítulo 5 – Discussão dos resultados ..................................................................... 43

Capítulo 6 – Conclusão ............................................................................................. 46

Capítulo 7 – Referências Bibliográficas .................................................................. 48

Anexos

- Representação gráfica da média das variáveis em estudo por País;

- Gráficos de dispersão;

Índice de figuras

Figura 1 - Reator a Água Pressurizada

Figura 2 - Reatores Operacionais no Mundo

Figura 3 - Escala Internacional de Acidentes Nucleares (INES)

Figura 4 – Central Nuclear de Three Mile Island

Figura 5 – Central de Chernobyl após a explosão do reator 4.

Figura 6 – Central Nuclear de Fukushima

Figura 7 – Centrais Nucleares em França

Índice de gráficos

Gráfico 1 - Produção de energia primária, UE-28, 2014 (% do total, com base em

toneladas equivalentes de petróleo)

Gráfico 2 - Produção de Energia Nuclear no Mundo

Gráfico 3 - Evolução do PIB (em termos reais), das emissões de gases com efeito de estufa

(GEE) e da intensidade das emissões da economia (rácio entre as emissões e o PIB)

Gráfico 4 - Intensidade energética (tep/milhões de euros) na UE e Portugal

Gráfico 5 – Taxa de dependência energética, total, 2014

Índice de tabelas

Tabela 1 - Distribuição das variáveis em estudo

Tabela 2 - Coeficiente de correlação de Spearman

Lista de Acrónimos

AIE – Agência Internacional de Energia

CO2 – Dióxido de Carbono

DGEG – Direcção Geral de Energia e Geologia

EDF – Électricité de France S.A.

EN – Energia Nuclear

EUA – Estados Unidos da América

EURATOM - European Atomic Energy Community

GEE – Gases de Efeito de Estufa

INES – Escala Internacional de Acidentes Nucleares

IAEA – Agência Internacional de Energia Atómica

PIB – Produto Interno Bruto

RU – Reino Unido

SMR – Small Modular Reactor

SPSS-24.0 – Statistical Package for the Social Sciences

Tep – Toneladas equivalentes de petróleo

WNA – World Nuclear Association

12

Capítulo 1. Introdução

Atualmente, a energia nuclear representa, a nível mundial, um terço da

eletricidade produzida. Mais concretamente, a nível da UE, a energia nuclear faz parte do

mix energético de metade dos estados-membro e tem um papel crucial na garantia da

segurança do fornecimento de energia.

Uma central nuclear obtém energia térmica através da fissão nuclear do núcleo

dos átomos do combustível, que, à posterior, será convertida em energia mecânica, que

por sua vez, o reator será responsável por aumentar e manipular essa mesma fissão

atómica que gerará calor, e através desse calor o reator transformará a água de estado

líquido para estado gasoso transformando-se em energia elétrica através de um gerador.

Este processo explica o porquê das centrais nucleares serem sempre instaladas

perto de abastecimentos de água fria.

Para que seja mais fácil compreender como é feito este processo, será apresentada

em seguida uma imagem ilustrativa do mesmo.

Dados mais recentes, do ano de 2014, mostram, que a produção de energia

primária na UE-28 dividiu-se por várias fontes de energia, tendo sido a energia nuclear a

que teve uma maior contribuição (29,4%) no total.

Figura 1 - Reator a Água Pressurizada

Fonte: Mais Física

13

A importância da energia nuclear era, em 2014, particularmente elevada em

França onde contribuiu para mais de quatro quintos (82,8%) da produção nacional de

energia primária, enquanto na Bélgica esta percentagem era pouco inferior a três quartos

(71,2 %) e na Eslováquia aproximava-se de dois terços (64,1%). Nos outros países, a

percentagem de energia nuclear na produção primária foi inferior a metade do total ou

mesmo nula em quinze dos estados membros da EU. No entanto, o Governo alemão

anunciou planos para encerrar todos os seus reatores nucleares até 2022.

Em 2014, mais de um quarto (25,5 %) da produção total de energia primária da

UE-28 ficou a dever-se às fontes de energia renováveis, enquanto a percentagem dos

combustíveis sólidos (19,4%), em grande medida o carvão, e a percentagem do gás

natural foi um pouco inferior (15,2 %). A contribuição do petróleo bruto reduziu-se

apenas a 9,1 %. Tal como pode ser observado no gráfico abaixo:

Contudo, face à contestação social que esta energia tem gerado, bem como os

programas de “phasing out” das centrais levados a cabo por alguns países europeus – o

caso mais paradigmático é o da Alemanha - considera-se pertinente fazer uma análise das

variáveis que melhor possam explicar a relação macroeconómica e ambiental no período

de 1990 a 2014.

Face a isso, podemos afirmar que a problemática de produção de energia nuclear

na UE assume-se como um tópico de investigação rico, mas polémico. Isto, por duas

Gráfico 1 - Produção de energia primária, UE-28, 2014

(% do total, com base em toneladas equivalentes de petróleo)

Fonte: Eurostat, 2017

14

razões: por um lado, dois dos vetores fundamentais da política de energética europeia são

a segurança de abastecimento e a redução das emissões de CO2. Nos dois casos, os

especialistas são unânimes em considerar que a produção nuclear é fundamental para

atingir estes objetivos. Por outro lado, a opinião pública e mesmo o poder político, em

diversos países europeus, têm obstado à continuação dos programas de construção de

centrais e, mesmo prosseguido a política do desmantelamento faseado.

Desta forma, o objetivo principal desta dissertação é responder, de forma

adequada, à seguinte questão:

- Qual a relação de significância entre a produção bruta de eletricidade de

origem nuclear, o PIB e a emissão de gases de efeito de estufa?

- Será a EN uma boa alternativa energética para alcançar objetivo da

descarbonização na UE?

Pretende-se com este estudo analisar diferentes variáveis, com o objetivo de

constatar a relação de significância entre elas de forma a compreender o contributo que a

energia nuclear tem no PIB dos países em análise, entre 1990 – 2014, bem como no

ambiente.

Assim, esta dissertação está organizada da seguinte forma: após esta introdução

(capítulo 1) no segundo capítulo é feita uma análise da literatura no que diz respeito à

energia nuclear no mundo, aos acidentes nucleares, ocorridos, bem como à energia

nuclear na Europa. O terceiro capítulo contempla a metodologia utilizada para

desenvolver o propósito desta dissertação bem como a sua justificação pormenorizada. O

quarto capítulo pretende analisar o modelo proposto (coeficiente de correlação de

Spearman), usando o software SPSS 24.0 através das variáveis escolhidas e devidamente

justificadas no capítulo 3. Posteriormente, no capítulo cinco é apresentada a discussão

dos resultados. Por fim, no sexto capítulo são apresentadas as conclusões do estudo

realizado.

15

Capítulo 2. O Panorama atual da Energia Nuclear

2.1. A energia nuclear no mundo

Nas últimas décadas, a energia nuclear contribuiu com uma parte considerável para

a geração de eletricidade total, nomeadamente na Europa, EUA, Japão e Coreia do Sul. A

principal razão que levou a muitos países da UE e fora da UE a efetuar o investimento em

centrais nucleares, entre o período 1960 a 1985, foi o fator geopolítico que, à época, era

marcado por elevadas tensões geopolíticas que levavam muitas vezes à interrupção

propositada de fornecimento de energia, como meio de pressão. Assim sendo, estava em

causa a segurança energética de muitos países, que os levaram naturalmente a mudar as

suas políticas energéticas e a efetuar uma aposta na energia nuclear. (CsereklyeI, Z. et al,

2016)

Em 2010, dezanove países europeus tinham pelo menos uma central nuclear a

operar e muitos confiavam substancialmente na energia nuclear, tais como a França

(74,1%), Suíça (38,0%), Alemanha (28,4%) e Reino Unido (15,7%). Além disso, as

economias emergentes, como a China e a Índia tencionam aumentar a energia nuclear.

Atualmente, existem 447 centrais nucleares no Mundo, como pode ser comprovado

através do gráfico 2. Os EUA lideram a lista dos países com centrais nucleares em

funcionamento com cerca de 99 reatores a produzirem energia nuclear. Em segundo e

terceiro lugar encontram-se a França com 58 reatores e o Japão com 42.

16

Analisando o gráfico 2, podemos afirmar que as centrais nucleares forneceram 2476

TWh de eletricidade em 2016, acima de 2441 TWh fornecidos em 2015.

A capacidade nuclear operacional global tem vindo a crescer, anualmente, desde o

início da geração nuclear em 1954.

Figura 2 - Reatores Operacionais no Mundo

Fonte: IAEA, 2017

17

2.2. Vetores que despoletaram o repensar da estratégia nuclear

Os vetores que despoletaram o repensar da estratégia nuclear foram,

essencialmente, os acidentes nucleares e a pressão da opinião pública sobre os decisores

políticos.

Segundo IAEA, define como um acidente nuclear um evento que teve e terá ao

longo dos anos, consequências significativas para as pessoas, para o meio ambiente e para

a própria central nuclear.

Neste sentido, e tendo como referência a Escala Internacional de Acidentes

Nucleares (International Nuclear Event Scale) podemos considerar que existem incidentes

nucleares quando classificados entre o nível 1 a 3 e acidentes nucleares quando

considerados entre o nível 4 a 7. Esta classificação é feita atendendo à sua gravidade, tal

como podemos verificar no gráfico seguinte.

Gráfico 2 - Produção de Energia Nuclear no Mundo

Fonte: World Nuclear Association, 2017

18

2.2.1. Acidente nuclear de Three Mire Island

O acidente nuclear ocorreu na unidade 2 desta central do dia 28 de março de 1979,

quando o reator estava a operar a 97% da sua potência. A avaria no circuito de

arrefecimento secundário causou um aumento de temperatura no circuito de arrefecimento

primário. Desta forma, a pressão e a temperatura do circuito primário começaram a subir

imediatamente e como se não bastasse acabara de surgir outro problema na central, o

sistema de água de emergência (reserva do sistema secundário) tinha sido testado 42 horas

antes do acidente. E como durante o teste, as válvulas são fechadas e no final do mesmo

são abertas novamente, por um erro humano, a válvula foi deixada fechada o que impediu

que o sistema de emergência funcionasse.

Consequentemente, o acidente na central de Three Mile Island causou danos no

reator, mas felizmente teve uma limitada fuga de partículas radioativas para o exterior,

Figura 3 - Escala Internacional de Acidentes Nucleares (INES)

Fonte: www.iaea.org

19

apesar de ter fundido cerca de um terço do combustível, o núcleo do reator manteve a sua

integridade e conteve o combustível afetado.

A radiação libertada não constituiu perigo para a saúde, sendo confirmado por

milhares de amostras ambientais realizadas, entre outras medidas, postas em prática

durante e após o acidente.

O acidente ocorrido levou ao encerramento e posterior desmantelamento, passando

primeiro por um programa substancial de retirada do combustível usado e descontaminação

das instalações.

O acidente nuclear de Three Mile Island foi classificado como nível 5 na escala

internacional de eventos nucleares.

Figura 4 – Central Nuclear de Three Mile Island

Fonte: www.dissident-media.org, 2017

2.2.2 Acidente nuclear de Chernobyl

A 26 de abril do ano 1986 ocorreu um grande desastre nuclear na central de

Chernobyl, causado por erro humano, visto que a pressão da água dentro do núcleo

começou a baixar e como consequência a temperatura começou a subir não permitindo o

arrefecimento do reator. Ocorreu, então, uma explosão na central nuclear de Chernobyl.

Nessa mesma explosão foram libertadas para a atmosfera, imensas partículas

radioativas, que se espalharam por boa parte do território da ex – União Soviética e Europa

20

Ocidental, que deixaram marcas irreparáveis ao longo do tempo nas pessoas e nos

territórios que foram afetados, direta e indiretamente por este desastre.

De salientar, que durante este acidente morreram 31 pessoas, estando ainda a ser

contabilizado os efeitos que este desastre teve ao longo do tempo na saúde pública dos

territórios supracitados.

Figura 5 – Central de Chernobyl após a explosão do reator 4.

Fonte: www.noticias.r7.com, 2017

2.2.3. Acidente nuclear de Fukushima, Japão

O Japão sofreu a 11 de março de 2011, um terramoto com uma magnitude de 9.0

na escala de Richter, provocando um tsunami de grandes dimensões (ondas de 14 metros).

Devido a uma avaria no sistema de refrigeração na central de Fukushima e ao corte

de eletricidade, causado pelo sismo, a recuperação deste sistema não foi eficaz. Desta

forma, o combustível continuou a aquecer o que fez com que a pressão aumentasse no

interior do reator.

21

No mesmo dia do terramoto houve uma falha técnica o que causou uma avaria no

sistema de refrigeração de dois reatores e quatro geradores de emergência. Assim,

verificou-se uma fusão parcial dos núcleos dos reatores 1, 2 e 3, ocorrendo explosões de

hidrogénio que destruíram o revestimento superior dos edifícios que albergam os reatores1,

3 e 4, consequentemente danificando o revestimento do reator 2 e causando ainda incêndios

no reator 4.

No dia 11 de abril, este acidente nuclear foi classificado como elevado

correspondendo ao nível 7, o máximo da escala INES, tal como é referido por Flores

(2011).

Figura 6 – Central Nuclear de Fukushima

fonte: www.dissident-media.org

22

2.3. A opinião pública

Após os acidentes de Three Mile Island (EUA, 1979) e Chernobyl (URSS, hoje

Ucrânia, 1986), quer os agentes políticos, quer a opinião pública, levantaram sérias dúvidas

quanto à segurança neste tipo de energia, seguindo-se uma consequente, tendência de

redução de considerável do número de reatores, que entraram em funcionamento nos anos

seguintes, quando comparado ao período que antecedeu estes acidentes. (Boccard, N. 2014)

No “post Fukushima” muitos especialistas têm levantado sérias dúvidas sobre o

futuro da indústria nuclear. No entanto, apesar do forte sentimento antinuclear, houve um

aumento da quota de geração de energia através do nuclear na maioria dos países, a nível

mundial.

O desastre nuclear gerou debates sobre a importância deste tipo de energia, contudo,

na maioria dos debates centrados em questões fundamentais, como a segurança energética

e a mitigação da redução de CO2, concluiu-se que a energia nuclear tem uma enorme

relevância nas temáticas acima referidas, apesar do desastre de Fukushima. (Nian, V et al,

2014).

No caso alemão, por exemplo, o desastre nuclear no Japão veio desencadear uma

forte mudança na política nuclear, muito por culpa da pressão da opinião pública alemã.

Tendo sido colocado, novamente, na agenda da política energética, o plano progressivo de

desmantelamento de centrais nucleares, em fim de vida, uma vez que a eliminação gradual

das centrais está prevista para 2022. (Maizi, Nadia et al, 2014),

Matthes (2012) afirma, ainda, que o governo federal alemão anunciou a sua decisão

de abandonar gradualmente a energia nuclear até 2022, não só como reação aos

acontecimentos ocorridos em Fukushima, mas também na sequência da mudança de

política energética do país – a Energiewende ou transição energética.

Tal como Flores (2011) menciona, uma das principais críticas apontada aos

decisores políticos e à energia nuclear é a alegada falta de estratégia em como tratar dos

seus desperdícios radioativos de longa duração. Na medida em que, as comunidades locais

não estão dispostas a coabitarem lado a lado com um aterro de desperdícios radioativos,

provenientes das centrais nucleares.

No entanto, na Suécia e na Finlândia, a experiência tem demonstrado que, com a

devida consulta e compensações, principalmente na perspetiva de emprego a longo prazo,

23

as comunidades estão completamente preparadas para aceitar este tipo de resíduos. A

exemplo do que foi dito anteriormente, na Suécia houve duas comunidades locais que

competiram entre si para a seleção da localidade que iria albergar o mesmo depósito destes

resíduos.

2.4. A situação da energia nuclear na UE

Segundo Ganilho (2014), o nuclear é uma boa alternativa dentro das fontes

energéticas que emitem de baixas emissões de carbono quando comparada aos

combustíveis fósseis, que tem uma representação significativa no cabaz energético de

muitos estados membros.

Por conseguinte, para o mesmo autor, e na sequência do desastre de Chernobil em

1986 e da catástrofe nuclear de Fukushima, no Japão, em 2011, a energia nuclear tornou-

se muito controversa aos olhos dos decisores políticos e da sociedade civil de muitos

países, como é o caso da Alemanha, como vimos anteriormente.

A decisão da Alemanha de abandonar progressivamente a energia nuclear até 2022

e o encerramento temporário de dois reatores belgas, após a descoberta de fissuras

nas suas cubas, aumentaram ainda mais a pressão para o abandono da energia nuclear na

EU (idem).

No entanto, esta é uma competência exclusiva de cada estado membro decidir se

continua a utilizar ou não a energia nuclear, neste sentido, as autoridades europeias estão a

desenvolver esforços significativos à escala europeia com o objetivo de melhorar as normas

de segurança das centrais nucleares e de assegurar que os resíduos nucleares são

manipulados e eliminados sem causar qualquer risco para a saúde pública.

Corner, Adam et al, (2011) defendem que a energia nuclear reduz as emissões de

CO2 para a atmosfera e que a necessidade da procura a longo prazo de uma energia

alternativa ao nuclear constitui um desafio global. Estes autores referem, ainda, que no

caso do Reino Unido as preocupações ambientais e a segurança energética têm exercido

uma enorme influência na tomada de decisões relativamente à política energética deste

país. Por este motivo, a energia nuclear tem sido reenquadrada como uma energia de

emissões de baixo teor de carbono.

24

Atualmente há 129 reatores nucleares a operar, em catorze estados-membros tendo

uma capacidade total de 120 Gw e uma idade média, de cerca, de 30 anos. Posto

isso, o parque nuclear da União Europeia está nitidamente a ficar mais obsoleto, logo são

precisos investimentos muito significativos que possibilitem aos estados membros

prolongar a vida das muitas centrais nucleares que possuem de forma a modernizar-lhas

e substituir os reatores nucleares por reatores modernos e mais eficientes. (Commission,

E. 2016)

Segundo, (Shropshire, D. 2011) a UE está a considerar uma “rede inteligente” e

um sistema de armazenamento de energia que permita um maior uso de fontes

descentralizadas de energia renovável que possibilitem uma operação económica viável

de produção de eletricidade com base, também, em reatores nucleares mais eficientes em

termos energéticos e ambientais.

De acordo com estes autores estão, atualmente, a surgir novos estudos onde é

evidente o potencial dos benefícios na combinação da energia eólica e a energia nuclear

na rede de eletricidade da União Europeia. (Shropshire, D. 2011)

2.4.1. A energia nuclear em França

A produção de eletricidade de origem nuclear é muito utilizada em França, país

este que iremos analisar mais detalhadamente devido ao seu elevado nível de produção de

energia nuclear.

Atualmente, a França dispõe de 19 centrais nucleares, onde até ao momento estão

em funcionamento 58 reatores, tal como se comprova na figura 6.

Figura 7 - Centrais Nucleares em França.

Fonte: World Nuclear Association, 2017

25

Desde a década de 90 que a energia nuclear tem dominado a produção de

eletricidade em França quando comparada com outras fontes de energia: renováveis,

hidroelétricas, termais e energia fóssil. Esta fonte de energia detém o maior score na

produção de eletricidade deste país, representando 78% do mesmo, uma alta percentagem

quando comparada com outros países da U.E. Esta energia aliada á energia hidroelétrica,

fornecem 90% da eletricidade em França. O aproveitamento da energia nuclear em França

fez também com que esta diminuísse a importação de combustíveis fósseis, tais como: o

petróleo, o carvão e o gás natural (Mbarek, Nasreen, Feki, 2015).

Apesar do constante receio da população francesa, após o acidente de Fukushima,

estes reatores operam de uma forma diferente da dos reatores japoneses, pois utilizam o

sistema de circuito duplo. Este sistema diferencia-se do Japonês, na medida em que existem

dois circuitos, sendo que o primeiro circuito fechado entra em contacto direto com o reator

e logo de seguida o segundo circuito transforma vapor suficiente para rodar as turbinas,

gerando assim a eletricidade. Pelo contrário, em Fukushima constatamos que só existe um

único circuito que envolve passar diretamente por dentro do reator.

Contudo, apesar da energia nuclear ser a maior fonte de energia da França, com um

contributo bastante significativo no fornecimento de eletricidade, até à pouco tempo a

França encontrava-se num impasse de decisões políticas, pois as suas centrais nucleares na

sua maioria têm mais de 40 anos de existência, sofrendo altos custos de manutenção e neste

seguimento os políticos franceses colocavam duas hipóteses em cima da mesa para a

resolução deste problema, a primeira hipótese passaria pelo inicio gradual do

desmantelamento das centrais nucleares e consequente aposta noutras fontes energéticas

mais propriamente as energias renováveis ou a segunda hipótese que era continuidade da

aposta na energia nuclear e a reabilitação com tecnologia moderna e eficiente das suas

centrais. Pois bem, com a entrada do novo Presidente francês Emmanuel Macron este

decidiu optar pela primeira hipótese acima anunciada.

No entanto, estudos franceses independentes dizem-nos que o facto de a França

continuar a depender da energia nuclear irá ter custos mais elevados, e não será tão benéfico

a nível ambiental como nos é levado a crer pelo governo francês.

Não obstante, a indústria nuclear francesa continua a afirmar que a sua economia

continua sólida e os funcionários do setor alertam vigorosamente para as consequências

sociais do término da energia nuclear. A exemplo do que foi dito anteriormente, a União

26

de Companhias Elétricas (UCE), liderada pela EDF, publicou um estudo que afirma que o

término da energia nuclear para menos 20% em 2030, necessitaria de um investimento

extra de 112 biliões de euros. O grupo afirmou ainda que um afastamento da dependência

energética nuclear terá um impacto negativo nos preços da eletricidade, e iria depender de

uma importação equivalente a 10 biliões de euros por ano.

27

Capítulo 3. Metodologia

Ao longo deste capítulo, pretende-se dar a conhecer o modelo escolhido: as

variáveis explicativas bem como o período temporal do estudo e a metodológica seguida.

3.1 – Fundamentação da seleção das variáveis explicativas

No que concerne às variáveis explicativas do estudo estas terão como base os

seguintes indicadores: a produção bruta de eletricidade - total, a produção bruta de

eletricidade de origem nuclear, a dependência energética, PIB (preços constantes), a

intensidade elétrica da economia, intensidade carbónica da economia e a emissão de GEE

– indústria da Energia.

Seguidamente são justificadas a variáveis escolhidas para este modelo.

3.1.1. Emissão de gases com efeito de estufa: potencial de “aquecimento

global” – setor das indústrias da energia (TC02eq – Milhares)

Muitos governos começaram a olhar para a energia nuclear como uma fonte

alternativa de energia à energia proveniente de combustíveis fósseis.

Contudo, as investigações e consequentes inovações feitas nesta área tiveram

como resultado o Reator pressurizado europeu (R.P.E), um reator com uma capacidade

superior mas que ao mesmo tempo diminui os custos e o nível de poluição emitida para

atmosfera.

Todavia, a União Europeia continua a dissociar o seu crescimento económico das

suas emissões, pois no período compreendido entre 1990 – 2015 houve um aumento de

50% do PIB, e ao mesmo tempo um decréscimo de 22% nas emissões.

Esta dissociação representada, claramente no gráfico abaixo, deriva

essencialmente dos progressos tecnológicos que dão origem a um aumento do PIB, e

simultaneamente a um decréscimo da emissão de gases efeito estufa.

28

No âmbito da estratégia de redução de emissões de GEE, e também por forma a

garantir este compromisso ambiental, a U.E. criou o mecanismo do Comércio Europeu

de Licenças de Emissão (C.E.L.E.) que visa regular as emissões de GEE. Este regime,

implementado em 2005, teve já dois períodos de cumprimento, sendo o primeiro de 2005

– 2007, e o segundo de 2008 – 2012, este último coincidindo com o primeiro período de

cumprimento do Protocolo de Quioto – PQ.

Atualmente, encontra – se a decorrer a 3ªfase, de 2013 – 2020, fase esta também

coincidente com o segundo período do cumprimento do PQ. Ainda no âmbito desta

estratégia são abrangidos alguns setores desde o energético ao industrial, de entre os quais

se destacam: as refinarias, os metais, os cimentos, o químico, o cerâmico, o vidro, a pasta,

o papel e o agroflorestal. Em 2010 começou também a ser abrangido o setor da aviação.

Gráfico 3 - Evolução do PIB (em termos reais), das emissões de gases com efeito de estufa (GEE)

e da intensidade das emissões da economia (rácio entre as emissões e o PIB) Índice (1990 = 100)

Fonte: Eur –lex - Access to European Union Law, 2017

29

Através de estudos efetuados por Sovacool (2008) foi possível concluir que apesar

das suas múltiplas vantagens, a energia nuclear continua a ser criticada devido ao seu alto

nível de poluição quanto aos resíduos radioativos e consequente risco para a saúde

pública. No entanto, a energia nuclear assegura a baixa emissão de gases de estufa.

Devido à sua alta contribuição para o desenvolvimento da energia nuclear para a

geração de eletricidade, a E.D.F. representa a indústria de energia com a menor emissão

de gases CO2 dentro da U.E., produzindo oito vezes menos CO2 do que a média europeia.

Todavia, a emissão destes gases continua a ser uma preocupação dentro da U.E, sendo

que os seus valores continuam extremamente altos (Tol,2007).

Como forma de combater esta alta emissão de gases efeito estufa por parte das

grandes indústrias energéticas, o parlamento europeu ordenou em 2005 a compra de

licenças de carbono por cada tonelada de CO2 emitida para a atmosfera.

Quer isto dizer que quanto mais se polui, mais se paga, nesta sequência esta

diretiva veio incentivar as grandes indústrias do sector energético a diminuírem

drasticamente a emissão de gases efeito estufa, constituindo assim uma forma de

sustentabilidade ambiental.

3.1.2. Intensidade elétrica da Economia (tep / por milhões de euros)

Após a análise de estudos efetuados pelo Portal do Estado do Ambiente, em

Portugal, podemos concluir que esta variável está intimamente correlacionada com o PIB

(produto interno bruto) de um país. Isto traduz-se no consequente crescimento

económico, uma vez que, o consumo de energia se encontra relacionado com o mesmo.

Porém este mesmo elevado consumo de energia e o aumento do PIB pode afetar

negativamente o meio ambiente, pois este mesmo consumo pode favorecer as emissões

de dióxido de carbono para a atmosfera. Para que possamos dissociar estes dois conceitos

temos de promover a eficiência no sector energético, substituindo os combustíveis de

origem fóssil pelos provenientes de fontes renováveis, como energia eólica, solar e

hidráulica.

A aposta na eficiência energética, como poderemos observar no gráfico

apresentado em seguida do Eurostat, traduz – se nos níveis de intensidade energética que

30

têm vindo a diminuir significativamente na UE a partir de meados do segundo semestre

de 2003.

3.1.3. Intensidade carbónica da Economia (CO2 por milhão de euros)

Não devemos falar de intensidade elétrica sem falarmos da intensidade carbónica,

porque a produção de energia através do carbono tem vindo a diminuir nos últimos anos

como forma de acabar com a dependência dos recursos energéticos fósseis, que tem

grandes repercussões no meio ambiente devido à emissão em maior escala de CO2.

Esta dependência carbónica agravou-se com o prelúdio da revolução industrial,

até então, eram somente usadas fontes de energia renováveis que advinham da radiação

solar, da força de trabalho humano, dos animais domesticados, das energias hídricas e

eólicas e na queima da madeira, sendo esta última a mais viável devido ao seu baixo custo

de aquisição (Silva, 2007).

Urge então dar início a um processo de “descarbonização” da Europa como forma

a contrariar esta dependência na energia carbónica, não obstante o principal objetivo é

Gráfico 4 - Intensidade energética (tep/milhões de euros) na UE e Portugal

Fonte: Eurostat, 2017

31

diminuir intensidade carbónica da economia dentro da UE, o que culminará no

consequente decréscimo da emissão de CO2.

Neste processo de “descarbonização” que dia 15 de dezembro de 2011 foi

assinado em Bruxelas, o Roteiro para a Energia 2050, que visa a redução das emissões

de CO2 em mais de 80% até 2050, tendo como referência que este objetivo seja cumprido

é crucial que a produção de energia seja inteiramente isenta de carbono.

Contudo, uma produção energética isenta de carbono é vista como algo pouco

viável devido ao aprovisionamento energético e à sua competitividade, sendo estes fatores

tidos em consideração, a Comissão decidiu expor um quadro de políticas que promovem

a estabilidade empresarial, que tal como Günther Oettinger (2011), o comissário

responsável pela pasta da energia à época declarou: «Somente um novo modelo energético

tornará o nosso sistema seguro, competitivo e sustentável a longo prazo. Dispomos agora

de um enquadramento europeu para tomarmos as medidas de política que assegurarão

os investimentos adequados.».

3.1.4. PIB – Produto Interno Bruto

Entende – se por PIB a soma total dos bens e serviços produzidos numa

determinada região, durante um determinado período de tempo. Este indicador é bastante

utilizado na macroeconomia e tem como principal propósito calcular a atividade

económica de uma região. O PIB centra-se apenas no cálculo da produção de bens e

serviços, excluindo todos os outros bens de consumo intermediários.

Através de dados recolhidos no Portal do Estado do Ambiente em Portugal,

conseguimos apurar que a União Europeia desempenha um papel fundamental na

economia mundial. Composta por um mercado singular de 28 países tem como base o

crescimento económico sustentável feito maioritariamente através da aposta nos

seguintes setores: transportes, energia e investigação.

Apesar do PIB ser calculado através da produção de inúmeros bens e serviços,

nesta dissertação iremo-nos focar na produção de eletricidade através do nuclear.

A eletricidade desempenha um papel fundamental no crescimento económico e

desenvolvimento de um país. Quer isto dizer que, quanto maior for o acesso à eletricidade

e quanto maior for a sua produção, maior será também o PIB per capita (Silva, 2016).

32

Assim, o aumento da produção elétrica e consequente aumento do crescimento

económico contribui positivamente para a melhoria da qualidade de vida da sua

população.

3.1.5. Dependência energética

Um dos grandes problemas da UE centra-se na sua alta dependência energética: a

UE importa 53% da sua energia e apesar desta dependência energética apresentar valores

altos em 2014 quando comparados com os dados de 1990, podemos constatar que o seu

pico se deu no ano de 2008.

Esta dependência energética varia muito entre os estados-membros, sendo que

uma metade depende maioritariamente das importações energéticas, enquanto a outra

metade mantém uma taxa de dependência inferior a 50%.

Em 2014, os países europeus menos dependentes energeticamente foram: a

Estónia (8.9%), a Dinamarca (12.8%) e a Roménia (17.0%), seguidos da Polónia (28.6%),

da República Checa (30.4%), Suécia (32.0%), a Holanda (33.8%) e por fim, a Bulgária

com uma percentagem de 34.5%. Quanto aos países com uma taxa de dependência

energética superior podemos enumerar os seguintes: Malta (97.7%), Luxemburgo

(96.6%), Chipre (93.4%), Irlanda (85.3%), Bélgica (80.1%) e por fim a Lituânia com uma

taxa de 77.9%.

Relativamente aos países que apresentam uma maior quantidade de consumo

energético, aqueles que se destacam por terem uma dependência energética mais baixa

são: o Reino Unido com uma percentagem de 45.5% e a França com 46.1%,

respetivamente. Contrariando estes valores, temos em seguida a Alemanha com 61.4%, a

Espanha com 72.9%, e a Itália com 75.9%, tal como se comprova no gráfico 5.

Estudos da Eurostat mostram-nos que, atualmente, a maior preocupação política

referente à energia da UE centra-se na dependência das importações de energia,

nomeadamente do petróleo e do gás.

Como já foi referido, anteriormente, a UE teve de encontrar uma forma de

combater esta alta dependência económica. Para tal, foi apresentado ao Parlamento

Europeu uma estratégia de União Energética que tem como principais objetivos: a

segurança de aprovisionamento, a competitividade e a sustentabilidade. Dentro destes

33

objetivos podemo-nos focar noutras matrizes muito importantes para a sustentabilidade

energética da Europa: a livre circulação de energia através das fronteiras nacionais e o

investimento na renovação de infraestruturas. Estes dois últimos irão se refletir numa

diminuição das despesas dos agregados familiares e irão automaticamente criar postos de

trabalho. Para além disso, visa também diminuir o número de importações e aumentar o

crescimento económico, respetivamente. Esta necessidade urgente em diminuir o nível

de importações prende-se com a prevenção de crises de abastecimento energético, como

aquela que aconteceu entre a Rússia e a Ucrânia, em janeiro de 2009. Foi também tido

em conta a diminuição da poluição ambiental, tendo como principal objetivo tornar a

Europa líder na produção de energia renovável.

34

Gráfico 5 – Taxa de dependência energética, total, 2014

Fonte: Eurostat

35

3.1.6. Produção bruta de eletricidade - Total (tep)

Após analisar dados recolhidos pela Eurostat é possível concluir que em 2012 a

produção bruta de eletricidade total na UE foi de 3264.1 twh, por hora. Isto demonstra

uma queda significativa nesta produção, uma vez que em 2010 esta era de 3 332 twh por

hora. Esta queda teve início em 2007, tendo a produção de eletricidade registado uma

diminuição de 2.5% em 2012, quando comparada com 2007.

O consumo total de eletricidade na UE encontra-se equitativamente dividido entre

o carvão, a energia nuclear e o gás natural. Em 2012 o carvão representava 28.14% da

produção de eletricidade, seguido pela energia nuclear com 27% e o gás natural com

17.8%. A produção de eletricidade através destas três fontes diminuiu a partir de 2007.

As energias renováveis somaram um total de produção de eletricidade de 24.1%

em 2012: a energia hidráulica com 10.3%, a energia eólica com 16.3%, os

biocombustíveis residuais 5.2%, a energia solar 2.3%, e a energia geotermal com 0.2%.

A troca destas energias aumentou consideravelmente a partir de 2007, altura em que foi

elaborada a primeira revisão estratégica no âmbito destas fontes de energia.

Estes valores encontram-se relacionados com os grandes investimentos levados a

cabo nas energias solar e eólica. O aumento da produção de eletricidade através dos

biocombustíveis residuais foi de 63.7% e a energia hidráulica registou um aumento de

6.8%. A eletricidade geotermal permaneceu constante, nos últimos cinco anos.

Malta e Chipre detêm a maior parcela de petróleo na geração de energia, enquanto

a França e Suécia lideram na produção de eletricidade com baixa emissão de carbono.

A capacidade total energética instalada na UE foi de 952.1 gw em 2012. A

capacidade vinda dos combustíveis fosseis representa 52%, seguida da hidráulica com

15.6%, da nuclear com 12.9%, da eólica com 11.2%, do solar com 7.4%, e de outras

(0.3%).

As centrais a gás e as instalações de energias renováveis tiveram também um

crescimento significativo até 2010. A União Europeia dispõe de modernas frotas de

turbinas a gás de ciclo combinado, às quais foram acrescentados 100 gw desde o ano de

1990.

Podemos então concluir que existe uma larga diversidade no consumo total de

eletricidade da União Europeia.

36

3.1.7. Produção bruta de eletricidade - Nuclear (tep)

É muito difícil prever o futuro da energia nuclear no séc. XXI, porque este tipo de

energia tem vários fatores que são alvo das preocupações governamentais, tais como: os

resíduos radioativos, a proliferação nuclear, acidentes com reatores e a opinião pública.

No entanto, a geração de eletricidade de origem nuclear também possui ao mesmo tempo

inúmeras vantagens, entre as quais se destacam: uma maior eficiência energética, a

diminuição da emissão de gases de efeito estufa e que é um contributo para a melhoria

das alterações climáticas. Porém, não existe consenso entre os países membros da UE,

havendo alguns países como a Itália e a Áustria que não possuem quaisquer planos para

a introdução e desenvolvimento da energia nuclear e havendo outros como a Alemanha,

França e a Suécia que se comprometeram a fasear o desmantelamento das suas centrais

nuclear. Temos ainda países como o Reino Unido e a Finlândia que continuam a preservar

o papel crucial que a energia nuclear representa na sua produção de eletricidade local.

3.2 – Amostra

A amostra selecionada para o estudo diz respeito aos 15 países da União Europeia

(Bélgica, Bulgária, Alemanha, República Checa, Finlândia, França. Hungria, Holanda,

Roménia, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Lituânia, Suécia e Reino Unido) com

produção nuclear. O objetivo é fazer uma análise do coeficiente de correlação de

Spearman das variáveis escolhidas, de forma a compreender o grau de associação entre

elas.

3.3 - Período temporal

Este estudo incide sobre o intervalo temporal compreendido entre 1990 a 2014.

Pretendia-se com este plano da dissertação que o período temporal fosse mais alargado

para que existisse uma análise mais extensiva e completa, mas a disponibilidade de dados

para o sucesso do estudo fez-nos optar pelo período temporal supre citado anteriormente.

37

3.4. Procedimentos

De acordo com a investigação traçada foi necessário definir os procedimentos

inerentes à recolha de dados, para que fosse obtida a informação necessária para o

esclarecimento do tema. Nesta investigação, considera-se pertinente decidir onde se irá

chegar com cada técnica e, por esse motivo, foi definido um plano de pesquisa, sabendo

a priori que seria sempre um plano aberto e provisório.

Na área da investigação, a utilização da informação disponível, qualquer que seja

o seu carácter, formato ou suporte é imprescindível. A revisão da literatura é um bom

exemplo da análise documental embora se estenda também a outro tipo de documentos

que foram trabalhados.

Dada a multiplicidade de documentos suscetíveis de fornecer elementos válidos

para a pesquisa, a análise documental envolve diversos procedimentos. Atendendo ao

objeto de estudo da presente dissertação, a análise documental recaiu sobre dois níveis

distintos: por um lado, uma análise que permitiu fazer a revisão da literatura, usando

diversos motores de busca bibliográficos, como a Scopus e a B-On, para compreender de

que forma a energia nuclear poderia trazer benefícios para os países europeus, a nível

económico e ambiental e, por outro lado, contrapor com autores que têm opiniões distintas

relativas a este tema.

A outra técnica de recolha de dados utilizada foi a meta-análise, no qual foi

utilizado como referência de base de dados para uma análise mais detalhada: a Eurostat e

o Pordata.

No Eurostat retirou-se os dados relativos à dependência energética da amostra

selecionada, atendendo ao espetro temporal do estudo, que de seguida foi calculada a

média desses 24 anos (1990 – 2014), país a país.

Os restantes dados correspondentes às restantes variáveis foram retirados do site

de base de dados Pordata. E para cada variável adotou-se o mesmo procedimento, que

anteriormente dizemos para a variável dependência energética, que passou por calcular

média dos 24 anos, de cada país. À posteriori, os dados extraídos foram trabalhados no

software SPSS-24.0, tal como será explicado no ponto seguinte.

38

3.5 – Modelo

Para a apresentação dos dados recorreu-se ao uso de tabelas, com os respetivos

dados estatísticos antecedidos de análise.

Obteve-se a análise dos dados por estatística descritiva e inferencial, utilizando-

se o software SPSS-24.0 (Statistical Package for the Social Sciences).

Tendo em consideração o cumprimento dos critérios necessários para a realização

de testes de hipóteses paramétricos. Desta forma, para verificar a existência de correlação

entre as variáveis em estudo recorreu-se ao coeficiente de correlação de Spearman que é

uma medida de associação não paramétrica entre duas variáveis pelo menos ordinais. Este

coeficiente é obtido através da substituição dos valores das observações pelas respetivas

ordens. As medidas de associação quantificam a intensidade e a direção da associação

entre duas variáveis (Maroco, 2014).

39

Tabela 2 - Distribuição média das variáveis em estudo

Capítulo 4. Resultados

Na tabela 2 está apresentada a distribuição da média das variáveis em estudo por

país, durante o espaço temporal de 24 anos (1990 a 2014), seguindo-se os parâmetros da

média, desvio-padrão, mínimo, máximo, percentil 25 e percentil 75 de todos os países.

Analisando a distribuição média das variáveis em estudo, durante o espaço

temporal de 24 anos (1990 a 2014), podemos verificar que os países que têm maior

produção bruta de eletricidade – total é a Alemanha, França e Reino Unido, a produzirem

em média, durantes estes 24 anos, cerca de 50547, 45704, 31258 tep, respetivamente. Do

lado oposto, verificamos que os países que têm menos produção bruta de eletricidade ao

longo destes 24 anos a Lituânia, Eslovénia e a Eslováquia com uma produção bruta de

eletricidade de 1222, 1239, 2414 tep, respetivamente. Tal análise pode ser corroborada

40

com o gráfico 5 que se encontra em anexo.

No que concerne, aos países da amostra que tiveram mais produção bruta de

eletricidade de origem nuclear foram a França, a Alemanha e o Reino Unido, a

produzirem em média durante estes vinte e quatros anos 35092, 12580 e 6769 tep,

respetivamente. Por outro lado, os países que tiveram menos produção bruta de

eletricidade, ao longo destes vinte e quatro anos, foram os Países Baixos, a Eslovénia e a

Roménia com uma produção média bruta de eletricidade na ordem dos 330, 451 e 515

tep, respetivamente, como se verifica no gráfico 6 (ver anexo).

Analisando a variável PIB (preços constantes), e tendo em conta a média feita

destes 24 anos, verificamos que os países que ao longo do espectro temporal deste estudo

apresentaram maior PIB foi a Alemanha, a França e o Reino Unido com valores médios

de 2451405, 1863892 e 1703512 milhões de euros. Em sentido inverso, os países que

apresentam os valores mais baixos, no que concerne ao valor do seu PIB, são países como

a Lituânia, a Bulgária e a Eslovénia com valores de 24410, 30330 e 31610 milhões de

euros, respetivamente. (ver anexo, gráfico 7)

No que diz respeito, à variável dependência energética, podemos observar através

da tabela acima, que os países que são mais dependentes de outros países, no que toca a

energia é a Bélgica, a Bulgária e a Eslovénia, com os respetivos valores percentuais

médios de 78%, 74% e 67%. Os países com menor dependência energética é o Reino

Unido, a República Checa e a Roménia, que apresentam os seguintes valores percentuais

médios de 7%, 24% e 26%, respetivamente, tal como se comprova no gráfico 8.

Porém, os países onde a média dos 24 anos da intensidade elétrica da economia se

destacou mais foi a Bulgária, Eslováquia e a Roménia, com os respetivos valores 120tep,

62 tep e 55 tep. Assim, os países que apresentam valores mais baixos é o Reino Unido,

os Países Baixos e a Alemanha, com os respetivos valores 16 tep, 17 tep e 19 tep, de

acordo com o gráfico 9 que se encontra em anexo.

Todavia, os países que podemos constatar com maior intensidade carbónica média

é a Bulgária com 3436 tep, a Roménia com 2600 tep e a República Checa com 1635 tep.

Os países que apresentam valores mais baixos, no que diz respeito a esta variável, foram

países como a Suécia com 225 tep, França com 321 tep e o Reino Unido com 397 tep

(gráfico 10, ver anexo)

Por fim, no que diz respeito à variável de gases com efeito estufa, nas indústrias

41

do sector energia, observa-se que tanto como a Alemanha, Reino Unido e a Espanha são

os países que apresentam os maiores valores, com 370541 tco2, 200029 tco2 e 94407

tco2, respetivamente. A Eslovénia, a Lituânia e a Suécia foram os países da amostra que

apresentam valores médios mais baixos com valores de 5933 tco2, 6176 tco2, 11067 tco2,

respetivamente. (ver anexo, gráfico 11)

Para verificar a existência de correlação entre as variáveis em estudo recorreu-se

ao coeficiente de correlação de Spearman (cf. Tabela 2), cujos resultados nos indicam

correlações estatisticamente significativas.

Hipótese 1 - A produção bruta de eletricidade-total está associada positivamente

à produção bruta da eletricidade - nuclear (r=0,782; p=0,01) ao PIB (r=0,964; p=0,01) e

à emissão de gases com efeito de estufa – indústrias da energia (r=-0,782; p=0,01); e

negativamente à intensidade elétrica da economia (r=-0,732; p=0,01) e à intensidade

carbónica da economia (r=-0,736; p=0,01).

Hipótese 2 - A produção bruta de eletricidade - nuclear está associada

positivamente ao PIB (r=0,711; p=0,05) e negativamente à intensidade carbónica da

economia (r=-0,575; p=0,01).

Hipótese 3 - O PIB está associado negativamente à intensidade elétrica da

economia (r=-0,807; p=0,01) e à intensidade carbónica da economia (r=-0,771; p=0,01)

e positivamente à emissão de gases com efeito de estufa – indústrias da energia (r=0,761;

p=0,01).

Hipótese 4 - A intensidade elétrica da economia está associada positivamente à

intensidade carbónica da economia (r=0,854; p=0,01) e negativamente à emissão de gases

com efeito de estufa – indústrias da energia (r=-0,518; p=0,01).

42

Tabela 2 - Coeficiente de correlação de Spearman

Correlações

Produção

bruta

electricidade -

Total

Produção bruta

electricidade -

Nuclear

Produto Interno

Bruto

Dependência

Energética

Intensidade

eléctrica da

Economia

Intensidade

Carbónica da

Economia

Produção bruta electricidade -

Nuclear ,782

**

Produto Interno Bruto ,964**

,711**

Dependência Energética -0,159 0,102 -0,057

Intensidade eléctrica Economia -,732** -0,429 -,807

** 0,043

Intensidade Carbónica

Economia-,736

**-,575

*-,771

** 0,047 ,854**

Emissão GEE - Indústria da

Energia,782

** 0,454 ,761** -0,254 -,518

* -0,279

*. A correlação é significativa no nível 0,05 (bilateral).

**. A correlação é significativa no nível 0,01 (bilateral).

43

Capítulo 5. Discussão dos resultados

Hipótese 1 - A produção bruta de eletricidade - total está associada positivamente,

à produção bruta da eletricidade-Nuclear, ao PIB e à emissão de gases com efeito de

estufa – indústria da energia e negativamente à intensidade elétrica da economia e à

intensidade carbónica da Economia.

Esta associação significa que à medida que a produção bruta de eletricidade – total

aumenta, também a produção bruta de eletricidade de origem nuclear, o PIB e a emissão

de gases com efeito estufa – indústria da energia aumentam, pois como temos vindo a

analisar pelos vários autores, quanto maior é a produção de eletricidade, que não devemos

dissociar da produção de eletricidade de origem nuclear, mais os países da amostra

crescerão economicamente, consequentemente o PIB também aumenta.

Quanto aos gases com efeito estufa – indústria de energia tem uma associação

positiva com a produção bruta de eletricidade – total, pois no inicio da década de 90 a

grande maioria dos países da amostra tinham maior percentagem de utilização de outras

fontes energéticas, que não a energia nuclear, essencialmente, fontes de energia de origem

fóssil e por essa razão, quando há um aumento da produção bruta total de eletricidade no

espectro temporal do estudo a emissão de gases de efeito estufa da indústria no sector da

energia, também aumenta. Em muitos países desenvolvidos existe um grande interesse

em desenvolver a energia nuclear com o objetivo de garantir a sua segurança/dependência

energética e estabilizar e/ou reduzir a suas emissões GEE (Rufael, Y, Menyah, K, 2010).

Uma vez que a produção bruta de eletricidade – total está associada negativamente

com a intensidade elétrica na economia e a intensidade carbónica na economia, podemos

afirmar que quanto mais desenvolvidos são os países, mais eficientes energeticamente

serão, produzindo assim menos carbono e a intensidade elétrica, consequentemente será

menor também.

Hipótese 2 - A Produção bruta de eletricidade - energia nuclear está associada

positivamente ao PIB e negativamente à Intensidade Carbónica da Economia.

A associação positiva entre a produção bruta de eletricidade de origem nuclear e

o PIB, mais uma vez vai ao encontro da bibliografia, visto que, a energia nuclear é uma

energia vital para o desenvolvimento económico e competitividade dos países da amostra,

44

pois como vimos anteriormente no caso Francês, este é o país da amostra de estudo que

tem com maior percentagem de utilização da energia nuclear, e consequentemente a

prática dos preços de eletricidade são os mais baixos a nível mundial, que por si só é um

fator diferenciador da sua economia e de sua competitividade interna e externa. Quer isto

dizer que quanto maior for o acesso à eletricidade e quanto maior for a sua produção,

maior será também o PIB (Silva, 2016).

Nesta mesma hipótese, verificamos que a produção bruta de eletricidade de

origem nuclear está associada negativamente à intensidade carbónica da economia, isto

quer dizer que à medida que a produção bruta de eletricidade de origem nuclear aumenta

a intensidade carbónica na economia diminui, ora mais uma vez verificamos que este

resultado vai ao encontro dos muitos estudos sobre a matéria, uma vez que, a energia

nuclear é uma energia com baixas emissões de CO2 e carbono e por essa razão têm um

peso muito residual nas indústrias nucleares.

Hipótese 3 - O PIB está associado negativamente à intensidade elétrica da

economia e à Intensidade Carbónica da Economia e positivamente à Emissão de gases

com efeito de estufa.

No que concerne a esta hipótese, o PIB está associado negativamente à intensidade

elétrica da economia e à intensidade carbónica da economia, pois à medida que o PIB

aumenta, as restantes descem, uma vez que, as economias dos países da amostra têm

vindo a crescer e consequentemente há uma diminuição da intensidade elétrica e

carbónica. Com o início do processo de “descarbonização” da Europa, o objetivo

principal será diminuir a intensidade carbónica, o que levará a um decréscimo da emissão

de CO2, privilegiando a eficiência energética e a segurança energética no fornecimento

de eletricidade, que consequentemente também se traduzirá na diminuição do peso

intensidade elétrica na economia por via da eficiência energética. Não devemos, ainda,

dissociar o facto de podermos aqui incluir o PIB de estar associado positivamente com a

emissão de gases efeito estufa – indústrias da energia.

Hipótese 4 - A Intensidade elétrica da economia está associada positivamente à

intensidade carbónica da economia e negativamente à emissão de gases com efeito de

estufa – indústrias da energia.

45

O fato da associação referente à intensidade elétrica da economia estar associada

positivamente à intensidade carbónica da economia, prende-se com o pressuposto que à

medida que as intensidades elétrica e carbónica diminuem na economia, podemos estar

perante uma clara eficiência energética nestes países, pois estas duas variáveis tendem a

diminuir uma vez que o seu peso na economia também diminuem.

Pelo contrário, a intensidade elétrica na economia tem uma associação negativa

de emissão de gases com efeito estufa – indústrias da energia, uma vez que, a energia

nuclear nos últimos anos tem vindo a desempenhar um papel crucial, nesta medida as

indústrias do sector da energia também têm vindo a reduzir as suas emissões de gases de

efeito estufa. Nesse sentido, sempre que uma destas variáveis aumenta, a outra baixa.

De referir ainda, que não encontramos nenhuma associação com nenhuma das

outras variáveis para a dependência energética.

46

Capítulo 6. Conclusão

Ao longo do tempo, a energia nuclear desempenhou um papel fundamental numa

época em que cada vez menos se depende das energias provenientes dos combustíveis

fósseis. O debate da descarbonização na UE é, hoje, um assunto incontornável no futuro

do crescimento económico assente na sustentabilidade económica e ambiental.

Como podemos concluir, ao longo deste estudo, a energia nuclear e o PIB estão

intimamente ligados, na medida em que, quanto maior é a produção de energia nuclear

num determinado país, maior será também o seu produto interno bruto, ou seja, há um

consequente crescimento económico, contribuindo assim para a riqueza nacional de cada

país.

Observamos ainda, que a produção de eletricidade através da energia nuclear é

economicamente viável, tendo como exemplo concreto a França, uma vez que o preço da

eletricidade neste país é o mais baixo a nível mundial.

Nesta sequência e como podemos observar ao longo dos resultados e da discussão

dos resultados da presente dissertação, países como a Alemanha, a França e o Reino

Unido e Bélgica são os países da UE que apresentam os maiores produtos internos brutos

aliados a bons scores de produção bruta de eletricidade de origem nuclear. Assim, com

base nestes dados, que corroboram positivamente com o facto de produção bruta de

eletricidade - nuclear estar associada positivamente ao PIB.

Tal como refere Rodrigues et al (2006) a energia nuclear é uma energia limpa, que

produz baixas emissões de CO2. Esta evidência é importante quando se fala da

contribuição dos gases com efeito de estufa gerados pela utilização dos combustíveis

fósseis, para o aquecimento do planeta e mudanças climáticas.

Por estas razões, nos últimos anos, o debate sobre energia nuclear tem vindo a

suscitar interesse devido à crescente preocupação na redução das emissões de CO2 para

atmosfera e na segurança do abastecimento energético de cada país ou região (De Groot,

Judith et al, 2010).

Importa referir que a energia nuclear poderá ter um papel fundamental no objetivo

europeu de iniciar o processo gradual da “descarbonização” no sector energético da UE,

pois a energia electronuclear é bastante competitiva, quando comparamos com a produção

de eletricidade a partir de combustíveis fósseis.

47

A energia nuclear, como já vimos, emite uma quantidade reduzida de CO2, o que

constitui assim, uma opção interessante na luta contra as alterações climáticas. Hoje, a

energia nuclear, é uma das maiores fontes de energia da Europa com reduzidas emissões

de CO2, consolidando a sua posição no processo da tão ambicionada descarbonização no

sector energético europeu.

De referir, ainda, que não encontramos nenhuma associação com nenhuma das

outras variáveis para a dependência energética. No entanto, importa salientar que tendo

como base empírica, para os países da UE, estes consideram fundamental a independência

energética de outros países fora do espectro europeu, com o objetivo fundamental de

aumentar a sua segurança e independência no abastecimento energético. É evidente que

uma das grandes preocupações da política da UE, também, se centra na dependência das

importações de energia.

48

Capítulo 7. Referências Bibliográficas

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53

Anexos

54

7.1. representação gráfica da média das variáveis em estudo por País,

durante o espaço temporal de 24 anos

Gráfico 6 - Média Produção Bruta de Eletricidade - Total (Tep)

Gráfico 7 - Média Produção Bruta de Eletricidade - Nuclear (Tep)

55

Gráfico 8 - Média Produto Interno Bruto (Milhões de euros, preços constantes)

56

Gráfico 9 - Média Dependência Energética

Gráfico 10 - Média Intensidade elétrica da economia (Tep por milhão de euros)

57

Gráfico 11 - Média Intensidade Carbónica da Economia (TCO2eq por milhão de euros)

Gráfico 12 - Média Emissão de Gases com efeito de estufa nas indústrias da energia

(TCO2eq por milhão de euros)

58

7.2. Gráficos de dispersão cuja representação gráfica se refere às

correlações das variáveis em estudo que se revelaram estatisticamente

significativas.

R= 0,964

P=0,01

59

R= 0,782

P=0,01

R= -0,736

P=0,01

60

R= -0,732

P=0,01

R= 0,782

P=0,01

61

R= -0,807

P=0,01

R= -0,771

P=0,01

62

R= 0,761

P=0,01

R= 0,854

P=0,01

63

R= -0,518

P=0,05